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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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CadernoPedagógico

CadernoPedagógico

LEITURA NA ESCOLA: COMPROMISSO DE TODOS!

MARIA DE FÁTIMA ABREU

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

MARIA DE FÁTIMA ABREU

CADERNO PEDAGÓGICO

LEITURA NA ESCOLA: COMPROMISSO DE TODOS

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IDENTIFICAÇÃO

Professora Responsável

MARIA DE FÁTIMA ABREU

Professora orientadora:

Prof.ª JAQUELINE COSTA SANCHES VIGNOLI

Instituição Participante:

FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAGUÁ - FAFIPAR

Área do PDE:

Língua Portuguesa

NRE:

Curitiba

Escola de origem:

Colégio Estadual Professor José Guimarães

Público alvo:

Professores

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SUMÁRIO

Sumário

Apresentação

Introdução

Fundamentação Teórica

OFICINAS

Oficina I: O que é ler; O ato de ler e o conhecimento prévio

Oficina II: Leituras compartilhadas

Oficina III: Leitura: Da solidão à transformação

Oficina IV: Leitura interdisciplinar e os gêneros textuais

Oficina V: O Professor & a educação

Referências

Anexos

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APRESENTAÇÃO

“Não é por veredas planas

que se sobe às alturas.”

(Sêneca)

A Secretaria de Estado da Educação, em parceria com a Secretaria de Estado da Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior, instituiu o Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, como uma

política educacional inovadora de Formação Continuada das professoras e professores da rede pública

estadual.

O PDE propõe um conjunto de atividades organicamente articuladas, definidas a partir das

necessidades da Educação Básica, e que busca no Ensino Superior a contribuição solidária e

compatível com o nível de qualidade desejado para a educação pública no Estado do Paraná.

O objetivo é proporcionar aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-

metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e que resultem em

redimensionamento de sua prática.”

Dentro deste projeto inovador apresenta-se este caderno pedagógico aqui proposto como

Produção Didático Pedagógica com a finalidade de dar suporte ao professor PDE na implementação de

seu projeto no Colégio em que está vinculado.

Nota-se hoje, uma preocupação geral com a leitura. Porém, na escola esta preocupação e a

preocupação com a ação é mais comum nos professores de Língua que se sentem solitários nesta tarefa

de trabalhar com a Leitura. Esta é a razão deste trabalho: Propor reflexões sobre a Leitura

interdisciplinar. “Leitura na Escola: Compromisso de Todos.”

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Este projeto tem como objetivo fazer um trabalho de reflexão com os professores do Colégio

Estadual Professor José Guimarães através de oficinas de estudos e de reflexões sobre o papel e a

prática da leitura na escola.

Quando toda a comunidade escolar entender a urgência de mudanças no ensino/aprendizagem

e derem maior importância ao trabalho com a leitura, será possível sonhar com uma transformação que

poderá ser expressa em atitudes concretas no interior da Escola, para que ela alcance um

desenvolvimento mais humano e ao mesmo tempo mais crítico.

De alguma forma a Escola, para dar conta desta meta, precisa cativar e oportunizar a

comunidade escolar à adoção de nova postura diante dos diversos textos que circulam na sociedade, à

assimilação de novos valores subjacentes às leituras diversas e, principalmente à tomada de atitudes

novas em relação à prática da leitura que a escola entende agora como forma de interação de um sujeito

com o mundo que o cerca, entendendo sua importância, inclusive, para a compreensão dos conteúdos

escolares relacionando-os com a realidade em que vive, podendo assim, interferir nela.

O mais importante, porém, é o entendimento de que a leitura pode ser a ponte que vai estreitar

os laços ou promover o encontro e o reencontro dos saberes necessários ao desenvolvimento pleno do

educando de uma forma mais real e contextualizada, preparando-o para o pleno exercício da cidadania.

Portanto, a leitura deve ser muito mais do que pretexto para o ensino gramatical e de

interpretação textual, ou como é comum acontecer nas demais disciplinas, como suporte para provas e

avaliações. Ela, na verdade, representa uma rica oportunidade para qualquer professor explorar

diferentes pontos de vista, considerando a especificidade de cada disciplina, o posicionamento crítico

dos alunos diante dos conflitos inclusive os seus próprios.

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Este entendimento sobre a importância do trabalho com a leitura e a ação positiva na forma de

propostas sempre atuais com debates e discussões, pode fazer toda a diferença no desenvolvimento do

aluno, na medida em que ele desenvolve discurso próprio e se posiciona diante de situações

importantes que se lhe apresentam.

Contudo, apesar da inegável necessidade de se trabalhar a leitura, todo projeto que surge no

interior de nossas escolas ainda enfrenta resistência de ordem diversa e esbarra na concepção

ultrapassada de que o incentivo à leitura “é trabalho para o Professor de Língua e Literatura.” Diante

disso, torna-se necessário, então, um trabalho de mobilização sobre a importância do envolvimento

coletivo com as práticas da Leitura, da Oralidade e da Escrita em todas as disciplinas.

Dessa maneira, o trabalho com a Leitura deve ser entendido como compromisso primeiro da

Escola, na pessoa do diretor, e de todos os profissionais envolvidos no processo ensino/aprendizagem,

e não apenas do professor de Português, uma vez que, quanto mais o aluno expande seus

conhecimentos e sua visão de mundo, tanto mais ele entende todo o universo escolar com suas

exigências, disciplinas e múltiplas linguagens.

O propósito de construir um ambiente escolar democrático com perspectivas interdisciplinares

facilitando a participação e a aprendizagem dos educandos, principalmente em relação à oralidade,

leitura e escrita pode ser o início da concretização do sonho de realmente formar cidadãos leitores e

críticos.

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3 - INTRODUÇÃO

A leitura é para o intelecto

o que o exercício é para o corpo”.

(Joseph Addison)

Os índices negativos de leitura no nosso país, veiculados pela mídia a partir de exames como

ENEM, SAEB, PISA e outros, levam-nos a refletirmos sobre a educação e, principalmente, sobre o

trabalho com a leitura desenvolvido hoje na escola, na tentativa de buscar caminhos para superação

desta problemática.

Logo, a divulgação à sociedade sobre a importância da leitura no desenvolvimento dos

indivíduos, através de campanhas e informativos, a propagação de boas práticas para a formação de

leitores e a articulação de todos os profissionais da Escola num trabalho interdisciplinar podem

contribuir para melhorar as atuais estatísticas, tão negativas, sobre a situação da leitura no Brasil.

Ciente de sua obrigação quanto à leitura, a Escola deve ter seus projetos sempre em

reconstrução com discussões periódicas visando ações continuadas e sustentáveis e principalmente

antenadas com as pesquisas e produções acadêmicas que forem surgindo numa tentativa de se manter

dentro de seu tempo e promovendo o desenvolvimento pleno de seus educandos.

Uma vez que, todos utilizam a leitura e a escrita em suas áreas, este trabalho precisa planejado e

discutido por todos os profissionais da Escola com acompanhamento da equipe pedagógica para ter a

desejada eficácia.

Este caderno pedagógico será uma pequena contribuição em resposta às inquietações dos

professores de Português e, pretende oferecer algumas reflexões, oportunizar aos educadores das

diversas áreas revisarem conceitos e procedimentos metodológicos visando melhorar a produção e

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seleção de práticas de leitura que venham a contribuir com a formação de leitores e com o pleno

desenvolvimento do educando.

Espera-se ainda, despertar o interesse particular do professor em leitura para que enquanto

leitor possa criar caminhos cada vez mais eficientes na formação de leitores maduros e, principalmente,

cidadãos mais críticos. Homens e mulheres sintonizados com a sociedade da qual fazem parte e

conscientes de seu papel de cidadão também responsável por esta sociedade.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A LEITURA NA ESCOLA

"A leitura não é uma

atividade elitizada,

mas uma ferramenta

de transformação social

dos indivíduos”.

(Julian Correa)

As instituições de ensino há muito vêm se preocupando com a questão da leitura em nosso país.

Quer pelos resultados negativos dos exames existentes e amplamente divulgados pela mídia, quer pela

necessidade de desenvolver estudos e métodos que venham a auxiliar os profissionais envolvidos no

processo de ensino/aprendizagem da leitura.

Concorrem para esta conclusão os inúmeros trabalhos e teses sobre o assunto, colocados à

disposição por inúmeras instituições de ensino superior de renome e divulgados em revistas

especializadas, na internet e pela mídia em geral.Também pela quantidade de novos títulos sobre este

tema disponíveis nas livrarias a cada ano, a relevância de pesquisas sobre leitura é reiterada.

