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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ENERGIA DA GÊNESE À IMPLANTAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE DISTRIBUIÇÃO PRODIST: DESAFIOS E OPORTUNIDADES CARLOS ALBERTO CALIXTO MATTAR ORIENTADOR: JAMIL HADDAD CO-ORIENTADOR: EDSON DA COSTA BORTONI DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DA ENERGIA ITAJUBÁ/MG: MAIO 2010

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ENERGIA

    DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE

    DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E

    OPORTUNIDADES

    CARLOS ALBERTO CALIXTO MATTAR

    ORIENTADOR: JAMIL HADDAD

    CO-ORIENTADOR: EDSON DA COSTA BORTONI

    DISSERTAO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DA

    ENERGIA

    ITAJUB/MG: MAIO 2010

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ENERGIA

    DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE

    DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

    CARLOS ALBERTO CALIXTO MATTAR

    DISSERTAO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PS-

    GRADUAO EM ENGENHARIA DA ENERGIA DA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB, COMO PARTE DOS

    REQUISITOS PARA OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM

    CINCIAS EM ENGENHARIA DA ENERGIA.

    APROVADA POR:

    ___________________________________________________

    Prof. Jamil Haddad, Doutor (Unifei)

    (Orientador)

    ___________________________________________________

    Prof. Edson da Costa Bortoni, Doutor (Unifei)

    (Co-orientador)

    ___________________________________________________

    Prof. Claudio Ferreira, Doutor (Unifei)

    (Examinador Interno)

    ___________________________________________________

    Prof. Aderbal de Arruda Penteado Junior, Doutor (USP)

    (Examinador Externo)

    ITAJUB, 07 DE MAIO DE 2010.

  • iv

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Mau

    Bibliotecria Margareth Ribeiro- CRB_6/1700

    M435g

    Mattar, Carlos Alberto Calixto

    Da Gnese Implantao de Procedimentos de Distribuio

    PRODIST : desafios e oportunidades / Carlos Alberto Calixto Mat_

    tar. -- Itajub, (MG) : [s.n.], 2010.

    183 p. : il.

    Orientador: Prof. Dr. Jamil Haddad.

    Coorientador: Prof. Dr. Edson da Costa Bortoni.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Itajub.

    1. Procedimentos de distribuio. 2. PRODIST. 3. Distribuio

    de Energia Eltrica. 4. Aspectos regulatrios. I. Haddad, Jamil,

    orient. II. Bortoni, Edson da Costa, coorient. III. Universidade

    Federal de Itajub. IV. Ttulo.

  • v

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho minha querida filha Marina, para que sirva de estmulo ao seu

    desenvolvimento profissional e pessoal.

    Siga a pegada. Voc tem tudo para chegar muito mais longe!

    "Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir;

    aconselhar-te-ei, tendo-te sob a minha vista" (Sl 32:8).

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeo a Deus pela magnfica oportunidade de escrever trabalho, pois

    graas sua iluminao e a esplendorosa companhia nos momentos mais difceis, muito

    me auxiliou nas decises e atitudes.

    Em especial, registro meus sinceros agradecimentos ao Professor Jamil Haddad, sbio e

    paciente orientador. Sem seu estmulo e incentivo jamais chegaria a este momento to

    especial. Registro tambm a generosidade e compreenso do Professor Edson Bortoni

    que tambm muito contribuiu para este trabalho, tanto como co-orientador quanto como

    Coordenador da Ps-Graduao em Engenharia da Energia.

    No posso deixar de agradecer imensamente ao meu querido amigo Hugo Lamin.

    Faltam-me palavras para marcar de forma indelvel sua fantstica contribuio, mas

    seguramente, eu e voc sabemos do que estamos falando, sem contar, claro, com o Pai

    Eterno, que a tudo v e sabe retribuir aos seus filhos amados em doses inimaginveis

    pela pequenez de nossa mente.

    Por fim, agradeo a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam para que

    momentos importantes da histria do setor eltrico brasileiro fossem devidamente

    gravados neste trabalho. Os Procedimentos de Distribuio PRODIST so

    efetivamente um documento mpar para o setor, tanto quanto pelos avanos que contm

    quanto pelas oportunidades que se abrem a partir de sua publicao. Foram imensos os

    obstculos que a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL teve que superar e

    contornar para viabilizar a aprovao do PRODIST. Neste trabalho registramos, se no

    todos, os eventos mais significativos da concepo aprovao da primeira verso.

    histria, mas so fatos. S o futuro far o julgamento correto.

  • vii

    RESUMO

    DA GNESE IMPLANTAO DOS PROCEDIMENTOS DE

    DISTRIBUIO PRODIST: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

    Os Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico Nacional

    PRODIST constituem-se em um conjunto de regras e procedimentos para o segmento de

    distribuio de energia eltrica. Os oito mdulos que compem o PRODIST so

    documentos regulatrios que padronizam as atividades tcnicas relacionadas ao

    funcionamento e desempenho dos sistemas de distribuio. Nesse sentido, o PRODIST

    disciplina formas, condies e responsabilidades relativas conexo, planejamento da

    expanso, operao, medio, perdas tcnicas e qualidade da energia, definindo

    procedimentos, sistematizando a troca de informaes entre as partes e, para alguns

    casos, estabelecendo indicadores.

    O objetivo do presente trabalho de dissertao apresentar as fases de elaborao dos

    Procedimentos de Distribuio, seus princpios, perspectivas, destaques, inovaes e

    eventuais impactos. Assim, entre as finalidades do trabalho esto a disponibilizao de

    diversas experincias que envolveram as atividades de criao dos Procedimentos de

    Distribuio, disponibilizando referncias bibliogrficas sobre a elaborao e contedo

    do PRODIST.

    O texto elaborado tem a natureza de uma dissertao documental, apresenta um

    compndio de informaes sobre o PRODIST e se constitui em uma fonte bibliogrfica

    relevante sobre a elaborao e sobre o teor desses Procedimentos. O presente trabalho

    apresenta a vivncia e as experincias de quem participou ativamente no processo de

    elaborao, implantao e consolidao do PRODIST.

    Palavras-chave: Procedimentos de Distribuio, PRODIST, Distribuio de

    Energia eltrica, Regulao.

  • viii

    ABSTRACT

    FROM THE GENESIS TO THE IMPLEMENTATION OF THE BRAZILIAN

    DISTRIBUTION CODE - PRODIST: CHALLENGES AND OPPORTUNITIES.

    The Brazilian Distribution Code, the so-called PRODIST, is set of rules and procedures

    for the electricity distribution system. The eight modules that make up the PRODIST

    are regulatory documents that standardize the technical activities related to the operation

    and performance of distribution systems. Thus, PRODIST disciplines the conditions,

    responsibilities for the connection, expansion planning, operation, measurement,

    technical losses and power quality, defining procedures, streamlining the information

    exchange between the parties and, for some cases, establishing indicators.

    The dissertation purpose is to present the stages of preparation of the Distribution Code,

    its principles, perspectives, highlights, innovations and potential impacts. Thus, among

    the study objectives are the availability of several experiences involving the activities of

    creating the Distribution Code, including references on the preparation and content of

    the eight modules of PRODIST.

    The text produced is a documentary dissertation and shows the information about the

    PRODIST. It constitutes a relevant source literature on the preparation and the content

    of that Code. This paper presents the experience of who actively participated in the

    drafting, implementation and consolidation of PRODIST.

    Keywords: Distribution Code, Distribution Procedures, PRODIST, Electricity

    Distribution, Regulatory issues.

  • ix

    SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 1

    1.1 PREMBULO ............................................................................................................. 1

    1.2 OBJETIVOS E COMPOSIO DO TRABALHO ................................................. 2

    2 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO .................................................................... 5

    2.1 CONTEXTUALIZAO ........................................................................................... 5

    2.2 HISTRICO ................................................................................................................ 7 2.2.1 1879 a 1930: Do advento da energia eltrica ao domnio das empresas estrangeiras ..... 8 2.2.2 1931 a 1960: O Cdigo de guas, a regulamentao inicial e a criao do MME ........ 13 2.2.3 1961 a 1989: A criao da Eletrobrs, do DNAEE e das grandes usinas ....................... 19 2.2.4 1990 a 2008: Privatizao, criao da ANEEL e o Novo Modelo ................................... 25 2.2.5 Cronologia: os fatos dispostos em uma linha do tempo ................................................... 34

    2.3 O ATUAL AMBIENTE INSTITUCIONAL ........................................................... 39 2.3.1 Conselho Nacional de Poltica Energtica CNPE (Lei n 9.478/1997) ......................... 39 2.3.2 Ministrio de Minas e Energia MME (Lei n 3.782/1960) ............................................ 40 2.3.3 Empresa de Pesquisa Energtica EPE (Lei n 10.847/04) ............................................ 42 2.3.4 Comit de Monitoramento do Setor Eltrico CMSE (Lei n 10.848/2004) ................. 43 2.3.5 Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL (Lei n 9.427/1996) ............................ 44 2.3.6 Operador Nacional do Sistema Eltrico ONS (Lei n 9648/1998) ................................ 48 2.3.7 Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CCEE (Lei n 10.848/04) .............. 50 2.3.8 Centrais Eltricas Brasileiras S.A. ELETROBRS (Lei n 3.890 - A/1961) .............. 53 2.3.9 Agentes Setoriais ................................................................................................................. 54

    2.4 LEGISLAO E REGULAMENTAO DO SETOR ....................................... 56

    2.5 A INSERO DO PRODIST NO SETOR ELTRICO NACIONAL ................ 57

    3 O PROCESSO DE ELABORAO DO PRODIST ............................................. 63

    3.1 INTRODUO ......................................................................................................... 63

    3.2 CATALOGAO CEPEL ....................................................................................... 65

    3.3 EDITAL 1 (Edital n 003/2002) ................................................................................ 69

    3.4 EDITAL 2 (Edital n 40-351/2003)........................................................................... 72

    3.5 DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS ........................................................ 77

    3.6 COMISSO DE TRABALHO ................................................................................. 82

    3.7 AUDINCIA PBLICA (AP n 014/2008) ............................................................. 85

    4 OS MDULOS DO PRODIST .............................................................................. 90

    4.1 INTRODUO ......................................................................................................... 90

    4.2 MDULO 1 INTRODUO ................................................................................ 91 4.2.1 Seo 1.0 - Objetivos Gerais .............................................................................................. 92 4.2.2 Seo 1.1 - Fundamentos, responsabilidades e sanes ................................................... 92 4.2.3 Seo 1.2 Glossrio de termos tcnicos do PRODIST .................................................. 93

