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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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MARCIA LUCIA RAUBER

LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA DE

GÊNERO DISCURSIVO

“POEMA”: UMA

PROPOSTA DE TRABALHO

PEDAGÓGICO

SEED SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO

ESTADO DO PARANÁ

2010

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SUMÁRIO

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 3

2 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA 3

3 DIAGNÓSTICO INICIAL 6

4 CONTATO INICIAL COM O GÊNERO POEMA 7

5 ESTRATÉGIAS DE LEITURA 8

6 CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO DISCURSIVO “ POEMA” 9

7 SISTEMATIZANDO OS CONHECIMENTOS SOBRE POEMAS 12

7.1 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO 12

7.2 BUSCA DE INFORMAÇÕES E AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO 12

7.2.1 Cecília Meireles 13

7.2.1.1 O Cavalinho Branco 16

7.2.1.2 Bolhas 17

7.2.1.3 É preciso não esquecer nada 17

7.2.2 Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho 20

7.2.2.1 O Bicho 22

7.2.2.2 Neologismos 23

7.2.2.3 Andorinha 23

7.2.2.4 Pardalzinho 24

7.2.2.5 Porquinho-da-índia 25

7.2.2.6 Pneumotórax 26

7.2.3 Ricardo Azevedo 28

7.2.3.1 Poema do tempo 30

7.2.4 Pedro Bandeira de Luna Filho 31

7.2.4.1 Choradeira 33

7.2.4.2 Ninho no coração 34

7.2.5 Mario Quintana 36

7.2.5.1 Poeminha do contra 38

7.2.5.2 Bilhete 39

8 PRODUZINDO POEMAS 39

9 REVISÃO E REESCRITA 39

9.1 AVALIAÇÃO FORMATIVA 40

10 ATIVIDADES COMPLEMENTARES 42

REFERÊNCIAS 46

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LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA DO GÊNERO DISCURSIVO “PO EMA”: UMA

PROPOSTA DE TRABALHO PEDAGÓGICO

1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professora PDE : Marcia Lucia Rauber

Área PDE: Língua Portuguesa

Foto da capa: Marcia Lucia Rauber

NRE: Cascavel

Professora Orientadora IES: Profª. Ms.Rosana Becker Fernandes

IES vinculada: UNIOESTE

Escola de Implementação: Colégio Estadual Professor Victório Emanuel Abrozino –

6º ano

Público objeto da intervenção: Alunos do 6º ano do Ensino Fundamental

Tema de estudo: A linguagem como prática discursiva

2 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

Professor, primeiramente é necessário selar o contrato didático com seus

alunos. Para isso, combine regras, planeje e organize as atividades pedagógicas

juntamente com eles.

É importante ressaltar que o tempo de desenvolvimento das atividades é de

no mínimo três meses, sendo empregadas de uma a duas aulas semanais, as quais

demandarão pesquisas e leituras em bibliotecas, atividades coletivas e buscas em

sítios da internet de outros poemas dos autores escolhidos. De tais pesquisas

resultará um trabalho permanente de produção oral e escrita de textos (debates

regrados, produção de cartazes, respostas interpretativas, entrevistas, bilhetes,

crônicas). Como produção final, a escrita de um poema, gênero sistematizado

durante a proposta.

O trabalho didático aqui proposto visa trabalhar com a língua portuguesa na

concepção sociointeracionista, isto é, leva em consideração autores e leitores como

sujeitos da ação verbal. (BAKHTIN, 1981). As pessoas se relacionam por meio da

linguagem em diferentes contextos situacionais e culturais, ou seja, a linguagem

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ocupa papel central na vida das pessoas. Pela palavra, o homem busca emprego,

namora, estabelece seus vínculos. Por meio da palavra, pode-se construir ou

desconstruir ideias, inclusive ideais. Diante disso, não há como separar o homem da

palavra.

Nos contextos sociais, são produzidos e circulam diferentes gêneros

discursivos. (BAKHTIN, 2000). Porém, é importante perceber que na sociedade

brasileira o acesso aos gêneros discursivos é desigual; principalmente àqueles

pertencentes à esfera literária, como o poema. Devido a isso, muitas pessoas

tornam-se avessas, quando não preconceituosas, em relação à leitura de

determinados gêneros. Ao possibilitar um trabalho pedagógico com a leitura, análise

e produção de poemas, a escola está contribuindo para a democratização da leitura

literária e possibilitando a formação do gosto. (MAGNANI, 2001). Ao incentivar o

poema ao conhecimento dos alunos, mais que o desenvolvimento de um uso

cotidiano da linguagem, a escola está atuando para edificar a parte mais sensível do

homem, pensando neste como os alunos da rede escolar.

Sendo assim, o principal propósito deste material pedagógico é desenvolver a

compreensão leitora, motivando e incentivando os alunos a superarem seus

conhecimentos e expectativas por meio do acervo de poemas selecionados. As

atividades propostas buscam encaminhar os alunos a universos de leitura diferentes

que lhes possibilitará a ampliação de seu conhecimento do mundo.

Tem sido enfatizado pelas propostas oficiais de ensino de língua portuguesa,

dentre elas, a do Paraná (2008), o papel dos gêneros do discurso no

ensino/aprendizagem de língua portuguesa, uma vez que eles permitem

compreender a relação entre linguagem, discurso e sociedade. Tem-se também

apresentado princípios teórico-metodológicos de análise de gêneros como subsídio

para elaboração e desenvolvimento de atividades de escrita, entendida esta como

prática social. Uma das propostas para um trabalho contextualizado e significativo

com a produção escrita é o apresentado por Dolz, Noverraz e Schnewly (2004) e

definido como sequência didática. Para os autores,

uma Sequência Didática tem, precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação. Este trabalho será realizado sobre gêneros que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles dificilmente acessíveis, espontaneamente, para a maioria dos alunos; e sobre gêneros públicos e não privados. (DOLZ, NOVERRAZ, SCHNEWLY, 2004, p. 97)

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O material pedagógico aqui proposto compartilha da preocupação destes

autores em relação a trabalhar gêneros ainda não dominados pelos alunos. Como,

porém, a ênfase da sequência didática é a produção oral ou escrita e não a leitura

de determinado gênero discursivo, foi necessário recorrer a autores que tematizam o

trabalho pedagógico com a leitura numa perspectiva discursivo-interativa (KLEIMAN,

2004; MARTINS, 1994). E, de forma específica, a autores que tratam de abordagens

para o trabalho com o poema em sala de aula (ALTENFELDER, 2003; GEBARA,

1996; MICHELETTI, PERES, GEBARA; 2000).

Diante disso, as atividades mediadas neste material didático serão feitas de

maneira sistemática sobre o gênero discursivo “poema” e o objetivo básico é o de

levar o aluno do 6º ano a conhecer e a dominar este gênero, levando em

consideração as contribuições literárias destinadas à idade dos alunos

mencionados.

A abordagem da leitura e análise dos poemas está direcionada à

compreensão de mecanismos de estética e sensibilidade, isso porque “os homens

constroem representações e desenvolvem percepções segundo as possibilidades de

seu contexto sócio-histórico” (CAMILLIS, 2002, p. 22). E ainda como é assegurado

aos alunos de forma oficial,

O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente [...] criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é a condição fundamental para aprender (BRASIL/MEC, 2000, p. 20-21)

Ao envolver o aluno nas atividades aqui propostas, o mínimo esperado é que

se abra precedentes à leitura efetiva e prazerosa a garantir que,

A experiência estética pode ampliar o contato com o contexto social e cultural e com o acervo imaginário de tal modo que obras e artistas passem a integrar o patrimônio pessoal como um bem simbólico interno, um repertorio conectado à vida para a leitura de mundo, das coisas do mundo. (MARTINS; PICOSQUE, 2003, p.55 e 56)

Dessa forma, a proposta pedagógica aqui apresentada espera a efetivação da

leitura de poemas por meio de atividades e encaminhamentos que possibilitem a

reflexão e a responsividade ativa (BAKHTIN, 2000) por parte dos alunos-leitores em

formação.

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Os encaminhamentos de leitura propostos buscam apontar a relação do

poema com as condições de produção e de circulação do gênero, seu propósito

comunicativo, sem esquecer a natureza de seus elementos composicionais. No

gênero poema, a percepção desses elementos são essenciais, uma vez que a

expressividade dos componentes textuais são uma das características do gênero.

Para o desenvolvimento do trabalho de leitura e interpretação de poemas, é

importante evitar-se o que é muito comum no modo como o poema é explorado nos

livros didáticos: apenas como pressuposto e pretexto para trabalhar determinada

categoria linguística. Quando isso acontece, a essência poética fica inutilizada por

abordar-se apenas a questão linguística.

Michelleti, Peres e Gebara (2000) afirmam a importância de se explorar as

diferentes camadas presentes no poema: os aspectos visuais (disposição dos

versos, organização das estrofes); estrato fonológico ou sonoro (assonâncias,

aliterações, rimas, ritmo); estrato morfossintático (presença ou predomínio de

determinada classe de palavras); estrato semântico (as redes de significação

produzidas pela presença de metáforas, metonímias, sinestesias, por exemplo).

Nas análises aqui propostas nem todas as camadas serão trabalhadas com a

mesma profundidade. O que guiou a análise foram as próprias características

presentes no texto e sua relevância para o significado global do poema: ora o tema,

ora a camada fonológica, ora determinada figura de linguagem.

