DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · música e da dança para despertar no aluno o gosto pela...
Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · música e da dança para despertar no aluno o gosto pela...
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
TÍTULO: O teatro, a música e a dança como recurso pedagógico de apoio ao ensino da Língua Portuguesa e Literatura.
ARTIGO
O presente texto constitui-se “ARTIGO” como um dos requisitos do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. PDE 2009/2010, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação em parceria com a Secretaria de Tecnologia de desenvolvimento.
Orientadora: Professora Doutora Luciana Brito.
SUELÍ ORMENEZE VAROLI
2009
O TEATRO, A MÚSICA E A DANÇA COMO RECURSO PEDAGÓGICO DE APOIO AO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA.
Autora: Sueli Ormeneze Varoli1
Professora Orientadora: Luciana Brito2
A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros compreendam.
Auguste Rodin
RESUMO
O presente artigo objetiva apresentar o processo e os resultados do Projeto de
Implementação (PDE-2009) intitulado “O teatro, a música e a dança como recurso
pedagógico de apoio ao ensino da Língua Portuguesa e Literatura”. Partindo da premissa
de que um ambiente motivador produz reflexos positivos no processo de aprendizagem, o
trabalho propõe a utilização dos recursos e elementos lúdicos, extraídos do teatro, da
música e da dança para despertar no aluno o gosto pela leitura do texto literário e, por
conseguinte, o desenvolvimento de sua capacidade de reflexão e reconhecimento do
mundo. O desafio de aliar o teatro, a música e a dança ao ensino da Língua Portuguesa e
Literatura, possibilitando a ressignificação dos conteúdos, constituiu o motivo basilar que
ensejou o advento deste trabalho, afinal a arte é uma eficaz ferramenta no processo de
formação da consciência crítica. O contato com os elementos artísticos fomenta a
criticidade, criatividade, reflexão, socialização e desenvolvimento de capacidades
expressivas. Sendo assim, o ensino da Língua Portuguesa e Literatura não podem
______________
1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio Estadual Joaquim Adrega de Moura- E.M.P.N., na cidade de Ribeirão Claro– PR, Pós graduada em Português e graduada em Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional ;Supervisão Escolar.2 Professora Orientadora Dr Luciana Brito –Docente na UENP- Jacarezinho- PR
2
desconsiderar as múltiplas habilidades e potencialidades que as manifestações artísticas
despertam no educando. Nesse sentido, o presente trabalho pretende realizar um estudo
do conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, à luz dos enriquecedores elementos do teatro,
música e dança, demonstrando que a associação entre o lúdico e os conteúdos
curriculares caminha a passos largos para o êxito na aprendizagem.
Palavras-chave; teatro; interdisciplinaridade;recurso; leitor; literatura.
Abstract
This article presents the process and results of Project Implementation (PDE-2009)
entitled "The theater, music and dance as an educational resource to support the teaching
of Portuguese Language and Literature." Assuming that a motivating environment
produces positive effects on the learning process, the study proposes the use of
resources and playful elements, taken from the theater, music and dance to awaken in the
student a pleasure for reading literary text, and therefore, the development of their
reflective capability and recognition of the world. The challenge of combining theater,
music and dance in the teaching of Portuguese Language and Literature, enabling the
redefinition of the contents, was the fundamental reason that encouraged this study. After
all, art is an effective tool in the process of develop a critical consciousness . The contact
with artistic elements fosters critical and creative thinking, socialization and development
of expressive capabilities. Considering that, the teaching of Portuguese Language and
Literature can not ignore the multiple skills and capabilities that the artistic elements
awaken in the student. Accordingly, this study aims to conduct a study on the tale
Negrinha, written by Monteiro Lobato, involving theater play, music and dance, elements
to reinforce that a association between play and curriculum contents strides to success in
learning.
Key words: theater; interdisciplinarity; feature; reader; literature
3
1 INTRODUÇÃO
A habilidade de ler é o primeiro passo para a assimilação dos valores da
sociedade, cabendo à escola a formação e o desenvolvimento do hábito da leitura.
Todavia, nota-se a impotência da instituição escolar em atingir este objetivo. À vista disso,
uma questão ganha relevo: Por que não se consegue despertar o gosto pela leitura nos
alunos? Por que utilizar o teatro, a música e a dança como expediente hábil a suscitar o
prazer de ler livros e textos literários?
Ao longo das séries do ensino fundamental, o aluno é tolhido da capacidade de
livremente exercer sua criatividade. Por não raras vezes, é submetido à leitura de livro
cujo conteúdo é dissociado de sua realidade. Ademais, constata-se a prevalência de
textos voltados ao ensino da gramática. Destarte, o aluno passa a figurar como vítima e
não como sujeito do processo educacional. Por conseguinte, acaba por desinteressar-se
e desistir da leitura de obras literárias.
O objetivo da escola é formar indivíduos críticos para serem inseridos na
sociedade, com capacidade para atuar como cidadãos dignos, respeitáveis, críticos,
capazes de transformá-la. Entrementes, resta claro que a escola não tem logrado êxito
em seu intento, por conta do desinteresse dos alunos pela busca do conhecimento.
Nesta toada, é oportuno citar as reflexões de Snynders, no que diz respeito à
visão do aluno em relação à escola.
A escola de hoje parece um remédio amargo; que eles devem engolir para assegurarem, no futuro, num futuro bastante indeterminado, uma felicidade que lhes parece bastante incerta. Os alunos passam os melhores dias de sua vida, os mais belos anos de sua juventude na escola... é preciso que a escola tenha por tarefa vivificar o presente desses jovens e fortalecê-los neste presente (SNYNDERS,2008, p.17).
Em face dessas afirmativas, de manifesta clarividência que o trabalho com alunos
desanimados e insatisfeitos constitui um óbice para o sucesso do processo de ensino-
aprendizagem. Neste viés, revela-se razoável colher o entendimento segundo o qual um
ambiente motivador gera um clima de harmonia entre professor e aluno e concorre
eficazmente para o incremento do índice de aproveitamento.
Com efeito, há que se repensar a atuação docente, a fim de ressignificá-la e
torná-la consentânea aos anseios do aluno. É o que se depreende do escólio do brilhante
4
Paulo Freire ( Freire 2009, p.39), para o qual: “É pensando criticamente a prática de hoje
ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.
Desta forma, o presente artigo tem como objetivo abordar as causas da falta de
motivação dos alunos em sala de aula, o desinteresse pela leitura literária e apresentar o
resultado dos estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional ( PDE ),
do Governo do Estado do Paraná em uma parceria com a Universidade Estadual do Norte
do Paraná (UENP), da qual resultou o desenvolvimento de um Folhas, cujas atividades
foram formuladas, pautadas na ideia da interdisciplinaridade, utilizando o teatro, a música
e a dança, como ferramentas para a extrapolação dos conteúdos, visando, sobretudo, ao
desenvolvimento do gosto leitura literária, e o registro do trabalho desenvolvido no
Colégio Estadual Professor Joaquim Adrega de Moura- EMP e Normal, aplicado nos
alunos da 4ª série do Curso de Formação de Docente.
