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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL SAMIR DE OLIVEIRA NASCIMENTO TÉCNICAS DE TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA TRATAMENTO DE TRANSTORNO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM ADULTOS SÃO PAULO 2016

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA

COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

SAMIR DE OLIVEIRA NASCIMENTO

TÉCNICAS DE TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTALPARA TRATAMENTO DE TRANSTORNO DÉFICIT DE

ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM ADULTOS

SÃO PAULO

2016

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SAMIR DE OLIVEIRA NASCIMENTO

TÉCNICAS DE TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTALPARA TRATAMENTO DE TRANSTORNO DÉFICIT DE

ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE EM ADULTOS

Trabalho de conclusão de curso lato sensuÁrea de concentração: Terapia Cognitivo-ComportamentalOrientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho AlarconCoorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins.

SÃO PAULO

2016

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Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.

De Oliveira Nascimento, Samir.

Técnicas de Terapia Cognitivo-Comportamental para o tratamento de TranstornoDéficit de Atenção e Hiperatividade em adulto/ Samir de Oliveira Nascimento, RenataTrigueirinho Alarcon, Eliana Melcher Martins – São Paulo, 2016.

42 f + CD-ROM

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em TerapiaCognitivo-Comportamental (CETCC).

Orientação: Profª. Dra Renata Trigueirinho Alarcon

Coorientação: Profª. Msc Eliana Melcher Martins

1. TDAH. 2. Terapia Cognitivo Comportamental. De Oliveira Nascimento, Samir.II. Alarcon, Renata Trigueirinho III. Martins, Eliana Melcher

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Samir de Oliveira Nascimento

Técnicas de Terapia Cognitivo-Comportamental para o tratamentode Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade em adulto

Monografia apresentada ao Centro de Estudos emTerapia Cognitivo-Comportamental como parte dasexigências para obtenção do título de Especialista emTerapia Cognitivo-Comportamental

BANCA EXAMINADORA

Parecer: _____________________________________________________

Prof.: ________________________________________________________

Parecer:______________________________________________________

Prof.: ________________________________________________________

São Paulo, ___ de ________de ____

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos que me apoiaram eque de alguma forma contribuíram para meucrescimento pessoal e profissional. Em especial aminha companheira Lia e minha família Solange eSamuel, que sempre estiveram ao meu lado.

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“– Sim – respondi-lhe –, quer seja a casa, as estrelas ou o deserto, o queos torna belos é o invisível.”

(O Pequeno Príncipe)

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AGRADECIMENTOS

A Eliana e Elcio Martins, pela oportunidade de fazer o curso, pelos ensinamentos e

pelo exemplo de dedicação aos estudos e aos alunos.

A minha orientadora Renata Alarcon pela ajuda no trabalho e a disponibilidade, e a

paciência.

Aos pacientes que confiaram em mim e me motivaram a estudar cada vez mais para

ajuda-los em sua jornada.

Aos meus amigos da turma pelo carinho, companheirismo, risadas, pelas trocas,

pelas dicas pessoais e profissionais.

Ao meu pai, Sérgio Maurício, a minha mãe Solange, ao meu irmão Samuel, a minha

noiva Lia, e todos os meus amigos e familiares que sempre torceram por mim.

Aos Médicos e amigos, Edson, Luis Henrique e Sérgio Fava, pelo exemplo de

dedicação e amor a seus pacientes e por me ensinar a importância de sempre juntar

a prática aos estudos.

Aos professores que se dedicaram a passar o seu conhecimento, em especial a

Larissa Gaça, por ajudar a ter foco e equilibrar meus pensamentos e emoções.

Muito Obrigado!

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RESUMO

Apenas recentemente o Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em

adulto tem aparecido nas publicações científicas, em contraste ao enorme número

de publicações que aborda o tema em crianças. A passagem para fase adulta

diminui a influência de organizadores externos como pais e professores, e aumenta

as exigências sociais, fazendo com que o TDAH tenha um impacto maior em seus

portadores e nas pessoas que o cercam. Comorbidades como transtorno de

ansiedade, depressão, uso de drogas, são comuns nos adultos com o transtorno,

dificultando a eficácia do tratamento psicológico. A Terapia Cognitivo

Comportamental (TCC) tem mostrado eficácia comprovada cientificamente para o

tratamento de diversos transtornos e possui um arcabouço teórico que possibilita o

tratamento do TDAH em adultos. O seguinte estudo visa apontar algumas técnicas

para o tratamento do TDAH em adultos, através de uma revisão bibliográfica, tendo

em vista auxiliar o terapeuta no trabalho com esses pacientes.

Palavras-chave: TDAH. Adulto. Tratamento. Terapia Cognitivo Comportamental.

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ABSTRACT

Only recently Deficit Disorder Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in

adults has appeared in scientific publications, in contrast to the huge number of

publications that addresses the issue in children, The passage to adulthood reduces

the influence of external organizers as parents and teachers, and increasing social

demands, causing ADHD have a greater impact on their patients and the people

around you. Comorbidities such as anxiety disorder, depression, drug use, are

common in adults with the disorder, hindering the effectiveness of psychological

treatment. Cognitive Behavior Therapy (CBT) has been shown scientifically proven

efficacy for the treatment of various disorders and has a theoretical framework that

allows the treatment of ADHD in adults. The following study aims to point out some

techniques for the treatment of ADHD in adults through a literature review, with a

view to assist the therapist in working with these patients.

Keywords: ADHD. Adults. Treatment. Cognitive Behavior Therapy.

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LISTA DE ABREVIATURAS

APA - American Psychiatric Association

DSM - IV - Diagnostic and Statistical Manual 4 rd

DSM - V - Diagnostic and Statistical Manual 5 rd

TCC - Terapia Cognitivo Comportamental

TDAH - Transtorno Déficit de atenção e Hiperatividade

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Tratamento para TDAH em adulto ....................................................... 32

Tabela 2. Escala de gravidade dos sintomas de TDAH (auto–avaliação de sintomas)

.............................................................................................................................. 34

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Modelo Cognitivo ................................................................................... 23

Figura 2. Relação entre crenças e pensamentos automáticos ........................... 24

Figura 3. Modelo Cognitivo-comportamental do TDAH em adulto...................... 27

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

2. OBJETIVO ........................................................................................................ 14

3. METODOLOGIA ............................................................................................... 15

4. RESULTADOS ................................................................................................. 16

4.1. O que é o TDAH ............................................................................................ 16

4.2. TDAH em Adultos .......................................................................................... 18

4.3. Terapia Cognitivo Comportamental ............................................................... 22

4.4. TCC e o TDAH Adulto ................................................................................... 26

5. DISCUSSÃO .................................................................................................... 35

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 38

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1 INTRODUÇÃO

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) apresenta um modelo

cientificamente fundamentado que vem mostrando eficácia comprovada através de

estudos empíricos para o tratamento de diversos transtornos como depressão,

ansiedade, entre outros. Seu modelo estruturado confere maior segurança ao

paciente e em conjunto com técnicas e estratégias terapêuticas, tem a finalidade de

promover o bem estar e a autonomia do paciente.

O Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição

neurobiológica de origem genética que causa grande impacto na vida dos pacientes,

se caracterizando por uma diminuída capacidade de atenção, hiperatividade e

impulsividade. Desta maneira, é um problema que afeta consideravelmente o

desempenho acadêmico, profissional e ocasiona enormes prejuízos no

funcionamento familiar e social do indivíduo em todos os estágios da sua vida.

Estima-se que atinge 5% da população infantil mundial (POLANCZYCK e Cols.,

2007) e 5% a 8% da população brasileira, (MATTOS 2008), em alguns casos ocorre

a remissão dos sintomas com o amadurecimento, no entanto 60% a 70% das

crianças diagnosticadas continuam apresentando os sintomas quando adultos

(BARKLEY, 2002).

O impacto causado pelo TDAH tende a ser amplificado pelas altas taxas de

comorbidades com outras doenças psiquiátricas, pois 77% dos adultos com TDAH

apresentam outros transtornos psiquiátricos concomitantes (BIERDEMAN et al.

1993; MURPHY e BARKLEY, 1996). Os transtornos mais comuns são depressão,

transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, transtorno por abuso de substâncias,

transtorno de personalidade e alteração da conduta.

O tratamento do TDAH deve ser multidisciplinar, ou seja, é necessário uma

combinação entre psicoterapia e farmacologia. A Terapia Cognitivo-Comportamental

é a única forma de psicoterapia que demonstrou eficácia no tratamento do TDAH

(MATTOS, 2008).

A Terapia Cognitivo-Comportamental pode auxiliar no tratamento do TDAH em

adultos, ajudando os pacientes a identificar as suas dificuldades e atuar de uma

forma mais assertiva sobre as demandas do dia-a-dia.

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Dentro deste panorama, este estudo visa apresentar as principais técnicas de TCC

utilizadas para o tratamento do TDAH em adultos, através de revisão bibliográfica.

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2 OBJETIVO

Analisar as principais técnicas de Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) para

o tratamento de Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adultos.

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3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o seguinte estudo constituiu-se de uma revisão

bibliográfica, explorando materiais publicados em livros e artigos nas bases de

dados SCIELO e PUBMED com os descritos, tratamento de TDAH em adultos,

terapia cognitivo comportamental, Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in

adult.

Os critérios de inclusão para escolha dos materiais utilizados foram, livros e

artigos científicos que abordassem o tratamento do TDAH em adultos utilizando a

abordagem Cognitiva Comportamental, em português e inglês. Foram excluídos

estudos que apresentavam outras abordagens psicológicas para o tratamento do

TDAH, e livros ou artigos sem cunho científico.

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4 RESULTADOS

4.1 O que é TDAH

O TDAH é uma condição neurobiológica, que atinge de 3% a 7% da população

de crianças e adolescentes no mundo, os dados estatísticos do Brasil indicam uma

prevalência de 5% a 8% (MATTOS, 2008).

O TDAH é caracterizado por um padrão persistente de desatenção,

hiperatividade e impulsividade, divididos em três subtipos, os indivíduos que

apresentam predominantemente a desatenção, os que apresentam a impulsividade

e hiperatividade e os que combinam a desatenção com a hiperatividade e

impulsividade. Tais características são intensas e frequentes a ponto de causar

comprometimento funcional em áreas da vida do indivíduo como a ocupacional, a

acadêmica e a social (BARKLEY, 2008; MATTOS, 2008).

Segundo Rangé e colaboradores (2011) os principais fatores predisponentes

para o TDAH são os fatores genéticos e neurológicos. Faraone e colaboradores

(1992) concluíram que 57% das crianças com TDAH têm pais afetados com o

transtorno, com um risco de 15% entre irmãos. A teoria genética também foi

confirmada com estudos feitos com gêmeos monizigotos, e dizigotos, a qual

constatou a concordância de 51% e 33% respectivamente, com a maior incidência

de TDAH em parentes de primeiro grau do indivíduo afetado.

No que tange os fatores neurológicos, Knapp (2004) elucida que a

neurobiologia e neuropsicologia do TDAH sugerem que uma disfunção no córtex

pré-frontal, caracteriza um déficit no controle inibitório e das funções executivas, e

esse seria o responsável pelo quadro clínico do transtorno.

O déficit do comportamento inibitório e das funções executivas setraduzira nas características básicas do transtorno, ou seja, falta decontrole e aderência comportamental, falta de motivação intrínsecapara completar tarefas, falta de um comportamento governado porregras e uma resposta errática sobre condições típicas na escola eem casa que estão associadas a recompensas demoradas ouinconsistentes. (KNAPP et al, 2008, p. 358).

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O diagnóstico do TDAH é predominantemente clínico, realizado através de

uma investigação minuciosa da história de vida do indivíduo e com informações que

podem ser obtidas com parentes e professores (KNAPP et al, 2008).

Os critérios clínicos para o diagnóstico são provenientes do DSM – V, que

orienta que o diagnóstico é realizado através da avaliação dos sintomas dentro de

dois grandes eixos compostos por um total de 18 sintomas, sendo 9 sintomas do

eixo desatento e 9 do eixo hiperativo/ impulsivo, para o diagnóstico de TDAH é

necessário pelo menos 6 sintomas de desatenção e/ou 6 sintomas de

hiperatividade/impulsividade. Esses sintomas devem aparecer antes dos 7-12 anos

de idade, aparecer em dois contextos ou mais, deve atrapalhar a vida do sujeito e os

problemas não devem ser explicados por outro transtorno (APA, 2002).

Entretanto é possível e indicado o uso de escalas, entrevistas

semiestruturadas e avaliações neurológicas e neuropsicológicas, com a finalidade

de oferecer informações complementares úteis e descartar situações cerebrais e/ou

sociais que simulem os mesmos sintomas (KNAPP et al.; 2002; MATTOS, 2008).

Segundo Rohde (1998), os pacientes que possuem esse transtorno tem como

sintomas de desatenção, dificuldade de prestar atenção em detalhes, ou errar por

descuido em atividades escolares ou no trabalho, parecem não escutar quando lhe

dirigem a palavra, tem dificuldade em manter a atenção em atividades lúdicas ou

tarefas em geral, não seguem instruções dadas, não terminam tarefas escolares,

domésticas ou deveres profissionais, perdem coisas necessárias para tarefas ou

atividades, evitam ou relutam em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental

constante, dificuldade em organizar tarefas e atividades em geral e apresentam

esquecimentos em atividades diárias.

