Curso Lideranca - M-i Teologia Biblica Do Ministerio Elesiastico

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PRIMEIRA IGREJA PRESBITERIANA DE CASA CAIADA CURSO DE TREINAMENTO PARA PRESBÍTEROS E DIÁCONOS Módulo I TEOLOGIA BÍBLICA DO MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO SUMÁRIO O tríplice ministério da Igreja. Raízes bíblicas do ministério cristão. Os ministérios ao longo da História da Igreja. Desafios ministeriais. Princípios referenciais para a compreensão e o exercício ministerial. Competências a serem Construídas Depois de realizar este estudo, você deverá ter construído as seguintes competências: Competência-chave: caracterizar os aspectos do ministério cristão biblicamente identificados na sua relação com a Igreja. Competências-secundárias: EVANGELIZAÇÃO – ADORAÇÃO – COMUNHÃO – DISCIPULADO – SERVIÇO 1

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CURSO LIDERANÇA III.

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CURSO DE TREINAMENTO PARA PRESBTEROS E DICONOS

Primeira Igreja Presbiteriana de Casa Caiada

CURSO DE TREINAMENTO PARA PRESBTEROS E DICONOS

Mdulo I

TEOLOGIA BBLICA DO MINISTRIO ECLESISTICOSUMRIO

O trplice ministrio da Igreja.

Razes bblicas do ministrio cristo.

Os ministrios ao longo da Histria da Igreja.

Desafios ministeriais.

Princpios referenciais para a compreenso e o exerccio ministerial.

Competncias a serem Construdas

Depois de realizar este estudo, voc dever ter construdo as seguintes competncias:

Competncia-chave: caracterizar os aspectos do ministrio cristo biblicamente identificados na sua relao com a Igreja.

Competncias-secundrias:

1Conhecer o trplice ministrio da Igreja.

2Descrever as razes bblicas do ministrio cristo.3Conhecer a trajetria dos ministrios ao longo da Histria da Igreja.

4Conhecer os desafios ministeriais cristos.5Discriminar os princpios referenciais para a compreenso e o exerccio ministerial.

IntroduoO tema ministrio tem trazido algumas controvrsias entre igrejas. Entretanto, ele fundamental para elas, pois sem ministrio no h igreja. Por ministrio devemos compreender a multiplicidade de formas que Deus coloca disposio da Igreja do povo que igreja -, para o desempenho de sua misso.Na Bblia, o conceito de ministrio est afeto ao servio que prestado a Deus ou s pessoas, fazendo com que haja a edificao mtua com o alvo da maturidade plena da Igreja. O termo ministrio contempla no apenas as pessoas comissionadas liderana quanto totalidade dos crentes. Assim, no AT temos os sacerdotes, os levitas e os profetas, e no NT encontramos os apstolos, os profetas, os pastores-mestres, os presbteros, os diconos e todas as interaes mtuas dos crentes.O ideal bblico de ministrio encontrado em Cristo, demonstrado na sua liderana servil. Alm disso, a Bblia no discrimina com detalhes as atividades a serem desenvolvidas pelas pessoas nos seus exerccios ministeriais, porm fornece diretrizes acerca das qualidades que deveriam ser preenchidas (At 6.3; I Tm 3.1-13; Tt 1.6-9). Essas qualidades vo desde o bom governo pessoal (Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina I Tm 4.16), passa pelo governo da famlia (maridos de uma s mulher, e governem bem a seus filhos e suas prprias casas I Tm 3.12) para poder governar e atuar na Igreja (Cuidai, pois de vs mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Esprito Santo vos constituiu At 20.28).1. O Trplice Ministrio da Igreja

A Igreja a nica agncia de Deus na terra. Ela existe para um testemunho, para a demonstrao e prova de uma verdade que lhe cumpre proclamar a todas as pessoas e em todas as pocas. Essa misso da Igreja reside em procurar tornar evidente o fato de que, em Cristo e atravs do Evangelho, a Igreja a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3.10) lhes traz a possibilidade de uma opo: a de aceitarem em Cristo, nos termos do Evangelho, uma experincia vivencial e nova no senhorio e direo de Deus.Por outro lado, a rea especfica de atuao da Igreja a do Evangelho, das riquezas incompreensveis de Cristo (Ef 3.8) e dos propsitos que Deus, em Cristo, tem formulado. Assim, em sua atuao prpria e legtima, a Igreja possui um trplice ministrio: proftico, sacerdotal e pastoral.

