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Maria Divanira de Lima Arcoverde Rossana Delmar de Lima Arcoverde Leitura, Interpretação e Produção Textual DISCIPLINA Produzindo gêneros textuais: o memorial Autores aula 15

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Maria Divanira de Lima Arcoverde

Rossana Delmar de Lima Arcoverde

Leitura, Interpretação e Produção Textual D I S C I P L I N A

Produzindo gêneros textuais: o memorial

Autores

aula

15

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Aula 15  Leitura, Interpretação e Produção TextualCopyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

A6751 Arcoverde, Maria Divanira de Lima. Leitura, interpretação e produção textual./ Maria Divanira de Lima Arcoverde, Rossana Delmar de Lima Arcoverde. – Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007.

15 fasc.“Curso de Licenciatura em Geografia – EaD”.Conteúdo: Fasc. 1- Linguagem: diferentes concepções; Fasc. 2 - leitura – perspectivas teóricas; Fasc. 3 - o jogo discursivo no processo de leitura; Fasc. 4 - leitura – antes e além da palavra; Fasc. 5 - a leitura como prática social; Fasc. 6 – produção textual-perspectivas teóricas; Fasc. 7 – a tessitura do texto; Fasc. 8 – gêneros textuais ou discursivos; Fasc. 9 – gêneros textuais e ensino; Fasc. 10 – a escrita como processo; Fasc. 11 – recursos de textualidade – coesão; Fasc. 12 – recursos de textualidade – coerência; Fasc. 13 – produzindo gêneros textuais – o resumo; Fasc. 14 – produzindo gêneros textuais – a resenha; Fasc. 15 – produzindo gêneros textuais – o memorial

ISBN: 978-85-87108-59-3

1. Leitura (Lingüística). 2. Produção de textos. 3. Educação a Distância. I. Título.22 ed. CDD 418.4

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima (UFRN)

Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)Thaísa Maria Simplício Lemos (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

DiagramadoresBruno de Souza Melo (UFRN)Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN)Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisoras de Língua PortuguesaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Apresentação

Chegamos ao final de nosso componente curricular. Para concluir as nossas conversas, escolhemos o gênero textual memorial para nosso estudo. Esperamos que este gênero enriqueça o diálogo que mantivemos com você durante esse percurso deste componente

curricular. Sabemos que “o caminho se faz caminhando”, por isso, esperamos que você leia e produza bastantes gêneros textuais para que realmente o aprendizado se consolide.

Você já produziu vários gêneros e já tem noção do que é necessário para uma boa produção. Já deve estar claro também para você que cada gênero tem suas especificidades, o que exige de você um certo cuidado para não cometer inadequações, no que diz respeito à formatação do gênero textual em questão.

Nesse sentido, veremos o conceito de memorial e sua forma composicional para que você se aproprie desse conhecimento.

ObjetivosEsperamos que você, ao final desta aula,

entenda que o memorial é um gênero textual que registra trajetórias de vida;

formule um memorial de seu percurso na Universidade, especificamente, nas aulas deste componente curricular.

“O caminho se faz caminhando”

“O caminho se faz caminhando” se refere ao livro de Paulo Freire e Myles Horton, da Editora Vozes, publicado em 2003.

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Para começo de conversa...

A produção textual tem se caracterizado como uma atividade processual que exige de quem escreve múltiplas capacidades, domínios específicos e o envolvimento no processo de escrita, como uma prática social, através de gêneros textuais diversos.

Cada texto, por sua vez, apresenta problemas de escritura distintos, tendo em vista a sócio-construção dos vários modos do discurso escrito, ou seja, os gêneros textuais, já estudados em aulas anteriores.

Como você deve estar lembrado, a noção de gênero não vê apenas os aspectos estruturais do texto, mas incorpora elementos de ordem social e histórica. Ao escrever é preciso estar atento a aspectos essenciais do processo, tais como: quem escreve, para quem escreve, de que lugar social, com que objetivo, que linguagem deve predominar (informal ou formal), em que situação etc. Esses aspectos devem ser considerados relevantes e estão vinculados ao contexto sócio-histórico-cultural e às formas de dizer que circulam socialmente.

Nesse sentido, o gênero memorial se insere como formas de dizer sócio-historicamente cristalizadas, oriundas de necessidades produzidas em diferentes esferas da comunicação humana (BAKHTIN, 1979) e tem circulado socialmente como prática de ensino-aprendizagem.

