DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · pedagógica e a partir da releitura da obra cinematográfica,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
¹ Pós-graduada em Produção e Recepção de Textos, Graduada em Letras-Português. Professora da Rede Estadual de Ensino no Colégio Estadual Tancredo Neves Ensino Fundamental e Médio. ² Jornalista, mestre em Letras, doutoranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), líder do Grupo de Pesquisa Conversas Latinas em Comunicação, autora de Rota 66 em Revista - as resistência no discurso do livro-reportagem e organizadora de várias coletâneas.
DOS LIVROS PARA AS TELAS E DAS TELAS PARA OS LIVROS: A formação do
leitor
Autor: Lizete Maria Pergher Dala Costa¹ Orientadora: Ariane Carla Pereira²
Resumo
O PDE é um programa de formação continuada de docentes da SEED-PR no engajamento de Instituições Públicas de Ensino Superior, nas diversas áreas do conhecimento do Currículo Escolar. Este artigo tem o objetivo mostrar os resultados da aplicação de uma proposta do Ensino de Literatura. Dentro dessa perspectiva, percebeu-se que a partir da linguagem cinematográfica o processo de ensino e de aprendizagem, pode colaborar com a prática questionadora dos padrões estéticos da sociedade e dos discursos dominantes. O trabalho teve como eixo estruturador a utilização do filme “Sociedade dos Poetas Mortos” partindo dos pressupostos da Língua Portuguesa e Literatura que é a Oralidade, Leitura e Escrita, revelado no movimento literário Renascentista e Barroco, aplicado na 1ª série do Ensino Médio Regular, noturno, do Colégio Estadual Tancredo Neves – Ensino Fundamental e Médio, no município de São João-PR. Este surgiu da necessidade de formar um leitor crítico e maduro para atuar na sociedade. Para execução optou na produção didático-pedagógica e a partir da releitura da obra cinematográfica, produção de resenha e a construção de fanzine literário. Os alunos percebem o cinema, em sala de aula, como um instrumento motivador e facilitador da aprendizagem. Acreditamos que o resultado dessa proposta diferenciada de trabalho em sala de aula tenha sido positivo, uma vez que, percebeu-se o interesse maior pela Literatura através de obra cinematográfica.
Palavras-chave: Leitura; Linguagem Cinematográfica; Literatura.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo aborda novas perspectivas no ensino da literatura tendo como
ferramenta nova metodologia e linguagem. Em particular, a linguagem do cinema
através da utilização de filmes comerciais na sala de aula como apoio no processo
ensino-aprendizagem.
É por meio da leitura que o indivíduo verifica suas experiências e valores.
Ler é a condição para que o indivíduo saiba posicionar-se, ter opinião própria e ser
crítico. Para o indivíduo se tornar um apreciador e fruidor da beleza do mundo que o
cerca, é preciso dotá-lo da linguagem fundamental à compreensão e desvelamento
do universo da arte. É preciso desenvolver no indivíduo a sensibilidade para ver e
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para apreciar, sob este aspecto a cultura visual valoriza o diálogo em sala de aula,
incentivando os alunos a questionar, pensar, analisar as imagens, ver que
sensações elas passam a cada um, não deixando espaço para a passividade.
No entanto, hoje, o que vemos nos interiores das salas de aula são alunos
que têm pouco interesse pela leitura. Embora um dos principais objetivos da escola
seja estimular a leitura, o que se percebe é que os alunos não conseguem ir além da
simples decodificação.
Convém ressaltar, que o ensino de Literatura no Ensino Médio está
intimamente ligado a técnicas de leitura e produção de texto que devem perpassar
todas as atividades elaboradas. E de acordo com a Diretriz Curricular de Ensino
(DCE) deve propiciar uma prática diferenciada com o conteúdo estruturante da
disciplina para seu aprimoramento.
Pensando nesta questão e conhecendo a dificuldade de levar o jovem a ler
textos literários no Ensino Médio que ampliem seu horizonte de expectativas e a
dificuldade do aluno em entender o contexto de produção da obra literária, bem
como o contexto de sua leitura na possibilidade de diálogo da Literatura com outras
artes e áreas do conhecimento, tornou-se relevante a partir de uma situação
problema em metodologia de pesquisa-ação em sala de aula, aproximar literatura e
cinema e traçar o percurso a partir da observação e da oralidade, a partir dos
recursos cinematográficos.
A preocupação com a implementação de ações pedagógicas inovadoras,
direcionadas à educação como processo de formação integral do aluno, consolida-
se com uma ferramenta denominada cinema, que há muito vem influenciando
culturas e sociedades. Ressalta-se que o ensino de Literatura no Ensino Médio está
intimamente ligado a técnicas de leitura e produção de texto que devem perpassar
todas as atividades elaboradas.
O trabalho procurou analisar o uso de filmes em sala de aula, no Ensino
Médio, como ferramenta didático-pedagógica, levando-se em conta novas
habilidades na aprendizagem dos conteúdos curriculares.
Este artigo tem como objetivo problematizar uma leitura intertextual entre o
ontológico filme “Sociedade dos poetas mortos”, e o conteúdo que abarca o
movimento literário Barroco, com o objetivo de desenvolver no educando a
capacidade da leitura crítica da linguagem cinematográfica, relacionando-a com
questões sociais, artísticas e culturais, concebendo-a como um tipo de narrativa, e,
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espera-se que a realização das atividades revele mudança de atitudes, o
desenvolvimento de uma nova mentalidade na leitura de obras cinematográficas.
Procuramos demonstrar que as narrativas cinematográficas e literárias que
compõem o texto ao representarem as categorias de tempo e de espaço, de
verdade e de sujeito estão atreladas a pressupostos culturais que, por muito tempo e
ainda hoje, condicionam nossas visões, ou seja, crença em origem, fim, verdade,
lógica, razão, progresso, linearidade, continuidade.
A relação entre cinema e educação, principalmente a educação escolar, faz
parte da própria história do cinema e pode transformar-se numa proposta educativa,
ao termos a oportunidade de focar aspectos históricos, literários e cinematográficos,
de forma separada ou em conjunto. Tendo como objetivo tornar as aulas mais
dinâmicas e atraentes para os estudantes, através da utilização do cinema na sala
de aula.
A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas, solicita
constantemente a imaginação e reinveste a afetividade com um papel de mediação
primordial no mundo, enquanto que a linguagem escrita desenvolve mais o rigor, a
organização, a abstração e a análise lógica.
Neste contexto, observamos a carência de uma metodologia mais dinâmica e
significativa, que se expanda e se renove diariamente, fez-se necessária a
elaboração de um material didático para suprir as dificuldades detectadas no que se
refere à relação dos processos de ensino e aprendizagem, ou seja, dos livros para
as telas.
Diante das muitas dificuldades encontradas em sala de aula, onde alunos não
querem mais ler livros, onde a Internet e outros aparelhos eletrônicos tomaram conta
de suas vidas, onde as imagens prontas são mais atrativas do que criá-las, fantasiá-
las, surgiu-se a necessidade de uma transformação no ensino. Foi preciso levar pra
sala de aula, algo que lhes chamasse a atenção, algo do seu cotidiano, enfim, foi
preciso incorporar às aulas o cinema e a partir dele trabalharmos com literatura ou
vice-versa.
Diante desse desafio, optei inicialmente por realizar uma análise sobre como
a linguagem audiovisual do cinema pode enriquecer o olhar sobre a educação e o
processo escolar, possibilitando ao estudante de Ensino Médio que este construa
uma nova perspectiva sobre a imagem a fim de ampliar as possibilidades do ensino
de literatura. O discurso cinematográfico tem buscado com sucesso elementos para
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uma adequada expressão dos anseios do homem contemporâneo, mergulhado,
cotidianamente, em um oceano de imagens que a técnica onipresente lhe impõe aos
sentidos.
Mergulhando na literatura buscou-se utilizar a análise de filmes visando
discutir conteúdos temáticos de Literatura, contribuindo para a condução do
educando ao conhecimento Literário no seu sentido estrito, na sua realização
enquanto linguagem capaz de mobilizar consciências, ao questionar a realidade
imediata.
De um lado, procurou-se desenvolver competências lingüísticas, pessoais e
sociais sobre as teorias e práticas da leitura a partir do estudo da linguagem e
estética cinematográfica de obras literárias politizando o saber, uma vez que, a
linguagem do cinema tem a capacidade de sintetizar os acontecimentos globais e
auxiliar no processo do conhecimento, sendo que, muitos filmes são baseados em
literatura. Estratégia esta para estimular a leitura dos livros que deram origem aos
filmes.
