DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - Operação de … · Em sala de aula, com base na aula de...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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CARTOGRAFIA NA ESCOLA: elaboração de Atlas geográfico do Município de Lobato
Autor: Maria Inês Egêa Gondolfo1
Orientador: Maria Eugênia Moreira C. Ferreira2
Resumo
O artigo apresenta a metodologia utilizada e os resultados obtidos na aplicação de material didático sobre cartografia desenvolvido e trabalhado nas 5ª Séries da Escola Estadual Osvaldo Aranha – Ensino Fundamental de Lobato. Ele é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, entre 2009–2010. A atividade consistiu na elaboração de material cartográfico para conhecimento da paisagem natural e humanizada no município de Lobato. Valorizou-se a história do Município, seu perfil cultural e econômico ao longo das décadas passadas até o presente. Trata-se de um Atlas municipal que consiste em levar o aluno à pesquisa, análise e percepção da paisagem humanizada com objetivo de contribuir para a cultura e o conhecimento do lugar. A metodologia proposta contemplou também um estudo de caso relacionado ao Ribeirão Araçá, no município de Lobato com destaque para as formas de ocupação das “águas” (localidades rurais), as causas e consequências do desmatamento e da poluição.
Palavras-chave: representação cartográfica; análise da paisagem; município de
Lobato.
1 Introdução
A Cartografia tem um papel muito importante na Geografia, já que se trata de
uma ferramenta imprescindível para a leitura da realidade. Com seu auxílio, é
possível representar o resultado da ação do homem sobre a superfície da Terra.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica: “Ao apropriar-se da
linguagem cartográfica, o aluno estará apto a reconhecer representações de
realidades mais complexas, que exigem maior nível de abstração” (PARANÁ, 2008,
1 Professora da rede estadual de ensino do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). 2 Professora orientadora, vinculada ao Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá.
2
p. 83). No final do século XX, segundo Almeida, a cartografia tornou-se
revolucionária, uma vez que:
Modernas técnicas como fotografias aéreas ou de satélites, sensoriamento remoto, uso do GPS para a elaboração de mapas, informatização de dados geográficos com várias finalidades e o geoprocessamento marcam a cartografia do século XXI. Arte ou ciência, o fato é que a cartografia utiliza técnicas cada vez mais modernas para a representação do conjunto de elementos que compõem o espaço geográfico. (ALMEIDA, 2009, p. 20).
O presente trabalho foi elaborado pensando nas dificuldades encontradas
pelos alunos na leitura e interpretação de diferentes tipos de mapas. Por outro lado,
percebe-se que uma parcela dos professores que atuam nas séries finais do Ensino
Fundamental, sentem dificuldades em trabalhar a cartografia com seus alunos,
conteúdo este considerado desafiador em suas práticas diárias. Sendo assim, surgiu
a necessidade de superar essas dificuldades, produzindo um atlas do município de
Lobato. O atlas irá auxiliar os professores de 5ª séries na preparação de suas aulas
bem como mais atraente para a compreensão dos alunos sobre o assunto. Nesse
sentido, Kaercher (2003, p.50) nos desafia a estar abertos, estudar
permanentemente, inclusive outras disciplinas. Não porque seja imposição de
alguma direção ou por modismo “trabalhar interdisciplinarmente”, mas porque isso
reflete nossa postura de vida: sede pelo saber.
Nas discussões do Grupo de Trabalho em Rede chegou-se à conclusão de
que não é uma tarefa fácil interpretar o espaço de vivência sabendo que o mesmo
se encontra em constante transformação. É necessário despertar no aluno o olhar
reflexivo sobre as transformações que ocorrem em seu cotidiano, para identificar,
comparar e compreender o seu espaço de vivência.
No decorrer das aulas foram contemplados os conteúdos estruturantes:
dimensão política do espaço geográfico, já que possibilita ao aluno a compreensão
do espaço onde vive e suas relações e a dimensão socioambiental do espaço
geográfico, a qual os leva a entender que a sociedade onde estão inseridos torna-os
sujeitos nas questões ambientais, e que há problemas relacionados ao meio
ambiente, os quais são resultados das ações humanas.
