DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...A utilização do cinema como recurso pedagógico nas aulas de...
Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...A utilização do cinema como recurso pedagógico nas aulas de...
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
_____________________________________________________________________
MÁRCIA MATSUE SARUI
LITERATURA E CINEMA
______________________________________________________________________
LONDRINA
2011
LITERATURA E CINEMA
Márcia Matsue Sarui
1
Jaime dos Reis Sant’Anna2
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo refletir sobre o ensino de literatura, no Ensino Médio,
levando em consideração as dificuldades enfrentadas pelos educadores em estimular a leitura
e o gosto pelas obras literárias. Nesse estudo, pretende-se demonstrar como a limitação das
aulas de literatura no Ensino Médio, apenas ao nível da abordagem histórica e a leitura dos
fragmentos das obras literárias clássicas contribui para a desmotivação dos alunos. Para
confrontar esse método de ensino, apresenta-se uma proposta de trabalho da literatura voltada
para a interação do aluno com o texto literário, configurado a partir do Método Recepcional
elaborado por Bordini e Aguiar. O trabalho partiu da leitura e estudo da obra “Inocência” de
Visconde de Taunay em paralelo com a análise da obra cinematográfica intitulada
“Inocência” do diretor Walter Lima Júnior. Pretende-se com esse trabalho repensar as nossas
práticas pedagógicas, vendo na filmografia de obras literárias, um novo método de leitura,
uma vez que, as tecnologias educacionais, e nesse caso, o cinema, que faz com que a leitura
do filme complemente a leitura do livro, contribui para que novas formas de ler e interpretar
sejam adquiridas pelos estudantes.
Palavras-chave: Literatura. Cinema. Leitura.
ABSTRACT
This article aims to reflect on the teaching of literature in high school, considering the
difficulties faced by educators in encouraging reading and the taste for literary works. In this
study, we intend to demonstrate the limitation of the literature classes in high school, only by
the historical approach and the reading of excerpts from classic literary works contribute to
the lack of interests of students. To confront the method of instruction, we present a proposal
for a literature work that aims the student's interaction with the literary text, configured from
the method developed by Recepcional Bordini and Aguiar. The work starts by reading and
studying the book "Innocence" by Viscount Taunay in parallel with the analysis of the film
entitled "Innocence” by the director Walter Lima Junior. It is intended with this work rethink
about our teaching practices, and see in the films of the literary titles, a new method of
reading, since educational technologies, and in this case, the cinema, allows watching the film
to complement the ready of the book and then contribute to new ways of reading and
interpreting acquired by students.
Keywords: Literature. Cinema. Reading.
1 Professora PDE de Língua Portuguesa, com especialização em Língua Portuguesa e literatura pela UNOPAR,
graduada em Letras pela UEL, docente do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco, em Primeiro de Maio,
NRE Londrina. 2 Professor de literatura da UEL desde 2008, mestre e doutor na área de língua portuguesa pela FFCH-USP.
Autor de livros, dentre eles: Literatura e ideologia (2003), O sagrado em José Saramago (2009).
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
É essencial para o ensino de Língua Portuguesa que a escola viabilize a ampliação do
domínio da língua e da linguagem, organizando o ensino de maneira que o aluno desenvolva
conhecimentos discursivos por meio da leitura e da escrita. A leitura de uma obra é
considerada como um processo de aprimoramento do leitor como indivíduo, de sua
capacidade de reflexão do mundo. É somente através do aprimoramento da competência
lingüística e do percurso pelas diferentes esferas de comunicação, que o aluno adquirirá
condições para formular seu próprio discurso e dessa maneira interferir na sociedade da qual
faz parte.
Na Escola Fundamental, a leitura apresenta como foco primordial, a necessidade de
despertar o leitor para o prazer do contato e do ato de ler livros; no Ensino Médio, a obra
literária deve conduzir o leitor nos entremeios de uma cultura, de uma língua. A preocupação
com o hábito da leitura, independentemente do nível escolar em que se encontre o aluno é
constante, considerando- se que o ato de ler restringe- se, na maioria das vezes, aos textos
apresentados no ambiente escolar. A leitura tornou-se algo distante, escassa entre os alunos.
Muitos não encontram “nenhuma utilidade” para o aprendizado de literatura, por isso, para a
maioria dos alunos, é vista apenas como mais uma matéria que apresenta velhos autores e
velhas obras que não fazem parte do seu universo. Dessa forma, dificilmente a aula de
literatura é vista como um espaço onde o aluno questiona, dialoga, enriquece o seu universo
individual. É facilmente perceptível, na escola, que alguns estudantes que anteriormente
costumavam ler em situações de lazer, passaram a ler menos, por motivos comuns: a
desvalorização do seu “gosto”, o uso utilitário do texto, à distância entre os seus interesses
socioculturais e políticos e a leitura valorizada e avalizada pela escola.
Regina Zilberman e Silva (1989), afirmou que é papel do professor formar o leitor
crítico e, que, nessa tarefa, a literatura realiza uma função formadora, visto que a obra que
apresenta qualidade literária permite amplas possibilidades de romper a subserviência da arte
em sua relação com a educação. Ao promover a partir da leitura a identificação do leitor com
o texto, possibilitando um intercâmbio espontâneo e pessoal entre os dois, resultaria ao leitor
uma experiência de liberdade e de autonomia.
As aulas de literatura no Ensino Médio, de modo geral, são ministradas pelos
professores focalizando apenas a historicidade, limitando-se a explicitar fatos da vida do autor
e de sua obra. A análise do texto literário limita-se a pequenos trechos de determinadas obras,
dificultando, dessa forma, ao aluno exercer um papel ativo no processo de leitura, tornando
distante a sua interação com o texto. Por isso, o estudante não consegue estabelecer a relação
com o texto e nem relacioná-lo com outras áreas do conhecimento. Isso explicita, em parte, a
atitude desinteressada e passiva diante da leitura do texto literário.
