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DA ROÇA À FEIRA DO PRODUTOR RURAL: condições de vida e de trabalho das
mulheres na comunidade do Quebrão
ROSEMERE BARBOSA GUIMARÃES1
RAFAEL BELLAN RODRIGUES DE SOUZA2
Resumo
Os estudos de gênero têm evidenciado avanços, rupturas e permanências nas relações entre
homens e mulheres e nesse sentido traçamos um percurso que envolve a divisão sexual do
trabalho e as relações de poder na construção das representações, simbologias que naturalizam
o ser mulher. Nessa perspectiva, nos propomos discutir e refletir um recorte da história das
mulheres trabalhadoras rurais considerando a categoria gênero. O objetivo é evidenciar as
condições de vida e de trabalho de 05 mulheres trabalhadoras rurais da comunidade do Quebrão
no Assentamento de Vila Amazônia que escoam e vendem seus produtos na Feira do Produtor
Rural na cidade de Parintins, dando ênfase na participação dessas mulheres na renda da família
sinalizando sua independência econômica e uma certa autonomia nos espaços público e privado
apontando ainda, os dilemas vividos por elas. Para tanto utilizamos a História Oral como
metodologia que considera as narrativas das entrevistadas para além do caso particular e nos
possibilita uma melhor compreensão da realidade em que vivem. Nos estudos de Meihy e
Holanda (2007), a História Oral é um processo de registro de experiências que se organizam
em projetos que visam a formular um entendimento de determinada situação destacada na
vivência social. Pois, por mais que os depoimentos sejam individuais, eles refletem uma
experiência e uma história coletiva. Nesse processo as análises das narrativas revelam que na
sociedade dividida por classes e gênero as mudanças e as permanências nas relações entre
homens e mulheres em que configura a vida das trabalhadoras rurais na comunidade do Quebrão
desde o processo da produção ao escoamento de seus produtos. Por meio da linguagem
1 Assistente Social. Licenciada em História. Professora de História na Educação Básica. Especialista em
Metodologia da Educação Superior – Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP) da Universidade do
Estado do Amazonas (UEA). E-mail: [email protected]. 2 Prof. Dr. Rafael Bellan Rodrigues de Souza. Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ)
Universidade Federal do Amazonas (UFAM/Parintins-Am). E-mail: [email protected].
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observamos também uma certa autonomia dessas mulheres em determinadas situações em que
o exercício político na tomada de decisão tanto no espaço privado como no espaço público da
comunidade em que vivem e nos negócios exprime seu potencial humano, propiciando um
maior conhecimento sobre a condição política, social, econômica e cultural das mulheres na
referida comunidade. Consideramos que há necessidade de maiores investimentos por parte do
governo federal, estadual e municipal nas condições de vida e de trabalho das trabalhadoras
rurais da comunidade do Quebrão para efetivar a política de acesso e permanência à terra
Palavras-chave: Trabalhadoras Rurais; Relações de Gênero; História Oral.
1. Introdução
Ao longo dos anos a mulher foi silenciada na historiografia ou quando aparecia era de
forma fragilizada e subalternizada ao homem. No século XIX a história das mulheres começa
a ganhar um novo desenho por meio de fotos, documentos e pinturas. A partir do século XX
ganham visibilidade por meio de livros, mídias, sindicatos e movimentos sociais de que
participam proporcionando às ciências humanas e sociais um caminho para desvelar um
passado rico e diverso de possibilidades à construção de narrativas iluminadas pela nova
história favorecendo os estudos feministas em que é possível perceber “as relações de gênero e
o papel político da mulher e da família, na comunidade e na igreja” (COSTA, 2005, p. 71) e em
outros espaços.
Com o movimento feminista as mulheres corroboram suas histórias, que tratadas na
perspectiva relacional de gênero ganham um novo enfoque. Guacira Louro (1997) afirma que
num contexto de efervescência social e política, de contestação e de transformação
(LOURO,1997, p.16), uma nova “onda” feminista começa a surgir (a chamada Segunda onda
do Movimento Feminista), preocupada não apenas com as questões sociais e políticas, mas
também com a elaboração de construções teóricas, expressando-se não apenas através de grupos
de conscientização, marchas e protestos públicos, mas também através de livros, jornais e
revistas (ibdem). Nesse contexto, às manifestações de gênero como princípio estruturante de
uma sociedade que quer igualdade social e direitos iguais para homens e mulheres é dado
atenção por Bruschini (1982), Pessanha (2013), Louro (1997), Perrot (1988), Saffioti (1979),
Scoth (1992), Tedeschi (2012) e outros(as) que numa perspectiva sócio-histórica e
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interdisciplinar dialogam sobre a história das mulheres em que a História Oral defendida por
Meyer e Holanda (2007) apresentam novas dimensões ao debate historiográfico e assim embasa
e contribui de forma significativa para as discussões, reflexões e análises do objeto de estudo
desta pesquisa.
