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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

ANA LUIZA MENEZES BUENO

DO TEXTO ORAL AO TEXTO ESCRITO: histórias populares e causos em sala

de aula

CORNÉLIO PROCÓPIO

2011

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

ANA LUIZA MENEZES BUENO

DO TEXTO ORAL AO TEXTO ESCRITO: histórias populares e causos em sala

de aula

Artigo Científico apresentado à Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) como requisito para aprovação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), turma 2009, da Secretaria de Estado da Educação – Paraná, na área de Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Doutora Vanderléia da Silva Oliveira.

CORNÉLIO PROCÓPIO

2011

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DO TEXTO ORAL AO TEXTO ESCRITO: histórias populares e causos em sala de aula

Autor: ANA LUIZA MENEZES BUENO1

Orientadora: VANDERLÉIA DA SILVA OLIVEIRA2

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Resumo

A contação de histórias é uma atividade de comunicação vocal do texto escrito, que comporta uma dimensão lúdica. Proporciona ao educando a compreensão da impor-tância que a leitura e a escrita têm para a formação do indivíduo. Em vista disso, este estudo apresenta uma investigação de estratégia para o trabalho com oralidade e escrita no âmbito escolar, utilizando o gênero discursivo histórias populares e cau-sos, com o suporte metodológico do método recepcional. A metodologia utilizada foi a de pesquisa bibliográfica com análise de conteúdo, amparada em Cosson (2006), Barbosa (1977), Candido (1972), dentre outros. Os resultados indicaram que foram desenvolvidas habilidades de leitura e escrita numa função de construção de conhe-cimento social da realidade junto à formação de valores e conceitos. Neste trabalho, os resultados demonstraram que as atividades realizadas com a Contação de Histó-rias desenvolveram o senso crítico e o imaginário, trazendo a leitura algo prazeroso, levando os alunos a refletirem sobre as suas significações e finalidades, bem como buscar alternativas para fazer com que leiam mais. A experiência realizada compro-va que o trabalho com a oralidade e escrita em sala de aula é um importante auxiliar na formação do aluno, na compreensão e assimilação dos significados, assim como o desenvolvimento das práticas leitoras. As histórias também desenvolveram uma função de construção de conhecimento social da realidade junto à formação de valo-res e conceitos, pois, embora seja ficção, o texto literário tem o poder de revelar a realidade social e até mesmo desmascará-la. O contar e ouvir histórias revela-se em uma possibilidade libertária de aprendizagem humana.

Palavras-chave: Contação de histórias; Letramento literário; Oralidade, leitura e escrita.

1 Professora da Rede Estadual de Educação - Ana Luiza Menezes Bueno, formada em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura, pela Faculdade Estadual de Filosofia, ciências e Letras de Jacarezinho. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE – SEED-PR, turma 2009.

2 Professora Doutora em Letras, pela UEL, Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa, pela UNESP-Assis, pertencente ao Centro de Letras, Comunicação e Arte, da UENP-Cornélio Procópio. Atua na área de Literatura brasileira e Teoria Literária

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1 Introdução

Podemos identificar a Contação de histórias como sendo uma atividade de

conteúdos significativos da leitura e escrita, considerando que subsidia uma

dimensão lúdica e estimula o educando a pensar e agir criticamente, formando

opinião própria e levando a apreciar uma idéia , um gênero e compreendendo a

importância que a leitura e a escrita têm para a formação do indivíduo. Contar

histórias é uma arte. Dá prazer a quem conta e ao ouvinte. As histórias têm

finalidade em si, contadas ou lidas, pois constituem sempre uma fonte de alegria e

encantamento.

A arte de contar histórias é uma prática milenar que teve início desde os

primórdios da humanidade por meio da tradição oral. Essa arte amplia o universo

literário, desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação através da

construção de imagens interiores. Narrar uma história será sempre um exercício de

renovação da vida, um encontro com a possibilidade, com o imaginário e o desafio

de, em todo tempo e em todas as circunstâncias, construir um final a maneira de

cada leitor.

Descobrindo o quanto essa prática pode ajudá-lo em sua missão de

educador, observa-se que muitos docentes têm estado alienados, apáticos,

acomodados, em relação ao ato de ler e ao trabalho com as obras literárias.