Vejamos agora o que é um memorial.

O memorial é um gênero textual rico e dinâmico que se insere na “ordem do relatar”, isto é, gênero que relata fatos da memória, documentação de experiências humanas vivenciadas. O memorial pode ser considerado, ainda, como um gênero que oportuniza as pessoas expressarem a construção de sua identidade, registrando emoções, descobertas e sucessos que marcam a sua trajetória. É uma espécie de “diário”, no qual você pode escrever suas vivências e reflexões. É também um gênero que pode ser usado para que você marque o percurso de sua prática, enquanto estudante ou profissional, refletindo sobre vários momentos dos “eventos” dos quais você participa e ainda sobre sua própria ação.

Vamos começar lendo os gêneros textuais a seguir.

Bakhtin

É válido ressaltar que Bakhtin (1979, p. 279)

apresenta, pela primeira vez, a noção de gênero

do discurso e afirma que “cada esfera de utilização

da língua elabora seus tipos relativamente

estáveis de enunciados, sendo a isso que

denominamos de gêneros do discurso”.

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Atividade 1

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Leia com atenção os fragmentos dos textos a seguir:

Fragmento de texto 1:

Paulo: O que me fascina ao ler bons livros é descobrir o momento em que o livro me possibilita ou ajuda a melhorar o entendimento que tenho da realidade, do concreto. Em outras palavras, para mim a leitura é importante na medida em que os livros me dão um determinado instrumento teórico com o qual eu posso tornar a realidade mais clara com relação a mim mesmo. Essa é a relação que tento estabelecer entre ler as palavras e ler o mundo. Eu sempre me interessei por entender, por assim dizer, a realidade, o que quer dizer ler a realidade. Mas o processo de ler a realidade no qual estamos envolvidos exige, sem dúvida, um certo entendimento teórico daquilo que está acontecendo na realidade. Ler os livros faz sentido para mim na medida em que os livros têm a ver com essa leitura da realidade. [...]

FREIRE e HORTON. O caminhando se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 58.

Fragmento de texto 2:

[...] Este ano, quando olhava fotografias da minha professora dessa época, fiquei surpresa ao ver uma foto da minha turma. Lembrei-me de que naquele dia comemorávamos o Dia das Mães. Eu tinha onze anos e a poesia que falei para minha mãe nunca esqueci. Entre os colegas maiores e os da mesma idade eu me destaquei por ser a mais sorridente. Eu estava radiante. Nunca havia gostado tanto de mim numa fotografia! Eu me adorei.

É essa alegria que eu quero passar para meus alunos. Quero ajudá-los a perceber a alegria de ser criança, apesar de alguns momentos ruins em suas famílias... [...]

Programa de Formação de Professores. Texto de Apoio 3. Brasília: SEED/MEC, 2001. p. 6.

Analise cuidadosamente os dois textos acima e responda às questões:

Qual dos dois fragmentos de texto você avalia que é um memorial?

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Assim como estudamos outros gêneros textuais, você pode constatar que há temas e forma composicional diferentes na constituição dos gêneros. Vamos continuar estudando para aprender como se organiza um memorial.

Continuando nossa conversa...

V ocê deve estar se perguntando como elaborar um memorial. Pois bem! Vale lembrar aqui que o memorial tem uma forma composicional bastante flexível e aberta, o que pode torná-lo um documento que registra aspectos subjetivos do(a) autor(a) do

memorial. Isto poderá deixar o leitor diante do novo e do inesperado.

Escolha um dos fragmentos de texto que você considerou como sendo o memorial e sublinhe as partes que contêm relatos da trajetória de vida e de construção da identidade.

Que características mínimas o fragmento de texto escolhido apresenta para que você possa identificá-lo como um memorial?

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Atividade 2

Faça um breve relato das lembranças mais marcantes de sua história de vida como aluno (a) da escola que você freqüentou na sua infância.

Antes de começar seu relato, responda às seguintes questões:

a) Que fatos pitorescos, situações e recordações você gostaria de registrar?

b) Quais as suas melhores recordações? E as piores?

c) Aconteceu algo que marcou a sua vida ou que lhe deixou algum trauma? Ou que lhe trouxe muitas alegrias?

Para facilitar esta atividade, sugerimos a você um roteiro que poderá auxiliá-lo (a) nas reflexões que provavelmente você fará.

