DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · José J. Veiga, o aluno poderá conhecer os aspectos...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Universidade
Estadual de Londrina
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
MARIA DE LOURDES ALVES
O CONTO: UMA LEITURA DIALÓGICA NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA
LONDRINA2010
Material Didático: Proposta de Leitura
Professor PDE organizador: Maria de Lourdes Alves
Professor orientador: Profª Drª Alba Maria Perfeito
IES: UEL
Disciplina: Língua Portuguesa
Título: O conto: uma leitura dialógica na perspectiva bakhtiniana
Caracterização do material didático: Unidade Didática
Público Alvo: Ensino Médio
Objeto de estudo: Texto literário
Contos de José J. Veiga
“... Se nós, professores, acreditamos na força
trans-formadora da literatura, não podemos nos
omitir enquanto cidadãos e educadores. Não
podemos abdicar do papel histórico que nos
cabe: de nos formarmos como leitores para
interferir criticamente na formação qualitativa o
gosto estético de outros leitores” (MAGNANI,
2001, p. 140).
LONDRINA – 2010
SUMÁRIO
JUSTIFICATIVA.........................................................................................................05
2 OBJETIVO GERAL................................................................................................05
3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................05
4 ASPECTOS TEÓRICOS.........................................................................................06
5 DADOS HISTÓRICOS DO CONTO........................................................................09
6 O REALISMO FANTÁSTICO DE JOSÉ J. VEIGA................................................11
7 ANÁLISE DO CONTO............................................................................................14
7.1 Aspectos históricos do conto e sua estrutura composicional..............................14
7.2 Contexto de produção..........................................................................................16
7.3 Dialogia Discursiva...............................................................................................18
c) Texto 1: “O Cachorro Canibal”........................................................................18
ci) Texto 2: “Fronteira”........................................................................................ 19
cii) Texto 3: “Entre Irmãos”...................................................................................21
8 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO.............................................................23
8.1 Atividades propostas...........................................................................................23
I Prática social inicial..........................................................................................23
II Problematização...............................................................................................24
III Instrumentalização...........................................................................................25
IV Catarse............................................................................................................31
V Prática Social....................................................................................................31
REFERÊNCIAS.........................................................................................................32
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UNIDADE DIDÁTICA
1- JUSTIFICATIVA
Este estudo decorre do nosso interesse em desenvolver um trabalho a partir de
uma proposta de ensino da língua materna que privilegie os gêneros discursivos, mais
precisamente o gênero conto, da esfera literária, voltado à primeira série do ensino médio
da escola pública do Paraná. Propomo-nos a abordar conceitos próprios da teoria
bakhtiniana como: esfera da atividade humana, condições de produção, conteúdo
temático, construção composicional e estilo, apoiando-nos na pedagogia histórico-crítica
delineada por Gasparin no livro “Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica” (2002).
2- OBJETIVO GERAL:
Analisar contos de J. J. Veiga, abordando conceitos bakhtinianos como gêneros
discursivos, esferas de atividade humanas, dialogismo e aspectos relativos ao conteúdo
temático, condições de produção, estrutura composicional e marcas linguístico-
enunciativas.
3- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Propor estratégias de leitura que promovam no aluno o rompimento com um estudo da
língua na visão tradicional em prol de um estudo da língua enquanto forma de interação;
- Capacitar o aluno à leitura de textos da esfera literária do gênero conto na perspectiva
dos conceitos bakhtinianos: esferas da atividade humana, gêneros discursivos, contexto
de produção, conteúdo temático, estrutura composicional e dialogismo.
– Estimular o aluno à prática da leitura, levando-o a superar “problemas de competência-
linguístico-textual e de conhecimento de mundo” (Perfeito, 2005, p. 58);
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- propiciar ao aluno, instrumentos para uma análise crítica de mundo a partir da visão
pedagógica histórico-crítica.
4- ASPECTOS TEÓRICOS
Esta proposta nasceu da crença de que a leitura pode contribuir com o
desenvolvimento da capacidade do sujeito em atribuir sentido ao texto, às suas
experiências e ao mundo e de se posicionar diante deles. Isso mostra porque tal atividade
vem se constituindo incentivo para se desenvolver, no ensino médio, um estudo da língua
a partir de textos do gênero discursivo da esfera literária associado à análise linguística no
processo de formação de alunos leitores. Para tanto, foram selecionamos contos do autor
José J. Veiga por nos parecerem, dada a contemporaneidade de sua temática,
apropriados a esta faixa etária.
As próprias Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua
Portuguesa do Paraná (DCE) defendem uma concepção de leitura como uma atividade
capaz de propiciar “o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber
o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles”
(PARANÁ, 2008, p.71), deixando em evidência o caráter sócio-interacionista da
linguagem, que se dá mediante as manifestações comunicativas da língua na forma de
discurso. Nessa perspectiva, a língua deixa de ser estudada de forma isolada do ato
interlocutivo para ser estudada como fenômeno sócio-histórico.
Ao propor em sala de aula uma abordagem da língua sob o enfoque da
concepção interativa e da caracterização dos gêneros discursivos, a partir da visão
bakhtiniana, torna-se relevante levar o aluno a compreender não apenas os conceitos
referentes às esferas da atividade humana, enunciado, gêneros do discurso e dialogismo,
como também os aspectos caracterizadores dos gêneros (conteúdo temático, estilo,
estrutura composicional e marcas linguístico enunciativas).
Na concepção sócio-interacionista do ensino de Língua Portuguesa, o
aluno passa a ser reconhecido como sujeito ativo que em um contexto interacional
encontra-se em condições de aprimorar seus conhecimentos linguísticos e discursivos,
compreender os discursos que o cerca para ter condições de interagir com eles
(PARANÁ, 2008).
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Assim, a atividade de leitura como eixo norteador do processo de ensino-
aprendizagem, a partir dos gêneros discursivos, permite ao aluno compreender o texto, os
recursos por ele utilizados e o sentido que ele expressa.
Em uma situação concreta de sala de aula, o conto, por se tratar de uma
narrativa curta, pode, além de conferir maior agilidade à análise destes elementos,
garantir também uma maior adesão por parte do aluno que em geral mostra-se pouco
interessado em realizar atividades que envolvam leitura de textos longos, adesão, esta,
que, num primeiro momento, pode ser consolidada, com a leitura de textos associados ao
realismo fantástico, da obra de José J. Veiga. Um fantástico que na visão de Linhares, ao
contrário daquele de outros autores, tem origem no mundo real, no folclore nacional, nas
crenças populares, envolvendo personagens constituídas de gente simples e humildes
(1973) e contrapõe o cotidiano ao insólito.
Através dos contos “O Cachorro Canibal”, “Fronteira” e “Entre Irmãos”, de
José J. Veiga, o aluno poderá conhecer os aspectos constitutivos do gênero e perceber
que o mágico, como ocorre em todos os textos da literatura fantástica, mais que um
elemento estético, trata-se de um elemento que amplia sua compreensão acerca das
relações humanas (PARANÁ, 2008). E em decorrência da ampla variedade de leitura que
o texto literário possibilita, ele pode, sem dúvida, ser caracterizado como um forte aliado
na formação do aluno leitor.
Segundo Bakhtin, as esferas da atividade humana, (ou esferas sociais)
estão diretamente relacionadas ao uso que fazemos da língua (1999). Estão divididas em
esferas do cotidiano (geralmente de caráter espontâneo, informal, íntimo e oral) e esferas
dos sistemas ideológicos constituídos (são mais complexas, mais elaboradas, formais e
prioritariamente escritas). Em outras palavras, as esferas da atividade humana são todas
as áreas de atuação do homem no meio social em que se encontra: família, amizade,
trabalho, igreja, escola, cinema, esporte, política etc.
