DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · IMAGENS QUE A SOCIEDADE TEM DE SI MESMA E DE SEU...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

SANDRO ROBERTO GONÇALVES

A NARRATIVA FÍLMICA FICCIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR:

UMA FERRAMENTA DIDÁTICO/PEDAGÓGICA NA DISCIPLINA DE

HISTÓRIA PARA O 2º ANO DO ENSINO MÉDIO.

CADERNO PEDAGÓGICO

CURITIBA

2010

A HISTÓRIA, O FILME DE FICÇÃO E O RECORTE DAS IMAGENS QUE A

SOCIEDADE TEM DE SI MESMA E DE SEU PASSADO: A APLICABILIDADE DA

FILMOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA – 2º ANO DO ENSINO MÉDIO.

Produção Didático-Pedagógica apresentada à SEED

Secretaria de Estado da Educação como parte dos

requisitos do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE/2009. IES FAFIPAR –

Faculdade Estadual de Filosofia Ciência e Letras de

Paranaguá.

Orientadora: Professora Doutora Eulália Maria

Aparecida de Moraes

CURITIBA

2010

SUMÁRIO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ................................................................................................ 2

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 3

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4

JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................ 4

O USO DE FILMES COMO FERRAMENTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA NO ENSINO DE

HISTÓRIA ................................................................................................................................. 5

OBJETIVOS ............................................................................................................................... 8

GERAL ................................................................................................................................................... 8

ESPECÍFICOS: ....................................................................................................................................... 9

UNIDADE I – A HISTÓRIA, O HISTORIADOR, AS FONTES E AS CONSTRUÇÕES

NARRATIVAS. ........................................................................................................................ 10

FILME PARA ANÁLISE: NARRADORE DE JAVÉ. ............................................................. 10

FICHA TÉCNICA E SINOPSE ................................................................................................ 10

ATIVIDADE ......................................................................................................................................... 11

UNIDADE II A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS E DAS

RELAÇÕES DE PODER ......................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO: ....................................................................................................................... 14

ATIVIDADE: ........................................................................................................................................ 16

CHUVA DE IDEIAS ................................................................................................................ 17

UM CONCEITO PARA A PALAVRA: ESTADO ................................................................... 18

UM CONCEITO PARA A PALAVRA: NAÇÃO ..................................................................... 18

FILME PARA ANÁLISE: O OUTRO LADO DA NOBREZA ............................................... 19

FICHA TÉCNICA E SINOPSE ................................................................................................ 19

ATIVIDADE: ........................................................................................................................................ 21

UNIDADE III - A DESCOBERTA DA AMÉRICA ................................................................. 23

ATIVIDADE ......................................................................................................................................... 25

UNIDADE IV – RELIGIÃO E SOCIEDADE NA AMÉRICA CONQUISTADA .................. 28

FILME PARA ANÁLISE: A MISSÃO..................................................................................... 29

ATIVIDADE ......................................................................................................................................... 30

VÍDEOS ................................................................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 33

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: Sandro Roberto Gonçalves. PDE-2009.

Área PDE: História.

NRE: Curitiba.

Professor Orientador IES: Prof.ª Dra. Eulália Maria Aparecida de Moraes.

IES vinculada: FAFIPAR - FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E

LETRAS DE PARANAGUÁ – FAFIPAR.

Escola de Implementação: Colégio Estadual Dona Branca do Nascimento Miranda.

Público objeto da intervenção: professores e alunos do 2º Ano do Ensino Médio-Manhã.

TEMA DE ESTUDO – A HISTÓRIA, O FILME DE FICÇÃO E O RECORTE DAS

IMAGENS QUE A SOCIEDADE TEM DE SI MESMA E DE SEU PASSADO: A

APLICABILIDADE DA FILMOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA – 2º ANO DO

ENSINO MÉDIO.

TÍTULO: A NARRATIVA FÍLMICA FICCIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR: UMA

FERRAMENTA DIDÁTICO/PEDAGÓGICA NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA PARA O 2º

ANO DO ENSINO MÉDIO.

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APRESENTAÇÃO

Não bastasse a câmera como “extensão do olho humano”, ao término das filmagens

tem-se a montagem, um processo de seleção das filmagens que serão então colocadas em uma

determinada ordem. Uma ou outra cena será eliminada mantendo a partir daí (não podemos

negar), a subjetividade. Hoje, no cinema falado, tem-se a argumentação com o auxílio das

cores, das músicas ou de suas ausências corroborando para um efeito de melancólica saudade,

de solenidade ou de solidão.

Certamente temos um discurso montado tão habilmente que fica imperceptível dando-

nos a impressão de coparticipação. Uma aparentemente perfeita reconstituição da realidade

para a qual devemos ter criteriosa precaução metodológica, principalmente quando a maioria

dos documentários e cine jornais é associada às atividades históricas; estes tem conquistado

um alto grau de confiabilidade, sendo tomados como perfeitas reconstituições da realidade.

O cinema buscou a História para inúmeras inspirações cinematográficas e, mesmo

considerando que realizadas as filmagens, o maior interesse fica por conta do espetáculo que

garanta o entretenimento e a bilheteria não podemos desvincular o filme de seu poder como

suporte histórico.

O trabalho do Professor Sandro Roberto Gonçalves ao apresentar a proposta de análise

do filme de ficção para o Ensino Médio na disciplina de História justifica-se pelo desafio em

inserir o debate semiológico do cinema em sala de aula. Ou seja, insere-se o debate acerca de

um “novo olhar” sobre a cinematografia, ao considerá-lo metodologicamente um processo

portador de representação do imaginário social.

O Caderno Didático em questão propõe uma análise fílmica e anuncia a ausência de

neutralidade do filme em relação à sociedade que o reproduziu: “mesmo sem finalidades

políticas, ele traduz a mentalidade do publico ou parte dele”.

Desta forma, a importância de levar tais discussões para o campo escolar está em

perfeita sintonia com as novas diretrizes curriculares nacionais que asseguram à Escola seu

papel social. Não resta dúvida de que a aplicabilidade do filme ficcional em sala de aula

permitirá identificar a capacidade de distinção do educando quanto à materialidade e a

realidade dos fatos históricos na construção de um olhar sobre a História. Sem dúvida um

apaixonado trabalho, de singular importância e elevada discussão teórico-metodológico!

Prof. Dra. Eulália Maria A. de Moraes

(Professora Orientadora PDE)

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INTRODUÇÃO

A História, enquanto disciplina, desempenha um papel fundamental na

conscientização do indivíduo como agente da sociedade e, como tal, é capaz de agir, interagir

e transformar não somente o seu meio, mas também a sua própria vida. Portanto, a melhor

utilização dos recursos de mídia no ambiente escolar, apresenta-se como uma possibilidade de

resgate do conhecimento histórico e não somente isso, mas também de uma reconstrução

desses saberes sob a ótica da realidade social em que vivemos.

Dentro da vivência em sala de aula percebemos que os alunos apesar de terem

facilidade de acesso às mídias (filmes, imagens e sons), possuem um conhecimento ínfimo e

muitas vezes distorcido sobre elas. Restringindo-se apenas ao que está sendo divulgado pelos

meios de comunicação (modismos) ou pelo que “gostam de ver e ouvir” não fazendo conexão

dessas fontes de informação como sendo algo que pode lhes constituir num referencial para a

construção de um saber pedagógico e histórico que lhes servirá de apoio para compreender,

criticar e interagir com o meio social ao qual estão inseridos.

Por outro lado muitos professores também se sentem pouco à vontade quanto ao uso

dessa metodologia não sabendo muito bem como direcionar didaticamente o momento de

exibição do filme e posteriormente quais as estratégias metodológicas que podem se aplicadas

a ele.

JUSTIFICATIVA

Nossa tentativa de contribuição se situa nessa perspectiva de trazer tanto a educandos

quanto a educadores estratégias que permitam um melhor aproveitamento da narrativa

cinematográfica como um instrumento de aprendizagem.

É sabido que toda produção artística é “filha de seu tempo”, quer dizer, expressa de

alguma maneira a realidade histórica em que foi concebida e traz a possibilidade de através de

seus elementos terem-se uma melhor compreensão da sociedade e da história.

5

Por intermédio da linguagem fílmica se refletem os aspectos dos mais diversos

segmentos constitutivos da sociedade, tais como: a política, a economia, as diferenças sociais,

as tendências da moda, os preconceitos e as tentativas de desmistificá-los, bem como a sua

ideologia.