1.2 Falência do leitor
Deparamos no dia-a-dia escolar a crescente desmotivação dos alunos em sala de
aula e no aprendizado, fato que afeta negativamente a qualidade do ensino. À vista deste
preocupante quadro, uma pergunta emerge: Quais fatores provocam a falta de interesse e
a alienação dos alunos em relação ao ensino?
As diferenças sócio-econômicas vigentes, um dos gatilhos para a falta de
motivação em sala de aula, somadas ao cansaço, aulas desmotivadoras e dissociadas da
realidade dos alunos, bem como a divergência entre o que é ensinado (teoria) e a
vivência do aluno (prática), podem ser apontados como os principais responsáveis pela
falência do ensino na atualidade. Além disso, deve-se associar a esse triste quadro outro
complicado agravante, ou seja, a falta de acesso da maioria dos estudantes às
manifestações e produções culturais (quadro de exclusão que retrata a realidade
encontrada na quase totalidade das escolas públicas), elementos imprescindíveis para
uma boa formação intelectual por parte dos alunos.
Diante desse complicado cenário, uma das ferramentas fundamentais para
proporcionar ao aluno conhecimento e inseri-lo no contexto cultural, tirando-o da
exclusão, é, sem dúvidas, a leitura. Esta constitui um poderoso instrumento de
transformação, que alavanca o processo de produção do conhecimento e possibilita o
contato com diferentes formas de vivenciar o mundo.
5
Os fins da educação, a que se propõe, visam ao desenvolvimento integral do indivíduo para que ele se torne atuante no grupo social em que vive. Sua participação, entretanto, está condicionada ao conhecimento que tem da realidade desse grupo. É necessário, assim, que a criança entre em contato com os bens culturais, entre os quais aqueles conservados através da linguagem escrita. A aprendizagem da leitura é fundamental, portanto, para a integração do indivíduo no seu contexto sócio-econômico e cultural. O ato de ler abre novas perspectivas à criança, permitindo-lhe posiciona-se criticamente diante da realidade.(ZILBERMAN, 1986, p.24).
Ocorre que a maioria dos alunos não tem o hábito de ler e as propostas de leitura,
principalmente de textos literários, são rejeitadas, o que nos faz indagar: quais as causas
dessa aversão? O ato de ler advém do incentivo dado a ele, e essa é uma atividade que
se inicia no seio familiar, quando a criança, que já é dotada de entendimento, começa a
ter contato com a leitura. Os pais sentam ao lado dos filhos para narrar uma história
infantil, a criança vivencia a narrativa e começa a viajar no mundo da fantasia. Assim,
resta claro que se tornam leitoras, antes mesmo de frequentarem a escola e aprenderem
a ler. Na infância são firmados hábitos que têm possibilidade de permanecerem ao longo
da vida. De acordo com Zilberman:
Para a criança, que, enquanto não lê, depende exclusivamente da voz adulta que codifica o mundo ao seu redor para ela, também a aprendizagem da leitura repercute enquanto uma possibilidade de emancipação. Pois os bens culturais, que privilegiam a transmissão escrita, tornam-se acessíveis para ela e, por conseguinte, manipuláveis. (ZILBERMAN, 1986, p.16).
Quando alcançam idade escolar, passa a ser tarefa da escola alfabetizar as
crianças, garantindo-lhes a correta utilização da linguagem oral e escrita e,
consequentemente, o domínio da leitura. Ocorre que os métodos de alfabetização
empregados nas escolas não funcionam, porque as propostas são dissociadas da
realidade brasileira e impostas sem o professor estar preparado. A alfabetização é feita de
forma fragmentada, as atividades são repetitivas, visando à codificação e à decodificação
da língua.
Diante disto, não resta dúvida que o processo de alfabetização está falho, o que prejudica
a leitura e acarreta sérios danos à formação estudantil. Se o aluno não aprender a ler e
escrever satisfatoriamente, terá muitas dificuldades para desenvolver-se no ambiente
escolar.
As afinidades entre escola e leitura se mostram a partir da circunstância de que é por intermédio da ação da primeira que o indivíduo se habilita à segunda.
6
Concebendo-se a alfabetização como um direito do homem, o que justifica sua franca expansão entre os diferentes povos e civilizações do planeta, ela não se concretiza sem o concurso do aparelho escolar, de modo que este se equipa e se estrutura, para atingir aquela meta com eficácia. (ZILBERMAN, 1986, p.11).
Não se pode negar a responsabilidade da escola no desenvolvimento e
desempenho dos alunos, inclusive no âmbito da leitura. O desenvolvimento da
capacidade leitora é fundamental para a aquisição de conhecimento. Vale lembrar que
desenvolver o gosto pela leitura literária requer do professor a busca do prazer em ler.
Para tanto, cabe suscitar as causas que implicam na falência do leitor, bem como discutir
as novas alternativas oferecidas ao professor. Tais questões são bem apontadas por
Zilberman em Leitura em crise na escola. Segundo a estudiosa:
Se é a literatura de ficção, na sua globalidade, que deflagra a experiência mais ampla da leitura, sua presença no âmbito do ensino provoca transformações radicais que, por isto mesmo, lhe são imprescindíveis. Alem disto, ela é a condição de o ensino tornar-se mais satisfatório para o seu principal interessado a criança ou o jovem, isto é, o aluno de modo geral. Enfim, ela revela a possibilidade de ruptura com os laços ideológicos que convertem a escola em sala de espera da engrenagem burguesa. Nascida das entranhas desta, a escola alcança seu justo sentido, no momento em que retorna à sua função original; e se esta é a de ensinar a ler, que o faça de maneira integral, para efetivar a revolução duradora no bojo da qual foi gerada. (ZILBERMAN, 1986, p.22).
1.3 A crise no sistema educacional
O hábito da leitura deve ser cultivado e fomentado pela escola, porque é lá que a
criança é motivada a ler, desenvolver o pensamento crítico, ponderar acerca das
informações recebidas, assumir seus pontos de vista e se apropriar do conhecimento
historicamente construído.
Formar alunos que tenham gosto pela leitura constitui uma tarefa árdua,
notadamente porque a prática pedagógica do professor envolve a filosofia da instituição
em que ele atua. O professor depende da colaboração dos pais, da equipe pedagógica,
da estrutura de qualidade, biblioteca e materiais didáticos, bem como do subsídio das
autoridades governamentais, responsáveis pela manutenção das escolas e pelas políticas
públicas educacionais.