1.1Ministrio proftico

Dentro do seu ministrio proftico, a Igreja intrprete e anunciadora de uma mensagem, em apostolado proftico. Aqui, faz-se necessrio relembrar o significado desses dois termos. Apstolo no apenas o que enviado da parte de algum, ou o que fala da parte de algum, mas o que fala por algum, aquele no qual e pelo qual esse algum fala. assim que Paulo usa o termo em II Co 5.20, quando o embaixador no tem a funo apenas do que enviado da parte de Cristo, mas o que exorta como se Deus por ns rogasse. Alguns pontos devem ser destacados:(1) O ministrio que o apstolo exerce um ministrio de reconciliao. No de reconciliao social e humana, de gente com gente, mas de reconciliao dos seres humanos com Deus.

(2) O ponto de referncia do apstolo est em Deus, que o enviou, e no nas pessoas e nas estruturas formais entre as quais exerce o seu ministrio.

(3) A fidelidade ao que o envia que d legitimidade ao apstolo e ao apostolado.

(4) A mensagem do apstolo reside em entregar e esclarecer o ponto de vista de Deus para aqueles a quem se dirige.(5) Em seu apostolado, ele procura enfocar os problemas reais de reconciliao com Deus.

(6) Todos os demais efeitos subseqentes do apostolado so frutos naturais desse restabelecimento de relaes primordiais com Deus.

O segundo termo a ser abordado profeta. Atualmente, muito se tem falado do ministrio proftico da Igreja, com expresses com evidente conotao com as situaes da histria poltico-religiosa de Israel no AT, onde a rea de atuao e responsabilidade social dos profetas era profundamente diferente da rea em que os profetas cristos de hoje so chamados a atuar. Na verdade, a palavra profeta possui uma riqueza de significao:(1) Profeta aquele que v e entende a vontade de Deus.

(2) Profeta aquele que recebe e reconhece a vocao divina.(3) Profeta aquele que distingue entre os pensamentos de seu prprio corao e a voz de Deus.

(4) Profeta aquele que anuncia fielmente o que recebeu de Deus. interessante observar que Jeremias e Ezequiel cuidadosamente distinguiam entre os profetas que falam a viso de seu corao e aqueles que falam segundo a boca de Jeov (Jr 23.13-26; Ez 13.2-11). Nas suas atividades profticas, muitas vezes o profeta desenvolvia uma doutrina j entregue de forma embrionria por outro profeta anterior, contudo com novas aplicaes s condies da poca. Assim, gradual e progressivamente, revelavam-se as verdades divinas, em conexo com as condies morais, polticas e religiosas do povo.Apesar das circunstncias auxiliarem o profeta no entendimento de sua prpria mensagem a ser entregue, tendo em vista o ambiente histrico contemporneo, a profecia no era originada desses fatores. Na verdade, os profetas deixavam os problemas afetos s reformas ticas, polticas e sociais para focalizarem enfaticamente a necessidade da reconciliao pessoal com um Deus pessoal. Assim, o profeta era um pregador de justia, no da simples justia nas relaes das pessoas entre si, mas da justia que decorria de relaes corretas com Deus.

