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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(CETESB Biblioteca, SP, Brasil)

P119c

Pacheco, Jos Wagner Faria Curtumes / Jos Wagner Faria Pacheco. - - So Paulo : CETESB, 2005. 76 p. (1 CD) : il. ; 30 cm. - - (Srie P + L) Disponvel em : . ISBN 1. Couro - indstria 2. Poluio controle 3. Poluio - preveno 4. Processo industrial couro 5. Processo industrial peles 6. Produo limpa 7. Resduos industriais minimizao I. Ttulo. II. Srie.

CDD (21.ed. Esp.)

675.028 6

CDU (ed. 99 port.) 628.51 : 675

Margot Terada CRB 8.4422

TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADEO presente documento, editado pela CETESB, tem o intuito de apresentar a empreendedores e demais interessados as principais informaes ambientais sobre o setor produtivo em questo, incluindo exemplos de alternativas de reconhecido valor na busca de uma Produo mais Limpa. O sucesso da implementao das medidas aqui propostas no entanto depende de diversos fatores, de forma que a CETESB no se responsabiliza pelos resultados ou por quaisquer consequncias decorrentes do uso das medidas aqui propostas, devendo cada empresa avaliar seu caso individualmente com o devido cuidado, antes da implementao das alteraes. Ademais, a descrio dos processos e dos dados apresentados ao longo deste documento so exemplificativos da mdia do setor, tomados com base em um reduzido nmero de empresas. Portanto no correspondem necessariamente realidade de todas as empresas do setor produtivo, e variaes podem e devem ocorrer em funo de diferenciaes de produtos ou rotas de produo, nvel tecnolgico, idade da planta, entre outros fatores. Desta forma, a CETESB ressalta que os exemplos citados no consistem em determinaes legais de nenhuma natureza. Por fim, a CETESB reconhece que todas as empresas devem se empenhar na busca de uma Produo mais Limpa. Porm esta inteno, ou mesmo a adoo de medidas concretas neste sentido, no isenta de forma alguma as empresas do cumprimento da legislao ambiental vigente, tampouco as isenta de quaisquer outros instrumentos normativos dotados de fora de lei.

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APRESENTAO com grande satisfao que, em nome da CETESB, apresento este Guia Tcnico Ambiental, documento informativo que pretende apoiar as empresas na melhoria ambiental por meio da adoo de medidas de Produo mais Limpa (P+L) em seus processos. Historicamente a CETESB tem o foco de sua atuao voltado s aes de monitoramento do meio (ar, gua e solo), licenciamento das fontes potencialmente poluidoras e ao controle ambiental da contaminao, fazendo cumprir a legislao ambiental mediante as chamadas medidas de fim-de-tubo. Nestes mais de 35 anos de atividade, a atuao da CETESB promoveu notveis avanos na garantia de um entorno mais limpo e saudvel populao, tornando a empresa uma referncia ambiental no pas e no exterior. Nos ltimos anos no entanto uma outra forma de atuao tem se delineado, principalmente como resposta a mudanas na prpria sociedade. A percepo e o reconhecimento da importncia da questo ambiental por parte das indstrias tem levado incorporao de prticas da Produo mais Limpa como uma forma de enfim congregar vantagens econmicas com benefcios ambientais. As empresas tm percebido que a Produo mais Limpa significa, no fundo, a incluso da varivel ambiental nas aes de melhoria das operaes, e atuando desta forma sobre seus processos produtivos, muitas delas j reduziram seus resduos na fonte, obtendo ainda minimizao de seus custos de produo. Esta vantagem das medidas de Produo mais Limpa destaca-se ainda mais se contrastada com o alto custo operacional do tratamento e da gesto dos resduos gerados pelas empresas, o que mostra claramente que esta uma ferramenta de interessante utilizao prtica. De modo a evoluir em seu modo de atuar junto s potenciais fontes de poluio, a CETESB tem desenvolvido desde 1996 trabalhos de Preveno Poluio e Produo mais Limpa junto a diversos setores produtivos. Estes trabalhos representam uma nova forma de interagir com a indstria, no apenas acompanhando a mudana de paradigma em curso por parte de algumas empresas, como tambm visando despertar esta conscincia nas demais. O presente Guia Tcnico Ambiental tem como objetivo informar as empresas deste setor produtivo, ainda que de modo sucinto, a importncia e as alternativas preventivas no trato de suas questes ambientais. De modo algum as possibilidades aqui levantadas pretendem esgotar o assunto - antes de ser um ponto final, estas constituem um ponto de partida para que cada empresa inicie sua busca por um desempenho ambiental cada vez mais sustentvel. Por fim, deixo os votos de sucesso nesta empreitada a cada uma das empresas que j despertaram para esta nova realidade, esperando que este Guia sirva de norte para a evoluo da gesto ambiental no Estado de So Paulo, evidenciando que mediante a Produo mais Limpa possvel um desenvolvimento industrial que congregue o necessrio ganho econmico com a imprescindvel adequao ambiental.

Rubens Lara Diretor- Presidente da CETESB

Diretoria de Engenharia, Tecnologia e Qualidade AmbientalEng Lineu Jos Bassoi

Depto. de Desenvolvimento, Tecnologia e Riscos AmbientaisEnga. Angela de Campos Machado

Diviso de Tecnologias Limpas e Qualidade LaboratorialFarm. Bioq. Meron Petro Zajac

Setor de Tecnologias de Produo mais LimpaEng Flvio de Miranda Ribeiro

ElaboraoEng Jos Wagner Faria Pacheco

ColaboraoAgncia Ambiental de Franca CETESB / CEF Agncia Ambiental de So Jos do Rio Preto CETESB / CBR Alberto Skliutas SINDICOURO - FIESP / SP Csar Figueiredo de Mello Barros AMCOA / SP Eliza Coral IEL / SC Ftima Feliciano da Silva CETESB / EINP Isabel Cristina Claas, Marina Verglio Moreira, Estela M. Gallon e Paulo A. de Souza CTC SENAI / RS Jaqueline Krieger e Fernanda Schallenberger ABQTIC / RS Joo Luiz Nunes de Melo NPLMG FIEMG / MG Lucila Ramos Ferrari CETESB / CDI Luiz Augusto Siqueira Bittencourt CICB / DF Maria da Glria Figueiredo CETESB / PT Maria de Los Angeles R. Garcia CETESB / PT Marie Yamamoto do Vale Quaresma CETESB / CDI Murilo Uliana CETESB / EINP Roberto Augusto M. Maia consultor ambiental, ex-CTC SENAI / RS Setor de Resduos Slidos Industriais CETESB / ESRI Tnia Mara Tavares Gasi CETESB / E

SUMRIO1.INTRODUO................................................................................................................ 11 2. PERFIL DO SETOR....................................................................................................... 13 3. DESCRIO DO PROCESSO INDUSTRIAL................................................................ 15 3.1 Conservao e Armazenamento das Peles.............................................................. 16 3.2 Ribeira....................................................................................................................... 18 3.3 Curtimento................................................................................................................. 21 3.4 Acabamento............................................................................................................... 21 a. Acabamento Molhado (ou Ps-Curtimento)............................................................ 21 b. Pr-Acabamento..................................................................................................... 22 c. Acabamento Final................................................................................................... 23 4.ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS....................................................................... 24 4.1 Insumos Utilizados..................................................................................................... 24 a. gua........................................................................................................................ 24 b. Energia.................................................................................................................... 25 c. Produtos Qumicos.................................................................................................. 26 4.2 Rejeitos Gerados....................................................................................................... 30 a. Efluentes Lquidos .................................................................................................. 30 b. Emisses Atmosfricas / Odores............................................................................ 34 c. Resduos Slidos ................................................................................................... 34 5. MEDIDAS DE PRODUO MAIS LIMPA (P+L)............................................................ 37 5.1 Gerenciamento de Matrias-Primas.......................................................................... 38 a. Peles ...................................................................................................................... 38 b. Produtos Qumicos.................................................................................................. 38 5.2 Uso Racional de gua............................................................................................... 42 5.3 Uso Racional de Energia........................................................................................... 46 5.4 Minimizao de Resduos Slidos............................................................................. 47 5.5 Reduo de Emisses Atmosfricas......................................................................... 52 5.6 Medidas Especficas no Processo Produtivo............................................................. 53 a. Conservao e Armazenamento das Peles............................................................ 53 a.1 Recuperao do Sal Empregado na Conservao de Peles......................... 53 b. Ribeira..................................................................................................................... 53 b.1 Pr-Descarne................................................................................................. 53

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b.2 Depilao / Caleiro......................................................................................... 54 b.2.2 Processos de Depilao / Caleiro com Recuperao de Plos.................. 56 b.2.3 Processo de Depilao / Caleiro com Uso de Aminas................................ 57 b.3 Descalcinao / Desencalagem e Purga....................................................... 58 c. Curtimento............................................................................................................... 59 c.1 Reciclagem de Banhos Residuais de Curtimento.......................................... 59 c.2 Reciclagem do Cromo.................................................................................... 60 c.3 Processos de Curtimento com Alto Nvel de Esgotamento............................ 62 d. Quadro Geral - Outras Tcnicas e Tecnologias Alternativas ................................. 63 e. Tcnicas e Tecnologias Mais Recentes / Em Avaliao......................................... 67 5.7 Tcnicas e Tecnologias Avanadas / Em Pesquisa.................................................. 67 5.8 Produo Mais Limpa (P+L) nos Curtumes Brasileiros Uma Experincia Prtica. 73 6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................... 74

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1. INTRODUOEste guia foi desenvolvido para levar at voc informaes que o auxiliaro a integrar o conceito de Produo Mais Limpa (P+L) gesto de sua empresa. Ao longo deste documento voc poder perceber que, embora seja um conceito novo, a P+L trata, principalmente, de um tema bem conhecido das indstrias: a melhoria na eficincia dos processos. Contudo, ainda so muitas as dvidas na hora de adotar a gesto de P+L no cotidiano das empresas. De que forma ela pode ser efetivamente aplicada nos processos e na produo? Como integr-la ao dia-a-dia dos colaboradores? Que vantagens e benefcios traz para a empresa? Como uma empresa de pequeno porte pode trabalhar luz de um conceito que, primeira vista, parece to sofisticado ou dependente de tecnologias caras? Para responder a essas e outras questes, este guia traz algumas orientaes tericas e tcnicas, com o objetivo de auxiliar voc a dar o primeiro passo na integrao de sua empresa a este conceito, que tem levado diversas organizaes a uma produo mais eficiente, econmica e com menor impacto ambiental. Em linhas gerais, o conceito de P+L pode ser resumido como uma srie de estratgias, prticas e condutas econmicas, ambientais e tcnicas, que evitam ou reduzem a emisso de poluentes no meio ambiente por meio de aes preventivas, ou seja, evitando a gerao de poluentes ou criando alternativas para que estes sejam reutilizados ou reciclados. Na prtica, essas estratgias podem ser aplicadas a processos, produtos e at mesmo servios, e incluem alguns procedimentos fundamentais que inserem a P+L nos processos de produo. Dentre eles, possvel citar a reduo ou eliminao do uso de matrias-primas txicas, aumento da eficincia no uso de matrias-primas, gua ou energia, reduo na gerao de resduos e efluentes, e reuso de recursos, entre outros. As vantagens so significativas para todos os envolvidos, do indivduo sociedade, do pas ao planeta. Mas a empresa que obtm os maiores benefcios para o seu prprio negcio. Para ela, a P+L reverte em reduo de custos de produo; aumento de eficincia e competitividade; diminuio dos riscos de acidentes ambientais; melhoria das condies de sade e de segurana do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores, poder pblico, mercado e comunidades; ampliao de suas perspectivas de atuao no mercado interno e externo; maior acesso a linhas de financiamento; melhoria do relacionamento com os rgos ambientais e a sociedade, entre outros. Por tudo isso, vale a pena adotar essa prtica, principalmente se a sua empresa for pequena ou mdia, e esteja dando os primeiros passos no mercado, pois, com a P+L, voc e seus colaboradores j comeam a trabalhar certo desde o incio. Ao contrrio do que possa parecer num primeiro momento, grande parte das medidas so muito simples. Algumas j so amplamente disseminadas, mas, neste guia, elas11

