DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - Operação de ... · Região Centro-Oeste: sul do Mato Grosso,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
I
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ – SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ- UEM
NUCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO - MARINGÁ
Produção Unidade Didática desenvolvida por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, na área de Geografia com o tema de intervenção: O estudo dos principais biomas brasileiros com vista às diferenciações entre eles e a forma de ocupação e exploração.
Professora PDE: Doroti Lopes da Silva
Orientadora: Profa. Dra Maria Eugênia Moreira da Costa Ferreira
Maringá
Julho de 2010
II
DEDICO
In memória de meu marido José Claro Lopes que enquanto em vida alimentava minhas
esperanças...
"Quando te conheci, houve um lugar, um tempo e um sentimento. O tempo ficou marcado. O
lugar será lembrado. E o sentimento, jamais será terminado.”
III
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
PROFESSORA PDE: DOROTI LOPES DA SILVA
ÁREA PDE: GEOGRAFIA
NRE: MARINGÁ
PROFESSORA ORIENTADORA IES: MARIA EUGENIA MOREIRA COSTA FERREIRA
IES VINCULADA: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (UEM)
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: COLÉGIO ESTADUAL PARIGOT DE SOUZA. ENSINO FUNDUNDAMENTAL, MÉDIO E PROFISSIONAL.
PUBLICO OBJETIVO DA INTERVENÇÃO: ALUNOS DA 2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
IV
UNIDADE DIDÁTICA
TEMA
O ESTUDO DOS PRINCIPAIS BIOMAS BRASILEIROS COM VISTA AS
DIFERENCIAÇÕES ENTRE ELES E AS FORMAS DE EXPLORAÇÃO E OCUPAÇÃO.
V
SUMÁRIO
1. Biomas florestais tropicais e equatoriais ......................................................................... 1
2. Biomas de climas estacionais, semi-úmido e semi-árido .............................................. 15
3. Biomas subtropicais ...................................................................................................... 25
4. Referências .................................................................................................................... 34
VI
CARACTERÍSTICAS DOS BIOMAS EM ESTUDO
Floresta Atlântica
Floresta Amazônica
Caatinga
Cerrado
Mata de
Araucária
Campos de planalto e
sulinos Área Core
Km2
1.000.000 km2
5.000.000 km2
750.000 km2
200.000 km2
570.000 km2
380.000 km2
Localização
Região leste (litoral brasileiro): Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Região Norte: Roraima, Amapá, Amazonas, Pará,
Tocantins, Maranhão, Rondônia, Acre e Mato
Grosso.
Região Nordeste (Polígono das Secas):
Ceará e parte dos estados da Bahia, Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Piauí.
Região Centro-Oeste: sul do Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, sul do
Tocantins, oeste da Bahia, sudoeste do Maranhão e Goiás.
Região Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Região sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Latitude
Ao longo dos 300 de latitude sul 50 latitude norte até 170
latitude sul
- De 30 a 150 latitude sul. - De 120 a 220 de
latitude sul De 230 a 300 latitude sul
- De 230 a 300 latitude sul
Relevo (altitude)
-Topografia bastante acidentada. - Cadeia montanhosa que acompanha
a costa oriental brasileira desde o nordeste do Rio Grande do Sul até o
sul da Bahia. - Ao norte as maiores altitudes
encontram-se mais para o interior do país.
-Planícies fluviais e depressões com altitudes até 600 metros e planaltos residuais o norte e ao sul
norte
- Depressões encaixadas entre a chapada do
Araripe com altitude entre 800 e 1000m e o planalto da Borborema
com altitude entre 670 a 1100m.
- Planalto Central. Altitude entre 300 a
900m.
-Planalto Meridional.
Altitude variando entre 800 e 1300
metros.
- Planalto suavemente
ondulado com altitude entre
350 e 560 metros.
Hidrografia
-Drenada por rios oriundos de 7 bacias hidrográficas brasileiras. Os principais rios são: Paraíba do Sul,
Doce e Jequitinhonha.
-Drenada pelos rios da Bacia Amazônica
-Rios permanentes como o São Francisco e o
Parnaíba e rios temporários (só possuem água corrente na época
das chuvas)
- Região onde se origina as nascentes das três principais
Bacias hidrográficas do Brasil: Amazônica,
São Francisco e do Paraná/ Uruguai.
- Rios pertencentes às
Bacias hidrográficas do
Paraná e do Uruguai.
- Rios pertencentes às
Bacias hidrográficas secundárias.
Clima (temperatura)
- Equatorial ao norte e quente temperado sempre úmido ao sul. -Temperatura média anual entre
220C a 240 C.
- Equatorial quente e úmido.
-Temperatura média de 260C ao ano.
- Tropical quente e seco. - Temperatura entre 250C
a 300C ao ano.
- Tropical -Temperatura média entre 240C e 260C ao
ano.
- Subtropical. -Temperatura
entre 120C e 180C. Suporta geada de
até -100C.
Subtropical. Ventos afetam a temperatura que em média fica entre 160C
e 300C.
VI
VII
Floresta Atlântica
Floresta Amazônica
Caatinga
Cerrado
Mata de
Araucária
Campos de planalto e
sulinos
Clima (precipitação)
- varia de 2000 mm a 4000 mm/ano, estando os maiores índices
relacionados as chuvas orográficas, no planalto Atlântico.
- varia entre 2000 mm a 4000 mm anuais. O mês
mais seco é superior a 120 mm.
- varia de 500 mm a 800 mm anuais.
- Em torno de 1500 mm a 1600 mm
anuais, com estação seca de maio a
setembro.
-Entre 1200 mm a 1800 mm.
- Entre 1200 a 1500 mm
anuais.
Clima (umidade do ar)
- Entre 80 e 85% ao ano. - Entre 80 e 90% ao ano.
- A umidade atmosférica é mínima. A água do solo
e plantas chega a evaporar até 7 mm por
dia.
- Variam entre 40 a 70% na maior parte
do ano.
- Relacionada à temperatura e a
altitude com média anual entre
70 a 80%.
- Entre 70 a 80% ao ano.
Solo
- Latossolos e podzólicos: são pobres em nutrientes, lixiviados e pouco profundos com textura arenosa ou argilosa variando de acordo com a
região.
- Latossolos, podzólicos e plintosolos: são pobres em
nutrientes, rasos e sofre ação da água das chuvas.
- Latossolos e litólicos: solos pedregosos, rasos e às vezes salinos; textura
argilosa a média; são ricos em nutrientes.
- Latossolos, areais quartizosas e
pozólicos: são pobres em nutrientes e ácidos (PH baixo: entre 4 -5)
- Solos de rochas mistas: arenito e
basalto. Latossolos
brunos; latossolos roxos,
cambissolos, terras brunas e
solos litólicos: são profundos e de
grande potencial agrícola.
-Cambissolos: arenito bruno
raso e arenoso. - Paleossolos vermelho e claro: pouca profundidade
Número de espécies
da fauna e flora
- 20.000 espécies de plantas, sendo metade endêmica;
- 1.600.000 espécies de animais com grande índices de endemismo.
(mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes)
- 20.000 plantas identificadas; 1.400
espécies de peixes; 300 espécies de mamíferos; 1.300 espécies de aves;
infinidade de invertebrados.
- 318 espécies endêmicas das quais 80 são
leguminosas, 41 de cactáceas, 41 de lagartos, 45 de serpentes, sete de anfibenídeos (espécie de lagartos sem pés), 16 de anfisbenas (cobras-de-
duas-cabeças).
- Número significativo de
espécies arbóreas, arbustivas, herbáceas
e de palmáceas, 14.425 espécies de
invertebrados (borboletas+ abelhas+
formigas+ vespas)
- 12 espécies de pinheiros, sendo a
araucária angustifólia endêmica do
Brasil e inúmeras espécies de aves,
mamíferos e roedores.
Endemismo: - 450 espécies de gramíneas,
150 de leguminosas, 385 de aves e 90 espécies de
mamíferos
VII
1
1. Biomas florestais tropicais e equatoriais
Sobre a paisagem da costa oriental do território brasileiro, a qual recebeu o nome de Mata
Atlântica, vamos buscar informações desde o início da história do Brasil. Quando os
colonizadores portugueses começaram a chegar ao território brasileiro, a partir do ano de 1500 e
encontraram um impressionante conjunto de vegetação, aves e animais das mais variadas
espécies e tamanho, rios caudalosos de águas cristalinas e os habitantes nativos, aos quais deram
o nome de índios.
Essa paisagem exuberante que encontraram foi produzida pela dinâmica da natureza ao
longo da formação do nosso planeta, e que de acordo com sua estrutura e organização é
classificada como bioma. Mas, o que é um bioma?
Bioma é uma grande formação vegetal presente em diferentes continentes, cujas
características comuns como fatores climáticos e latitude determinam uma única comunidade
biológica dentro de uma área geográfica definida. Já as variações da vegetação encontradas
dentro de um mesmo bioma – devido ao tipo de solo, topografia e disponibilidade de água – são
conhecidas como ecossistemas.