Porém, estes estudos e questionamentos não ganharam muito terreno ainda no interior das

escolas de ensino básico, pois a formação continuada para professores surgiu há bem pouco tempo,

assim como também, há pouco tempo passou a ser considerada como a estratégia fundamental para a

reflexão, construção de conhecimentos e teorias sobre a prática docente, visando ao desenvolvimento

do ensino. Daí a ganhar a atenção e posterior opção política dos governantes é um considerável

caminho.

Importante considerar também que esta preocupação com a formação continuada dos

professores nasceu do descompasso entre a formação acadêmica do profissional e a realidade de sala

de aula, passando igualmente pelas exigências do mundo moderno e suas tecnologias que se

transformam continuamente.

No interior das escolas, a leitura sempre foi uma questão muito discutida, porém, passa o tempo

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e quase sempre é a mesma avaliação em relação ao desempenho linguístico dos jovens: não sabem

falar, escrever, nem interpretar. O vocabulário é pobre e são desmotivados, desinteressados, não

sabem se expressar, diz a voz do senso comum escolar. Quanto a esta questão, Geraldi nos diz que:

Ocupa lugar privilegiado o baixo nível de desempenho linguístico demonstrado por

estudantes na utilização da língua, quer na modalidade oral ou escrita. (GERALDI, 2006, p. 39)

Apesar de tais opiniões representarem, na maioria das vezes, opiniões de senso comum, a

escola deve reconhecer seu fracasso na luta por tentar corrigir este problema gravíssimo da

incompetência no ensino da Língua. Assim como, os profissionais envolvidos no processo

ensino/aprendizagem devem repensar suas práticas.

No entanto, devemos analisar igualmente, os principais instrumentos usados para estas

análises desmotivadoras. Entre eles, os resultados dos exames, vestibulares e também as “pérolas”

levantadas posteriormente nestas avaliações, como críticas mordaz ao sistema educacional vigente,

fortemente explorado pela mídia, com objetivos, muitas vezes escusos.

Contudo, esta precariedade anunciada não leva em conta o contexto histórico. A

democratização e a expansão do acesso à escola, com todas as suas implicações dentro do sistema,

trouxeram uma clientela diversificada, com diferenças dialetais e sociais muito grandes. Isto é, a

complexa diversidade humana dentro de um espaço não planejado para tal. Faltam profissionais que

fariam a diferença neste contexto como, por exemplo, psicólogos e, principalmente bibliotecários.

Muitas vezes, algumas tentativas de atividades mais progressistas da escola, por mais que

sejam interessantes, não dão conta de reverter este quadro. A escola cai numa roda viva onde ela nunca

dá conta de tudo e nem encontra tempo para discutir suas práticas. As exigências burocráticas e toda a

“rotina escolar” criam um processo alienante em que o mais importante - o pensar e reconstruir da

própria prática, tendo o educando e o que se quer da sociedade como foco - fica de fora. Não há tempo.

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No decorrer dos anos, esta triste situação transforma as ações dos docentes numa espécie

roteiro. O tempo passa, os alunos são outros, mas as práticas são as mesmas. Quanto a esta questão

Silva afirma que:

Passo de ganso é o retrato típico do ensino da leitura em nossas escolas. É o movimento

mecanizado e sincronizado, executado da mesma maneira de ano para ano e, quase sempre,

teatralizado nos palcos da mentira, em que os atores apenas fingem que lêem para contentar a

instituição. (SILVA, 2005, p. 11)

Visto que, as principais atividades de leitura desenvolvidas nas escolas são: a imitação, a

contemplação passiva, a cópia, o recolhimento na solidão, a ficha padronizada, as respostas ao

questionário, o teste de verificação, ler para memorização de regras gramaticais ou conteúdos

superficiais e para reprodução ao professor; a realidade não poderia ser diferente.

De acordo com Silva, poderia ser muito mais significante: “ler para enxergar melhor o mundo,

para compreender melhor a sociedade e para nos compreendermos criticamente dentro dela e,

também para descobrir os porquês dos diferentes aspectos da vida” (SILVA, 2005, p. 13), e não

transformar a leitura numa rotina cansativa, com os mesmos procedimentos ano a ano.

A priori, deve-se considerar a leitura como um processo dinâmico na produção de sentidos

enquanto interação entre leitor e diferentes tipos de texto. A escola deve se preocupar em elaborar

programas que resultem na transformação e emancipação do leitor. Propor leituras que explorem e

expressem a realidade, tendo como fundamento o diálogo entre professor e aluno e como horizonte os

vários campos da cultura e conhecimento. Assim, de acordo com Paulo Freire:

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em

que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora

ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser

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pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque

capaz de amar. (FREIRE, P. 2000, p.46)

Portanto, é imprescindível a construção em sala de aula de um ambiente de diálogo, de criação e

recriação, em que a leitura e as atividades de, falar, discutir, debater, contar, ouvir, falar, se posicionar e

escrever se complementem de forma natural. A disposição para ensinar e aprender com os outros,

constitui-se em um fator indispensável ao desenvolvimento do diálogo pedagógico nas salas de aula.

Este diálogo pedagógico compreende amor à profissão e ao ser humano, humildade, fé, esperança de

um futuro melhor, criticidade e, principalmente, compromisso ético.

Por isso, apesar das dificuldades que permeiam o contexto escolar, sempre é possível buscar sua

transformação. Geraldi nos diz que é:

No interior das contradições que se presentificam na prática efetiva de sala de aula,

poderemos buscar um espaço de atuação profissional em que se delineie um fazer agora, na escola

que temos alguma coisa que nos aproxime da escola que queremos, mas que depende de

determinantes externos aos limites da ação da e na própria escola. (Geraldi, 2006, p.40)

Este espaço de atuação profissional pode ser conquistado em parceria com a própria escola,

quando possível, e principalmente dentro da sala de aula: opção do professor. Mas pode acontecer de

forma mais significativa se toda a comunidade escolar discutir e revir suas práticas, seus dogmas.

E não há espaço mais apropriado para criação de dogmas e discursos vazios do que a escola:

“Antigamente é que era bom...”, “os alunos de hoje...”, “os alunos não lêem!”, “tem que ler”, “tem que

escrever”, “aula de leitura é problema de Língua Portuguesa”, e por aí vão inúmeros exemplos.

Mas antigamente era outro o contexto. Os alunos de hoje vivem numa outra realidade

marcadamente diferente, cercados por tecnologias e sintonizados com o mundo todo. Não leem o que

os professores querem e mandam, mas leem o que lhes interessa. As revistas para adolescentes nunca

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venderam tanto. São muitos os “sites” e “blogs” juvenis visitados diariamente por jovens do mundo

inteiro.

Porém, os discursos continuam os mesmos. E a leitura é cada vez mais objeto de preocupações

docentes e discentes e de toda a comunidade escolar! É preciso ler! Os vestibulares. As provas

avaliativas. O Enem.

Segundo Pennac (2008), “É preciso ler!”. Todos concordam. Unanimidade! O ato de ler se

transformou em um dogma. Algo sagrado. É inadmissível alguém não gostar e não ler. Esta

obrigatoriedade por si mesma não faz sentido para o estudante.

Contudo, Pennac (2008) afirma que “o verbo ler não suporta imperativo”. E avaliação então, é

totalmente desaconselhável! A leitura e a compreensão de textos têm natureza subjetiva, pois

envolvem dimensões culturais e sociais.

Portanto, transformada em uma ação rotineira e, muitas vezes, com fim em si mesma, a leitura

apresenta-se ao aluno como atividade sem sentido e muito chata, o que provoca o comportamento de

alienação tão comum nos dias de hoje. A maioria das atividades de leitura realizadas é cobrada

mediante resumos, relatórios, preenchimento de fichas, o que torna a prática da leitura uma atividade

desgastante e entediante. Sobre este assunto Silva nos fala que:

Ao ser institucionalizada, passando de responsabilidade da escola, o ensino da leitura perdeu

sua naturalidade, caiu na esfera dos reducionismos e, de certo modo, transformou-se numa estafante

rotina. Não mais se lê para melhor compreender a vida, para cumprir os artificialismos e pretextos

impostos pela escola. (SILVA, 2005, p. 22)

Assim, a escola se organiza para cobrar: do professor, do aluno e até dos pais. O professor se

organiza para cobrar do aluno. E os adolescentes, com tantas escolhas e diante do dogma escolar, se

sentem perdidos, com “receios”. De não entender, de não gostar, de responder errado, de decepcionar,

de não conseguir nota, do diagnóstico de preguiçoso, entre outros.