3 DIAGNÓSTICO INICIAL

Professor, para começar, investigue o que os alunos já sabem sobre o tema e

sobre o gênero a ser trabalhado. É o momento de pedir que cada aluno elabore um

poema. Dessa produção você terá a base do conhecimento em poema por parte da

classe. Analise, interaja com a classe possibilitando a socialização das produções.

Esta produção deverá ser guardada para ser comparada com a produção

final e, assim, avaliar os avanços conseguidos. Sugira uma forma de guardar o

poema em uma folha como uma página de álbum, colorida e assinada, reservando

uma página decorada para receber em alguns meses a forma aprimorada de poema

que será produzido como trabalho final no processo desta proposta didática.

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É importante esclarecer para os alunos que, como resultado final desta

proposta pedagógica com os poemas, haverá uma exposição de trabalhos dos

alunos. Como exemplo, pode ser organizado um sarau noturno ou uma exposição

em um final de semana para pais, professores e alunos da escola. Além disso, como

sugestão pensada para as produções finais, pode-se propor um espaço denominado

“caminho da poesia” em que um dos poemas escolhidos do aluno-autor ou poema

coletivo da série/ turma escolhida, venha a ser escrito na íntegra em local

preestabelecido para esta situação. O poema selecionado pode permanecer no

chão pela tecnologia digital avançada, um sistema denominado adhesive print ou por

sistema de exposição aérea de vários poemas, podendo compreender a exposição

de todos os alunos da sala em questão em local determinado.

4 CONTATO INICIAL COM O GÊNERO POEMA

A fim de favorecer o contato com o gênero a ser trabalhado, você professor,

deverá ajudar os seus alunos a identificar o que caracteriza o gênero “poema”. Para

isso, é preciso que os alunos conheçam as características do gênero, e isto

pressupõe:

• identificar diferenças e semelhanças, comparando textos organizados no

gênero “poema” com outros de gêneros diferentes;

• estabelecer relações de comparação, ou seja, comparar textos do gênero

“poema” a fim de estabelecer semelhanças e aprofundar as observações

anteriores.

Leia textos para a classe em voz alta. Motive-os a ler e ouvir muitos

exemplares deste gênero. Nesta unidade didática seguem diversos poemas de

autores brasileiros e suas respectivas biografias, pois é necessário situar o tempo e

o espaço da produção verbal para que haja uma melhor compreensão dos alunos. É

importante que os alunos compreendam as motivações de escrita do poeta em

relação à época por ele vivida. Quando for possível, faça uma menção ao que

ocorria no país no momento daquela criação literária. Estes aspectos estão

diretamente relacionados com a situação em que o texto foi produzido e respondem

a questões como quem é o autor; que papel social ele exercia no momento que

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escreveu; que pontos de vista assumiu ao escrever; que veículo ou suporte contém

o texto; qual finalidade do texto.

Este trabalho preconiza a historicidade e a comparação entre fatos passados

e a realidade presente, como também possibilita interdisciplinarizar.

Dessa forma, ao recorrer à enunciação, metodologicamente busca-se um

tratamento de leitura e compreensão que considere o contexto do qual o poema se

originou. (KOCH; ELIAS, 2006). Vale lembrar, ainda, que este procedimento

possibilita aos alunos compreenderem diferenças entre escritas da

contemporaneidade e escritas oriundas de épocas diversas.

Porém, professor, como você poderá perceber no trabalho com os poemas

selecionados nessa unidade didática, o que foi dito sobre contexto histórico pode ser

insignificante ao se tratar de poema atemporal, cujo tema abrange o âmago da vida

humana. Muitos dos poemas selecionados correspondem a temas desta natureza,

por eles possibilitarem ao aluno estabelecer uma relação entre suas experiências

íntimas e existenciais e a produção poética trabalhada.

O trabalho com poemas pode restabelecer vínculos entre o mundo vivido e o

mundo subjetivo dos alunos, pela riqueza de recursos e temáticas envolvidas e,

principalmente, pela ação das palavras. Por meio delas, muitas expectativas,

interações e leituras de cunho emocional podem ser acionadas. (MARTINS, 1994).

Isto porque o poema envolve a sensibilidade do leitor-aluno, de tal forma que não

limitará o seu campo de envolvimento com o mundo científico que o cerca.

5 ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Paralelamente ao trabalho de aproximação, contato e familiarização com

poemas, é possível enfocar o desenvolvimento de estratégias de leitura

compreensiva. Para isso, a leitura em voz alta do professor deve ser antecedida pela

exploração do título por meio de alguns questionamentos: “A partir do título, qual é o

assunto que vocês supõem será tratado nesse poema?” Na falta de um título, pode

ser explorado o primeiro verso do poema. Trata-se, professor, de antecipar o que se

vai ler. A antecipação de conteúdos e propriedades dos textos representa o reforço à

reflexão. Trata-se de uma estratégia de leitura que propõe de modo significativo a

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interação do poema ao conhecimento de mundo do aluno. Conforme você for

prosseguindo à leitura do poema, promova questionamentos que permitam aos

alunos localizarem informações para confirmação, refutação ou levantamento de

novas hipóteses. Ao trabalhar com estas estratégias de leitura, você, professor,

estará favorecendo a compreensão leitora do texto poético e contribuindo para uma

atitude autônoma e crítico-reflexiva de seus alunos frente a outros gêneros

discursivos. (KLEIMAN, 2004).

Em muitos poemas há palavras que podem ser difíceis para os alunos. Você,

professor, deve prever possíveis dificuldades dos alunos quanto aos vocábulos do

poema e informá-los dessas eventuais questões antecipadamente, para facilitar a

escuta e a compreensão do que você vai ler.

Explique o que é um poema e o que é uma poesia e em que consiste um

verso e uma estrofe. Outra questão bastante relacionada ao assunto são as rimas.

Reserve duas aulas para tratar dos tópicos citados neste parágrafo. Vamos lá!

6 CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO DISCURSIVO “POEMA”

Durante o trabalho, é importante ressaltar a seus alunos que escrever

poemas é uma arte. E, em que consiste esta arte? Consiste em escrever em versos.

Cada linha de um poema é um verso. Então, poema é um texto, cuja estrutura é

formada por versos, estrofes e rimas. Quando não houver rimas, estas são

chamadas de rimas brancas. O poema pode ser definido também como um jogo de

palavras que, de acordo com o ritmo e as rimas, torna-se muito agradável. Aquele

que diz não gostar de poemas é porque nunca teve contato, não foi envolvido pelas

figuras de linguagem, pela transcendência e nem sentiu o que o poema pode

proporcionar. O que mais se sobressai neste gênero textual é o poder da palavra

proporcionar uma experiência estética.

Diante disso, poema é o texto escrito, mas a poesia é a sensação de que há

“um coração pulsando” dentro do poema; é a sua transcendência.

Fazer poesia é dar entusiasmo às palavras. Isso quem o faz é o seu criador

(autor/poeta) que, inspirado por seus sentimentos, sugere em seu texto (poema),

sentimentos que afloram em seu íntimo: amor, raiva, angústia, beleza, fantasia,

sonho, sedução. A poesia é o que eleva ou comove as pessoas. Afinal, pode se

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encontrar poesia não apenas em um texto, mas numa paisagem ou num quadro. Ao

transmitir encanto, graça e atração, sabe-se que há poesia. Ela está sempre

presente no poeta por meio do seu eu - lírico, o "eu" que fala na poesia, muito

utilizado nos poemas como forma de expressar os sentimentos do autor1.

O eu - lírico também pode ou não estar presente no leitor, pois nem todo o

leitor é dotado da sensibilidade que se requer neste caso. Afinal, não há como incutir

transcendentalismo em todos os seres humanos, pois nem todos os seres humanos

estabeleceram vínculos com a arte ou leitura no mesmo grau. Deve ser considerado

que cada pessoa é única.

O poema é considerado, pela sua constituição, o mais antigo gênero que já

existiu na história da humanidade, porque as formas textuais compostas por versos,

rimas e repetições, eram fáceis de serem memorizadas na música e no teatro.

Assim, até mesmo muitos fatos históricos, da antiguidade, os chamados poemas

épicos eram declamados em praça pública para lembrar ações do povo e, dessa

maneira, não cairiam no esquecimento. Ainda vale lembrar que poesia, música,

teatro e dança surgiram simultaneamente. São artes que no decorrer da história

foram seguindo por caminhos diversificados. Algumas têm mais preferências a

outras, o que serve apenas para lembrar que o que não é visto, não é lembrado,

uma vez que se gosta apenas do que se conhece.

Sobre o ritmo dentro de um poema é bom entendê-lo como parte do poema.

Não é necessário cantar para que se encontre o ritmo, ele está ali de uma forma

natural envolvido no jogo com as palavras. Por ritmo entende-se a harmonização

poética.

Quanto às rimas são homofonias externas (sons iguais), constantes da

repetição dos fonemas dos versos e que recebem várias classificações, segundo

sua posição no verso, sua posição na estrofe, a sua sonoridade, a tonicidade e

ainda o seu valor2. Professor, se for de seu interesse realizar atividades específicas

sobre a rima com seus alunos, busque por poemas e faça as atividades com eles

buscando identificar quais tipos de rima o poeta fez uso em seus poemas.