Outro agravante é o livro didático, fator fundamental para a falência do ensino. Os
livros prontos freiam a imaginação do aluno, matam sua criatividade. Acerca destes
recursos pedagógicos, é oportuno trazer à baila as lições de Zilberman:
7
O livro didático exclui a interpretação e com isto, exila o leitor e, com isto, exila o leitor. Propondo-se como auto-suficiente, simboliza uma autoridade em tudo contrária à natureza de ficção que, mesmo na sua autonomia, não sobrevive sem o diálogo que mantém com seu destinatário. E, enfim, o autoritarismo se apresenta de modo mais cabal, quando o livro didático, se faz portador de normas linguísticas, delegada da ideologia do padrão culto e expressão de classes e setores que exercem a dominação social e política. Ou quando a interpretação se imobiliza em respostas fechadas, de escolhas simples, promovidas por fichas de leitura, sendo o resultado destas a anulação da experiência pessoal e igualitária. (ZILBERMAN, 1986, p.21).
Estas causas vêm comprometendo a educação, instaurando a temida crise no
sistema educacional. Aí se constata que não poucos alunos, concluintes do Ensino
Fundamental, chegam ao Ensino Médio sem dominar conceitos que são pré-requisitos
para a nova etapa, entre eles o ato de ler.
1.4 A importância da leitura literária
Os textos literários constituem um poderoso instrumento de transformação que
alavanca o processo de produção do conhecimento e possibilita o contato com diferentes
formas de vivenciar e compreender o mundo. Todavia, o Ensino Médio e a universidade
pecam contra a literatura, porque visam o enfoque estruturalista e negam a essência
desta arte. O teórico não emociona, apenas vira do avesso à obra literária, fazendo
considerações sobre a metalinguagem, anulando o belo e enaltecendo as teorias,
tornando a literatura, na maioria das vezes, insignificante para o leitor.
Tal prática rouba do leitor, antes que ele possa criar uma relação amável com a
obra literária, o prazer de ser um leitor literário. Com o escopo de assegurar a consecução
dos objetivos propostos pela literatura, foram utilizados os argumentos de Tzvetan
Todorov em sua obra A Literatura em Perigo. Todorov lembra os professores, críticos
literários e os próprios escritores, que todos devem ser antes de tudo leitores comuns.
Para ele, leitores comuns não dominam técnicas de leitura e análise, mas, na prática
literária, ponderam sobre o impacto que os textos produzem na vida emocional. A
literatura desencadeia a memória, abala as certezas do homem, oferece oportunidade de
conhecer o desconhecido e mudar radicalmente a vida, repensar nossa maneira de viver.
Para Todorov, um escritor, poeta ou dramaturgo, são educadores que não ministram
aulas, não aplicam provas, não se preocupam com resultados pedagógicos, eles atingem
o objetivo simplesmente com a influência que o texto provoca no leitor.
8
1.5 Repensando a Prática Educativa
Todo educador deve ter consciência da magnitude de sua atuação, não olvidando
que sua prática tem o poder de modificar a realidade vigente. Portanto é relevante citar a
Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática educativa, de Paulo Freire.
O autor faz importantes considerações a respeito da prática educativa dos professores
brasileiros, adverte os educadores para que tenham competência, autoridade e liberdade
no manejo de sala de aula, para isto, todo professor necessita ter segurança, ter
conhecimento e generosidade. Salienta também que ensinar exige comprometimento, ele
diz que a atividade docente deve ser alegre, mas com uma formação científica séria, pois,
afinal, educar é uma forma de intervir no mundo. Diante disto, é oportuno citar as palavras
de Freire:
Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. (FREIRE, 2009, p.41).
Todo educador deve ser curioso, instigador, revolucionário em sua prática
educativa para alcançar seu objetivo. Portanto, deve sempre procurar desenvolver suas
atividades de forma interdisciplinar, buscando em outras disciplinas subsídios para
desenvolver seus conteúdos.
Todorov (2009) alerta que a literatura está sob ameaça. Ele repudia as análises
críticas das obras, que prioriza os aspectos correlatos aos gêneros e história literária,
tipos de discursos, predomínio das normas e estruturas gramaticais, retirando do
fenômeno artístico seu aspecto mais intenso que é a capacidade da literatura de intervir
na formação humana. O entendimento comungado por Todorov pode ser assim
sintetizado: na escola, não aprendemos acerca do que falam as obras, mas sim do que
falam os críticos.
Na esteira do que leciona Todorov, a literatura tem o poder de tocar a alma do
leitor, permitindo o aflorar de sentimentos.
A literatura pode muito. Ela pode nos estender a mão quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais próximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. Não que ela seja, antes de tudo, uma técnica de cuidados para com a alma;
9
porém, revelação do mundo, ela pode também, em seu percurso, nos transformar a cada um de nós a partir de dentro. (Todorov, 2.009, p.76).
Entrementes, o trabalho desencadeado pela instituição de ensino, no que atine à
literatura, conflita com a inteligência expressa no ensinamento de Todorov. A ênfase à
teoria, aliada ao excessivo apego às estruturas da linguagem, redundam no desinteresse
pela prática da leitura.
Observa-se que a maior parte dos brasileiros, inclusive universitários e
professores são confessos quanto à falta do hábito da leitura, fazendo uso do argumento
de que os livros de literatura são desinteressantes, dissociados da realidade, e que pouco
acrescentam em suas vidas. Resta clara a ausência de discernimento de que a leitura é
de suma importância, posto que é o princípio do pensamento crítico, da realização
pessoal, do desenvolvimento e progresso da sociedade. Os textos literários dialogam com
o mundo, apontam novos caminhos, rompem barreiras, ligam as gerações, permitem ao
leitor perceber o mundo, além de aguçar o espírito crítico.
A literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento do que seja o produto literário está sujeito às modificações históricas, portanto, não pode ser apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos e sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, à cultura, a história, a economia, entre outros. (DCE-Paraná, 2009, p.57).
Nesta toada, fica claro que cabe aos educadores suscitarem reflexões acerca das
situações que se perfilam no cotidiano escolar, repensando a educação, mormente no
que atine ao encaminhamento metodológico dos conteúdos, que devem estar em
conformidade com a proposta pedagógica da SEED, pautada na ideia da
interdisciplinaridade.
Os conteúdos disciplinares devem ser tratados na escola, de modo contextualizado, estabelecendo-se, entre eles relações interdisciplinares e colocando sob suspeita tanto a rigidez com que tradicionalmente se apresentam quanto ao estatuto de verdade atemporal dado a eles. Desta perspectiva, propõe-se que tais conhecimentos contribuam para a crítica, às contradições sociais, políticas e econômicas presentes nas estruturas da sociedade contemporânea e propiciem compreender a produção científica, a reflexão filosófica, a criação artística, nos contextos em que elas se constituem.(DCE-Paraná, 2009, p.14).
