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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL THAIANE MARIA EUFRÁSIO DE ALENCAR ESTILO DE VIDA MINIMALISTA: Como reduzir o consumo fomenta a diminuição de impactos ambientais negativos NATAL/ RN 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVILCURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

THAIANE MARIA EUFRÁSIO DE ALENCAR

ESTILO DE VIDA MINIMALISTA: Como reduzir o consumo fomenta a diminuição de

impactos ambientais negativos

NATAL/ RN

2021

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THAIANE MARIA EUFRÁSIO DE ALENCAR

ESTILO DE VIDA MINIMALISTA: Como reduzir o consumo fomenta a diminuição de

impactos ambientais negativos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado àUniversidade Federal do Rio Grande do Nortecomo parte dos requisitos necessários para aobtenção do título de Bacharel em EngenhariaAmbiental.

Orientadora:

Professora Dra. Joana Darc Freire de Medeiros

Co Orientadora:

Professora Dra. Pollyana Souza Castro

NATAL/RN

2021

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THAIANE MARIA EUFRÁSIO DE ALENCAR

ESTILO DE VIDA MINIMALISTA: Como reduzir o consumo fomenta a diminuição de

impactos ambientais negativos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado àUniversidade Federal do Rio Grande do Nortecomo parte dos requisitos necessários para aobtenção do título de Bacharel em EngenhariaAmbiental.

MONOGRAFIA APROVADA EM ___/___/ 2021

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Professora Dra. Joana Darc Freire de Medeiros(Orientadora)

___________________________________________________

Professora Dra. Pollyana Souza Castro(Co Orientadora)

___________________________________________________

Professora Dra. Hérika Cavalcante Dantas da Silva(Examinadora - UFRN)

___________________________________________________

Professor Dr. Sérgio Alexandre de Moraes Braga Junior

(Examinador - UFRN)

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

ALENCAR, Thaiane Maria Eufrásio de.Estilo de vida minimalista: como reduzir o consumo fomenta a

diminuição de impactos ambientais negativos / Thaiane MariaEufrásio de Alencar. - 2021.

66f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental,Natal, 2021.

Orientadora: Dra. Joana Darc Freire de Medeiros.Coorientadora: Dra. Pollyana Souza Castro.

1. Consumismo - Monografia. 2. Indústria de bens de consumo -Monografia. 3. Danos ambientais - Monografia. 4. Minimalismo -Monografia. 5. Desenvolvimento sustentável - Monografia. I.Medeiros, Joana Darc Freire de. II. Castro, Pollyana Souza. III.Título.

RN/UF/BCZM CDU 628.3

Elaborado por RAIMUNDO MUNIZ DE OLIVEIRA - CRB-15/429

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RESUMO

O sistema de produção capitalista molda o indivíduo para ser adepto a uma sociedade deconsumo. Esta, por sua vez, esbanja um estilo de vida completamente insustentável para o meioambiente, incentivando o consumismo e praticamente ignorando os impactos ambientaisnegativos causados pela ação e pela indústria de bens de consumo. Com o aumento daspreocupações acerca da sustentabilidade, torna-se cada vez mais evidente, senão urgente, anecessidade de promover e adotar práticas que contrariem o consumo exacerbado, de forma que odesenvolvimento entre em consonância com a conservação e preservação da biosfera. Nestecontexto, o ‘estilo de vida minimalista’ surge como um movimento que se contrapõe aoconsumismo, aliando à discussão temáticas como saúde, bem-estar e meio ambiente. Omovimento minimalista, portanto, defende que se viva somente com o essencial, partindo doprincípio de que a felicidade não está nas coisas e no ato de possuir, como a sociedade deconsumo implicitamente propõe. Ainda são escassos, no entanto, os estudos que se dedicam aanalisar o movimento como princípio de uma vida mais sustentável. Dessa maneira, objetivou-seneste trabalho elaborar uma revisão bibliográfica sobre o tema ‘estilo de vida minimalista’,propondo uma vertente com foco na temática ambiental e identificando impactos ambientaisnegativos fomentados pelo consumismo, relacionados à indústria de bens de consumo, através dosramos têxtil (moda), de alimentos e de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), paraanalisar como a adoção ao minimalismo em escala significativa é capaz de contribuir para aredução destes impactos. Como os estudos analisados indicaram que reduzir o consumo éfundamental para a conservação e preservação do planeta, sendo o minimalismo eficiente para talredução, a hipótese defendida tornou-se válida.

Palavras-chave: Consumismo. Indústria de bens de consumo. Danos ambientais. Minimalismo.Desenvolvimento sustentável.

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ABSTRACT

The capitalist production system shapes the individual to be adept at a consumer society. This, inturn, exudes a completely unsustainable lifestyle for the environment, encouraging consumerismand practically ignoring the negative environmental impacts caused by the action and theconsumer goods industry. With the increase in concerns about sustainability, it becomesincreasingly evident, if not urgent, the need to promote and adopt practices that counteractexacerbated consumption, so that development is in line with the conservation and preservation ofthe biosphere. In this context, the ‘minimalist lifestyle’ emerges as a movement that opposesconsumerism, combining the discussion of topics such as health, well-being and the environment.The minimalist movement, therefore, defends that one lives only with the essential, assuming thathappiness is not in things and in the act of possessing, as the consumer society implicitlyproposes. However, studies dedicated to analyzing movement as a principle of a more sustainablelife are still scarce. Thus, the objective of this work was to elaborate a bibliographic review on thetheme "minimalist lifestyle", proposing a strand focused on the environmental theme andidentifying negative environmental impacts fostered by consumerism, related to the consumergoods industry, through the branches textile (fashion), food and personal hygiene, perfumery andcosmetics (HPPC), to analyze how the adoption of minimalism on a significant scale is capable ofcontributing to the reduction of these impacts. As the analyzed studies indicated that reducingconsumption is fundamental for the conservation and preservation of the planet, with minimalismbeing efficient for such reduction, the thesis defended became valid.

Keywords: Consumerism. Consumer goods industry. Environmental damage. Minimalism.Sustainable development.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Impactos ambientais negativos da indústria têxtil…………………………… 29

Quadro 2 - Impactos ambientais negativos da indústria alimentícia…………….... 37

Quadro 3 - Impactos ambientais negativos da indústria HPPC………………….... 42

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LISTA DE SIGLAS

ABIHPEC Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos

ACVs Avaliações de Ciclo de Vida

AIA Avaliação de Impactos Ambientais

CAFe Comunidade Acadêmica Federada

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CETESB Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental

GEE Gases de Efeito Estufa

GTSC Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030

HPPC Seguimento de Produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

MSL Materials Systems Laboratory

NRDC Natural Resources Defense Council

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

ODS Objetivo de Desenvolvimento Sustentável

ONU Organização das Nações Unidas

P+L Produção Mais Limpa

SVB Sociedade Vegetariana Brasileira

UFRN Universidade Federal do Rio Grande Norte

WHO World Health Organisation

WRI World Resources Institute

WWF World Wide Fund for Nature

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………... 8

2 METODOLOGIA…………………………………………………………... 12

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………………….. 15

3.1 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA..……………………………… 15

3.2 CONSUMISMO……………………………………………………………... 17

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL…………….................................. 21

3.4 INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO........................................................ 28

3.4.1 Impactos ambientais negativos da indústria têxtil....................................... 29

3.4.2 Impactos ambientais negativos da indústria de alimentos.......................... 36

3.4.3 Impactos ambientais negativos da indústria de higiene pessoal, produtos

cosméticos e perfumaria (HPPC).................................................................. 42

3.5 MINIMALISMO E O ESTILO DE VIDA MINIMALISTA........................... 46

3.6 COMO A ADESÃO AO MINIMALISMO FOMENTA A DIMINUIÇÃO

DE IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS............................................... 51

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 55

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 57

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1 INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios atuais da humanidade é alcançar o desenvolvimento social,

econômico e tecnológico atrelado à conservação e preservação do meio ambiente. Mas, para

que isso seja possível, os pilares da sustentabilidade, compostos pelo crescimento econômico,

meio ambiente e avanço social, precisam conviver de forma harmônica em relação triangular.

De acordo com Holdgate (1991), melhorar a qualidade de vida humana sem ultrapassar os

limites da capacidade de suporte dos ecossistemas é apontado como um dos conceitos

atribuídos ao termo ‘desenvolvimento sustentável'. Para a Constituição Federal Brasileira de

1988, Artigo 225, Capítulo VI, este possui leve variação: “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).

No entanto, a ideia deste desenvolvimento foi concebida tardiamente, apenas em 1987,

com a publicação do “Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum”, segundo Libera,

Calgaro e Rocha (2020, p. 138). Neste período, as preocupações relativas às temáticas

ambientais tomaram posse de discussões ao redor do mundo, tornando-se assunto cada vez

mais abordado. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu um plano de ação com

17 objetivos para o desenvolvimento sustentável, sendo um deles referente ao Consumo e

Produção Responsáveis, Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 12.

Implementada na Agenda 2030, isto é, plano criado em 2015 onde se estabelecem esses

objetivos (que devem ser alcançados até 2030), a meta 12.8 do ODS 12 define que até o ano

final deve-se “garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação relevante e

conscientização sobre o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a

natureza” (AGENDA 2030, [201-]). Mas será que estamos próximos dessa ansiada realidade?

Segundo Van Bellen (2004, p. [1]),

a reflexão sobre o tema desenvolvimento, juntamente com o aumento dapressão exercida pela antroposfera sobre a ecosfera, levou ao crescimento daconsciência acerca dos problemas ambientais gerados por padrões de vidaincompatíveis com o processo de regeneração do meio ambiente.

Libera, Calgaro e Rocha (2020, p. 138) prosseguem:

em que pese os esforços teóricos produzidos, as teorias que permeiam asustentabilidade e o desenvolvimento sustentável encontram óbices eobjeções, quando questionadas acerca da plausibilidade de concretização deseus ideais na esfera material, uma vez que, saindo do plano da abstração, a

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realidade posta se mostra complexa. Nesta esteira, um inimigo comum domeio ambiente [...] e da própria efetivação da sustentabilidade mostra suaface: o modo de produção capitalista.

Este modo de produção estimula e se baseia na acumulação de bens, gerando o

consumismo, que pode ser entendido como um “procedimento caracterizado pela aquisição ou

consumo ilimitado, e muitas vezes desnecessário, de serviços e bens duráveis” (MICHAELIS,

2021). Bell (1997 apud GERBASI, 2014, p. 65) afirma que “o consumo se dá no contexto de

ascensão do capitalismo mundial e atribui essa causa ao incrível aumento do gozo material

que, de modo geral, teve significativos avanços”. Bauman (2008) explica ainda que a

sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar a não satisfação de seus membros

(e assim, em seus próprios termos, causar a infelicidade deles). Nesse contexto, o conceito de

‘felicidade’ atrela-se à ideia de possuir e usufruir, no que Costa (2005) descreve como

indivíduos cedendo à ilusão de acreditar que a aquisição de objetos materiais trará felicidade,

atitude que se configura em possível insatisfação emocional crônica responsável por torná-lo

um consumidor modelo. Ou seja, o ímpeto pelo consumo não teria existido sem o desejo

interiorizado de felicidade.

"A maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada, primeiro e acima de

tudo, pelo dever de desempenhar o papel de consumidor" (BAUMAN, 2001, p. 87). Segundo

Santos (2011, p. 3), nenhum dos estudos (relatórios) ou convenções realizadas sobre o meio

ambiente colocam em questão o modo de produção, organização e relações de produção da

sociedade capitalista; ao contrário, defendem – como questão ideológica e política – a

possibilidade de um desenvolvimento capitalista sustentável. Nesse sentido, o autor levantou a

seguinte problemática: seria possível, no interior da lógica de acumulação e expansão do

capital, o desenvolvimento econômico sustentável?

Perguntas semelhantes a esta já vinham sendo levantadas. Furtado (1974) questionava

o que poderia acontecer ao nosso planeta se o desenvolvimento econômico, desejado por

todos os povos da terra, chegasse efetivamente a concretizar-se, isto é, caso as atuais formas

de vida dos povos ricos fossem universalizadas. O autor respondeu a essa pergunta afirmando

que, se tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio

ambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão

elevado) que o sistema econômico mundial entraria necessariamente em colapso. Tal

afirmação expõe a completa insustentabilidade existente por trás do modelo de consumo dos

países ricos, onde, por muitas vezes, “ocorre uma despreocupação com os efeitos reais que o

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capitalismo está oferecendo sobre o meio ambiente” (LIXIESKI SELL; ARAÚJO, 2020, p.

147).

The Worldwatch Institute (2010) apontou para o aumento de 50% do uso de recursos

globais de 1980 até 2010 (ano do estudo em questão), valor com possibilidade de crescimento

rápido pelas décadas à frente, considerando-se que mais de 5 bilhões de pessoas, que

atualmente consomem um décimo dos recursos per capita do europeu médio, tentam seguir o

caminho insustentável aberto pelos ricos. Vale ressaltar que para produzir bens de consumo

precisa-se retirar recursos, os quais são inseridos em escalas produtivas que envolvem

diversas problemáticas ambientais, caracterizando a gigante chamada ‘indústria de bens de

consumo’, foco deste estudo, como uma das grandes responsáveis pela degradação ambiental.

“A evidência à qual não podemos escapar é que, em nossa civilização, a criação de valor

econômico provoca, na grande maioria dos casos, processos irreversíveis de degradação do

mundo físico” (FURTADO, 1974, p. 17). Toda e qualquer produção desta gigante gerará,

mesmo que minimamente, impactos ambientais negativos.

Outro fato é que: se há quem compre, haverá quem venda. Por mais que empresas

dessa indústria sejam paulatinamente ‘forçadas’ a seguirem por caminhos sustentáveis à

medida que as preocupações ambientais aumentam, ainda há um longo percurso pela frente.

Em complemento ao que já foi dito, até mesmo a corporativa mais sustentável de todas trará

algum impacto ambiental negativo. Considerando que desde 1970 utilizamos todos os

recursos naturais existentes para o ano inteiro, antes mesmo do ano acabar, segundo dados de

Earth Overshoot Day (2020), reduzir o consumo não é uma opção, mas sim, uma real

obrigação de cada habitante (em condição de consumidor) deste planeta. The Worldwatch

Institute (2010, p. XXIV) constata:

Embora o consumismo permaneça pujante e entranhado, de modo algumpoderá ser tão durável como a maioria supõe. Nossas culturas estão, de fato,plantando as sementes de sua própria destruição. No final, o instinto humanode sobrevivência deverá triunfar sobre a compulsão para consumir aqualquer custo.

