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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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ME I

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1 Especialização Programa Desenvolvimento Educacional (PDE) Colégio Estadual Antonio Iglesias 2 Dra. Geografia. Universidade Estadual de Londrina, professora

AS PROVÁVEIS FONTES DE VIOLÊNCIA NO ENTORNO E INTERIOR DA ESCOLA ESTADUAL ANTONIO IGLESIAS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O RENDIMENTO ESCOLAR.

Autor: Edilson Helder Botti Schmitt

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Orientadora: Prof. Dra. Eloiza Cristiane Torres 2

Resumo

Com o intuito de mostrar ser possível comparar o processo de coevolução, dispersão e desenvolvimento de uma plântula com a vida humana, para assim amenizar os motivos que levam à prática da violência em todo o seu contexto, foram realizadas, no mês de maio, várias coletas de sementes de forma aleatória, semeadura em areia e substrato orgânico. Este último para verificar a dispersão e o trato digestivo de angulados. Vários tipos de sementes foram utilizados, colhidas por alunos de sexta e sétima série do Colégio Estadual Antonio Iglesias, no ano de 2009. Ao longo de seis meses, ficou exposto o sementário rústico no pátio do colégio, sendo possível observar as diferentes formas de quebra de dormência, o processo desigual na germinação e principalmente a fragilidade das plântulas. Houve participação direta de meia centena de alunos. O alunado participou indiretamente com várias perguntas quanto ao uso da mnemônica. Placas com palavras específicas da botânica, fixadas previamente nas instalações do colégio, instigaram a curiosidade de todos. Muitos alunos e funcionários demonstraram, verbalmente e com gestos, maior respeito à natureza. Sensibilizaram-se com as condições de submissão das sementes, correlacionando-as à existência humana, atendendo a intenção proposta. Palavra chave: Violência; coevolução; dispersão; semente; vida INTRODUÇÃO

Percebe-se atualmente nos jovens em idade escolar um desânimo ou

desestímulo crescente perante o ambiente escolar, à medida que vão avançando as

séries e a idade necessária à conclusão de pelo menos o Ensino Médio. Com a

clientela do Colégio Estadual Antonio Iglesias, não está sendo diferente conforme

dados do portal Dia a dia educação, Escola, todo ano se efetivam pelo menos de

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três a quatro turmas de alunos na quinta série, a evasão começa levemente na sexta

série e se acentua drasticamente até atingir somente uma turma reduzidíssima no

terceiro ano do Ensino Médio noturno.

Segundo dados do portal Dia a dia educação, Escola, Quadro rendimento

escolar de 2002 a 2008, a última turma com trinta e nove alunos que comporta uma

sala de aula segundo critérios do Estado no terceiro ano foi no ano de dois mil e

três. A partir de 2004, começa uma redução violenta no número de inscritos ou

matriculados nessa série, sendo apenas onze no ano de 2009 com certa dificuldade,

já existem desistentes, frequentando regularmente em dias alternados apenas seis

alunos, correndo o risco de fechar a turma, inclusive se esse índice vier a prevalecer

a partir do segundo semestre e, no ano de 2010, nem abrir matrículas para formar

turmas à noite nos níveis dessa formação.

(Acredito ser muito difícil encontrar um professor em atividade que não tenha

praticado alguma forma de violência, seja verbal seja a física. Ao longo das duas

décadas que já ministro aulas, já ofendi e fui ofendido verbalmente; não acreditar na

capacidade de um determinado aluno e se expressar a respeito também já foi um

dos deslizes terríveis de se contornar. Interferir em conflitos entre alunos também

requer certa habilidade para não sair prejudicado; perder o sono devido a conflitos

verbais ocorreu por diversas noites; por incrível que pareça os bons alunos

(educados) ainda pagam pelo respeito; lutas corporais e palavras pejorativas

referentes às mães não são mais novidade; triste é não saber o que fazer quando se

estabelece a agressão física entre alunos ou alunas. A intervenção não é

recomendada, inclusive por agentes da segurança. É muito raro ver um conflito no

pátio ou imediações da escola envolvendo pais, professores e funcionários.)

Fiz essas declarações por ter praticado e sofrido determinadas formas de

violência cujas modalidades estamos verificando. Já ouvi inúmeras outras formas de

desacato, violência e agressividade, mas não estava junto, fora do contexto, sem

condições para estabelecer uma avaliação. Não fico de forma alguma envaidecido

por ter feito o que fiz, e sim constrangido, a prática me ensinou a esperar calado, até

que o sujeito perceba que está incomodando e reflita sobre sua atitude. As palavras

não mais repercutem com eficiência, as crianças já estão acostumadas a ouvir

sermões e não dar mais atenção ou o devido respeito. Também, pelo nervosismo

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gerado pelo conflito na hora da discussão, fica fácil cometer um deslize e mais

ofender do que orientar a quem quer que seja.

Na produção do trabalho proposto, objetivou-se conciliar a prática de bons

atos, permitindo aos educandos a possibilidade de manipular a vida a partir da

germinação de sementes de época. A coleta de sementes, suas formas de

dispersão, os modos de coevolução entre os reinos animal e vegetal para

perpetuação das espécies, as diferentes formas de dormência e sua quebra, perante

processos naturais e artificiais, permitem a visualização das dificuldades que é

constituir a vida também no reino vegetal. A fragilidade da plântula pode ser

comparada a uma criança em tenra idade, ambas necessitam de proteção e

orientação para se estabelecer como adulto.

Se a violência é cometida entre nós e também contra o meio que nos rodeia

com depredações em tudo o que foi produzido pelo homem e pela natureza, é

possível reverter a situação com a compreensão e maturação de atitudes saudáveis,

dos conhecimentos positivos para uma nova sociedade a partir das crianças.

Nomes específicos da botânica, prazos naturais para a germinação de

determinadas sementes, a coleta mesmo que aleatória de sementes de época

trazem surpresas como a competição por predadores naturais e até uma certa

subordinação ao exemplar estar ou não maduro. Quanto à bibliografia relativa à

violência escolar, está ainda nos primeiros passos, necessitando de mais produção

literária e pesquisa, pois muito do que se tem produzido depende do exterior; pode,

portanto, não corresponder à nossa realidade.

Fizeram-se várias incursões à procura e coleta de sementes, que, dispostas

em um sementário rústico, protegido no pátio da escola, tornaram possível a

interação de alunos (direta ou indiretamente), observando o processo de germinação

das sementes colhidas, sendo finalizada a atividade com a pergunta: “É fácil ser

uma semente”?

Durante todo o processo, observado-se o cotidiano das crianças, suas

expressões orais e gestuais. Elas demonstram mais alegria, compartilham objetos

pessoais, são solidárias, também usam palavras de baixo calão e estão ávidas por

manipular objetos que exigem trabalho físico, as mãos precisam de atividades

voltadas para a manutenção da vida.

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1.0 Os diversos motivos que levam à prática da violência na escola

Os conflitos narrados acima e os demais sofridos pelos agentes que formam

o ambiente dessa escola são de natureza muito ampla, os motivos que levam às

provocações são também de múltiplas origens. Preocupada com a propagação da

violência no meio escolar, Miriam Abramovay e Maria das Graças Rua, Consultora

do Banco Mundial e Consultora da Unesco respectivamente, produziram o projeto

Violência nas escolas a pedido da UNESCO, com patrocinadores empenhados em

desenvolver maior humanização solidária entre os povos, buscam juntos a conquista

da paz mundial. É esse livro que tomarei por base para desenvolver este trabalho,

complementado por outras referências que se fizerem pertinentes ao conteúdo.

