Da Constituição Histórica do Português ao seu Ensino ... · IV. Título. O83 Índice para...

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Da Constituição Histórica do Português ao seu Ensino. Estudos de Linguística P ortuguesa. Paulo Osório Darcilia Simões Maria Carlota Rosa (Orgs.)

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  • Da Constituio Histricado Portugus ao seu Ensino.

    Estudos de LingusticaPortuguesa.

    Paulo OsrioDarcilia Simes

    Maria Carlota Rosa(Orgs.)

  • Da Constituio Histricado Portugues ao seu Ensino.

    Estudos de LingusticaPortuguesa.

    Paulo OsrioDarcilia Simes

    Maria Carlota Rosa(Orgs.)

  • UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitorRuy Garcia MarquesVice-ReitoraMaria Georgina Muniz Washington

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    Estudos de Lngua Estudos de LiteraturaDarcilia Simes (UERJ, Brasil) Flavio Garca (UERJ, Brasil)

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  • Copyrigth 2017 Paulo Osrio; Darcilia Simes; Maria Carlota Rosa (Orgs.)

    CapaRaphael Ribeiro Fernandes

    DiagramaoDarcilia Simoes

    ProduoUDT LABSEM Unidade de Desenvolvimento Tecnolgico Laboratrio Multidisciplinar

    de Semitica

    PromooConvnio Internacional com a Universidade da Beira Interior - UPI/Portugal

    Grupo SELEPROT

    Coordenao EditorialDarcilia Simes

    FICHA CATALOGRFICA

    Osrio, Paulo; Simes, Darcilia; Rosa, M Carlota (Orgs.). Da Constituio Histrica do Portugus ao seu Ensino. Estudos de Lingustica Portuguesa.

    Rio de Janeiro: Dialogarts, 2017.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-8199-077-4

    1. Lngua Portuguesa. 2. Histria. 3. Ensino I. Bibliografia. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. III. Departamento de Extenso. IV. Ttulo.

    O83

    ndice para catlogo sistemtico469 Lngua Portuguesa409 Histria das lnguas412 Lingustica

    Grupo de Pesquisa: Semitica, Leitura e Produo de Textos

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    Da Constituio Histrica do Portugus ao seu Ensino.

    Estudos de Lingustica Portuguesa

    PAULO OSRIO DARCILIA SIMES

    MARIA CARLOTA ROSA (ORGANIZADORES)

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    NOTA PRVIA

    O livro que agora se apresenta uma iniciativa dos rgos sociais da AILP (Associao Internacional de Lingustica do Portugus), cujo mandato se desenvolveu no trinio 2014-2017. Graas ao apoio das edies Dialogarts da UERJ, foi possvel a concretizao desta realidade qual pesquisadores portugueses, brasileiros e angolanos se quiseram juntar.

    A obra constituda por um conjunto de artigos com temas diferenciados, mas que se norteiam desde aspetos que vo da constituio histrica e gramatical da lngua portuguesa at ao enfoque da temtica da lingustica aplicada.

    A AILP, ao longo deste trinio, tentou valorizar, difundir e internacionalizar a lngua portuguesa, bem como pugnar pelo desenvolvimento dos estudos de lingustica do portugus nas suas diferentes modalidades.

    Cabe-nos agradecer a todos quantos se quiseram associar a esta iniciativa e desejar aos leitores votos do maior proveito nesta viagem que aqui deixamos. Para ns, foi um imenso prazer poder oferecer mais este contributo atravs da reflexo de uma lngua que une, e no separa, todo o mundo lusfono.

    OS ORGANIZADORES

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    SUMRIO

    NOTA PRVIA ............................................................................. 5

    REFLETINDO A TRADIO GRAMATICAL: A LETRA NUMA ARTE DE LER DE QUINHENTOS ............................ 8

    Maria Carlota Rosa

    AMBIVALNCIA SEMNTICA DO MORFEMA GRAMATICAL S NA VARIEDADE ANGOLANA DO PORTUGUS .............................................................................. 37

    Kimavuidi Ferreira

    Paulo Osrio

    NEOLOGISMOS DO PORTUGUS BRASILEIRO CONTEMPORNEO: ALGUMAS CARACTERSTICAS ...... 54

    Ieda Maria Alves

    COMPETNCIA SIMBLICA E PROCESSO DE LETRAMENTO NO ENSINO PORTUGUS LNGUA NO MATERNA .................................................................................. 76

    Alexandre do Amaral Ribeiro

    ENSINO-APRENDIZAGEM DE PORTUGUS E ACOLHIMENTO DE CRIANAS IMIGRANTES RECM-CHEGADAS EM BRASLIA (DISTRITO FEDERAL) ............ 99

    Lcia Maria de Assuno Barbosa

    GNEROS TEXTUAIS E ENSINO: CARTA DO LEITOR .... 113

    Leonor Werneck dos Santos

    Isabel Sebastio

    Cristiane Barbalho

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    LEITURA E COGNIO: PROPOSTAS DE ATIVIDADES . 145

    Andreia Quadrio

    Hadinei Batista

    Maria Cecilia Mollica

    O PORTUGUS E A DIVULGAO CIENTFICA .............. 169

    Darcilia Simes

    Claudio Artur O. Rei

    O PAPEL DAS ESTRATGIAS DE COMUNICAO NO PROCESSO DE AQUISIO DE PORTUGUS ................... 193

    Francisco Jos Quaresma de Figueiredo

    Pedro Henrique Andrade de Faria

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    REFLETINDO A TRADIO GRAMATICAL: A LETRA NUMA ARTE DE LER DE QUINHENTOS

    Maria Carlota Rosa1

    1. Introduo

    Letra um termo que no costuma ser objeto de interesse em Lingustica. No s por conta do plano secundrio a que a escrita foi relegada durante muito tempo2 nos estudos lingusticos, nem apenas pela repetida frmula de que a Lingustica baniu a confuso entre oralidade e escrita, mas talvez principalmente porque esse conceito faz parte de conhecimentos adquiridos ainda no incio da vida escolar. Todos sabem o que uma letra, [c]ada um dos sinais grficos elementares com que se representam os vocbulos na lngua escrita, diz o Aurlio (FERREIRA, 1999). Esse entendimento parece a todos ser o mesmo desde sempre, e com ele que lemos, por exemplo, a conhecida passagem da Histria, em que Herdoto (485-426 a.C.) aponta a origem fencia do alfabeto grego:

    1 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereo para correspondncia: E-mail: [email protected] . 2 Um exemplo dessa perspectiva considerou todas as formas da escrita inteiramente exteriores ao domnio da lingustica, delimitando o mbito da disciplina apenas considerao da linguagem falada (GLEASON Jr., 1961, p. 431).

    mailto:[email protected]
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    Os Fencios que haviam acompanhado Cadmo [....] introduziram na Grcia [....] vrios conhecimentos, entre eles os alfabetos3 que eram, na minha opinio, at ento desconhecidos [....]. A princpio os Gregos fizeram uso dos caracteres fencios mas, com o correr do tempo, as letras foram-se modificando com a lngua e tomaram outra forma.

    (HERDOTO, Histria, V, 58)

    Parece tudo igual, mas... O interesse pelo tema desponta medida em que a leitura de clssicos anteriores ao sculo XVIII se torna necessria. no mergulho nesse mundo j distante que se percebe que a transferncia do significado atual desse termo para a leitura de textos antigos, especialmente aqueles com matrias mais gramaticais, traioeira. E quando se descobre que muitos linguistas j haviam chamado a ateno para o problema. Achar uma traduo nos dias atuais para grmma ou littera, afirmava Law (2003, p. 61), quase impossvel, porque podem corresponder a som da fala, a fonema, a letra, grafema ou a tudo junto (LAW, 2003, p. 61). E com isto em mente que afirmativas sobre a inabilidade dos antigos em distinguir som de letra comeam a parecer simplistas.

    Este captulo se volta para o conceito de letra, fundamental desde a Antiguidade no Ocidente, basilar na estrutura da gramtica que tinha curso no sculo XVI. O objetivo de focalizar esse conceito buscar as marcas do

    3 A forma plural encontra explicao, por exemplo, em Myres (1942, p.110): The place of the Greek alphabet or alphabets, for it is a group of closely related variants, like the Greek dialects among other early systems of alphabetic writing, is fairly clear in essentials, but still obscure in certain detail.

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    modelo gramatical quinhentista em uso em Portugal numa obra tambm desse perodo para o ensino da leitura mais especificamente numa parte dela, a saber, a Introduam pera bruemente aprender a ler, parte inicial da cartilha (ou cartinha) de Joo de Barros (c.1496-1592), publicada em Lisboa por Lus Rodrigues em 1539.

    Cabe aqui uma observao. Tanto a cartilha, publicada em 1539, como a gramtica, publicada no ano seguinte, tm grammatica da lingua portuguesa no ttulo4 (vide Figura 1).

    4 A Cartinha publicada em 20 de dezembro de 1539 e a Gramtica, 23 dias mais tarde (FERNANDES, 2005, p.131). O ttulo ornado de modo distinto em ambas as obras. Na Cartinha h sobre o ttulo uma cena escolar, onde um professor avalia o conhecimento de um aluno sobre as letras num ambiente superlotado de crianas e onde tambm circulam um gato e um cachorro. Na Gramtica o ttulo e os demais dados da edio esto numa portada arquitetnica, emoldurada por tarjas com elementos fito e zoomrficos que teriam sido adquiridos dos herdeiros de Geoffroy Tory (1480-1533?) em Paris (ANSELMO, 1993).