    4.3 MDULO 2 - PLANEJAMENTO DA EXPANSO DO SISTEMA DE

    DISTRIBUIO ................................................................................................................... 94

  • x

    4.3.1 Seo 2.0 - Introduo ........................................................................................................ 94 4.3.2 Seo 2.1 - Previso de demanda ....................................................................................... 95 4.3.3 Seo 2.2 Critrios e estudos de planejamento .............................................................. 97 4.3.4 Seo 2.3 Plano de Desenvolvimento da Distribuio ................................................. 100

    4.4 MDULO 3 ACESSO AO SISTEMA DE DISTRIBUIO .......................... 101 4.4.1 Seo 3.0 Introduo ..................................................................................................... 102 4.4.2 Seo 3.1 - Procedimentos de Acesso .............................................................................. 102 4.4.3 Seo 3.2 - Critrios Tcnicos e Operacionais ................................................................ 105 4.4.4 Seo 3.3 Requisitos de Projeto .................................................................................... 106 4.4.5 Seo 3.4 Implantao de Novas Conexes .................................................................. 108 4.4.6 Seo 3.5 Requisitos para Operao, Manuteno e Segurana da Conexo........... 108 4.4.7 Seo 3.6 Contratos ....................................................................................................... 109 4.4.8 Seo 3.7 Cartilha de Acesso ao Sistema de Distribuio .......................................... 111

    4.5 MDULO 4 PROCEDIMENTOS OPERATIVOS DO SISTEMA DE

    DISTRIBUIO ................................................................................................................. 111 4.5.1 Seo 4.0 - Introduo ...................................................................................................... 112 4.5.2 Seo 4.1 - Dados de carga e de despacho de gerao ................................................... 113 4.5.3 A Seo 4.2 - Programao de intervenes em instalaes .......................................... 113 4.5.4 A Seo 4.3 - Controle de carga ....................................................................................... 114 4.5.5 A Seo 4.4 - Teste das instalaes .................................................................................. 116 4.5.6 A Seo 4.5 - Coordenao operacional .......................................................................... 116 4.5.7 Seo 4.6 Recursos de comunicao de voz e dados .................................................... 117

    4.6 MDULO 5 SISTEMAS DE MEDIO .......................................................... 118 4.6.1 Seo 5.0 - Introduo ...................................................................................................... 119 4.6.2 Seo 5.1 - Aplicabilidade ................................................................................................ 119 4.6.3 Seo 5.2 Especificao dos sistemas de medio........................................................ 120 4.6.4 Seo 5.3 - Implantao, inspeo e manuteno dos sistemas de medio ................. 122 4.6.5 Seo 5.4 Leitura, registro, compartilhamento e disponibilizao das informaes de medio ........................................................................................................................................... 123

    4.7 MDULO 6 INFORMAES REQUERIDAS E OBRIGAES ................ 124 4.7.1 Seo 6.0 - Introduo ...................................................................................................... 125 4.7.2 Seo 6.1 - Aplicabilidade ................................................................................................ 125 4.7.3 Seo 6.2 - Requisitos das informaes por etapa .......................................................... 125

    4.8 MDULO 7 CLCULO DE PERDAS NA DISTRIBUIO ......................... 129 4.8.1 Seo 7.0 - Introduo ...................................................................................................... 130 4.8.2 Seo 7.1 - Premissas de Clculo e Indicadores ............................................................. 130 4.8.3 Seo 7.2 Metodologia de Clculo de Perdas Tcnicas de Potncia .......................... 132 4.8.4 Seo 7.3 Clculo das Perdas Tcnicas de Energia ..................................................... 133

    4.9 MDULO 8 QUALIDADE DA ENERGIA ELTRICA ................................. 134 4.9.1 Seo 8.0 Introduo ..................................................................................................... 135 4.9.2 Seo 8.1 - Qualidade do Produto ................................................................................... 135 4.9.3 Seo 8.2 - Qualidade do Servio ..................................................................................... 138 4.9.4 Seo 8.3 - Disposies Transitrias ................................................................................ 141

    5 CONSTATAES E RECOMENDAES NO MBITO DA APLICAO DO

    PRODIST ..................................................................................................................... 143

    5.1 O CDIGO DA DISTRIBUIO ......................................................................... 144 5.1.1 O PRODIST e a interface com as Condies Gerais de Fornecimento ........................ 145 5.1.2 Regulamentao das condies de acesso na distribuio e na transmisso................ 147

  • xi

    5.2 ATUALIZAO E AMPLIAO DO PRODIST ............................................. 149 5.2.1 Acesso entre distribuidoras .............................................................................................. 150 5.2.2 Medio Eletrnica ........................................................................................................... 150 5.2.3 O fim das campanhas de medio ................................................................................... 152 5.2.4 Qualidade do Produto ...................................................................................................... 153 5.2.5 Ressarcimento de danos eltricos .................................................................................... 154

    6 CONCLUSES .................................................................................................... 156

    6.1 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 156

    6.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................. 159

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 161

    ANEXO I - COMPNDIO DAS RECENTES NORMAS SANCIONADAS ............ 166

    ANEXO II - A PRIMEIRA MINUTA DO MDULO 7 ............................................ 178

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Mudanas no Setor Eltrico Brasileiro (CCEE, 2009 adaptado). ........................................ 34

    Tabela 2.2 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1879 e 1930. ............................ 35

    Tabela 2.3 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1931 e 1960. ............................ 36

    Tabela 2.4 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1961 e 1989. ............................ 37

    Tabela 2.5 Esquemtico com histrico do setor eltrico nacional entre 1990 e 2008. ............................ 38

    Tabela 2.6 - Relao entre os Mdulos do PRODIST e a legislao e regulamentao brasileira. ............ 61

    Tabela 3.1 - Empresas participantes da licitao de contratao de consultoria para elaborao do

    PRODIST (ANEEL, 2002). ........................................................................................................................ 75

    Tabela 3.2 - Pontuao atribuda aps apreciao das propostas dos concorrentes (ANEEL, 2002). ........ 76

    Tabela 3.3 - Principais reunies e audincias internas ocorridas em 2005 para elaborao do PRODIST

    (ANEEL, 2002). ......................................................................................................................................... 78

    Tabela 3.4 - Participao dos colaboradores internos em reunies na ANEEL (obs. no foi feita lista de

    presena da reunio de premissas do Mdulo 5) (ANEEL, 2002). ............................................................ 79

    Tabela 3.5 - Principais reunies com participao de agentes ocorridas em 2005 para elaborao do

    PRODIST (ANEEL, 2002). ........................................................................................................................ 80

    Tabela 3.6 - Participaes e contribuies dos agentes externos e da ANEEL nas reunies para elaborao

    do PRODIST (ANEEL, 2002). ................................................................................................................... 81

    Tabela 3.7 - Reunies presenciais da Comisso de Trabalho (ANEEL, 2002). ......................................... 84

    Tabela 3.8 - Lista de agentes que enviaram contribuies AP 014/2008 (ANEEL, 2002). ..................... 86

    Tabela 3.9 - Quantitativo de contribuies recebidas por meio da AP 014/2008 (ANEEL, 2002). ........... 88

    Tabela 4.1 - Etapas dos procedimentos de acesso por tipo de acessante (ANEEL, 2008b) ..................... 103

    Tabela 4.2 - Exemplo de tabelas com fluxo de dados (ANEEL,2008b). .................................................. 128

  • xiii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 - Ilustrao de Thomas Edson trabalhando na lmpada incandescente. (Fonte: Livro Luz e

    Fora Movimentando a Histria). ................................................................................................................. 9

    Figura 2.2 - Hidreltrica de Marmelos em Juiz de Fora - MG. .................................................................. 10

    Figura 2.3 - Reproduo da primeira pgina do decreto que em 1934 sancionou o Cdigo de guas

    (Fonte: CEDOC ANEEL)........................................................................................................................... 14

    Figura 2.4 - Anncio da Cemig no peridico O Observador Econmico e Financeiro, Rio de janeiro, 1955

    (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional). ................................................................................ 16

    Figura 2.5 - O presidente Juscelino em uma de suas visitas s obras da Usina Hidreltrica de Furnas

    (Furnas, 2009). ........................................................................................................................................... 17

    Figura 2.6 - Anncio da Light sobre a contribuio do setor na indstria automobilstica, Revista A

    Cigarra, So Paulo 1958 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional). ......................................... 18

    Figura 2.7 - Usina Hidreltrica de Furnas - vista area poca da construo (Furnas, 2009). ................. 21

    Figura 2.8 - Usina Hidreltrica de Furnas - recente imagem area da usina (Furnas, 2009). ..................... 21

    Figura 2.9 - Usina Hidreltrica Itaipu Binacional - foto area com a usina vertendo (PROMOM, 2009). 25

    Figura 2.10 - Charge sobre a crise energtica ocorrida no Brasil em 2001 (Rett, 2001). ........................... 30

    Figura 2.11 - Estrutura organizacional do Ministrio de Minas e Energia (MME, 2009 - adaptado). ....... 41

    Figura 2.12 - Instituies vinculadas ao Ministrio de Minas e Energia (MME, 2009 - adaptado). .......... 42

    Figura 3.1 - Linha do tempo com as etapas de elaborao do PRODIST. .................................................. 64

    Figura 4.1 Ilustrao da composio do PRODIST. ................................................................................ 91

    Figura 4.2 - Etapas de acesso obrigatrias para centrais geradoras solicitantes de autorizao (ANEEL,

    2008b)....................................................................................................................................................... 104

    Figura 4.3 Esquemtico com abrangncia dos Procedimentos de Rede e do Mdulo 4 do PRODIST. 112

    Figura 4.4 Exemplo de fluxograma utilizado no Mdulo 6. .................................................................. 126

    Figura 4.5 - Exemplo de fluxo de informaes. ....................................................................................... 127

    Figura 4.6 - Fluxograma simplificado do procedimento de avaliao das perdas. ................................... 131

  • xiv

    LISTA DE ABREVIAES

    ABC Agncia Brasileira de Cooperao

    ABIAPE Associao Brasileira dos Investidores em Autoproduo de Energia Eltrica

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ABRACE Associao Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia

    ABRADEE Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica

    ABRAGET Associao Brasileira de Geradoras Termeltricas

    ACL Ambiente de Contratao Livre

    ACR Ambiente de Contratao Regulada

    AMFORP American and Foreign Power Company

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Bicombustveis

    APE Autoprodutor de Energia Eltrica

    API Audincias para o Pblico Interno

    ASS Assessoria da Diretoria Colegiada da ANEEL

    AT Alta Tenso

    BT Baixa Tenso

    CAG Controle Automtico de Gerao

    CBEE Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial

    CCD Contrato de Conexo s Instalaes de Distribuio

    CCEE Cmara de Comercializao de Energia Eltrica

    CCOI Comit Coordenador de Operao Interligada

    CCON Comit Coordenador da Operao Norte/Nordeste

    CCPE Comit Coordenador do Planejamento da Expanso dos Sistemas Eltricos

    CCT Contrato de Conexo s Instalaes de Transmisso

    CEA Canadian Electricity Association

    CEA Companhia de eletricidade

    do Amap

    CEEE-D Companhia Estadual de Distribuio de Energia Eltrica

    CELESC Centrais Eltricas de Santa Catarina S.A.