A Igreja, colocada na linhagem de tais apstolos e profetas, deve exercer um ministrio de lealdade para com Deus e para a mensagem dele pelo Evangelho.1.2Ministrio sacerdotal

O carter sacerdotal da Igreja decorrente do objetivo reconciliador de sua mensagem, que no se limita expresso e comunicao verbalista de uma verdade.O companheirismo sacerdotal com Cristo (I Pe 2.9) ambiente de encontro e de relacionamento com Deus. Enquanto na funo proftica a Igreja fala de Deus, como Deus falaria; na esfera sacerdotal, ela abre caminhos para Deus e coloca na presena de Deus. Assim, falando de Deus, segundo a mensagem de Deus, como profeta e como apstolo, a Igreja estende o seu ministrio trplice, em carter sacerdotal, enriquecendo-o e dinamizando-o em dimenses prticas com o trazer as pessoas presena de Deus e de Cristo. Na presena de Cristo, as pessoas estaro no ponto de aceitarem, pela f, os termos da reconciliao que a graa divina lhes prope pelo Evangelho.Os recursos desse ministrio sacerdotal, os elementos dessa ajuda em desvendar os caminhos de Deus e em conduzir por eles, esto nas riquezas incompreensveis de Cristo (Ef 3.8), em quem Deus, propondo-o como propiciao de pecados, tem agora aberto um novo e vivo caminho para ele.

Desse modo, como ensinou o Rev. M. Porto Filho (1975. p. 14-15):

A Igreja no atrai homens para si mesma, como estrutura de organizao social ou ideolgica na formulao de suas doutrinas e costumes, mas para Deus. Sua misso no a de fazer comunho ideolgica dos homens entre si, mas de trazer os homens comunho com Deus. E quando isso atingido, h comunho entre os homens como decorrncia da comunho que alcanaram com Deus.

1.3Ministrio pastoral

O aspecto pastoral da Igreja expressa no apenas a palavra de reconciliao proftico-apostolar, mas a simpatia sacerdotal na sua ao ajudadora. No carter pastoral, a Igreja levantada como sal da terra e luz do mundo, tanto quanto como coluna e fundamento da verdade. Ela serve com amor sacrificial ao rebanho, em que no somente esto as ovelhas que j se recolheram ao redil, mas tambm aquelas que dele se desgarraram e so agora ovelhas que no tm pastor.A dupla tarefa pastoral da Igreja, no cuidado de sua gente e na obra da evangelizao, reside em conduzir pessoas e confirmar a outras na comunho e no senhorio do Sumo-pastor. Essa tarefa evangelstica no se reduz ao simples anncio do Evangelho, mas se traduz no ajudar a decidir-se pelo Evangelho.Na obra da evangelizao, o problema a focalizar e a rea em que ministrar no se reduz ao melhoramento tico-social e ao comportamento que nos parea mais humano das estruturas seculares ou dos indivduos que delas participem. Evangelizar, em termos bblicos, entregar, com clareza de seu significado, a mensagem e o convite do Evangelho como palavra de soluo e de poder, criando para o evangelizando situaes e possibilidades de resposta consciente aos problemas que ele enfoca. O problema fundamental focalizado pelo Evangelho o da reconciliao do ser humano pecador com o seu Criador, mediante Cristo e sua propiciao na cruz, culminada em vida nova de ressurreio e testemunho.Reconciliao com Deus o tema central da Palavra anunciada pela Igreja e de todo ensino que ela se esfora em deixar entre as pessoas.