O incentivo à leitura faz com que os alunos interpretem os personagens,
analise os detalhes, o que gera uma expectativa em relação ao filme a ser assistido.
Pretendeu-se buscar através dessa execução, por meio da linguagem
audiovisual do cinema subsídio para a complementação dos conhecimentos teóricos
e mostra-se potencial propulsora de uma nova forma de ler e compreender a
linguagem literária, bem como os discursos em circulação na contemporaneidade.
Disso decore que a partir da releitura dos discursos literários e
cinematográficos propôs ao estudante a produção de um Fanzine literário
constituído de resenhas cinematográficas, ou seja, a transformação da experiência
sociocultural do cinema em uma experiência aliada ao conhecimento.
Assim se propôs um trabalho com Literatura no Ensino Médio através da
leitura cinematográfica e assim tentar elevar a qualidade do ensino na escola pública
paranaense. Para efetivar este objetivo foi necessário pesquisar sobre essa teoria,
participar de cursos oferecidos pela SEED e pela IES, além de desenvolver
atividades para a EaD (Educação à distância) na plataforma Moodle, produzir
material didático-pedagógico(Unidade Didática) para o ensino de Literatura no
Ensino Médio, desenvolver atividades com os alunos da 1ª Série do Ensino Médio
no Colégio Estadual Tancredo Neves -EFM (São João – Pr), através do material da
Unidade Didática e enfim produzir este artigo científico como conclusão da pesquisa.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Cultura Cinematográfica no Contexto Escolar
Ver filmes é uma prática social tão importante do ponto de vista da formação
cultural e educacional das pessoas, quanto à leitura de obras literárias, filosóficas,
sociológicas e tantas mais. Dentro do contexto da utilização do cinema como veículo
e ferramenta de ensinar, temos a oportunidade de enfocar aspectos históricos e
literários.
Desta forma podemos trabalhar a Literatura temática, diretrizes curriculares,
num processo interdisciplinar. O contato com o mundo do cinema é uma experiência
única e marcante. A utilização de filmes na aula de Literatura a estimula desde o
adolescente e jovem ao hábito de assistir a um filme levando-o a apreciar,
contextualizar e aprender momentos primordiais da literatura de forma inovadora
através das novas tecnologias, visto que, educar, repassar conhecimentos através
de uma obra cinematográfica é ensinar a ver diferente. Educando a percepção de
um novo olhar. Decifrando os enigmas da modernidade na moldura do espaço
imagético.
Diante do exposto, pode-se entender que o cinema é uma ferramenta de
trabalho motivadora, inovadora, bem como instrumento capaz de envolver várias
disciplinas e conteúdos programáticos num mesmo momento.
A relação entre cinema e educação faz parte da própria história do cinema,
onde o que é específico do cinema em relação ao conhecimento é que este está
contido na imagem, ou melhor, na edição das imagens.
De acordo com Napolitano (2006, p.12) “A utilização do cinema na escola
pode ser inserida, em linhas gerais, num grande campo de atuação pedagógica”.
Uma das justificativas mais comuns para o uso do cinema na educação é que o
cinema motiva para o processo de aprendizagem.
A proposta de fusão entre cinema e educação parte, inicialmente, do filme
documentário, proposta do estudioso John Grierson para reforma educacional,
conforme explica CATELLI (2003).
Já no início do século XX, o inglês John Grierson propôs a renovação do
processo educacional por meio de métodos educativos como o cinema e o rádio.
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Sobre este primeiro, Grierson (apud Catelli, 2003) afirmava a importância do seu uso
na formação de cidadãos, aqui, é possível construir um ponto com os PCNs que,
entre outras coisas, preconizam a formação do cidadão consciente por meio de
métodos e recursos paradidáticos e tecnológicos presentes no mundo moderno.
Na perspectiva de Grierson, (apud Catelli, 2003) a imagem fílmica funciona
como um patentear aos olhos do homem, de forma e reeducar seu olhar sobre o
mundo, tornando-o crítico, assim como assinalam os PCNs.
No mundo em vivemos, o saber transitar por vários tipos de linguagem e
poder realizar vários tipos de leitura, nos possibilita ver a nós mesmos e ao mundo
de uma maneira mais ampla e talvez aprofundada.
Napolitano (2005, p.11) comenta que “trabalhar com o cinema em sala de
aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada,
pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais
mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte”.
Seguindo as observações de Napolitano, a sinergia entre cinema e educação
ocorre através da leitura correta da mensagem cinematográfica associada ao
contexto educativo, sob a regência do professor que será o elo entre a magia do
cinema e a magia do conhecimento, assim ressalta-se a duvida se é possível à
simbiose entre educação e cinema.
O educador sente a magia pelo legado que deixará, por ajudar a construir um
mundo mais correto, ético e justo, o educador deve ter a premissa de que o futuro
está sendo construído hoje e com a intensidade de suas palavras despertar as
emoções em seu educando, assim perpetuará a educação de forma sutil e
colaborará para que o futuro seja reflexo de uma visão alentadora.
O filme, como ferramenta pedagógica, promove a intervenção do professor
fazendo com que se desenvolva o pensamento e aquisição de conteúdos,
porquanto, o aluno passa a ter uma postura de sujeito ativo intelectualmente. Neste
contexto, o cinema proporciona o uso de uma tecnologia que a escola não consegue
produzir com tamanha qualidade e tampouco controlar, pois o professor tem grande
autodeterminação neste procedimento didático.
De acordo com Leite (2003), no ambiente escolar, as imagens e as
mensagens de um filme podem ser trabalhadas em uma perspectiva da
desconstrução do chamado “padrão de ser” da camada dominante, já que o discurso
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da narrativa fílmica, por meio de suas falas que dão sentido as suas imagens, traz
em si uma relação de poder.
Para Napolitano (2006, p.89),
A sala de aula já vem incorporando, e sofrendo a intervenção dos meios de comunicação de massa com a utilização de jornais, revistas, programas de televisão. Porém, é preciso ver que esses meios podem ser considerados como salas de aula, como espaços de transformação de consciência, de aquisição de conhecimentos; que eles dependem de uma pedagogia crítica e que o sucesso dessa pedagogia crítica depende de como vamos ver e ouvir os produtos da indústria cultural. ( NAPOLITANO, 2006, p.89).
A obra assistida tem características provenientes da indústria cultural, mas
pelo fato de estar num meio diferenciado, na sala de aula, e ser tratado de maneira
didática, promove interferências no aprendizado e na experiência do aluno com
outros filmes fora do espaço da escola.
À medida que o cinema tem sido cada vez mais incorporado como recurso
didático e documento de análise, principalmente na disciplina de Literatura e língua
Portuguesa, um dos grandes desafios é subsidiar o professor para incorporar a
linguagem cinematográfica na escola.
A experiência cultural e estética do cinema vai além de qualquer metodologia
de análise dos filmes e que o ato de assistir a um filme é uma experiência formativa
em si e por si. Mas, no trabalho escolar com filmes, desde que devidamente
organizado, o professor pode adensar esta experiência, para ele e para os seus
alunos, exercitando o olhar crítico e encantado, ao mesmo tempo.
Duarte (2002) afirma que “ver filmes, é uma prática social tão importante, do
ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto à leitura de
obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais”. Ou seja, uma prática não
substitui a outra. É necessário que não se perca de vista que se trata de um trabalho
de interseção, não de substituição, entre o discurso literário e o discurso fílmico.
Todavia, o cinema na escola tem um sentido amplo, além de favorecer o
aprofundamento dos conteúdos, cria um ambiente acolhedor que desperta a
criatividade, a afetividade a capacidade de interpretação, analise e interação.
A sala de aula vem incorporando, os meios de comunicação de massa, e
podem ser considerados espaços de transformações de consciências, de aquisição
de conhecimentos, visto que dependem de uma pedagogia crítica, e que o sucesso
dessa pedagogia crítica depende de como vamos ver e ouvir os produtos da
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indústria cultural. Assim, tarefa de exibir filmes na escola, modificando a prática
pedagógica do ensino e da aprendizagem, é um fato em processo e uma tarefa
coletiva de educadores de todas as áreas de conhecimento pois a educação tem
papel primordial nesse processo..
Diante disso o cinema na escola traz bons resultados, quando o filme é
selecionado e bem fundamentado em um bom planejamento, produz conhecimento
e leva o aluno a fazer uso dos seus conhecimentos para solucionar os seus próprios
obstáculos. De acordo com os PCNs a metodologia de ensino deve ser variada e
diferenciada, buscando atender a um programa de ensino onde todos os alunos
possam ser alcançados.