Isto se evidencia no discurso de diversos historiadores que ao pensarem os objetos de

estudo da História em meados do século XX, trouxeram um contribuição significativa para a

ampliação das fontes a serem levadas em consideração para se construir o pensamento

histórico.

Dentre eles podemos destacar Michel Vovelle que com sua „história das mentalidades‟

evidenciou o estudo das fontes literárias e artísticas que anteriormente tinham pouca ou

nenhuma importância e que a partir de então passaram a fazer parte do universo investigativo

dos historiadores.

Quando olhamos para uma obra de arte efetivamente o que ela nos revela, ou o que ela

oculta? E quando assistimos a um filme quais elementos da realidade ou da fantasia estão

presentes? Esses elementos são de grande valia para o professor de História no sentido de

auxiliá-lo na discussão de temas pertinentes à História; tanto mundial quanto regional;

trazendo subsídios para um melhor entendimento das forças ideológicas que regem as

sociedades.

O USO DE FILMES COMO FERRAMENTA DIDÁTICO-

PEDAGÓGICA NO ENSINO DE HISTÓRIA

Nas últimas décadas do século XIX e nas subsequentes do XX presenciamos grandes

transformações tecnológicas, principalmente no que tange às áreas de comunicação,

informação e entretenimento. Direta ou indiretamente esses avanços ecoaram no campo

educacional trazendo possibilidades de uma ampla flexibilidade nas práticas de ensino.

É neste sentido que a utilização dos filmes representa um campo amplo e diversificado

enquanto instrumento metodológico e relativamente mal utilizado no ambiente da sala de

aula. Infelizmente, não raras vezes, ainda é comum as escolas exibirem filmes com o único

intuito de preencher a falta de um professor ou ainda com a desculpa de se ter uma „aula

diferente‟, mas sem dar-lhe um valor didático, pedagógico que lhe é devido, além de

cobrarem do aluno um relatório (sem nenhum sentido, apenas um resumo) ao final da sessão.

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É importante destacarmos que a ideia do filme como fonte histórica é muito nova

dentro da historiografia e ainda precisamos avançar muito nas análises, discussões e estudos

de como a sua utilização como ferramenta didático-pedagógica contribui ou não para o

aprendizado da História.

Os próprios teóricos até pouco tempo não viam com bons olhos a utilização de fontes

tão adversas daquelas que não os documentos escritos e oficiais. Devemos ressaltar que a

Escola dos Annales trouxe uma contribuição de grande destaque nas décadas de 1960 e 70 ao

ampliar as possibilidades de investigação das fontes documentais. A chamada Nova História

lançou as bases para a compreensão de objetos e interpretações antes deixadas de lado pela

Historiografia, o que aumentou significativamente as lentes de observação dos estudiosos.

Jacques Le Goff em sua obra: A História Nova (1993) destaca o papel da renovação do

domínio cientifico a partir do surgimento das Ciências Humanas e Ciências Sociais, trazendo

o diálogo com as demais disciplinas (interdisciplinaridade). As fronteiras foram derrubadas

em prol de uma História Total em que a antropologia, a geografia e mesmo a biologia passam

a constituir-se em terreno fértil para a apreensão e compreensão do conhecimento histórico.

Destaca-se também o papel da desconstrução do documento histórico que deve ser

descoberto dentro de suas condições de produção acabando com a ideia de um tempo único,

homogêneo e linear. Tanto o texto literário quanto artístico e as obras de arte nessa perspectiva

e também o imaginário devem ser considerados como elementos para o entendimento da

realidade social e histórica.

Nesse contexto cabe ainda destacar a contribuição de Marc Ferro com inúmeras obras

que apontam o filme como um documento base para a análise das sociedades. Destacando a

importância do elemento imaginário que está presente, segundo ele, em qualquer gênero de

filme e que estabelece uma relação entre autor/tema/espectador permitindo a chamada contra-

história. Kornis (1992, p.8) ao referir-se ao pensamento de Marc Ferro afirma:

[...] o filme revela aspectos da realidade que ultrapassam o objetivo do realizador,

além de, por trás das imagens, estar expressa a ideologia de uma sociedade. Ferro

defende assim que, através do filme, chega-se ao caráter desmascarador de uma

realidade política e social.

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Portanto, hoje a utilização do cinema na sala de aula ganhou proporção e importância

no sentido de oferecer tanto aos professores quanto aos alunos um referencial de análise,

investigação e mesmo compreensão das realidades que os cercam. Além de contribuir para

que a tecnologia - que sem pedir licença - já invadiu o nosso cotidiano permeie o espaço

escolar e seja mais bem aproveitada.

Um dos objetos de análise da história que se tem apresentado nas últimas décadas

encontra-se no campo da memória coletiva que por si só não é história, mas sua representação

através de narrativas escritas ou orais se configura nos domínios do conhecimento histórico.

É neste contexto que a produção fílmica (documentário ou ficção) se destaca como

uma possibilidade de fonte e de objeto de investigação do historiador, afinal, como afirma

Soares (1994, p.3): “[...] mais que lembrar ou esquecer a função da memória, enquanto

mecanismo social é fazer lembrar e fazer esquecer e é nesse confronto permanente entre o que

é lembrado e o que é esquecido que parece estar a importância do cinema como fonte

histórica”.

A Escola durante muito tempo só se preocupou com a transmissão de saberes através

da linguagem falada relegando para última instância as demais formas de linguagem como

instrumento na elaboração do processo ensino/aprendizagem.

Se por um lado o cinema reforça certos mitos da sociedade ocidental, por outro

afronta essa mesma sociedade ao lembrar nomes, fatos e lugares aparentemente

esquecidos pela memória social e muitas vezes pela própria história que, sem

perceber, às vezes, submerge a força da falsa identidade entre memória/história.

(Soares, 1994, p.3)

Logo a produção filmográfica traduz direta ou indiretamente as ideologias e valores

postos nas sociedades. Daí a importância da utilização da linguagem cinematográfica como

um processo de abordagem de saberes e de construção de um conhecimento pedagógico no

âmbito da sala de aula, tendo como foco o despertamento da criatividade do educando e sua

busca pela compreensão e apreensão do desse conhecimento.

Ao longo de sua evolução e história os idealizadores da produção cinematográfica

pensaram que esta era uma reprodução fiel do real. Mas com o passar do tempo e o avanço

tecnológico pelo qual passou fez-se do cinema um mecanismo de interpretação e manipulação

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da realidade servindo não somente aos interesses da chamada „indústria cinematográfica‟, mas

principalmente a valores ideológicos postos por uma elite dominante.

Cabe ressaltar que ao assistirmos a um filme com a finalidade de analisá-lo

„didaticamente‟, devem ser levados em consideração vários aspectos. Aspectos estes que num

primeiro momento passam despercebidos do público, mas que merecem atenção, já que a

proposta é entender os mecanismos ideológicos contidos nestes tipos de produções.

Neste sentido é importante sabermos os nomes daqueles que estão por trás dos

bastidores já que a produção fílmica é sempre uma produção engajada, quer seja na esfera

política, econômica ou social. Ou seja, é uma produção que trás uma ideologia formadora de

opinião, quer o expectador tenha ou não consciência plena disso. Portanto, quanto mais

informação obtiver sobre um determinado filme melhor.

São neste sentido que encaminhamos os nossos objetivos com a proposta de

proporcionar aos educadores e educandos uma possibilidade de leitura dos filmes ficcionais

para a compreensão da narrativa histórica nele contidos. Inicialmente não caberá comprovar

ou não a veracidades dessas narrativas, mesmo porque, a história parte sempre do pressuposto

de que não existe uma verdade absoluta e irrefutável dos fatos e nem mesmo uma história,

mas histórias com infinitas possibilidades de interpretação.1 Obviamente que buscaremos agir

dentro dos parâmetros científicos da historiografia. Sob essa perspectiva apresentamos a

seguir:

OBJETIVOS

GERAL

Desenvolver uma metodologia adequada ao ensino de História que possibilite uma

maior compreensão e apreensão dos conteúdos tendo como recurso a utilização de filmes

como fonte que explicita ideologias, comportamentos, valores e visões de uma determinada

1 A elaboração das Unidades em torno dos Conteúdos Gerais e Específicos escolhidos não objetivará a

apresentação de textos demasiadamente teóricos e aprofundados sobre o assunto, mas sim, textos indicativos e

propositivos que possam “ancorar” a exibição dos trechos de filmes. É importante frisar também que apenas

alguns conteúdos específicos serão apresentados e os critérios de escolha foram de acordo com a nossa visão e

compreensão como sendo de relevância, mas isso não significa que não existam outras possibilidades de

abordagem. Como a proposta da SEED é a adequação do material didático à realidade escolar, utilizamos como

recursos didáticos básicos e de apoio o Livro Didático cedido pelo Governo Federal e adotado pela Escola de

implementação do projeto de intervenção pedagógica, bem como, o Livro Didático Público produzido por

professores da Rede Pública do Estado do Paraná.