    CELG Centrais Eltricas de Gois S.A.

    CELTINS Companhia de Eletricidade do Tocantins

    CEMAR Companhia Energtica do Maranho

    CEMAT Centrais Eltricas Matogrossenses S.A.

    CEMIG Companhia Energtica de Minas Gerais

    CENELEC European Committee for Electrotechnical Standardization

    CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    CGSE Cmara de Gesto do Setor Eltrico

    CHESF Companhia Hidro Eltrica do So Francisco

    CMSE Comit de Monitoramento do Setor Eltrico

    CNAEE Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica

  • xv

    CNAEE Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNOS Centro Nacional de Operao dos Sistemas

    CNPE Conselho Nacional de Poltica Energtica

    CO Centros de Operao

    CODI Comit de Distribuio da Regio Sul-Sudeste

    COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia

    COPEL Companhia Paranaense de Energia Eltrica

    COT Centro de Operao de Agente de Transmisso

    CPFL Paulista Companhia Paulista de Fora e Luz

    CPFL Piratininga Companhia Piratininga de Fora e Luz

    CSIP Contrato de Prestao de Servio de Energia Eltrica para Iluminao Pblica

    CUSD Contrato de Uso dos Sistemas de Distribuio

    CUST Contrato de Uso do Sistema de Transmisso

    CUST Contrato de Uso dos Sistemas de Transmisso

    DEC Durao equivalente de interrupo por unidade consumidora

    DIC Durao de interrupo individual por unidade consumidora

    DIT Demais Instalaes de Transmisso

    DMIC Durao mxima de interrupo contnua por unidade consumidora

    DNAEE Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica

    DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral

    DRC Durao Relativa da Transgresso de Tenso Crtica

    DRCE Durao relativa da transgresso para tenso critica equivalente

    DRP Durao Relativa da Transgresso de Tenso Precria

    DRPE Durao relativa da transgresso para tenso precria equivalente

    ELEKTRO ELEKTRO Eletricidade e Servios S.A.

    ELETROBRS Centrais Eltricas Brasileiras S. A.

    ELETRONORTE Centrais Eltricas do Norte do Brasil

    ELETROSUL Centrais Eltricas do Sul do Brasil

    EPE Empresa de Pesquisa Energtica

    ERC Philippine Energy Regulatory Comission

    ESCELSA Esprito Santo Centrais Eltricas S.A.

    FEC Freqncia equivalente de interrupo

    FIC Freqncia de interrupo individual

    FIPE Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas

    FURNAS Furnas Centrais Eltricas S.A.

    GCE Cmara de Gesto da Crise de Energia Eltrica

    GCOI Grupo Coordenador para Operao Interligada

    GCPS Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Eltricos

    ICC ndice de Unidades Consumidoras com Tenso Crtica

    IEC International Electrotechnical Commission

    IEEE Institute of Electrical and Electronic Engineers

    IEMI Instituto Eletrotcnico e Mecnico de Itajub

    INESC Porto Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto

  • xvi

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    ITAIPU Itaipu Binacional

    IUEE Imposto nico sobre Energia Eltrica

    MAE Mercado Atacadista de Energia Eltrica

    MME Ministrio de Minas e Energia

    MT Mdia Tenso

    MUSD Montante de Uso do Sistema de Distribuio

    MUST Montante de Uso do Sistema de Transmisso

    ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico

    PAC Programa de Acelerao do Crescimento

    PAS Priorizao de Alimentadores por Subestao

    PdCs Procedimentos de Comercializao

    PDD Plano de

    Desenvolvimento da Distribuio

    PDEE Plano Decenal de Expanso de Energia Eltrica

    PF Procuradoria-Geral

    PIA Produtor Independente Autnomo

    PIE Produtor Independente de Energia Eltrica

    PLD Preo de Liquidao de Diferenas

    PND Programa Nacional de Desestatizao

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PR Tabelas de Prioridade Regional

    PROCEL Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica

    PRODIST Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico

    Nacional

    PROINFA Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica

    QEE Qualidade da Energia Eltrica

    RAP Receita Anual Permitida

    RESEB Projeto Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro

    SAF Superintendncia de Administrao e Finanas

    SCG Superintendncia de Concesses e Autorizaes de Gerao

    SCT Superintendncia de Concesses e Autorizaes de Transmisso e Distribuio

    SDAT Sistema de Distribuio de Alta Tenso

    SDBT Sistema de Distribuio de Baixa Tenso

    SDMT Sistema de Distribuio de Mdia Tenso

    SED Subestaes de Distribuio

    SEM Superintendncia de Estudos Econmicos do Mercado

    SFE Superintendncia de Fiscalizao dos Servios de Eletricidade

    SFF Superintendncia de Fiscalizao Econmica e Financeira

    SFG Superintendncia de Fiscalizao dos Servios de Gerao

    SGH Superintendncia de Gesto e Estudos Hidroenergticos

    SGI Superintendncia de Gesto Tcnica da Informao

    SIN Sistema Interligado Nacional

  • xvii

    SLC Superintendncia de Licitaes e Controle de Contratos e Convnios

    SMA Superintendncia de Mediao Administrativa Setorial

    SMF Sistema de Medio para Faturamento

    SPE Superintendncia de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficincia Energtica

    SPG Superintendncia de Planejamento da Gesto

    SRC Superintendncia de Regulao da Comercializao da Eletricidade

    SRD Superintendncia de Regulao dos Servios de Distribuio

    SRE Superintendncia de Regulao Econmica

    SRG Superintendncia de Regulao dos Servios de Gerao

    SRH Superintendncia de Recursos Humanos

    SRI Superintendncia de Relaes Institucionais

    SRT Superintendncia de Regulao dos Servios de Transmisso

    TC Transformadores de Corrente

    TFSEE Taxa de Fiscalizao de Servios de Energia Eltrica

    TMAE Tempo Mdio de Atendimento a Emergncias

    TMD Tempo Mdio de Deslocamento

    TME Tempo Mdio de Execuo

    TMP Tempo Mdio de Preparao

    TP Transformadores de Potencial

    TUSD Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuio

    UNIFEI Universidade Federal de Itajub

  • 1

    1 INTRODUO

    1.1 PREMBULO

    Os Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema Eltrico Nacional

    PRODIST so um conjunto de regras com vistas a subsidiar os agentes e consumidores

    do sistema eltrico nacional na identificao e classificao de suas necessidades no

    segmento de distribuio de energia eltrica.

    A elaborao do PRODIST baseou-se nos princpios de modicidade tarifria, direitos e

    deveres equilibrados, funo da distribuio de energia, tratamento isonmico para

    usurios da rede e um sistema de informaes sistemticas e permanentes de modo a

    auxiliar nos processos de regulao, fiscalizao e mediao da Agncia Nacional de

    Energia Eltrica - ANEEL.

    Durante a elaborao dos Procedimentos de Distribuio, considerou-se o disposto em

    outros regulamentos, destacando-se a interface com a Rede Bsica, complementando de

    forma harmnica os Procedimentos de Rede.

    Os Mdulos que compem o PRODIST so documentos regulatrios que padronizam as

    atividades tcnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de

    distribuio de energia eltrica. O documento disciplina o relacionamento entre os

    agentes setoriais no que se refere aos sistemas eltricos de distribuio de propriedade

    das concessionrias e permissionrias de servio pblico de distribuio, que incluem

    todas as redes e linhas de distribuio de energia eltrica em tenso inferior a 230 kV,

    seja em baixa tenso (BT), mdia tenso (MT) ou alta tenso (AT).

    O PRODIST disciplina formas, condies e responsabilidades relativas conexo,

    planejamento da expanso, operao, medio, perdas tcnicas e qualidade da energia,

    definindo procedimentos, sistematizando a troca de informaes entre as partes e, para

    alguns casos, estabelecendo critrios e indicadores. A primeira verso do Documento

    foi aprovada pela Resoluo Normativa n 345/2008, e ao fim de 2009 ocorreu a

    primeira reviso por meio da Resoluo Normativa n 395/2009.

  • 2

    Conforme analisado e detalhado posteriormente, o PRODIST composto de seis

    mdulos tcnicos e dois mdulos integradores, compondo um total de oito mdulos:

    Mdulo 1 - Introduo;

    Mdulo 2 - Planejamento da Expanso do Sistema de Distribuio;

    Mdulo 3 - Acesso ao Sistema de Distribuio;

    Mdulo 4 - Procedimentos Operativos do Sistema de Distribuio;

    Mdulo 5 - Sistemas de Medio;

    Mdulo 6 - Informaes Requeridas e Obrigaes;

    Mdulo 7 - Clculo de Perdas na Distribuio;

    Mdulo 8 - Qualidade da Energia Eltrica.

    Pelo presente trabalho de dissertao, busca-se apresentar as fases de elaborao dos

    Procedimentos de Distribuio, destacando a importncia do documento para o setor

    eltrico nacional. O texto traz a vivncia de quem possui experincia na regulao dos

    servios pblicos de energia eltrica e participou ativamente do processo de elaborao

    do PRODIST e ainda trabalha para sua implantao, consolidao e atualizao.

    1.2 OBJETIVOS E COMPOSIO DO TRABALHO

    O objetivo do presente trabalho de dissertao apresentar as fases de elaborao dos

    Procedimentos de Distribuio, seus princpios, perspectivas, destaques, inovaes e

    eventuais impactos. Assim, entre as finalidades do trabalho esto a disponibilizao de

    diversas experincias que envolveram as atividades de criao dos Procedimentos de

    Distribuio, disponibilizando referncias bibliogrficas sobre a elaborao e contedo

    do PRODIST.

    Para alcanar esses objetivos, o presente trabalho se divide em seis captulos, incluindo

    esta seo introdutria, divididos da seguinte forma:

    1 - Introduo;

    2 - O Setor Eltrico Nacional;

    3 - Processo de implementao do PRODIST;

    4 - Os Mdulos do PRODIST;

  • 3

    5 - Constataes e recomendaes no mbito da aplicao do PRODIST;

    6 - Concluses;

    Assim, o primeiro captulo, conforme sugere o prprio nome, possui carter introdutrio

    e apresenta um breve resumo dos demais captulos, alm das informaes gerais sobre o

    PRODIST e tambm sobre o prprio trabalho de dissertao.