No Brasil, os biomas guardam 1/5 da biodiversidade mundial, com 50 mil espécies de
plantas, cinco mil de vertebrados, 10 a 15 milhões de insetos e milhões de microrganismos.
Devido à grande extensão territorial do Brasil, tanto no sentido leste-oeste e
principalmente no sentido norte-sul que define a latitude e a partir delas, as zonas climáticas,
permite que ocorram vários tipos de biomas em nosso país, dentre os quais vamos estudar: Mata
Atlântica e Floresta Amazônica; Caatinga e Cerrado; Campos e Matas de Araucárias.
2
Figura 1B. Mares de morro: serra do Mar. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São
Paulo, 2008)
Mata Atlântica
“A tarde ia morrendo.
O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas, que iluminava
com os seus últimos raios...
Essas grandes sombras das árvores que se estendem pela planície; essas gradações
infinitas da luz pelas quebradas da montanha...
Estava quase a anoitecer... Os espinheiros silvestres desatavam as flores alvas e
delicadas; o ouricuri abria as suas palmas mais novas, para receber no seu cálice o
orvalho da noite. Os animais retardados procuravam a pousada... Um grilo
escondido no toco de uma árvore começava a sua canção... O urutau no fundo da
mata solta as suas notas graves e sonoras que vão ecoar ao longe... A brisa,
roçando as grimpas da floresta, traz um débil sussurro, que parece o último eco
dos rumores do dia, ou derradeiro suspiro da tarde que morre.
O cenário descrito por José de Alencar em sua obra O Guarani, demonstra que a
vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o luxo e vigor; florestas virgens
se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de
verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.
Figura 1A. http://www.google.com.br/images?q=mata+Atl%C3%A2ntica&hl=pt-R&gbv=2&tbs=isch:1&ei=OgROTNmrBYf2tgOH7u29Dw&sa=N&start=18&ndsp=18
3
Figure 2. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do
Brasil, São Paulo, 2008).
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha
decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um
simples comparsa.”
José de Alencar. O Guarani
- De qual tipo de formação vegetal se refere o texto?
- Quais as características dessa vegetação?
- Sobre que tipos de relevo ela se desenvolveu?
- Que outros elementos do cenário lhe chamaram mais a atenção?
- O que se entende quando o autor conclui: Tudo era grande e pomposo... ?
- Que o homem é um simples comparsa. No texto, o que isso quer dizer?
Quando se menciona a exuberância da Mata Atlântica, não se tem em mente apenas o
tamanho da vegetação, a densidade da floresta, a rapidez do desenvolvimento dos vegetais, mas o
grande número de espécies de plantas e animais endêmicos.
A Mata Atlântica é composta por árvores de médio e grande
porte, formando uma floresta densa que recebe também outras
denominações como Floresta latifoliada tropical úmida e Mata
pluvial tropical. A floresta de encosta voltada para o oceano tem
como característica uma vegetação de folhas largas, sempre-verdes,
com superfícies lisas em forma de ponta-goteira, pela qual escorre a
água trazida pelos ventos úmidos que sopram do mar durante o ano.
A esse tipo de vegetação dá-se o nome de perenifólia, isto porque
as árvores estão sempre folhadas, pois as folhas não caem antes de
as novas estarem desenvolvidas, são pobres em cipós e ricas em
epífitas. No interior da costa Atlântica e, em lugar menos úmido, a vegetação é semi-decíduas e
decíduas compostas por árvores de troncos grossos, ricas em cipós e perdem as folhas na estação
fria e seca.
A grande biodiversidade da Mata Atlântica ocorre principalmente pela sua localização
que atinge desde baixa até alta latitude; pelas diferentes formas relevo, variações de solo e de
umidade. Nas altas serras o ambiente contém bastante umidade para sustentar a floresta ombrófila
densa com árvores altas que absorvem grande parte da luz do sol. Esse estrato de árvores altas é
4
Figure 3. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo,
2008).
chamado de dossel onde se destaca árvores como o manacá-da-serra, o guapuruvu, o cedro, a
peroba e o jacarandá, além de uma grande quantidade de epífitas como as orquídeas, bromélias e
cactáceas perfeitamente adaptadas a vida longe do solo.
Abaixo das árvores maiores destaca-se o estrato
arbustivo no interior da mata, escuro, mal ventilado e úmido
onde as árvores são adaptadas à sombra e desenvolvem
grande quantidade de folhas a fim de captar o máximo de
luminosidade possível, outras árvores são esguias, com
ramos somente na copa, isto porque a falta de luminosidade
não permite o desenvolvimento de ramos inferiores. Nesse
estrato encontra-se a jabuticabeira, a palmeira-juçara, a
begônia, a jabota, a quaresmeira e o ipê. O estrato mais
baixo é o herbáceo, formado por plantas de tamanho pequeno que vive próximo ao solo e recebe
pouca ou quase nada da luz solar como ervas, gramíneas, musgos e uma grande quantidade de
fungos, plantas saprófilas, sementes e plântulas.
Na vegetação da Mata Atlântica existem milhares de plantas que contém uma infinidade
de cores, formas e odores diferentes. Dependente dessa variedade florística há grande diversidade
de animais, como: a onça-pintada, a jaguatirica, o macaco prego, o mico-leão-dourado, a
preguiça-de-coleira, o tamanduá, várias espécies de sagüis, entre outros. As espécies da flora e
fauna estão entrelaçadas em uma rede complexa de interdependência, assim o desaparecimento
de um animal ou planta compromete as condições de vida de outros da mesma cadeia alimentar.
A exuberância da flora da Mata Atlântica é mantida pela grande quantidade de
serapilheira que se acumula sobre o solo e dá origem a uma abundante quantidade de húmus.
Esses minerais liberados pela decomposição das folhas e de outros detritos são reabsorvidos pelo
grande número de raízes existentes retornando ao solo quando as plantas ou parte delas caem e
sucessivamente compõem-se um ciclo produtivo. No entanto, o desmatamento leva a um rápido
empobrecimento do solo, já que a água da chuva provoca a lixiviação, isto é, lavam os minerais e
os carregam para o lençol subterrâneo, tornando esses solos impróprios para a agricultura,
necessitando então serem tratados, enriquecidos antes das atividades agrícolas.
A ocupação humana do espaço da Mata Atlântica, para fins de exploração dos recursos
naturais, com o sucessivo uso do solo para a agricultura e a pecuária, se deu logo após o
5
Figure 4. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do
Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 5. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas
do Brasil, São Paulo, 2008).
descobrimento do Brasil, em 1500. A partir daí deu-se o início da ocupação do território
brasileiro, pelos europeus, em busca dos recursos naturais.
A exploração da Mata Atlântica não
ficou somente no pau-brasil. Outras madeiras
favoráveis a construção naval, edificações,
móveis e outros usos também foram
explorados. Mas a madeira não foi o único
recurso a serem retiradas da floresta, as
epífitas – vegetais que vivem nas árvores,
como orquídeas, bromélias e cactos –
também contribuíram para a destruição das
florestas, pois as árvores eram derrubadas
para facilitar a extração dessas plantas.
Paralelo a extração do pau-brasil, as terras férteis do nordeste brasileiro, após a derrubada
das florestas, eram utilizadas para a produção de açúcar, através do cultivo de grandes canaviais.
Também era necessárias terras de pastagens para a criação de gado de corte, animais de carga e
como força para mover as moendas nos engenhos e plantio de mandioca, muito usada na
alimentação da população local. Assim a população e a economia aumentavam, fazendo do
nordeste a região mais desenvolvida do Brasil colônia. Os engenhos também se espalharam para
o sudeste atingindo os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, embora em menor quantidade que
no nordeste.
Com a descoberta do ouro na região de
Minas Gerais, durante o século XVIII, muitas
florestas foram destruídas na busca do precioso
metal e, muita gente chegou à região para
trabalhar nas minas. Devido a isso muitas vilas
foram fundadas, estradas abertas, a agricultura
e a criação de gado tinham que abastecer a
população local, para isso a área devastada
alastrou-se. A Mata Atlântica passou por uma
6
invasão ampla e profunda, com a histórica corrida do ouro no Brasil. A mineração causou um
enorme impacto sobre a colônia, nesse período a população da colônia aumentou muito, com a
chegada de aproximadamente 450 mil portugueses e um enorme contingente de cativos africanos,
para trabalhar como escravos nas minas de ouro. Mas o grande desmatamento da Mata Atlântica
ocorreu no século XX. Entre 1985 e 1995, a floresta perdeu mais de 1 milhão de hectares entre os
estados de São Paulo a Santa Catarina, a marcha para o oeste provocou grandes desmatamento. É
difícil imaginar que, em 1950, o Paraná ainda detivesse grandes extensões de mata preservada. O
principal causador deste desmatamento foi o Ciclo do Café que devastou as florestas da Mata
Atlântica, principalmente em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná onde o café foi
muito cultivado.
