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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO-SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

O ALCOOLISMO NO CONTEXTO ESCOLAR E FAMILIAR

Autora: Elizabeth Cotting dos Santos11

Orientador: Wagner José Martins Paiva22

Resumo

A violência doméstica é um fator preocupante na sociedade atual causada na maioria das vezes pelo uso abusivo de bebidas alcoólicas, que vem atingindo uma parcela significativa dos educandos, prejudicando o ensino-aprendizagem, pois na maioria das vezes esses educandos são vitimas de maus tratos dentro de suas casas, onde a dependência provém de seus genitores, irmãos ou o próprio educando é um dependente químico. Esse trabalho buscou conscientizar e amenizar a problemática no contexto escolar buscou também o envolvimento de toda a comunidade escolar e foi uma maneira de trazer os familiares à escola, uma vez que na atualidade, essa é uma tarefa muito difícil. A turma específica trabalhada foi a 8ª série e foi uma grande parceira no desenvolvimento dos objetivos traçados no projeto, porém houve também a colaboração de outras turmas. O álcool é a droga mais utilizada entre estudantes de 1º e 2º graus. Seu uso tem início precocemente, sendo que 50% dos adolescentes entre 10 e 12 anos já fizeram uso dessa

substância.

Palavras-chave: Alcoolismo. Violência doméstica. Processo ensino-aprendizagem.

Abstract

Domestic violence is a concern in today's society most often caused by overuse of

alcohol, which has reached a significant portion of students, undermining teaching

and learning, because most of the time these students are victims of abuse within

their homes, where the dependency comes from their parents, siblings or even the

student is a drug addict. This study aimed to create awareness and alleviate

problems in the school context, also sought to involve the whole school community

and was a way to bring the family to school, since in actuality, this is a very difficult

task. The class was specifically crafted to 8th grade and was a great partner in

developing the goals outlined in the project, but there was also collaboration with

other groups. Alcohol is the most widely used drug among students of 1st and 2nd

degrees. Their use starts early, with 50% of adolescents between 10 and 12 years

have made use of that substance.

1 1Pós-Graduada em Biologia Aplicada em Saúde, Professora no Col. Est .Dr.Rebouças -Rio Bom/PR

2 2Doutor Professor em Genética, Professor Universidade Estadual de Londrina (UEL), Departamento

de Centro de Ciências Biológicas (CCB)-Londrina/PR

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Keywords: Alcoholism. Domestic violence. Teaching-Learning Process.

Introdução

O uso de álcool principalmente entre jovens, tem se alastrado

vertiginosamente nestas últimas décadas, tornando-se um dos problemas sociais

mais complexos da atualidade.

A Organização Mundial da Saúde (2001) afirma que os transtornos mentais

e de comportamento decorrentes do uso de bebidas alcoólicas caracterizam-se por

um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso

do álcool alcança uma prioridade muito maior para um indivíduo que outros

comportamentos que antes tinham valor.

Para Nunes (1999) o alcoolismo afeta em média 8% a 10% da população

adulta brasileira. Mas, deve-se considerar que o índice de menores que fazem o uso

do álcool atinge um alto patamar na escala desses dependentes. O álcool é

responsável de 9% a 32% dos leitos hospitalares. O abuso do álcool está associado

a mais de 50 % dos acidentes com mortes, mais de 50% dos homicídios, mais de

25% dos suicídios e reduz a expectativa de vida em cerca de dez anos. O

alcoolismo é a quarta causa de mortes entre homens de 20 a 40 anos por cirrose

hepática, acidentes, suicídio e homicídio.

Um dos grandes obstáculos para o controle do álcool é o fato de seu

consumo ser aceito pela sociedade, como parte de um “estilo de vida”.

As crianças crescem em um ambiente onde as bebidas alcoólicas são

anunciadas e vendidas em todo lugar, como se beber fosse um comportamento

normal e desejável, pois pessoas respeitadas, artistas de televisão e até seus

familiares bebem.

Ainda na visão de Nunes (1999) as bebidas alcoólicas, além de sequelas

físicas, produzem sequelas emocionais e psicológicas, pois não só o dependente

sofre, mas todos os seus familiares, os quais, na maioria das vezes, não conseguem

conviver com os transtornos comportamentais produzidos da pessoa dependente.

