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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE 2009

SINÉCIA MENDES DO REGO

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

ÁREA DO PDE: Português

PROFESSORA PDE: Sinécia Mendes do Rego

ORIENTADORA: Prof. Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini

CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA: Estética da Recepção

MARINGÁ 2009

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1 IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: Sinécia Mendes do Rego Área PDE: Língua Portuguesa NRE: Umuarama Professor Orientador IES: Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá (UEM) Escola de Implementação: Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega Público objeto da intervenção: Alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA)-

Ensino Médio Tema de estudo: O conto como prática de oralidade, leitura e escrita

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

GÊNERO TEXTUAL: Conto COLÉGIO: Colégio Estadual Padre Manuel da Nóbrega de Umuarama SÉRIE: Ensino Médio DURAÇÃO: 32 aulas

MARINGÁ 2009

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2. INTRODUÇÃO

“Se não me contam eu escuto atrás da porta.” (Dalton Trevisan)

Você acredita que quem conta um conto aumenta um ponto?

(Imagem do acervo pessoal da autora)

A leitura é o principal instrumento que influencia o indivíduo para a

formação do seu discurso. Através dela, há o resgate de culturas, de ideias que são

fatores básicos para um padrão de vida. Ler é compreender melhor o mundo,

adquirindo conhecimentos. E não se pode negar que a leitura é o indicativo

fundamental para o desenvolvimento de uma nação. A leitura vem, através dos

tempos, formando sociedades. Ela não é apenas decodificadora de signos, mas tem o

papel de formar indivíduos mais críticos, capazes de entender a realidade na qual

estão inseridos. Pode-se dizer que o ato de ler está vinculado ao questionamento, à

conscientização e à libertação do ser humano.

De fato, a leitura é importante em qualquer estágio da vida, pois ela

enriquece os conhecimentos. A pessoa que não lê, sofre, muitas vezes, manipulação

tanto social quanto culturalmente. Assim, “a leitura é fundamental na educação em

qualquer nível e quando se fala em leitura, supõe-se não a mera decodificação de signos

linguísticos, mas a vivência ativa dos significados de um texto” (ZILBERMAN, 1986,

p.47). O indivíduo que ao ler apenas decifra códigos, não visando à compreensão do

conteúdo, não consegue interagir com o texto e é justamente por meio dessa interação

que o ser humano se põe em contato com o mundo, interferindo na sociedade.

É nesse ponto que a estética da recepção reconhece a historicidade da arte

como elemento decisivo para a compreensão do estético no conjunto da vida social.

Nesse processo de ensino-aprendizagem, é importante um maior contato com o texto

literário, porque ele abre mais possibilidades para o educando entender o texto, seus

sentidos, suas intenções e visões de mundo presentes na obra. Isso porque o “ato de

leitura de um texto leva a outro e orienta para uma política de singularização do leitor

que, convocado pelo texto, participa da elaboração dos significados, confrontando-o

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com o próprio saber, com a sua experiência de vida” (DCEs, 2008, p.57). Ao ler, um

indivíduo retoma suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação

familiar e as várias vozes que o constituem.

A proposta desta Unidade Didática é organizar momentos de leitura e

escrita a partir de contos de Dalton Trevisan, no Ensino Médio da Educação de

Jovens e Adultos (EJA), porque constituem narrativas curtas, com poucos

personagens e um só conflito. Trata-se de um gênero textual de fácil leitura, ideal para

iniciar o contato com a leitura literária. Logo, a leitura de contos de Dalton Trevisan, no

Ensino Médio, é imprescindível uma vez que sua obra retrata os problemas da realidade

contemporânea, que se aproximam da vida real. Os contos do autor apresentam uma

linguagem simples e direta, aproximando-se da oralidade. Além disso, Dalton Trevisan

é um escritor paranaense que precisa ser mais conhecido como um dos grandes contistas

da literatura brasileira contemporânea e que fez dos subúrbios curitibanos cenários para

suas histórias. A leitura de sua produção literária permite, portanto, ao aluno do Ensino

Médio da EJA, a ampliação dos seus horizontes de conhecimento

Para o desenvolvimento das atividades utilizar-se-á uma estratégia didática

que tem como suporte teórico os conceitos apresentados no método Recepcional,

elaborado por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar e que se

encontra na obra: A Formação do Leitor: alternativas metodológicas (1993). As

atividades propostas seguirão as etapas determinadas pelas autoras. Assim, na esteira

das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura, a implementação do

projeto na escola seguirá, como encaminhamento metodológico, o Método Recepcional

acima descrito. Esse método é dividido em cinco etapas, a saber:

- Determinação do horizonte de expectativas.

- Atendimento do horizonte de expectativas.