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sociedade em seus diversos momentos e consequentemente levar o educando a perceber-se

como um ser histórico que interage em seu meio social.

ESPECÍFICOS

De acordo com os eixos estruturantes propostos nas diretrizes curriculares do Estado

do Paraná para a disciplina de História; a saber: as relações de trabalho, as relações de poder e

as relações culturais desenvolver um trabalho que privilegie alguns conteúdos específicos que

contribuam para o desenvolvimento do educando no sentido de aprender a “pensar

historicamente” as diversas sociedades, extraindo delas as semelhanças e diferenças e como

estas se refletem na formação das sociedades contemporâneas.

Verificar o interesse pelo conhecimento histórico através da análise de filmes que de

alguma forma expressem um dado momento da História.

Analisar a capacidade de distinção do educando quanto à materialidade e realidade dos

fatos históricos, através da construção de um “olhar”, uma possibilidade de análise, desses

fatos e como eles fornecem subsídios para que os alunos se posicionem como agentes ativos

do processo histórico tendo como referencial os filmes, afinal, como dizem Froelich e

Barcellos (s.d) “[...] o grande desafio para a educação e sua relação com os meios modernos

de comunicação talvez não seja aprender a utilizá-los, mas sim, como fazer deles um artefato

a mais para a construção da autonomia dos sujeitos”.

Em suma, buscar um melhor aproveitamento do espaço das aulas de História trazendo

como ferramenta didática o uso do cinema privilegiando um espaço para amplo debate, e

melhor utilizando esse recurso metodológico.

Para tal propomos as seguintes atividades:

Exibição de trechos de filmes;

Levantamento das impressões e observações dos alunos;

Pesquisa de fontes (textos, comentários, sinopses dentre outros) que subsidiem uma

melhor compreensão dos temas expostos;

Elaboração de um roteiro de atividades que em conjunto com as demais ações reflita os

conhecimentos apreendidos com tal metodologia.

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UNIDADE I – A HISTÓRIA, O HISTORIADOR, AS FONTES E

AS CONSTRUÇÕES NARRATIVAS.

FILME PARA ANÁLISE: Narradores de Javé.

FICHA TÉCNICA E SINOPSE

Narradores de Javé. (aproximadamente 157‟)

Produção Nacional – Bananeiras Produções

José Dumont

Gero Camilo

Nelson Xavier

Matheus Nachetergaele

Direção: Eliane Caffé

PROFESSOR: existem diversos textos disponíveis nos

Livros Didáticos e também artigos na Internet que

poderão servir de apoio para a fundamentação teórica

da unidade. O importante é que os mesmos sejam

adequados à compreensão do aluno e os levem

efetivamente a discutir o papel da história e do passado

na sociedade e em suas próprias vidas, bem como, os

instrumentos que podemos utilizar para interpretar as

diversas fontes estudadas pelo historiador.

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Misturando atores conhecidos do público com habitantes da região das gravações a

história se passa num povoado conhecido como Vale de Javé ameaçado de sucumbir pelas

águas da construção de uma barragem. O badalar dos sinos conclama seus habitantes a se

reunirem emergencialmente em busca de uma solução. Depois de uma acalorada discussão

encontram uma saída: alguém deve escrever a história do povoado, os feitos dos grandes

heróis e assim resgatar a importância do lugar, o que sensibilizaria os engenheiros

construtores da barragem.

O filme além de leve, divertido e de fácil compreensão auxilia o professor de História

a discutir em sala de aula os diversos conceitos da disciplina, bem como o trato das fontes

históricas que são passíveis de inúmeras interpretações. “Uma coisa é o fato acontecido outra

coisa é o fato escrito; o acontecido tem que ser melhorado no escrito para o que povo creia

no acontecido”, somente essa fala já se constitui num ponto que possibilita ampla discussão

sobre o papel da história nas sociedades.

ATIVIDADE

1. Com os conhecimentos prévios que você possui e também com o auxilio de seus colegas

procure dar um significado para as palavras abaixo relacionadas:2

HISTÓRIA

PASSADO

2 O objetivo do exercício é justamente sondar os conhecimentos prévios que os alunos têm sobre o assunto, ainda

que pareça arriscado, pois os alunos poderão falar qualquer coisa. Incentive-os a participarem e darem sua

opinião mesmo que suas respostas sejam por demais simplistas. Pense nos alunos que se esforçam para

participar, ainda que sejam em número reduzido e se houver brincadeirinhas com as palavras e mesmo alguma

resposta fora de propósito não perca de vista o seu foco enquanto professor que é o de proporcionar um momento

de reflexão e produção do conhecimento; portanto, não desista.

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CONHECIMENTO

HISTÓRICO

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

TOMBAMENTO

TEMPO

FONTE HISTÓRICA

CIÊNCIA

VERDADE HISTÓRICA

NARRATIVA

HISTÓRIA ORAL

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Após a realização desta atividade o professor poderá com o auxílio de outros

materiais, como textos e dicionários especializados confrontar as ideias dadas pelos alunos

com esse material e assim chegar a um delimitar os conceitos que mais se aproximam da

historiografia.

2. Suponha que você recebeu a incumbência de contar a história de sua família. Escreva

abaixo quais as ações que você tomaria para realizar essa tarefa. Destaque os métodos e as

fontes que usaria, bem como, quais os critérios que o levaram a “escolher” aquilo que

mereceu ou não ser contado.

DESCRIÇÃO DE CENA

Os sinos da Igreja chamam os moradores do povoado do Vale de Javé para uma reunião de

emergência. Todos estão atônitos com as notícias trazidas sobre a construção de uma barragem que

inundará o lugar.

(Zaqueu). – Vão construir a barragem e Javé está no caminho das águas, isso aqui tudo vai virar represa...

Seu Vado esteve comigo, conta prá eles Vado.

(Vado). – Os engenheiros abriram os mapas na nossa frente e explicaram tudinho nos pormenores; tudo

com os números, as fotos – um tantão delas – iam explicando prá gente os ganhos e o progresso que a

usina vai trazer. Vão ter que sacrificar uns tantos prá beneficiar a maioria. A maioria eu não sei quem são,

mas nós é que somos os tantos do sacrifício.

(Zaqueu). – Prá começar gente, eu perguntei para os homens se não tinha nada no mundo que a gente

pudesse fazer prá salvar Javé das águas e se tivesse a gente ia fazer. Os homens disseram que só não

inunda quando a cidade tem alguma coisa de importante, história grande, quando é coisa de tombamento

e aí vira patrimônio, aí eles não mexem nela... Se Javé tem algum valor são as histórias das origens, dos

guerreiros, lá do começo e que vocês vivem contando e recontando e isso minha gente, isso é patrimônio,

isso é história grande... Disseram que só não inunda se for patrimônio. Então vamos nós mesmos hoje

escrever a história do Vale de Javé. Vamos colocar no papel os enredos gente! Desencavar da cabeça os

acontecimentos de valor. Botar na escrita, fazer uma juntada de tudo para mostrar para as autoridades da

cidade porque Javé tem que ter tombamento... só que tem uma coisa eles falaram lá que só tem validade

se for assim: científico.

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UNIDADE II A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS

EUROPEUS E DAS RELAÇÕES DE PODER3

INTRODUÇÃO4:

Existe uma tendência generalizada de pensarmos que as estruturas de nossas

sociedades atuais sempre existiram da mesma forma e as funções desempenhadas pelos

indivíduos sempre foram as mesmas. Mas não podemos esquecer que elas são o resultado de

um longo processo de transformação pelo qual os seres humanos passaram. Desde as

sociedades tidas como coletivas até as denominadas complexas5 os papéis sociais

desempenhados por seus membros foram constantemente modificados.