Objetiva-se, aqui, demonstrar que, para formar leitores, é necessário que os

professores também se transformem em indivíduos mais assíduos no ato de leitura.

É fato facilmente verificável que os alunos cada vez se afastam mais do livro

em busca de outros recursos de apreensão do mundo, mais modernos e atrativos,

como a televisão e, principalmente, o computador. Tudo isso é efeito de um

processo de desenvolvimento das tecnologias, mas, também, de massificação do

ser humano. A leitura, quando trabalhada de forma adequada, fornece ao leitor

condições de imersão no labirinto dos acontecimentos, auxiliando-o e abrindo

caminhos para concepções mais profundas, com um nível de significação maior,

proporcionando ao leitor o entendimento de como, porque e para quem a obra

literária foi escrita. Lajolo (2002, p.15), a propósito, afirma que “Ou o texto dá um

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sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum”. São muitos os mistérios que

podem ser desvendados ou até especificados através do trabalho de contação de

histórias. Como educadores estamos sempre buscando novas metodologias,

atividades e recursos que possam aproximar os alunos do mundo da leitura e da

escrita, com textos e leituras significativos, para retransmiti-lo de forma mais

compreensível e acessível. Esta busca é justamente para que os alunos vivenciem

o contar histórias e promovam a interação de suas interfaces com os demais textos

e, posteriormente, possam contar histórias com seus diversos enfoques de leitura.

As histórias também desenvolvem uma função de construção de

conhecimento social da realidade junto à formação de valores e conceitos, pois

embora seja ficção, o texto literário tem o poder de revelar a realidade social e até

desmascarar suas mentiras, de forma que a ficção pode ser muito mais real do que

se imagina. Em uma sociedade tecnológica como a atual, contar e ouvir histórias é

uma possibilidade libertária de aprendizagem e uma atividade de suma importância

na construção do conhecimento e do desenvolvimento ético e significativo da

criança.

Trabalhar contos populares e lendas, atendendo à necessidade de ficção e

fantasia que o ser humano possui, auxilia o professor na formação do caráter e na

aquisição de conhecimento do mundo e de si. Dessa forma, os benefícios culturais e

sociais são enormes. Além de ajudar a formar o ser humano, entendida como a

leitura interpretativa, capaz de ser operada pelo indivíduo com a capacidade de ler,

compreender e formar sua própria opinião.

Sob este ponto de vista, objetivando um projeto no qual o professor pudesse

executar uma prática capaz de formar sujeitos que construam sentidos para o

mundo, elaborou-se uma unidade didática (Folhas) que oportunizasse aos alunos o

contato com lendas e histórias de suspenses. Assim, trabalhou-se o material Folhas,

praticado em sala de aula com leituras de contos e lendas, coleta de dados e

registros de Contação de Histórias, possibilitando ao aluno o desenvolvimento da

construção de significados na oralidade.

Entende-se que a contação de histórias é um dos grandes aliados e um

importante auxiliar na formação, na compreensão e assimilação dos significados,

assim como o desenvolvimento das práticas leitoras. As crianças escutam as

histórias incorporam uma atitude, por meio de seus comentários e problematizações

durante a contação de histórias, permitindo o desenvolvimento do seu senso crítico.

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Admitimos, também, que a leitura de histórias em voz alta constitui uma

oportunidade favorável ao desenvolvimento do vocabulário, o contexto verbal das

histórias, assim como a entonação e o ritmo do leitor constituem fonte rica para o

desenvolvimento da leitura e da escrita.

Ressalte-se que a proposta desenvolvida, sobre Contação de Histórias,

possibilitou ofertar ao aluno o desenvolvimento da sensibilidade advinda do contato

com histórias que encantam e contagiam pelo caráter ficcional, o que torna a

aprendizagem significativa fazendo com que ele compreenda o contexto social do

qual faz parte, por meio da leitura e interpretação. É preciso estar preparado para

trabalhar com os mesmos, acreditando no potencial que a contação possui e em sua

função no dia a dia da escola enquanto fonte de saberes.

2 Desenvolvimento teórico

2.1 Leitura, oralidade e escrita

Este trabalho propõe discutir uma estratégia que contribuiu para o

enfrentamento das fragilidades na abordagem de conteúdos significativos de leitura,

de modo que eles não estejam alheios ao mundo da vida, considerando que o

ensino deve subsidiar e estimular os alunos a pensar e agir criticamente.