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    Figura 1 - O rosto da Cartinha e o da Gramtica

    Talvez tenha sido deciso do impressor e livreiro Lus Rodrigues5 o desmembramento do que parecia ser um conjunto de quatro obras6, e Barros parece no se ter

    5 No encontramos as datas de nascimento e de morte de Lus Rodrigues. Deslandes (1888, p.24) situa a atividade impressria de Rodrigues entre 1539 e 1554. Anselmo (1993: 270) recua em seis anos o perodo, ampliado, porm, de modo a englobar a atividade de livreiro, uma vez que em 1533 recebera alvar para a impresso das Ordenaes do Reino. No perodo anterior a 1539 ainda no teria oficina prpria e, sendo livreiro, encomendava a impresso a impressores j estabelecidos. 6 (BARROS, 1539, fl. A3): "E ante que se trte da grammtica, poerey os primeiros elementos das leteras, em mdo derte memoratiua, por mais facilmte aprender a ler: & de si os preeitos da lei & os mdamtos da igreia, c um tratdo de ouuir a missa. E no fim da grammtica uam dous dilogos, hum em louuor da lingua portuguesa, & outro da sobeia uergonha:

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    sentido satisfeito com o resultado da impresso de Lus Rodrigues7:

    Em acartinha passda, demos rte pera os mininos fcilmente aprender aler, c toda adiuersidde de syllabas que a natureza de nssa lingug padee. E assy lhes apresentamos os preeitos daley, e os mandamentos da santa mdre Igrea: c o tratdo da missa em as ques cousas cuem ser elles doutrinados por que como diz Sam Bernrdo, non cousa menos piadsa sinar o animo com sapiencia que dar mantimto ao corpo. Fica agor drmos os preeitos da nssa Grammatica, decuio ttolo intitulmos acartinha: como fundamto & primeiros elementos da Grmatica. E por que os mininos das escolas de ler & escrever, tomar a outra prte n sta, por ser o primeiro leite da sua criaam: pareenos que ficua esta sem fundamento nam declarando a s que uirem esta smte que na primeira he o prncipio, onde est dedicda ao principe nsso senhor.

    (BARROS, 1540, fl. 1verso grifo nosso)

    Neste trabalho faremos referncia obra publicada em 1539 como Cartinha, seguindo a informao no clofon8, reservando Gramtica para a

    mataeria conueniente idade em cuio proueito esta ussa bra se cpos". Apenas o primeiro desses dilogos segue a Gramtica, formando o conjunto de flios que vai de 49verso ao 60. 7 Se esse entendimento correto, Barros no teria sido o nico a reclamar de Lus Rodrigues. O humanista Andr de Resende (c.1500-1573) critica o trabalho desse impressor, afirmando que meio dia que no acompanhasse o trabalho de perto e estava tudo arruinado (In DESLANDES, 1888, p.24-27). 8 No clofon l-se A louuor de Deos e da gloriosa Virgem Maria, acbasse a Cartinha com os preceitos e mandamentos da santa mdre igreia, e c os

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    obra publicada em 1540, A Gramtica considerada o marco inicial do discurso metaortogrfico portugus, em razo da particularidade de dedicar os dez flios finais Ortografia (GONALVES, 2003, p. 804).

    No que se segue tratamos inicialmente de dois conceitos que, no que aqui interessa, caminharam a par: primeiramente, a gramtica e, a seguir, a letra. A quarta seo focaliza a teoria da letra em Barros. Por fim, as sees 5 e 6 focalizam a Cartinha, antecedendo breve concluso.

    2. Da arte das letras disciplina gramatical

    O alfabeto grego (e mais tarde, o latino) teve estreita relao com o que podemos traduzir como voz (phn, vox), a matria prpria da linguagem9 (ARISTTELES, v. ARISTOTLE, Generation of Animals, V, 7, 786b), no apenas porque no h como conceber um sistema de escrita sem relacion-lo a uma lngua falada: a conexo surgia tambm como parte de uma profunda reflexo sobre a realidade.

    Diferentemente das vozes animais, que respondem a um impulso, a voz humana responde razo. A voz um produto articulado do pensamento, na descrio de Digenes da Babilnia (c. 240-150 a.C.) (LONG, 1986, p. 132; semelhante em MATTHEWS, 1994, p. 11). A voz humana articulada: pode ser representada por letras, uma vez que tem unidades discretas (MATTHEWS, 1994, p. 11). Essa voz escrevvel (phn engrammatos, vox

    misterios da missa e responsoreos della, emprimida em a muy nbre e sempre lel cidde de Lizboa per autoridde da santa inquisiam em csa de Luis rodriguez liureiro delrey nsso senhor, com priuilgio rel aos .xx. de Dezembro de 1539. annos. 9 Para a traduo do gr. lgos, ver as observaes de Peck para Generation of Animals, de Aristteles (1943, p. xliv).

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    scriptilis - DESBORDES, 1988, p. 23), que a representao dos sons da fala (ARISTTELES, v. ARISTOTE, De lIntrpretation, 1,16a) contava com uma arte especfica: a arte de gramtica.

    O termo gramtica, que tem origem no gr. grmma, letra, no tinha inicialmente quer o mesmo escopo, quer o mesmo papel de seu descendente moderno (MATTHEWS, 1994, p.1). No Sofista, por exemplo, um dos dilogos platnicos que permitem encontrar informaes sobre matrias que na atualidade seriam do interesse da Lingustica, gramtica apresentada como a arte que tratava do modo apropriado de combinar as letras (PLATO, Sophist, 253a). Esta viso apontada como prpria da velha gramtica (SEPPNEN, 2014, p. 20) no esclio de Dionsio da Trcia, autor que se supe ter vivido por volta de 170 a 90 a.C., mas cuja obra conhecida por manuscritos bem posteriores, os mais antigos remontando ao sculo X, sobre tradues para o armnio ou para o siraco feitas em torno do sculo V (LALLOT, 2003, p. 13).

    no perodo helenstico (isto , entre o terceiro e o primeiro sculo a. C.), com a escola alexandrina e seu foco na apreciao da literatura grega, especialmente Homero, para um mundo de no falantes de grego que aprendiam grego que se prepara o surgimento da disciplina gramtica 10: os estudos passam a contar com a metalinguagem necessria, com nveis lingusticos estabelecidos e com um programa de pesquisa no que hoje chamaramos fonologia e morfologia (TAYLOR, 1995, p. 86; SEPPNEN, 2014, p. 32). No mais antigo e melhor testemunho do gnero compndio tcnico que a

    10 (TAYLOR, 1995, p. 87): By the end of Varros scholarly career the ars grammatica is an autonomous and independent body of knowledge.

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    poca helenstica nos legou (LALLOT, 2003, p. 16), a funo da gramtica enquanto arte das letras (SEPPNEN, 2014, p. 70)11 a compreenso da literatura em diferentes nveis:

    Gramtica a percia no que o mais das vezes se diz nos poetas e tambm nos prosadores. As partes dela, por sua vez, so seis: a primeira, a versada leitura com relao acentuao; a segunda, a explicao com relao aos tropos poticos presentes [no que se diz]; a terceira, a exposio corrente de palavras estranhas e tambm de histrias; a quarta, a descoberta da etimologia; a quinta, a demonstrao da analogia; a sexta, o julgamento dos poemas, a qual de fato a mais bela das que h na arte [gramatical].

    (DIONSIO DA TRCIA, 1 - traduo em MARTINHO, 2007, p. 154).

    A primeira parte dessa gramtica, isto , a leitura acurada, com ateno prosdia, continua o objetivo da velha gramtica, mas ganha contornos mais amplos.

    A nova disciplina no ser necessariamente vista com bons olhos. Mus syllaba est. Mus autem caseum rodit; syllaba ergo caseum rodit [Mus (rato) uma slaba. Mus (rato) come queijo; portanto a slaba come queijo], zomba Sneca, j no primeiro sculo da Era Crist (SNECA, Seneca ad Lucilium epistulae morales, ep. 48, 6 apud SEPPNEN, 2014, p. 173), enquanto Quintiliano

    11 The definition of grammar and the list of its parts by Dionysius Thrax reveal the function of grammar, as the art of letters: it is to make literature understandable at every possible level pronunciation, scansion, the meaning of each expression, orthography and, finally, to assess the value of the text as a literary product.

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    discordava daqueles que viam a gramtica como arte vazia e sem importncia (QUINTILIANO, I, IV, 5).

    Os nveis de uma arquitetura gramatical que focaliza a letra, a slaba, a palavra e inclui a sintaxe esto presentes no sculo II:

    La llamada materia primordial indivisible de las letras determinaba ya de antemano que no admite combinaciones al azar, sino segn un orden necesario, de lo que, en suma, recibi tal denominacin. Lo mismo sucede, si nos elevamos de nivel, con las slabas, las cuales, satisfechas las ordenaciones adecuadas, constituyen la palabra. Y manifiestamente se sigue que tambin las palabras, que son parte de la oracin perfectamente construida, reciben la ordenacin coherente; pues el significado subyacente a cada palabra es, en cierta medida, una letra de la oracin, y del mismo modo que las letras dan lugar a las slabas en virtud de sus combinaciones, as tambin la ordenacin de los significados dar lugar, por as decirlo, a slabas mediante las combinaciones de las palabras. Mas an, igual que de las slabas se constituyen las palabras, lo mismo la oracin perfecta de la coherencia de los significados.

    (APOLNIO DSCOLO, Sintaxis, I, 2)

    Prisciano (fl. sc. VI) divide a gramtica em quatro contedos: letra, slaba, palavra e orao, arquitetura que se fixa na Europa na segunda metade do sculo XII (ALMEIDA, 2005, p. 47) . E essa a tradio expressa na gramtica de Barros.

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    GRAMMATICA, E uocabulo Grego: qur dizer, ienia de leteras. E segundo a difinm que lhe os Grmticos dram: h mdo rto e iusto de falr, & escreuer, colheito do uso, e autoridde dos bares doutos. Ns podemos lhe chamr artefio de paluras pstas seus natures lugres: pera que medite ellas, assy na fla como na escritura, uenhamos em conhiimento das tenes alheas. Por que bem assy emtram as leteras pela uista, como as paluras pelos ouuidos: instrumento comque o nsso intendimto reebe as mais das cousas. [....] [Os Latinos] prtem a sua Grammatica em qurto prtes, Ortografia, que trta de letera, em Prosodia, que trta de syllaba, em Ethimologia, que trta da diam e em Syntaxis, a que respde a cstru, imita dos ques, (por termos as suas prtes), diuidmos a nssa Grmatica.

    (BARROS, 1540, fl. 2-2v)

    A tradio gramatical referida explicitamente, demonstrando o conhecimento de muitos autores latinos Glio, Prisciano, Quintiliano, Srvio, Vitorino mas lembrando ao leitor de que no tratar de muitas particulariddes da grammtica latina, e outras muitas da nssa porque se dirige aos principiantes (BARROS, 1540, fl. 40).

    3. A matria primordial da gramtica: a letra

    Na teoria da letra (MATTHEWS, 1994, p. 11) da Antiguidade, h uma tendncia a distinguir o som da fala

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    ou elemento (gr. stoikheon; lat. elementum)12 de sua representao na escrita, a letra (gr. grmma; lat. littera). O termo stoikheon remetia a um elemento da fala; a letra, por sua vez, remetia marca de um elemento da fala (MATTHEWS, 1994, p.10; 12; tambm LAW, 2003, p. 61). Elementos e letras so unidades indecomponveis primitivos, no sentido lgico13 ao contrrio de compostos, como a slaba (Teeteto, 202 ss). O elemento um som indivisvel (Potica,XX, 2), mas no qualquer som, porque os brutos enunciam sons indivisveis que no podem ser chamados elementos14.