Grandes transformações físicas e econômicas ocorridas no Brasil a partir da década de
1950 estavam confinadas à região da Mata Atlântica. Praticamente todo o investimento de
corporações multinacionais e estatais passou a se concentrar no “triangulo industrial” formado
pelas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A indústria se expandiu
vertiginosamente: no início dos anos 60, as fábricas da região produziram veículos motorizados,
maquinaria elétrica e eletrônica, produtos petroquímicos, navios, produtos farmacêuticos, papel e
celulose, vidros, pneus; quase todos os ingredientes da modernização. O crescimento
populacional concentrou-se nas cidades e foi acelerado ainda mais pela migração nordestina e
sulista com a oferta de mão-de-obra no setor industrial e construção civil. O extermínio das
últimas faixas de floresta convertidas em fazendas e pastagem se intensificou no período de
prosperidade global e crescimento mundial da demanda de café, algodão, cacau, soja e outras
matérias-primas e gêneros alimentícios.
Todos estes fatores contribuíram para que a área da Mata Atlântica se destacasse a partir
de meados do século XX como o maior pólo de desenvolvimento do país. Nessa região vive a
maior parte da população do país, onde se localizam as metrópoles brasileiras, os principais
centros urbanos e indústrias, as rodovias e aeroportos mais movimentados, a agropecuária
intensiva, os grandes pólos culturais, petroleiros, portuários e centros de telecomunicação.
- Por que recuperar a Mata Atlântica?
A grande diversidade de espécies de animais e plantas depende do que restou da
vegetação natural da Mata Atlântica para sobreviver. Atualmente apenas 3% da área do bioma
estão protegidos em Unidades de Conservação (parques, reservas e outros) de proteção integral.
7
Figura 7. http://pessoasempessoa.blogspot.com/2008/05/ecologia-mata-atlantica.html
Mas apenas criar áreas de conservação não é suficiente. A biodiversidade depende da trinômia
legislação-fiscalização- conscientização. Por mais que a população esteja informada sobre a
existência do bioma, de sua biodiversidade e beleza da paisagem ainda faltam clareza sobre a
importância para a sobrevivência das cidades. As pessoas precisam saber e acreditar que regiões
metropolitanas como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador ou Campinas dependem da Mata
Atlântica para beber água e para garantir chuvas na quantidade e distribuição certas, e um pouco
de conforto climático. Precisam ter a convicção de que preservar o cinturão verde e os
mananciais dessas regiões é muito importante para suas vidas.
Para minimizar a perda da biodiversidade tem sido criada Unidades de Conservação que
são mais de 700 no domínio da Mata Atlântica.
- Quais os fatores que causam impactos e contribuem com a degradação da Mata
Atlântica?
São os avanços das cidades
sem que haja um planejamento; a
construção de hidrelétricas; a
mineração; a monocultura de
árvores exóticas que contribuem
com a extinção dos animais; a
agricultura sem ordenamento,
erosões, voçorocas,
empobrecimento do solo e
8
Figure 8. Foto: Ernesto Carrião/Ag. O Dia; Daniela Dacorso/Ag.ISTOÉ n0 2109 14/4/2010
ATIVIDADES
1- Faça uma pesquisa em referências bibliográficas ou na internet e relacione as Unidades de
Conservação Florestais no Paraná.
2- Em seu município há áreas florestais? Está bem conservada? Há corredores ecológicos?
3- Os cursos d’água do seu município possuem mata ciliar? Qual a importância dessas matas?
4- Aula de campo: Visita a EMATER da cidade para entrevista o agrônomo responsável sobre:
- tipos e características do solo do município;
- manuseio do solo agrícola do município;
- uso do solo agrícola do município;
- montar um painel com o resultado da aula de campo.
5- Observe o mapa do Brasil com destaque à área core da Mata Atlântica e complete:
a) A área original da Mata Atlântica ocupava terras dos seguintes estados brasileiros.
b) A Mata Atlântica que recobria cerca de 8% do território brasileiro, atualmente está reduzida a
apenas 5% de sua área original. Quais as causas desse desmatamento?
c) Os estados que ainda mantém áreas remanescentes da Mata Atlântica são
d) Justifique a existência de manchas da Mata Atlântica nesses estados.
e) Os estados que mais desmataram no período de 2000 a 2006 foram.....
9
Floresta Amazônica
“A Amazônia é um dos emblemas do Novo Mundo. Situa-se na linguagem de emblemas como a
Cordilheira do Andes, o Estreito de Magalhães, as Montanhas Rochosas, o rio Mississipi, o rio São
Francisco, os Pampas, o deserto, o Grande Sertão, o Páramo. São emblemas nos quais se movem outros
emblemas desde os tempos primordiais: Caribes, Astecas, Maias, Quéchuas, Aimaras, Guaranis, Tupis. Uns
e outros estes emblemas são habitados por africanos, europeus, árabes, asiáticos. Todos vistos em
perspectivas geo-histórica ampla, estão envolvidos em diferentes e fundamentais formas de organização de
vida, do trabalho, da produção; inseridos no colonialismo, escravismo, descolonização, agrarismo,
industrialismo, imperialismo e globalismo; batalhando em busca de sobrevivência e convivência,
exploração e dominação, resistência e emancipação.”
Loureiro. João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: uma poética do imaginário, 2000
Amazônia: emblema, símbolo ou lugar não só do Novo Mundo, mas do mundo atual
devido a sua grandeza e biodiversidade, diante de um planeta quase devastado pela ocupação
humana e suas atividades econômicas. Amazônia: local para onde os olhos do mundo estão
voltados.
Figure 10. http://www.deputadozegeraldo.com.br/site/downloads/Vista_Floresta_a_partir_da_torre_em_Manaus.jpg&
Figure 9. http://amazoniainforma.blogspot.com/2010/03/geografia-em-foco-amazonia-
10
Figure 11. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil,
São Paulo, 2008).
1- Qual a importância da Floresta Amazônica para a humanidade?
2- Como você acha que deve ser tratado à questão da preservação da Floresta
Amazônica?
Em regiões de baixa latitude encontram-se as florestas equatoriais do mundo. Entre elas
está a floresta Amazônica.
A vegetação da floresta Amazônica é fortemente
influenciada pelo clima quente e a hidrografia, que juntos
favorecem a formação da mais exuberante e biodiversa floresta
do planeta, que se caracteriza por possuir folhas grandes com tom
de verde bem definido. Como o clima não apresenta alterações
significativas no decorrer do ano, seja quanto à temperatura
como quanto à precipitação, não há estação preferencial para a
queda das folhas; a troca se dá de maneira contínua, assim a
vegetação tem aparência sempre viva ou sempre verde, a floração
também se dá ao longo de todos os meses do ano, considerando
que cada espécie tem o seu ritmo próprio de floração e
frutificação. A polinização é feita, sobretudo pelos insetos,
morcegos, aves e pequenos mamíferos arborícolas. As árvores são de grande porte, estruturando-
se em pelo menos três estratos ou camadas: superior, intermediário e inferior.
No estrato superior as árvores atingem de 40 a 50 metros de altura, são esparsas e
absorvem 70% a 80% da luz solar incidente na floresta. O estrato intermediário tem uma
formação contínua e fechada com árvores de 25 a 30 metros de altura e o estrato inferior é
formado por vegetação arbustiva e trepadeira, ralas devido à baixa incidência da luz necessária a
fotossíntese.De acordo com o relevo e a proximidade do curso dos rios, pode-se ainda distinguir
na floresta Amazônica diferentes tipos de mata:- Mata de terra firme: localiza-se em terrenos
mais elevados fora do alcance das inundações, possui árvores altas, que em algumas espécies
podem atingir mais de 40 metros e são adaptadas à pobreza em nutrientes dos seus solos, pois
elas são capazes de se abastecer com nitratos através de bactérias fixadoras de nitrogênio, que
estão ligadas às suas raízes. Por ser uma mata densa e a copa das árvores serem muito próximas
umas das outras, o ambiente abaixo dessas árvores é escuro, mal ventilado e úmido, com pouca
11
Figure 12. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
vegetação devido à escassa quantidade de luz solar que atinge o solo. A castanheira, o caucho e o
guaraná são espécie mais comum desta mata.
Mata de Várzea: áreas periodicamente inundadas pelas águas brancas ou turvas dos rios
Solimões, Amazonas e Madeira. Esses rios percorrem terra rica em minerais e transportam mini
touceiras de vegetação retiradas das margens dos rios, que se transformam em suspensão
orgânica. A fertilidade dessas águas brancas e dos solos aluvionares trazidos por elas, faz com
que a flora e a fauna desta parte da Amazônia sejam uma das mais ricas e produtivas. Os rios são
ricos em peixes e a fertilidade do solo da várzea tornou possível o povoamento da região pela
população indígena e ribeirinha. As árvores de grande porte que se assenta em solos rasos ou
encharcados podem apresentar bases muito largas e cujo tronco se subdivide em várias saliências
laterais, como uma saia, com a finalidade de aumentar a sustentação e o equilíbrio. As espécies
mais comuns nessa área são a samaúma, as palmeiras e a jabota.