Os conteúdos básicos caracterizam-se pela formação e transformação das
paisagens naturais e culturais; a transformação demográfica, a distribuição espacial
e os indicadores estatísticos da população; a mobilidade populacional, as
manifestações socioespaciais da diversidade cultural e por fim a regionalização
desse espaço. A metodologia utilizada possibilitou a construção diferenciada do
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conhecimento, já que fez o aluno conhecer e pesquisar seu espaço de vivência. A
análise desse espaço trouxe a percepção de que ele foi construído e está sendo
reconstruído a todo instante, e quem se insere nele é peça fundamental de todo
processo.
O estudo de caso da Água Araçá do Município de Lobato teve como
finalidade levar os alunos a conhecer o que causou as formas de degradação do
meio nessa área e quais as consequências, levando-os a refletir, opinar, ler,
observar e analisar, desenvolvendo o raciocínio, tornando-os sujeitos do processo
de ensino e de aprendizagem. Algumas ações foram desenvolvidas como: leituras,
visitas, entrevistas, elaboração de textos, construção de gráficos, desenhos,
comparações e outras atividades, as quais foram responsáveis pela compreensão
das características geográficas do município de Lobato no decorrer das aulas.
2 Desenvolvimento
O estudo da cartografia nas turmas de 5ª séries teve como objetivo inicial
compreender o que os alunos sabiam realmente sobre a geografia do município
onde residem. Em primeiro lugar foram trabalhadas as definições de cidade e
município. Constatou-se que os alunos não sabiam, realmente, a diferença entre os
termos, mas com explicações básicas e debates, os mesmos deram exemplos e
formularam seus conceitos. Em seguida, foi solicitado que escrevessem seus
endereços, só que os mesmos não sabiam o Código de Endereçamento Postal
(CEP) do próprio município. Gradativamente, todas as dúvidas foram sendo
esclarecidas, principalmente as referentes ao endereço de cada um deles.
Os alunos tiveram a incumbência de uma tarefa de extrema importância para
o desenvolvimento do trabalho, isto é, procurar junto aos familiares informações
sobre o passado, sobre a história do município.
Na semana seguinte, a maioria trouxe o que os avós e pais vivenciaram
quando crianças. Foi muito interessante, já que se tratou de uma descoberta do
movimento histórico de suas famílias. Toda a trajetória de uma história totalmente
desconhecida por eles; as informações coletadas, mais os textos de apoio foram a
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estrutura para a elaboração do histórico do município, desde a escolha do nome
Lobato, em 1948.
Na discussão sobre a história do município surgiram questões envolvendo a
política municipal. Os alunos pesquisaram a organização dos três poderes:
Legislativo, Executivo e Judiciário. Todos entenderam que o poder Legislativo é o
composto pelos eleitos pelo povo, dentro da esfera municipal, como os vereadores,
na Estadual como os deputados estaduais e na Federal como os deputados
federais. O poder Executivo, que é composto pela esfera administrativa e executiva,
o qual o Presidente da Republica é seu principal representante. O poder Judiciário,
que julga os conflitos de acordo com a lei e os fatos, seus representantes são os
Juízes. Os alunos concluíram que todos os poderes são extremamente importantes,
interdependentes e que se compõem automaticamente.
Em seguida, realizou-se uma sondagem sobre o que os alunos conheciam da
localização do município dentro do Paraná e no Brasil. Foram pesquisados e
coletados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente a
localização, área, limites, etc. Para se localizar com precisão a área do município no
estado do Paraná foram explanados como, por exemplo: conceitos de paisagem e
localização, o que são as linhas imaginárias, quando essas linhas se cruzam ou se
encontram recebem o nome de coordenadas geográficas, a importância do fuso-
horário, dentre outros.
