Curso de Wicca - Sabats -2

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    Curso de Wicca - Mito e Magia Jan Duarte 2003/2004

    OS SABS

    O calendrio dos Sabs

    Conforme dissemos, a Roda do Ano marcada por oito pontos nodais, querenem os equincios e solstcios (auge das estaes) e os pontos de transio, ouincio de cada uma das quatro estaes do ano. Para uma compreenso melhor, valedizer que o momento que atualmente, no calendrio civil, considerado como oincio de cada uma das estaes, corresponde realmente ao seu auge.Exemplificando, quando nos reportamos ao incio da primavera, comumente, porvolta do dia 20 de setembro, este , na realidade, o equincio de primavera, ouseja, quando a estao est plenamente estabelecida.

    Dessa maneira, teramos a seguinte ordem para os sabs:

    Data Nome do Sab Ocasio02/02 Lughnasad ou Lammas incio do outono 21/03 Mabon equincio (auge) do outono01/05 Sanhaim incio do inverno 21/06 Yule solstcio (auge) do inverno01/08 Imbolc incio da primavera 21/09 Ostara equincio (auge) da primavera31/10 Beltane incio do vero 21/12 Litha solstcio (auge) do vero

    Logo de incio, preciso ressaltar que a ordem que descrevi acima leva emconsiderao o suceder das estaes no hemisfrio sul. A maior parte dos livros deWicca que encontramos no mercado se baseia no hemisfrio norte, uma vez que soescritos por autores americanos ou ingleses, sendo que mesmo alguns autoresnacionais defendem que essa ordem deveria ser mantida, por uma questo de"tradio". No entanto, isso indefensvel, se levarmos em considerao que oprincipal objetivo dessas celebraes estabelecer um vnculo, uma conexo comos ciclos naturais. Obviamente, no faz nenhum sentido essa conexo com umanatureza diferente da que nos cerca.

    Conforme citamos no tpico anterior, os quatro festivais que marcam oincio real das estaes, ou o momento de transio entre elas (Lughnasad,

    Samhain, Imbolc e Beltane), provm especialmente da tradio celta insular, sendoessencialmente festivais do fogo, ou festivais solares, relacionados principalmentecom a figura de deuses como Lugh e Belenus. Conforme nos narra Barry Cunliffe6,no entanto, h relativamente poucas referncias arqueolgicas diretas a essesfestivais, o que impossibilita sabermos com maior segurana como eles se davamoriginalmente. Na verdade, no Calendrio de Coligny, datado do sculo I a.C. eprincipal referncia arqueolgica diviso celta do tempo, esto indicados apenasos festivais de Beltane e Lughnasad, o que parece indicar que, nessa poca, osvelhos costumes j estavam sendo abandonados na parte mais civilizada do mundocelta. No entanto, por remeterem diretamente tradio celta - e dessa forma

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    ter uma certa "ligao ancestral" com os fundadores - esses quatro festivais sodenominados, na Wicca, de Grandes Sabs.

    Os quatro outros festivais (Mabon, Yule, Ostara e Litha) - os PequenosSabs - parecem ser simplesmente um amlgama de diversas tradies de ritosequinociais e solsticiais, com elementos tirados de ritos nrdicos e de outrastribos brbaras da antiga Europa, bem como de outras tradies no-europias,

    como a prpria Pscoa judia. Como j citamos, festivais marcando os equincios esolstcios so ritos cuja antiguidade imensa, e so comuns a quase todas associedades agrcolas ao redor do mundo.

    Para sermos exatos, difcil precisar em que momento comea a haver umasistematizao desses festivais dentro da Wicca. No primeiro livro de Gardner,"Bruxaria Hoje", h referncias aos sabs mais ou menos nos moldes das "reuniesde bruxas" descritas pela Inquisio, mas apenas uma breve aluso a uma cerimniaespecfica, em verdade um Yule, ao qual o autor teria assistido7. Obrasposteriores, no entanto, como o "Oito Sabs Para Bruxas", do casal Farrar8, jtrazem uma imagem acabada do que seriam essas cerimnias, o que refletecertamente a forma como as idias de Gardner foram sendo consolidadas e outras

    fontes folclricas foram incorporadas doutrina, ao longo das dcadas de 1960 e1970, principalmente.