aparecem organizadas segundo um contexto global, tratando da questo ambiental por meio de suas vrias interfaces: a individual relativa ao colaborador; a coletiva referente organizao; e a global, que est ligada s necessidades do pas e do planeta. provvel que, ao ler este documento, em diversos momentos, voc pare e pense: mas isto eu j fao! Tanto melhor, pois isso apenas ir demonstrar que voc j adotou algumas iniciativas para que a sua empresa se torne mais sustentvel. Em geral, a P+L comea com a aplicao do bom senso aos processos, que evolui com o tempo at a incorporao de seus conceitos gesto do prprio negcio. importante ressaltar que a P+L um processo de gesto que abrange diversos nveis da empresa, da alta diretoria aos diversos colaboradores. Trata-se no s de mudanas organizacionais, tcnicas e operacionais, mas tambm de uma mudana cultural que necessita de comunicao para ser disseminada e incorporada ao dia-a-dia de cada colaborador. uma tarefa desafiadora, e que, por isso mesmo, consiste em uma excelente oportunidade. Com a P+L, possvel construir uma viso de futuro para a sua empresa, aperfeioar as etapas de planejamento, expandir e ampliar o negcio, e o mais importante: obter simultaneamente benefcios ambientais e econmicos na gesto dos processos. De modo a auxiliar as empresas nesta empreitada, este guia foi estruturado em quatro captulos. Inicia-se com a descrio do perfil do setor, no qual so apresentadas suas subdivises e respectivos dados socioeconmicos de produo, exportao e faturamento, entre outros. Em seguida, apresenta-se a descrio dos processos produtivos, com as etapas genricas e as entradas de matrias-primas e sadas de produtos, efluentes e resduos. No terceiro captulo, voc conhecer os potenciais impactos ambientais gerados pela emisso de rejeitos dessa atividade produtiva, o que pode ocorrer quando no existe o cuidado com o meio ambiente. O objetivo deste material demonstrar a responsabilidade de cada empresa, seja ela pequena, mdia ou grande, com a degradao ambiental. Embora em diferentes escalas, todos contribumos de certa forma com os impactos no meio ambiente. Entender, aceitar e mudar isso so atitudes imprescindveis para a gesto responsvel das empresas. O ltimo captulo, que consiste no corao deste guia, mostrar alguns exemplos de procedimentos de P+L aplicveis produo: uso racional da gua com tcnicas de economia e reuso; tcnicas e equipamentos para a economia de energia eltrica; utilizao de matrias-primas menos txicas, reciclagem de materiais, tratamento de gua e de efluentes industriais, entre outros. Esperamos que este guia torne-se uma das bases para a construo de um projeto de sustentabilidade na gesto da sua empresa. Nesse sentido, convidamos voc a ler este material atentamente, discuti-lo com sua equipe e coloc-lo em prtica.

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2. PERFIL DO SETORDetentor de um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, o Brasil tambm ocupa lugar de destaque na produo mundial de couros: 5o produtor de couros bovinos, atrs dos EUA, Rssia, ndia e Argentina, com cerca de 33 milhes de couros, representando 10 a 11% da produo mundial (2.001) [29]. O Brasil passou a ser importante exportador de couros na dcada de 1990. Em 2.004, a produo total do pas foi de cerca de 36,5 milhes de couros, sendo que aproximadamente 26,3 milhes de couros foram exportados, representando 72,1% da produo. Os principais destinos foram Itlia, Hong Kong, China e Estados Unidos, nesta ordem [36]. A indstria brasileira de couro possui crca de 450 curtumes, sendo que cerca de 80% so considerados de pequeno porte (entre 20 e 99 empregados classificao da FIERGS1 e SEBRAE-RS2) [29]. Alm dos curtumes como unidades autnomas de negcio, tem-se observado uma verticalizao dos frigorficos, atuando tambm como curtidores. A produo e a indstria de couros localizam-se principalmente no sul e no sudeste do pas, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1, havendo tendncia atual de deslocamento para novo plo no centro-oeste, em funo de relocalizao de rebanhos e frigorficos, bem como da existncia de incentivos e de outras condies favorveis nesta regio.

Tabela 1 - Produo de couro no Brasil por regio em 2000REGIO Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte Total NMERO DE COUROS 12.385.750 11.027.250 4.920.500 3.562.000 604.500 32.500.000Fonte: CNPC / IBGE / AICSUL [29]

PARTICIPAO (%) 38 33 15 11 2 100

Centro-Oeste 10%

Nordes te 9%

Norte 3%

Sudeste 34%

Sul 44%

Figura 1 - Distribuio de estabelecimentos curtidores por regio Fonte: RAIS-MTE, 2.001 [29]

O Estado de So Paulo o segundo maior produtor de couros do pas, atrs apenas do Rio Grande do Sul, com cerca de 7.600.000 couros produzidos, aproximadamente 23,0% da produo nacional (em1 2

Federao das Indstrias do Estado do Rio Grande do Sul Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas Rio Grande do Sul

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torno de 33 milhes de couros, em 2.001) [2] [29]. No entanto, tem-se observado tendncia de diminuio desta indstria em So Paulo, nos ltimos anos. De acordo com o Sindicouro3, este movimento deve-se principalmente a dificuldades e retraes da economia em geral, aumento da concorrncia e fechamento de alguns mercados, o que levou a uma forte presso por reduo de custos no setor, somados evaso de indstrias para outros estados, principalmente para o centro-oeste, atradas pelos rebanhos e frigorficos, por incentivos fiscais, mo-de-obra mais barata e exigncias menores de controle ambiental.

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Sindicato das Indstrias de Couro do Estado de So Paulo FIESP (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo)

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3. DESCRIO DO PROCESSO INDUSTRIALDe forma geral, couro uma pele animal que passou por processos de limpeza, de estabilizao (dada pelo curtimento) e de acabamento, para a confeco de calados, peas de vesturio, revestimentos de moblia e de estofamentos de automveis, bem como de outros artigos. O processo de transformao de peles em couros normalmente dividido em trs etapas principais, conhecidas por ribeira, curtimento e acabamento. O acabamento, por sua vez, usualmente dividido em acabamento molhado, pr-acabamento e acabamento final. As Figuras 2 e 3 mostram, em duas partes, um fluxograma genrico do processamento completo para fabricao de couros, desde as peles frescas ou salgadas at os couros totalmente acabados, destacando-se os principais pontos de gerao de resduos.OPERAES DE RIBEIRA, CURTIMENTO e ACABAMENTO MOLHADOConservao das pelesRes .Lq . Res. Res. Slido Gas.

Classificao e Pesagem

Pr-remolhoRes.Lquido

Pr-descarneRes.Lquido Res. Slido

RemolhoRes .Lquido

LavagemRes.Lquido

Flor RaspaRes . Slido

DivisoRes.Lquido

RecorteRes . Slido

DescarneRes. Res. Lq. Slido

LavagemRes . Lq.

Depilao e CaleiroRes . Res. Res . Lq . Slido Gas .

Descalcinao e Purga

Lavagem

Pquel e CurtimentoRes.Lquido

DescansoRes.Lquido

EnxugamentoRes .Lquido

Rebaixamento e RecorteRes. Slido

Res. Res.Lquido Res.Lquido Gas.

EngraxeRes.Lquido

TingimentoRes .Lquido

RecurtimentoRes.Lquido

NeutralizaoRes.Lquido

Figura 2 - Fluxograma esquemtico da fabricao de couros - operaes de ribeira, curtimento e acabamento molhado [15]

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Couros do Engraxe

OPERAES DE ACABAMENTO (Pr-Acabamento e Acabamento Final)

CavaleteRes.lquido

EstiramentoRes.lq uido

Secagem

Condicionamento

LixamentoRes.Slido

RecorteRes.Slido

Estaqueamento

Amaciamento

DesempoamentoRes.Slido

ImpregnaoRes.Gasoso

AcabamentoRes.Gasoso

Prensagem

Expedio / Estoque

Medio

Figura 3 - Fluxograma esquemtico da fabricao de couros - operaes de acabamento [15]

Os curtumes so normalmente classificados em funo da realizao parcial ou total destas etapas de processo. Desta forma, tem-se os seguintes tipos de curtumes: curtume integrado: capaz de realizar todas as operaes descritas nas figuras anteriores (Figuras 2 e 3), desde o couro cru (pele fresca ou salgada) at o couro totalmente acabado. curtume de wet-blue: processa desde o couro cru at o curtimento ao cromo ou descanso / enxugamento aps o curtimento (ver Figura 2); wet-blue, devido ao aspecto mido e azulado do couro aps o curtimento ao cromo. curtume de semi-acabado: utiliza o couro wet-blue como matria-prima e o transforma em couro semi-acabado, tambm chamado de crust. Nas Figuras 2 e 3, sua operao compreenderia as etapas desde o enxugamento ou rebaixamento at o engraxe ou cavaletes ou estiramento. curtume de acabamento: transforma o couro crust em couro acabado. Na Figura 3, corresponde s operaes desde cavaletes ou estiramento ou secagem at o final (estoque / expedio de couros acabados). H quem tambm inclua nesta categoria os curtumes que processam o wet-blue at o seu acabamento final. Na seqncia, tem-se uma descrio geral das principais etapas do processo como um todo.

3.1 Conservao e Armazenamento das PelesA qualidade dos couros depende de uma srie de fatores, que se iniciam com cuidados j durante a criao dos rebanhos, como o controle de parasitas e formas adequadas de identificao, conduo,

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confinamento e transporte dos animais. A partir do seu abate, deve-se evitar que suas peles degradem-se por ao de microorganismos, para que seu processamento seja eficiente e se obtenha couros de boa qualidade. Isto se obtm por meio de manuseio, conservao e armazenamento adequados das peles. Quando o tempo entre o abate e o processamento das peles para curtimento curto - menor do que 6 a 12 horas, dependendo da temperatura - estas podem aguardar sem nenhum pr-tratamento. Neste caso, as peles so denominadas verdes e seu peso de 35-40 kg por unidade. Quando as peles necessitam ser estocadas e/ou transportadas por um tempo maior, principalmente em temperaturas mais altas, elas devem passar por um pr-tratamento chamado cura, para serem conservadas. Em geral, esta conservao realizada empilhando-se as peles, intercalando-se camadas de sal entre elas. Pode-se ter uma imerso das peles em salmoura, antes do seu empilhamento em camadas. Este processo pode ser feito no frigorfico e/ou por intermedirios (salgadores de peles) e/ou pelos prprios curtumes. Nestas condies, as peles podem ser armazenadas por meses at seu processamento. A Foto 1 mostra o recebimento de peles salgadas em um curtume.