Na inter-relação com vários conhecimentos, indene de dúvidas que um conteúdo
colabora com outros. Com efeito, conciliar os objetivos e métodos de Artes com os de
10
Língua Portuguesa, constitui uma importante ferramenta no processo de construção do
conhecimento e, inclusive, no ato de leitura. É oportuno registrar que “A disciplina de Arte
tem uma forte característica interdisciplinar que possibilita a recuperação da unidade do
trabalho pedagógico, pois seus conteúdos de ensino ensejam diálogos com a literatura”
(DCE-Paraná, 2009, p.62).
Neste contínuo de relações, percebe-se que o texto literário dialoga com outras áreas, numa relação exemplificada temos: Literatura e Arte, Literatura e...(qualquer das disciplinas com tradição curricular no Ensino Fundamental e Médio); Literatura e Antropologia; Literatura e Religião; entre tantas. (DCE-Paraná, 2009, p.77).
O resultado de estudos e pesquisas levou -me a desenvolver um projeto pautado
na característica interdisciplinar dos conteúdos de Artes, tendo como intuito utilizar como
recurso pedagógico, o teatro, a música e a dança para possibilitar a ressignificação dos
conteúdos do ensino da Língua Portuguesa e Literatura, extrapolando o contexto em que
eles se apresentam nos livros didáticos, envolvendo os educandos na construção do
conhecimento de forma prazerosa, na tentativa de resolver o grande problema que é fazer
com que o aluno torne-se um leitor, e tenha o gosto pela leitura de obras literárias.
1.6O poder das artes na formação do leitor literário
O ensino de Língua Portuguesa e Literatura estabelecem uma natural relação
interdisciplinar com a disciplina de Artes, notadamente no que se refere ao teatro. Este
trabalho interdisciplinar propiciará ao aluno o autoconhecimento e o conhecimento do
outro, para melhor compreensão do mundo em que vive. Isso porque ele alicerça-se na
comunicação, gera a espontaneidade e aceita a literatura.
Peixoto apresenta em seu livro O que é teatro, questões de grande importância
para o conhecimento de estudiosos que se propõem a trabalhar com essa modalidade da
arte. Ele menciona a trajetória do teatro no cenário nacional e internacional, o seu
significado e hipóteses de que seria fazer teatro e a importância desta arte na formação
cultural do indivíduo. Desta forma, estudar sua obra foi de grande valia para a
implementação deste projeto, pois ela traz relevantes considerações. Segundo Peixoto:
Vivemos numa sociedade dividida em classes, onde a ideia dos dominantes são as ideias das classes dominantes. Mas o pensamento subalterno também produz sua cultura, dentro de contradições específicas: o processo criativo mantém o
11
esforço do homem em sua batalha pela libertação ou pela cotidiana luta para a construção de uma sociedade nova. (PEIXOTO, 2007, p.15).
Estudos feitos a partir de experiências com a aplicação do teatro na educação
diante do fracasso escolar, estão abordados na obra de Neves e Santiago, O uso dos jogos teatrais na educação - possibilidade diante do fracasso escolar. Nesta obra,
encontram-se importantes considerações de renomados filósofos e pedagogos, tais como:
Courtney, Rousseau, Peter Slade, Antunes, Camargo, Piaget, Vygotsky, e outros, no que
diz respeito à prática dos jogos teatrais na educação com objetivos pedagógicos, a fim de
favorecer o desenvolvimento de crianças e jovens, estigmatizados pelo diagnóstico de
fracasso escolar. As autoras apresentam uma síntese do teatro na educação no mundo
ocidental, e relatam o resultado de uma série de oficinas realizadas com alunos com
dificuldades de aprendizagem.
Para obter sucesso com essa modalidade de ensino, é necessário despertar no
aluno o prazer em trabalhar com o teatro, portanto, o professor precisará aplicar nos
alunos exercícios de expressão corporal, com a finalidade de prepará-los para poderem
representar. No livro Um caminho do teatro na escola, Reverbel propõe um conjunto de
atividades, através de jogos, para desenvolver a expressividade, o relacionamento, a
espontaneidade, a imaginação, a observação e a percepção, que são indispensáveis para
a arte de atuar.
[...] o ensino do teatro é fundamental, pois através dos jogos de imitação e criação, a criança é estimulada a descobrir gradualmente a si própria, ao outro e ao mundo que a rodeia. E ao longo do caminho das descobertas vai se desenvolvendo concomitantemente a aprendizagem da arte e das demais disciplinas. (REVERBEL, 2006, p.25).
Nesta perspectiva, é pertinente trazer à colação as obras de Ricardo Japiassu,
suas técnicas e teorias fundamentadas em seu livro A Linguagem teatral na escola.
Nesta obra, o autor traz informações valiosas a respeito da comunicação entre os
jogadores. Os jogos teatrais são dirigidos de forma a permitir o desenvolvimento das
habilidades atinentes à improvisação, que, por sua vez, resultará no desenvolvimento
cultural e pessoal, através do domínio e do uso da linguagem teatral, sem nenhuma
preocupação com o processo cênico planejado e ensaiado. É oportuno relembrar o que
diz Japiassu:
12
No dia-a-adia, nós nos comunicamos usando vários gestos, múltiplos olhares e produzindo diferentes sons e entonações, inclusive ao pronunciarmos as palavras. Usamos a comunicação corporal. Tanto no faz de conta como nos jogos teatrais e, ainda, na representação teatral de aspecto cênico invariante (nos espetáculos teatrais propriamente ditos), também nos relacionamentos pela comunicação corporal. (JAPIASSU, 2007, p.93).
Outro fator de suma importância se refere ao conjunto de métodos utilizados para
um trabalho educativo. Não se pode pensar em uma proposta pedagógica sem uma
metodologia adequada. Em face disto, ela foi encontrada no 2º capítulo do livro de
Japiassu, Metodologia do ensino de teatro. Devido a sua importância, é oportuno citar
as considerações do autor:
No segundo capítulo discuto procedimentos metodológicos (técnicas) necessários à implementação do ensino do teatro por meio de jogos na escolarização, conforme esse método tem sido praticado, ressignificado e transformado pelos responsáveis das artes cênicas no Brasil, ao longo do processo de transição paradigmática do ensino modernista para o ensino pós-modernista do teatro. (JAPIASSU, 2005, p.11).
No tocante à dança, é importante noticiar que, por ser considerada a primeira
manifestação emocional do homem, oferece o desenvolvimento de hábitos saudáveis,
melhora a adaptação social e humaniza o sujeito. Nesta perspectiva, no livro Dança... ensino, sentidos e possibilidades, de Débora Barreto, encontra-se a justificativa de
incluir a dança na educação. Foi utilizada também, uma outra obra de Isabel A. Marques,
Dançando na escola, que traz relevantes reflexões sobre a prática da dança.