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De acordo com Pennac (2008), “os professores teriam muito a ganhar caso retornassem à coisa -

mesma, refletindo sobre sua história de leitura, despojando-se dos entraves burocráticos

institucionais, questionando os atuais objetivos do ensino”. Refletindo sobre a situação da leitura com

criticidade, o professor pode ser uma peça importante neste contexto de mudança.

Diante de tudo isso, a leitura deve fazer parte dos programas de todas as disciplinas de forma

bem planejada e natural. Cada professor deve fazer sua opção e se utilizar dela, de forma criativa, no seu

trabalho. Porém, segundo Silva (2005), “algumas reflexões recentes apontam para o fato de que o

professor lê muito menos do que os alunos.”

Segundo Silva (1998: p. 22), "sem professores que leiam, que gostem de livros, que sintam

prazer na leitura, muito dificilmente modificaremos a paisagem atual da leitura escolar".

Portanto, o professor deve ser um leitor, precisa ler, até mesmo para demonstrar convicção no

que diz. Passar segurança e demonstrar conhecimento de causa. O professor foi, é e sempre será um

exemplo para seus alunos. Quer um aluno leitor? Tem que ser um professor leitor! Deve mostrar o

prazer de escolher um bom texto, falar dele com emoção.

Segundo Alves, “quem não lê é cego. Só vê o que os olhos vêem. Quem lê, ao contrário, tem

muitos milhares de olhos: todos os olhos daqueles que escreveram”. (ALVES, 2005, p. 62)

Assim, a leitura representa novas experiências para o aluno e para o professor. Quanto mais se

lê, mais se conhece de si e do mundo. Melhora gradativamente a percepção deste e das relações

humanas. É um contínuo aprendizado social. A falta de leitura, por parte do professor de língua, o faz

reproduzir mecanicamente as mesmas indicações e práticas ano após ano, às vezes à custa de

autoritarismos, contribuindo para a estagnação da escola.

Contudo, “Ensinar exige comprometimento” nos diz Paulo Freire (2005), e ainda “não é possível

exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco”. O educador se envolve com o que

faz e mostra sua maneira de ser, de pensar politicamente. E de acordo com todo este contexto ele

estabelece diálogos com os textos, fazendo articulações com o mundo real, com a sociedade, a qual

também faz parte e tem o compromisso de ajudar na transformação.

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Desse modo, todo programa educacional, que tenha como foco o sujeito e a sociedade ideal,

deve entender que a aprendizagem verdadeira é a que se preocupa com a formação de seres humanos

éticos, íntegros, livres de medos e preconceitos e solidários. Prepara os jovens para a vida e não apenas

para ganhar a vida. O profissional da educação não pode ser conformista e acomodado. Deve se

conscientizar de que o objetivo primeiro da ação educativa, é a transformação da relação cidadão-

sociedade. Sobre isso Paulo Freire nos diz que:

A educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento

dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da

ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. (FREIRE, 2000, P. 110)

O professor não pode se limitar a reprodução de ideologias perante seus alunos; ele precisa se

livrar de velhos dogmas que ainda norteiam a vida profissional de muitos professores: a educação não

se concretiza com medos e punições, mas, com coragem e liberdade de expressão, contribuindo para

que o seu aluno desenvolva-se criticamente.

A escola e o professor devem considerar também o potencial humanizador da leitura literária,

das obras de arte, assim como todas as possibilidades de desenvolvimento gradativo da visão crítica e

estética, por isso deve estudar critérios antes da escolha de obras e textos que apresentam aos alunos.

Dessa forma, em se tratando de Língua Portuguesa, não basta exigir leitura. O professor tem que

demonstrar que gosta dos livros. Oferecer o que sabe. Há que se mostrar os livros. Contar as histórias, os

poemas, ler junto. Entrar no mundo das histórias. Despertar a vontade de ler. É fato que nossas vidas são

ilustradas por histórias vividas ou ouvidas. Elas falam de anseios, desafios, amores, família, vitórias,

derrotas e conquistas, assim como a vida.

Toda narrativa nova é também uma experiência nova para o aluno. Abramovich afirma que:

É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos

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de agir e de ser, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política,

Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula...Porque,

se tiver, deixa de ser literatura, deixar de ser prazer e passa a ser Didática, que é outro departamento

(não tão preocupado em abrir as portas da compreensão do mundo). (ABRAMOVICH, F.1991, P.17)

Logo, o amor pelos livros e a vontade de ler não aparecem de repente. É necessário ajudar os

estudantes a descobrirem o que os livros e os textos podem lhes oferecer. De uma forma poética Silva

afirma que:

“diante de um texto, instigante, que fale às suas expectativas e aos seus problemas reais, a

criança se embala e se embola de maneira natural, sem a necessidade de tecnicismos pretensamente

motivadores.” (SILVA, 2005, p.23)

Contudo, tomando o devido cuidado de não cair na tentação das fichas de leitura ou avaliações

específicas, segundo Pennac (2008) “estética da ruína”. Assim, para reconciliar o aluno com a leitura e a

escrita deve-se promover o encontro dele com o texto. Por isso, este mesmo autor diz que o professor é

apenas, neste caso, “casamenteiro, quando chegar a hora deve sair de mansinho”.

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OFICINAS

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O ato de ler e o conhecimento

prévio.

“Conhece-se o coração

do homem pelo que

ele faz

e sua sabedoria

pelo que ele diz.”

Ali Bem Abi Taleb

(pensador árabe)

Objetivos

Refletir sobre a natureza e a importância da leitura.

Conhecer mais sobre o conhecimento prévio e a leitura.

Compreender as possibilidades de sentido que a leitura.

intertextual possibilita.

Construir definições para o ato de ler.

Material

Sulfites.

Canetas, lápis, borracha.

Giz-de-cera, lápis de cor.

Cartolina.

Computador

Oficina – 1

O QUE É LER?

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Metodologia

Ler o poema de abertura... “Tecendo a Manhã”, de João Cabral de Melo Neto.

Pedir para lerem o poema e relacioná-lo ao trabalho docente.

Discorrer sobre a importância de trabalhar junto e a importância da leitura como um elo entre as

disciplinas.

Distribuir alguns fragmentos de textos que exigem conhecimento prévio. Pedir para lerem e

falarem o que entenderam. Levá-los a perceber que falta alguma coisa e em seguida expor as

informações necessárias à compreensão dos fragmentos lidos.

Com base na experiência anterior cada um deverá construir uma definição para leitura ou um

benefício da leitura na sua disciplina.

Montar um painel com as definições e comentar algumas.

Apresentar um slide com o poema: “E o que é ler? José Marcel (barqueiro Cubano). Discutir a

questão da leitura. Apresentar também algumas frases de autores famosos sobre leitura. (anexo)

Apresentar alguns benefícios mais diretos da leitura.

Propor rápida discussão sobre o tema saudade, o vazio, fuga da realidade. O que é e quando

sentimos saudades?

Distribuir alguns fragmentos de textos - paródias e paráfrases da Canção do Exílio de Gonçalves

Dias – para estudo sobre seus contextos, intertextualidade, inferências, dialogismos... (anexo)

Trocando ideias...

Por que os alunos têm dificuldades em ler?

Que estratégias mais comuns os professores usam para trabalhar a leitura?

Quais professores têm hábito de leitura?

Que tipo de livro cada um lê mais?

http://www.consciencia.net/2006/0117-melo-neto.html

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Quantos livros cada um lê em um ano? Citar o atual?

O QUE A TEORIA DIZ?

Ensinar a ler e a escrever são obrigações da escola e vai muito além do domínio do código

escrito. A escola é um lugar privilegiado para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Smith (1999)

afirma que a leitura é a associação do que está atrás dos olhos com o que está à frente dos olhos. Na

leitura não se processa apenas informação visual, mas também informação não visual.

Por isso, a leitura é uma habilidade que envolve um processo complexo e que ao contrário do

que se pensa é muito mais do que decodificar palavras de um texto, mas, sobretudo compreender o

sentido do mesmo. Por isso, Smith nos aponta que:

A sala de aula deve ser o lugar onde ocorrem as atividades de leitura (e escrita) significativas e úteis,

onde é possível a participação sem coerção ou avaliação e onde sempre haja disponibilidade de

colaboração... As crianças precisam encontrar sentido na leitura. (SMITH, 1999, p.127)

Apenas decodificar e não encontrar sentido não é leitura. Porém, a leitura é uma atividade que

acontece antes mesmo de iniciar propriamente a leitura de um texto, por meio da expectativa, da

antecipação realizada através do conhecimento prévio e exige do leitor uma atitude reflexiva, a qual lhe

favorece compreender e explicar as coisas.

