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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

A MODERNIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE PRODUCÃO NO CAMPO E A

MOBILIDADE DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE UBIRATÃ - PR

Francisca de Maria Henrique1 Fábio Rodrigues da Costa2

RESUMO

O êxodo rural atingiu o Estado do Paraná, com maior intensidade, a partir da década

de 1970, acontecimento que levou à redução da população em inúmeros municípios e à concentração da mesma em poucos centros economicamente dinâmicos. Neste trabalho objetiva-se compreender o processo de colonização, a mobilidade da

população e o êxodo rural em Ubiratã. Para a construção da pesquisa foram realizadas leituras bibliográficas referentes à ocupação do território paranaense e de Ubiratã, pesquisa em acervo histórico e entrevista com pioneiros. Posteriormente, foi

elaborado material didático, que foi trabalhado com alunos do Colégio Estadual Carlos Gomes.

Palavras-chave: Mobilidade da população, produção de espaço, modernização do campo, êxodo rural.

ABSTRACT

The rural exodus has reached the state of Paraná, with greater intensity from the 1970's, an event which led to the reduction of the population in many towns and the concentration of the few centers in economically dynamic. This work aims to

understand the process of colonization, population mobility and migration in rural Ubiratã. For the construction of the research were made reading literature related to the occupation of the area paranaense and Ubiratã, research on historical records

and interviews with pioneers. It was later developed teaching materials, which was worked with students from State College Carlos Gomes.

KEY WORDS: Population mobility, production of space, modernization of the

countryside, rural exodus.

1 Professora de Geografia da Rede Pública Estadual no Colégio Estadual Carlos Gomes no município de Ubiratã. PDE 2009 2 Orientador. Mestre em Geografia e Professor do Departamento de Geografia na Faculdade Estadual

de Ciências e Letras de Campo Mourão - FECILCAM

Introdução

A ideia inicial para o desenvolvimento do presente artigo partiu da

importância de incentivar os estudantes a conhecerem melhor o município de

Ubiratã. Para tanto, procurou-se elaborar uma unidade didática com sugestões de

trabalho para professores, alunos e comunidade escolar. Assim, surgiu a questão:

como despertar o interesse dos alunos e da comunidade em conhecer as suas

origens, o processo histórico de ocupação e as transformações pelas quais o

município vem passando? Responder a tais questionamentos foi o eixo norteador

para o desenvolvimento da unidade didática cujos resultados são apresentados

nesse artigo.

O tema de maior ênfase foi a mobilidade da população, visto que alguns

municípios do Paraná vêm perdendo constantemente população desde meados da

década de 1970. Entender esse processo é de fundamental importância para a

formação crítica dos estudantes de geografia.

Para a construção da pesquisa foram realizadas leituras bibliográficas

referentes à ocupação do território paranaense e de Ubiratã. Por ser uma produção

com ênfase local, também foi realizada pesquisa em acervo histórico do município,

entrevista com colonizadores pioneiros e comparações com os movimentos

migratórios já ocorridos no Paraná e no Brasil.

Assim, objetiva-se orientar os alunos para compreenderem o processo de

colonização, os movimentos migratórios, o êxodo rural e as contribuições culturais

que produziram a realidade socioeconômica do município de Ubiratã. A partir dos

conteúdos estudados, os alunos serão capazes de compreender a dinâmica da

população no município.

Sabemos que desde os primórdios da história humana ocorrem movimentos

migratórios. Quando a alimentação ficava escassa, os grupos abandonavam o lugar

onde viviam e saíam à procura de melhores condições de vida. A população era

nômade, não tinha moradia fixa. Vivia basicamente da coleta, caça, pesca e o que a

natureza oferecia. Os instrumentos de trabalho eram simples e a produção era

pequena. De acordo com Santos:

No começo dos tempos históricos, cada grupo humano construía seu espaço de vida com as técnicas que inventava para tirar do seu pedaço de natureza os elementos indispensáveis à sua própria sobrevivência. Organizando a produção, organizava a vida social e organizava o espaço, na medida de suas próprias forças, necessidades e desejos. A cada constelação de recursos correspondia um modelo particular. Pouco a pouco esse esquema se foi desfazendo: as necessidades de comércio entre coletividades introduziam nexos novos e também desejos e necessidades e a organização da sociedade e seu espaço tinha de se fazer segundo parâmetros estranhos às necessidades íntimas ao grupo. (SANTOS, 2001, p.5).

A afirmação de Santos deixa claro que o homem sempre esteve à procura

de abrigo e proteção para si e para seu grupo. Assim, começou a buscar novas

técnicas de produção para atender às necessidades da sociedade. Com a mudança

nos instrumentos de trabalho, os grupos sociais também vão se modificando e

surgem novas formas de pensar, de viver e se relacionar.

Mesmo tornando-se sedentários, ou seja, com moradia fixa em razão da

domesticação de animais e do surgimento da agricultura, os movimentos migratórios

continuaram. A partir do momento em que o homem começou a modificar a

natureza, plantando, colhendo e construindo; passou a transformar o espaço natural

em espaço humanizado, construído através do seu trabalho. As novas técnicas

foram sendo incorporadas e o espaço geográfico se transforma continuamente.

Santos afirma que:

A principal forma de relação entre o homem e o meio é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais com as quais o homem realiza a sua vida produz e, ao mesmo tempo cria espaço. (SANTOS, 2001, p. 16).