1 Professor, busque conhecer mais sobre este assunto no seguinte endereço eletrônico, cujos exemplos denotam bem o que vem a ser o eu-lírico: http: // www.wikipedia.org/wiki/Eu-lírico. 2 Para auxiliar na compreensão da percepção e características da sonoridade presente no poema, sugerimos a leitura da obra Versos, sons , ritmos, de Norma Goldstein, editora Ática. Como sugestão de sítios eletrônicos, a recomendação é a de http://prosaepoesia.com.br e http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html.

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Retornando às estratégias de ações para a leitura durante esta proposta

didática, pode ser utilizado outro procedimento anterior à leitura, da seguinte

maneira:

Entregue aos alunos livros que contenham o poema, isso se tiver livros

suficientes para o trabalho ou faça cópias de poemas indicados com respectivas

referências bibliográficas e leia-os em voz alta. Escreva no quadro as perguntas

abaixo e leia-as junto com os alunos. Depois, leia novamente o texto em voz alta e

peça-lhes, ao final da leitura, que respondam:

1. Quem é o autor do texto? Como podemos descobri-lo?

2. Onde o texto foi publicado?

3. Quantos versos têm este poema?

4. Quantas estrofes há no poema?

5. Quais as palavras que rimam entre si?

É muito importante que os alunos conheçam as questões a que terão que

responder, pois elas direcionarão a escuta de sua segunda leitura. E, por ser este

um exercício de direcionamento à compreensão, sua prática constante nas

atividades didático-pedagógicas poderá incutir no aluno compreensões muito além

dos muros da escola, quando ele necessitará se manifestar nas diversas atividades

da sua vida em sociedade.

nas inúmeras situações sociais de exercício da cidadania que se colocam fora dos muros da escola – a busca de serviços, as tarefas profissionais, os encontros institucionalizados, a defesa de seus direitos e opiniões – os alunos serão avaliados (em outros termos, aceitos ou discriminados) à medida que forem capazes de responder a diferentes exigências de fala e de adequação às características próprias de diferentes gêneros do oral. [...] A aprendizagem de procedimentos apropriados de fala e escuta , em contextos públicos, dificilmente ocorrerá se a escola não tomar para si a tarefa de promovê-la (BRASIL/MEC, 1998, p. 25; grifos nossos).

7 SISTEMATIZANDO OS CONHECIMENTOS SOBRE POEMAS

7.1 CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO

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Professor, é necessário identificar os elementos da situação da produção de

um determinado gênero. Este critério define melhor o gênero que neste caso de

estudo é o poema. Elementos-chaves que podem contribuir para o conhecimento

sobre o gênero, bem como a sua circulação, são os seguintes:

• Quem escreve?

• Para quem?

• Por quê?

• Onde circula?

• É comum as pessoas lerem poemas? Por quê?

• O que não pode faltar para que o texto seja considerado um poema?

Torna-se, com efeito, importante refletir sobre o uso e a função do poema na

nossa sociedade. Os paralelos citados nesta organização concedem os dados já

sugeridos anteriormente de compreensão leitora do gênero.

7.2 BUSCA DE INFORMAÇÕES E AMPLIAÇÃO DO REPERTÓRIO

Caro professor, neste tópico, buscou-se enriquecer esta sequência didática

com as biografias dos autores selecionados3. Quanto às fotos foram retiradas de

sítios nomeados abaixo de cada uma delas. As imagens referentes às capas foram,

igualmente, retiradas de sítios devido à qualidade das mesmas, porém poderiam ser

fotografadas.

Sobre os temas abordados nos poemas e os seus critérios de escolha, você

professor, terá as especificações antes dos mesmos, sendo que na sequência você

receberá orientações de como trabalhar cada tema. Após a biografia do poeta, são

apresentados os poemas selecionados para comporem este material pedagógico.

Na sequência, são sugeridas análises e atividades para o estudo do gênero poema.

3 As informações sobre os autores foram adaptadas dos seguintes sítios eletrônicos: http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp; http://www.releituras.com/mbandeira_bio.asp; http://www.e-biografias.net/biografias/pedro_bandeira.php; http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Bandeira; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Azevedo_(escritor)

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7.2.1 Cecília Meireles

http://www.astormentas.com/media/Cec%C3%ADlia%20Meireles1.jpg

Cecília Meireles era apaixonada por livros e por leitura. Com certeza por isso

que teve sua profissão edificada aos 16 anos, quando, então, ela foi diplomada

como professora. Todo esse interesse por estudar e ler serviu-lhe de norte para o

estudo de outros idiomas e para os estudos musicais de canto e violino no

Conservatório Nacional de Música. Cecília fazia versos desde criança, mas foi na

adolescência que ela começou a fazer poemas e a publicá-los. Em 1919, quando

contava com 18 anos, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado Espectros. A

partir de então, escreveu muitos outros livros.

Os poemas de Cecília Meireles enriqueceram muitos materiais pedagógicos

dos estudantes pertencentes à escola dos anos 60, 70 e 80. Ainda hoje ressaltam

em alguns livros didáticos, poemas por ela escritos e que servem para, pelo menos,

conhecê-la.

Aos 21 anos casou-se com Fernando Correa Dias, um artista plástico

português. Tiveram três filhas: Elvira, Matilde e Fernanda. Fernando teria ilustrado

algumas obras literárias de Cecília Meireles. Aos 22 anos, ela publicou o livro Nunca

Mais... e Poema dos Poemas, com ilustrações do marido. Aos 25 anos, o terceiro

livro, Baladas para El rei. As três obras, apesar de excluídas de sua Obra Poética,

publicada em 1958, apontam traços marcantes de toda a produção da escritora.

Como tema de Nunca Mais... e Poema dos Poemas destaca-se o místico

manifestado com o desejo de unir a alma humana com o Criador.

Em Baladas para El rei, esse místico se revela através do desencanto e da

nostalgia do além. Formalmente, os poemas constroem-se através da repetição de

palavras, vogais e consoantes, refletindo, os versos, uma particular musicalidade.

Segundo críticos de sua obra, Cecília Meireles, associando uma percepção sensorial

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a outra, era capaz de produzir sinestesias transfiguradoras da realidade, ou seja,

produzia duas ou mais sensações sob a influência de uma outra impressão, o

mesmo que “sorrir tristemente” ser “feliz amargamente”.

Em 1927, Cecília Meireles publicou a prosa poética Criança, meu amor, livro

que posteriormente seria indicado como leitura oficial nas escolas.

Devido a perseguições, mais ou menos veladas, e a dificuldades financeiras,

Cecília Meireles lutava ainda mais pela renovação da educação que se encontrava

no país. Entre junho de 1930 e janeiro de 33, dirigiu a Página da Educação no Diário

de Notícias do Rio de Janeiro, onde Cecília referiu-se ao presidente Vargas como

"Sr. Ditador". Em sua redação ao Diário de Notícias, sustentava a ideia de um Brasil

menos ufanista. Com isso ela conseguiu inimigos. Em seus artigos sobre política,

educação e cultura, defendeu uma política menos casuísta e uma educação

moderna. Cecília rompeu tabus da sociedade de sua época, deixando assim, sua

marca na história brasileira como defensora da ideia universal de democracia.

Naquele período, o mundo vivia o momento de transição das duas Grandes Guerras.

Entre os desafetos que Cecília obteve defendendo a educação e criticando a

política da época, apareceu o nome de Alceu Amoroso Lima, crítico católico. Porém,

anos mais tarde, em 1971, este reconheceu na poeta "uma grande figura feminina

do modernismo". Os modernistas, aliás, já a consideravam uma revelação, a partir

da publicação de seus primeiros livros.

Após difundir a cultura, a literatura e o folclore em Lisboa a convite do

governo Português, retornou em 1935 ao país. Neste período sofreu muito com o

suicídio do marido. Responsável pela educação das três filhas, Cecília Meireles

ampliou suas atividades profissionais. Voltou a lecionar; escreveu sobre folclore no

jornal A Manhã, crônicas para o Correio Paulista e dirigiu a revista Travel in Brazil,

no Rio. Além disso, manteve sua atividade no Pavilhão Mourisco no Rio de Janeiro,

espaço onde funcionava a primeira biblioteca infantil do Brasil, e que fora inaugurado

por Cecília e pelo seu falecido marido em 34.

Com tudo o que passou, Cecília deixou uma frase bastante conhecida:

"Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira.” Esta frase é

reveladora, pois em relação à sua biografia tem muito a ver. Percebe-se que Cecília

não se deixou abalar a ponto de desistir. Ela sempre se dedicou inteiramente ao que

fazia. Prova disso é a valiosa obra literária que legou aos brasileiros. As datas

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referentes ao nascimento e ao falecimento da poeta são respectivamente estas: 07

de novembro de 1901 e 09 de novembro de 1964.

Dois dos poemas a seguir foram retirados deste livro:

http://2.bp.blogspot.com/_CaQwNiO9jmk/SYduoTvj2UI/AAAAAAAABUE/9Ryq60nm-XQ/s400/Ou+Isto+ou.jpg Um dos critérios de seleção de poemas adotado para esta unidade didática foi

o de se considerar que a adolescência é um momento de ruptura e transição, ou

seja, o aluno do 6º ano, não é mais criança, mas também não é adulto. Por passar

por um período de descobertas, muitas vezes, o próprio aluno não se conhece,

questiona-se, tenta superar alguns limites e despreza certos elementos da natureza

humana. É comum também ver um adolescente desta fase, na sua sensação de

jovialidade plena, fazer investidas contra os pontos de vista de pessoas mais velhas

ou idosas.