Mocarzel e Rojas (2015, p. 131) defendem a existência de um movimento atual, em

constante crescimento, “que tem a internet como lócus de reunião e proliferação, denominado

minimalismo”. Os autores explicam que a ideia do minimalismo gira em torno de uma

simplicidade voluntária, começando pela redução do consumo e alcançando todos os âmbitos

da vida, como o trabalho, a alimentação, as relações, a saúde e qualquer prática cotidiana, em

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geral. Dessa forma, quem adere a este movimento procura viver com menos e consumir

somente o necessário, deixando de lado o que seria supérfluo. Hoje ganha a cena com

podcasts, redes sociais, sites, fóruns, blogs, vídeos e documentários dedicados ao assunto,

percorrendo todo o planeta e ganhando adeptos justamente por tratar dequestões que afetam toda a humanidade, como o consumismo excessivo e osproblemas trazidos por ele: a falta de tempo, o alto grau de estresse, a cargade trabalho cada vez maior a que nos sujeitamos, as dívidas financeiras cadavez maiores, as doenças psicossomáticas que afetam cada vez mais aspessoas, como depressão, pânico e ansiedade (MOCARZEL; ROJAS, 2015,p. 131-132).

O movimento minimalista pode ser visto como uma afronta ao capitalismo

contemporâneo, por motivar a redução do consumo e a desaceleração do cotidiano. É também

uma forma de colocar em prática o que foi proposto pelo ODS 12 da Agenda 2030, da ONU,

considerando que se trata de um estilo de vida que está em harmonia com a natureza. Libera,

Calgaro e Rocha (2020) alegam que as teorias acerca da aplicação da sustentabilidade podem

não funcionar na prática, no entanto, a hipótese que será defendida ao decorrer deste trabalho

é a de que o movimento minimalista demonstra ser totalmente aplicável.

Logo, objetiva-se aqui elaborar uma revisão bibliográfica sobre o tema ‘estilo de vida

minimalista’, interligando-o a temáticas relacionadas. Para tanto, serão identificados

comprovados impactos ambientais negativos advindos do consumismo, motivados pela

indústria de bens de consumo e em função do sistema capitalista de produção, para então

apresentar o minimalismo como alternativa viável na busca da sustentabilidade. O

minimalismo, por sua vez, será exposto de forma objetiva, exibindo a abordagem de autores

atuais, com os seus benefícios e sua principal dificuldade (associada à implementação no

cotidiano) apontados. Ao fim, será proposto o minimalismo com foco no segmento ambiental,

para que a perspectiva da conservação e preservação do meio ambiente seja sua principal

conduta.

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2 METODOLOGIA

Este estudo está disposto no modelo de revisão bibliográfica, que segundo Marconi e

Lakatos (2003), se trata de um apanhado geral dos principais trabalhos já realizados,

revestidos de importância, capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o

tema. Neste sentido, buscou-se abranger parte da bibliografia já tornada pública em relação ao

tema de estudo, com foco em publicações técnicas, tais como livros, revistas e publicações

científicas, monografias, teses, cartilhas, documentários e filmes, disponibilizados via internet

ou em material físico.

Quanto ao tipo, a pesquisa se refere à ‘exploratória’. Tripodi et al. (1975) apud

Marconi e Lakatos (2003) afirmam que as investigações exploratórias são de cunho empírico,

cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade:

desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou

fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar

conceitos. Afunilam ainda para os ‘estudos exploratório-descritivos combinados’, que têm por

objetivo descrever completamente determinado fenômeno, podendo ser encontradas tanto

descrições quantitativas e/ou qualitativas quanto acumulação de informações detalhadas,

como as obtidas por intermédio da observação participante.

A fim de estabelecer limites para o estudo, foi necessário escolher alguns dos setores

que compõem a indústria de bens de consumo, a qual está atrelada à problemática aqui

discutida. Responsáveis pela geração de impactos ambientais negativos de grande magnitude,

os segmentos têxtil (moda), de alimentos e de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

(HPPC) foram selecionados como alvo de estudo deste trabalho, o que não exclui a existência

de outros ramos industriais (de bens de consumo) tão poluentes quanto estes (ou até mais).

Porém, é imprescindível destacar que corporativas dos setores têxtil, alimentos e HPPC estão

sempre presentes em rankings de empresas que mais corroboram para a poluição de corpos

hídricos, especialmente de oceanos, e/ou poluição atmosférica, e/ou desmatamento e/ou

agravamento de mudanças climáticas. É o que informam relatórios anuais, como, por

exemplo, o elaborado pela organização Break Free From Plastic (2020), a qual identificou as

10 empresas que mais poluem com plástico no mundo, sendo nove delas pertencentes aos

segmentos em questão.

Quanto a coleta do material digital, além de conteúdo audiovisual disponível em

plataformas de vídeo e/ou streaming e de cartilhas encontradas em sites de

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organizações/entidades ambientais, duas outras grandes plataformas científicas foram

exploradas: o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e o Google Acadêmico. As duas disponibilizam conteúdo científico em

abundância, sendo o Google Acadêmico inteiramente gratuito e o Portal de Periódicos da

CAPES parcialmente, possuindo aba de acesso restrito por meio do ‘acesso CAFe’ (CAFe:

Comunidade Acadêmica Federada), de modo que os discentes da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) têm acesso ao conteúdo restrito.

O Portal de Periódicos da CAPES foi criado em 2000 para democratizar o acesso ao

conhecimento científico no país, sendo uma biblioteca virtual que reúne conteúdo de alta

qualidade, assinado com editores e associações científicas internacionais (CAPES/MEC,

[2011]). Segundo Caregnato (2011, p. 75),

o Google Acadêmico, diferentemente de outras bases de dadosmultidisciplinares [...], é uma ferramenta completamente gratuita quepermite localizar trabalhos acadêmicos de vários tipos (por exemplo, artigosde congressos, teses e dissertações, além de artigos de periódicos de acessoaberto ou pagos), em múltiplas línguas (inclusive português),disponibilizadas em repositórios na web ou sites acadêmicos, além dedeterminar a frequência com que foram citados em outras publicaçõesacadêmicas.

Na busca, foram utilizados os seguintes subtemas: capitalismo, consumismo,

minimalismo, desenvolvimento sustentável e impactos ambientais negativos causados pela

indústria de bens de consumo (têxtil, alimentícia e HPPC). Essas foram, também, algumas das

palavras-chave buscadas para se chegar ao material desejado, podendo haver variação de sua

escrita para outras linguagens, como, por exemplo, para a Língua Inglesa. Ao fim, foram

coletados cerca de 167 estudos, dos quais selecionou-se 97 (dada a necessidade de contemplar

questões bastante específicas dispostas em diferentes materiais), escritos tanto em Português

quanto em Inglês. Dessa forma, buscou-se limitar ‘quanto ao assunto’, optando pelos tópicos

descritos para impedir que a revisão bibliográfica se tornasse ou muito extensa ou muito

complexa (MARCONI e LAKATOS, 2003).

Com o intuito de caracterizar os danos futuros fomentados pelo consumo exacerbado e

de incentivar a propagação destes em simples exposição, o que garantiria uma maior

quantidade de pessoas cientes da problemática, bem como por ser uma forma de facilitar a

compreensão, foram geradas matrizes de impactos para os três segmentos da indústria de bens

de consumo estudadas. As matrizes foram construídas com base nos conceitos apresentados

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por Sánchez (2013) para a etapa de ‘identificação dos impactos ambientais’, do estudo de

Avaliação de Impactos Ambientais (AIA). Apesar das etapas subsequentes à AIA não serem

continuadas, o livro servirá de base para esta identificação, em especial o capítulo 8, que versa

exatamente sobre a temática. No caso deste estudo, foram analisados danos atuais

documentados e possibilidades futuras para a construção de quadros de identificação de

impactos ambientais negativos e seus respectivos meios impactados.

Em função da indisponibilidade de dados quantitativos que comprovem a hipótese,

foi-se necessário reunir uma vasta literatura para se chegar a conclusões. Considerando que

realizar estudos mais profundos que quantificassem, de fato, a redução dos impactos

ambientais em questão a partir do emprego do estilo de vida minimalista (seja ele em sua

abordagem atual ou com foco no segmento ambiental) seria inviável, uma vez que se trata de

um assunto relativamente novo, não havendo dados quantitativos concretos que comprovem a

tese. A discussão aqui apresentada foi embasada em conteúdo possível de ser reunido e, em

conjunto, possibilitou conclusões.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

O capitalismo é definido pelo dicionário Michaelis (2021) como uma organização

econômica em que as atividades de produção e distribuição, obedecendo aos princípios da

propriedade privada, da competição livre e do lucro, produzem uma divisão da sociedade em

duas classes antagônicas, porém vinculadas pelo mecanismo do mercado: a dos possuidores

dos meios de produção e a do proletariado industrial e rural. Noronha e Barbosa (2016, p. 46)

completam explicando que, “na cultura ocidental, de modo geral, há três grandes

estratificações sociais dadas em função do modo de produção capitalista: alta, média e baixa”.

Já o modo de produção é um conceito que, com Marx, “passou a designar as formas sociais

historicamente existentes para produzir e reproduzir as condições materiais de existência da

sociedade” (COGGIOLA, 2016, p. 9).

Quanto ao contexto histórico, o modo de produção capitalista teve seu surgimento na

segunda metade do século XIX, conforme Osvaldo Coggiola pontua:

A sociedade capitalista, como foi chamada a partir da segunda metade doséculo XIX, ou seja, o sistema em que a relação entre trabalho assalariado ecapital domina e dinamiza o conjunto das relações sociais, é fenômenohistórico relativamente recente. Nos séculos XIV e XV ela fez sua apariçãoem várias cidades mediterrâneas (especialmente nas cidades costeirasitalianas), mas a era histórica em que se projetou mundialmente data doséculo XVI, quando a acumulação de capital se transformou na alavanca datransformação econômica de algumas sociedades europeias (que, impelidaspor essa acumulação e suas consequências, se lançaram à conquista domundo), atingindo nelas tanto a produção como a distribuição e o consumodos bens. Os padrões de troca, distribuição e consumo são, no capitalismo,derivados da produção (COGGIOLA, 2016, p. 33).

“As distintas faces do capital (comercial, bancário, agrário, industrial, entre outros) no

interior das sociedades resultam, em geral, da existência de uma forma dominante que conduz

o processo da acumulação capitalista” (POCHMANN, 2016, p. 18).

Nas últimas décadas, é fato que um conjunto de mudanças sociais, políticas,econômicas, culturais e tecnológicas, processadas no interior da realidadesocial, tem constituído uma nova fase do regime de acumulação do capital,cujo objetivo principal é instaurar novas formas de subordinação, exploraçãoe controle sobre o trabalho, por meio de novos modelos de gestão daprodução e de organização do trabalho [...] (SANTOS, 2011, p. 2).

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Para Marx (2015), a primeira condição da acumulação é que o capitalista consiga

vender suas mercadorias e ‘reconverter’ em capital a maior parte do dinheiro obtido com as

vendas. Assim, a aquisição e acumulação de bens passou a ser estimulada, de forma que, em

um contexto atual, esta “acumulação virou algo tão sutil na sociedade que não percebemos

que a exaltação da renda e do consumo como respostas às mudanças sociais é leviana e

esconde toda a dominação simbólica do capitalismo” (NORONHA e BARBOSA, 2016, p.

41). Segundo Proni (1997),

à medida que agem no sentido de desobstruir as barreiras limitantes damáxima acumulação de riqueza, as leis gerais do capitalismo produzemresultados contraditórios capazes de gerar crises que provocam mudançassignificativas na organização econômica e na própria organização social(PRONI, 1997, p. 3).

“A sociedade capitalista não é qualquer sociedade em que exista produção mercantil,

mas só aquela em que a força de trabalho humana é transformada, de modo geral, em

mercadoria” (COGGIOLA, 2016, p. 36). De acordo com escrituras traduzidas de Karl Marx

(2015), dado o grau de exploração da força de trabalho, a massa de mais-valor é determinada

pelo número de trabalhadores simultaneamente explorados, número que corresponde, ainda

que em proporção variável, à grandeza do capital; a acumulação do capital é, portanto,

multiplicação do proletariado. “[...] A reprodução do capital implica necessariamente na

reprodução da força de trabalho na medida necessária à acumulação de capital”, pontua

Coggiola (2016, p. 38). O autor, citando Marx, destaca mais fatos defendidos pelo filósofo

acerca do trabalho no capitalismo:

O operário livre, pelo contrário, vende-se a si mesmo, e além disso porpartes. Vende em leilão oito, dez, doze, quinze horas da sua vida, dia apósdia, a quem melhor pagar, ao proprietário das matérias primas, dosinstrumentos de trabalho e dos meios de vida, isto é, ao capitalista. Ooperário não pertence nem a um proprietário nem à terra, mas oito, dez,doze, quinze horas da sua vida diária pertencem a quem as compra. Ooperário, quando quer, deixa o capitalista ao qual se alugou, e o capitalistadespede-o quando acha conveniente, quando já não tira dele proveito ou oproveito que esperava. Mas o operário, cuja única fonte de rendimentos é avenda da força de trabalho, não pode deixar toda a classe dos compradores,isto é, a classe dos capitalistas, sem renunciar à existência. Ele não pertencea este ou àquele capitalista, mas à classe dos capitalistas, e compete-lhe a eleencontrar quem o queira, isto é, encontrar um comprador dentro dessa classedos capitalistas (MARX, 1976 apud COGGIOLA, 2016, p. 35).

Santos (2011, p. 2) indica que, na sociedade produtora de mercadorias, “se instauram

novas formas de dominação e controle sobre a natureza”, fator agravante da crise existente

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entre ser humano e natureza. “Quando percebemos a sociedade apenas como mera reprodução

do mercado, ou seja, pela renda e pelo consumo, estamos perpetuando a naturalização da

superexploração do capital que foi transvestida em ação individual transformadora”

(NORONHA; BARBOSA, 2016, p. 41). Assim, associada às novas formas de dominação e

exploração do trabalho, a problemática ambiental, que surge num novo patamar da

acumulação capitalista, tem a ver com a própria desarticulação do mundo do capital, que

conduz cada vez mais ao estranhamento, à coisificação e à superexploração tanto dos

trabalhadores como da natureza (SANTOS, 2011).

Sem meias palavras, o capitalismo é um sistema parasitário. Como todos osparasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre umorganismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não podefazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, ascondições de sua prosperidade ou mesmo de sua sobrevivência (BAUMAN,2010, p. 8).

É com esse trecho do livro Capitalismo Parasitário (2010), de Zygmunt Bauman, que

daremos início à jornada que desmascara a vida para o consumo, pregada como um ideal a ser

seguido no capitalismo contemporâneo. Nesta ocasião, o despertar para um desejo insaciável

por aquisição associado à acumulação de bens ocorreu, como explicam Noronha e Barbosa

(2016, p. 42) em trecho: “há uma premissa da perda da centralidade do trabalho, haja vista

que o consumo tornou-se o protagonista [...]”. Bauman (2010, p. 29) conclui que houve uma

transição da sociedade ‘sólida’ de produtores para uma sociedade ‘líquida’ de consumidores,

uma vez que “a fonte primária de acumulação capitalista se transferia da indústria para o

mercado de consumo”. E ainda, Jameson e Cevasco (1996) apontam para o fato de a

economia querer fabricar produtos que pareçam novos com uma urgência cada vez maior,

atribuindo posição e função estrutural gradativamente mais essenciais à inovação estética e ao

experimentalismo.