Com o surgimento do sistema capitalista de produção e o desenvolvimento

industrial-tecnológico, o nível de complexidade aumenta. A sociedade capitalista

técnico - científica atual possui um grande nível de desenvolvimento tecnológico,

representado por instrumentos de trabalho como: tratores, colheitadeiras,

caminhões, robôs, linhas de montagem, computadores, satélites artificiais, entre

outros. O que permite uma grande intervenção do homem, resultando na criação de

espaços com características particulares e integrados no mundo globalizado.

Localização da área de estudo

Ubiratã está localizado na Mesorregião Centro-Ocidental Paranaense; a

sede do município apresenta as seguintes coordenadas geográficas: 24º 32’ 43” S e

52º 59’ 16” O. Está no terceiro planalto paranaense ou planalto de Campo Mourão,

entre as serras do Piquiri e Cantu, na altitude de 550m (IBGE/IPARDES, 2008), com

uma superfície total de 652,75 km2. Em 1956, passou à condição de vila e a

emancipação política ocorreu em 04 de novembro de 1961. A figura 01 apresenta a

localização.

O tipo de solo predominante é o latossolo, que apresenta elevada fertilidade

e é adequado para a prática da agricultura. A agricultura moderna se constitui na

principal fonte de riqueza do município. As principais culturas são soja e milho. O

clima é subtropical úmido, caracterizado por verões quentes, geadas pouco

frequentes no inverno e concentração de chuvas no verão, sem estação seca

(IBGE/IPARDES, 2008).

A vegetação original era constituida por Floresta Estacional Semidecidual

pertencente ao Bioma Mata Atlântica, composta de variadas espécies, como

peroba, cedro, canela, jacarandá, entre outras. A floresta foi intensamente

devastada para ceder lugar à agricultura a partir do processo de ocupação e

colonização.

Quanto à hidrografia, seu território é banhado por vários córregos e rios. O

rio Piquiri é o principal (a palavra Piquiri, na linguagem indígena, significa peixe

pequeno ou rio de muitos lambaris), com seus afluentes, constituem-se em atrativos

turísticos, pois neles se encontram inúmeras ilhas e saltos, tais como: Apertado,

Morumbi e Amaro (IBGE, 2010).

A indústria em Ubiratã é pouco expressiva, apresentando apenas

estabelecimentos de pequeno porte (principalmente indústrias têxteis). A economia

está baseada na agricultura comercial, entretanto, a partir de 2008, começou a se

diversificar com a implantação da avicultura e a construção de abatedouro de aves.

De acordo com o censo 2010, a população do município é de 21.562 habitantes,

sendo a urbana de 18.400 e a rural de 3.162 (IBGE, 2010).

Figura 1: Localização do município de Ubiratã no Paraná Fonte: Organizado por Colavite e Costa (2010)

Ocupação e Colonização de Ubiratã

A figura 02 mostra o primeiro acampamento em Ubiratã, onde hoje está

localizada a comunidade Curva da Onça. A figura 3 apresenta a mata virgem que

deu origem ao nome “Ubiratã”, que, na linguagem tupi-guarani, significa, segundo

Sperança et. al. (2008), “espécie de machado feito de madeira dura” ou

simplesmente “madeira dura”. O nome foi atribuido devido à existência de

exuberantes florestas que se distribuíam por todo o município.

Figura 02: Primeiro acampamento Figura 03: Madeira dura Fonte: Acervo do museu cultural de Ubiratã (arquivo público) Fonte: acervo do museu historico e cultural de Ubiratã Foto doada por Vilder Bordim. (arquivo público ) Foto doada por Vider Bordim

Antes da chegada dos europeus, a região foi habitada por índios das tribos

Kaingangs, nação dos Gê ou Tapuia, às margens do Rio Carajá, e Goianás, que

ocupavam as margens do Rio Tricolor. O que comprovou estes indícios foram os

objetos encontrados; por isso, o local passou a ser considerado um sítio

arqueológico, registrado no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil sob a sigla

URCA-2 PR (AVENTURA DO APRENDER, 2005).

A colonização efetiva ocorreu a partir do ano de 1954, pela Sociedade

Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda (SINOP), que comprou do Governo do Estado

terras da Gleba Rio Verde. Os diretores, Ênio Pipino e João Pedro Moreira de

Carvalho, vieram de Iporã com uma equipe de engenharia e topografia (Ulrich E.

Grabert, Vicente Alexandrino, Samoel Roland e Vilder Bordin). (AVENTURRA DO

APRENDER, 2005).

Com a ajuda de vários homens contratados pela SINOP, construíram um

acampamento e um campo de pouso. Um dos primeiros aparelhos a pousar foi um

teco-teco conduzido pelo piloto conhecido como “Zé da Pua”; a bordo estava o Sr.

João Pedro Moreira de Carvalho, personalidade importante da colonização.

(PREFEITURA DE UBIRATÃ, 2010).

Para atender os colonizadores foi construído um escritório (onde hoje se

encontra o Banco do Brasil), uma escola e uma capela, a fim de possibilitar aos

colonizadores a permanência com suas famílias. Além disso, foi realizada

propaganda com a finalidade de atrair compradores de terra para essa região.