- Ruptura do horizonte de expectativas.

- Questionamento do horizonte de expectativas.

- Ampliação do horizonte de expectativas.

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Objetivo Geral: estudar o conto brasileiro contemporâneo a partir de contos de Dalton

Trevisan, com vistas ao debate acerca de problemas sociais e à

produção textual.

3.1 DETERMINANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Objetivos: - apresentar o projeto para os alunos;

- despertar e aguçar a curiosidade dos alunos para o tema: retrato da vida

real nas personagens de Dalton Trevisan.

A proposta para esse início de implementação será descontrair a turma e

determinar o horizonte de expectativas do leitor. Para isso será apresentada a canção de

Chico Buarque de Holanda, Minha História.

Texto 1: Minha História

Texto 1: Minha História

Composição: Lucio Dalla e Paola Pallottino Versão e Interpretação: Chico Buarque de

Hollanda Disponível em: www.beakauffmann.com/mpb

Acesso em 30/03/10

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar

Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar

Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente

E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá, laiá, laiá

Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde

E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe

Esperando, parada, pregada na pedra do porto

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O texto será o ponto de partida para as atividades. Os alunos ouvirão a música e

serão incentivados a interpretá-la.

Questionamentos serão feitos (oralidade) com relação à experiência de leitura do

gênero “MPB”, observando e analisando cada indivíduo segundo o seu comportamento,

suas reações e expressões durante os debates em sala de aula.

Em seguida, serão feitos questionamentos sobre o tema da canção para

oportunizar um debate mais rico:

a) As músicas podem contar histórias? Que história conta a letra dessa música?

b) Qual seu gênero musical preferido? Por quê? A que gênero pertence essa

canção?

b) Você teve dificuldades para ler e compreender a letra dessa música? Por quê?

c) Quem conta a história na letra dessa música? Qual assunto abordado?

d) Como você descreveria os personagens dessa história?

Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá,laiá, laiá

Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto

Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo

Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher

Me ninava cantando cantigas de cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá

Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança

A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança

E não sei bem se por ironia ou se por amor

Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor, laiá, laiá, laiá,laiá

Minha história e esse nome que ainda carrego comigo

Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo

Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá

Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz

Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá

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e) O que mais lhe chamou a atenção nesse texto? O assunto abordado? A

estrutura/forma como foi escrito?

f) Como você classificaria a estrutura desse texto? Por quê?

Para determinar os horizontes de expectativas dos alunos, serão feitos

alguns questionamentos para serem respondidos por escrito. Nessa sondagem, com

relação à experiência de leitura da turma, o professor observará (durante os debates ou

outras atividades praticadas em sala de aula) e analisará cada aluno segundo o seu

comportamento, suas reações e suas preferências de leitura.

a) Você gosta de ler? Por quê?

b) O que é literatura para você?

c) Que contos você lia ou ouvia quando era criança?

d) Provavelmente você já ouviu a expressão: “Quem conta um conto

aumenta um ponto”. Você se lembra de algum conto que você leu? Quem era o

personagem principal?

e) Você leu algum conto de escritor da atualidade? Qual era o assunto?

f) Quando você escolhe um livro o que você observa? A capa, o título, a

espessura ou o assunto abordado?

3.2. ATENDENDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Objetivo: ler, refletir, analisar e interpretar notícias de revistas e jornais.

Nesta etapa, serão propostas atividades cuja temática se coaduna com os textos

artístico-literários que compõem o corpus desta unidade, ou seja, contos de Dalton

Trevisan.

Depois da distribuição de textos jornalísticos retirados de jornais e revistas,

serão postas em prática algumas técnicas como: trabalhos em grupo, debates e

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exposições orais. Além dos objetivos propostos, objetiva-se, também, com tais

exercícios, maior interação entre os alunos e entre professor e alunos.

3.3 ROMPENDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Objetivo: colocar o aluno em contato com o universo do conto de Dalton Trevisan.

Depois de analisar os horizontes de expectativas da turma, o professor dará início

às atividades de leitura do gênero conto, a partir da obra Em Busca de Curitiba Perdida,

de Dalton Trevisan.

Será realizada a leitura do conto “Uma Neguinha Acenando”.

A proposta dessa Unidade Didática iniciará com atividades de leitura do gênero

conto. Depois da leitura silenciosa do texto (para estabelecer a dialética texto

literário/leitor), o professor proporá uma leitura de forma bastante expressiva, fazendo

comentários sobre o título e a capa, provocando a participação dos alunos através de

questionamentos para atrair a atenção sobre a leitura e mostrar que a literatura ajuda o

leitor a compreender a vida, a si mesmo e, acima de tudo, ajuda a pessoa a tornar-se

mais inteligente, libertando-a da estagnação cultural e política.