    De qualquer maneira, vale ressaltar que, embora dentro da Wicca haja umatentativa de resgate dos valores originais associados a essas cerimnias, elas noso, de forma alguma, estranhas ao nosso prprio calendrio civil ou mesmo quelasdatas que, comumente, associamos cristandade. Pelo contrrio, tanto os sabsquanto as festas religiosas que se integraram tradio cultural do Ocidentepossuem uma base folclrica comum e significados semelhantes. O que ocorreu, narealidade, foi uma incorporao ou ainda uma "releitura" sob a tica crist, dedatas, ritos e festividades "pags", como veremos a seguir.

    Yule, o Solstcio de Inverno

    O sab comemorado na noite mais longa do ano o sab do renascimento. interessante reparar que essa poca do ano, para inmeras religies nascidas decivilizaes agrcolas, est associada ao nascimento de seu deus-solar, de algumaforma. A verdade que a associao do renascimento noite mais longa do ano bastante natural, posto que ela o pice da estao fria e, a partir dessemomento, os dias comearo a alongar-se e a natureza progressivamente serevitalizar.

    No hemisfrio norte, o solstcio de inverno ocorre prximo ao Natal cristo.

    Alis, Janet e Stewart Farrar9 usam mesmo o termo natal, ao invs de Yule. Essadata, em especial, foi uma das mais sincretizadas pela cristandade, j que podemosafirmar que a "data de nascimento" de Jesus foi convencionada para se ajustar aosolstcio. Basicamente todos os smbolos associados ao Natal tm origem pag erefletem justamente aqueles elementos naturais que permanecem vivos ao longo doinverno, ou que mantm os homens durante esse perodo. Assim, temos o pinheiro,que se conserva verde durante o inverno, e as frutas secas, as nozes e outrosalimentos, bastante calricos e de fcil conservao.

    A celebrao do Yule pode parecer dbia, por se situar numa poca do anoque incita ao recolhimento, principalmente nos lugares de clima mais frio, e ser

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    tambm a alegre celebrao do nascimento do Deus. No entanto, deve-se ter emmente que ela o incio de uma fase de recuperao e crescimento, e justamenteisso que se sada: a chegada do auge do perodo de estagnao, numa concepocclica, representa que o seu fim igualmente chegar.

    Um antigo costume reza que as cinzas da fogueira acesa na noite do Yuledevem ser espalhadas pelos campos, o que nos traz justamente o esprito dessa

    celebrao: o calor, simbolizado pela fogueira, est prestes a retornar e, aoespalhar as cinzas dessa fogueira, a idia que o sol venha fertilizar a terra, naprimavera vindoura. A troca de presentes parece trazer, igualmente, a idia defortalecimento do esprito de coletividade, o compartilhar das reservas para asuperao da fase de privaes10.

    Imbolc

    Como vimos anteriormente, os solstcios e equincios marcam o auge dasestaes, apesar de serem atualmente considerados como o incio destas. Assim, osab Imbolc comemora a chegada da primavera e o final do inverno. Temos ainda as

    noites mais longas que os dias, mas o ciclo de aquecimento, a metade clara do ano,j comeou.

    O Imbolc um festival do fogo, representando o Deus que comea acrescer e, com o seu calor, prepara a fertilidade da terra. H relatos de que, entreos celtas insulares, era uma data dedicada deusa Brigid (posteriormentecristianizada como Santa Brgida), divindade do fogo, comemorada com procissesonde os participantes portavam tochas. Tradicionalmente, tambm, fazia-se nessapoca a limpeza ritual dos locais de culto, simbolizando que as reminiscnciasnegativas do ciclo anterior deviam ser apagadas, para que um novo ciclo de vidapossa se instalar.

    Em relao a este sab, vrias consideraes interessantes podem serfeitas. Da deusa Brigid diz-se que teria nascido exatamente ao nascer do sol, euma grande torre de chamas teria se elevado aos cus do topo de sua cabea. Diz-se tambm que sua respirao traria nova vida para os mortos. Eis aqui clarasaluses ao retorno do sol, aps o inverno. interessante tambm notar queaproximadamente nesta data os Astecas celebravam o seu ano-novo, onde vemosmais uma aluso a um perodo de reincios. A alegria pelo final do inverno tambmtransparecia nas Lupercalia romanas, que vieram depois dar origem ao Carnaval.