Com base nesses autores buscamos problematizar a situação das mulheres trabalhadoras
rurais na comunidade do Quebrão na Vila Amazônia apontando como ocorrem as relações de
gênero considerando a divisão sexual do trabalho, a percepção que têm de si enquanto mulheres
trabalhadora e provedora da renda da família e sobretudo, como enfrentam os dilemas vividos
por elas no dia-a-dia. Para tanto buscamos responder o seguinte problema: Qual é a situação
das mulheres na comunidade do Quebrão seja nas relações de gênero e de trabalho (?). No
processo da pesquisa utilizamos a História Oral como metodologia que considera as narrativas
das entrevistadas para além do caso particular e nos possibilita uma melhor compreensão da
realidade em que vivem. Nos estudos de Meihy e Holanda (2007), a História Oral é um processo
de registro de experiências que se organizam em projetos que visam a formular um
entendimento de determinada situação destacada na vivência social. Pois, por mais que os
depoimentos sejam individuais, eles refletem uma experiência e uma história coletiva. Para a
coleta de dados utilizamos a entrevista e a observação direta com 05 mulheres com faixa etária
entre 32 a 54 anos de idade trabalhadoras rurais na comunidade do Quebrão no Assentamento
de Vila Amazônia que escoam e vendem seus produtos na Feira do Produtor Rural na cidade
de Parintins. Dentre as entrevistas 04 possuem o ensino fundamental incompleto, 01 possui o
ensino médio completo. As 05 mulheres convivem com seu cônjuge e têm entre 2 a 14 filhos.
No decorrer das análises das narrativas as participantes serão denominadas com nomes fictícios
para manter em sigilo suas identidades e por opção das mesmas.
A proposta da pesquisa se coloca na tentativa de trazer contribuições aos estudos de
gênero, buscando refletir o mundo do trabalho das mulheres trabalhadoras rurais partindo da
concretude das suas experiências no assentamento em que vivem considerando as fragilidades
das Políticas de Reforma Agrária na referida comunidade, a permanência e as mudanças nas
relações de gênero e as influencias nas condições de vida e de trabalho dessa população que se
tecem numa relação sócio-histórica e cultural.
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2. Mulher e trabalho na comunidade do Quebrão: reflexões sobre as relações de gênero
Estudos históricos constatam que desde sempre as mulheres estiveram presentes em
espaços públicos, que sempre criaram técnicas de trabalho, além da técnica da agricultura e
horticultura, os primeiros instrumentos para o preparo de alimentos. Criaram, também, técnicas
de construção de abrigos, a cerâmica e a tecelagem. Sempre acompanharam os fatos e de alguma
forma discutiam e refletiam sobre os mesmos, no entanto como já citado, foi silenciado na
historiografia. O desocultamento da história das mulheres escrita por historiadores(as) e outros
estudiosos(as) que se importam com o dito e o não dito sobre as mulheres tem procurado
interpretar as desigualdades entre homens e mulheres considerando classes, gênero, etnia e sexo
(PESSANHA, 2013; PERROT, 1988; TEDESCHI, 2009; LOURO, 1998). Nesse construto, a
incorporação das mulheres na nova historiografia proposta pela Escola dos Annales contribuiu
e contribui de forma significativa para essa discussão colocando em evidência as mulheres
como sujeitos sócio-histórico.
Nesse sentido, queremos nos reportar para a Amazônia onde as mulheres, desde a
chegada dos colonizadores, foram marcadas por estereótipos que as inferiorizou e subalternizou
ao homem anulando o seu potencial político e humano. A exploração e a opressão que configura
o olhar misógino porque foi desenhada a figura das mulheres (negras, índias) e pobres tem sido
objeto de estudos de pesquisadores da região em que discutem e refletem os lugares e papéis
fixados para homens e mulheres (TORRES, 2005; COSTA, 2005). Esse desenho foi inculcado
de uma tal forma que alcança o mundo exterior em que a leitura que fazem das mulheres da
Amazônia é de fogosa, prostituta e de fácil conquista sexual. Nessa direção, essa imagem das
mulheres criada pelos colonizadores traz no seu bojo a naturalização/aceitação das
desigualdades entre os sujeitos, tanto por quem manda (os homens) quanto por quem obedece
(as mulheres). É nessa condição desigual que “o patriarcalismo constrói leituras particulares do
mundo, concebendo, para si e para os outros, identidades que atendam a seus interesses
(TEDESCHI, 2009, p.53).