2. Razes Bblicas do Ministrio CristoNo h na Bblia, tanto no AT como no NT, um termo correspondente ao que chamamos de ministrio. Nem mesmo a lngua grega, to rica de palavras, teve algo aproveitado para cunhar um equivalente a ministrio. As verses bblicas em portugus utilizam o termo ministrio para traduzir o grego diakonia, que originalmente significa servir mesa. A partir da, esse termo passou a ser usado genericamente no sentido de servir.Assim, o NT opta por uma palavra que no tem nenhuma conotao religiosa ou associao com alguma posio de destaque. Essa opo demonstra o carter que comum a todas as funes no mbito comunitrio cristo: o servio. Isso quer dizer que a postura que se deve ter no ministrio no de destaque com uma srie de direitos e competncias especiais, mas a daquele que se pe disposio de Deus e do prximo. Esse ato est baseado no prprio exemplo de Cristo, que esteve entre ns como algum que serve mesa (Lc 22.27) e que considera e exemplifica como marca do discipulado a disponibilidade para a humildade e o servio (Mt 20.26; Mt 23.11; Mc 9.35; Mc 10.43; Lc 22.26; Jo 12.26). Desse modo, no NT todas as funes existentes na comunidade contm esse elemento bsico: estar a servio, em obedincia a Cristo que serviu primeiro.Na verdade, o NT ao invs de usar um termo especfico para resumir o ministrio, fala de servios (I Co 3.5; II Co 3.6; II Co 6.4; Ef 3.7) e de carismas como manifestaes do Esprito (I Co 12; I Co 14). O carisma , em primeiro lugar, a ddiva da vida eterna em Cristo (Rm 6.23...) na qual todos tm parte a partir do batismo (Rm 6.3...). Mas, ter um carisma ter participao na graa, na vida, na salvao, que se caracteriza num determinado servio ou vocao. Isso quer dizer que o carisma no uma posse da pessoa desvinculada de seu doador, mas que se torna eficaz no exerccio de servir (I Co 12.4...). A partir da figura de Igreja predileta de Paulo corpo de Cristo -, a estrutura carismtica da comunidade de Cristo possui diversos membros, com funes e servios tambm diversos (Rm 12.3...; I Co 12.4...). Paralelamente, a figura da Igreja que Pedro utiliza (I Pe 2.9), de sacerdcio real e povo santo, fala da Igreja como povo com um sacerdcio universal, isto , de todos os crentes. Em resumo, o ministrio na Igreja se evidencia numa multiplicidade de dons e servios, onde todas as pessoas tm parte com base no batismo, vivenciados no sacerdcio que cada crente exercita.Olhando para o AT, observa-se que a funo sacerdotal era a mais relevante na vida cltica na sua conexo com o templo. Porm, no NT, os sacerdotes no aparecem entre as funes da vida comunitria. A razo muito simples: a comunidade crist reconheceu na obra de Cristo a intermediao definitiva entre Deus e as pessoas, pois a partir da morte e ressurreio de Cristo, no h mais necessidade de mediadores humanos (I Tm 2.5). Alm disso, a partir da ao salvadora de Cristo, na qual somos incorporados Igreja, todos os crentes so conduzidos classe sacerdotal. Somos todos sacerdotes.Outro grupo ministerial observado no AT o dos ancios. Eles tiveram uma presena marcante ao longo de toda a histria de Israel. No perodo tribal, os ancios eram os representantes mais idosos das diferentes famlias, mas na poca ps-exlica eles eram os chefes das famlias mais representativas. Em Jerusalm, ao lado dos sumos sacerdotes e dos escribas, os ancios integram o sindrio, o rgo mximo da administrao da comunidade do templo. Paralelamente, cada comunidade local possua o seu conselho de ancios que a dirigia. Esse foi tambm o modelo seguido pela Igreja de Jerusalm (At 15.2, 4, 22, 23; At 16.4; At 21.18). O apstolo