    Comemorado no hemisfrio norte a 2 de fevereiro, essa data ficou marcadapara a cristandade como a purificao de Maria - a idia da limpeza ritual, que sereflete no Brasil em festas como a da Lavagem do Bonfim, que ocorre

    aproximadamente na mesma poca - e como a apresentao de Jesus no Templo (aidia do deus-solar que deixa a infncia), em mais uma traduo crist dos ritospagos. O cristianismo associou igualmente a figura de Iemanj (cuja festaacontece no Brasil em 2 de fevereiro) Maria. Levando-se em conta que tantoIemanj como a deusa celta Brigid eram associadas pelos povos que as cultuavam arios locais, esse um interessante paralelo.

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    Ostara, o Equincio de Primavera

    O sab do equincio de primavera parece ter o seu nome derivado da DeusaEostre, deusa saxnica da fertilidade, cujos smbolos eram o ovo e o coelho. portanto, um festival de fertilidade, um festival de plantio, onde se pediam asbnos para a germinao das sementes recm-plantadas.

    Pela tradio da Roda do Ano, poderia-se dizer que em Ostara anula-se devez a imagem da Deusa como me e do Deus como filho. A face de me ou de ancida Deusa, ou ainda a de criana virginal, que prevaleciam at aqui, substitudapela face da donzela, pronta a assumir seus atributos sexuais, como a prpria terraa ser semeada. O Deus por sua vez, encontra-se aqui na figura do jovem vigoroso,apesar de ainda no apresentar a plena fora e maturidade. A durao igual de diase noites, alcanada neste perodo, mais um aspecto a ser levado em conta, vistoque pode ser interpretado como o prprio equilbrio da natureza serestabelecendo. A partir daqui, o Sol e a Terra caminharo juntos, como casaldivino.

    A festa crist da Pscoa, que no hemisfrio norte coincide

    aproximadamente com o equincio de primavera, traz em si smbolos que pertencemtanto s tradies pags europias quanto Pscoa judaica. O simbolismo do ovo edo coelho foi assimilado das tradies pags e por isso, hoje, parecem deslocadosdo ritual cristo, que nesse ponto se assemelha mais imolao do cordeiro, tpicada Pscoa judaica. Convm lembrar, no entanto, que os cristos celebram nestapoca a morte e a ressurreio de Jesus (o cordeiro de Deus), e que a lebre umantigo smbolo de ressurreio. Da mesma forma, diz-se que Jesus morreu comoFilho, tendo ressuscitado como Deus - o que tem um inegvel paralelo com asituao descrita para o Deus pago, que nesta poca deixa de ser o filho divino daDeusa e torna-se seu futuro deus-consorte.

    De qualquer forma, este sab e o prximo so dos poucos que preservaram,no hemisfrio sul, comemoraes independentes das datas estabelecidas nohemisfrio norte, o que mostra a fora das tradies ligadas a eles. O equincio deprimavera, aqui, acontece em setembro, e existem inmeras comemoraes noBrasil nessa poca que, de uma forma ou de outra, remetem a antigos ritos pagos,como o prprio costume de eleger-se nas escolas uma Rainha da Primavera.

    Beltane

    Beltane representa a transio entre a primavera e o vero e simboliza aconsumao da unio sexual entre a Deusa e o Deus. Poderia-se mesmo dizer que o

    vero, estao da frutificao, comea a manifestar-se aqui, para atingir o seupice no prximo solstcio. Dessa forma, toda a simbologia do Beltane tem,inegavelmente, um cunho sexual. Enquanto em Ostara a fertilidade era apenaspalpvel e desejada, aqui ela se transforma em ato, representando que o calor dosol penetrou na terra para nela engendrar seus frutos (plantio).