Logo, o conhecimento prévio é o nosso repertório, os nossos conhecimentos adquiridos, que

fazem parte de nossa memória e inteligência, utilizadas quando necessários, na leitura. O

conhecimento linguístico é o conhecimento prévio de leitura, é o falar uma língua desde a infância, é o

conhecimento de uso da língua nativa que cada indivíduo tem.

Smith (1999) entende que a leitura implica a utilização de duas espécies de informação: a

informação visual (recolhida através dos olhos) e a informação não visual (que está disponível na

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memória do leitor).

Cada professor precisa conhecer um pouco a natureza da leitura, e usar de diferentes

estratégias de leitura para conseguir em sua área promover a leitura como suporte, categoria fundante

para o ensino dos conteúdos, proporcionando aos alunos condições de se desenvolverem de forma

reflexiva, autônoma e permanente; desenvolvendo competências para uma melhor compreensão da

realidade.

Kleiman nos aponta a leitura como um processo interativo uma vez que o leitor utiliza os

diferentes níveis de conhecimentos para que ocorra esta interação. ”Pode-se dizer com segurança que

sem o engajamento do conhecimento prévio não há compreensão.” (Kleiman 2009, p. 13).

Por isso trabalhar a compreensão de um texto, mais do que uma ação no plano cognitivo, é

“ensinar” uma relação social que se estabelece na interação entre o autor e o leitor. Essa interação faz-

se na medida em que a construção do sentido do texto não é, apenas, tarefa do autor, uma vez que leitor

e autor dividem essa responsabilidade. Kleiman ressalta que:

Ler envolve mais do que compreender_ a leitura é prazer para os sentidos e abstração do

mundo dos sentidos, é experiência única e individual e evento social e coletivo; fazem parte dela tanto

o entendido como os mal entendidos. (KLEIMAN, 2009, p. 9).

Portanto, a compreensão de um texto envolve um conhecimento de mundo, o conhecimento

prévio, que possibilita a construção de hipóteses, uma previsão. Smith (1999) afirma que os leitores

devem dar significado – estrutura profunda – ao que eles lêem, empregando seu conhecimento prévio

do assunto e da linguagem do texto. Ou seja, o leitor é a parte mais importante do processo, pois aplica

seus conhecimentos ao que lê e assim busca compreender o que está escrito.

Segundo este mesmo autor, a compreensão depende da previsão. O que já temos em nossa

mente é a nossa base para encontrar sentido no mundo e aprender mais sobre ele. A leitura é

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antecipatória porque nossos objetivos definem nossas expectativas, já que dificilmente nos

surpreendemos por aquilo que lemos.

Para Kleiman (2009), durante a leitura o conhecimento prévio é importante para a realização

das inferências, que, para a autora, são o que a pessoa realmente assimila e agrega à sua memória.

Também importante para o estudo do conhecimento prévio em leitura é a noção de esquema,

desenvolvida pela referida autora. Segundo ela:

O conhecimento parcial, estruturado que temos na memória sobre assuntos, situações,

eventos típicos de nossa cultura é chamado de esquema. O esquema determina em grande parte, as

nossas expectativas sobre a ordem natural das coisas. Se pensarmos um instante no que esperamos

encontrar ao abrir uma porta de emergência, veremos que a nossa expectativa é a de encontrar uma

saída e não um muro ou outro obstáculo bloqueando a saída. (KLEIMAN, 2009, p.23)

Então, este conhecimento de mundo nada mais é do que o acúmulo de experiências na vida

social, adquiridos formal e informalmente mais o conjunto de experiências adquiridas a partir do

contato com diferentes gêneros textuais. Por isso o conhecimento é importante na atribuição de

sentido ao mundo, aos textos e às atividades escolares. Kleiman afirma que:

O leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É

mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual,

o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. (KLEIMAN, 2009, p.13).

Por isso, a exposição dos alunos a todo tipo de texto será determinante para a formulação de

suas expectativas e hipóteses em relação aos textos e para a construção do próprio conhecimento o que

facilitará sua compreensão na leitura de qualquer gênero textual.

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Assim, aprendemos a ler a realidade em nosso cotidiano social e aprendemos também a ser

lidos. O sentido das relações e práticas instaladas no cotidiano escolar é importante para a formação de

cidadãos autônomos, responsáveis, solidários e criativos. Se quisermos uma sociedade melhor do que

a que aí está, não devemos perpetuar práticas que a legitimam, como desigualdades e estratificação

social. Devemos ter claro qual é o objetivo do nosso trabalho. A quem queremos atender.

Logo, pensar na prática de leitura e escrita desenvolvidas e a desenvolver é construir e

reconstruir metodologias dentro de um contexto escolar mais democrático e humano, até superando

certos limites pedagógicos. É importante perceber no aluno o ser humano na sua essência,

contribuindo para o seu desenvolvimento completo, não só para superação de etapas na sua vida. Silva

chama de:

Redescoberta da pessoa do aluno, pessoa com dificuldades, problemas, aspirações,

sentimentos, paixões, valores e potenciais específicos. Pessoa que, devido a uma multiplicidade de

estacas opressoras, o professor parece ter deixado de enxergar objetivamente. Uma leitura amorosa

e solidaria da pessoa do aluno deve ser feita para tirá-lo da condição de simples número da tripinha

de notas dos diários de classe ou de máquinas de Xerox das lições padronizadas dos livros didáticos.

(SILVA, 2005, p. 32).

Esta forma humana de pensar a realidade está relacionada ao exercício da cidadania ativa, da

aquisição de valores e práticas sociais, assim como de hábitos saudáveis. Os textos também devem ser

percebidos no sentido estético, da sensibilidade, da sensorialidade, da afetividade, da emoção. Cada

ser humano tem uma maneira peculiar e muito pessoal de perceber e representar a realidade, a sua

realidade.

Uma vez que o ato de ler tende a formar pessoas abertas ao intercâmbio, direcionadas ao

futuro, a leitura pode representar para o aluno uma porta para perceber e sonhar com seu próprio

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futuro, um futuro melhor.

Então, todo trabalho deve ter no texto, sua base significativa transcendendo a realidade para

que o aluno desenvolva a compreensão dos temas, problemas e diferenças, a partir da variedade

padrão ou não. Daí a necessidade de o aluno entrar em contato com todos os gêneros textuais

colocando em confronto suas linguagens, configurações e também idéias veiculadas por eles. O debate,

as discussões e posicionamentos orais e escritos desenvolvem o domínio da língua, criando condições

para que o aluno construa discurso próprio, particularize seu estilo e expresse com objetividade e

fluência suas idéias em todas as áreas.

A princípio, a linguagem do aluno, em sua produção, contém muito mais do que aquilo que ele

aprende na escola. Reflete o indivíduo e seus conflitos de mundo, reproduz sua história, sua maneira

peculiar de ler, ver e agir no mundo, e contém traços de sua personalidade de aprendiz. Ele não erra, ele

faz tentativas, experimentações. O professor insere ou induz as informações novas a respeito do mundo

de formas diversas e o aluno se posiciona. Familiariza-se mais com o potencial da palavra. Aperfeiçoa-

se.

Por isso é importante dar oportunidade ao aluno de escrever sempre dentro de um contexto

que faça sentido para ele e, gradativamente ir acrescentando os conhecimentos e estruturas

desconhecidas, induzindo-o à reescrita dos textos, trabalhando os aspectos lingüísticos e semânticos

necessários à aquisição da linguagem padrão.

Para que todo este trabalho se efetive com sucesso é necessário que o professor crie situações

de diálogo permanente, organizando os momentos de aprendizagem em que os alunos precisam pôr

em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo que se quer ensinar e suas percepções em

relação aos assuntos propostos. Ouvir os alunos, conhecer suas dúvidas, incentivar, faz parte do

processo. Silva nos diz que:

Mais humildade pedagógica, mais diálogo, mais liberdade para os alunos se expressarem,

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mais escuta e partilha dos significados atribuídos aos textos, mais ligação entre aquilo que se lê e

aquilo que se vive, estes são os caminhos para uma leitura libertária e transformadora, tão

necessária à sociedade brasileira de hoje. (SILVA, 2005, p. 24)

Contudo, poucos são os professores que conseguem quebrar alguns paradigmas mais

tradicionais, como o de que “o professor fala, o aluno ouve e, no máximo ele pode fazer perguntas sobre

o conteúdo”. Sair de sua zona de conforto e de experiências pessoais do passado, para a criação de um

modelo de Professor mais democrático, mais moderno, voltado para o futuro – o que muitas vezes sem

o apoio pedagógico - é muito difícil.