No entanto, os estudos de Torres (2005, p.26) apontam que “a desigualdade entre os
gêneros não é uma condição necessária das sociedades, é um determinante social e um produto
cultural possível de mudança”. Essas mudanças são evidenciadas nos movimentos de mulheres
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trabalhadoras rurais que de forma organizada e pensada lutam pelo direito e acesso à terra,
saúde, educação, créditos ao banco e muito mais expressando seu papel político em contexto
produtivo e social. O direito à terra, a partir da organização e das lutas dos movimentos de
trabalhadoras rurais, se consolida de forma significativa em que as mulheres têm os mesmos
direitos que os homens assegurando vantagens e igualdade à terra sobretudo, quando essas
mulheres convivem com seus cônjuges. A Constituição Federal de 1988, oficializa que, nas
terras a serem distribuídas através de reforma agrária, “o título de domínio e a concessão de uso
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil”
(Art.189).
Na comunidade do Quebrão, assentamento de Vila Amazônia, as mulheres delineiam
suas vivências das mais diferentes maneiras são provedoras da família, participam e opinam em
reuniões na comunidade, fazem e vendem seus produtos assim como os homens. Constituem a
história da comunidade e a sua própria história. Têm a terra, a agricultura, a criação de animais
como unidade produtiva de subsistência e de comércio em que se destaca o plantio de jerimum,
limão, banana, cacau, laranja, cupuaçu, pupunha, açaí e a mandioca, criação de patos e galinhas.
No entanto, a mandioca é a referência na produtividade e se sobressai pelos derivados
consumidos diariamente pela população que aqui habita.
O trabalho com a mandioca (os derivados) é destinado na maior parte às mulheres
ocorrendo na casa de farinha que está localizada no próprio espaço da casa. Esse espaço
configura a divisão sexual do trabalho em que aos homens coube o espaço público (produtivo)
e às mulheres o espaço privado (reprodutivo). Note-se, que essa divisão demarca a dupla
jornada de trabalho das mulheres em que se soma o trabalho da roça e o trabalho da casa tido
como simples ajuda e invisibilizado pelos criadores da sociedade sexista e patriarcal, os
homens. Com isso, percebemos que os trabalhos e atividades que fazem parte dos processos de
vida e reprodução não desfrutam do mesmo reconhecimento social, pois há entre eles uma
hierarquia de componentes de avaliação, resultado de uma longa tradição liberal patriarcal
(TEDESCHI, 2013, p.438) e considerada como “natural” por esses sujeitos. Nesse processo, o
trabalho com a História oral nos permite como pesquisadora contribuições e resultados
significativos para a escrita das vivências das entrevistadas nessa pesquisa em que as narrativas
são impossíveis de ser analisada exclusivamente pelas fontes tradicionais.
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Quando a história oral se mostrou como recurso capaz de ser considerado “uma
outra história”, ou “contra-história”, ou ainda uma “história vista de baixo”,
começou a ganhar espaços como elemento dotado de sentido no rol dos registros e
estudos dos silenciados e excluídos dos mecanismos de registros da história. (MEIHY,
2002: 98).
E nesse sentido, lançar um olhar para a dinâmica do trabalho e das condições de vida de
mulheres em comunidades consideradas tradicionais possibilitou nessa pesquisa por meio da
História Oral compreender a realidade das mulheres do Quebrão que têm a mandioca como uma
das principais unidade de subsistência e de comércio. Os estudos de FRAXE (2004) discute o
modo de viver, a cultura, o trabalho na roça e na pesca da população ribeirinha e apontam que,
A mandioca é o componente básico do sistema de produção agrícola na Amazônia
quer seja em regiões de terra firme ou em regiões de várzea, em razão de sua dupla
finalidade – subsistência e comercialização. É praticamente, o único produto
agrícola não comercializado in natura. Assim como os povos autóctones da
Amazônia, o ribeirinho transforma quase toda sua produção de raízes da mandioca,
rica em amido, em farinha, utilizam-se de técnicas inteiramente artesanais (FRAXE,
2004, p. 122).
Os derivados da mandioca - farinha, beiju, tucupi, tapioca, crueira, carimã, polvilho são
alimentos consumidos pela população parintinense desde o campo à cidade, lócus onde
acontece a feira do produtor rural, e as mulheres do Quebrão comercializam seus produtos. A
farinha considerada um dos elementos de maior consumo pelos colonos, acompanha tudo o que
comem: o vinho, o peixe, banana, melancia, manga e outros. “Tudo tem farinha, tudo comporta
o pão da terra, como se referiam os primeiros colonos diante do alimento então novo e
desconhecido” (FRAXE, p.2004, p. 191). Mas, para dona Joaquina (54 anos), moradora na
comunidade do Quebrão há 15 anos e mãe de 15 filhos(as) o trabalho na torração da farinha
não é mais possível dada às condições de saúde em que se encontra. Nas suas narrativas revela:
“a maternidade me trouxe um certo desgaste físico como dores nas costas, na pente e com isso
não mais me permite fazer a farinha porque a gente faz muito esforço...tive muitos filhos e hoje
sinto as consequências disso”. Hoje, ela trabalha com frutos (açaí, patuá, bacaba, coco, acerola,
cupuaçu) in natura e em polpas que são vendidos na feira.
