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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 2007 Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4 Cadernos PDE VOLUME II

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Produção Didático-Pedagógica 2007

Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE

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A SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Nome: Jane Ana Kohler Abramoski

Área de Formação: História

IES: UNICENTRO

Orientador: Prof. Dr. Ariel José Pires

NRE: Guarapuava

Produção Didática: Folhas

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HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

“Mais 1,34 milhão de pessoas se autodefinem de cor preta.”

O IBGE afirma que mais pessoas passaram a assumir a própria cor; população de

cor branca passa de 49,9% em 2005 para 49,7% em 2006. Especialistas vêem

influência de ações afirmativas. (Folha de S. Paulo 15/07/07)

Por intermédio da História podemos conhecer melhor a sociedade, como nos

tornamos o que somos, e de onde surgiram as desigualdades que existem e afligem

grupos que dividem o espaço em nossa atual sociedade. Será que sempre foi

assim?

Atividade

1. Discuta com seus colegas de classe e apresente algumas situações:

a. Direitos e deveres são iguais para todos?

b.Você e sua família ocupam que grupo da sociedade? Moram no centro ou na

periferia? Como vivem e que atividades desempenham?

c. Com relação ao sistema de cotas nas Universidades e em concursos públicos,

como você se posiciona? Justifique.

d. Cidadania é algo que se ganha ou se conquista?

Tarefas da História da África

Os descobrimentos sempre impõem ao historiador novas perspectivas

habituadas a exposições que focalizam o passado num determinado tempo e

espaço. Povos da África e do Oriente, por exemplo, tiveram um passado cultural

riquíssimo que deve ser estudado para se compreender o que existia em termos de

realizações humanas num vasto continente como o africano em épocas anteriores

ao processo civilizatório. Por muito tempo, as sociedades africanas foram

consideradas alheias às correntes da História da Humanidade.

Observa-se uma valorização da história da África, principalmente pela

publicação de inúmeros livros, onde cada qual reserva um motivo particular.

Conforme Ki-Zerbo, para os africanos “a revalorização significa a busca da

identidade através de elementos dispersos de uma lembrança coletiva”. Isto se

evidencia principalmente após a conquista da independência de muitos países

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africanos, onde durante a colonização sua história não passava de uma simples

extensão da história do país colonizador, ou ainda “Quebrado que foi o parêntese

colonial, estes países assemelham-se um pouco ao escravo libertado que se põe à

procura dos seus e quer saber a origem dos antepassados”. (Ki-Zerbo, 1972, p.9)

Outro elemento que faz parte dessa revalorização é estabelecido pelo valor

das descobertas realizadas pela história e arqueologia de civilizações inteiras como:

Ife, Nok, Vale do Rif, etc., mostrando a importância da África na história universal. A

África torna-se assunto de interesse saindo da obscuridade para fazer parte do

cenário internacional. Em todos os continentes, entre especialistas e o grande

público surgem perguntas como: Quem são, mesmo, os africanos? De onde vieram?

O que fizeram?

Há todo um público, de não africanos, interessado em conhecer melhor o que

se passou na África, o que propõe uma expectativa e constitui ao mesmo tempo um

desafio, para vencer os obstáculos e dificuldades para se elaborar este trabalho.

Algumas das dificuldades a serem vencidas sobre a história da África são os

mitos que foram construídos por uma determinada historiografia.

Atividade

1. Elabore com seus colegas um painel a respeito da questão do negro.

2. Procure descobrir negros que tenham experiências interessantes para contar,

buscando reconstruir a história da sua comunidade. Observando os seguintes

aspectos: cultural, social, na mídia, na política, na educação etc.

Discurso dos mitos

O mito busca estabelecer um tempo e um espaço feito tanto de clareza

quanto de ilusão, produtos de um poder característico do próprio mito, que busca

dissipar de modo simbólico as contradições existentes a sua volta. “O mito é uma

fala, um discurso – verbal ou visual – uma forma de comunicação sobre qualquer

objeto: coisa, comunicação ou pessoa... É uma fala que objetiva escamotear o real,

produzir o ilusório, negar a história, transformá-la em “natureza”. Instrumento formal

da ideologia, o mito é um efeito social que pode entender-se como resultante da

convergência de determinações econômico-político-ideológicas e psíquicas”.

(SOUSA, 1983, p.25).