Por isso, esta mudança tão esperada, é um dos desafios que se apresenta em nossas escolas e

que necessita tanto da atenção dos profissionais que ali dedicam parte de sua existência na formação

de seres humanos e na luta por melhores condições de vida e de trabalho.

Debate

comparando teoria e realidade ...

Destacar pontos importantes do texto.

Levantar dificuldades.

Sugestões.

Vídeo do youtube para reflexão: Educar – Rubem Alves

http://www.youtube.com/watch?v=ouFqxPYA8lg

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“Buscando o bem

de nossos semelhantes,

encontramos o nosso.”

Platão

Objetivos

Ler e discutir alguns gêneros textuais principalmente a crônicas e o conto.

Estimular a leitura de crônicas.

Relacionar o conteúdo das crônicas às várias disciplinas.

Analisar a importância do trabalho por temas e o uso de vários gêneros.

Propiciar momento de leitura, reflexão e prazer.

Material

Computadores. (sala de informática)

Lápis, papel, canetas.

Metodologia

1ª etapa:

Passar um slide sobre crônicas. Discorrer sobre a crônica e suas possibilidades de trabalho.

Propor a leitura da 1ª crônica: “Da utilidade dos animais”, de Carlos Drummond de Andrade.

Em seguida, falar sobre a crônica levando o grupo à discussão das idéias implícitas e explicitas do

texto.

Comentar as intenções da personagem e do texto em si.

Discutir a questão do discurso e prática em todos os setores e em relação ao texto: Todos falam

de preservação e cuidados com o meio ambiente, mas no dia-a-dia o lixo vai parar nos rios, nas ruas

entupindo bueiros causando enchentes. Jogam-se lixo até pelas janelas de ônibus.

O discurso educativo da Professora cumpriu sua função social? O que ele representa?

www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/utilidade_animais.html

Oficina – 2Leituras compartilhadas

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2ª etapa:

Ler com os professores o texto de Luis Fernando Veríssimo: Inquilinos.

Conversar sobre a comparação do Planeta com um condomínio. Os tipos de inquilinos. Aqueles

que não cuidam de nada e depois tem problemas na hora de prestar contas.

Que tipo de inquilino o homem se tornou? Se realmente fôssemos considerados inquilinos,

como estaria nossa conta?

3ª etapa:

Na sequência propor a leitura em voz alta do texto: “Poema a João-de-barro”, de Vânia Moreira

Diniz em,

e também: “A Declaração Universal dos Direitos dos Animais.”

Estimular comentários sobre a harmonia na natureza X e o homem.

4ª etapa: comparando os textos:

Falar sobre os diferentes gêneros trabalhados.

O que os textos têm em comum?

Ao comprar produtos ecológicos de grife as pessoas não estariam contribuindo para

transformar o movimento ecológico num modismo dando-lhe um caráter vazio e consumista?

Não falta ao homem sentir-se integrado, fazendo parte, para poder ter atitudes diferentes?

Como seria se o homem se sentisse parte da natureza?

Ha à necessidade de superação do capitalismo para se alcançar a tão sonhada

sustentabilidade'?

Na lógica do lucro, sacrificam-se a natureza, a saúde humana, os animais. E as conseqüências?

http://vista-se.com.br/redesocial/inquilinos/

http://meiradopt.blogspot.com/2009/10/joao-de-barro.html

http://www.tribunaanimal.com/legislacao.htm

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5ª etapa:

Apresentar algumas crônicas para leitura compartilhada e posterior discussão e comparação

com os conteúdos das disciplinas:

_“herói. morto. nós”. Lourenço Diaféria

– A última crônica. Fernando Sabino.

– A teoria do medalhão. Machado de Assis.

http://clubeamigosdaboanova.blogspot.com/2009/09/heroi-morto-nos.html

http://intervox.ufrj.br/~jobis/s-ult.html

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/medalhao.html

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Da solidão à

TRANSFORMAÇÃO...

“Desconfiai do mais trivial, na aparência do singelo. E examinai, sobretudo, o que

parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como

coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de

arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer

natural nada deve parecer impossível de mudar.”

(Bertolt Brecht)

Objetivos

Refletir sobre a solidão do professor no seu trabalho diário.

Debater sobre o problema da rotina na escola, o que nos aprisiona.

Redirecionar o olhar para a transformação.

Material

Sulfites.

Lápis e canetas.

Computador (sala de informática)

Metodologia

Posicionar os participantes em duplas e distribuir folhas sulfites.

Ler o texto: “Solidão”, de Chico Buarque e comentá-lo introduzindo o tema.

Passar o vídeo: “solidão, de Alceu Valença”.

Pedir que leiam a letra da música: “Solidâo”, de Alceu Valença.

Letra e Vídeo:

Pedir para falarem e escreverem sobre o que seria a solidão do professor. “O que é a solidão?”;

“Quando o professor sente solidão no seu trabalho?”;

http://2-roads.blogspot.com/2005/11/solido-por-chico-buarque.html

http://letras.terra.com.br/alceu-valenca/44016/

Oficina – 3LEITURA:

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Quando o aluno sente solidão? Quando ele sente solidão em sala de aula?”

A rotina causa solidão? Quais as consequências da rotina no trabalho do professor?

Propor a leitura do poema: “Cidadezinha qualquer, de Drummond” e comparar com a música:

“Cotidiano, de Chico Buarque.”

Letra e Vídeo:

Ler o poema: “A Pesca”, de Affonso Romano de Sant'Anna. Cada participante deverá produzir

um poema substantivo com a sua rotina.

Propor reflexão sobre: Quando o trabalho do professor começa a virar rotina? Qual o maior

perigo de se acostumar com a rotina? Quais as conseqüências? A rotina esmaga os sonhos? O que

buscamos quando não temos sonhos?

Propor discussões a partir do texto: “Eu sei, mas não devia”, de Marina Colasanti:

Convidar os participantes a ouvirem e a refletirem sobre a música “Amarra o teu arado a uma

estrela, de Gilberto Gil”.

Letra e Vídeo:

Comparar a letra da música de Gilberto Gil com o fragmento da música: “Voar, voar de Zé

Geraldo”:

Letra e vídeo:

“...é preciso voar, é preciso voar

Voar voar voar

descobrir o que há por trás do muro

O presente já é quase passado

Voar pra buscar futuro (...)

Ler o Poema: “O Tempo, de Mario Quintana”.

http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm6.html

http://letras.terra.com.br/chico-buarque/82001/

http://ead1.unicamp.br/e-

lang/supletivo/c6a6p.php?c=6&ati=12&ativa=6&tipo=p&titulo=Coes%E3o%20e%20Coer%EAncia

http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp

http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/305506/

http://letras.terra.com.br/ze-geraldo/406079/

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http://www.pensador.info/frase/MTc0MDg/

http://letras.terra.com.br/lenine/47001/

Debater sobre o poema comparando-o com o tempo do professor na formação dos alunos,

futuros cidadãos. Como usamos este tempo? Quais as marcas que deixamos para a sociedade que

sonhamos.

Que marcas deixamos nas pessoas? Construir uma marca –carimbo - num sulfite, a partir da

frase: Por qual qualidade ou ideia gostaria de ser lembrado?

Dinâmica: Descobrindo “características”, “marcas” importantes nos colegas. Cada participante

deverá escrever seu nome em uma folha sulfite e passar a folha ao colega da direita, que após escrever

as características do colega, ao som combinado, continua passando a folha à direita até cada um

encontrar a sua folha.

Cada um deverá analisar as características observadas pelos colegas e comparar com a marca

construída anteriormente.

Passar o vídeo da música “paciência”, de Lenine:

Letra e vídeo:

Refletir sobre a frase:

“As pessoas podem não lembrar

exatamente o que você fez,

ou até mesmo todas as palavras

que você disse...

mas elas sempre lembrarão

de como você as fez sentir...

mario lago

Assim...