As aulas de dança podem promover oportunidades para que os alunos identifiquem problemas, levantem hipóteses, reúnam dados e reflitam sobre situações relacionadas ao fazer e ao pensar essa arte na escola associada a uma vida saudável. Centrada no corpo, as aulas de dança podem traçar relações diretas com situações de dor e prazer, alimentação, uso de drogas e prevenção e cura de lesões, sem que se afaste de seus conteúdos específicos. (MARQUES, 2005, p.55).
Para aprofundar as ideias sobre a necessidade da democratização das alegrias
culturais encontradas nas artes, em especial na música, foram utilizadas as reflexões
contidas nas obras: Explorando o universo da música, de Nicole Jeadont; e A escola pode ensinar as alegrias da música, de Georges Snyders. As obras em questão
sugerem atividades através de jogos com ritmos, sons, e cantos, cuja finalidade é
desenvolver o gosto pela música, uma vez que essa arte contribui para a formação geral
do educando.
13
Propiciar uma alegria que seja vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, compensados e recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente. (SNYNDERS, 2008 p.18).
É certo que a escola não resolve todos os problemas da sociedade, todavia, é
inegável que pode e deve encaminhar o aluno para o favorecimento da superação da
realidade. Para o professor trabalhar nesta perspectiva, e em conformidade com a
filosofia da SEED, é necessário buscar na literatura bons roteiros para que os alunos
possam interagir e se posicionar criticamente diante dos fatos.
Diante do exposto acima, a pesquisa buscou embasamentos teóricos nas Diretrizes Curriculares do Paraná, propostas para as disciplinas de Língua Portuguesa e Arte.
Para as teorias críticas, nas quais estas diretrizes se fundamentam, o conceito de contextualização propicia a formação de sujeitos históricos – alunos e professores – que, ao se aproximarem do conhecimento, compreendem que as estruturas sociais são históricas, contraditórias e abertas. É na abordagem dos conteúdos e na escolha dos métodos de ensino advindo das disciplinas curriculares que as inconsistências e as contradições presentes nas estruturas sociais são compreendidas. Essa compreensão se dá num processo de luta política em que estes sujeitos constroem sentidos múltiplos em relação a um objeto, a um acontecimento, a um significado ou a um fenômeno. Assim, podem fazer escolhas e agir em favor de mudanças nas estruturas sócias. (DCE-Paraná, 2009, p.30).
As Artes (como é o caso do teatro, a música e a dança), de um modo geral, têm o
poder de estabelecer um equilíbrio entre o ser humano e o mundo. Inseri-las como uma
estratégia a mais na educação, é colocar em prática propostas e reflexões que
evidenciem a importância do conhecimento estético, construída através da palavra, dos
movimentos e da melodia. Isso porque, o teatro busca a linguagem corporal, a dança
busca os movimentos e a música é o elemento que promove a interação entre o
movimento dramatizado no teatro e o movimento coreografado na dança.
O teatro, devido à riqueza de sua experimentação, educa e diverte. É uma
atividade lúdica e ao mesmo tempo didática. A música exerce sobre nós um grande
fascínio e remete, evidentemente, o seu poder sobre o nosso corpo, fazendo com que ele
vibre. A dança nos causa a sensação de bem estar. Quando ouvimos uma música
queremos dançar, e esse ato de dançar permite-nos expressar e representar os
sentimentos, os desejos e as emoções.
Por conseguinte, relacionar o teatro à literatura, à música e à dança enriquece
sobremaneira a prática educativa. Encenar obras literárias, entrelaçadas, à música e à
14
dança propicia condições para que os alunos obtenham domínio de si, que desenvolvam
a capacidade de ouvir, de se posicionar, e consoante, a de refletir e ler. Eles
experimentam a alegria de uma atividade que se desenrola de acordo com seus
interesses e prazer.
Muitos estudos têm revelado que o teatro, numa perspectiva educacional, trabalha
com o potencial das pessoas, estabelecendo uma relação de trabalho com as todas as
disciplinas do currículo escolar, unindo imaginação à prática e à observação de regras. O
jogo teatral possibilita ao adolescente um espaço para pensar suas atitudes, propiciando
a construção de sua identidade e autonomia.
Para Freire (2009), o papel da educação é formar pessoas emancipadas,
autônomas, conscientes e capazes. A prática pedagógica deve romper com o modelo
tradicional da escola e resgatar a participação do aluno na construção do processo
emancipatório. Nesta proposição, o teatro desencadeia um processo de aprendizagem,
construindo pessoas motivadas, críticas, emancipadas, dando início a uma tomada de
consciência necessária à construção de uma sociedade melhor. O teatro também
possibilita o trabalho cultural, promovendo oportunidades para que os adolescentes e
adultos conheçam, observem e confrontem diferentes culturas em diferentes momentos
históricos.
Diante destas colocações, o projeto partiu da leitura do conto “Negrinha” de
Monteiro Lobato. Conquanto de há muito tenha sido redigido, sua temática é ainda atual,
na medida em que aborda a violência contra crianças, aponta a hipocrisia da sociedade
brasileira e permite a reflexão acerca da situação do Brasil nos dias atuais.
Lobato sempre abordou os problemas sociais, com características regionalistas,
estabelecendo um liame entre a literatura e a realidade, explorando as crises sofridas
pelos personagens, para garantir sua sobrevivência. Segundo Alfredo Bosi:
Lobato consegue transcender sua inclusão entre os regionalistas, pois, foi antes de tudo um intelectual ativo, que empunhava a bandeira social.(...) Negrinha, que toma o título do conto inicial, é um livro heterogêneo onde reponta com maior insistência o documento social acompanhado do costumeiro sentimento polêmico e de vontade de doutrinar e reformar.(BOSI, 1994, p.217).
O conto evidencia um confronto entre a cultura negra e a branca, com a
prevalência da lei do mais forte. Ostentando uma alcunha que caracteriza sua raça,
Negrinha sofre as mais aviltantes agressões, tanto físicas como morais. Encenar a
literatura de Monteiro Lobato, através deste conto, possibilita aos alunos uma visão mais
15
abrangente dos abusos e das violências praticadas na época da escravidão, além de
promover oportunidades para que estes conheçam, observem e confrontem diferentes
manifestações culturais em diferentes momentos históricos. O conto também permite o
acesso aos elementos peculiares da cultura afro-descendente, dentre os quais convém
ressaltar a música e a dança.
O ato de ler não se cinge à mera decodificação, importa o desenvolvimento da
criticidade exigida para que os alunos saibam questionar os problemas oriundos do
preconceito racial, de uma sociedade tão desigual, se posicionar, ou seja, entender a
realidade que se apresenta e transformá-la. Os cem melhores contos brasileiros do século, de Ítalo Moriconi, é um livro que traz vários contos, entre eles “Negrinha”, de
Monteiro Lobato. É oportuno trabalhar com este conto, porque relata as complexidades
sociais do período da escravidão e da pós-escravidão, possibilitando ao educando uma
visão dos abusos da classe dominante. Partindo da leitura e análise do conto, é possível
estatuir um paralelo entre a realidade apresentada na obra e a realidade hodierna,
possibilitando ao educando cotejá-las e confrontá-las.