    O sexto captulo da Tkhne de Dionsio da Trcia, Sobre o elemento (gr. Per stoikheou), afirma que As letras so tambm chamadas elementos porque formam uma linha e tm uma posio (Tkhne, VI, 8)15, 16, e a

    12 Segundo Myres (1942, p.63), smata, que aparece na Ilada, VI, 169, no se aplicaria a alfabetos ou silabrios, mas a pictogramas. Carlos Alberto Nunes traduziu o termo, nesse trecho, como sinais e sua traduo corrobora o entendimento de Myres: tendo escrito uns sinais mui funestos em duas tbuas fechadas, que ao sogro mandou que entregasse, para que viesse a morrer, visto a morte os sinais inculcarem. 13 Teeteto, 202b: A verdade, em suma, que nenhum desses elementos admite explicao; s podem ser nomeados: s o que tm: o nome. [....] A esse modo, as letras so inexplicveis e desconhecidas, porm percebidas pelos sentidos, ao passo que as slabas so conhecveis e explicveis e podem ser objeto da opinio verdadeira. 14 As duas tradues da Potica que usamos no fazem a diferena entre os termos: A letra um som indivisvel e The Letter is an indivisible sound; no original stoikheon mn on phn adiaretos. 15 A importncia da ordem parece derivar do uso das letras como numerais: Now both in Phenician and in Greek the letters were used not only as signs for sounds, but as signs for sequence or order, i.e. as numerals (MYRES, 1942, p. 113). A Gramtica, ao tratar da Ortografia, ainda insere as leteras numerais (BARROS, 1540, fl. 41verso-42), distinguindo o uso grego, em que a sequncia do alfabeto correspondia sequncia dos nmero naturais (i.e., para um, para dois) do uso latino ou portugus, em que no se guarda a ordem do alfabeto.

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    distino entre letra e elemento parece perder-se. O emprego nem sempre claro de letra e de elemento recebeu a crtica de Prisciano:

    Litera igitur est nota elementi et velut imago quaedam vocis literatae, quae cognoscitur ex qualitate et quantitate figurae linearum, hoc ergo interest inter elementa et literas, quod elementa proprie dicuntur ipsae pronuntiationes, notae autem earum literae, abusive tamen et elementa pro literis et literae pro elementis vocantur. [A letra , portanto, a marca de um elemento, como uma imagem de uma voz escrevvel, reconhecida pela qualidade e quantidade das figuras da linha. Esta, portanto, a diferena entre elementos e letras, que as pronncias so denominadas elementos; suas marcas, letras. Abusivo chamar elementos de letras e letras de elementos.]

    (PRISCIANO, Institutionum Grammaticarum, I-XII apud ABERCROMBIE, 1949, p. 56 ]

    Dois critrios classificam o som (MATTHEWS, 1994, p. 10-11; DESBORDES, 1988, p. 27): a possibilidade de formar sozinho uma slaba (caso das vogais) ou no (caso das consoantes, gr. smphna, lat. consonantes) e a

    16 Por outro lado, veja-se Aristteles (v. ARISTOTE, Categories, 6, 5a), em que a ordem no faz sentido em relao fala: Pour le discours, il en est de mme: aucune de ses parties ne subsiste, mais, telle partie une fois prononce, il nest plus possible de la ressaisir ; il en rsulte que les parties du discours ne peuvent avoir de position, puisque rien nen subsiste .

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    possibilidade de ser enunciado em isolado17. De acordo com este critrio, as vogais podem ser enunciadas em isolado, mas algumas consoantes tambm, caso das lquidas, como ou , e tambm das duplas, como (MATTHEWS, 1994, p. 11): so as semivogais (gr. hmphna, lat. semivocales). Parte das consoantes nem pode ser enunciada em isolado nem forma slaba sozinha: so as mudas (gr. phna, lat. mutae). Por essa razo seria bastante natural no falar em som, uma vez que o som concebido como um carter prprio da slaba (DESBORDES, 1988, p. 27).

    A letra era composta por trs aspectos: o nome, seu desenho e seu valor18. Este ltimo aspecto inclua a vocalizao e a distribuio.

    4. A teoria da letra em Joo de Barros

    Joo de Barros (1496-1570) divide a ienia das leteras ou gramtica em quatro partes: a Ortografia que trta de letera, a Prosdia, que trata da slaba, a Etimologia, sobre a palavra (ou diam) e a Sintaxe, sobre a construo (BARROS, 1540, fl. 2verso). Embora trate da Ortografia no no incio, mas no final da Gramtica em razo de querer leur a rdem dos artistas, e nam dos grammticos especulatiuos aos meninos, seu pblico-alvo (BARROS, 1540, fl. 40), Barros introduz uma seo sobre a letra logo no incio da obra. Nela reitera o carter de unidade mnima da letra, numa estrutura em que unidades de um dado nvel gramatical

    17 Dionsio da Trcia, Tkhne, 6, 12-24: on les appelle voyelles (phnenta) parce quelles rendent un son vocal (phn) par elles-mesmes [....] On les appelles con-sonnes (sm-phna) parce que, bien quelles naient aucun son vocal par elles-mmes, en con-struction (sn-tassmena) avec les voyelles, elle rendent un son vocal (phn) . 18 Em latim, respectivamente, nomen, figura e potestas; em grego, noma, kharaktr, dnamis.

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    se combinam para a formao de unidades de nvel imediatamente superior:

    Letera (segundo os grammticos) a mais pequena prte de qualqur diam que se pde escreuer: a que os latinos chamram nta, e os gregos carater, per cuia ualia e poder formamos as paluras. E a esta formaam cham elles primeiros elementos da lingugem: ca bem como do aiuntamento dos qurto elementos se compen todalas cousas: assy do aiuntamento das leteras has com as outras per rdem natural, se entende cada hum em sua lingugem , pola ualia que pos no seu, A, b, c. Donde as leteras ueram ter estas tres cousas, Nome, figura, poder. Nome, por que primeira chamam, A, a segunda, Be, a tereira, Ce, figura, porque se escruem desta maneira. A, b, c. Poder, pola ualia que cada ha tem, porque quando achamos esta letera A, ia sabemos que tem a sua ualia: e per semelhante mdo podemos iulgar das outras, que em numero sam uinte & tres, como as dos latinos, de quem s ns reebemos.

    (BARROS, 1540, fl. 3)

    Se a afirmao de que emtram as leteras pela uista, como as paluras pelos ouuidos nos leva a considerar que Barros j faz o uso do conceito atual de letra, o emprego no to claro ao apresent-las como primeiros elementos da lingugem. Enquanto elemento, a letra indecomponvel, mas ainda assim um conjunto de tres cousas: nome, figura e poder. Figura e poder mapeiam a relao entre o caracter e a voz.

  • 22 Os trs componentes esto nas 23 letras herdadas

    dos latinos: a, b, c, d, e, f, g, h, i, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, x, y, z e Barros chama a ateno para h ser aspirao e no letra (seriam, ento 22) e para o uso restrito de k. O elenco diminui para 22 na Cartinha, mas por conta da excluso de y.

    Barros prope elencos diferentes de letras segundo o poder ou segundo a figura, em nmero varivel (Quadro 1). O elenco mais numeroso de letras em razo da figura , com 33 figuras, composto por , a, b, c, , d, , e, f, g, h, I, i, y, l, m, n, , o, p, q, R, r, , s, t, V, u, x, z, ch, lh, nh (BARROS, 1540, fl. 40verso).

    Cartinha (1539)

    Gramtica (1540)

    Quantitativo (pgina)

    Quantitativo (pgina)

    Quantitativo (pgina)

    Quantitativo (pgina)

    Letras em poder

    22 (A3verso-A4)

    23 (3verso) 26 (40verso)

    6 (41)

    Letras em figura

    31 (A4verso) 34 (3verso) 33(40verso) 33(41)

    Quadro 1 - Elencos de letras em Barros

    A exposio na Gramtica tem incio pelas prinipes

    leteras do nsso A.b.c (BARROS, 1540, fl. 45verso), as vogais.

    So principais porque podem, sozinhas, ser pronunciadas

    (perfeita uz - BARROS, 1540, fl. 40verso), diferentemente das

    consoantes, isto , de todas as outras que nam sam uoges

    (BARROS, 1540, fl. 40verso), que precisam da vogal para ter

    som.

    As cinco vogais do latim ganham oito figuras: , a, , e, i, , o, u (BARROS, 1540, fl. 42verso). A variao na figura se d, basicamente, pela adio de diacrticos que

  • 23

    assinalam grau de abertura, mas tambm informaes morfossintticas (Quadro 2).

    Poder Nome Figura Exemplo 1 A 1 grande (preposio),

    (verbo) 2 pequeno a, , a (artigo), (cltico)

    2 E 3 grande (verbo), f 4 pequeno e e, le

    3 I longo (consoante)

    I, j Iustia

    5 pequeno ou comum

    i i (imperativo)

    grego* y veyo, py, 4 O 6 grande ns, vs, nsso, psso

    7 pequeno o, o (artigo), (cltico) 5 V (consoante) v vulto, veio

    8 comum u escritura Quadro 2 - As vogais segundo Barros.

    N.B.: O asterisco assinala o que no consta do abec da Cartinha

    O critrio da possibilidade de pronncia em

    isolado, que distingue vogais de consoantes, ganha uma nova perspectiva em Barros, porque o autor deriva do nomen a classificao das consoantes em mudas e meias vogais (Quadro 3):

    As mudas sam, b, c, d, f, g, p, q, t. Chamanse mudas, por que tirando as leteras uoges c que s nomeamos fic sem nome: ca se tirrmos ao, b, esta letera, e, com que se nomea e soa, be, fica muda. l, m, n, r, s, x, z. chamanse meas uoges por terem ante e depois de sy uogl que s nomea, E a esta letera, l. o seu uerddeiro nome , le. E que, x, z, nam mstr em suas prolaes, ambas as uoges que digo, sempre serm

  • 24

    meas uoges, por razam do offiio que tem doutras duas leteras em cuio lugr ellas sruem: ca esta letera, x, breuiatura destas, cs, e ,z, de sd.

    (BARROS, 1540, fl. 40verso-41)

    Desse modo, Barros faz meia vogal equivaler a no meio de vogais no nome da letra, explicao que seria criticada dcadas mais tarde por Nunes de Leo19. Para a classificao em lquidas , Barros se volta para a pronncia (BARROS, 1540, fl. 41).