Nesse estudo, pretende-se demonstrar como a limitação das aulas de literatura no
Ensino Médio, apenas ao nível da abordagem histórica e a leitura de fragmentos de obras
literárias clássicas contribuem para a desmotivação dos alunos e o conseqüente insucesso dos
mesmos no que se refere à leitura tanto de textos literários como de outros textos que circulam
fora do ambiente escolar. Para confrontar esse método de ensino, apresenta-se uma proposta
de trabalho da literatura voltada para a interação do aluno com o texto literário, configurado a
partir do Método Recepcional elaborado por Bordini e Aguiar (1993), e análise dos resultados
de sua aplicação em uma turma do quarto ano do Curso Normal, a partir da leitura e estudo da
obra “Inocência” de Visconde de Taunay em paralelo com a obra cinematográfica intitulada
“Inocência” do diretor Walter Lima Júnior. Nesse trabalho, enfatizou- se como objetivos a
discussão com os alunos sobre a relação da literatura com o espaço em que foi produzido
tanto o romance quanto o filme, com a história social, bem como os fatores de semelhanças e
divergências entre as obras com o intuito de despertar o interesse do estudante em relação à
sociedade em que vive e as problemáticas do mundo. Outro fator importante é a necessidade
de repensar as nossas práticas pedagógicas, vendo na filmografia de obras literárias, um novo
método de leitura, uma vez que, as tecnologias educacionais, e nesse caso, o cinema, que faz
com que a leitura do filme complemente a leitura do livro, contribui para que novas formas de
ler e interpretar sejam adquiridas pelos estudantes.
O Método Recepcional organizado por Bordini e Aguiar é uma proposta de leitura
baseada na teoria da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss. Nesse método são
apresentadas aos alunos leituras de textos que partem dos seus horizontes de expectativas para
gradativamente ampliarem seus horizontes de expectativas por meio de textos literários com
níveis estéticos diferenciados.
A utilização do cinema como recurso pedagógico nas aulas de literatura, justifica-se
diante da necessidade de buscar meios diversificados para auxiliar o ensino da literatura. Os
filmes podem ser vistos como um caminho para despertar o apreço do aluno pela literatura,
pois é evidente a facilidade que o jovem tem com a leitura de imagens. Além disso, a obra
cinematográfica é um instrumento mediador entre o aluno e o texto literário, facilitando e
motivando a aproximação aos textos e permitindo o desenvolvimento da capacidade de
análise crítica dos textos (literários ou fílmicos). A partir da relação entre o texto e o filme é
possível conduzir o aluno de modo a torná-lo capaz de estabelecer comparações em relação à
linguagem utilizada nas narrativas literárias e fílmicas.
Os questionamentos e as atividades realizadas no projeto visam ao aprofundamento
dos conhecimentos dos alunos não apenas referente aos estudos, reflexões e produções
textuais realizadas em sala de aula, mas também à sua formação enquanto cidadão autônomo,
capaz de transformar o ambiente social no qual está inserido.
O presente trabalho propõe uma reflexão centralizada nas relações entre literatura,
cinema e a utilização desse recurso nas aulas de literatura do Ensino Médio. A divisão do
trabalho inicia-se no Capítulo I, relatando sobre a Literatura no Ensino Médio e algumas
considerações sobre o Cinema e a Educação; no Capítulo II, são apresentadas as relações
entre o cinema e a literatura e as teorias que embasam o Ensino de Literatura nas escolas do
Estado do Paraná; no Capítulo III, os resultados obtidos a partir da experiência didática na
escola e as considerações finais.
A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO
No último século, no Brasil, o ensino de literatura apresenta a abordagem histórica da
literatura, ou seja, o estudo da produção literária dos principais escritores e suas obras no
transcorrer do tempo. Segundo Coutinho (1978, p. 10): “O ensino da literatura, consoante esse
critério, passou a reduzir-se ao estudo histórico das literaturas, isto é, ao conhecimento do
meio social, político, histórico e econômico e da vida dos escritores, confundindo assim o fato
histórico com o literário.”
No Ensino Médio, assim como o estudo da língua é algo estanque, meramente
mecânico com exercícios de aplicação de regras gramaticais, sem relação com a prática da
leitura e da escrita, o ensino da literatura limita-se a atividades para traçar panoramas de
tendências e escolas literárias, sem o devido trabalho analítico e interpretativo. E de acordo
com Chiappini (2002, p. 8), o ensino da língua e da literatura se apresenta também de forma
totalmente separada. Dessa forma, o aspecto intrínseco da literatura de formar cidadãos
críticos a partir da leitura politizada da palavra acaba esquecido. É, portanto, atribuição do
professor atrair a atenção do aluno enquanto leitor, abandonando a condição de mero
simulador de leituras.
A leitura que é apresentada no ambiente escolar deve inicialmente enfatizar a relação
do leitor com o texto literário. Segundo Zilberman e Silva (1989, p. 15): “[...] promover a
identificação do leitor com o texto segundo um intercâmbio espontâneo e pessoal entre os
dois redundaria em proporcionar ao primeiro uma experiência de liberdade e autonomia.”
No Ensino Médio, evidencia-se a preocupação com a leitura dos clássicos, mas é
preciso estimular a reflexão sobre outras manifestações que também são literárias, e que não
pertencem ao cânone. E dessa forma, possibilitar ao aluno o contato com outros tipos de
textos que circulam na sociedade.
Entretanto, na maioria das escolas públicas, no Ensino Médio, a sedução provocada
pela literatura, capaz de contribuir significantemente para a formação do leitor proficiente,
esbarra no método utilizado pela escola e que provoca uma influência negativa no estudante.
Na escola, percebemos uma grande desmotivação quando o assunto é leitura de textos,
principalmente quando a escolha é literária. Um fator que justifica tal atitude no estudante é
que os métodos e as práticas de leitura nas aulas de literatura são ultrapassadas e
desmotivadoras provocando o afastamento do leitor do ato de ler. Os professores, na maioria
das vezes, adotam as aulas expositivas, nas quais priorizam o livro didático onde se evidencia
a abordagem meramente cronológica, caracterizando os estilos de época e pequenos trechos
de obras dos autores, sem apresentar a leitura completa dos textos literários.
Esse método de ensino em que se destaca a leitura de fragmentos de determinadas
obras dos cânones literários não possibilita a interação do leitor com o texto, considerando-se
que o método não oferece ao aluno oportunidade para questionar os valores e as ideologias
explícitas ou implícitas nos textos. Isso torna o ensino abstrato e desvinculado da realidade e
de seu compromisso social. Nas aulas, a ênfase a certos autores é apenas um meio para
explicar a Escola Literária e os autores de determinado período literário aumentando, dessa
maneira, a distância entre a literatura propriamente dita e os leitores. O resultado desse ensino
é que o aluno não é capaz de relacionar textos entre si, associando-os ao seu cotidiano social.