Aqui, podemos perceber que a maternidade sagrada se constitui em uma âncora na
manutenção das desigualdades de gênero e em foco de resistência às transformações na família
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(SOUZA E LEMOS, 2009, p. 95) que acaba sendo impedimento feminino ao poder, ao trabalho,
à cidadania porque a sociedade sempre viu a mulher a partir de seu corpo, fechando-a na
reprodução e na afetividade e muitas vezes levando a mulher à sérios problemas de saúde. A
“natureza” – menstruação, gravidez e parto – destinava as mulheres ao silêncio e à obscuridade,
impossibilitando-as de outras formas de criação (COLLING, 2004, p.32). Essa naturalização
embasa a dominação do homem sobre a mulheres, que é uma relação histórica, cultural e
linguisticamente construída e naturalizada tanto pelos que mandam (os homens) quanto por
quem obedece (as mulheres). Frente a isso, consideramos o pensamento de SAFFIOTI (1987),
A sociedade investe muito na naturalização deste processo. Isto é, tenta fazer crer
que a atribuição do espaço doméstico à mulher decorre de sua capacidade de ser
mãe. De acordo com esse pensamento, é natural que a mulher se dedique aos afazeres
domésticos, aí compreendida a socialização dos filhos, como é natural sua
capacidade de conceber e dar à luz. (SAFFIOTI, 1987, p. 9).
É muito comum em comunidades tradicionais a concepção de que as mulheres têm que
parir até quando “Deus quiser” evidenciando que o corpo em si configura uma dimensão
puramente biológica desconsiderando os aspectos sócio/histórico/cultural que os inscreve nas
relações de gênero. A categoria gênero constitui-se em uma conquista histórica pelos
movimentos de mulheres em que buscaram e buscam problematizar as relações entre os homens
e as mulheres sobretudo, para desnaturalizar a desigualdade, a inferioridade e a submissão
destas em relação àqueles que são justificadas pela assimetria dos corpos.
Esses movimentos trazem na cena política um amplo questionamento e debates sobre
posturas e comportamentos que, tradicionalmente, vinham sendo adotados como explicações
“naturais” para atitudes discriminatórias e políticas e práticas de dominação e submissão
(SCOTT,1995, p.7). É na busca em aprofundar discussões e analisar de modo mais rigoroso o
processo de como se dá e porque se reproduz a invisibilidade da mulher no processo de
produção do conhecimento histórico, da desigualdade, inferioridade e que surge o conceito de
“gênero como categoria útil de análise”. Segundo Burke (1992, p. 36) “os historiadores das
mulheres têm ampliado seus interesses, para incluir as relações entre gêneros em geral e a
construção histórica tanto da masculinidade quanto da feminilidade”.
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Nesse panorama, as narrativas das mulheres da comunidade do Quebrão revelam que o
trabalho na roça, ainda tem sido carregado de grandes desafios dada à indiferença do Estado
que atrelado às ideologias da sociedade patriarcal e capitalista acentua as fragilidades das
Políticas de Reforma Agrária em que os parcos investimentos nas condições de vida e de
trabalho tem deixado as mulheres à mercê. As entrevistadas requisitam investimentos por parte
dos gestores das três esferas (federal, estadual e municipal) para que seja evitado o êxodo rural
assegurando a sua permanência com condições dignas nos seus lotes, pois enfrentam muitas
dificuldades principalmente no escoamento dos seus produtos devido às precárias condições da
estrada e do transporte que as conduzem.
A principal dificuldade é o transporte. Primeiro que o caminhão só traz a gente e a
volta é por nossa conta tanto do Quebrão para o porto da Vila como da Vila para a
feira do produtor rural. Esse trajeto custa R$15,00. Nós temos um caminhão que está
beneficiando a gente, mas as condições dele não são adequadas - não tem cobertura
e no período de chuva fica ainda mais complicado. (Joaquina, Isabel, Joana,
Antonieta e Sebastiana).
Um outro ponto que merece destaque é com relação à balsa que conduz passageiros e a
produção dos trabalhadores(as) de toda a área de Vila Amazônia. Para dona Isabel (52 anos),
mãe de 10 filhos(as), trabalha com a mandioca e seus derivados e alguns frutos
A falta de respeito e consideração com os agricultores(as) é muita...A gente chega no
porto da Vila às 5 hs da manhã e a gente fica esperando até 7 hs. Foi dito que a balsa
foi feita para o transporte dos produtores e os produtos...mas não é assim que
acontece...é muita humilhação conosco, principalmente pra nós mulheres.