    O Captulo 2 expe informaes sobre o setor eltrico nacional, com destaque para a

    apresentao do histrico, das atuais instituies, atos legais e regulamentao

    pertinente. Assim, enunciado um breve histrico do setor eltrico brasileiro,

    destacando-se os principais marcos que envolveram o pas. A evoluo da prestao do

    servio pblico de energia eltrica apresentada, iniciando-se ainda no sculo XIX at

    os dias atuais.

    Ainda no Capitulo 2, as instituies que atualmente compem o setor eltrico nacional

    so tema de um item. Assim, so apresentados os nomes de cada um dos rgos

    nacionais que desempenham diferentes funes no ambiente eletroenergtico do Brasil.

    De forma resumida, so listadas as atribuies de cada um desses rgos. Ainda

    apresentada uma catalogao de Leis, Decretos e Resolues, com vistas a listar os

    principais marcos legais e regulamentares vigentes no setor eltrico nacional. Entre as

    resolues apresentadas, destaque especial dado regulamentao do servio pblico

    de distribuio de energia eltrica, objeto do presente trabalho. Por fim, o texto do

    capitulo relaciona o contedo apresentado no texto com a aplicabilidade do PRODIST,

    comentando sobre a insero do documento no setor eltrico nacional.

    O Captulo 3 ilustra as diferentes fases constituintes do processo de elaborao do

    PRODIST. Ou seja, so apresentadas as etapas de catalogao dos documentos, editais

    de licitao, contratao, reunies tcnicas, as audincias pblicas internas na ANEEL,

    as reunies externas com os agentes do setor, o workshop internacional, a comisso de

    trabalho e Audincia Pblica.

    O Captulo 4 descreve a composio e o teor do PRODIST, com enfoque na primeira

    verso aprovada de cada um os oito mdulos que compem o documento. Conforme j

    comentado, o PRODIST composto por oito mdulos, sendo seis mdulos tcnicos e

  • 4

    dois mdulos integradores. Assim, no Capitulo 4 so apresentados o arranjo, a descrio

    e as informaes dos mdulos, destacando as principais contribuies e inovaes de

    cada parte do documento. De certa forma, o quarto captulo apresenta um resumo

    comentado do contedo do PRODIST.

    O Captulo 5 trata de diferentes aspectos, envolvendo a aplicao do PRODIST, seus

    desafios e oportunidades decorrentes. So apresentadas algumas recomendaes de

    melhoria que necessariamente passam pela implantao e atualizao do PRODIST.

    Nessa linha, so ilustrados pontos passveis de anlise e reflexo para a correta tomada

    de deciso sobre a implantao de novos regulamentos ou reviso de normas j

    existentes.

    O Captulo 6, ltimo captulo da Dissertao, conclui e extrai as partes de destaque do

    texto.

  • 5

    2 O SETOR ELTRICO BRASILEIRO

    2.1 CONTEXTUALIZAO

    Ao final do sculo XIX, quando a atividade econmica brasileira era expressivamente

    agrria, a participao da eletricidade como fonte de energia era inexpressiva. No

    Brasil, conforme ser ilustrado, pode-se considerar que o advento da energia eltrica

    ocorreu em 1879, quando Thomas Edison introduziu suas invenes no pas. Com o

    comeo da industrializao, fatores como a concentrao em centros urbanos e o

    surgimento de uma classe mdia impulsionaram o uso da eletricidade.

    Apesar da existncia da iniciativa privada no setor eltrico brasileiro no incio do sculo

    XX, a estrutura de decises do setor era historicamente concentrada e estatal, o que se

    aguou com a instalao oficial da Eletrobrs em 1962, holding de quatro geradoras

    federais que na dcada de 90, possuam aproximadamente 50% da energia gerada no

    Brasil.

    Os empreendimentos privados no setor eltrico brasileiro foram ausentes nos anos 60

    at meados dos anos 90, quando iniciou a era da desestatizao. Atualmente os

    segmentos de gerao, transmisso e distribuio, notadamente esse ltimo, apresentam

    relevante participao da iniciativa privada.

    O setor eltrico brasileiro passou por uma reforma iniciada 1993 e foi sofrendo

    mudanas durante a dcada de 90, com destaque para a promulgao de Leis e a criao

    de rgos do setor. Em 2004 ocorreu a criao de um novo modelo e, atualmente, o

    modelo institucional do setor possui diversos agentes, com diferentes atuaes e

    responsabilidades.

    Tecnicamente, o atual sistema eltrico brasileiro possui caractersticas prprias que

    guardam pouca similaridade com sistemas eltricos de outros pases. um sistema

    hidrotrmico de grande porte, com forte predominncia de usinas hidreltricas e com

    mltiplos proprietrios. O Brasil possui no total 2.186 empreendimentos de gerao em

    operao, gerando 106.900.877 kW de potncia. Est prevista para os prximos anos

  • 6

    uma adio de 37.615.751 kW na capacidade de gerao do Pas, proveniente dos 155

    empreendimentos atualmente em construo e mais 445 outorgadas (ANEEL, 2010a).

    Com isso, no Brasil, os empreendimentos em operao so em grande parte com

    caracterstica hidrulica, com cerca de 73,6% da potncia instalada. A gerao trmica

    exerce a funo de complementaridade nos momentos de pico do sistema e possui

    capacidade instalada de 23,8% do total do parque brasileiro. Empreendimentos de

    grande porte caracterizam as usinas nacionais e cerca de dois teros da capacidade

    instalada total so baseados em aproximadamente 30 usinas, cujas potncias instaladas

    excedem o valor de 1.000MW (ANEEL, 2010a).

    A diversidade hidrolgica entre bacias possibilita a complementaridade entre regies do

    pas. Os reservatrios possuem regularizao plurianual e diversas usinas do sistema

    esto dispostas em cascata ao longo dos principais rios. Tais caractersticas implicam na

    existncia de um grande sistema interligando constitudo de subsistemas regionais, com

    operao centralizada e coordenada. O Sistema Interligado Nacional - SIN formado

    pelas empresas das regies Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da regio Norte

    e cerca de 96% da capacidade instalada de produo de eletricidade do pas encontra-se

    no SIN.

    Com vistas a apresentar as caractersticas do setor eltrico no Brasil, alm de oferecer

    informaes acerca do histrico do setor, o presente captulo expe dados sobre o

    ambiente institucional e sobre as recentes normas legais e regulamentares. Assim,

    inicialmente enunciado um breve histrico do setor brasileiro, destacando-se os

    principais marcos que envolveram o pas. A evoluo da prestao do servio pblico

    de energia eltrica apresentada, iniciando-se ainda no sculo XIX at os dias atuais.

    As instituies que atualmente compem o setor eltrico nacional so tema de um item

    especfico. Assim, so apresentados os nomes de cada um dos rgos nacionais que

    desempenham diferentes funes no ambiente eletroenergtico. De forma resumida, so

    listadas as atribuies de cada um desses rgos.

    Ademais, o Anexo I desta dissertao apresenta uma catalogao de Leis, Decretos e

    Resolues, com vistas a listar os principais atos legais e regulamentares vigentes no

  • 7

    setor eltrico nacional. Entre as Resolues apresentadas, destaque especial dado

    regulamentao do servio pblico de distribuio de energia eltrica, objeto do

    presente trabalho.

    Assim, dentro de uma viso regulatria, o objetivo do presente captulo destacar a

    necessidade da implementao do PRODIST, apresentar o ambiente institucional e

    definir o mbito de aplicao desses Procedimentos, situando a conjuntura por eles

    disciplinada e os agentes do setor eltrico a eles subordinados. Ou seja, precede

    questo da aplicabilidade do PRODIST, situ-lo no contexto geral do setor eltrico

    brasileiro.

    2.2 HISTRICO

    A seguir so apresentados registros que determinaram a biografia da eletricidade no

    Brasil. Entre os fatos citados, destacam a criao e implementao de empreendimentos

    de gerao, o desenvolvimento da iluminao pblica, a criao de empresas do setor e

    tambm atos como leis e decretos que tratam das disposies sobre energia eltrica no

    pas.

    A seo dividi-se em fases cronolgicas, apresentado desde a chegada da energia

    eltrica no pas at os dias atuais, passando pelo estabelecimento do Cdigo de guas,

    criao do MME, da Eletrobrs, do DNAEE e da ANEEL.

    O inicial predomnio de empresas estrangeiras, o processo de nacionalizao e a

    posterior privatizao tambm so fases apresentadas no texto.

    Neste captulo, os fatos histricos so enunciadas com destaque nos marcos do setor

    eltrico brasileiro, buscando evidenciar os registros sobre energia eltrica e citar de

    forma resumida as transformaes polticas e econmicas que ocorreram no pas.

    manifesto que os marcos do setor eltrico decorreram da situao s quais o pais vivia,

    mas o enfoque dado neste trabalho envolve atos legais e regulamentares, alm das

    instituies do setor.

  • 8

    2.2.1 1879 a 1930: Do advento da energia eltrica ao domnio das empresas

    estrangeiras

    O perodo entre 1879 e 1930 apresenta o incio do uso da eletricidade no Brasil, com

    destaque para a chegada dos sistemas de iluminao, os primeiros contratos de

    concesso, os empreendimentos de gerao e as aes de capitalistas estrangeiras (at

    ento inditas) que proporcionaram, aps 1920, na monopolizao do setor. Esse

    perodo caracteriza-se pela construo de pequenos geradores para o fornecimento de

    energia eltrica aos servios pblicos como iluminao e transporte coletivo, com

    destaque para os bondes eltricos. Nas aplicaes industriais, o objetivo era

    predominantemente suprir indstrias txteis e tambm minerao. A implantao da

    infra-estrutura para comercializao do caf (beneficiamento e transporte) tambm se

    mostrou impulsionadora dos servios de eletricidade.

    Inicialmente, os primeiros agentes eram produtores de menor porte e pequenos

    distribuidores municipais, em geral comerciantes, empresrios e at mesmo fazendeiros.

    Posteriormente, institui-se o regime de concesses para prestaes dos servios.

    A Constituio de 1891 no estabeleceu distino entre a propriedade dos recursos

    naturais e a propriedade da terra. No regime estabelecido pela Constituio, as

    concesses para prestao de servios pblicos de eletricidade eram em sua maioria

    outorgadas pelas prprias prefeituras municipais, especialmente no tocante ao segmento

    distribuio. Porm, incumbiu-se aos governos estaduais o poder concedente referente

    ao aproveitamento e a utilizao das quedas de gua (USP, 2009).