Paulo, em suas viagens missionrias, procura introduzir a mesma organizao nas comunidades por ele plantadas (At 14.23; At 20.17).O AT tambm nos fala de profetas e da sua importncia na vida do povo de Israel. Se a marca dos sacerdotes a sua hereditariedade, a dos profetas a sua vocao por Deus. Assim, o profeta se apresenta e surge na vida do povo porque Deus tem uma mensagem que deve ser dirigida ao seu povo, neste momento e neste contexto. A palavra o centro da atuao proftica, que pode assumir, inclusive, aes simblicas. uma palavra to concreta que tem a fora de provocar o que vai acontecer, pois o profeta, graas revelao de Deus, antecipa e revela o que vai ser realidade. Porm, em tudo, h um aspecto fundamental: o profeta no o por iniciativa prpria, mas por comprometimento exclusivo ao Deus que o chama, porque ele tem algo a transmitir ao seu povo. Os profetas de hoje, semelhana dos antigos profetas, continuam sendo aqueles que percebem, a partir da situao e da histria de Deus com seu povo, o que Deus tem a dizer ao seu povo neste momento atravs dos recursos da sua Palavra, iluminados pelo Esprito Santo.Na esfera ministerial tem os apstolos um destaque especial. Eles so as testemunhas primrias, devido ao fato de terem convivido com Cristo durante a sua atuao ou porque foram testemunhas da sua ressurreio. Observamos que para Lucas, que escreveu o Evangelho de Lucas e o livro de Atos, o nmero dos apstolos se limita ao grupo dos doze pelas duas razes anteriores (At 1.21...); mas, para Paulo, o apstolo fundamentalmente testemunha da ressurreio (I Co 15.7) e enviado autorizado (Rm 1.1; Gl 1.15...). Foi exatamente por causa dessa proximidade com a origem e o fundamento de toda a essncia da Igreja, que os doze gozam de grande considerao em todas as comunidades. O ttulo de apstolo reservado a esse grupo restrito de fundamento comunitrio (Ef 2.20). Apesar de nenhum outro ministrio especfico ter sido chamado por esse nome, a funo exercida pelos apstolos a de testemunhar o evento salvador de Cristo continua a ser assumida por outras pessoas. medida que as igrejas foram se estruturando, os ministrios de bispos, presbteros e diconos passam a receber maior destaque e a concentrar em suas mos as funes ministeriais, conforme se evidencia nas cartas apostlicas. As palavras de despedida de Paulo aos presbteros de feso, contidas em At 20.28-30, so elucidativas: Olhai, pois, por vs, e por todo o rebanho sobre que o Esprito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu prprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entraro no meio de vs lobos cruis, que no pouparo ao rebanho; e que de entre vs mesmos se levantaro homens que falaro coisas perversas, para atrarem os discpulos aps si. Cabia, portanto, aos bispos ou presbteros, o papel de presidir, ensinar, zelar pela doutrina correta e pastorear o rebanho. Como nas cartas se fala apenas de bispo no singular, pode-se inferir que o bispo o presbtero que convoca e preside o colegiado de seus pares.3. Os Ministrios ao Longo da Histria da IgrejaJ no final do primeiro sculo, que corresponde fase final dos escritos do NT, o desenvolvimento do ministrio sinalizava o rumo do episcopado monrquico, ligado a uma hierarquia ministerial. Assim, toda a direo da comunidade e os seus ministrios so confiados a algumas pessoas destacadas. O ministrio se concentra nas mos de algumas poucas pessoas e o povo perde direito voz ativa.Na verdade, pode-se dividir a histria dos ministrios em dois grandes blocos: o do sacerdcio da Igreja - e de seus clrigos - e o do sacerdcio universal de todos os crentes.