3.2 CONSUMISMO

Viver para trabalhar, trabalhar para gerar capital, gerar capital para consumir e/ou para

ser bem visto. Nesta conjuntura, é observado que o atual período do capitalismo ressignifica a

forma de viver, propondo um padrão praticamente inalcançável. Segundo relatório publicado

pela Oxfam (2020), 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de

pessoas, o equivalente a cerca de 60% da população mundial. Este é o reflexo de uma

sociedade desigual. Com listas atualizadas anualmente, uma breve pesquisa na internet nos

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permite encontrar sites destacando quem são as pessoas mais ricas do mundo, estando, entre

elas, donas de e-commerce variados, grifes, marcas de industrializados e outros. São taxadas

como ‘bem sucedidas’ por possuírem enorme fortuna e empresas mundialmente conhecidas,

apresentadas como verdadeira inspiração pelos meios de comunicação, olhadas com

admiração por terem alcançado tal posição.

Mas, afinal, por que as pessoas com alto poder aquisitivo despertam tanta admiração e

são vistas como inspiradoras? É justamente por estarem em primeiro lugar na competição

criada pelo sistema capitalista. Representando uma minúscula parte da sociedade, desfrutam,

em sua maioria, deste padrão de vida (quase) inalcançável e prestigiado, repleto de consumo

exacerbado, que é vendido como sinônimo de felicidade e sucesso. No entanto, não é apenas

este grupo seleto o alvo da questão, países desenvolvidos esbanjam padrões de consumo

elevados de forma naturalizada, o que já é suficiente para reforçar e disseminar esse

comportamento para países em desenvolvimento, como afirma o The Worldwatch Institute

(2010). “Há uma cultura que impele os indivíduos ou os grupos a consumirem, por mais que

este não seja um desejo consciente'' (MOCARZEL; ROJAS, 2015, p. 138). Sobre os tópicos

levantados, Bauman (2008, p. 61) complementa:

[...] Ao contrário da promessa vinda lá do alto e das crenças populares, oconsumo não é um sinônimo de felicidade nem uma atividade que sempreprovoque sua chegada. O consumo, visto na terminologia de Layard comouma "esteira hedonista", não é uma máquina patenteada para produzir umvolume crescente de felicidade. O contrário parece ser válido: como osrelatórios coligidos com muito cuidado pelos pesquisadores deixamimplícito, entrar numa "esteira hedonista" não faz aumentar a soma total desatisfação de seus praticantes. A capacidade do consumo para aumentar afelicidade é bastante limitada; não pode ser estendida com facilidade paraalém do nível de satisfação das "necessidades básicas de existência" [...].

Em função de seu sentido estar atrelado à ideia de felicidade e satisfação, o consumo

conseguiu se estender e se consolidar em muitas áreas da vida humana. “A volatilização e a

voracidade da economia de consumo com seus lucros e rendimentos direcionados à satisfação

dos consumidores, são fatores que dão o tom das regras do capitalismo” (GERBASI, 2014, p.

63). Gerbasi (2014, p. 64) alega ainda que,

os padrões de consumo transcenderam a planificação e a existência dafabricação de mercadorias, indo muito além delas: o indivíduo consumidorna sociedade líquida desvela maneiras de consumo que se expandem e secristalizam nas dimensões do entretenimento, algo que anteriormente

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situava-se apenas em bens de consumo. Produções artísticas, música, cinemae TV também se interligam ao consumo.

Nasce uma era consumista. “O consumismo chega quando o consumo assume o

papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho” (BAUMAN, 2008, p.

41). Campbell (2004) citado por Bauman (2008) afirma que a ‘revolução consumista’ passou

a ser ‘consumismo’ quando o ato de consumir tornou-se especialmente importante, senão

central, para a vida da maioria das pessoas, tido como um verdadeiro propósito da existência,

considerando ainda que experimentar tais emoções repetidas vezes, de fato, passou a sustentar

a economia. De acordo com Baudrillard (1995, p. 15-16),

vivemos o tempo dos objetos, existimos segundo o seu ritmo e emconformidade com a sucessão permanente. Atualmente, somos nós que osvemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as civilizaçõesanteriores eram os objetos, monumentos perenes que sobreviviam àsgerações humanas.

Para que o ciclo consumista se perpetue, meios personalizados para facilitar compras

foram implementados. De acordo com Gerbasi (2014, p. 64) “a indução à compra de

mercadorias e a facilidade para o crédito financeiro constituem estratégias para aproximar

uma grande massa de consumidores”. O autor alega ainda que um exemplo onde se vê nítido

o paradigma da personalização do consumo é o desenvolvimento do e-commerce, comércio

eletrônico que permite a realização de compras sem sair de casa ou de onde estiver, desde que

se tenha um aparelho com acesso à internet.

Empresas de expressividade têm diminuído inclusive os custos com sualogística em suas lojas e tem concentrado esforços no aperfeiçoamento emseu site de compras, e com isso economizado grandes cifras, uma que vez osgastos para gerenciar e hospedar uma página na internet é muito menor doque manter enormes espaços físicos (GERBASI, 2014, p. 66).

Desempenhando um papel fundamental, a publicidade e a propaganda se esforçam

para atrair compradores, seja através de anúncios convidativos ou de vídeos que criem

proximidade com o possível cliente. Para Bauman (2006, apud GERBASI, 2014, p. 63), “a

propaganda disseminada por meios de comunicação - internet e televisão - nesse contexto nos

faz crer na promessa de satisfação mediante consumo, mas que, na verdade, tem por base a

contínua insatisfação dos desejos”. “A formação de uma massa de consumidores, cada dia

mais especializada e individualizada depende dos imperativos do mercado para inculcar a

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ideologia do consumo, ou seja, a manipulação implícita da necessidade de seus produtos''

(GERBASI, 2014, p. 65).

Há autores que defendem ser impossível negar as chamadas da publicidade. É o caso

de Moura (2018, p. 7), o qual afirma que “a força da publicidade nas pessoas torna-as

vulneráveis e elimina qualquer possibilidade de resistência frente às ‘novas necessidades’, às

fontes de desejos e às tentações irrecusáveis”. No entanto, se contrapondo a esta colocação,

acredita-se ser completamente possível renegar a este convite, e classificá-lo como ‘tentação

irrecusável’ é um tanto quanto superestimado. Ao adquirir a concepção do quão

imprescindível é a mudança do cenário consumista, rapidamente o indivíduo se torna capaz de

modificar sua visão frente ao desejo de possuir, conseguindo controlar os impulsos e evitando

a manipulação.

Mas por quê é tão essencial e urgente a necessidade de redução do consumo em escala

global? Em linhas gerais, muito é exigido dos sistemas ambientais para que os níveis de

consumo se mantenham tão elevados. Como apontam Libera, Calgaro e Rocha (2020, p. 153),

“o que se afigura é uma insustentabilidade ambiental em face da produção material da vida

nos moldes do capitalismo''. Desse modo, é preciso que a sociedade repense a sustentabilidade

e a forma como a mesma é utilizada no modo de produção capitalista, visto que há a

necessidade de uma nova racionalidade ambiental que fortaleça a proteção ambiental e

permita que a matriz de desenvolvimento econômico não seja tão predatória.

À medida que o consumismo foi se enraizando em uma cultura depois daoutra nos últimos cinquenta anos, tornou-se um vigoroso propulsor doaumento inexorável da demanda por recursos e da produção de lixo quemarca nossa era. Naturalmente, impactos ambientais dessa magnitude nãoseriam possíveis sem uma explosão demográfica inédita, aumento de riquezae as descobertas científicas e tecnológicas. Mas as culturas de consumosustentam, e exacerbam, as demais forças que têm permitido às sociedadeshumanas crescer mais do que seus sistemas de sustentação ambiental (THEWORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p. XXII).

Surge ainda uma nova vertente dentro do consumismo para tentar alcançar aqueles que

têm consciência ecológica e evitam o consumo desnecessário. Mocarzel e Rojas (2015, p.

138) explicam que esta vertente foi criada para quem se sente culpado por consumir, com um

nicho que está em todos os setores, “desde o palito de picolé de madeira reflorestada até os

livros digitais e carros movidos a biocombustíveis, visto que as novas gerações, nascidas sob

a lógica da sustentabilidade, precisam consumir acima de qualquer culpa”, segundo a lógica

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capitalista. “Eis mais um nicho de mercado interessante: produtos para quem tem culpa. E

parece que isso vem funcionando” (MOCARZEL; ROJAS, 2015, p. 138).

Como forma de mascarar a degradação ambiental causada por empresas e as suas

irresponsabilidades socioambientais, a prática de ‘greenwash’ foi identificada. O termo é

traduzido pelo Cambridge Dictionary (2021) como uma tentativa de fazer as pessoas

acreditarem que sua corporativa está fazendo mais pelo meio ambiente do que realmente faz,

sendo visto de forma aplicada em campanhas publicitárias mundo afora. Essa é mais uma

maneira de atrair a atenção dos consumidores conscientes, tida por Libera, Calgaro e Rocha

(2020, p. 153) como “personificação do mascaramento e falseamento de produtos e

mercadorias, visando tão somente o lucro sobre a mentira e a ignorância do consumidor”.

No mais, segundo Marx (1978, apud ALVES, 2015), é a produção quem cria o

consumo, no que Alves conclui: é a “[...] produção [que] gera as necessidades, o consumo da

mercadoria é o ato derradeiro do ciclo da produção capitalista, é o que resta ao consumidor

fazer” (ALVES, 2015, p. 88). Portanto, não é justo que toda a culpa da degradação ambiental

seja colocada nas costas daqueles que consomem, quando o próprio consumo é manipulado

pelo sistema de produção, sendo o produtor o principal degradante. Porém, da mesma forma,

não se pode esquecer que há maneiras de negar o fluxo deste sistema e quebrar o ciclo,

evitando ser influenciado por ele e, consequentemente, contribuindo para a efetivação de

movimentos que compreendam a necessidade de preservação e conservação da natureza.

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Foi na década de 60 que finalmente começou-se a perceber a necessidade de preservar

e conservar o meio ambiente, ao invés de explorar recursos até a exaustão, o que deu abertura

para o nascimento do tema ‘desenvolvimento sustentável’. Libera, Calgaro e Rocha, (2020)

explicam que foi justamente nesta década que o movimento ambientalista ganhou voz,

especialmente após a comoção pública causada pelo lançamento da obra ‘Primavera

Silenciosa’ (1962) de Rachel Carson, somado aos temas ambientais debatidos pela primeira

vez à nível internacional, na Conferência de Estocolmo, em 1972. Também neste ano, o Clube

de Roma, que viu o crescimento econômico em uma rota de conflito com a sustentabilidade

ecológica, publicou outro relatório igualmente importante nomeado de ‘Os Limites do

Crescimento’, como Bosselmann (2015) destacou. O ‘Relatório Brundtland – Nosso Futuro

Comum’, de 1987, veio como momento ápice, segundo Libera, Calgaro e Rocha (2020, p.

138), visto que este concebeu a ideia de desenvolvimento sustentável, “criando uma situação

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complicada para os exploradores de recursos naturais, e principais responsáveis pela

degradação da natureza, manterem-se silentes e inertes diante da evidente crise ambiental”.

Crise essa que só foi percebida após muitos sinais dados pelo planeta. Hogan (2007

apud POTT; ESTRELA, 2017, p. 272) enunciam “eventos de poluição atmosférica, como o

ocorrido no Vale do Meuse, na Bélgica, em 1930, que deixou 60 mortos, e o ‘Grande

Nevoeiro’ ou ‘Névoa Matadora’, marcado pelo smog fotoquímico em Londres, 1952, que

resultou em mais de 4.000 mortes”. Os autores também chamam a atenção para casos de

contaminação da água, citando como exemplo o da Baía de Minamata, no Japão (1956), que

até dezembro de 1974 registrou 107 mortes oficiais e outros quase 3.000 casos em

verificação. Fonseca e Cunha (2017, p. 25) apontam que os movimentos ambientalistas

pioneiros sustentaram as bandeiras de proteção aos recursos da natureza justamente “em

virtude destes sinais de alerta que o planeta estava emitindo, especialmente a partir das

enormes catástrofes, as quais o ser humano passou a chamar de ‘fenômenos naturais’”.

“Jamais, em um período de trinta anos, em toda a história da globalização que se iniciou em

1492, foi tamanha a devastação do planeta!” (PORTO-GONÇALVES, 2004, p. 23).

Segundo o The Worldwatch Institute (2010), a capacidade ecológica da Terra

esgotou-se há mais de 40 anos, enquanto a pegada humana está aumentando. Em estudos

anuais realizados pela Global Footprint Network, foi apontado que desde o final da década de

70 a demanda da população mundial por recursos naturais é maior do que a capacidade do

planeta em renová-los. O Earth Overshoot Day, isto é, Dia de Sobrecarga da Terra, o qual

delimita a data em que a demanda da humanidade por recursos e serviços ecológicos excede o

que a Terra pode regenerar naquele ano, é calculado desde 1970 pela organização

mencionada, conforme o gráfico exposto na Figura 1:

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Figura 1: Dia de Sobrecarga da Terra - 1970 a 2020

Fonte: Earth Overshoot Day (2020)

Como observado, de maneira geral, a data estava em tendência de ocorrer cada vez

mais cedo ao longo dos anos, no entanto, este cenário mudou abruptamente em 2020.

Conforme informações fornecidas no site oficial do Earth Overshoot Day (2020), isto se deu

em função da pandemia de COVID-19, a qual paralisou diversas atividades humanas,

“demonstrando que é possível, em um curto espaço de tempo, alterar os padrões de consumo

por recursos” (EARTH OVERSHOOT DAY, 2020). Para este ano, a data ocorreu em 22 de

agosto, enquanto para 2019, foi em 29 de julho, conforme Earth Overshoot Day (2019).

Apesar de ocorrer mais tarde do que no ano anterior, ainda seriam necessários 1,6 planetas

Terra para suprir nossa atual demanda por recursos, enquanto para 2019 seriam necessários

1,75 planetas. Por estes dados, fica evidente que a humanidade está exaurindo o planeta e,

para agravar o problema, o uso dos recursos não é uniforme, sendo importante destacar:

Quando se sabe que 20% dos habitantes mais ricos do planeta consomemcerca de 80% da matéria-prima e energia produzidas anualmente, vemos-nosdiante de um modelo-limite. Afinal, seriam necessários cinco planetas paraoferecermos a todos os habitantes da Terra o atual estilo de vida que, vividopelos ricos dos países ricos e pelos ricos dos países pobres, em boa parte épretendido por aqueles que não partilham esse estilo de vida. Vemos, assim,

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que não é a população pobre que está colocando o planeta e a humanidadeem risco [...] (PORTO-GONÇALVES, 2004, p. 31).