Os igarapés são constituídos por pequenos
rios que cruzam a Mata de Várzea. Nessa região
desenvolvem árvores enormes como a maparajuba.
- Mata de Igapó: localizada em terrenos
mais baixos, são permanentemente inundados pelas
águas claras dos rios Tapajós, Tocantins, Xingu e
Araguaia, e pelas águas pretas do rio Negro. Tanto
os rios de águas claras como os de águas pretas são
pobres em minerais e nutrientes por percorrem
terras arenosas e de antigos escudos.
Consequentemente, a flora e a fauna desta parte da
Amazônia são bastante pobres. Algumas espécies de árvores possuem grande resistência às
inundações prolongadas e sobrevivem vários anos emersos. São plantas próprias dessa região a
vitória-régia e a piaçava.
Referente à fauna da Amazônia, os insetos constituem a maior biomassa animal da
floresta de terra firme, mas estão presentes em todos os estratos da floresta. Os animais
rastejadores, os anfíbios e aqueles com capacidade de subir em locais íngremes, como o esquilo
explora os níveis baixos e médios. Os locais mais altos são explorados por beija-flores, araras,
papagaios, e periquitos à procura de frutos, brotos e castanhas. Os tucanos voadores de curta
12
Figure 13. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas
do Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 14. Foto: Percy Lau (IBGE. Tipos e aspectos do Brasil. Rio de Janeiro. 1975.
distância exploram as árvores mais altas. O
nível intermediário é habitado por jacus,
gaviões, corujas e centenas de pequenas aves.
No estrato terrestre estão os jabutis, cotias,
pacas, antas, etc. Os mamíferos aproveitam a
produtividade sazonal dos alimentos como
frutos caídos das árvores. Esses animais, por sua
vez, servem de alimento para grandes felinos e
cobras de grande porte.
A floresta Amazônica é um conjunto de ecossistemas auto-suficientes, mantendo-se com
seus próprios nutrientes num ciclo permanente. A floresta vive do seu próprio material orgânico,
em meio a um ambiente quente, úmido e chuvas abundantes. A menor imprudência pode causar
danos irreversíveis a esse delicado equilíbrio.
A região Amazônica era ocupada por povos pré-
colombianos desde tempos remotos, os quais viviam da coleta
e de poucas lavouras de subsistência. Nos processos históricos
de ocupação inseridos no sistema econômico nacional, estão
relacionados com atividades extrativas, iniciando com as
chamadas “drogas do sertão”, depois o látex/borracha e a
madeira. Em períodos de seca prolongada no nordeste
brasileiro, muitos migrantes nordestinos chegaram à Amazônia
em busca de sobrevivência e se fixou as margens dos rios onde
praticavam o extrativismo vegetal – o látex. Assim ocorreram à
entrada de seringueiros por todas as beiras de rios, riachos e
vales de igarapés, onde fossem encontrados agrupamentos de
seringueiras. Esse período ficou conhecido como o grande
Ciclo da Borracha, que teve uma duração de mais de meio século (1860-1920) e foi importante
para o povoamento do interior da Amazônia, ao longo das margens dos rios.
13
O período de ocupação planejada e sistematizada da Amazônia aconteceu a partir dos
anos de 1960-1970, após a construção das rodovias Belém-Brasília, Brasília-Acre e da
Transamazônica que atraíram a população para as novas áreas de expansão da fronteira
agropecuária. Essa área passou a ser denominada de “Arco do Fogo” ou do “Desmatamento” que
abrange um cinturão de 300 a 500 quilômetros de largura, ao longo das rodovias. Nesta área se
concentra o centro da economia regional, onde predominam grandes, médias e pequenas cidades,
a agropecuária da soja, pastagens plantadas, mineração e grande concentração de assentamentos.
Correspondem ao Arco do Desmatamento os latifúndios localizados nas regiões ao sul e leste da
Floresta Amazônica, envolvendo grandes extensões dos estados do Mato Grosso, Tocantins,
Maranhão, Pará e Rondônia e sudeste do Acre.
A partir dos anos de 1980, o Pólo Minerometalúrgico de Carajás, no estado do Pará,
recebeu grandes investimentos que incluiu o complexo de extração e beneficiamento parcial do
minério de ferro, a construção da estrada de ferro ligando Carajás ao porto de São Luís, no
Maranhão e a Usina Hidroelétrica de Tucurui. Com a construção de novos eixos rodoviários
surgiram novos pólos econômicos na região: extração e beneficiamento de madeira e exploração
pecuária.
Nos anos de 1990, surgiram novas frentes de ocupação na Amazônia por pequenos
produtores familiares do sul do país que, ao venderem suas terras por um valor mais alto,
conseguiram comprar áreas maiores por um valor mais baixo condicionando atualmente o
povoamento e as atividades econômicas nessa área que não é mais uma fronteira e sim, uma
região de povoamento consolidado.
- É possível conciliar o desenvolvimento e a conservação da Amazônia?
Uma solução seria romper com o modelo tradicional de grilagem de terras e adotar o
sistema de ocupação ordenada na Amazônia, visando diminuir o desmatamento clandestino e
aumentar as áreas protegidas.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUCN), Lei federal n0
9.985/00, visa à criação de unidades de conservação nos níveis federal, estadual e municipal.
As áreas protegidas na Amazônia Legal são:
- Unidades de uso sustentável: visa à compatibilização e conservação da natureza com o
uso sustentável de seus recursos naturais, isto é, permitindo a exploração e o aproveitamento
14
econômico de forma planejada e regulamentada. Exemplos: Reserva Extrativista, Reserva de
Fauna, entre outras.
- Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional que se destinam a preservação
integral da biota e de outros recursos naturais conciliados à realização de pesquisas científicas.
- Terras Indígenas da Amazônia que está sob jurisdição do governo federal, por meio da
Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
A área protegida na Amazônia Legal tem como objetivo conter ou diminuir o avanço da
fronteira agrícola, principalmente nos estados onde ocorre intenso desflorestamento, Rondônia,
Mato Grosso e Pará.
Atualmente a região da Floresta Amazônica é a menos povoada do país, permanecendo
com áreas ainda intactas contrapondo-se com grandes centros urbanos como Manaus, Santarém,
Belém e outros pólos industriais como a Zona Franca de Manaus e áreas urbanizadas.
Por dezenas de anos, a Amazônia foi apresentada como uma região uniforme e monótona.
Um espaço sem gente e sem história, mas não se pode esquecer que vivem atualmente na
Amazônia 250 mil índios, diferenciados por fatores lingüísticos, níveis de contato e de
aculturação; quatro milhões de seringueiros, beiradeiros e castanheiros; 350 mil garimpeiros;
cinco milhões de trabalhadores braçais, muitos deles em sistema de escravidão, funcionários e
peões seminômades e grandes latifundiários que vivem em constantes conflitos pela posse da
terra; além de alguns milhões de habitantes urbanos, de diferentes níveis sociais e culturais.
Enfim, um espaço com gente e história.
ATIVIDADES
1- Complete o quadro comparativo com informações sobre as formações florestais do
Brasil.
Floresta Atlântica
Floresta Amazônica
Características do clima
Características do solo
Características da vegetação
15
Figure 15.
http://www.mundogeo.com.br/images/portugues/news/caatinga.jpg
Figure 16. http://br.olhares.com/caatinga_bioma_brasileiro_foto2578629.html&usg=__ZPFeQcdcIp-
2- Usando os dados da tabela acima responda:
a) Há semelhanças entre a vegetação das florestas? Quais?
b) Há diferenças entre a vegetação das florestas? Quais?
3- O que determina o elevado grau de endemismo na Floresta Atlântica? E da Floresta
Amazônica?
4- Relate as formas de ocupação das duas áreas florestais.
5- Quais os impactos ambientais causados pela ocupação de área do bioma Amazônico e
Atlântico?
2. Biomas de climas estacionais, semi-úmido e semi-árido.
Caatinga
E o sertão é um paraíso...
“... Ressurge ao mesmo tempo a fauna resistente das caatingas; disparam pelas baixadas úmidas os
caititus esquivos; passam, em varas, pelas tigüeras, num estríduo estrepitar de maxilas percutindo, os
queixadas de canela ruiva; correm pelos tabuleiros altos em bandos, esporeando-se com ferrões de sob as
asas, as emas velocíssimas; e as seriemas, à fimbria dos banhados onde vem beber o tapir estacando um
momento no seu trote brutal; e as próprias suçuaranas, aterrando os mocós espertos que se aninham aos
16
Paisagem rústica da esbranquiçada
caatinga arbórea em período de
seca. Estação Ecológica de Aiuaba,
Ceará.