A apatia gerada pelo desinteresse reforça no estudante a resistência à leitura e ao estudo da
literatura, tornando difícil ao professor despertar o interesse pela leitura. Por isso alguns
professores trabalham apenas a questão da necessidade da leitura crítica, sem maiores
aprofundamentos na leitura.
Esse enfoque de ensino da literatura utilizado nas escolas, ignora que o texto literário
é um objeto de linguagem construído por palavras e por uma estrutura lingüística com a qual
o leitor precisa interagir, a fim de atribuir- lhe sentido a partir de suas vivências e
experiências, pois como um produto da atividade humana, apresenta uma visão de mundo e
da existência.
A atividade de leitura do texto literário de acordo com Bordini e Aguiar (1993, p.15):
[...] se exprime pela reconstrução, a partir da linguagem, de todo o universo
simbólico que as palavras encerram e pela concretização desse universo com
base nas vivências pessoais do sujeito. A literatura, desse modo, se torna
uma reserva de vida paralela, onde o leitor encontra o que pode ou o que não
sabe experimentar na vida.
Como fenômeno de linguagem, a análise de obras literárias contribui para o
desenvolvimento de competências de leitura e de escrita dos alunos. Ao priorizar a história da
literatura, a escola não possibilita ao leitor entender a constituição e funcionamento da obra
literária, uma vez que focaliza apenas alguns aspectos externos do texto. Na perspectiva
histórica apresentada pelo livro didático, o texto literário desempenha uma função secundária
e ilustrativa. Por conseguinte o estudante não consegue atribuir sentido ao texto e a leitura
torna-se um ato mecânico, restringindo-se à superficialidade da obra literária.
O resultado são alunos incapazes de ler com profundidade e senso crítico, e que
consequentemente, tornam- se sujeitos inexpressivos na comunicação, pois não retiram de
suas experiências a consciência e a reflexão para se tornarem indivíduos realmente atuantes na
sociedade. Percebe-se que, a aplicação do ensino da literatura a partir da relação dialógica
com outras áreas do conhecimento, permite ao aluno desenvolver sua capacidade criativa, a
postura crítica, a necessidade de reflexão sobre o mundo e seu papel na sociedade.
A literatura é uma forma de manifestação artística que pode apresentar vários
formatos. No decorrer da história ela renovou-se e reinventou- se inúmeras vezes, aliando-se a
outras formas de arte. Os estudos literários, voltados para a aprendizagem escolar, destacam a
relação com outras formas de linguagem, especialmente o cinema.
É preciso transformar a escola não apenas num espaço de interação social, mas
também de formação de leitores críticos e competentes de todas as modalidades de textos
circulantes na sociedade.
Roseli Pereira Silva (2007, p. 26) afirma que: “O espaço da sala de aula deve ser
tomado como espaço privilegiado de aprendizagens mútuas, de ousadias e ressignificações;
um espaço formentador da cidadania, tanto para professores como para os alunos.”
Dessa forma, a escola, enquanto instituição privilegiada no contexto de formação da
sociabilidade, deve otimizar seu papel, ampliando o seu conceito de leitura e de
aprendizagem, equipando-se para entender os significados e os mecanismos de ação das novas
linguagens, interferindo para tratar as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de
massa. A mídia é a grande estabilizadora das relações entre os sujeitos de uma sociedade.
Devido à distância entre o que se ensina na escola e o que é veiculado pela mídia, tornou-se
um desafio para educadores e os outros segmentos da sociedade, segundo afirmou Citelli
(2004, p.35), “a inserção da escola no ecossistema comunicativo, reforçando tal passagem
como ampla experiência cultural”. Afinal, trata-se de encontrar no interior dos espaços
educativos descentrados, o novo lugar da escola enquanto instância que possibilita a
construção do saber e do pensamento crítico.
Segundo Setton (2004, p. 16):
[...] é preciso trazer a mídia para dentro dos muros da escola,para dentro das
salas de aula. Mas não como entretenimento,mas como material didático,
como fonte de informação, como registro de uma época e história e, em
muitos momentos, servindo como instrumento ideológico que ajuda na
construção das identidades individuais e coletivas.
Nessa luta pela sintonização do ensino escolar com o tempo e o espaço exteriores à
escola, o uso do cinema tem muito a contribuir. Portanto, inserir o recurso multimídia, o
cinema, como sistema de ampliação do conhecimento da língua, tem fundamental importância
nas relações de aprendizagem, pois ao enfatizar a leitura, há o preenchimento da lacuna ainda
existente entre as diferentes linguagens as quais o aluno terá acesso em diversas situações fora
do ambiente escolar.
Entendemos que é essencial a utilização dos recursos midiáticos disponíveis, tais
como: o cinema; a televisão, para desenvolver no aluno a capacidade da leitura crítica e
questionadora, não só de textos literários que transitam na escola, mas os textos que
invariavelmente ele terá contato fora do ambiente escolar. Considerando-se que o
aprimoramento lingüístico, concretizado a partir de leituras de diferentes textos que circulam
socialmente, tornará o estudante um leitor apto a identificar os fatores implícitos no texto
(literário ou fílmico), adotando a partir dessas leituras uma postura crítica e, dessa forma,
tornando-o um leitor autônomo.
CINEMA E EDUCAÇÃO
Uma das tarefas da escola é formar o aluno um leitor do texto verbal. Percebe-se,
contudo, que a concorrência com as outras formas de linguagem, sobretudo as visuais,
dificultam o incentivo à leitura. A escola precisa, portanto sintonizar-se com os movimentos
sociais e estar atenta às transformações que tais movimentos impõem.
Um sistema de ensino desvinculado da realidade ou que a representa de modo tão
fragmentado ao estudante, não serve para estimular o interesse do indivíduo. Na sociedade em
que vivemos, as maiores dificuldades não estão relacionadas com a obtenção de informações,
mas em saber integrá-las e analisá-las criticamente. Dessa forma, torna-se essencial a
utilização de recursos que possibilitem ao aluno o desenvolvimento de sua capacidade de
leitor proficiente e crítico.