A integração de mídias na educação tem um papel importante nesse
processo porque consegue explicar melhor alguns conceitos que não seriam
possíveis se apenas utilizasse aulas expositivas quadro e giz. O conteúdo de
Literatura ganha sentido real deixando de ser algo mecânico desconectado do
cotidiano, passando a ser significativa par a vida do aluno.
Sob este aspecto, destaca-se a relação e a experiência do professor com o
cinema determinando como as obras são selecionadas, através de ênfases e
omissões, na cultura de dentro e fora da escola, mostrando a preferência dos
professores por estilos e épocas, bem como o tratamento e estratégias de
abordagem preferidas, dentro de uma perspectiva, segundo Bordieu (2004, p 26),
reprodutora.
Como regra geral, o cinema na escola necessita de uma metodologia
consistente e aplicável, uma vez que a tarefa de exibir filmes na escola, modificando
a prática pedagógica, é um fato que precisa ser colocado em prática, visto que, o
filme é um produto cultural do cotidiano da maioria e sua presença não é reprodutora
apenas, pois o uso do filme gera experiências nos alunos.
Foucault (1996) alerta:
Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo numero de procedimentos que tem por função conjurar seus poderes e perigos, esquivar-se de sua pesada e temível materialidade (FOUCAULT, 1996, p.09)
Os discursos dos grupos dominantes naturalizam e identificam as culturas
destes grupos como se fosse à cultura de toda comunidade. Este fato merece nossa
reflexão, uma vez que estes discursos não contemplam, não reconhecem e,
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consequentemente, não respeitam a diversidade cultural constituinte de uma
sociedade.
As formas de leitura e produção de discurso na escola devem acontecer de
forma crítica e autônoma, libertada de todo e qualquer mecanismo opressor de
propagação de ideologias subliminares. Não há que se negar a discursividade,
porém, construí-la em espaços inteligentes e responsáveis com a formação humana.
Conforme FREIRE (1975, p.92):
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.
A tecnologia da informação é parte integrante e importante na vida da
população e a educação deve viabilizar suporte para recepção e decodificação
assertiva dessas informações.
Conhecer diferentes perspectivas cinematográficas e trazê-las para o espaço
escolar pode ser um caminho que possibilite a ampliação da democracia midiática.
Em relação a isso, SAVIANI, citado por CITELLI afirma:
A disseminação dos meios de comunicação de massa e um dado que a escola não pode ignorar, porque eles têm um peso importante nas vidas das crianças e à escola cumpre levar em conta esse dado e procurar responder a essas necessidades de diferentes maneiras, seja em termos de se adequar a essa nova situação, sejam em termos de incorporar alguns desses instrumentos no seu próprio processo de trabalho. (SAVIANI apud CITELLI, 2000, p.19)
Uma diferenciação a ser considerada nesta proposta metodológica e o fato do
cinema não ser tão acessível aos professores e alunos, principalmente os de
escolas públicas, como o rádio e a televisão.
Leite (2003) recomenda que o uso de filmes na educação escolar seja tratado
como um elo para repensar a relação professor /conteúdo /aluno. Com a mediação
do professor, constituir a sua visão sobre a sociedade, reconstruindo a linguagem
filmica, possibilitando a construção democrática do saber sistematizado.
Segundo Yuri Lotman, “Para transformar a fidelidade cinematográfica em
instrumento de conhecimento, foi necessário percorrer um caminho longo e difícil.”
(LOTMAN, 1978 p. 29)
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É oportuno destacar que o cinema traz em seu bojo características que
devem ser conservadas e distribuídas como patrimônio cultural dos seres humanos,
e também uma ideia de civilização, como de modo de viver e dar significado ao
mundo, visto que, é um veículo que transmite e se utiliza destas características
durante a disseminação.
2.2 Ensino da Literatura e o Cinema
No seu processo de expansão a literatura precede em milênios o cinema e
por isso compõem-se esteticamente de forma distinta, uma vez que a literatura não
se vale da estética da imagem, enquanto o cinema se constrói sob ela. Ambas as
linguagens, enquanto produto humano se influencia mutuamente.
A proposição do uso de filmes nas aulas de literatura não tem por objetivo, de
forma alguma, substituir a forma prosaica pela imagética: trata-se do uso de um em
prol do trabalho com o outro e não da adoção de um em detrimento de outro porque,
afirma GUIMARÃES (1997, p. 67), embora a separação entre o visível e o enunciado
não seja algo desprovido de conflito, nem estabeleça primazia do primeiro sobre o
segundo “entre texto e filme já não se trata da mesma coisa, já não há uma mesma
informação. (...). De um signo a outro, do ícone ao símbolo ou do símbolo ao ícone,
abre-se uma zona potencial de significação, regime instável, indeterminado”.
Sob este aspecto a exibição e discussão de uma produção cinematográfica
são bastante produtivas, contudo a proscrição da leitura da obra literária neste tipo
de trabalho pode dar ao aluno a falsa idéia de que cinema e literatura possuem a
mesma estética e configuração, sendo que isso de forma alguma é verdade.
GUIMARÃES (1997, p. 69) explica que:
Ao contrário dos pressupostos que orientam esse tipo de comparação entre cinema e literatura, o que o texto literário faz não é somente substituir a presença da imagem (essa força que promove a ilusão de que há brecha alguma entre ela e seu objeto dinâmico) pela sua re-presentação do discurso, mas também exibir a distância que as separa.
Em razão disso, o professor deve ter clara a idéia de que o conceito de
imagem é diferente dos dois méis: no cinema a imagem emprega o efeito imagético
próprio, a fotografia, a imagem captada pela visão, enquanto na literatura o signo
lingüístico apresenta uma visibilidade própria, duplamente fracionada:
A linguagem não é um meio homogêneo, ela é fracionada porque exterioriza o sensível em presença, objeto, e fracionada porque ela integra
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o icônico ao articulado. O olho está na palavra já que não há mais linguagem articulada sem a exteriorização de um “visível”, mas ele ainda está na palavra porque existe uma exterioridade ao menos gestual, “visível” no interior do discurso que é sua expressão. (LYOTARD apud GUIMARÃES, 1997, p. 69).
Compreende-se assim, que entre os meios literário e cinematográfico existe
um paralelo comum, formado pelo diálogo e pela imagem, o texto propriamente dito
é que acionará os sentidos e, na mente do leitor, se transformará em imagem,
enquanto que as imagens em movimento é que serão expostas aos olhos do
espectador, e serão decodificadas através das palavras. Em razão disso a imagem e
o próprio conceito de imagem apresentam-se de maneira distinta entre as duas
artes.
Como explica GUIMARÃES (1997, p. 68-74) a imagem na literatura texto é
simbólica e projeta-se na mente do leitor como um “cinema mental”, enquanto no
cinema ela é icônica e constitui-se de uma terceira dimensão lingüística: o aspecto
visual, exterior ao espectador.
Nessa transposição do símbolo ao ícone, como afirma SAVERNINI (2004, p.
82), “a montagem em contraponto entre imagem e narração sonora potencializa o
impacto sobre o espectador. (...) Ao mesmo tempo, o espectador crítico também
encontra espaço para desfrutar o prazer da língua”.
Essa interface e relação de apreensão entre cinema e literatura seria uma
hipótese para justificar o interesse que um desperta sobre o outro no
espectador/leitor.
Segundo Costa, definir exatamente o que é cinema é uma tarefa difícil, pois, o
cinema pode se considerar uma técnica, indústria, arte, espetáculo, divertimento,
cultura. Depende do ponto de vista do qual o consideramos. (COSTA, 2005, p. 23)
Contudo, para ele “[...] o cinema é uma linguagem com suas regras e suas
convenções. É uma linguagem que tem parentesco com a literatura, possuindo em
comum o uso da palavra das personagens e a finalidade de contar histórias [...]”
(COSTA, 2005, p. 27).
Pelo exposto, vimos que, por meio da linguagem, o cinema ao contar (narrar)
uma história, também pode interferir no contexto social e político de uma
determinada época, isto porque pode exercer influências ideológicas sobre o
espectador. Verifica-se, portanto, a importância e o poder que o texto
cinematográfico representa para a sociedade.
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Então, nota-se que o cinema é considerado um meio de comunicação
importante pelo fato de manter relações muito estreitas com a história, sendo esta
um conjunto de fatos históricos de disciplinas que estuda tais fatos. (COSTA, 2005,
p35).
Com efeito, o fato de o cinema ter tomado o lugar de visibilidade e interesse
cultural que a literatura ocupou nos séculos passados. Instaura textos que
competem decisivamente com a prática da leitura.
