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  • O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PBLICA PARANAENSE

    Verso Online ISBN 978-85-8015-037-7Cadernos PDE

    2007

    VOLU

    ME I

  • O CNONE LITERRIO NOS MATERIAS DIDTICOS DO ENSINO MDIO

    FRANCO,Sandra Aparecida Pires-PDE-UEM1

    RESUMO: Objetiva-se neste artigo verificar de que forma o cnone literrio se apresenta em materiais didticos. Para isso, ser delimitado somente um escritor e uma poca literria: o rcade Toms Antnio Gonzaga, sua vida e obras. Palavras-chave: cnone literrio;historiografia literria; material didtico. ABSTRACT: This article aims to verify what form the literary canon is presented in didactical materials, being delimitated for that only one writer and one literary period: the Arcadian Toms Antnio Gonzaga, his life and work. Key-words: Literary canon; literary historiography; didactical material. Introduo

    O propsito principal deste artigo o de verificar se o que est

    estabelecido no cnone literrio apresenta-se da mesma forma nos materiais

    didticos. Para isso, ser delimitado somente um escritor e uma poca literria: o

    rcade Toms Antnio Gonzaga, sua vida e obras.

    Essa delimitao foi estabelecida devido a uma pesquisa j iniciada no

    perodo do doutorado acerca do iderio gonzaguiano na obra Tratado de Direito

    Natural (1768) de Toms Antnio Gonzaga (1744-1810), o que conseqentemente

    propiciar um aprofundamento maior, que ser o de vincular as leituras j feitas,

    ao trabalho prtico de sala de aula nos livros didticos do Ensino Mdio, incentivo

    propiciado pelo programa desenvolvido pelo Governo do Estado - PDE.

    1 Professora PDE Titulada, Graduao em Letras, Mestre em Educao pela UEM e Doutorando em Letras pela UEL. E-mail [email protected]

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    Antes de qualquer reflexo acerca da Histria Literria Brasileira, preciso

    conceituar Histria e Literatura. A Histria geralmente estudada como

    progressiva, ocorrendo relaes de causa e de efeito, sempre relatada pelo

    subjetivo que escreve, ou seja, a verdade dos fatos para o homem que a constri.

    Devemos salientar que o ponto de vista daquele que escreve sempre refletir seu

    estrato social.

    Podemos perceber que a Histria no se altera, somente se revisa. E quem

    poderia, nessa sociedade, fixar essa Histria? claro que a escola uma das

    instituies que ajuda a definir a sacralizao da Histria. S que, infelizmente, ela

    apenas repete as verdades, no possibilitando ao aluno uma reflexo.

    Existem vrios textos que podero nos ajudar a solucionar o nosso

    propsito principal nesta discusso entre histria e literatura. Para tanto vamos

    relembrar os principais crticos literrios no Brasil.

    Para melhor entendimento desse artigo, torna-se importante verificar o

    conceito de cnone. A palavra cnone pode significar relao ou catlogo

    importante, pois que definido por autoridade reconhecida, assim, cnone literrio

    implica um conjunto de obras valorizadas por uma caracterstica qualquer.

    O que se verifica que no cnone literrio somente so privilegiados os

    textos considerados clssicos, pois so ignorados os textos que no se

    enquadram em sua poca e nos critrios estabelecidos. Verifica-se que a histria

    literria est diretamente ligada a um valor esttico e a uma relao das obras

    com o contexto histrico-social e cultural. A sociedade conservadora ou

    preservadora estabelece a autenticidade da obra e a obra mais jovem dificilmente

    consegue substitu-la, pois o cnone selecionado a partir de um corpus maior,

    por crticos que detm a autoridade da seleo.

    A historiografia literria tende a consolidar modelos de interpretao

    segundo interesses de oligarquias. Toda a interpretao que postule algo diverso

    do cnone, como o de uma minoria tnica, de uma periferia, de uma classe social

    no-dominante, tende a ser excluda, por ser menorizada quanto capacidade de

    formular contedos que reforcem os valores dominantes.

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    O Cnone brasileiro foi criado a partir da primeira metade do sculo XIX,

    quando alguns autores escreviam bosquejos, florilgios, alm de antologias, mais

    tarde biografias e edies de obras, sendo influenciada pela crtica romntica

    europia visando configurao de uma literatura nacional.

    O papel do crtico fundamental, tendo em vista que so eles quem

    definem o que ou no cannico. Esta definio est envolta em um contexto

    histrico e por jogos de interesse e de poder. A crtica literria se une histria

    literria e torna possvel uma visualizao do conjunto da produo esttica de

    cada poca, j que o crtico realiza a funo de mapear autores e obras,

    estabelecendo, inclusive o cnone literrio do pas, a partir de certos paradigmas.