Nosso objetivo dentro da Unidade é entender por que e como as sociedades europeias

na Idade Moderna desenvolveram uma estrutura social tão diferente da medieval. Para isto é

importante darmos significado a palavras, tais como: Estado, nação e nacionalidade que

estarão em evidência na construção dos Estados Modernos.

A sociedade feudal por mais consolidada que pudesse parecer, ao longo de dez séculos

(século V ao século XV) sofreu uma série de mudanças em sua estrutura, principalmente no

período denominado pela maioria dos manuais didáticos de Baixa Idade Média que vai do

século X ao XV. Foram inúmeros os fatores que desencadearam esse processo, dentre os

quais, destaca-se o surgimento de uma nova classe social ligada às atividades comerciais que

se denominou burguesia. Ela foi responsável pelo ressurgimento das atividades econômicas

em torno das cidades e também da reestruturação das atividades produtivas em que os

comerciantes e artesãos passaram a desempenhar um papel preponderante.

3 A elaboração da Unidade que consiste em textos, exibição de trechos dos filmes e proposta de atividades aos

alunos foi planejada para ser desenvolvida em várias aulas. Cabe ao professor escolher metodologicamente como

irá aplicar esses instrumentos e quanto tempo dedicará a cada tarefa. 4 Propõe-se a situar o aluno dentro do assunto da unidade trazendo elementos para discussão. Lembramos que o

mesmo constitui-se numa possibilidade de abordagem, portanto, o professor terá total liberdade para adequar o

assunto à sua própria metodologia de ensino. Com a finalidade de otimização do tempo sugere-se a utilização de

recursos, como: preparação de slides, a utilização de esquemas e mapas para a TV pendrive que possam ilustrar

de forma mais dinâmica o conteúdo. 5 Optamos pela utilização dos termos “sociedades coletivas” e “sociedades complexas”, por figurarem como

termos usuais na maioria dos manuais didáticos; entretanto, eles devem ser compreendidos dentro do contexto

apenas como um dos elementos comparativos dentre as diversas sociedades humanas e não como uma regra para

a evolução das mesmas.

15

Juntamente com essa mudança gradativa de eixo: do campo para a cidade os demais

estamentos da sociedade (senhores feudais: nobreza e clero; servos: camponeses) tiveram que

se adequar às novas demandas.

Uma das dificuldades enfrentadas para que essas transformações ocorressem estava na

concepção que se tinha de poder político que até então era descentralizado. É na busca de uma

centralização desse poder que surge uma aliança entre a nobreza (representada pelo Rei) e a

burguesia emergente (representada pelos comerciantes). Ambas serão responsáveis pela

concentração de tudo que diz respeito à politica, economia e sociedade nas mãos de um único

soberano e também produzirá uma estrutura em que a instituição denominada: “Estado”

surgirá com força total.

Assim a partir de meados dos séculos XII e XIII em diversas regiões da Europa

centro-ocidental diversas nações surgem dentro dessa nova perspectiva de sociedade. É o que

acontece com os reinos localizados na Península Ibérica que originarão os Estados Nacionais

Modernos de Portugal e Espanha que entre os séculos XV e XVI serão responsáveis pelo que

se denominou chamar de Expansão Marítima Europeia.

Por estarem mais próximos do Oceano Atlântico desenvolvendo atividades pesqueiras

e também por avançaram em seus conhecimentos náuticos esses Estados são apontados como

os primeiros a conseguirem resolver seus problemas internos (território, língua, moeda, pesos

e medidas, criação de um exército nacional, dentre outros) e formarem uma Monarquia

Nacional.

Como dissemos anteriormente a burguesia desempenhava atividades de cunho

comercial, afinal, desde o advento das Cruzadas os europeus mantinham contato com o

Oriente (principalmente com Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente) e

demonstravam um interesse crescente pelas “especiarias” comercializadas naquele local.

Tornavam-se cada vez mais comuns as Feiras realizadas em regiões como Flandres e

Champagne em que se trocavam mercadorias produzidas nos antigos feudos por produtos

orientais trazidos por mercadores. É por isso justamente que a necessidade da expansão de

mercado bem como a busca de matérias primas para a produção manufatureira leva os

europeus a procurarem fora do continente novos locais de exploração e também de

consumidores em potencial para seus produtos, contribuindo de maneira decisiva para a

consolidação não somente da economia europeia, mas também para o fortalecimento do

Estado Moderno.

16

ATIVIDADE:

1. Com os conhecimentos que você possui sobre o assunto e o auxílio do professor e colegas

escreva no quadro abaixo algumas características da sociedade feudal europeia dos séculos V

ao XV, dando ênfase aos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.6

IDADE MÉDIA

POLÍTICA:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

ECONOMIA:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

SOCIEDADE:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

CULTURA:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

6 O exercício constitui-se numa estratégia para relembrar juntamente com os alunos algumas características do

período medieval e também posteriormente levá-los a comparar as semelhanças e diferenças no que tange à

formação do Estado Nacional Moderno.

17

2. Chuva de Ideias7

Leia as palavras-chaves dispostas abaixo e procure dar um “significado” para cada uma delas:

7 A proposta do exercício é a de detectar os conhecimentos prévios que o aluno tem sobre o assunto. Portanto,

num primeiro momento, deverão ser levadas em consideração todas as respostas e argumentos dados por eles,

mesmo que fora de contexto e posteriormente a intervenção do professor será de fundamental importância no

sentido de direcionar as respostas para o conteúdo estudado.

Território

Nacionalidade

Nação

ESTADO

Monarquias Nacionais

– surgiram na Europa

Ocidental a partir do

século XIII

18

UM CONCEITO PARA A PALAVRA: ESTADO

Entidade – destaque para o sentido de associação.

Instituições – organizações ou instrumentos sociais que de alguma forma agem e controlam o

funcionamento da sociedade.

UM CONCEITO PARA A PALAVRA: NAÇÃO

“O Estado é, poderíamos assim sintetizar, entidade (grifo nosso) composta por diversas

instituições (grifo nosso), de caráter político, que comanda um tipo complexo de organização social.

Muitas vezes associamos Estado e Nação, tratando-os como sinônimos, mas enquanto o Estado é uma

realidade jurídica, a Nação é uma realidade sociológica... com Maquiavel, o termo estado passou a

designar o conjunto de instituições políticas de uma sociedade organizada complexa”.

In: SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique.

Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006, p.115.

PARA O PROFESSOR:

Um conceito para a palavra “Estado” – aproveitando a chuva de ideias proposta na

unidade. Agora através dos conceitos trazidos pelo texto didático fazer um contraponto

com aquilo que os alunos propuseram como “conceito” para as palavras-chaves

apresentadas.

Hoje, ao falarmos de Nação, normalmente estamos associando esse termo a um contexto político,

oriundo da formação dos Estados nacionais na Europa Ocidental no início da Idade Moderna. Assim

sendo, o conceito mais corrente de Nação é aquele em íntima afinidade com a ideia de Estado. Este,

por sua vez, é o organismo político-administrativo que ocupa um território determinado, sendo

dirigido por governo próprio. A Nação, em seu significado mais simples, é uma comunidade humana,

estabelecida neste determinado território, com unidade étnica, histórica, linguística, religiosa e/ou

econômica. O Estado seria, nesse sentido, o setor administrativo de uma Nação... as ideias de nação e

de Estado estão interligadas e deram origem a outro conceito, o de Estado-nação ... ele abarca a ideia

de que determinada população de um território seja reconhecida como pertencente a um poder

soberano, unificado por uma língua e uma cultura dominantes impostas a todos os habitantes do

território e consideradas as únicas nacionais... tal realidade política surgiu no Ocidente com a

formação das Nações europeias no início da Idade Moderna. Estas se caracterizavam pela crescente

centralização do poder e fortalecimento do Estado e do soberano, em contrapartida à fragmentação de

poder existente no sistema feudal. Uma centralização traduzida, do ponto de vista sociocultural, pelo

nascimento de uma consciência nacional, ou seja, pelo nascimento da consciência desenvolvida pela

população daqueles territórios de que ela possuía uma unidade cultural. In: SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique.

Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006, p.308-309

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FILME PARA ANÁLISE: O OUTRO LADO DA NOBREZA8

FICHA TÉCNICA E SINOPSE

O Outro lado da Nobreza (aproximadamente 117‟)

Distribuição: Europa Filmes

Direção: Michael Hoffman

Produção: 1995

Atores: Robert Downey Jr., Sam Neil, Meg Ryan.

Filme vencedor do Oscar de Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte se passa na

Inglaterra do século XVII durante o Reinado de Carlos II. O jovem e sonhador Robert

Merivel apesar ser um brilhante estudante de Medicina gasta os poucos recursos de seu pai (o

luveiro do rei) de maneira devassa. Uma oportunidade inusitada o coloca no palácio para

cuidar dos inúmeros cachorros de estimação do Rei mudando sua vida da noite para o dia. O

desenrolar dos acontecimentos retratam os interesses da realeza em contraste com a pobreza e

doenças da população. Temas como a centralização do poder nas mãos do rei, a vida do reino

girando em torno da corte, os tratamentos médicos desenvolvidos na época, a loucura e a

Peste são tratados de maneira a constituir um bom material para refletirmos sobre o período

das Monarquias Nacionais.

8 IMPORTANTE: ao utilizar o filme acima citado é imprescindível que o professor esteja bastante

familiarizado com o enredo e também, se possível, faça uma edição das partes que melhor se adaptam à

sua proposta didática. Alertamos que ele possui algumas raras cenas “picantes” (sexo) e que poderão

causar constrangimento. Hoje em dia com um pouco de paciência e tempo é possível através de programas

de conversão e corte, tais como o Format Factory (gratuito e disponível na internet) e o Windows Movie

Maker (que é parte integrante do Windows XP e para o Windows 7 pode ser baixado também

gratuitamente da internet) fazer os cortes e se utilizar somente aquilo que se deseja.

Para efeito de análise e estruturação do trabalho foram estudados os seguintes capítulos do filme, não

significando, entretanto, que todos eles foram utilizados integralmente para o desenvolvimento das

atividades e isso se aplica a todas as unidades propostas no caderno.

Capítulo 1 – Créditos Iniciais

Capítulo 2 – Lulu

Capítulo 3 – O Casamento

Capítulo 6 – A traição de Finn

Capítulo 8 – Fazendo dormir

Capítulo 9 – Dança do Rodopio

Capítulo 10 – A morte de John Pierce

Capítulo 11 – Katherine dá a luz

Capítulo 12 – De volta ao Reino

Capítulo 13 – O presente do Rei

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No século XVII as Monarquias Absolutistas já eram uma realidade consolidada em

países como Inglaterra e França inclusive superando em termos políticos e econômicos os

países da Península Ibérica (Portugal e Espanha) que apesar de pioneiros no processo de

centralização do poder político nas mãos do rei e também nas Grandes Navegações não

conseguiram manter sua hegemonia no continente europeu.

Em cada região da Europa Ocidental esse processo aconteceu de forma diferenciada e

assumiu características peculiares, entretanto, alguns aspectos podem ser considerados muito

semelhantes entre essas diversas nações. Podemos exemplificar isto através da política

mercantilista que objetivava manter o Estado funcionando e também assegurar a posição

privilegiada do rei, da nobreza e do clero, além de manter uma organização social

hierarquizada com o mínimo possível de mobilidade em que os privilégios dessas classes se

sobrepunham às demais representadas pelos comerciantes burgueses, artesãos, pequenos

proprietários e camponeses.

Neste contexto justifica-se a utilização do filme: “O Outro Lado da Nobreza” por

diversas razões, dentre as quais destacamos:

Exemplifica as desigualdades existentes entre a população pobre da cidade de Londres e

que contrasta com os interesses muitas vezes fúteis da Corte.

Demonstra o poder inquestionável do rei que era satisfeito em seus mínimos caprichos e

desejos.

O personagem central Robert Merivel (médico) pode ser usado como exemplo para

explicar os anseios da população em busca não só de uma vida melhor - o que representa

ideologicamente uma ideia burguesa -, mas também a ansiedade por ganhar visibilidade

dentro dessa estrutura social que privilegiava a poucos.

O filme oportuniza a discussão sobre como o cientificismo que cada vez mais fará parte

do cotidiano do homem moderno dos séculos XVII, XVIII e XIX era visto. Como a

Medicina lidava com as doenças infecto contagiosas e com a loucura.

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ATIVIDADE:

Apesar de ser um filme ficcional ele se desenvolve em torno de personagens que

existiram na história da Inglaterra e também trata de ideias e conceitos que fizeram parte da

estrutura política e social presente na Monarquia Absolutista Inglesa. A frase acima indica

nomes e ideias que seriam interessantes discutirmos melhor no sentido de entendermos como

foi que o absolutismo se caracterizou nessa região da Europa.

1. Elabore um texto (três laudas no máximo) trazendo informações sobre os seguintes

personagens e assuntos:

a)Carlos II

b)Oliver Cromwell

c)Puritanismo

Após ler atentamente as descrições de cenas acima recordando o filme juntamente com

o professor desenvolva as seguintes propostas:

2. Pesquise os avanços científicos que surgiram nos diversos ramos do conhecimento na

Europa do século XVII.

3. Quais as doenças mais comuns existentes nesse período (século XVII) e como a medicina

tratava delas. Dê enfoque principalmente às citadas no filme: tuberculose, loucura e a “Peste”.

Créditos iniciais do Filme: O OUTRO LADO DA NOBREZA

Em 1660, Carlos II voltou ao trono da Inglaterra após 11 anos do governo puritano de Oliver

Crommell. Era um tempo de descobertas científicas, novas artes, luxuriante sensualidade e também

desastres naturais e práticas médicas arcaicas. A ciência era desafiada pela superstição. Esta é a história da

jornada de um homem através da luz e das trevas daquela época.

Trechos do Filme: O OUTRO LADO DA NOBREZA.

Descrição de Cena: (Capítulo 1 – Créditos Iniciais)

Robert Merivel conversa com seu pai revelando sua insatisfação por não conseguir curar a maioria

de seus pacientes: “Faço o que posso para tratá-los, mas nossa ciência não dá esperança de cura para a

maioria e me sinto frustrado; não, me sinto assustado”.

Descrição de Cena (Ver Capítulos de 8 a 12)

“Após desfrutar de uma vida cheia de regalias na Corte, Merivel é destituído pelo Rei de tudo o

que havia ganhado. Confuso e sem rumo vai refugiar-se numa aldeia e reencontra de amigo John Pierce que

desenvolve um trabalho junto a pacientes portadores de distúrbios mentais. Merivel aos poucos se envolve

com o dia a dia daquele lugar e conhece a paciente Catherine com quem posteriormente terá um

envolvimento emocional. Nesse tempo em que está lá volta a exercer a medicina e estuda o comportamento

dos pacientes tentando desenvolver procedimentos pouco convencionais para a época na busca de

resultados para a cura dos pacientes. Seu amigo Pierce fica doente (tuberculose) e morre. Após sua morte

Merivel e Catherine (que está grávida) voltam para a Corte. O quadro que encontram é desolador, pois a

cidade está sofrendo com a terrível “peste” que praticamente dizimou toda a população, atingindo inclusive

membros da realeza”.

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4. Tendo como base a cena descrita acima realize as seguintes atividades:

a)Na Idade Média existiram as Corporações de Ofício. Pesquise nos livros de História o que

exatamente elas eram, como funcionavam e também tente descobrir como foram aos poucos

sendo substituídas pela produção artesanal e manufatureira que caracterizaram a economia

europeia até meados do século XVIII.

b)Em vários momentos no dialogo entre Merivel e seu pai fica evidente que eles pertencem a

uma classe social que não possuía muitos privilégios. Investigue quais eram as classes sociais

existentes na Europa do século XVII e os papéis desempenhados por seus membros dentro da

sociedade.

Na Escola de Medicina Merivel é observado pelo rei que fica impressionado com sua

coragem diante dos desafios a que é submetido. Ainda na cena em dois momentos se

mostram as ruas da cidade, onde a população se aglomera em diversas atividades.

5. Procure lembrar esta cena e anote pelo menos duas ações que se passaram durante o

percurso de Merivel até a Escola de Medicina e depois até que o barco que o levaria ao

palácio real e que indiquem os tipos de atividades que eram realizadas pela população nas

ruas da cidade.

Trechos do Filme: O OUTRO LADO DA NOBREZA.