Como a maioria das cidades paranenses, Ubiratã também recebeu

imigrantes de diversas regiões do Brasil e do mundo. Entre eles podemos citar os

japoneses, alemães, italianos, espanhóis, ucranianos, libaneses, sírios, nordestinos,

mineiros, capixabas, catarinenses, gaúchos e paulistas. Todos os colonizadores

contribuiram para o povoamento do municipio, mas os japoneses tiveram aspecto

marcante. Fundaram colônias e disseminaram parte de sua cultura. Por serem

cautelosos, acampavam vários dias na terra e alternavam-se em grupos, recolhendo

amostras diversificadas de solo e plantas, que eram enviadas ao Japão para

análise. Eles precisavam ter certeza de que a terra era fértil antes de efetuar a

compra. Assim começa a fixação da colônia japonesa no município (SPERANÇA,

et. al. 2008).

A SINOP oferecia, para quem comprasse terra para a agriculutra, uma data

na área urbana, uma espécie de brinde. O novo dono do terreno tinha o

compromisso de construir a casa no prazo de três meses. Dessa forma, as pessoas

sentiam-se estimuladas e por conta disso a cidade se formou muito rápido

(SPERANÇA, et. al. 2008).

Os desbravadores vinham atraídos pela fertilidade do solo, pelo preço baixo

e, principalmente, pela facilidade de parcelamento que recebiam da SINOP. No

início faltava quase tudo: estrada, assistência médica, escola, energia e

alimentação. A falta de infraestrutura inicial não impediu o crescimento e a gradual

estruturação.

Modernização da Agricultura e Mobilidade da População

A modernização da agricultura no Paraná modificou sensivelmente a

estrutura fundiária do estado (MORO, 1998, 2001). Ao adquirir maquinaria agrícola

para melhorar as condições de produção, o agricultor colocava suas terras como

garantia para o financiamento e, algumas vezes, não conseguia honrar seus

compromissos com o finaciamento e acabava sendo obrigado a vender a sua

propriedade para pagar a dívida. Tal fato contribuiu para o aumento no tamanho das

propriedades rurais, pois os grandes proprietários compravam as terras dos

pequenos produtores endividados (HERMI, 1999). Dessa forma, ocorreu a alteração

da estrutura fundiária no Paraná, diminuindo o número de pequenas propriedades

com até 10 ha e aumentando o número das médias e grandes propriedades.

Observe, na tabela 01, a extensão dos estabelecimentos rurais de 1970 a 2006.

Pode-se perceber a diminuição das pequenas propriedades e, consequentemente, o

aumento das médias e grandes propriedades rurais. Isso significa que as famílias

que perderam sua propriedade tiveram que migrar, principalmente em direção aos

núcleos urbanos mais dinâmicos.

Área (há) 1970 Part.% 1985 Part.%

0 – 10 ha 298.272 53,3 229.015 49,1

10 – 100 ha 240.936 43,5 212.247 45,5 100 – 1.000 ha 17.158 3,1 23.425 5,0 + de 1.000 ha 1.087 0,2 1.548 0,3

Não declarado 35 0,0 162 0,0

Total 554.488 100,0 466.397 100,0

Área (há) 1996 Part.% 2006 Part.%

0 – 10 ha 154.620 41,8 165.513 44,6

10 – 100 ha 188.305 50,9 170.403 45,9 100 – 1.000 ha 25.435 6,9 25.113 6,8 + de 1.000 ha 1.450 0,4 1.191 0,3

Não declarado 68 0,0 8.832 2,5

Total 369.875 100,0 371.051 100,0 Tabela 1– Extensão dos estabelecimentos rurais no Paraná de 1970 a 2006

Fonte: IBGE – Censos agropecuários apud IPARDES (2009). Adaptado pelo autor.

A principal causa do êxodo rural foi a modernização da agricultura (MORO,

1998; ROCHA, 1998). Com a introdução da lavoura comercial, o trabalho na área

rural ficou escasso, levando o trabalhador rural a migrar em busca de emprego e

infraestrutura que possibilitasse uma qualidade de vida melhor para sua família

(ONOFRE, 2005). Porém, nem sempre as pessoas que migram para as cidades

conseguem alcançar seus obejtivos e, por conta disso, aumentam os problemas

sociais (SPOSITO, 2004). As cidades não estão preparadas para receber grandes

levas de pessoas. Os postos de trabalho são insuficientes e muitos migrantes

partem para a economia informal, o que os leva a residirem em habitações

precárias, como favelas, cortiços, fundos de vale e encostas (SENE, MOREIRA,

1998). Por outro lado, há ainda a questão da diminuição da população dos

municípios que têm a sua economia baseada na agricultura. Com a diminuição da

população, diminui também a arrecadação de impostos e o município pode entrar

em crise.

Com a grande migração do campo em direção às cidades, intensifica-se a

urbanização, que, no país, teve maior impulso a partir da segunda metade do século

XX (SPOSITO, 2004). Foi a partir daí que o Brasil tornou-se um país urbano, com

mais de 50% da população vivendo nas cidades. Outro fator que contribuiu para o

fenômeno da urbanização foi o incentivo ao crescimento da indústria a partir da

década de 1960. Entretanto, quando não há planejamento urbano os problemas

sociais se multiplicam, falta moradia, assistência médica, trabalho, ou seja, bens e

serviços necessários à sobrevivência humana (SPOSITO, 2004). Segundo Santos:

Uma forma de encarar as migrações é do ponto de vista humano, a ausência de direito a um entorno permanente. Cada vez mais no Brasil as pessoas mudam de lugar ao longo da existência; o número dos que vivem fora do lugar onde nasceram aumenta de ano para ano, de um recenseamento a outro. Condenar os indivíduos à imobilidade seria igualmente injusto. Mas as migrações forçadas, provocadas pelo fato de que o jogo do mercado não encontra qualquer contrapeso nos direitos dos cidadãos. São frequentemente também migrações ligadas a consumo e à inacessibilidade a bens e serviços essenciais. “Boias-frias” fixos em cidades e vilas próximas às zonas produtoras, e “boias-frias” que vêm de longe, quando as safras reclamam mão-de-obra suplementar, são as vítimas mais evidentes desse processo. (SANTOS, 1987, p. 44 ).