Assim, o cinema situa-se como agente facilitador para que o jovem
estabeleça vínculos sociais com os seus semelhantes, descobrindo sua
personalidade, aprendendo a viver em sociedade e preparando-se para as funções
que assumirá na idade adulta. Desta forma, pode-se afirmar que o cinema possibilita
a aprendizagem de várias habilidades, pois fornece um ambiente agradável,
motivador, planejado e enriquecido.
Por outro lado, tal prática estimula o exercício do pensamento e do
questionamento de forma bem mais intensa que a passividade do espectador na tela
ou na televisão, por isso mesmo que a leitura possibilita mais o aparecimento de
reflexões críticas nos leitores do que nos cinéfilos. A apropriação dos conhecimentos
acontece mediante a relação das imagens e cenas que vão formando as idéias que
leva a uma comparação à teoria dos conceitos que serão construídos dentro dos
conteúdos.
Talvez estejamos colocando de forma muito taxativa, mas, de qualquer modo,
o cinema parece ter mais condições de aperfeiçoar todas as dimensões tecnológicas
e estéticas de suas formas de representação da realidade, impondo-a, do que a
escrita literária.
Todavia, SCORCI (2002) considera essa relação entre cinema e literatura
uma sintaxe transitiva: segundo ela “as duas linguagens da arte influenciam-se
mutuamente e participam da educação do homem contemporâneo. Educação que
se processa de forma espontânea, natural ou formalizada nas instituições
educacionais”.
Passa-se a ideia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou
transformando o sentido do que se entende por ferramenta pedagógica. Seu
interesse passou a ser a força que comanda o processo da aprendizagem, suas
experiências e descobertas, o motor de seu progresso e o professor um gerador de
situações estimuladoras e eficazes.
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Neste contexto, Marcos Napolitano (2005) afirma que:
O uso da linguagem ocorre quando o professor não trabalha com as questões de conteúdo e representação narrativa do filme em si (a “história”), mas quando se utiliza do filme como mote para atividades de exercício do olhar (cinematográfico), formação de espectador, elaboração e aprimoramento de outras linguagens expressivas, motivadas pelo filme em questão, mas não se preocupando em analisá-lo de forma estrutural e abrangente. (NAPOLITANO 2005. p.45)
Logo, é um instrumento mais capacitado a produzir um controle do imaginário.
As técnicas de embelezamento do estilo, facilitação e sedução narrativa podem ser
cada vez mais reconhecidas e aceitas, mas sempre se deparam com a própria
resistência a e da leitura.
Diante disso, o cinema encontra semelhantes desdobramentos e
complexidades, no entanto, seu desenvolvimento técnico pode sempre ser vendido
como nova sensação na lógica de exclusividade extraordinária da mercadoria, além
e por causa do fato de ele vencer cada vez a resistência a sua própria forma e
suporte.
Sob este aspecto, SCORSI (2002) diz que “Se o cinema está impregnado da
literatura, a literatura moderna sorve os ritmos e modos do fazer cinematográfico.
Linguagens convergentes, cinema e literatura são linguagens do nosso viver urbano,
contemporâneo, que se fixam em nossa memória e nos educam cotidianamente”.
Sendo assim, alfabetizar na linguagem das imagens e sons em movimento
configura-se um desafio para a escola que tradicionalmente encarrega-se da
alfabetização da linguagem literária.
Segundo DUARTE (2002), citando BOURDIEU (1979),
A experiência das pessoas com o cinema contribuiu para desenvolver o que se pode chamar de competência para ver isto é, certa disposição, valorizada socialmente, para analisar, compreender e apreciar qualquer história contada em linguagem cinematográfica. Entretanto, o autor assinala que essa competência não é adquirida apenas vendo filmes; a atmosfera em que as pessoas estão imersas que inclui além da experiência escolar o grau de afinidade que elas mantêm com as artes e a mídia - é o que lhes permite desenvolver determinadas maneiras de lidar com os produtos culturais, incluindo o cinema. (DUARTE, 2002, p. 13).
Ao refletirmos essas múltiplas dimensões, percebemos que o cinema que
chega à escola em grande medida atende aos interesses da lógica dominante.
Assim, a interpretação filmística necessita de um referencial teórico e de elementos
metodológicos capazes de identificar a forma e o conteúdo do filme que contribua
numa educação estética tendo a arte como conhecimento.
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Consequentemente, seus mitos podem ser cada vez mais concretizados,
realizados, e solidificados de forma mais dócil no psiquismo dos consumidores. É
por isso que, paradoxalmente, a literatura manterá o signo de uma resistência e o
cinema estenderá suas possibilidades de criação e recriação, destruição e
reconstrução, uso e desuso dos simulacros míticos.
Sabe-se também que as artes e as linguagens estéticas abrem espaço para a
experiência estética e a ampliação da compreensão do real. Entretanto, esbarramos
numa cultura escolar onde impera a superficialidade, o comodismo e a falta de
perspectiva.
Os Currículos e o fazer são comprometidos por uma instituição que se limitou
a cumprir o simples papel de incluir, quando na verdade ela possui uma carga
reprodutora e excludente, já que se baseia numa hierarquização de saberes que
andam afastados da cultura popular. A escola está separada da vida, das teorias
dos conceitos, das artes e da literatura.
Sob esse aspecto, Marcos Napolitano (2005) enfatiza:
Trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estática, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. Assim, dos mais comerciais e descomprometidos aos mais sofisticados e “difíceis”, os filmes têm sempre alguma possibilidade para o trabalho escolar. (NAPOLITANO. 2005, p. 53)
Cabe aqui ressaltar que a produção cinematográfica neste contexto pode
significar uma tentativa de conciliar a escola com outras linguagens, não só as
imagéticas, mas também, a sonora, auditiva, olfativa, táteis, gustativas, mais
próximas da complexidade da vida.
Assim sendo, para GOULART (2003, p.159) é possível reinventar a escola
através do cinema porque este permite uma reflexão sobre o ser humano na sua
universalidade. Considera que as condições sociais são indispensáveis para
criarmos um espaço de diálogo de conhecimentos. A educação escolar deve propor
uma espécie de passagem do cotidiano da escola para a educação do cotidiano.
È importante frisar que não há cinema como recurso pedagógico sem que a
passagem entre polaridades não se faça presente. Importante, portanto, o que
afirma Pablo González Blasco (2005):
15
O cinema funciona como uma lente de aumento sobre os sentimentos, ou como arco voltraico que dispara a faísca da reflexão. Tínhamos esses sentimentos, mas não reparávamos e, muito menos, tínhamos parado para refletir sobre eles. Parar para pensar, com a distância que a imagem nos brinda, como “se de outro se tratasse” é o começo de um diálogo de entendimento. (BLASCO, 2005, p.25)
Para usá-los na educação, como ferramenta pedagógica é preciso descobrir
essa estrutura e esse significado. Numa perspectiva de ação pedagógica, o cinema
deve estar inserido em um planejamento maior.
Por isso, é fundamental que se garantam características particulares no
próprio planejamento educacional, como a novidade e a diversidade. O
aproveitamento do potencial pedagógico do cinema pressupõe uma nova ligação
com o conhecimento na escola, que não se esgota no horário de sala de aula, Vai
além dela como “leitura” do mundo exterior às paredes da classe.
Ademais, o cinema é uma forma de contar multilinguística, o significado e
significante. A cinematografia, parte do concreto, do visível, do imediato, do que
„toca‟ todos os sentidos. Pelo filme sentimos e experienciamos sensorialmente.
Essas sensações nos permitem conhecer melhor o outro, o mundo, e nós mesmos.
Segundo DINIZ (2005, p. 13) “a prática de transformar uma narrativa literária
em narrativa fílmica espalhou-se a ponto de boa parte dos filmes ter atualmente,
como origem, não um script original, criado especialmente para o cinema, mas uma
obra literária”.
Sendo assim, o professor de literatura dispõe na atualidade de um conjunto
de obras cinematográficas que lhe seriam de grande auxílio nas aulas, e que
poderiam ser utilizados como instrumentos pedagógicos para um trabalho de
formação de leitores.
Essa acessibilidade de que goza, atualmente, o professor de literatura que se
propuser a trabalhar com cinema em sala de aula, advém de uma série de fatores
que concomitantemente, na última década, elevaram o cinema nacional a uma
produtividade significativa, sendo que grande parte destas produções têm o roteiro
adaptado de obras da literatura nacional, clássica ou contemporânea.