Desse modo, as casas de recuperação estão sempre cheias de pessoas com sérios

distúrbios provocados pelo uso do álcool.

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A proporção entre homens e mulheres estão se equiparando cada vez mais.

Até pouco tempo estava em média três homens para uma mulher. Hoje está em

menos de dois homens para cada mulher.

A Organização Mundial da Saúde (2001), há décadas define o alcoolismo

como uma doença complexa. O álcool atua como fator determinante sobre causas

psicossomáticas pré-existentes no indivíduo, cujo tratamento faz-se necessário

recorrer a processos profiláticos e terapêuticos de grande amplitude. O álcool,

segundo a OMS é o terceiro maior fator de risco tanto de morte como de

incapacidade na Europa, embora entre jovens já tenha se transformado em primeiro,

com mais de 55.000 mortes ao ano de pessoas entre 15 e 29 anos, especialmente

devido a acidentes de trânsito. No mundo todo, é o quinto maior fator de morte

prematura e incapacidade e provoca quase 5% da carga mundial de morbidade, já

que mais de 60 doenças são associadas ao seu consumo.

Mais de 2,3 milhões de pessoas morrem por ano, no mundo todo, devido a

problemas relacionados ao consumo de álcool, que totaliza 3,7% da mortalidade

mundial, de acordo a OMS. Os efeitos agudos do álcool ocorrem principalmente no

Sistema Nervoso Centra (SNC), e basicamente atinge as funções psicomotoras e de

coordenação, além das mudanças comportamentais. Variam de acordo com o

indivíduo, sendo proporcional à quantidade de álcool ingerida. O álcool prejudica a

memória recente, e em altas doses, produz o fenômeno do apagamento (Black out),

após o qual o etilista não se recorda de seu comportamento durante a embriaguez.

Os efeitos do álcool podem se manifestar desde a falta de coordenação

motora, sonolência, efeito sedativo, levemente euforizante, labilidade do humor, até

coma e morte (PEREIRA et al., 2002)

Conforme Sciviletto (2001) os adolescentes não estão imunes às

consequências físicas causadas pelo álcool. Na maioria dos casos, o organismo do

jovem é mais resistente às agressões que o do adulto. Assim, danos imediatos

causados pelo uso do álcool na adolescência são de ordem sócio-comportamentais,

tais como: comportamento agressivo e inapropriado, queda do rendimento escolar,

irritabilidade, habilidades sociais (tais como a cooperação e a interdependência) e

relacionamentos interpessoais (laços afetivos) empobrecidos, afiliação com pares

que apresentam comportamentos desviantes e percepção de que a escola, entre os

pares e na comunidade, existe aprovação do comportamento do uso de drogas.

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No Brasil, o álcool é responsável por mais de 90% das internações

hospitalares por dependência, além de aparecer em cerca de 70% dos laudos

cadavéricos por mortes violentas. É uma das maiores causas de aposentadorias por

invalidez e uma das que mais causam transtornos mentais. O uso indiscriminado do

álcool traz enormes prejuízos à sociedade e à economia, pois ocorre em indivíduos

em plena fase reprodutiva do trabalho, aumento dos acidentes de trabalho e

absenteísmo, sem contar os malefícios os malefícios para a saúde física e mental do

usuário (PEREIRA et al., 2002).

O uso do álcool e outras drogas estão relacionados com 50% dos suicídios

entre jovens com 80% a 90% dos acidentes automobilísticos na faixa de 16 aos 20

anos, sendo que a maioria dos usuários de outras drogas, principalmente o álcool é

a droga mais usada em qualquer faixa etária (KANDEL, 1996).

No Brasil, o uso do álcool vem aumentando assustadoramente entre jovens

entre 12 e 15 anos de idade e entre as meninas. Segundo o “V Levantamento

Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do ensino

fundamental e médio da rede pública de ensino em 25 capitais brasileiras”, realizado

em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

(CEBRID), 65,2% dos estudantes relataram uso na vida de álcool; 44,3% nos

últimos trinta dias; 11,7% uso frequente: 6,7% uso pesado (GAULDURÓZ et al.,

2005).