Essa narrativa exprime um cotidiano permeado pelo misogismo que desde sempre
configura as relações de gênero e de poder sobre as mulheres. Ainda assim, as trabalhadoras do
Quebrão, ao relembrarem tempos passados, reconhecem que o transporte da produção melhorou
e, hoje conseguem ver seus produtos mais valorizados porque antes o máximo que conseguiam
era chegar ao porto da Vila onde os atravessadores já as esperavam para a compra dos produtos
pagando o mínimo que podiam. Denota-se que, o trabalho das mulheres era muito mais
explorado e desvalorizado em que a sua produção não passava de uma troca simbólica.
Claro que mesmo assim melhorou, antes a gente pagava para trazer no ônibus só que
saia muito caro. Cada saco de farinha e caixas custava pelo menos R$ 2,00, um cacho
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de banana R$ 1,00 e assim o preço variava, dependendo do tamanho, peso e
quantidade (Isabel).
Nessa época eu vendia 1 cacho de banana com 10 a 15 palmas por R$3,00 ou R$5,00.
Hoje levando para a feira vendo uma palma pelo mesmo valor (Joaquina).
Hoje eu agradeço, apesar de tudo, porque a gente consegue trabalhar com o que é
nosso e isso ajuda a gente na nossa renda. Ainda bem que tem Bolsa Família
(Antonieta).
São essas mulheres quem enfrenta às quinta-feira 41 km desde sua comunidade até a
Feira do Produtor Rural na cidade de Parintins para vender seus produtos (geralmente retornam
para sua comunidade no sábado ou na segunda feira). Lutam dia-a-dia, por esse caminho
espinhoso, para assegurar sua independência econômica, desenvolver sua autoestima e o seu
capital humano. São determinadas no que fazem, sinalizando algumas mudanças nas relações
de gênero e no papel político invisibilizado pelo sistema capitalista e patriarcal.
Nesse contexto, buscamos conhecer como ocorre a divisão sexual do trabalho na vida
dessas mulheres e dona Joana (32 anos) mãe de 3 filhas, que participa e gerencia juntamente
com seu cônjuge a renda obtida com o seu trabalho revela: O nosso trabalho é feito igualmente.
Vamos para roça juntos e em casa as tarefas são divididas igual. No começo ele não aceitava,
mas de tanto eu reclamar ele entendeu e agora ele faz também o trabalho de casa. Essa
narrativa, desconstrói a naturalização da passividade das mulheres em que ao se rebelar contra
as imposições do seu companheiro, as desigualdades no trabalho dentro e fora da casa percebida
por ela nas suas relações, precipita soluções extremas, considerando-se, merecedora de direitos
iguais ao do seu companheiro.
Já dona Isabel (54 anos), mãe de 10 filhos(a) diz o seguinte: “Eu fico com a parte da
torração da farinha, feitura dos beijus, pé-de-moleque, tapioca e outros derivados da
mandioca. Meu trabalho é feito em casa e aqui sou eu quem direciona o que cada um tem que
fazer”. Importa dizer que isso denota que, além das extensas tarefas, as mulheres também são
responsáveis pela formação de uma nova geração de trabalhadores, que garantirá a reprodução
do modo de produção. Aí se incluem o preparo dos alimentos, a limpeza da casa, o cuidado
com as roupas e a proteção dos filhos (BRUSCHINI, 1982. p. 9) como também a continuidade
aceitação/naturalização dos papéis e lugares fixados para homens e mulheres. Essa narrativa,
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portanto, sinaliza que essa condição é naturalizada e assumida por essa mulher em que mesmo
com o cônjuge presente em casa a rotina dela não muda. Afirma ainda que,
A mulher trabalha mais que o homem. Quando o homem sai para trabalhar só foca
naquele trabalho. Quando chega à noite o homem janta e vai descansar e a mulher
continua suas atividades... fica arrumando, cuidando da tarefa dos filhos e se
organizando para o dia seguinte (Isabel).
Dona Isabel, reconhece a desigualdade na divisão sexual do trabalho e a naturaliza
sustentando as ideologias do sistema que a criou. De acordo com Tedeschi (2013, p. 450) “a
dupla jornada de trabalho das mulheres também é naturalizada pelo sistema patriarcal em que
as extensas tarefas realizadas por elas tendem a se categorizar como universais”. Às funções
biológicas, às mulheres acrescentam-se tarefas que são culturalmente impostas, mas encaradas
como exclusivas do sexo feminino. Assim, segundo Hirata e Kergoat (2007).
A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das
relações entre os sexos; mais que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da
relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem
como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das
mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das
funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.)
(HIRATA E KERGOAT, 2007, p. 599).