Há quem defenda que o surgimento da temática ‘desenvolvimento sustentável’ surgiu

como uma jogada do próprio capitalismo para evitar que este seja condenado e/ou possa vir ao

fim (possibilidade ainda irrealista). É o caso promovido por Fonseca e Cunha (2017), os quais

apontam que, na verdade, a preocupação dos ideólogos do sistema capitalista que se dizem

preocupados com meio ambiente,

não é o desequilíbrio ambiental do planeta e muito menos a enormedesigualdade social que impera sobre grandes contingentes da populaçãomundial, mas sim, a possibilidade do esgotamento das principais fontes derecursos naturais, o que causaria uma gigantesca pane na cadeia produtivacapitalista, baseada, fundamentalmente, na produção de mercadorias(FONSECA; CUNHA, 2017, p. 26).

As respostas emitidas pelo planeta em decorrência das agressões contra eledirigidas tinham um significado claro e especial. A própria naturezadenunciava seu estado de desequilíbrio ambiental e mostrava que seusrecursos são finitos e que o atual modelo de exploração de seus recursos étotalmente incompatível com seu equilíbrio e com sua dinâmica naturais.Neste sentido, ela colocou em xeque a própria origem, fonte da mais-valiacapitalista: os recursos da natureza, que tem a finitude por característicabásica. Assim, os mentores do sistema capitalista não tinham alternativas, anão ser tomar o controle do incipiente movimento ambientalista, o qualdeixava totalmente à mostra sua principal contradição: a impossibilidade deconciliar a expansão ilimitada e indefinida do capital, a perpetuação damais-valia com a exploração também ilimitada dos recursos da natureza(FONSECA; CUNHA, 2017, p. 25).

O fato é que, independentemente de qual tenha sido a motivação para o seu

surgimento, o desenvolvimento sustentável é uma possibilidade real de aliar desenvolvimento

social, econômico e tecnológico à preservação e conservação do meio ambiente, seguindo na

contramão do sistema que visa apenas o crescimento econômico e, em consequência, despreza

este último. Da mesma forma, esse discurso não pode ser transcrito em ações pequenas e

isoladas que sequer irão colaborar para a redução da degradação ambiental, e muito menos

serão classificadas como efetivação da conservação e preservação da biosfera. É preciso

pensar no macro, em consequências a nível global. Não se deve permitir que o capitalismo se

aproprie do desenvolvimento sustentável e o transforme em algo superficial, disfarçado de

pequenas ações que não trarão nenhuma conscientização ambiental real, pois enquanto ele

utiliza a causa para plantar uma árvore, continuará agindo silenciosamente e desmatando

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hectares. Aplicar a verdadeira sustentabilidade ao desenvolvimento é um grande desafio, no

que já dizia Porto-Gonçalves (2004):

Eis o caminho, mais difícil sem dúvida, que haveremos de percorrer sequisermos sair das armadilhas de noções fáceis que nos são oferecidas pelosmeios de comunicação, como “qualidade de vida” ou “desenvolvimentosustentável”, que, pela sua superficialidade, preparam hoje, com toda acerteza, a frustração de amanhã. O debate ambientalista, por sua vez, adquirefortes conotações esquizofrênicas, em que a extrema gravidade dos riscosque o planeta enfrenta, contrasta com as pífias e tímidas propostas do gênero“plante uma árvore”, promova a “coleta seletiva de lixo” ou “desenvolva oecoturismo”. Dessa forma, aquele estilo de consumo e modo de produçãoque nos anos 1960 se chamou criticamente de ‘lixo ocidental’ está hojereduzido a projetos de coleta seletiva do ‘lixo ocidental’ – agora mantidosem crítica (PORTO-GONÇALVES, 2004, p. 18).

Sobre a aplicação verdadeira deste modelo, a opinião de economistas diverge. De

acordo com The Worldwatch Institute (2010), muitos deles acreditam que a economia mundial

deve continuar a crescer e que o estilo de vida simples e de baixo consumo representa uma

ameaça ao modelo econômico vigente; todavia, John Stuart Mill, fundador do capitalismo

moderno, não concorda com essa opinião, pois percebeu que a sociedade industrial, por sua

própria natureza, não poderia durar muito tempo e que a sociedade estável que deveria

substituí-la seria um lugar muito melhor. “Não consigo ver”, escreveu Mill em 1857, “o

estado estacionário do capital e da riqueza com a aversão insensível geralmente manifestada a

esse respeito pelos políticos da velha escola” (MILL, 1857 apud THE WORLDWATCH

INSTITUTE, 2010, p. 91).

Para alavancar a promoção do desenvolvimento sustentável, muitos acordos e ações

foram colocados em prática. A proposta mais recente e concreta é dada através da Agenda

2030, plano de ação já mencionado, pactuada pelos 193 países que integram a ONU e que está

determinada “a tomar as medidas ousadas e transformadoras que são urgentemente

necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável e resiliente” (GTSC

A2030, 2021). Os 17 ODS, compostos por 169 metas, são: (1) erradicação da pobreza, (2)

fome zero e agricultura sustentável, (3) saúde e bem-estar, (4) educação de qualidade, (5)

igualdade de gênero, (6) água potável e saneamento, (7) energia acessível e limpa, (8)

trabalho decente e crescimento econômico, (9) indústria, inovação e infraestrutura, (10)

redução das desigualdades, (11) cidades e comunidades sustentáveis, (12) consumo e

produção responsáveis, (13) ação contra a mudança global do clima, (14) vida na água, (15)

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vida terrestre, (16) paz, justiça e instituições eficazes, (17) parcerias e meios de

implementação.

Com a finalidade de concluir o que não foi alcançado com os Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio (ODM), os Objetivos da Agenda 2030 foram construídos

baseando-se nestes ODM, também estabelecidos pela ONU. OS ODM foram criados entre o

fim da década de 1990 e 2000 como uma série de Objetivos e Metas capazes de influenciar os

planos de desenvolvimento e políticas públicas de todos os países, além de gerar auxílio para

aqueles menos desenvolvidos nas áreas previstas, por meio de cooperação internacional e

recebimento de Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (GTSC A2030, 2021). Eram 8 Objetivos,

sendo estes: (1) acabar com a fome e com a miséria, (2) oferecer educação básica de

qualidade para todos, (3) promover a igualdade entre os sexos e valorização da mulher, (4)

reduzir a mortalidade infantil, (5) melhorar a saúde das gestantes, (6) combater a AIDS, a

malária e outras doenças, (7) garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, (8)

estabelecer parcerias para o desenvolvimento.

Por este trabalho estar relacionado ao consumo, atrelando-o à Agenda 2030 em virtude

de sua abordagem atual observa-se que o ODS de número 12 da Agenda está diretamente

relacionado à temática aqui discutida, enquanto outros Objetivos possuem relação secundária.

Segundo a AGENDA 2030 ([201-]), para que as metas estabelecidas por ele sejam

alcançadas, é indispensável que haja uma mudança nos padrões de consumo e produção capaz

de reduzir a pegada ecológica sobre o meio ambiente, medidas estas que são a base do

desenvolvimento econômico e social sustentáveis. “[...] Além disso, o objetivo prioriza a

informação, a gestão coordenada, a transparência e a responsabilização dos atores

consumidores de recursos naturais como ferramentas chave para o alcance de padrões mais

sustentáveis de produção e consumo” (AGENDA 2030, [201-]). Conforme apresentado pela

Agenda, estas são as 11 metas promovidas:

12.1 - Implementar o Plano Decenal de Programas Sobre Produção eConsumo Sustentáveis, com todos os países tomando medidas, e os paísesdesenvolvidos assumindo a liderança, tendo em conta o desenvolvimento eas capacidades dos países em desenvolvimento;

12.2 - Até 2030, alcançar gestão sustentável e uso eficiente dosrecursos naturais;

12.3 - Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos percapita mundial, em nível de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas dealimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo asperdas pós-colheita;

12.4 - Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequado dosprodutos químicos e de todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida

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destes, de acordo com os marcos internacionalmente acordados, e reduzirsignificativamente a liberação destes para o ar, água e solo, para minimizarseus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente;

12.5 - Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos pormeio da prevenção, redução, reciclagem e reuso;

12.6 - Incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes etransnacionais, a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações desustentabilidade em seu ciclo de relatórios;

12.7 - Promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordocom as políticas e prioridades nacionais;

12.8 - Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenhaminformação relevante e conscientização sobre o desenvolvimento sustentávele estilos de vida em harmonia com a natureza;

12.a - Apoiar países em desenvolvimento para que fortaleçam suascapacidades científicas e tecnológicas em rumo a padrões mais sustentáveisde produção e consumo;

12.b - Desenvolver e implementar ferramentas para monitorar osimpactos do desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável quegera empregos, promove a cultura e os produtos locais;

12.c - Racionalizar subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis,que encorajam o consumo exagerado, eliminando as distorções de mercado,de acordo com as circunstâncias nacionais, inclusive por meio dareestruturação fiscal e a eliminação gradual desses subsídios prejudiciais,caso existam, para refletir os seus impactos ambientais, tendo plenamente emconta as necessidades específicas e condições dos países emdesenvolvimento e minimizando os possíveis impactos adversos sobre o seudesenvolvimento de maneira que proteja os pobres e as comunidadesafetadas (AGENDA 2030, ([201-]).

Diante do que foi exposto, percebe-se que o consumismo é um óbice para que o

desenvolvimento sustentável possa se efetivar. A indústria de bens de consumo, aliada deste

sistema que corrobora para a destruição de ecossistemas, se transpassa em um dos principais

empecilhos. Portanto, para que isto possa ser colocado em xeque, como o próprio ODS 12

expôs, é preciso haver uma mudança tanto nos padrões de consumo quanto na produção.

Acredita-se ser possível provocar uma reação em cadeia a partir da adoção de um estilo de

vida com pilares fixos na redução do consumo, resultando na diminuição e adequação da

produção à sustentabilidade, fatores que, principalmente em conjunto, ocasionarão na

diminuição de impactos ambientais negativos causados pela indústria e pelos consumidores.

Porém, para que percepções positivas possam ser colhidas, é necessário um alcance em escala

significativa, no que Schulte e Lopes (2008, p. 41) motivam:

Tornou-se imperativo a preservação ambiental. Não é mais uma luta apenaspara ambientalistas e ecologistas, mas para todos os seres humanos. Emboratenham ocorrido diversas iniciativas na última década, está-se chegando aum ponto crítico. Se não forem intensificadas as ações para promover apreservação ambiental, a vida no planeta Terra estará cada vez mais

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comprometida, seja das gerações futuras de humanos e/ou dos demais seresvivos.

3.4. INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO

Abordar o consumismo, afirmando que este não é capaz de ser sustentável, sem

adentrar na indústria de bens de consumo, aquela que motiva a ação em destaque, seria excluir

o principal agente do problema. Pagnani (2004, p. 2) pontua para ‘bens de consumo’ aqueles

“destinados ao uso de consumidores finais, caracterizando-se ainda por não estarem sujeitos a

mais nenhum processo de transformação”. O autor alega ainda que há duas subclassificações,

sendo os ‘bens duráveis’ aqueles que têm um ciclo de vida e uso, junto ao consumidor,

durante um período razoável, não sendo consumidos ou sofrendo um desgaste imediato; já os

‘bens não duráveis’ são os chamados de consumo imediato (ou de curta duração). Silva, César

e Oliveira (2004), por sua vez, direcionam a classificação de durabilidade dos bens para outra

divisão:

Nesta classificação, podemos falar sobre bens de consumo imediato,duráveis ou semiduráveis. Os bens de consumo imediato são aqueles deconsumo diário, constante e que tem pequeno tempo de duração. São eles,alimentos, bebidas, produtos higiênicos, até artigos de papelaria. Este tipo debem de consumo é encontrado na maioria das lojas de varejo, desdepequenas mercearias a hipermercados. São produtos de alto giro de venda.Os bens de consumo semiduráveis são aqueles que são substituídos emmédio prazo, porém seu consumo total é demorado. Geralmente não seespera que esse tipo de produto seja totalmente consumido para que seja“trocado”. Encaixam-se nessa classificação, roupas e calçados. A terceiraclassificação quanto à durabilidade dos bens de consumo, englobam casas eautomóveis. São os bens de consumo duráveis. Super e hipermercadostambém trabalham com esse tipo de produto, como geladeiras e máquinas delavar. São produtos com alta durabilidade, permanecem em uso por muitotempo e podem ser reformados (SILVA; CÉSAR; OLIVEIRA, 2004, p. 25).

Dessa forma, os segmentos têxtil (moda), de alimentos e de HPPC foram escolhidos

neste trabalho com o intuito de afunilar a linha de pesquisa. Roupas são bens semiduráveis,

enquanto alimentos e produtos HPPC são bens não duráveis/de consumo imediato. Estes

segmentos, assim como toda a indústria de bens de consumo, são alguns dos grandes

responsáveis pela insustentabilidade do atual modo de vida difundido pela sociedade

capitalista/consumidora. É importante compreender que muitas literaturas colocam a culpa da

degradação ambiental suscitada pelo consumismo inteiramente nos consumidores, quando, na

realidade, a indústria e o seu modo de produzir deveriam ser o primeiro alvo. Essa é a visão

Page 31: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

29

enfatizada pelos capitalistas, que não assumem ser a produção o verdadeiro impulsionador de

todo o sistema capitalista e responsável pela degradação ambiental (ALVES, 2015).

Assim, considerando que um dos vetores da degradação ambiental é o modo de

produção, torna-se imprescindível caracterizar, reunir e apontar (ao menos) os impactos

ambientais negativos provocados pelos segmentos de bens de consumo da indústria em

questão, uma vez que esta faz o possível para naturalizá-los, escondê-los ou torná-los menos

graves do que realmente são. Rohde (1994 apud ALVES, 2015) citam quatro fatores

principais acerca da insustentabilidade que permeia a sociedade industrial: elevadas taxas de

crescimento demográfico, diminuição dos recursos naturais, utilização de tecnologias

poluentes e despidas de eficácia energética, uma sociedade calcada em valores que levam a

um consumo material sem precedentes.

Neste estudo, entende-se por ‘impacto ambiental’ o conceito atribuído pelo Artigo 1°

da Resolução brasileira CONAMA 001/1986. A Resolução conceitua o referido como sendo

qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada

por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, venham a afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as atividades

sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, e a

qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986).

3.4.1 Impactos ambientais negativos da indústria têxtil

Para iniciar a discussão, foram trazidos no Quadro 1 os principais prováveis impactos

ambientais negativos provocados pela indústria têxtil, conforme a revisão bibliográfica. Como

esta indústria possui vasta quantidade de tecidos, com diferentes origens, processos

extrativistas e cultivos, estão incluídos aqueles com maiores estudos e constatações.