Descrição de Cena (ver Capítulo 1 – Créditos Iniciais)

Merivel pede dinheiro a seu pai alegando querer recuperar seus instrumentos médicos que foram

penhorados. Seu pai lhe diz: “Olhe para essas mãos. Olhe para elas, trabalharam até os ossos pela sua caixa

de instrumentos, por seus professores e pelos livros sobre sua mesa, ou será que foram penhorados

também? Livros que foram comprados para que o filho de um fabricante de luvas tivesse o direito de usar

seus dons que o marcaram como médico”.

Merivel retruca: “... meus dons pai me levaram ao desespero negro e salas escuras enquanto ouço

a alegria nas ruas. O rei foi devolvido a nós, os teatros estão abertos. Os alfaiates e fabricantes de perucas

estão felizes, os homens ricos vão novamente para o céu. Gostaria de apertar a mão do rei!”.

Seu pai responde: “Olhe para esta luva, toque. Esta luva é para o rei. E isto é o mais próximo que

poderá chegar para tocar a mão do rei da Inglaterra”.

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UNIDADE III - A DESCOBERTA DA AMÉRICA

INTRODUÇÃO

Por mais que a historiografia da América Latina tenha avançado nas últimas décadas

no sentido de desmistificar o termo “Descoberta da América” ele continua sendo amplamente

difundido através dos manuais didáticos. O estudo da cultura dos povos pré-colombianos em

diversos aspectos ainda permanece num passado pouco debatido e estudado no ambiente

escolar. E se esse conteúdo é relegado, o que diremos sobre a compreensão da cultura e do

modo de vida dos remanescentes dessas populações hoje.

Só nos lembramos de que elas existem quando de alguma forma os meios de

comunicação noticiam algo a seu respeito, e não raras vezes, com comentários pejorativos e

superficiais. O que diremos então dos nossos indígenas do Brasil? Uma população que na

época do Descobrimento era de milhões e hoje não passam de uma dezena de milhares.

Certamente um dos questionamentos mais perturbadores quando tentamos

compreender esses primeiros momentos do contato do europeu com o ameríndio, seja: Por

que tanta violência e destruição?

Bem a resposta a essa indagação não é tão simples assim; aliás, como a história do

continente americano, principalmente, das Américas Central e do Sul estão ainda

intrinsecamente ligadas ao continente europeu somos levados ainda que com grandes reservas

a buscar explicá-la através da análise de sua conjuntura.

Como já dissemos anteriormente, a Europa Ocidental durante os séculos XIV e XV

passou por um processo de grandes mudanças, principalmente, com a centralização política

nas mãos do rei e surgimento do Estado Nacional, enquanto instituição que assumia a

responsabilidade de zelar pelo bem estar daqueles que estavam sob a sua tutela.

Para que os monarcas conseguissem a manutenção do poder e administrassem essa

grande estrutura era necessário além de poder, dinheiro e apoio de segmentos da sociedade

que denotavam alguma importância dentro dessa nova ordem.

Ora com a volta da circulação de moedas como forma de valorar as mercadorias em

circulação gerou-se um grande problema, pois elas eram fabricadas em metal precioso (ouro e

prata) e as reservas da Europa foram escasseando rapidamente. Além disso, em 1453, a cidade

de Constantinopla (importante centro de comércio que fazia a ligação do continente europeu

com o continente asiático), caiu sob o domínio dos turcos que ao elevaram sobremaneira os

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preços das “especiarias” inviabilizou o comércio europeu.

Uma das saídas encontradas estava na busca de uma nova rota de comércio que não

precisasse passar pelo Mar Mediterrâneo, consequentemente por Constantinopla.

Logo o Oceano Atlântico despontará como uma alternativa viável ao comércio

marítimo sendo alvo de disputa pelas nações da época pelo seu controle. Diversos

navegadores passam a aventurar-se por suas águas em busca não somente de aventura, mas

também de novas terras para explorar e conquistar.

O aperfeiçoamento de mapas, embarcações e instrumentos náuticos; além é claro do

apoio financeiro dos monarcas, contribuiu de maneira decisiva para que essas conquistas se

concretizassem de forma intensa e lucrativa para o Velho Continente.

Existe uma vasta documentação que relata como foram os primeiros contatos entre os

conquistadores europeus e os ameríndios. A maioria delas atesta que logo no início o a relação

foi amistosa, lembremos-nos do caso brasileiro em que nos primeiros trintas anos da

descoberta (1500-1530 período Pré-Colonial); os indígenas ajudaram não só os portugueses,

mas também os contrabandistas franceses a levar o pau-brasil para a Europa.

É importante frisar que alguns desses textos de que dispomos, muitas vezes, trazem a

visão do conquistador europeu e inclusive justifica a forma de dominação a que os índios

foram submetidos, sob o pretexto que essa intervenção era necessária para que o recém-

descoberto continente (o Novo Mundo) pudesse “alcançar” o progresso e o desenvolvimento

do Velho Mundo (Europa).

Nossa proposta para essa Unidade é estudar alguns aspectos relevantes desse período

(séculos XV e XVI), destacando os objetivos dos conquistadores, bem como, as dificuldades

enfrentadas pelos mesmos ao navegar pelo Oceano Atlântico. Sua chegada ao continente

americano e os resultados advindos do contato deles com os habitantes aqui residentes.

É com esse intuito que utilizaremos alguns trechos do filme 1492: A conquista do

Paraíso9. Produção dirigida pelo consagrado Ridley Scott e com um elenco de nomes de

destaque como: Gérard Depardieu (Cristovão Colombo) e Sigourney Weaver (rainha de

Espanha).

9 1492: A Conquista do Paraíso. (aproximadamente 148‟)

Distribuição: Spectra Nova.

Direção: Ridley Scott.

Ano: 1992.

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Retrata de forma significativa o período das Grandes Navegações (fim do século XV e

início do XVI), especificamente as ideias de Cristovão Colombo que almejava comprovar a

esfericidade da Terra através da viagem de circunavegação (chegar ao Oriente navegando para

o Ocidente), expondo as angústias do navegador e a incredulidade dos céticos, bem como, os

desafios que cercavam uma viagem de tão grande monta.

No desenrolar da trama privilegia cenas que ilustram as intempéries a que foram

submetidos tanto os colonizadores quanto os colonizados; e as disputas políticas, econômicas

e culturais que envolveram as corridas europeias pela conquista de novos mercados

fornecedores de matérias-primas e consumidores em potencial de seus produtos.

Por esses e outros motivos o filme se constitui numa boa opção para se contextualizar

a Descoberta e Conquista da América.

ATIVIDADE

1. Busque em livros de história e na internet, um mapa que demonstre como era representado

o mundo antes do século XV e outro depois do século XV. Procure e anote as semelhanças e

diferenças existentes entre eles.

2. Faça também uma pequena pesquisa (uma página) sobre os nomes e palavras abaixo:

a)Cristovão Colombo

b)Viagem de circunavegação

c)Teoria Geocêntrica

d)Teoria Heliocêntrica

e)Inquisição

f)Especiarias do Oriente

Trechos do Filme: 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO.

CAPÍTULO 1

A cena se passa num mosteiro onde Colombo conversa com um monge. O religioso lhe diz que suas

ideias serão ouvidas na Universidade de Salamanca (Espanha). E passa a inquiri-lo sobre quais os

motivos teria para fazer uma viagem pelo Oceano Atlântico.

(religioso). – Por que deseja navegar para Oeste?

(Colombo). – Para abrir uma nova rota para a Ásia. A Ásia é o reino mais rico. Tem especiarias e ouro.

No momento, há só dois modos de alcançar isso: por mar, navegando em volta do continente africano. A

viagem leva um ano. Ou por terra. Mas os turcos fecharam a rota para os cristãos. Há um terceiro modo:

navegando para o Ocidente através do Oceano.

O navegador é alertado pelo monge sobre o perigo de ser considerado louco e herege pelas autoridades

religiosas e do Estado, ao que este lhe pergunta:

(Colombo). – Por dizer a verdade?

(religioso). – Sim. Queimam gente por menos.

(Colombo). – disseram mentiras por tanto tempo. (aponta para o globo terrestre e fala). ... Disseram que

isso era reto como uma mesa. Que havia monstros na extremidade do mundo.