A hiperatividade pode ser entendida como inquietação motora e agressiva, o

sujeito fica frequentemente em atividade, agita as mãos ou os pés, correm ou

escalam em demasia em situações que esse comportamento seria inapropriado,

abandonam a cadeira na sala de aula no momento em que se espera que elas

fiquem sentadas, falam em demasia (APA, 2002). A hiperatividade não é constante

na criança com TDAH, pois algumas vezes elas podem ficar quietas, principalmente

em situações novas ou fascinantes (ROHDE, 1998).

A impulsividade é caracterizada pela dificuldade de parar, pensar, planejar e

depois agir, então frequentemente dão respostas precipitadas, tem dificuldade em

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esperar a sua vez, interrompem ou se metem em assuntos dos outros (BARKLEY,

2002).

Knapp (2008) alerta sobre a importância de atentar para a gravidade do

TDAH, pois ele interfere em toda a vida do indivíduo provocando muitos problemas,

nos relacionamentos sociais, em casa e na escola.

É importante salientar que desatenção, hiperatividade ouimpulsividade como sintoma isolado podem resultar de muitosproblemas na vida de relação das crianças (com os pais e/ou colegase amigos), de sistemas educacionais inadequados, ou mesmo estarassociados a outros transtornos comumente encontrados na infânciae na adolescência (KNAPP et al, 2008, p. 360).

4.2 TDAH em adultos

A literatura indica que na adolescência os sintomas de hiperatividade diminuem

restando de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade

(KNAPP et al, 2008).

Até a década de 70 acreditava-se que a melhora da hiperatividade e da

impulsividade ao final da adolescência, significava a remissão completa da

enfermidade. Apenas nos anos 80 com o DSM – III que a forma adulta do TDAH foi

reconhecida oficialmente pela Associação Americana de Psiquiatria (MATTOS et al.,

2006).

Mattos (2008) aponta quatro razões para que os profissionais não

acreditassem que havia TDAH em adultos. Primeiro, os psiquiatras e neurologistas

que se propõem a trabalhar com crianças não acompanham o indivíduo na sua fase

adulta, e com a diminuição dos sintomas na adolescência, não se pensava na

persistência do transtorno. Segundo, naturalmente os sintomas que mais

incomodam, como a impulsividade e hiperatividade diminuem com o

amadurecimento. Terceiro, a hiperatividade diminui muito mais que a desatenção, os

familiares acreditavam que ele estava melhor. E a última razão é que o TDAH

geralmente vem associado com outros problemas, principalmente o de uso de

drogas, deixando os sintomas do transtorno despercebidos.

Estudos mostram que 60% a 70% das crianças diagnosticadas com o TDAH

continuam com os sintomas na fase adulta (BARKLEY, 2002). Em homens essa

incidência é maior, uma média de nove homens para cada caso de mulheres e

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essas, geralmente, apresentam o domínio do tipo desatento (VALENÇA &

OLIVEIRA, 1999).

Normalmente os adultos com o TDAH não tem consciência de serem

portadores de um transtorno mental nem são percebidos como doentes pelos seus

familiares ou colegas, tendo seus comportamentos facilmente atribuídos a “falta de

vergonha na cara” ou são considerados desinteressados, preguiçosos ou carentes

de força de vontade (MATTOS, 2008). Um fator que contribui para essa visão é que

as três características clínicas do Transtorno fazem parte do comportamento de

todos os indivíduos. É possível colocar qualquer pessoa em algum ponto entre as

seguintes dimensões: 1) Atenção – Desatenção; 2) Quietude – Hiperatividade; 3)

Moderação – Hiperatividade. Para caracterizar os três sintomas como problemas

médicos, os mesmos devem estar presentes em uma intensidade e frequência que

trazem sofrimento significativo para o indivíduo (APA 1994).

Como o TDAH em adulto foi reconhecido apenas tardiamente, a maior parte do

conhecimento a cerca do diagnóstico foi desenvolvida a partir de estudos com

crianças e adolescentes. Desde então os estudiosos têm concentrado seus esforços

em validar e caracterizar o diagnóstico do TDAH em adulto, mas ainda hoje, o

diagnóstico é motivo de debate (MATTOS et al., 2006).

De acordo com Mattos e colaboradores (2006), os sintomas nucleares do

TDAH em adulto são os mesmos que nas crianças e adolescentes, Desatenção,

Hiperatividade e Impulsividade. Mesmo com a diminuição dos sintomas de

hiperatividade, impulsividade e desatenção ao final da adolescência, os sintomas de

TDAH tem sua expressão nas atividades próprias da vida adulta.[...] assim, a hiperatividade observada em crianças podecorresponder a um excesso de atividades e/ou trabalho em adultos(indivíduos workaholics). Do mesmo modo, a impulsividade pode seexpressar em términos prematuros de relacionamentos ou direçãoimpulsiva de veículos, havendo uma “correspondência” entre ossintomas infanto juvenis, tais como são enunciados no DSM-IV, eaqueles na vida adulta (MATTOS et. al, 2006).

Desatenção em adultos é uma das principais causas de procura de

atendimentos em para tratamento em adultos com TDAH, ela pode se manifestar

como problemas de motivação, dificuldade de iniciar, completar ou trocar de

estratégia, dificuldade em se organizar, dificuldade em ter exata noção do tempo

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disponível para execução de uma tarefa e falta de concentração (BARKLEY et. al.,

2001).

Segundo Knapp e colaboradores (2008), a disfunção na estrutura cerebral do

TDAH afeta a função executiva, que é um conjunto de habilidades que permitem a

antecipação e o estabelecimento de metas, o monitoramento das tarefas, a seleção

precisa dos comportamentos e as condutas, a flexibilidade cognitiva e a sua

organização no tempo espaço, com a finalidade de obter resultados eficientes na

resolução de problemas.

Pessoas com alteração na função executiva tem a capacidade prejudicada

para lidar com esforço continuado, com tarefas repetitivas com gratificação tardia ou

reduzida. Com o passar do tempo os problemas de trabalho e acadêmicos do

indivíduo com TDAH, vão ficando cada vez mais evidentes, dificultando tarefas de

alto desempenho, características de adultos bem sucedidos (KNAPP et al, 2008).

Os sintomas de hiperatividade em adulto podem ser tanto motores quanto

verbais, as pessoas que sofrem do transtorno são mais inquietas, geralmente

mexem-se muito andam de um lado para o outro e ficam inquietas. A inquietude

embora atrapalhe, não é tão evidente em todos os casos (MATTOS, 2008).