A utilização de materiais audiovisuais diversificados como a música, filmes,
documentários oferecem a pluralidade de expressão que é igualmente defendida pela
educação. Constatou-se que o diálogo estabelecido entre a literatura e as outras formas
midiáticas, no caso, o cinema permitirá tanto ao professor quanto ao aluno ultrapassarem os
limites da escola. Pois o cinema no contexto educacional direciona o olhar para novos
caminhos que antes eram desconhecidos. De acordo com Costa (1987, p. 39):
[...] a introdução do cinema na escola (e, mais em geral, a presença da
problemática relativa às linguagens audiovisuais) torna-se um momento de
confronto entre um tipo de cultura icônica (a mensagem em todas as
possíveis articulações e em suas integrações com a palavra), que tem, de
fato, cada vez mais importância nos processos informativos e „formativos‟.
As razões que aproximam a educação e o cinema são muitas e variadas. Uma delas é
que a educação pode criar condições para uma leitura crítica do cinema e de sua produção
fílmica. Por outro lado, se a educação tem como finalidade a formação estética dos sujeitos,
necessita apreender das especificidades das obras fílmicas, parâmetros que a oriente. Cabe à
escola, segundo Teixeira e Lopes (2003, p. 14): “O trabalho educativo de formar e sensibilizar
as novas gerações para a especificidade dessa linguagem, tanto para sua potencialidade na
leitura do mundo e da vida, quanto para os perigos e as armadilhas que ela comporta.”
Entretanto, é necessário que o professor, ao fazer uso do filme em sala de aula, não
ignore o valor e a importância dessa obra para o patrimônio artístico e cultural da
humanidade, assim como enfatizamos o valor cultural do texto literário.
Segundo Rosália Duarte (2009, p. 71): “A escolha de filmes que são exibidos em
contexto escolar dificilmente é orientada pelo que se sabe sobre cinema, mas sim, pelo
conteúdo programático que se deseja desenvolver a partir ou por meio deles.”
Roseli Pereira Silva (2007, p.50) afirma que o cinema seria a via ideal para trazer
para a sala de aula as situações representativas da vida e para promover a reflexão.
De acordo com Magno (1998, p. 113): “[...] o cinema, diferentemente do ensino da
literatura, continua transitando entre o fascínio que desperta e o temor de não saber como
abordá-lo além de sua utilização ilustrativa de visões e interpretações histórico-culturais.”
Considerando as dificuldades e o pouco conhecimento do professor em utilizar o
cinema em sala de aula, poucos são os que se aventuram a encará-lo como linguagem que
exige estratégias e metodologias específicas, sem perceberem a sua ampla
interdisciplinaridade.
O uso de filmes na escola tem sido realizado segundo a necessidade de inovação de
recursos didáticos e o filme como objeto de análise e, portanto como uma reflexão da
realidade. Os filmes são uma fonte de conhecimento e se propõem, de certa forma, a
reconstruir a realidade. A impressão da realidade, no caso do cinema, é mais forte do que nas
demais artes e por isso a ficção apresenta-se como uma história verídica, o que possibilita um
reencontro com a realidade diversa daquela realizada a partir de outros discursos (artes e
ciências).
A linguagem cinematográfica é o reforço da impressão da realidade que caracteriza
os filmes, apresentando outro nível de percepção. E a linguagem utilizada pela cinematografia
tem o mérito de permitir que a relação entre filme e imaginário social aconteça. A exposição
de fatos, histórias e narrativas pela linguagem do cinema realça a realidade, dando maior
visibilidade a ela. A experiência estética que o cinema proporciona permite-nos a
compreensão da realidade e do ser humano.
De acordo com Turner, os filmes são vistos dentro de um contexto cultural que vai
além do prazer da história, sempre oportunizando aprendizados:
A complexidade da produção cinematográfica torna essencial a
interpretação, a leitura ativa de um filme. Inevitavelmente precisamos
examinar minuciosamente o quadro, formar hipóteses sobre a evolução da
narrativa, especular sobre seus possíveis significados, tentar obter algum
domínio sobre o filme à medida que ele se desenvolve. O processo ativo da
interpretação é essencial para a análise do cinema e para o prazer que ele
proporciona (TURNER, 1997, p. 69).
O ato crítico de ler aparece como uma avalanche de atos da consciência do leitor,
acionados durante a união entre leitor e mensagem escrita, quando ele se posiciona de maneira
concreta e crítica no e sobre o ato de ler. A interpretação do mundo e sua representação não
existem separadamente, é necessária a integração entre ambas para o melhor entendimento e
aproveitamento do texto, seja escrito, falado ou cinematográfico, o importante é que seja
interpretado e que essa interpretação ultrapasse as fronteiras do aprendizado escolar e
utilizado na formação do cidadão do mundo. Por isso, para desenvolver a análise crítica do
aluno é necessário explorar a relação do conteúdo do filme com a realidade de cada indivíduo.
A pouca utilização do filme e/ou a inadequação, no ambiente escolar, ocorre por
diversas razões. Uma delas é a dificuldade em reconhecermos o cinema como conhecimento,
pois o imaginário social, inclusive o escolar, o tratamento da arte cinematográfica sofre dos
mesmos preconceitos das demais; ou seja: como um produto de qualidade variável, seu uso na
escola se faz pela via do entretenimento, da diversão, da ilustração do conhecimento que está
em outras fontes mais confiáveis.
AS RELAÇÕES ENTRE O CINEMA E A LITERATURA
Os filmes são considerados como veículos transmissores de representações, no
sentido de reforçá-los ou questioná-los, pois ao mesmo tempo em que a obra ficcional
midiática tem o poder de retratar uma realidade, toma partido sobre ela. E ao mesmo tempo
propõe a discussão sobre algum comportamento ou padrão de conduta. Por isso são
considerados instrumentos políticos capazes de revelarem os conflitos e as ideologias da
sociedade.
Para André Bazin (1999) as afinidades entre o cinema e a literatura ocorrem em
função da convergência estética entre esses meios de comunicação. É necessário lembrar que
as diferenças entre esses meios não se restringem apenas à linguagem escrita e visual.
Segundo alguns estudiosos, a literatura apresenta recursos que o cinema apesar de todo o
aparato tecnológico, não consegue reproduzir, o mesmo ocorre com a literatura em
determinadas situações. O elo que aproxima o texto e a cinematografia é que ambos, em suas
formas habituais, contam uma história, intimamente ligadas aos recursos que cada forma de
expressão se utiliza para fazê-lo.