Nesta perspectiva, o trabalho com cinema relaciona-se diretamente à leitura e
valorização da literatura nacional, pois não se trata do estudo de um tipo de
discurso, mas da exploração das interações entre diversos tipos discursivos, em que
uso do cinema como instrumento pedagógico tenha como objetivo constituir um
provocador do interesse do aluno.
16
SCORSI (2006) diz que “Se o cinema está impregnado da literatura, a
literatura moderna sorve os ritmos e modos do fazer cinematográfico. Linguagens
convergentes, cinema e literatura são linguagens do nosso viver urbano,
contemporâneo, que se fixam em nossa memória e nos educam cotidianamente”.
A literatura precede em milênios o cinema e por isso compõem-se
esteticamente de forma distinta, a literatura não se vale da estética da imagem,
enquanto o cinema se constrói sob ela. Ambas as linguagens, enquanto produto
humano se influencia mutuamente.
Entre os meios literário e cinematográfico existe um paralelo comum, formado
pelo diálogo e pela imagem, sendo que no primeiro o texto propriamente dito é que
acionará os sentidos e, na mente do leitor, se transformará em imagem, enquanto no
segundo imagens em movimento é que serão expostas aos olhos do espectador, e
serão decodificadas através das palavras.
A proposição do uso de filmes nas aulas de literatura não tem por objetivo, de
forma alguma, substituir a forma prosaica pela imagética, trata-se do uso de um em
prol do trabalho com o outro e não da adoção de um em detrimento de outro porque,
afirma GUIMARÃES (1997, p. 67).
Portanto, cinema, saber e formação compõem uma tríade que configura a
presença de múltiplos olhares para a construção de uma perspectiva de educação
significativa, em que ciência, prazer e emoção misturam na construção de magia,
memórias e verdades.
O ensino da literatura pautado na valorização do contato entre o leitor e a
obra, ou seja, nas teorias da recepção, ganham força nos documentos oficiais em
detrimento de um modelo de ensino pautado na historiografia literária, como há
muito se tem reproduzido e, sem sucesso, no modelo tradicional de ensino em nível
médio.
Nesse movimento de idas e vindas da presença do ensino de literatura no
currículo, da alternância de momentos de maior ou menor destaque ao texto literário
no contexto das salas de aulas, é que se coloca uma questão cuja resposta parece
ser fundamental para a defesa ou não do lugar da literatura no ensino.
Assim, pensar a escola implica, certamente, considerar quem são os sujeitos
que ocupam tal espaço que é, acima de tudo, lugar no qual circulam conhecimentos
tidos como essenciais para a formação humana.
17
De acordo com Cândido (2000, p.34), a literatura “age com o impacto
indiscriminado da própria vida e educa como ela com altos e baixos luzes e
sombras. [...] como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação
do homem”.
Em outras palavras, a leitura é um ato que, também, depende de estímulo e
motivação. A prática da leitura é uma tarefa essencial para a construção do
conhecimento e um deflagrador do sentimento e opinião crítica do indivíduo.
Os clássicos de Literatura através do cinema procura suprir ainda que em
pequena escala, as deficiências do processo educacional, tanto na esfera
institucional quanto na educação doméstica, considerando que a cultura da leitura é
concedida num mínimo espaço, sob tal enfoque, procuramos completar as lacunas
deixadas pelo sistema educacional exibindo filmes baseados tanto em textos quanto
em contextos literários.
3. ANÁLISE
Nesta seção são discutidos os resultados da análise da implementação dessa
pesquisa que aconteceu em um colégio da rede pública do Paraná em uma turma de
alunos do Ensino Fundamental
Este estudo caracterizou-se por ser uma pesquisa-ação de abordagem
dialética com THIOLLENT (2007, p.81),
Com a orientação metodológica da pesquisa-ação, os pesquisadores em educação estariam em condição de produzir informações e conhecimentos de uso mais efetivo, inclusive ao nível pedagógico. Tal orientação contribuiria para o esclarecimento da micro situações escolares e para a definição de objetivos de ação pedagógica e de transformações mais abrangentes.
Quando nos referimos a um conhecimento pautado na pedagogia de
mudança da práxis, estamos nos referindo a uma ação pedagógica que deve
implicar:
[...] atitudes problematizadoras e contextualizadoras das circunstâncias da prática; dentro de uma perspectiva crítica sobre as ideologias presentes na prática, tendo por objetivos a emancipação e a formação dos sujeitos da prática. (Franco, 2003, p. 88)
18
Ao adentrar em um processo contínuo de revisões da própria prática, acaba
incorporando atitudes na direção de constituírem-se em investigadores no contexto
da prática.
Sendo assim, vislumbra-se uma possibilidade de realmente intervir dentro do
espaço escolar para a melhoria das relações de ensino-aprendizagem e sua
metodologia através dos percursos deste estudo onde efetuamos as seleções de
recursos bibliográficos a respeito de cinema e literatura.
Sob tal enfoque, apresentamos o projeto à comunidade escolar, através de
oficinas expositivas de como a linguagem audiovisual do cinema pode enriquecer o
olhar sobre a educação e o processo escolar. A busca da contextualização da
cultura cinematográfica no contexto literário. Em seqüência a elaboração de
questionários utilizados em entrevistas com alunos sobre o que pensam sobre
cinema ou leitura cinematográfica.
O método adotado para o desenvolvimento desta pesquisa inclui as
estratégias de ação utilizadas para o desenvolvimento desse projeto como descrito a
seguir. A elaboração e produção do material didático, sua aplicação em sala de aula.
A partir daí, iniciamos o trabalho com conhecimento e reconhecimento da
literatura através de obras cinematográficas. Através do diálogo sobre como
podemos ampliar nossos conhecimentos utilizando obras literárias e
cinematográficas, delineou-se qual o conhecimento que o educando apresentava
sobre o tema em questão.
Seguindo-se esse procedimento efetuamos o inicio da implementação deste
plano de trabalho no Colégio Estadual Tancredo Neves - Ensino Fundamental e
Médio, localizado no município de São João, NRE Pato Branco, e será destinado à
1ª série do Ensino Médio.
Percebeu-se que o conhecimento destes estava vinculado apenas a uma
leitura superficial sobre as obras cinematográficas, que no processo de ensino e de
aprendizagem, pode colaborar com uma prática questionadora dos padrões
estéticos da sociedade e dos discursos dominantes.
Aulas dinâmicas e diversificadas foram organizadas de modo que o aluno
sentiu-se bem ao fazer comentários, colocações e socialização das suas
descobertas com os demais, e com muita pertinência aposta na construção de uma
nova perspectiva sobre a imagem a fim de ampliar as possibilidades do ensino de
literatura, o refinamento do olhar analítico sobre elementos de linguagem
19
cinematográfica, incentivando a leitura entre os estudantes, afinando o seu olhar
para a riqueza e a diversidade das diferentes linguagens presentes no mundo.
Trabalhar o Barroco e o Período Renascentista utilizando vídeos
explicativos juntamente com a obra cinematográfica "Sociedade do Poetas Mortos",
mostrando as características marcantes da época, as oposições de valores, novas
ideias de expansão e liberdade, levando os alunos à reflexão sobre questões
sociais, artísticas e culturais e principalmente sobre si, refletir sobre sua existência e
importância de viver intensamente e não ter medo das mudanças. Essa nova
maneira de ensinar literatura torna a aula prazerosa, com a total participação dos
alunos e eles conseguem relacionar a aprendizagem literária ao filme e ao mesmo
tempo enxergam o mundo de uma maneira diferente.
Com a imagem construída pela linguagem cinematográfica é possível abrir
diversas compreensões para todos. Esse olhar, mais consciente se adquire à
medida que, se vai conquistando referenciais para analisar mais criticamente as
obras.
Neste contexto, possibilitamos ao estudante de Ensino Médio a construção
de nova perspectiva sobre a imagem, a fim de ampliar as possibilidades do ensino
de literatura. Através dos conteúdos específicos de literatura, espectador
desenvolveu habilidades e competências sobre o conteúdo Barroco e Renascentista,
interagindo com outras linguagens e recursos expressivos que o cinema como
linguagem, possui, assim politizando o saber e concretizando a melhoria da
qualidade do ensino.
Diante dessa realidade propôs-se ao educando uma nova maneira de ler as
obras cinematográficas, pois o cinema cria imagens que procura reproduzir um
pouco daquilo que são nossa existência, a sociedade, as relações pessoais, o
trabalho e o lazer, visto que nos assistimos, nos percebemos, nos idealizamos.