Vários autores levantaram os dados mais recentes sobre o consumo de

álcool, fumo e outras drogas mais comuns no Brasil, concluindo que o álcool e o

fumo são substâncias mais usadas e abusadas entre os adultos e entre os

estudantes de 1º e 2º graus, o álcool é também a droga mais utilizada (80,5%

usaram pelo menos uma vez na vida, 18,6 % usam frequentemente) (SILBER,

1998).

O álcool é a droga mais utilizada entre estudantes de 1º e 2º graus. Seu uso

tem início precocemente, sendo que 50% dos adolescentes entre 10 e 12 anos já

fizeram uso dessa substância (GALDUROZ et al., 1997).

Alguns produtos tóxicos são combatidos e criminalizados, sendo sua

comercialização passível de pena, entretanto o cigarro e as bebidas alcoólicas,

embora prejudiciais, são socialmente aceitas.

Todos Têm Direitos Mas, Não Podem Esquecer-se dos Direitos Alheios

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De acordo com Delgado (1990) os defensores da prevenção voltada para a

Redução de Danos, a política de guerra contra toda e qualquer forma ou padrão de

uso de drogas fere o direito das pessoas de disporem livremente de seu corpo e de

sua mente, ou seja, de alterarem o seu estado de consciência, por meio de

substâncias, se assim o quiserem.

Ainda na visão de Delgado (1990) neste contexto, o usuário maior de idade

é entendido como um sujeito de direitos e também de deveres, entretanto, existe um

conflito entre o direito da escolha individual e o direito de uso, ou seja, as escolhas

do indivíduo não devem colocar em risco os direitos de outros indivíduos. Um

exemplo que ilustra bem esse ponto é o fato de qualquer pessoa poder comprar um

cigarro, mas este não pode ser consumido em qualquer local, para não ferir o direito

dos que optaram por não fumar e, assim, proteger a sua saúde.

Galduróz (2005) afirma que o mesmo acontece com as bebidas alcoólicas,

que são livremente vendidas em bares, lanchonetes e supermercados, mas que

produzem viciados que causam transtornos irreparáveis em suas famílias, ao se

comportarem de forma violenta ou negligenciando em relação às suas

responsabilidades familiares. Os alcoólatras, de um modo geral, transtornam a vida

do lar e impactam principalmente as crianças, devido ao desiquilíbrio emocional que

provocam.

Conforme Filho (2000) beber tem diferentes efeitos em diferentes pessoas, e

a mesma quantidade de álcool pode afetar as pessoas de diferentes formas em

diferentes ocasiões. Os efeitos variam com:

A quantidade de álcool – quanto mais álcool, maior o efeito;

O peso corporal – indivíduos que pesam mais são menos afetados pela

mesma quantidade de álcool do que aquelas que pesam menos;

Alimentação – a comida torna mais lenta a passagem do álcool do

estômago para o intestino, minimizando os efeitos do álcool;

Atitude – a pessoa que tem intenção prévia de ficar alcoolizada sente

mais facilmente os efeitos da bebida.

Filho (2000) afirma que muitos desses fatores colocam os jovens em

situação de desvantagem, tornando-os mais vulneráveis aos efeitos do álcool como ,

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por exemplo, menor peso, alimentação irregular e a intenção frequente de ficar “mais

desinibido”.

Ainda, segundo Filho (2000) como o álcool é uma droga socialmente aceita,

o seu acesso é muito facilitado aos adolescentes, mesmo sendo proibida a venda a

menores. Eles são estimulados pela publicidade direta e indireta, bem como, pelo

exemplo dos adultos com os quais convivem e admiram. A influência dos amigos e

do grupo também é muito importante e, geralmente, ocorre da seguinte forma: no

começo, um amigo convida e ele sem jeito de dizer não, fica mesmo com vontade de

experimentar uma cervejinha, afinal, todos tomam, até os pais, e a propaganda diz

que é uma paixão nacional! Depois ele continua bebendo e, a cada vez que sai,

aumenta a quantidade. A tolerância vai acontecendo, uma pequena quantidade não

o deixa mais com aquela “tonteirinha” e fica mais desinibido; ele já precisa mais, e

assim a ingestão de álcool vai aumentando. Aqueles que têm tendência genética a

desenvolver o alcoolismo passam a consumir mais e mais bebidas alcoólicas, já não

têm mais hora, qualquer hora é hora, pode ser até no período da manhã e sozinho.