Trata-se de um conto que prende a atenção dos leitores porque a personagem

representa o cotidiano de muitas garotas pobres que se prostituem para sobreviver. Com

essa leitura, o professor promoverá atividades que auxiliem na compreensão do texto

como debates ou dramatização.

- Faz um ano. Uma ruiva me trouxe. Ela também paquera.

Texto2: Uma Neguinha Acenando Seis e meia da tarde, na estrada. Calça azul berrante e blusa vermelha. - Dá uma carona, moço? Gostou de ser chamado de moço. Ela sorriu: nenhum incisivo superior. - Suba. Sandália velha de couro. Sem bolsa. - De volta do emprego? - Estou paquerando. - Não diga. Faz isso todo dia? - Quando não chove. - Desde muito na vida? - Quem foi o primeiro?

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- Meu noivo. Queria saber se era moça. - Ficou grávida? - Tive um menino. Quase um aninho. Chuva ou sem chuva, são dois

pacotes de leite por dia. - Teus pais sabem? -Pensam que trabalho de diarista. - Como é a paquera? - A gente faz sinal. Até que alguém para. Às vezes fica freguês. - Aonde vão? Alguma casa? - Que casa. No caminhão. No mato. - Você faz tudo? - O normal. - Sente algum prazer? - Difícil. Eles sempre com pressa. - Quanto você cobra? - Meia nota. -Hoje foi bom? - Não ganhei nada. Tem dia bom. Depende da sorte. Qual o pior dia? - Quando chove. Ou muito frio. Cato graveto e acendo foguinho debaixo

da ponte. - E a hora pior? - Do almoço. Daí eles não param. - Você almoça? - Eu, hein! - Como você vem? - Cedinho saímos de casa, eu e a ruiva. Andamos um bom pedaço. Medo

de meus pais. Daí ficamos pedindo carona.. De repente um para. - E a volta? - Mais custosa. Ainda se ameaça chuva. - Já anoiteceu na estrada? - Um par de vezes. Quando amanhece chovendo? - A gente não vem. - Qual foi o melhor dia? - O dia que peguei sete. - Já tenho visto na estrada essa calça azul. - De onde o senhor é? - Estou de passagem. Há muitas como você? - Uma em cada curva. Muita menina. De treze e catorze anos. Dão até

por amor. - Onde? -No matinho. Atrás da moita. - Não engravidam? - Lá são bobas feito eu. Esses dentes. O que aconteceu? Tão novinha. - Doía o do meio. Bem aqui na frente. - Quem te atendeu?

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a) Mesmo sabendo que, no texto, as personagens são pessoas de papel ou

personagens ficcionais, é possível encontrar na vida real fatos como os do conto

Uma Neguinha Acenando? Comente.

b) O que você achou dessa história? O que ela provoca? Raiva, pena, indiferença...

c) Esse texto trata-se do mesmo tema do texto 1. Quais as semelhanças e diferenças

entre as personagens desse conto e as da letra da canção Minha História?

d) Qual é a temática dos textos? Justifique.

e) Quem gostaria de representar os personagens desse conto para os colegas de sala?

Recurso Didático (material): Letra da música Minha História, cópia do conto Uma

Neguinha Acenando, tv-pendrive e Cd.

- O conto é uma das narrativas mais antigas, sua origem ainda é desconhecida;

- É um gênero narrativo de menor extensão;

- Possui um só conflito e poucos personagens;

- O espaço físico é restrito e o tempo tem pouca importância;

- Geralmente o clímax ocorre no final.

- O dentista do governo. - Por que tirou os outros? - Eu disse: “Dói tudo.” E ele: Já viu debulhar milho? Daí arrancou os

quatro. - Chegamos. Aqui você desce. - Até qualquer dia moço. O sorriso puro dessa grande festa de viver.

(TREVISAN, Em busca de Curitiba Perdida. 2004, p.68, 69 e 70)

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Uma narrativa consiste num conjunto de ações que tem por objetivo contar uma

história real ou fictícia. As ações são desenvolvidas numa evolução cronológica, mesmo

que não tenha linearidade de tempo.

As personagens de um conto ou romance são chamadas de pessoas de papel, ou

seja, não existem na realidade. Elas fazem parte da criação artístico-literária de um

escritor ou autor. Muitos escritores brasileiros transformam, pela arte, os fatos do

cotidiano em contos, retratando a problemática sociocultural brasileira. Dentre os

autores que abordam temas voltados para os dramas sociais, é possível encontrar, na

literatura brasileira contemporânea, escritores de renome como o paranaense Dalton

Trevisan.