    Feito esse breve relato, inicia-se a descrio dos fatos histricos que envolveram o

    perodo entre 1879 e 1930, destacando a atuao inicial de Thomas Edison, que alm da

    lmpada incandescente, tambm criou o primeiro sistema gerador de eletricidade, com

    fios e postes para distribuir energia eltrica.

    Assim, aps muito tempo do uso da lenha, velas de cera, lamparinas, e finalmente

    iluminao a gs, a energia eltrica tornou-se uma realidade no Brasil em 1879, quando

    Thomas Edison introduziu suas invenes no pas, aps solicitao e autorizao do

    Imperador D. Pedro II. Naquele ano, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a estao da

  • 9

    estrada de ferro Central do Brasil - que naquela poca levava o nome do Imperador - foi

    o local da primeira demonstrao pblica do funcionamento de lmpadas eltricas,

    iluminadas a partir da energia de dois dnamos acionados por locomoveis. A Figura 2.1

    mostra uma ilustrao das atividades de Thomas Edson.

    Figura 2.1 - Ilustrao de Thomas Edson trabalhando na lmpada incandescente. (Fonte: Livro Luz e

    Fora Movimentando a Histria).

    J em 1881, a Diretoria Geral dos Telgrafos instalou, na cidade do Rio de Janeiro, a

    primeira iluminao externa pblica do pas em trecho da atual Praa da Repblica.

    Em 1883 o primeiro servio municipal de iluminao pblica da Amrica do Sul foi

    instalado na cidade de Campos RJ, com cerca de 40 lmpadas, alimentadas pela

    primeira usina termeltrica, que possua capacidade de 52 kW e utilizava vapor

    proveniente de caldeira lenha. J em 1887 a cidade de Porto Alegre tambm inaugurou

    o servio municipal de energia eltrica, utilizando-se a energia gerada a partir de uma

    usina trmica intitulada Velha Porto Alegre (Memria da Eletricidade, 2009).

    Sobre os empreendimentos de gerao, a usina no Ribeiro do Inferno (afluente do Rio

    Jequitinhonha) localizada na cidade de Diamantina - MG, em 1883, foi a primeira

    hidreltrica brasileira a entrar em operao e conduzia energia s maquinas para

    servios de minerao, por meio de uma linha de transmisso de cerca de 2 km. Em

    1885, tambm em Minas Gerais, foi inaugurada uma usina hidreltrica no Rio Turvo, na

    cidade de Viosa, com 178 kW de potncia instalada.

  • 10

    J a hidreltrica de Marmelos, construda em Juiz de Fora MG em 1889, um dos

    marcos no setor, pois foi a primeira usina de porte mais significativo na Amrica Latina

    e, alm disso, foi a primeira unidade hidreltrica para gerao de energia para o

    atendimento, exclusivamente, de servios pblicos urbanos. A usina, que mostrada na

    Figura 2.2, operava com dois grupos geradores de 125 kW ligados a um sistema de

    iluminao de 180 lmpadas, iniciativa de um empresrio industrial que obtivera a

    concesso dos servios de iluminao pblica na cidade mineira. A usina comeou a

    funcionar somente sete meses aps a inaugurao da Hidreltrica de Appleton, a

    primeira da Amrica do Norte.

    Figura 2.2 - Hidreltrica de Marmelos em Juiz de Fora - MG.

    Nessa etapa pioneira, outras usinas foram sendo inauguradas. Por outro lado, em 1892

    foi implantada, no Rio de Janeiro, pela Companhia Ferro-Carril do Jardim Botnico, a

    primeira linha de bondes eltricos instalada em carter permanente do pas.

    Dando inicio a regulamentao federal sobre energia eltrica no Brasil, em 31 de

    dezembro de 1903 foi publicada a Lei n 1.145/1903, que estabeleceu os aspectos gerais

    sobre a concesso e o aproveitamento da energia hidrulica dos rios brasileiros para fins

    de servios pblicos, sendo facultado o uso dos excedentes para autoconsumo em

    atividades agroindustriais. J em 10 de dezembro de 1904 foi publicado o Decreto, de n

    5.704/1904, regulamentado a referida Lei.

    O monoplio natural, caracterstica intrnseca da indstria de rede, j em 1904 era

    analisado pela tica da viso econmica racional. Nesse ano, Rui Barbosa, ento

  • 11

    consultor jurdico do consrcio que se constituiria na empresa Light, defendeu

    categoricamente que a livre concorrncia no era vivel por razes tcnicas e

    econmicas: a explorao de atividades como os servios de distribuio de energia

    eltrica deveriam operar conforme o interesse pblico, mediante monoplios de fato

    em mos de grandes empresas ou das municipalidades.

    O estudo da eletricidade ganhava importncia e, no incio do sculo XX, a Universidade

    Federal de Itajub - UNIFEI, fundada em 23 de novembro de 1913 ainda como Instituto

    Eletrotcnico e Mecnico de Itajub IEMI, foi a dcima escola de engenharia a se

    instalar no pas.

    No mesmo ano iniciava as atividades de gerao da Usina Hidreltrica Delmiro

    Gouveia, primeira do Nordeste, construda para aproveitar o potencial da Cachoeira de

    Paulo Afonso no Rio So Francisco (Jannuzi, 2007)

    Ainda no comeo do sculo ocorreu uma significativa expanso urbana e a populao

    do pas cresceu de 17 milhes de habitantes em 1900 para 31 milhes em 1920, o que

    determinou o aparelhamento urbano. Com isso, passou a existir um mercado que

    impulsionava a produo interna de bens de consumo (Gomes et al., 2003). Ademais, as

    restries externas provocadas pela Primeira Guerra Mundial criaram as pr-condies

    para que se aplicasse o capital surgido com as atividades cafeeiras.

    Nos estados de So Paulo e Rio de Janeiro, o acrscimo na gerao de energia eltrica

    pelo aproveitamento do potencial hidrulico fez com que a capacidade instalada no

    Brasil se dilatasse em mais de 600% entre 1907 e 1919. Paralelamente aos

    empreendimentos nacionais, ainda em 1899 j existiam as iniciativas de capitalistas

    estrangeiros no setor, quando foi autorizada a funcionar no pas a So Paulo Railway,

    Light and Power Company, empresa canadense que deu incio atuao no Grupo Light

    no Brasil. E em 1904 foi criada em Toronto (Canad) a Rio de Janeiro Tramway, Light

    and Power Company. Desde ento, o capital nacional passaria a receber investimentos

    estrangeiros e esse processo resultaria, na segunda metade da dcada de 1920, na

    vultosa monopolizao pelos grupos de fora do pas, com a conseqente

    desnacionalizao do setor, quando parte das empresas de capital nacional foram

    transferidas para o controle dos estrangeiros (Gomes et al., 2003).

  • 12

    Em 1912 surgiu a Companhia Paulista de Fora e Luz CPFL, resultado da fuso de

    diversas empresas que j existiam em reas municipais ou reas mais extensas no

    territrio do estado de So Paulo.

    Algumas empresas constitudas no estado de So Paulo foram incorporadas pelo Grupo

    Light e, em 1923, ocorreu o incio das atividades da American and Foreign Power

    Company (AMFORP), subsidiria da Bond and Share Co., a qual adquiriu, em 1927,

    diversas pequenas empresas no interior de So Paulo e, trs anos depois, passou a operar

    em nove capitais. Desse modo, no inicio da dcada de 1930, as atividades ligadas

    energia eltrica estariam dominadas pelo Grupo Light, concentrado no eixo Rio/So

    Paulo e pela AMFORP em diversas capitais e no inteiro paulista - situao que

    aconteceria at meados dos anos 60 (Jannuzi, 2007).

    Assim, destaca-se a existncia de um modelo com empreendimentos privados com

    hegemonia do capital estrangeiro, concesses descentralizadas e tarifas que visam o

    retorno e lucro dos investimentos. Com vistas garantia de retorno do investimento, a

    disposio contratual denominada Clausula Ouro limitava os efeitos da moeda nacional,

    j que consistia na determinao de que o valor de uma obrigao seria valorado pela

    cotao do ouro ou de uma moeda estrangeira. Assim, essa disposio servia de

    referncia fixao das tarifas de energia eltrica, j que uma parcela da energia era

    paga em funo da cotao internacional do ouro.

    Em 1921 foi inaugurada pela General Eletric, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira

    fbrica de lmpadas do pas.

    Por fim, em funo da substituio da iluminao a gs e da trao animal dos bondes, o

    Brasil observava o fortalecimento de novos segmentos com a inovao dos costumes,

    proveniente do avano tecnolgico. Nesse perodo, a energia eltrica instalou-se no pas

    como conseqncia e como condio das transformaes vividas pela sociedade. Com

    isso, nota-se que a produo e o uso da energia eltrica foram implantados no Brasil em

    perodo de grande desenvolvimento poltico econmico e social. A economia brasileira

    crescia com base na riqueza da agroexportao e, ao mesmo tempo, diversificava-se e

    criavam-se as condies para a industrializao.

  • 13

    2.2.2 1931 a 1960: O Cdigo de guas, a regulamentao inicial e a criao do

    MME

    Em 1933 foi criado o Departamento Nacional de Produo Mineral - DNPM, que

    inclua uma Diretoria de guas, e, no mesmo ano, foi extinta a supracitada Clusula

    Ouro.

    As mudanas sobre as funes desempenhadas pelo Estado na economia e a

    regulamentao dos servios resultariam na promulgao de um Decreto que se

    constituiria em um marco regulatrio para o setor eltrico nacional. Assim, o incio

    desse perodo marcado com a promulgao, pelo ento presidente Getlio Vargas, do

    Decreto n 24.643, de 10 de julho de 1934. O Decreto, intitulado Cdigo de guas e

    ainda vigente nos dias atuais, garantiu ao poder pblico a possibilidade de rigoroso

    controle sobre as concessionrias de energia eltrica.

    A seguir apresentada a Figura 2.3 com a reproduo da primeira pgina do Cdigo de

    guas.

  • 14

    Figura 2.3 - Reproduo da primeira pgina do decreto que em 1934 sancionou o Cdigo de guas

    (Fonte: CEDOC ANEEL).

  • 15

    Por meio da regulamentao da indstria hidreltrica, o Cdigo de guas estabeleceu

    um novo direito sobre os servios de energia eltrica, com mudanas nas regras vigentes

    no Segundo Reinado e na Repblica Velha. A propriedade das guas foi caracterizada

    juridicamente de forma diferente dos bens e terrenos circundantes, ficando a Unio com

    exclusividade do poder concedente para o estabelecimento dos servios (Brasil, 1934).