A impulsividade é um dos sintomas que traz mais prejuízos a portadores de

TDAH na idade adulta, é caracterizada pela dificuldade em inibir ou retardar um

comportamento inadequado ou ter auto-controle (KNAPP et al, 2008).

A impulsividade no TDAH é responsável pelo maior número de brigas

conjugais, perda de emprego, acidentes de carro, negócios malfeitos, gastos

impensados, práticas sexuais inseguras, aumento de doenças sexualmente

transmissíveis e uso de drogas ilícitas (BARKLEY et al., 2004).

Apesar de não citados no DSM – VI, Mattos (2003) salienta que é comum no

TDAH adulto alteração no sono, geralmente adiam a hora do sono pelo

envolvimento em atividades estimulantes, sonolência diurna, principalmente quando

precisam realizar uma atividade que demande atenção, apresentam também

necessidade de ler mais de uma vez para fixar o que foi lido, adiamento constante

de tarefas (procrastinação), busca constante por coisas diferentes e variação

constante de humor.

Segundo Rangé (2002), nenhum estudo sobre o tema apontou algum ganho

relacionado ao TDAH, quando comparado a grupos controle. O TDAH em adultos

não é somente um mito, resultado de um estilo de vida moderno ou uma construção

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social. Também não é somente um transtorno simples, que cause pouco

comprometimento ou facilite a vida do portador de qualquer maneira. Segundo o

mesmo autor, o TDAH em adultos é um transtorno mental sério associado a

comprometimentos funcionais significativos na vida do indivíduo.

As comorbidades são muito comuns nesses adultos, elas se caracterizam

pela ocorrência de dois ou mais transtornos concomitantes com TDAH (MATTOS,

2008). De acordo com Hounie e Camargos apud Bierdeman (2005), Millstein e Cols

examinaram 149 adultos com TDAH e assinalaram uma a quatro condições

comórbidas em 97% desses pacientes.

Hounie e Camargos apud Bierdeman (2005) reforça que 77% dos adultos

com TDAH apresentam ao menos uma condição comórbida.

Os Transtornos mais comuns no TDAH em adultos são: Transtornos de

humor, transtorno ansiosos, transtorno de comportamento, abuso de drogas,

transtorno de aprendizagem e transtorno de personalidade (ROHDE et al. 2003).

As pesquisas mostram uma alta prevalência de comorbidades entre o TDAH e

os transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno

desafiador de oposição), em torno de 30 a 50%. A pesquisa de Rohde e

colaboradores (1999) encontrou uma taxa de comorbidade de 47,8% com

transtornos disruptivos em adolescentes com diagnóstico de TDAH. As taxas de

comorbidades também são significativas com as seguintes doenças: a) depressão

(15 a 20%); b) Transtorno de ansiedade (em torno de 25%); c) Transtorno de

aprendizagem (10 a 25%). Além desses, estudos demonstram a prevalência do

TDAH e abuso ou dependência de drogas na adolescência, e principalmente na

idade adulta (9 a 40%) (KNAPP et al, 2008).

Essa ocorrência frequente de condições comórbidas apresenta implicações

importantes quanto ao prognóstico e o tratamento do TDAH em adultos.

Seguramente quanto mais severa as comorbidades, mais se agrava o prognóstico,

impactando diretamente na evolução e condução do tratamento (KNAPP et al,

2008).

O tratamento farmacológico é decisivo para a melhora dos sintomas primários

do TDAH (distração, hiperatividade, impulsividade) e possibilita intervenções

psicoterápicas (MATTOS, 2008). Problemas como baixa autoestima, problemas

interpessoais, receio ou relutância de aprender ou se envolver com novas atividades

acadêmicas ou profissionais, dificuldade com organização, planejamento, mesmo

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com o uso do medicamento podem permanecer comprometendo a qualidade de vida

do indivíduo com o transtorno.

Safren e colaboradores (2008) propõem que os déficits comportamentais

provenientes e a incapacidade de compensá-los contribuem para manutenção e

exacerbação do quadro. Assim, constantes fracassos geram evitações, o que

acarreta em novos fracassos e desmotivação para enfrentar situações que foram

anteriormente opressivas. Sendo assim muitos adultos sofrem de baixa autoestima,

depressão e ansiedade pelos anos de sofrimento por não serem tão funcionais como

gostariam ou quanto são exigidos.

O único tratamento psicológico que tem a eficácia comprovada no tratamento

de TDAH em adultos é a Terapia Cognitivo Comportamental. Os estudos mostraram

que grupos que foram submetidos ao tratamento com TCC e medicamentos tiveram

os sintomas de TDAH significativamente mais baixos que os que foram tratados

somente com farmacologia isolada. Além disso apresentaram ansiedade e

depressão também mais baixos, tanto nos resultados relatados por auto-avaliação

quanto nos do avaliador independente (SAFREN et al, 2008).

4.3 Terapia Cognitivo Comportamental

Entre as décadas de 60 e 70 o psicanalista de formação e professor da

Universidade da Pensilvânia Aaron Beck iniciou estudos para demonstrar e validar

empiricamente o uso da psicanálise na psiquiatria, pois acreditava que assim ela

seria mais aceita pela comunidade médica. Beck decidiu testar o conceito da

psicanálise de que a depressão era resultado de uma hostilidade voltada contra si

mesmo, e esperava encontrar nos sonhos de seus pacientes um conteúdo de

hostilidade. Para sua surpresa, constatou que os sonhos dos pacientes deprimidos

continham mais conteúdos de fracasso, frustração e perda. Baseado nessas

informações desenvolveu um tratamento com o objetivo de testar a realidade do

pensamento depressivo desses pacientes, a Terapia Cognitiva (BECK, 2013).

O Termo Cognitivo-comportamental é um termo genérico que abrange mais de

20 abordagens que se apresentam com diferentes conceitos e estratégias para tratar

diversos transtornos. Knapp (2008) reforça que há três pressupostos básicos que

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Figura 1. Modelo Cognitivo. Fonte. Adaptado de Beck, J.S. Terapia CognitivoComportamental, Teoria e prática. São Paulo, Artmed 2013.

são fundamentais e que estão no núcleo de todos os modelos cognitivo-

comportamentais. 1) A atividade cognitiva influencia o comportamento; 2) A

atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; 3) O comportamento desejado

pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva.O modelo da terapia cognitiva baseia-se na visão de que estadosestressantes como depressão, ansiedade e raiva frequentementesão mantidos ou exacerbados por maneiras de pensar exageradasou tendenciosas. O papel do terapeuta é ajudar o paciente areconhecer seu estilo idiossincrático de pensamento e a modifica-lopela aplicação da evidência e da lógica. (LEAHY, 2008)

No modelo cognitivo-comportamental, o pensamento recebe um papel central,

na interpretação de um evento consequentemente na regulação emocional, na

resposta comportamental e fisiológica de uma pessoa. Assim, não é a situação em si

que determina o que a pessoa sente, mas como ela interpreta essa situação (BECK,

2013). Como demonstrado na Figura 1.