O autor argumenta que as migrações estão ligadas ao consumo e à falta de

acesso aos bens essenciais à vida. Por esse motivo as pessoas são levadas a sair

do lugar onde nasceram e tentar a vida em outro.

O Paraná, até o início da década de 1970, era um pólo de atração

populacional, principalmente para o campo. Com a mecanização da agricultura

ocorreu a substituição do trabalho humano por máquinas modernas. Assim, com o

uso da tecnologia no campo as pessoas ficaram sem emprego e precisaram migrar

à procura de trabalho. Muitos paranaenses saíam em busca de novas oportunidades

em São Paulo, Mato Grosso, Curitiba e região Metropolitana, Londrina, Maringá

(MORO, 1998, 2001). O movimento migratório de 1991 a 1996 atingiu inúmeras

pessoas e a região Metropolitana de Curitiba foi a mais procurada, recebeu 37,4%

dos migrantes do Estado (IBGE; IPARDES, 2008). As figuras 04 e 05 referem-se às

migrações intermesorregionais de 1986 a 1991 e de 1995 a 2000. Nelas percebe-se

que o maior fluxo migratório dirige-se para a região Metropolitana de Curitiba.

De acordo com o IBGE (2010), entre 1991 e 1996, 206 municípios perderam

população, sem contar os municípios onde o crescimento é inferior a 1%. A

migração para centros urbanos dinâmicos e a diminuição nas taxas de natalidade

estão entre os principais fatores. Entre os municípios com redução de população

está Ubiratã, que no início do povoamento chegou a ter mais de 40 mil habitantes. A

economia estava baseada na agricultura familiar, base de subsistência. Com a

modernização da agricultura e o surgimento de novas culturas, ocorreu a

substituiçao das pequenas propriedades por médias e grandes. O pequeno

agricultor viu-se obrigado a migrar para os grandes centros em busca de trabalho e

de uma vida melhor. Nesse período também ocorreu a crise cambial de 1995, a

decadência do algodão no município, causando ainda mais o desestímulo ao

pequeno proprietário rural ubiratanense.

Figura 04: Fluxos migratórios intermesorregionais no Paraná 1986/1991

Fonte: IPARDES “Os Vários Paranás” (2005)

Figura 05: Fluxos migratórios intermesorregionais no Paraná 1995/2000

Fonte: IPARDES “Os Vários Paranás” (2005)

Êxodo Rural

Êxodo rural é a saída do homem do campo para a cidade em busca de uma

vida melhor. É considerado um dos principais fluxos migratórios internos no Brasil.

Acontece em dois sentidos: por meio do desenvolvimento econômico industrial que

atrai mão-de-obra rural para a cidade; ao mesmo tempo em que a modernização da

agricultura libera mão de obra rural causando a expulsão do homem do campo em

direção às cidades.

A principal causa do êxodo rural foi a modernização da agricultura (MORO,

1998). Com a introdução da lavoura comercial o trabalho na área rural ficou

escasso, pois uma máquina sozinha faz o trabalho de vários homens.

Dessa forma, a modernização do campo provocou intensa migração de

pessoas para as cidades. Na maioria das vezes eram pequenos proprietários de

terras, arrendatários, meeiros ou empregados rurais que perderam o seu trabalho no

campo e se dirigiram para a cidade, ou para outros estados em busca de novas

terras para trabalhar a lavoura (MORO, 1998, 2001; HERMI, 1999).

Em Ubiratã o êxodo rural foi muito intenso após a decadência da cultura da

hortelã e o surgimento da lavoura comercial. A agricultura comercial mecanizada

libera mão de obra braçal, o que fez muitos trabalhadores rurais se deslocarem para

outros espaços. Outro fator a ser citado é a ocorrência de geadas nas décadas de

60 e 70, o que dizimou praticamente toda a cultura do café na região. Em uma

entrevista concedida por Vilder Bordim, o pioneiro afirma que:

A partir da década de 1970, em decorrência da mecanização do campo, uma grande leva de pequenos proprietários de terra começa a se deslocar de Ubiratã, a procura de novas terras, principalmente em Rondônia e Mato Grosso. Como suas áreas eram pequenas, saíram à procura de uma área maior. Nesse período o governo Federal estava incentivando a colonização dessa região através do INCRA, com doação de lotes ou venda a preço baixo. Os que não foram para esses Estados, se dirigiram para a área urbana do município, ou para os grandes centros, em busca de trabalho na indústria e outros setores. O principal motivo da redução populacional do município foi a modernização do campo, o sistema de arrendamento e de parceria, uma vez que tem na agricultura a sua principal atividade econômica. No dia 18 de julho de 1975, em decorrência da geada negra que marcou a história do Paraná, dizimando quase 100% dos cafezais, mudou-se radicalmente o ciclo do café para a cultura da soja.( Bordim, 2100).