Inicialmente, o meu objetivo era apurar se já nos jovens em idade escolar no

período intermediário do Ensino Fundamental, os elementos sociais e naturais,

formadores de atitudes positivas, estão perdendo esse valor, já em tenra idade.

Concluí estar nas atitudes humanas, justo no aspecto inverso, ou seja, o desrespeito

à vida se manifesta no momento em que praticamos algum gesto ou atitude que

redunda no ato violento.

Uma primeira definição de violência, encontrada no dicionário eletrônico

Aurélio século XXI, diz: ”Constrangimento físico ou moral; uso da força; coação”.

Como não é objetivo enaltecer esse termo, faz-se curioso entender também o seu

oposto, ou seja, no mesmo dicionário o termo paz significa: “Ausência de lutas,

violências ou perturbações sociais; tranquilidade pública; concórdia, harmonia”.

Violência, no primeiro caso, aparece como agressão física, com o uso direto da

força, resultando em constrangimento moral. Por ausência de lutas, também é

atribuída ao conceito físico como agressão. Viver é lutar, conflitos são úteis para

provocar mudanças, não sendo necessária a agressão.

Em sua análise sobre violência, Abramovay (2002 p. 69 apud Charlot), de

forma objetiva e subjetiva, mostra ser possível classificar a violência escolar em três

categorias, a saber: física - quando de fato a agressão se consuma, causando

ferimentos ou não; incivilidade – ligada mais à ofensa de forma verbal, com

humilhações e falta de respeito, sendo a mais praticada no cotidiano escolar. Vale

ressaltar que a comunidade tem tornado normal o emprego de determinadas

palavras, consideradas ofensivas, de uso familiar, bairrista e de uso restrito. Muito

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comum, como vai tomar no c.; simbólico – ou institucional, sendo os motivos que

dificultam as mudanças estruturais nas escolas, como tempo demasiado para a

formação educacional do aluno, grade curricular nem sempre flexível, falta de

interatividade entre os conteúdos ministrados na escola com a vida empírica e, por

extensão, a não assimilação imediata do resultado escolar com o setor produtivo.

Debarbieux, contra-argumentando as idéias de Charlot, aponta a dinâmica

existente na sociedade, sendo necessário relevar os direitos conquistados, não

enaltecer, porém, sem atenção, as atitudes às vezes não pretensiosas “foi mal”,

pratiquei sem pensar, foi por impulso; também pela quebra de acordos sociais, nem

sempre possíveis de ser mantidos por longo tempo ou discutidos democraticamente,

já que se conquista no dia a dia a construção de novos valores. Ainda segundo esse

autor, o sentimento de insegurança se dá pela união do uso da violência física mais

as incivilidades praticadas. (ABRAMOVAY 2002 pp. 69, 70 apud DEBARBIEUX

1998).

Dos diversos motivos que levam à agressividade, o que mais chama a

atenção é o bullying, caracterizado pelo “abuso físico ou psicológico contra alguém

que não é capaz de se defender”; Abramovay (2002 p. 71 apud Nanc Day 1996 pp.

44, 45). São poucos os alunos que têm a “segurança” de se manifestar contra uma

imposição, mesmo entre eles. Quando a autoridade é exercida pelo professor,

também depende da situação, se eles sentem que não há fundamento ou firmeza na

atitude do professor, ou o que ele está pedindo não condiz com a realidade da aula

ou conteúdo, alguns se rebelam, a maioria acata como uma espécie de contágio, “o

afoito enfrentou, não deu problema, vamos nessa”. Autoridade sem procedência só

gera fragilidade e desrespeito aos limites negociados anteriormente. Os que não

enfrentam são apáticos, não participam, demonstram desânimo. O não participar é

nítido principalmente quanto às respostas verbais solicitadas pelo professor. No

geral cumprem aquilo que é imposto nas aulas, geralmente cópias, pelo crédito que

tem atribuído a notas.

O bullying tem origem em quatro dimensões: atitude negativa por parte dos

responsáveis pela criança; a permissividade dos gestos agressivos na formação da

criança; o uso do poder agressivo por parte do pai na contenção forçada nos gestos

das crianças e a arrogância como característica natural da criança ou do

adolescente. (ABRAMOVAY 2002 p. 71 apud NANC DAY 1996 p. 44, 45).

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1.1 Fatores internos e externos passíveis de originar a violência escolar

Mencionando trabalhos publicados no exterior e no Brasil, Miriam Abramovay

destaca alguns elementos externos, denominados por ela de exógenos, que podem

vir a alterar a harmonia escolar, tanto pela parte de quem sofre as consequências

quanto pelo perfil e a prática de quem ofende. Ao todo são seis menções diferentes

e distintas. Na escola em estudo, não são todas que se evidenciam no cotidiano.

A masculinidade e o sexismo. Demonstrada por Abramovay (2002 p. 76 apud

Artz, 1998; Peignard et al.; 1998). A referência também a fatos em que o agressor,

teoricamente, não deveria, sem argumento ético algum, corresponder a situações

que levem ao uso da autoridade ou outros dotes, são os casos em que a autoridade

docente utiliza o “assédio sexual, abusos sexuais e psicológicos, em que os

professores tomariam o lugar de agressores” (ABRAMOVAY 2002 p. 76 apud

PAYET 1997; DEBARBIEUX, 1996; BREINES ET AL., 2000).

Várias são as situações em que os jovens do sexo masculino aparentam,

pelos gestos, certa “redução” no exercício da masculinidade, brincam, sentam no

colo das meninas. Até determinados jogos de sedução, próprios das meninas, são

praticados por eles. No diálogo corrente aparentam sim para a menina “gostosa”, se

“produzem” bem mais, estão preocupados com a aparência. Há garotos que fogem

das meninas, a relação de valores se inverteu, são elas as mais afoitas e provocam

os meninos atualmente.

É bem alta a porcentagem de meninas e meninos mulatos, e poucos negros,

uma das características étnicas do Norte do Paraná, pelo fato histórico de ocupação

e formação dessa região. A Escola Estadual Antonio Iglesias não poderia estar

excluída dessa situação. É raro, no cotidiano escolar, utilizar uma palavra ou um

gesto de conotação racista. As brincadeiras infelizmente ocorrem, mas os alunos

não levam as provocações a consequências maiores, pelo menos dentro da escola.

Família violenta é apontada como mais uma das causas que interferem na

explosão de violência na escola e, com seu baixo rendimento, segundo Abramovay

(2002 p. 76 apud Zinnecker, 1988), não há traços claros da influência familiar

violenta interferindo atualmente na escola. Tanto os agressores quanto as vítimas

raramente falam por iniciativa própria.

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Há mais de dois anos, tivemos um enfrentamento direto por um menor que

pertencia ou queria pertencer a uma gangue. Foram uns períodos de muita

instabilidade, muitos traumas criados, posicionamento da direção e da equipe

pedagógica colocado à prova. O resultado: o menino terminou transferido, retido,

excluído da educação. Outro dia foi visto aparentando estar regenerado.

Infelizmente é fato confirmado que consideramos maior o grau de violência de

uma escola, se ela for de periferia. Entretanto, isso não deve ser visto como uma

regra, pois, conforme Abramovay (2002 p. 76 apud Debarbieux 1996 p. 75), na

França um levantamento desmitificou tal conceito, porque, embora a periferia seja

violenta, as “políticas internas podem ser eficientes no sentido de preservar a

comunidade escolar”.