O enunciado refere-se ao processo comunicativo. Para os autores que
tratam do assunto, enunciado é o produto da relação social, é a concretização da língua,
é a unidade real e concreta da comunicação discursiva. Isso quer dizer que em cada área
da atividade humana, a língua só se realiza na forma de enunciados concretos e únicos,
os quais se diversificam de acordo com a área de atividade humana onde são produzidos.
Assim, os enunciados produzidos na esfera religiosa, por exemplo, possuem
características diferentes daqueles produzidos na esfera familiar, ou política, ou escolar,...
pois cada um possui especificidades próprias.
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A noção de dialogismo está vinculada à ideia de enunciado como unidade
real e concreta da comunicação discursiva. Todo discurso, quando transformado em
enunciado, pelo processo de interação verbal, está orientado para o outro, estabelece,
com o outro, relações sociais. Neste sentido, é na interação verbal que o sujeito se
constitui, já que é o outro quem atribui sentido ao seu discurso. Em outras palavras, a voz
do locutor está sempre permeada pela voz alheia, dotando o enunciado de caráter sócio-
histórico. O dialogismo, portanto, representa um princípio constitutivo da linguagem que
se instaura na relação com o outro, isto é, “diz respeito às relações que se estabelecem
entre o eu e o outro nos processos discursivos”.
Diante destas considerações, podemos afirmar que para se fazer uma
abordagem viva e histórica da língua, a partir dos gêneros discursivos, com o aluno da
educação básica, é necessário levá-lo a perceber que é pela mediação da linguagem que
ele se constitui enquanto sujeito, razão pela qual a língua não deve ser estudada fora de
uma situação concreta de comunicação. É nessa perspectiva que Bakhtin aponta para o
caráter dialógico da linguagem. Segundo ele, toda palavra procede de alguém e é dirigida
para alguém e embora ela se constitua o produto da interação do locutor e do ouvinte,
não é propriedade do falante e está carregada de conteúdo ideológico (BAKHTIN, 1981).
Isso significa dizer também que a concepção de dialogismo reconhece o enunciado como
elemento dotado de responsividade, perpassado pelo discurso alheio.
Quanto aos gêneros discursivos, Perfeito define-os como “enunciados
relativamente estáveis que circulam nas diferentes áreas da atividade humana, ou seja,
formas de textos criados pela sociedade, que funcionam como mediadores entre o
enunciador e o destinatário” (PERFEITO, A. M., 2007, p. 1). Segundo Bakhtin, o sujeito,
como participante de um determinado grupo social, vai aprendendo os gêneros ao longo
de sua vida. Os textos agrupados em um determinado gênero apresentam características
comuns. No entanto, a variedade de gêneros é tão numerosa quanto é numerosa as
esferas da atividade humana que ocasionam o aparecimento de novos enunciados e, por
consequência, de novos gêneros. Pode-se concluir então que fora das esferas da
atividade humana, não se produz enunciados, não se produz gêneros discursivos.
Os gêneros discursivos são elos de interligação entre a linguagem e a
vida social. Eles ganham sentido na correlação entre sua forma e a esfera da atividade
humana que o constitui. Enquanto produto social, os gêneros discursivos não são
enunciados estáticos, ao contrário, estão sujeitos a mudanças decorrentes das
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transformações histórico-sociais (KOCH, 2003) e estão agrupados em gêneros primários
e gêneros secundários.
Na concepção de Bakhtin, os gêneros primários constituem-se e se
desenvolvem em situações de comunicação ligadas às esferas sociais do cotidiano,
estão relacionados ao contexto imediato, são espontâneos, como cartas pessoais,
bilhetes, tipos de escritas informais, conversa familiar, narrativas espontâneas… enquanto
os gêneros secundários são aqueles que se constituem em situações de comunicação
mais complexas, mais elaboradas, sobretudo de forma escritas, como artigos de opinião,
textos científicos, textos literários, discursos políticos, textos judiciais, …
É por isso que enunciados diversos, embora tratem de um mesmo
assunto, não estarão necessariamente inseridos no mesmo gênero discursivo, uma vez
que podem ter sido elaborados em diferentes esferas da atividade humana, o que quer
dizer que todo enunciado apresenta características típicas da esfera que o elaborou e
“está sempre relacionado ao tipo de atividade em que os participantes estão envolvidos
(FARACO, 2009, p.126). São estas características que imprimem nos gêneros o caráter
de relativa regularidade. Os Gêneros discursivos, no entanto, distinguem-se por seu
contexto de produção, conteúdo temático, estrutura composicional e marcas linguístico-
enunciativas.
O contexto de produção refere-se a quem fala; para quem fala, com que
finalidade, em que época, local e suporte veicula determinado gênero. O conteúdo
temático diz respeito ao assunto, ao objeto, de um determinado gênero e à forma desse
gênero tratar determinado tema, trata do que é ou pode ser dizível por meio dos gêneros.
A forma composicional está relacionada à forma de organização do texto, ao acabamento
do enunciado, à estrutura particular do texto pertencente a um determinado gênero e as
marcas linguístico-enunciativas estão relacionadas à escolha dos recursos lexicais,
expressivos fraseológicos e gramaticais, podem ser entendidas como as marcas
linguísticas mobilizadas enunciativamente pelo produtor do gênero.
5- DADOS HISTÓRICOS DO CONTO
Pesquisas comprovam que o conto, como gênero discursivo, é tão antigo
quanto à vida em comunidade e que o ato de contar é inerente à natureza humana. Juan
Valera (apud COELHO, 2010), notável escritor espanhol, acredita que o conto tenha
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surgido em função da necessidade humana de conhecer e comunicar-se, porém, não há
dúvidas de que ele surgiu primeiro como narrativa oral.
Inúmeros indícios encontrados em “livros e textos, recolhidos de uma
milenar tradição oral” (COELHO, 2010), atestam que a origem do conto deu-se no âmbito
da cultura oriental, mais precisamente hindu (COELHO, 2010). O fato é que por se tratar
de uma das formas narrativas mais antigas, ele foi cultivado ininterruptamente na
transmissão de mitos, fábulas e lendas pela oralidade “por diferentes povos” (DECLÓS
apud COELHO, 2010).
No Brasil, o conto passou a ser difundido, pelos portugueses, já nos
primeiros séculos da colonização e tiveram a mesma origem dos contos da literatura
portuguesa (COELHO, 2010).
Na literatura brasileira, o conto, como gênero escrito, passou a figurar a
partir do início do Romantismo (COELHO, 2010). No início, seguiram, o mesmo modelo
do conto europeu e eram, geralmente, escritos por “intelectuais jornalistas e publicados
em jornais e revistas” (COELHO, 2010) que circulavam nos principais centros urbanos.
É neste período que despontam autores como Álvares de Azevedo,
Bernardo Guimarães, Casimiro de Abreu. Machado de Assis, o primeiro grande contista
brasileiro, No entanto, surgiu somente no final do século XIX, durante o Realismo. De fato,
com seus romances e contos, Machado de Assis eternizou-se na história da literatura
brasileira. Contemporâneos de Machado de Assis foram Aluísio de Azevedo, Lima
Barreto, etc.
Com o início do Modernismo, o conto brasileiro adquiriu um estilo
tipicamente nacional, perdeu as características formais e ganhou as cores locais. Neste
período, porém, o conto, no Brasil, tornou-se “mero registro circunstancial dos fatos do
dia-a-dia” (COELHO, 2010).