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Joseph Ki-Zerbo lembra em sua obra “História da África Negra” a posição

radical de Hegel, em que a África exceto a parte setentrional que pertence ao mundo

europeu e asiático, não constitui uma parte histórica do mundo. Outros autores

também passaram a abordar a África nesta perspectiva, considerando apenas os

egípcios e os povos do norte da África, hesitando em falar dos demais povos que

constituem a história da África.

Conforme Ki-Zerbo, muitos historiadores que se encontram nesta área

de estudo poderiam ser citados como impregnados de preconceito racista, junto

àqueles que têm uma visão limitada sobre a África e abordam sua história através

da concepção de mito. Sendo considerado como mito fundamental o da passividade

dos povos africanos, dos povos negros em geral. “Quanto à contribuição africana

dos Negros para o movimento da história universal, basta-nos citar as invenções

técnicas africanas do Paleolítico a importância do ouro e dos negociantes do Sudão

no comércio europeu-asiático da Idade Média, a participação do capital-trabalho

negro na revolução industrial e o papel planetário desempenhado pelos Afro-

Americanos na formação do sentido artístico desde há meio século para cá”. (Ki-

Zerbo, 1972, p.13-14)

De modo algum se nega as influências que a África recebeu, no entanto não

se deve permitir mais influências numa visão unilateral e considerar os africanos

como eternos instrumentos passivos, como fez o capitalismo triunfante europeu no

século XIX que passou a impor seu modo de civilização em todos os continentes.

A história da África deve ser fonte de estudo de historiadores que entendam

que um povo não pode enfrentar seu futuro sem ter uma visão do seu passado e

que a história é a memória coletiva dos povos. E para construir essa história são

necessários estudiosos que mergulhem no passado buscando a verdade da ciência

histórica sem deixar se levar por preconceitos, mitos ou compaixão.

Compreendendo que glórias e misérias, altos e baixos, acontecimentos populares e

cotidianos compõe o conjunto das nações da África. Tomando o devido cuidado para

não cultivar as desigualdades ou fomentar o ódio ao tratar da opressão do tráfico de

escravos e da exploração imperialista, ou simplesmente minimizando tais resultados.

“Quando um general romano manda executar seu filho por razões de disciplina pro

pátria, leva-se isso à conta de heroísmo patriótico. Quando Samori procede da

mesma maneira, clama-se que é barbárie” (Ki-Zerbo, 1972, p.35)

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Atividade

1. Determine algumas influências que interferem na formação da opinião de uma

pessoa, no caso o preconceito.

2. Faça uma pesquisa e descubra mais sobre: “Teorias racistas e o branqueamento

do Brasil”.

3. Organize um quadro comparativo com as duas visões:

DEMOCRACIA RACIAL PRECONCEITO RACIAL

Indicação de leitura: Carmen Lucia Campos. A cor do preconceito. São Paulo,

Ática, 2006.

O Continente Africano

África para muitos significa fome, miséria, doenças, guerras, safáris e animais

exóticos. Você concorda que isso representa a África?

O pouco conhecimento que possuímos sobre a África, tem a ver com a

história que aprendemos durante muito tempo, transmitida a partir do ponto de vista

eurocêntrico. “Berço da humanidade, foi no continente africano que surgiram os

primeiros vestígios dos antepassados mais antigos do homem e de lá partiram as

primeiras migrações que povoaram outros continentes”. (CAMPOS, 2006, p.30)

“O Continente africano é cercado a nordeste pelo mar Vermelho, ao norte

pelo Mediterrâneo, a oeste pelo oceano Atlântico e a leste pelo oceano Índico. O

istmo de Suez o liga à península Arábica”. (SOUZA, 2006, p.11) Suas principais

marcas em termos geográficos são o deserto do Saara ao norte, o deserto do

Calahari a sudoeste, a floresta tropical do centro do continente, as savanas, ou

campos de vegetação esparsa e rasteira, separam áreas desérticas de áreas de

florestas, algumas terras altas, como as que dão origem aos rios que formam o Nilo.

Uma rica e variada paisagem está presente no continente africano, a grande

faixa do Saara divide o continente desde a costa do Atlântico ao Mar Vermelho. As

bordas do Sul e oeste do Saara são conhecidas como Sahel. Os meios de

comunicação mais importantes do continente são os rios, entre eles destacam-se:

Nilo, Volta, Níger, Senegal, Gâmbia, Congo, Cuanza, Limpopo e Zambeze. As férteis

margens desses rios garantiram a sobrevivência do povo africano durante séculos.