Os alcoolistas passam a ter uma necessidade tão grande dessa droga que

ela passa a ser mais importante na vida deles do que qualquer outra coisa ou

pessoa: isso é dependência. O indivíduo passa a viver em função da droga, sempre

procurando uma maneira de obtê-la para utilizá-la, pois só assim deixará de sentir o

mal-estar que a ausência dela causa no organismo. Este mal-estar é a abstinência.

Para Delgado (1990) a síndrome da abstinência do álcool, que leva em

média, 10 a 15 anos para se desenvolver, varia de formas mais leves (tremores nas

mãos, inquietação, insônia, irritabilidade) até o “delirium tremens”, que pode levar à

morte. Neste caminho, o alcoolista perde o ano escolar, o emprego, se afasta dos

amigos, tornando-se cada vez mais agressivo com a família e além de fazê-la sofrer,

se afasta dela e, por fim, destrói seu próprio organismo, com lesões no fígado, no

pâncreas, no estômago, no sistema nervoso central, o que causa inclusive, a

deterioração da memória. Nesse caso, é necessário tratamento médico, já que a

pessoa está correndo o risco de morrer.

De acordo com a UNIAD (2010) o álcool diminui a capacidade de

concentração, de avaliação de distâncias e velocidades, sem noção espacial,

perdendo os reflexos. Por isso, nunca se deve dirigir depois de beber. A lei seca

(11.705/08) proíbe que qualquer motorista faça ingestão de bebidas alcoólicas

mesmo que em pequenas quantidades. O aparelho usado para fazer o teste é

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chamado de bafômetro – que permite medir a taxa de álcool eliminado pelos

pulmões sob a forma de vapor.

Delgado (1990) demonstra preocupação com o consumo de álcool durante a

gravidez que aumenta o risco de aborto, além de causar problemas no feto: a

criança pode nascer com retardamento mental ou outras complicações.

Os alcoolistas devem procurar tratamento médico e psicológico, pois

segundo a OMS (2001) o alcoolismo é uma doença e como tal deve ser tratada. O

alcoólico bebe compulsivamente e dentre as demais síndromes da abstinência,

podem até surgir convulsões. Ainda se discutem as causas do alcoolismo, mas, o

stress, os fatores hereditários, o ambiente social e familiar podem influir nesse

problema.

Entretanto, apesar das evidências empíricas, há muitas dúvidas quanto às

explicações causais de uso de álcool e a prática de violências, e ainda não foi

possível inferir que tal uso afete o comportamento das pessoas envolvidas. Logo,

não é possível saber se essas pessoas, em estado de abstinência, teriam cometido

as mesmas transgressões. Tampouco é possível discernir se o uso de drogas,

estando associado a outros aspectos, desencadeia comportamentos violentos ou se

é, por si, um fator causador (MINAYO, 1999).

Na visão de Delgado (1990) especialmente em relação à negligência,

segundo um artigo que analisa essa temática, também “o alcoolismo tem uma

grande importância, sobretudo ocasionando violências incontroláveis e, no caso de

ser crônico, provocando negligência e abandono dos cuidados com o filho”.

No estudo de Lopes (2009), com 103 vítimas, o alcoolismo figura como o

terceiro fator desencadeante de maus-tratos mais importante com o porcentual de

17,42% no conjunto de todos os fatores.

Seguindo o pensamento de Lopes (2009) nas baladas e nas festas em

família, as mulheres já se igualam aos homens na ingestão de bebidas alcoólicas,

mas, o que poderia ser um exemplo de conquistas femininas é, na verdade, motivo

de preocupação. As características fisiológicas da mulher dão a ela maior

vulnerabilidade ao álcool, fazendo com que absorva 30% mais da substância

ingerida que os homens e apresente uma alcoolemia maior, isto é, são mais

devastadores que no sexo masculino.

Lopes (2009) explica que a distribuição da gordura corpórea e os hormônios

que atuam no organismo feminino são os responsáveis pela maior vulnerabilidade

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da mulher. Mesmo sendo mais frágeis, quando elas adquirem o hábito, bebem na

mesma quantidade que os homens.