Como era sua escola na época em que você estudou?

Quais os fatos marcantes para você naquela época?

Todos tinham acesso à escola?

De que forma a escola daquela época contribuía para o exercício da cidadania?

A escola onde você estudou era igual à de hoje?

O ensino, hoje, melhorou ou piorou? Por quê?

Registre aqui o seu relato.

É provável que ao elaborar um memorial, o produtor desse gênero possa se sentir inseguro e desestimulado a escrever. Outros talvez se sintam instigados e desafiados para tal atividade. É preciso, pois, que entendamos que o memorial não é algo pronto e acabado. O memorial tem características flexíveis e como tal não tem roteiro rígido e previamente definido. Este gênero se define como um texto aberto, uma construção que espelha e acompanha o caminhar de alguém, em determinadas etapas da vida ou de aspectos que marcaram sua trajetória em determinada época que o memorialista queira registrar.

O memorial por não ter características “fechadas”, deixa o autor muito livre para imprimir o seu estilo.

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Um pouco mais de conversa...

Como já afirmamos, o memorial é uma escrita que registra um processo de vida e como gênero textual específico para determinados fins, ele, muitas vezes, traz a marca estilística do seu elaborador. Assim, pode ser elaborado numa linguagem

mais leve, podendo o autor dar um tom poético ao seu texto. O tipo textual usado é narrativo/descritivo e sempre na primeira pessoa do discurso, no singular ou no plural.

Vejamos recortes de um memorial num estilo poético:

Narrativo/descritivo

A palavra narrar vem do verbo latino narrare, que

significa expor, contar, relatar. E se aproxima do

que os gregos antigos clamavam de épikos – poema longo que

conta uma história e serve para ser recitado.

Narrar tem, portanto, essa característica

intrínseca: pressupõe o outro. Ser contada ou

ser lida: é esse o destino de toda história. E se ‘as coisas estão prenhes da palavra’, como preferia

Bakhtin, ao narrar falamos de coisas ordinárias e extraordinárias... e até

repletas de mistérios – que vão sendo reveladas

ou remodeladas no ato da escuta ou na

suposta solidão da leitura (PRADO e SOLIGO,,

Disponível em http://www.fe.unicamp.br/ensino/

graduacao/downloads/proesf-memorial_GuilhermePrado_

RosauraSoligo.pdf Acesso em 30/06/2007).

Memorial

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito desta frase,

transformada a forma para a casar com o que sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida, nem em gozá-la penso.

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só quero torná-la grande; ainda que para isso

tenha a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho

na essência anímica do meu sangue o propósito

impessoal de engrandecer a pátria e contribuir

para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa raça.

Fernando Pessoa

As palavras do poeta me convidam à viagem. Viagem à infância, às lembranças inquietantes da adolescência, ao universo da maturidade, da consciência... Viagem que exige coragem. Coragem para revisitar o acontecido, para pensar o vivido...

Convido você para ser meu (minha) companheiro(a) nesta viagem de coragem e ousadia. Pretendo que esta travessia seja significativa e que você tenha a oportunidade de reconstruir lugares já visitados e situações vividas para ressignificar comigo percepções sobre a criança, a escola, a educação, a vida...

A minha pretensão como condutora deste navio que, com certeza, navegará por um mundo de incertezas, medos e desafios e também lugares encantadores. [...]

Falar sobre minha infância em Paraisópolis, cidadezinha localizada nas montanhas de Minas Gerais, me traz um sentimento gostoso de saudade. Lembro-me, como se fosse hoje, das ruas da igreja, da praça, da escola...

Aprendi a ler com a Cartilha “O circo do Carequinha”. Era um livro branco...

Já na adolescência, lia às escondidas obras como A Normalista, de Adolfo Caminha, A Carne, de Júlio Ribeiro e outros que minha avó, minha doce cúmplice do mergulho no que era deliciosamente proibido... [...]

Penso que a pessoa que tem uma história significativa de leitura, certamente terá um olhar mais crítico em relação ao mundo e construirá novos caminhos para sua existência na sociedade. [...]

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Como você vê, no gênero memorial, o autor é ao mesmo tempo escritor/narrador/personagem da sua história. De modo geral, podemos dizer que se trata de um texto em que os acontecimentos são narrados geralmente na primeira pessoa do singular, numa seqüência definida, a partir das memórias e das escolhas do autor, para registrar a própria experiência e, como todo texto escrito, para produzir certos efeitos nos possíveis leitores.