Algumas atividades sobre localização e orientação foram desenvolvidas em
sala de aula. Os alunos confeccionaram a rosa-dos-ventos e, depois, manusearam
uma bússola, numa aula de campo. Foram levados às ruas da cidade para
localizarem os pontos considerados mais importantes em seu dia-a-dia. Citaram, por
exemplo: a Igreja Matriz, Prefeitura, Câmara de vereadores, correio, escolas, Banco
do Brasil, Sistema Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SAMAE), praça
municipal, parquinho, Departamento de Educação Municipal, Biblioteca Municipal,
campo de futebol, etc. Abaixo algumas fotos do município:
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Figura 1: SAMAE Figura 2: Parque Infantil. Foto: Acervo Maria Inês Egêa Gondolfo. Foto: Acervo Maria Inês Egêa Gondolfo.
Figura 3: Parque Infantil. Foto: Acervo pessoal Maria Inês Egêa Gondolfo.
O ponto de referência da aula de campo foi a Igreja Matriz. Para dar
encaminhamento à atividade proposta perguntou-se aos alunos onde está sua
residência em relação a Igreja Matriz? Todos apontaram suas casas, deram a
localização precisa de suas residências.
Figura 04: Aula de campo Fotos: Acervo pessoal Maria Inês Egêa Gondolfo (2010).
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Em sala de aula, com base na aula de campo, na medida em que os alunos
compreenderam a noção de orientação e localização, fez-se a exposição dos mapas
do Brasil, do Paraná e do município de Lobato, visando apreender as diferentes
escalas de cada mapa. Os alunos foram descobrindo que para se representar um
determinado lugar, deve-se fazer uso da escala. Segundo o livro Projeto Araribá, 6º
Ano, escala é: “... a relação entre a medida de um objeto representado no mapa e a
medida desse mesmo objeto no seu tamanho real. A escala expressa o número de
vezes que a realidade foi reduzida para caber no papel” (PROJETO ARARIBÁ,
2007, p.87).
Explicou-se aos alunos que, para se estruturar um determinado espaço, é
preciso observá-lo minuciosamente. E, nesses casos, o mapa é um meio de
comunicação e de transmissão de muitas informações.
Para que os alunos identificassem vários pontos importantes dentro do
município apresentou-se uma planta do município. Segundo Lucci:
Plantas são representações gráficas de pequenas áreas. São feitas em escalas grandes (até 1:20 000) e, em geral, são ricas em detalhes. As plantas são muito usadas para representar um bairro ou uma cidade. As prefeituras utilizam-nas para facilitar a administração e planejamento das cidades. (LUCCI, 2001, p.55).
O estudo da Planta objetivou a construção de convenções cartográficas, as
legendas. Por meio dela, mapearam a escola, a rua da escola, a avenida principal
da cidade, o trajeto de casa até a escola, comércios, prédios públicos, postos de
gasolina, dentre outros.
Figura 05: Trabalhando convenções cartográficas. Fotos: Acervo pessoal Maria Inês Egêa Gondolfo (2010).
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Ao concluírem a atividade, apresentou-se uma carta topográfica, cedida pela
Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural do Município
(EMATER), sobre a qual realizaram um trabalho de orientação e localização dos
aspectos físicos de toda a área em estudo, visando à compreensão das formas de
relevo existentes no município que favorecem a rede hidrográfica, formada
principalmente pelos rios: Bandeirantes e Pirapó.
Dando continuidade ao conteúdo relacionado ao relevo, realizaram uma
pesquisa no acervo existente na biblioteca da escola sobre o que vem a ser curva de
nível e como está organizado o relevo do Estado do Paraná.
Foi apresentado aos alunos o mapa da topografia do município, ou seja, um
mapa da representação das altitudes e as formas de relevo de forma detalhada da
região. Destacou-se que de acordo com o mapa, aproximadamente 75% da área do
município apresenta ondulações suaves, enquanto que 20% são bastante onduladas
e apenas 5% considerada a região sudoeste do município, possui uma área mais
acentuada. Essa área na realidade se encontra a 480 metros acima do nível do mar.
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A partir dessa pesquisa exploratória, a topografia do Município de Lobato foi
modelizada em maquete por meio de dez lâminas de vidro, na medida de 20 x 30.