Alguns fatores endógenos são apontados por autores internacionais e

condizem com a nossa realidade. Abramovay (2002 p. 77 apud Doptner et al., 1996;

Fuch et al., 1996 apud Funk, 2001) relaciona a idade/série em casos de alunos que

se mantêm na escola por repetências sucessivas. Uma medida já tomada pelo

governo estadual foi a correção de fluxo, que procurava equiparar o nível

educacional oferecido pela escola à idade do aluno. Esse plano, pelo que consta,

pode, ainda, através de planejamento e projeto, ser utilizado, pouco adotado

atualmente. Crianças fora da idade/série estão frequentando as aulas matutinas, o

mais comum é não concluírem o curso fundamental. Completando a idade

necessária, recorrem ao curso supletivo.

Toda instituição pública, para ser democrática, há de se pautar em regras

para homogeneizar os direitos a serem trabalhados. Na educação, no conjunto de

regras procuram-se respeitar os direitos constituídos pelo código penal atribuído aos

jovens, constando também do regime interno unificador de oportunidades. Prever

todos os desvios de comportamento nem sempre é possível, de maneia que as

regras podem ser muito rigorosas ou permissivas. Essa situação Abramovay (2002

p. 77 apud Carvel, 2000, in: Hayden; Blaya, 2001; Ramognino et al., 1997) considera

como uma das condições que favorecem a formação da agressividade ou a violência

nas escolas.

Considerar as regras como geradoras de indisciplina na escola Estadual

Antonio Iglesias não é pertinente. É claro que o jovem, quando chamado à atenção

pelo não cumprimento da regra, se rebela, demonstra repúdio e contestação, não

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assumindo o erro mesmo de forma parcial. A oportunidade de atendimento é dada

aos alunos, primeiro são advertidos pelo professor, encaminhados em casos mais

graves à supervisão, sendo orientado verbalmente.

No dia a dia, na disputa entre esclarecer e oportunizar conteúdos, em

cinquenta minutos, voltar à calma, preencher o livro de chamada e demais registros,

os professores, também com diferentes modos de ver e assimilar as incivilidades,

passam despercebidos ou não se importam com os fatos. Hoje muitas palavras de

baixo calão, estão também incorporadas ao cotidiano, o que diferencia é estarem

acompanhadas de gestos e na intenção psicológica momentânea. Há professor que,

sem alarde, reverte o palavrão por um simbolismo de menor agressividade: “xoxota”

por “popota”, “caralho” por baralho. Vai da prática e carisma de cada um.

Argumentar sobre a má qualidade do ensino, como condicionante a uma das

condições de origem da violência enunciada por Abramovay (2002 p. 77 apud Blaya

2001) exige um estudo à parte, por ser de variáveis muito complexas. Na produção

ou incitação à violência ou agressividade, ela ocorre provavelmente quando um

professor, certamente, indagado pelos alunos ou equipe pedagógica, cobra uma

mudança de postura, o mais elevado dos gestos que ocorrem seria classificado

entre as incivilidades, pois gera constrangimento, sendo necessário ser comedido

pelo agente da palavra. Os alunos preferem comentar com outros professores sobre

o rendimento de outro professor, evitam o enfrentamento crítico direto, o que não

impede a algazarra no momento da falta de domínio do professor. A orientação,

quando feita em público, é nos momentos de reunião ou intervalo das aulas, raros os

caso, daí a ética ser abalada. Falta ou não é percebida a discrição, quando o

professor poderia ser advertido separadamente.

Uma reclamação pertinente que sempre vai existir é pela falta de recursos

humanos; atrelada ao porte da escola, regra institucional de difícil quebra de

argumento, falta atendimento extraclasse principalmente para ouvir e atender os

anseios cotidianos causadores de conflitos e atenção que são massificados no

momento da aula, assimilado pelo aluno à sua maneira. A indicação desse

referencial por Abramovay (2002 p. 77 apud Blaya 2001) contribui para enaltecer um

dos problemas estruturais que exige maior análise, crítica e principalmente a real

atenção, mesmo que de cargos efetivos sobressalentes atendesse de forma geral o

município segundo a quantidade universal proporcional de alunos/funcionários

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especializados em áreas a fim do maior atendimento aos conflitos que fogem a

atribuição da escola.

Miriam Abramovay chama atenção para “a segregação escolar no seio dos

estabelecimentos e a distância social e cultural entre professores e os alunos de

meios populares”. Essas observações, segundo a autora, estão camufladas pelo

embate estabelecido em externalizar o problema da violência gerada somente no

ambiente externo da escola, livrando o Estado do papel social, o qual é tido como

tutor responsável, mesmo atribuindo “autonomia parcial” à escola.

1.2 A evolução da violência escolar não foi acompanhada na evolução do

atendimento educacional

Já faz dezenove anos que ministro aulas no Colégio Estadual Antonio

Iglesias. Antes de 1990, não havia notícia ou fatos que comprovassem o uso da

violência como um objetivo de conquista. Abramovay (2002 p. 84) aponta em nível

regional as depredações e pichações, lembrando a falta de pesquisa relacionada ao

assunto. Na escola em análise, geralmente há quebra de bens públicos mais pela

fragilidade do material escolar do que pela intenção. Se utilizar o corretivo à base de

água, adquirido comercialmente, nas carteiras, for considerado pichação, isso

aumentou consideravelmente.

Até o ano de 2001 a escola administrava também as quatro primeiras séries

do ensino fundamental, havia maior troca de experiência, um maior número de

alunos, os casos de violência não correspondiam aos atuais. Havia sim maior

interação entre professor e aluno e destes com a equipe pedagógica, inclusive com

os alunos do ensino noturno. Entre os alunos havia maior cooperação e amizade,

disposição para efetuar atividades extraclasse.

Na década de 1990, no país, depredações e invasões começaram a se

acentuar nas escolas segundo Abramovay (2002 p. 84 apud Guimarães, 1998; Pinto

1992), aumentou a violência “quer sob a forma de ameaças a alunos e professores”

Abramovay (2002 p. 84 apud Aquino, 1986 e 1998). Inicia-se também nessa década

o aumento da insegurança devido à ação expansiva na comercialização e consumo

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das drogas conforme aponta Abramovay (2002 p. 84 apud Guimarães, 1998). Em

cidades pequenas, como a discrição é a característica dessa forma ilegal de

comércio, foi mais discreta nessa década. Até esse período, certamente já havia no

município o consumo e o comércio de drogas, não refletia na clientela do Colégio

Estadual Antonio Iglesias maiores preocupações.

Na primeira década do século XXI, tivemos uma maior evidência do efeito nos

interesses sombrios e inclusive a disputa pelo poder na comercialização de drogas,

levando à morte brutal de vários jovens menores de idade, no município, envolvidos

com a situação. No entorno da escola, deixou a participação de ser discreta e sim

visível, com vários elementos de ambos os sexos, alguns ex-alunos, “plantados” em

frente ao portão à espreita de amigos matriculados que frequentam a escola. Pelo

que consta, nunca houve um embate direto entre membros do corpo escolar e um

desses indivíduos. Indiretamente como já citado, um garoto se manifestou, deixando

o ambiente escolar tumultuado. Não se percebe claramente nos dias atuais que as

crianças tenham apreço pela situação. Pelo contrário, há distinção clara entre os

grupos, o elo de integração, porém, é discreto, imperceptível ou camuflado dentro

das intenções.

Foi neste início de século que um aluno matou a tiros. Segundo ele, por medo

pela pressão psicológica de um homem adulto, que lhe impunha a condição de ser

agenciador ou vendedor de drogas. O fato ficou no rol da promotoria, e o aluno foi

transferido por opção da família a outro município.