Um fato pode ser narrado por dois tipos de narradores:

a) Narrador personagem é aquele que participa da ação, conta os fatos em

primeira pessoa (eu, nós)

Exemplo: “Minha história e esse nome, que ainda carrego comigo.

Quando vou em bar, viro a mesa berro, bebo e brigo”.

b) Narrador observador é aquele que narra os fatos como uma testemunha, alguém

que está de fora dos acontecimentos. Nesse caso, o narrador utiliza-se da terceira pessoa

(ele, ela, eles elas).

Exemplo: “Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobrou

a esquina, diminuiu o passo até parar, encosta-se a uma parede.” (DaltonTrevian) Lembre-se que o autor ou escritor é um ser humano real, mas o narrador é uma

invenção do autor para contar a história e, portanto, é personagem também.

As personagens de uma narrativa podem assumir várias formas de falas:

Discurso direto

Ocorre quando o narrador reproduz a fala da personagem do mesmo modo como

ela fala (diálogo).

Exemplo: “- De volta do emprego?

- Estou paquerando.

- Não diga. Faz isso todo dia?

- Quando não chove.

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- Desde muito na vida?

- Faz um ano. Uma ruiva me trouxe. Ela também paquera”. (Dalton Trevisan)

Há um “eu” que fala. Então, quando as personagens dialogam, falam,

questionam um ao outro, dizemos que o discurso é direto, pois eles falam diretamente,

um pergunta, o outro responde e você entende de forma direta.

Discurso indireto

O narrador ou a personagem conta a fala de outro.

Exemplo: “Gostou de ser chamado de moço. Ela sorriu: nenhum incisivo superior”.

Então, quando alguém fala do que aconteceu com outra pessoa aí aparece o

discurso indireto.

Discurso indireto livre

É uma forma que combina os dois (direto e indireto). Ocorre quando um

narrador está contando um fato acontecido com uma terceira pessoa e, de repente, a

personagem entra no pensamento do narrador-observador e expõe sua voz.

Exemplo: “Ele disse que tinha saudades de sua infância. Ah se eu pudesse voltar aos

meus oito anos!

Alguns elementos são essências numa narrativa, de acordo com Branca Granatic

(1988). Ei-los:

1º O FATO – o acontecimento, aquilo que se vai narrar, pode ser um fato real (um jogo

de futebol, uma corrida de carros, um acidente, um assassinato, etc.) ou um fato fictício

(conto, romance, novela, filme, etc.), geralmente esses fatos fictícios têm

verossimilhança com a vida:

2º QUEM – os fatos envolvem personagens (protagonista (s) e antagonista (s);

3º ONDE – é o lugar onde se dá o acontecimento;

4º TEMPO – o fato acontece numa determinada época;

5º COMO – o modo como se desenvolvem as ações;

6º O PORQUÊ – todo acontecimento tem uma razão, um porquê;

7º CONSEQUÊNCIA – é o resultado das ações que concretizaram o fato.

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Lembrem-se de que uma narrativa consiste num conjunto de ações que

compõem a história. Essas ações são desenvolvidas numa evolução cronológica que

passa de um estado inicial de equilíbrio para uma complicação (fase que se inicia o

conflito) e é nesse conflito que alguma personagem toma uma atitude e pratica ações

que vão transformando o estado inicial até um ponto máximo de tensão, o CLIMAX.

Após esse momento de maior tensão é que se dá o desfecho.

Voltando à leitura do conto Uma Neguinha Acenado. Em dupla discutam e

resolvam as questões a seguir:

1- Por que o autor repetiu várias vezes os sinais de pontuação: ponto de

interrogação (?) e travessão (–)? Justifique com exemplos do texto.

2- Qual o sentido da expressão “O sorriso puro dessa grande festa de viver.”?

3- Reescreva o conto em 3ª pessoa.

Agora, vamos ler o conto Uma vela para Dario, de Dalton Trevisan, integrante

do volume Cemitério de Elefantes (2004).

(Imagem do acervo pessoal da autora)

Texto: 3 Uma Vela para Dario Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na calçada, ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abriu a boca, move os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve sofrer de ataque. Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo apagou. O rapaz de bigode pede aos outros se afastem e o deixem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e

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Como você pôde perceber, através da leitura do conto Uma vela Para Dario, os

fatos ocorrem de modo semelhante à vida real.

Agora, reúnam-se em grupos. Não se esqueçam de pedir a um colega para

registrar as principais idéias da turma.

1- Quem são as personagens desse conto? É possível identificá-las? Por quê?

2- Por que será que as pessoas não prestaram socorro a Dario? Por que

reagiram de tal forma? Comente.