    Embora diversos costumes da celebrao de Beltane tenham subsistido esido assimilados pelo ocidente cristo, as celebraes tpicas de Beltane, queocorrem em 1 de maio no hemisfrio norte, foram empurradas pela cristandadepara o ms seguinte, dando origem s festas juninas. As fogueiras de Beltanesubsistiram nessas festas, bem como o costume de pul-las. Os Maypoles, em torno

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    dos quais danava-se, tornaram-se os mastros onde colocam-se "bandeiras" dossantos catlicos, costume ainda popular no interior do Brasil, e em torno dos quaisdana-se a "quadrilha". Esta , de forma inegvel, uma mistura de dana circularcom elementos de dana de salo francesa, e h de se notar que o elemento centralsobre o qual as "quadrilhas" desenvolvem-se o casamento. Vale dizer, ainda, queeste "casamento", na verso humorstica das quadrilhas, no um casamento

    consensual, mas sim um casamento obrigado (e geralmente associado a umagravidez prematura): talvez aqui tenhamos uma lembrana dos ritos sexuais deBeltane, e de uma posterior "moralizao", associando o sexo obrigatoriamente aocasamento.

    A adivinhao era igualmente uma prtica comum nesse festival pago, eisso manteve-se na tradio popular, pois comum acreditar-se que as moassolteiras, nas noites de festa dos santos "casamenteiros", podero visionar seus"futuros maridos". O mtodo usado para isso, a visualizao na gua, hojebasicamente o mesmo daqueles tempos.

    Talvez esse deslocamento da data para o ms seguinte tenha origem natradio celta que proibia casamentos no ms de maio, por ser este consagrado

    unicamente ao casamento da Deusa e do Deus, ou ainda s unies sexuais "semcompromisso". Dessa forma, nada mais natural que o ms seguinte fosse dedicadoaos casamentos e, posteriormente, aos "santos casamenteiros". Por outro lado, acelebrao do casamento divino ficou nitidamente marcado, pois maio hojeconsiderado o Ms das Noivas pelos cristos, bem como o ms dedicado a Maria(a esposa-divina).

    Outro aspecto interessante a ser lembrado que o 1 de maio , hoje,comemorado internacionalmente como o Dia do Trabalho. Lembrando-se que oBeltane era um festival de plantio, a associao entre agricultura e trabalho bastante notvel, visto ter sido esta atividade um dos primeiros trabalhosorganizados do homem, ou mesmo a atividade que introduziu, para a humanidade, anoo de trabalho obrigatrio e sistematizado.

    Litha, o Solstcio de Vero

    O dia mais longo do ano marca o auge do poderio do sol. Em Litha, o Deusatinge a maturidade e prenuncia o seu declnio, ao passo que a Deusa, grvida,assume a face da futura me. Como no solstcio de inverno, o solstcio de veromarca uma pausa, um momento de repouso entre as duas metades da Roda do Ano.Aqui, o perodo no o repouso forado pelo inverno, mas sim o repouso prazerosodo vero, o intervalo entre o plantio e a colheita. de se notar que at hoje, se

    considerarmos os calendrios escolares, teremos frias justamente nesses doisperodos (auge do inverno e auge do vero).Segundo uma das tradies ligadas ao solstcio de vero, esse seria o

    momento em que o Rei do Carvalho, aspecto do Deus que reinou durante a primeirametade do ano (a fase de crescimento, ou seja, do nascimento maturidade), seriaderrotado e substitudo pelo Rei do Azevinho, que governar a outra metade (damaturidade morte). H aqui um interessante sincretismo apontado por RobertGraves, conforme citado por Stewart Farrar11: ocorrendo sempre em torno de 20de junho, no hemisfrio norte, a data deste sab praticamente coincide com o Diade So Joo Batista. interessante notar que, segundo a mitologia crist, Joo

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    Batista, o feroz pregador, foi substitudo em sua misso por "aquele que veiodepois dele", ou seja, o sbio e manso Jesus. Eis aqui, portanto, uma assimilao ouum notvel paralelo na doutrina crist da derrota do impetuoso Rei do Carvalhopelo sbio Rei do Azevinho.

    Lammas ou Lughnasad

    O Lammas o sab que comemora a chegada das primeiras colheitas, juntamente com a chegada do outono. Marca, portanto, a chegada dos primeirosfrutos da Me-Terra que alimentaro os homens, bem como a transio do Deus-Sol para o papel de protetor e provedor. Convm lembrar que o termo Lammas j um nome um tanto moderno (e mesmo cristianizado) para esse sab, motivo peloqual pode-se dizer que ele foi antes absorvido do que anulado ou sincretizado,mantendo-se vivo entre a cristandade na forma de inmeros festivais de colheita,em todo o mundo ocidental.