Durante as décadas de 40/50, do século XX, com a produção de
Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e outros, o conto brasileiro
atingiu o mais alto nível literário. Deste então adquiriu a capacidade “de sintetizar a
complexidade da vida e, agora, já em linguagem e espírito tipicamente brasileiros”
(COELHO, 2010).
Entre as décadas de 60 e 90, a produção dos chamados contos
contemporâneos, no Brasil, foi bastante expressiva. Além da qualidade literária, os
autores passaram apresentar uma diversidade muito rica de temas, estilos e
problemática. E é neste contexto de contemporaneidade que figuram, entre tantos outros,
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Dalton Trevisan, Adélia Prado, Moacir Sclear, Marina Colasanti e José J. Veiga, autor
sobre quem passaremos a tratar.
6- O REALISMO FANTÁSTICO DE JOSÉ J. VEIGA
Nas experiências vividas no interior de Goiás, mais precisamente entre os
pequenos municípios de Pirenópolis e Corumbá, região onde nasceu (1915) e passou a
infância, José J. Veiga encontrou inspiração para importante parte de seus escritos.
Apesar do escritor, afirma M. Silverman, ter iniciado sua produção literária
bastante tarde para os padrões convencionais, sua obra ficcional, composta de contos,
novelas e romances logo lhe rendeu honrarias, popularidade e destaque no cenário da
literatura brasileira contemporânea (TURCHI, 2010).
Desde a publicação do seu primeiro livro “Os Cavalinhos de Platiplanto”
(1959), o nome de José J. Veiga esteve relacionado “a literatura fantástica ou ao
chamado realismo maravilhoso latino americano do século XX”, algumas vezes na linha
do absurdo e do alegórico, outras na linha do realismo maravilhoso (DANTAS, 2002, p.
122).
Foi em razão da presença desses elementos fantásticos em suas narrativas, que o autor, embora discordasse, recebeu de muitos críticos a denominação de “escritor fantástico”, ao lado de Murilo Rubião e muitos outros grandes autores. Estes elementos fantásticos nos textos veigueanos, na visão de Souza,
são fornecidos pelo real, pelo folclore nacional, pelas crenças populares, já que seus personagens são constituídos de gente simples e humildes [...] O fantástico (de J.J. Veiga) flui mais das coisas, da natureza, dos acontecimentos, entrando em comunicação com o mundo visível [...] (SOUZA, 1987, p. 18).
Souza (1987) assinala, ainda, que “o cerne do fantástico em J. J. Veiga
[...] está no fato de que a norma, ou seja, a ordem natural é sempre problemática” (p. 32)
e que sua ficção parte do corriqueiro, do contexto familiar, para chegar ao campo do
insólito, que por sua vez são as situações de estranheza.
Esta mesma linha de pensamento é compartilhada por Dantas (2002),
quando diz que o fantástico na narrativa veigueana ocorre no confronto
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entre dois universos, o cotidiano e o insólito, opostos entre si, entre os quais suas personagens podem ou não circular, que podem ou não se manifestar no tempo narrativo, mas cuja existência e questionamento são a base do conflito narrativo (DANTAS, 2002, p. 128).
A preferência pelo termo “fantástico” em detrimento do termo
“maravilhoso”, ao referirmos aos contos veigueanos, está relacionada à ideia de que estes
dois termos não são por muitos tidos como sinônimos. Na visão de Coelho (apud
REZENDE, 2008), pertencem ao gênero maravilhoso as narrativas
em que o sobrenatural se apresenta como essencial para que ele possa existir, uma vez que o universo onde as narrativas maravilhosas ocorrem, é organizado por ele. Ou seja, o mundo maravilhoso é um ‘universo a parte’, está ‘fora do universo realista’. E as leis que estruturam esse espaço, são diferentes das do nosso mundo, porque na narrativa maravilhosa não há o estranhamento e nem há a angústia da qual falaram Sartre e Camus (COELHO apud REZENDE, 2008, p. 41).
Rezende (2008) entende que a falta de questionamento, a aceitação
passiva do improvável e do inacreditável, a criação de mundos imaginários, a busca da
fuga da realidade quotidiana presentes na narrativa maravilhosa não estão presentes na
narrativa fantástica. Para a autora, no plano fantástico,
a realidade é desarrumada com a intenção de apresentar uma dimensão misteriosa e desconhecida das coisas, no mundo conhecido e regido pelas leis da lógica (REZENDE, 2008, p. 41-42).
O mundo real regido pelas leis da natureza, além de regido por uma ciência que procura explicá-lo, é abalado quando algumas dessas leis são modificadas. Não tem aqui um ‘novo mundo’, sendo construído num espaço à parte, como acontece no gênero maravilhoso (REZENDE, 2008, p. 42).
Não se constitui ‘outro espaço’, nem ‘outro mundo’ – o que acontece é uma mudança no que estabeleceu como normal e constituído. Nesse gênero há um abalo de alguma certeza natural, com o intuito de fazer parecer como são tênues as linhas que dividem os dois mundos (se é que são separados): o real e o irreal (REZENDE, 2008, p. 42).
Além da presença do elemento fantástico, aspectos como a linguagem e
os eixos temáticos, normalmente recorrentes, chamam a atenção do leitor pela sua
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contemporaneidade.
A escolha lexical e sintática de José J. Veiga se pauta pela língua comum atual do Brasil. Suas normas de escrita não se distanciam do nível coloquial urbano em uso no país. Suas histórias são tecidas numa língua muito próxima da fala – algo direcionado na proposta modernista do linguajar popular brasileiro – o que torna sua obra muito simples e comunicativa, nesse aspecto (SOUZA, 1987, p. 125).
Sem os apelos de palavras de livro de escritor importante, J. Veiga não descuida de construções leves, metódicas, com frequentes paralelismo [...]. Prefere o período curto, evita as construções enclíticas e desconhece a mesóclise. Apurada na simplicidade, a fala Veigueana é resultado da elaboração cuidadosa no evitar o erudito afetado e livresco, é “bonita” sem ser “refinada”” (SOUZA, 1987, p.125).
Quanto aos eixos temáticos, quatro deles são identificados por Prado: “a
divisão entre a aceitação da norma e sua refutação”, a “relação entre morte e
amadurecimento”, a “opressão do homem pelo progresso” e a “Confrontação entre a
idade adulta e a infantil” (PRADO, 2009, p. 5).
Na opinião de Souza, toda obra de José J. Veiga está marcada pela
busca dos personagens na compreensão da vida. Alguns contos como “Os Cavalinhos de
Platiplanto”, “Invernada do Sossego” e “Na Estrada do Amanhece”, trazem um “misto de
deslumbramento e catástrofe” enquanto “Tarde de Sábado, Manhã de Domingo”, “Roupa
no Coradouro”, “Viagem de Dez Léguas”, “Fronteira”, “Entre Irmãos”, além de outros,
revelam-se “ricos em uma sensibilidade infantil aberta às coisas que a vida vem trazendo,
seja em forma de dor, seja em forma de fantasias e sonhos arrebatadores, mas
perigosos” (SOUZA, 1987, p. 68-69).
Nos contos veigueanos, predomina o espaço rural com suas pequenas
propriedades e pequenos vilarejos, sejam reais ou imaginários, todos impregnados do
universo sertanejo, das marcas interioranas, dos valores e da rotina da vida típicos dessa
realidade (VEIGA, 1994). Segundo Souza, José J. Veiga deixa claro que a preferência por
essa realidade dá-se “porque ele amansa melhor os lugares pequenos” (SOUZA, 1987, p.