Ubiratã sempre teve sua economia baseda na agricultura, inicialmente com a

agricultura de subsistência, através da cultura do arroz, feijão, milho e o café. Mas

o café não prosperou devido às condiçôes climáticas e foi substituído pela cultura

da hortelã. O solo fértil favoreceu o cultivo de hortelã, tornado-se o primeiro ciclo

econômico de maior importância do período da colonização, chegando a existir

vários alambiques na época. Quem não tinha alambique pagava porcentagem para

os proprietários, em troca do beneficiamanto de sua produção.

A figura 06 mostra uma plantação de milho e hortelã. De acordo com

pioneiros entrevistados no decorrer deste trabalho a hortelã foi a lavoura que

impulsionou o crescimento populacional de Ubirata.

Figura 6: Lavoura de hortelã e milho Fonte: acervo do Museu Histórico e Cultural de Ubiratã (arquivo público doado

por Vilder Bordim).

A hortelã produz melhor em terra nova, por isso, com o esgotamento do solo

e a concorrência de outras regiões, veio a instabilidade dos preços do óleo,

causando o declínio da produção e cedendo lugar para outras culturas (SPERENÇA

et. al. 2008). Tal ocorrência deve-se ao fato de que o espaço é dinâmico e está

sempre em transformação de acordo com a função e as necessidades sociais.

Santos afirma que:

O espaço pode ser entendido como um produto social em permanente transformação e, sempre que a sociedade sofre mudança, os objetos geográficos assumem novas funções. Novos elementos, novas técnicas são incorporadas à paisagem e ao espaço, demonstrando a dinâmica social. Os objetos construídos sobre o espaço são datados e vão incorporando novas tecnologias e novas formas de produzir (SANTOS In: DIRETRIZES CURRICULARES DE GEOGRAFIA DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 46).

Com o surgimento da agricultura moderna, inicia-se o processo de

emigração rural urbana (êxodo rural). Paul Singer afirma que: “a mudança no padrão

fundiário, na rotatividade de plantio, nas tecnologias de insumos agrícolas e de

transportes, minimizou as falhas da colheita, embora dispensasse maciçamente

trabalhadores rurais, que se dirigiram para as cidades (SINGER, 1985, p. 31).

Outro motivo para a evasão da população foi o incentivo do Governo Federal

para a colonização das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. O Projeto

Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) atraiu muitos

imigrantes da região Sul, dando início a novas fronteiras agrícolas. Por isso, ocorreu

a saída de significativa parcela da população em busca de novos campos para o

cultivo (SPERANÇA et. al. 2008).

Ubiratã foi marcada por dois êxodos que contribuíram para o declínio da

população. O primeiro em consequência da mecanização do campo, fenômeno que

causou o crescimento urbano. O segundo momento foi marcado pela abertura das

novas fronteiras agrícolas, o que levou a migração para outros Estados, como Mato

Grosso e Rondônia.

Osmar Bertoli, em entrevista concedida dia 07/11/2010, argumenta que no

início da colonização de Ubiratã, vinham pessoas de todos os lugares, atraídos pela

cultura do café, era um “VAP VUP”, segundo Osmar:

As famílias vinham atraídas pala cultura do café, era muita gente (a movimentação de gente foi enorme; foi, como diz, VAP VUP) diz Osmar. Mas o café não progrediu por motivo do clima rigoroso e as geadas constantes, principalmente as geadas – 1963 e 1975 – que acabaram com interesse pelo café. A alternativa que veio foi a lavoura de hortelã, de pouca probabilidade, de apenas cinco anos em geral. A hortelã deu o primeiro impulso à economia de Ubiratã, ganhou-se muito dinheiro. Mas com a concorrência de outras regiões, tornou-se inviável, sendo substituída por outras lavouras. Aí houve o êxodo rural, para Mato Grosso e Rondônia, Foz do Iguaçu, Curitiba e Londrina. Como a maioria das pessoas eram arrendatários, ocorreu um esvaziamento populacional. Foram permanecendo em Ubiratã famílias que iniciaram o cultivo do trigo e da soja.

A tecnologia para lavoura com máquinas modernas acentuou o êxodo rural. Com a substituição da mão de obra braçal as famílias vendiam suas propriedades aos vizinhos e iam saindo para outros estados. Sem contar que para eles era mais viável, porque, vendiam aqui 10 alqueires e compravam, com o mesmo dinheiro 50 a 60 alqueires no Mato Grosso, Rondônia ou outras regiões onde pudessem adquirir uma área maior, para os que já tinham terra. E para os que ainda não tinham, qualquer pedaço de terra era bem vindo. (BERTOLI, 2010).

Outro fato a ser citado foi a emigração para o exterior. Muitos foram em

busca de novas alternativas fora do país, principalmente no Japão, Inglaterra e

Estados Unidos. É importante lembrar que muitos desses emigrantes não têm

intenção de permanecer nesses países, ou seja, fora de seu espaço de vivência;

portanto, a maioria deles deseja retornar para Ubiratã.

Segundo dados do IBGE (2010), a população, em 1960, era de pouco mais

de 10.000 habitantes. Já em 1970 era de 40.253 habitantes; desde então, vem

diminuindo constantemente. Em 2000, eram 22.593 habitantes e, em 2007, passou

para 21.214 habitantes. De acordo com dados do censo 2010, a populaçao atual é

de 21.547 habitantes, o que significa um pequeno crescimento no último período. O

gráfico 01 apresenta a popuação de Ubiratã no período de 1960 a 2010.