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Os grandes lagos da região centro-oriental são outra referência da África. Apesar

das mudanças pelas quais passou o continente nos últimos cem anos, em muitos

lugares as pessoas ainda vivem dependendo das condições naturais, plantando e

pastoreando.

Os povos que ali se fixaram ao longo dos séculos têm como característica a

diversidade cultural. Organizavam-se em aldeias ou cidades independentes

mantendo grupos baseados nos laços familiares. No início do século II, havia três

grandes impérios: o Romano, o Persa e o Axum atual Etiópia, sua riqueza se

encontrava na agricultura e no comércio. O Império Axum tornou-se cristão, e após

diversas crises sobreviveu e transformando-se no Reino da Etiópia. No século VI,

alguns principados da Núbia e o reino da Etiópia eram os únicos estados cristãos

fora da área de influência do Império Romano. No século XVI, Portugal e Espanha,

envolvidos nas “grandes navegações”, tornaram-se os grandes centros difusores do

catolicismo, ao justificar seu direito sobre terras e os povos em nome da missão

evangelizadora.

A variedade de povos do continente comunicava-se entre si. O comércio

contribuiu para a difusão da religião muçulmana no continente africano,

representando um importante intercâmbio cultural. A religião muçulmana surgiu na

Arábia no século VII, também chamada de islamismo e encontra seus princípios no

Corão seu livro sagrado. Muitos povos politeístas converteram-se ao islamismo,

aprendendo a língua árabe, usada hoje em quase todo continente. Mercadores

árabes se estabeleceram no litoral africano, aprendendo línguas locais, tornando-se

intermediários entre o comércio com interior da África e os povos asiáticos. Muitas

vezes se casavam com mulheres africanas, originando a língua suaíli, que combina

a base da língua banto com palavras árabes. Ainda hoje falado na África Oriental.

Estudiosos árabes escreviam sobre os povos africanos, desde o século XI o que

contribuiu para divulgar a fama dos reinos da África e a cobiça por suas riquezas.

Uma das mais importantes características da cultura da África é a

transmissão das tradições e dos costumes por meio da fala, a oralidade. Isto não

significa o desconhecimento da escrita por todos os povos. Transmitir a memória

oral das tribos era tarefa dos contadores de histórias.

Atividade

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1. Sob orientação do professor (a), construa uma maquete do mapa “Físico da

África”, com os seguintes itens: florestas – savanas – planaltos– desertos – sahel –

vegetação mediterrânea.

2. Assista ao vídeo da TV Escola da coleção Geografia Geral Série: Os Cinco

Continentes - África 18’20, Etiópia 26’00, Uganda 26’00, Tanzânia, Moçambique

26’00. Com a sala dividida em equipes, cada grupo pode fazer a análise de um

vídeo e apresentar para classe.

3. Vamos conhecer um pouco mais sobre a África, divulgando a cultura africana no

Brasil. Reúna-se com colegas e leia as instruções abaixo:

• Cada grupo deverá escolher um tema diferente, sugestões: música, religião, arte,

poesias, lendas e mitos, linguagem, culinária, vestuário, instrumentos musicais,

danças, personalidades negras do Brasil e do mundo (artistas, músicos, políticos

e outros), estatísticas, quilombos remanescentes ou tradicionais, etc;

• A atividade deve ser elaborada com diferentes formas de apresentação:

cartazes, produção da matéria para divulgação na escola, apresentação em

classe, pesquisa de opinião, etc;

• Professores de outras disciplinas, também poderão colaborar.

4. Assista ao desenho animado baseado em lendas africanas “Kiriku e a

Feiticeira” (Kiriku et la Sorcière), França/Bélgica/Luxemburgo, 1998, 71 min, direção:

Michel Ocelot. Baseado em uma lenda da África Ocidental, a animação conta a

história de Kiriku, um garoto pequeno com dons especiais, que nasceu com a

missão de salvar sua aldeia da cruel feiticeira Karaba. (NOVA ESCOLA On-line – O

site de quem educa).

- Depois discuta em classe construindo uma contribuição para atualidade. Indicação

de leitura: Yves Pingully. Contos e Lendas da África. São Paulo Companhia da

Letras 2005.