    Entre os celtas insulares, porm, era conhecido e celebrado comoLughnasadh. Este festival era dedicado ao deus Lugh, deus guerreiro associado ao

    sol, que teria tido importncia decisiva na vitria dos Thuatha De Dannan sobre osFomorianos (duas tribos mticas que haveriam povoado a Irlanda). Uma das lendasassociadas a Lugh conta que ele teria poupado a vida do chefe inimigo Bres, emtroca do segredo de arar a terra, semear e colher. Eis aqui, portanto, umareferncia direta agricultura neste festival, mesmo em sua forma mais ancestral.

    Alis, pesquisadores independentes como Louis Charpentier e Juan G.Atienza, no que pesem as crticas que podem ser feitas a um certo diletantismo deseus trabalhos, apontam interessantes paralelos entre a figura de Lugh enumerosas divindades ou "heris" civilizadores, como, por exemplo, o egpcio Osrisou o grego Hracles12. Esses autores nos mostram toda uma srie de similaridadesentre essas divindades solares e sugerem uma ligao destas a uma suposta raade "contrutores de megalitos" que teriam trazido as tcnicas da agricultura Europa Ocidental. A levar-se em considerao tais hipteses, no de todoabsurdas, teramos uma forte razo para que este festival fosse um dos quesubsistiram mais fortemente nas tradies populares.

    Uma outra tradio ligada ao Lammas era o costume de se atear fogo a umaroda de madeira e faz-la rolar colina abaixo. Essa prtica representava a descidado sol, o encurtamento progressivo dos dias, significando que o Deus entrava emsua fase de decadncia.

    Mabon, o Equincio de Outono

    O Mabon o festival da segunda colheita, ou ainda do encerramento dacolheita iniciada em Lammas. Aqui se colhiam os alimentos que garantiam osustento durante o inverno, bem como se sacrificavam aqueles animais domsticosque no resistiriam prxima estao, consumindo-se ou conservando-se a suacarne. De uma forma geral, pode-se dizer que, apesar da aproximao do tempo deprivao, o Mabon seria o momento de maior fartura de todo o ano, estando ascolheitas completas e o alimento estocado. Dessa forma, a celebrao do Mabonresulta num agradecimento pelas ddivas proporcionadas pela Deusa e pelo Deus nodecorrer do ano.

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    No Mabon, temos novamente o equilbrio entre o dia e a noite, significandoaqui que ambos os aspectos entram em sua fase final. O Deus encaminha-se para amorte prxima, enquanto a Deusa assume seu aspecto de anci, preparando-se paraa jornada no mundo interior, onde passar o inverno aguardando o nascimento deseu filho. Apesar da origem do nome do sab ser celta, o folclore do Mabon remete lenda grega de Persfone, que conta que esta deusa passava metade do ano

    proporcionando a fertilidade dos campos e outra metade do ano no Hades (mundointerior) em companhia de seu marido. A poca do equincio de outono erajustamente o incio do perodo do ano em que ela morava no submundo. Na Grcia,nessa poca, eram celebrados os Ritos de Elusis, talvez o mais importante festivalreligioso grego, que perdurou por mais de 2000 anos.

    Na cristandade, essa data dedicada ao arcanjo Miguel, considerado peloscristos o vencedor de Lcifer (o portador da luz). interessante notar que umadas lendas celtas associadas ao Mabon contava que, no equincio de outono, o deusLugh (o sol, a luz) era derrotado por seu irmo gmeo, o deus da escurido Tanist.De uma maneira ou de outra, surge aqui a idia da noite sobrepondo-se ao dia.

    Samhain

    O Samhain costuma ser considerado pela Wicca, hoje, como o sab maisimportante. Se formos buscar razes "tradicionais" para isso, dificilmente asencontraremos, uma vez que, como j dissemos anteriormente, esse festival aomenos era citado no calendrio de Coligny, principal referncia que temos contagem do ano celta. No entanto, se formos buscar tais razes no simbolismoespecfico desta data, sua prevalncia talvez se justifique.