Temos o conhecimento de que o sistema educacional estabelece que a

escola – instituição pedagógica responsável pela formação dos alunos – deve formar

leitores e escritores, visto que leitura é uma habilidade de extrema importância para

vida de cada indivíduo. É através da leitura que podemos adquirir novos

conhecimentos essenciais ao nosso crescimento social, isto é, a leitura possibilita a

convivência com as diversas esferas sociais de forma autônoma, já que na

sociedade letrada em que vivemos é preciso que estejamos cada vez mais

preparados para lidar com as exigências sociais às quais somos submetidos. Diante

desse contexto, vemos que há uma grande necessidade de formar leitores críticos,

não apenas para o bom desenvolvimento escolar, mas para serem capazes de

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compreender o contexto atual que o cerca. Sobre este processo de formação,

Mortatti observa que:

Os processos de leitura e escrita de textos envolvem a capacidade de produção de sentido para o escrito. Quando se escreve, está em jogo produzir um texto que faça sentido para o leitor; e, da mesma forma, quando o leitor se coloca diante de um texto escrito, está em jogo interagir com os sentidos propostos pelo autor. (2003, p.9)

Isso significa que o texto não pode ser um vazio, sem sentido, mas inserido

num contexto histórico para que aconteça a interação e que a compreensão do leitor

produza significados.

Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância muito grande. Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela determina tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. (BAKHTIN, 2006, p.117).

Assim entendido, todo diálogo se desenrola como se fosse presenciado por

um terceiro, invisível, dotado de uma compreensão responsiva e que se situa acima

de todos os participantes do diálogo.

[...] O terceiro em questão não tem nada de místico ou de metafísico (ainda que possa assumir tal expressão em certas percepções de mundo). Ele é o momento constitutivo do todo do enunciado e, numa análise mais profunda, pode ser descoberto. O fato decorre da natureza da palavra que sempre quer ser ouvida, busca a compreensão responsiva, não se detém numa compreensão que se efetua no imediato e impele sempre mais adiante. (BAKHTIN, 1997, p. 356).

O processo de ensino e aprendizagem com contato maior com a linguagem

em diferentes esferas sociais possibilita ao aluno o entendimento do texto, suas

intenções e suas visões de mundo. Ela pode contribuir, consequentemente, para

uma maior sistematização dos estudos da literatura pela ampliação dos horizontes

de expectativas dos alunos, além de permitir a democratização da leitura e a

formação do leitor crítico, a participação do aluno em contato com os diferentes

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textos, incitando-os a refletir, transformando a escola e a comunidade. Isso ocorre

na medida em que o processo de leitura literária na escola esta permeado por um a

concepção de leitura que colabora dinamicamente com o processo de produção de

sentidos e com a interação entre leitor e obra de literária, tendo como pressupostos

teóricos a Estética da Recepção e o Método Recepcional.

Na perspectiva aqui adotada, o método recepcional possibilita ao aluno

entender as histórias e causos a partir da idéia do imaginário coletivo.

O método recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o distante no tempo e no espaço. Além disso, o processo de trabalho apóia-se no debate constante, em todas as formas: oral e escrito, consigo mesmo, com os colegas, com o professor e com os membros da comunidade. (BORDINI e AGUIAR, 1993)

De acordo com Bordini e Aguiar (1993), o método tem como objetivo

essencial para o sucesso do trabalho, efetuar leituras compreensivas e críticas; ser

receptivo a novos textos e a leitura de outrem, questionar as leituras efetuadas em

relação ao seu próprio horizonte cultural, transformar os próprios horizontes de

expectativas, bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social.

Por isso, o método recepcional, embasado na estética da recepção, constitui-se num

dos caminhos teórico-metodológicos para uma reconstrução das formas de ler na

escola.