Segundo Beck (2013) diante de uma situação, todos nós temos pensamentos

rápidos que surgem espontaneamente, sem que haja uma deliberação ou raciocínio

específico. Esses são denominados pensamentos automáticos, e muitas vezes

passam despercebidos, não vem somente na forma de pensamento, podem também

vir na forma de imagens, geralmente são aceitos como verdades sem nenhuma

crítica e moldam tanto as emoções como as ações de um indivíduo em resposta a

eventos da vida. Os pensamentos automáticos são relacionados às crenças

centrais.

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Figura 2. Relação entre crenças e pensamentos automáticos. Fonte. Adaptado deBeck, J.S. Terapia Cognitivo Comportamental, Teoria e prática. São Paulo, Artmed 2013.

As crenças centrais (ou nucleares, ou ainda esquemas) são nossas ideias e

conceitos mais enraizados, são formadas na infância, quando a criança desenvolve

conceitos sobre si, sobre o outro e sobre o mundo, elas são globais, rígidas e

supergeneralizadas. Essas são estruturas cognitivas internas, consideradas

verdadeiras, absolutas, agem como “filtros” determinando como as situações serão

percebidas pelo indivíduo e como novas informações serão organizadas (BECK,

2013).As crenças mais centrais, ou crenças nucleares, são compreensõesduradouras tão fundamentais e profundas que frequentemente nãosão articuladas nem para si mesmo (BECK, 2013).

Entre as crenças centrais e intermediárias existem as crenças intermediárias.

Essas crenças são regras e pressupostos que influenciam como o indivíduo pensa,

sente e se comporta. Elas surgem desde os primeiros estágios do desenvolvimento,

diante da interação com o mundo, onde a pessoa tenta entender e organizar as suas

experiências, de uma maneira que possa funcionar adaptativamente (BECK, 2013).

A relação entre crenças e pensamentos é descrita na figura 2.

Sabe-se hoje que a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é efetiva para o

tratamento de uma gama de transtornos psiquiátricos. Ela se baseia na premissa

que a inter-relação entre cognição, emoção e comportamento está implicada no

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funcionamento normal e especialmente patológico do ser humano. Portanto, se uma

situação é avaliada erroneamente, essas distorções, conhecidas como distorções

cognitivas levam o indivíduo a conclusões equivocadas, criando ou amplificando um

sofrimento (KNAPP et al, 2008)O interjogo de vários fatores – genéticos, ambientais, culturais,físicos, familiares, de desenvolvimento e personalidade – Predispõeo indivíduo à vulnerabilidade cognitiva. As interações e interfaces detodos esses fatores entram em jogo na formação das crenças e dospressupostos idiossincráticos de si mesmo, das pessoas e domundo, determinando quais eventos da vida irão acionar reaçõesmal-adaptativas (KNAPP et al, 2008).

De acordo com Knapp e colaboradores (2008), a mudança em qualquer um

desses componentes (pensamentos, emoções e comportamentos) podem iniciar

modificações nos demais. O trabalho do terapeuta cognitivo-comportamental

consiste em identificar e modificar as distorções de pensamentos, que estão

trazendo respostas emocionais e comportamentais de sofrimento para o paciente.

Porém há situações como na depressão severa e alguns casos de TDAH em que a

primeira abordagem é a ativação comportamental, em seguida é feito o trabalho

cognitivo.

Uma das características mais importantes no trabalho com TCC é o

empirismo colaborativo, onde o terapeuta e o paciente trabalham como equipe. Em

vez de usar um estilo controlador no manejo clínico, o terapeuta estimula uma

postura proativa do paciente no processo de solução dos problemas (BECK, 2013).

Outra característica básica da TCC é o uso de técnicas para atingir os

objetivos terapêuticos de mudança de cognição ou ativação comportamental. A

sessão é estruturada e a técnica exerce um papel fundamental no tratamento, pois

as técnicas foram desenvolvidas através de pesquisas e testes que comprovam a

sua eficácia. Mas é importante ressaltar que a TCC não é somente um conjunto de

técnicas (WRIGHT et al 2012).Embora o modelo cognitivo utilize uma ampla variedade deintervenções, muitas das quais desenvolvidas por clínicos epesquisadores de outras orientações terapêuticas, a TCC não é umaabordagem “eclética”, nem um punhado de técnicas usadosaleatoriamente. O processo terapêutico é embebido em váriosmétodos terapêuticos próprios da abordagem cognitiva. (KNAPP etal, 2008)

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O presente trabalho visou trazer as principais técnicas de Terapia Cognitiva

Comportamental para o tratamento do TDAH em adultos, através de pesquisa

bibliográfica, com a finalidade de auxiliar o terapeuta que trabalha com esse caso

tão multifacetado.

4.4 TCC e o TDAH adulto

É importante salientar que o paciente não se sentirá melhor durantea terapia caso permaneça experimentando os mesmos problemasque costumeiramente se apresentam assim como, simplesmenteoferecer as técnicas e estratégias de enfrentamento também nãofuncionará caso o paciente não as coloque em prática, porpessimismo ou devido a comorbidades (em particular, depressão).Desse modo o tratamento do TDAH, em alguns momentos pode sersemelhante ao da depressão crônica ou do transtorno bipolar(RANGÉ et al, 2011)

Segundo Safren e colaboradores (2008) estudiosos questionaram adultos

portadores de TDAH, sobre quais eram os principais problemas identificados por

eles, foi listado.

1. Organização e planejamento

Os problemas de organização e planejamento estão na dificuldade de realizar

tarefas que pareçam estressantes. Essa dificuldade muitas vezes gera desistência,

procrastinação, ansiedade e sentimentos de incompetência.

2. Lidar com tendência a distração

Esse problema fica mais evidente no trabalho e nos estudos, muitos pacientes se

queixavam por não terminar tarefas, por se engajarem em atividades menos

importantes naquele momento.

3. Gerenciar a ansiedade e a depressão

Muitos pacientes apresentam problemas de humor relacionados a preocupação

com eventos da vida, e tristeza pelo rendimento abaixo do esperado.

4. Evitar a procrastinação.

Pensamentos e crenças negativas ligados a uma determinada atividade levam a

evitação ou procrastinação, particularmente quando se deparam com tarefas difíceis

ou problemas.

5. Além disso, eles levantaram problemas, ligados a gerenciamento da raiva e

da frustração e habilidades de comunicação.

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Figura 3. Modelo Cognitivo-comportamental do TDAH em adulto. Fonte: SAFREN, S.A.;Dominando o TDAH adulto: programa de tratamento cognitivo-comportamental: Guia do terapeuta.Porto Alegre: Artmed, 2008. Pg. 18.