Lajolo, em A figura do negro em Monteiro Lobato, evidencia com esmero como
os negros eram retratados nas obras de Lobato. Discutir a representação do negro nos
livros de Monteiro Lobato, além de contribuir para um conhecimento maior deste grande
escritor brasileiro, mostra um retrato de uma sociedade governada pelos brancos, onde
ao negro só restava a submissão e a marginalização. Segundo Lajolo (2009), em
“Negrinha”, Lobato denuncia o racismo e a violência sofrida pela protagonista, revelando o
preconceito que, à época, imperava.
Para trabalhar com a obra de Lobato foi necessário fazer um amplo estudo a
respeito deste grande escritor da literatura infanto-juvenil brasileira, buscando
informações sobre sua história de vida enquanto grande escritor, bem como as
contribuições que suas obras trouxeram para a cultura brasileira. Para tanto, fizemos uso
do livro História concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi; Monteiro Lobato: o homem e a obra, de Conte; e Monteiro Lobato: vida e obra, de Edgard Cavalheiro.
Conte (1948) diz que Monteiro Lobato engloba em suas obras todo um universo.
Segundo ele:Não há assunto científico (sic), ou filosófico (sic), histórico (sic) ou estético (sic), mitológico (sic) ou religioso, político (sic) ou mundano... que não apareça ao menos citado de passagem. E quando esses assuntos aparecem em sua obra, são quase sempre comentados de uma forma que evidenciam completa compreensão deles, total assimilação pela mente de Lobato.(CONTE, 1948, p. 159).
16
Ainda segundo Conte, Lobato se desponta por acidente no mundo da literatura infantil,
isto porque um amigo lhe contou a respeito da história de um peixinho que morrera
afogado.
A origem de sua literatura infantil foi acidental. Um amigo contou-lhe a história dum peixinho que por haver passado algum tempo fora d’água (sic) “desaprendera de nadar e de volta ao rio, afogou-se. Lobato escreveu então a História (sic) do Peixinho que morreu afogado”. Pequena. “Do tamanho do peixinho” _diz, com espírito (sic), Lobato. Depois ampliou–a, com reminiscências (sic), quando a Joaquina ia mariscar no corgo (sic), com a peneira.(CONTE, 1948, p.20, grifo do autor).
Lobato lutou muito pelo progresso do país e teve uma visão além de seu tempo,
razão pela qual merece pronto reconhecimento como grande artista, como precursor da
nossa literatura infantil e exemplo de patriotismo realista, sem a falsa idealização proposta
pela sua época. Cavalheiro, em seu livro Monteiro Lobato: vida e obra, mostra o escritor
como um autêntico brasileiro, sincero ao extremo, apaixonado por uma nação que não
soube compreendê-lo em seu tempo. A biografia de Monteiro Lobato, realizada por
Edgard Cavalheiro, parece a mais completa realizada até aqui. Essa afirmação parte do
pressuposto de que Edgard Cavalheiro, além de ter convivido com o escritor, obteve
riquíssimos depoimentos de pessoas próximas a Lobato, como da esposa do escritor,
Pureza Monteiro Lobato, da irmã, Ester Lobato de Morais, e muitas outras, pertencentes
ao seu círculo de amizades. Outro fator, e talvez o mais relevante, é que Cavalheiro, ao
escrever a obra, estava de posse do arquivo do escritor, doado pelo mesmo quando de
sua partida para a Argentina em 1946. Assim, muitas informações, em especial as
referentes às correspondências, eram totalmente inéditas.
Anticonvencional (sic) por excelência, diz sempre o que pensa, agrade ou não, seja o interlocutor amigo ou indiferente. Nada de cega intolerância. Mas a “sua verdade”, ou aquilo que assim presume, ele a defende com unhas e dentes, contra tudo e contra todos, quaisquer que sejam as consequências Espírito multiforme e vibrátil, elástico e científico, sem dúvida. Mas pouco filosófico. Não aceitará nada pela circunstância de ser “coisa estabelecida”, reagindo sempre contra o tôda-gente” [...] preserva a sua solidão, sendo em assuntos íntimos de um constrangimento que o tempo só fará aumentar. Aprecia arrasar tudo, a começar pelos próprios trabalhos, Renega por isso mesmo o que tem feito até então [...]. (CAVALHEIRO, 1962ª, p.78 ).
. Inúmeros estudos foram feitos sobre o autor e sua obra, porém, o presente
projeto não intenta esgotar exaustiva e prolixamente temática de tão grande vulto, mas
17
objetivou explorar, através do teatro, da música e da dança, o conto “Negrinha”, que
suscita reflexões críticas sobre as injustiças sociais e raciais experimentadas pelas
pessoas que, de uma forma ou de outra, estão alijadas da sociedade, com a finalidade de
desenvolver nos alunos, o gosto pela leitura literária.
Neste prisma, o trabalho proposto consistiu em promover um amálgama entre
diversas Artes (teatro, dança e música), utilizando, para tanto, a alegria proporcionada
pela música, dança e encenação teatral, para que, ao final, os alunos encontrassem
prazer na literatura.
2 Intervenção em sala de aula
As atividades que compõe o material didático (folhas) foram elaboradas em
conformidade com as instruções das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, que
orientam os professores a desenvolver seu trabalho de forma interdisciplinar, buscando
em outras disciplinas subsídios para o desenvolvimento dos conteúdos afetos a sua área
de atuação.
Com efeito, o presente trabalho estabelece uma natural relação interdisciplinar
com a disciplina de Artes, notadamente no que se refere ao teatro, à música, à dança e à
literatura. O material didático foi apresentado à Equipe Pedagógica e ao corpo docente.
Posteriormente, foi apreciado pelos os alunos, que consideraram a proposta interessante
e motivadora. Foram flagrantes o interesse e receptividade dos educandos que,
prontamente, dispuseram-se à realização das atividades propostas.
Inicialmente, os alunos assistiram ao vídeo de uma peça teatral, que permitiu a
compreensão da dinâmica da dramaturgia e a identificação das características do teatro.
Ato contínuo à exibição do vídeo, apresentou-se aos alunos um escorço histórico sobre o
teatro, ocasião em que puderam constatar que o nascedouro dessa milenar manifestação
artística confundiu-se com o surgimento da dança, pois o teatro primitivo consistia,
basicamente, em danças imitativas que abordavam questões cotidianas, principalmente
relacionadas aos rituais religiosos. Os apontamentos históricos permearam todas as fases
do desenvolvimento do teatro.