Os professores devem trabalhar a leitura através de um olhar plural que seja capaz de

estabelecer relações entre as disciplinas com seus conteúdos e a realidade em que o aluno vive, entre o

mundo exterior e o interior do ser humano desenvolvendo o sentido de compreensão e tolerância.

Buscar o desenvolvimento de um leitor de múltiplos olhares.

Este trabalho passa a fazer mais sentido se tivermos como meta “contribuir” para a

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transformação da sociedade e para a construção de um ser humano mais ético e ciente de seus

compromissos de cidadão.

É importante ter claro que nós contribuímos para as mudanças, mas não mudamos o mundo. Se

focarmos o nosso olhar nos problemas que existem no mundo e empecilhos ao nosso trabalho

podemos desanimar. Os problemas nos imobilizam. Mas se entender-mos que cada um precisa fazer

bem a sua parte avançamos com nossas contribuições.

O trabalho com a leitura dos diversos gêneros que circulam na sociedade estabelecendo

relações com os conteúdos escolares contribui abrindo caminhos para que se entrelacem os fios do

conhecimento científico e os do conhecimento de mundo criando perspectivas de ações mais positivas

de transformação social. O conhecimento nos move à ação.

Esta proposta pressupõe interação entre leitor e textos diversos, interatividade por meio de

grupos de discussão e de trabalho coletivo. O professor, mediador, propõe e acompanha a atividade do

aluno que deverá ser uma situação potencialmente rica e mobilizadora que o leve a construção do

próprio conhecimento. Ao mesmo tempo em que ele se constrói e se humaniza através de suas

interações com os conteúdos, com os textos, com as situações, com os professores, com os colegas e

outros.

Segundo Charlot,(2005) “ninguém pode aprender sem uma atividade intelectual, sem uma

mobilização pessoal, sem fazer uso de si.”

O professor Cria uma situação, uma atividade e, o aluno aprende com a execução da atividade

intelectual proposta pelo professor. Ensinar não é transmitir informações, mas criar situações em que

ocorra a aprendizagem. Assim como o conteúdo a ser trabalhado precisa fazer sentido para o aluno. Por

isso a importância da mobilização antes da ação.

Informação não é saber. Ela se torna saber quando contribui para o esclarecimento do sujeito

sobre o sentido do mundo, da vida, de suas relações com os outros e consigo mesmo. Charlot, 2005,

p.85.

Os problemas existentes no mundo contemporâneo fazem com que a apropriação de parte dos

saberes acumulados pela humanidade - já que é impossível em sua totalidade – seja uma necessidade

urgente e, ao mesmo tempo não favorece à sua aquisição livremente.

As escolas, em sua maioria, ensinam e favorecem muito pouco – dentro dos conhecimentos

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acumulados pela humanidade - para reprovar neste pouco. As avaliações, muitas vezes, são retaliações

contra os problemas em geral, à escola, ao sistema, até mesmo inconscientemente.

O professor, pela própria função, tem necessidade de enquadrar, homogeneizar, mas ninguém é

igual a ninguém. Nem todos querem ler literatura ou se formar professor de línguas, como também,

nem todos gostam de matemática e vão ser matemáticos; ou desenhistas, biólogos. . . Cada um faz suas

escolhas por critérios próprios e/ou aptidões.

A preocupação do docente deve ser a de dar uma formação para que o aluno aprenda a “se

mover” na sociedade, a pensar independentemente e a fazer escolhas.

O modelo de cultura que temos nos leva às ações que desenvolvemos e é fruto de nossas

experiências, interações e principalmente das influências que sofremos. O que nos constitui como

pessoa? O que nos constitui como profissionais?

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“Até uma folha de papel

pesa menos

quando dois a levantam.”

Provérbio coreano

Objetivos

Dialogar com os professores sobre as inúmeras possibilidades de leitura nas diferentes

disciplinas do currículo.

Propiciar situações de leitura em diferentes gêneros e formas, possibilitando debates,

confronto de idéias e comparações de fatos.

Incentivar a troca de experiências de leitura entre professores, procurando enriquecer a prática

de cada um no seu campo de atuação.

Discutir ações comuns que podem favorecer ao trabalho de todos.

Material

Livros.

Vídeos.

Lista de alguns gêneros textuais.

Computador.

Metodologia

Distribuir alguns textos e uma lista de alguns gêneros textuais para discussão.

Ler e comentar os textos:

Oficina – 4 Leitura Interdisplinar e os Gêneros textuais.

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“Estatuto do Homem”, de Thiago de Mello:

“Balada do Amor através das Idades”, de Drummond:

Passar um vídeo sobre gêneros textuais.

Pedir a cada professor que selecione alguns gêneros com maior possibilidade de uso em sua

disciplina e justificar.

Produzir um plano de aula - com modelo em anexo - utilizando pelo menos 3 gêneros diferentes

e utilizando o laboratório de informática.

um pouco de teoria...

Desde muito cedo, na nossa vida, aprendemos a ler o mundo, pessoas, objetos, lugares e

situações; a interpretar gestos, olhares, palavras, imagens e intenções. Desenvolvemos assim, nosso

conhecimento de mundo. A nossa aprendizagem do mundo e de tudo que nos cerca ou nos diz respeito

torna-se institucionalizada quando adentramos o espaço escolar. Com o tempo, a Escola vai

classificando e separando o conhecimento com objetivos didáticos em áreas ou disciplinas.

Desta concepção - quando muito compartimentalizada, delimitada, sem a visão de conjunto

que permeia a formação integral do educando - torna-se conseqüência o entendimento de que leitura é

preocupação apenas de Língua Portuguesa, abandonando a visão integradora que beneficiaria a todos.

Quanto a esta visão dissociada do verdadeiro sentido de ensinar, Silva nos diz que:

http://www.vidaempoesia.com.br/thiagodemello.htm

http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200809120218

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O aluno-leitor é uma ilha cercado de textos fragmentados de todos os lados. As solicitações de

leitura são tantas e tão dispersas que podemos até pensar na imagem desse currículo como a de um

ouriço invertido lançando espinhos torturantes a todo o momento e acabando por frustrar as interações

significativas do leitor com os textos. O estilhaçamento de conteúdos e referenciais é tão grande (seja

numa disciplina, seja entre as disciplinas) que podemos atribuir a qualidade de heróis aos sobreviventes

desse meio caótico. (SILVA, 2005, p. 24)

Por isso, a leitura não pode ser vista como uma disciplina ou matéria, ou mesmo um conteúdo só

de Língua Portuguesa e simplesmente ser deixada de lado pelos outros educadores e equipe

pedagógica. Ela faz parte das diversas disciplinas e precisa ser trabalhada por todos os docentes. Como

disse FREIRE (1986), “a leitura de mundo precede a leitura da palavra.” A educação formal tem a

“obrigação” de alargar os horizontes desta leitura de mundo que o educando tem e vai construindo ao

longo de sua vida escolar e fora dela. E de acordo com Silva,(2005), o texto é fonte de conhecimento do

real, conexão entre a sala de aula e a sociedade, possibilidade, seguidamente, de revelação da ótica

ideológica.

E, porque interage na sociedade, a leitura “da palavra” representa uma oportunidade

imprescindível ao aluno, de ampliar a “visão de mundo” e a consciência das coisas. Portanto, a leitura é

tão importante para o desenvolvimento pleno da pessoa, como também, para o desenvolvimento e

transformação da sociedade. Então, o trabalho com a leitura - enquanto ação transformadora - se

constitui num desafio pedagógico a ser buscado e superado por toda a comunidade escolar. Para Silva, a

leitura é

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[...] um dos processos que possibilita a participação do homem na vida em sociedade, em

termos de compreensão do presente e passado e em termos de possibilidades de transformação

sociocultural futura. (SILVA, 1993, p. 24).

Assim, todas as aulas representam possibilidades de leitura, reflexão e construção de conexões

com a vida, com a realidade que cerca o aluno e a escola. A leitura e a escrita são pontes incontestáveis

para a aquisição de todo tipo de conhecimento que se faz presente nos momentos de aprendizagem

significativa na escola e que leva à formação do indivíduo cidadão. Reiterando, Silva (2005), afirma que:

“A promoção da leitura é uma responsabilidade de todo o corpo docente de uma escola e não

apenas dos professores de Língua portuguesa, uma vez que, todos trabalham por uma sociedade

mais justa e igualitária. Não se supera uma dificuldade ou uma crise com ações isoladas”.