Conforme explicou Kristeva (1988, p. 361), o cinema não copia de forma objetiva a
realidade, entretanto, recombina-a através de uma nova imagem. É através da nova montagem
que os elementos ganham sentido. Enquanto a literatura pode estabelecer uma relação
imediata, metafórica com a realidade, o cinema estabelece uma relação imediata, evidente
com a mesma realidade. São consideradas formas distintas de representação da realidade.
Conforme afirmou Salete Therezinha de Almeida Silva (2004) é preciso lembrar que
ao trabalharmos a relação entre literatura/cinema no ambiente educacional estaremos
cruzando linguagens distintas, com características e estruturas próprias, que devem ser
consideradas em suas particularidades. Enquanto a literatura se define como um código
verbal, o cinema pertence ao domínio das chamadas linguagens complexas: som, imagens e
texto. Enfim, a distinção entre a literatura e os demais textos evidencia-se pela linguagem,
pela forma escrita, pela intenção estética. O cinema, por sua vez, distingue-se dos programas
audiovisuais, pois o expectador envolve-se plenamente neste ambiente propiciado pelo filme.
Tal qual o texto literário narra um acontecimento, uma história, o cinema também se
constitui numa arte narrativa. Na cinematografia privilegia-se a imagem, o movimento, a
sonoridade. De acordo com Silva (1990, p. 178): “[...] o texto fílmico narra frequentemente
uma história, uma sequência de eventos ocorridos a determinado tempo, e por isso mesmo é
tão freqüente e congenial a sua relação intersemiótica com textos literários nos quais também
se narra ou se representa uma história.”
Apesar dos pontos de similaridades entre o cinema e a literatura, é preciso considerá-
los como campos distintos de estudos. Por isso, ao se observar as relações existentes entre o
texto literário e o cinematográfico, deve-se respeitar as características peculiares de cada um
deles. Abílio Hernandez Cardoso (1995, p. 29) afirma que:
[...] as condições em que podem estabelecer-se trocas entre sistemas
semióticos diferentes, os critérios que permitem determinar o que há de
idêntico entre um texto literário e um filme, e a capacidade demonstrada pela
literatura para encontrar, dentro de sua própria tradição, até mesmo aqueles
efeitos que se consideram específicos do cinema ou, pelo menos,
profundamente ligados ao funcionamento da linguagem cinematográfica.
A peculiaridade do cinema é que faz parte do complexo da comunicação e da cultura
de massa. De acordo com Marcos Napolitano (2009), o cinema também faz parte da indústria
do entretenimento e constitui ainda uma obra de arte coletiva tecnologicamente sofisticada. E
o professor não deve esquecer essas dimensões ao trabalhar o filme em sala de aula.
Seguindo nessa linha de pensamento, deve-se considerar que as especificidades do
texto literário e do cinematográfico devem ser vistos como características distintas e não
como forma de supervalorização quando são comparados.
A imagem presente na filmografia propicia uma aproximação da visão histórica
contida no texto literário, mas com carga diferente, pois o ato de ler é diferente para cada um
em diferentes momentos da vida, o que o cinema equilibra envolvendo a visão do leitor-
diretor que carrega o texto cinematográfico de visão de mundo próprio.
Dessa maneira, diferente do que se imagina, há necessidade da utilização do cinema
na escola, já que a linguagem audiovisual se faz presente no cotidiano dos alunos.
O ENSINO DE LITERATURA ATRAVÉS DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
Inúmeras são as pesquisas científicas acerca da crise da leitura e da indiferença dos
alunos pela literatura. Esses assuntos são constantes fontes de pesquisas em congressos, em
publicações de livros que abordam diferentes estratégias de ação sobre o assunto. Contudo, a
postura cotidiana nas escolas ainda carrega traço um tanto quanto mecanicista, de forma que a
leitura não desperta o interesse do aluno, pois o conteúdo é desvinculado da sua realidade
social, cultural e política e apresenta-se apenas o estudo baseado na historiografia, muito
aquém da realidade concreta.
Bordini e Aguiar (1993) afirmam que a formação do leitor de obra literária envolve
sua participação ativa na construção dos sentidos, e que sem essa efetiva participação não
haveria texto literário. Considerando essa concepção, as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica do Paraná, propõe que o ensino de literatura seja regido pela teoria da Estética da
Recepção, do estudioso Hans Robert Jauss. Segundo esse teórico é essencial estabelecer uma
relação entre o leitor e o texto para avaliar-se a experiência desse mesmo leitor num
determinado momento histórico.
A Estética da Recepção, segundo Bordini e Aguiar (1993), enquanto método de
ensino, contribui para a sistematização dos estudos da leitura por parte dos professores e pela
ampliação dos “horizontes de expectativas” dos alunos, além de permitir a democratização da
leitura e a formação do leitor crítico. Essas autoras definem a leitura do texto literário da
seguinte maneira:
[...] a atividade do leitor de literatura se exprime pela reconstrução, a partir
da linguagem, de todo o universo simbólico que as palavras enceram e pela
concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito.
Literatura, desse modo, se torna uma reserva de vida paralelo, onde o leitor
encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade (BORDINI;
AGUIAR, 1993, p. 15).
De acordo com esse método, o sentido da leitura literária ocorre a partir da fusão
entre dois momentos básicos: o momento do efeito, que é condicionado pelo texto e o
momento da recepção, que é efetivada pelo leitor. Todo texto literário apresenta uma estrutura
que desperta uma reação ativa por parte do leitor. É, portanto, a partir da mistura das
experiências trazidas pelo leitor e pela obra que se efetiva o processo de significação da
leitura. Esse processo dinâmico realiza-se a partir da relação dialógica entre a obra e o leitor.
Essa interação existente entre o leitor e a obra tem como pré-condição o fato de que ambos
estão envolvidos em horizontes distintos e que necessitam fundir-se para que a comunicação
ocorra. Esse processo só se efetiva se o texto oferecer respostas aos questionamentos do leitor,
as quais estão relacionadas tanto ao contexto social, histórico e cultural da leitura, quanto à
subjetividade do indivíduo.
A partir ação do leitor durante o confronto com a obra historicamente construída pelo
autor, que o texto deixa de ser um objeto estanque e a leitura passa a ser um processo de
reconstrução da obra literária.