    H trs prolaes que, proprias da nssa lingua (BARROS, 1540, fl. 4verso), no tm figura: ch, lh, nh. E ainda . Nem tm nome.

    Nome Poder Figura b

    MU

    DAS

    B b c C c

    d D d f F f

    gu G g p P p

    qu Q qu t T t ele

    MEI

    AS

    VOGA

    IS L l LQ

    UID

    AS

    eme M m erre, ere

    R R, rr, r

    19 (LEO, 1576, p.2): As semiuogaes so. l. m. n. r. s. x. z. Chamose semiuogaes, no como cuido algs, porque comeo, & acabo os nomes dellas em vogal, mas porque se formo em tal parte da bocca, que se pdem pronciar sem ajuda das vogaes, posto que no fazem per si syllaba.

  • 25

    ene N n esse S

    s (final de palavra)

    xi X ze Z

    Quadro 3 - Consoantes

    A voz se faz na slaba (BARROS, 1540, fl. 4), pelo ajuntamento de uma vogal com uma, duas e at trs consoantes, reservando Barros a denominao slaba para aquelas que no se resumem apenas vogal (BARROS, 1540, fl. 4).

    5. Uma arte de gram proveito pera os mininos

    Que idade teriam os mininos? Se voltamos a uma das fontes explcitas de Barros, Quintiliano, o ensino da leitura teria incio ainda antes dos sete anos, assim que puderem falar, porque os passos iniciais das letras se do pela memria apenas, que no s est presente nos pequenos, mas ento tambm muito persistente (QUINTILIANO, I, 1, 19).

    Joo de Barros deixou registrado no Dilogo em louvor da nossa linguagem seu descontentamento com o modo como ento se dava o ensino das primeiras letras em Portugal. A crtica atinge vrios aspectos do processo. Um deles a qualificao dos que ensinam, que por descaso do Estado, falha moral e academicamente:

    Nem todolos que insinam a ler e escreuer, n sam pera o ofiio que tem quto mais entdella [a Gramtica - MCR], por crara que seia. [....] Ha das cousas menos oulhda que nestes reinos, csintir em

  • 26

    todalas nbres uillas e iddes, qulquer idita e n aproudo em costumes de b uiuer, poer escla de insinr mininos. E h apateiro que o mais baixo ofiio dos macanicos: nam pem tda sem ser examindo. E este, todo o ml que fz, danr a sua plle, e n o cabedl alheo, e mos mstres leix os discipulos dandos: pera toda sua uida.

    (BARROS, 1540, fl. 58verso-59)

    O despreparo dos mestres de primeiras letras para o ofcio reflete-se no material improvisado para as aulas: cartas de venda, demandas e outros papeis notariais (BARROS, 1540, fl. 59). Esse material, sendo manuscrito (letera tirada), introduz uma indesejada variao, que o estudante anda h anno aprdendo por h feito: por que a cada folha, coma nuamte conheer a diferena da letera que causou o apro da pena com que o escrium fez outro termo iudicil (BARROS, 1540, fl. 59). Barros recomenda a cartinha e em letra redonda, material que no somente torna mais fcil o ensino-aprendizado da leitura como se volta ainda para a formao moral da criana.

    6. O ensino da leitura na CARTINHA

    No prlogo ao Prncipe, Barros descreve seu material sobre os primeiros elementos das leteras como uma arte memoratiua. No se afasta, por conseguinte, da prtica de ento.

    A introduam pera aprender a ler apresenta cada letra em minscula em isolado e, em maiscula, como a primeira letra de uma palavra, ilustrada logo abaixo dela, como exemplificado na Figura 2.

  • 27

    Figura 2 - A letra N de no (BARROS, 1539, fl. A4)

    Seguem-se as 31 letras em figura e as vogais em figura. Uma grande esfera aconselha no seu crculo externo: Meninos sabei nesta espera emtrar Sabereies syllabando muybem soletrar. No seu interior esto dispostas, a modo resumido, todas as cartas de slabas, sejam com duas, trs ou quatro letras. Esses nmeros do conta de slabas cuja estrutura contempla ataque no preenchido, ataque simples (com apenas uma consoante) ou ramificado, com duas consoantes, com ou sem coda preenchida (Quadro 4).

  • 28

    Ataque Rima Ncleo Coda

    a s b a

    b l a b r a l

    Quadro 4 - Posies silbicas focalizadas na Cartinha

    A comear por b, por exemplo, a esfera permite as

    sequncias CV20 (ba, be, bi, bo,bu), CVC (bal, bel, bil, bol, bul;

    bam, bar, bas...), CCV (bla, bra) e ainda CCVC (bral, bram,

    brar, bras), como ilustra a esfera na Figura 3. A memorizao

    de slabas inexistentes em portugus no vista como

    problema, porque syllabdo & ditongando perigrinas dies:

    faz perder muita parte da peuide/ em quanto alingua tenrra

    (BARROS, 1539, fl. [A8]). Por outro lado, embora sejam

    possveis, slabas formadas apenas de vogal, o ncleo da

    slaba, no tm lugar na Cartinha, o que est em acordo com a

    explicao presente na Gramtica: E por que s uezes ha s

    letera uogl srue de syllaba, prpriamtea esta tal n

    chamaremos syllaba: mas quella que for compsta de uogal e

    csote (BARROS, 1540, fl. 4).

    20 C representa consoante e V, vogal.

  • 29

    Figura 3 - A esfera de slabas da Cartinha (Barros, 1539, fl.A4verso)

    A beleza grfica da Cartinha no esconde o primeiro grande obstculo do aluno: a memorizao de cada figura aliada ao nome, a soletrao, que tinha como armadilha de conhecimento j antigo (vide QUINTILIANO, I,1, 24-25) a memorizaao de nomes sem o emparelhamento com figura.

  • 30 Uma outra cartilha publicada por volta do mesmo

    perodo do sculo XVI21 demonstra que o estudo do alfabeto e da letra inclua ainda a memorizao de perguntas e respostas, num dilogo Mestre-Discpulo, sobre o que uma letra, quantas e quais so; o que uma vogal, quantas e quais so; o que uma consoante, seu nmero e quais so, se h letra. Os exerccios de soletrao, isto , a nomeao de cada letra enquanto componente da slaba foram difundidos por sculos. Figueiredo ([1722]: 22-23), por exemplo, exemplifica um desses exerccios com a palavra Pedro, deixando clara a dificuldade de extrair significado:

    hum p, hum e, pe, hum d, hum r, hum o, dro, que findo o nome perde o menino a consonancia q fazem as syllabas, vicio difficultozo de tirar aos que fora criados com elle [....] & [....] tirando a palavra, hum, he o perfeyto modo de ensinar, [....] que para o menino tirar fruto da lia, ha de ir nomeando as letras; & tanto que chegar a ultima; que frma syllaba, darlhe o tom, que ellas fazem, & assim todas as mais at findar o nome

    Aparentemente a memorizao dos nomes poderia

    desvincular-se da figura: aqueles que aprendem o ler de outiva no conseguiam depois escrever uma nica palavra a no ser no traslado (FIGUEIREDO, [1722], p. 12).

    21 ANNIMO. s.d. Cartinha. Lisboa: Germo Galhardo.(Biblioteca Pblica de vora, Res. 300A).

  • 31

    6. Concluso

    A complexa concepo de letra com duplo valor de elemento e de marca e a soma de nome, figura e poder estiveram presentes no ensino da leitura por sculos. Sua longa permanncia nos legou um nome: b-a-b. Representava a primeira slaba das tbuas de slabas, decomposta no nome das letras, aliadas s figuras e poder. Juntas davam o som da slaba. O tempo gasto na memorizao de nomes de letras no teve bons efeitos na didtica de leitura:

    Capitulo X. De la razon porque los nios tardan tanto en aprender a leer, y prueuase ser la causa que lo dificulta, la nominacion de las letras con que los ensean. A LOS nios les ensean el conocimiento destas veynte y dos letras, con nombres las diez y siete, que en sabiendolos han de tener necessidad de oluidarlos al cabo de auer gastado mucho tiempo en aprender su nominacion, o cuydado de no vsar dellos, porque quando les piden que las junten (que es a lo que se llama deletrear) no pueden hazerlo por ser falso el fundamento que lleuauan, pues si junta la, m, y la, i, no podran dizer, mi, como les obligan a que lo digan, sino, emei. Y la causa de tardar tanto los muchachos en aprender cosa tan facil, es porque vn tiempo gastan en saber los nombres, y otro en saber no aprouecharse dellos, y no les es menos dificultoso lo vno que lo otro, porque como no tienen edad discursiua para expressar el empacho que se les ofrece, sientenle solamente [....]

    (BONET, 1620, p. 55-56):

  • 32 A repetio em voz alta, se no alijada a figura,

    podia levar ao reconhecimento da slaba escrita, mas dificilmente faria um aluno descobrir o princpio alfabtico, isto , reunir dois tipos de conhecimento: de um lado, a conscincia fonmica a percepo de que a cadeia da fala uma coleo de elementos que podem ser isolados, os fonemas e, de outro, que cada representao mental de som ou fonema pode ser capturada numa letra ou sequncia especfica de letras. Saber que b e a fazem ba no leitura: apenas o desmembramento letra a letra de uma slaba. Talvez isso forasse a vocalizao ou subvocalizao no intencional.

    Quando o conceito de letra comea a mudar? Segundo Abercrombie (1949), no sculo XVIII. No dicionrio de Morais Silva (1789), por exemplo, letra [c]aracter de mo, ou tipo, que representa as vogaes, ou sons; e estas se dizem letras vogaes; ou representa as modificaes, que precedem aos sons, e se dizem letras consoantes. J no fala em nome, figura nem poder.