Este trabalho foi pautado na concepção que temos de que há necessidade

de se preservar a transmissão participativa do oral, daquele que já ingressou no

mundo dos letrados, bem como a necessidade de valorização das práticas orais,

posto que são muito importantes no processo de ensino aprendizagem. Utilizou-se

o método recepcional, na medida em que os alunos entraram em contato com textos

de diversos gêneros, estilos e de complexidade variada e puderam desenvolver sua

capacidade cognitiva. Entende-se, portanto, que a perspectiva é a de ensinar a ler e

a escrever dentro de um contexto no qual a escrita e a leitura tenham sentido e

façam parte da vida do aluno. Sob este aspecto, vale destacar as concepções de

Soares sobre letramento e alfabetização, tendo em vista que, para ela,

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...o alfabetismo é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em determinado contexto, e é a relação estabelecida entre essas habilidades e conhecimentos e as necessidades, os valores e as práticas sociais. Em outras palavras, o alfabetismo não se limita pura e simplesmente à posse individual de habilidades e conhecimentos, implica também, e talvez principalmente, em um conjunto de práticas sociais associadas com a leitura e a escrita, efetivamente exercidas pelas pessoas em um contexto social específico. (SOARES, 2003, p.33)

2.2 Contação de histórias

Certamente, a contação de histórias, inserida nesta proposta, age na

formação da criança em várias áreas, contribuindo no desenvolvimento intelectual,

pois desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação por meio da

construção de imagens interiores e dos universos da realidade e da ficção, dos

cenários, personagens e ações que foram narradas em cada história. Neste sentido,

possibilita um grau de letramento superior à mera atividade de leitura e escrita

alfabetizada.

Tanto no ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, as possibilidades de um trabalho com os gêneros orais são diversas e apontam diferentes caminhos, como: apresentação de temas variados (histórias de família, da comunidade, de um filme, um livro); depoimentos sobre situações significativas vivenciadas pelo aluno ou pessoas do seu convívio; dramatização; recado; explicação; contação de histórias; declamação de poemas; troca de opiniões; debates; seminários; júris-simulados e outras atividades que possibilitem o desenvolvimento da argumentação. (PARANÁ, 2008)

Outro ponto em que a contação pode atuar é no desenvolvimento

comunicativo, devido a sua provocação de oralidade, que leva a criança a dialogar

com seus colegas ouvintes e a recontar a história para a sala de aula. Com isso,

também desenvolve a interação sócio-cultural da criança, pela criação de laços

sociais e formação de gosto pela literatura e artes. Também é vista como auxiliar na

construção dos significados das palavras ouvidas, aliadas ao contexto da história,

além de enriquecer o vocabulário e auxiliar no desenvolvimento da leitura e escrita.

Sob este aspecto de interação sócio-cultural, Bosi afirma que:

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A criança recebe do passado não só os dados da história escrita, mas mergulha suas raízes na história vivida, ou melhor, sobrevida, das pessoas de idade que tomaram parte na sua socialização. Sem estas haveria apenas uma competência abstrata para lidar com os dados do passado, mas não a memória. (BOSI, 1995, p.73)

Portanto, o ato de contar convive com a escrita e com os meios da

comunicação, com os quais as histórias sobrevivem. Pode-se dizer que meios

mudaram, mas o ato de contar continua vivo. Assim compreendida, a contação de

histórias pode ser uma importante aliada em busca de estratégias para garantir ao

trabalho docente resultados promissores em relação à leitura e escrita em sala de

aula. Neste sentido, para Machado, “contar, dramatizar ou escrever uma história,

recontar uma história ou dramatizar um texto requer uma estratégia comum: colocar

em cada palavra ou frase uma expressão particular, carregando-a de sentido” (1994,

p.21).

A prática de ouvir ou contar histórias muitas vezes gera a necessidade de

escrevê-las a partir do que se ouviu, diante de histórias criadas e contadas pelo

povo, de modo expressivo com dramatização e encantamento. Por isso, contar bem

uma história requer um aprendizado e preparação para a consciência da linguagem

para a produção escrita de histórias e textos.

Ao contar uma história oralmente, todo narrador se preocupa não somente em apresentar uma situação. Ele quer que sua história fique gravada na mente de seu ouvinte, para que ele seja capaz de recontá-la. (MACHADO, 1994, p.24)