Safren (2008) demonstra através da figura 3, como é o modelo cognitivo

comportamental do TDAH adulto.

De acordo com a figura 3 os componentes do modelo cognitivo

comportamental no TDAH adulto são os seguintes:

Principais prejuízos neuropsiquiátricos, começando na infância, que impedemum enfrentamento eficaz.

Desde a infância os Adultos com TDAH, por definição, sofrem cronicamente

do transtorno. Os três sintomas principais (desatenção, hiperatividade e

impulsividade) podem impedir a pessoa com TDAH de desenvolver habilidades

eficazes de enfrentamento (SAFREN et al. 2008).

A falta de enfrentamento eficaz pode gerar desempenho abaixo do esperado efracasso.

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Em função da carência cognitiva provocada pelo transtorno, geralmente os

pacientes tem um desempenho abaixo do esperado (SAFREN et al. 2008).

O baixo desempenho e os fracassos podem levar a crenças e pensamentosnegativos.

Esse histórico de fracassos pode resultar em pensamentos negativos e

desadaptativos diante de tarefas (SAFREN et al. 2008).

Os pensamentos e crenças negativos podem aumentar a evitação ou atendência a distração.

Diante desses pensamentos e crenças a pessoa procura meios de evitar

tarefas e problemas, diminuindo o seu repertório e piorando os seus sintomas

comportamentais (SAFREN et al. 2008).

O programa de tratamento do TDAH adulto envolve três módulos principais.

Cada módulo apresenta seus objetivos e subdivisões para facilitar o engajamento do

paciente e a condução do terapeuta rumo a esses objetivos (SAFREN et al. 2008).

1 Psicoeducação/ organização e planejamentoEssa é a primeira parte do tratamento, onde o terapeuta apresenta a estrutura

da sessão, e foca na organização e planejamento, essa primeira parte é

fundamental para que o paciente possa avançar para os outros estágios, mesmo

que o paciente apresente problemas em outras áreas que serão tratadas

posteriormente. O módulo 1 visa trabalhar habilidades de organização e

planejamento que são fundamentais para os próximos módulos (SAFREN et al.

2008). Entre eles estão:

1.1 Aprender a usar uma agenda de forma eficaz e continuada.

É fundamental que o terapeuta se detenha tempo suficiente nesta parte, para

garantir que o paciente aprenda a usar a agenda, pois essa é a base do tratamento,

ela será retomada em todas as sessões.

1.2 Bloco de notas para registrar lista de coisas a fazer.

O bloco de notas segue a mesma premissa da agenda, é onde o cliente coloca

lista de tarefas do seu dia-a-dia.

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1.3 Revisão da adesão medicamentosa.

Toda semana o paciente registra a dose de medicamentos que lhe foi prescrita

e indica o número de doses que deixou de tomar durante a semana. Avalia também

quais foram os gatilhos que desencadearam a perda da dose.

1.4 Bloco de notas para desmembrar tarefas em subtarefas.

Muitas vezes o TDAH procrastina por achar a tarefa difícil, essa ferramenta

ajudará o paciente a desmembrar uma tarefa difícil em várias partes manejáveis.

1.5 Bloco de notas para gerenciar várias tarefas e lhes atribuir prioridade.

O TDAH pode considerar muito difícil decidir qual tarefa é mais importante,

esse bloco serve para que o paciente classifique suas tarefas entre A, B ou C, de

acordo com a prioridade da tarefa.

1.6 Estratégias para resolver problemas e formular um plano de ação.

Desenvolver um plano de ação é útil para o paciente, principalmente quando

existem muitas soluções possíveis e ele se encontra estressado. Ele pode usar

Cinco passos para a solução de problemas. 1) formule o problema; 2) listar todas as

soluções possíveis; 3) listar prós e contras de cada solução; 4 classificar cada

solução; 5) Implementar a melhor solução.

1.7 Sistema de triagem e arquivamento.

É comum nos pacientes com TDAH, acumularem papéis e manter os seus

arquivos, pastas e papéis desorganizados, gerando frustração. Nesse ponto o

terapeuta vai auxiliá-lo a gerenciar seus papéis e-mails, e principalmente a sua

agenda, e blocos referentes à terapia (SAFREN et al. 2008).

2 Redução da tendência à distraçãoA dificuldade de completar uma tarefa iniciada é a queixa de muitos pacientes

com TDAH, pois os mesmos possuem uma curta duração de tempo de atenção.

Safren (2008), não considera que essa característica seja associada a falta de

inteligência, e sim a falta de estratégias adequadas para enfrentar os problemas.

2.1 Desmembrar tarefas em etapas adequadas ao tempo de duração da

atenção e fazer intervalos entre elas.

A proposta deste exercício é ajudar o paciente a estimar quanto tempo ele

conseguem trabalhar em uma tarefa tediosa sem desviar a atenção, em seguida ele

é estimulado a fazer atividades tediosas em menos tempo.

2.2 Aplicar o adiamento da distração

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Depois de identificado o tempo que o paciente consegue manter a sua atenção

em uma tarefa tediosa, é solicitado que ele fique com um bloco de notas, e sempre

que um pensamento vier, ele anota no bloco de notas e continua realizando a sua

tarefa.

2.3 Usar o controle de estímulos para o ambiente e remover distrações.

O paciente é instruído a observar em seu ambiente de trabalho, ou em uma

atividade que queira fazer em casa, quais são as fontes de distração mais

problemáticas, e ajuda-lo a criar estratégias para lidar com elas, modificando o

ambiente.

2.4 Usar o controle de estímulos para objetos importantes e identificar um

lugar específico para cada um deles.

Nessa etapa o paciente é orientado é procurar um lugar fixo para todos os

objetos que lhe são importantes.

2.5 Lembretes de tendência à distração.

Uma estratégia eficiente é condicionar o paciente a usar bilhetes, adesivos, ou

alarmes, em objetos que estejam lhe distraindo com frequência, como telefones,

tabletes. Ou quando soar o alarme ele pensar: “Estou fazendo o que deveria?”.

3 Pensamento adaptativo (reestruturação cognitiva).Até agora, o tratamento consistiu em auxiliar o desenvolvimento de estratégias

de organização, planejamentos e soluções de problemas. Nesse momento da

terapia, o foco é auxiliar o paciente a ser mais capaz de lidar com seus pensamentos

e emoções negativas (SAFREN et al. 2008).

3.1 Usar o registro de pensamentos para identificar pensamentos

automáticos.

Às vezes o paciente não se dá conta que os seus pensamentos negativos

tendem a tornar a tarefa ainda mais difícil, os registros de pensamentos é uma

ferramenta criada para ajudar o paciente a identificar e reduzir os pensamentos

disfuncionais, aqueles que causam sofrimento.