Agressão física de professores contra alunos é difícil de ocorrer no Colégio

Estadual Antonio Iglesias. Os professores procuram evitar e se empenham para isso

não ocorra. As estatísticas são confirmadas por Abramovay (2002 p. 85 apud,

Batista e El-moor 1999 p. 150) onde o mais freqüente no uso da violência é o

“vandalismo, seguidos da agressão entre alunos e por último os agressões dirigidas

aos professores”.

Na escola, em número elevado são os alunos, seguidos por professores e

funcionários. Os embates conflituosos só podem ser maiores nesses dois grupos ou

entre os próprios alunos. Quanto às manifestações da personalidade do professor e

aluno, será uma vez exposta, no contato imediato ao início das aulas e no

desenvolvimento do ano letivo. Os componentes que formam as turmas são

estipulados sem critérios específicos ou rigorosos, há intenção de separar alunos

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com potencial gerador de conflitos entre si, respeitando às vezes também a idade

dos alunos. O resultado são turmas ecléticas, mistas principalmente quando o

número da mesma série é maior. Há professores que prefere os alunos mais

exaltados aos passivos ou apáticos. O inverso também se verifica.

Por mais perverso que seja um aluno, pela dinâmica educacional e

principalmente assistência deficitária atribuída a esse cliente, o termo “demonização”

jamais deve ser utilizado segundo Abramovay (2002 p. 86 apud Girbeux 2000) e sim

“violência contra a educação” (ABRAMOVAY 2002 p. 86).

Atualmente, na educação escolar é esporádica a participação do aluno em um

debate. Por respeito ou receio de errar omite suas dúvidas. Contrariar a opinião de

quem está teoricamente preparado para exercer a fala é ainda mais difícil. No

contexto escolar o respeito à autoridade do professor é construído de um passado

em aprendizado na troca de experiências, exercício da participação de ambos os

professores e alunos, além do domínio de conteúdo pelo professor.

Quando o poder do professor ou demais funcionários é questionado ou posto

à prova, segundo Abramovay (2002 p. 86 Apud Barreto) “no sistema educacional a

contestação à autoridade, estudada por Hannah Arendt, tem como consequência a

sua ineficácia e a rejeição da razão”. É evitado a todo custo pela equipe pedagógica

e direção o desacato aos profissionais da escola, no cotidiano escolar de forma ética

não interferirem diante dos alunos, chamando o funcionário em um lugar reservado

dialogando o que for necessário, ainda sim, interromperem a aula sem propósitos

efetivos constantemente tiram a atenção necessária, resolvido essa situação ao

longo das reuniões.

Durante o período letivo, o professor tem de saber dominar a dinâmica da

aula, permitindo participações de alunos dentro do conteúdo proposto. Se o assunto

levar a alguma condição extraplanejada ou não esperada, terá o professor de

atender o possível dentro da improvisação completando o raciocínio em outro

momento oportuno. Se a situação for perniciosamente provocada com intuito de

gerar polêmica e, com isso, “passar o tempo” “ganhar a aula”, cabe ao professor ter

esperteza de se esquivar, retomando o ritmo da aula interrompida. Se de tudo o

controle for difícil e se sentir despreparado, cabe pedir ajuda à equipe pedagógica.

De todas as circunstâncias acima enumeradas, o aprendizado será reduzido,

embora ele ocorra, com outras intenções, a perda conceitual se faz notar,

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infelizmente por parte dos educandos, que possivelmente não verão mais o assunto.

Não é comum, portanto, no ato de uma calorosa discussão, haver pedidos de

desculpa por ambas as partes, uma prática relegada a outro momento quando

ocorre, sendo necessário estimular essa atitude de humildade.

Hoje se fala muito sobre o analfabetismo funcional, chega a ser escandalosa

a porcentagem de cidadãos com dificuldade na interpretação de signos textuais e ou

simbólicos. Luiz Migliossi, doutor especializado em semiótica, nos transmite técnicas

de como interpretar texto utilizando certa metodologia. O ideal, quando de um texto

temático, seria apresentar um outro introdutório, figurativo, carregado de símbolos

de fácil visualização pela mente ao serem lidos. Essa é uma situação que atende a

dinâmica feita por Abramovay (2002 p. 88 apud Santos 1999), em que os

professores não atendem pela linguagem o cotidiano lúdico das crianças.

Essa atividade fica rotineiramente atribuída aos livros didáticos, com fotos ou textos

produzidos segundo a visão do autor. Preparar a aula produzindo um texto simbólico

paralelo requer no mínimo muita capacidade e disposição de horário. Seria mais

prático se houvesse uma troca de conhecimento entre colegas, embora isso

funcione até certo ponto.

Também é fato que, para haver a assimilação de um determinado assunto, na

produção do texto pelo aluno, é necessário que haja momentos de concentração.

Abramovay (2002 p. 88 apud Santos 1999 p. 157) apresenta as regras impostas nas

escolas, de fato elas não precisam ser exageradas, uma vez que ”a violência que as

crianças e os adolescentes exercem é, antes de tudo, a que o seu meio exerce

sobre eles” Abramovay (2002 p. 88 apud Santos 1999 p 157). Se a fonte da

violência escolar, quem dera, fosse pela reação a um conflito, formada pela

discussão gerada na interpretação, seria o paraíso dar aula onde a paz reinaria,

mudando inclusive o nome, progresso, por exemplo. Na prática, porém, infelizmente

o conjunto de professores, pela heterogeneidade, não pratica em comunhão os

mesmos objetivos, propiciando aos alunos diferentes formas de conceber a

interpretação que não é una nessa situação, ficando a criança sem rumo, ou se tal

professor pensa assim, é devido à disciplina específica dele, devo pensar igual a

ele? Daí as mudanças de série e de professores gerarem conflitos, aqui entendidos

como manifestação da violência.

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Gandhi, na Índia, em protesto contra o monopólio do sal, conseguiu mobilizar

a população, que sofreu violência física, como forma de coerção, uma cajadada no

ombro ou na cabeça, bem dada, a fila se revezava dos dois lados. Na escola, a

superação de conflitos poderia ser feita dessa forma, a ponto de comover a opinião

mundial? É claro que não, os objetivos são completamente diferentes, para que

serve a escola, se não for para dirimir conflitos e até a violência? Trata-se um meio

formado para a troca de informações, catalisador de ânimos, opiniões e objetivos

múltiplos. Por trás de cada atitude está um ser vivo. Os alunos se renovam ano a

ano, já os professores e funcionários até se revezam nesta ou naquela escola, mas

são eles que enfrentam as velhas, as novas e futuras formas de violência. “É

importante argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural,

as escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina”

Abramovay (2002 p. 88 apud Guimarães, 1996 p. 7). Como ser humano, o professor

e os demais profissionais que lidam com pessoas diariamente tem certo asco ao

tratar de seu semelhante, principalmente quando o início de uma comunicação entra

de forma errada, sem consideração ou mínimo de civilidade. E a ênfase são dados

mais à escola por ser formadora de cidadãos teoricamente cultos. Quanto à

indisciplina, se tirarmos a algazarra promovida pela juventude ameniza bastante,

será esse o real problema? Faltam professores e funcionários? Ocorre falta de

material permanente, didático e humano? Existem má-fé ou má vontade, despreparo

de alguns? Esses e outros problemas ocorrem em outro lugar mais sereno com

burocracia a ser cumprida?

Perante tamanhas angústias e um horizonte a desvendar e construir, cabe

promover o diálogo, proposto por Marques (Edi Carlos 2009 p. 21), a prevenção sim

da violência, negociada sempre internamente, dada a evolução do que é

socialmente aceito no contexto escolar e familiar. Para isso, é necessário capacitar

os professores, oferecer condições dignas de existência como ser interlocutor na

formação de cidadãos responsáveis e compreensíveis. Abramovay (2002 p 90 apud

Santos, 1999).