    Historiografia literria no Brasil

    Introduzir as obras de Histria da Literatura Portuguesa, sem citar a obra

    Introduction sur la littrature portugaise, avec ds notes historiques,

    gographiques et littraires de A. M. San de 1808, impossvel, pois se trata de

    uma obra que apresenta um panorama da histria de Portugal elegendo as mais

    representativas obras literrias portuguesas, selecionando os monumentos

    literrios, ou seja, os textos que, segundo seus critrios, consistiam em verificar

    quais obras se aproximavam dos modelos clssicos.

    Devemos observar que, em 1826, as histrias literrias foram influenciadas

    por duas obras: Bosquejo da Histria da Poesia e Lngua Portuguesa, de Almeida

    Garrett, e Resume de l histoire littraire du Portugal, suivi du Resume de lhistoire

    littraire du Brsil, de Ferdinand Denis. Na primeira, o autor seguiu a sistemtica

    de ordenar cronologicamente nomes e obras, delimitando-os em pocas marcadas

    por fatos histrico-polticos, embora sem relacion-los aos fatos sociais. Garrett

    destaca o nativismo, sentimento (pr)nacional em suas apreciaes. No seu

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    Bosquejo comparecem Cludio Manuel da Costa, Santa Rita Duro, Baslio da

    Gama e Toms Antonio Gonzaga.

    Percebemos na obra de Ferdinand Denis uma iniciativa de selecionar

    obras significativas na produo literria portuguesa, mas o que se observa que

    suas escolhas acabam sendo as mesmas de Bouterwek e Sismondi2, pioneiros

    nesta atividade de seleo de obras cannicas, o que evidencia a existncia da

    tradio crtica na escolha dos textos que deveriam comparecer em uma histria

    literria. Um dado importante na obra de Ferdinand Denis o de ter mostrado a

    construo de uma matria especfica, a literatura. Outro aspecto a considerar o

    de que a obra de Ferdinand Denis o primeiro estudo a evidenciar a singularidade

    da Literatura Brasileira, nela aparecendo pela primeira vez a defesa da autonomia.

    Ele define como critrio de diferenciao de nossa produo em relao Europa,

    a natureza grandiosa e o indianismo, defendendo o critrio espacial como

    natureza, hbitos, tradies e grupos tnicos. Podemos notar que Ferdinand Denis

    citou Bento Teixeira, Botelho de Oliveira, Cludio Manuel da Costa, Antonio Jos

    da Silva, Santa Rita Duro, Baslio da Gama, Gonzaga e Souza Caldas.

    Mencionou ainda as Metamorfoses do Brasil, de Cruz e Silva, nascido em

    Portugal, como tambm era o caso de Bento Teixeira e Gonzaga.

    Verifica-se por meio desta apresentao de obras pioneiras, a presena de

    autores brasileiros, consolidando-se assim a Literatura Brasileira, principalmente

    pelo fato de os autores citados apresentarem um projeto nacional e de

    2 Diz-se que Bouterwek e Sismondi foram de grande importncia tanto para os romnticos quanto para os posteriores devido a construo pelos romnticos de uma histria imemorial da nacionalidade. Os sentimentos dominantes na literatura sero, portanto o nacionalismo, o indianismo e o cristianismo, pois este foi o ideal que dirigiu a nossa colonizao. medida que a autonomia literria crescia, a nacionalidade dava aos escritores liberdade e estmulo para uma criao diferente da europia, valorizando assim a capacidade criadora individual na busca de uma esttica que representasse o pensamento artstico de uma nao recm-independente. Havia, pois, no mago da nacionalidade, a busca pela auto-expresso. O que vinha se formando h sculos foi importante, porm, as condies por que passava o pas eram propcias para o salto qualitativo e quantitativo da produo literria. Foi no Romantismo que o nativismo se transformou em nacionalismo consciente. Disponvel em: http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/380085. Acesso em: 18/04/2008.

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    ordenamento social e poltico da nao na fase ps-independncia. At aquele

    momento, apenas Sismondi e Bourterwek tinham registrado a produo, que era

    tida como de autores brasileiros vistos como integrantes da literatura de Portugal.

    Em 1829, publicado o Parnaso Brasileiro, uma antologia das produes poticas

    brasileiras, de Janurio da Cunha Barbosa, a que se segue a publicao de

    bosquejos e florilgios, dentre outras formas de registro, que comeam a surgir na

    jovem nao, incluindo fundao de sociedades, revistas e jornais, que iriam

    compor o projeto de nacionalidade da Literatura Brasileira. Deste modo, estas

    fontes demonstram uma viso dos escritores brasileiros, apesar de que o padro

    de referncia ainda fosse o de autores estrangeiros.

    Torna-se importante visualizarmos quais so as histrias literrias

    brasileiras que temos. So elas: Ensaio sobre a Literatura no Brasil, de Domingos

    Jos Gonalves de Magalhes; Bosquejo da histria da poesia bras