Conforme a proposta das Diretrizes Curriculares, as aulas de literatura visam á
formação de leitores capazes de expressarem seus sentimentos, pensamentos e que
desenvolvam:
“[...] condições de reconhecerem um envolvimento de subjetividades que se
expressam pela tríade obra/autor/leitor, por meio da interação que está presente na prática da
leitura. A escola, portanto, deve trabalhar a dimensão estética (PARANÁ, 2008, p. 58).”
Por isso, propõe-se trabalhar o ensino da literatura embasado no Método Recepcional
criado por Bordini e Aguiar. Essa concepção, pressupõe o conhecimento do aluno e o
aproveitamento do repertório do leitor, respeitando suas expectativas de leitura e assim
ampliando seu horizontes. Nesse processo o leitor deixa de ser passivo no ato da leitura, e
revela-se capaz de emitir juízos e refletir sobre o que leu. Esse método valoriza a fruição
como meio de retomar o gosto pela leitura, contudo, sem ignorar a dimensão histórica da
obra. Barthes definiu o texto de fruição como: “[...] aquele que põe em estado de perda,
aquele que desconforta (talvez até um certo enfado) faz vacilar as bases históricas, culturais,
psicológicas, do leitor a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz
entrar em crise sua relação com a linguagem (BARTHES, 1987, p. 20).
A literatura não deve ser considerada apenas como arte passível unicamente de
fruição, mas como meio de se entender a cultura, o pensamento vinculado à função social do
texto. A Estética da Recepção concebe a obra como um objeto histórico, visto que a obra só
resiste ao tempo em função da atuação do público e não dela mesma. Por isso é necessário
considerar as condições históricas que influenciam a atitude do leitor em relação ao contexto
social da obra.
Acredita-se que a abordagem da literatura pela historiografia, como mencionado
anteriormente, nas escolas do Ensino Médio, não permite a aproximação dos alunos da
literatura nem possibilita o envolvimento com a leitura. Ao se evidenciar apenas a história da
literatura, a escola não ajuda o aluno a entender a constituição e o funcionamento da obra
literária, focalizando apenas fatos externos. O total desconhecimento da estrutura da obra
dificulta a interação do estudante com os textos mais complexos, já que o aluno não é capaz
de atribuir sentido ao texto.
Considerando-se que tal método é ineficiente no ensino de literatura, que recursos
podem ser utilizados na tentativa de aproximar os estudantes das aulas de literatura e assim
apreciarem a leitura de textos literários?
No tópico seguinte, apresentamos os resultados da aplicação da proposta
metodológica baseada no Método Recepcional para a aula de literatura, utilizando o cinema
como ferramenta pedagógica.
RESULTADOS DA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
As inquietações acerca do distanciamento dos alunos durante as aulas de literatura e
o evidente desinteresse pela leitura nortearam o trabalho de pesquisa do Projeto de
Intervenção Pedagógica desenvolvido no PDE. No período de implementação do projeto
foram valiosas as contribuições dos professores que se inscreveram no curso: “Literatura e
cinema” do Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Durante as interações com esses professores
discutimos sobre o uso do cinema na sala de aula e as possibilidades de trabalho com esse
material audiovisual. As informações e as experiências postadas pelos professores auxiliaram
na elaboração das atividades da Unidade Didática. A experiência didática que ocorreu em
2010 com os alunos, foi considerada uma alternativa viável para minimizar as dificuldades
encontradas durante as aulas de literatura no que concerne à leitura e análise de obras
literárias.
Para a realização da proposta, selecionamos a turma do segundo ano do Curso
Normal do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco, localizado no município de Primeiro
de Maio, Paraná. Neste capítulo, decidimos abordar a análise da problemática detectada, para
atingir o objetivo proposto de estimular a capacidade leitora dos alunos e torná-los leitores
críticos capazes de transformarem a sua realidade pessoal e social. Ao elaborarmos o projeto
intitulado: “Literatura e Cinema” consideramos como fator primordial: a escolha de temas que
despertassem o interesse do público-alvo, suscitando a curiosidade e questionamentos
enriquecedores, visto que o principal objetivo era despertar o interesse pela leitura. A
metodologia que serviu de base para o trabalho foi o Método Recepcional criado por Bordini
e Aguiar. Esse Método permite ao aluno efetuar leituras críticas, questionar as leituras
efetuadas em relação ao seu universo cultural e, portanto, transformar o seu horizonte de
expectativas.
Para executar esse método, analisamos a obra literária “Inocência” e a obra fílmica
igualmente intitulada ”Inocência”. Apresentamos sugestões das etapas a serem seguidas para
a leitura proveitosa e prazerosa desses textos. De acordo com Bordini e Aguiar (1993), a
leitura de textos literários tem a finalidade de emocionar, divertir, garantir a aquisição de um
mundo imaginário gratuito como se fosse um jogo lúdico.
As atividades foram planejadas da seguinte maneira: exposição do projeto aos
alunos; apresentação do tema a ser trabalhado com os grupos; leitura e comentários sobre os
textos, debates sobre o assunto abordado; produção textual sobre o tema discutido pelos
grupos; exposição dos trabalhos em um mural. As estratégias repetiram-se a cada módulo
trabalhado e visavam ao desenvolvimento do hábito da leitura e à postura crítica dos alunos
diante dos assuntos debatidos durante as aulas.
Na primeira etapa para efetivarmos a implementação do projeto foi efetuado um
processo de identificação, através de questionamento feito aos alunos, sobre o hábito de
leitura e o conhecimento que eles tinham a respeito do papel da mulher na sociedade e a
questão do casamento arranjado, assuntos a serem discutidos no decorrer do projeto.
O momento de investigação foi realizado com a finalidade de averiguar o
conhecimento prévio do estudante, adquirido durante a vida escolar e a vivência em
sociedade. O resultado dessa pesquisa norteou a prática pedagógica nas etapas posteriores.
A maioria dos alunos revelou que não tem o hábito regular de leitura, pois preferem
utilizar os recursos midiáticos, como: televisão, internet do que a leitura de um livro. A
facilidade e a rapidez de acesso a esses recursos colaboram para o afastamento do estudante
do texto literário e da leitura, de modo geral. No mundo marcado pelo avanço tecnológico e
pelas crescentes influências do rádio, televisão, das redes de computadores, as formas de
aprender e sentir se modificaram, por isso é imprescindível resgatar a leitura do texto literário
como meio de apreciação da leitura.