Quadro 1: Impactos ambientais negativos da indústria têxtil

Etapas Impacto ambiental negativo Meioimpactado

Referênciabibliográfica

Extração de petróleoem terra para a

fabricação de fibraspetroquímicas

Escassez do recurso pela não renovação Físico Santos (2012)

Contaminação hídrica Físico Santos (2012)

Deslocamento de comunidades locais Antrópico Santos (2012)

Contribuição para agravamento do efeito Físico Santos (2012)

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estufa e de mudanças climáticas

Problemas de saúde em função da toxicidadedos gases emitidos Antrópico Barbosa (1971)

apud Santos (2012)

Extração de petróleono mar para a

fabricação de fibraspetroquímicas

Escassez do recurso pela não renovação Físico Santos (2012)

Risco de derramamento no mar Físico Santos (2012)

Risco de danos à flora a fauna marinhas Biológico Santos (2012)

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas Físico Santos (2012)

Interferência na pesca local Antrópico Santos (2012)

Problemas de saúde em função da toxicidadedos gases emitidos Antrópico Barbosa (1971)

apud Santos (2012)

Cultivo de algodão/cotonicultura

Ocorrência de trabalho infantil Antrópico Fletcher e Grose(2019)

Ocorrência de trabalho em condiçõesanálogas à escravidão Antrópico Fletcher e Grose

(2019)

Redução da disponibilidade hídrica Físico WWF (2013)

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas (pela

emissão de gás carbônico)Físico Carbon Trust

([2008])

Riscos diversos à saúde dosfazendeiros/funcionários locais Antrópico Ellen Macarthur

Foundation (2017)

Alta probabilidade de desenvolver bissinose,doença pulmonar causada pela poeira da fibra

do algodão Antrópico Mendonça et al.(1995)

Degradação do solo pelo uso exaustivo e usode pesticidas Físico WWF ([2021])

Contaminação hídrica pelo uso de pesticidas Físico WWF ([2021])

Possibilidade (ainda em estudo) deproliferação de superbactérias que resistem

ao algodão transgênico Biológico Fletcher e Grose(2019)

Ovinocultura de lã

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas (metano

liberado pelas ovelhas)Físico Vasconcelos (2011)

Contaminação hídrica (por detergentes.inseticidas e graxas) Físico Vasconcelos (2011)

Contaminação do solo (por detergentes.inseticidas e graxas) Físico Vasconcelos (2011)

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31

Problemas de saúde pelo manuseio deinseticidas Biológico Vasconcelos (2011)

Extração de polpa decelulose

Perturbação à comunidade nativa Antrópico Canopy (2019)

Perda de biodiversidade, incluindo espéciesameaçadas de extinção Biológico Canopy (2019)

Incapacidade de resiliência dafloresta/vegetação Biológico Canopy (2019)

Problemas de pele, neurológicos e vasculares AntrópicoWHO (2000) apudEllen Macarthur

Foundation (2017)

Alto risco de toxicidade aquática se osquímicos utilizados forem despejados na água Físico

Changing MarketsFoundation (2017)

apud EllenMacarthur

Foundation (2017)

Risco de morte dos organismos aquáticospela toxicidade aquática Biológico

Changing MarketsFoundation (2017)

apud EllenMacarthur

Foundation (2017)

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas (pela

emissão de gás carbônico)Físico Canopy (2019)

Fabricação do tecidode poliéster

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas

(principalmente VOCs)Físico

MSL (2015) apudDrew e Yehounme

(2017)

Redução da disponibilidade hídrica Físico Ellen MacarthurFoundation (2017)

Aumento em grande escala da demandaenergética Físico Vasconcelos (2011)

Fabricação do tecidode algodão

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas (pela

emissão de gás carbônico)Físico Carbon Trust

(2008)

Redução da disponibilidade hídrica Físico Vasconcelos (2011)

Aumento em grande escala da demandaenergética Físico Vasconcelos (2011)

Contaminação hídrica Físico NRDC (2016)

Fabricação do tecidode lã

Redução da disponibilidade hídrica Físico Fletcher e Grose(2019)

Contaminação hídrica (por detergentes,inseticidas e graxas) Físico Vasconcelos (2011)

Contaminação do solo (por detergentes, Físico Vasconcelos (2011)

Page 34: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

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inseticidas e graxas)

Aumento da demanda energética Físico Vasconcelos (2011)

Problemas de saúde pelo manuseio deinseticidas Biológico Vasconcelos (2011)

Fabricação do tecidode viscose

Problemas de saúde pelo manuseio decompostos tóxicos Antrópico

WHO (2000) apudEllen Macarthur

Foundation (2017)

Contaminação do solo pelo uso e despejo decompostos tóxicos Físico Canopy (2019)

Contaminação hídrica pelo uso e despejo decompostos tóxicos Físico Canopy (2019)

Desperdício de material (70% é descartadodurante fabricação) Físico Canopy (2019)

Redução da disponibilidade hídrica Físico Fletcher e Grose(2019)

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas

(principalmente sulfeto de carbono e gássulfídrico)

Físico Vasconcelos (2011)

Aumento em grande escala da demandaenergética Físico Vasconcelos (2011)

Tratamento do tecido

Redução da disponibilidade hídrica Físico NRDC (2016)

Problemas de saúde diversos Antrópico NRDC (2016)

Contaminação hídrica Físico NRDC (2016)

Contaminação do solo Físico NRDC (2016)

Tintura/coloração dotecido

Redução da disponibilidade hídrica Físico NRDC (2016)

Risco de desenvolver câncer (em função dosprodutos químicos utilizados) Antrópico NRDC (2016)

Risco de desenvolver alergias e problemasrespiratórios Antrópico

Kemi (2014) apudEllen Macarthur

Foundation (2017)

Contaminação hídrica Físico NRDC (2016)

Risco de contaminação do solo Físico NRDC (2016)

Devastação do ecossistema aquático Biológico Ellen MacarthurFoundation (2017)

Químicos usados podem se acumular no soloe na água ao longo do tempo Físico

Greenpeace (2011)apud EllenMacarthur

Foundation (2017)

Lavagem durante oconsumo

Contaminação hídrica por fragmentos demicrofibra (como do poliéster) Físico Ellen Macarthur

Foundation (2017)

Page 35: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

33

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas (pela

emissão de gás carbônico)Físico Ellen Macarthur

Foundation (2017)

Químicos liberados na lavagem podempersistir no meio ambiente, se acumulando no

tecido corporal e na cadeia alimentarBiológico

Greenpeace (2017)apud EllenMacarthur

Foundation (2017)

Pós consumo

Maior geração de resíduos sólidos em aterros(boa parte ainda em condições de uso) Físico Ellen Macarthur

Foundation (2017)

Liberação de corantes perigosos quandodescarte em aterro Físico

Kemi (2014) apudEllen Macarthur

Foundation (2017)

Possibilidade de não biodegradabilidade Físico Ellen MacarthurFoundation (2017)

Em caso de incineração pós descarte, ocorreliberação de substâncias nocivas pelos gases

de combustãoFísico

Muthu (2014);Wicker (2016) apud

Ellen MacarthurFoundation (2017)

Fonte: Elaborado pela autora (2021)

Como observado no Quadro 1, toda a biosfera e todos os meios são impactados. A

produção do poliéster é uma das mais insustentáveis, pois inclui o uso de um bem não

renovável e libera microplástico, “termo usado para agrupar uma gama de diferentes materiais

sintéticos poliméricos de tamanho menor que 5 mm” (ARTHUR; BAKER; BAMFORD,

2008; HARTMANN et al., 2017 apud OLIVATTO et al., 2018, p. 1971), gradativamente

durante as lavagens, no período de uso. O algodão, por mais que seja um bem renovável, é

cultivado de forma a levar o solo à exaustão, além do processamento liberar poeira de sua

fibra, gerando uma doença pulmonar perigosa: a bissinose. Ovelhas têm seu pelo arrancado

apenas para a produção da lã; a ovinocultura é responsável pela emissão de gás metano (CH₄),

um dos mais importantes Gases de Efeito Estufa (GEE). 70% do material utilizado na

produção da viscose é desperdiçado, o que rende um aproveitamento extremamente baixo,

conforme Canopy ([2019]). Todos os processos pré-fabricação contribuem para o

agravamento do efeito estufa e das mudanças climáticas. Portanto, fica evidente que são

significativos os impactos ambientais negativos provenientes deste uso industrial em todas as

suas etapas.

Page 36: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

34

No entanto, ao visualizarmos a peça de roupa pronta não imaginamos que esses fatores

estão por trás dela. Diante da realidade apresentada, adentramos o mundo oculto e obscuro da

moda, destacando algumas das principais problemáticas e alguns dos dados coletados,

iniciando com a reflexão trazida por Lilyan Berlim:

A indústria têxtil global, que move a moda e é por ela movida, [...] é uma dasmais ambientalmente e socialmente insustentáveis da atualidade. Nelaexistem facetas nada glamorosas, nem tão pouco luxuosas. O trabalho emsubcondições, análogo à escravidão, assim como os impactos ambientais poresta indústria gerados, têm uma grande amplitude e estão por trás dos panos.Estes aspectos merecem nossa atenção, pois apenas assim podemos de fatoconhecer a moda atual na íntegra (BERLIM, 2016, p. 2).

Muitas são as críticas atribuídas à indústria têxtil, estejam elas relacionadas a questões

ambientais ou não. “Baseado nas denúncias das instâncias críticas, podemos afirmar que, em

geral, quanto maior e mais lucrativo o desempenho da indústria de roupas, maiores seus

impactos socioambientais negativos” (BERLIM, 2016, p. 102), e diante da urgência pelo

crescimento econômico, muitas empresas acabam indo por este caminho. Focando apenas no

que tange ao meio ambiente, os efeitos adversos sobre ele devem ser considerados em todas

as etapas dos projetos de novos produtos, da origem da matéria-prima até o descarte pelo

consumidor, como enunciam Schulte e Lopes (2008), algo que as empresas da moda ainda

relutam bastante em colocar em prática, conforme Berns et al (2009 apud Mesquita, 2015).

Inclusive, além de relutar em considerar seus impactos ambientais, as indústrias da

moda ainda estimulam para que seus produtos sejam trocados a cada estação ou a cada

coleção, segundo Schulte e Lopes (2008). As autoras completam afirmando que roupas são

substituídas e/ou descartadas com muita frequência, geralmente antes do fim de sua vida útil,

apesar de terem alta durabilidade; práticas como estas resultam em elevados impactos. A

Natural Resources Defense Council (NRDC, 2016) alega que as fábricas têxteis geram um

quinto da poluição da água industrial do mundo e usam 20.000 produtos químicos, muitos

deles cancerígenos, para fazer roupas. Carbon Trust ([2008]) mediu 6,5 quilos de pegada de

carbono em uma camiseta de algodão grande, e, considerando uma proporção maior,

Materials Systems Laboratory (MSL, 2015 apud DREW; YEHOUNME, 2017) informam que

a produção de poliéster para têxteis liberou cerca de 706 bilhões de kg de gases de efeito

estufa em 2015, o equivalente às emissões anuais de 185 usinas movidas a carvão.

Page 37: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

35

Não só são necessários grandes volumes para limpar, tingir e enxaguar, mastoda essa água se torna carregada de corantes e produtos químicos. Produtosquímicos de acabamento venenosos também são frequentemente aplicadospara tornar as roupas macias, sem rugas e resistentes a manchas. Osetoxilatos de nonilfenol - agentes de limpeza e enxágue que, mesmo emníveis baixos, são prejudiciais à saúde - estão entre esses compostos. Eprodutos químicos perfluorados, que são usados para tornar os tecidos eprodutos de couro impermeáveis e à prova de manchas, podem afetar ocrescimento e o desenvolvimento, a reprodução e prejudicar o fígado. Empaíses sem leis ambientais rígidas, esses produtos químicos tóxicoscostumam ser despejados nos cursos d'água locais sem tratamento. Elescontaminam o abastecimento de água, contaminam o solo e prejudicam osrendimentos agrícolas dos agricultores locais (NRDC, 2016).

Um dos grandes culpados no meio da indústria têxtil é o chamado ‘fast fashion’, ou

‘moda rápida’, em português. “A lógica do fast fashion é a lógica do consumo e do descarte

em tempos cada vez mais curtos” (BERLIM, 2016, p. 98), girando em torno de preços baixos

que possibilitam um alcance maior e incentivam o consumismo. A Global Fashion Agenda

(2020) adverte: se o caminho atual for continuado, as metas de redução de emissões de GEE

para 2030 em 50% não serão alcançadas, levando a um aquecimento global acelerado. Em

seguida, explica que desde a elevação do nível do mar, até chuvas extremas e ondas de calor

mais potentes, as consequências das mudanças climáticas não podem mais ser ignoradas, nem

pela sociedade, nem pela indústria da moda, que terá muitos impactos em suas operações nos

próximos anos.

[...] “Moda rápida”, ou fast fashion, [é] um sistema de produção de altavelocidade, integrado às tecnologias de informação, que gerencialançamentos, vendas, estoques e manufatura de roupas, transformando fichastécnicas de peças de vestuário em um produto acabado dentro de pontos devenda em poucos dias. O fast fashion é uma consequência das dinâmicas docapitalismo global em busca do menor custo, em um menor espaço de tempode fabricação, distribuição e venda, baseando-se em trabalho precário(muitas vezes em condições análogas à escravidão), na promoção dohiperconsumo e do descarte rápido de roupas e, consequentemente, doconsumo de recursos naturais em escala vertiginosa, com impactosambientais de grande extensão, e, ainda, na padronização do corpo e nadifusão de uma sutil homogeneização do parecer, promovida pelas mídias demoda. Tais práticas se estabeleceram na moda nas últimas décadas do séculoXX como consequência das transformações do capitalismo global(BERLIM, 2016, [p.7]).

Como proposta para se contrapor ao ritmo frenético da moda e na tentativa de reduzir

os impactos ambientais negativos destacados, surgiu o ‘slow fashion’', que conta tanto com

uma mudança de pensamento por parte dos consumidores quanto com a adaptação da

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36

indústria. Ele trouxe o despertar na moda: precisamos consumir, porém, não da maneira que

transcorre hoje. Fletcher (2010) explica que o slow fashion traz consigo a proposta de

produção com longos prazos de entrega, ao invés de prazos imediatos, valorizando o design

clássico e atemporal, que ‘está sempre em alta’ e, portanto, não é substituído rapidamente,

além de valorizar produtos duráveis, aliviando a pressão sobre recursos naturais. Ela afirma

ainda que este movimento confere senso de ética e desenvoltura à moda, porque o

consumismo é evitado.

Contudo, Schulte (2011) alega que para atingir a excelência, é necessário que os

envolvidos atuem de maneira preventiva e planejada para a mudança em prol do consumo

ético e responsável. Nesse âmbito, Fletcher e Grose (2019) se atentam para uma questão

importante: o caráter renovável da matéria-prima não garante sustentabilidade, pois a

capacidade de um material regenerar-se rapidamente nos diz muito pouco sobre as condições

em que é gerado - os insumos de energia, a água e as substâncias químicas utilizados no

campo ou na fábrica, seu impacto sobre os ecossistemas e os trabalhadores ou seu potencial

para uma vida longa e útil. As autoras também explicam que além da possibilidade de

confusão quanto à capacidade de degradação das fibras sintéticas, há outros obstáculos para

que elas realmente cumpram sua promessa de sustentabilidade, sendo, um deles, o risco de

contaminação cruzada entre fibras diferentes, o que compromete a qualidade final do produto.

Portanto, mesmo que o consumo provenha de fabricação tida como sustentável, é

imprescindível que este seja reduzido.