Escravidão

A palavra África não tem uma origem bem definida. No início da expansão

além-mar entre os séculos XV e XVI identificava-se o continente negro como Etiópia, “os africanos não se consideravam como tal, não existindo homogeneidade cultural,

política ou social, muito menos uma identidade em comum, ao contrário do que

sugere a referida designação”. (DEL PRIORE, 2004, p. 32). Designar como africanos

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todos os habitantes da África é um termo utilizado por interesses externos com

objetivos em definir áreas de relações comerciais ou expansão colonial.

Os gregos antigos referiam-se à África como Líbia. A África do Norte, desde a

Antigüidade fez parte das conquistas promovidas entre os povos do Oriente Médio e

da Europa, como os fenícios e romanos. A expansão islâmica visando a Península

Ibérica a partir do século VIII d.C. possibilitou novas formas de contato e trocas

culturais entre a África do Norte e a Europa. A África Atlântica e a do Sul demoraram

a surgir pelo contato tardio com os europeus. O interesse pela expansão marítima

por parte dos portugueses se deu em função do ouro que circulava nos mercados

das cidades italianas e catalãs, desde o início da Idade Média, provenientes de

territórios que viriam a ser a África Atlântica o que se constituía também num

lucrativo tráfico de marfim e de escravos. O comércio durante séculos estivera sob o

poder dos muçulmanos e berberes que deslocavam suas caravanas sob camelos

através da areia do Saara. “Contudo, os trajetos norte-africanos e mediterrâneos

apresentavam duas muralhas: a dos mercadores muçulmanos e a dos comerciantes

venezianos, florentinos e genoveses. Os primeiros defendiam o acesso continental,

a via transaariana, enquanto o segundo grupo zelava militarmente pelas feitorias

espalhadas nas ilhas do Mediterrâneo”. (DEL PRIORE, 2004 p 33) Era o caminho

pelo qual chegavam ao litoral da África do Norte ouro, marfim e escravos, a partir daí

distribuídos para centros comerciais da Europa.

Os portugueses desenvolveram projetos expansionistas para descobrir as

rotas comerciais das especiarias e do ouro, de início foram mais fracassos do que

sucessos. Próximo ao rio “Do Ouro”, em 1441 os portugueses tem acesso ao ouro

africano, sem o intermédio de comerciantes muçulmanos ou berberes. Nesse

momento “A caravela ultrapassa o camelo”. (DEL PRIORE, 2004, p.34)

Para entendermos o sucesso dos europeus na África Atlântica, é preciso

compreender a fragmentação do seu poder político e a escravidão no período pré-

colonial. “Não há como negar a realidade dessa instituição bem antes do

desembarque dos europeus”. (DEL PRIORE, 2004, p.36) A escravidão na África

Atlântica deve ser observada em suas especificidades, tratava-se de uma

escravidão doméstica, também conhecida como ‘de linhagem’ ou ‘de parentesco’.

Os europeus se apropriaram dessa tradição da África Atlântica, transformaram a

escravidão em comércio e passaram fornecer braços para lavouras e minas do outro

lado do oceano.

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A eficiência do tráfico foi alcançada com a cumplicidade das sociedades

africanas. Na África Atlântica era comum a prática da escravidão, não apenas o

prisioneiro de guerra se transformava em escravo, mas também endividados,

criminosos, filhos ilegítimos, mulheres adúlteras ou feiticeiras. Estes passavam a

fazer parte da família em condições subalterna, depois de algumas gerações

tornavam-se livres. “Adquirir cativos era uma forma de ampliar a mão-de-obra

familiar”. (DEL PRIORE, 2004 p 38-9) A integração ao novo grupo familiar acontecia

naturalmente, pois senhor e cativo pertenciam à mesma cultura, o que não impedia

a crueldade desse sistema, havia critérios rígidos para considerar um indivíduo

escravo. Capturar alguém e forçar sua escravidão era um crime grave, no entanto

com a ampliação do tráfico internacional essa regra foi quebrada e as autoridades

locais aceitaram e promoveram a captura indiscriminada.

Atividade

1. A escravidão é algo que ainda não foi superado pela sociedade contemporânea.

Como ela se manifesta atualmente?

2. Assista ao filme “Amistad”, um drama, dos Estados Unidos, de 1997, com 154min,

dirigido por Steven Spielberg. ...Tudo começa quando os prisioneiros de um navio

negreiro denominado “Amistad” se rebelam e trucidam boa parte da tripulação.