Texto: Aziz Ab’Sáber – Ecossistemas
Figure 17. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do
Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 18.
http://eptv.globo.com/terradagente/ima
gens/cerrado.gif
pares, e rolam as turbas turbulentas das maritacas estridentes... enquanto feliz, deslembrado de mágoas,
segue o campeiro pelos arrastadores, tangendo a boiada farta, e entoando a cantiga predileta...”
Assim se vão os dias.
“Passam-se um, dois, seis meses venturosos, derivados da exuberância da terra, até que
surdamente, imperceptivelmente, num ritmo maldito, se despeguem, a pouco e pouco, e caiam as folhas e
as flores, e a seca se desenhe outra vez nas ramagens mortas das árvores decíduas...”
Assim é a caatinga, domínio dos
sertões secos, tão bem descrito pelo escritor
Euclydes da Cunha, em sua famosa obra: Os Sertões; depois da viagem que fez para reportar sobre a
guerra em Canudos, comunidade do nordeste da Bahia, liderada por Antonio Conselheiro. Como excelente
observador e escritor, Euclydes, registrou com muito detalhe as
condições físicas, climáticas e o comportamento da flora e fauna
do local, assim como também, a vida cotidiana dos habitantes-
os sertanejos - que podemos conferir na leitura do livro.
Uma das características marcantes do sistema
hidrográfico e hidrológico do nordeste é a existência de
poucos rios permanentes e os demais temporários ou
periódicos, isto é, dependente do período das chuvas, que
ocorrem em um curto intervalo durante o ano.
Todos os rios chegam ao oceano Atlântico, pelos mais
diversos trajetos, o que resulta na baixa salinização do solo não
prejudicando o domínio dos sertões. Encontram-se poucas
17
Figure 19. http://www.faunaflorabrasil.com.br/eadmin/usuario/barriguda.jpg&img
manchas de solo salinizadas e riachos curtos salgados, mas o conjunto dessas áreas é muito pequeno.
Somente nos baixos rios do Rio Grande do Norte, área muito quente e de elevada luminosidade, ocorrem
planícies com salinização mais forte, onde se situam as maiores salinas brasileiras.
A limitação para o desenvolvimento da caatinga está na aridez, na falta de umidade que dificulta a
presença de vegetação de grande porte e justifica a característica da vegetação que apresenta variedade de
espécies de acordo com a diversidade de solos e condições climáticas. O clima semi- árido se caracteriza
por apresentar baixo índice de chuva com ocorrência irregular e altas temperaturas, ocasionando assim
intensa evaporação e, consequentemente a presença de solo seco, raso e pedregoso devido o intemperismo
físico nos latossolos. Mesmo tendo aspectos de solo pobre, a caatinga necessita apenas de irrigação para
florescer e desenvolver a cultura implantada, pois o mesmo possui boas condições de manejo.
A vegetação típica da caatinga brasileira constitui-se
de uma formação arbustiva lenhosa muito ramificada e de
galho finos e espinhentos, entremeada por cactáceas e por
gramíneas baixas, ralas e em tufos, deixando grande porção
do solo pedregoso a descoberto. É uma vegetação xerófita,
com diversos artifícios de adaptação à seca: folhas miúdas,
decíduas, modificadas em espinhos, com cerosidade e, às
vezes, suculentas _ nos cactos o caule é suculento e as folhas
foram modificadas, transformando em espinhos. São comuns
as árvores que acumulam água no tronco, como a barriguda,
um tipo especial de paineira de tronco basal, engordado pela
reserva d’água que a planta consegue manter para
sobrevivência nos períodos de maior calor, secura e
evaporação de água do solo. Dentre as árvores, destacam-se o juazeiro, a oiticica, o umbuzeiro, além de
palmeiras como a carnaúba, que aparece nas depressões úmidas do sertão semi-árido, as cactáceas como
xiquexique, o mandacaru, o facheiro e a coroa-de-frade. O solo é escassamente recoberto por tufos de
gramíneas, cactáceas e bromélias. Na estação úmida, a paisagem da caatinga semi-árida sofre uma
transformação, tornando-se verdejante e fechada, poucos dias após o início das chuvas. Já nas secas
prolongadas, apenas algumas árvores como o juazeiro permanecem verdes.
A fauna da caatinga é pobre em quantidade, mas com razoável diversidade de espécies, isso
ocorre devido a pouca biomassa da formação vegetal que não oferta quantidade suficiente de alimentos.
São várias as espécies de aves de rapina com o gavião carcará e as corujas, os pássaros canoros como o
curió, canário, sabiá corrupião. Há também os pequenos lagartos como o calango, os pequenos roedores
18
mamíferos predadores e serpentes. Os pastores de maior porte adaptados ao ambiente seco são os asininos
como o jegue que foi introduzido na região.
A chegada dos colonizadores na região da caatinga ocorreu quando os portugueses fixados na
faixa litorânea descobriram as potencialidades das serras úmidas, conhecidas como brejos, distribuídas
pelos imensos sertões, onde até então era ocupada pelos índios tapuias. Houve uma rápida ocupação pela
colonização branca nas terras úmidas da caatinga, assim os brejos de cimeira, de pé-de-serra, de vale, de
ribeira entre outras denominações, ficaram sob o domínio dos colonizadores para a prática da agricultura e
da criação de gado, concretizando definitivamente a ocupação dos sertões. Devido o homem não intervir
de significativa maneira em seu habitat, o ambiente natural da caatinga encontra-se pouco devastado. Da
miscigenação entre brancos e indígenas resultou a formação da população cabocla do sertão. Com a
produção dos mais diversos tipos de alimentos: farinha de mandioca, fubá, aguardente, rapadura; com os
produtos derivados da criação do gado faziam queijos rústicos e acessórios de montaria além de
artesanatos, tecidos e muitos outros produtos que vendiam nas feiras dos pequenos vilarejos. Grandes
feiras proporcionaram o crescimento de algumas das mais importantes cidades do nordeste seco: Feira de
Santana, Mossoró, Caruaru, Garanhuns, Juazeiro do Norte, Patos, Bom Jesus da Lapa, Sobral, Xiquexique
e muitas outras, cada qual com localização estratégica e diferentes funções, mas por todo o tempo os
brejos permanecem fornecendo produtos básicos.
A Caatinga é um dos biomas até o momento pouco alterado pela ação humana devido ao
clima seco e os poucos rios são em sua maioria dependente da época da chuva. A região
apresenta diversidades de solos de acordo com ambientes mais ou menos secos. Existe uma
classificação sub-regional de climas secos no interior do sertão nordestino, tendo como critério a
duração dos períodos secos: semi-áridas acentuadas (sertões bravos); semi-áridas típicas (altos
sertões); semi-áridas moderadas (agreste) e semi-áridas de transição ou subúmidas que se
encontram nas bordas leste e oeste da área nuclear dos sertões nordestinos. Existe “oásis” no
sertão nordestino, como os “brejos” que são considerados ilhas de umidade e o Rio São Francisco
que irriga grandes áreas da caatinga, transformando essa região num solo muito fértil,
comprovando que a irrigação na caatinga pode ser feita com garantia de bons resultados.
As ações governamentais em favor da população e da economia do nordeste seco se fazem
necessário para minimizar os efeitos do clima semi-árido e permitir aos nordestinos uma vida digna em
sua terra natal. Desde fins do século XIX, os governantes vêm propondo ações para resolver os
problemas do nordeste. Dentre essas ações destacam-se: construção de barragens, açudes, sistema
de irrigação, canais fluviais, construção de usinas hidrelétricas no rio São Francisco, único rio
permanente que cruza os sertões, além da expansão de linhas férreas e rodovias para interligar
19
Figura 20. Os eixos da transposição do rio São Francisco. Fonte da imagem: http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/imagens/projeto/eixos2.jpg
todos os sertões do nordeste seco. O Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS)
continua com programa de açudes e sistema de cisternas, irrigação, perfurações de poços
artesianos e outros com o objetivo de melhorar a infra-estrutura para reter água na estação
chuvosa. Outro projeto em planejamento é transposição do Rio São Francisco para atender as
regiões mais seca do nordeste.
Caatinga é um dos biomas até o
momento pouco alterado pela ação humana
devido ao clima seco e os poucos rios são em
sua maioria dependente da época da chuva. A
região apresenta diversidades de solos de
acordo com ambientes mais ou menos secos.
Existe uma classificação sub-regional de
climas secos no interior do sertão nordestino,
tendo como critério a duração dos períodos
secos: semi-áridas acentuadas (sertões
bravos); semi-áridas típicas (altos sertões); semi-áridas moderadas (agreste) e semi-áridas de
transição ou subúmidas que se encontram nas bordas leste e oeste da área nuclear dos sertões
nordestinos. Existe “oásis” no sertão nordestino, como os “brejos” que são considerados ilhas de
umidade e o Rio São Francisco que irriga grandes áreas da caatinga, transformando essa região
num solo muito fértil, comprovando que a irrigação na caatinga pode ser feita com garantia de
bons resultados.