Foto 1 - Recepo da matria-prima peles salgadas 4

Nos curtumes, o local destinado ao estoque das peles salgadas geralmente conhecido como barraca. A conservao das peles tambm pode ser realizada por resfriamento ou secagem, prticas utilizadas em pequena escala. As peles salgadas apresentam boa resistncia aos microrganismos, porm o sal provoca a desidratao das peles, eliminando gua e parte das protenas solveis, resultando em um peso de 20-30 kg por pele. Alm do sal, alguns fornecedores de couros usam inseticidas para afastar insetos e/ou biocidas como auxiliares de conservao durante estoque e transporte.

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cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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3.2 RibeiraEsta macro-etapa tem por finalidades a limpeza e a eliminao das diferentes partes e substncias das peles que no iro constituir os produtos finais - os couros -, bem como preparar sua matriz de fibras colagnicas (estrutura protica a ser mantida), para reagir adequadamente com os produtos qumicos das etapas seguintes, o curtimento e o acabamento. Em geral, a ribeira compreende as etapas desde o prremolho at a lavagem aps a descalcinao e purga ou at o pquel, realizado antes do curtimento (ver na Figura 2).

Foto 2 - Separao, pesagem e montagem dos lotes de peles para incio do seu processamento (pr-remolho ou remolho) 4

Antes de entrarem na ribeira, as peles normalmente so classificadas em funo de seu peso e por vezes, dos tipos de couros a serem produzidos, originando lotes de peles para processamento. A Foto 2 mostra a preparao das peles para o incio do processo. Normalmente, as etapas de processo que envolvem tratamentos qumicos das peles (chamados banhos), para sua limpeza ou para condicionamento de suas fibras, bem como algumas etapas intermedirias de lavagem com gua, so realizadas em equipamentos chamados fules,- cilindros horizontais fechados, normalmente de madeira, dotados de dispositivos para rotao em torno de seu eixo horizontal, com porta na superfcie lateral para carga e descarga das peles, bem como para adio dos produtos qumicos. Na ribeira, as etapas em fules so pr-remolho, remolho, depilao/caleiro, lavagens, descalcinao/purga, lavagem e pquel. As Fotos 3 e 4 mostram fules tpicos.

4

cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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Foto 3 Grupo de fules - operao de carga de peles para processamento 4

Foto 4 Bateria de fules e operrios manuseando lote de couros recm-sado de etapa de processamento, para a seqncia das operaes 4

As outras etapas da ribeira so fsico-mecnicas, realizadas manualmente e em mquinas especficas, onde, basicamente, procura-se remover fisicamente impurezas aderidas superfcie interna das peles, como gorduras, carnes e apndices (etapas pr-descarne e descarne) e fazer alguns ajustes nas extremidades das peles (recortes). A Foto 5 mostra uma mquina para descarnar as peles e a Foto 6, a etapa de recortes.

4

cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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Foto 5 - Mquina descarnadeira remoo da carnaa aderida superfcie interior ou inferior das peles 4

Foto 6 - Operao de recorte e ajuste das extremidades das peles, aps descarne e/ou diviso 4

Na etapa diviso, separa-se as peles em duas camadas: a superior, lado externo das peles, parte mais nobre, chamada flor e a inferior, lado interno, a raspa. Esta ltima pode seguir processamento, como a flor, produzindo-se couros para aplicaes secundrias ou pode simplesmente ser um sub-produto, normalmente vendido para terceiros. Estas etapas tambm esto representadas na Figura 2.

4

cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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3.3 CurtimentoO curtimento um processo que consiste na transformao das peles, pr-tratadas na ribeira, em materiais estveis e imputrescveis, ou seja, a transformao das peles em couros. Pode ser classificado em trs tipos principais: mineral, vegetal e sinttico. Normalmente, tambm realizado em fules. No curtimento mineral, o processo ao cromo ainda o principal processo de curtimento, utilizado mundialmente, pelo tempo relativamente curto de processo e pela qualidade que confere aos couros em suas principais aplicaes. A fonte de cromo normalmente utilizada o sulfato bsico de cromo, onde este se encontra no estado trivalente. No entanto, esforos crescentes para sua substituio so verificados, devido ao seu impacto ambiental potencialmente negativo. Este curtimento pode ser realizado no mesmo banho do pquel ou formulado em banho novo, parte. O curtimento vegetal (aos taninos, contidos em extratos vegetais) geralmente utilizado para produo de solas e de alguns tipos especiais de couro, bem como em combinao com os outros tipos de curtimento. Devido ao seu alto custo, os taninos so utilizados o mximo possvel - na maioria das vezes, faz-se apenas a reposio de soluo para o lote de peles seguinte, para compensar a parte absorvida pelas peles do lote anterior. Com o aumento do uso de materiais sintticos na fabricao de solas, o curtimento vegetal de couro para este fim diminuiu significativamente. No curtimento sinttico, so empregados curtentes, em geral orgnicos (resinas, taninos sintticos, por exemplo), que proporcionam um curtimento mais uniforme e aumentam a penetrao de outros curtentes, como os taninos e de outros produtos. Isto propicia, por exemplo, um melhor tingimento posterior. Geralmente, so mais caros, relativamente aos outros curtentes e so mais usados como auxiliares de curtimento.

3.4 AcabamentoO acabamento pode ser subdividido em trs etapas: acabamento molhado, pr-acabamento e acabamento final.

a. Acabamento Molhado (ou Ps-Curtimento)Na Figura 2, corresponde s etapas desde descanso / enxugamento at o engraxe dos couros. Estas etapas visam complementar o curtimento principal anterior, bem como conferir a base de algumas propriedades fsicas e mecnicas desejveis aos couros, como cor bsica, resistncia trao, impermeabilidade, maciez, flexibilidade, toque e elasticidade. Descanso, enxugamento, rebaixamento e recorte so operaes fsico-mecnicas, enquanto as demais so banhos realizados em fules. A Foto 7 mostra a operao de rebaixamento dos couros, em mquina especfica e a Foto 8, o resduo normalmente gerado nesta operao.

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Foto 7 - Mquina da seo de rebaixadeiras rebaixamento dos couros recm-curtidos ao cromo (wet-blue), para ajuste de sua espessura 4

Foto 8 - Serragem / p / farelo de rebaixadeira prensado, para armazenamento e/ou destinao posterior 4

b. Pr-AcabamentoNa Figura 3, vai desde as operaes cavaletes, estiramento e secagem at a impregnao, todas operaes fsico-mecnicas, sendo que nesta ltima, aplica-se produtos superfcie dos couros, como polmeros termoplsticos, manualmente ou por meio de mquinas especficas. Estas operaes tm a finalidade de dar algumas das propriedades fsicas finais aos couros. A Foto 9 mostra uma mquina desta etapa.

4

Cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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Foto 9 - Mquina da seo de acabamento aplicao de produtos qumicos superfcie dos couros 4

c. Acabamento FinalO acabamento final o conjunto de etapas que confere ao couro apresentao e aspecto definitivo. Na Figura 3, compreende as trs operaes finais antes da expedio ou estoque dos couros acabados: acabamento, prensagem e medio.

4

Cortesia do Curtume Della Torre Ltda., Franca, SP

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4. ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAISA Figura 4 apresenta um balano de massas bsico, em quantidades mdias, com as principais entradas e sadas do processo produtivo convencional para couro bovino salgado, com curtimento ao cromo, at o produto final (base: uma tonelada de peles salgadas brutas).

EntradasCouro Acabado Couro salgado1t200 - 250 kg

SadasDQO (1) DBO (2) SS (3) Cromo Sulfeto No curtido Curtido Resduos Slidos~450-730 kg aparas e raspas carnaa Rebarbas / tiras e p de rebaixadeira 130 - 250 kg 55 - 100 kg 30 - 150 kg 4 - 6 kg 3 - 10 kg ~120 kg ~70 - 350 kg ~225 kg

Efluente Lquido

15 - 40 m

3

Produtos Qumicos

~ 500 kg

gua

15 - 40 m

3

Energia

2600 - 11700 kWh

Tingido / Acabado

p (lixa) aparas

~2 kg ~30 kg

Lodo do (~ 30 - 40% mat.seca) Tratamento Efluentes Poluentes Atmosfricos~40 kg

~500 kg

Solventes Orgnicos

Figura 4 - Fluxos bsicos principais de um curtume Fonte: IPPC, Fevereiro 2003 [22] (1) DQO demanda qumica de oxignio e (2) DBO demanda bioqumica de oxignio: medem a quantidade de oxignio necessria para a oxidao ou degradao qumica e bioqumica, respectivamente, de materiais oxidveis presentes nos efluentes e portanto, o potencial de desoxigenao de corpos dgua onde forem lanados. (3) Slidos suspensos ou em suspenso

A Figura 4 mostra que o processamento convencional de 1 t ou 1.000 kg de peles salgadas gera somente 200 a 250 kg de couros acabados, o que d um rendimento mdio do processo de 22,5 %, nestas bases. Por outro lado, alm de outras emisses, o processo gera cerca de 600 kg de resduos slidos (podendo chegar at cerca de 1.000 kg), o que denota um potencial de impacto ambiental significativo da gerao de resduos slidos na produo de couros. A seguir os principais aspectos ambientais desta atividade so comentados.

4.1 Insumos Utilizadosa. guaNo processo geral de curtumes, o volume de gua utilizado pode variar, conforme a Tabela 2, em funo de diferenas de matrias-primas, de processos, de prticas operacionais e de gerenciamento. Os

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valores apresentados podem ser considerados representativos para o setor nacional de curtumes, sendo que indstrias que apresentam valores menores, abaixo da mdia e prximos ao limite inferior, normalmente realizam trabalho com o fim de racionalizar, otimizar e reduzir o consumo de gua.

Tabela 2 - Consumo de gua em curtumesEtapas do Processo Ribeira (at purga) Curtimento Ps-curtimento ou Acabamento Molhado Acabamento TOTAL Consumo de gua (m3/t pele salgada) 7-25 1-3 4-8 0-1 12-37

Fonte: IUE Comisso de Meio Ambiente e de Resduos da Unio Internacional das Sociedades dos Qumicos e Tcnicos/Tecnlogos do Couro (IULTCS), 2.002 [24]

De acordo com o Centro Tecnolgico do Couro, SENAI - Rio Grande do Sul, o consumo total mdio atual do setor brasileiro est estimado em 25-30 m3 gua / t pele salgada cerca de 630 litros gua / pele salgada, em mdia. Assim, um curtume integrado de processo convencional que processe 3.000 peles salgadas por dia (de porte mdio), consumiria, em mdia, aproximadamente 1.900 m3 gua/dia, equivalente ao consumo dirio de uma populao de cerca de 10.500 habitantes, considerando-se um consumo mdio de 180 litros de gua / habitante.dia. Desta forma, verifica-se que gua um insumo importante na operao dos curtumes (na formulao dos banhos de tratamento e nas lavagens das peles) e dependendo da sua produo e do local onde opera, o impacto de consumo nos mananciais da regio pode ser significativo.

b. EnergiaA energia consumida pelos curtumes, assim como outros insumos, depende de aspectos como tipo, capacidade e quantidade de produo, tipo e estado dos equipamentos, tipo de tratamento de efluentes, existncia de prticas para a eficincia energtica, entre outros. Assim, a faixa de variao de consumo muito ampla, como indicada na Figura 4 2.600 a 11.700 kWh por tonelada de peles salgadas. Energia trmica necessria para processos como secagem dos couros e obteno de gua quente ou aquecimento dos banhos de processo; energia eltrica, para equipamentos em geral e iluminao. Normalmente, os consumos mais significativos ocorrem na secagem dos couros, no aquecimento de gua / banhos e nos equipamentos da estao de tratamento de efluentes, notadamente onde h processos aerbios, com agitao vigorosa e nos fules.