Deve se considerar também que um trabalho intenso com a leitura na escola traria melhores

resultados em todas as disciplinas uma vez que a proficiência em leitura favorece a interpretação e a

compreensão dos conteúdos, textos e seus contextos.

Porém, o trabalho com a leitura - e por conseqüência com a escrita - requer estudos a cerca da

sua natureza e do processo de aquisição. O estudo nos dá mais segurança, nos torna mais humanos,

pois passamos a compreender mais, interferir de forma mais positiva, vamos ficando cada vez mais

livres, conscientes e responsáveis como pessoa humana que somos, construindo a sociedade que

queremos.

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Dessa forma, o professor pode até ter o conhecimento que pense ser o suficiente sobre a sua

disciplina, mas ainda assim, é possível melhorá-lo. Principalmente no que se refere ao trabalho com

textos, uma vez que, ele pode utilizar-se dos diferentes gêneros textuais disponíveis na sociedade para

desenvolver seus conteúdos, refletir sobre, para exemplificar, informar, questionar, contextualizar ou

mesmo dar embasamento às teorias trabalhadas.

De acordo com os PCNs, todo professor, independente da sua área de formação, deve ter o texto

como instrumento de trabalho. Promover discussões, pesquisas que venham a enriquecer os

conteúdos de forma natural e satisfatória visando o pleno desenvolvimento do aluno. Segundo os PCNs:

Cabe a escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente,

ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com os quais o

aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar,

pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. (PCN, 1997, p.30)

Portanto, colocar o aluno em contato com os diversos gêneros textuais que circulam na

sociedade, pode prepará-los de forma mais eficiente para atuar nesta mesma sociedade. Trabalhar os

gêneros textuais possibilita a melhor articulação das atividades entre as áreas de conhecimento,

promovendo assim a interdisciplinaridade e consequentemente à melhor aprendizagem dos

educandos. Quanto ao trabalho com gêneros, Cassany afirma que:

o gênero é a estrutura discursiva, o recurso retórico ou a ação comunicativa que utilizam os

profissionais para resolver boa parte das tarefas ou atividades de nossa disciplina e em nosso

ambiente de trabalho. (CASSANY, D. 2008, p.18)

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Nós temos as nossas “ideologias”, as nossas crenças e, escolhemos de acordo com tudo isto o

gênero que melhor represente o nosso discurso. Resta saber se é o melhor para a compreensão dos

conteúdos pelo educando.

Portanto, toda ação a ser proposta precisa ter clareza. É necessário se ter objetivo: para que ler?

Para quem escrever? Como escrever? Quais os passos a seguir para se produzir um bom texto? E muitas

outras questões que daí decorrem e preocupam os estudantes. É necessário que tudo fique muito claro

e de uma forma que interesse ao aluno.

Tudo isso no âmbito de cada disciplina, pois cada uma tem seus discursos específicos, mas todas

se utilizam de textos para ensinar seus conteúdos, embasar suas atividades, que certamente, exigem

saber interpretar, compreender, se posicionar criticamente, como também produzir registros e

conclusões em determinados gêneros textuais. Segundo Cassany (2008),

Cada disciplina gera seus próprios modos de comunicação, ler e escrever não são apenas

ferramentas para comunicar conhecimento especializado: servem também para construir o

conhecimento, ampliar e aprofundar uma disciplina.

Por isso, a leitura além de contribuir com a construção e ampliação do conhecimento dentro de

uma disciplina, também interage com as outras disciplinas e com a sociedade na qual o aluno está

inserido de uma forma mais global. Portanto, é uma prática indispensável à interdisciplinaridade e à

transdisciplinaridade

No entanto, Cassany (2008) noz diz que, cada prática social se apóia em concepções

particulares. Cada disciplina possui suas práticas de aula. Aprender a escrever um texto é aprender a

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desenvolver a prática social correspondente. Logo, cada professor elege o gênero (s) que melhor

atende aos seus objetivos ou não. É uma questão de opção do professor, fruto de suas concepções de

mundo.

A prova escolar, por exemplo, é uma prática social escolar tradicionalmente aceita. Quando um

professor faz uso desta prática vem junto toda uma gama de “ideias”, conhecimento e sentimentos.

Como o professor organiza sua avaliação: longa, curta, difícil, acessível. Como é tratado o resultado, se

tem recuperação, nova prova ou apenas constatação de resultados.

Cada professor em sua disciplina atua sobre a realidade e a vê de forma diferente, utiliza

critérios próprios, construídos ao longo de sua formação e experiência. Pensar o conjunto das práticas

escolares é pensar a própria experiência. Não é fácil, mas necessário se quisermos fazer a diferença

nesta sociedade. A leitura nos oferece subsídios para estas reflexões, mas a decisão é também muito

particular.

De acordo com Marcuschi (2002), os gêneros textuais se constituem como ações sócio-

discursivas para agir sobre o mundo, constituindo-o de algum modo. Ler e escrever ou a oralidade e a

escrita é muito mais do que informações que recebemos e passamos. São ações que representam nossa

visão de mundo, nosso jeito de ser e agir sobre o mundo. A leitura se junta ao processo de interpretar

para compreender o mundo e a si mesmo.

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“Existem homens que lutam um dia e são bons. Existem

homens que lutam um ano e são muito bons. Porém, existem os que lutam toda a

vida. Esses são imprescindíveis.”

Bertold Brecht

Objetivos

Refletir sobre o trabalho do professor

Oportunizar a leitura de textos importantes para a Educação e promover discussões sobre a

ação de “trabalhar com Ensino”.

Material

Organizar a sala com frases de Paulo Freire e Rubem Alves.

Livros: Entre a Ciência e a Sapiência, Rubem Alves.

Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire.

Cartolinas.

Pincéis.

Lápis e borrachas.

Canetas.

Metodologia

Distribuir com antecedência os livros propostos para leitura e discussão.

Ler o Texto “Paixão pela Educação”, de Rubem Alves e promover discussão sobre o assunto.

Dividir os participantes em dois grupos para preparação, apresentação e discussão do material

lido;

Cada grupo deverá selecionar as idéias ou frases que fizerem mais sentido, que forem mais

interessantes e preparar uma apresentação no grande grupo depois.

Oficina – 5 O professor, a educação

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O PROFESSOR DE HOJE...

Frente às situações contemporâneas de desvalorização do professor - pela sociedade e pelos

governos - às dificuldades de toda ordem encontradas na execução do trabalho docente, há que se

considerar a necessidade de um grande esforço profissional e social no sentido de buscar reverter esta

situação sob pena de comprometer cada vez mais a instituição escolar.

Sabemos que esta desvalorização veio junto com a democratização e expansão da escola, mas

sabemos também que é fruto das ideologias capitalistas que circulam no meio político e lhes assegura

os cargos públicos que tanto almejam a cada eleição. E para justificar o mau desempenho da educação

no país buscam parcerias na mídia em geral para responsabilizar o professor pelos insucessos do

próprio sistema. A sociedade mudou. As relações entre pais e filhos mudaram. Tudo isso chega à escola

abruptamente. O que se vê são embates diários, violências. O professor se confronta com um grupo

diferente de 30 a 40 pessoas a cada 50 minutos sem apoio. É um desgaste considerável que repercute

em sua saúde como muitas revistas especializadas já denunciam.

Ser professor hoje é uma atitude heróica. Demonstra consciência da importância de um

trabalho tão significativo para a sociedade. Neste contexto, podemos observar mais claramente uma

nova sociedade, com novos valores e comportamentos em geral, um novo modelo de “civilização” mais

tecnologicamente desenvolvido, mas num velho esquema de “trabalho” com as massas populares,

principalmente.

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Neste contexto, resta ao professor considerar a necessidade de buscar mudanças,

principalmente que lhe favoreça. Movimentar-se de encontro às possibilidades de contribuir para vazar

estes esquemas desumanos, injustos e muitas vezes corruptos.

Assim, todo estado de apatia e desânimo mais colabora com o sistema do que ajuda o

profissional em seu trabalho. Para se começar uma mudança significativa na escola deve-se trabalhar

atentamente objetivos e estratégias visando mudanças no comportamento social, na compreensão do

homem e suas relações consigo e com o mundo que o cerca.

A educação é fundamental nas transformações e renovações sociais. Hoje ela se torna mais

importante ainda no que se refere à formação de indivíduos com dignidade, honradez e com alto nível

moral e humano, tudo o que a sociedade atual precisa e que, com certeza, garantiria maior valorização

do profissional de educação. Por isso, deve ser um esforço pessoal e coletivo voltado à formação do

caráter e da transformação da conduta humana.