    O Cdigo de guas estabeleceu um regime de concesses para os aproveitamentos e

    definiu propriedade da Unio sobre os chamados recursos estratgicos, fato que

    culminou posteriormente no projeto de industrializao e na constituio do Estado-

    empresrio. Ademais, o novo Cdigo autorizou o poder pblico a exercer um controle

    mais rigoroso sobre as concessionrias e propiciou fiscalizao tcnica, financeira e

    contbil. Na rea econmica, as tarifas seriam determinadas considerando-se as

    despesas de operao, depreciao, reverso e remunerao do capital (Brasil, 1934).

    A atitude nacionalista presente no Cdigo de guas ficou evidente na determinao de

    que as empresas concessionrias deveriam ser organizadas no Brasil, feito que ainda

    viria a ser ressaltado pelas disposies da Constituio de 1937. Porm, sem o ato que o

    regulamentasse, o Cdigo de guas sofreu oposio das concessionrias e teve seu

    processo de aplicao dificultado durante o perodo constitucional do primeiro governo

    de Getlio Vargas (1934-1937).

    O Presidente inaugurou no Rio de Janeiro, em 1937, o primeiro trecho eletrificado da

    Estrada de Ferro Central do Brasil e, em 1939, criou o Conselho Nacional de guas e

    Energia Eltrica CNAEE, que foi concebido para operar sobre temas do setor eltrico,

    abordando desde assuntos eminentemente tcnicos, at temas tributrios, passando por

    questes de suprimento, regulamentao e tarifas.

    Em 1940 foi regulamentada a condio das usinas termeltricas do pas, por meio da

    integrao s disposies do Cdigo de guas. J em 1941 foi regulamentado o "custo

    histrico" com vistas ao clculo das tarifas de energia eltrica, fixando a taxa de

    remunerao dos investidores em 10% (Memria da Eletricidade, 2009).

    O ano de 1945 deu inicio a uma fase de concepo de grandes empresas do setor, com a

    criao da primeira empresa de eletricidade federal, a Companhia Hidro Eltrica do So

    http://www.memoria.eletrobras.com/hist_regulamentacao.asp##
  • 16

    Francisco - CHESF. J Em 1947, os sistemas da Light no Rio de Janeiro e em So Paulo

    foram interligados por uma linha de transmisso de 230 kV, possibilitando intercmbio

    de energia entre os estados (Memria da Eletricidade, 2009).

    Aps a 2 Guerra Mundial so lanados programas estaduais de eletrificao. Nesse

    perodo, a produo de energia eltrica no acompanhava a demanda. Com o

    acontecimento de racionamentos, estimulou-se a participao da autoproduo. Com

    vistas capitalizao do setor eltrico nacional, algumas medidas governamentais

    tornaram-se imprescindveis. Ento, por meio da Lei n 2.308, de 31 de agosto de 1954,

    criou-se o Fundo Federal de Eletrificao, alm da instituio do Imposto nico sobre

    Energia Eltrica IUEE (Jannuzi, 2007).

    J em 1952 foi criada a empresa Centrais Eltricas de Minas Gerais CEMIG,

    atualmente denominada Companhia Energtica de Minas Gerais S/A. A Figura 2.4 -

    Anncio da Cemig mostra um propaganda da CEMIG no peridico O Observador

    Econmico e Financeiro.

    Figura 2.4 - Anncio da Cemig no peridico O Observador Econmico e Financeiro, Rio de janeiro,

    1955 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional).

    Em 1953, em decorrncia do incio da construo da usina de Rio Bonito, criada a

    empresa Esprito Santo Centrais Eltricas S.A.- ESCELSA. J em 1954 o governo do

  • 17

    estado do Paran criou a Companhia Paranaense de Energia Eltrica - COPEL (hoje

    apenas Companhia Paranaense de Energia). No mesmo ano, entrou em operao a Usina

    Hidreltrica Paulo Afonso I, pertencente CHESF (primeira grande hidreltrica

    construda no rio So Francisco com potncia inicial de 184 MW). Ademais, j em 1955

    foram criadas as Centrais Eltricas de Santa Catarina S.A. CELESC e as Centrais

    Eltricas de Gois S.A. CELG. Em 1956 foram criadas a Companhia de eletricidade

    do Amap CEA e as Centrais Eltricas Matogrossenses S.A. - CEMAT.

    Com o objetivo de aproveitar o potencial hidreltrico do Rio Grande, em Minas Gerais,

    foi criada em 1957 a Central Eltrica de Furnas S.A. posteriormente denominada Furnas

    Centrais Eltricas S.A. FURNAS. Graas ao pioneirismo do presidente Juscelino

    Kubitschek, ilustrado na Figura 2,5, viabilizou-se a construo da Usina Hidreltrica de

    Furnas, importante empreendimento para sustentar o desenvolvimento e a qualidade de

    vida da populao (Furnas, 2009).

    Figura 2.5 - O presidente Juscelino em uma de suas visitas s obras da Usina Hidreltrica de Furnas

    (Furnas, 2009).

    Outras empresas de energia eltrica tambm foram sendo criadas nesse perodo, com

    destaque para a Companhia Energtica do Maranho CEMAR (1958) e para a

    Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia COELBA (1960).

    Porm, ainda em 1957, um ato lembrado como outro importante marco no setor

    eltrico nacional: a publicao do Decreto n 41.019, de 26 de fevereiro de 1957,

  • 18

    documento responsvel pela regulamentao dos servios de energia eltrica. O prprio

    Cdigo de guas j previa a regulamentao dos servios de energia eltrica. Ademais,

    ainda em 1939, o Decreto nmero 1.699/1939 conferiu, ao Conselho Nacional de guas

    e Energia Eltrica, as atribuies de elaborar e submeter ao Presidente da Repblica a

    regulamentao do Cdigo de guas e das demais leis que regiam a utilizao dos

    recursos hidrulicos e da energia eltrica. Assim, considerando a necessidade de

    regulamentar a legislao vigente poca sobre energia eltrica, foi estabelecido, pelo

    presidente Juscelino Kubitschek, o Decreto n 41.019/1957, fixando normas para

    facilitar a ao fiscalizadora da administrao. Destaca-se que, atualmente, o Decreto n

    41.019/1957 ainda possui disposies vigentes, embora o setor eltrico seja, nos dias de

    hoje, bem diferente da realidade daquela poca.

    No governo de Juscelino, o programa econmico Plano de Metas, que buscava um

    crescimento de "50 anos em 5, considerou prioritrios setores como os de energia e

    transportes, destinando ao primeiro mais de 43% dos investimentos, dos quais pouco

    mais da metade foi para a rea de energia eltrica (Gomes et al., 2003). Devido ao

    programa econmico, a potncia instalada no Brasil atingiu a marca de 4.777 MW em

    1960 e, em 1965, alcanou o montante de 7.411 MW, o que correspondia a 89% do

    previsto (Eletrobrs, 2009a).

    Na rea industrial, destacava-se ainda o setor de bens de consumo durveis, a includas

    as fbricas de eletrodomsticos e automveis, conforme ilustrado na Figura 2.6.

    Figura 2.6 - Anncio da Light sobre a contribuio do setor na indstria automobilstica, Revista A

    Cigarra, So Paulo 1958 (Fonte: Livro A Vida Cotidiana no Brasil Nacional).

  • 19

    J em 1960, no ano de criao da atual capital federal - Braslia, com o desenvolvimento

    da poltica desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek, foi criado o

    Ministrio das Minas e Energia MME, constitudo pela Lei n 3.782, de 22 de julho de

    1960. O MME incorporava o Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica - CNAEE

    e a antiga diviso de guas do Ministrio da Agricultura, alm de incluir sob sua

    jurisdio a CHESF e a Comisso Nacional de Energia Nuclear CNEN. Assim, as

    questes polticas, econmicas e tcnicas do setor eltrico passaram a ser tratadas pelo

    Ministrio.

    No final dos anos 50 e nos primeiros anos da dcada de 60, as empresas pblicas de

    energia ganharam destaque: o Plano de Metas props a reorganizao do setor e

    empresas federais investiriam na produo, ficando, de modo geral, a distribuio com o

    setor privado.

    2.2.3 1961 a 1989: A criao da Eletrobrs, do DNAEE e das grandes usinas

    Aps a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o Brasil foi marcado por profundas

    reformas no modelo de desenvolvimento econmico, conforme comentado. No perodo

    de 1946 a 1962, o Estado assumiu funes produtivas, financeiras e de planejamento.

    Nesse contexto, a queda gradual do setor tradicional de bens de consumo no durveis

    na indstria ganhava destaque e ocorria a criao e o desenvolvimento do setor de bens

    de capital e insumos bsicos como ao, cimento, produtos qumicos e equipamentos

    eltricos.

    O avano de novas reas industriais e o processo de urbanizao induziram a um

    aumento do consumo de energia eltrica e, em conseqncia, ocorreram as primeiras

    crises no fornecimento das grandes cidades. Fazia-se necessria a adoo de estratgias

    que colaborassem para a expanso da oferta de energia eltrica no Brasil. A idia para

    essa expanso rondava em torno de criao de uma empresa que viabilizasse

    empreendimentos.

    O projeto de criao das Centrais Eltricas Brasileiras - ELETROBRS foi apresentado

    ainda 1954 pelo presidente Getlio Vargas. Porm, a proposta afrontou-se com a

  • 20

    oposio e s foi consagrada em 1961, aps sete anos de tramitao no Congresso

    Nacional.

    A instalao da ELETROBRS ocorreu oficialmente no dia 11 de junho de 1962, em

    sesso solene do CNAEE, no Palcio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, com a presena do

    presidente Joo Goulart (1961-1964). A empresa recebeu a atribuio de promover

    estudos, projetos de construo e operao de usinas geradoras, linhas de transmisso e

    subestaes destinadas ao suprimento de energia eltrica do Brasil, o que passou a

    contribuir decisivamente para a expanso da oferta de energia eltrica e o

    desenvolvimento nacional (Eletrobrs, 2009b). A Eletrobrs passou a operar com

    empresa holding das concessionrias pblicas de energia eltrica do governo federal.

    Com isso, foi constitudo o sistema de empresas controladas atuantes em mbito

    regional, responsvel pela gerao e pela operao do sistema eltrico e hdrico

    interligado, fazendo parte dele as j existentes CHESF e FURNAS, e posteriormente, a

    Centrais Eltricas do sul do Brasil ELETROSUL, organizada em 1968 e a Centras

    Eltricas do Norte do Brasil ELETRONORTE, organizada em 1972.