Com base em um mapa da topografia municipal foi assentada a primeira lâmina,
correspondente à curva de nível mais baixa com 60 m, no âmbito do território
estudado. Na segunda lâmina, a segunda curva de nível e, assim, sucessivamente,
até a última curva que se encontra a 480 m acima do nível do mar, lembrando que,
entre uma curva e outra possui um distanciamento de 20 metros. Os alunos
entenderam que quando as linhas estão muito próximas, significa que o terreno é
muito íngreme e quando se encontram muito afastadas a região possui pouco
declive. Ficou fácil entender o relevo do município e o sentido dos rios.
Figura 07: Topografia do Município. Organização: Maria Inês Egêa Gondolfo (2011).
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A atividade desenvolvida facilitou a compreensão do conteúdo, permitindo
que conhecessem as nascentes dos rios e as divisas das “águas”, isto é, as
diferentes localidades, definidas de acordo com a hidrografia que drena a área,
tendo sido mapeadas e reconhecidas 15 dessas localidades.
O engenheiro de topografia Wladimir Babkov, chefiou por longos anos as
equipes técnicas da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, em um
testemunho afirmou:
O batismo das águas encontradas ficava a cargo do Departamento de Topografia, que para a escolha dos nomes aproveitou o dicionário guarani, a relação de acidentes geográficos dos países de onde vinham os imigrantes (Espanha, Portugal, Itália), bem como os nomes de santos, de marcas de cigarro, de quadros de futebol, ou mesmo de namoradas e esposas dos agrimensores. Somente o nome dos rios e ribeirões constantes das escrituras primitivas não foram alterados. (COMPANHIA..., 1975, p.128).
Os alunos ficaram surpresos ao saberem o porquê das “águas” receberam os
nomes pelos quais atualmente são conhecidas. Sendo assim, para que os alunos
tivessem de fato o conhecimento das aguadas do município, um mapa base foi
distribuído a todos para localizarem as nascentes de cada ribeirão. Todo o trabalho
foi feito com o auxílio do Programa Google Earth e a TV Pen Drive (Sistema de
apresentação de imagens via aparelho de televisão). Todas as imagens das águas
foram salvas e trabalhadas detalhadamente; assim os alunos puderam analisá-las e
localizá-las com precisão em seus mapas.
Figura 08: As aguadas do Município. Fotos: Acervo pessoal Maria Inês Egêa Gondolfo (2010).
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Doeswijk; Lupion; Rodrigues (2008) destacaram como foi importante a
colonização dessas águas:
“Lobato nasceu das Águas”. Mas não como uma ilha que emergiu do oceano, e sim que nos acidentes geográficos formados a partir das aguadas constituíram-se pequenos núcleos sociais com sua escola, vendinha, capela e campo de futebol [...] Então as Águas se converteram, de paisagem natural, numa experiência histórica e social. Para as mulheres e homens que começaram a chegar a Lobato a partir de 1948, viver nas águas, significava, não só morar numa geografia e numa estrutura econômica e social “dadas” mas, em primeiro lugar, produzir e reproduzir a sua vida material e simbólica como protagonistas da sua própria história.
A medida que as águas foram sendo analisadas, o uso do solo da região
também foi sendo contemplado. Os alunos, com base em textos e no estudo do
Mapa de Solos do Estado do Paraná, conheceram os três tipos de solos que
compõem o município de Lobato, são eles:
O Latossolo Vermelho Eutrófico, que ocupa a menor área do município,
considerado um solo profundo, com textura argilosa e muito bem drenado; seu
desenvolvimento aconteceu sob a floresta. Nele, o solo armazena água com
facilidade e a fertilidade é considerada alta. Trata-se de um solo rico em nutrientes e
muito resistente aos processos erosivos.
O Latossolo Vermelho Distrófico, que é observado em áreas do município
onde o relevo se apresenta suave a ondulado. Este solo é considerado profundo,
pobre em nutrientes, necessita de correções para torná-lo produtivo, sua fertilidade é
considerada de média a baixa e seu desenvolvimento também se deu sob a floresta.