Segundo Machado, as narrativas orais possibilitam modificar a história cada

vez em que é contada. O ato de falar nunca se repete. Dessa forma, uma mesma

história pode gerar muitas narrativas diferentes. No entanto, as histórias populares

sobrevivem ao tempo, por tratarem de temas universais e narrarem de forma

altamente literária. São contadas, recontadas e reescritos infinitas vezes, passando

de uma geração a outra com a mesma vivacidade. Conforme Machado, o “ato de

contar convive, em nosso tempo, com a escrita e com os meios técnicos da

comunicação eletrônica, com os quais as histórias sobrevivem. Os meios mudaram,

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mas o ato de contar continua vivo” (1994, p.21). Isso pode ser confirmado ao

verificar que um dos mais antigos gêneros literários da tradição oral é o conto

popular: “Nasceu no dia em que o homem descobriu que podia colocar sua voz a

serviço de sua imaginação, criando situações, pessoas, lugares, sonhos, em

histórias que pudessem correr o mundo, sem nunca envelhecer” (MACHADO, 1994,

p.28). É possível definir conto popular como uma

manifestação cultural de caráter universal, nascida de modo espontâneo e totalmente indiferente a tudo que seja imposto pela cultura oficial. Também não pode ser entendido como sinônimo regional, pois isto eliminaria a tendência universalizante das manifestações populares. (MACHADO, 1994, p.28).

Contação de história proporciona interação entre eles (alunos) a sala de aula

e o professor, e desperta o interesse e o prazer pela leitura, instigando assim a

formação de bons leitores, que seria o que lê e compreende. O profissional da

educação, quando passa a contador de história, faz do exercício de contar a sua

maneira de falar, deixa de ser pessoa simplesmente e adentra em um mundo que só

a criança compreende. A rotina de sala de aula, enfadonha, se transforma na

subjetividade do prazer, vai além da sua essência, e finalmente o seu objetivo.

Contar história é dialogar em várias direções: é recrear, informar,

transformar, apaziguar e aprender o prazer de escutar. Os contos fomentam a

possibilidade de vida cooperativa, interativa e até fraterna, mas o que importa na

verdade é esse clima favorável à aprendizagem.

2.3 O gênero conto em sala de aula

É possível dizer que o conto popular é um gênero narrativo que desenvolve

traços que se repetem em histórias criadas nos mais variados locais e épocas. Suas

características composicionais não conhecem fronteiras de tempo nem de lugar

(MACHADO, 1994, p.28).

Assim, ao constatar que contos populares da tradição oral ainda continuam

presentes na vida de nossos educandos e comunidade, objetivou-se fazer um

levantamento de “causos” abordando a memória coletiva local.

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O trabalho com o gênero conto como objetivo de levar o aluno a falar, emitir

opiniões em conversas significativas vivenciadas em sala de aula, vem resgatar a

oralidade, fazendo os alunos se relacionar com memória, leitura e escrita, e melhor

compreender a esfera social em que vivem, oportuniza outras práticas da produção

textual, por meio de escrever, revisar e reescrever seus textos.

Ressaltamos que contar histórias tem especificidades próprias, que as

distinguem da linguagem falada, e nos dá a idéia de uma memória preservada

através da oralidade. Implica uma capacidade de apresentar ou sugerir oralmente

para os ouvintes as imagens e situações contidas no texto, pois, “o elemento oral

permite uma variedade de opções, possíveis somente na comunicação de viva voz”

(ZILBERMAN, 1990, p.111).

Podemos, então, identificar a contação de histórias como uma atividade de

comunicação vocal do texto escrito, que comporta uma dimensão lúdica. A contação

de histórias proporciona, de modo significativo ao educando, a compreensão da

importância que a leitura e a escrita têm para a formação do indivíduo.

Ao ler e escrever uma história a criança desenvolve todo um potencial

crítico. A partir daí ela pode pensar, duvidar e questionar. Pode se sentir querendo

saber mais e percebe que se pode mudar de opinião. É preciso saber se gostou ou

não do que foi contado e se houve concordância ou não com a história que ouviu. E

perceber se ficou envolvido, querendo ler de novo ou algumas partes, formar opinião

própria, ir formulando os próprios critérios, começar a apreciar um gênero, uma

ideia etc.

A escola precisa se apropriar das histórias em geral com o intuito de levar a

criança a resolver seus próprios conflitos, importantes para elas, mesmo quando

para a escola esses problemas lhes parecerem fúteis. Levando–se em conta a

importância, ao menos quantitativa, que a escola tem na vida do aluno. Há que se

transportar para a escola também o objeto mágico para conformá-la aos desejos do

educando e torná-la mais humana. Somente a partir dessa humanização da própria

escola, é que a aprendizagem se tornará prazerosa e consequentemente

significativa. O que faz a história estimulante é o que proporciona a criança coragem

para que ela enfrente suas dificuldades pessoais. As interpretações adultas por mais

corretas que sejam, acabam impedindo a possibilidade ou a oportunidade que a

criança teria por si só de enfrentar com êxito uma situação difícil e real para ela.