    Ainda em 1962, entrava em operao da primeira usina a ser utilizada para a

    regularizao do Rio So Francisco: a usina hidreltrica de Trs Marias, pertencente

    Cemig.

    J em 1963 entrava em operao, na cidade de Passos - MG, a maior usina do Brasil na

    poca de sua construo: Usina Hidreltrica de Furnas, ilustrada nas Figuras 2.7 e 2.8. O

    empreendimento, que ainda nos dias de hoje de vital importncia para consumidores

    da regio Sudeste, utilizou cerca da metade dos recursos aplicados nos dois primeiros

    anos da Eletrobrs. A usina foi o primeiro passo para a viabilizao da interligao dos

    sistemas eltricos do Sudeste e parte do Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal

    (Furnas, 2009).

    Na usina de Furnas, a entrada em operao da primeira unidade ocorreu com potncia

    instalada inicial de 152 MW em setembro de 1963 e em novembro do mesmo ano foi

    duplicada. O empreendimento possui atualmente capacidade de 1.216 MW e barragem

    com reservatrio de 1.250 km de rea, com capacidade para cerca de 23 bilhes de m

    de gua.

  • 21

    Figura 2.7 - Usina Hidreltrica de Furnas - vista area poca da construo (Furnas, 2009).

    Figura 2.8 - Usina Hidreltrica de Furnas - recente imagem area da usina (Furnas, 2009).

    Sobre a padronizao de freqncia no Brasil, existia uma meno no art. 46 do Decreto

    n 41.019/1957 que estabelecia a possibilidade de operao em freqncias de 50 e 60

    Hertz. Mas em 1964 ocorreu a unificao: a Lei n 4.454/1964 definiu procedimentos

    para a unificao da freqncia em 60 Hertz e estabeleceu que nenhuma nova instalao

    de gerao e distribuio de energia eltrica, para servios pblicos ou de utilidade

    pblica, seria autorizada sem que opere ou possa operar em 60 Hertz.

    Em 1965, iniciou-se a operao da Usina Termeltrica Jorge Lacerda I, que atualmente

    faz parte do maior complexo termeltrico a carvo vapor do pas. Ainda no ano de 1965,

  • 22

    a Diviso de guas do Departamento Nacional da Produo Mineral foi transformada

    no Departamento Nacional de guas e Energia - DNAE, pela Lei n 4.904, de 17 de

    dezembro de 1965. Posteriormente, esse departamento sofreu alteraes, j que o

    Decreto n 63.951, de 31 de dezembro de 1968, alterou a denominao do rgo para

    Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica DNAEE (Memria da

    Eletricidade, 2009).

    E em 1967, a nacionalizao do setor eltrico foi acelerada com a aquisio, pelo

    governo federal, dos ativos das empresas do Grupo Amforp, quando foi sancionada lei

    especifica.

    Pela Portaria n 234/1977, do Ministro das Minas e Energia, foi aprovado o Regimento

    Interno do DNAEE, que dispunha sobre a natureza e finalidade do Departamento.

    Assim, pelo referido Regimento, o DNAEE, possua autonomia financeira assegurada e

    se constitua no rgo Central de Direo Superior, responsvel pelo planejamento,

    coordenao e execuo dos estudos hidrolgicos em todo o territrio nacional; pela

    superviso, fiscalizao e controle dos aproveitamentos das guas que alteram o seu

    regime; bem como pela superviso, fiscalizao e controle dos servios de eletricidade.

    Exemplos importantes da atuao da DNAEE so a Portaria n 46/1978 (continuidade

    de servio), Portaria n 47/1978 (tenso de fornecimento), Portaria n 158/1989

    (iluminao pblica), Portaria n 5/1990 (participao financeira) e as Portarias n.

    222/1987 e n. 466/1997 (que se referem s condies gerais de fornecimento).

    Assim, em suma, a regulao setorial do perodo foi atribuda ao DNAEE, vinculado ao

    MME, substituto da Diviso de guas e que incorporou em 1967, as antigas atribuies

    do CNAEE, extinto em 1978. O DNAEE acumulou as atividades normativa e

    fiscalizadora dos servios de energia eltrica, alm de receber a competncia pela

    apreciao dos pedidos de concesso e pelos processos de outorga de concesso para

    aproveitamento hdricos e demais servios de eletricidade.

    O desenvolvimento econmico foi acelerado, especialmente entre 1968 e 1974, perodo

    nomeado como milagre brasileiro com ndices anuais de crescimento de 11%. Esse

  • 23

    perodo caracterizou-se por abundantes investimentos no setor de infra-estrutura, com

    destaque para a rea de energia eltrica (USP, 2009).

    Em 1968 entrou em operao a maior termeltrica do pas, a Usina Termeltrica Santa

    Cruz, de Furnas - Centrais Eltricas S.A. (Memria da Eletricidade, 2009).

    No ano seguinte, foi criado o Comit Coordenador de Operao Interligada CCOI,

    com o escopo de reduzir os problemas operativos e aperfeioar o processo de interao

    das empresas do setor eltrico nacional. Em substituio ao CCOI, em 1973, foi

    institudo o Grupo Coordenador para Operao Interligada GCOI, organismo

    colegiado para a coordenao da operao dos sistemas eltricos Sul e Sudeste.

    Tambm em 1973 foi consolidado o tratado entre Brasil e Paraguai, regulando a

    construo e operao de hidreltricas no Rio Paran, quando ocorreu a criao da

    Itaipu Binacional - ITAIPU. No mesmo ano, com o objetivo de desenvolver tecnologia

    em equipamentos e em sistemas eltricos, foi criado o Centro de Pesquisas de Energia

    Eltrica CEPEL.

    O Comit Coordenador da Operao Norte/Nordeste CCON foi criado em 1975,

    mesmo ano da criao do Comit de Distribuio da Regio Sul-Sudeste CODI

    (Memria da Eletricidade, 2009). Ainda em 1975 ocorreu a entrada em operao da

    usina Salto Osrio, primeiro aproveitamento hidreltrico do Rio Iguau (atualmente da

    empresa Tractebel energia, com 1.078 MW). Trs anos aps, destaca-se a entrada em

    operao no Rio Paran o complexo Ilha Solteira - Jupi, com potncia atual de 4.995

    MW (ONS, 2009).

    A situao econmico-financeira das concessionrias apresentava desvios negativos.

    Para que esse problema fosse equacionado, foram criadas novas disposies sobre a

    remunerao das empresas: a correo monetria dos ativos passou a ser fixada abaixo

    da inflao, foi criado o mecanismo de remunerao mdia do setor (Jannuzi, 2007).

    Durante o governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) ocorreu a equalizao das

    tarifas de energia eltrica em todo o Brasil, instituindo-se a Reserva Global de Garantia,

    um novo fundo que seria administrado pela Eletrobrs. A equalizao foi justificada

  • 24

    como fator de desenvolvimento regional, com objetivo de extinguir as diferenas

    tarifrias que desestimulavam investimentos industriais nas regies Norte e Nordeste.

    Porm, o sistema de tarifas equalizadas incitava a ineficincia administrativa,

    penalizando empresas eficientes e transferindo os recursos para as empresas

    ineficientes. Ademais, as tarifas tiveram seu valor real densamente abatido, uma vez que

    o governo federal serviu-se da compensao das tarifas como mecanismo de controle

    inflacionrio.

    Aps cerca de oito dcadas sob o controle estrangeiro, a Light foi nacionalizada em

    1979, mesmo ano em que entrava em operao a Usina Hidreltrica Sobradinho,

    realizando o aproveitamento mltiplo do maior reservatrio do pas que regulariza a

    vazo do rio So Francisco.

    O ano de 1982 se destacaria por uma das mais grandiosas obras do setor de infra-

    estrutura no mundo, j que foi inaugurada a Usina Hidreltrica Itaipu Binacional, aps 8

    anos de construes e mais 50 mil horas de trabalho. Itaipu foi a nica grande obra

    nacional a atravessar a fase mais aguda da crise econmica brasileira do final dos anos

    1970 mantendo o status de incondicional prioridade.

    Assim, a 5 de novembro de 1982, com o reservatrio j formado, os presidentes do

    Brasil, Joo Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionam o mecanismo que

    levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberam a gua represada do

    Rio Paran e, com isso, inauguram oficialmente a maior hidreltrica do mundo.

    O primeiro giro mecnico de uma turbina ocorreu em dezembro de 1983 e, finalmente,

    Itaipu Binacional iniciou a produo de energia em maio de 1984, quando entrou em

    operao a primeira das 20 unidades geradoras do projeto. A usina de Itaipu, ilustrada

    na Figura 2.9, praticamente dobrou a capacidade do Brasil e a potncia instalada, que

    era de 16,7 mil MW e passou a contar mais 14 mil MW. Com isso, o pas materializa a

    opo pela energia produzida por meio do aproveitamento da fora dos rios.

  • 25

    Figura 2.9 - Usina Hidreltrica Itaipu Binacional - foto area com a usina vertendo (PROMOM, 2009).

    Tambm em 1984, a Usina Hidreltrica Tucuru, da ELETRONORTE, entrou em

    operao e foi a primeira hidreltrica de grande porte construda na Amaznia. No

    mesmo ano, foi concluda a primeira parte do sistema de transmisso Norte-Nordeste,

    permitindo a transferncia de energia da bacia amaznica para a regio Nordeste (ONS,

    2009).

    Um ano depois, em 1985, entrava em operao a Usina Termonuclear Angra I, primeira

    usina nuclear do Brasil. J em 1986 ocorreu a entrada em operao do sistema

    interligado Sul-Sudeste, o mais extenso da Amrica do Sul, transportando energia

    eltrica da Usina Hidreltrica Itaipu at a regio Sudeste.

    Ao fim desta etapa, destaca-se que em 1989 a Eletrobrs inaugurou o Centro Nacional

    de Operao dos Sistemas CNOS, localizado na capital federal (ONS, 2009).

    2.2.4 1990 a 2008: Privatizao, criao da ANEEL e o Novo Modelo

    Inicialmente sobre esse perodo, cabe destacar que em 1990, a Lei n 8.028/1990

    extinguiu o MME e transferiu suas atribuies ao Ministrio da Infraestrutura, criado

    pela mesma Lei. Posteriormente, o MME voltou a ser criado em 1992, por meio da Lei

    n 8.422/1992.

    http://www.memoria.eletrobras.com/hist_estatizacao.asp##
  • 26

    Tambm nesse perodo, seguindo uma tendncia mundial, iniciou-se na dcada de 90 a

    reestruturao do setor eltrico brasileiro, caracterizada pela poltica de diminuio do

    controle empresarial do Estado na economia. No Brasil, presenciava-se a gradativa

    exausto da capacidade de investimento das empresas estatais, causado em parte pelo

    endividamento e pela poltica de conteno tarifria praticadas desde a dcada de 1970.