O processo de produção do material didático considerou primeiramente a
teoria estudada e descrita brevemente neste trabalho. Desta forma, primeiramente,
efetuamos uma pré-testagem com questionário para os alunos. Através da
sondagem com alunos pode-se verificar o conhecimento que possuíam sobre
cinema, filmes.
Passa-se, então, ao entendimento do cinema como uma linguagem artística
que tem características próprias, aparatos tecnológicos, expressão, gêneros, estilos
e tradições narrativas. Diagnosticamos a aproximação do cinema e literatura sob
20
uma nova perspectiva e ampliamos as possibilidades da aprendizagem. Efetuamos
plenários com alunos a respeito dos temas preferidos de filmes e a influência na
cultura em que estão inseridos.
Em seguida efetuamos a aplicação de um questionário. A amostra foi
constituída por 35 (trinta e cinco) alunos de segunda série do Ensino Médio, sendo
18(dezoito) do sexo masculino e 17(dezessete) feminino, sendo estes na faixa etária
de 15 a 17 anos. Isto demonstra certa homogeneidade da turma com relação à
idade/série, o que, em termos pedagógicos, facilita muito a atuação. O questionário foi
entregue aos participantes e recolhidos na data definida. As questões permitiram
detectar aspectos como: a) O cinema propicia uma leitura visual enriquecedora,
onde 87% responderam que concordavam plenamente e 13 % parcialmente; b) A
leitura de uma obra cinematográfica auxilia na aprendizagem da literatura, 62%
responderam que concordavam plenamente, 27 % parcialmente; 6 % discordam, e 5
% discordam parcialmente; c) a escola em que estuda possibilita a inovação e
sessões cinematográficas com teor educativo, 80% responderam que concordavam
plenamente, 5 % parcialmente, 1% discorda, 2% discordam totalmente, 2% discorda
parcialmente; d) Quais os tipos de filmes de sua preferência, 40% gostam de filmes
de terror, 15% de filmes de ação, 25% filmes de romances, 20% de filmes históricos;
e) Ao assistir um filme procura conhecer a história antes, seu diretor e atores, 71%
responderam que concordavam plenamente, 25% parcialmente, e 4% discorda
parcialmente; f) Nas aulas de Língua portuguesa e Literatura é possível associar
obras literárias com obras cinematográficas facilitando a aprendizagem, 94%
concordavam plenamente, 6% parcialmente; g) Se você tivesse e ler um livro e
assistir ao filme da mesma obra, qual escolheria, 95% concordavam em assistir ao
filme, 5% preferiria ler o livro.
Tal questionário pautou-se na verificação de que o cinema na escola é um
instrumento para exercitar a capacidade e a sensibilidade humana e desta forma os
alunos tem o seu conhecimento ampliado e um olhar crítico sobre o mundo e
situações diferenciadas, auxiliando o conhecimento de mundo, sem ser confundida
com um mero entretenimento.
Percebeu-se através destes resultados que, se faz necessário despertar no
aluno o gosto pela leitura e enriquecendo a ligação entre cinema e literatura,
efetuando várias adaptações literárias.
21
Os alunos responderam de maneira clara e sincera o questionário
enriquecendo as possibilidades de desenvolvimento do seu próprio olhar sobre
releitura de obras cinematográficas inseridas no contexto literário, a literatura viva,
abrindo espaços para a reflexão.
Trabalhamos com textos, vídeos que abordam este assunto como uma
forma de revisão de conteúdos. Assistimos a vídeos sobre os movimentos literários,
corrente Barroca e Renascentista, reflexões e observações literárias e o que nos
ajudou na releitura cinematográfica. Lembrando que, as adaptações literárias para o
cinema servem como elemento complementar, com uma outra linguagem, e algumas
possíveis limitações, mas nunca como substituto.
Entre a razão renascentista e a religiosidade da Contra-Reforma, os autores
se lançam os exageros, conflitos e desequilíbrios. O tema central do Barroco se
encontra na antítese entre a vida e a morte. Daí decorre o sentimento da brevidade
da vida, da angústia da passagem do tempo, que tudo destrói.
Diante disso, o homem barroco oscila entre a renuncia e o gozo dos prazeres
da vida. Quando pensa no julgamento de Deus, foge dos prazeres e procura apoio
na fé. Quando a fé é insuficiente, a atração dos prazeres o envolve e cresce o
desejo de desfrutar da vida. Por isso, o Carpe Diem, expressão latina que significa
“Aproveite o dia”. O Renascimento definira-se pela valorização do profano, do
secular, pondo em voga o gosto pelas satisfações mundanas. Frente a estas
conquistas, a atitude dos intelectuais maneiristas e barrocas é extremamente
complicada. Não podem renunciar ao carpe diem renascentista, isto é, ao aproveitar
o dia, ao viver intensamente cada minuto.
Assistimos ao Filme “Sociedade dos poetas Mortos” e como toda obra de
arte, o filme começa com uma idéia básica que ao ser levada para o papel na forma
de breve sinopse temos o argumento que é uma espécie de “átomo” da história
contada no filme.
Desta forma, efetuamos os primeiros procedimentos de análise fílmicos:
elaboração de sinopse; reconstituição oral; reconstituição imagética/ iconográfico-
plástica; reconstituição gestual.
Em razão disto, partimos para a segunda assistência de análise fílmico:
decupagem (seqüências numeradas); trilha sonora; fotografia; figurino; câmera
(ponto de vista e enquadramento). Apresentação dos grupos com base na ficha ou
relatório filmografico. Realização de debate livre e estabelecimento das diferenças
22
de leitura e análise. Este trabalho gerou bastante discussão e um novo olhar passou-
se a dar maior sentido a literatura e obra cinematográfica. Desdobramento em
trabalhos complementares surgidos nos debates sobre o filme: dissertação temática;
Criação de um painel com imagens e palavras geradas pela atividade com o filme;
produção de textos/artigos sobre a releitura do filme, no intuito de registrar opiniões,
questões levantadas e discussão importante sobre o movimento literário
Renascentista-Barroco.
Desta forma, no trabalho com a linguagem cinematográfica precisamos
auxiliar o educando para que ele veja além das imagens, que ele seja capaz de
perceber o que está subentendido tanto nas imagens quanto nos diálogos.
A partir desta concepção houve a socialização dos conhecimentos
adquiridos sobre cinema, onde a turma irá apresentar suas considerações sobre a
cultura que estudou. Reflexão das atividades desenvolvidas e possibilidades de
transformação social. Fazendo-se necessário ampliar ainda mais a gama de
possibilidades didáticas, sugerindo filmes que possam ser utilizados em aulas de
variadas disciplinas, proporcionando ainda uma possibilidade de interação entre os
vários e diferentes campos de conhecimento.
Acredita-se, assim, que os diferentes olhares acerca do cinema permitem
considerar que um dos motivos de sua importância didático-pedagógica, decorra do
fato de ele ser um objeto em relação ao qual se encontram os saberes
historicamente construídos, e que provavelmente tecem, por intermédio de
diferentes temporalidades e contextos, o seu significado social presente, na forma
de um saber prático, de como os indivíduos sentem, apreendem e interpretam o
mundo.
Procurando divulgar o trabalho educativo, dividimos a turma em grupos para
a produção de “Fanzine literário” constituído de resenhas cinematográficas. Porém,
houve a necessidade de revelarmos ao educado o que é na verdade um Fanzine
segundo dicionário aurélio(2009): “Uma publicação independente que praticamente
não conta com nenhuma divulgação além da que é feita pelos seus editores e
amantes do gênero”. O FANZINE segue o conceito do-it-yourself (faça você mesmo)
propagado pelo movimento punk na década de 1970. É algo que incentiva a
criatividade e insere grande quantidade de indivíduos, principalmente jovens, no
processo de disseminação da informação e da cultura. É um exercício de
democracia, cidadania e liberdade de expressão. Infelizmente o fator econômico é o
23
maior percalço para os editores, impedindo grandes tiragens, o que torna essas
publicações conhecidas somente na sua região ou município e ainda assim apenas
entre o público fiel à temática proposta. Pensamos que este talvez esse seja o maior
diferencial dos fanzine, para com a imprensa comercial, uma vez que ocorre a
cooperação, a camaradagem, a amizade, ao invés da competição, individualismo e
egoísmo tão presentes na mídia corporativista.
Efetuamos a construção de Fanzine com o tema obras cinematográficas
que evolvem a literatura. Muito significante fora este trabalho pelo resultado
apresentado. Os próprios alunos que não tinham conhecimento do que era um
Fanzine ficaram felizes com o que produziram, perceberam assim o quão é
fundamental a leitura a vida diária. Mais uma vez percebeu-se a gradual evolução e,
principalmente, a capacidade de se auto-avaliar e de melhorar de cada um dos que
participaram deste processo.