    O Samhain era o ano-novo celta. Num aspecto puramente prtico, istosignificava que as colheitas estavam encerradas, os animais domsticos guardadosem seus abrigos de inverno, e as provises estocadas. Um ciclo de vida estavaencerrado, portanto, e restava aguardar o incio do novo ciclo. No aspecto mstico,no entanto, esta data carregada de significaes.

    Apesar do Samhain ser celebrado como o final do ano, supe-se que no secomemorava o incio de um novo ano at o prximo Yule, haja visto esse perodoentre os dois sabs ser considerado como sendo um tempo fora do tempo, umperodo de suspenso da vida, repleto de magia e de perigos. A relao com osperigos do inverno, com o recolhimento exigido nessa estao nos pases de climafrio, com a durao das longas noites invernais, patente. O prprio nome galicosignifica, literalmente, "fim do vero", evocando o final dos dias de calor. Assim, omomento de maior fartura relativa, em todo o ano, marcava igualmente o momento

    de maior comedimento, j que os estoques deveriam durar at a prximaprimavera.Na noite de Samhain, considerava-se que o vu entre os mundos estaria em

    seu momento mais tnue, possibilitando a comunicao com os antepassados.Lanternas eram acesas e colocadas nas janelas, para guiar os que j partiram atsuas antigas casas. As mesas eram postas com lugares extras para osantepassados, e comida era ofertada a estes. A prpria celebrao do sab tem acaracterstica de ser um misto de pesar pela morte e alegria pelo renascimentovindouro - refletindo o que seria o momento da morte do Deus solar e do auto-exlio da Deusa no submundo, aguardando o seu retorno.

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    louvor", da contrio, da subservincia ou mesmo do "temor" divindade soessencialmente caractersticas crists.

    Se quisermos considerar a Wicca como uma forma de religiosidade pag, ouainda (o que seria mais apropriado) como uma forma de resgate de umareligiosidade pag, adaptada aos tempos atuais, a primeira coisa a fazer selibertar desse formalismo. Celebrar os sabs no nem pode ser, de forma alguma,

    uma prtica que incorpora um clima de profunda introjeo e introspeco, paralouvar deuses todo-poderosos atravs de ritos pr-estabelecidos que demonstramnossa submisso e adorao a esses deuses. Se fizermos isso, estaremos apenasestabelecendo uma espcie de corruptela de uma missa catlica ou de um cultoprotestante.

    A celebrao de um sab , antes de mais nada, uma festa. o momento decongregao de uma determinada comunidade, em momentos especficos do ano,para celebrar seus objetivos comuns e sua integrao com a natureza. Na verdade, o momento de dizer: "estamos juntos, compartilhamos de determinados ideais eestamos felizes por causa disso". Um sab uma reunio de amigos e, dessa forma, o momento de bebermos juntos, de comermos juntos, de trocarmos idias sobre

    temas que nos so comuns, de privarmos de uma interao que - como nas reuniesde verdadeiros amigos - chega a ser licenciosa. a manuteno do ciclocomunitrio, daquilo que transcende a existncia individual.

    Embora possa haver um tema, ou mesmo um momento explicitamente ritualnum sab, isso quando muito pode ser um fio condutor para a celebrao, mas nuncao motivo desta. Nesse ponto, tenho visto muito mais sentido em festinhas deHalloween em escolas do que em rituais serissimos de "bruxas" vestidas de preto ealtamente compenetradas, condoendo-se pela "morte do deus". Estas ltimastalvez estivessem mais bem ambientadas em alguma igreja, igualmente vestidas depreto e com um vu sobre o rosto, lamuriando-se em alguma novena na sexta-feirasanta.

    Por mais que possa soar estranho aos que buscam na Wicca uma "religio",celebrar um sab, ou participar de um, no muito diferente de ir a uma festa

    junina, ou a uma rave, ou a um baile de carnaval: afinal, todas essas manifestaesderivam, de uma forma ou de outra, daquelas comemoraes que deram origem aoschamados sabs. A diferena est na existncia de um objetivo simblico definido,que deve estar presente - o porqu de celebrar - e da existncia de um grupodefinido a ser reunido - o com quem celebrar. Satisfeitos estes dois pontos,teremos as condies necessrias para um sab, deixando para outras ocasiesespecficas aquelas reunies que tero um objetivo "mgico" ou "ritual" maisexplcito.