População Total

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010

Censo

Ha

bit

an

tes

População Total

Gráfico 01 – População de Ubiratã entre 1960 e 2010

Fonte: IBGE (2010)

Na tabela 2 estão alocados indicadores sociais selecionados que

apresentam dados comparativos entre Ubiratã e o Estado do Paraná. Fica em

evidência que o IDH e PIB per capita apresentam-se baixos, se comparados à média

paranaense, assim como as taxas de analfabetismo e de pobreza estão elevadas

quando comparadas as do Paraná.

INDICADORES

INFORMAÇÃO FONTE DATA UBIRATÃ PARANÁ Densidade Demográfica

hab/ km2 IPARDES 2009 33,03 53,46

IDH-M PNUD/IPEA/FJP 2000 0,734 0,787 PIB Per Capita R$ 1,00 IBGE/IPARDES 2006 11,147 15,711

Índice de Gini IBGE 2000 0,550 0,607 Grau de Urbanização IBGE 2000 78,05 81,40 Taxa de Crescimento

Geométrico IBGE 2000 -1,91 1,40

Taxa de Pobreza (%) IBGE/IPARDES 2000 33,16 20,87 Taxa de analfabetismo 15 anos ou mais (15%)

IBGE 2000 15,1 9,50

Tabela 02 - Indicadores sociais selecionados, comparação entre Ubiratã e o Paraná. Fonte: IPARDES (2010)

As figuras 06 e 07 comparam a área urbana do município de Ubiratã de

1956 com a atual. Observando-as nota-se que a cidade se formou muito rápido,

pois apresentava uma economia rural promissoras. Os migrantes que se dirigiam até

o município contavam com o incentivo dos colonizadores através das propagandas

que estes faziam, pois, segundo os mesmos, a região era bastante fértil. No entanto,

a partir da modernização da agricultura a evasão da população foi se intensificando.

Figura 07: As primeiras casas de Ubiratã em 1956 Figura 08: Ubiratã na atualidade Fonte: acervo doMmuseu Hhistórico Cultural de Ubiratã Fonte: acervo da prefeitura municipal de Ubiratã 2010 (Arquivo público doado por Vilder Bordim) (arquivo público )

Atividades Desenvolvidas com Alunos

O desenvolvimento dos trabalhos propostos pelo material didático aconteceu

no Colégio Estadual Carlos Gomes, em Ubiratã, no segundo semestre de 2010, com

alunos do terceiro ano do ensino médio e segue as propostas contidas nas Diretrizes

Curriculares de Geografia do Estado do Paraná (2008). Como a aceitação pelos

alunos foi positiva, foram aplicadas algumas amostras das atividades em série do

ensino fundamental. O trabalho didático iniciou-se através de apresentação de slides

com fotos históricas, resgatando o processo de ocupação e colonização do

município de Ubiratã. Explicou-se a ocupação por parte dos primeiros colonizadores.

Foi realizado mural informativo com fotos dos pioneiros e de acontecimentos da

época da colonização, com o objetivo de levar informações sobre a história da

ocupação, colonização e origem das famílias que vieram povoar Ubiratã.

Os alunos ficaram curiosos e animados com os trabalhos. Estudar e

compreender o seu espaço foi atividade nova e surpreendente para eles. Diante da

apresentação, os jovens sentiram-se bastante motivados pelo assunto; alguns, por

serem descendentes de pioneiros, sentiram-se valorizados com a proposta de

trabalho e se prontificaram em fazer com que seus pais participassem no que fosse

possível para o bom andamento do projeto. Após assistirem aos slides, foi realizada

a primeira atividade proposta na unidade didática: um momento de reflexão. A turma

ouviu a música “Caboclo na cidade” (Dino Franco e Mourai) e responderam a

questionamentos referentes às migrações de acordo com os movimentos realizados

pelos seus familiares.

A atividade teve como objetivo trabalhar aspectos físicos, históricos e

humanos do município. Foram abordados assuntos referentes às migrações do rural

para o urbano, do rural para o rural e do urbano para o urbano. Foram feitas várias

atividades: estudo e interpretação da letra da música, questionamento referente ao

conteúdo da música e comparação com a migração de suas famílias.

Como sugestão da unidade os estudantes fizeram leitura de alguns textos

propostos referentes às migrações no Brasil e no Paraná. Em seguida, realizaram,

no laboratório de informática do Colégio, pesquisa sobre a agricultura tradicional e

moderna, com a finalidade de compreender os motivos do êxodo rural.

Com as pesquisas realizadas os alunos concluíram que a agricultura

tradicional foi importante para a evolução histórica do homem e serviu de base para

a agricultura moderna. Na agricultura moderna, a tecnologia e a mecanização

diminuíram a necessidade de mão de obra na zona rural. Com isso, milhares de

pessoas migram para a zona urbana, provocando o grande êxodo rural e agravando

a situação nas cidades que não oferecem infraestrutura para receber um grande

contingente de pessoas, como se verificou nas décadas de 70 e 80.