20
Cerrado
Trechos da narração do personagem Riobaldo, ex- jagunço, a um forasteiro, na obra de
João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Vereda descreve parte da paisagem do cerrado brasileiro:
“O senhor vê: o remôo do vento nas palmas dos buritis todos, quando é começo de
tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega o silêncio no
colo...
Aí quando muito o vento abriu o céu, e o tempo deu melhora, a gente estava na erva alta,
no quase liso das altas terras. Assim expresso, chapadão voante. O chapadão é sozinho – a
largueza. O sol. O céu de não querer ver. O verde carteado do grameal. As duras areias. A
diversos que passam abandoados de araras – araral – conversantes. Aviavam vir os periquitos,
com o canto clim. ...Ali chovia? Chove – e não encharca poça, não rola enxurrada, não produz
lama; a chuva inteira se soverte em minuto terra a fundo, feito um azeitezinho entrador. O chão
endurecia cedo, esse rareamento de águas. O fevereiro feito. Chapadão, chapadão, chapadão.
Figure 22. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 21. http://www.eptv.globo.com/terradagente/imagens/cerrado.gif
Cerrado típico em período chuvoso, que documenta a
grande homogeneidade paisagística e biótica
ecossistêmica. Paraopeba, MG. Texto: Aziz Ab’Sáber.
Ecossistemas do Brasil. SP. 2008
21
Figure 24. Buritizal http://farm3.static.flickr.com/2215/196897871Odc7de8ee6.jpg?=O
Figure 23. Chapadas dos Guimarães. Foto: Luis Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
“De dia, é um horror de quente,
mas para a noitinha refresca, e de
madrugada se escorropicha o frio, o
senhor isto sabe”.
Essa é a narrativa de Riobaldo ao
forrasteiro sobre as terras por andou nos
estados de Mato Grosso, Goiás, Minas
Gerais, sul da Bahia, região essa
compreendida pelo bioma Cerrado.
A área do cerrado encontra-se no
Planalto Brasileiro onde ocorrem formações de chapadas ou chapadões com forma de
“gigantescos degraus” com mais de 500 metros de altura como a Chapada dos Guimarães e a dos
Veadeiros, do Planalto Central e de planícies.
Os diferentes tipos de solo, relevo,
temperatura e umidade no espaço do bioma
Cerrado são responsáveis pela produção de uma
vegetação bastante diversificada apresentando
formas de campo limpo composto por vegetação
herbácea; campo sujo com vegetação herbácea e
subarbustos; campo cerrado com árvores de médio
porte sobre gramíneas; cerrado propriamente dito
com vegetação diversificada comportando
gramíneas, herbáceas, arbustos e árvores de médio
porte; cerradões com árvores mais altas e grossas formando uma densa mata biodiversa. Já a
vereda é uma formação aberta que se desenvolve, com vegetação herbácea e palmácea, tendo o
buriti como principal palmeira. Os solos do cerrado são profundos, porosos, permeáveis, ácidos,
com Ph entre 4 e 5 e bem drenados o que faz com sejam muito lixiviados. A variação da
paisagem vegetal é conseqüência das manchas de solo mais pobres ou menos pobres e da
irregularidade das queimadas de cada local. Embora o bioma do cerrado distribua-se em áreas de
clima tropical sazonal, sendo uma estação seca e outra chuvosa, a vegetação varia de acordo com
22
Figure 25. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
a fertilidade do solo e do fogo. As queimadas ocorrem principalmente por fator intencional para
preparar a terra para o plantio e acidental, quando ocorre por descuido ou provocada por raios.
De modo geral, no cerrado encontra-se dois estratos de vegetação: o lenhoso formado por
árvores e arbustos e o estrato herbáceo, formado por ervas e gramíneas.
As árvores e arbustos possuem troncos e ramos tortuosos, cascas grossas e duras, raízes
longas que permitem retirar água do solo a uma profundidade de 10 a 15 metros, até mesmo em
época de seca. Fazem parte dessas árvores e arbustos o pequizeiro, o ipê-amarelo, a copaíba, o
angico, a aroeira, entre outros. A vegetação herbácea e subarbustiva possui caules subterrâneos
(exemplo: pinheirinho-roxo) que resistem à seca e ao fogo. Suas raízes são superficiais, indo até
30 cm de profundidade, seus ramos secam e morrem durante a estação seca formando toneladas
de palhas por hectare, favorecendo, assim a ocorrência e a propagação das queimadas no cerrado.
A flora do cerrado é riquíssima, com um número significativo de plantas endêmicas entre
elas o pequizeiro e algumas espécies de orquídeas. A fauna também é muito rica, mas grande está
ameaçada de extinção como a onça-pintada, a lontra, a arara-vermelha, a rã-cavadeira, a anta, o
falcão-de-peito-vermelho, o pato-mergulhão, o cervo, a ararinha, o tamanduá-bandeira entre
outros. Isso nos dá uma certeza de que o Cerrado está mudado: espécies de plantas e animais em
risco de extinção, rodovias que cortam o Cerrado interligando-o a outras regiões do Brasil,
grandes cidades se destacam como pólos regionais, extensas áreas agrícolas e campos de
pastagens, enfim, uma região transformada.
Até a década de 1950, o domínio do Cerrado no
Planalto Central era quase totalmente estável. Mas nos
anos de 1960 iniciou-se o período de alterações com a
construção de Brasília para transferência da capital do
país para o interior, novas redes rodoviárias foram
abertas, iniciando efetivamente a ocupação do Cerrado,
Brasília foi inaugurada em 1961, cidades satélites
surgiram em seu entorno, a população aumentava, grande
área foi ocupada para a produção de alimentos,
desenvolvendo a pecuária e à agricultura extensiva, como a
soja, o arroz e o trigo. Ao longo das décadas de 1970-1980, com a expansão de uma rede de
infra-estrutura viária e energética e a descoberta da correção dos solos pobres e ácidos, tornando-
23
os férteis e produtivos, a fronteira agrícola expandiu-se pelo cerrado, principalmente pela cultura
comercial do arroz. Atualmente o domínio do cerrado é largamente usado pela pecuária extensiva
e a agricultura mecanizada da soja, milho e algodão, além da pratica da silvicultura, rizicultura,
piscicultura, plantio de abacaxi entre outros.
O desmatamento, o agronegócio insustentável e a irrigação artificial, aliados à ausência de
políticas eficientes que visem à sua preservação fazem do cerrado um dos biomas mais
ameaçados do mundo. O cerrado é um imenso mosaico de faunas e vegetação totalmente
interdependentes, a extinção de apenas uma espécie, animal ou vegetal, põe em risco todas as
outras. O cerrado é a savana com a maior biodiversidade em todo o planeta.
Na região do Planalto Central, o cerrado é o berço de três das principais bacias
hidrográficas da América Latina: Amazonas, São Francisco e Paraná- Paraguai. De suas áreas
nascem os grandes rios que tomam direções diferentes e banham vários estados em seu caminho,
além de gerar energia elétrica. Nem todo o cerrado encontra-se em regiões ribeirinhas. Ele possui
vastas áreas secas na superfície, nas quais a vegetação é alimentada por lençóis aquáticos
subterrâneos que são abastecidos pela água das chuvas. A vegetação de estrutura baixa, com
árvores e arbustos de aspecto ressequido e retorcido, esconde um segredo que os especialistas
chamam de “floresta invertida”: um gigantesco emaranhado de raízes subterrâneas. A vegetação
endêmica das áreas mais seca produz raízes muito longas e resistentes, que atingem com
freqüência dezenas de metros de comprimento para atingir as reservas de água acumulada na
forma de lençóis ou aqüíferos. Sem isso, as plantas na superfície, simplesmente não resistiriam ao
calor e à secura. Ao se aprofundarem na terra, as raízes escavam “túneis” que se tornam dutos
pelos quais a água da chuva escorre, abastecendo as reservas subterrâneas.
Quando se elimina a vegetação natural do cerrado, substituindo por gramíneas, como as
ervas de pasto, a cana-de-açúcar, os leguminosos rasteiros como a soja que possuem raízes curtas
de 10 a 15 centímetros e não atingem as reservas subterrâneas de água, é necessário fazer uso da
irrigação artificial a partir de poços artesianos. Assim também, a água da chuva não mais
consegue descer até as reservas, escorrendo pela superfície em direção aos cursos d’água. O
resultado é a retirada de água subterrânea para a lavoura sem ser reabastecida, os lençóis os
aqüíferos vão secando rapidamente, desequilibrando o regime hidrográfico natural do cerrado.