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c. Produtos QumicosNa Tabela 3, esto listados os principais produtos qumicos utilizados em cada etapa do processo dos curtumes.

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Tabela 3 - Principais produtos qumicos utilizados no processo de curtumes Etapa do Processo Produtos UtilizadosSal comum (cloreto de sdio, 40-45% sobre o peso bruto das peles); eventualmente, inseticidas ou biocidas: piretrum (natural, extrado de folhas de crisntemo), permetrin (derivado sinttico de Conservao / Armazenamento piretrum), para-diclorobenzeno, slico-fluoreto de sdio, brax. Outros possveis, j banidos por Das Peles alguns pases desenvolvidos (alta toxicidade para seres humanos e ambiente e/ou alta permanncia no ambiente): DDT, hexaclorobenzeno (BHC), dieldrin, base de arsnico e de mercrio. gua (~150-200% em relao ao peso total bruto de pele salgada inicial (*), durao 10 min Pr-Remolho 1 hora, dependendo do estado de conservao das peles. Banho normalmente descartado (efluente). gua (~100-1000%, dependendo do tipo de pele e do equipamento), lcalis (p.ex., soda custica, bicarbonato de sdio), hipoclorito de sdio, tensoativos (detergentes, que podem ser fenlicos Remolho nonilfenoletoxilado - lcoois graxos sulfatados, organo-fosfatados 0,1-0,2%), enzimas ou produtos enzimticos. Banho normalmente descartado (efluente). (~1-4%), sulfidrato de sdio, soda custica, aminas (p.ex., sulfato de dimetilamina), cido mercaptoactico, glicolato de sdio, sulfeto de brio e mais recentemente, enzimas e/ou seus Depilao / Caleiro preparados. Banho descartado ou reciclado para a mesma etapa (em alguns curtumes). Descalcinao / Desencalagem Purga gua (~20-30%), cidos (~0,5-2,0% - sulfrico, clordrico, lctico, frmico, actico, glioxlico, ctrico, oxlico, brico e suas misturas), sais cidos, cloreto e/ou sulfato de amnio, bissulfito de sdio, perxido de hidrognio. Uso de CO2 alternativa recente aos sais de amnio. Banho normalmente utilizado para a etapa seguinte. loreto de amnio e enzimas proteolticas, normalmente pancreticas (~1-5%) ou produto que as contenha, adicionados sobre o banho da etapa anterior (desencalagem). Banho normalmente descartado (efluente). gua (~60-100%), sal comum (cloreto de sdio, ~5-10%) ou sulfato de sdio, cidos (~0,6-1,5% sulfrico, clordrico, actico ou frmico, sulfnico aromtico ou suas misturas). Alguns fungicidas podem ser usados: tiobenzotiazol, para-clorometacresol, paranitrofenol, tri ou pentaclorofenol, betanaftol e fungicidas base de mercrio. No entanto, todos estes so bastante ou relativamente txicos ao homem e ao ambiente h preocupao em evitar o seu uso, em alguns pases. Banho descartado ou utilizado para a etapa de curtimento. Solventes gua raz, querosene, monoclorobenzeno e percloroetileno, para peles de ovelha. Carbonato de sdio, para peles sunas.

Ribeira

Pquel

Desengraxe (peles no bovinas)

(*) daqui para frente, sempre nesta base, salvo indicao em contrrio

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Tabela 3 Continuao Etapa do ProcessoTipos Curtentes principais: Cromo: sulfato bsico complexo de Cr+3 o mais utilizado (conc. banho ~1,5-5,0%, em Cr2O3). - Outros metais: sais de alumnio, titnio, magnsio e zircnio potenciais substitutos do cromo ou usados junto com ele (ainda pouco usados). Produtos auxiliares: sal (cloreto de sdio), agentes basificantes (xido de magnsio, carbonato ou bicarbonato de sdio - ~1,0%), fungicidas (~0,1%), agentes mascarantes (cido frmico, formiato ou diftalato de sdio - ~0,1-0,5% -, cido oxlico, sulfito de sdio), engraxantes (0,5% leo resistente a eletrlitos), resinas. Curtentes principais: taninos compostos polifenlicos, extrados de vegetais (accia, quebracho, castanheiro, barbatimo, etc). Produtos auxiliares: agentes pr-curtentes, branqueadores, seqestrantes, engraxantes, cido frmico, resinas, etc. Curtentes principais: sintans/sintanas/sintanos uso exclusivo (mais raro) ou combinado com cromo ou taninos (mais comum), em curtimento ou recurtimento (aps cromo ou taninos) produtos sulfonados de fenol, cresol e naftaleno ou resinas de poliuretanos ou acrlicas; alguns aldedos modificados tambm podem ser utilizados. Produtos auxiliares: agentes pr-curtentes, branqueadores, sequestrantes, engraxantes. -

Produtos Utilizados

Mineral

Curtimento Vegetal

Sinttico

Obs.: outros produtos, como leo de bacalhau, glutaraldedo e formaldedo tambm podem ser encontrados como curtentes ou auxiliares de curtimento. Este ltimo, porm, vem sendo evitado por sua toxicidade. Banhos de curtimento, ao final da etapa: os vegetais (taninos) so normalmente reciclados para o lote seguinte; os minerais (ao cromo) podem ser descartados para os efluentes ou reciclados / tratados para reuso direto ou para recuperao de cromo (em alguns curtumes); os sintticos so descartados ou eventualmente, podem ser reciclados.

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Tabela 3 Continuao Etapa do Processo Produtos Utilizadosgua (~80-100%, base peso bruto do couro aps rebaixamento), sais de cidos fracos, como carboxlicos e derivados do cido carbnico (p.ex., formiato de sdio, s ou combinado com bicarbonato de sdio), sais de taninos sintticos, de amnio ou de sdio, agentes complexantes (p.ex., EDTA e NTA (acetatos), polifosfatos). Normalmente, usa-se alguns destes qumicos em torno de 1,0% (na mesma base da gua). O banho residual normalmente descartado (efluente). gua (~100-150%, base peso bruto do couro aps etapa anterior), curtentes como sais de cromo, de alumnio, de zircnio, taninos de mimosa, de quebracho, de castanheiro adoado, de tara, sintans (taninos sintticos), glutaraldedo, aldedos modificados, resinas (acrlicas, aminoplsticas, estireno-maleicas), etc. O banho residual normalmente descartado (efluente). gua a quantidade funo do grau desejado de penetrao dos corantes: menor volume (~30%, base peso bruto do couro no incio da etapa), maior penetrao e vice-versa (~50-100%); corantes aninicos e catinicos (1-6%, na mesma base aminas aromticas, tipo anilina ou outros corantes especficos azocorantes, complexos metlicos), cidos, enxofre. O banho residual normalmente descartado (efluente). gua (~50-100%), leos sulfonados de peixes, outros leos animais, leos vegetais, leos minerais (p.ex., parafinas cloradas) e leos sintticos (p.ex., leos siliconados), misturas destes vrios leos (3-10%), lecitina de soja. O banho residual normalmente descartado (efluente). Polmeros termoplsticos (resinas) especificamente formulados para espalhamento sobre a superfcie dos couros. Tintas, misturas a base de ligantes e pigmentos, aplicadas em camadas, sobre os couros. Vrios produtos qumicos orgnicos compem estas misturas, como bases ou como diluentes / solventes: acetona, outras cetonas, n-butanol, acetatos de etila, butila e isobutila, cido frmico, monoclorobenzeno, ciclohexano, etilenoglicol, butilenoglicol, etilbenzeno, percloroetileno, tricloroetilenotolueno, tolueno, xileno etc. Vapores destes produtos so emanados para a atmosfera.

Neutralizao/ Desacidulao

Recurtimento

Acabamento Geral

Tingimento

Engraxe Impregnao

Acabamento

Fontes: ABQTIC, 2003 [1]; Claas & Maia, 1994 [15]; IPPC, Fevereiro 2003 [22]; UNEP IE/PAC, 1994 [35]

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4.2 Rejeitos Geradosa. Efluentes LquidosO volume total de efluentes lquidos gerados pelos curtumes normalmente similar ao total de gua captada. Porm, em termos de vazes efetivas de gerao e de lanamento para fora dos curtumes (regime de gerao e de lanamento), estas dependem dos procedimentos operacionais da estao de tratamento de efluentes (ETE) - tambm denominada sistema de tratamento de guas residurias (STAR) - de cada curtume.

Tabela 4 - Gerao de efluentes lquidos distribuio pelas principais etapas geradoras do processo (m3 efluentes / t couro processado)Macro-etapa do Processo Etapa do Processo Efluentes Gerados m3 / t % do Total 2,4 1,3 2,4 2,4 4,0 7,8 1,3 21,6 4,3 1,3 1,3 6,9 0,13 0,76 0,69 0,55 0,5 0,8 3,43 31,93 7,5 4,1 7,5 7,5 12,5 24,4 4,1 67,6 13,5 4,1 4,1 21,7 0,4 2,4 2,2 1,7 1,6 2,5 10,7 100

Pr-remolho Lavagem Remolho Ribeira Depilao / Caleiro Lavagem Lavagens Ps-descarne Descalcinao e Purga Subtotal Ribeira Eventuais Lavagens Pr-curtimento e Pquel Curtimento Curtimento Subtotal Pr-curtimento e Curtimento Enxugamento Neutralizao Recurtimento Acabamento Lavagens Tingimento Engraxe Subtotal Acabamento TOTAL GERAL CURTUME:

Fonte: baseado em Claas & Maia, 1994 [15]

Como se pode ver na Tabela 4, cerca de 65 a 70% do volume dos despejos lquidos so provenientes das operaes de ribeira at a etapa de purga, cabendo os outros 30 a 35% ao restante do processo. As guas das operaes de ribeira so fortemente alcalinas e esbranquiadas (cal em excesso) e contm sebo, plos, tecido muscular, gordura e sangue, em suspenso. Em soluo, sais (principais nions - sulfeto, sulfato, cloreto; principais ctions - sdio, clcio, amnio), protenas e aminocidos diversos; em menor quantidade, tensoativos (detergentes), aminas e eventualmente alguns conservantes ou biocidas e inseticidas (produtos orgnicos).