3.2 Revisar a lista de erros cognitivos

Depois que o paciente entende que alguns acontecimentos podem

desencadear pensamentos automáticos prejudiciais, o objetivo do terapeuta, é

ajuda-lo a entender as distorções cognitivas. Erros ou distorções cognitivas são

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interpretações equivocadas, que o indivíduo faz de um evento que lhe gera

sofrimento (Beck, 2013).

3.3 Usar o Registro de pensamentos para gerar Pensamentos equilibrados e

benéficos.

Nesse momento o paciente aprende a corrigir erros cognitivos e desenvolve um

pensamento mais adaptativo. A TCC oferece algumas técnicas como verificação de

evidência, questionamento socrático, ou registro e modificação de pensamento.

Além desses três módulos, Safren e colaboradores (2008) levantam também a

importância de lidar com a procrastinação, que é um problema muito comum no

TDAH adulto. Ele traz estratégias como fazer uma avaliação dos prós e contras da

procrastinação, e como usar os pensamentos adaptativos para auxiliar no sucesso

do paciente.

A chave para sucesso do tratamento do indivíduo com TDAH é o uso

persistente de habilidades aprendidas. Para aumentar esse resultado o terapeuta,

pode avaliar com o cliente a sua melhora ao longo do tratamento e quais as técnicas

que ele mais se identificou, e quais ele teve mais dificuldade de aplicar (SAFREN et

al. 2008).

A tabela 1 faz um resumo da estratégia de tratamento para o TDAH, nela está

relacionado cada módulo com seus objetivos e as técnicas para atingir esses

objetivos.

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Tabela 1. Tabela de Tratamento para TDAH Adulto.ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO

Módulo Objetivos Técnica

Psic

oedu

caçã

o/ O

rgan

izaç

ão e

plan

ejam

ento

Psicoeducação Psicoeducação sobre o TDAH

Psicoeducação sobre medicamento.

Aprender a usar uma agenda de forma eficaz econtinuada

Implementar agenda

Implementar bloco de notas.

Aprender a usar uma lista de tarefa de forma eficaz econtinuada

Introdução a habilidades de organização eplanejamento.Gerenciar múltiplas tarefas

Trabalhar com habilidadede solução de problemaseficazes

1- Desmembrar tarefas empartes menores e maisgerenciáveis

Organização de múltiplas tarefas

Envolvimento de um membro da família

2- Escolher a melhorsolução para um problemaquando não há soluçãoideal.

5 passos para solução de problemas

Gerenciamento de tarefas estressantes

Desenvolver um sistema de triagem paracorrespondência e papéis.

Organizando papéis.

Red

ução

de

Tend

ênci

a a

dist

raçã

o

Maximizar e potencializar o tempo de duração daatenção.

Medindo o tempo de duração da atenção.

Implementando adiamento da distração.

Usar um cronômetro lembretes para a tendência àdistração e outras técnicas

Modificando o ambiente

Controlando ambiente de trabalho

Saber localizar objetos importantes

Usando Lembretes

Usando mecanismos de alarmes

Pens

amen

toA

dapt

ativ

o

Realizar auto-instrução positiva Psicoeducação do modelo cognitivo-comportamental de TDAH.

Aprender a identificar e questionar pensamentosnegativos

Registro de pensamentos

Questionamento socrático.

Conhecendo erros e distorções cognitivas.

Aprender a olhar as situações de forma racional, e,assim, fazer escolhas racionais em relação às melhoressoluções possíveis.

Usar registro de pensamentos para gerarpensamentos equilibrados.

Out

ras

Hab

ilida

des

Proc

rast

inaç

ão Introdução ao temaPsicoeducação/ Caráter atrativo daprocrastinaçãoPrós e contras da Procrastinação.

Reduzindo a procrastinação

Adaptando a solução de problemas àprocrastinação.Desmembrando tarefas complexas empartes gerenciáveisUsando pensamento adaptativo.

Prevençãode recaída

Revisar escala de gravidade dos sintomasRevisar adesão medicamentosaTerminar o tratamento mantendo os ganhos

Fonte: Adaptação baseada nos livros Dominando o TDAH adulto: Programa de Tratamento CognitivoComportamental: Guia do Terapeuta.

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Para aumentar a eficácia do tratamento, Safren e colaboradores (2008)

orientam que todas as sessões devem conter as seguintes atividades, de

preferência no início da sessão.

Definir uma agenda

Um dos desafios no tratamento desses pacientes é auxiliá-los a manter o

foco, é comum que o paciente se distraia, e queira conversar sobre outros

problemas que ele possa estar enfrentando, mas é provável que muitos desses

problemas estejam ligados ao transtorno, é importante transmitir empatia diante da

dificuldade do paciente e ajuda-lo a entender que uma limitação desse tratamento é

ajuda-lo a manter o foco. Inevitavelmente isso significa não ter tempo para passar

para outros focos.

Monitoramento do progresso

O tratamento do TDAH envolve um monitoramento regular dos avanços, para

isso o paciente deve preencher uma avaliação de auto-monitoramento dos sintomas

do TDAH (Tabela 2) toda semana, e a sessão pode ser iniciada com a discussão do

escore atual.

Revisão da tarefa de casa da semana passada

Cada sessão tem a revisão da tarefa de casa, a qual é tão ou mais importante

do que comparecer a sessão, pois a repetição das novas habilidades aprendidas é

essencial no tratamento do transtorno, além de maximizar os ganhos obtidos no

tratamento, vai também aumentar a probabilidade de se manter os avanços obtidos.

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Tabela 2. Escala de gravidade dos sintomas de TDAH (auto–avaliação desintomas)Instruções: Marque a resposta junto a cada questão que melhor descreve seu

comportamento na última semana.

Nunca ouraramente

Às vezes Comfrequência

Com muitafrequência

1 Deixo de prestar atenção aosdetalhes ou cometo erros pordescuido em meu trabalho.

2 Movo mãos ou pés, ou me movona cadeira.

3 Tenho dificuldade de manterminha atenção em tarefas ouatividades de lazer.

4 Levanto-me da cadeira emsituações que deveriapermanecer sentado.

5 Não escuto quando falamdiretamente comigo.

6 Sinto-me inquieto

7 Não sigo instruções e nãotermino trabalho

8 Tenho dificuldade de fazeratividades de lazer ou coisasdivertidas tranquilamente.

9 Tenho dificuldade para organizartarefas e atividades.

10 Sinto-me “em movimento” ou “nopiloto automático”.

11 Evito, não gosto ou reluto emrealizar trabalhos que requeiramenvolvimento mental prolongado.

12 Falo de mais.

13 Perco coisas necessárias paratarefas ou atividades.

14 Solto respostas antes queperguntas sejam terminadas.

15 Distraio-me com facilidade.

16 Tenho dificuldade para esperar aminha vez.

17 Sou esquecido em relação aatividades cotidianas.

18 Interrompo outras pessoas ousou invasivo.

Fonte: Adaptado de R.A. Barkley e K.R. Murphy (1998), Attention-Deficit Hyperacivity Disorder. Aclinical Workbook (2ª ed.). Nova York, Guilford Press. Publicado pela Artmed.