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Uma história é feita, na cabeça do ouvinte, pela construção de expectativas,

frustrações, reconhecimento e identidades.

3 Relato de experiência: da oralidade à escrita

Foi desenvolvida uma prática docente com atividades aplicadas em aulas de

Língua Portuguesa em uma 6ª série de ensino fundamental, na Escola Estadual

Prof.ª Hercília de Paula e Silva, contando com duas aulas semanais, durante dois

meses consecutivos.

Na perspectiva aqui adotada, optou-se pelo trabalho com o método

recepcional, que possibilitou ao aluno efetuar leituras compreensivas e críticas, ser

receptivo a novos textos e a leituras de outrem, questionar as leituras efetuadas em

relação a seu próprio horizonte cultural, transformar os próprios horizontes de

expectativas bem como do professor. Consequentemente, a ruptura do horizonte de

expectativas pela introdução de textos e atividades de leituras se deu a partir do

momento em que o aluno passou a entender as histórias e causos motivados pela

marca do imaginário.

A leitura da poesia de Carlos Drummond de Andrade, intitulada Alguns anos vivi em Itabira, foi explorada também como forma de desenvolver habilidades

de leitura e escrita, que vieram ressaltar o trabalho de contar historias e lembrar-se

de nossas memórias, assim como nos lembramos de pessoas que já passaram por

nossas vidas.

Nesta etapa, os alunos puderam produzir seus textos, colocando suas

lembranças ainda de infância, exercitaram e refletiram através da escuta de cada um

com sua historia, suportaram receber histórias fragmentadas que nem sempre

pareciam ter sequência, identificando-se com alguns personagens e não nos

afinando com outros, participando da história de cada um aquilo que foi colocado, de

momentos tristes e alegres.

Os alunos foram receptivos para leitura de outro texto, o soneto O golpe 1964, que trouxe contribuição para se fazer notar que a Poesia também é uma das

formas de contar histórias e valorizar memória.

Após a leitura do texto Revolução de 1932, escrito por uma aluna, foi

explorada a pesquisa junto à disciplina de Historia, a partir da qual os alunos

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puderam produzir um texto narrativo, se colocando como narradores e enfrentando o

mesmo problema da invasão das tropas gaúchas.

Foi proposto a eles que realizassem entrevista em duas semanas de aula

com pessoas da comunidade que viveram a época de 1964. Eles se organizaram

em cinco grupos de seis alunos, foram orientados para que a entrevista fosse feita

apenas com pessoas da família e conhecidos vizinhos, contando que cada aluno

teria a sua tarefa e que estabelecesse uma relação amistosa. Deixando que as

questões surgissem naturalmente, evitando-se que a entrevista assumisse um

caráter de um interrogatório, ou ainda que a entrevista se tornasse um "questionário

oral". Os alunos foram orientadores para serem objetivos, já que entrevistas muito

longas poderiam se tornar cansativas para o entrevistado. Deveriam sempre

encorajar o entrevistado para as respostas, anotando-as.

Após a coleta de dados trouxeram fatos relacionados à história e tudo que

descobriram. Em seguida, houve a contação para seus colegas de turma, narrando

fatos que ouviram ou pesquisaram e que acharam interessante. Foi um momento

que, em sala de aula, contaram e recontaram a história sem fazer leitura, praticando

a oralidade e potencial de contar historia. Neste momento, o aluno transforma seus

próprios horizontes de expectativas.

Foi explorado o recurso do uso do discurso direto e indireto com atividades

propostas a partir do texto. Para que fosse possível reproduzir uma história ouvida

ou uma lenda no formato de narração os alunos puderam dominar as marcas do

discurso, passando da oralidade para a escrita. Puderam observar que, quando

alguém fala, notamos que a frase possui melodia, entonação. Na escrita, para

substituir a melodia, a entonação, usamos muitos recursos, entre eles o da

pontuação e de outras formas como discurso direto e indireto para indicar quem está

falando. O discurso direto é quando as personagens falam. O narrador interrompe a

narrativa, põe as personagens em cena e cede-lhes a palavra. É a reprodução fiel

da fala das personagens. No discurso indireto, o narrador utiliza suas próprias

palavras para reproduzir a fala da personagem. Assim, o aluno pode responder e

identificar em que discurso se encontra a fala do personagem e qual é o recurso

utilizado no texto, para demarcar que é a personagem que fala.