65). Isso justifica porque o autor é, por muitos críticos, classificado como regionalista,
chegando alguns tendenciosos conterrâneos a identificá-lo com o regionalismo goiano. Na
opinião de Souza (1987), mesmo tendo buscado, na sua realidade imediata, o material
para sua produção literária, a arte do escritor ultrapassa, vai além do interior goiano.
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Dois outros importantes aspectos a serem destacados nos dois livros de
contos veigueanos, “Cavalinho de Platiplanto” (1959) e “A Máquina Extraviada” (1970),
dada a relevância que têm no contexto das narrativas do autor, merecem ser
mencionadas. Um desses aspectos refere-se ao período político e social em que foram
publicados e o outro à predominância da perspectiva infantil nas narrativas (TURCHI,
2010).
No primeiro caso, referindo-se ao alto teor político refletido nos romances
“Os pecados da Tribo” e “Aquele Mundo de Vasabarros”, Souza afirma:
A leitura de seus livros possibilita um envolvimento entre o individual e o coletivo, num processo de percepção dialética do poder sob o qual vivemos. Daí que sua obra é de alto teor político, uma vez que lança o homem na tomada de consciência da sua existência dependente de estruturas de poder opressivo (SOUZA, 1987, p. 83).
Na visão de Prado (2009), o contexto de opressão, sugerido nas
narrativas de J. J. Veiga, constitui um dos elementos insólitos que se contrapõe ao
cotidiano que é outro elemento indissociável e constitutivo da realidade narrativa
veigueana.
O segundo aspecto refere-se à frequência com que J. J. Veiga privilegia a
perspectiva infantil em suas narrativas, mesmo naqueles contos protagonizados por
adultos. E o que chama a atenção nessas narrativas é o confronto permanente
estabelecido entre o mundo infantil e a realidade exterior. Elas falam geralmente de uma
infância não feliz, de meninos sérios, tristes ou perplexos, de crianças que não têm voz,
preparadas para o luto e não para o amor, vivendo em um mundo em que o elemento
insólito é a morte.
7- ANÁLISE DO CONTO
7.1 Aspectos históricos do conto e sua estrutura composicional
Escrevendo acerca dos gêneros discursivos, Fiorin (2006) lembra que
Bakhtin, em sua teoria, chama a atenção para a infinita variedade dos gêneros, os quais
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se manifestam sempre “vinculados a um domínio da atividade humana, refletindo suas
condições específicas e suas finalidades” (FIORIN, 2006, p. 61). Mas, segundo Fiorin
(2006), nesta teoria, “o que importa verdadeiramente é a compreensão do processo de
emergência e da estabilização dos gêneros, ou seja, a íntima vinculação do gênero com
uma esfera de atividade” (p. 63).
Situado na esfera literária, o conto constitui um gênero “marcado pela
especificidade dessa esfera de ação” (FIORIN, 2006, p. 62). Isso quer dizer que sua
organização composicional traz características que se repetem com certa regularidade e
permitem defini-lo como tal.
Na opinião de Gotlib (1985), é impossível determinar com exatidão
quando e onde iniciou-se o ato de contar. Para muitos, afirma a autora, o conto surgiu no
Egito, por volta de 4.000 anos antes de Cristo, com o aparecimento de “Os Contos dos
Mágicos” (GOTLIB, 1985, p. 6). Coelho (2010) também atesta a origem oriental do conto,
atribuindo-a mais precisamente à cultura oriental hindu.
O que se sabe, porém, é que o conto sempre esteve presente na história
da humanidade, constituindo uma das modalidades narrativas mais antigas, cultivados em
todas as sociedades (DECLÓS apud COELHO, 2010), inicialmente pela expressão oral,
mais tarde também pela escrita.
Gotlib (1985), citando Cortázar, afirma que o conto “é um gênero muito
difícil de definição, muito esquivo nos seus múltiplos e antagônicos aspectos” (GOTLIB,
1985, p. 10). Graças a essas dificuldades, o conto foi ao longo da história confundido com
o romance, a novela, a parábola e a fábula. Somente a partir do período moderno é que
passou a ter suas especificidades delimitadas, embora conserve “a economia do estilo e a
situação e a proposição temática resumida” (GOTLIB, 1985, p. 15), características típicas
da parábola e da fábula. O fato é que desde sua origem, na visão da autora, o conto
sofreu apenas mudanças de ordem técnica e não de ordem estrutural.
Na definição de Kraemer,
O conto é caracterizado formalmente pela brevidade (desenrolar da ação em apenas um episódio), pelo envolvimento de poucas personagens, pelo espaço físico diminuto (lugar único), e pelo tempo marcado por um período muito curto (KRAEMER).
Coelho (2010) complementa ainda que o conto apresenta uma só célula
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dramática, um único eixo temático e um único conflito. E mais, no conto, as personagens,
os fatos, o ambiente e o tempo encontram-se “condensados, conduzidos sem desvios
para o desfecho final” (COELHO, 2010).
Na acepção de Reis
Um conto parece ser, a partir de um fragmento da realidade, a partir de um episódio fugaz, a partir de um dado extraordinário mas muitas vezes despercebido do real, a partir de um fato qualquer e, por que não?, a partir de fato nenhum, a construção de um sentido que produza no leitor algo como uma explosão, levando as comportas mentais a expandirem-se, projetando a sensibilidade e a inteligência a dimensões que ultrapassem infinitamente o espaço e o tempo da leitura. E este efeito tanto pode resultar da natureza insólita do que foi contado, tanto pode resultar da feição surpreendente do episódio, como pode resultar do modo como se contou do aspecto absolutamente inédito que a genialidade do autor pode ter denunciado no “já visto” (REIS, 1984, p. 24).
De qualquer forma, o fato dos autores encontrarem dificuldades para
definirem os limites dos aspectos formais do conto, de modo preciso e definitivo, não
impede que este gênero possa constituir-se em uma atividade de leitura concreta e
histórica, pois, segundo a visão bakhtiniana, enquanto enunciado, ele se encontra inserido
em uma situação social de interação; apresenta características relativamente estáveis;
comporta os traços temáticos, estilísticos e composicional; representa uma situação real
de comunicação e está vinculado a uma área da atividade humana (ARAÚJO; KRAEMER,
2009).
7.2 Contexto de produção
O conto é um gênero discursivo que normalmente é veiculado em livros,
materiais didáticos, jornais, não raramente via internete, e outros. Seu destinatário é
diversificado, constitui-se de leitores de todas as classes sociais, sobretudo aqueles
vinculados ao contexto escolar.
Os contos “Fronteira” e “Entre Irmãos” fazem parte do primeiro livro do
autor, publicado em 1959, “Os Cavalinhos de Platiplanto”.
Fronteira” é um conto escrito em primeira pessoa, narrado sob a visão do
protagonista que recorda uma difícil etapa de sua infância quando, mergulhado no
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complicado universo dos adultos, viu-se envolvido também com seus problemas. No
último parágrafo do conto, o narrador dá a entender que esses conflitos podem ser uma
referência à passagem da infância para outra etapa da vida.
“Entre Irmãos” narra a história de um irmão que, após dezessete anos,
diante da iminência da morte da mãe, volta para casa e encontra seu irmão mais novo, a
quem nunca conhecera, mas que naquele momento estava a sua frente. A tônica da
narrativa recai sobre a dificuldade de diálogo entre ambos e o desconforto gerado por
essa situação.