O processo de sustentabilidade impele a indústria da moda a mudar. Mudarpara algo menos poluente, mais eficaz e mais respeitoso do que hoje; mudara escala e a velocidade de suas estruturas de sustentação e incutir nestas umsenso de interconectividade. Tal mudança pode acontecer em muitassituações, de maneiras surpreendentes e até mesmo desconcertantes. Àsvezes, por exemplo, a maior mudança vem de uma série de pequenas açõesindividuais, não de grandes proclamações internacionais - uma percepçãoque a põe ao alcance de todos nós (FLETCHER; GROSE, 2019, p. 10).

3.4.2 Impactos ambientais negativos da indústria de alimentos

Alguns dos principais prováveis impactos ambientais negativos provocados pela

indústria de alimentos, relatados na revisão bibliográfica, foram reunidos e transcritos no

quadro abaixo. Destaca-se que, para esta indústria, a revisão trouxe um maior destaque para

os impactos causados pelas produções de carne e de soja, como apresentado no Quadro 2.

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37

Quadro 2: Impactos ambientais negativos da indústria alimentícia

Derivações Impacto ambiental negativo Meioimpactado

Referênciabibliográfica

Produção decarne bovina

Enorme perda de biodiversidade em funçãodo desmatamento para pasto Biológico Foley et al. (2011)

apud SVB (2017)

No Brasil: principal responsável peladestruição do Bioma Amazônia Biológico INPE ([2015]) apud

SVB (2017)

No Brasil: contribui para a destruição dosBiomas Pantanal, Caatinga, Cerrado e Mata

AtlânticaBiológico Duarte (2008)

Degradação do solo Físico FAO (2006) apudDuarte (2008)

Aumento do escoamento superficial Físico Duarte (2008)

Erosão do solo Físico FAO (2006) apudDuarte (2008)

Contribuição para agravamento do efeitoestufa e de mudanças climáticas

(principalmente pela emissão de gás metanopelo gado e gás carbônico do

desmatamento)

FísicoCleveland e Gee

(2017) apud Chai et al.(2019)

Redução da disponibilidade hídrica Físico Hoekstra et al. (2011)apud Silva et al. (2013)

Alteração da qualidade da água superficiale/ou subterrânea Físico FAO (2006) apud SVB

(2017)

Mesma quantidade de área poderia serutilizada para produzir outros alimentos em

quantidades muito elevadasAntrópico

ABIEC (2015); Cassidy(2013) apud SVB

(2017)

Aumento da demanda energética Físico Souza (2008)

Risco de infecção humana por zoonoses Antrópico Grace et al. (2012)apud SVB (2017)

Produção desoja

Perda de biodiversidade em função daplantação (principalmente em monoculturas) Biológico Duarte (2008)

No Brasil: contribui para a destruição doBioma Amazônia Biológico Duarte (2008)

Aumento do escoamento superficial emfunção da compactação e impermeabilização

do soloFísico

Cunha (1994) apudDomingues, Bermanne Manfredini (2014)

Degradação do solo FísicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Erosão do solo FísicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Page 40: CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA …

38

Contaminação do solo por agroquímicos FísicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Contaminação hídrica pelo uso deagroquímicos Físico

Cunha (1994) apudDomingues, Bermanne Manfredini (2014)

Ameaça ao ecossistema aquático e terrestre BiológicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Assoreamento de rios e reservatórios FísicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Problemas causados à saúde dostrabalhadores pelo uso de agroquímicos Antrópico

Cunha (1994) apudDomingues, Bermanne Manfredini (2014)

Alterações no clima local FísicoCunha (1994) apud

Domingues, Bermanne Manfredini (2014)

Pós consumo

Grande quantidade de disposição irregularde embalagens Físico Ocean Conservancy

(2020)

Ameaça ao ecossistema aquático(principalmente marinho) Biológico Ocean Conservancy

(2020)

Fonte: Elaborado pela autora (2021)

Conforme quadro acima, é perceptível que impactos negativos de grande magnitude

são gerados pela indústria alimentícia. Da destruição de Biomas à contribuição para o

agravamento do efeito estufa e das mudanças climáticas, o consumo e produção insustentáveis

de carne, principalmente bovina, e a produção tecnificada da soja degradam o meio ambiente

cada vez mais. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB, 2017), citando dados

apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, [2015]), constata-se que

70% da área desmatada na Amazônia é usada para pasto, sendo parte do restante desmatada

para a produção da ração deste gado. Além disso, Domingues, Bermann e Manfredini (2014)

explicam em estudo que o Brasil é líder no uso excessivo de agrotóxicos, utilizando,

inclusive, agroquímicos proibidos em outros países. Mas qual a principal motivação para esta

indústria fechar os olhos diante de tamanhos impactos?

O crescimento populacional gera necessidade por maior produção alimentar. A

demanda de alimentos influencia a produção agrícola (MARLOW et al., 2009, p. 1699S,

tradução nossa), tornando-a cada vez mais intensa e tecnificada, buscando-se produzir o

máximo possível por unidade de área cultivada. Com isto, as práticas agrícolas modernas

resultaram nestes significativos impactos ambientais, que implicam em fatores como solo, ar e

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39

água poluídos, solo erodido, dependência de petróleo e perda de biodiversidade, conforme

Marlow et al. (2009), o que é bem representado no Quadro 2, por meio da produção de soja. A

pecuária segue a mesma linha: a produção de carnes, por exemplo, teria que aumentar em

70% no ano de 2050 para atender a demanda de mais de 9 bilhões de habitantes no planeta,

sendo necessários mais de um bilhão de hectares de terras agrícolas - o tamanho do continente

europeu - para alimentar os animais (FOLEY et al., 2011; CASSIDY et al., 2013 apud SVB,

2017).

Estudos comprovam que, além da perda de biodiversidade em decorrência do

desmatamento para pasto, o gado contribui ativamente para o agravamento do efeito estufa,

uma vez que libera gás metano (CH₄). De acordo com Cleveland e Gee (2017, apud Chai et

al., 2019), estima-se que cerca de 44% do total das emissões globais de metano são

provenientes da pecuária e que a produção é dominada pela carne bovina; em média, são 43

kg de GEE liberados durante a produção de cada kg de carne bovina. Destes 43 kg,

aproximadamente 22 kg são emissões de metano, resultado este que não inclui os GEE da

carcaça bovina (CLEVELAND e GEE, 2017 apud CHAI et al., 2019). Quanto à pegada

hídrica requerida, Hoekstra et al. (2011 apud Silva et al 2013, p. 103), alegam:

Para o caso específico da carne vermelha, considera-se um sistema industrialde produção que leva três anos para se abater um animal e produzir 200 kgde carne desossada. Admite-se que o animal tenha consumido 1.300 kg deração, 7.200 kg de forragem, 24 m³ de água para dessedentação e 7 m³ deágua para limpeza geral, significa que, para cada quilograma de carnedesossada, são utilizados 6,5 kg de ração, 36 kg de forragem e 155 L de águade beber. A produção de todo este sustento, tem embutidos, 15.500 L deágua.

A partir desta discussão, adentramos também o conceito de ‘água virtual’, isto é,

“comércio indireto da água que está embutida em certos produtos, especialmente as

commodities agrícolas, enquanto matéria-prima intrínseca desses produtos” (CARMO, 2007,

p. 84), que onívoros, consumidores daquela carne, não veem. Sobre os dados apresentados

acima, o Manual de Avaliação da Pegada Hídrica, produzido por Hoekstra et al. (2011),

explica que, nos 15.500 L embutidos, estão inclusas a pegada hídrica direta e indireta do

consumidor. A pegada hídrica direta se refere ao volume de água consumido ou poluído para

preparar e cozinhar a carne, enquanto a indireta depende das pegadas diretas do comerciante

que vende a carne, do frigorífico que prepara a carne para a venda, da fazenda que cria o

animal e do produtor da ração que alimenta o animal, por exemplo. Portanto, muitas

considerações são feitas neste cálculo.

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40

Outro grande gargalo da indústria de alimentos se perpetua através do fast food, que,

semelhante ao fast fashion descrito no tópico acima, também incentiva a produção acelerada e

o consumo de alimentos tidos como ‘rápidos e práticos’. Gomes e Rocha Filho (2020)

explicam que refeições provenientes deste sistema causam degradação ambiental em níveis

alarmantes, tanto pela aceleração do processo produtivo (que, por si só, já é extremamente

degradante) em função da demanda insustentável, quanto pela utilização exacerbada de

embalagens, principalmente plásticas. Um estudo de Silva (2008, p. 27) sugere ainda que este

modelo de restaurante apresenta “grande disparidade de comportamento no que tange a

geração de sobras de alimentos”.

Conforme Fletcher (2010), um grupo de ativistas italianos acostumados com a cozinha

tradicional e altamente regionalizada respondeu à expansão do modelo fast food com o

movimento social conhecido como slow food. Inclusive, a ideia do slow fashion surgiu a partir

deste último. O slow food cria conexão entre a saúde das pessoas e do planeta, defendendo a

conservação e o uso sustentável da biodiversidade, apoiando um modelo de agricultura menos

intensivo (SLOW FOOD BRASIL, 2020). Dessa forma, mantendo um consumo consciente e,

de acordo com Chai et al. (2019), reduzindo substancialmente as carnes e os laticínios, é

possível reduzir os impactos ambientais até mesmo a nível de dietas que excluem

completamente estes grupos, as quais serão exibidas a seguir.

Há alguns movimentos e dietas alimentares (embasadas em propósitos) ganhando

reconhecimento, principalmente entre a parcela da população preocupada com as causas

ambientais e/ou de proteção dos animais. Capazes de atenuar impactos ambientais negativos,

mesmo que esta nem sempre seja a principal motivação dos adeptos, a adoção de dietas

alimentares específicas vem se popularizando ao redor do mundo. Em pesquisa realizada por

Marlow et al. (2009), foi observado que, do ponto de vista ambiental, as escolhas alimentares

de uma pessoa realmente fazem diferença, uma vez que a dieta vegetariana resulta em menos

impactos ambientais negativos do que a dieta onívora, por exemplo. Os resultados

apresentados pelos autores indicam que, para a produção diferencial combinada de 11 itens

alimentares cujo consumo difere entre vegetarianos e não vegetarianos, a dieta não

vegetariana exigiu 2,9 vezes mais água, 2,5 vezes mais energia primária, 13 vezes mais

fertilizantes e 1,4 vezes mais pesticidas do que os dieta vegetariana. Os autores concluem que

a maior contribuição para as diferenças veio do consumo de carne bovina na dieta. Portanto,

uma dieta não vegetariana acarreta um custo mais alto para o meio ambiente do que uma dieta

vegetariana.

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41

Outro estudo, o qual compara a dieta onívora com as dietas vegetariana e vegana,

mostrou que a vegana é a mais sustentável em termos de pegada ambiental. Os veganos não

consomem quaisquer produtos de origem animal e, portanto, são capazes de evitar todos os

impactos ambientais negativos que esses produtos trazem (CHAI et al., 2019), enquanto os

processos de produção de carne e laticínios respondem por cerca de 80% dos GEE do setor de

alimentos, e 24% do total de GEE, segundo Scarborough et al. (2014 apud CHAI et al., 2019).

Uma análise de Harwatt et al. (2017 apud CHAI et al., 2019) sugere que se a carne bovina

fosse substituída por feijão, 692.918 km² de terras agrícolas, apenas nos EUA, poderiam ser

liberadas para outros usos, e os GEE dessas terras diminuiriam em 74%. Da mesma forma,

um kg de proteína obtida de uma fonte vegetal requer aproximadamente 100 vezes menos

água do que um kg de proteína de origem animal (CLEVELAND e GEE, 2017 apud CHAI et

al., 2019).

Um relatório elaborado pela SVB apresenta números concretos mostrando que reduzir

o consumo, neste caso de proteína animal, gera a atenuação de impactos ambientais negativos.

Pensando em questões como saúde, causas animal e ambiental, a campanha Segunda sem

Carne sugere que a proteína animal não seja consumida nas segundas-feiras. Esta campanha

se faz presente em mais de 40 países, sendo, no Brasil, acompanhada e incentivada pela SVB

desde 2009, ocupando posições de destaque entre as que possuem maior alcance e

participação.

Segundo informações contidas no relatório, para o ano de 2017, 2 mil toneladas de

carne bovina foram economizadas, o que resultou nos seguintes benefícios ambientais: foi

evitado o desperdício de mais de 500 milhões de litros de água doce; foram poupadas mais de

500 milhões de terras, beneficiando a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas

terrestres afetados; foi evitada a emissão de mais de 280 mil toneladas de GEE; foram

poupadas terras agrícolas suficientes para produzir mais de 150 mil toneladas de grãos,

equivalente às necessidades protéicas diárias de quase 1 milhão de pessoas (SVB, 2018).

Porém, mesmo que seja adotada, por exemplo, uma dieta vegana, que vai além do que

a Segunda Sem Carne propõe, ainda é preciso considerar impactos como os advindos do

transporte dos alimentos e de embalagens utilizadas em produtos industrializados. A enorme

geração de resíduos sólidos e o subsequente descarte irregular não são exclusividade apenas

do fast food, estando presente em toda a indústria alimentícia. Em relatório publicado pela

organização sem fins lucrativos Ocean Conservancy (2020), as embalagens de comida

aparecem no topo de resíduos mais encontrados em praias. Para apenas um dia de coleta em

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42

116 países, quase 5 milhões destas foram encontradas. Um fator que agrava ainda mais a

situação é que grande parte das embalagens têm em sua composição diferentes plásticos, os

quais são extremamente nocivos para o ecossistema marinho. Portanto, até a dieta mais

sustentável de todas necessita de atenção no momento do consumo, buscando reduzir a

geração de lixo e garantindo a sua destinação correta.

3.4.3 Impactos ambientais negativos da indústria de higiene pessoal, produtos cosméticos

e perfumaria (HPPC)

Todos os prováveis impactos ambientais negativos da indústria HPPC, encontrados na

revisão bibliográfica deste estudo, foram reunidos e transcritos no Quadro 3. Para esta

indústria, os impactos foram identificados com base fundamentada em estudo elaborado pela

Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESB, [2005]), conforme Quadro 3.

Quadro 3: Impactos ambientais negativos da indústria HPPC.