Na sequência dos trabalhos, eles entraram em contato com o gênero Conto,

uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho,

mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas

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profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e

há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge. No conto, tempo

e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os

próprios acontecimentos podem ser dispensáveis.

Houve a ampliação do horizonte de expectativas com a leitura de um conto

de Ricardo de Azevedo, O caso do espelho. Após a leitura, os alunos leram e

fizeram comentários e questionamentos, indagando se nos dias de hoje poderia

existir alguém que ainda não conhecesse um espelho. Fizeram leitura de uma

lenda também contada por um aluno, O tapa invisível, que foi recebida com

sucesso. A leitura trouxe medo e insegurança frente ao desconhecido e vimos como

se faz necessária a fantasia e histórias de suspenses. Os alunos reproduziram o

texto com final diferente e com desenhos interpretativos

Atendendo ao horizonte de expectativas foram explorados dois textos de

Samir Curi, Um ser fantástico e O lobisomem. Após leituras e comentários,

fizeram a análise do primeiro texto, no qual Mariza é a heroína da história porque

salvou o menino e como isso aconteceu. Foram instigados a responder questões

como:

Por que hoje Marisa diz a seus estudantes que “essa história de lobisomem é

bobagem”?

O que acham que significa a frase “o lobo do homem é o próprio homem”?

Há expressões que marcam o momento exato em que as ações ocorreram?

Depois, a partir do texto Um ser fantástico, do mesmo autor, responderam

aos questionamentos:

Você acredita em lobisomem?

Que características tem esse ser fantástico para receber esse nome?

Como você acha que ele é antes de se transformar? E depois da transformação?

O lobisomem é uma lenda brasileira ou é conhecida de outros povos?

Em que condições você acha que um ser humano pode se transformar em

lobisomem?

Como você acha que as pessoas podem se defender do lobisomem?

Como fazer para quebrar o encanto para sempre (para ele voltar ao normal)?

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Após as comparações e observando as diferenças entre os dois textos,

verificou-se que o texto, O lobisomem, é um texto narrativo, de ficção, que

apresenta cenário, personagens, complicação e desfecho. Em contrapartida, Um ser fantástico é um texto que não conta uma história sobre o lobisomem, mas traz

informações sobre esse personagem folclórico. Trata-se, portanto, de um texto

informativo. Foi feito a leitura também do texto intitulado Lobisomem, do contista

Raimundo Magalhães. Em seguida, desenvolveram atividade de comentários e

reprodução do texto, contando com suas palavras.

Portanto, depois da leitura e de comentários observou-se que é muito

comum os alunos ouvirem histórias de lobisomem e que muitos avós ainda contam

histórias de medo, saci, mula-sem-cabeça, para eles. Constatou-se que essa prática

era comum entre os alunos e que muitos ainda tinham essa tradição de contar

histórias oralmente entre seus familiares. Além disso, percebeu-se que há um

grande interesse entre os alunos. Assim, foi solicitado para que eles coletassem

essas histórias com seus pais, avôs, tios, vizinhos.

Finalizando, fizeram entrevistas coletando histórias, selecionando a que

mais gostaram, apresentando para a sala, fazendo a reprodução de desenhos

interpretativos dos textos coletados.

As atividades, portanto, atenderam as etapas do método recepcional de,

1) Determinação dos horizontes de expectativas; 2) Atendimento aos horizontes de

expectativas; 3) Ruptura dos horizontes de expectativas; 4) Questionamento dos

horizontes de expectativas; 5) Ampliação dos horizontes de expectativas.