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2.0 A Organização do espaço retrata o descaso com a natureza, reforçando

atos de violência e perda de sentimentos.

No espaço que compreende um município, é possível verificar a manifestação

da violência em seus aparelhos ou objetos. Fechando o foco de visão sob os

elementos naturais em especial as árvores percebemos os motivos que levam ao

seu detrimento: Erros na escolha, e sementes enormes, árvores que perdem as

folhas geralmente no inverno, raízes protuberantes em demasia, adequar a

necessidade dos fios às redes de energia nas árvores causando deformação

estética, estrutural e funcional; os comerciantes em expor a fachada de seu

comércio, a ação de vândalos e o uso inadequado, moda, novas edificações

particulares e de bairros novos, podas inadequadas entre outros faz ocorrer todos os

dias a derrubada de árvores, às vezes são removidas árvores sadias. Está em torno

de 8% a 10% o déficit urbano de árvores públicas . Os cortes parecem ressaltar que

o aumento no déficit é mais evidente que o superavit no plantio,

A ação humana no plantio de árvores coopera e muito com o ambiente,

campanhas a parte. Regar, podar corretamente, adubar, vigiar e repor são atitudes

diárias de muita persistência. Quanto a importância das árvores, percebe-se a falta

de realce ao seu papel na fixação do gás carbônico, no equilíbrio do microclima e

elemento suporte para o ecossistema. Falta frisar de modo persistente, lúdico, fiscal,

empresarial e cultural uma nova visão de preservação e reposição com ações

efetivas locais, num sinergismo contagiante capaz de ir além dessa problemática,

enobrecendo o meio como um todo.

Constata-se pelo convívio escolar entre as crianças e adolescentes um

distanciamento acentuado dos jovens quanto aos elementos formadores da

natureza; há repugnância na manipulação de terra, se sujar é pejorativo. Contato

esquivado com relutância, medo exagerado de insetos ou minhocas,

desconhecimento de funções de determinados vegetais e a proliferação deles entre

outras. Faz-se necessário aproximar as futuras gerações ao contato, valoração,

manipulação e assimilação dos elementos naturais que nos rodeiam. Convencer as

mães a oportunizar a aproximação com situações de aprendizado relativos ao

ecossistema de forma afetiva valorizando as formas de vida.

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Propiciar a aceleração da quebra de dormência com a participação manual,

pesquisa e teórica das crianças é possível de ser realizada a título de experiência e

aproximação das escolas, da comunidade, de ongs, instituições publicas e privadas

levando ao conhecimento adquirindo respeito à vida, por associação a qualquer

parte e localização.

Várias são as situações de sementes que tem a dormência, “recurso pelo qual

a natureza distribui a germinação no tempo” Carvalho (Paulo E.R. 2003 p. 42), com

prazos longos ao nosso ver. Como exemplo a semente da árvore olho de cabra,

Ormosia arborea, que leva até dois anos para germinar de forma natural, entre

outras de menor ciclo, com condições próprias de exigência passar pelo intestino de

aves, sofrer reações fisico-químicas, ser removida o arilo tudo isso para germinar.

O município, no meio urbano há um banco genético variado, disponibilizando

sementes o ano todo, dentro das estações climáticas cada uma com sua

particularidade, fáceis de serem coletadas, precisa só despertar da motivação para a

realização que elas, as sementes aparecem. No ambiente rural prevalece as árvores

nativas, nos morros e próximas aos rios, mais difícil de conseguir sementes, por

estarem em blocos, juntas uma das outras, produzem menos, em meio às florestas,

se misturam ao húmus (serrapilha) reduzindo a coleta artesanal.

O espaço é animado pelas realizações do homem ao longo de seu tempo

político e social, seguindo regras do sistema econômico capitalista que por séculos

orienta a produção desse espaço, agora mundial. Está na hora de pensarmos em

redirecionar esse sistema para a proteção do ambiente para não tornar uma

paisagem onde Milton Santos a define como: “é o inanimado, sem vida, sem a

presença do homem, como a fotografia imóvel”. Santos (2006 p. 103) Cabe a nós

partilharmos da produção do espaço que é a construção, re-construção, produção e

realização da vida com mais harmonia.

Com objetivo de verificar e ao mesmo tempo propiciar através da observação

e prática conduzi duas turmas de sexta e sétima séries do Colégio Estadual Antonio

Iglesias no segundo semestre de 2010 a colher, preparar, semear e cuidar de

sementes para compreender a evolução e desenvolvimento da vida correlacionando

a sua própria existência.

No ambiente escolar público de Ensino Fundamental, geralmente é limitada

às ações que possam manipular as formas de vida, principalmente as animais que

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seriam mais receptivos ao contato humano causando reciprocidade entre eles e as

crianças. As questões de saúde, assepsia e condicionamento limitam muito a

experiência, essas e outras condições levaram a produção de plântulas, onde os

alunos poderiam observar situações como a existência de dormência em sementes,

a quebra delas por ações naturais e humanas. A dispersão nas suas diferentes

formas e a coevolução entre o reino animal e vegetal. Diante de tamanha dificuldade

vegetal para se reproduzir e perpetuar, aparente para o ser humano, a intenção final

era associar o modo de vida que levamos, retratando nos gestos e práticas de

violência entre nós e o ambiente resultando num desrespeito a vida.

2.1 Situações para melhorar e realizar as mudanças necessárias (em se

tratando do prédio).

No primeiro semestre do ano de 2010 o Colégio Estadual Antonio Iglesias viu

ser realizada à construção de uma quadra com cobertura. Até o inicio do terceiro

bimestre escolar ainda tinha restos de entulhos provenientes dessa construção

somados a restos de cadeiras e carteiras e outros materiais. Certos cômodos e das

paredes da escola já estão na hora de receber novos reparos, a aparência geral do

estabelecimento não transmite alegria.

Os últimos temporais têm dado grandes prejuízos a esse estabelecimento

derrubou árvores, danificou telhas, molhou vários aparelhos elétricos e até

documentos. O espaço próximo à quadra precisa de complementos para deixá-la

mais propicia e atrativa. Restaram tocos de árvores no estacionamento da escola

lembrando a situação que passou, por descuido ou ignorância foi extirpada uma

obra de arte em madeira natural, transformada em lenha, agora aguardando

reparos.

Sinal aparente de descaso ou despreocupação com a forma de vida vegetal,

duas mudas de árvores já constituídas e próprias ao plantio foram largadas até a

morte, sem a devida atenção, em um dos cantos da escola, um dos motivos pelos

quais estamos elaborando esse projeto.

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Quanto à violência pessoal, esse assunto será abordado assim que iniciar o

projeto a partir do terceiro bimestre, junto com os alunos e demais interessados.

2.2 Mnemônica: início indireto das atividades

Trabalhar com o reino vegetal e suas implicações comparando-o com a vida

do ser humano é uma tarefa árdua, porém possível. Para facilitar a compreensão,

utilizamos a mnemônica, fixando placas com nomes tais como: semente,

coevolução, dormência, tegumento, radícula, germinação, angiosperma, anemocoria

e plântula.

Foto 1 - Mnemônica

Fonte-: O autor, 2011

Outra situação que forçou a antecipação do projeto foi o ciclo de produção de

sementes e desenvolvimento das mudas, daí a coleta de sementes com os alunos

ser antecipada.

Como o objetivo era apenas demonstrar, não foi seguido um rigor científico

quanto ao processo germinativo, semelhante aos praticados com toda a estrutura

laboratorial ou universitária. Fizemos, todavia, com conhecimento prévio,

principalmente sobre a quebra de dormência e dispersão.