A fim de suscitar o interesse pela pesquisa, propôs-se aos alunos que coletassem
material biográfico sobre dramaturgos respeitados e reconhecidos pelo público e pela
crítica. Na mesma oportunidade, foram apresentadas diversas modalidades de teatro,
dentre elas, o teatro tradicional, vanguarda, mambembe, sociodrama, teatro de máscaras,
18
teatro de fantoches, teatro espontâneo e monólogo. Idêntica análise foi proposta em
relação à música e à dança. A fim de identificar os sentimentos desencadeados pela
música, os alunos ouviram uma seleção de canções e, à medida que eram executadas,
registraram as sensações experimentadas.
Posteriormente, propôs-se que os alunos aliassem a música à poesia. Para tanto,
escolheram uma das canções apresentadas na atividade anterior e procuraram um
poema, de autoria de um reconhecido escritor brasileiro, que expressasse o mesmo
sentimento desencadeado pela música. Finalizando a atividade, os alunos declamaram o
poema ao som da canção escolhida.
No tocante à dança, coube aos alunos observar uma coletânea de imagens de
dançarinos e atribuir uma música específica para cada imagem. Cada educando atuou
nesta terefa, no caso como sonoplasta.
Após a apreciação da história do desenvolvimento do teatro, música e dança, os
alunos inferiram que tais manifestações artísticas encontram-se umbilicalmente ligadas,
desde o seu surgimento. O teatro busca a linguagem corporal, a dança busca os
movimentos e a música é o elemento que promove a interação entre o movimento
dramatizado no teatro e o movimento coreografado na dança.
Superada a abordagem histórica, deu-se início às atividades práticas, através da
proposição de jogos teatrais. O desenvolvimento de tais atividades partiu da aplicação do
jogo “Espelho”, assim descrito: aos pares, os alunos se dispuseram frente a frente, a fim
de serem espelho um do outro. Em um primeiro momento, enquanto uma pessoa praticou
ações, por meio de gestos, a outra as copiou, observando os detalhes imprescindíveis
para uma boa representação. Posteriormente, ambos os intérpretes criaram movimentos
que foram copiados simultaneamente. Além disso, outras variações foram criadas, como
por exemplo, ações rápidas ou lentas.
Ao término da atividade, os participantes ponderaram acerca do jogo
desenvolvido, mencionado os aspectos positivos e registrando as maiores dificuldades
encontradas. Assim, os alunos realizaram uma série de exercícios e jogos com a
finalidade de fomentar a capacidade de representação. Para o desenvolvimento corporal,
utilizou-se a música e a dança, de maneira que os gestos e movimentos nelas contidos
proporcionassem uma ampla condição de movimentos.
Improvisar é um ato espontâneo, e requer a capacidade de saber aproveitar os
recursos disponíveis para a atuação e isso de forma rápida e precisa. Para desenvolvê-la
é necessário relacionar-se com seres animados e inanimados, o que requer sensibilidade
19
para sentir o sentimento do outro e através disso nascerá à possibilidade de interação, de
relacionamento, de imaginação percepção e criatividade. Partindo dessa premissa, os
alunos foram desafiados a improvisar, por meio de jogos que sugeriram a alternância
entre a posição de ator e espectador.
Na sequência, os alunos leram “Negrinha”, de Monteiro Lobato, e fizeram um
estudo do conto, trazendo à glosa a Lei do Ventre Livre, a violência contra crianças, o
trabalho infantil e o preconceito racial. Desse modo, foram incitados a refletir acerca do
desrespeito humano e desigualdades raciais, ainda presentes nos dias atuais.
Pesquisaram fatos contemporâneos que guardam semelhança com a situação narrada no
conto. De posse das informações, redigiram um escrito, à semelhança de “Negrinha”,
denunciando a violência a que os personagens foram expostos.
Em seguida, foram orientados a reescrever o conto “Negrinha”, recontando-o sob
o ponto de vista da personagem Negrinha e sob a ótica de Dona Inácia. O resultado da
atividade escrita foi apresentado através de um monólogo.
O preconceito e discriminação racial são mazelas que, ainda hoje, maculam
nossa sociedade. Contrariando todas as perspectivas de uma sociedade preconceituosa,
lutando contra todo o tipo de discriminação, inúmeros afro - descendentes provaram que a
capacidade de uma pessoa não é aferida pela cor de sua pele ou por seu status social.
Os alunos procederam a uma pesquisa sobre as personalidades negras que lograram
uma posição de destaque na sociedade.
O resultado o trabalho foi oportunamente apresentado à comunidade no “Dia da
Consciência Negra”, ocasião em que pais, alunos e professores apreciaram os cartazes e
faixas elaborados pelos alunos, assistiram à peça teatral e degustaram pratos típicos da
culinária africana.
Para arrematar, os alunos ponderaram sobre as atividades realizadas.
Concluíram que a experiência do lúdico, proposto como recurso pedagógico no incentivo
à leitura de obras literárias, concorre eficazmente para o êxito do processo de
aprendizagem. Perceberam que a associação entre Artes e Literatura fomenta a
comunicação, gera a espontaneidade e ressignifica o ensino da literatura.
20
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados colhidos com a implementação do presente projeto superou as
expectativas iniciais. A efetivação das atividades propostas permitiu aos alunos o
desenvolvimento de múltiplas habilidades.
A dança propiciou o explorar das habilidades rítmicas e expressivas. O teatro
aperfeiçoou as habilidades de expressão artística, de visão perspectiva, interação com o
público e leitura crítica de fatos do cotidiano. O trânsito entre os variados estilos musicais
suscitou o respeito às diversas manifestações musicais.
Esta abordagem multidisciplinar e multimídia proporcionou aos educandos uma
apreensão mais significativa dos assuntos abordados, o que facilitou o processo de
disseminação do conhecimento.
Encenar o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, entrelaçado à música e à dança,
propiciou condições para que os alunos obtivessem domínio de si, o desenvolvimento da
capacidade de ouvir, de se posicionar, e, por conseguinte, a de refletir e ler.
Os educandos demonstraram franco interesse pelos assuntos abordados no
conto, notadamente no que se referiu à violência infantil e preconceito racial. O trabalho
não apenas propôs o enfrentamento direto da problemática do racismo e preconceito,
mas buscou demonstrar que a capacidade intelectiva, física, cognitiva não guarda
qualquer relação com a etnia ou cor da pele. Ao término da aplicação das atividades
restou claro que o fim colimado foi alcançado com excelência.
Transitar entre diversas áreas do conhecimento foi o grande desafio do trabalho.
Isso porque, tradicionalmente, ao docente titular de uma disciplina era dado explorar os
conteúdos pertinentes a sua área de atuação. A praxe revela que a interdisciplinaridade
não é uma ferramenta de uso frequente do educador.