O Argissolo Vermelho Distrófico localiza-se nos interflúvios, ou seja, uma
área de relevo mais alto entre dois rios; este tipo de solo ocupa uma vasta área da
região. Sua ocorrência envolve áreas em que o relevo apresenta-se de forma suave
a ondulada. Uma área significativa do município onde se encontra esse tipo de solo
é ocupada por grandes extensões de cana-de-açúcar.
Os textos foram sendo apresentados aos alunos e aos poucos revelando que,
no passado, esses solos eram de grande fertilidade sendo cobertos por matas que
abrigavam madeiras de lei.
Nas leituras e conversas com os avós, veio à tona a descoberta de como
eram as condições do tempo no passado, na região. A entrevista permitiu que os
alunos descobrissem que o clima da região é classificado como subtropical úmido
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mesotérmico, ou seja, é um clima caracterizado por apresentar verões quentes,
geadas pouco frequentes e possui certa tendência à concentração das chuvas nos
meses de verão.
Na EMATER do município, fizeram uma pesquisa sobre os dados disponíveis
acerca do índice pluviométrico; observaram a quantidade de chuvas que caem em
um determinado local, em certo período do ano por metro quadrado. Com base nos
dados da tabela, perceberam que no decorrer dos anos, o índice de chuvas não caiu
de forma uniforme, descobriram que houve uma grande variação desse índice entre
os anos de 2000 a 2010.
ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO – LOBATO
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2000 118,0 354,5 130,5 48,0 40,0 67,0 85,0 119,5 207,0 111,0 103,0 155,5
2001 113,5 295,5 133,0 79,0 163,0 98,0 22,0 46,0 113,5 63,0 164,0 267,5
2002 316,0 137,0 80,0 19,0 403,0 0,0 68,5 91,0 140,0 96,0 215,5 106,0
2003 536,0 260,5 129,5 92,0 47,5 54,0 44,0 77,0 142,5 109,0 110,0 290,0
2004 77,0 44,0 119,0 214,0 300,5 110,0 117,5 0,0 65,0 296,5 210,0 132,5
2005 613,0 22,0 101,5 119,0 138,5 134,0 43,5 39,0 234,5 298,0 115,5 85,5
2006 169,0 224,0 221,0 86,5 44,0 28,0 65,5 30,0 173,0 85,5 146,0 249,0
2007 413,0 246,0 121,0 84,0 90,0 12,0 248,0 20,0 0,0 61,5 282,0 280,0
2008 217,0 98,5 191,0 169,0 119,0 32,5 20,0 275,5 109,0 129,0 232,0 79,0
2009 351,0 261,0 31,0 44,0 64,0 140,0 302,0 188,0 288,0 477,0 234,0 275,0
2010 232,0 176,5 110,0 66,0 52,0 0,0 24,0
Tabela 1: Índice Pluviométrico do Município de Lobato. Organização: Maria Inês Egêa Gondolfo (2010).
Os meses em destaque correspondem aos períodos do ano mais chuvosos.
Os alunos perceberam que nas estações, outono e inverno, o índice pluviométrico é
menor.
Uma nova entrevista foi proposta aos alunos. Entrevistaram um técnico da
EMATER, com a finalidade de coletarem informações sobre a vegetação do
município. Na entrevista, o técnico afirmou que a região, no passado, era ocupada
pela Mata Atlântica; infelizmente; na medida em que a área foi sendo ocupada,
sobraram poucas manchas de floresta, já que grande parte foi derrubada com
significativa eliminação da vegetação, para dar espaço aos campos de cultivo e
pastagens existentes atualmente.
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Em relação à vegetação os alunos surpreenderam-se ao descobrirem que o
município possui aproximadamente 5% de remanescente florestal, constituídas por
duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), localizadas nas
Fazendas da Barra e Remanso (dividida em duas subunidades, descontínuas), com
áreas de 588,5 ha e 233,0 ha, respectivamente, totalizando 821,5 há, indicadas no
centro da figura 04.