Com a intenção de aproveitar frutos de poncã, uma enorme quantidade de

sementes foi dispersa por alunos da sétima série com o professor de Educação

Física às margens de uma estrada rural, nas proximidades da escola. Estavam os

alunos começando a praticar o trabalho que seria implantado.

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Retornando às atividades escolares, no início do terceiro bimestre, apresentei

o material didático produzido durante o curso do PDE e avaliado pelos cursistas do

GTR, como forma introdutória à intervenção pedagógica a ser praticada. Alguns

alunos perguntaram sobre as palavras que foram fixadas previamente no espaço da

escola, pediram seu significado e motivos do trabalho, sinal de que deu certo criar a

expectativa nos alunos. Houve maior compreensão e participação dos alunos da

sétima série, porém os de sexta série ficaram mais dispersivos e desatentos.

As práticas a seguir foram avaliadas segundo o comportamento dos alunos.

Por se tratar de situações espontâneas, procurou-se observar a manifestação oral e

gestual que levasse a situações de violência, daí relatar conforme as diferentes

inserções no tempo e no espaço. Como as atividades práticas foram todas

realizadas no período vespertino, sem atribuição de notas, foram poucos os alunos

que de fato se empenharam.

2.3 Construção do sementário

Com o auxílio de cinco alunos, construímos o sementário. Aproveitando latas

vazias de dezoito litros, recolhemos areia, que já havia na escola, para ser o berço

futuro das sementes que seriam colhidas de forma aleatória. A areia, como solo

base, propicia a remoção da plântula através de jato d’água, deixando a raiz nua

para ser transplantada em sacos plásticos quando atingir porte adequado e bom

enraizamento. É necessário que fique elevado, para evitar transtornos com animais

e ações de pessoas desavisadas.

Foto 2 – Sementário Fonte: O autor, 2011

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Na ocasião, aproveitou-se para realizar quatro outras atividades de

manutenção, na intenção de melhorar o ambiente escolar. Todo o trabalho,

exaustivo no final, foi realizado por meninos, com demonstração de alegria, em

nenhum momento houve palavrões ou outra brincadeira de mau gosto.

2.4 Diospyros inconstans

Com alunos de sétima série, fizemos o mais longo percurso. Fomos colher

frutos de Diospyros inconstans, marmelinho ou fruta-de-jacu-macho, como é

popularmente conhecido. Foi a única semente colhida com conhecimento de sua

produção, deu-se prioridade devido às dificuldades de conseguir as sementes e os

poucos exemplares existentes. O agente dispersor que dá o trato digestivo são as

aves de porte médio, como o jacu e a aracuã. Para o sementário, bastou remover

mecanicamente o arilo que envolve as sementes. De três centenas

aproximadamente colhidas, após seis meses de repouso na areia, temos apenas

uma dezena delas na forma de plântula.

Os alunos, como sempre em grupo, fazem um alarido considerável,

conversam alto, gritam uns com os outros, são condoídos por poucas coisas

aparentemente simples como: mau cheiro, necessidade de vômito, e são

supersensíveis: medo de aranha, picada de mosquitos, dores de cabeça e até

desmaio. Não levaram quantidade de água necessária.

Foram pontuais, amigos, lentos na forma de caminhar, deram trabalho ao

passar pelo espaço urbano, mexeram com pessoas mais velhas sem pensar em

possíveis consequências. Quanto à atividade principal, foram dispersivos. Eles têm

as tardes lotadas de compromisso, o que inclusive limitou a participação de outros.

Ao longo do trajeto, houve local e momento adequados para a prática de uma

atividade de descontração ou “desestresse”, quando foi proposto lançar pedras

contra um paredão de rocha e ao mesmo tempo proferir palavrões, sem mencionar

nomes em particular. As crianças gostaram e demonstraram estar aliviadas.

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2.5 Euterpe edulis: o caminho das chácaras

Na incursão feita com uma das turmas de sexta série, de imediato

perceberam-se as brincadeiras em que gestos não agradáveis são utilizados. Há

consumo de salgadinho, mesmo após o almoço parecem continuar com fome, ou

falta de boa escolha. Gostam de brincar com animais, principalmente cachorro se for

filhote.

Na primeira forma de semente encontrada, observou-se o interesse dos

homens quanto à proliferação da Mrraya spp, ou falsa murta. Por ser parente dos

cítricos, transmite doenças às demais frutas comerciáveis, melhor não

reproduzirmos o que está sendo erradicado. No fruto desse arbusto, portanto, é

possível observar a atração que exerce para os dispersores a cor vermelha do fruto

maduro e o detalhe da remoção simples da casca, que facilita a germinação,

inclusive quando varrido sob o pé da árvore-mãe. Ao longo do caminho, foram

encontradas de imediato duas outras árvores, exóticas, de modo que o conceito de

bioma e necessidade de preservação das árvores silvestre limitou nossa coleta de

sementes dessas árvores. Não bastasse, foi encontrado um Achatina fulica Bowdich,

caramujo também exótico ao nosso bioma, inclusive já sem controle e predador

natural em nosso meio.

No percurso encontrou-se Morus nigra, amora e Eriobotrya japonica, ameixa e

araticum. Detalhe: as crianças ainda se servem dessas frutas, embora não sejam

todas. Triste é ver a fruta poncã, colhida em uma chácara, ser arremessada contra

as costas de uma das alunas, presença da violência nas brincadeiras de mau gosto.

Como opção de coleta para o sementário dessa turma, foram encontradas

sementes maturas de Euterpe edulis, palmito jussara, de maneira que foi necessária

a disposição de alunos para a coleta, tarefa feita com muito custo após implorar

bastante a participação. Os meninos demonstram menos apreço à realização do

trabalho de coleta e transporte. De volta à cidade, aproveitou-se a aspereza de uma

calçada e escarificou-se uma porção de sementes com os pés (a casca da semente

desta palmeira) para acelerar a germinação e quebrar a dormência. A outra porção

sem remoção da casca ficou para verificar (como testemunha) o processo natural de

germinação.

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Durante o percurso, algumas crianças fizeram de tudo para chamar a

atenção, poucos participaram efetivamente, no entanto, não foi proferida nenhuma

ofensa verbal. Aconteceu de exigirem a contribuição para ajudar a atravessar a BR

um senhor já bastante idoso, com dificuldade na decisão.

2.6 Adenanthera pavonina: Carolina

É incrível com uma equipe exclusiva de meninas, conseguiu-se fazer um dos

trabalhos mais difíceis: remover um pé, já bem formado, de Syagrus

romanzoffianum, coquinho jerivá, que seria extirpado por estar próximo demais a um

muro. Foi transportado com carrinho de mão aproximadamente mil metros até

chegar à escola, onde foi instalado para formar com outras plantas um dos jardins.

De todo o processo, como é normal, nem todas elas participaram, segundo o

julgamento das mais ativas é por não quererem “pagar mico”, passar vergonha pela

forma que estava sendo feita a remoção e o transporte. Cuidam dos outros que não

estão dispostos a contribuir. Alegria, participação, brincadeiras intercaladas de

atividades com responsabilidade juvenil prevaleceram entre a maioria.

Manipularam ferramentas e o trato com a terra, depararam com o barro, sinal

de nojento, ficaram apreensivos com a presença da cobra-cega na terra removida,

concordando em deixá-la em paz. Foi com essa turma que se aproveitou a

oportunidade e se colheram sementes da Adenanthera pavonina conhecida como

Carolina, na calçada próxima às instalações do hospital, onde removemos o jerivá.

Com essa semente da safra de 2010 seria possível comparar a perda de viabilidade,

comparando-a com sementes da safra de 2009.