Os espaços e papéis definidos para homens e mulheres, típico do sistema patriarcal e
sexista tem na sua historicidade expressão de exploração e opressão, relações de poder em que
as mulheres pobres, negras e índias são as mais atingidas. O espaço privado (reprodutivo) é
visto e pensado pelo sistema como inato às mulheres em que assumem extensas tarefas. Nesse
sentido, ressaltamos aqui, que exploração e opressão são categorias distintas. “A primeira é
econômica e dá lugar à existência das classes. A segunda é cultural e social: dá lugar a uma
situação de discriminação, abarca indivíduos de distintas classes sociais e pode ter efeitos
econômicos de maior ou menor peso” (CARRASCO E PETIT, 2012, p.88) o que nos faz
compreender a condição política, econômica e social das mulheres construída na perspectiva
de gênero, de classe e de sexo.
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3. A dureza do trabalho das mulheres do Quebrão: caminhos que seguem
As experiências aqui contadas refletem as relações coletivas das mulheres trabalhadoras
da comunidade do Quebrão. As narrativas em interface com a História Oral possibilitam
evidenciar a história dessas mulheres, que são secundarizadas na sociedade capitalista e
patriarcal, para refletirmos as suas lutas para e na construção de sua independência econômica
e de sobrevivência.
A participação efetiva das mulheres no processo produtivo, desde o início da
construção humana do saber e da prática vinculada à agricultura, sempre foi
determinante para a garantia da continuidade dos seres humanos tanto na produção
da alimentação, como na preservação ambiental, na garantia de renda-
comercialização, ou seja, na reprodução da vida (PESSANHA, 2013, p. 7).
No entanto, postas como o segundo sexo, as mulheres continuam com um ônus bastante
pesado - dupla jornada de trabalho - e sua participação na produtividade é vista e tida pelos
homens como “simples ajuda”. Diante disso, traçamos um recorte para compreendermos a
precarização do trabalho não assalariado e a continuidade da invisibilidade do trabalho das
mulheres que trabalham na roça considerando que a dupla jornada de trabalho das mulheres
também é naturalizada pelo sistema patriarcal em que as extensas tarefas realizadas por elas
tendem a se categorizar como universais (TEDESCHI, 2013, p. 450). Muitas são as conquistas
pelas mulheres, mas não o suficiente para positivar a equidade de gênero em que a luta por terra
e a permanência nela ainda, tem sido permeado pela desigualdade de homens e mulheres.
Em meio às tramas da sociedade dividida por classes e gênero as mulheres da
comunidade do Quebrão buscam realizar o sonho da casa própria configurando o seu papel
político e social. Dona Joaquina reside nessa comunidade a 15 anos. Conhece bem a história
da comunidade, acompanhou de perto a divisão dos lotes e ao relembrar narra com muito
orgulho pelos benefícios disponibilizados para os assentados que tem título da terra em que se
reconhece como uma mulher determinada e guerreira.
Para os primeiros assentados, como é meu caso nós temos muitas vantagens porque:
no começo recebemos parte do projeto habitação. Depois pude fazer empréstimo e
com isso construir minha casa, já mandei fazer meu poço para molhar as plantações
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e produzir, fiz a roça e a casa de farinha. Tudo financiado pela (AFEAM). Plantava
banana, laranja e como dava muito mamão... eu colhia e vendia e assim ia juntando
meu dinheiro e pagava meu empréstimo. Comprei a roçadeira, freezer e espopadeira.
Eu trabalho também em parceria com a CONAB, eu entrego meus produtos e tiro
lucro. Isso me ajuda muito no sustento da minha família (Joaquina).
A CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) hoje em Parintins foi substituída
pela COOPAPIN (Cooperativa dos Produtores em Agropecuária e Extrativismo do Município
de Parintins) para a compra de produtos das(os) trabalhadores(as) rurais. Os produtos são
utilizados na merenda escolar legitimando a importância que essas trabalhadoras têm no
fornecimento de alimentos in natura que complementam a merenda de centenas de pessoas e,
portanto, gerando renda e cidadania, condição para valorizar a mulher trabalhadora rural.
No entanto, existe um outro lado em que as mulheres do Quebrão experimentam no
dia-a-dia para a construção de suas histórias que não ocorre de forma pacífica com os homens.
Para a venda dos seus produtos enfrentam dias espinhosos em que são marcados pela
precarização das condições dos transportes como já foi narrado, desde a comunidade até o a
feira do produtor rural, como também pelo ambiente em que os expõem, a feira. Sem condições
básica de trabalho e de saúde (banheiro, água, segurança) as mulheres passam a noite expostas
a qualquer perigo. As suas narrativas revelam esse dilema vivido por elas.
Nós as mulheres passamos mal aqui devido às precárias condições do ambiente...os
homens não estão nem aí... nem se importam se a gente está bem ou não. Quando meu
marido vem melhora um pouco, a gente reveza (Isabel).