De há muito, consolidou-se o entendimento de que as disciplinas são estanques e
não se comunicam entre si. Inúmeros fatores concorreram para o isolamento dos
conteúdos, dentre os quais convém registrar o tempo hora-aula que a grade curricular
reserva a cada disciplina. A brevidade da duração das aulas constituía um óbice
intransponível para a interdisciplinaridade.
O trabalho demonstrou que o uso dos saberes específicos a outras áreas do
conhecimento, além de possível, é exigido para que as aulas se tornem motivadoras,
criativas e profícuas.
21
As atividades propostas também demonstraram que a associação entre o
conhecimento e o lúdico permitiu o despertar das habilidades que, comumente, não são
alcançadas quando o trabalho em sala de aula é encaminhado da forma como
tradicionalmente se apresenta. Desta sorte, pode-se afirmar que o lúdico constitui uma
valiosa ferramenta pedagógica, hábil a tornar as aulas produtivas e prazerosas. As
considerações tecidas no presente artigo revelam que o teatro, a música e a dança
emergem como recurso importante na formação de alunos leitores literários, não podendo
ser relegados a posição acessória no processo de ensino aprendizagem.
22
4 REFERÊNCIAS
ASSIS, Chico de. Teatro na escola. Prefácio aos mestres professores. Disponível em:
http://www.educacao.sp.gov.br/Boa_Noticia/chico.htm - Acesso em: 07.Set. 2009.
BARRETO, Débora. Dança... Ensino, sentidos e possibilidades na escola. 2ª. Ed.
Campinas, SP: Editores Autores Associados, 2005.
BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. 4ª ed. São Paulo-SP: Perspectiva, 2008.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 41ª ed. São Paulo-SP:
Pensamento-Cultrix, 1994.
CAVALHEIRO Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. 3. ed. São Paulo-SP: Urupês,
1962.1º Tomo.
CONTE, Alberto. Monteiro Lobato: o homem e a obra. São Paulo-SP: Brasiliense, 1948.
FERREIRA, Bibi. Programa do Jô Soraes Rede Globo: Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=3BhsnXDn-jk. Acesso em 19/02 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 39ª.
ed. São Paulo-SP: Paz e Terra, 1996.
JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. A linguagem teatral na escola: pesquisa, docência e
prática pedagógica. Campinas-SP: Papirus, 2007.
JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino do teatro: 4ª ed. Campinas-SP: Papirus,
2001. 4ª ed.
JEDONT, Nicole. Explorando o universo da música. 3ª. ed. São Paulo-SP. Editora
Scipione, 1997.
LAI. Seong WU. Criação: Disponível em http://www.youtube.com/watch? V=
Ljo58VvSPEQ. Acessado em 10/02/2010
23
LAJOLO, Marisa. A figura do negro em Monteiro Lobato. Campinas-SP: Unicamp, 1998.
Disponível em: http://www.unicamp.br/iel/ Monteiro Lobato/outros/lobatonegros.pdf.
Acesso em 02.jul.2009
LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In Aguiar Teixeira Vera de e (outros). Org.
Ziberman, Regina. Leitura em crise na escola. 7ed. Porto Alegre-RS: Mercado
aberto.1986. .
Lei 7.716/1989. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L7716.htm. Acesso em 05
de jun.2010, às 17h12m.
MARQUES, Isabel Azevedo. Dançando na escola. 2ª. ed. São Paulo-SP, Editora Cortez,
2005.
MORONI.Ítalo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro - RJ,
Editora Objetiva-LTDA.
NEVES, Libéria Rodrigues. Santiago Ana Lydia Bezerra. O uso dos jogos teatrais na escola: possibilidades diante do fracasso escolar. CAMPINAS - SP: Papirus, 2009.
MOHAMMED. ( Os melhores do mundo)-: Parte ½ : Disponível em
http:/www.youtube.com.watch?v= Konfhaxogks. Acesso em 10/02/2010.
MOHAMMED. ( Os melhores do mundo): Parte 2/2: Disponível em
http:/www.youtube.com.watch?v= pLAnaeloXCB. Acesso em 10/02/2010
PARANÁ. SEED. Diretrizes Curriculares da rede pública de Educação básica do Estado do Paraná: Artes. Curitiba-PR: 2009
PARANÁ. SEED Diretrizes Curriculares da rede pública de Educação básica do Estado do Paraná: Língua Portuguesa. Curitiba-PR: 2008
PEIXOTO, Fernando. O que é teatro. 14. ed. São Paulo-SP: Brasiliense, 1986.
PEREIRA, José Filipe. Música e Teatro. Disponível em:
http://www.acto.com.pt/acto/pdf/musicaeteatro.pdf. Acesso em: 21.set.2009 às 13:15h
24
PORTO, Bruno P, publicado em O Globo, Megazine: Disponível em
http://www.vtower.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=1042 . Acesso em
19.02.2010.
REGGAE, Bahia, Adão Negro: Disponível em: http:///www.Youtube.com/watch?
v=sU3jW5awfcl: Acesso em 12/02/2010
REVERBEL, Olga Garcia. Jogos teatrais na escola: atividades globais de expressão.
São Paulo-SP: Scipione, 1996.
REVERBEL, Olga Garcia. Um Caminho do Teatro na Escola. 2ª. Ed. São Paulo-SP:
Editora Scipione, 1997.
SNYDERS, Georges. Escola pode ensinar as alegrias da música. 5ª ed. São Paulo-
SP, Editora Cortez, 1994.
Teatro na Escola - Orientações Pedagógicas. Disponível em:
http://www.artesocial.org.br/index.php/pecas-de-teatro/149-teatro-na-escola-orientacoes-
pedagogicas?showall=1. Acesso em: 07.Set. 2009.
TODOROV, Tzvetam. A Literatura em Perigo. 2ª ed. Rio de Janeiro - RJ: DIFEL, 2009.
TOKENS, The. Disponível em http:///youtube.com/watch?v=UR2nKoPlto- Acesso em
11/02/2010.
ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 7ª ed.
Porto Alegre-RS: Mercado aberto, 1986.
ZILBERMAN, Regina. Leitura no 1º Grau: A proposta dos currículos. In Aguiar Teixeira
Vera de e (outro). Org. Zilberman, Regina. Leitura em crise na escola. 7ed. Porto Alegre-
RS: Mercado aberto, 2009.
ZILBERMAN, Regina. A leitura na escola. In Aguiar Teixeira Vera de e (outro). Org.
Zilberman, Regina. Leitura em crise na escola. 7ª ed. Porto Alegre-RS: Mercado aberto,
2009.
25
Zilberman, Regina. Biblioteca escolar: da gênese à gestão. In Silva Theodoro Ezequiel.
Org. Zilberman, Regina. Leitura em crise na escola. 7ª ed. Porto Alegre-RS: Mercado
aberto, 2009.
26