Na sequência, foi apresentado aos alunos algumas informações sobre o filme
exibido: “O verdadeiro amor”3 ( obra que narra a história de Inge, uma alemã determinada
que veio a Minesota para consolidar seu casamento arranjado com Olaf, discreto fazendeiro,
imigrante norueguês. Mas num mundo pós-primeira guerra, o clima anti-alemão está
fortemente presente e o pastor proíbe abertamente o casamento dos dois). O objetivo dessa
atividade era despertar o interesse dos alunos para os temas em questão. Após a exibição
selecionada, os alunos formaram grupos para debaterem sobre os temas apresentados na obra
fílmica. A troca de informações entre os grupos auxiliou-os na interpretação do filme.
Na atividade posterior os alunos realizaram a leitura dos textos de apoio. Esses textos
apresentavam temas referentes aos assuntos discutidos, tais como: o papel da mulher na
sociedade, desigualdade social; educação familiar, casamento arranjado, a ineficácias das leis.
É preciso considerar que o aluno ao ser inserido na cultura literária terá possibilidades de
escrever melhor, de ser um leitor crítico, pois a leitura que atribui sentido ao texto torna-se um
instrumento de transformação social. Após a leitura, cada grupo apresentou as conclusões
gerais sobre o assunto do texto analisado.
Essa proposta de atividade revelou-se positiva, pois os alunos realizaram a análise
interpretativa e expuseram seu conhecimento acerca do assunto dos textos. É importante que
se estabeleça um elo de ligação entre o aluno e o texto literário, pois é na escola, de acordo
com Silva (1985,p. 35), que o estudante se tornará um leitor crítico da cultura- encarnada em
qualquer tipo de linguagem, verbal e/ou não verbal.
Seguindo as etapas do Método Recepcional, para o atendimento do horizonte de
expectativas foi solicitado aos alunos a leitura da obra literária Inocência de Visconde de
Taunay (2007) (romance ambientado no sertão do Mato Grosso, em 1860, tem como
protagonista Inocência. Órfã de mãe, ela foi criada pelo pai, o mineiro Martinho dos Santos
Pereira, que pauta sua vida por valores como a honra e a palavra dada, além do amor
incondicional pela filha. Julgando que está fazendo o melhor por ela, decide casá-la com
Manecão Doca, homem simples e rude, mas rico).
A leitura do livro foi realizada por todos os alunos da sala. Após a leitura- na qual os
estudantes deveriam atentar para a estrutura narrativa da obra, a composição do cenário e a
linguagem utilizada pelo autor- foram desenvolvidas atividades como: compreensão e
interpretação da história lida, debate em grupos sobre o tema depreendido no livro. É partir da
leitura que o aluno consegue perceber como falam as linhas e entrelinhas do texto e o
3 Sweet Land. EUA. Direção: Ali Selini. Distribuidora: Paris filmes. 2005. 110 min.
desenvolvimento da leitura crítica permitirá sua capacidade de ler para além da nossa
cotidiana apreensão espontânea dos discursos que direta ou indiretamente afetam a nossa vida.
Na etapa seguinte foi exibido o filme ”Inocência”4 (sinopse do filme: No Brasil
Imperial, um médico- Edson Celulari- em suas andanças conhece uma moça acometida de
malária- Fernanda Torres- por quem se apaixona, sendo correspondido. Entretanto, o pai da
jovem a prometeu para um rico fazendeiro da região e não admite ter suas vontades
contestadas) de Walter Lima Junior. É preciso olhar o texto fílmico como um valioso
instrumento de formação pessoal, de socialização, de construção e transmissão de valores
culturais, entre outras atividades. Essa concepção faz do cinema um forte aliado do professor
na sala de aula. Nessa atividade, os alunos analisaram as características da obra
cinematográfica que a distinguem do texto literário e observaram a estrutura narrativa dessa
obra. Conforme a etapa anterior, as atividades propostas aos grupos também envolviam a
análise interpretativa do filme, a discussão sobre o ponto de vista que o diretor usou para criar
a obra e, ao final desse processo, a apresentação das produções textuais efetuada pelos
integrantes das equipes.
Nessa parte do processo, os alunos analisaram os textos: literário e o fílmico para
estabelecer as diferenças e as similaridades encontradas nos textos, comparar o tema
depreendido nos textos e traçar um painel apresentando as mudanças ocorridas na sociedade
moderna. Após o debate, relataram quais as diferenças entre as obras, evidenciando qual
exigiu nível mais alto de reflexão. A leitura de textos e obras que sejam realmente
significativas para o aluno, do ponto de vista de suas aspirações e conhecimentos prévios,
permite ao professor introduzir obra literária mais abrangente, que desperte o prazer da
leitura. Incentivando, dessa forma, o aluno a ir além das leituras, despertando a criatividade
na elaboração de seus textos. Yune (1995) afirma que leitura está relacionada com fruição; ler
é um ato que permanece vivo mesmo após o final da leitura, ficando internalizado no interior
de quem lê.
Leite (1988, p. 91), afirma sobre a leitura que:
A leitura, na verdade, é uma arte em processo. Como Goethe, poderíamos
todos reaprender a ler a cada novo texto que percorremos. Mas há, sobretudo
muito a aprender quando percebemos que ler não é apenas decifrar o
impresso, [...] mas ler é questionar e buscar respostas na página impressa
para os nossos questionamentos, buscar a satisfação à nossa curiosidade.
4 Inocência. Brasil. Direção: Walter Lima Junior. Distribuidora: Embrafilme 1983. 115 min.
É evidente, portanto, a importância da leitura na formação cultural do indivíduo, pois
é a partir das relações de interação com o texto que o leitor tem a possibilidade de dialogar
com a obra, considerando as suas experiências e vivências sociais. Consideramos o Método
Recepcional, desenvolvido por Bordini e Aguiar (1993), como uma concepção teórica
adequada para o ensino de literatura, visto que esse método considera que a obra literária é um
objeto a ser atualizado pela relação de interação com o leitor, e que exige a participação ativa
do leitor no contato com diferentes textos que circulam na sociedade. Com o desenvolvimento
de sua habilidade leitora, a leitura de fruição, torna-se necessariamente uma leitura de palavra
e de mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de trabalho apresentada no Projeto de Intervenção pedagógica no PDE
caracterizou- se pela busca de métodos de trabalho que aproximassem os alunos do Ensino
Médio dos livros de obras literárias clássicas e/ou contemporâneas, possibilitando assim uma
relação mais prazerosa com o ato da leitura. Segundo Jauss, a literatura só contribui para a
formação humana, se ocorrer a leitura. Somente através da prática da leitura, que o aluno
estabelece as relações entre a obra historicamente consagrada e a atualização no presente.