Etapas Impacto ambiental negativo Meioimpactado

Referênciabibliográfica

Produção

Escassez do recurso pela não renovação Físico CETESB ([2005]);Merola (2011)

Alteração da qualidade da água superficial e/ousubterrânea Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Eutrofização em corpos hídricos Físico CETESB ([2005])

Contribuição para agravamento do efeito estufa ede mudanças climáticas (principalmente pela

emissão de VOC's)Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Contaminação do solo Físico CETESB ([2005]);Merola (2011)

Problemas causados à saúde dos trabalhadores Antrópico CETESB ([2005]);Merola (2011)

Redução da disponibilidade hídrica Físico CETESB ([2005])

Incômodo à vizinhança pela geração de odores Antrópico CETESB ([2005]);Merola (2011)

Aumento da demanda energética Físico CETESB ([2005])

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Aumento da ocupação de aterros sanitários e/oudisposição inadequada de resíduos sólidos Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Ameaça ao ecossistema aquático e terrestre Biológico CETESB ([2005])

Risco de bioacumulação de químicos tóxicos pororganismos aquáticos Biológico CETESB ([2005])

Presença de óleos e graxas nos efluentes dificultatratamento do esgoto por processos biológicos Físico CETESB ([2005])

Risco de acidentes envolvendo solvente orgânicos Antrópico CETESB ([2005])

Consumo

Contribuição para agravamento do efeito estufa ede mudanças climáticas (principal emissão:

VOC's)Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Alteração da qualidade da água superficial e/ousubterrânea Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Poluição hídrica por microplástico Físico Rios et al. apudOligatto et al. (2018)

Possibilidade do microplástico se integrar à cadeiaalimentar aquática e humana Biológico Pereira (2014)

Pósconsumo

Aumento da ocupação de aterros sanitários e/oudisposição inadequada de resíduos sólidos Físico CETESB ([2005]);

Merola (2011)

Possibilidade de não biodegradabilidade Físico CETESB ([2005])

Contaminação do solo Físico CETESB (2005);Merola (2011)

Contaminação da água subterrânea Físico CETESB ([2005])

Fonte: Elaborado pela autora (2021)

A indústria HPPC também impacta toda a biosfera e todos os meios, disputando, neste

estudo, a vaga de segmento industrial com mais impactos significativos causados durante o

período de consumo e pós consumo. Responsável pelo emprego de químicos tóxicos na

composição de determinados produtos, como, por exemplo, esmaltes, conforme CETESB

([2005]), a comercialização destes muitas vezes não é sequer questionada. Pela revisão

bibliográfica, percebe-se ainda que esta é a indústria com impactos mais notórios no que tange

à livre emissão de microplásticos. Isso porque o composto está amplamente presente em

produtos de higiene e cosméticos, chegando ao efluente doméstico após sua utilização diária.

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Representa um dos setores industriais consolidados no início do século XX, com a

ascensão de substâncias sintéticas, provindas do petróleo, sendo produzidas em grande escala.

É o que Teixeira (2020) alega, e completa destacando a importância deste ramo na economia

global e no desenvolvimento econômico de diversos países. Em pesquisa comparativa, a

Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC,

2019) constata que o retorno econômico ao alocar 1 milhão de reais neste setor é maior do que

alocar o mesmo valor na agropecuária. A nível mundial, o setor apresentou, no período de

2003 a 2017, uma taxa média de crescimento anual de 4,28%, com tamanhos de

aproximadamente US $256 bilhões em 2003 e de US $464 bilhões em 2017

(EUROMONITOR INTERNATIONAL, 2018 apud CLUBE DE FINANÇAS UDESC E

UFSC, 2018).

De acordo com a definição de cosméticos, as preparações têm comofinalidade limpar, perfumar, mudar a aparência, proteger, manter em boascondições ou corrigir odores corporais. Dada a diversidade de utilização e deprodutos, o setor pode ser subdividido em três segmentos básicos - higienepessoal: engloba sabonetes, produtos para higiene oral, desodorantes axilarese corporais, talcos, produtos para higiene capilar e produtos para barbear, [...]absorventes, papéis higiênicos e fraldas descartáveis; perfumaria: compostopelas águas de colônia, perfumes, extratos e loções pós-barba; cosméticos:constituído por produtos para coloração, tratamento, fixação e modelagemcapilar, maquiagem, protetores solares, cremes, loções para a pele edepilatórios (CETESB, [2005], p. 24).

Assim como as embalagens são um grande problema na indústria alimentícia, o

mesmo dilema se perpetua na indústria HPPC, possivelmente de forma ainda pior. “O tempo

de degradação dessas embalagens pode ser de um milhão de anos para as garrafas de vidro e

plástico, de mil anos para as sacolas plásticas, de cem anos para as latas de alumínio e de

cerca de cinco meses para as de papel” (CHANG, 2007 apud RIEGEL et al., 2012, p. 634),

sendo todos esses materiais comumente empregados na indústria em questão. Além disso,

informações fornecidas pela CETESB ([2005]) também apontam para a geração de resíduos

de metais, compostos orgânicos voláteis, solventes, efluentes misturados provindos da

limpeza dos equipamentos e do piso das fábricas, resíduos líquidos graxos e outros, oriundos

do processo produtivo e pós-produtivo.

Há ainda a liberação de microplástico, como dito acima. Na indústria HPPC, o

composto pode chegar aos corpos hídricos de várias formas, sendo, uma delas, através do

efluente tratado lançado em corpo hídrico, uma vez que nem sempre o tratamento do esgoto

consegue reter todo o composto. Lembrando que sua presença no meio ambiente representa

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uma ameaça para a biota, pois, devido ao tamanho reduzido, as partículas possuem maior

distribuição, podendo atingir áreas remotas. Já foram encontrados microplásticos até mesmo

em lugares extremamente remotos, como em núcleos de gelo na Antártida (KELLY et al.,

2020 apud OCEAN CONSERVANCY, 2020), ou flutuando no mar profundo e no estômago

de organismos que ali vivem (CHOY et al., 2019 apud OCEAN CONSERVANCY, 2020).

Adicionalmente, o composto se torna disponível para uma grande variedade de organismos,

desde os níveis tróficos inferiores, podendo contaminar, portanto, os animais marinhos de

tamanhos maiores, também (COLLIGNON et al., 2012; BARNES et al., 2009 apud

OLIVATTO et al., 2018).

Motivadas pelo objetivo de reduzir os impactos ambientais negativos causados pela

indústria HPPC, abordagens de mitigação diversas têm sido amplamente discutidas e até

mesmo aplicadas. A Produção Mais Limpa (PmaisL ou P+L), “cuja metodologia propõe

aplicação continuada de uma estratégia ambiental preventiva e integrada aos processos e

produtos, a fim de aumentar a eficiência e reduzir os riscos à sociedade e ao meio ambiente,

além de minimizar os desperdícios e reduzir custos [...]” (WERNER; BACARJI; HALL,

2009, p.2), possui grande destaque entre os métodos implementados. Outra abordagem

comum é a das Avaliações de Ciclo de Vida (ACVs), em que Young (1996 apud RIEGEL et

al., 2012) apontam:

Esta abordagem mais ampla da gestão ambiental em maior ou menor grau[...] revela a preocupação com todo o ciclo de vida do produto, procurandorefletir a compreensão da sustentabilidade como expressa no conceito dedesenvolvimento sustentável. Logo, surgiram as ACVs, com o objetivo deanalisar aspectos e impactos ambientais de produtos e operações do “berçoao túmulo” e, mais recentemente, do “berço ao berço”. As análises incluemprodução de matérias-primas, manufatura, uso e disposição final. Transporte,distribuição, manutenção, reuso, reciclagem, gestão de resíduos e outrasetapas relevantes também são frequentemente incluídas. Seu objetivo final éindicar os impactos ambientais, quais as etapas em que ocorrem e gerarconhecimentos sobre alternativas que reduzam a poluição e promovam asustentabilidade (YOUNG, 1996 apud RIEGEL et al., 2012, p. 637).

Da mesma forma, os chamados “produtos verdes” (GONÇALVES e HENKES, 2016)

crescem paulatinamente neste mercado. Buscando incorporar sustentabilidade principalmente

no resultado final, os produtos sustentáveis

podem, ainda, assumir a definição de cosméticos naturais ou eco-friendly,que remetem, além da substituição dos ingredientes de origem

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químico-sintética por ingredientes de origem vegetal, ao uso de processos deobtenção e produção limpos e sustentáveis (ISAAC, 2016, p. 37).

O termo eco-friendly, segundo o Cambridge Dictionary (2021), foi criado justamente

para se referir aos produtos ecológicos projetados para causar o menor dano possível ao meio

ambiente. Apesar dos benefícios ambientais relatados, consumidores queixam-se da

considerável diferença entre o preço do cosmético tradicional e do verde, visto que este último

é substancialmente mais caro, o que impossibilita o acesso por grande parte da população,

conforme Freitas e Silva (2019).

No entanto, a mesma lógica aplicada para as indústrias têxtil e alimentícia se encaixa

para a de HPPC. Por mais que a oferta de produtos ecologicamente corretos ou menos

degradantes do ponto de vista ambiental esteja aumentando, é importante compreender que

estes não devem ser comprados e usados em demasia. Recursos naturais foram extraídos para

aquela produção, extração esta que não conseguirá acompanhar o ritmo de resiliência do

recurso caso haja grande demanda. As embalagens podem até ser recicláveis e/ou se

decomporem em menos tempo do que os materiais convencionais, porém, não deixam de ser

resíduos sólidos. Da mesma forma, é preciso ter cautela com as propagandas de ‘produtos

verdes’, visto que existe uma tendência à prática de greenwash por parte da indústria, como

apresentado no tópico ‘Consumismo’ deste trabalho.

3.5 MINIMALISMO E O ESTILO DE VIDA MINIMALISTA

O minimalismo recebe diferentes definições, porém todas com a mesma essência.

Müller (2017, p. 5) alega que os conceitos de ouro, são: “ter somente o que é necessário, nada

mais, nada menos” e “qualidade é muito mais importante do que quantidade”. Pollak (2016

apud RODRIGUES et. al 2021, p. 6) complementa afirmando que o minimalismo vai além de

um comportamento de consumo, é sobre um estilo de vida em que “busca-se o equilíbrio e a

plenitude se desfazendo dos excessos”. Para Mocarzel e Rojas (2015, p. 136), “não se trata de

romper com a sociedade industrial [...]: os minimalistas estão inseridos na sociedade,

trabalhando, se relacionando, apenas abrindo mão do consumo desenfreado”. Porém, não é

preciso romper com a sociedade industrial para confrontá-la e apontar os seus erros.

O estilo de vida minimalista ganha adeptos na sociedade de consumo,justamente pelo bombardeio de informações publicitárias, pela lógicaimplacável do consumismo, pelas cobranças cada vez mais marcantes do

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mercado de trabalho e pela redução da qualidade de vida em função danecessidade de se produzir mais para se consumir mais (MOCARZEL;ROJAS, 2015, p. 136).

Nascido a partir de manifestações artísticas ocorridas em meados do século XX, a

definição do movimento foi construída ao longo de décadas no mundo das artes, se

formulando com base em experimentações de artistas de grande relevância, o que gerou a

definição que temos hoje (MOCARZEL; ROJAS, 2015). Sequeira (2012) afirma que foi nos

Estados Unidos, na década de 60, que o minimalismo se consolidou enquanto movimento

artístico, período em que a arte cartesiana europeia dominante foi negada e que as barreiras

entre pintura e escultura foram quebradas; nesta ocasião, as pinturas ‘decorativistas’ foram

contrariadas.

Apesar da definição concreta no mundo das artes, Mocarzel e Rojas (2015) explicam

que na cultura material o conceito do movimento ainda está em construção. Entretanto,

Webster Negretto (2013) sugere que sua base, marcada pela busca por uma vida simples e sem

excessos, não é nova na história da humanidade. A autora cita Buda - “quanto mais coisas

você tem, mais terá com o que se preocupar” (BUDA, [21--] apud WEBSTER NEGRETTO,

2013, p. 64), - para exemplificar a afirmação, podendo o movimento artístico minimalista, em

seu período de concretização, ter agido como um gatilho para a retomada deste pensamento.

Além disso, outras questões também abarcam o nascimento do estilo de vida, como a própria

preocupação ambiental, a abundância de informação trazida pelos avanços tecnológicos, os

efeitos produzidos pela crise de 2008 e uma certa inquietação em torno das sequelas causadas

pelo crescimento econômico de países (WEBSTER NEGRETTO, 2013).

Enquanto movimento que recebe influências e que dá abertura para múltiplas áreas, o

minimalismo pode ser analisado por várias perspectivas. De maneira geral, a literatura atual

prioriza uma abordagem voltada aos benefícios psicológicos (apesar de ser perceptível que

este cenário está mudando, conforme artigos e podcasts publicados em 2021), enfatizando o

quão ‘mais leve' se sentirá o indivíduo após sua adesão, deixando outras questões em segundo

plano. É o que podemos observar em livros e em conteúdos digitais publicados por autores

reconhecidos, como, por exemplo, Michaels, Milburn e Nicodemus. “Quando você começar a

simplificar a sua vida de maneiras significativas, se dará conta que tem um caminho melhor,

mais feliz e mais gratificante pela frente”, alega Michaels (2014, p. 4). A principal abordagem

gira em torno do que Alves contempla:

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A simplicidade contagia. Não é à toa que o estilo de vida minimalista ganhaadeptos em plena sociedade de consumo. Nunca na história da humanidadetivemos acesso a tantas possibilidades de escolhas. Estamos cada dia maisexpostos a cobranças sociais e do mercado de trabalho para reduzirmosnossa qualidade de vida em detrimento de uma maior produção. Quanto maisproduzimos, mais consumimos. Porém, mesmo com todas essas mercadoriasdisponíveis, jamais tivemos tantos índices de doenças psicossomáticas, comoa depressão, a síndrome do pânico e a ansiedade. Precisamos urgentementemudar nossos hábitos com relação ao consumo desenfreado (ALVES, 2018,p. 10).

Além dos benefícios psicológicos, muitos outros são apontados, sendo, alguns deles:

vivenciar um estilo de vida que está em maior harmonia com a natureza, administrar finanças,

quitar dívidas e juntar dinheiro com mais facilidade, adquirir mais tempo no dia a dia, ter mais

facilidade em se organizar e em manter cômodos organizados, entre outros. No entanto, o

caminho para convencer novos adeptos ao movimento minimalista é longo, visto que ainda há

muitas deturpações acerca do que é ser minimalista, fazendo com que os autores atuais

precisem se apropriar de artimanhas fixadas nos benefícios práticos e quase imediatos, além

de desmentir inverdades e criar atrativos.

Apesar de Mocarzel e Rojas (2015, p. 135) alegarem que “ainda não podemos

considerar o minimalismo uma subcultura”, esta concretização pode estar mais perto do que

nunca, a partir do posicionamento de pessoas que, além de se manifestarem contra o

consumismo, também se colocam ativamente em defesa do meio ambiente e do futuro do

planeta. A proposta deste trabalho é justamente desencadear esta assimilação, promovendo o

despertar para um segmento que se aprofunda na vertente ‘minimalismo + desenvolvimento

sustentável’, compreendendo que o movimento pode ser uma das bases para este

desenvolvimento.

No entanto, a escassez de abordagem voltada completamente para este segmento pode

estar relacionada aos problemas de entendimento que o minimalismo ainda enfrenta, como

mencionado acima. Dessa forma, os autores reforçam frequentemente sobre o que realmente

se trata a ideia, por ser um movimento consideravelmente novo e que desperta curiosidades.