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O beneficiamento da carnaa, gerada nos descarnes, para obteno de sebo, graxa ou gordura, gera um volume de efluentes relativamente pequeno. No entanto, tais efluentes apresentam concentraes elevadas de slidos em suspenso, protenas dissolvidas e pH na faixa cida. Os efluentes lquidos provenientes das operaes de pquel e curtimento contm, principalmente, sal (cloreto de sdio), cidos minerais (sulfrico, clordrico), orgnicos (lctico e frmico), cromo e/ou taninos (orgnicos polifenlicos), protenas e eventualmente, alguns fungicidas (orgnicos aromticos), em pequenas quantidades. So guas turvas, de cor verde escura (curtimento ao cromo) ou castanhas (curtimento por taninos), que apresentam pH cido, podendo ter altas concentraes de DQO e DBO, conforme o curtente utilizado. As principais guas residuais das operaes de acabamento molhado ou ps-curtimento e de acabamento, normalmente apresentam certo teor de cromo (do enxugamento e por vezes, do recurtimento), sais diversos (da neutralizao), cores diversas, devido aos corantes utilizados (do tingimento), muitos base de anilina, azo-corantes e temperatura mais elevada. Outras operaes destes trs grupos de etapas no apresentam efluentes lquidos ou estes so pouco significativos. As Tabelas 5 e 6 apresentam alguns valores mdios ou faixas de valores para parmetros medidos nos efluentes brutos de curtumes cargas poluentes e concentraes tpicas.

Tabela 5 - Dados tpicos de parmetros medidos em efluentes brutos de curtumes com processos convencionais completos distribuio por etapas bsicas ou macro-etapas do processo (matria-prima: peles bovinas salgadas; dados em kg / t pele)Etapa Bsica do Processo Ribeira Curtimento Ps-curtimento / Acabamento Molhado Acabamento Total Uso de gua (m3/ t) (1) DQO DBO Slidos Suspensos Cromo (Cr+3) Sulfeto N Total Cloreto (2) 120150 20-60 05-10 Sulfato leos e Graxas Slidos Dissolvidos Totais (3) 200-300 60-120 40-100

7-25 1-3

120160 10-20

40-60 3-7

70-120 5-10 01-10 0-5 85-155 3-7 2-5 01-02

2-9

9-14 0-1 01-02

5-20 30-50 01-10

5-8 1-2 03-08

4-8 0-1 12-37

15-40 0-10 145 230

5-15 0-4 48-86

2-9

10-17

145220

45-110

9-18

300-520

Fonte: grupo IUE 6, IULTCS, 2002 [24] (1) volume de efluentes gerados ~ uso de gua (2) N Total teor de nitrognio total (orgnico e amoniacal). (3) resduo no filtrvel solvel

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Tabela 6 - Caracterizao de efluentes lquidos brutos, homogneos, aps peneiramento, de uma indstria que executa curtimento ao cromo, no recicla banhos residuais e tem etapa de oxidao de sulfetoParmetros pH Slidos Sedimentveis DQO DBO5 Cromo Total (Cr+3) Sulfeto Concentraes 8,6 90,0 ml/l 7250 mg/l 2350 mg/l 94,0 mg/l 26,0 mg/l

Fonte: Claas & Maia, 1994 [15]

Como se v pelas Tabelas 5 e 6, as cargas poluentes emitidas so significativas. Considerando tambm os dados volumtricos da Tabela 4, v-se que a fase de ribeira, at a etapa anterior ao curtimento, a responsvel pela maior parte das cargas poluentes e txicas dos efluentes de curtumes. Por exemplo, o sulfeto, presente nos efluentes da ribeira, mais txico para o ser humano do que o cromo do curtimento, considerando que este est na sua forma trivalente. A sub-etapa principal contribuinte para este alto potencial poluidor da ribeira a depilao/caleiro. Tomando-se o dado mdio da Tabela 5 para DBO (cerca de 67 kg/t pele), considerando-se um peso mdio de 23 kg/pele salgada e uma carga orgnica mdia de esgoto domstico de 54 g DBO/habitante.dia, o potencial poluidor de carga orgnica biodegradvel de um curtume integrado, que processe 3.000 peles/dia, seria equivalente ao de uma populao de cerca de 85.600 habitantes. Assim, v-se que o impacto ambiental potencial dos efluentes lquidos significativo. Alm da carga poluidora em si, caso certos cuidados operacionais no sejam tomados, os efluentes lquidos dos curtumes que realizam a ribeira podem apresentar problemas de odor devido formao de gs sulfdrico, proveniente do sulfeto, o que pode causar incmodos populao no entorno. Portanto, os curtumes normalmente possuem estaes de tratamento desses efluentes (controle via tratamento fim-de-tubo), visando minimizar seus impactos ambientais e atender legislao vigente. O tratamento dos efluentes lquidos, usualmente empregado, consiste das seguintes etapas: segregao dos efluentes da ribeira daqueles do curtimento (principalmente curtimento ao cromo) e do acabamento. Entre outros aspectos, isto possibilita operaes de reciclagem dos banhos de depilao e de curtimento, o que alguns curtumes j realizam. Os efluentes do curtimento ao cromo passam por tratamento especfico para separao do cromo, normalmente por precipitao alcalina, como hidrxido de cromo trivalente. O sobrenadante da precipitao encaminhado para a homogeneizao ou equalizao dos efluentes gerais. No entanto, h curtumes que no fazem esta segregao, procedendo remoo do cromo no tratamento primrio. tratamento preliminar remoo dos slidos em suspenso maiores, mais grosseiros, por gradeamento e/ou peneiramento nas linhas de efluentes. Alguns curtumes tambm instalam caixas de gordura, principalmente para efluentes da ribeira.32

-

oxidao prvia do sulfeto residual em meio alcalino, proveniente de banhos e lavagens da ribeira, antes de homogeneiz-los com outros efluentes cidos, de forma a prevenir a formao de gs sulfdrico (H2S) - txico, precursor de corroso e um dos principais responsveis por problemas de odor nos curtumes.

-

homogeneizao ou equalizao dos efluentes. tratamento primrio dos efluentes equalizados, fsico-qumico, para remoo de parte da matria orgnica e de alguns metais residuais, principalmente cromo - coagulao, floculao e decantao primria.

-

tratamento secundrio biolgico, normalmente lagoas aeradas, facultativas ou lodos ativados, para remoo da carga orgnica residual do tratamento primrio. Se bem projetado e operado, este sistema bsico de tratamento normalmente capaz de

enquadrar os efluentes dos curtumes nos padres de lanamento estabelecidos pela legislao vigente. Como ilustrao, a Tabela 7 mostra valores tpicos de eficincias para tratamentos de efluentes de curtumes com processamento convencional, desde a pele bruta at o couro acabado.

Tabela 7 Eficincias de alguns tipos de tratamento de efluentes e de suas combinaes na remoo de algumas cargas poluentes de curtumesParmetro % ou mg/l (1)PR-TRATAMENTO OU TRATAMENTO PRELIMINAR

DQO % mg/l

DBO % mg/l %

SS ml/l

Cr (2) mg/l

S2(3) mg/l

N Total % mg/l

Remoo de gordura (flotao por ar dissolvido) Oxidao de sulfeto (caleiro e lavagens) Precipitao do cromoTRATAMENTO PRIMRIO OU FSICO-QUMICO

20-40 10 1-10 10

Homogeneizao + sedimentao Homogeneizao + tratamento qumico + sedimentao Homogeneizao + tratamento qumico + flotaoTRATAMENTO BIOLGICO Primrio ou fsico-qumico + aerao prolongada Primrio ou fsico-qumico + aerao prolongada + nitrificao e desnitrificao

25-35 50-65

25-35 50-65

50-70 80-90

20-30 2-5 2 - 10

25-35 40-50

55-75

55-75

80-95

2-5

2-5

40-50

85-95

200 400 200 85-95 400

90-97 20-60 90-98 20-50 90-97 20-60 90-98 20-50

esta reduo de volume nos banhos (caleiro, desencalagem, pquel, curtimento, recurtimento, engraxe, tingimento etc.) gera os chamados banhos curtos (de menor volume) alm de reduzirem o consumo de gua, os banhos curtos trazem, como benefcios, a reduo do volume dos efluentes, uma possvel reduo na quantidade de produtos qumicos utilizados, uma vez que a concentrao do banho tende a subir, aumentando a penetrao destes produtos nas peles, para uma mesma quantidade utilizada e o aumento da temperatura dos banhos, o que normalmente favorece ainda mais a penetrao e a reatividade dos produtos com as peles. Os limites para a reduo de volume dos banhos so a potncia instalada para movimentar os fules e os danos potenciais flor das peles, pelo maior atrito entre elas e delas com os fules. Deve-se avaliar, programar e testar redues do volume de gua de solues dos banhos e de

44

lavagens, trabalhando uma etapa de cada vez (banho ou lavagem), do incio ao fim, com as devidas avaliaes. OBS.: algumas lavagens, se estiverem em excesso (volume de gua, tempo etc.), podem ter o efeito inverso do que se quer podem remover produtos qumicos das etapas anteriores, que ainda no agiram ou no se fixaram nas peles, como seria desejvel. h duas ou mais etapas de tratamento das peles que poderiam ser realizadas em uma nica etapa (dois ou mais banhos em um s)? => avaliar, programar e testar redues do nmero de banhos de tratamento aps anlise especializada do processo, iniciar por etapas que potencialmente trariam menores conseqncias para a qualidade final dos couros. 6 passo: avaliar e procurar reutilizar gua do efluente final tratado em etapas ou processos menos crticos (exemplo: utilizar efluente tratado no caleiro / depilao o quanto possvel); no entanto, cuidado (por exemplo) com possvel oxidao de cromo III (residual no efluente tratado que deveria ser muito pouco) a cromo VI (mais txico), aps o reciclo. Caso o teor de cromo remanescente no efluente final tratado justifique esta preocupao, o reciclo poderia ser feito para etapa(s) aps a(s) qual(is) no iro ocorrer oxidaes, cuidando para que eventuais oxidantes presentes ou remanescentes sejam removidos ou neutralizados previamente. De qualquer forma, testes de reuso de efluente tratado podem ser realizados, com a verificao da ocorrncia ou no de oxidao de cromo. Em caso positivo, alternativas devem ser estudadas para evit-la ou revert-la. Enfim, ir fechando o circuito de gua, o quanto possvel. 7 passo: modificar e/ou substituir equipamentos existentes para permitir trabalhar com banhos mais curtos (de menor volume). Exemplo: no mercado, h um fulo de 3 compartimentos, com 1 tambor externo e 1 tambor interno, que permite economia de cerca de 50% de gua e de 20% de produtos qumicos. 8o passo: automatizao e informatizao das operaes a serem realizadas nos fules alm de trazer economia de gua, obtm-se: economia de energia, diminuio de mo-de-obra nestas operaes, o que permite utiliz-la para controlar melhor outras operaes (inclusive algumas implementaes relativas P+L), maior regularidade nos tratamentos das peles (portanto, qualidade mais constante dos couros produzidos), diminuio de desperdcios. OBSERVAES IMPORTANTES: este trabalho deve ser feito pelo pessoal de produo (e de processo, se existir), coordenado ou liderado por uma pessoa, de preferncia, com boa experincia e viso geral do processo produtivo completo, com auxlio da manuteno e do pessoal de limpeza => envolve treinamento efetivo, reforo e provvel reviso de procedimentos. critrio de escolha de etapas, para incio e continuidade do trabalho, visando reduo do volume de gua utilizado: por exemplo, da etapa de maior para a de menor consumo de gua.45

-

dos passos citados acima, os 1o, 2o, 3o e 5o no requerem investimentos significativos e portanto, pode-se dar prioridade a eles, sendo que o 1o e o 2o so essenciais necessrio conhecer e controlar o consumo atual para se estabelecer metas razoveis de reduo (onde, quanto etc.). Os passos 4o , 6o , 7o e 8o devem requerer um investimento maior, mas mesmo assim, normalmente do um retorno aceitvel ou vivel, em funo de economias diretas e indiretas que eles geram.