Os poemas selecionados abordam o valor da vida, sabidamente efêmera, em

relação ao eterno valor da alma. Os quatro poemas de Cecília Meireles aqui

selecionados, além de trazerem a reflexão de que a vida é passageira, tematizam a

necessidade de trabalho, justiça e renúncia para se obter dignidade. Percebe-se em

O Cavalinho Branco a fugacidade da vida e a necessidade de se trabalhar para ter

certas garantias “eternas” convenientes àquelas pessoas que são boas ou que

assim o foram em suas vidas. Em relação ao poema Bolhas, tem-se novamente a

efemeridade e o trabalho. E em É preciso não esquecer nada se tem valores

expressos em cada um dos versos. Estes apresentam atividades que devem ser

seguidas. Pois caso seja feita a ordem inversa daquelas citadas nos versos, por

exemplo, deixar a torneira aberta, o final das contas pode ser caótico tanto para a

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economia do lar, com a conta maior no final do mês, quanto para o meio ambiente

que sofrerá muito pela despreocupação.

7.2.1.1 O Cavalinho Branco

À tarde, o cavalinho branco

está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo

onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina

loura e comprida

e nas verdes ervas atira

sua branca vida.

Seu relincho estremece as raízes

e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres

seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!

desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,

de crina dourada

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7.2.1.2 Bolhas

Olha a bolha d’água

no galho!

Olha o orvalho!

Olha a bolha de vinho

na rolha!

Olha a bolha!

Olha a bolha na mão

que trabalha!

Olha a bolha de sabão

na ponta da palha:

brilha, espelha

e se espalha

Olha a bolha!

Olha a bolha

que molha

a mão do menino:

a bolha da chuva da calha !

7.2.1.3 É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:

nem a torneira aberta nem o fogo aceso,

nem o sorriso para os infelizes

nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta

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nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,

o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,

a ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,

vigiados pelos próprios olhos

severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Caro professor, pode ser feito um trabalho dirigido aos alunos, englobando os

três poemas acima quanto à passagem da vida, já que “não se fica pra semente”

como dita um conhecido provérbio. Diante disso, é possível debater-se sobre o que

pode e deve ser feito enquanto se vive e se administra as coisas neste mundo.

Observe que no poema O cavalinho branco, o mesmo trabalhou desde a

madrugada. A palavra “madrugada” é metafórica4 e remete ao início da vida. É

possível também estabelecer relações entre este primeiro poema e a contribuição de

provérbios, como por exemplo: “Juventude preguiçosa,/velhice trabalhosa”, ou ainda

a fábula de Esopo “A cigarra e a formiga”.

No poema Bolhas, atente-se também para o significado de bolha como uma

metáfora. Uma comparação do que é muito belo, mas que, por seu caráter frágil vem

a explodir. Dessa forma, refere-se no texto à brevidade das coisas e principalmente

da vida.

Tudo isso poderia iniciar um debate quanto a comportamentos que favoreçam

viver plenamente e desfrutar de bons relacionamentos seja na família, na

vizinhança, na escola, entre outros locais de acesso deste adolescente.

Introduzido o assunto, após leitura e, se houver o debate, encaminhe o aluno

à ilustração do poema em seu caderno. Primeiramente a escrita do poema com letra

bem caprichada. Professor, apoie a caligrafia, pois o aluno necessita orientação para

4 Metáfora é uma das figuras de linguagens mais utilizadas em poemas. Trata-se do emprego de uma palavra fora do seu sentido normal, por efeito de analogia / comparação. Por exemplo: “Esta menina é uma flor.”.

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obtê-la. Ele não conseguirá sozinho e tão pouco sem estímulo. Em seguida parta

para a ilustração em forma de desenho que seu aluno projetou para o poema lido.

Lembre-se: a gravura é muito agradável aos alunos desta faixa etária. Eles saíram

recentemente da escola primária que possuía ilustrações em todas as paredes.

Trata-se de algo familiar para o aluno, e sabe-se que os sentimentos são mais

espontâneos pelas coisas conhecidas e o que é estranho é rejeitado.

Fica ao seu critério, professor, se optar por um, ou mais destes textos para a

discussão do tema. Contudo, você, especificamente, poderá abordar as rimas.

Lembre aos alunos que as palavras que rimam se combinam por terem homofonia

no final dos versos, e quando não existir a combinação entre as palavras finais de

cada linha, trata-se de rima branca.

Cecília Meireles procura brincar com as palavras em O Cavalinho Branco

com as rimas intercaladas, o que possibilita um ritmo agradável. Explore isso com os

alunos.

Em Bolhas, a poeta faz um trabalho muito interessante de aliterações5 cujos

sons se repetem ao longo do poema. No segundo poema apresentado, Cecília

brinca com a repetição do lh.

Em especial quanto ao poema É preciso não esquecer nada, um tema

potencial é o meio ambiente e o cuidado que deve se ter pelo mesmo. Propõe-se

para este tópico, a utilização do material multimídia e através deste a apresentação

do texto Carta de 2070, crônica ficcional, escrita na revista mexicana Crônica Del

tiempos, elaborada em PowerPoint que choca pela sua temática da falta de água no

ano de 20706.

Outra atividade indicada para este poema é a realização de um jogral em que

os alunos divididos em grupos revezam suas falas com expressões corporais. Ou

seja, a turma todo é envolvida com gestos que impressionem a cada verso do

poema. Por exemplo, um grupo de seis alunos declama o primeiro verso e para isso

elaboram sua própria alegoria ou desempenho. O outro grupo faz o verso seguinte,

o primeiro grupo declama, provavelmente, mais umas duas vezes até que se finde o

poema. Veja no exemplo a seguir uma distribuição possível dos versos para o jogral:

5 O recurso denominado aliteração trata de uma figura de linguagem que consiste em repetir os sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma frase. 6 http://www.belasmensagens.com.br/powerpoint/carta-escrita-no-ano-de-2070.php

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conforme a cor do verso um grupo declama; outra cor, outro grupo e, assim,

sucessivamente.

É preciso não esquecer nada: {grupo A}

nem a torneira aberta nem o fogo aceso, {grupo B}

nem o sorriso para os infelizes {grupo C}

nem a oração de cada instante. {TODOS}

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta {grupo A}

nem o céu de sempre. {grupo B}

O que é preciso é esquecer o nosso rosto, {grupo C}

{NOSSO ROSTO {grupo A}

o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. {TODOS}

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, {grupo A}

a idéia de recompensa e de glória. {grupo B}

O que é preciso é ser como se já não fôssemos, {grupo C}

{se já não fôssemos {TODOS}

vigiados pelos próprios olhos {grupo B}

severos conosco, pois o resto não nos pertence. {TODOS}

7.2.2 Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho

http://www.brasilescola.com/imagens/literatura/manoelbandeira.JPG

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Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no dia 19 de abril de 1886,

em Recife. Era filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de

Souza Bandeira.

Em 1903 a família se mudou para São Paulo onde Bandeira se matriculou na

Escola Politécnica. Começa ainda a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro

Sorocabana, da qual seu pai era funcionário.

No ano seguinte abandonou a faculdade por ter contraído tuberculose.

Passou muito tempo doente e por isso esteve por várias vezes em clínicas

brasileiras e até na Suíça.

Escreveu seus primeiros versos livres em 1912. Em 1917 publicou seu

primeiro livro, A cinza das horas, numa edição de 200 exemplares custeada pelo

autor, e foi com o seu segundo livro, Carnaval que despertou o entusiasmo entre os

modernistas paulistas.

Em 1940 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e em 1943 foi

nomeado professor de literatura hispano-americana da Faculdade Nacional de

Filosofia.

Ao comemorar 80 anos, em 1966, recebeu muitas homenagens. A Editora

José Olympio realizou em sua sede uma festa de que participaram mais de mil

pessoas e na qual foi lançado Estrela da Vida Inteira, sua antologia de poemas.

Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968 e deixou uma grande

lista de produção literária. Entre suas obras de poesias pode ser encontrado os

livros: A Cinza das Horas (1917), Carnaval (1919), Libertinagem (1930) entre muitos

outros. Entre a prosa destacam-se: Itinerário de Pasárgada (1954), Prosa (1958),

Andorinha, Andorinha (1966), entre tantas outras obras, destacou-se também no

plano antológico, sendo que neste encontram-se entre outras estas antologias:

Antologia Poética (1961) e Poesia do Brasil (1963)

http://recorte.org/flip2009/wp-content/uploads/2009/06/manuelbandeira-capa2.jpg

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Professor, os critérios utilizados para a seleção dos poemas de Manuel

Bandeira foram variados. Como você poderá perceber, tratam de temas diversos,

mas que podem ser analisados e contribuírem para a sensibilização dos alunos para

estes temas, por meio de debates e exposições. Desta vez, os temas e as atividades

que condizem com os poemas vêm na sequência dos mesmos.

Lembre-se de seguir os passos citados anteriormente nas estratégias de

leitura, isto proporcionará maior compreensão poética para os seus alunos.

7.2.2.1 O Bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Professor, o critério utilizado para abordar o poema O Bicho é do âmbito

social por tratar da situação em que se encontram muitos seres humanos. Você

poderá explorar este texto partindo de um debate sobre os motivos que levam um

ser humano ao fracasso moral ou social e a não ter condições mínimas de

sobrevivência. Neste debate cabe perfeitamente a questão da escola e da aquisição

de emprego, entre outros fatores sociais que poderão ser elencados e que limitam

muitas pessoas. Assim a história apresenta e também é algo revelado pelo poema,

cuja data de produção é de 1960.