Com a prática realizada foi possível observar a necessidade de valorizar a

fala do aluno no cotidiano em sala de aula, pois ela é um instrumento essencial no

processo interacional humano. Entretanto, parece que, atualmente, o ensino

tradicional de Língua Portuguesa na escola não cria condições para que os alunos

vivenciem esse desenvolvimento da linguagem oral, para se trabalhar com a

oralidade em sala de aula. Constatou-se na proposta de contação de histórias um

desenvolvimento crescente, pois a cada aula os alunos apresentavam maior

desenvoltura e um cuidado maior com o seu discurso oral. Percebeu-se, ainda, que

o ato de falar em público para os educandos se constitui num desafio que poderá ser

vencido se houver condições de possibilidade para que se aconteça esta prática.

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A contação de histórias age na formação da criança, contribui no

desenvolvimento intelectual, desperta o interesse pela leitura e estimula a

imaginação por meio da construção de imagens interiores e dos universos da

realidade e da ficção, dos cenários, personagens e ações que são narradas em cada

história. Amplia o universo literário, sendo sempre um exercício de renovação da

vida, um encontro com possibilidades e desafio em todas as circunstâncias.

Outro ponto relevante é o da atuação no desenvolvimento comunicativo devido a

sua provocação de oralidade que leva a criança a dialogar com seus colegas

ouvintes e a contar a história para seus amigos que não estavam presentes naquele

momento. Com isso, também é desenvolvida a interação sócio-cultural da criança ao

proporcionar essa interação entre alunos e a criação de laços sociais. A criança

recebe influência até em seu desenvolvimento físico, devido ao uso que faz da voz

de que faz uso ao ouvir e recontar as histórias.

São muitas as possibilidades de abordagem do texto literário para

vivenciarem o contar de histórias, associando a teoria e a prática a partir de como a

memória afetiva e as histórias da infância promovem a interação com os outros

textos.

As histórias também desenvolvem uma função de construção de

conhecimento social da realidade junto à formação de valores e conceitos, pois,

embora seja ficção, o texto literário tem o poder de revelar a realidade social e até

desmascarar suas mentiras, por isso contar e ouvir histórias é uma possibilidade

libertária de aprendizagem e uma atividade de suma importância na construção do

conhecimento e do desenvolvimento ético e significativo da criança.

Conclusão

A dura realidade de nossa época mostra que dia após dia aumenta o núme-

ro de crianças que vêem os pais cada vez menos e passam a maior parte do tempo

sozinhas. Razões econômicas e sociais forçam esta realidade. Por isso, é de suma

importância que pais e professores batalhem pelo resgate do lúdico, do gosto pela

expressão oral/corporal, do gosto pela leitura, pelo desenvolvimento dos sentidos e

sentimentos.

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Considerou-se muito boa a experiência vivenciada no PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional), pois ela contribuiu muito para repensar prática do-

cente e também como experiência de vida. Creio que o resultado alcançado com a

prática proposta e aqui relatada foi de grande relevância para o ensino da escola pú-

blica.

O projeto de intervenção possibilitou a interação social e observou-se,

também, a mudança no comportamento dos alunos quanto à valorização da cultura

popular da comunidade, pois a coleta das histórias proporcionou o diálogo entre

avós/avôs e netos.

Destaque-se que, quando se abordou o tema da atenção às histórias, o

interesse e envolvimento foi geral. Apesar de algumas falhas textuais, como erros de

ortografia, os alunos recontaram as histórias com coerência e criatividade, alguns

mais concisos e objetivos, outros não, mas todos produziram bons textos.

Diante do exposto, pode-se dizer que nestas últimas décadas a escola tem

compreendido muito pouco sobre o que a prática de ouvir e contar histórias pode

significar para os seres humanos e para a nossa cultura. Nesta perspectiva, a

prática de Contação de Histórias desenvolvida em sala de aula exigiu uma postura

de pesquisa, tanto do docente quanto do discente, tornando cada vez mais as aulas

de Língua Portuguesa um espaço de motivação, com a possibilidade da produção

textual do conhecimento, explorando e valorizando os aspectos culturais a serem

resgatados.

O momento que proporciona interação entre alunos e o professor e que,

além do mais, desperta o interesse e o prazer pela leitura, instigando assim o aluno

leitor, que seria o que lê e compreende, faz do exercício de contar a sua maneira de

falar, deixa de ser pessoa simplesmente e adentra em um mundo que só a criança

compreende. A rotina de sala de aula, enfadonha, se transforma na subjetividade do

prazer, vai além da sua essência, seu objetivo e, finalmente deixa de promover bons

leitores.

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