De acordo com dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas na

Universidade de São Paulo (USP), responsável pelo Programa de Atendimento à

Mulher Dependente Química (PROMUD), as dependentes de droga ou álcool

também são mais penalizadas, porque têm cerca de 1,5 a 2 vezes mais chances do

que os homens de contraírem complicações clínicas. Doenças como pancreatite,

cirrose e neuropatias aparecem de forma mais grave nelas do que neles. A

mortalidade é outro item que difere entre homens e mulheres alcoolistas. A idade

media de vida delas diminui cerca de 15 anos.

Segundo estatísticas do CAPS/AD – Centro de Atenção psicossocial/Álcool

e Drogas (Londrina), o perfil das usuárias de álcool são mulheres mais maduras,

enquanto as mulheres mais novas envolvem-se também com outras drogas quando

estão sob o efeito do álcool.

Em geral, as mulheres, por serem mais censuradas socialmente, bebem

predominantemente em casa, ás escondidas; os homens o fazem em público, em

bares com os companheiros e voltam para casa embriagados;

A dependência do álcool em mulheres se dá a partir da ocorrência de

eventos significativos, como a morte do cônjuge ou uma separação, diferentemente

dos homens, que não apontam desencadeamento especial;

A diferença também se faz notar na expectativa das mulheres em

relação a ajuda; elas esperam um tratamento abrangente que venha curar não só a

dependência mas, principalmente, as suas dificuldades emocionais e de vida;

Enquanto a mulher alcoolista é mais encorajada a procurar ajuda

especializada pelos pais e filhos, o homem é estimulado pela companheira;

As diferenças fisiológicas levam as mulheres a uma vulnerabilidade

maior para todas as drogas; elas têm mais gordura corpórea proporcionalmente à

agua e apresentam níveis menores da enzima que ajuda a metabolizar o álcool

ingerido, daí a alcoolemia;

Doenças como pancreatite, cirrose e neuropatias aparecem de forma

mais grave nas mulheres que nos homens, diminuindo sua idade em média 15 anos.

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Para Yunes (1994) outro risco são os sintomas obstétricos e a síndrome fetal

pelo uso de álcool (SFA), que causa frequentemente má formação e deficiência

mental em recém-nascidos.

Observação importante: O primeiro passa para se conseguir vencer o vício

do alcoolismo é querer ser ajudado. O sim do alcoólatra já é um bom começo e após

isso, a perseverança e a dedicação completam o tratamento.

É mais fácil ser levado a ingerir álcool socialmente, mas é muito difícil prever

se a mesma pessoa passará a usar álcool socialmente ou se tornará dependente.

Deve-se então:

Criar campanhas educativas, esclarecimentos sobre os efeitos maléficos

do álcool no organismo,

Criar condições que permitam aos jovens uma vida social mais intensa,

estimulando atividades sociais, profissionais e desportivas,

Proibir bebidas alcoólicas no ambiente de trabalho e dirigir,

Participar ativamente de movimentos religiosos, valorizando a família,

etc.

Yunes (1994) diz que o alcoólatra deve ser encarado como alguém que

precisa de tratamento, portanto o alcoolismo é uma doença.

Nos últimos anos surgiram remédios que, agindo no cérebro, diminuem a

vontade de beber. Mas é preciso acompanhamento médico e, principalmente força

de vontade para largar a bebida.

Motivos para Beber

Segundo Lopes (2009) há muitos motivos para se beber. É praticamente

impossível responder a essa questão: bebe-se para ficar alegre, para esquecer, para

comemorar, para matar a sede. O álcool contido nas bebidas é a droga psicoativa

mais consumida no mundo, um produto milenar e tradicional, presente em

praticamente todas as comemorações contemporâneas.

No entanto, para Lopes (2009) a decisão de beber não é só uma escolha

individual. Por trás da vontade de matar a sede com uma cervejinha, comemorar a

vitória do time com chope, oferecer vinho ou aperitivo para a namorada, está-se

consciente ou inconscientemente, fazendo o que a propaganda sugere.

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Todos os anos as pessoas são inundadas por propagandas diretas ou

indiretas (cenas de novela, filmes, marcas usadas por esportistas) para que o nosso

gesto de abrir uma latinha de cerveja seja repetido o mais frequentemente possível,

(LOPES, 2009).