O conto “Cachorro Canibal” ´faz parte do livro “A Estranha Máquina
Extraviada” de José J. Veiga, publicado em 1967, período da ditadura militar no Brasil. O
conto narra, de forma metafórica, em terceira pessoa, a história de um cachorro que,
depois de muitas andanças e penúrias, abriga-se à sombra de um jasmineiro em busca
de um pouco de alívio. Uma criança que o vê naquela situação acolhe-o em sua casa,
onde ele é bem tratado. Logo ganha a simpatia de toda a família que em determinado
momento decide arrumar-lhe um companheiro menor para fazer-lhe companhia. A
convivência entre eles, que por um tempo fora muito feliz, é interrompida quando, diante
da docilidade do cãozinho com as pessoas da casa, o cão maior tomado pelo o
sentimento de ciúmes, num ato canibal, decide matá-lo.
Em seus contos José J. Veiga fala de um contexto em que o fantástico
emerge de experiências corriqueiras. Agrega ao contexto familiar situações de
estranhezas e encontra na realidade interiorana dos pequenos vilarejos o material
linguístico necessário para compor o cenário de suas histórias. Seus contos estão
marcados por uma linguagem próxima do coloquial, da fala popular brasileira, típica da
realidade rural, característica que faz com que suas histórias pareçam simples e
comunicativas.
A não identificação da época em que os fatos narrados acontecem, nos
três contos, sugere a clara intenção do autor em buscar um entendimento da vida humana
a partir das situações insólitas e extraordinárias. O leitor destes contos, por um processo
dialógico, estabelecem com os personagens uma relação de proximidade e troca de
experiências para fazer uma leitura do mundo , tendo como referência um lugar social
claramente definido
18
7.3 Dialogia Discursiva
É imprescindível que ao abordar o conto, na sala de aula, na perspectiva
dos gêneros discursivo, o professor leve em conta seus aspectos dialógicos. Tais
aspectos dizem respeito às relações que todo enunciado estabelece com outros
enunciados já constituídos (anteriores e passados). Fiorin faz referência a três conceitos
de dialogismo: o dialogismo constitutivo, aquele que não se mostra, também denominado
de heterogeneidade constitutiva devido a propriedade fundamental que os textos têm de
se constituírem a partir de outros textos; o dialogismo composicional, que é explícito e
consiste na incorporação de vozes alheias no discurso pelo enunciador e dialogismo da
heterogeneidade de vozes sociais que se refere à subjetividade constituída pelo conjunto
de relações sociais de que participa o sujeito (2008).
Para mostrar as vozes alheias demarcadas no texto (dialogismo
composicional), Fiorin cita procedimentos como a negação, o discurso direto e o indireto,
as aspas e as glosas do locutor, enquanto que para mostrar as vozes não demarcadas
(dialogismo constitutivo) ele cita o discurso indireto livre, a imitação, a paródia e a
estilização (2002). Rodrigues (2005) caracteriza às vozes alheias presentes no discurso a
partir das relações dialógicas dos elos anteriores, pelo movimento dialógico de
assimilação, e pelo movimento dialógico de distanciamento. elos posteriores que
configuram as relações dialógicas entre autor e interlocutor e são construídas pelos
movimentos dialógicos básicos de engajamento, de refutação e de interpelação.
c) Texto 1: “O Cachorro Canibal”
Conto disponível no site: <http://www.tirodeletra.com.br/Ocachorrocanibal-JoseJ.Veiga.htm>
O conto narra, de forma metafórica, em terceira pessoa, a história de um
cachorro que, depois de muitas andanças e penúrias, abriga-se à sombra de um
jasmineiro em busca de um pouco de alívio. Uma criança que o vê naquela situação
acolhe-o em sua casa, onde ele é bem tratado. Logo ganha a simpatia de toda a família
que em determinado momento decide arrumar-lhe um companheiro menor para fazer-lhe
companhia. A convivência entre eles, que por um tempo fora muito feliz, é interrompida
quando, diante da docilidade do cãozinho com as pessoas da casa, o cão maior tomado
pelo o sentimento de ciúmes, num ato canibal, decide matá-lo.
19
Neste conto, é possível identificar diversas vozes, mas vamos nos ater a
apenas algumas delas a começar pelo emprego reiterado do não e do mas. Do ponto de
vista dialógico, tanto a negação quanto a conjunção adversativa implicam no confronto de
duas vozes.
O movimento dialógico de engajamento também pode ser identificado no
texto. Observe que em “Mas pode um cão contentar-se com a simples tolerância?” (p. 86)
o narrador espera fazer com que o leitor assuma uma atitude de cumplicidade e torne
seu aliado.
Possíveis interferências do narrador, com apresentação de juízo de valor,
podem ser identificadas em “Mas aí começa também a fase difícil das relações entre cão
e gente”; (p. 86) “Aquele estado de coisas não podia acabar bem” (p. 87) e “ Mas não há
paciência que resista a abusos” (p. 87). Por meio destas afirmações, o narrador busca
dialogar com o leitor e chamar sua atenção para que perceba uma situação que no fim
pode ser desastrosa.
Um outro aspecto dialógico refere-se ao discurso indireto livre presente
em vários momentos do texto. Através dele, a voz da personagem se mistura com a voz
do narrador e nem uma nem outra pode ser claramente identificada: “Só depois que a
pessoa insistir é que ele deve atender, assim mesmo sem pressa. Se não houver
insistência o cachorro nada terá a perder; pelo contrário, convém sempre desconfiar das
que não insistem” (p. 86); “Dava engulhos ver a sofreguidão dele atendendo os chamados
mais absurdos, a humildade na aceitação de censuras castigos” (p. 87).
Um outro recurso que demarca a presença do discurso alheio e que está
presente no texto é a ironia. As frases, “ é verdade, que fim levou aquele cachorro que
andava por aí?” (p. 86), “o que é que esse miserável julga que é? “ O Rei do Mundo?”(p.
86) e “Que graça! Até parecem irmãos!” (p. 87), estão carregadas de ironia e denotam a
índole manipuladora do cão. Observe, ainda, que ao usar “O Rei do Mundo?” em letras
maiúsculas, o texto recupera uma expressão usualmente empregada para indicar atitudes
de arrogância e pretensão.
ci) Texto 2: “Fronteira”
Conto disponível no site: <http://trapichedosoutros.blogspot.com/2009/09/fronteira-de-jose-j-
veiga.html>
“Fronteira” é um conto escrito em primeira pessoa sob a visão do
20
protagonista que recorda uma difícil etapa de sua infância quando, mergulhado no
complicado universo dos adultos, viu-se envolvido também com seus problemas. No
último parágrafo do conto, o narrador dá a entender que esses conflitos podem ser uma
referência à passagem da infância para outra etapa da vida.
Por meio do discurso indireto, que no texto é predominante, o produtor vai
tecendo uma diversidade de vozes que vão se desvelando por meio do discurso do
narrador e do confronto do universo da criança com o do adulto. O emprego do mas e do
não , mais uma vez, ocorre de forma reiterada. No período, “Eu era muito criança, mas
já sabia uma infinidade de coisas que os adultos ignoravam” (p. 81), há uma quebra de
expectativa, a conjunção demarca a alteridade discursiva, refuta a voz, segundo a qual,
uma criança não pode saber de muita coisa. Do mesmo modo, ao a empregar o não em
“e como eu não podia negar nada a minha mãe” (p. 82) manifesta as relações dialógicas
com elos anteriores, pois recupera a voz que afirma que a desobediência à mãe pode
atrair coisas ruins e medonhas.