Uma educação só baseada em memorização de informações ou treinamento para execução de

tarefas e exercícios não cumpre o propósito educativo. É importante ensinar a pensar, a comparar, a

estabelecer relações, a se posicionar, a enfrentar desafios internos e externos ao ser. A aprendizagem

significativa deve representar aquisição de valores, habilidades, de mudanças e aprimoramento da

própria personalidade. Há que se valorizar todas as etapas de trabalho com o aluno e não só as

avaliações.

Cada educador deve buscar em si mesmo o verdadeiro sentido de educar, de trabalhar com a

formação de seres humanos. Deve ver no seu trabalho uma contribuição de valorização da vida. Ele

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deve ser o exemplo vivo de seus ensinamentos. Para tanto, precisa derrubar os dogmas, as velhas e

novas crenças sem fundamento real que circundam a educação e são repassados irrefletidamente.

Todo docente deve rever sempre seus métodos, acompanhando a evolução natural da sociedade

buscando soluções compatíveis com as necessidades reais de sua época.

O professor consciente de sua importância deve pesquisar estudar, ampliar seus

conhecimentos, inclusive pedagógicos com vistas a criar um ambiente escolar acolhedor, participativo

e comprometido com a melhoria da sociedade.

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O QUE É LER? O ATO DE LER...

Conhecimento Prévio

ANEXOS

1- “Consideremos, por exemplo, the analisys of myths. Antes de mais nada é preciso proceder

à syntagmatic decomposition of the purê mythical narration, isolando the constitutive units of the

sequence; em segundo lugar, each of these units deve ser inserida num paradigmatic set; e só depois

que this operation tiver sido acabada ela poderá apresentar a meaning.”

Angela Kleiman p. 14

2- Consideremos, por exemplo, a analise dos mitos. Antes de mais nada, é preciso proceder à

decomposição sintagmática da pura narração mítica, isolando as unidades constitutivas da

sequência: em segundo lugar, cada uma destas unidades deverá ser inserida num conjunto

paradigmático: e só depois que esta operação tiver sido acabada ela poderá apresentar um sentido.”

(Bononi, A. : Fenomenologia e estruturalismo. Apud KLEIMAN A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da

leitura. 12ª Ed., Campinas, SP: Pontes,2009.

A descoberta da América por Colombo

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3 - Como gemas para financiá-lo, nosso herói desafiou valentemente todos os risos desdenhosos

que tentaram dissuadi-lo de seu plano. ´os olhos enganam` disse ele, ´um ovo e não uma mesa

tipificam corretamente esse planeta inexplorado´. Então as três irmãs fortes e resolutas saíram à

procura de provas, abrindo caminho, às vezes através de imensidões tranqüilas, mas amiúde através

de picos e vales turbulentos. Os dias se tornaram semanas, enquanto os indecisos espalhavam

rumores apavorantes a respeito da beira. Finalmente, sem saber de onde, criaturas aladas e bem

vindas apareceram anunciando um sucesso prodigioso.” Dooling e Landman, “Effects of

comprehension on retention of prouse” Journal of Experimental Psychology 88, 1981. Apud

KLEIMAN A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 12ª Ed., Campinas, SP: Pontes,2009.

CANÇÃO DO EXÍLIO

Gonçalves Dia (Lisboa, 1847)

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

HINO NACIONAL

Joaquim Osório Duque Estrada

... Deitado eternamente em berço

esplêndido,

ao som do mar e à luz do céu profundo,

fulguras, ó brasil, florão da américa,

iluminado ao sol do novo mundo!

do que a terra mais garrida,

teus risonhos, lindos campos têm mais

flores;

"nossos bosques tem mais vida,"

"nossa vida" no teu seio "mais amores".

(...)

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Casimiro de Abreu

Eu nasci além dos mares:

Os meus lares,

Meus amores ficam lá!

- Onde canta nos retiros

Seus suspiros,

Suspiros o sabiá!

(...)

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo.

(...)

Canção do exílio

Murilo Mendes

(...)

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

(...)

Europa, França e Bahia

Carlos D. de Andrade

(...)

Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a "Canção do Exílio".

Como era mesmo a "Canção do Exílio"?

Eu tão esquecido de minha terra...

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

(...)

UMA CANÇÃO

Mário Quintana

Minha terra não tem palmeiras...

E em vez de um mero sabiá,

Cantam aves invisíveis

Nas palmeiras que não há.

(...)

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CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS

Jô Soares

Minha Dinda tem cascatas

Onde canta o curió

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem coqueiros

Da Ilha de Marajó

As aves, aqui, gorjeiam

Nào fazem cocoricó.

O meu céu tem mais estrelas

Minha várzea tem mais cores.

Este bosque reduzido

deve ter custado horrores.

E depois de tanta planta,

Orquídea, fruta e cipó,

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió.

(...)

E o que é ler?

José Marcel (barqueiro Cubano)

(...)

Ler, não é só ler o que há

para ser lido.

Ler é ler também o que

não pode ser lido.

Ler é coisa de vida inteira.

E ainda é pouco.

(...)

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Vários são os gêneros (orais e escritos) possíveis de serem trabalhados em sala de aula, advindos

das diversas esferas sociais (artística, imprensa, publicitária, literária, jurídica, midiática, cotidiana,

alguns exemplos:

Canção, textos dramáticos, romance, novela fantástica, crônica, conto, poema, contos de

fada, fábula, diários, testemunhos, autobiografia, relato de experiência, júri simulado, debate

regrado, artigos de opinião, editorial, textos informativos, classificados, notícia, reportagem,

entrevista, anúncio, carta de leitor, carta ao leitor, carta de reclamação, discurso de defesa, discurso

de acusação, verbete, artigo enciclopédico, tomada de notas, resumo, resenha, relatório científico,

exposição oral, seminário, conferência, palestra, pesquisa e defesa de trabalho acadêmico, mesa

redonda, instruções, regras em geral, receitas, normas, leis, estatutos, adivinhas, parlendas, lendas,

mitos, quadrinhas, cantigas de roda, piadas, histórias de humor, histórias em quadrinhos, tiras,

cartum, charge, caricaturas, paródia, propagandas, placas, outdoor, chats, e-mail, folder, blogs,

fotoblog, cartas, bilhetes, convites, mensagem de telefone, imagens, fotos, pinturas, esculturas,

debate, depoimento, folhetos, mapas, croqui, conversa informal, recado, explicação, aviso,

advertência, horóscopo, provérbios, e outros...

GÊNEROS TEXTUAIS

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"A leitura faz ao homem completo; a conversa, ágil, e o escrever, preciso."

(Francis Bacon)

"A leitura é uma conversação com os homens mais ilustres dos séculos passados."

(René Descartes)

"A leitura não é uma atividade elitizada, mas uma ferramenta de transformação social dos indivíduos”.

(Julian Correa)

"A leitura é muito mais do que uma simples relação dos olhos com os livros... A leitura é um espaço, um lugar predileto, uma luz escolhida, um ritual em que importa até a época do ano."

(Luis Garcia Montero)

"A leitura especializada é útil, a diversificada dá prazer”.

(Sêneca)

"A leitura nutre a inteligência”. (Sêneca)

"Uma boa leitura dispensa com vantagem a companhia de pessoas frívolas”.

(Marquês de Maricá)

"Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo." (Paulo Francis)

"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias." (Mário Vargas Llosa)

"A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro”.

(Samuel Johnson)

"A leitura engrandece a alma”. (Voltaire)

Frases sobre Leitura

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Tema e/ou assunto escolhido:

Objetivos:

Referem-se às intenções educativas. Estão voltados aos conteúdos e não às atividades.

Conhecimentos prévios:

Procedimentos (estratégias):

Recursos:

Conjunto de determinados princípios e recursos que serão utilizados pelo professor para chegar aos

objetivos propostos.

Tempo previsto:

Critérios de avaliação:

Os critérios refletem as formas previamente estabelecidas para se avaliar um conteúdo. Deve-se

também constar neste item a proposta de recuperação, ou seja, de que forma se prevê a retomada do

conteúdo não aprendido, lembrando sempre que a recuperação não deve ser do instrumento (prova,

trabalho, atividade), mas sim do conteúdo.

Referências:

As referências permitem perceber em que material e em qual concepção o professor vem

fundamentando seu conteúdo. Fundamentar conteúdos de forma historicamente situada implica

buscar outras referências, não sendo, portanto o livro didático o único recurso.

Plano de aula docente