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    http://www.doria.fi/handle/10024/94624?show=full
  • 37

    AMBIVALNCIA SEMNTICA DO MORFEMA GRAMATICAL S NA VARIEDADE ANGOLANA DO

    PORTUGUS

    Kimavuidi Ferreira22 Paulo Osrio23

    1.Situao lingustica do Portugus em Angola

    Para que se perceba a situao da lngua portuguesa em Angola deveras necessrio que se tenha em conta os contextos social, cultural e lingustico desse territrio. Com efeito, e a exemplo de muitos pases africanos, Angola um pas com um verdadeiro manancial lingustico (Costa, 2015:10), no qual a lngua portuguesa a nica que goza de estatuto e de polticas lingusticas tangveis. Pois embora a Constituio da Repblica de Angola, no ponto 2 do Artigo 19, estabelea que o Estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilizao das demais lnguas (o ponto 1 do mesmo Artigo refere que a lngua oficial da Repblica de Angola o Portugus) de Angola, o facto que s lnguas nacionais tem sido dedicado pouqussimo interesse e ateno. Assim, a lngua portuguesa tem, em Angola, o estatuto de lngua oficial, exercendo um papel

    22 Universidade da Beira Interior (Portugal). E-mail: [email protected] 23 Universidade da Beira Interior (Portugal). E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]
  • 38

    plurifuncional nos domnios scio-poltico-econmico e cultural; a lngua veicular, por permitir o elo comunicacional entre os vrios grupos etnolingusticos a nvel nacional (Fernandes; Ntondo, 2002:18). A lngua portuguesa em Angola falada por grande parte da populao urbana do pas, embora nem toda essa populao a tenha como lngua materna.

    O facto de, a partir do sculo XV, os portugueses se terem estabelecido no territrio hoje conhecido como Angola e de nele permanecerem durante cinco sculos, resultando na coabitao da lngua portuguesa com as diversas lnguas nacionais de Angola, criou, inevitavelmente, condies para que a lngua de Cames, naquele territrio africano, se diferenciasse da variedade europeia (Fernandes; Ntondo, op. cit.: 103). Na verdade, nenhuma lngua permanece uniforme por muito tempo, quando falada em territrios diferentes e esse contacto resultou numa variedade angolana diatopicamente distinta da variedade europeia, em aspetos fonolgicos, sintticos, semnticos, etc.

    Analisaremos, aqui, a ambivalncia semntica do morfema s na VAP, mas no sem que, antes, se forneam algumas informaes, ainda que sumrias, sobre a cortesia lingustica, porquanto o morfema em apreo est ligado, em Angola, s frmulas de cortesia lingustica.

    2.Frmulas lingusticas de cortesia em Portugus

    A cortesia lingustica um princpio pragmtico fortemente determinante no desenrolar da interao discursiva entre os actantes. Inscreve-se, assim, no quadro das interaes verbais como um fenmeno linguisticamente pertinente, que toma para objeto de estudo elementos de complexidade varivel, desde frmulas ritualizadas, expresses convencionalmente

  • 39

    tidas por corteses, at todo um complexo jogo de estratgias conversacionais.

    Os princpios interacionais de cortesia lingustica esto presentes em todas as comunidades lingusticas, sociais e culturais, mas cada lngua possui um sistema particular de cortesia. Por isso, as estratgias de cortesia variam de cultura para cultura. So frmulas de cortesia lingustica em portugus o imperfeito de cortesia e o condicional-imperativo; as frases interrogativas diretas; os advrbios e locues adverbiais como se no te importas, por favor (Mateus, 2003:459-460), etc.

    2.1. Funo da locuo adverbial por favor

    Importa aludir, com as devidas ressalvas, ao facto de que a expresso por favor no faz parte do conjunto de classes de palavras descritas e classificadas na perspetiva da gramtica tradicional, razo pela qual a sua classe e designao gramaticais constituem alguma dificuldade, em se tratando de proceder sua classificao morfolgica. Quanto a essa lacuna, Cunha e Cintra (2000:153) ressalvam que difcil enumerar todos os tipos de adjuntos adverbiais. Segundo os mesmos autores, muitas vezes, s em face do texto e do contexto se pode propor uma classificao exacta. Contudo, a mesma expresso, isto , por favor, analisada, numa perspetiva descritiva, por Mateus (op. cit.: p. 460) como modificador de atenuao do acto directivo de ordem.

    Ademais, haja vista as particularidades sintagmticas da mesma (como a sua mobilidade frsica, por exemplo) e tendo em conta a sua constituio morfolgica (preposio seguida de substantivo), aceitam-se as designaes de adjunto e de locuo adverbial, respetivamente, propostas por Gonalo (2010:45) e por Gomes (2013:15). Mais ainda,

  • 40

    considerando a sua natureza semntica, poder-se- classificar a expresso em apreo como locuo interjetiva, visto que, muitas vezes, as interjeies podem ter a funo de uma orao (Metzelti e Candeia, 1982: 240). Com efeito, indubitvel que a expresso por favor comporta, muitas vezes, dependendo do contexto, uma semntica oracional, sendo representada por frases elticas, bastando pensar, a ttulo ilustrativo, quando algum, desejando ter permisso para aceder a ou desejando abordar algum diz Por favor!. Em tais contextos, na verdade, subentendem-se frases como D-me a permisso / a licena de / para, Fazia o favor de, Teria a gentileza de, etc. Em termos pragmticos, a locuo adverbial por favor emprega-se na produo de atos ilocutrios diretivos, com vista a demonstrar gentileza, cortesia, delicadeza e respeito. De acordo com Mira Mateus (op. cit.: 74), so exemplos de atos ilocutrios diretivos a ordem e o pedido, por terem ambos os atos as mesmas intenes e o mesmo objetivo ilocutrio, embora as foras da ilocuo sejam completamente diferentes, sendo que a ordem normalmente expressa pelo modo imperativo ou pelos seus substitutos, ao passo que o pedido mais frequentemente formulado sob a forma de uma pergunta. Mas, para alm de poderem ser representados por uma ordem ou por um pedido, os atos ilocutrios diretivos podem tambm ser formulados por uma sugesto, por um conselho, por uma exortao, por uma ilustrao, ou mesmo, por uma simples solicitao de informao, j que as frases expressas com essas intenes comunicativas apresentam traos formais e valor pragmtico semelhantes frase imperativa.

    Exs.: Queria uma folha de frequncia. (imperfeito de

    cortesia)

  • 41

    Traga uma folha de frequncia. (conjuntivo supletivo)

    Trazer uma folha de frequncia. (infinitivo).

    Traz uma folha de frequncia. (imperativo)

    Podia trazer uma folha de frequncia? (pedido representado por uma frase interrogativa)

    Como se observa, apesar de em nenhum dos atos ilocutrios acima aparecer a locuo adverbial por favor ou algum equivalente da mesma, a mensagem de cada frase atenuada com o recurso ao uso dos equivalentes do modo imperativo. Todavia, no resta dvida de que a presena da frmula de cortesia nas mesmas frases ter-lhes-ia conferido maior mitigao, a qual, de acordo com Fraser (1980), Holmes (1984) e Haverkate (1994) apud Gomes (ibidem), consiste na modificao de um ato de fala, reduzindo certos efeitos negativos que o mesmo pode ter sobre o ouvinte, sendo, portanto, esta a principal funo da locuo adverbial por favor: mitigar o imperativo, tradicionalmente concebido para a formulao de ordem, transformando-o em pedido, e conferir um carter corts frase imperativa. Observem-se, pois, as frases que se seguem:

    Ex.: Entrega esta encomenda Ana, por favor.

    Pode, por favor, fechar a porta?

    Constata-se que estas duas frases no deixam de conter em si o carter imperativo, mitigado, todavia, pelo uso da locuo adverbial por favor. Porm, segundo Gomes (op. cit.: 46), em portugus europeu, no forosamente verdade que a ordem seja pouco corts, caso no se faa o uso da locuo por favor. Se, por exemplo, segundo o autor, algum disser ao convidado Toma outro caf!, trata-se de uma ordem corts e,

  • 42

    contudo, utilizado o imperativo sem o adjunto adverbial (designao do autor) por favor. No entanto, se, neste mesmo contexto, o locutor usar o condicional e uma construo interrogativa, como, por exemplo, Poderia tomar outro caf? [Mas no toma], a expresso torna-se descorts e pouco delicada. Por isso, independentemente do tempo verbal e do ato de fala utilizados pelo locutor, a cortesia subordina-se tambm ao contexto e relao social entre os interlocutores. J no portugus do Brasil, citando o mesmo autor, especialmente no falar carioca, seria muito descorts a utilizao do imperativo. O carioca ficaria ofendido com a frase Passe-me o sal!, mas no teria qualquer problema em aceitar a mesma frase, com a mesma inteno comunicativa, desde que se substitusse o imperativo pelo condicional: Daria para voc me passar o sal? Isto demonstra, portanto, e como j foi apontado anteriormente, que as estratgias de cortesia variam de cultura para cultura.

    2.2. Caractersticas sintticas da locuo adverbial por

    favor

    A principal propriedade sinttica da locuo adverbial em estudo a sua mobilidade frsica, ou seja, a locuo por favor uma expresso acessria (posto que a sua ausncia no altera a estrutura frasal) que pode funcionar em qualquer posio frsica. Apesar de no ser um elemento essencial estrutura da frase, a sua ausncia retira-lhe, todavia, a polidez. Em ordem a melhor evidenciar a natureza mvel desta expresso de cortesia, eis alguns exemplos:

    Ex.: Por favor, no te esqueas de fechar a porta.

    No te esqueas, por favor, de fechar a porta.

  • 43

    No te esqueas de fechar a porta, por favor.

    No eixo paradigmtico, a locuo adverbial por favor pode ser comutada por equivalentes como se no se importa e, mais raramente, por obsquio, ou ainda, por frases como tenha / tem a gentileza de

    Exs.: No te esqueas, por obsquio, de fechar a porta.

    No te esqueas de fechar a porta, se no te importas.

    J na VAP, a nvel coloquial, em vez da frmula de

    cortesia por favor e dos equivalentes apontados, regista-se, em substituio, o uso do morfema s. Mas preceder-se- a abordagem da anlise morfossinttica do vocbulo s, tendo em conta o ponto de vista da gramtica tradicional.

    3.Valor morfossinttico e semntico do morfema s

    Tal como muitos vocbulos, palavras e expresses, o morfema s , na tradio gramatical da lngua portuguesa, um vocbulo transcategorizvel. Refira-se, tendo como fonte Cunha e Cintra (1997:57-58), que os morfemas so unidades mnimas de som e contedo. , decerto, esta dualidade som-contedo que leva tipificao e distino entre morfemas gramaticais (palavras vazias, com funo estritamente gramatical) e morfemas lexicais (as chamadas palavras plenas). Sendo assim, o morfema s, quanto sua natureza morfossinttica, um morfema gramatical preso. Morfema gramatical que, quanto sua natureza semntica, no tem significao externa lngua e preso por no funcionar ou ocorrer isolado, com autonomia vocabular ou descontextualizado. Outro aspeto digno de

  • 44

    referncia volta da natureza morfossinttica do morfema s a sua gramaticalizao (Raposo et alii 2013:249), isto , o morfema s uma unidade lingustica que pode passar de uma classe gramatical para outra. Logo, essa gramaticalizao ou transcategorizao provoca, evidentemente, mudanas formais quer na sua estrutura mrfica quer nos seus traos smicos. Veja-se a frase:

    Ex.: S me apetece ficar s.