Vamos iniciar, então, a escrita de seu memorial.

Não escolhi ser professora. Fui me compondo aos poucos. Ingressei no Curso Normal por exigência do meu pai, que acreditava estar oferecendo às suas filhas uma profissão...

A partir dessa experiência, tive certeza dos caminhos que iria trilhar. Não sei como explicar esse sentimento, talvez fosse isso minha intuição. Na minha vida as coisas acontecem sempre movidas pelo desejo do coração... [...]

Inicio minha trajetória como professora da Escola Estadual Joaquim Nunes Rocha, onde trabalhei dois anos com Educação Infantil... Lembro-me da sala de aula, era meio improvisada, bem pequena...

Começo, então, ainda menina, a construir minha identidade profissional que vai se constituindo articulada com a minha identidade pessoal. Na época não era capaz de perceber e refletir sobre as condições de trabalho que me eram oferecidas e nem fazer uma leitura crítica daquele contexto perverso, desumano e excludente. Ao refletir sobre essas lembranças, tão vivas, tenho a sensação de ouvir os versos cantados por Elis Regina: “Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais”.

Apesar da minha ingenuidade pedagógica, do desconhecimento da dimensão política e social do fazer pedagógico, carregava saberes pessoais que se articulando aos saberes da docência... [...]

RODRIGUES, Ádria Maria Ribeiro. Rondonópolis, Mato Grosso, 2006.

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Atividade 3

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O texto que você leu é um fragmento de memorial.

Leia-o e reflita sobre sua própria vida.

Com base nas lembranças registradas pela memorialista, comece a registrar também a sua história para o(a) seu(sua) professor(a).

Para isso, você deve responder às questões que seguem.

Quais as etapas de vida que você quer relatar (desde a infância, adolescência, início de sua vida profissional, início na Universidade)? Necessariamente, as etapas não devem seguir o tempo cronológico, ano a ano, mas você deve expor o desenrolar dos acontecimentos mais importantes, conforme sua escolha.

Quais foram os fatos particulares, ocorridos em cada uma dessas etapas que mais marcaram esse processo de vida?

Quais as razões que o(a) levam a relatar esses fatos? Em que você acredita, quais suas teorias de vida, seus valores ou outras razões intencionais, sociais, históricas e políticas que tornam esses acontecimentos relevantes para serem narrados?

Com a escrita de seu memorial, você pretende convencer o seu leitor de quê? Qual o sentido que você quer provocar com a leitura de sua história (de alguém vencedor, batalhador, “coitadinho”, infeliz, crítico)? São várias as interpretações que você pode provocar.

Que modelo narrativo você irá privilegiar? Um relato tradicional ou algo mais inusitado que surpreenda seu leitor com questionamentos, posicionamentos críticos ou algo mais poético?

Você pode abordar uma problemática em seu memorial. Assim, qual a problemática central que percorreu sua história de vida até os dias de hoje? Que perguntas você gostaria de responder, a partir de seu percurso memorialístico?

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Organizando a escrita do memorial

Organize suas respostas e escreva seu memorial, observando todos os aspectos destacados.

Revisando e reescrevendo o memorial

Depois que você produzir seu memorial, faça uma revisão e avalie se a escrita está adequada ao destinatário para o qual você está escrevendo; se o memorial mostra que você é uma pessoa que refletiu criticamente sobre os fatos narrados; se você considerou os aspectos essenciais da forma composiconal do gênero memorial; se você fez uso adequado de organizadores textuais, dando progressividade ao seu texto.

Releia o memorial para conferir se não há problemas de inadequação à norma culta da língua. Afinal de contas, o memorial é um gênero textual que, se não publicado, no mínimo, será uma tarefa acadêmica, e como tal, exige o uso da língua padrão.

Após a revisão de seu memorial, faça as alterações necessárias e reescreva-o. Em seguida, envie a última versão de seu memorial para um(a) colega com um bilhete, pedindo que ele leia e faça comentários registrados em um bilhete.

Os argumentos, os personagens e o contexto tendem a se expandir e a se relacionar com outras histórias. Que relações sociais, históricas, políticas, emocionais você pode trazer para o seu relato?