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3. O trecho acima demonstra de maneira clara que haviam vários interesses em jogo. De um

lado os da Igreja e de outro os do Estado (no caso aqui, da Coroa Espanhola). Extraia do

próprio texto quais eram esses interesses.

4. Hoje em dia dispomos de muitos recursos para viajar, além de podermos escolher o tipo de

transporte mais conveniente para diminuir as distâncias. Além de instrumentos de precisão

como o GPS (que opera via satélite) e que nos dá a localização exata de onde estamos e traça

rotas para chegarmos seguramente ao nosso destino. Procure saber quais eram os meios

utilizados pelos navegantes dos séculos XV e XVI para chegarem ao seu destino e quais as

condições de sobrevivência (alimentação, higiene, saúde) a que eram submetidos dentro das

naus.

Trechos do Filme: 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO.

CAPÍTULO 2.

É o ano de 1491 e Colombo está na Universidade de Salamanca diante de uma comissão formada por

representantes da Igreja e da Coroa Espanhola. A discussão é em torno dos prós e contras de sua teoria de

viajar para o Ocidente com o objetivo de se chegar ao Oriente. O tesoureiro da Coroa Espanhola

pergunta:

(tesoureiro). – Suponhamos que cruze o Oceano e alcance a Ásia. O que a Espanha faria lá?

(Colombo). – Negociar, Sua Excelência. Marco Pólo disse que a China é um dos reinos mais ricos do

mundo. Mesmo as construções mais simples têm telhado de ouro.

O representante da Igreja infere e diz:

- Isso é tudo que o interessa? Ouro?

(Colombo). – Não. Eu levaria esse povo a Deus e iria torná-los súditos de Castela e Aragão. Em vez de

um reino, a Espanha será um império.

Trechos do Filme: 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO.

CAPÍTULOS 3,4,5

Após muitas discussões e reveses Colombo consegue o apoio da Coroa Espanhola para a sua

viagem. Com uma numerosa tripulação e três caravelas parte rumo à concretização de seu objetivo. Já em

alto mar nove semanas se passam sem que nenhum sinal de terra firme seja avistado. Isso gera apreensão e

desânimo nos tripulantes que não esperavam que a viagem fosse tão longa, até que finalmente a 21 de

Outubro de 1492 chegam à uma Ilha da América Central chamada GUANAHANI. Imediatamente após

aportarem, Colombo toma possa da terra em nome de Deus e dos Reinos de Castela e Aragão.

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5. Infelizmente sabemos que o contato entre europeus e indígenas trouxe uma série de

prejuízos. Através da violência desmedida realizaram-se saques e pilhagens, além da

dizimação da população ameríndia. Com o auxílio do professor que disponibilizará textos

documentais da época que atestam essa violência compare os trechos acima citados com esses

documentos e discuta com seus colegas quais foram as consequências desse contato.

6. Ainda sob essa perspectiva pesquise em jornais e em revistas como está a situação dos

indígenas hoje na América do Sul. Destacando como eles vivem e como a legislação trata dos

assuntos relacionados a eles.

Trechos do Filme: 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO.

CAPÍTULO 5, 7.

Já em terra firme Colombo parte floresta adentro para explorar o território. Nesse momento

acontece seu primeiro contato com os habitantes locais. O clima é tenso, mas aos poucos se torna

amistoso. Ele e seus companheiros são levados à aldeia para serem apresentados ao chefe. Novamente a

tensão toma conta de todas sendo dissipada com gargalhadas. O navegador está encantado com as belezas

naturais daquele lugar e com a singela inocência de seus habitantes.

(Colombo). – Acho que voltamos para o Éden. Com certeza é assim que o mundo era no começo dos

tempos. Se os nativos forem convertidos aos nossos modos que seja por persuasão e não por força.

Nenhum homem verá esta terra de novo, como a vimos pela primeira vez. Viemos em paz e com honra.

Eles não são selvagens e é assim que seremos. Tratar destas pessoas como suas próprias esposas e filhos.

Respeitar suas crenças. A pilhagem será punida pelo chicote. O estupro pela espada.

CAPÍTULO 8

Colombo continua sua expedição de reconhecimento pela nova terra. O objetivo é construir um

forte e encontrar prata e ouro. Os perigos da floresta estão à espreita e um dos membros de seu grupo é

picado mortalmente por uma víbora. O navegador Pinzon que o acompanha demonstra estar muito doente

também. Chegando a uma nova aldeia Pinzon é examinado por um curandeiro e tratado com ervas. Numa

conversa com o líder local Colombo deixa clara a sua intenção de estabelecer uma possessão naquele

lugar. Com o auxílio de um intérprete fala:

(Colombo). – Diga-lhes que alguns dos meus homens ficarão aqui para construir um forte. Diga-lhes que

eles serão bem tratados. Diga-lhe que voltaremos em muitos.

(intérprete). – Ele perguntou quantos.

(Colombo). – Tantos quantos as folhas naquela árvore. E muitos mais se seguirão.

(líder local). – Por quê?

(Colombo). – Para trazer a palavra de Deus.

(intérprete). – Ele disse que tem um deus.

(Colombo). – E também trazer remédios.

(intérprete). – Ele disse. Ele tem remédios.

(Colombo). – Diga-lhe que admiramos seu povo.

(intérprete). – Ele sabe que gostam de suas mulheres e de ouro.

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UNIDADE IV – RELIGIÃO E SOCIEDADE NA AMÉRICA

CONQUISTADA

INTRODUÇÃO

Durante pelo menos três séculos após o descobrimento a América esteve sob o

domínio dos europeus, principalmente pelos espanhóis e portugueses. Como vimos na

unidade anterior os ameríndios foram subjugados e obrigados a trabalhar para gerar riquezas

para as Coroas. Além disso, aqueles que não foram mortos ao fio da espada sofreram outro

tipo de violência, não física, mas psicológica na medida em que forçosamente abandonavam

os seus usos e costumes para viver segundo as regras culturais e religiosas de seus

conquistadores.

Desde o começo da conquista uma das justificativas dadas pelos europeus para a

conquista era justamente a de que esses povos “pagãos” deveriam ser convertidos ao

Cristianismo. Portanto, as caravelas, além de sua tripulação de marujos, contava com a

presença de um religioso (geralmente um padre jesuíta) que tinha a prerrogativa de transmitir

aos conquistados não somente a sua cultura, mas também sua religião.

A construção de Missões ou Reduções Jesuíticas foi a maneira encontrada por esses

religiosos para cumprir com sua tarefa evangelizadora e também serviram de refúgio para os

indígenas contra os “apresadores” que queriam escravizá-los. Não cabe aqui discutirmos qual

foi a parcela de “culpa” da Igreja em relação à destruição desses indígenas, mas sim, entender

o jogo de interesses entre ela e o Estado (português e espanhol). É com esse intuito que

justiçamos a escolha do filme “A Missão” como ferramenta didática que auxiliará na

compreensão do momento histórico proposto.

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FILME PARA ANÁLISE: A MISSÃO

FICHA TÉCNICA E SINOPSE

A Missão (duração aproximada de 124‟)

Distribuição: LW Editora, Distribuidora e Assessoria de Comunição Ltda.

Produção: 1986.

Produção com oito indicações ao Oscar (levando o de melhor fotografia), além de

vencedora da Palma de Ouro em Cannes. No elenco atores como Robert de Niro (Mendoza),

Jeromy Irons (Gabriel) e Liam Neeson (jesuíta). O desenrolar da trama se passa no ano de

1750 (século XVIII), na América do Sul fronteira entre Argentina, Paraguai e Brasil, tendo

como palco as disputas territoriais coloniais entre Portugal e Espanha, bem como, dos jesuítas

preocupados com a salvação e catequização dos povos indígenas.

O filme oferece a possibilidade de uma excelente contextualização no que diz respeito

à temática da colonização da América espanhola e portuguesa, bem como, retrata o choque

cultural entre europeus e ameríndios. Traz também a discussão sobre o papel das ordens

jesuíticas estabelecidas na América do Sul e como sua interferência no comportamento do

índio trouxe consequências irreversíveis para a cultura indígena americana, pois, embora

tivesse a intenção de divulgar a fé cristã, a conversão dos nativos com o intuito de protegê-los

da escravização, as reduções jesuíticas acabaram sendo mais um instrumento do colonialismo

e imposição da cultura europeia no continente americano através de uma aliança política entre

o Estado e a Igreja.