-

no desistir, quando problemas aparecerem - eventuais problemas que apaream durante os testes das mudanas de processo, devem ser discutidos com a participao de todos os envolvidos, incluindo especialistas no processo e na produo do prprio curtume, bem como de fora (consultores - se necessrio e se possvel), visando solucionar tais problemas, de forma a viabilizar a mudana em teste, o quanto possvel.

-

ao fim de cada trabalho de mudana realizado, uma vez que o resultado for positivo (reduo efetiva do consumo de gua sem prejuzo significativo de produtividade e de qualidade dos produtos), nova instruo de trabalho dever ser preparada com a alterao testada e aprovada e todo o pessoal envolvido deve ser efetivamente treinado para que a economia obtida seja consolidada.

-

o resultado (ganhos obtidos, que normalmente so maiores do que a economia de gua) deve ser amplamente divulgado e todas as pessoas envolvidas no trabalho, devidamente reconhecidas. Isto tambm contribui para a consolidao dos ganhos obtidos, bem como motiva a busca de novas alternativas, num processo de melhoria contnua.

5.3 Uso Racional de EnergiaO foco reduzir perdas e desperdcios de energia e garantir a adequao dos equipamentos (tipo e dimenses) de acordo com as operaes que realizam. Algumas medidas:

tubulaes de vapor firmemente instaladas; estas tubulaes, bem como as de gua acima de 30oC, devem ser bem isoladas termicamente. condensado de vapor deve ser recolhido e recuperado em tubulao termicamente isolada. minimizar o consumo de gua quente. eventuais tanques de gua quente devem ser cobertos ou fechados. antes da secagem propriamente dita (em equipamento de secagem), diminuir o contedo de gua dos couros por meio de secagem natural e/ou mecnica (enxugamentos) o quanto for possvel. aplicar, nas caldeiras, medidas de economia tpicas para estes equipamentos queimadores otimizados (controles automticos), vlvulas automticas de fluxos, recuperadores de calor de descargas das caldeiras, sistemas de retorno de condensados, entre outros.

compressores: verificar adequao (dimensionamento), regulagem e recuperar seu calor residual para aquecer gua, por exemplo.

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garantir a aplicao do princpio sem produo, sem consumos: sem fluxos de utilidades (gua, vapor, etc.), sem luzes acesas, sem equipamentos ligados onde no houver operaes ou produo. utilizar iluminao natural sempre que possvel (telhas transparentes, projeto e localizao de janelas, bem como dos prdios / galpes, favorveis entrada de luz natural). dimensionamento de motores adequado s cargas e uso de motores de alta eficincia.

5.4 Minimizao de Resduos SlidosA seqncia geral de aes recomendvel na abordagem de minimizao de resduos slidos, conhecida por 3Rs, : 1o Reduo na fonte: eliminar ou diminuir a gerao de resduos no processo produtivo. 2o Reso / Reciclagem interna: uso direto / aps algum processamento, do resduo no prprio processo produtivo 3o Reciclagem externa: processamento dos resduos por terceiros. Com este foco, a indstria de curtumes j pratica aes para alguns de seus resduos slidos, conforme descrito a seguir, trabalhando principalmente com a reciclagem. A seguir, so relatadas algumas aes aplicveis aos principais resduos slidos gerados nos curtumes. Carnaas (dos descarnes, na ribeira): sempre que possvel, importante fazer um descarne das peles no prprio frigorfico, aps o abate dos animais isto mais vivel quando o frigorfico tem graxaria e fabricao de farinha, para aproveitamento local da carnaa. Deste modo, diminui-se a quantidade desse resduo nos curtumes. Por sua vez, os descarnes cuidadosos e mais eficientes das peles nos curtumes, independentemente de descarne prvio nos frigorficos, promovem ganhos ambientais e econmicos nas etapas seguintes do processo: reduo do consumo de gua, de produtos qumicos, de volume de efluentes lquidos, da carga orgnica e inorgnica desses efluentes, de resduos slidos no processo produtivo e de lodos gerados na ETE. comum os curtumes processarem as carnaas. A gordura separada neste processamento pode ser utilizada pelo prprio curtume na etapa de engraxe dos couros ou para outros fins, como a fabricao de sabes. As carnaas tambm tm potencial para uso na fabricao de cola de origem animal ou ainda de rao animal, pelo seus teores de gordura e de protena. Aparas e raspas no caleadas e caleadas (dos recortes e da diviso, na ribeira): com a diminuio da gerao desses resduos, por meio de recortes e divises mais planejados e controlados, os curtumes poderiam aumentar o rendimento de seu processo, em termos de rea por couro produzido. Por outro lado, tratar peles com rea menor, pode (no necessariamente) implicar numa srie de economias (produtos qumicos, gua, reduo de efluentes e de carga orgnica), o que desejvel, tanto para o meio ambiente, como para os curtumes. Alm disso, estes resduos so vendidos pelos curtumes, sendo reciclados por terceiros, gerando uma certa receita. Desta forma, cabe a cada curtume uma anlise tcnica e econmica da viabilidade de se47

reduzir ou no esses resduos, considerando ganho de rea, qualidade do couro final resultante versus preo de venda, situao geral do mercado de couros do curtume e do mercado desses resduos. Normalmente, estas aparas e raspas so utilizadas como matria-prima para fabricao de gelatinas de uso alimentcio ou farmacutico ou para fabricar colas. Tambm so usadas para fabricao de invlucros comestveis para embutidos. Em menor quantidade, mas em uso principalmente no exterior, o aproveitamento desses resduos, com teor significativo de colgeno, para fins mdicos e cirrgicos (pomadas e substncias cicatrizantes, material para enxertos, pele artificial e outros). Um mercado que cresceu bastante recentemente, tornando-se significativo para este tipo de material, o da alimentao canina (confeco de dog toys, por exemplo). Resduos curtidos (do rebaixamento e dos recortes, no acabamento): algumas alternativas para minimizao desses resduos so apresentadas a seguir. classificar as peles por espessura, no incio do processo e/ou ANTES do curtimento, em funo do produto / aplicao final: peles mais finas para couros que precisam ser mais finos e vice-versa (independente de curtimento ao cromo ou no). Fazer esta classificao sempre, como rotina do processo. recortar as peles, o quanto possvel, ANTES do curtimento. fazer os melhores ajustes operacionais possveis (mquinas e procedimentos) na operao de diviso das peles, para minimizar o rebaixamento ps-curtimento. procurar viabilizar, mesmo que para parte da produo, um pr-curtimento no pquel ou logo aps essa etapa, ANTES do curtimento principal, utilizando pouco ou nenhum cromo (utilizar outros curtentes), de forma a possibilitar rebaixamento e recortes ANTES do curtimento - geraria resduos de reuso, reciclagem ou disposio mais fceis, com maiores possibilidades do que os resduos convencionais com cromo. Mesmo que se curta ao cromo depois e se precise de rebaixo posterior, a quantidade gerada de farelo e aparas com cromo seria bem menor. procurar utilizar e/ou desenvolver tcnicas de curtimento e de recurtimento isentas de cromo ou com o mnimo teor de cromo possvel, com outros produtos de menor impacto ambiental, facilitando o aproveitamento posterior de eventuais resduos curtidos. A seguir, so apresentadas alternativas de aproveitamento destes resduos, algumas j desenvolvidas e outras em estudo. tcnicas em uso: o p de rebaixadeira, bem como os retalhos curtidos modos, podem ser prensados com eventuais ligantes, para fabricao do recouro, do qual alguns pequenos artigos podem ser confeccionados. Da mesma forma, pode-se fabricar solas e palmilhas. No entanto, estas alternativas absorvem apenas uma pequena parte do total gerado destes resduos.

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tcnicas em estudo / desenvolvimento / viabilizao: h estudos indicando aplicaes potenciais na construo civil: placas deste p prensado poderiam ser utilizadas como isolantes termoacsticos, em paredes ou divisrias; h outros estudos indicando a possibilidade do uso do p, em certa proporo, na composio de telhas (substituindo amianto, por exemplo), de tijolos e de pavimentos para ruas e estradas. Tambm h estudos e trabalhos sobre um processamento termoenzimtico deste material, em meio alcalino, seguido da separao fsico-qumica do cromo, resultando num hidrolizado protico com baixo teor de cromo, que poderia ser utilizado pelos prprios curtumes, beneficiado ou no, na etapa de recurtimento, para enchimento do couro. Outras aplicaes potenciais para este hidrolizado so nutrio animal, fertilizantes, formulaes de adesivos, cosmticos, gelatinas tcnicas, sntese de filmes proticos, estabilizantes de emulses e inibidores de corroso. O cromo separado neste processo, poderia ser reciclado para os prprios curtumes (curtimento e recurtimento) [9]. Nesta mesma linha, h um processamento alternativo, similar e a princpio mais simples, constituindo-se de uma hidrlise bio-termo-qumica dos resduos de wet-blue, gerando-se uma soluo protica com cromo, que tambm poderia ser utilizada pelos curtumes. H informao de que uma empresa, no Rio Grande do Sul, j realiza este processamento, gerando este produto. Ela est licenciada pelo rgo ambiental daquele estado e tem capacidade para processar cerca de 1.000 t / ms de resduos curtidos. (fonte: http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=14493)

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Lodos gerados no STAR ou na ETE: pode-se listar algumas medidas no processo que contribuiriam para sua reduo, como segue. sempre que possvel, promover um descarne e recortes iniciais das peles nos prprios frigorficos / matadouros, diminuindo a entrada de material gerador de lodos no curtume. realizar pr-descarne e descarne eficientes das peles mais cuidadosos e que retirem o mximo possvel de material que no seja de interesse do curtume. Isto gera uma diminuio de carga orgnica e de slidos sedimentveis nos efluentes, consequentemente, dos lodos. realizar depilao com uma boa e efetiva recuperao de plos. Exemplo: recircular o banho de caleiro por um filtro para reter plos soltos (parte inicial da etapa, com adio parcial dos produtos qumicos). Os plos separados, como fonte de nitrognio, tm potencial para uso agrcola direto, para compor fertilizantes ou irem para compostagem. Assim, ter-se-ia menor carga orgnica e menor quantidade de slidos sedimentveis nos efluentes do curtume. reciclar banhos de caleiro e de pquel/curtimento, de forma efetiva e bem controlada. recuperar cromo dos lquidos residuais segregados, principalmente daqueles com concentrao de cromo maior do que 1,0 g/l, reciclando o cromo precipitado para o curtimento e/ou recurtimento.