    Ora, se se proceder comutao dos morfemas por expresses que lhes sejam mais ou menos prximas, poder-se- chegar seguinte construo:

    Ex.: Apenas me apetece ficar sozinho(a).

    obviamente constatvel que o morfema foi passvel de gramaticalizao ou transcategorizao. De acordo com a gramtica tradicional, um dos critrios de referncia para a categorizao das palavras o facto de algumas serem flexionveis e outras no. Ressalte-se, todavia, que esse critrio de classificao apresenta simplificaes, pelo que nem sempre pode ser analisado de maneira rgida e estanque (Raposo et alii: 333). Sendo assim, a gramtica tradicional apresenta, com base nesse critrio, duas grandes classes de palavras: a classe lexical e a classe gramatical; e de acordo com Raposo (ibidem), a distino bsica (e plausivelmente a mais fundamental) entre ambas se estabelece no plano semntico. A classe lexical apresenta elementos com um significado descritivo extralingustico, significado esse que denota entidades ou situaes exteriores linguagem (coisas, pessoas, animais, qualidades, lugares,

  • 45

    ideias, etc.), so flexionveis e fazem parte de um grupo aberto, por permitirem a formao de novas unidades lexicais. Em contrapartida, os constituintes das classes gramaticais tm essencialmente uma funo estruturadora, quer ao nvel da frase quer ao nvel do discurso. Raramente flexionam e so plenos de valor semntico. Pertencem, por conseguinte, a classes fechadas. Com base nestes critrios, pode-se compreender a classificao do morfema s. Para tal, socorramo-nos, uma vez mais, do exemplo anteriormente apresentado, desta vez com a frase pluralizada:

    Ex.: S nos apetece ficar a ss.

    Nota-se que o primeiro morfema, esteja a frase pluralizada ou no, no permite flexo. J o segundo permite. Consequentemente, o facto de o morfema s, ora ser passvel de flexo ora no, leva a enquadr-lo nas duas classes gramaticais apresentadas por Raposo. Ser enquadrado na classe lxica dos adjetivos quando o mesmo retratar o sentido de sozinho, solitrio, desacompanhado, livre ou vontade. Nesta assero, permitir flexo, concordando com o nome. Confira-se:

    Exs.: Antes de ser casado, vivi s durante trs anos. (vivi

    sozinho)

    As crianas no podem ir ss praia. (no podem ir

    desacompanhadas)

    Deixa-nos a ss. (deixa-nos livres, vontade)

  • 46 Contrariamente, quando o morfema s toma o

    sentido de apenas, somente, simplesmente, etc., atribui-se-lhe a funo de advrbio e, nesta perspetiva, faz parte do grupo dos morfemas gramaticais, tornando-se invarivel24:

    Ex.: Alguns colegas iro a Angola s por uma semana.

    (apenas por uma semana, e no mais do que isto)

    Por fim, vale referir que o morfema s, enquanto advrbio, possui valor restritivo, razo pela qual a sua posio no eixo sintagmtico constitui um aspeto de grande significncia. Analise-se:

    Exs.: Hoje, o professor s corrige os trabalhos.

    S hoje o professor corrige os trabalhos.

    No primeiro exemplo, a ideia que se pretende transmitir a de que o professor no faz outra atividade hoje, a no ser a correo dos trabalhos. Por seu turno, no segundo, pretende-se dizer que o professor s se disponibiliza a corrigir os trabalhos hoje e no amanh, por um lado. Por outro, tambm se pode depreender da mesma frase a ideia de que o professor devia corrigir os trabalhos j h muito tempo, mas no o fez.

    Dessa forma, conclui-se que, no primeiro enunciado, o advrbio modifica o verbo, ao passo que no segundo, modifica o outro advrbio (hoje).

    24 Pode, contudo, ser suscetvel de alguma variao, caso se lhe acrescente o sufixo mente, perdendo, no caso, o acento grfico.

  • 47

    3.1.Valores semnticos do morfema gramatical s na VAP

    Tem-se constatado na VAP a tendncia e, no raras

    vezes, a preferncia pelo uso do morfema s, em substituio da locuo adverbial por favor. A proficuidade da anlise deste tema consiste no facto de a riqueza de uma lngua assentar na plurissignificao que as suas palavras tomam e na renovao do seu lxico, atravs dos vrios processos de expanso e inovao lexical de que cada lngua dispe. O processo de extenso semntica que se observa volta do morfema s, na variedade angolana do portugus, constitui, deveras, uma riqueza semntica e uma matria de interesse lingustico. Por isso, julgamos pertinente analisar o assunto.

    Visto que no se procedeu aplicao de qualquer inqurito com o intuito de justificar o assunto em anlise, recorreu-se obra Manana, do escritor angolano Uanhenga Xitu, da qual foram extrados alguns exemplos e so, igualmente, apresentadas algumas frases da autoria de Buala, nas quais se pode observar a ocorrncia do morfema s com o valor semntico de por favor e outros mais.

    - senhor, mi mostra ainda s a casa do senhor Felito?

    (Xitu, 1988:60)

    -Mano Felito, d c s cinco tostes Man d-mi s

    cem ris mi compra chupa-chupa (op. cit. p. 36)

    S se a gente no nasceu no mesmo barriga.(op. cit.,

    p. 119)

  • 48

    -X, Felito! No est a ouvir? Vou contar-te na mana Bia.

    Espera s(op. cit., p. 44)

    O nico que sobrou s sou eu. (Buala)

    Me d l s 10 kwanza. (Buala)

    Me faz s um kilapi25. (Buala)

    Nas frases apresentadas, cujo itlico da nossa responsabilidade, Buala no pretendeu, evidentemente, demonstrar as particularidades semnticas do morfema s. Quis, ao invs, evidenciar outras marcas funcionais da variedade angolana do portugus, tais como a ocorrncia frequente dos clticos na posio procltica, a falta de concordncia entre determinados constituintes frsicos, a incorporao de palavras africanas no portugus, etc.

    Os exemplos que acabam de ser apresentados confirmam, inegavelmente, que estas ocorrncias so mais facilmente verificadas no falar popular e a nvel coloquial, pois as mesmas esto eivadas de marcas da oralidade. Mas exatamente o facto de tais construes ocorrerem com maior incidncia no sermo plebeius angolano que leva a crer que, num horizonte temporal no muito longnquo, a tendncia em substituir o uso da locuo adverbial por favor pelo morfema s se estandardize.

    Constata-se, ora, na frase O nico que sobrou s sou eu. que o morfema s tem a funo morfossinttica de advrbio e a semntica de apenas, somente. J na segunda, Me d l s 10 kwanza., o morfema no s restringe o valor do numeral, mas funciona tambm como expresso de delicadeza, em vez da locuo adverbial por favor. Quanto frase Me faz s um kilapi.,

    25 Emprstimo monetrio ou de algum produto que esteja venda; vale; crdito.

  • 49

    o morfema funciona, igualmente, como expresso de cortesia, respeito, tal qual sucede nas duas primeiras frases retiradas de Manana - senhor, mi mostra ainda s a casa do senhor Felito? e -Mano Felito, d c s cinco tostes Man d-mi s cem ris mi compra chupa-chupa

    No restando margem para dvida de que, em Angola, se verifica o uso do morfema s com o valor da locuo adverbial por favor, analise-se, por ora, a frase s se a gente no nasceu na mesma barriga. Nesta frase, ao contrrio das j analisadas, o morfema s no tem o valor semntico de por favor, mas funciona como conector subordinativo condicional, porquanto a frase poderia ser assim construda: A no ser que a gente no nasceu na mesma barriga, ou ainda A menos que a gente no nasceu na mesma barriga. Por ltimo, na frase -X, Felito! No est a ouvir? Vou contar-te na mana Bia. Espera s, embora o morfema parea ter um valor ambguo, deduz-se que o mesmo funciona como partcula de realce, com a semntica de certamente, vais ver, podes crer

    H registos de outras construes em que o morfema s parece ter significao ambgua. Frases como Deixa s!, Vai s so exemplos tpicos. Atendendo, todavia, natureza do presente artigo, no se far um estudo exaustivo e acabado do assunto. No entanto, h uma outra particularidade sobre o funcionamento do morfema s, na variedade angolana do portugus, cuja abordagem manifestamente indispensvel e que tem que ver com a ocorrncia simultnea do morfema e da locuo adverbial por favor. Eis, a ttulo exemplificativo, o segundo exemplo:

    Traz-me dois pes do Kero, por favor.

  • 50

    Traz-me s dois pes do Kero, por favor.

    A segunda frase mais confortavelmente acolhida pelo falante angolano, porquanto a presena simultnea do morfema (s) e da locuo (por favor) torna o imperativo mais atenuado. J a primeira, embora no deixe de ser um imperativo corts, porque est nela presente s a frmula de cortesia por favor, no muito popular na esfera coloquial da variedade do portugus falado em Angola. Nessa esfera lingustica, parece ser mais facilmente aceite o imperativo formulado apenas com o uso do morfema s do que o contrrio. Assim:

    Traz-me s dois pes do Kero.

    Ou seja, o uso do morfema no s confere cortesia ao imperativo, como tambm o mitiga ou suaviza completamente, ao passo que o uso apenas da locuo adverbial por favor no lhe consegue retirar a carga semntica de ordem, sendo, por esta razo, menos selecionada pelos falantes. Outro aspeto que importa frisar que a construo da frase sem o morfema s torna o tratamento muito formal. Outrossim, em atos ilocutrios diretivos apresentados de forma interrogativa, mesmo que se no use o dileto morfema s, o alocutrio torna-se mais recetivo ordem se, ainda que a mesma seja apresentada usando-se apenas a locuo adverbial por favor, o imperativo for substitudo pelo modo indicativo, conjugado no presente ou no pretrito imperfeito (imperfeito de cortesia), e com o verbo principal no infinitivo.

    Exs.: Podes, por favor, trazer-me dois pes do Kero?

  • 51

    Podias, por favor, trazer-me dois pes do Kero? No menos importante de destacar o facto de,

    independentemente do uso de alguma frmula de cortesia, a fora ilocutria com que se produz a frase imperativa ter implicaes significativas na receo, interpretao e aceitao da mensagem pelo alocutrio.