Devia ser melhor porque a gente não vem de graça, a gente paga desde a nossa saída
de casa. E vimos sofrendo desde lá...jogada parece bicho no porão do caminhão...
chamam isso de feira mas não dão condições decente...aqui é a gente que limpa, zela
e cuida para a gente ficar aqui” (Joaquina).
Eu tenho um bebê e como não tenho com quem deixá-lo e preciso trabalhar pra
sustentar a gente...aí que o sufoco é grande. Quando minha mãe vem ela me ajuda.
Quando eu venho só com ele eu passo um sufoco (Sebastiana).
A narrativa de dona Isabel demonstra que com o seu companheiro minimiza a situação
na feira, se sente segura e protegida. Dona Joaquina reivindica atenção ao espaço, às condições
em que escoam seus produtos requerendo a contrapartida dos gestores. Nesse contexto, a
situação de dona Sebastiana sustenta a permanência da responsabilidade da mulher pelas
atividades dentro de casa e pelo cuidado com os filhos mostrando uma continuidade da
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maternidade como inata e que à mulher cabe o cuidar provocando uma sobrecarga para ela,
sobretudo quando os(as) filhos(as) são crianças. Nessa perspectiva, TEDESCHI (2013, p.447)
corrobora que “a estrutura familiar camponesa brasileira não pode ser imaginada sem a figura
da mãe protetora, acolhedora, dócil que está sempre pronta para o refúgio dos filhos,
reproduzindo a figura feminina criada pela moral católica”, o que acaba sustentando a sociedade
patriarcal.
As questões de gênero que se entrelaçam à categoria trabalho e numa sincronia
permeiam as condições em que se tecem as vivências das mulheres no Quebrão traz no seu bojo
características típicas do sistema patriarcal em que as relações entre os homens e as mulheres
seja no mercado de trabalho, na família são desiguais e as mulheres são as que mais sofrem.
Essa condição, mais ainda, por ser mulher trabalhadora rural é evidenciado quando chegam à
feira.
A gente sai da comunidade meio dia de quinta feira chega aqui quase 3 hs...suada,
cansada, com sede. Ainda temos que varrer, limpar o nosso espaço. E as pessoas
reclamam do preço dos nossos produtos. Elas não conseguem ver o sacrifício que é
vir do Quebrão pra chegar aqui (Joana).
Os homens podem ver que a gente não tem força de carregar um saco de farinha, mas
nenhum se manifesta pra ajudar agente. Eles ajudam quando a mulher é solteira, mas
a casada, eles dizem logo: é o marido delas que tem que vir pra carregar
(Sebastiana).
Eu sou acostumada trabalhar no pesado então não estranho me virar quando estou
fora de casa. Mas, os governantes podiam olhar pra nós com respeito (Antonieta).
Mesmo diante de tantas dificuldades enfrentadas no seu cotidiano, essas mulheres
agricultoras têm realizado grandes esforços para mudar esta condição de vida. Enfrentam o
preconceito da família, dos maridos e da sociedade ao terem que deixar suas “obrigações
familiares” para participarem de outras atividades fora de casa. Seguiram em frente e enfrentam
a dura luta contra o sistema social e econômica que as excluíam (e ainda excluem) e a
invisibilidade como trabalhadoras pelos governos, expressos na não efetivação das políticas
públicas para as mulheres já conquistadas e implementadas e pelo olhar misógino dos homens
que as ignoram pela conquista da sua independência econômica e de sua participação na renda
da família.
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Ao refletirmos sobre a divisão sexual do trabalho, a naturalização de papéis fixados para
homens e mulheres no espaço privado, do doméstico, que limitou a mulher ao lar, também é
pensado e refletido como estratégia de fazê-las sentir e ter um certo poder, não sobre o espaço
público, mas sobre o privado. Nessa perspectiva para as participantes da pesquisa esse poder se
revela quando é a mulher quem organiza, determina e distribui as atividades com os filhos(as).
Quando eu estou muito aperreada divido as tarefas com os meus filhos cada um faz
alguma coisa...até meu marido faz (risos). Mas o trabalho dele é de roçar, plantar e
eu fico mais para descascar e torrar a farinha, fazer beiju, pé de moleque (Joana).
Hoje eu sou marido, a mulher, a caçadora e a coletora. Depois que meu marido
adoeceu eu tive que assumir a família, ficando com toda a responsabilidade. Agora
sou eu quem administra a nossa renda - bolsa família, auxílio doença e da produção
agrícola - faço os projetos para adquirir o financiamento que nós temos direito como
assentados. As tarefas de casa são divididas entre minhas filhas que moram comigo
e eu (Joaquina).