Não se deve combater a agricultura, mas realizá-la de forma responsável e sustentável,
preservando os recursos naturais e diminuindo os impactos ambientais.
24
Não há um bioma mais importante que o outro, pois todos geram um equilíbrio sem o
qual não há vida animal ou vegetal. Cada um tem a sua importância, tanto isoladamente quanto
em conjunto.
ATIVIDADES
BIOMA CAATINGA CERRADO
Clima predominante (temperatura e umidade)
Vegetação característica Característica do solo
Hidrografia (características dos rios)
Motivou o efetivo povoamento da região
Prática da agropecuária
- Leia o cordel abaixo e responda.
O Rio São Francisco
“[...] Milhões pelo semiárido
Vêm sofrendo pra valer,
Não só por falta de banho
Ou pra lavoura crescer,
O seu calvário de dor
Está na falta, doutor,
De água para beber. [...]
Portanto a alternativa,
A nossa única opção
É a água do Velho Chico
Que, feita a transposição,
Virá, implantada a rede,
Matar no Sertão a sede
De grande população. [...]
BRAGA, Medeiros. Disponível em www.integracao.gov.br.
a) Qual o problema relacionado ao clima da Caatinga é descrito no trecho?
25
b) O autor do poema, um paraibano, é favorável à transposição do São Francisco ou
contra? Transcreva um trecho que justifique sua resposta.
- Liste os tipos de vegetação original do Cerrado Brasileiro.
- Leia o texto abaixo, do geógrafo Aziz Ab’Sáber, sobre a vegetação do Cerrado. Em
seguida responda.
“Além de conviver com alguns dos piores solos do Brasil intertropical, a
vegetação dos cerrados conseguiu a façanha ecológica de resistir às queimadas, renascendo das
próprias cinzas, como uma espécie de fênix dos ecossistemas brasileiros. Não resiste, porém, aos
violentos artifícios tecnológicos inventados pelos homens ditos civilizados.”
AB’SÁBER, Aziz N. Os domínios de natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.p.43
a) Quais são as limitações naturais impostas à vegetação do Cerrado em seu
desenvolvimento?
b) Como a atuação humana interfere no equilíbrio ecológico do Cerrado?
3. Biomas subtropicais
Mata de Araucárias
Na campina, na planície, no planalto, por vezes até na serra,
“De tronco ereto, impávido e imponente,
Na flora linda, com soberbo encanto,
Ergue-se forte, magestosamente,
Figure 27. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 26. http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensfundamental/ciencias/eco8.gif&imgrefurl=
26
Figure 29. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
Figure 28. Fotógrafo: D. L. Silva
O alto Rei deste mágico recanto.
A Natureza fê-lo altivo e ingente;
Ao vê-lo as selvas enchem-se de espanto,
E ele, em manhãs glaciais, de céu palente,
ncobre-se da bruma ao alvo manto.
De galhos uniformes circundado,
Tens a copa elegante, és coroado,
Por seres da floresta o Rei augusto!”
(Otctávio Secundino)
A floresta de Araucária está associada à altitude do terreno e a ocorrência de clima
subtropical com verão moderado e inverno rigoroso, provocado pela influência da massa Polar
Antártica _ o que favorece uma elevada amplitude térmica anual, índices de chuva elevados e
bem distribuídos no decorrer do ano. A araucária exige fertilidade, porosidade e profundidade do
solo para o seu bom desenvolvimento.
É uma formação aberta, homogênea,
aciculifoliada, isto é, tem folhas em forma de agulhas. A
vegetação predominante é a Araucária Angustifólia
conhecida vulgarmente como pinheiro-do-paraná
caracterizando a paisagem da região, razão pela qual se
tornou o símbolo do emblema do estado do Paraná.
Além do pinheiro-do-paraná, outras espécies se
destacam como o pinheiro bravo (Podocarpus),
associados a um sub-bosque de algumas outras espécies
como a imbuia, a canela, o cedro, o pau-marfim, o
jacarandá, a caviúna, a paineira, o xaxim e erva-mate,
além de gramíneas e samambaias.
A araucária angustifólia é uma árvore originária do Brasil: alta, esguia e imponente
chegando atingir entre 30 e 50 metros de altura, tronco retilíneo de até 2 metros de espessura e
galhos que envolvem o tronco central. No estágio adulto, as árvores apresentam casca de 5 a 10
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Figure 30. Foto: Luiz Claudio Marigo (Ecossistemas do Brasil, São Paulo, 2008).
centímetros de espessura e podem viver até 700
anos. Tem reprodução dióica, ou seja, a
existência de árvores do sexo masculino e
feminino, pouca floração que é polinizada pela
ação do vento e um longo ciclo reprodutivo que
normalmente ocorre após 15 a 20 anos de
idade, dificultam a sua reposição natural, em
curto prazo. Suas sementes são conhecidas
como pinhão e são usadas na culinária por
apresentar um alto valor nutritivo.
A araucária interage intensamente com a fauna que contribui na dispersão das sementes.
Entre esses animais destacam-se os roedores como cotias, pacas, ouriços, camundongos e
esquilos e aves como papagaio-de-peito-roxo, os tucanos, as baitacas, as tirivas, os pica-paus e a
gralha-azul.
A gralha-azul é um pássaro típico das matas de pinhais. Devido ao seu hábito de enterrar
os pinhões para comê-los depois, esquecidos, germinam dando vida a outras araucárias.
O pinheiro foi importante no desenvolvimento sócio-econômico do Paraná, em especial,
do sudoeste. Mas sua exploração indiscriminada o colocou na lista oficial das espécies da flora
brasileira ameaçada de extinção. Dos 20 milhões de hectares cobertos pela floresta de araucária,
restam atualmente cerca de 2% dessa área. A devastação iniciou-se no final do Império, devido à
concessão feita pelo governo à abertura da estrada de ferro ligando o estado de São Paulo ao Rio
Grande do Sul e se agravou no início dos anos de 1940 com a entrada dos migrantes gaúchos e
catarinenses que tinham interesses madeireiros e de pequenos lavradores. Por ser uma floresta de
formação aberta, rala com espaçamento entre as árvores, a retirada da madeira de alta qualidade,
reconhecida no mercado interno e externo, foi intensa.
Antes do ciclo madeireiro, os grandes pinheirais eram usados na criação e engorda de
animais, principalmente as “safras” de porcos. A população nativa utilizava a casca e folha do
pinheiro para infusão medicinal e dos nós do pinho se extraia a resina da goma-laca e carvões
finos para uso industrial.
Com a devastação das áreas onde as araucárias possuíam maior biomassa, isto é, maior
quantidade de pinheiros, deu lugar à formação de pequenas e médias propriedades familiar onde
28
se pratica uma intensa policultura devido à grande fertilidade do solo. Cultiva-se milho, feijão,
trigo, arroz, mandioca, fumo, batata-doce e soja nas áreas planas além da silvicultura com o
plantio de pinus. Na fruticultura destaca-se o cultivo de laranja,
limão, pêssego e uva. Na produção agropecuária destaca-se a suinocultura, avicultura, gado de
corte e leiteiro e na área industrial predomina os frigoríficos como o da Sadia, as madeireiras
(madeira serrada), produção de papel fibra longa, celulose, móveis de madeira e as alimentícias.
No Brasil, a Mata das Araucárias constitui a única floresta subtropical ou temperada
quente e felizmente, medidas foram tomadas e hoje a araucária é protegida por lei. É encontrada
atualmente em poucas reservas particulares, em áreas de enclave, de difícil acesso, em reservas
situadas no sudoeste paranaense e nas reservas indígenas.
ATIVIDADES
- Complete o quadro abaixo.
Condições naturais para o desenvolvimento da Araucária Angustifólia
Principais características do clima Características do relevo Características do solo
- Sobre o nível de antropização e a quase extinção da única floresta subtropical do Brasil,
A Mata de Araucárias, responda:
a) Principais causas da devastação ao longo da ocupação humana.
b) Origem dos principais grupos que ocuparam a região.
c) Produção agropecuária desenvolvida atualmente na região.
- Faça uma pesquisa sobre a Lei de proteção às Araucárias (data da criação, principais
cláusulas e áreas de preservação).
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Figure 32. Foto: Percy Lau (IBGE. Tipos e aspectos do Brasil. Rio de Janeiro. 1975.). Figure 31.
=http://www.ihggi.org.br/images/bgHomeCaminhodasTropas_02.gif&imgrefurl
Campos de planalto e Sulinos
“Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”, costumava dizer Ana
Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na
memória... Mas em que dia da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em que
ano?...”(p.7)
“... na estância onde Ana vivia com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo
naquele fim de mundo não existia calendário, nem relógio. Eles guardavam na memória os dias
da semana; viam as horas pela posição do sol; calculavam a passagem dos meses pelas fases da
lua; e era o cheiro do ar, o aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam a estações do
ano...” (p.7)
“Ana Terra descia a coxilha no alto da qual ficava o rancho da estância, e dirigia-se para a
sanga, equilibrando sobre a cabeça uma cesta cheia de roupa suja...” (p.7)
“A sanga corria por dentro dum capão. As folhas das árvores farfalhavam e suas sombras
no chão úmido do orvalho da noite eram frescas, quase frias”. (p.9)
“... Ana só via a seu redor quatro pessoas: o pai, a mãe e os irmãos. Quanto ao resto, eram
sempre aqueles coxilhões a perder de vista, a solidão e o vento...”