Este poema pode ser o início de um grande trabalho em que os alunos

voltem-se, com sua orientação, à produção de crônicas. Por ser de ordem narrativa

e de antemão causar suspense e espanto, pode proporcionar sensações que

resultem em excelentes trabalhos. Considerando a turma a que se destina os

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trabalhos aqui pensados, pode-se almejar também a criação de um diário de caráter

pessoal e ilustrado pelo próprio aluno.

7.2.2.2 Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.

Mas invento palavras

Que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.

Intransitivo:

Teadoro, Teodora.

Professor, neste poema você começará o trabalho já na estratégia de leitura

provocando o aluno quanto ao título: o que significa o título? Será que o autor vai

inventar palavras novas? O que ocorre neste poema e nos três seguintes pode-se

dizer que o autor teve por intuito o jogo com as palavras.

Em Neologismos o próprio título é uma jogada que prenuncia a formação de

uma nova palavra que no caso é o verbo teadorar, pois beijos e ternuras são coisas

que fazem parte da vida de todos, em particular dos adolescentes. O poeta trabalha

com a invenção de uma palavra em face dos sentimentos como um jogo sonoro,

atribuindo sensualidade quando se relaciona com o nome, substantivo próprio, da

amada Teodora. Ou seja, a criação do novo verbo e a sua conjugação na primeira

pessoa do tempo presente “teadoro” reflete a ação deste verbo com o nome

Teodora, com a inversão da letra a pela letra o em ambas as palavras.

7.2.2.3 Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:

— "Passei o dia à toa, à toa”

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa...

No poema Andorinha, você professor poderá trabalhar o jogo das repetições

da expressão “à toa... à toa” que evidencia a passagem do tempo sem ação

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modificadora. Quando ele repete a palavra andorinha no 3º verso, remete à ideia de

lamentação. E no 4º verso não é um breve tempo que passa sem ação, mas a

duração de uma vida inteira.

O poema apresenta, em seu jogo de palavras, uma reflexão sobre vidas

vividas sem sentido ou sem ações que façam diferença no âmbito social ou na

esfera pessoal.

7.2.2.4 Pardalzinho

O pardalzinho nasceu

Livre. Quebraram-lhe a asa.

Sacha lhe deu uma casa,

Água, comida e carinhos.

Foram cuidados em vão:

A casa era uma prisão,

O pardalzinho morreu.

O corpo Sacha enterrou

No jardim; a alma, essa voou

Para o céu dos passarinhos!

Professor, o poema “Pardalzinho” possibilita o debate quanto à vida selvagem

comprometida com a ação do homem na natureza, quando este faz derrubadas

ilegais comprometendo os ninhos, tocas, rios, enfim, a natureza7.

É um bom momento para propor aos alunos a confecção de cartazes com os

animais que correm o risco da extinção, que não é o caso dos pardais. Para este

trabalho o aluno deve ser orientado de que o cartaz é um meio de comunicação de

massa de natureza visual, cuja finalidade é chamar a atenção para algum assunto8.

7 Vale lembrar a lei do Código Florestal (Lei 4.771 de 15/-09/65). Segundo esta Lei é obrigatória a conservação de: 30 m de mata para cursos d'água com até 10 m de largura. Porém na atual conjectura política foi aprovado por 13 votos a 5 o parecer do projeto de Lei 187699, que visa criar um novo Código Florestal o qual revoga a lei de 1965 bem como outra lei, a Lei de Proteção das Florestas Existentes em Nascentes dos Rios sob o n. 7754/89. É a política definindo novos vieses geográficos que podem afetar ainda mais as questões ambientais.

8 O seguinte endereço eletrônico esclarece muitas dúvidas sobre o cartaz, desde seu surgimento até como sua melhor definição: http://www.scribd.com/doc/2838944/Cartaz.

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7.2.2.5 Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele prá sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Neste poema o poeta discorre em tom narrativo as ações do eu - lírico, o

menino, e do porquinho-da-índia. Ele tentava encontrar meios de garantir lugares

bons para o bichinho, mas o que mais se aproximava do seu habitat era

provavelmente embaixo do fogão. As ternurinhas referentes aos carinhos do menino

é o que todos os seres humanos desejam para os seus pares. O texto sugestiona o

prazer em fazer o melhor ao ser amado.

Diante disso, professor, é importante promover um momento de produção de

bilhete em que o aluno se expresse com emoção a alguém cujo carinho é muito

elevado. Neste caso pode ser um bonito correio elegante.

Para essa produção pode-se motivar o aluno ao uso de canetas gel, lápis de

cor, purpurina, fitas de cetim ou de seda. Mas o importante são as palavras

destinadas ao seu interlocutor que pode ser: mãe, pai, animal de estimação, objeto

de desejo, algo que o aluno sinta como sua necessidade afetiva no momento da

criação. As exposições podem ser feitas a critério do professor, em seguida da

entrega para o destinatário.

Caso o destinatário seja objeto ou animal, o aluno guardará o seu trabalho de

forma que lhe convier.

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7.2.2.6 Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.

— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .

— Respire.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o

pulmão direito infiltrado.

—Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

—Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Professor, eis um poema que pode ser trabalhado pensando no momento

histórico de sua criação. Isto porque os laços que envolvem o poema e a realidade

da época são muito estreitos. Na época era comum adquirir a tuberculose, tanto em

crianças quanto em adultos. Devido à aquisição desta grave doença pulmonar no

final da adolescência, Manuel Bandeira teve que abandonar os estudos, por muitas

vezes, pois não se permitia a permanência de um infectado na presença de outras

pessoas sãs. Este estado solitário proporcionou ao escritor o acúmulo de um vasto

conhecimento sobre a doença. Deste modo, Manuel apresenta o poema

Pneumotórax elucidando o quadro do paciente contaminado com a tuberculose.

Professor, possibilite ao aluno refletir: “Por que o poeta escreve sobre sua tragédia

pessoal?”

Manuel Bandeira hoje está presente na memória cultural brasileira, porque

apesar de seus enfrentamentos com a doença, o poeta não deixou de sonhar, de

buscar conhecimentos através da leitura, de estudos e de sua fé, pois nunca deixou

de acreditar.

Professor, o verso 2 “A vida inteira que podia ter sido e que não foi” e o 10 “—

Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino” afirmam que o eu - lírico, ou

seja o poeta, poderia viver normalmente, se não tivesse sido acometido pela doença

e que a única alternativa é deixar tudo acontecer porque não há outra forma.

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Voltando à época vivida pelo escritor, esta contava com a transição do

romantismo, momento em que os barzinhos faziam muito sucesso. Este ambiente

era frequentado pelos apaixonados devotos, sendo que muitos deles saiam pelas

madrugadas frias, de modo que facilmente contraiam alguma doença respiratória,

dentre elas a temida tuberculose. Portanto, professor, este trabalho pode remeter o

seu aluno a um tempo histórico muito rico da literatura brasileira.

Atualmente os meios para se diagnosticar doenças são com exames

específicos, cujos resultados são muito rápidos. Os tratamentos são de alta

tecnologia. Naquela época não havia avanço tecnológico. A tuberculose era

detectada pelo quadro tão bem exposto no poema.

O poema deixa claro que o exame era feito a partir de um aparelho de

estetoscópio para ouvir o pulmão do paciente enquanto ele recitava a expressão

“trinta e três... trinta e três e respire” assomado ao quadro de febre, hemoptise

(expectoração de sangue), dispnéia (dificuldade e mal-estar durante a respiração),

suores noturnos e tosse. Professor, palavras devem ser exemplificadas com

sinônimos.

Professor, como outra atividade relacionada ao poema, pode ser feito um

círculo ou semicírculo de carteiras e proporcionar um momento de contação de

histórias baseado em memórias do aluno sobre o que seus avôs e suas avós lhes

contaram referente ao tratamento de saúde em tempos passados, quanto ao

atendimento nos hospitais se estes existiam, à dificuldade em se encontrar médicos,

por exemplo, entre outros apontamentos. Ou então conversar com os alunos se

eles conhecem pessoas que enfrentaram situações parecidas com a de Manuel

Bandeira.

Além disso, também há a possibilidade de trabalhar atividades relacionadas

aos sintomas da doença e promover um debate trazendo à atualidade, como no

caso da polêmica H1N1. Esta pode ser amplamente explorada quanto a sua

eminência, sintomas, formas de prevenção. É importante salientar que no mundo

científico também é possível encontrar afinidade com a poesia9.

9 Professor, a combinação de medicina e poesia você pode ver, ler e se fascinar se tiver contato com a revista IÁTRICO n. 25. Trata-se de uma publicação científico cultural do Conselho Regional de Medicina do Paraná, cujo endereço eletrônico é: [email protected]. No caso da revista n. 25 é uma edição dedicada à poesia. Na capa está o poema de Manuel Bandeira Pneumotórax, logo a seguir, já nas primeiras páginas outro poema de Ascânio Lopes Sanatório enriquecem mais a edição que trava verdadeira sintonia entre medicina e poesia elencando como encontro das duas a linguagem.

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7.2.3 Ricardo Azevedo

http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/biblio/biblioi/imagem/bibautor.jpg

Ricardo Azevedo nasceu em São Paulo em 1949. Além de ser escritor, é

ilustrador e pesquisador brasileiro.