Aqui, as mulheres sinalizam que, ainda que tenham ficado com as tarefas do corpo, da
procriação, da casa, da agricultura, da domesticação dos animais, do servir-cuidar-nutrir
perdendo assim sua capacidade de sujeito (TEDESCHI, 2012, p.11), também são dotadas de
poder político no espaço privado, mesmo que invisibilizado, não aceito pelos homens e tido
como simples ajuda, mas que contribui de forma significativa na realização de seu projeto de
vida como sujeito histórico e social. Decerto que, o patriarcado sinaliza à mulher um tipo de
poder, mas é um poder que não gera visibilidade e status social, mantendo-a ligada ao espaço
doméstico porque a atividade ou participação no chamado espaço privado, socialmente e
historicamente atribuído às mulheres, foi relegada ao plano da invisibilidade, negando qualquer
possibilidade de valorização e reconhecimento social (TEDESCHI, 2013, p.449).
O trabalho de subsistência e doméstico não está inserido nas atividades consideradas
capitalistas, pois não gera e não fornece mais-valor, logo não terá investimentos deixando essa
população vulnerável a uma atenção como trabalhadora. Na sociedade capitalista, os
trabalhadores que não geram mais-valia nem atuam em sua realização e redistribuição, estão
definitivamente excluídos das atividades desse sistema. Tampouco se caracterizam como
produtoras simples de mercadoria (c.f. SAFFIOTI, 1978, p. 196-197).
Sobre a condição de mulheres que participam da renda da família buscamos evidenciar
a percepção que as mulheres do Quebrão têm sobre si enquanto trabalhadoras rurais para
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refletirmos sobre a luta pela sua independência econômica e como isso influencia na sua
autoestima e incorpora as perspectivas de gênero.
Eu me sinto feliz por poder fazer isso e eu faço com amor e carinho. Diante das
dificuldades que eu passo eu me sinto uma guerreira. Tive ao todo 14 filhos e sustento
os últimos com o trabalho na agricultura (Joaquina).
Eu me sinto bem, porque a gente trabalha no que é nosso então a gente ganha com
dignidade. (Joana).
Eu me valorizo pelo meu trabalho. Mesmo morando no interior é um trabalho digno.
Porque as pessoas dizem que quem mora no interior é caboca. Eu não tenho vergonha
de dizer que eu moro no interior que eu sou agricultora rural. Eu não tenho vergonha
de dizer que eu sou do interior é lá que eu garanto meu sustento e da minha família
(Isabel).
ostram-se otimistas com o que fazem, reconhecem-se como mulheres guerreiras em que
suas ideias, desejos próprios por séculos silenciados na História das mulheres são contemplados
pela historiografia contemporânea. É inegável reconhecer que o acesso das trabalhadoras rurais
à terra, ao crédito, à participação na renda familiar tem mostrado maior sociabilidade das
mulheres que atrelado ao Programa Bolsa Família (PBC) reflete possibilidades de auto estima,
direito a voz abrindo caminho para o direito de exercer sua cidadania, mas não é suficiente para
maximizar a equidade de gênero.
4. Considerações Finais
As condições de vida e de trabalho nos Assentamentos de Vila Amazônia podem ser
compreendidas como um meio de análise da não efetivação das Políticas Públicas para as
Mulheres Rurais e a permanência e continuidade das desigualdades de gênero. É notório as
conquistas de políticas públicas para as mulheres pelos movimentos de mulheres em que a
saúde, educação, acesso à terra, crédito e outros constam nos planos de ação dessas políticas,
no entanto as problemáticas vivenciadas pelos trabalhadores(as) assentados na Vila Amazônia
expressam as contradições capital/trabalho em que as indiferenças no trato às questões
ambientais e social têm colocado à margem a população que vive da e na terra, sobretudo, na
perspectiva de gênero. São atingidas diretamente pela política neoliberal em que a riqueza
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socialmente produzida é desigualmente dividida e o Estado, controlador e suficiente para a
reestruturação produtiva tem sido omisso com a população da comunidade do Quebrão.
As narrativas revelam que na sociedade dividida por classes e gênero as mulheres do
Quebrão experimentam todas as intempéries de vida de trabalhadoras rurais desde o processo
da produção ao escoamento de seus produtos corroborando com a continuidade das
desigualdades entre homens e mulheres. Evidenciamos ainda, uma certa autonomia dessas
mulheres em determinadas situações em que assumem o seu papel político na tomada de decisão
tanto no espaço privado como no espaço público da comunidade em que vivem e nos negócios
bancários, no trabalho e em outros. Mas, concluímos que há necessidade de investimento eficaz
do governo federal, estadual e municipal nas condições de vida e de trabalho das trabalhadoras
rurais para efetivar a política de acesso e permanência à terra como também criar estratégias e
ações que possibilite a equidade de gênero.
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