Dentro deste quadro, através de pesquisa em grupos, identificamos obras
literárias da nossa literatura, que fora transformada em obra cinematográfica, assim,
com um belo estudo, apresentamos resenha da obra Macunaíma (1928), adaptada
para o cinema por Joaquim Pedro de Andrade (1969); obra da literatura
contemporânea adaptada para o cinema em 2005, a produção “O coronel e o
lobisomem”; um clássico da literatura brasileira, o filme “A cartomante” adaptado da
obra homônima de Machado de Assis; romance Dom Casmurro de Machado de
Assis. A Obra cinematográfica “Grande sertão: veredas” (João Guimarães Rosa) “ A
Hora da Estrela “ de Clarice Lispector.; “O Cortiço” de Aluisio de Azevedo; e sendo
estas transformadas em Fanzine, com criatividade e um certo toque de humor.
Levamos este material para a circulação entre alunos do colégio, procurando aguçar
a curiosidade para as obras literárias e cinematográficas.
Em suma, a partir da releitura da obra cinematográfica e produção de
resenha efetuou-se a construção de um Fanzine literário. Propiciando a experiência
sociocultural do cinema, em uma experiência aliada ao conhecimento. As atividades
foram bem aceitas pelo grupo de alunos.
Com efeito, entre os meios literário e cinematográfico existe um paralelo
comum, formado pelo diálogo e pela imagem, sendo que no primeiro o texto
propriamente dito é que acionará os sentidos e, na mente do leitor, se transformará
em imagem, enquanto no segundo imagens em movimento é que serão expostas
aos olhos do espectador, e serão decodificadas através das palavras.
24
Percebeu-se um fator importante na facilidade em se trabalhar com o
conteúdo, pois se tornou cada vez mais interessante na medida em que se progride
no assunto e o resultado começa a tomar forma, especialmente quando os alunos
perceberam que é capaz de realizar as atividades propostas, conseqüentemente,
observar que entre o meio literário e cinematográfico, existe um paralelo comum,
formado pelo diálogo e pela imagem, sendo que no primeiro o texto propriamente
dito é que acionará os sentidos e, na mente do leitor, se transformará em imagem,
enquanto no segundo imagens em movimento é que serão expostas aos olhos do
espectador, e serão decodificadas através das palavras.
Hoje, mais do nunca é necessário e importante criar estratégias para que os
alunos se integrem socialmente, sabemos que no campo da literatura, objeto deste
projeto de intervenção, além das inúmeras adaptações cinematográficas de obras
literárias, há ainda aquelas que retratam determinados períodos seguindo
características de época, também presentes nas obras literárias escritas nos
momentos sócio-histórico retratado pelo filme.
Nesta perspectiva, o trabalho com cinema concatena-se diretamente à
leitura e valorização da literatura, pois não se trata do estudo de um tipo de discurso,
mas da exploração das interações entre diversos tipos discursivos, em que uso do
cinema como instrumento pedagógico tenha como objetivo constituir um provocador
do interesse do aluno. Esse é o papel do professor enquanto educador.
A Língua Portuguesa e Literatura devem ser trabalhadas sob o viés de
interlocução com disciplinas variadas, que permitam entender o corpo em sua
complexidade; ou seja, sob uma abordagem biológica, antropológica, sociológica,
psicológica, filosófica e política, justamente por sua contextura interdisciplinar
(DCES, 2006, p.8).
Como regra geral, propõe que os alunos reflitam sobre valores, realidades,
ideologias, sentimentos e espera-se que tenham percebido a capacidade que o
cinema tem para reforçar a realidade das tensões, a angústia, a esperança, uma vez
que os sentimentos humanos superam quaisquer imposições sociais.
Para aprofundar a questão, é importante registrar a participação dos
integrantes do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) , grupo este composto por vinte e
três professoras de Língua Portuguesa do Estado do Paraná que leram, analisaram,
aplicaram e avaliaram tanto o Projeto de Intervenção Pedagógica quanto o Material
Didático apresentado. Destacando sugestões sobre as atividades, via ambiente
25
virtual. Propuseram textos, sites, filmes e outras atividades que podem enriquecer
muito futuras produções. Além de dividir experiências positivas e negativas, muitos
deles testaram as mesmas atividades deste projeto e perceberam a aceitação por
parte dos alunos. Houve relatos enriquecedores dos professores que aplicaram e
ampliaram a proposta. Desta forma, é oportuno destacar a importância do papel da
escola na formação do leitor, pois a forma como esses professores inseriram as
atividades propostas em seus planos de aula, ampliando horizontes de expectativas,
porém sempre de acordo com suas capacidades de entendimento e interesse. As
professoras captaram justamente a essência da Unidade didática, que trazem todo o
percurso do ensino e da aprendizagem, abrindo oportunidades de flexibilização de
atividades.
Em razão disso, se percebeu, através do GTR, que a forma como o
professor apresenta o texto literário e cinematográfico e o momento que ele escolhe
para tal, possui grande influência no tipo de leitura que os alunos poderão fazer.
Com efeito, uma leitura mal conduzida pode destruir o interesse e afastar o texto dos
alunos.
Sendo assim, estas tecnologias possibilitam a utilização de filmes em sala de
aula provocando os diferentes olhares acerca da Literatura no cinema, permitindo
considerar que um dos motivos de sua importância didático-pedagógica, decorra do
fato de ele ser um objeto em relação ao qual se encontram os saberes
historicamente construídos, e que provavelmente tecem, por intermédio de
diferentes temporalidades e contextos, o seu significado social presente, na forma
de um saber prático, de como os indivíduos sentem, apreendem e interpretam o
mundo.
4. Conclusão
A conclusão do projeto propõe uma análise de como a literatura e a
linguagem audiovisual do cinema pode enriquecer o olhar sobre a educação e o
processo escolar. É difícil negar a força atrativa que a imagem veiculada
principalmente através dos meios/recursos audiovisuais exerce sobre as pessoas.
Sempre há possibilidade de se inovar. Sempre buscamos um meio para inovar
nossas aulas, bem como deixá-las mais dinâmicas e atraentes.
26
A imagem se incorporou ao nosso cotidiano de tal forma que não podemos
deixar de trabalhá-la na escola. Assim, o cinema se apresenta como uma boa
oportunidade para o professor levar o aluno a olhar criticamente para o que vê,
estabelecendo relações com seu entorno, com o conhecimento científico e com as
artes. O leitor competente é aquele que direciona seu olhar para as diversas formas
de linguagem, sem ingenuidade, e sim de maneira crítica e receptiva a novas e
possíveis leituras. Cabendo a nós, professores, a formação desse leitor.
A partir deste contexto, transformando a experiência sociocultural do cinema
em uma experiência aliada ao conhecimento. Entendendo o cinema como uma
linguagem artística que tem características próprias, aparatos tecnológicos,
expressão, gêneros, estilos e tradições narrativas.
Como toda obra de arte, o filme começa com uma idéia básica que ao ser
levada para o papel na forma de breve sinopse temos o argumento que é uma
espécie de “átomo” da história contada no filme. Nesta caminhada é possível que
muitos de nossos alunos cheguem a ser leitores assíduos de obras literárias e
cinematográficas. Porém isto poderá acontecer ao longo de toda sua vida e não só
durante sua vida escolar.
Dentro do espírito desenvolvido por esse Projeto, o cinema é um tipo de
texto que pode ser e é lido, desta forma ficou confirmado que os alunos podem
descobrir o prazer de ler. Para que isso ocorra, ele tem a sua linguagem própria, os
seus códigos, e, ao ter uma noção desses códigos, o expectador tem a sua leitura
facilitada. Entretanto, não há uma obrigação de conhecer esses códigos, uma vez
que quem faz o filme são influenciadas por sua subjetividade, suas experiências,
suas visões de mundo; da mesma forma que quem o assiste também é influenciado
por suas próprias especificidades de expectador.
A educação cinematográfica permite um enriquecimento cultural apreciável,
independente do bom ou mau juízo que se faz das obras. Na verdade, o que importa
é que há vida por trás das imagens, que existe a exibição do mundo, das suas
tendências nas mais diversas áreas, tanto pessoais, como políticas e econômicas e
que o ser humano encontra uma oportunidade de fazer uma leitura da realidade e
compartilhar seus valores.