Possibilitando, dessa maneira, o desenvolvimento de sua capacidade de interpretação como
um leitor crítico e autônomo.
No ensino de literatura, os elementos essenciais são o leitor e o texto e a relação que
se estabelece entre esses elementos. Segundo essa concepção, o texto literário é compreendido
como um meio de interação entre o leitor e a obra. Nessa interação o leitor tem função ativa,
pois o texto traz lacunas, vazios que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo,
as ideologias que o leitor carrega consigo. Durante o processo de implementação do projeto
em sala de aula, buscou-se apresentar uma perspectiva de trabalho que considerasse esse
pressuposto. Por isso optou-se por uma postura que não privilegiou o enfoque historiográfico
e cronológico da literatura, visto que desejávamos enfatizar um ensino de literatura mais
dinâmico e atraente para os alunos.
Centralizando o trabalho no papel do leitor, no processo efetivo de leitura, essa
proposta procurou distanciar-se da tradicional leitura interpretativa do texto literário,
associando-o à utilização do recurso midiático da atualidade, o cinema. Conforme afirmou
Setton (2004, p. 38):
Na educação acredita-se, hoje, que investigar as relações que as crianças e
adolescentes estabelecem com artefatos audiovisuais pode ajudar a
compreender o papel que as mídias desempenham no cotidiano delas, em sua
formação moral e ética e em seus processos de construção do conhecimento.
Dentro do processo de formação do aluno, usando a linguagem, é que se encontra
inserida a utilização do recurso cinematográfico para os estudos literários. Os filmes têm sido
utilizados pelos professores em aulas de história e literatura, psicologia e sociologia, entre
outras, mas sempre como um recurso para “passar uma mensagem” ou ilustrar uma aula; um
momento histórico. Tendo em vista a mudança de postura do professor e, sobretudo com a
intenção de atrair o aluno para a leitura da obra literária, propõe-se o uso do filme como
ferramenta pedagógica e não apenas como simples ilustração de uma aula. Um dos objetivos
de se trabalhar a relação entre a literatura e o cinema, assim como as outras formas de
linguagem, é focalizar uma comparação possível entre linguagens diferentes, demonstrando
como os elementos e características de uma podem estar presentes na outra.
Os resultados obtidos na prática de ensino indicam a eficácia da metodologia
proposta. Essa abordagem para o ensino de literatura que prioriza a interação do leitor com o
texto, partindo do seu horizonte de expectativas (conforme indica o Método Recepcional de
Bordini e Aguiar) para a seleção das obras literárias, apresentou incentivos que a abordagem
histórica da literatura não apresenta, tais como: possibilita ao aluno a interação com o texto a
partir do momento em que o leitor se identifica com a obra analisada; instrumentaliza-o para
as leituras de textos que circulam socialmente, pois centraliza- se na estrutura e no
funcionamento dos textos artísticos; contribui para a formação do leitor crítico, pois o aluno
depara-se com o conhecimento humano e linguístico presente na obra literária.
Ressalta-se ainda que ao evidenciar a interação entre leitor e texto, promoveu-se a
realização de diferentes leituras para as construções de sentido, de produções textuais, de
pesquisas que estimularam o desenvolvimento da capacidade leitora dos alunos e a
argumentação na defesa das idéias. O dinamismo com que os alunos se envolveram nas
atividades comprova que as aulas de literatura não devem ser monótonas e cansativas.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva,
1987.
BAZIN, André. Por um cinema impuro. São Paulo: Brasiliense, 1999.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor,
alternativas metodologias. 2. ed. São Paulo: Mercado Aberto, 1993.
CARDOSO, Abílio Hernandes. Narrativas: da letra no filme à imagem no texto. Revista
Senso, Coimbra, n. 1, p. 15-32, 1995.
CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com textos. São Paulo: Cortez, 2002.
CITELLI, Adilson Odair. Educação e Mudanças: novos modos de conhecer. In: CHIAPPINI,
Ligia (Coord.). Outras linguagens na escola. São Paulo: Cortez, 2004. v. 6.
COUTINHO, Afrânio. Que é literatura e como ensiná-la. In: ______. Notas de teoria
literária. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
COSTA, Antônio. Compreender o cinema. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
DUARTE, Rosália. Cinema e educação. São Paulo: Cortez, 2009.
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. Invasão na catedral: literatura e ensino em debate. 2. ed.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
KRISTEVA, Julia. História da linguagem. Lisboa: Edições 70, 1988.
MAGNO, Maria Inês C. Videografia. Comunicação e Educação, São Paulo, n. 11, p. 113-
115, jan. abr., 1998.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto,
2009.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares para a Escola Pública. 2008. Disponível
em:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portal/diretrizes/pdf/t_portugues.pdf>. Acesso
em: 13 abr. 2011.
SETTON, Maria da Graça (Org.). A cultura da mídia na escola: ensaios sobre cinema e
educação. São Paulo: Annablume, 2004.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura & realidade brasileira. 2.ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1985.
SILVA, Roseli Pereira da. Cinema e educação. São Paulo: Cortez, 2007.
SILVA, Salete Therezinha de Almeida. A linguagem cinematográfica na escola: uma leitura
d‟O Rei Leão. In: ______. Outras linguagens na escola. São Paulo: Cortez, 2004. v. 6.
SILVA, Vítor M. Aguiar. Teoria e metodologia literárias. Lisboa: Universidade Aberta,
1990.
TAUNAY, Visconde. Inocência. São Paulo: Ciranda Cultural, 2007.
TEIXEIRA, I. A. C; LOPES, J. S. M. A escola vai ao cinema. 2. ed. Belo Horizonte:
Autentica, 2003.
TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997.
YUNE, Eliana Lúcia Madureira. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Revista de Letras, Curitiba,
n. 44, 1995.
ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel. T. Leitura: perspectivas interdisciplinares. São
Paulo: Ática, 1989.