Figura 09: Foto de satélite das R.P.P.N do município de Lobato. Fonte: Foto de Satélite Obtido pelo programa Google Earth (2009).
Na escola, após o estudo de alguns aspectos físicos do município,
desenvolveram-se os temas relacionados aos aspectos populacionais e econômicos.
Em pesquisa realizada no site do IBGE, na sala do PR Digital, os alunos coletaram
dados sobre a população residente na zona rural e urbana, conforme tabela 2.
População Rural e Urbana do Município de Lobato
1960 1970 1980 1991 2000
Pop. R Pop. U Pop. R Pop. U Pop. R. Pop. U. Pop. R. Pop. U. Pop. R. Pop. U.
Feminina - - 2221 740 785 847 450 1394 334 1646
Masculina - - 2455 762 899 882 485 1433 364 1720
Total 9015 1159 4676 1502 1684 1729 935 2827 698 3366
Tabela 2: População rural e urbana. Fonte: IBGE Censo Demográfico (2000).
Legenda: Pop. R. - População Pop. U. - População Urbana.
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Os dados foram expostos na TV pen drive, onde os alunos concluíram que a
população foi diminuindo entre os anos de 1960 a 1980. Em 1991, a população volta
a crescer em função da expansão do cultivo da lavoura de cana-de-açúcar e
desenvolvimento industrial.
Como a EMATER possui um banco de dados das áreas de cultivo, os alunos
entrevistaram na escola o técnico, para obterem informações e tirarem dúvidas
sobre as áreas cultivadas atualmente no município. Foi relatado aos alunos que
atualmente os canaviais ocupam aproximadamente 36% da área total do município;
a soja ocupa 13% da área total; a pecuária 44,89%; temos 1% de reflorestamento;
5% se encontram ocupado por matas naturais e as RPPNs e o restante 0,11% pela
sede do município e por lavouras permanentes como: laranja, café e amora.
Com base nas informações coletadas e analisadas os alunos concluíram que
o município teve sua ocupação baseada na agricultura. Além disso, constatou-se
que, os sistemas agrícolas foram diversos e que hoje a agricultura é caracterizada
de modo geral como moderna em razão do avanço da ciência e da tecnologia
disponibilizada atualmente; contudo, a agricultura tradicional familiar ainda persiste.
No decorrer das aulas desenvolveram-se conceitos geográficos do município,
conceitos esses que levaram o aluno a compreender o espaço de vivência, visando
subsidiá-los ao estudo das “águas” de Lobato, em especial a Água Araçá.
3 As “Águas” de Lobato – Um estudo de caso
Todo o trabalho desenvolvido durante o projeto, curiosamente, trouxe à tona a
história das aguadas do município. A partir dos anos 1940, a comunidade rural do
município de Lobato passou a viver em comunidades (e localidades) denominadas
“aguadas”. As casas eram construídas em torno dos riachos, ribeirões ou rios nos
quais denominadas por “águas” (ex: água Araçá, água Ibitipoca, água Grajaú, etc.).
O fato ressalta a importância da localização do município, entre os rios Pirapó e
Bandeirantes, sendo fartamente drenado.
Para entender mais sobre a colonização das “águas” de Lobato foram
convidados dois pioneiros da comunidade, os senhores Olírio Xavier Cotrim e Davi
Bronze, para exporem aspectos históricos do desbravamento da região. Eles
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relataram suas histórias, relembrando alguns acontecimentos que vivenciaram
durante suas vidas. Os alunos, durante as entrevistas, fizeram diversos
questionamentos acerca da história de Lobato. Tais como: Como vocês se
comunicavam com outros municípios? Qual era o meio de transporte mais utilizado
entre 1940 e 1950, período de início da colonização? Quem foram as famílias que
construíram as primeiras casas em Lobato? O que a população da zona rural fazia
nos finais de semana? O senhor se lembra das músicas daquela época? Como era
a merenda nas escolas? A alimentação era diferente da alimentação de hoje? Quem
foram os primeiros vereadores do município? Existia farmácia em Lobato? Existia
competição para se jogar bola? Como foi a educação que o senhor deu para seus
filhos? Seus filhos trabalharam na roça quando crianças? Como era a higiene
pessoal em 1950, dentre outros questionamentos.