Autor de mais de cem livros, cuja carreira literária estreou em 1980, com O

peixe que podia cantar. Após receber remodelagem, a mesma obra foi relançada em

2006, pela editora SM.

O primeiro de seus livros foi escrito quando Azevedo ainda era adolescente,

contava com 17 anos. Este livro foi intitulado Um homem no sótão. Seus livros

receberam diversos prêmios e foram publicados em outros países, como Portugal,

México, Alemanha e Holanda.

Azevedo tem três filhos, é formado em comunicação visual pela Faculdade de

Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), é mestre em

Letras e doutor em Teoria Literária (USP). Até 1983, quando decidiu dedicar-se

exclusivamente a escrever livros, trabalhou como publicitário, atividade que o ajudou

a desenvolver seu texto e, ao mesmo tempo, compreender a linguagem visual.

Como desenhista, Azevedo também é autor da maioria das ilustrações de

seus livros. Como pesquisador tem grande paixão pela cultura popular. Vários de

seus livros abordam formas literárias sobre as raízes dos contos populares, mais

especificamente dos contos maravilhosos e de encantamento, quadras e adivinhas,

presentes em No meio da noite escura tem um pé de maravilha!, Contos de enganar

a morte e Armazém do folclore. Os títulos sugerem a influência da cultura popular na

literatura infantil de Ricardo de Azevedo, todos da editora Ática.

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O interesse por questões relacionadas à cultura popular remete à infância de

um menino criado entre os livros do pai, Aroldo de Azevedo, professor universitário,

dedicado às questões culturais do Brasil. As histórias do escritor têm como tema

central as discussões sobre a existência de diferentes pontos de vista. Em O livro

dos pontos de vista (Ática), um cachorro, um gato, um sapo, uma menina e um

menino, entre outros personagens, dão suas versões sobre a nada fácil convivência.

No mesmo tom, seguem as obras, Uma velhinha de óculos, chinelos e vestido azul

de bolinhas brancas (Companhia das Letrinhas) e Nossa rua tem um problema

(Ática).

Principais obras

• Um homem no sótão (Ática)

• Ninguém sabe o que é um poema (Ática)

• Trezentos parafusos a menos (Companhia das Letrinhas)

• O leão Adamastor (Saraiva)

• Lúcio vira bicho (Companhia das Letras)

• Chega de saudade (Moderna)

• A hora do cachorro louco (Ática)

• Aula de carnaval e outros poemas (Ática)

• Dezenove poemas desengonçados (Ática)

• Meu nome é cachorro (Ediouro), 1999

• No meio da noite escura tem um pé de maravila! (Ática Editora, 2002)

http://crescer.globo.com/edic/163/capa_livros_27.jpg

O poema a seguir foi selecionado devido a sua temática. Muitas vezes os

adolescentes se sentem dominados por sentimentos de depressão, insegurança ou

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o contrário, muita segurança revelando um comportamento que não corresponde ao

desejado por pessoas do seu convívio.

7.2.3.1 Poema do tempo

Tem o importante que sabe que é comum

Tem o comum que se acha importante

Tem o diamante que sabe que é pedra

Tem a pedra que se acha diamante

Enquanto isso, o tempo passa levando

Comuns, importantes, pedras e diamantes.

O poema apresenta uma composição muito interessante de ser explorada: o

emprego de palavras de sentidos opostos (importante/comum; diamante/pedra) em

uma estrutura sintática semelhante (paralelismo sintático). Interessante também é

trabalhar com os alunos que os quatro primeiros versos são construídos com o

presente do modo indicativo de modo que o que é afirmado ganha um caráter

atemporal, como validade permanente. A expressão “enquanto isso”, introduz a ideia

de simultaneidade ao que é descrito/tematizado nos versos anteriores, agora

apresentados no plural. Desse modo o poema funciona como uma grande metáfora

ao modo como as pessoas agem no contexto social. Tudo passa, não importando

como cada um age. É possível também explorar que a utilização do termo pedra e

diamante constituem um verdadeiro paradoxo, pois diamante é pedra, mas tão rara

e tão cara que considerando metaforicamente um ser humano como diamante

equivale dizer que este é uma sumidade. Quanto à pedra que não é diamante trata-

se de algo irrelevante, pois em qualquer lugar pode ser encontrado.

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7.2.4 Pedro Bandeira de Luna Filho

http://bibrosario.files.wordpress.com/2010/04/pedro-bandeira.jpg

Um dos principais autores brasileiros de literatura infanto-juvenil, Pedro

Bandeira de Luna Filho nasceu na cidade de Santos, São Paulo, no dia 9 de março

de 1942. Aí ele se envolveu seriamente com o teatro amador, campo no qual atuou

como intérprete, encenador e cenógrafo até o ano de 1967.

Em 1961 Bandeira foi para São Paulo com o objetivo de cursar Ciências

Sociais na Universidade de São Paulo, a USP. Nesta cidade ele se casou com Lia,

com quem teve três filhos: Rodrigo, Marcelo e Maurício, estes por sua vez

aumentam a árvore genealógica do escritor com os netos: Michele, Melissa, Beatriz,

Júlia e Érico.

Começou na área de Comunicação com Jornalismo e Publicidade em 1962,

ao ingressar no periódico Última Hora, passando posteriormente a trabalhar na

Editora Abril. Bandeira ressalta a importância de sua experiência jornalística para

sua carreira literária, pois o profissional da imprensa é obrigado a dominar assuntos

diversificados ao escrever sobre eles.

Pedro Bandeira aprendeu, assim, a dedicar a cada público-alvo uma escrita

distinta, desde os adolescentes até os profissionais especializados. Também buscou

recursos na psicologia e na educação para compreender questões delicadas que

envolvem o leitor infantil, tais como a idade em que as crianças veem o pai como um

herói, ou o momento em que esta imagem se desconstrói e a figura paterna é

criticada e questionada.

Bandeira recebeu proposta de criar uma coleção de livros para crianças. Sua

primeira publicação é O dinossauro que fazia au-au, de 1983, já aclamado pelo leitor

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infantil. Seu grande sucesso literário, porém, foi a obra A Droga da Obediência, de

1984, direcionado para o público adolescente, para o qual ele se especializou.

Esta obra é a primeira da série que ficará conhecida como Os Karas,

integrada por A Droga da Obediência, Pântano de Sangue, Anjo da Morte, A Droga

do Amor e Droga de Americana! Seus personagens são detetives, um grupo

clandestino que investiga eventos misteriosos.

Desde 1983, Pedro Bandeira vem devotando todo seu tempo para a prática

da literatura. Sua fonte inspiradora são os inúmeros livros pelos quais o autor já

navegou e sua própria experiência existencial. Ou, às vezes, ela brota até mesmo

das cartas e mensagens que seus fãs lhe enviam toda semana.

Hoje este escritor é um dos que mais vende livros para leitores adolescentes.

Foram vendidos cerca de 8,6 milhões de exemplares até 2002. Além disso, ele

também realiza conferências em todo o país, especialmente para professores, sobre

leitura e alfabetização. Bandeira publicou, até agora, mais de 50 obras, entre as

quais se destacam: A marca de uma lágrima, A Hora da verdade, Descanse em paz,

meu amor, Prova de Fogo, entre outros.

Autor amplamente premiado, já conquistou, entre outros, o Prêmio APCA,

conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e o Prêmio Jabuti, oferecido

pela Câmara Brasileira do Livro. Hoje ele vive em São Roque, ao lado da família.

http://www.olivreiro.com.br/capas/222/114222.jpg Nos dois poemas a seguir vamos trabalhar com o conceito de poema

contemporâneo que não atribui tantas rimas e trabalha com assuntos da vida

cotidiana. Em Choradeira vê-se o brincar com palavras cujos sons aliterados

proporcionam harmonização e ritmo do poema no mesmo contexto em que tratam

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de coisas diárias, pessoas e seres reais. O segundo, Ninho no coração, trata da

degradação ambiental e readaptação natural dos seres humanos e dos animais

após a desordem da natureza.

São temas cotidianos que fazem nascer poesia e sentimentos, embora alguns

são transitórios e muitas vezes passam despercebidos, como no caso do primeiro

poema que surgiu de algo que no final do mesmo já nem existia mais: o choro.

7.2.4.1 Choradeira

Buá, buá!

O meu choro acaba em a.

Bué, bué!

O carneiro chora em e.

Buí, buí!

O sagui tem choro em i.

Buó, buó!

Meu vizinho chora em o.

Buú, buú!

O irmãozinho chora em u.

Choro eu, chora o irmãozinho

e o sagui com o vizinho.

Mas será que o carneiro

chora o dia inteiro?

Acho que lembrei agora:

ele bale, nunca chora.

Bale, bala, bola, bule,

o carneiro nunca chora.

Mala, mola, mula, mole,

pego a bola e vou lá fora.

Pra dizer bem a verdade!

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acho que estou meio louco:

esqueci por que é que eu estava

a chorar ainda há pouco!

Neste poema, atentar para a exploração lúdica que o poeta realiza com a

sonoridade das vogais. Há uma relação entre o brincar com a troca de vogais,

alterando o significado das palavras e o brincar com a bola e esquecer-se do choro.

Como sugestões poderão ser trabalhadas as vozes dos animais, (balir, palrar, mugir,

miar), e presença da onomatopeia. A questão de trabalhar a onomatopeia é muito

fascinante para o aluno, porque aqui há a possibilidade de ele saber que este

recurso, tão presente nas histórias em quadrinhos que ele conhece e que gosta, tem

um nome específico e já começa a perceber o conceito de figura de linguagem. Com

isso a reflexão começa a agir e o aluno passa a perceber que tudo tem um

significado, um nome ou uma origem específica.