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Como medidas auxiliares, pode-se citar algumas aes no STAR ou ETE, como: garantir e otimizar a remoo fsica de slidos em suspenso, por meio de gradeamento, peneiramento e decantao ou sedimentao natural efetivos dos efluentes. Deve-se trabalhar na melhoria dos equipamentos utilizados, bem como dos procedimentos operacionais. Por exemplo, pode-se instalar peneiras rotativas auto-limpantes de alta eficincia, uma cascata de peneiras (seqncia de peneiras com aberturas progressivamente menores), assim como sedimentadores ou caixas de decantao natural. Assim, procura-se aumentar a remoo fsica ou mecnica de slidos em suspenso, sem o auxlio de produtos qumicos, que iriam constituir-se em lodos primrios e/ou secundrios. Isto tambm contribui para reduzir custos na seqncia do tratamento dos efluentes. otimizar e controlar a dosagem de coagulantes / floculantes no tratamento primrio. Evitar dosar estes produtos qumicos em excesso. A dosagem excessiva, alm de aumentar os custos com estes produtos, gera uma quantidade maior de lodo primrio, que um lodo mais qumico, podendo ter uma destinao mais problemtica e mais cara. Alm disso, pode desbalancear o tratamento secundrio biolgico, uma vez que a remoo excessiva de carga orgnica biodegradvel no tratamento primrio gera problemas para o desempenho dos microorganismos no secundrio. Assim, importante equilibrar os tratamentos primrio e secundrio, procurando minimizar a formao de lodo primrio, mas garantindo um bom desempenho do tratamento secundrio e a eficincia da ETE, como um todo. para ETE em projeto (inteira ou em ampliao), considerar a utilizao de valos de oxidao no tratamento secundrio, caso haja espao disponvel, uma vez que este processo gera quantidades de lodo menores do que aquelas de sistemas convencionais de lodos ativados de aerao intensa. A Tabela 12 apresenta um resumo das principais possibilidades de aproveitamento e destinao de resduos de curtumes, envolvendo reciclagens externas (beneficiamento e uso por terceiros) e internas. As que esto em prtica e so de conhecimento mais geral, foram indicadas (em uso). Com relao s demais, elas podem estar em prtica em menor escala (poucos curtumes) e/ou ainda esto em desenvolvimento ou em processo de viabilizao tcnica, econmica ou legal (por exemplo, em anlise por rgos ambientais ou em licenciamento).

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Tabela 12 - Possibilidades de aproveitamento e destino dos resduos slidos de curtumesAproveitamento / Destino PossveisProduo de couro de segunda linha (em uso) Produo de placas ou quadros de fibras de couro aglomeradas ou prensadas (paredes divisrias, isolante trmico e acstico) Solas e palmilhas para calados (em uso) Pequenos artigos de couro / Recouro (em uso) Fabricao de papelo / Carga para indstria de cimento Material de enchimento / Mantas filtrantes / Pincis Gelatina e/ou cola (em uso) Revestimento de embutidos / salsichas Recuperao de gordura (em uso) Protena hidrolizada (para uso por terceiros ou para reciclo interno enchimento do couro, no recurtimento -, dependendo do resduo e do processo de obteno) Colgeno Dog-toys / alimentos para animais de estimao (em uso) Cromo para curtimento / recurtimento Compostagem ou Digesto anaerbia Tratamento trmico (aproveitamento energtico de resduos) Novas formulaes de tintas para acabamento do couro Reuso e reciclagem de materiais de embalagem (segregao e retorno adequado aos fornecedores e/ou reciclagem por terceiros) (em uso)

Resduos Slidos UsadosCamada retirada na diviso, aps caleiro/depilao (raspas) Resduos curtidos em geral ps de rebaixadeira e de lixadeira, aparas, etc P ou farelo de rebaixadeira Aparas / pedaos de couro curtido, ps de rebaixadeira e de lixadeira prensado P de lixadeira Plos Aparas frescas, salgadas, caleadas, aps caleiro, camadas retiradas da diviso (raspas) e carnaas Camadas retiradas da diviso, aps caleiro (raspas) Aparas frescas e carnaas Plos, aparas frescas e caleadas, carnaas, camadas retiradas da diviso (raspas) e material curtido (aparas curtidas e ps de rebaixadeira) Aparas e camadas retiradas da diviso (raspas), aps caleiro Aparas e camadas retiradas da diviso (raspas), aps caleiro Lodos / precipitados / tortas de filtrao com alto teor de cromo, p de rebaixadeira, aparas curtidas Carnaas (pr-descarne e descarne), raspas (verdes, caleadas), gorduras, graxas e leos, material de gradeamento e peneiramento dos efluentes Gorduras, graxas, misturas de solventes orgnicos nohalogenados e leos Sobras de tintas e solventes Containers, pallets, embalagens / recipientes plsticos e de papelo

Fontes: Claas & Maia, 1994 [15]; IPPC, Fevereiro 2003 [22]

Manuseio e estoque preventivos de resduos slidos: seja onde estiverem estes resduos nos prprios curtumes ou em terceiros, que os processam, utilizam ou estocam - em geral, seu manuseio e sua estocagem devem ser feitos de forma a prevenir: lixiviao ou infiltrao de seus lquidos no solo lanamento desses lquidos dos resduos para fora da empresa, sem tratamento adequado problemas de odores e de emisses atmosfricas nocivas atrao de insetos e roedores Desta forma, como referncia, recomenda-se seguir o disposto nas normas NBR 11.174 (Armazenamento de Resduos Classes II No Inertes e III Inertes, Julho 1990, ABNT) e NBR 12.235 (Armazenamento de Resduos Slidos Perigosos, 01/04/1992, ABNT), que orientam o manuseio e armazenamento adequados dos resduos slidos.51

5.5 Reduo de Emisses AtmosfricasBasicamente, recomenda-se: evitar a decomposio da matria-prima com bom controle das operaes de conservao das peles na barraca conservantes suficientes, prticas adequadas de acomodao das peles e manuteno do ambiente seco. Evitar tempo longo de espera para o incio do processamento de peles frescas, que se degradam de forma acelerada. eliminar ou minimizar o uso de sulfeto no caleiro / depilao. Sulfeto precursor do gs sulfdrico, que resulta em toxicidade e mau cheiro. Portanto, procurar usar os substitutos adequados existentes no mercado, como orientado na Tabela 11. em guas ou efluentes com sulfeto, cuidar para que no haja queda de pH abaixo de 9,0, para que no haja formao de gs sulfdrico. manter controle rigoroso da operao de oxidao de sulfeto, para garantir que esta seja a mais completa possvel em guas que o contenham. no acabamento, procurar utilizar, o quanto possvel, produtos base de gua ao invs de produtos base de solventes orgnicos (volteis). evitar o acmulo de resduos slidos sem o seu condicionamento adequado, nas diversas reas do curtume, por longos perodos de tempo. A sua decomposio geralmente d origem a gases como gs sulfdrico, amnia, mercaptanas e compostos orgnicos volteis diversos, com mau cheiro caracterstico. Se for necessrio estocar esses resduos por algum tempo, procurar preserv-los de degradao (por exemplo, usando alcalinizao com cal), mant-los cobertos e protegidos de gua e umidade. garantir, continuamente, a operao e o dimensionamento adequados do STAR ou ETE, de acordo com as cargas poluentes a serem removidas. Assegurar, por exemplo, que no se tenha formao de zonas anaerbias (ausncia de ar ou de oxignio) em tanques e/ou lagoas onde isto no desejvel ou no deve ocorrer na equalizao / homogeneizao dos efluentes, nos sistemas de lodos ativados etc., por meio de agitao e/ou aerao mnimas necessrias. caldeiras: sempre que possvel e vivel, utilizar combustveis mais limpos e renovveis, como biomassa. Gs tambm pode ser uma opo mais limpa. Obviamente, seja qual for o combustvel e o tipo de caldeira, sua operao deve ser otimizada e cuidadosa, para minimizar suas emisses.

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5.6 Medidas Especficas no Processo ProdutivoNeste item, destacam-se as tcnicas alternativas ao processo convencional mais conhecidas e de reduo significativa da gerao de poluentes. Algumas delas j esto em uso por vrios curtumes.

a. Conservao e Armazenamento das Peles a.1 Recuperao do Sal Empregado na Conservao de PelesA recuperao do sal realizada seco, mediante o batimento manual das peles, antes de entrarem em processamento. Trata-se de uma operao bastante simples e requer somente mo-deobra de dois operrios. Outra alternativa o uso de fules gradeados, especficos para batimento do sal. Esta alternativa apresenta maior eficincia que o batimento manual e requer menos mo-de-obra, apesar de consumir um pouco mais de energia eltrica. O sal, que se desprende das peles em pequenas placas ou aglomerados, recuperado e pode ser empregado na salga de novas peles, em salmouras e/ou no empilhamento das peles, substituindo parte do sal novo, aps simples moagem ou quebra das placas e aglomerados. Se o sal batido estiver relativamente limpo, tambm pode ser usado na etapa de pquel, em substituio ao sal novo. Quando a matria orgnica agregada ao sal batido (sangue, por exemplo) estiver presente em grande quantidade, pode-se limpar previamente este sal, atravs de uma lavagem com gua que remove boa parte da matria orgnica, com uma pequena perda de sal, uma vez que o sal est em gros ou cristais grandes. A finalidade dessa lavagem evitar eventual contaminao bacteriana durante o perodo de estoque das peles. Alternativamente, terceiros podem reciclar este sal para outras finalidades (fundio de alumnio, salgadores de carnes e de peles etc.). A retirada do sal das peles pelo batimento, facilita os processos subseqentes e reduz a concentrao de cloreto de sdio nos efluentes. A quantidade de sal usado na conservao de cerca de 40 a 50% em relao ao peso bruto das peles, sendo possvel recuperar de 1,5 a 2,0 kg/pele, nesta operao de batimento [15]. VANTAGENS: diminuio do sal presente nos efluentes a serem tratados (melhor tratabilidade biolgica para os efluentes), diminuio da carga final de sais lanada com os efluentes tratados, economia de sal (reduo de custos) e economia de recursos naturais.

b. Ribeira b.1 Pr-DescarneRealizado aps o pr-remolho ou aps o remolho, retira gordura, restos de carne ou fibras indesejveis e sangue, da parte inferior das peles (carnal). Esta medida importante, em termos de preveno poluio no processo dos curtumes, pois ela possibilita uma reduo considervel no teor53

de gordura e de carga orgnica geral nos banhos residuais dos curtumes. A gordura no efluente provoca inconvenientes, como obstruo dos equipamentos dos sistemas de tratamento e flotao do lodo nos decantadores. Operaes de remoo de gordura, nas estaes de tratamento, fazem uso de equipamentos bastante onerosos (flotadores) ou de difcil operao (caixas de gordura). Quanto mais carga orgnica nos banhos residuais, maiores os custos para sua remoo ou reduo na ETE, bem como maior a gerao de lodo nos tratamentos. Desta forma, sempre que possvel, importante que j se faa um pr-descarne nos prprios frigorficos, fornecedores das peles e quanto aos pr-descarnes feitos nos prprios curtumes, estes devem ser bastante cuidadosos, para que se retire a maior quantidade possvel de carnaa (isto tambm recomendvel para o descarne aps o caleiro / depilao). VANTAGENS: economia de produtos qumicos nas etapas subseqentes, ganho de rea e qualidade do produto final, maior produo de sebo / gordura e de melhor qualidade, pois vem da carnaa no caleada, reduo da carga orgnica e dos slidos sedimentveis nos efluentes (reduo de custos no tratamento de efluentes e do volume total de lodo gerado no tratamento).

b.2 Depilao / Caleiro b.2.1 Reciclagem dos Banhos de Depilao / CaleiroConsiste na recuperao do banho residual de um lote de peles e seu uso no processo de depilao do lote seguinte, repondo-se a quantidade de gua e de insumos qumicos necessrios para completar a formulao. A Tabela 13 caracteriza um banho de caleiro inicial e um residual.