A influência do marketing, na opinião de Lopes (2009), tem sido importante

fator para o aumento da ingestão de bebidas em nosso País. O consumo per capita

de álcool cresceu 154,8% entre 1961 e 2000, situando o Brasil entre os 25 países no

mundo que mais aumentaram o consumo de bebidas alcoólicas durante esse

período.

Segundo Yunes (1994), no período de 1979 a 1990, Brasil, Colômbia e Cuba

apresentaram uma tendência francamente crescente de mortalidade por causas

externas em todos os grupos de idade, especialmente entre indivíduos de 10 a 24

anos. Segundo os autores, Colômbia, Brasil, Panamá, Porto rico e Venezuela

destacam-se na mortalidade por homicídios ou lesões intencionalmente aplicadas,

sobretudo entre jovens e adolescentes.no Brasil, a violência contra crianças e

adolescentes ganha contornos dramáticos. As diversas formas de causas externas

são as principais responsáveis pelas mortes de crianças a partir de cinco anos,

estendendo à adolescência e seus funestos e mortais efeitos.

Objetivos do Presente Trabalho e Suas Realizações

O objetivo desse trabalho foi estudar alunos de 7ªs e 8ªs séries e também

alunos do Ensino Médio, através de um questionário autoexplicativo e

autoresponsável, para conhecer a prevalência de álcool entre os alunos, seus

familiares e amigos visando:

Estimar a prevalência de consumo de álcool entre os alunos do Ensino

fundamental e Médio.

Avaliar a relação do álcool e a idade do início.

Analisar o fator de risco para o consumo de álcool, assim como o

consumo familiar e de amigos.

Avaliar as características do aluno e sua família.

Ao término da pesquisa, o resultado global foi divulgado em reunião com os

professores, pais e alunos, na própria escola. Foi garantido a cada aluno o sigilo das

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informações obtidas individualmente, enfatizando quanto ao anonimato do

questionário aplicado.

População alvo: alunos do Ensino fundamental e Médio do Colégio Estadual

Dr. Rebouças.

Período da avaliação: Entre os meses de setembro e outubro de 2010.

Questionário contendo: idade, sexo, escolaridade, idade início do consumo

de álcool, entre outros.

Nesse estudo a população alvo é de 125 alunos, entre os três turnos,

matutino, vespertino e noturno, composta de alunos na faixa etária de 13 a 30 anos.

Os alunos foram entrevistados através de um questionário padronizado, por

autopreenchimento e autoaplicável.

A coleta de dados foi realizada em estudo seccional, nos meses de

setembro/outubro de 2010.

O questionário é autoexplicativo e autorespondível onde a garantia do sigilo

das respostas foi respeitado, sem a necessidade da identificação, foi distribuído para

os alunos antes do início de suas atividades escolares, conversando previamente, e

que respondessem individualmente, seguindo orientação do próprio impresso, dando

o tempo necessário para responder o questionário não ultrapassando 10 minutos.

O questionário levanta basicamente:

Caracterização pessoal, sexo, idade, turma, série;

Dados de familiares, trabalho e orientações de problemas;

Dados idade em que começou a beber, história de alcoolismo na família

e amigos, desejo de parar de beber, dificuldades para parar de beber ou diminuir o

consumo alcoólico, crítica e ressaca;

Gostaria de ter informações sobre preservação da saúde.

Resultados

Grafico 1 – Porcentagem de Meninos e meninas entrevistados

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Os resultados referem-se a 122 questionários aplicados a 68 do sexo

masculino (56%) e 54 do sexo feminino (44%), alunos de uma Escola Estadual, de

5ª a 8ª séries e Ensino Médio.

As respostas obtidas no questionário aplicado mostraram que a maioria tem

contato com o álcool. Os dados em porcentagem foram:

Quadro 1- Contato com Álcool

Conclusão

Sendo a bebida alcoólica uma droga é importante conscientizar a população

de que sendo droga pode causar dependência química. Para conscientizar, é muito

interessante utilizar o espaço escolar, aonde os alunos vêm de diferentes realidades.

É importante que os alunos compreendam o quanto o álcool pode prejudicar as suas

vidas, e que com um simples gole, pouco a pouco, podem cair num poço sem fundo.