    3.2. Particularidades sintticas do morfema gramatical s

    enquanto frmula de cortesia

    Tal como ficou expresso em 2.2, a principal caracterstica sinttica da locuo adverbial por favor a sua mobilidade frsica, ou seja, a mesma pode ocorrer na periferia direita e esquerda da frase (Mateus: 460), ou ainda, em posio medial. O mesmo no sucede, todavia, com o morfema s, quando usado com a mesma funo, na variedade angolana do portugus. Como frmula de cortesia, o morfema s toma unicamente a posio encltica em relao ao verbo da enunciao. Confira-se:

    Exs.: D-me s uma explicao.

    *S me d uma explicao.

    *D-me uma explicao s.

    Veja-se que a tentativa de deslocao do morfema altera completamente o sentido da frase. Apenas na primeira o morfema s tem a semntica de por favor. Ao proceder-se sua mobilidade para as periferias esquerda e direita da frase, deixa de funcionar como frmula de cortesia e passa, em ambas as frases, a advrbio (com a funo restritiva de apenas, somente).

  • 52

    Concluso

    Tentmos demonstrar que a VAP apresenta, de

    facto, caractersticas que a distinguem das restantes variedades. Quanto questo das frmulas de cortesia, por exemplo, pode-se constatar que, na vertente oral da variedade em estudo, o morfema gramatical s no funciona apenas com o valor morfossinttico de advrbio ou de adjetivo, mas tambm e com frequncia, preferncia e larga abrangncia diatpica, como frmula de cortesia, por um lado, e, por outro, como conector discursivo, como partcula de realce, etc.

    guisa de concluso, poder-se- referir que este processo de reutilizao ou de expanso lexical do referido morfema afigura-se como um fator de enriquecimento do lxico da variedade angolana do portugus, constituindo, igualmente, interessante matria para futuras investigaes a nvel da lngua portuguesa em Angola, no que tange sua evoluo semntica.

    Referncias

    COSTA, Teresa Manuela Camacha Jos da (2015) - Umbundismos no Portugus de Angola: Proposta de um Dicionrio de Umbundismos, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa.

    CUNHA, Celso, CINTRA Lindley (1997) - Breve Gramtica do Portugus Contemporneo (10 ed.), Lisboa, Edies Joo S da Costa.

    CUNHA, Celso, CINTRA Lindley (2000) - Nova Gramtica do Portugus Contemporneo (16 ed.), Lisboa, Edies Joo S da Costa.

  • 53

    FERNANDES, Gonalo (2010) - O Princpio da Cortesia em Portugus Europeu, pp. 43-5. In: .

    FERNANDES, Joo, NTONDO, Zavoni (2002) - Angola: Povos e Lnguas, Luanda, Editorial Nzinga.

    GOMES, Carlos Manuel da Silva (2013) - Mecanismos de Atenuao e Intensificao no Ensino do Portugus Lngua Estrangeira: um Estudo de Caso, Porto, Universidade do Porto.

    http://www.buala.org/pt/a-ler/o-angoles-uma-maneira-angolana-de-falar-portugues (consultado a 24 de maio de 2017)

    MATEUS, Maria Helena Mira et alii (2003) - Gramtica da Lngua Portuguesa (5 ed.), Lisboa, Editorial Caminho.

    MICHAEL, Metzeltin, CANDEIA, Marcolino (1982) - Semntica e Sintaxe do Portugus, Coimbra, Livraria Almedina.

    RAPOSO, Eduardo et alii (2013) - Gramtica do Portugus (Vol. I), Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian.

    XITU, Uanhenga (1988) - Manana, Rio Tinto, Edies Asa.

    http://www.buala.org/pt/a-ler/o-angoles-uma-maneira-angolana-de-falar-portugueshttp://www.buala.org/pt/a-ler/o-angoles-uma-maneira-angolana-de-falar-portugues
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    NEOLOGISMOS DO PORTUGUS BRASILEIRO CONTEMPORNEO: ALGUMAS CARACTERSTICAS

    Ieda Maria Alves26

    Introduo

    Este trabalho visa a apresentar alguns aspectos relativos neologia do portugus brasileiro contemporneo, com base em neologismos registrados em veculos da imprensa brasileira.

    Esses veculos, representados por jornais e revistas informativas de circulao no territrio brasileiro, tm revelado o emprego de neologismos relativos a todos os tipos de formao. Revelam, tambm, alguns processos preferenciais na formao de unidades lexicais neolgicas, que, no raro, refletem algumas caractersticas da vida contempornea.

    Enfatizaremos, neste estudo, algumas tendncias da sociedade brasileira que se manifestam nos processos de formao de palavras neolgicas do portugus brasileiro. Classificamos essas tendncias em aspectos morfolgicos, culturais e morfoculturais.

    26 Universidade de So Paulo/Brasil. E-mail: [email protected].

  • 55

    Materiais e mtodos

    Os neologismos que aqui apresentamos esto registrados na Base de neologismos do portugus brasileiro contemporneo, integrante do Projeto TermNeo (Observatrio de neologismos do portugus brasileiro contemporneo). Essa base, iniciada em janeiro de 1993, tem a finalidade de coletar, analisar e difundir neologismos do portugus brasileiro coletados em um corpus jornalstico e de apresentar elementos para o estudo da evoluo do lxico do portugus brasileiro27.

    As metodologias de coleta de neologismos adotadas no mencionado projeto foram seguindo a evoluo da Informtica no Brasil e tm sempre contado com a participao de bolsistas de Iniciao Cientfica, alunos da Graduao em Letras, que, inicialmente, procediam leitura do corpus jornalstico utilizado: jornais Folha de S. Paulo (FSP) e O Globo (G) e revistas Isto (IE) e Veja (V), coletados segundo um sistema de amostragem (um veculo por semana): jornal O Globo primeiro domingo do ms; revista Isto segunda semana do ms; jornal Folha de S. Paulo - terceiro domingo do ms; revista Veja - quarta semana do ms.

    O carter de neologicidade de cada unidade lexical coletada era determinado por um corpus de excluso lexicogrfico, constitudo por dicionrios gerais do portugus brasileiro (Ferreira, edies de 1986, 1999; Michaelis, 1998) e pelos vocabulrios ortogrficos publicados pela Academia Brasileira de Letras (edies de 1981, 1998, 1999), que serviam de filtro para a seleo dos neologismos. Desse modo, as unidades

    27 Esse projeto estuda tambm a neologia de reas de especialidade e elabora glossrios terminolgicos em algumas das reas que esto sendo estudadas.

  • 56

    lexicais j registradas em um desses repertrios lexicogrficos no eram mais consideradas neolgicas.

    Lembramos que a denominao corpus de excluso foi criada por Boulanger (1979) para designar o conjunto de dicionrios de lngua que, no incio dos estudos sistemticos sobre neologia, exercia o papel de filtro para caracterizar uma unidade lexical como neolgica ou no neolgica. Ou seja, era neolgica uma unidade lexical no includa em um conjunto de dicionrios. Com o desenvolvimento da Informtica, outros filtros tm sido utilizados como corpus de excluso, a exemplo de um conjunto de textos ou de diferentes corpora textuais. Desse modo, como enfatiza Alain Rey no artigo Nologisme: un pseudo-concept? (1976), no h, evidentemente, neologismo em si mesmo, mas sempre em relao a um conjunto de usos arbitrariamente definidos.

    A partir de 2001, com o desenvolvimento da Informtica e da Lingustica de Corpus, a busca de candidatos a neologismos efetuada no mbito do Projeto passou a beneficiar-se do uso de ferramentas computacionais, que possibilitam uma coleta semiautomtica, em que textos informatizados so utilizados como corpora de excluso. Desse modo, o carter neolgico das unidades lexicais coletadas tem sido determinado pela no incluso dessas unidades em um corpus previamente selecionado, constitudo por quarenta milhes de palavras, repartidas em quarenta textos em prosa e divididos em textos corrigidos, textos no corrigidos e textos semicorrigidos.

    Essas ferramentas, desenvolvidas por pesquisadores do NILC (Ncleo Interinstitucional de Lingustica Computacional da Universidade de So Paulo, campus de So Carlos), a Profa. Sandra Maria Alusio e o

  • 57

    Prof. Thiago A. S. Pardo, tm permitido a ampliao do corpus de anlise, que passou a integrar a revista poca (E), todos os nmeros semanais das revistas citadas e ainda dois nmeros semanais dos jornais mencionados. Os textos processados pelo extrator de neologismos devem estar em formato.txt, que descarta imagens e trabalha apenas com textos.

    No entanto, unidades lexicais que j integram o acervo lexical da lngua portuguesa podem no estar presentes no corpus de excluso considerado e, por essa razo, a coleta semiautomtica de neologismos ainda complementada por outro corpus de excluso, constitudo pelas verses eletrnicas dos dicionrios citados e tambm pelos seguintes: Houaiss; Villar (2001) e vocabulrios ortogrficos publicados pela Academia Brasileira de Letras (edies de 2004, 2009). (cf. ALVES, 2012)

    Os resultados da anlise desse corpus tm mostrado que as unidades lexicais construdas pelo processo da derivao so as mais numerosas, correspondendo a 39% dos neologismos registrados: 29% dos neologismos so representados por derivados formados por prefixao e 10% por derivados constitudos pelo processo da sufixao. As construes compostas representam 23% dos neologismos coletados, sendo 6% dos compostos formados por coordenao, os que estabelecem uma relao coordenativa entre seus elementos constitutivos, e 17% so representados por compostos por subordinao, que resultam de uma relao subordinativa entre seus elementos componentes. Compostos sintagmticos (ou termos sintagmticos), resultantes de um segmento frasal que se lexicaliza, so representados por 13% das unidades lexicais registradas na base de neologismos.

  • 58 Outros neologismos coletados representam

    processos com menos ocorrncias do que os anteriormente citados. A neologia semntica corresponde a 4% dos neologismos registrados, a neologia fonolgica representada por 2% e o conjunto das palavras-valise e das formaes com siglas e acrnimos constituem 2% do total coletado. Neologismos no vernaculares, os emprstimos, correspondem a 17% dos neologismos do corpus analisado.

    Aspectos morfolgicos

    Llorente (2004, p.20) enfatiza que o "lxico est situado em uma espcie de interseco que absorve informaes provindas de caminhos diversos: dos sons (fontica e fonologia), dos significados (semntica), dos morfemas (morfologia), das combinaes sintagmticas (sintaxe) ou do uso lingustico e das situaes comunicativas (pragmtica)".