3- E você, que atitudes tomaria diante de tal situação? Justifique.

a cinta. Quando lhe retiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgiram no canto da boca. Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores da rua conversam de uma porta a outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado. A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagaria a corrida? Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que faça um gesto para espantá-las. Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso. Um terceiro sugeri lhe examinem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira é de outra cidade. Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes. O guarda aproxima-se do cadáver e não pode identificá-lo - os bolsos vazios. Resta na mão esquerda aliança de ouro, que ele próprio - quando vivo – só destacava molhando no sabonete. A polícia decide chamar o rabecão. A última boca repete – Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam vê-lo, todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as suas mãos no peito. Não consegue fechar o olho nem a boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver. Parecia morto desbotado pela chuva. Fecham-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

(Trevisan, Cemitério de Elefantes. 2004, p.38, 39 e 41)

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4- Que Relação você faz entre o texto e a imagem? Por quê?

5- Imagine que você é o repórter do Jornal..., então crie um texto narrativo

relatando a morte de Dario, observe:

Narrador - observador (3ª pesssoa)

Personagem principal – (Dario) homem de mais ou menos 50 anos de idade.

Cite as características físicas da personagem;

Espaço físico – Uma rua movimentada de uma grande cidade.

Agora, vamos ler mais dois contos de Dalton Trevisan e conhecer outros personagens do grande contista paranaense.

Texto – 4 QUESTÃO DE FAMÍLIA

Há um ano casada no religioso com Miguel, de quem tinha um filho de seis meses. Primeiros tempos viveram em boa paz. Nasceu a criança e, como era doentinha, passaram a discutir. A sogra mimava o netinho, Elvira se mordia de raiva. Miguel começou a se embriagar; berrava palavrão, desferia soco na mesa, provocou o vizinho. Depois avançava contra a mulher, que fugia com o filho para o quintal. Duas vezes foi espancada. Para apagar a luz, subindo na cama, torcia a lâmpada no bocal. Perdeu o equilíbrio, quase caiu em cima da criança. O homem lhe deu uns tapas, que tivesse mais cuidado. Segunda vez, o filhinho choramingava, inquieto na cama. Miguel pediu que o ajeitasse, ela respondeu mal. Acertou um tabefe no olho de Elvira que rolou sobre a máquina de costura. De manhã foi para o serviço. Na volta, recebeu da mãe a notícia de que Elvira e o filho estavam na casa do sogro, tendo a mulher carregado o que era dela. Bebeu no botequim: ali não havia homem. E cuspiu no soalho. Ai de quem protestou. Miguel, arrancando do punhal, fez o outro fugir. Um terceiro quis desarmá-lo e saiu ferido na orelha esquerda. Invadiu a casa do velho Felipe. Derrubou a cadeira, bradava nome feio contra a sogra. Aos gritos pulava com a garrafa na mão. Discutiu com o velho, tirou o paletó para brigar. Conseguiu Felipe que lhe entregasse a garrafa. Miguel estranhou a sogra e passou uma rasteira, sentada no chão com as pernas de fora. Felipe acudiu a velha, que gemia muito. Com a machadinha de picar lenha, Miguel desferiu três golpes que foram desviados com uma pancada na cabeça. Partiu-se o vidro e o velho gritou:

- Acertei uma boa! Miguel levantou-se, cambaleante. Elvira foi saber se estava ferido. Um pouco tonto e a mulher, palpando-lhe a cabeça, descobriu um caroço. De repente ele esmoreceu, o corpo foi ao chão, os pés na poça d’água. Ergueram-no as duas mulheres. Era pequeno e magrinho, só quando bebia perigoso e muito ligeiro, Amparado. Miguel caminhou até o quarto. Ainda se voltou para resmungar um palavrão contra o sogro. Na cama balbuciou alguns nomes. Foi-se arruinando ao ponto de perder a fala. De madrugada saiu-lhe da boca uma espuma branca. Pela manhã, conduzido ao hospital, morria sem conhecer a mulher que lhe sustentava a cabeça no colo. Quando o desceram da carroça ficou um pouco de sangue no vestido amarelo de Elvira.

(TREVISAN. Cemitério de Elefantes. 2004. p.15,16 e 17)

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1- Quem narrou esse conto é uma das personagens ou é apenas um observador?

Justifique sua resposta com exemplos do texto.

2- Como toda narrativa, esse conto apresenta uma sequência de fatos interligados

que compõem a história. Você poderia resumir a narrativa desse conto em três

momentos: estado inicial, transformações e estado final?

3- As relações humanas, representadas de forma cruel, são temas de alguns contos

de Danton Trevisan. Quando bebia, o personagem Miguel era bastante violento.

Quais seriam as causas dessa violência?

4- Você absolveria ou condenaria os assassinos de Miguel? Justifique sua resposta.

Leia o conto abaixo.