A ocorrência das aspas em “É como se a pessoa “sangrasse” a areia do
fundo da água” (p. 83) constitui um recurso linguístico que o autor julga pouco apropriado,
mas próximo daquilo que quer dizer. As aspas aparecem também em “Coitado de meu
filho, não tem descanso” (p. 82) e “Meu filho, meu filho tão infeliz!” (p.84). Nestes casos
elas foram empregadas com o objetivo de demarcarem a ocorrência do discurso direto
explicitado na voz da mãe.
Outras vozes, embora não apareçam demarcadas, estão presentes no
texto, a começar pelo título. Não é difícil concluir que a própria palavra “Fronteira” possui
uma dimensão dupla, admite o confronto entre duas posições que no conto apontam para
o diálogo entre a idade adulta e a infantil.
Por meio dos questionamentos “Como poderia eu recuar e dar-lhes as
costas, como se não tivesse nada a ver com os problemas deles?” (p. 82)”; “Naturalmente
eu podia acabar com aquilo a qualquer hora, mas - e a responsabilidade?” (p. 83) e “Mas
não se pense que as minhas caminhadas para lá e para cá fossem uma rotina
desinteressante; nada disso” (p.83), o narrador introduz em seu discurso o movimento
dialógico de engajamento. Por esse procedimento, ele busca fazer com que o leitor
assuma sua mesma posição valorativa, torne-se seu cúmplice e estabeleça com ele uma
relação de concordância.
A materialização das relações dialógicas ocorre também por meio da
intertextualidade que se configura ao fazer referências à lenda da “mãe-de-ouro”, uma
21
figura do folclore brasileiro que se apresenta como uma bola de fogo e atrai pessoas para
as jazidas de ouro, ou como uma mulher que atrai homens casados levando-os a se
separarem; à superstições e assombrações que dizem não dever cumprimentar a raça
dos anões “glimerinos” para não se desviar da missão, e que ao ouvir passos atrás de si
em uma estrada, não se deve olhar para trás nem correr, caso contrário estará perdido.
Pelo processo dialógico da imitação, o texto dialoga com mito de sísifo ao
criar a imagem do rio que jorra moeda. Assim como Sísifo, o personagem da mitologia
grega, fora condenado a empurrar indefinidamente uma enorme pedra até o topo da
montanha, também aquele que derrubasse uma moeda em água corrente e tentasse
recuperá-la, estaria para sempre condenado a ficar à beira da água retirando moedas: “É
como se a pessoa “sangrasse” a areia o fundo da água e depois não conseguisse
estancar o jorro de moedas” (p. 83).
cii) Texto 3: “Entre Irmãos”
Conto disponível no site: <http://www.releituras.com/jjveiga_irmaos.asp>
“Entre Irmãos” narra a história de um irmão que, após dezessete anos,
diante da iminência da morte da mãe, volta para casa e encontra seu irmão mais novo, a
quem nunca conhecera, mas que naquele momento estava a sua frente. A tônica da
narrativa recai sobre a dificuldade de diálogo entre ambos e o desconforto gerado por
essa situação.
Uma da marcas dialógicas no interior do conto “Entre Irmãos” manifesta-
se por meio do emprego reiterado da negação e do operador argumentativo mas. O
emprego reiterado destes dois recursos linguísticos podem ser observados nos exemplos
que seguem: “um menino nasce, cresce e fica quase homem de repente nos olha na cara
e temos que abrir lugar par em nosso mundo, e com urgência porque ele não pode mais
ficar de fora” (p. 137), o locutor refuta uma voz anterior que afirma que o menino deve
fazer parte de seu mundo. Em “A princípio quero tratá-lo como intruso, mostrar-lhe a
minha hostilidade, não abertamente para não chocá-lo, mas de uma maneira a não lhe
deixar dúvida...” (p. 137), as duas primeiras negações (não abertamente para não chocá-
lo) refutam a voz que afirma que se a hostilidade for mostrada abertamente deixará o
irmão chocado e ao introduzir o operador argumentativo seguido de uma terceira negação
(mas a não lhe deixar dúvida), o locutor admite que se servirá de um pressuposto para
22
que de forma implícita esta hostilidade fique clara.
O desconforto vivenciado no confronto com o irmão mais novo
desencadeia no narrador um confronto com as vozes da experiência, com as vozes do
passado. São vozes polêmicas que naquele momento emergem das imagens que o
remetem ao passado:
Francamente já não sei o que fazer, a minha experiência não me socorre, não sei como fugir daquela sala, dos retratos da parede, do velho espelho embaciado que reflete a a estampa do Sagrado Coração, do assoalho de tábuas empenadas formando ondas (p. 141).
Neste exemplo, a negação volta a demarcar a presença do discurso do
outro quando opõe-se claramente a voz do senso comum segundo a qual a experiência
normalmente pode ajudar em situações difíceis.
No primeiro parágrafo, a expressão “assim me disseram” constitui uma
referência difusa. Por ela, o texto incorpora o movimento dialógico de distanciamento que
indica o confronto do narrador com vozes apagadas e enquanto tal pouco confiáveis.
O texto está povoado de questionamentos que caracterizam o movimento
dialógico de engajamento. Perguntas como “Mas devo dizer-lhe isso e provocar nele uma
pena que eu mesmo não sinto?” (p. 139); “Vale a pena dizer-lhe isso ou será muita
infantilidade, considerando que ele está com dezessete anos e eu tinha uns dez naquele
tempo?”; “mas como poderei fazê-lo sem perder para sempre alguma coisa muito
importante, e como explicar depois a minha conduta quando eu puder examiná-la de
longe e ver o quanto fui inepto?” (p. 141). Nestes questionamentos, o leitor é convidado
pelo narrador a assimilar sua posição valorativa, a colocar-se na posição de co-autor. Na
frase “
Pelo discurso indireto, o texto insere no discurso uma fala diferente da
voz do narrador, a voz de outrem . Esse recurso pode ser constatado em “Ele me olha
parece que fascinado, diz que deve ser bom viver em hotel, e conta que toda vez que faz
reparos à comida mamãe diz que ele deve ir para um hotel, onde pode reclamar e exigir”
(p. 139). O emprego do termo mamãe impede que a voz do narrador se diferencie da fala
do irmão mais novo.
O texto incorpora também o movimento dialógico de assimilação com o
objetivo de dar credibilidade à voz da personagem que recorre ao que o jornal disse a
respeito da proibição de se ter cão em um quarto de hotel.
23
Um dos aspectos dialógicos que chama a atenção é a possível
aproximação da narrativa com a peça teatral. Ao ser escrito no presente do indicativo, o
texto não apenas dá a ideia de aproximação entre o leitor e o narrador, como também
configura a composição de uma cena que vai sendo descrita no desenrolar da narrativa,
aspecto que fica evidente nos dois momentos que seguem: “Uma mulher entra na sala,
reconheço nela uma de nossas vizinhas, entra com ar de quem vem pedir alguma coisa
urgente. Levanto-me de um pulo para me oferecer […] pede desculpa e desaparece”(p.
140); e em “A porta se abre abruptamente e a vizinha entra de novo apertando as mão no
peito, olha alternadamente para um e outro de nós e diz, numa voz que mal escuto” (p.
141). Nestes dois momentos, a fala do narrador imita as didascálias de uma peça teatral.
Não é difícil observar que o narrador descreve cena.
8- ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
Ao considerar que uma prática de ensino só se efetiva no plano da
aplicabilidade e que a teoria brevemente explicitada aponta, segundo Saviani, para uma
escola que busca resgatar uma visão crítica-social dos conteúdos, encontramos no Plano
de Trabalho Docente (PTD) proposto por Gasparim (2002) um instrumento seguro e
eficiente para o encaminhamento metodológico das atividades que serão propostas aos
alunos envolvidos neste estudo. Servimo-nos do roteiro de estudo apresentado por deste
instrumento, para propor atividades de leitura e análise linguística dos contos “O Cachorro
Canibal”, “Fronteira” e “Entre Irmãos” do goiano José J. Veiga, que serão desenvolvidas
com orientação docente em sala de aula. O processo será avaliado a partir da proposta
de leitura e análise de um 4º conto do mesmo autor, a ser escolhido pelos alunos que
utilizarão um roteiro de análise semelhante ao empregado no estudos dos três contos
anteriores.
8.1 Atividades propostas:
I. Prática social inicial
a) Anúncio dos conteúdos
- O gênero - narrativas com contos;
24
- Organização textual da narrativa;
- Condições de Produção;
- Marcas linguísticas que contribuem para a construção e efeitos de sentido do texto; - O
conteúdo temático vinculado;
- Estrutura composicional do conto;
- Contos indicados: “O Cachorro Canibal”, “Fronteira”, “Entre Irmãos”
b) Vivência cotidiana dos conteúdos
- Você sabe o que é um conto?
- Que ideia a palavra conto sugere?
- A que esfera da atividade humana o conto está relacionado?
- Você conhece alguns autores de contos da literatura universal? E da literatura
brasileira?
- Você se lembra de ter lido ou ouvido algum conto? Qual? De que autor?
- Onde você leu ou ouviu um conto?
- Falava sobre o quê?
c) O que gostariam de saber mais sobre contos
II. PROBLEMATIZAÇÃO (momento para levantar questões contextualizadas referentes
ao conteúdo e busca de soluções para as questões levantadas na prática social inicial –
proposição de atividades de pesquisa e registro em cadernos).
a) Dimensão conceitual
- Já vimos que a heterogeneidade dos gêneros discursivos é muito grande. Pesquise na
biblioteca sobre as diferenças entre os gêneros: conto, fábula e crônica. Estabeleça as
diferenças por escrito para posterior discussão em sala de aula.
b) Dimensão histórico-cultural
- Qual a origem do gênero conto?
- Quando e onde surgiu o conto?
- De que forma o conto manifestou-se inicialmente? E hoje?
c) Dimensão social
25
Qual a função social do conto?
- Sobre o que falam os contos?
- Em qual meio social, o conto está presente?
III. INSTRUMENTALIZAÇÃO
a) Sugestão de atividades de leitura e de análise linguística (leitura dos contos “Cachorro
Canibal”, ”Fronteira” e “Entre Irmãos”, seguida pelos questionamentos abaixo e
respondidos por escrito, pelos alunos, com a mediação do professor).
• Questões referentes ao contexto de produção e relação autor/leitor/texto
- Em que suporte, o conto é veiculado?
- Quem são os leitores de livros de contos?
- Os livros de contos são encontrados com que frequência nas bibliotecas públicas e
escolares? E em livrarias?
- Quem é o autor dos contos “Cachorro Canibal”, ”Fronteira” e “Entre Irmãos”?
- Qual a importância desse autor para a literatura brasileira?
- Em que período, os contos desse autor foram escritos?
- Em que livro (ou livros) estes contos foram publicados?
- A história narrada nos contos faz alguma referência ao período em que foi escrita?
Justifique.
- A que tipo de literatura, os contos estão associados? Faça um breve comentário
- Além de contos, o que mais esse autor escreveu?
a) 1º Conto: “O Cachorro Canibal”
• Questões referentes ao conteúdo temático
- A partir do título do livro em que se encontra o conto “O Cachorro Canibal” , podemos
definir o tema/o assunto nele tratado?
- No decorrer da leitura do conto, esse tema/assunto se confirma?
- Qual é o tema/assunto tratado no conto “O Cachorro Canibal”?
- Quem são os personagens da história?
26
- De acordo com o texto, como você define o comportamento do cão maior? E do cão
menor?
- De acordo com as atitudes do cão maior, como você o caracterizaria?
• Questões que abordam o arranjo textual
- Que fato desencadeou o conflito apresentado no conto?
- O conto “Cachorro Canibal” é uma narrativa. É possível encontrar no texto alguma
indicação da época em que os fatos acontecem? Por quê?
- Onde a história narrada acontece? Responda com indicações encontradas no texto.
- No conto lido, o narrador participa da história ou somente conta a história?
- Qual é o tipo de narrador que conta a história? Justifique sua resposta a partir do próprio
texto.
- O texto apresenta marcas que indicam a fala das personagens? Que marcas são estas?
- Identifique o momento do clímax da narrativa.
- Que fato desencadeou o conflito (a complicação da história) apresentado no conto?
- De que forma esse conflito foi resolvido?
- O autor empregou as aspas e os parênteses duas vezes. Explique a função desses
recursos no texto.
• Questões que contemplam as marcas linguístico-enunciativas
- Na expressão “Mais dias menos dias...”, o que o uso das reticências indica?
- Na frase “estragaram tudo com a solicitude de amaciar-lhe a vida”, explique o sentido do
verbo amaciar.
- Que tipo de discurso predomina na narrativa? Que marcas no texto comprova isso?
- Que marcas linguísticas o autor empregou para indicar a fala das personagens?
- Ocorre na maioria dos parágrafos da narrativa a alternância de verbos empregados no
pretérito imperfeito e pretérito perfeito. Explique por que isto acontece.
- Na frase “A ideia veio de repente”, a que se refere a palavra ideia? E a expressão de
repente?
- Ao empregar a conjunção (operador argumentativo) mas, o enunciador estabelece uma
relação de contradição com um enunciado anterior. Na frase “Mas aquele parecia não ter
pressa ou intenção de seguir” (2º parág.), que enunciado está sendo refutado pelo
enunciador?
- Substitua nas frases, abaixo, o termo em negrito por outro de sentido equivalente:
27
a) Mas o que se via era as pessoas tomarem o trabalho para não incomodá-lo;
b) Ele não resistiu ou criou dificuldades;
c) Mesmo quando parecia descansar... podia se ver que o repouso era aparente.
- Estabeleça, por escrito, um paralelo entre a situação inicial (três primeiros parágrafos) e
a situação final (dois últimos parágrafos) do cachorro.
- Ao identificar o caõzinho por “ladrãozinho malhado”, a que se refere o substantivo
ladrãozinho?
- Na frase “Aproveitando-se da inocência do cãozinho as pessoas da casa conquistaram-
no completamente, numa inversão ridícula de papéis”. Na opinião do cão maior, que
papéis estavam invertidos?
- Por que no 7º parágrafo os verbos foram empregados no presente do indicativo?
- Em alguns momentos da narrativa, o narrador procura dialogar com o leitor. Assinale a
alternativa que comprova esse possível contato do narrador com o leitor:
( ) Aplicando todas as suas habilidades na fase difícil dos primeiros contatos ele
conseguiu fazer-se notado e respeitado;
( ) Uma criança da casa viu-o ainda no mesmo lugar lá pelo meio da tarde e levou-lhe
uns restos de comida.
( ) Mas aí começa também a fase difícil das relações entre cão e gente.
- É possível encontrar no texto marcas linguísticas que justifiquem a atitude de rejeição
das pessoas com relação ao cachorro embora não soubessem do crime por ele
praticado? Como você explicaria tal atitude?
- Por que no final da narrativa, o cão tinha a impressão de estar contido entre barras de
uma jaula?