Desse momento em diante serão muitos os percalços pelos quais terão de passar.

http://filmes.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo

- Debata as seguintes questões: “Escravismo do século XIX” e “Exploração e

comercialização humana”; depois, escreva uma narrativa histórica sobre esse tema.

Divisão da África

A divisão de um continente como a África, ocorreu quando interesses

estrangeiros propuseram um acordo para colocá-lo, de algum modo, sob sua

hegemonia. Isso sugere rivalidades e negociações entre os interessados na partilha.

Observa-se que tais condições ocorreram na África, pois até o século XVIII, os

europeus que freqüentavam suas costas representavam acima de tudo interesses

privados e não do Estado. No final do século XVIII, havia soberania estrangeira

apenas em alguns pontos, como os portugueses na costa de Angola e Moçambique,

os britânicos estavam situados na Gâmbia e os franceses no Senegal.

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Até 1870 os franceses haviam contribuído pouco para exploração da África,

que se mantinha sob a influência inglesa, que haviam descoberto Estados

organizados e islâmicos que iam desde o Nilo ao Tchad e comerciavam entre si.

Exploraram o Niger e o Zambeze e foram em busca das fontes do Nilo. De início a

exploração da África pelos ingleses ocorreu em função da curiosidade científica e da

visão missionária com possibilidades de formar povoados em conseqüência das

dificuldades de sobrevivência na Europa. No entanto, logo perceberam as ricas

possibilidades que o futuro lhes reservava no continente africano, desde comércio,

plantações e indústrias, o negócio era adentrar o continente e manter-se nas

posições ocupadas.

Tais procedimentos, porém não eram estimulados pelos diplomatas, que

estavam atentos ao equilíbrio das grandes potências. Havia até 1871 uma

combinação limitada entre a Inglaterra, a França, a Áustria-Hungria, a Prússia e a

Rússia. Apesar de várias divergências em diferentes lugares do globo Inglaterra e

França se combinavam diante das outras potências. No entanto, a questão dos

negócios do Oriente era complicada, porém tornou-se mais difícil ainda com a

unificação italiana e alemã gerando rivalidades.

As condições para partilha da África se tornaram propícias a partir de

1870, quando descobertas e interesses aliados às realizações técnicas se

apresentavam como ausência de barreiras ao acesso dos novos países. O

desenvolvimento científico ganha as elites ocidentais, e passa a acelerar o comércio

internacional. Os governos europeus, no entanto, não estavam dispostos a custear

as expedições de conquista na África. Delimitaram esferas de influências,

concedendo-as aos interessados e estes arcaram com os custos dos investimentos.

Na França banqueiros e industriais estavam prontos para investir com os

meios necessários. A Inglaterra e o restante da Europa dominaram com idéias

semelhantes, sob diversas formas todo período imperialista. No entanto a França

reforçou esse pensamento em 1871, após a perda de Alsácia e Lorena para

Alemanha. A indignação invadiu os espíritos franceses e estes tomados de rancor

patriótico queriam provar ao mundo serem capazes de retomar o título de grande

potência, que não seria possível na Europa, e assim passaram a expandir sua

soberania sobre vastas regiões do mundo.

Com ausência dos representantes da África na Conferência de Berlim,

divisão da África se realizou em função dos interesses das potências na Europa e de

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outros continentes, e o estatuto de territórios africanos passou a depender de

concessões além-mar. A aceleração da divisão da África foi uma conseqüência dos

nacionalismos e do progresso técnico da Europa. Assim a divisão representa um

caráter muito mais europeu do que africano.

Atividade

1. Explique porque a partir de 1885, mudou o interesse de alguns povos europeus

em adentrar os territórios africanos?

2. Explique como ocorreu a partilha do continente africano e quais foram as

conseqüências para a população?

3. Uma das justificativas dos europeus para colonizar a África era a “missão

civilizadora”, no entanto civilizar os africanos significou dominar, submeter, criar

condições de exploração, sendo assim, como os europeus “civilizaram” os

africanos?

4. Pesquise e elabore um quadro comparativo entre o colonialismo dos séculos XV e

XVI e o neocolonialismo do século XIX aos dias de hoje:

Colonialismo NeocolonialismoPaíses

ColonizadoresÁreas colonizadasInteressesConseqüências

até os dias atuais

O sonho constrói a cidadania

Encontros desiguais foram produzidos com a colonização das Américas,

experiências históricas que envolveram trocas culturais, dominação, conflitos,

protesto e confrontos. Durante os séculos XV ao XIX, os mares eram cruzados com

navios de diferentes lugares, carregados de mercadorias idéias e experiências.