Texto 5 APELO

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa da esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda. E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero da salada – meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

(TREVISAN. Quem tem Medo Vampiro?.2004, p.11)

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1- O relacionamento homem/mulher, representado nesse conto, o narrador através de sentimentos e detalhes, deixa entrever o papel da mulher. Qual é a função da mulher nesse conto? Comente com exemplos do texto.

2- O narrador personagem desse conto, faz um apelo à esposa, pedindo a sua volta. Agora, no papel de esposa, responda através de uma carta, ao apelo do esposo. Não se esqueça das características de uma carta: local, data, invocação...

Recurso Didático (material): cópia do contos, tv-pendrive...

3.4. QUESTIONANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Objetivo: - promover debates acerca dos problemas sociais a partir da leitura dos

contos de Dalton Trevisan;

- reconstruir o enredo dos contos de Dalton Trevisan pela dramatização e

debates;

- realizar pesquisa sobre contistas contemporâneos

A etapa do questionamento do horizonte de expectativas é o momento de

promover o debate (oralidade) a respeito dos contos lidos. Os alunos vão definir qual foi

o mais complexo. Os temas dos contos. Quais foram os mais difíceis, os que

proporcionaram os melhores resultados de compreensão e reflexão. Nesse momento a

turma será dividida em grupos, sendo que cada grupo escolherá uma obra de Dalton

Trevisan para a leitura de outros contos do autor.

Reunidos em grupo, cada equipe escolherá uma obra de Dalton Trevisan para

fazer uma leitura mais completa. Após a leitura, cada grupo deverá apresentar o

conteúdo lido para os colegas (em forma de resumo, dramatização, cartazes, desenhos,

etc.) Não esquecendo de anotar os seguintes questionamentos.

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1- Qual conto você achou mais fácil a leitura? E o

mais difícil? Por quê?

2- Qual foi o mais semelhante à vida real? Comente.

3- Qual lhe causou mais alegria,/tristeza/raiva? Por

quê?

4- Que outras considerações você faz sobre a

temática abordada nos contos de Dalton Trevisan?

(Imagem do acervo pessoal da autora)

Recurso Didático (material) obras de Dalton Trevisan

3.5 AMPLIANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Objetivo: - ampliar os horizontes de conhecimentos do aluno.

Este é o momento em que o professor pode propor uma leitura diferente para

cada grupo. Como intuito de ampliar os horizontes de expectativas dos alunos, o

professor levará para a sala de aula diferentes obras de Dalton Trevisan, distribuindo-as

entre os grupos, propondo que cada grupo deverá escolher um conto para apresentar um

resumo por escrito, o que vai exigir dos leitores um maior esforço. Porém, mesmo

sabendo que essa atividade vai demandar algum tempo, os alunos precisam, nesse

momento, perceber que estão ingressando num campo desconhecido. É o momento do

desvio e o professor pode auxiliá-los com incentivos para que não se sintam incapazes e

rejeitem a experiência da busca de novos conhecimentos.

Dalton Trevisan raramente dá entrevistas ou é fotografado, pois acredita que o

personagem é mais valioso que o autor.

Dalton Jérson Trevisan, nasceu em Curitiba, 14 de junho de 1925. É reconhecido

como um importante contista da literatura brasileira por grande parte dos críticos do país.

Entretanto, é avesso a entrevistas e exposições em órgãos de comunicação social, criando uma

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atmosfera de mistério em torno de seu nome. Por esse motivo, recebeu a alcunha de "Vampiro

de Curitiba", nome de um de seus livros. Assina apenas "D. Trevis" e não recebe a visita de

estranhos. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Dalton _Trevisan – Acesso 28/06/2010

1- Vamos até à biblioteca ler outros contos e conhecer outros personagens desse escritor

paranaense.

2- Agora, vamos ao laboratório de informática fazer uma pesquisa na internet sobre o

Vampiro de Curitiba? Não se esqueça de anotar em caderno suas impressões sobre o

Vampiro.

3- De que forma você representaria o Vampiro de Curitiba? Através de um desenho,

uma charge ou um poema. Tente!

Recurso Didático (material): laboratório de informática e internet.

Na ampliação do horizonte de expectativas é necessária a intervenção do

professor através da motivação e desenvolvimento de ações concretas para que o

aluno/leitor possa alargar seus conhecimentos.

É o momento de propor uma pesquisa (biblioteca e internet) sobre alguns

contistas brasileiros e suas obras, entre eles o autor dos contos estudados, Dalton

Trevisan. Na pesquisa propõe-se a observação da temática já estudada anteriormente.

Para concluir as atividades, o professor incentivará os alunos a produzirem

contos para compor livro da turma.