Os resultados demonstram que pode ser essencial que se desenvolva nas escolas

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projetos que demonstrem aos educandos o que a bebida alcoólica pode fazer de

prejudicial à suas vidas. Os alunos precisam saber que ao entrar para esse mundo,

eles estão optando para ficar à margem da sociedade. Infelizmente a mesma

sociedade que estimula o consumo do álcool é cruel com os que acabam ficando

doentes por se tornarem dependentes dessa substância. É muito comum encontrar

uma pessoa bêbada, caída em qualquer lugar e as pessoas passando por ela

ignorando-a. E esse é um quadro muito triste e que precisa mudar. Os alunos além

de aprender a se afastarem desse perigo, devem aprender a ajudar as pessoas que

não tiveram força ou esclarecimentos suficientes para ficarem longe dessa droga.

O projeto desenvolvido na escola Dr. Rebouças serviu para demonstrar o

quanto o álcool se encontra presente na vida dos alunos. A maioria conhece a

bebida e embora, a porcentagem seja aparentemente pequena dos que tem

alcoolista em casa, provavelmente essa convivência pode estar levando o aluno a

sofrer ou a aprender a seguir o exemplo que está vendo em casa.

É essencial que a escola ensine sempre que para divertir, seus alunos não

necessitam de bebida alcoólica.

Referências

DELGADO, L. F. Síndrome do bebê espancado. São Paulo: Ática, 1990.

FILHO, A. A ciência da saúde. São Paulo: Ática, 2000.

GALDURÓZ, J. C. F. et al. V Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas Entre os Estudantes do Ensino Fundamental e Médio na Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras. São Paulo: USP, 2005.

LOPES, A. D. A Bóia da prevenção. Revista Veja: São Paulo, n. 2129, set. 2009.

MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. É possível prevenir a violência? Reflexões a partir do campo da saúde pública. Ciência e Saúde Coletiva, n. 1, v. 4, 1999.

NUNES, S. O. V. A História familiar e prevalência de álcool e tabaco em área metropolitana na região sul do Brasil. Revista Psiquiatria Clinica, São Paulo, v. 23, n.3, 1999.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Porto Alegre: Arte Médicas, 2001.

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APÊNDICE A

PREZADO ENTREVISTADO:

O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo melhorar a qualidade de

vida na comunidade escolar. Seu sigilo na resposta será respeitado e você não

precisará identificar-se. Agradecemos antecipadamente sua colaboração:

1 – IDADE: ( ) abaixo de 18 anos, ( ) 18 anos ou mais

2 – SEXO: ( ) masculino ( ) feminino

3 – Você já trabalha fora?

( ) sim ( ) não

4 – Você já experimentou algum tipo de bebida alcoólica

( ) sim ( ) não

5 – Na sua casa existe alguém que faz uso de bebida alcoólica?

( ) sim ( ) não

6 – Se sua resposta for sim – assinale quem faz uso da bebida:

( ) pai, ( ) mãe, ( ) pai e mãe, ( ) irmãos, ( ) tios, ( )avós

7 – Como é a atitude da pessoa, caso ela beba, dentro de sua casa:

( ) normal, ( ) agressiva, ( ) alegre , ( ) não consegue trabalhar, ( ) outros

sintomas

8) Caso você beba, que razões o(a) levaram a isso?

( ) incentivo dos amigos, ( ) exemplos na família, ( ) para ter estilo, ( )

curiosidade, ( ) outros motivos como tristeza, depressão etc.

9 – Que idade tinha quando experimentou bebida alcoólica pela primeira vez?

( ) 9 anos ou menos, ( ) 10 a 12 anos , ( ) acima de 12 anos

10 – Na sua opinião, o álcool colaborou no consumo de drogas?

( ) sim, ( ) não

11 – Já tentou parar de beber?

( ) sim, ( ) não

12 – Já acordou algumas vezes de ressaca?

( ) sim ( ) não

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13 – Você sabe dos malefícios que o excesso de bebidas alcoólicas pode acarretar

no seu organismo?

( ) sim ( ) não

14 – Fica ressentido quando alguém te dá conselhos para parar de beber?

( ) sim ( ) não

15 – Você tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?

( ) sim ( ) não