Curso Linguística
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Conceito de Língua/Gramática: dependerá da teoria, isto é, da gramática adotada.
Em outros termos, para cada teoria/gramática, há um conceito de língua diferenciado.
Theoría (termo grego que significa ponto de vista)
Por que é importante conhecer os diversos entendimentos de língua?
Porque no ensino de língua portuguesa, nós utilizamos diversos conceitos de língua, desde o conceito
oriundo da gramática normativa aos estudos dos gêneros textuais. Vejamos a polêmica abaixo para
compreender o que foi dito:
Na semana passada (17/05/2011), o site IG noticiou que o Ministério da Educação comprou e distribuiu,
para 4.236 mil escolas públicas, um livro que “ensina o aluno a falar errado”. Os jornalistas Jorge Felix e
Tales Faria - do Blog Poder On Line, hospedado no portal - se basearam em exemplos de um capítulo do
livro Por Uma Vida Melhor para afirmar que, segundo os autores da coleção organizada pela ONG Ação
Educativa, não há nenhum problema em se falar “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”. Calçaram
sua tese no seguinte trecho de um capítulo que diferencia o uso da língua culta e da falada:"Você pode estar
se perguntando: "Mas eu posso falar os livro?". Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da
situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico". O fato de haver outros capítulos, no
mesmo livro, que propõem a leitura e discussão de obras de autores como Cervantes, Machado de Assis e
Clarice Lispector e ensina modos de leitura, produção e revisão de textos não foi citado. Mas a discussão
sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito esquentou, principalmente após o
colunista da Folha de S. Paulo Clóvis Rossi vociferar, no último domingo, que tal livro é “criminoso”.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/polemica-ou-ignorancia
A polêmica em torno deste relativismo, assim como a interpretação deturpada de pesquisas na área da
linguagem, não são novas. Em novembro de 2001, na reportagem de capa da Revista Veja, intitulada “Falar e
escrever bem, eis a questão”, Pasquale Cipro Neto dirigiu-se ofensivamente a pesquisadores da área de
linguagem que defendem a integração de outras variedades no ensino de língua portuguesa como uma
corrente relativista e esquerdistas de meia pataca, idealizadores de “tudo o que é popular – inclusive a
ignorância, como se ela fosse atributo, e não problema, do "povo".
Disponível em: http://www.alab.org.br/noticias/destaque/80-polemica-em-relacao-a-erros-gramaticais-
em-livro-didatico-de-lingua-portuguesa-revela-incompreensao-da-imprensa-e-populacao-sobre-a-atuacao-
do-estudioso-da-linguagem
1. Segundo a Gramática Normativa , ou melhor dizendo, prescritiva:
A língua é concebida, por Cunha & Cintra (2008, p.80), como sendo “um conjunto infinito de frases”.
Como trata-se de uma gramática prescritiva, sua principal e única função é ditar quais são os “bons
usos” da língua. Mesmo que sejam usos do Português Europeu datados do século XVII/XVIII.
Quais são as consequências na adoção desta perspectiva?
2. Segundo Gramáticas Descritivas , em outros termos, teorias estudadas na ciência denominada
Linguística:
Estruturalismo: A língua é um conjunto de produtos estruturados.
Metodologia de trabalho: Análises de sentenças isoladas.
Virada Cognitivista
Gerativismo: A língua conjunto de normas internalizadas, ou regras, que nos permite emitir, receber e
julgar enunciados de nossa língua.
Metodologia de trabalho: Análises de sentenças isoladas.
Funcionalismo: A língua é um de processos estruturantes definidos pelo uso.
Metodologia de trabalho: Análises de textos (orais e escritos).
Cognitivismo: A língua é um conjunto de processos estruturantes que representam categorias
cognitivas e são definidos pelo uso.
Metodologia de trabalho: Análises de textos (orais e escritos).
Mas afinal, no âmbito pedagógico, o que podemos considerar como língua?
Um instrumento de comunicação que pode ser usado de diversas maneiras
Segundo o PCN (1997) de Língua Portuguesa:
A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por uma finalidade específica; um processo
de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos
distintos momentos da sua história. Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre
amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta — diferentes práticas sociais das
quais se pode participar. Por outro lado, a conversa de bar na época atual diferencia-se da que ocorria há um
século, por exemplo, tanto em relação ao assunto quanto à forma de dizer, propriamente — características
específicas do momento histórico. [Linguística histórica: a língua varia] Além disso, uma conversa de bar
entre economistas pode diferenciar-se daquela que ocorre entre professores ou operários de uma construção,
tanto em função do registro6 e do conhecimento linguístico quanto em relação ao assunto em pauta.
Dessa perspectiva, a língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar
o mundo e a realidade. [Visão sociocognitivista] Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas
também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social
entendem e interpretam a realidade e a si mesmas.
A linguagem verbal possibilita ao homem representar a realidade física e social e, desde o momento em
que é aprendida, conserva um vínculo muito estreito com o pensamento. Possibilita não só a representação e
a regulação do pensamento e da ação, próprios e alheios, mas, também, comunicar ideias, pensamentos e
intenções de diversas naturezas e, desse modo, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais
anteriormente inexistentes.
Essas diferentes dimensões da linguagem não se excluem: não é possível dizer algo a alguém sem ter o
que dizer. E ter o que dizer, por sua vez, só é possível a partir das representações construídas sobre o mundo.
Também a comunicação com as pessoas permite a construção de novos modos de compreender o mundo, de
novas representações sobre ele. A linguagem, por realizar-se na interação verbal dos interlocutores, não pode
ser compreendida sem que se considere o seu vínculo com a situação concreta de produção. É no interior do
funcionamento da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento. Produzindo
linguagem, aprende-se linguagem.
O que devemos aprender na disciplina de língua portuguesa, visto que eu já falo português?
Os diversos usos do instrumento denominado língua.
Segundo o PCN de Língua Portuguesa:
Cabe, portanto, à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam
socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com
os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar,
pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. Um exemplo: nas aulas de Língua Portuguesa, não se
ensina a trabalhar com textos expositivos como os das áreas de História, Geografia e Ciências Naturais; e
nessas aulas também não, pois considera-se que trabalhar com textos é uma atividade específica da área de
Língua Portuguesa. Em consequência, o aluno não se torna capaz de utilizar textos cuja finalidade seja
compreender um conceito, apresentar uma informação nova, descrever um problema, comparar diferentes
pontos de vista, argumentar a favor ou contra uma determinada hipótese ou teoria. E essa capacidade, que
permite o acesso à informação escrita com autonomia, é condição para o bom aprendizado, pois dela
depende a possibilidade de aprender os diferentes conteúdos. Por isso, todas as disciplinas têm a
responsabilidade de ensinar a utilizar os textos de que fazem uso, mas é a de Língua Portuguesa que deve
tomar para si o papel de fazê-lo de modo mais sistemático.
Leitura:
Petter, Margarida. "Linguagem, língua, lingüística." Introdução à lingüística: objetos teóricos. São
Paulo: Contexto 1 (2002): 11-24.
Beline, Ronald. "A variação lingüística." Fiorin, JL Introdução à Lingüística. I. Objetos Teóricos. São
Paulo: Editora Contexto (2002): 121-128.
Sugestão de leitura:
Brasil. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. MEC, 1997. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf
Matéria Carta Capital Professor Doutor Marcos Bagno: Polêmica ou ignorância? Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/politica/polemica-ou-ignorancia