Figura 10: Olírio e Davi. Foto: Acervo Maria Inês Egêa Gondolfo.
No decorrer das entrevistas e para surpresa dos alunos, descobriram que a
população residente nas “águas”, além do café também cultivava diversos produtos
e animais para o sustento da família. A união dessas comunidades era um ponto
muito marcante, uma vez que se reuniam para rezar terços; dançar nos bailes;
realizavam jogos de futebol; festejar; ouvir rádio, dentre outras atividades.
Nas entrevistas, os pioneiros afirmaram que havia diversas famílias
residentes nas aguadas de Lobato, principalmente na Água Araçá. Porém, dados
estatísticos do censo demográfico de 2000 do IBGE indicam que atualmente são
poucas as famílias residentes nessas águas.
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Foram apresentadas imagens aos alunos das águas do município através da
TV pen drive. Com base na análise dessas imagens, acharam que uma das águas
de grande importância para o município atualmente é a Água Araçá.
Segundo Palhares, técnico da EMATER:
O ribeirão Araçá recebeu este nome logo no início da colonização do município por suas margens apresentarem um incrível número de araçazeiros, planta essa, de fruto semelhante ao da goiaba, por ser um pouco mais ácido. Encontrado no Brasil em estado silvestre. Prefere solos secos e não é exigente quanto ao clima, resistindo a geadas. Propaga-se por sementes e enxertia, frutifica de janeiro a maio. Porém, por ações antrópicas, atualmente quase não a encontramos mais. (PALHARES, 2006, p.12).
Durante uma aula de campo, os alunos conheceram a nascente do Ribeirão
Araçá, constataram que a ausência de mata ciliar é preocupante, conforme podemos
observar na figura 11.
Figura 11: Nascente do Ribeirão Araçá. Foto: Acervo pessoal de Pascoal Aparecido Palhares
E, em sala de aula, com base nos dados coletados na visita e nas imagens da
Água Araçá apresentadas na TV Pen drive, entenderam que atualmente os maiores
problemas estão concentrados na região do médio Araçá, de acordo com a figura 7.
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Figura 12: Ribeirão Araçá Fonte: Plano Diretor (LOBATO, 2006).
Na região do médio Araçá, observaram maior proporção de desmatamento de
suas margens e, também, o despejo de efluentes industriais da indústria de Leite
Líder que, embora seja tratado, seguindo todas as normas e leis de tratamento, não
deixa de ser uma ação que acaba prejudicando a fauna e a flora e que, por muitas
vezes, causa a extinção de plantas e animais.
Em análise, os alunos citaram a farinheira, o matadouro e as lagoas de
tratamento de esgoto municipal, que também se utilizam do ribeirão do Araçá como
forma de eliminação de seus efluentes. E, também, que o município possui dois
postos de combustíveis e duas oficinas, que acabam se utilizando das galerias de
redes pluviais para eliminar a água utilizada em lavagens de carros e pátios que são
despejadas nesse rio, o que se torna mais preocupante, uma vez que as águas
pluviais ao serem levadas até seu curso contém substâncias poluentes como óleos,
participando ativamente no aumento da poluição.
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Além disso, ficou evidente a preocupação com relação aos resíduos que as
galerias pluviais recebem diariamente; uma vez que, segundo os próprios alunos,
muitos munícipes varrem suas calçadas e jogam o lixo nas galerias.
Após as discussões realizadas em sala de aula, a conclusão é que a atividade
de orientação do que é correto fazer em termos de educação ambiental terá início na
escola, partindo dos próprios alunos; a seguir, as ações se estenderão às
residências dos mesmos aos vizinhos deles, e por fim aos bairros, como um todo.