- Segundo o princípio de alteridade dialógica, todo enunciado está perpassado por vozes
alheias. Que recursos linguísticos foram empregados pelo autor para caracterizar a
presença de outras vozes este conto? Exemplifique a partir de indicações do texto.
b) 2º Conto: “Fronteira”
• Questões referentes ao conteúdo temático
- A partir do título do conto, é possível definir o tema/o assunto nele tratado?
- No decorrer da leitura, esse tema/assunto pode ser confirmado?
- Como você justifica o título desse conto?
- Que outro título poderia ser sugerido?
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- Qual é o tema/assunto tratado no conto “Fronteira”?
- Quem são os personagens da história?
- De acordo com o texto, como você caracterizaria o narrador?
- Em que livro o conto “Fronteira” foi publicado?
- É possível afirmar que, embora o conto esteja narrando fatos imaginários, ele faz
referências a experiências concretas. Justifique.
• Questões que abordam o arranjo textual
- Que fato desencadeou o conflito apresentado no conto?
- É possível encontrar no texto alguma indicação da época em que os fatos acontecem?
Por quê?
- No conto lido, o narrador participa da história ou somente conta a história?
- Qual é o tipo de narrador que conta a história? Justifique sua resposta a partir do próprio
texto.
- O texto apresenta marcas que indicam a fala das personagens? Que marcas são estas?
- Por que a narrativa não faz menção ao nome da personagem e nem delimita o tempo e
o espaço em que os fatos aconteceram?
- A que fase da vida da personagem os fatos se referem? E em que provável fase da vida
da personagem eles estão sendo narrados?
• Questões que contemplam as marcas linguístico-enunciativas
- No primeiro parágrafo do conto, que recurso linguístico foi empregado para indicar que
a narrativa se refere a fatos do passado?
- O narrador afirma no 1º parágrafo que embora muito criança sabia uma infinidade de
coisas que os adultos ignoravam. Que coisas eram essas?
- Você conhece a lenda da “mãe-do-ouro”? Em que estado do Brasil surgiu esta lenda?
- Além da lenda “mãe-do-ouro”, há também no 1º parágrafo referência a um outo
elemento da cultura popular. Identifique que elemento é esse.
- O emprego do mas implica numa relação de dois argumentos em oposição. Identifique
no texto o argumento anterior que está sendo refutado:
a) Mas eu podia percorrê-la na ida e na volta de olhos fechados;
b) Mas desde criança eu era perseguido pela insistência dos que precisavam viajar e
tinham medo do caminho;
c) Mas no minuto seguinte eu estava novamente em dúvida.
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- Por que a interrogação (questionamento) foi empregada diversas vezes no texto?
- O que significa o emprego das aspas em “coitado de meu filho, não tem descanso” e
“meu filho, meu filho tão infeliz”?
- O rio que jorra moedas é uma referência ao mito de sísifo. Você conhece esse mito?
Faça uma pesquisa (biblioteca ou internet) e estabeleça uma relação entre os dois.
- Do ponto de vista do narrador, qual a solução para se ver livre da responsabilidade
diante dos problemas dos adultos? Responda com indicação do texto.
- Segundo o narrador, que recurso ele utilizava para saber que ainda não havia crescido?
- Qual o sentido de efeito do emprego da expressão “de repente” empregado no
antipenúltimo parágrafo? Justifique.
- No último parágrafo, qual o significado da imagem da montanha para a personagem?
- Segundo o princípio de alteridade dialógica, todo enunciado está perpassado por vozes
alheias. Que recursos linguísticos foram empregados pelo autor para caracterizar a
presença de outras vozes este conto? Exemplifique a partir de indicações do texto.
c) Conto 3: “Entre Irmãos”
• Questões referentes ao conteúdo temático
- A partir do título do conto “Entre Irmãos”, podemos definir o tema/o assunto nele
tratado?
- No decorrer da leitura do conto, esse tema/assunto se confirma?
- Qual é o tema/assunto tratado no conto “Entre Irmãos”?
- Quem são os personagens da história?
- Que fato desencadeou o encontro entre os dois personagens?
- Que motivação ocasionou a ausência do irmão mais velho?
• Questões que abordam o arranjo textual
- Em quantos parágrafos o conto foi escrito?
- Que fato desencadeou o conflito apresentado no conto?
- Há no texto alguma indicação da época em que os fatos acontecem? Por quê?
- Onde a história narrada acontece? Responda com indicações encontradas no texto.
- Nenhum dos personagem da narrativa é identificado pelo nome. Você tem ideia sobre o
que isto sugere na narrativa?
- No conto “Entre Irmãos”, o narrador participa da história?
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- Qual é o tipo de narrador que conta a história? Justifique sua resposta a partir do próprio
texto.
- O texto apresenta marcas que indicam a fala das personagens? Que marcas são estas?
- Identifique o momento do clímax da narrativa.
- Que fato desencadeou o conflito (a complicação da história) apresentado no conto?
- De que forma esse conflito foi resolvido?
- O discurso direto introduz foi introduzido no texto apenas uma vez. Copie a passagem
que o identifica.
- Copie duas passagens do texto onde há indicações do discurso indireto.
• Questões que contemplam as marcas linguístico-enunciativas
- Que expressão configura uma marca dialógica no 1º parágrafo?
- Que outras marcas linguísticas do texto indicam a presença de vozes alheias?
- O texto aponta algumas características que comprovam que o narrador e o menino que
está à sua frente são irmãos. Que características são estas?
- Identifique no texto três características do irmão mais novo.
- Pelas indicações do texto, é possível calcular a idade do narrador? Qual?
- Em que tempo verbal o conto “Entre Irmãos” foi escrito? O que este recurso sugere?
- O conto apresenta algumas características que o aproximam da peça teatral. Aponte
algumas destas características.
- Há no texto indícios de que os irmãos pertencem a classes sociais diferentes. Que
indícios são estes?
- No final do 7º parágrafo, a que erro se refere o narrador?
- Qual a relação da morte da mãe com o tema do conto?
- Segundo o princípio de alteridade dialógica, todo enunciado está perpassado por vozes
alheias. Que vozes podem ser identificadas na narrativa?
Marcas recorrentes
- Identifique nos contos lidos aspectos recorrentes que podem caracterizar o estilo do
autor (no âmbito lexical, temático, etc).
– De que forma o fantástico ou insólito se manifesta em cada uma das três narrativas
lidas?
–
31
IV. CATARSE
Propor a leitura do conto “Tarde de Sábado, Manhã de domingo”, do mesmo
autor (disponível na biblioteca da escola), sugerindo-lhes que em grupo comente o texto e
façam a identificação do arranjo textual, das marcas linguísticas e dialógicas, de alguns
recursos que o autor emprega para manifestar as vozes com as quais o texto dialoga, de
aspectos recorrentes na obra do autor (léxico, temática, expressões, etc.) e do elemento
fantástico.
V. PRÁTICA SOCIAL (Final)
Meio de explicitação das intenções de aplicabilidade dos conteúdos
apreendidos:
- Desenvolver a capacidade linguístico-discursiva a partir do estudo da língua via gêneros
discursivos;
- Desenvolver uma leitura crítica de um conto literário através do reconhecimento das
vozes com as quais o texto dialoga e da ideologia que ele veicula.
32
REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da Criação Verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. Prefácio à editora francesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
COELHO, Nelly Novaes. Conto. Disponível em: <http:/www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/c/conto.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao Pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008.
GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas: Autores Associados, 2002 (Coleção Educação Contemporânea).
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