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Escrever é uma questão de prática e conhecimento. Agora que você já conhece o

gênero conto, escolha um tema que lhe provoque uma sensação de admiração ou revolta

sobre o momento atual. Antes de começar a escrever, faça um roteiro com as ideias

principais do tema. Crie uma personagem principal, um espaço físico. Escolha, também

um narrador para narrar sua história. Lembre-se que pode ser um narrador-personagem

ou um narrador observador. Você vai perceber que, assim, é mais fácil criar um texto.

Ah! Você e seus colegas de sala podem compor um livro de contos da turma que fará

parte do arquivo da biblioteca da escola e poderá ser lido por muitas pessoas. Já pensou

nisso. Você um escritor! Habitue-se a ler contos de outros escritores brasileiros, assim

você aprofunda seu conhecimento e terá mais facilidade para escrever.

4. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

A avaliação será realizada ao longo do projeto, e levará em conta o conteúdo

Literatura Contemporânea – gênero, o êxito nas leituras sugeridas dos contos de Dalton

Trevisan: “Uma Neguinha Acenando, Uma vela para Dario, Apelo, Questão de

família” entre outros.

5. AVALIAÇÃO

Oralidade

Será observada a participação do aluno nos diálogos, relatos e discussões, a

clareza ao expor suas idéias e a argumentação ao expor seu ponto de vista.

Leitura

Observar-se-á se o aluno, ao ler, localiza informações explícitas e implícitas,

compreende a ideia principal, identifica o tema, ativa seus conhecimentos prévios e

compreende o sentido de palavras e ou expressões no sentido conotativo.

Escrita

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Verificar-se-á se a produção do aluno atende à proposta do gênero solicitado, se

usa recursos de coesão e coerência, se há continuidade temática, se emprega

adequadamente os recursos de pontuação.

Outros elementos também serão levados em conta: se o aluno está apto para a

leitura e interpretação de outros textos literários; se ele percebe o “não dito”; se busca a

partir daí, o foco principal da obra no seu próprio contexto (social, econômico, histórico

e cultural), bem como se ele questiona e coloca seu ponto de vista, aceitando, ou não, as

ideias presentes; e se o leitor amplia suas habilidades, tornando-se um sujeito ativo no

processo de leitura, tendo voz em seu contexto.

SUBSÍDIOS TEÓRICOS PARA O TRABALHO COM CONTOS

A origem da palavra conto, na Idade Média, segundo Massaud Moisés (1978

p.15), significava ficção com o sentido de relatar. Naquela época, conto significava

“enumeração de fatos”, “relatos”, ou “narrativa”. Em A Demanda do Santo Graal,

transparece a marca de oralidade do conto. Nessa obra, é corriqueira a expressão “Ora

diz o conto que...”, usada com a função de estabelecer nexo entre os vários episódios

que compõem a intriga. Discorrendo sobre o assunto, Massaud Moisés afirma que as

breves histórias e lendas, conservadas no terceiro e quarto Livros de Linhagem são

verdadeiros contos, embora apresentem estrutura rudimentar. Mesmo não sendo

empregado literariamente o termo “conto”, naquela época, é inegável a existência da

origem.

Na evolução do gênero conto há uma evidente relação entre a

industrialização, a revolução tecnológica, e a técnica do conto que trouxe narradores do

absurdo como nas produções Kafkianas cujas situações não são explicadas. No Brasil, a

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minuciosidade vocabular nos contos chega ao auge na produção de Guimarães Rosa.

Sobre essa evolução Hohlfeltd (1988, p.19) afirma que

A multiplicação do gênero, por isso mesmo, a partir das revistas especializadas, sobre tudo na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas hoje em dia um pouco em todo canto do universo, e a preferência evidente do público leitor pelas áreas do conto de mistério, suspense, policial e mais recentemente de ficção-científica, transformaram o gênero num fato relevante na literatura, seja pela sua quantidade, seja por sua conseqüente qualidade.

Assim sendo, poderiam ser citados outros autores que também apontam o conto com

autonomia formal e até uma independência em relação às narrativas longas.

De qualquer modo, a origem do conto ainda é desconhecida. Estudiosos,

porém, apontam que os primeiros contos teriam surgido há milhares de anos antes de

Cristo, com o conflito de Caim e Abel. Esse e outros episódios bíblicos teriam sido os

primeiros contos. É da literatura árabe a coletânea mais famosa do gênero conto. Trata-

se da história de Xerazade, protagonista de As Mil e Uma Noites. As narrativas a

salvaram da morte, porque ela persuadia seu interlocutor, contando histórias que eram

interrompidas, a cada noite, deixando em suspense os episódios narrativos. Como no

exemplo de Xerazade, o conto, inicialmente, teria surgido por meio de narrativas orais,

que eram contadas sobre histórias de mitos e lendas.