Na escola, várias carteiras e cadeiras depredadas ao longo do tempo, agora

sem uso, estão empilhadas no pátio à espera de descarte, como evitar que isso

ocorra? Inclusive é muito material para encontrar um reúso. Algumas mudanças por

parte da direção estão sendo realizadas para contribuir com o conforto dos alunos,

principalmente no intervalo das aulas.

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2.7 Pterogyne nitens Tuf: Amendoim

Pela última vez, foi-se fazer coleta, com alunos de sétima série. Saiu-se ao

espaço rural bem próximo à escola, para cumprir o objetivo de encontrar sementes

de árvores nativas da região. De imediato, percebeu-se o preparo de terreno para

acomodar uma indústria na periferia da cidade. Atravessaram-se várias cercas de

arame farpado ao longo do trajeto, há muito pasto na região, devido à presença de

montanhas. Com o objetivo de verificar a dispersão de sementes, colheu-se um

pacote de estrume, tomou-se cuidado especial na coleta e observação, havia sinal

de semente de Coix lacryma-jobi L. contas, esse material foi colocado em um balde

plástico para o transporte.

Passou-se por uma mata secundária, com forte declive, muitos cipós e

espinhos, presença de muitos pés de goiaba, mamica-de-cadela, nenhuma

oportunidade aparente de semente. Um triste fato foi encontrar a carcaça de um boi,

já em estágio bem avançado de decomposição, aparentemente asfixiado pela

ingestão de uma sacolinha, toda retorcida e mascada.

Já em local aberto, colheram-se sementes de Pterogyne nitens Tuf:

Amendoim, semente dispersa pelo vento. Encontramos também a Bauhinia forficata

Link. Conhecida popularmente por Pata-de-vaca: semente dispersa pela ação da

gravidade barocória e explosiva. Foi surpresa ao abrir a sâmara (envelope) que

envolve a semente do amendoim e verificar que elas estavam quase todas corroídas

por larvas. As de pata-de-vaca, em igual situação, inviabilizaram o plantio.

O comportamento dos alunos, ao longo do trajeto, demonstrou muita alegria

pela nova paisagem que lhes foi oportunizada. Compartilharam lanches, levaram

consigo dois frascos de vidro envoltos internamente por lixa, com as sementes de

carolina, safra 2009 e 2010, sendo lixadas pelo movimento frenético das mãos. Sem

se importar que seja material de outra turma, são afetivos uns com ou outros, não se

utilizando, em momento algum, de palavrões, e sim dialogando bastante, se

comprometendo com o objetivo da caminhada, mostrando vaidade ao se produzirem

para entrar na cidade.

O estrume coletado foi colocado em um sementário especial, foi inteiramente

envolvido com substrato, para não contaminar a amostra com outras sementes, com

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a intenção de verificar a dispersão. Desse material germinaram: tiririca do brejo,

limão rosa, contas e amendoim. Estava confirmada a situação de dispersão por

ruminantes, provada a coevolução das espécies para atingirem o objetivo, que é se

distanciar da matriz. Passando inclusive pelo trato digestivo, que muitas vezes

auxilia na quebra de dormência em determinadas sementes.

2.8 Quebra de dormência química da Ormosia arbórea, olho-de-cabra.

Com cinco alunos de cada turma, num total de vinte, observou-se o professor

de Química do Colégio Estadual Olavo Bilac, Renato Monteiro Amorim, realizar a

quebra de dormência química da semente Ormosia arbórea, olho-de-cabra,

utilizando ácido sulfúrico concentrado PA.

Foi um trabalho de amostra, pois havia um número reduzido de sementes,

além do problema ambiental provocado pela utilização do ácido, mesmo tendo sido

neutralizado, também em pequena quantidade.

Essa semente, por natureza, germina seis meses após ter sido semeada. O

objetivo era mostrar aos alunos uma das diferentes formas de quebra de dormência,

feita em laboratório. E a consistência rija, impermeável, de textura lisa, que tem o

tegumento dessa semente, pode ser dada como exemplo de proteção ao embrião e

definição exata quanto ao momento adequado de se manifestar na forma de vida

quando inicia a germinação no tempo determinado pela sua evolução.

No sementário foi deixada uma amostra testemunha sem a devida quebra de

dormência, para acompanhar a evolução da experiência. De fato, as que foram

subordinadas ao ácido germinaram em curto espaço de tempo; as demais ainda

estão por germinar. Demonstrou-se a interferência do homem sobre a natureza a um

grupo que soube se comportar, embora todos estivessem apreensivos quanto às

possíveis consequências da reação química, ocorreu somente um leve aquecimento

do copo de Bécker devido à reação, e os alunos ficaram surpresos ao ver a fita de

ph mudar de cor à medida que o professor neutralizava o ácido e mensurava a

reação com a fita.

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2.9 Desenvolvimento desigual

Em uma das incursões para angariar mudas de cica, alguns alunos de sétima

série participaram. O fato tornou-se curioso pela demonstração de um dos jovens

desejar os músculos ressaltados e enrijecidos, para enaltecer a masculinidade.

Já uma das meninas, o tempo todo, com uma bexiga inflada, embaixo da

blusa, demonstrava a gravidez, ou o desejo dela, embora ainda em tenra idade, fato

que chamou muito a atenção. Um dos meninos deixou claro que gostaria de morar

no espaço rural, acredita ser mais atrativo e menos tedioso que a cidade. Mesmo

com as situações que caracterizam a produção do espaço rural, acredita ter mais

vida e possibilidades de passar o dia, mesmo que trabalhando.

Foto 3 – Desenvolvimento desigual

Fonte: O autor, 2011

Na ocasião, foi possível comparar o desenvolvimento da cica. A evolução da

semente entre germinar e se desenvolver como arbusto consome vários anos.

Estava-se diante de uma planta, com vários brotos mal conduzidos, à semelhança

de touceira, necessitando de poda e cuidados, os brotos foram removidos e

instalados no pátio da escola.

2.10 Poda simples e de três cortes

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Com alunos de sexta série, fizeram-se podas em algumas árvores e arbustos

da escola. Podas simples em galhos finos, com o uso de alicate; e poda de três

cortes em galhos com diâmetro mais elevado. Em alguns casos, foram retirados

para dar estética à árvore e segurança para o transeunte. Geralmente uma poda mal

conduzida e tardia causa danos irreparáveis, provocando a perda precoce da árvore.

Propiciou-se leitura específica sobre o assunto. Foi difícil prestarem atenção,

mesmo sendo uma aula diferente, parecem não estar atentos. Com os galhos e as

folhas das árvores é possível fazer a compostagem, mas o que é compostagem

mesmo? Faltou a atenção. O salgadinho faz parte do cotidiano.

Foram à prática, todos disputaram a tesoura de poda, sendo necessário fazer

bem próximo ao ramo principal, quanto mais fino for o galho, melhor para a

cicatrização da casca. Já quando o galho estiver “grosso”, primeiro faz-se um corte

abaixo do galho, bem próximo do tronco; logo acima se corta o galho todo com

relativa distância do tronco, e por fim, retira-se o pedaço que restou, deixando bem

rente ao tronco principal. Há trato químico para auxiliar na cicatrização e proteção da

“ferida” provocada. Com as crianças é necessária certa atenção: a serra pode

provocar ferimentos e a queda dos galhos, que geralmente são pesados e altos.

Percebeu-se a necessidade de convocar os demais alunos. Por causa da

rotina, vão adquirindo confiança e deixam de fazer as atividades que são propostas.

Mesmo em pequenos grupos, escolhem uns aos outros na hora de trocar

informações e firmar amizade.