Que reflexões finais você pode argumentar em relação à sua história de vida?

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Concluindo nossa conversa...

É importante destacar que o critério de seleção e seqüenciação dos acontecimentos é sempre uma prerrogativa do narrador; que as histórias que lemos e ouvimos nos remetem sempre às nossas próprias histórias e às nossas experiências pessoais;

que o narrado tem intenções nem sempre explícitas; que as narrativas são polissêmicas – ou seja, têm múltiplas possibilidades de interpretação; que embora sejam canônicas, modelares, a arte de narrar pressupõe alguma transgressão que contraria as expectativas de quem ouve ou de quem lê; que elas ‘criam realidades’; que são as escolhas do narrador que dão o contorno da problemática de que o texto trata; que relacionamos de alguma forma as histórias que ouvimos e lemos com a nossa própria vida; que as histórias dialogam umas com as outras, se inter-relacionam.

Finalmente, faça como a autora do fragmento, a seguir:

Início e término, começo e fim

Mudanças iguais: a vida é assim,

Mistério desvendado a cada dia

Sorte de quem pára e aprecia

E olha pra trás, e olha pra frente

Sem deixar de viver no presente.

E brinca, e sonha, e erra

E aproveita este passeio na Terra

Cada fase tem sua graça

Quando menos se espera ela passa

Faça! Curta! Vá atrás...

E depois vire a página em paz. [...]

Simone

Simone

O texto citado é fragmento de uma produção textual da “Oficina de textos”, do Curso Promovendo Formação Continuada, In: BARBATO, S. (Org.). Aprofundamento do saber disciplinar – Módulo II. Brasília: UnB, Editora Moderna Formação, 2005, p. 36.

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Resumo

Leituras complementaresDOSTOIÉVSKI, F. Memórias do subsolo. São Paulo: Editora 34, 2000.

Neste livro ressoa a voz do “homem do subsolo”, o personagem-narrador que, à força de paradoxos, investe contra o solo da própria consciência, criando uma narrativa ímpar, de altíssima voltagem poética, que se afirma e se nega a si mesmo sucessivamente.

SARAMAGO, J. Memorial do convento. São Paulo: Editora Bertrand Brasil, 1996.

A partir da construção de um convento em Mafra, no século XVIII, o autor recria a história das invenções e fantasias de Portugal.

Vimos nesta aula como trabalhar mais um gênero textual, o memorial. Verificamos que o memorial é um gênero da ordem do relatar, elaborado de forma gradual e progressiva, oportunizando ao produtor do texto registrar os percursos de suas caminhadas. É uma espécie de diário, onde podem ser anotadas suas vivências, emoções, descobertas, inquietações, vitórias ou frustrações. Academicamente, esse gênero pode ser utilizado para reflexão sobre a trajetória ou percurso construtivo de algum processo de ensino-aprendizagem, de forma que seja feita uma auto-avaliação desse caminhar. Ao ser instigado e desafiado a escrever um memorial, você se apropria do estatuto de enunciador e agente-produtor, que lhe confere à formação discursiva necessária para promover um intercâmbio de experiências com seus colegas, tutores ou professores.

Auto-avaliaçãoLeia a afirmação a seguir e teça comentários.

Seus comentários ajudarão você a identificar os pontos positivos de sua aprendizagem e também os aspectos que você ainda deverá melhorar. Assim, avalie seu desempenho como aluno nesta aula.

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O gênero textual memorial é uma escrita que registra um processo

de vida.

ReferênciasBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1979, p. 277-326.

BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. Org. Dionísio, A. P. e Hoffnagel, J. C. São Paulo: Cortez, 2005.

DIONÍSIO, A. P., MACHADO, A. R. e BEZERRA, M. A. (Orgs.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

FREIRE, P e HORTON, M. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudanças sociais. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

MACHADO, A. R. (Coordenação), LOUSADA, E. e ABREU-TARDELLI, L. S. Planejar gêneros acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

PRADO, G. do V. T. e SOLIGO, R. Memorial de formação: quando as memórias narram a história da formação. Disponível em http://www.fe.unicamp.br/ensino/graduacao/downloads/proesf-memorial_GuilhermePrado_RosauraSoligo.pdf Acesso em 30/06/2007.

SCHNEUWLY, B. e DOLZ, J. e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

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Anotações

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Anotações

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Anotações

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