Durante os séculos XIV e XIX, o conto foi bastante cultivado. Naquela

época, destacavam-se grandes mestres do conto como Giovanni Boccaccio, autor da

obra prima Decameron, Geoffrey Chaucer, com os Os Contos de Canterbury, Jean de

La Fontaine, com A cigarra e a formiga, a Tartaruga e a Lebre, a Raposa e as Uvas,

entre tantos outros conhecidos contos de fadas, além de Charles Perrault, de O

Soldadinho de Chumbo, Honoré de Balzac, Guy Maupassant e Mary Shelley.

Destacam-se, na Alemanha, os irmãos Grimm, publicando contos infantis. Muitos deles

são conhecidos no Brasil como, por exemplo, Branca de Neve e Chapeuzinho

Vermelho.

Mas é a partir do século XVIII que o conto começa a se fixar como gênero

literário escrito, estabelecendo-se definitivamente como gênero literário no século XIX.

Surgem, nessa época, alguns contistas de renome em língua portuguesa: Machado de

Assis, Eça de Queiroz, Alexandre Herculano e muitos outros.

O conto literário é diferente do popular ou folclórico. Soares (1989, p.56) afirma

que “não devemos confundir o conto literário com o conto popular, folclórico ou

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fantástico, como os de Grimm ou Perraut, ainda caracterizados pela oralidade”. Ao logo

da história, o conto foi deixando de lado o papel de moralizante. Nesse sentido, Gancho

(1999, p.4) insiste que o conto “hoje é muito apreciado por autores e leitores, ainda que

tenha adquirido características diferentes, por exemplo, deixar de lado a intenção

moralizante e adotar o fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo”.

Na verdade, o contista tem à sua disposição os mesmos elementos do romance

como aponta Linhares (1973, p.6):

a movimentação do contista se desenvolve no mesmo plano do romancista: ele tem à sua disposição a realidade, os seres, as coisas, o cenário, tudo, enfim, que o cerca, a sua função não sendo outra senão a de traduzir ou definir uma coisa em termos de conto. (...) O conto pode ser estruturado numa página, em duas, três, quatro ou dez da mesma forma, sem deixar de ser conto quando ele ainda vá além de tais limites. Há contos de mais de dez páginas que são obras-primas. Machado de Assis é autor de alguns deles. Um de seus contos mais curtos, “Uns braços”, chega a quase dez páginas.

No Brasil, o conto teria surgido na época colonial, mas como arte literária teve

sua expansão em meados do Romantismo. Afrânio Coutinho (2004 p. 46) afirma que

“mais certo seria dizer-se que o conto brasileiro, como expressão verdadeirmente

literária, viria da segunda fase do romantismo”, com o grande mestre do conto, no

Brasil, ou seja, Machado de Assis. Na verdade,

É ele, inegavelmente, o fixador das principais diretrizes do conto brasileiro, a vigorarem durante meio século, pelo menos, quer seguindo o roteiro dos românticos, sem perder de vista, no entanto, o signo nascente de Maupassant, com histórias de cuel realismo, de que não seria difícil achar nítidos reflexos em páginas como “Pai contra mãe” ou” A causa secreta”, quer prenunciando o que seria o conto moderno, a cristalização dum estado de alma, da atmosfera de certo ambiente moral, desde que, muito antes de Tchecov firmar-se na Rússia, já ele se tornara mestre insuperável do gênero no Brasil (COUTINHO, 2004 p.49).

Com efeito, entre os grandes contistas brasileiros destacam-se Machado de Assis

e Aluísio de Azevedo, abrindo espaço, mais tarde, para contistas como Clarice

Lispector, Lima Barreto, Otto Lara Resende, Lígia Fagundes Telles e Dalton Trevisan,

entre tantos outros.

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7. REFERÊNCIAS

AGUIAR,Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura; a formação do

leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

COUTINHO, Afrânio, A Literatura no Brasil . Volume 6 7ª edição. São Paulo.

GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Scipione, 1988.

LINHARES, Temístocles. 22 Diálogos sobre o conto brasileiro. Rio de Janeiro. José

MOISÉS, Massaud. A Criação Literária . São Paulo: Cultrix, 1978.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua

Portuguesa do Estado Paraná. Curitiba, 2008.

pt.wikipedia.org/wiki/Dalton_Trevisan – Acesso: 28/06/2010

HOHLFELDT, Antônio. O Conto brasileiro contemporâneo. Porto Alegre: Mercado

SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 1998.

TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.

_________. Em busca de Curitiba Perdida. 9ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2004.

_________. Cemitério de Elefantes. 17ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

_________. Quem tem Medo de Vampiro. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2004.

ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo:

Ática, 1989.