Pode ser criado um dominó de onomatopeias e de vozes dos animais. Com

base em um jogo de dominó verdadeiro, elabora-se as peças de papéis (papel

cartão) retangulares, cerca de vinte e oito unidades, cortando em dimensões de um

centímetro e meio por quatro centímetros; passa-se um traço com canetinha preta

no meio, de um lado escreva “balir” e no outro escreva a onomatopeia “POW”, em

outro retângulo escreva outra onomatopeia e outro som ou outra voz de animais. E

assim, sucessivamente.

7.2.4.2 Ninho no coração

O passarinho

caiu do ninho.

Cortaram a árvore,

pisaram o ninho,

e o passarinho

não tem mais lar,

não tem mais mãe,

não tem mais nada,

não tem mais ninguém.

Agora só tem a mim,

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e eu agora tenho a ele.

Vou colocar com cuidado

no bolso da minha blusa.

Parece que está com frio,

pois pulsa na minha mão.

Quem sabe ele faz um ninho

dentro do meu coração?

Neste poema, observar que na rima ninho/passarinho, há um encaixe perfeito

de uma palavra dentro da outra, reforçando a relação de sentido de dependência do

passarinho em relação ao abrigo. Apontar também de como o poeta constrói o

sentido de perda por meio da repetição da estrutura sintática “não tem... não tem...

não tem”. Há uma argumentação implícita no emprego de recursos como o “mais”,

“só”, “agora” para acentuar a mudança sofrida pelo passarinho. É possível também

explorar a relação comparativa entre “colocar o passarinho dentro do bolso” e “fazer

um ninho dentro do coração”.

Após a leitura e exploração dos componentes textuais do poema, pode-se

trabalhar atividades que apontem os meios de agressão ao meio ambiente. Um

mutirão para a recuperação de jardins e árvores do ambiente escolar é bem vindo.

Talvez o plantio deste tipo de vegetação, caso não sejam observadas várias

espécimes.

Opte, professor, pela criação de um poema acróstico que fale sobre a flora.

Por exemplo: se tiver flores de alguma espécie, como cravo, dê o comando para

seus alunos produzirem, coletiva ou individualmente, um acróstico com a palavra

cravo. Se for coletivo, será mais fácil, porque toda a turma ficará contemplada. Se

for individual será necessário fazer uma votação. Digitalize o poema selecionado,

plastifique-o, pregue-o em tabuleta e estaque-a próxima às flores plantadas.

Se por ventura sua escola contar com região arbórea, faça aulas de leitura ou

contação de histórias com seus alunos sob as árvores em dias cujo clima seja

favorável para o trabalho pedagógico neste sentido.

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7.2.5 Mario Quintana

http://halliarah.files.wordpress.com/2009/09/quintan1.jpg

Mario de Miranda Quintana nasceu em Alegrete (RS), a 30 de julho de 1906.

Era filho de Celso de Oliveira Quintana, um farmacêutico, e de D. Virgínia de

Miranda Quintana. Aos sete anos de idade recebe instruções dos pais, para leitura

de Português e Francês. Mas é em 1914 que inicia seus estudos na Escola

Elementar Mista de Dona Mimi Contino.

Em 1919 começou a produzir seus primeiros trabalhos para a revista Hyloea,

órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre,

onde permaneceu em regime de internato por cinco anos.

Em 1925, retornou a Alegrete para trabalhar na farmácia do pai. Ainda nesse

ano perdeu a mãe e teve premiado no concurso do jornal Diário de Notícias, de

Porto Alegre o conto A Sétima Personagem. Dois anos depois enlutou-se com a

perda do pai.

Em 1929, começou a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande,

e em 1930 teve os seus poemas publicados pela Revista do Globo e pelo Correio do

Povo.

Em 1930, foi para o Rio de Janeiro, motivado por interesses políticos, onde

ficou por seis meses como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto

Alegre. Em 1931, voltou à redação de O Estado do Rio Grande, no estado gaúcho.

Em 1934 fez a primeira publicação de uma tradução de sua autoria: Palavras

e Sangue, de Giovanni Papini. Começou, a partir disso, a traduzir para a Editora

Globo obras de diversos escritores estrangeiros: Fred Marsyat, Charles Morgan,

Rosamond Lehman, Lin Yutang, Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini,

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Maupassant, dentre outros. Assim, Mario Quintana contribuiu muito para a leitura de

clássicos de línguas estrangeiras, entre elas, obras como Em Busca do Tempo

Perdido, de Marcel Proust.

Em 1936, retornou à Livraria do Globo, onde trabalhou sob a direção de Érico

Veríssimo.

Em 1940, a Editora Globo publicou A Rua dos Cataventos. A repercussão foi

grandiosa e seus sonetos passaram a figurar em livros escolares e antologias. Seis

anos mais tarde, Quintana lançou o livro Canções; em 1948, foram lançados os

livros de poesia e prosa Sapato Florido e O Batalhão de Letras, também publicados

pela Editora Globo.

Em 1950, a Editora Fronteira de Porto Alegre publicou O Aprendiz de

Feiticeiro, outro de seus livros que obteve grande repercussão nos meios literários.

Em 1953, a Editora Cadernos de Extremo Sul publicou o livro Inéditos e

Esparsos.

http://livrosgratis.net/upload/capas/bau_de_espantos_capa.jpg

Em 1962, publicou em volume único: A Rua dos Cataventos, Canções,

Sapato Florido, Espelho Mágico e O Aprendiz de Feiticeiro, sob o título Poesias.

Esta obra foi subsidiada pela Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do

Sul.

Em 1966, para comemorar os 60 anos do poeta, foi publicado pela Editora do

Autor do Rio de Janeiro o livro Antologia Poética. Esta obra contendo 60 poemas

inéditos foi organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos.

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No dia 25 de agosto de 1966 o poeta foi saudado na Academia Brasileira de

Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recitaram um belo poema em sua

homenagem.

A obra Antologia Poética recebeu em dezembro de 1966 o Prêmio Fernando

Chinaglia, por ter sido considerado o melhor livro do ano. Mario Quintana recebeu

elogios por Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecília Meireles e

João Cabral de Melo Neto, além de Manuel Bandeira.

Fez muito e com excelência, mas infelizmente não recebeu uma vaga na

Academia Brasileira de Letras.

7.2.5.1 Poeminha do Contra

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão...

Eu passarinho!

Professor, nestes quatro versos do poema você poderá explorar o jogo das

palavras passarão e passarinho que, de forma metafórica, é proposta por Quintana

como sensação de peso. A terceira pessoa do plural eles está relacionada ao

primeiro verso, a expressão todos esses que aí estão, de modo geral constituindo

um elemento fugaz que, como passageiro, apresenta certa tensão provocada pela

palavra passarão representando algo gigantesco com a ideia de um pássaro

gigante, lembrando a dificuldade de se locomover pelo o tamanho.

A expressão eu passarinho lembra um colibri que, apesar de pequenino,

consegue fazer manobras excepcionais, inclusive parar no ar. Por ser pequeno, é

leve e pode voar livremente, sem grandes dificuldades e sem inquietações perante o

obstáculo. Deste modo, o verso de maneira geral refere-se ao eu – lírico, indicando

que este não se intimida diante do outro.

O que pode ser abordado com tranquilidade são as rimas. A homofonia das

rimas intercaladas é um bom trabalho no quesito estrutural do poema. Bom trabalho!

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7.2.5.2 Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Professor, elabore questões provocativas quanto ao tema. Apimente debates

a esse respeito. O que é amar? Será que sabemos conquistar amizades

verdadeiras? Para o adolescente qual é a brevidade da vida e do amor? Gritar por

cima dos telhados indica uma anunciação que existia e ainda existe em pequeninos

municípios em que os alto-falantes eram os precursores das notícias locais.

Questione o aluno o que significa para ele a necessidade de contar “ao mundo”

sobre as suas conquistas: amor, amizade e objetos de consumo. Por que divulgar

coisas de cunho pessoal? É comum isso acontecer nos dias de hoje?

Após a discussão do tema promova uma peça teatral improvisada na qual os

alunos possam mostrar as impressões que ficaram após a leitura e o estudo do

poema.

8 PRODUZINDO POEMAS

Professor, agora seus alunos irão escrever os poemas deles. Diga-lhes que

agora eles serão os poetas, aqueles que escrevem para mostrar o mundo de um

jeito novo, com o intuito de emocionar, além de fazer pensar ou ainda divertir os

seus leitores. É importante explicar a eles que os poemas por eles produzidos serão

conhecidos por muitas pessoas através dos murais e saraus que os exibirá aos pais,

professores e demais colegas do colégio.

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Um poema deixa leitores e ouvintes encantados. Parece que o poeta consegue dizer o que a gente sente, mas não consegue exprimir. Ou, então, parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado dizer. De diferentes maneiras, cada poema inventa um mundo, onde o leitor entra pela mão do poeta. (LAJOLO, 2001, p.6 )

Os momentos para a produção serão por você indicados. No caso da

produção de um poema coletivo, seja o redator do poema no quadro negro ou em

papel tamanho cartaz no tripé. Ou seja, conforme os alunos forem construindo o

texto oralmente, você o transpõe na lousa. Este trabalho confere um ensaio geral de

produção cujo objetivo é o de ajudar os alunos a transporem o discurso oral para o

escrito. Após a transposição, conduzir os alunos a refletirem se o poema produzido

apresenta aspectos próprios do gênero poema. Conforme os alunos forem

apresentando suas considerações sobre as adequações ou inadequações, registre

as sugestões ou outras versões de escrita, de modo que a produção aproxime-se do

gênero poema.