Considerando os aspectos formativos, a literatura juntamente com a leitura
de obras cinematográfica, se bem utilizada serve, sobretudo, como instrumento de
formação do ser humano, pois, por detrás de suas imagens identifica, contesta,
27
reflete, analisa e critica, visto que, é um espaço onde se podem encontrar respostas
para optar por uma vida com sentido, livre dos rótulos e máscaras, muitas vezes
impostas por grupos sociais. Oferecendo subsídios para falar da história e em
muitos casos, resgata e propicia um meio de reflexão sobre a sociedade.
A utilização da educação pela arte cinematográfica é um dos grandes
desafios dos educadores, pois além de ser um meio de comunicação e expressão
de arte, este, propicia uma melhor visão do mundo, colabora na formação em
valores de cidadãos conscientes, críticos e reflexivos em relação à sociedade onde
vivem.
A aceitação do projeto por parte do educando foi muito boa, pois a utilização
do cinema em sala de aula apresenta dimensão pedagógica na qual sua utilização
constitui elemento fundamental para romper barreiras entre o cotidiano da escola e a
vida fora dela, além de diluir separações metodológicas entre o pensar, o sentir e o
aprender. As atividades de cinema são dinâmicas, desafiadoras, interessantes para
o público jovem e, sobretudo, contribui para a formação geral e ampliação do seu
repertório cultural, leva o educando a aprendizagem e aquisição de novos
conhecimentos, através de trocas de experiências coletivas e individuais.
Contudo, somos plenamente conscientes de que enfrentamos uma
experiência nova, que ainda necessita de reavaliações e aperfeiçoamentos. Diante
desta observação, entende-se que o vídeo explora também o ver, o ter, diante de
nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais, isto é
um ver que está situado no presente, mas que o interliga não linearmente com o
passado e com o futuro. O ver está, na maior parte das vezes, apoiando o falar, o
narrar, o contar histórias.
Educar pelo cinema ou utilizar o cinema no processo escolar é ensinar a ver
diferente. É educar o olhar. É decifrar os enigmas da modernidade na moldura do
espaço imagético. Cinéfilos e consumidores de imagens em geral são espectadores
passivos. Na realidade, são consumidos pelas imagens. Aprender a ver cinema é
realizar esse rito de passagem do espectador passivo para o espectador crítico.
A conclusão do projeto propôs que os alunos reflitam sobre valores,
realidades, ideologias, sentimentos e espera-se que tenham percebido a capacidade
que o cinema tem para reforçar a realidade das tensões, a angústia, a esperança,
uma vez que os sentimentos humanos superam quaisquer imposições sociais.
28
Também ao longo dessa experiência, pode-se enriquecer a prática
pedagógica, por meio da utilização de filmes com contexto literário, como elemento
estratégico para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa.
Percebemos que quando há necessidade de tornar o educado em um
sujeito apreciador e fruidor da beleza do mundo que o cerca, é preciso dotá-lo da
linguagem fundamental à compreensão e desvelamento do universo da arte, é
preciso desenvolver a sensibilidade para o ver e para apreciá-lo.
Com efeito, a linguagem cinematográfica é capaz de alimentar o intelecto
com diversão, assim, pode ser encarado como uma estratégia metodológica
motivadora, inovadora e um instrumento capaz de envolver várias disciplinas e
conteúdos programáticos concomitantemente, por se tratar de um recurso rico,
lúdico e extremamente sedutor.
Há então que, imprimir um olhar contemporâneo à releitura dessa obra e
sua narrativa cinematográficas, evidenciamos os efeitos correlatos de uma
linguagem para a outra, mostrando que a arte da adaptação ainda tem
possibilidades inexploradas.
De qualquer forma abordando questões cruciais como refletividade, paródia,
realismo e magia, ele aponta os sucessos e insucessos de se transferir as obras de
uma linguagem para a outra. Para ele, o cinema não está subordinado à literatura e
não é uma arte menor, concedendo, assim, uma nova dignidade à arte da
adaptação.
Com certeza, é possível qualificar e ampliar o conhecimento com a utilização
de obras cinematográficas, porque, por meio do cinema, podemos trabalhar de
forma interdisciplinar com vários outros campos do conhecimento, como história,
música, fotografia e outras expressões artísticas que se inserem na sétima arte.
É provável que não consigamos abordar todos os valores e reflexões
presentes em um filme, mas se conseguirmos refletir sobre alguns tópicos
importantes a cada filme, será um ganho para o aprendizado, sem dúvida. "Entende-
se a escola como o espaço do confronto e diálogo entre os conhecimentos
sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são as fontes sócio-
históricas do conhecimento em sua complexidade." (DCE, 2009).
Por ser meio de representar e dar sentido ao mundo, a produção
cinematográfica é meio de registro do conhecimento historicamente produzido e
acumulado pela sociedade industrial. A importância do cinema para a educação está
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nos sinais históricos captados e registrados em imagens que se constituem em
testemunhas visuais da história.
Assim, a sua utilização em sala de aula de forma pedagógica, deve ser um
trabalho bastante consciente. O educador deve então procurar se preparar bastante,
inclusive com leitura sobre teorias do cinema. Todos os cuidados são necessários
para não ocorrer o uso pedagógico incorreto do filme.
O que significa dizer que os filmes possibilitam, a partir da reconstituição
feita do contexto e dos fatos tratados, apreenderem práticas, concepções e
processos educativos, valores, ideologias, mentalidades coletivas que permeiam e
subsidiam ações educativas. Assim sendo, o cinema abre perspectivas para o
educador e educando apreenderem como e por que os homens se educam,
fornecendo, portanto, subsídios para o ensino.
Dentro do contexto da utilização do cinema como ferramenta de ensinar,
temos de nos indagar qual o melhor método, o que abordar e o que contextualizar. É
válida a oportunidade de enfocar diferentes temas transversais em seus aspectos
históricos, literários e cinematográficos, seja de forma separada e/ou em conjunto,
aproveitando sua possibilidade do saber, da memória, do raciocínio, da imaginação,
e da estética entre outros, ou seja, de integração dos saberes. Nesse sentido, deve-
se propiciar a experiência de assistir a filmes com intenção pedagógica e não para
formar meros cinéfilos.
Além disso, ao findar essa pesquisa e esse artigo pretende-se ampliar
nossa a visão como educadores, por meio de subsídios teóricos reflexivos que
conduzam à utilização de metodologias e linguagens diferenciadas, com o intuito de
construir uma Literatura mais atrativa para o aluno.
Nosso desejo foi compartilhar os olhares que resultaram numa forma de
análise das representações do tempo e do espaço escolares contidas no texto do
filme escolhido, considerando que, se as análises apresentadas neste trabalho
contribuíram para a produção de outros significados e sentidos, teremos participado
com ideias que antes, talvez, não tivessem sido cogitadas, demonstrando, assim, o
quanto podem ser diversos os caminhos percorridos para a enunciação dos
pensamentos.
Acreditamos ter sido de fundamental a percepção da Literatura enquanto
disciplina viabilizadora da interdisciplinaridade no sentido texto-contexto
cinematográfico, onde nos possibilitou o desenvolvimento de trocas significativas
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quer no campo da construção da realidade atual, quer no da releitura de realidades
anteriores. Portanto, evidencia-se a nossa buscar de alternativas e inovar o ensino
da literatura, transformando-o em algo significativo para nossos alunos.
A educação deve ter como papel principal o desenvolvimento do indivíduo
em sua totalidade. Para tanto, precisa modificar-se constantemente, observando as
mudanças ao redor, essencialmente o desenvolvimento tecnológico e a influência
que exerce no mundo globalizado. O nosso desafio como educadores é estimular,
no ambiente escolar, o envolvimento de novas técnicas de ensinar, com objetivos
educacionais visando desenvolver valores e atitudes que contribuam na construção
e reflexão do educando.
No contexto desses acontecimentos, ter a oportunidade de participar da
capacitação inovadora do Estado do Paraná, nos permitiu uma oportunidade única,
tempo específico para leituras, um re-encontro com as IES, dando sentido mais real
aquilo que chamamos de atualização. Portanto consideramos que vindo de encontro
para nos tornarmos professores mais orientador do que simplesmente repassadores
de conteúdos em busca de meios para elaborar um material didático coerente com a
nossa prática pedagógica e que, ao mesmo tempo atenda às necessidades
essenciais de nossos alunos.
O PDE além de proporcionar maiores conhecimentos, deu condições e
estimulou-me a participar dos cursos de formação continuada na disciplina, para que
tenha direito a promoções na Carreira, certamente ter participado desse Programa
acrescentou a minha prática muito mais subsídio teórico metodológicos para o
desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e resultou no
redimensionamento do meu trabalho.
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