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5 DISCUSSÃO

Hoje se sabe que a Terapia Cognitiva Comportamental é considerada a

primeira linha para o tratamento psicológico do TDAH em adultos, porém há poucos

estudos publicados mostrando a eficácia das técnicas da TCC para esse transtorno.

Um dos motivos pode ser que só recentemente foi descoberto que a maioria

das crianças diagnosticadas com TDAH mantém o quadro do transtorno na idade

adulta, portanto o número de estudos de TDAH na infância é muito maior do que os

estudos de TDAH em adultos sendo que a maioria desses trabalhos está em inglês.

Outro motivo é que o foco dos estudos de TDAH em adultos, inicialmente

foram mais direcionados para os critérios diagnósticos, como o transtorno se

manifesta no adulto e a sua evolução passando pela infância e a adolescência.

A última versão do DSM, o DSM-V, alterou alguns critérios diagnósticos para

o TDAH visando justamente o adulto portador do transtorno. As características que

mudaram foram:

A idade dos primeiros sintomas, deixa de ser com 7 e passa a ser com 12

anos (pois é particularmente difícil para adulto lembrar de fatos ocorridos

antes 7 anos).

Acrescenta a opção de remissão parcial, quando o sujeito apresentou um

diagnóstico de TDAH pleno na infância e na idade adulta apresenta apenas

algumas características, como impulsividade ou desatenção.

O termo “subtipos” foi substituído por “apresentação”, mostrando que o perfil

dos sintomas podem se modificar com o tempo (O que é bastante comum,

principalmente quando se fala de TDAH em adultos).

Outra novidade é que no TDAH em adultos pode ser classificado entre leve,

moderado ou grave, de acordo com o grau de comprometimento que os

sintomas causam na vida do indivíduo.

É importante investir estudo e pesquisa para definir corretamente o

diagnóstico. Por exemplo, o número de pessoas diagnosticadas com TDAH

aumentou significantemente nos últimos 10 anos, esse aumento se deve

principalmente pela melhora do diagnóstico, consequentemente aumenta também o

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número de pessoas em tratamento, podendo levar uma vida mais autônoma com a

redução dos sintomas do transtorno.

Dentre os estudos que visam mostrar a eficácia da TCC no tratamento do

TDAH, a esmagadora maioria direciona para o tratamento de crianças e

adolescentes. Knapp (2008) salienta que a maioria dos programas cognitivo-

comportamentais para transtornos disruptivos na infância e adolescência pode estar

trabalhando com subdoses, pois esses programas utilizam não mais do que algumas

horas de trabalho. Assim embora o programa seja teoricamente atraente eles podem

não mostrar a eficácia esperada.

Os primeiros estudos que avaliavam a eficácia da TCC no tratamento do

TDAH eram direcionados para comparação entre a eficácia da medicação e das

terapias comportamentais e cognitivas comportamentais nos sintomas básicos do

transtorno (Hiperatividade, desatenção e impulsividade), ou se contribuía para a

eficácia da medicação nesses mesmos sintomas, os resultados não mostraram

diferenças significativas em nenhum dos dois grupos. Talvez a explicação para isso

seja que a medicação tem uma melhora robusta nos sintomas básicos em cerca de

70% dos casos, sobrando pouco espaço para qualquer outra intervenção. Como a

maioria dos estudos de abordagem psicológica mede a variação nos sintomas

básicos do transtorno, é possível que o que deva ser medido com a intervenção

psicológica sejam outros problemas relacionados ao transtorno (KNAPP et al, 2008).

Durante as pesquisas, pode-se perceber que o tratamento do TDAH em

adulto apresenta algumas particularidades que impactam diretamente no tratamento.

No adulto geralmente as limitações do transtorno estão bem instauradas,

atrapalhando diversas áreas da vida do indivíduo, e embora a primeira vista, este

seria um campo bastante propício para a utilização das técnicas de TCC, as práticas

tem mostrado o oposto, provavelmente, pois o TDAH é um transtorno neurobiológico

que tem sua origem em tempos pré-verbais, portanto estratégias cognitivo-

comportamentais que se baseiam primordialmente em mediação verbal tendem a ter

menor chance de sucesso.

Outra questão que ficou evidente na pesquisa foram as comorbidades,

embora sejam muito frequentes principalmente no adulto com TDAH. Muita das

vezes o transtorno primário, no caso o TDAH, fica “abafado” por outros transtornos

como o transtorno de ansiedade generalizada, transtorno por uso de substâncias,

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depressão, e é geralmente esse segundo grupo que leva o paciente para o

tratamento.

Cabe ao profissional avaliar o que traz mais prejuízo para vida do paciente

naquele momento (o TDAH ou a comorbidade). Os autores focam somente no

tratamento do TDAH excluindo as comorbidades, no entanto todos eles afirmam que

um influencia diretamente no prognóstico do outro.

Portanto as Técnicas empregadas no tratamento do TDAH adulto, mostradas

nessa monografia, são bem embasadas teoricamente, mas necessitam de mais

avaliação e documentação adequada para criar uma intervenção eficaz que abranja

todas as especificidades desse transtorno.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tem aumentando o número de estudos relacionados ao TDAH adulto, mas vem

crescendo mais na forma como ele se mostra, nas peculiaridades do critério

diagnóstico, e nas formas de tratamento medicamentoso, enquanto no que tange o

tratamento psicológico, a TCC apresenta algumas técnicas que podem ser usadas

no tratamento, mas os estudos ainda são tímidos, principalmente os que objetivam

mostrar os resultados.

Portanto, o seguinte trabalho mostra que o TDAH em adultos é um campo novo

e desafiador que a TCC tem a capacidade de explorar, e pode contribuir muito para

evolução do tratamento e consequente melhora na qualidade de vida do paciente.

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REFERENCIAS

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ROIZMAN, L.S. Porto Alegre, Artmed, 2002.

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ANEXO

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Samir de Oliveira Nascimento, afirmo que o presente trabalho e suas devidas

partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral

sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “Técnicas de Terapia Cognitivo Comportamental para o tratamento de

TDAH em adultos”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em

Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de

quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por

mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais

decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________

Assinatura do (a) Aluno (a)