Uma das experiências propostas na unidade didática foi que os alunos

construíssem, em isopor, maquetes do Brasil, Paraná e Ubiratã localizando a

trajetória dos seus familiares de regiões do Paraná ou de outras regiões do Brasil

até Ubiratã. Os estudantes localizaram a origem de suas famílias traçando linhas da

origem ao destino. O objetivo dessa ação foi identificar a origem dos primeiros

colonizadores de Ubiratã. Na exposição do trabalho os alunos serviram pratos

típicos do estado de origem das famílias. A figura 09 apresenta a atividade

desenvolvida sobre a trajetória, origem e destino das famílias de alguns alunos.

Figura 09 – Atividade desenvolvida pelos alunos Fonte: Henrique, F.

Após a elaboração da maquete, foi elaborado um questionário específico

para entrevistar os colonizadores (pioneiros) com o objetivo de conhecer os motivos

de sua vinda para Ubiratã, as dificuldades encontradas ao chegar e como se deu a

produção do espaço. Os pioneiros falaram sobre a história de suas vidas e os

motivos das migrações. As fontes orais são demasiadamente importantes para

entender o processo de migração, visto que, por meio da entrevista com os

colonizadores, são levantadas informações que possibilitam compreender a

produção do espaço no passado e no presente.

Foram desenvolvidas outras atividades, tais como palestras proferidas pelos

colonizadores, construção da árvore genealógica dos pioneiros de Ubiratã, que

também são imigrantes vindos de outros estados brasileiros ou que se

movimentaram dentro do Paraná, e, por sua vez, chegaram a Ubiratã. Ou ainda de

outros países que vieram para colonizar o município. Nesta atividade os alunos

destacaram as famílias mineiras de Ubiratã.

A História de Ubiratã Vivenciada pelos Pioneiros

Foram realizadas entrevistas com alguns pioneiros, entre eles, Vilder

Bordim, Osmar João Bertoli e Regina Maria da Rocha. Seguem excertos de seus

depoimentos:

O Senhor Vilder Bordim foi entrevistado no dia 17/03/2010. É filho de pais

Italianos e natural de Capinzal, no Estado de Santa Catarina. Ele relatou sobre sua

trajetória até Ubiratã. Disse ter saído de Joaçaba, Santa Catarina, em 1952 com

destino a Iporã, no Paraná. Em 1954 dirigindo-se para Ubiratã, fez uma parada em

Campo Mourão, onde permaneceu por mais ou menos 30 dias, para fazer o

reconhecimento aéreo da área de Ubiratã. Feito o reconhecimento, deslocou-se para

o local destinado. De Campo Mourão a Ubiratã o percurso levou em torno de dois

dias por via térrea. Ele chegou a Ubiratã no dia 24 de agosto de 1954, dia do

falecimento de Getúlio Vargas.

Veio juntamente com outros 200 homens, era funcionário (topógrafo) da

Colonizadora SINOP, e elaborou o loteamento das terras de Ubiratã. O primeiro

acampamento onde se instalaram é hoje o estádio municipal. Na época, apenas

alguns posseiros, entre eles João Bertoli e Alindo Castelano de Cale, habitavam a

região. O seu primeiro trabalho foi a localização e abertura de um campo de pouso,

onde hoje é a Avenida Nilza de Oliveira Pepino. A partir daí iniciaram-se os trabalhos

de colonização com levantamentos topográficos.

As dificuldades eram muitas, faltavam mantimentos, remédios e

comunicação, porque os locais de abastecimentos eram distantes e as estradas

eram apenas picadas. As condições de sobrevivência só melhoraram depois que

começou a funcionar o campo de pouso de avião. Muitas pessoas morriam por falta

de remédio e de assistência médica, em consequência das dificuldades de

locomoção. Relatou ainda que nesse período ainda era solteiro e só conheceu sua

esposa, dona Evanilde (popular dona Nina), em 1958. Casou-se em 1959, só no

religioso, pois não tinha cartório em Ubiratã. O casamento no civil só aconteceu em

1962, aqui mesmo no município. Do casamento nasceram dois filhos, Solange e

Solano. Declara que conseguiu realizar todos os seus objetivos. Lembra que a

cidade foi formada e cresceu muito, vieram para Ubiratã pessoas de varias regiões

do Brasil e do exterior como foi o caso dos japoneses, que vinham atraídos pelo

preço e fertilidade da terra. Durante alguns anos, os colonos dedicaram-se à

agricultura. De início, a cultura do café e a policultura, mas o destaque ficou para a

hortelã, sendo considerado o ciclo econômico de maior importância da época. A

hortelã entrou em decadência por ocasião de produtores concorrentes no Paraguai e

no Mato Grosso. A partir daí surge a cultura da soja e trigo, atualmente soja e milho.

O senhor Vilder foi o primeiro funcionário público do município; aposentou-se

em 1998, porém permaneceu na prefeitura por mais quatro anos. Atualmente, aos

75 anos de idade, dedica-se à atividade comercial, sua esposa dona Nina administra

um restaurante, o Rancho do Bordim.

O senhor Osmar João Bertoli concedeu entrevista dia 07/11/2010. Ele

nasceu no dia 05/11/1936, em Taió, no Estado de Santa Catarina. Chegou a Ubiratã

em novembro de 1956, aos 20 anos de idade. Os motivos de sua vinda foram as

terras que seu pai, João Bertoli havia adquirido em Ubiratã por meio da Colonização

do Governo do Estado. Foi o plantio de café que, na época, atraiu os agricultores. A

Cia. SINOP adquiriu também esta região para colonizar, ficando com área de

aproximadamente 27.000 alqueires.