    Assim, em atividades at ento monopolizadas por empresas pblicas, como nos

    servios de eletricidade, ocorreu um estmulo competio com a existncia da

    privatizao das concessionrias federais e estaduais de energia eltrica. O processo de

    privatizao permitiria que a administrao pblica concentrasse seus esforos nas

    atividades em que a presena do Estado fundamental para a consecuo das

    prioridades nacionais, como, por exemplo, educao e sade.

    Outra caracterstica da reestruturao do setor a desverticalizao da cadeia produtiva,

    que previa a separao das atividades de gerao, transmisso, distribuio e

    comercializao de energia eltrica, caracterizando-se como segmentos independentes.

    Os setores de gerao e a comercializao foram progressivamente desregulamentados

    com insero de regras de mercado. J os servios de rede presentes nos segmentos de

    transmisso e a distribuio foram tratados como servios pblicos regulados, j que se

    constituam em monoplios naturais.

    A reorganizao do setor incluiria a reformulao dos agentes envolvidos no setor

    eltrico, alm da criao de novos rgos responsveis pelo planejamento da expanso,

    pela operao dos sistemas interligados e pela regulao e fiscalizao.

    Deste modo, essa fase iniciada em 1990, quando o Presidente Fernando Collor de

    Mello sanciona a Lei n 8.031, de 12 de abril de 1990, criando o Programa Nacional de

    Desestatizao PND, com o objetivo de reordenar a posio estratgica do Estado na

    economia, transferindo iniciativa privada atividades indevidamente exploradas pelo

    setor pblico, contribuindo par a reduo da dvida pblica e para o saneamento das

    finanas.

    A partir do governo de Itamar Franco (1992-1994), o processo de reestruturao do

    setor foi impulsionado com a edio da Lei n 8.631, de 4 de maro de 1993, conhecida

  • 27

    como a Lei da Desequalizao Tarifria, que estabelecia a novo regime tarifrio para as

    empresas de energia eltrica. A referida Lei previa a extino do regime de remunerao

    garantida e, em conseqncia, o fim da Conta de Resultados a Compensar - CRC e o

    fim da Reserva Nacional de Compensao de Remunerao RENCOR.

    Em 1995, as empresas controladas pela Eletrobrs foram includas no Programa

    Nacional de Desestatizao que orientava a privatizao dos segmentos de gerao e

    distribuio. Nesse mesmo ano, em consonncia com a poltica de privatizao do

    governo federal, foi realizado o leilo de privatizao da ESCELSA, inaugurando nova

    fase do setor de eltrico brasileiro.

    Tambm no ano de 1995, dois marcos legais de destaque foram sancionados pelo

    Fernando Henrique Cardoso. A reforma do Estado no Brasil se desenhava com a

    aprovao da Lei de Concesso dos Servios Pblicos, Lei 8.987, de 13 de fevereiro de

    1995. Os artigos dispostos nesta primeira iniciativa precisavam ser aprofundados para

    permitir o ingresso de recursos da iniciativa privada no aumento da oferta de energia

    eltrica. Ento, quatro meses depois, a Lei 9.074, de 7 de julho de 1995, regulamentou a

    legislao anterior e detalhou a matria, principalmente no que diz respeito ao setor de

    energia eltrica.

    Com isso, a Lei n 8.987/95 sancionou s disposies sobre o regime de concesso e

    permisso da prestao de servios pblicos previsto no art. 175 da Constituio

    Federal. Alm da caracterizao do servio adequado, a Lei dispunha sobre os e editais

    de licitao, contratos de concesso, direitos e obrigaes dos usurios entre outros

    itens.

    J Lei n 9.074/95 mais focada no setor eltrico e trata das concesses, permisses e

    autorizaes dos servios de energia eltrica. Essa Lei foi responsvel por instituir a

    figura do produtor independente de energia eltrica, alm de estabelecer, em seus

    artigos 15 e 16, as opes de compra de energia eltrica por parte dos consumidores

    livres. Destaca-se ainda a determinao, expressa na Lei, do livre acesso aos sistemas de

    transmisso e distribuio.

  • 28

    Em 1996 o Ministrio de Minas e Energia coordenou e implantou o Projeto de

    Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro (Projeto RESEB), trabalho a ser

    desenvolvido por um consrcio de consultores liderados pela empresa britnica Coopers

    & Lybrand. Posteriormente, o Projeto RESEB indicaria a necessidade de preparao de

    um documento consolidado que estabelecesse os procedimentos de distribuio do setor

    eltrico nacional, o que constituiria na recomendao para a elaborao do PRODIST

    (MME, 1996).

    Tambm em 1996 foi sancionado outro ato legal de relevncia, desta vez responsvel

    pela criao do novo rgo regulador do setor de energia eltrica: a ANEEL. A Lei n

    9.427, de 26 de dezembro de 1996, institua ANEEL, definindo-a como autarquia sob

    regime especial, vinculada ao MME, com sede e foro no Distrito Federal, com a

    finalidade de regular e fiscalizar a produo, transmisso distribuio e comercializao

    de energia eltrica, em conformidade com as polticas e diretrizes do governo federal.

    A ANEEL seria efetivamente constituda em 1997, com a publicao do Decreto 2.335,

    de 6 de outubro de 1997, e com a Portaria MME n 349, de 28 de novembro de 1997. O

    Decreto estabelece as diretrizes da ANEEL, suas atribuies e estrutura bsica, bem

    como o princpio da descentralizao que permite agncia reguladora estender sua

    ao aos mais diversos pontos do Brasil. J a Portaria do MME aprova o Regimento

    Interno da Autarquia. Assim, ficava extinto o DNAEE, cujas atribuies foram

    transferidas ANEEL.

    A Agncia foi criada com a misso de proporcionar condies favorveis para que o

    mercado de energia eltrica se desenvolva com equilbrio entre os agentes e em

    benefcio da sociedade. Alm das funes de fiscalizao e regulao, a ANEEL deve

    mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor eltrico e entre estes e os

    consumidores; atender as reclamaes das partes; conceder, permitir e

    autorizar instalaes e servios de energia; garantir tarifas justas; zelar pela qualidade

    do servio; exigir investimentos; estimular a competio entre os operadores e assegurar

    a universalizao dos servios.

    Tambm em 1997 foi criada a Eletrobrs Termonuclear S.A. - Eletronuclear, empresa

    que passou a ser a responsvel pelos projetos das usinas termonucleares brasileiras. O

  • 29

    Conselho Nacional de Poltica Energtica - CNPE foi institudo pela Lei n 9.478, de 6

    de agosto de 1997, assumindo a atribuio de formular e propor ao presidente da

    Repblica as diretrizes da poltica energtica brasileira.

    No ano seguinte seria constitudo o Mercado Atacadista de Energia Eltrica - MAE,

    sendo legalmente autorizado como pessoa jurdica de direito privado sem fins

    lucrativos, submetido autorizao, regulamentao e fiscalizao da ANEEL. O rgo

    foi criado com finalidade principal de viabilizar as transaes de compra e venda de

    energia eltrica nos sistemas interligados.

    Igualmente em 1998 foram estabelecidas as regras de organizao do Operador

    Nacional do Sistema Eltrico - ONS, para substituir o Grupo Coordenador para

    Operao Interligada - GCOI. Com isso, as atividades de coordenao e controle da

    operao da gerao e da transmisso de energia eltrica, integrantes do Sistema

    Interligado Nacional - SIN, sero executadas pelo ONS, pessoa jurdica de direito

    privado, sem fins lucrativos, tambm fiscalizado e regulado pela ANEEL.

    Em 1999 entrava em operao a primeira etapa da Interligao Norte-Sul, representando

    um passo essencial para a integrao eltrica do pas. J no ano de 2000 comeou a

    operar a usina hidreltrica Ita (capacidade atual de 1.450 MW), na divisa do Rio Grande

    do Sul com Santa Catarina (ONS, 2009).

    Tambm em 2000, a interligao de 1.000 MW de energia em Garabi da Argentina

    utilizou novas linhas e uniu subestaes argentinas e brasileiras. Assim, nesse ano

    entrou em operao a primeira linha transmisso em 500 kV da interconexo entre

    esses pases por meio da subestao conversora de freqncia (50/60 Hz) de Garabi I,

    no municpio de Garruchos - RS. J em 2002, o projeto foi concludo com a entrada em

    operao da segunda interconexo, estao Garabi II e a segunda linha de 500 kV

    com 1.100 MW.

    Ainda em 2001 o Brasil sofreu sua maior crise de energia eltrica, influenciada pelo

    mau planejamento realizado no pas na dcada de 90 e acentuada pelas condies

    hidrolgicas desfavorveis verificadas nas regies nordeste e sudeste. Com a escassez

  • 30

    de chuva, o nvel de gua dos reservatrios das hidreltricas atingiu nveis alarmantes e

    o pas se viu obrigado a criar meios para racionar energia.

    No mbito da crise energtica, o governo brasileiro instituiu a Cmara de Gesto da

    Crise de Energia Eltrica - GCE, com o objetivo de recomendar e implementar aes de

    carter emergencial visando compatibilizar a oferta e demanda por energia eltrica no

    pas. Ainda no mbito da crise, o governo criou a empresa Comercializadora Brasileira

    de Energia Emergencial CBEE para realizar a contratao das trmicas emergenciais.

    A regio sul no entrou no programa de racionamento que se extinguiu aps cerca de

    um ano. A Figura 2.10 mostra uma charge sobre a conjuntura de deficincia energtica

    que ficou conhecida popularmente como apago.

    Figura 2.10 - Charge sobre a crise energtica ocorrida no Brasil em 2001 (Rett, 2001).

    Em 2002 entrou em operao Usina Hidreltrica Machadinho, localizada na regio sul

    do pas, totalizando o total de 1.140 MW. Ainda em 2002 foi extinta a GCE, substituda

    pela Cmara de Gesto do Setor Eltrico - CGSE, vinculada ao CNPE, sendo incumbida

    de sugerir ao CNPE diretrizes para a elaborao da poltica do setor de energia eltrica.

  • 31

    O Governo Federal introduziu em 2003 o programa Luz Para Todos, com vistas a

    disponibilizar, at 2008, energia eltrica aos 12 milhes de brasileiros que no possuam

    acesso ao se