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Figure 33. http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-campos-do-sul/imagens/campos-do-sul14.jpg&imgrefurl
1- Atualmente temos condições de nos orientar no tempo e no espaço apenas observando o
meio que nos cerca? Por quê?
2- Qual era a estrutura montada pela família Terra, para sobreviver na estância? Que tipo de
relevo predominava na região?
3- Ana Terra lavava roupa na sanga – pequeno córrego que seca com facilidade. Por que
alguns rios secam?
Os Campos Gerais são grandes extensões
de terras de campos limpos, conhecido pelo nome
de Campos Meridionais, que são divididos em
duas áreas de acordo com a localização:
• Campos de planaltos que ocorrem em
manchas desde o Paraná até o norte do Rio
Grande do Sul, numa região planáltica.
• Campos de Campanha ou Sulinos,
localizados inteiramente no Rio Grande do Sul,
isto porque o território gaúcho tem uma
geomorfologia própria, derivando disto diferentes
características de paisagens ecológicas.
Campos é uma definição que utiliza critérios que explicam a natureza das rochas
responsáveis pelos solos rasos e arenosos, ácidos (PH entre 3,5 a 4,8), pobres em bactérias e
pouco férteis, no qual
desenvolvem a vegetação formada por gramíneas, plantas rasteiras e algumas árvores e arbustos,
com predominância de clima subtropical úmido e invernos rigorosos influenciados por ventos
monçônicos conhecido como minuano. Assim, o aspecto paisagístico dos campos gerais é as
amplas e descobertas áreas de gramíneas baixas com freqüentes montículos de cupim e capões de
matas ao logo dos rios, riachos e córregos. É grande a diversidade de espécies de gramíneas entre
as quais predominam o capim-assis, pluma branca, barba-de-bode, capim-flexa, capim-de-talo-
roxo, capim largo, capim-limão, mas o melhor pasto é constituído por capim mimoso.
Entre as gramíneas crescem ervas, semi-arbustos e arbustos isolados ou em grupos com
inúmeras espécies destacando os conhecidos por vassoura, as guabirobas do campo, as mimosas,
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cujas folhas se encolhem ao mais leve contato e outras leguminosas cujas sementes aderem na
roupa ao se caminhar pelo campo como o carrapichinho, além das palmáceas anãs e as palmáceas
de tronco alto (coqueiros). A maior parte das plantas campestres possui grossos rizonas (bulbos)
subterrâneos resistentes às queimadas anuais ou às freqüentes geadas. O período da queima dos
campos é no final o inverno.
As chamas de fogo ateadas alastram-se pelo solo, deixando atrás de si uma área deserta e
negra com aparência morta. Mas após alguns dias brotam novos talos e com a primeira chuva o
campo se torna queimadas provocam uma seleção entre as gramíneas menos resistentes ao fogo.
A criação extensiva nos campos com aumento de gado necessitava de pastos artificiais
com gramíneas resistentes às geadas, Assim, nos campos gerais foram formados pastos artificiais
com grama missioneira ou jesuítica nativas no sul do Brasil, na Argentina e no Paraguai. Uma
grama norte-americana conhecida como capim-búfalo, resistente ao inverno também foi plantada,
além de outras gramas exóticas como o capim lanudo, o azevém, a pangola, o colonião entre
outros.
Em acordo com flora dos campos, a fauna aí existente é bastante diversificada,
destacando-se lobo-guará, paca, gato-do-mato, veado, preá, lebre, onça, capivara, bugio, coati,
cutia, furão, entre outros e aves como o quero-quero, jacu, macuco, araponga, beija-flores,
tucanos, gaturanos e outras.
Pelas características do relevo e da vegetação, os campos de planaltos e sulinos foram
muito importantes não só pela ocupação da porção central dos estados sulinos, como também
pela integração econômica entre o sudeste e o sul do Brasil.
Até o século XVII, o interior do território dos atuais estados sulinos era habitado apenas
pelos indígenas e alguns bandeirantes que por aí passavam em busca de pedras preciosas e de
índios para escravizá-los. Mas ao descobrirem ouro de aluvião, na região de Paranaguá, se
fixaram no litoral do Paraná, mas logo o ouro se esgotou e alguns mineradores subiram a Serra do
Mar, animados pela notícia de minas auríferas na região planáltica, onde fundaram pequenos
arraiais. Mas também no planalto o veio aurífero esgotava-se e os mineradores buscaram outra
atividade paralela a extração do ouro para completar as necessidades básicas de seus familiares.
Passaram então a se dedicar ao pastoreio e os campos gerais eram excelentes para a
criação, pois ofereciam pastagens naturais, água abundante e relevo suave.
32
Figure 33. Foto: Percy Lau (IBGE. Tipos e aspectos do Brasil. Rio de Janeiro. 1975).
Nesse mesmo período, o desenvolvimento econômico do Brasil estava vinculado à
descoberta e exploração das minas de ouro em Minas Gerais. Em função das lavras auríferas, não
havia alimento, não havia gado, não havia meios de transportes e a partir das necessidades da
região das minas, a pecuária passou a ser valorizada e estruturada no sentido de oferecer aos
mineiros o que necessitavam: cavalos, mulas e carne.
Nos campos de Curitiba, o gado
existia, mas não em grande quantidade,
mas no extremo sul, ficavam as “vacarias”,
campos onde havia cabeças de gado vacum
selvagem – gado abandonado após a
destruição das missões jesuíticas
espanholas - e criadores de muares. Faltava
estrada, que foi construída no final do
século XVIII, passando pelos campos da
região. Ligava a região de Viamão, no Rio
Grande do Sul, aos campos gerais, no
Paraná, e na continuidade chegava até as feiras de Sorocaba, no estado de São Paulo aonde os
comerciantes mineiros, fluminenses e outros vinham buscar o gado para revendê-los na área das
minas. Este caminho ficou conhecido como “Caminho de Viamão” ou “Caminho dos Tropeiros”
e em as suas margens foram organizados pousios e currais para o descanso da boiada e dos
tropeiros que se transformaram em povoados habitados por curitibanos, paulistas, catarinenses e
gaúchos, dando origem a importantes cidades nesses três estados.
A partir de 1970, a paisagem da região dos Campos Gerais foi alterada com a instalação
de grandes agroindústrias (Grupo Klabin- papel e celulose), silvicultura de pinus que se adaptou
rapidamente na região, comprometendo a flora e fauna local, extensas áreas foram ocupadas com
plantio de grãos (arroz, trigo, soja, milho) batata e outros e pastagens plantadas que trouxe vários
problemas ambientais, como a degradação e compactação dos solos, a contaminação e o
assoreamento dos rios, devido ao manejo inadequado das culturas restando poucas áreas de
pastagem natural e pequenas áreas protegidas e ecossistemas naturais que requerem atenção e
preocupação em relação à sua conservação e preservação.
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Os Campos Sulinos apresentam características diferentes de todos os outros domínios
morfoclimáticos do Brasil, predominando o clima subtropical com zonas temperadas úmidas e
semi-úmidas, a região está sujeita a sofrer estiagem durante o ano e grande variação de
temperatura. O solo é misto, isto é, áreas de solo pouco espesso e arenoso com relevo de
ondulação suave e outras com indícios de pedregosidade o que limita sua utilização agrícola.
Com a utilização do solo sem controle, surge atualmente um sério problema erosivo e
conseqüente formação de ravinas e voçorocas originando o chamado deserto dos pampas. Com o
início da formação de um deserto que tende a crescer anualmente, existe vários projetos com o
objetivo de estagnar esse processo.
ATIVIDADES
1 – Após o estudo dos biomas de clima subtropical (Mata de Araucária e Campos Gerais e
Sulinos) cite as características do clima desses biomas:
2 – O tipo de solo desses biomas apresenta aspectos diferentes. Relacione-os:
a) Mata de Araucária:
b) Campos Gerais e Sulinos:
3 – Na região dos Campos a ocorrência do vento é quase constante, como se referia à personagem
Ana Terra, no romance O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. Releia o texto e procure
encontrar as causas da ocorrência dos ventos nessa região.
4 – A Mata de Araucária foi quase totalmente desmatada, entrando na relação das espécies em
extinção. Atualmente é protegida por lei e seus remanescentes são encontrados em reservas, áreas
indígenas e em regiões de relevo de difícil acesso. Quais as principais causas do desmatamento
das Matas de Araucária?
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