Tabela 13 - Caracterizao do banho de caleiroComponentes Na2S Ca(OH)2 Nitrognio Total NaCl Matria Graxa Resduo Seco pH DQO DBO5 Slidos em Suspenso Banho Inicial 3,0% 2,0% Banho Residual 1,5% 1,2% 0,5% 0,8% 0,35% 7,0% 12,7 60400 mg/L 24500 mg/L 42900 mg/L

5,0% 12,8

Fonte: Claas & Maia, 1994 [15]

Analisando os resultados apresentados na tabela anterior, observa-se ser possvel obter uma reduo de at 50% na dosagem do sulfeto inicial, de 40% na de hidrxido de clcio, alm de uma reduo da carga orgnica, expressa em DBO e DQO, que deixa de ser enviada para a estao de tratamento de efluentes. possvel uma recuperao de at 80% do volume do banho principal em54

relao ao inicialmente utilizado. A perda de 20% do volume do banho justificada pela incorporao de gua estrutura da pele durante o processo. Essa perda ir ocasionar a necessidade de reposio do volume inicial de banho e em conseqncia, a diluio do mesmo. Essa diluio extremamente benfica, pois evita a saturao mais rpida do banho com substncias e impurezas que se desprendem das peles durante o tratamento. Assim, o mesmo banho pode ser usado por um nmero maior de ciclos de produo. Sabe-se de casos de uso de banho reciclado por um perodo de at dois anos, sem esgotamento total do mesmo, em curtumes do Rio Grande do Sul [15]. O processo de depilao e caleiro com banho reciclado no implica em qualquer tipo de prejuzo na qualidade do produto final. Atualmente, o uso dessa operao no processo industrial j bastante difundido. A Figura 5 mostra duas alternativas para a reciclagem do banho de caleiro / depilao.

ALTERNATIVA IFulo

ALTERNATIVA IIFulo

resduos Tanque de coleta com agitador Peneira

resduos Peneira

Tanque de estocagem

lodo Decantador

Tanque de estocagemFigura 5 - Esquema de duas alternativas para reciclagem do banho de caleiro Fonte: Claas & Maia, 1994 [15]

Alternativa I o banho drenado dos fules e encaminhado, por canaletas, para o tanque com agitao (slidos mantidos em suspenso), que alimenta o decantador em fluxo contnuo (por bomba), aps retirada de slidos grosseiros na peneira. O lquido sobrenadante escoa para o tanque de estocagem, onde aps acmulo de certo volume (carga de um ou mais caleiros), analisado para a reposio da quantidade de qumicos necessria formulao original do banho de caleiro.55

Reformulado, o banho bombeado de volta para os fules. O lodo do decantador (bastante alcalino) pode seguir para disposio final (leitos de secagem e aterros industriais, por exemplo). Alternativa II simplificada, menor investimento, operacionalmente mais fcil e mais barata do que Alternativa I. Basicamente, exclui a decantao, o que, por outro lado, d a desvantagem de aumento do teor de slidos no banho, a cada ciclo, com tendncia simultnea de acmulo dos mesmos no tanque de estocagem. vivel, tecnicamente, mas usualmente menos eficiente que a Alternativa I, onde h remoo adicional de resduos, otimizando-se a qualidade do banho. De qualquer forma, vantajosa em relao operao do caleiro sem reciclo. VANTAGENS: economia de produtos qumicos (at 50% sulfeto de sdio, at 40% cal, etc.), economia de gua, reduo do volume dos efluentes, reduo de sulfeto e portanto, de emisses de gs sulfdrico (H2S), com conseqente diminuio de corroso de instalaes, de odores ruins e de toxicidade, reduo da DBO e da DQO (30-40%), de nitrognio (cerca de 35%, nos efluentes totais, aps homogeneizao), da gerao de lodos na ETE e conseqente reduo de custos de tratamento e de disposio [15] [35].

b.2.2 Processos de Depilao / Caleiro com Recuperao de PlosA depilao convencional no permite a recuperao dos plos, pois eles so fragmentados e quase totalmente dissolvidos durante o processo, devido elevada concentrao do sulfeto e acentuada alcalinidade do banho. A recuperao dos plos baseia-se na no destruio dos mesmos durante o processo de depilao, para sua posterior separao do banho. Apresenta, como uma vantagem, sua possvel utilizao como matria-prima na fabricao de pincis, como fonte de nitrognio para fertilizantes ou em compostagem, por exemplo e representa uma considervel reduo da carga poluente dos efluentes dos curtumes. Exemplos de processos com recuperao de plos: SIROLIME: impregnao das peles com hidrogeno-sulfeto de sdio (NaHS) e posterior oxidao do excesso de sulfeto; imunizao dos plos e posterior depilao: imunizao com lcalis e destruio das razes dos plos com compostos de enxofre e/ou outros depilantes isentos de enxofre; Darmstadt: as peles so penduradas e pulverizadas com uma soluo concentrada de sulfeto de sdio. Aps 15 minutos, os plos so desprendidos por equipamento apropriado; HS (Hair Saving): evita a imunizao da raiz dos plos e inicia a retirada dos mesmos pelo bulbo piloso. Os plos so formados quase que exclusivamente por protenas, geram uma carga poluente elevada, sendo que estas protenas, em virtude de suas estruturas bioqumicas, so apenas de mdia biodegradabilidade, em tempo igualmente mdio.56

Considerando a Demanda Qumica de Oxignio - DQO, o processo com recuperao dos plos reduz em torno de 50% os valores obtidos com os processos convencionais. Tambm traz vantagens quando o banho residual for reciclado. Esses plos podem ser retirados por peneiramento, oferecendo um banho mais limpo para reutilizao. Nos processos de depilao e caleiro com recuperao dos plos, quando realizados em fulo, os banhos passam por filtraes intermedirias durante este processo, antes da dissoluo completa dos plos. Esse procedimento requer o bombeamento do banho do fulo para uma peneira ou um filtro, sendo recalcado novamente ao processo. O peneiramento tambm pode ser realizado no final do processo de caleiro, quando o banho no necessita retornar ao fulo. Neste caso, os plos podem ser separados do banho residual logo aps o esgotamento do fulo, por intermdio do uso de grades de malhas finas, colocadas nas canaletas de dreno. Quando o banho residual de depilao com recuperao de plos for reciclado ou oxidado, estes sistemas podem comportar um peneiramento, onde tambm possvel a recuperao dos plos. Outra alternativa, quando nenhuma das citadas for possvel, o esgotamento do banho residual para a ETE, passando pela peneira comum a todos os banhos. Esta alternativa apresenta como desvantagem os plos estarem misturados aos resduos dos outros banhos, no permitindo aproveitamento. VANTAGENS: reduo de at 50% da DQO, de sulfetos, de compostos sulfdricos, de nitrognio total e de slidos sedimentveis nos efluentes portanto, reduo de lodos, com conseqente reduo de custos de tratamento e de disposio final; gerao de banho residual mais limpo para reciclo; possibilidade de se ter algum ganho econmico com os plos (venda direta e/ou aps algum beneficiamento).

b.2.3 Processo de Depilao / Caleiro com Uso de AminasEsse processo consiste na substituio parcial do sulfeto de sdio por produtos base de aminas. Com isso, reduz-se o teor de sulfeto nos banhos residuais e por conseqncia, nos efluentes.

Tabela 14 - Redues de sulfeto e DQO residuais pelo uso de produtos base de aminasProcessos Convencional (cerca de 3% sulfeto) 1,0% aminas 1,4% sulfeto 1,5% aminas 1,0% sulfeto Sulfeto no Banho Residual (%) 2-3 1,0 (mdia) 0,5 (mdia)Fonte: Claas & Maia, 1994 [15]

DQO do Banho Residual (mg/l) 50.000 a 60.000 25.000 (mdia) 20.000 (mdia)

57

Observa-se, pela Tabela 14, reduo mdia de 60% na concentrao de sulfeto de sdio e de 65% nas mdias de DQO, com o uso de aminas, em relao ao processo convencional. Isto bastante positivo para o tratamento de efluentes, pois h reduo de carga orgnica e inorgnica a serem tratadas. O uso de aminas no caleiro tambm permite a reciclagem do banho residual, sem prejuzo qualidade do processo e dos couros produzidos. Ressalte-se, no entanto, que no devem ser utilizadas aminas que gerem nitrosaminas (potencialmente cancergenas), como compostos de dimetilamina. Tambm no se devem utilizar aminas aromticas cancergenas ou produtos que as contenham, como as que esto listadas na diretiva da Unio Europia 76/769/CEE. A lista aponta 22 aminas aromticas que devem ser evitadas (no caso, derivadas de corantes azicos). A princpio, hidroxilaminas podem ser utilizadas. VANTAGENS: reduo de cerca de 50-60% na concentrao de sulfeto e de at 65% na DQO do banho residual, reduzindo custos de tratamento dos efluentes; reduo do uso de sulfeto de sdio, o que reduz potencialmente a formao de gs sulfdrico e melhora as condies de trabalho.

b.3 Descalcinao / Desencalagem e Purga b.3.1 Desencalagem de Peles Empregando CO2A desencalagem empregando CO2 (gs carbnico) consiste na substituio dos cidos e sais convencionalmente usados no processo pelo uso do CO2. Estes cidos ou sais, ao reagirem com os lcalis ligados estrutura da pele, devem resultar em produtos de grande solubilidade, possibilitando assim sua remoo por lavagem. Os desencalantes mais empregados so sais amoniacais, tais como, sulfato de amnio, cloreto de amnio ou uma combinao de ambos. O uso de sais amoniacais pode trazer inconvenientes. A formao de amnia no banho residual pode causar riscos potenciais para os operadores, pois sua volatilizao pode atingir altas concentraes, tornando-a txica, se inalada. Outro inconveniente da presena de sais de amnia so as possveis reaes com o material nitrogenado, nos sistemas de tratamento biolgico do tipo lodos ativados. A existncia de um residual maior de nitrognio nos efluentes finais tambm pode contribuir para a crescente eutrofizao de lagos ou represas, receptores de efluentes. A operao de desencalagem utilizando CO2 se d pela recirculao do banho do fulo por meio de uma bomba auto-escorvante. A suco e a descarga dessa bomba esto instaladas nos eixos de apoio do referido fulo. Na linha de suco do banho colocada uma placa divisria para evitar entupimentos. O banho, aps ser succionado do fulo pela bomba de recirculao, passa por um ejetor onde o CO 2 injetado para sua solubilizao neste banho. O banho rico em cido carbnico retorna ao fulo pela tubulao de recalque.58

A dosagem correta do volume de CO2 a ser adicionado no processo conseguida por meio de um controlador de pH, composto por um sensor para medio do pH e um circuito eletrnico que processa o sinal enviado pelo sensor. Esse sinal transmitido s vlvulas solenides que, por sua vez, dosam a quantidade de CO2 necessria, dependendo do valor de pH final a ser atingido. Este mtodo funciona melhor para peles de espessura menor (2 mm ou mais finas), mas poderia ser utilizado parcialmente para peles mais grossas, com dosagens reduzidas de sais amoniacais e de outros qumicos desencalantes - uso combinado de sais e CO2. VANTAGENS: reduo da emisso atmosfrica de amnia (NH3), de nitrognio amoniacal (consequentemente, menor risco de eutrofizao dos corpos de gua receptores dos efluentes tratados), de DQO, de cloretos e sulfatos