3.1 Fase do sacerdcio da Igreja

Na Primeira Carta de Clemente, um escrito do final do sc. I, observa-se que os presbteros j formam um clero que se diferencia dos leigos, cabendo a eles o direito exclusivo de presidir o culto. Em 120 d.C., dentro do colgio de presbteros, o bispo destacado. Cipriano de Cartago, no sc. III, admite que a Igreja est fundamentada nos bispos, dentro da sucesso apostlica a partir de Pedro. Com isso foi formada toda a estruturao da Igreja Catlica Romana, com os seguintes pontos de destaque:(1) O ministrio da Igreja monoplio do clero.

(2) O clero estruturado hierarquicamente. O bispo (papa) a autoridade ltima na doutrina, na disciplina e na direo da Igreja.

(3) A ordenao, como sacramento da ordem, a porta de entrada para o clero. Nela, o sacerdote colocado num status especial.

(4) A ordenao a autorizao para o exerccio do ministrio.(5) A doutrina da sucesso apostlica a base para a concepo da Igreja. Ela afirma que Jesus instituiu os apstolos, que instituram os primeiros bispos e assim sucessivamente.

(6) O papa o bispo dos bispos. Como bispo de Roma ele o sucessor de Pedro, o lder dos apstolos que, pela tradio, foi o primeiro bispo de Roma.

(7) A Igreja est dividida em cristos especiais (o clero) e os cristos comuns (os leigos).

(8) H uma tica diferenciada para os dois grupos. Os cristos leigos devem observar os Dez Mandamentos, enquanto o clero deve guardar, alm desses, os conselhos evanglicos (votos).

(9) Os leigos devem cuidar da esfera das estruturas social e secular, no havendo espao para o engajamento no ministrio.(10) O clero se ocupa das coisas do esprito e do sagrado, como detentores do ministrio.3.2 Fase do sacerdcio de todos os crentes

A Reforma Protestante do sc. XVI redescobriu o sacerdcio universal de todos os crentes, cujo ponto basilar I Tm 2.5: Porque h um s Deus, e um s Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. Como conseqncia, no h necessidade de qualquer intermediao humana entre Deus e os seus filhos. H um livre e irrestrito acesso a Deus. Conjugado com I Pe 2.5 e 9 - Vs tambm, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdcio santo, para oferecer sacrifcios espirituais agradveis a Deus por Jesus Cristo. [...] Mas vs sois a gerao eleita, o sacerdcio real, a nao santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz -, temos o fato de todos sermos sacerdotes. Como decorrncia, temos:(1) Refutao da separao entre o clero e o laicato.(2) Toda pessoa responsvel pela f, independente de um magistrio que determine o que ela pode ou deve crer.

(3) Questionamento da doutrina da sucesso apostlica.

(4) Incumbncia do povo de avaliar a pregao e o ensino proferido pelos pastores-mestres, conforme se infere de Mt 7.15 (Acautelai-vos, porm, dos falsos profetas, que vm at vs vestidos como ovelhas, mas, interiormente, so lobos devoradores).(5) A vocao a marca de todo crente. Como todos os santos so iguais, todos eles esto vocacionados para o servio a Deus. A comunidade no simplesmente servida, mas participa do ministrio.(6) Para o exerccio pblico do ministrio, a comunidade reconhece pessoas e as incumbe especificamente dessas tarefas.(7) Ao lado dos ministrios naturais e espontneos do sacerdcio geral de todos os crentes, existem os ministrios especficos, que emerge da Igreja, atua em nome dela e em fidelidade a Cristo, como instrumentos da unidade e da ordem.(8) Para os reformados, h um triplo ministrio: pastor, presbtero e dicono. Os pastores-mestres so os responsveis pela direo da comunidade, atuando na administrao dos sacramentos, da manuteno da disciplina e da preservao da s doutrina. Ao lado dos pastores, como co-responsveis, se encontram os presbteros. Os diconos so os responsveis pelo atendimento aos necessitados.(9) O ministrio se define a partir da sua essncia, que de dar continuidade obra de Cristo. Ele tem sua origem na soberania absoluta de Deus e na compreenso da Igreja como grupo organizado que, em obedincia a Deus, se entrega ao servio a ele e s pessoas.(10) A ordenao a vocao e a incumbncia para o servio na comunidade.4. Desafios MinisteriaisO significado do que ministrio est intimamente ligado ao entendimento do papel da Igreja, pois o primeiro no existe independente do segundo. O ministrio trata de questes que so o prprio mago do que Igreja, isto , a preservao do Evangelho e a sua divulgao. Os principais desafios ministeriais afetos estrutura de vida da Igreja so:(1) O ministrio constitutivo da vida e do testemunho da Igreja?(2) A funo especfica do ministrio ordenado de congregar e animar a Igreja, atravs da proclamao da Palavra, da celebrao dos sacramentos e da direo da vida da comunidade na sua liturgia, misso e diaconia?(3) De que modo, segundo a vontade de Deus e sob a direo do Esprito Santo, deve a vida da Igreja ser concebida e estruturada, a fim de que o Evangelho possa ser difundido e a comunidade edificada no amor?(4) Quais so os limites do ministrio das mulheres?(5) O ministrio deve ser visto como cargo institucionalizado e detentor de poder ou a partir da sua essncia de servio prestado a Cristo e s pessoas?