    A formao de unidades lexicais neolgicas tambm reflete esses caminhos diversos em que se situa o lxico, possibilitando o estabelecimento de relaes com diferentes nveis de anlise lingustica: a Fonologia, exemplificada pelo neologismo anglo-sexnica, em que se observa a substituio de um fonema da unidade lexical anglo-saxnica; a Sintaxe, por meio de converses e de segmentos frasais que se lexicalizam em diferentes tipos de termos sintagmticos, a exemplo de pulverizador costal, pulverizador costal manual, pulverizador costal automtico; a Semntica, observada pela atribuio de novos significados a uma unidade lexical j existente, como coxinha, um salgado frito, que passou a designar tambm um manifestante contrrio ao governo da ex-presidenta Dilma Rousseff; o Texto, por meio das reiteraes de sentido que por vezes explicitam uma

  • 59

    unidade lexical neolgica (cf. AUTHIER-REVUZ, 1995), a exemplo da explicao dada ao emprego de especismo: Uma extenso disso o que chamo de especismos, preconceito contra os que no so membros de nossa espcie. (E, 09-06-06); a Pragmtica, revelada pelo uso e pelas situaes comunicativas estabelecidas pela unidade lexical neolgica com as demais. (cf. ALVES, 2007)

    Dentre as relaes que o lxico estabelece com os nveis de anlise lingustica, ressaltaremos aqui as relaes privilegiadas que as unidades lexicais neolgicas estabelecem com a Morfologia. Essas relaes, muito estudadas por nelogos (CABR, 2016; SABLAYROLLES, 2000), permitem a observao dos processos de formao de palavras mais empregados em um corpus relativo a um determinado perodo, assim como os sufixos e prefixos privilegiados pelos falantes nesse momento histrico-social.

    Nesta exposio, enfatizaremos alguns aspectos morfolgicos que tm sido reiterados nas ltimas dcadas por meio da criao de unidades lexicais neolgicas: a manifestao da intensidade e da funcionalidade e a disseminao, na lngua corrente, de formantes clssicos. Os exemplos so majoritariamente extrados do corpus mencionado e, em alguns casos, de textos observados na rede Internet.

    Em A derivao prefixal intensiva no portugus brasileiro: a formao de um campo prefixal (2010), argumentamos que a expresso da derivao intensiva no portugus brasileiro, inicialmente apenas expressa por meio de afixos sufixais, como nos mostra a tradio gramatical, passa a ser tambm representada por afixos prefixais. Desse modo, o prefixo super-, que anteriormente denotava posio (superpor) e

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    intensidade (superabundncia), passa a denotar apenas intensidade (superfora), a partir das dcadas de 1970-1980. Outros prefixos, como extra- e sub-, continuam a denotar posio (extraquadra, subchassi) e passam tambm a expressar aspectos intensivos (extraforte, subxerife).

    Observa-se tambm que o campo prefixal se enriquece com a introduo de elementos como giga-, hiper-, macro-, mega-, de carter aumentativo, e de micro-, mini-, nano-, denotativos de diminuio, que, anteriormente empregados apenas na esfera cientfica (micro-, nano-), passam a prefixar-se a bases de carter geral, no especializado.

    Uma tendncia que se constata no uso dos prefixos intensivos, especialmente entre os jovens, a intensificao reiterada, como se observa no jornal O Globo e em um blogue, respectivamente:

    Empolgante e divertidssima brincadeira com os filmes de ao no estilo Rambo. Arnaldo fez um heri super-ultra-hiperexagerado e Wells um vilo suspeitssimo. (G, 02-06-96) Um dia ultra... mega... super... hiper... especial!!!! Ufa!!!! Demorou..... como demorou /.../ (blogue Dirio de Isabel, 29-03-11)

    Observa-se, no raro, a mesma base sendo afixada, no mesmo contexto, por um prefixo e um sufixo de mesma intensidade, a exemplo do substantivo prefixado miniPib e do substantivo sufixado pibinho: Resultado: mini-Pibs, Pibs envergonhados ou pibinhos, como escreveu, com rara felicidade, o jornal O Globo. (V, 15-06-05)

  • 61 tambm observada a oposio entre afixos

    aumentativos e diminutivos relativamente mesma base, em distintas unidades lexicais, a exemplo de pibinho / pibo: E a no h milagre estatstico: sem poupana e sem investimentos, o pibinho nunca ser pibo. (V, 28-03-07)

    A reiterao da intensidade, por meio do emprego de um prefixo e de um sufixo de mesma intensidade na mesma unidade lexical, est tambm presente no corpus estudado. Exemplificamos essa reiterao com unidades lexicais intensificadas com afixos de carter diminutivo, o prefixo micro- e o sufixo -inho:

    Repare: seja festa de celebridades, noite de autgrafos ou inaugurao da Daslu, so cada vez maiores as chances de que pelos menos uma mulher exiba, ao lado de adendos indispensveis como bolsa de grife, jias e cabelo liso, um microcachorrinho (V, 15-06-05);

    e tambm com afixos de carter aumentativo, exemplificados com o prefixo super- e o sufixo o, em superjipo, e com o prefixo mega- e o sufixo ao, em megapanelao:

    Os Superjipes (tt) Os jipes urbanos, carros enormes que combinam desempenho e robustez e que sustentaram a indstria automobilstica americana na dcada de 90, vm perdendo espao no mercado mundial devido a um problema tcnico - o altssimo consumo de combustvel. (Exame, 15-02-06) Mas o risco de no entender os rudos da rua permanente, para todos os governantes, de raa ou no. Atribuir a uma suposta conspirao da direita o

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    megapanelao de quinta fingir desconhecer a histria. A direita argentina jamais teve capacidade de mobilizao popular. (FSP, 11-11-12)

    Nossos estudos sobre a neologia tm tambm

    permitido a observao de um aspecto morfolgico que reflete uma tendncia da sociedade contempornea: a mltipla funcionalidade, que rene utilidade e economia.

    A mltipla funcionalidade reflete-se em diferentes atividades. Na agricultura, por exemplo, o conceito de multifuncionalidade refere-se concepo de que a atividade agrcola no visa apenas produo de alimentos mas implica tambm atividades tursticas, preservao do ambiente e da biodiversidade. Esse carter funcional, que tende a aplicar-se a vrias atividades, expresso linguisticamente por meio de dois processos de formao de palavras: a derivao prefixal e a composio coordenativa.

    A expresso da multifuncionalidade por meio da derivao prefixal revelada por prefixos de carter quantitativo, como multi- e pluri-, de origem latina, e poli-, de origem grega.

    Dentre eles, multi-, o mais frequente segundo nossos dados, constri novas unidades lexicais aplicadas a diferentes atividades profissionais, a exemplo do nome multitarefeiro, que designa o profissional que exerce muitas tarefas e empregado como substantivo e como adjetivo, respectivamente, no excerto a seguir:

    Os multitarefeiros, diz Esdrass, conhecem seu bom desempenho e tendem a forar mais seus limites, por isso tm 38% a mais de chance de sofrer um infarto. /.../ Para tentar decifrar as aflies dos profissionais

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    multitarefeiros, uma equipe da Microsoft acompanhou o cotidiano de vendedores, tcnicos de informtica, professores e corretores de aes. (E, 23-02-06)

    O emprego do nome substantivo multifuno revela

    que essa unidade lexical pode aplicar-se tanto s diferentes funes que um profissional pode exercer, como pode referir-se tambm s funes desempenhadas por aparelhos, como se observa, de maneira respectiva, nos seguintes contextos:

    FUNES: O mercado exige perfil de multifunes. Alm da consultoria ao cliente, o profissional tambm pode colaborar no contedo do site. (G, 05-11-00) Enquanto as concorrentes apostaram em aparelhos com multifunes que, alm de videogame, so som e DVD , a Nintendo projetou um console de funcionamento simples e intuitivo. (V, 24-10-07)

    Compostos de carter coordenativo, em que duas ou

    mais palavras da mesma classe gramatical se coordenam para designar um mesmo elemento, tambm podem expressar multifuncionalidade. Estudados por Benveniste (1974, p.147), que os denomina dvandva (par, em snscrito) e enfatiza que esses compostos se caracterizam pela relao de equipotncia entre seus membros, o composto coordenativo pode apresentar dois, trs ou mais elementos.

    Nos exemplos apresentados a seguir, o composto sacerdote-cantor representa uma nica pessoa, que exerce duas funes, a de sacerdote e a de cantor. A

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    atriz-cantora-estilista refere-se a uma profissional que exerce trs funes, a de atriz, de cantora e de estilista:

    No dia em que VEJA acompanhou dos bastidores o Santa Missa, o sacerdote-cantor aproveitou para divulgar seu novo CD, todo feito com msicas de Roberto Carlos. (V, 21-11-01) Com um novo marido (o terceiro, o cantor porto-riquenho Marc Anthony) e uma nova atitude, a atriz-cantora-estilista est de volta vida pblica. Em maro, lanar o quinto lbum: Rebirth (Renascimento). (E, 16-02-05)

    Estabelecimentos comerciais destinados alimentao e ao lazer, no raro exercem dupla funo, a exemplo de bar-discoteca e de caf-padaria-sorveteria:

    De dia no d para notar, mas noite as ruas das quadras de trs da praa ganharo vida em torno de lugares como o bar-discoteca moderninho Bric-a-Bar (Ceclio de Sousa, 82) e a disco tradicional Finalmente (Palmeira, 38). (E, 30-10-06)

    Neste vero, a dvida do carioca dentro de casa: escolher os quiosques da Lagoa ou os cafs de Ipanema e Leblon? Os partidrios da Lagoa defendem o cenrio e a oferta variada de petiscos - do rabe ao baiano, do japons ao portugus - e alegam claustrofobia para no entrar nos cafs-padarias-sorveterias. (G, 02-01-00)

    Outro aspecto da neologia do portugus brasileiro

    que se mostra bastante visvel em novas formaes diz respeito ao emprego de formantes de origem grega, que

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    mostram a disseminao, na construo de palavras da lngua corrente, de elementos tradicionalmente empregados no mbito tcnico-cientfico. Exemplificamos esse emprego com os formantes dromo, -metro e logo.

    -Dromo, descrito pelo dicionrio Houaiss como elemento de composio pospositivo, originrio do gr. drmos,ou, que indica ao de correr, lugar para corrida, corrida tem sido empregado em funo sufixal para designar lugar para diferentes atividades, de acordo com a base qual se une. Apresentamos, a seguir, as unidades lexicais fumdromo e macumbdromo contextualizadas, que expressam lugar para fumar e lugar para fazer macumba, respectivamente:

    Funcionrios contam que ela costuma exercer presso sobre colegas diretores e subordinados em conversas no fum