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ATIVIDADE

1. O texto abaixo faz menção de que o filme é baseado em fatos reais ocorridos no século

XVIII. As missões de São Miguel e São Gabriel realmente existiram e ainda hoje podemos

ver suas ruínas. Faça uma pesquisa na internet e procure encontrar fotos dessas duas Missões,

bem como, informações sobre elas.

2. Os jesuítas pertenciam a uma Ordem Religiosa chamada Companhia de Jesus, busque

informações sobre como, onde e porque ela surgiu e quais eram os seus objetivos na América.

3. Tendo como referência o texto abaixo, identifique quais eram os interesses que estavam em

jogo segundo as palavras escritas pelo representante europeu ao Papa.

Trechos do Filme: A MISSÃO.

Cena 1 – Carta ao Papa

Os acontecimentos históricos nesse filme são reais e ocorreram nas fronteiras da Argentina, Paraguai e

Brasil, no ano de 1750...Os índios estão livres outra vez para serem escravizados por colonos espanhóis e

portugueses... Santidade, escrevo neste ano de Nosso Senhor de 1758 do continente sul das Américas da

cidade de Assunção da Província de La Plata a duas semanas de Março da Missão de São Miguel. Essas

missões foram um refúgio dos índios contra as violências dos colonos e geraram muito ressentimento por

isso... As nobres almas desses índios se inclinam para a música. Na verdade, muitos violinos tocados nas

próprias academias de Roma foram feitos por suas mãos ágeis e bem dotadas; foi destas missões que os

padres jesuítas levaram a Palavra de Deus a um platô ainda não descoberto onde os índios ainda viviam em

estado natural e receberam em troca o martírio.

Trechos do Filme: A MISSÃO

Cena 1 – Carta ao Papa

Nossa tentativa de criar um Paraíso na Terra contraria muita gente. Contraria Vossa Santidade porque isso

pode nos desviar da procura do Paraíso após a vida. Contraria suas majestades de Espanha e Portugal

porque o Paraíso dos Pobres nunca é agradável aos que mandam neles. E os colonos aqui estão contrariados

pela mesma razão. Foi este fardo que eu trouxe à América do Sul. Satisfazer portugueses que querem

aumentar seu império; satisfazer a Espanha que não quer ser afetada por isso. Satisfazer Vossa Santidade

para que os reis de Espanha e Portugal não mais ameacem o poder da Igreja e garantir a todos que os

jesuítas daqui não lhes neguem mais essas satisfações.

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4. Uma das maiores e mais desastrosas consequências do encontro do conquistador europeu

com o ameríndio deu-se através da imposição por parte dos colonizadores no sentido de

dominar o indígena sob o pretexto de que este era incapaz de cuidar de sua própria vida, além

de ser um “animal” que precisa ser domesticado. A ideologia da dominação está presente no

trecho abaixo:

a)identifique e transcreva as passagens em que se confirma essa ideologia;

b)há também outra disputa que se evidencia na discussão e que está ligada à questão das

divisões de terras. Pesquise nos manuais didáticos quais foram os tratados assinados por

Portugal e Espanha no período da colonização da América e o que eles estabeleciam.

5. Como forma de exercitar a ideia de colocar-se no lugar do outro. Elabore um pequeno texto

em forma de carta (Ex.: carta ao Rei de Portugal ou Carta ao Rei da Espanha), escolhendo um

dos lados (colonizador ou colonizado) e justifique a sua posição; por exemplo, se escolher ser

o colonizador (explique as suas razões para interferir na vida e cultura dos índios), já se

escolher ser o colonizado (explique as suas razões que sua vida e cultura sejam preservadas).

Trechos do Filme: A MISSÃO

Cena 16 – O encontro com Sua Eminência

- Dom Cabeza como pode se referir a essa criança como um animal?

- Um pássaro aprende a cantar Eminência.

- Ah, é! Mas como se ensina uma ave a cantar dessa maneira?

- Eminência, esta criança é da selva. Um animal com voz humana. Se fosse humano um animal se encolheria

em seus vícios. Essas criaturas são mortais e traiçoeiras. Eles terão de se domados pela espada e obrigados a

trabalhar pelo chicote.

- Eminência, padre Gabriel da Missão de São Carlos de onde vem o menino.

- E onde é isso?

- Aqui, Eminência! Acima da Cachoeira, em território espanhol.

- Não, não! Aquele território já foi espanhol padre, agora é português.

- Certamente é isso que Sua Eminência veio decidir, Excelência.

- Não, isso é assunto de Estado. Foi decidido pelo Tratado de Madri e acertado por suas Majestades de

Espanha e Portugal.

- Mas certamente as Missões continuam sob a proteção da Igreja?

- Ah, não! Isso é o que Sua Eminência veio decidir padre Gabriel.

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6. Leia atentamente o trecho descrito abaixo, ele revela que os índios após o contato com os

europeus nunca mais foram os mesmos; tiveram sua cultura tão modificada que em

decorrência disso não sabiam mais quem eram enquanto nação. Hoje, quando vemos nos

noticiários de televisão e jornais os índios reivindicando o direito à terra e que o respeito aos

seus usos e costumes, ficamos até revoltados e não raras vezes dizemos: “mas para que eles

querem tanta terra se são preguiçosos e não trabalham”. Não paramos para pensar que essa

frase expressa uma ideia que o conquistador europeu uso para justificar todas as ações que

praticaram aqui no nosso continente. Assim como os indígenas do filme não queriam sair das

missões porque não sabiam mais agir como seus antepassados. Os nossos indígenas

atualmente estão na mesma situação. Diante disso, em sua opinião, quais seriam as atitudes

que a dita civilização deveria ter para com essa população. Será que devemos interferir em

seu modo de vida ou devemos deixá-los lá isolados para que preservem seus usos e costumes.

Justifique sua resposta.

Trechos do Filme: A MISSÃO

Cena 21 – O decreto do Cardeal

- Eles não entendem o que o senhor diz. Dizem que precisam que fale mais claro: o que exatamente o

senhor quer que eles façam.

- Que deixem a Missão.

- Dizem que não querem deixar a Missão, aqui é o lar deles.

- Eles têm que aceitar a vontade de Deus. Diga-lhes.

- Dizem que foi a vontade de Deus saírem da selva e erguerem a Missão. Não entendem porque Deus

mudou de ideia.

- Eu não posso entender as razões de Deus.

- Ele diz: Como sabe a vontade de Deus? Acha que o senhor não fala por Deus e sim pelos portugueses.

- Eu não falo exatamente por Deus, eu falo pela Igreja, um instrumento de Deus na Terra.

- Ele diz: Por que não fala com o rei de Portugal?

- Já falei com o rei de Portugal, ele não ouve.

- Ele diz que também é rei e também não ouvirá. Diz que estavam errados por confiarem em nós. Eles vão

lutar.

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VÍDEOS

1492: a conquista do paraíso. Direção e Produção: Ridley Scott. Distribuição: Spectra Nova,

1992. 1DVD (148 min.). son., color.

A MISSÃO. Distribuição: LW Editora, 1986. 1 DVD (124 min.). son., color.

NARRADORES DE JAVÉ. Direção: Eliane Caffé. Distribuição: Bananeiras Produções, 2003.

1DVD (157 min.). son, color.

O OUTRO LADO DA NOBREZA. Direção: Michael Hoffman. Distribuição: Europa Filmes,

1995. 1DVD (117 min.). son, color.

REFERÊNCIAS

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USP/CONTEXTO, 1988.

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2005. Coleção Repensando o Ensino.

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milênio. São Paulo: Moderna, 2005. 1ªed. V.II.

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HISTÓRIA/vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2007. 2ªed.

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Paulo: Contexto, 2005.

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de 2º grau. In: Relatório de Projeto de Iniciação Científica – agosto 1996-julho 1997.

Universidade Estadual de Maringá. Orientador: José Henrique Rollo Gonçalves.

_________. A história que o cinema ensina: uma tentativa de análise semiológica das

imagens cinematográficas do passado brasileiro. In: Relatório de Projeto de Iniciação

Científica – agosto 1997 – março 1998. Universidade Estadual de Maringá. Orientador:

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Escritos, n.1, julho-agosto 1994.

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histórias tradicionais: ensino de história em tempos globais. In: Tempos Históricos vol.

12, 1º semestre, 2008, p.37-56.