Enfim, há necessidade urgente de recuperar a área em estudo. Para tanto, a
escola desenvolverá um trabalho a ser proposto ao Departamento do Meio Ambiente
e EMATER de diagnóstico e avaliação dos problemas relevantes da região, para
promoção de ações voltadas ao planejamento ambiental da área.
4 Conclusão
A realização desse trabalho só foi possível devido ao incentivo da Secretaria
de Estado e Educação do Paraná, por meio do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE). O trabalho desenvolvido aproximou a escola da Universidade
com a orientação e dedicação dos professores das Instituições de Ensino Superior
(IES). Esse contato ocasionou mudanças significativas na prática pedagógica, já que
propiciou troca de experiências entre os professores e auxiliou na construção de
novas metodologias no processo de ensino e da aprendizagem.
O material produzido com a orientação dos professores das IES, quando
colocado em prática em sala de aula, despertou a curiosidade nos alunos gerando
motivação e dando significado à aprendizagem, tornando-os mais autônomos,
facilitando a compreensão e o interesse pelas aulas de Geografia.
É interessante salientar que durante a implementação na escola do material
pedagógico produzido, os professores que participaram do Grupo de Trabalho em
Rede (GTR), analisaram a proposta e a possibilidade de aplicação do mesmo. Os
professores trouxeram subsídios para enriquecer o material a ser trabalhado com os
alunos. Essa socialização entre os colegas da área via Educação a Distância, trouxe
uma grande contribuição para minha prática pedagógica. Com as trocas de
informações e experiências de professores que participaram do GTR, conclui-se que
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uma metodologia diferenciada com os alunos se faz necessária, pois os motiva.
Mas, para que o material seja preparado necessita-se de tempo para planejar todo o
conteúdo, visto que o professor está elaborando seu próprio material pedagógico e
na medida em que o prepara, deverá ter conhecimento de como funciona todos os
recursos tecnológicos que atualmente estão disponíveis no ambiente escolar. Mas, o
mais importante é o bom planejamento que leva a uma articulação entre os
conteúdos apresentados e a capacidade de interpretação dos alunos.
No decorrer do trabalho em sala de aula e nos dias de campo, os alunos
foram investigando e descobrindo seu espaço de vivência através de visitas,
pesquisas, entrevistas, leituras de textos diversos. Eles compreenderam que o
município está em constante transformação e, em especial, como são importantes
no âmbito do município de Lobato, na medida em que o futuro do município
dependerá da ação cidadã de cada um, para conduzir e dar continuidade nesta
história. Os trabalhos de pesquisa de campo demonstraram que é preciso repensar
nossa maneira tradicional de ensino. Houve participação, cooperação e
envolvimento em relação aos conteúdos desenvolvidos. Eles foram à busca de
informações, questionaram e debateram sobre a necessidade de preservação dos
habitats naturais do município, tornando cada um deles, disseminadores do que
aprenderam durante as aulas.
Um exemplo foi os problemas que os alunos detectaram no município a
respeito da poluição que chega até o ribeirão do Araçá. Dialogaram sobre as
medidas que a curto ou longo prazo viessem amenizar o problema, chegaram à
conclusão de que começariam um processo de orientação partindo de suas
residências, com suas famílias, atingindo toda a população do município.
Este projeto terá continuidade nos próximos anos. O mesmo será enriquecido
com atividades práticas nas quais os alunos poderão desempenhar seu papel de
forma mais ativa, observadora e participativa no processo da aprendizagem. É papel
do professor, possibilitar ao aluno a sistematização do conhecimento, partindo do
senso comum para o cientificamente produzido.
Enfim, todo material elaborado e sua aplicação em sala de aula enriqueceu e
contribuiu nossa prática pedagógica. O resultado do trabalho se encontra na
biblioteca da escola e esperamos que sirva de subsídio para que outros educadores
o utilizem em suas aulas; incentivando os colegas a buscarem uma forma de
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produzir material didático organizando, assim, sua prática em sala de aula e
proporcionando também fonte de pesquisa para a comunidade em geral.
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Referências
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