Antes de vir para Ubiratã, o jovem já se dedicava às atividades rurais.

Relatou ainda que também praticou o cultivo da hortelã, pois este apresentava um

bom rendimento, e porque todo o trabalho era realizado em parceria. Disse que a

maioria das áreas agricultáveis eram cultivadas com a hortelã.

Foi o primeiro prefeito nomeado; prefeito instalador do município, a ele

coube a tarefa de organizar a administração até a eleição do próximo prefeito. Para

resolver as atividades da administração precisava custear as despesas porque não

havia recursos, e, para esse custeio, contava com a ajuda dos amigos e da SINOP,

os quais ajudavam com o que podiam.

Nessa época, Ubiratã tinha apenas 12 casas de madeira, escritório da

SINOP, hotel, escola, igreja, comércio, serraria, ou seja, já apresentava uma boa

infraestrutura.

A colonização da SINOP foi um sucesso, atraindo para Ubiratã mais de

2.000 famílias. Muitas eram nordestinas vindas do norte do Paraná e do Estado de

São Paulo. A Colonizadora trouxe famílias japonesas vindas de Arapongas, dando

inicio à colônia Santo Inácio.

No início da colonização de Ubiratã não havia preocupação com a

preservação ambiental, derrubava-se a mata o quanto pudesse. Inclusive, retirava-

se a madeira, que era vendida para ajudar a pagar a prestação da terra. Alguns

colonos já compravam a terra com o objetivo de fazer parte do pagamento com a

madeira. Atualmente, “Seu” Osmar dedica-se a atividades rurais e ao comércio,

juntamente com sua esposa, dona Renata.

A senhora Regina Maria Rocha nasceu em 1940, em Belo Horizonte, Minas

Gerais. Chegou a Ubiratã em 1954. Em sua trajetória passou pelo Estado de São

Paulo e, juntamente com seus pais, foi para Iporã, onde os pais compraram um

pedaço de terra e dedicaram-se à agricultura. Em Iporã, ela conheceu Horácio de

Souza Rocha, com quem causou-se e veio para Ubiratã. “Seu” Horácio era

funcionário da SINOP, trabalhava com maquinaria na derrubada da mata e

construção de estradas. Regina foi uma das primeiras mulheres a chegar a Ubiratã,

era ela quem cozinhava para os trabalhadores. A alimentação era à base de arroz,

carne seca (jabá) e caça do mato: veado, paca, porco do mato, etc. Ela relatou que

aqui era tudo muito difícil, não havia estradas (eram só picadas) nem medicamento,

tudo era trazido pela SINOP e às vezes demorava a chegar. Mas com o passar dos

anos Ubiratã foi recebendo muita gente, normalmente colonos trazidos pela SINOP,

que vinham para trabalhar na lavoura de hortelã.

Considerações Finais

A mobilidade da população não é um fenômeno novo, é dinâmico e conduz à

reflexão sobre a realidade vivida por cada migrante. As pessoas partem de sua terra

natal na esperança de encontrar uma saída para os problemas da fome, da miséria,

do desemprego e da falta de moradia, mas nem sempre encontram. Para

compreender essa dinâmica populacional é necessário um estudo sobre a produção

do espaço geográfico. Aqui tomamos como objeto de estudo o município de Ubiratã,

localizado na Mesorregião Centro-Ocidental Paranaense. O tema de maior ênfase

foi a mobilidade da população e o êxodo rural, visto que Ubiratã vem perdendo

população desde meados da década de 1970.

Um fato que chamou a atenção com relação à redução populacional no

município é que para a maioria da população ubiratanense, a diminuição estava

ligada apenas à modernização do campo. Porém, após a realização das pesquisas,

concluiu-se que esse foi um dos principais fatores, mas existiram outros. Por

exemplo, a vinda da população para Ubiratã na época da colonização era, na

maioria das vezes, organizada pela colonizadora, que trazia os trabalhadores para

realizar a derrubada da mata e a abertura da cidade. Ao término das atividades,

estes seguiam a colonizadora ou saíam em busca de outras regiões; portanto,

muitos destes não tinham como objetivo fixar moradia. Outro fator a ser considerado

é que o núcleo urbano de Ubiratã não conseguiu fixar toda a população proveniente

do campo. O fraco parque industrial e o centro comercial de baixa complexidade não

foram capazes de gerar empregos suficientes para absorver a população, que se

deslocou para espaços mais dinâmicos.

De acordo com as pesquisas e entrevistas com pioneiros, os entrevistados

acham Ubiratã um lugar bom para viver, apresenta uma boa infraestrutura urbana,

com escolas, comércio, hospitais, postos de saúde e outros estabelecimentos. A

população tem uma qualidade de vida regular, embora as estatísticas apontem para

a problemática da baixa renda.

Com relação ao desenvolvimento do material didático, este foi bem aceito

tanto pelos alunos como pela coordenação pedagógica do Colégio Estadual Carlos

Gomes. Os questionamentos presentes e as atividades propostas possibilitaram aos

alunos do terceiro ano do ensino médio o aprendizado de conteúdos e temas

relevantes sobre a produção do espaço no município de Ubiratã. Os resultados

demonstraram a importância da integração entre pesquisa e ensino, o que conduz

ao desenvolvimento do pensamento crítico e da postura transformadora da realidade

social.

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