(6) Como o ministrio deve ser configurado na Igreja para atender e responder aos desafios e oportunidades que a realidade lhe coloca?

5. Princpios Referenciais para a Compreenso e o Exerccio MinisterialO tema ministrio um assunto teolgico-sistemtico e tambm da teologia prtica, que, na verdade, a interlocutora das prticas pastorais desenvolvidas no meio do povo de Deus. Apesar de que a teologia prtica se importa mais com o exerccio do ministrio, no possvel separar os aspectos da fundamentao e o da prtica, pois a fundamentao determina a prtica, enquanto a prtica reflete a fundamentao. Desse modo, pode-se afirmar:(1) Igreja e ministrio esto intimamente ligados. Um no existe sem o outro. O ministrio existe para que acontea e exista a Igreja. A Igreja tem sua origem e vive da essncia do ministrio.

(2) O ministrio pertence Igreja. Cabe Igreja a tarefa de proclamar o Evangelho, como continuidade obra de Cristo, colocando aqui e agora sinais do reino de Deus. Todo o povo de Deus est a servio do Reino com seus dons. Alguns dentre o povo so vocacionados por Deus, e reconhecidos pela Igreja, para desempenhar tarefas e funes especficas, como desdobramento do ministrio nico da Igreja que subsiste em trs esferas.(3) A relao entre o ministrio pastoral e o ministrio exercido pela membresia no de hierarquia, superioridade ou oposio, mas de direo da vida comunitria. O ministrio pastoral s existe em funo do sacerdcio de todos os crentes. O ministrio assim compartilhado.(4) Os ministrios devem ser orientados pelos seguintes princpios:

Ser marcado pela postura de servio, em lugar de poder e domnio (Mc 10.45; Lc 22.27).

Focar e estar em funo da construo da comunidade (I Co 14.1-5). Constituir os ministrios com pessoas subordinadas ao Evangelho (Gl 1.5...).

(5) Deve-se evitar, no exerccio ministerial, conflitos de prioridade, pessoais e institucionais.

(6) Os ministrios devem ser estruturados como resposta do Evangelho aos desafios da realidade. Apesar dos ministrios no serem determinados primordialmente pelas necessidades ou interesses sociais, eles devem buscar meios de atualizar o testemunho da Igreja.

(7) O reconhecimento ministerial de uma pessoa no a coloca num status superior s demais pessoas da comunidade. Esse reconhecimento da Igreja to somente a expresso da incumbncia para um servio especial.

ConclusoO desenvolvimento do ministrio no NT se d em termos dos dons espirituais recebidos, do servio realizado individualmente por todo cristo e de equipes ministeriais mltiplas, mas nunca num ministrio institucional. Os textos do NT que retratam os ministrios, tais como o presbiteral e o diaconal, descrevem o carter e as funes requeridas.H uma dualidade nos ministrios. Como ideal geral, todos os crentes devem exercer um ministrio de acordo com seu dom espiritual, seu talento e estilo pessoal. o ministrio mtuo, dos uns aos outros, visando edificao da Igreja. Mas, h grupos especficos de presbteros e de diconos, voltados para a pregao, as oraes, o ensino, a liderana, a disciplina, a ao social da igreja e ao exerccio da misericrdia.O propsito dos ministrios, como todas as atividades crists, a glria de Deus.

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Elaborado em: 28/04/2004.

ltima reviso: 06/02/2007.PAGE 1Evangelizao Adorao Comunho Discipulado Servio