Desse processo emerge um novo mundo que abrange povos e etnias, do qual vão

resultar diferentes identidades.

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No período da escravidão, negros, mestiços, homens brancos pobres

compunham dois terços da população livre, que em diferentes lugares fizeram

greves, motins, organizaram-se em sociedade e sindicatos. Acrescenta-se a essas

resistências as populações indígenas dos aldeamentos missionários do século XVII

e os movimentos sociais urbanos.

O processo histórico da exclusão social traz para a sociedade contemporânea

como desdobramentos dessas lutas as manifestações que acontecem tanto na

cidade como no campo, que é a busca por melhores condições de vida, moradia e

ocupação de terras por trabalhadores sem-terra e as comunidades camponesas

negras remanescentes de quilombos ou herdeiros dessas terras.

Em 1860, Dona Balbina Francisca de Siqueira, a proprietária da fazenda

Capão Grande, localizada no município do Pinhão, comarca de Guarapuava, Estado

do Paraná, deixou em testamento a Invernada Paiol de Telha, um dos vários

campos da antiga fazenda, para seus escravos e libertos que ali conviviam.

Como até recentemente a História destacava as ações da classe dominante,

poucos registros se encontram na historiografia oficial paranaense sobre grupos

como o da Invernada, pois, a História oficial do Paraná se confunde com os

europeus e seus descendentes. Os demais grupos étnicos necessitam do resgate

histórico de sua identidade social para ter direitos e valor reconhecido, mesmo assim

“Como a grande maioria das histórias dos afrodescendentes no Brasil, as narrativas

trágicas dos descendentes dos ex-escravos herdeiros da Fazenda Capão Grande,

nos campos de Guarapuava, vêm sendo sistematicamente silenciadas”. (HARTUNG,

2004, P.10)

O procedimento de desapropriação começou logo após a doação, atingindo o

auge aproximadamente um século depois, quando em 1975 foram expulsos da

Invernada os descendentes que lá ainda permaneciam, instalando-se uma

cooperativa agrícola. Sendo a ação toda marcada pela violência e interesses

escusos, típicos das questões agrárias do Brasil.

Os herdeiros, descendentes dos escravos da Invernada Paiol de telha

denunciam a desapropriação sofrida das terras herdadas de seus antepassados aos

órgãos oficiais. Finalmente em 1998, o poder público assenta através do Incra, os

remanescentes numa outra localidade próxima. No entanto os herdeiros continuam a

luta pela terra que lhes pertence como se auto-denominam descendentes dos

escravos herdeiros da Invernada Paiol de Telha.

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Atividade

1. Em 1850, foi criada a Lei da Terra, pesquise o que foi e qual era seu objetivo:

2. Procure saber o que diz a Constituição de 1988 sobre as Comunidades Negras

Rurais:

3. Descubra mais sobre os “Afro-descendentes e a questão agrária no Paraná”:

Referências Bibliográficas

AZEVEDO, Gislane; Seriacopi Reinaldo. África & Brasil: Proposta para uma abordagem positiva da história e da cultura afro-brasileira em sala de aula.

Material disponível em Power Point, s/d.

BRUNSCHWIG, Henri. A partilha da África negra. Khronos 6. Trad: Joel J. da

Silva. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2001.

CADERNOS TEMÁTICOS. A inserção dos conteúdos de História e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares/Paraná. Secretaria de Estado da

Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental.

Curitiba: SEED-PR, 2005.

_____________. História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais/Paraná. Secretaria de Estado da Educação.

Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Curitiba:

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CAMPOS, Carmen Lucia; VILHENA, Vera. A cor do preconceito. São Paulo: Ática,

2006.

DEL PRIORE Mary; VENÂNCIO,Renato Pinto. (Org) Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica. RJ: Elsevier, 2004.

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HARTUNG, Miriam Furtado. O sangue e o espírito dos antepassados: escravidão, herança e expropriação no grupo negro Invernada Paiol de Telha – PR. Florianópolis: NUER/UFSC, 2004.

JOSEPH KI-ZERBO, Joseph. História da África negra VOL-I 2ª ed. TRAD. Américo

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