2.11 Pensar nos outros

Pensando em complementar a intenção de demonstrar a produção de mudas

como correlação às formas de vida, visitou-se o horto florestal de Ibiporã, onde o

Instituto Ambiental do Paraná tem um viveiro destinado à produção de mudas

nativas em larga escala, para atender toda a região e demais unidades. Em dois

momentos diferentes, foram alunos de sexta série e sétima. Com participação

espontânea, viu-se primeiro um vídeo que trata da biodiversidade brasileira, com

enfoque no Paraná. Alguns alunos demonstraram conhecimento, interagindo

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verbalmente sobre o conteúdo. Com relação à participação da primeira turma, em

menor quantidade, não foi necessário chamar atenção, foram comportados, inclusive

houve oportunidade de observar a interação de alunos que em sala não participam

da aula. Entusiasmaram-se com o mostruário de sementes em exposição nas mais

variadas formas.

Caminhando pela mata, alguns indagaram sobre as variedades vegetais ali

existentes e as condições da época. Estava muito seco devido ao longo período de

estiagem. Houve momentos de contato com pequenos insetos, sem demonstrarem

medo ou asco. Conseguiram apontar as diferentes formas de dispersão,

principalmente as sementes aladas. No final do inverno há uma dominância dessas

sementes.

Nessa turma, durante as aulas, e possível verificar a ocorrência do bullying,

em duas situações distintas: um menino se incomoda com o nome associado a um

artista homossexual: a ira é tanta que geralmente ocorre agressão física, recebendo

por isso outro apelido. No outro caso, um menino mais articulado, esperto e

malandro, impõe condições de sarro, faz brincadeiras de mau gosto, irrita, provoca o

tempo todos os demais.

Em outro dia, porém com vários alunos de sétima série, foi mais difícil prender

a atenção ao conteúdo proposto pelo vídeo apresentado. Não repararam e deixaram

de fazer comentários sobre o que viram.

Durante a caminhada pelo parque, um aluno demonstrou interesse por um

determinado tipo de semente e sua forma de dispersão. Estão esses alunos de fato

preocupados com o namoro, a sexualidade e suas nuances físicas. Apelidos e

alguns xingamentos são naturais.

Foto 4 - Pensar nos outros.

Fonte: O autor, 2011

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O que há de saudável é que são participativos até os últimos momentos.

Querem estar juntos, demonstram segurança. Ninguém, em momento algum,

reclamou da caminhada longa e, principalmente, foram ativos ao participarem, no

viveiro, do ato de semear em bandeja de tubetes, com substrato, sementes de

árvores nativas, para o futuro propósito de reflorestamento.

2.12 Aureca bambu

As quatro turmas envolvidas ao longo do projeto foram convidadas a

transplantar as plântulas de Aureca bambu para sacos plásticos próprios, que já

estavam no estágio de plântula, premeditadamente semeada pelo professor. Agora

o contato com as tenras plântulas, o solo, minhoca e material orgânico se faz

necessário. Já se aproxima a fase final do trabalho, em maio de 2011, as mães terão

essas mudas para comemorar seu dia.

Sobre o sementário na escola, foi dada oportunidade de compreender o que

ocorreu, todos os alunos tiveram esclarecidas as intenções do projeto. Até então a

enorme quantidade de sementes de Dyapyros inconstans não havia germinado,

inclusive além do prazo teoricamente dado pela literatura. Como o próprio nome

(inconstans) afirma, é uma semente cuja produção elevada ou mesmo regular não

se pode esperar. Ainda é um mistério? Possível comparar com a evolução humana?

Com a semente de Ormosia arbórea, também percebeu-se determinada

situação particular: seu desenvolvimento não está satisfatório se comparado com

plântulas que passaram por quebra de dormência mecânica e embebição. Na vida,

determinadas situações devem ser forçadas a dar certo? Será melhor aguardar a

“maturação” das crianças? Quem está acelerando o processo de formação juvenil e

para quê?

Com o Euterpe edulis, palmito, foi possível verificar uma pequena diferença

ao se remover a casca do fruto, a germinação acelera em torno de sete dias antes.

Já a plântula formada, produzindo a sua própria fotossíntese, demora para se

desenvolver, típico de todas as palmeiras, lentas como deve ser o processo de

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aprendizado e formação intelectual das crianças? Uma enorme porção dessas

mudas já foi encaminhada para o plantio por intermédio de um dos funcionários da

escola, que se predispôs a cuidar segundo seu interesse. Quanto ao restante,

também já foi encontrado outro interessado em contribuir com seu destino.

Com a Adenanthera pavonina, as sementes guardadas de 2009

aparentaram estar mais viáveis, germinaram mais. Poderia o processo ter sido

melhor se, ao invés de quebrar a dormência com ação mecânica, lixamento, tivesse

sido usado a quebra física por diferença de temperatura. E daí, quanto mais velho

melhor? Permanecer sempre na insistência de fato contribui para algo? Afinal, com

qual idade se atinge a maturidade?

O Pterogyne nitens Tuf: amendoim, semente das mais prejudicadas pelo

ataque de insetos, alimento deles, surpreendeu. Foi uma das que mais germinaram;

desenvolveu-se rapidamente e está pronta para o transplante. Será que a vida nos

ensina que temos de sofrer? Compartilhando inclusive de nossas forças, com

perdas, tudo para o bem coletivo com sobras para a perpetuação da espécie?

São muitas coisas que os olhos não veem quando não estamos motivados.

Quanto uma semente se conforta com o feio, nojento e asqueroso para garantir sua

existência, mesmo prosperando sobre a decomposição do estrume! A coevolução

quanto foi dura para determinadas espécies estarem aí dispostas aos nossos olhos,

muitas de rara beleza, outras são fonte de alimento e prosperidade para o humano

que ainda não se compreende como espécie que disputa a existência também

semelhantemente às outras formas de vida. Será esse o motivo natural, do qual não

conseguimos ter consciência por mais racionais que pretendemos ser?

As plântulas, dispostas na frente dos alunos, são de uma fragilidade imensa,

assim como determinadas crianças, ainda ingênuas, serão elas que garantirá a

prosperidade humana, coerente com o meio. Assim como o termo semente é

propalado quando se diz “plantar uma sementinha na cabeça das crianças”, espera-

se cumprir essa metáfora, dando oportunidade de eles refletirem sobre a sua própria

existência, sabendo que são frutos de toda uma coevolução ainda em progresso,

precisando acelerar o conhecimento em busca da paz existencial, o mais rápido

possível.

É uma pena perceber que o bullying já se tornou constante na escola.

Inclusive é necessário cuidar para não se vulgarizar, mudando de práticas e nomes,

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dificultando ainda mais as relações de harmonia. Com relação ao amadurecimento

juvenil precoce, ainda é mais trágico ver alunos se ameaçarem de morte quando há

ocorrência de agressões físicas. Para finalizar, os representantes das drogas agora

estão implantados diuturnamente no portão da escola.

Conclusão

A violência de fato existe e está presente no comportamento humano. Assim

como as espécies vegetais levaram milhões de anos para coevoluir, também os

homens terão de continuar aperfeiçoando seus comportamentos sociais. É possível

e saudável relacionar a formação humana aos vegetais. Tornar acessível às

crianças em aulas práticas ainda é mais consistente, por que elas, correspondem, se

envolvem, trocam experiências e até ofensas. Se a evolução é lenta, cabe a nós,

educadores, aptos que julgamos ser, acelerar esse processo através do diálogo, na

solução de pequenos conflitos e aprender a perdoar as falhas cometidas, de

preferência no mesmo instante.

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