As propostas de tema para encaminhamentos de produção individual ou

coletiva de poemas poderão ser compostas por temas livres juntamente com outros

relacionados ao cotidiano e à experiência dos alunos: amizade, tempo, tristeza,

beleza, família, escola, compras, shopping, cinema, entre outras sugestões.

9 REVISÃO E REESCRITA

Professor, neste momento, é importante relembrar aos alunos que os poemas

produzidos serão expostos em murais, no “caminho da poesia”, ou então

declamados em saraus. Diferentes leitores terão acesso a eles. Por isso, é

necessário, tal qual os poetas-autores, revisar, procurar a melhor palavra, frase, rima

para atingir aos objetivos do poema.

Assim, comente com os alunos sobre a importância do aprimoramento dos

poemas produzidos, por meio da revisão e reescrita. Como sugestão, pode-se pedir

para que os alunos troquem entre si as produções que fizeram. Cada um faz a lápis

os comentários sobre o texto lido. Ao voltar o poema para o autor, é providencial a

discussão e os apontamentos que melhor achar necessários. Professor, considere

que a diferença entre os alunos também representa fonte de troca de aprendizagem.

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Dê a todos as mesmas oportunidades de aprender e a cada um apoio, de acordo

com suas necessidades.

Seja também um dos leitores revisores dos poemas produzidos. Junto ao

aluno, é possível que você o conduza a refletir sobre sua escrita:

• O que podemos inserir para que o texto fique mais atrativo para o nosso

leitor?

• Acho que está faltando alguma coisa, o que será?

• Não está faltando um adjetivo para acompanhar esta palavra?

• Que tal a gente fazer uma alteração, deslocando esta frase para depois?

• Vamos pensar em outra palavra no lugar desta para não ficar muito

repetitivo?

• Quem acha que esta frase ficaria melhor escrita de outra maneira? Vamos

tentar?

Em relação aos aspectos ortográficos, corrija sem grandes espalhafatos. Leve

o aluno a refletir sobre a grafia: Não falta letra nesta palavra? É assim mesmo que

se escreve esta palavra? Ou então diga que a palavra não se escreve daquele modo

e mostre a forma correta. Ensine o uso do dicionário, acostumando os adolescentes

a usá-lo para tirar suas dúvidas.

9.1 AVALIAÇÃO FORMATIVA

Professor, na sala deixe disponíveis as obras de referência citadas nesta

proposta didática, além de outros materiais que achar necessário bem como os

dicionários. Contar com a consulta e leitura de diferentes poemas, bem como a

revisão de textos e troca entre os alunos dos poemas produzidos é ideal para

colaborar com o conhecimento do gênero.

A comparação entre o primeiro texto produzido, quando solicitado pelo

professor sem nenhum preparo ou sob apenas uma linha tênue de explicação com a

última produção textual do gênero poema, possibilitará a você avaliar o trabalho

desenvolvido. O próprio aluno poderá perceber as diferenças e o quanto se

apropriou das características do gênero poema.

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10 ATIVIDADES COMPLEMENTARES

Professor, nesta sequência de atividades você poderá intervir como desejar.

Fica a seu critério, aumentar as questões e o caça-palavras.

1. Responda às perguntas e encontre as palavras das respostas no caça-

palavras que segue as mesmas.

a) Poeta que teve um marido o qual se suicidou. Cecília Meireles

b) Nome do poema que fala de amor Mário Quintana. Bilhete

c) Complete o verso a seguir: O _____________ morreu. Pardalzinho

d) Nome do gênero estudado nesta sequência didática. Poema

e) Como se classificam as rimas encontradas no poema de Mário Quintana Poeminha do contra? Rimas intercaladas

f) Como se classificam as rimas encontradas no poema, também de Mário Quintana Bilhete? Rimas brancas

g) Qual foi a cidade em que nasceu Mário Quintana? Alegrete

h) Qual é a figura de linguagem apresentada no poema Choradeira de Pedro Bandeira? Onomatopéia

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A A R P P A A A O S

B C I A A T R D N C

F F M R R T T D O G

F G A D D F T V M N

F G S A A R D A A B

C E I I L I A M T I

S A N A Z M A A O L

E A T T I A L G P H

L C E T N S E B E E

E C R T H B G V I T

R C C R O R R X A E

I C A R C A E E V B

E C L F C N T R J B

M K A B C C E M H B

A K D O T A M O N O

I Ç A B D S L Y G L

L L S B V V I U G P

I K O B A V N U B Ç

C J O B A V H I N E

E H O B A V H J H V

C H P O E M A Z Z V

2. Leia para os alunos o texto “Cantador”, de Antônio Gil Neto:

Cantador

Esta pequena história foi contada por meus bisavós, que contaram aos meus

avós que, por sua vez, recontaram aos meus pais, que me contaram de novo...

Agora a conto a você.

Era um tempo em que Alvorada do Norte era uma cidade pequena e

próspera. Vivia seus dias de trabalho e mansidão alternados, como se alternam os

dias e as noites, o sol e a lua, a chuva e o vento.

O que aconteceu é que naquele belo dia a cidadezinha amanheceu de um

jeito um tanto diferente. Uns minutinhos antes das dezenas de galos soltarem seus

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cocoricós costumeiros, as pessoas da minha cidade, ainda abraçadas a seus

travesseiros ou mesmo de pé, no preparo da labuta do dia, ouviram algo diferente

adentrando por portas e janelas ainda fechadas: “Acorda, Maria Bonita/Levanta vai

fazer o café/que o dia já vem raiando/e a polícia já está de pé ...”

Mais ou menos no ritmo de um leve susto e do escuro se encontrar com o

claro daquela manhã, os alvoradenses foram se dando conta do que acontecia:

“Meu coração/ não sei por quê/ bate feliz/quando te vê/ E os meus olhos ficam

sorrindo/ e pelas ruas/ vão te seguindo/ Mas mesmo assim/ foges de mim...”

Vou contar logo, porque não é fácil de explicar. Pelas ruas poucas da cidade

passava naquele dia, como aparição, miragem, encomenda, um presente dos

deuses. Era um jovem cantador.

O que mais sei do que foi dito é que ele apenas falava bem falado, cantava

pelo ar palavras bem bonitas que deixavam todo mundo encantado, curioso,

incomodado. Umas pessoas riam, outras se embeveciam e ainda outras

experimentavam emoções pouco sentidas: Logo que alguém abria a janela, soltava:

“Menina, minha menina/ faz favor de entrar na roda/ cante um verso bem bonito/

diga adeus e vá-se embora...”

Vez por outra ele surpreendia seu cantar misturando-o com um achado pelo

caminho. Rodopiando e declamando, cheirava solenemente uma flor e a entregava

ao seu ouvinte – especialmente se fosse uma bela garota – como um adereço.

Eu só sei que ele andou e voltou várias vezes pelas ruelas principais

entoando com cerimônias de gesto e voz algumas preciosas palavras que tocaram

de perto o sentimento das crianças, dos jovens e dos adultos. E depois, sem passe

de mágica, nem mais, nem menos, sem dizer adeus a ninguém, ele foi embora:

“Adeus amor eu vou partir/ ouço ao longe um clarim...”

Desapareceu pelo ziguezague das estradas, com seu maracatu de corpo.

Acho que foi encantar outros corações em outros lugares, penso eu...

O que sei, com certeza, é que até hoje, quando escuto um barulho diferente

na minha rua, que já não é a mesma de outrora, seja de vento leve na folhagem,

passarinho querendo fazer ninho ou até mesmo de alegria inventada, levando bem

de mansinho e espreito na minha janela para ver o cantador de palavras bonitas

passar.

Antônio Gil Neto, 2007

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Professor, após a leitura do texto acima que apesar de ser um conto contém

poesia por trazer encanto e produzir inspiração, sugira aos alunos que façam como

pesquisa de casa uma coletânea de versos que seus parentes mais antigos (pais,

avós, bisavós, tia-avó, vizinhos) conhecem.

É interessante convidar um poeta à escola para conversar com os alunos.

Caso isso seja muito complicado, incentive os alunos a escreverem cartas ou e-

mails a poetas solicitando alguns poemas para que os alunos façam interações com

suas obras, através de leituras e declamações.

Outra atividade muito promissora é a de dividir a turma em grupos de três ou

quatro integrantes, distribuindo-lhes cópias de poemas para que cada grupo crie

sobre o poema recebido, um modo criativo de apresentá-lo para os demais grupos.

Em seguida, os poemas poderão ser reimpressos ou reescritos de modo

agradável à vista e dependurados em murais no ambiente escolar. Também é

possível que você, professor, exiba uma bela declamação aos seus alunos, caso

seja de seu interesse.

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REFERÊNCIAS

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MICHELETTI, Guaraciaba. A leitura como construção do texto e construção do real. In: Leitura e construção do real – o lugar da poesia e da ficção. São Paulo: Cortez, 2000. p. 15-21 MICHELETTI, Guaraciaba; PERES, Letícia Paula de Freitas; GEBARA, Ana Elvira Luciana. Construção e reconstrução na busca de significados no/do poema. In:

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