Milburn e Nicodemus, do The Minimalists (2021), explicam que muitas pessoas rejeitam o

movimento por acreditar que este se trata de “viver com menos de 100 coisas, não ter um

carro, uma casa ou uma televisão, não ter uma carreira [...]”, enquanto não é sobre isso, apesar

de haver minimalistas que, por vontade própria, aplicam restrições de quantidade de objetos

em suas vidas. Há ainda a teoria defendida por Francine Jay (2016), traduzida no conceito

arquitetônico que também gera confusão:

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Ele [o minimalismo] parece ter adquirido um ar meio intimidador, elitista,associado muitas vezes a lofts multimilionários decorados com apenas trêsou quatro móveis. A palavra evoca imagens de cômodos espaçosos, abertos,com pisos de cimento queimado e superfícies brancas reluzentes. Tudoparece muito sóbrio, sério e estéril. Como é que isso se encaixaria em vidascheias de crianças, animais de estimação, hobbies, folhetos de propaganda eroupas para lavar? (JAY, 2016, p. 7).

Estes não são os reais significados do minimalismo, e quando o indivíduo adquire esta

compreensão, pode se sentir motivado a fazer parte. Quando a decisão de pertencer ao

movimento é tomada, dúvidas sobre por onde começar surgem. Jay (2016) traz em sua

bibliografia 10 passos iniciais simples, mas com dificuldade de implantação que varia de

pessoa para pessoa. Portanto, antes de apresentar as sugestões da autora, não se deve anular a

possibilidade de que a adaptação ao estilo de vida minimalista talvez seja extremamente

difícil (até mesmo para aqueles muito abertos e interessados). Além disso, esta é apenas uma

sugestão de metodologia para auxiliar iniciantes, e não uma regra universal.

Como primeiro passo desta metodologia, Jay (2016) cita o ato de recomeçar. Este

recomeço é sobre esvaziar-se de objetos, primeiro colocando a vista e observando tudo o que

tem em sua casa/no ambiente que desejar (caso queira dividir em etapas), compreendendo que

ficará apenas com artigos realmente úteis. O segundo passo é separar estes objetos em três

categorias “tralha, tesouro e transferência”, podendo colocá-los em recipientes. "Tralha" será

composta pelo material inutilizável e não reaproveitável; em “tesouro” ficarão aqueles

desejados e que permanecerão com o indivíduo; a última categoria, “transferência”, será para

todos os artigos em boas condições e que podem ser doados e/ou vendidos.

Conforme determinamos o que pertence às nossas pilhas de Tesouro,devemos seguir o princípio de Pareto (também conhecido como princípio80-20). Nesse contexto, ele significa que usamos 20% de nossas coisasdurante 80% do tempo. Leia de novo, com mais atenção: usamos 20% denossas coisas durante 80% do tempo. Isso significa que podemos viver comapenas um quinto de nossas posses atuais e quase não notar a diferença. Puxavida! Vai ser mais fácil do que pensamos! Se quase nunca usamos a maioriade nossas coisas, não haverá problema em reduzi-las ao essencial. Tudo oque precisamos fazer é identificar os nossos “20%” e estaremos perto de nostornar minimalistas (JAY, 2016, p. 49).

No passo número três, a autora solicita que seja atribuída uma razão para cada objeto

que foi colocado na pilha de “tesouros”, a fim de garantir que se tenha um bom motivo para

continuarem ali. Neste momento é possível entender que objetos com funções semelhantes e

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sem funcionalidade não possuem motivos; cabe requerer a ajuda de amigos/familiares nesta

etapa. Já o quarto passo é constituído pela frase “um lugar para cada coisa e cada coisa em seu

lugar”. Neste tópico, é preciso separar os bens que permaneceram em “círculo próximo”

(constantemente usados), “círculo distante'' (pouco usados) e “estoque oculto”

(materiais/alimentos estocados).

O quinto passo é sobre a importância de manter superfícies vazias, evitando qualquer

possibilidade de bagunça acumulada. “Ao criar nossos módulos, colocamos em prática um

sistema que elimina e impede o excesso - tornamos nossas posses equivalentes às

necessidades e, depois, colocamos uma pedra sobre esse assunto” (JAY, 2016, p. 58). Agora, no

passo seis, o iniciante ao minimalismo irá subdividir seus pertences conforme suas

finalidades. No próximo passo, de número sete, limites serão impostos, seguindo a opinião e

as preferências do adepto. É questionada a necessidade de se comprar e acumular coleções de

livros, por exemplo, que muitas vezes sequer são lidos ou utilizados. A autora sugere:

Os limites podem e devem ser aplicados a praticamente tudo. Divirta-seimpondo restrições às suas coisas: exija que todos os DVDs caibam naprateleira designada; todas as blusas, na gaveta definida; toda a maquiagem,no estojo de cosméticos. Limite o número de sapatos, meias, velas, cadeiras,lençóis, panelas, tábuas e artigos colecionáveis que possui. Limite asassinaturas de revistas e o número de objetos na mesinha de centro. Limite adecoração de Natal a uma caixa e seus equipamentos esportivos a um cantoda despensa. Limite pratos, xícaras e talheres ao tamanho de sua família eseus equipamentos de jardinagem às necessidades do quintal (JAY, 2016, p.60).

Passo oito: “entra um, sai outro”. Esta “regra” simples propõe que para cada novo

objeto introduzido, outro de função semelhante seja retirado. Porém, neste caso é preciso se

atentar às trocas desnecessárias. Já no passo nove, explica que a partir de agora, com os

passos anteriores colocados em prática, impor novas restrições de consumo a si mesmo não

será tão difícil. Chegou o momento de reduzir posses às necessidades básicas, compreendendo

que “necessidades básicas” têm significados diferentes para pessoas diferentes, portanto,

somente o indivíduo em adaptação poderá dizer quais pertences são essenciais, seguindo sua

rotina, seu trabalho e afins, sem esquecer de utilizar-se do bom senso. "O equipamento de

mergulho que o velejador considera essencial muito provavelmente seria considerado um item

supérfluo para nós” (JAY, 2016, p. 65).

O último passo consiste em realizar uma “manutenção diária” para evitar que todo o

processo retorne à estaca zero. “Não adianta só enxotar todas as nossas posses numa sessão

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pesada de organização e depois anotar na lista como ‘feito’”, afirma Jay (2016, p. 68). O mais

importante, segundo ela, é continuar atento ao que entra na residência. Por fim, apresentado o

minimalismo em sua abordagem clássica, além de uma metodologia simples para aplicá-lo,

cabe o questionamento: em que sentido ele está relacionado à conservação e preservação do

meio ambiente, e como ele é capaz de fomentar a redução de impactos ambientais negativos?

3.6 COMO A ADESÃO AO MINIMALISMO FOMENTA A DIMINUIÇÃO DE

IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS

O homem1, seduzido pelo estilo de vida engendrado pelo modo de produçãocapitalista, extremamente produtivista, precisa entender que o planeta é umsó, não existe, pelo menos até hoje, outro planeta que possa ser habitado pelaespécie humana, não existe um segundo plano. Deve o homem conviver emharmonia com o meio ambiente, desligando-se do sentimento de posse quepossui sobre o mesmo (ALVES, 2015, p. 82, grifo nosso).

Conforme Schulte e Lopes (2008, p. 38), reverter o consumismo desenfreado é uma

missão quase utópica. “É preciso identificar mecanismos para lidar com este cenário”, sem

atribuir a culpa da degradação ambiental apenas ao consumidor, que, reiterando, não é o

principal responsável. Seria possível “criar” um mecanismo que atinja tanto a indústria de

bens de consumo quanto os consumidores, correspondendo ao ODS 12 da Agenda 2030

(ONU)? Não é apenas possível como, na verdade, este mecanismo já existe: basta que receba

um aprimoramento para alcançar completamente tais expectativas. O estilo de vida

minimalista é o instrumento em questão, o qual já representa boa parte do que se almeja.

Para este aprimoramento, propõe-se uma nova vertente que contemplará o

minimalismo com foco no segmento ambiental. A notável diferença é que esta vertente

precisaria de adeptos ainda mais comprometidos com temáticas ambientais, captando que a

preocupação com o meio ambiente é sua principal motivação. Essa proposta, por sua vez, não

anula o fato de que o minimalismo em sua versão atual, quando praticado por uma quantidade

significativa de indivíduos, já é capaz de fomentar a diminuição de impactos ambientais

negativos, por induzir a redução do consumo e provocar reação em cadeia que finda na

diminuição destes impactos. No entanto, visando estruturar um ideal que abrange, de maneira

ainda mais ativa, tanto a principal causadora dos impactos em questão, que é a indústria de

bens de consumo, quanto o consumismo praticado pelos consumidores, propõe-se a vertente

apresentada.

1 Entende-se por “homem”: ser humano

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A ideia defendida é que o movimento consiga incentivar pessoas a adotarem as

seguintes práticas: dos 4R’s (repensando, reduzindo, reutilizando e reciclando) de forma ainda

mais efetiva; manter-se informadas e ativas na causa ambiental, seja atuando em organizações

e/ou coadjuvando por meio de redes sociais; dar visibilidade aos inúmeros casos relatados de

práticas insustentáveis no meio industrial; optar sempre pela compra de produtos fabricados

por uma empresa realmente sustentável, desde o processo de retirada de um recurso até o

descarte final, quando a compra de segunda mão não for possível; atentar-se às embalagens de

produtos/alimentos; questionar ativamente o sistema capitalista e o consumismo por ele

induzido; optar por alimentação o mais sustentável possível, dentro de suas possibilidades e

restrições alimentares individuais; e, por fim, se comprometer na difusão do movimento.

Dessa forma, os indivíduos estarão contribuindo efetivamente para a redução de impactos

ambientais negativos e para a sustentabilidade.

“Para assegurar que esse renascimento tenha êxito, precisaremos fazer com que um

modo de vida sustentável seja tão natural amanhã como o consumismo é hoje” (THE

WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p. XXIII). Há muitos desafios que surgem como

empecilhos, até mesmo para os minimalistas, dificultando a efetivação desta naturalidade. Um

deles é a propagação de uma indústria que se diz sustentável, inclusive, praticando greenwash,

apenas para aumentar suas vendas e sua produtividade. É a parte da indústria que tenta

alcançar até aqueles que fazem o possível para não serem atingidos, “o mercado sabe disso e

cria estratégias para fazer consumir até mesmo quem não quer consumir'' (MOCARZEL;

ROJAS, 2015, p. 136). Por influência, surgiu então um grupo que acabou cedendo e

acreditando veementemente que consumir estes produtos é o caminho para uma vida

sustentável, no que rebate Castro (2014 apud MOCARZEL e ROJAS, 2015, p. 136):

Gente que não compra produto chinês, não come palmito da Mata Atlântica,só compra atum dolphin-free, só usa papel higiênico reciclado, acham queestão salvando o mundo. Nada pode ser mais intrinsecamente capitalista econsumista do que achar que o mundo pode ser salvo pelo consumo, que nãoé preciso fazer mais nada, se envolver, agir, que basta comprar o sabonetecerto e, pronto, fiz minha parte!, já posso passear com meu jipão deconsciência limpa! O zen ocidental (ao lado de coisas como ioga, alimentosorgânicos e café fair trade) pode ser considerado sintoma de uma sociedadedoente. Hoje em dia, no ocidente rico (inclui o eixo Morumbi-Leblon), ondepessoas brancas ricas e bem-educadas morrem de culpa de seus níveisinsustentáveis de consumo, uma ‘meditaçãozinha’ com um ioguinha, umabananinha orgânica com um ovinho free-range, fazem com que pessoaspoliticamente alienadas pensem que estão fazendo alguma coisa para ajudar

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o mundo. Como disse o Zizek, você tem o prazer de comprar o produto eainda compra junto a redenção da sua culpa consumista. É perfeito.

E ainda, utilizando-se disso como um exemplo, Fletcher e Grose (2019) apontam um

fator que vem contribuindo para o aumento de vendas na indústria da moda. Segundo as

autoras, aderir materiais inovadores e mais sustentáveis na produção têxtil leva a benefícios

percebidos com razoável rapidez: em poucos meses após a aderência, já nota-se um aumento

nos volumes de vendas. Isso coloca em evidência o questionamento feito por Alves (2015),

seria esta forma de desenvolvimento (o sustentável), a economia verde, capaz de equilibrar os

processos ambientais, após décadas e décadas de exploração licenciosa e evitar a desfiguração

do que restou da biodiversidade mundial? O ser humano precisa entender que temos uma

enorme dívida com o planeta.

Não podemos esquecer que uma das bandeiras atuais das corporaçõesindustriais-capitalistas é a sustentabilidade, é passar para o consumidor queelas são empresas engajadas nos assuntos ambientais, são empresas verdes,são ecoeficientes, são ecologicamente viáveis, são portadoras e seguidorasdo ISO 1400 (que trata das regras para a produção sustentável), mas emnenhum momento as corporações falam em diminuir produtividade ouprodução. Ao contrário, para as empresas o mote é desenvolvimentosustentável. Se há produção, se há geração de necessidades, há consumo,mesmo que for “consciente” (ALVES, 2015, p. 85).

Neste cenário, é importante fazer um recorte social daqueles que mais consomem, e

consequentemente precisariam buscar por esta alteração no estilo de vida o quanto antes. Não

é válido impelir um discurso de aplicação do minimalismo para aqueles que vivem em

situação de pobreza e sequer estão inseridos na sociedade de consumo. De acordo com o The

Worldwatch Institute (2010), em estudo de 2006, os 65 países de renda alta onde o

consumismo prevalecia representavam 78% dos gastos de consumo, o que equivale a apenas

16% da população mundial. Cita ainda que se todos vivessem como estadunidenses, um dos

países mais consumistas, a Terra poderia sustentar apenas 1,4 bilhão de pessoas.

Como última discussão levantada, propõe-se uma possibilidade de perspectiva futura.

Segundo Alves (2015), os defensores do sistema capitalista não assumem ser a produção o

verdadeiro impulsionador de todo o sistema capitalista e responsável pela degradação

ambiental. Analisando agora por essa perspectiva, a adesão ao movimento minimalista com

foco no segmento ambiental por toda uma sociedade, compondo uma sociedade minimalista,

permitiria inclusive a atenuação de impactos ambientais negativos a nível global, justamente

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por afetar a produção. Conforme explicado em outro momento deste trabalho, é a produção

quem cria o consumidor (MARX, 1978 apud ALVES, 2015); acredita-se que o ciclo

“produção - produto - consumidor” pode ser quebrado quando não houver consumidor

interessado naquele determinado produto, fator suficiente para que a indústria seja forçada a

se adaptar ao desenvolvimento sustentável e/ou para barrar aquelas que não se adaptam a ele.

No entanto, acabamos retornando ao discurso de Schulte e Lopes (2008) sobre o quão utópico

e distante de nós este processo parece estar, o que deve ser usado como motivação para que

mais estudos na área sejam desenvolvidos e disseminados, ao invés de surtir como um efeito

barreira.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa bibliográfica permitiu observar que o consumismo, provindo do sistema de

produção capitalista, é insustentável. Alguns dos principais autores aqui reunidos abordaram o

assunto de diferentes maneiras: Bauman (2010), chegou a afirmar que o capitalismo é um

sistema parasitário prosperando ao passo que prejudica seu hospedeiro. Van Bellen (2014)

apontou que diversos problemas ambientais são ocasionados pelos padrões de vida não

condizentes com a resiliência do meio ambiente. Santos (2011) questionou se é possível, no

interior da lógica de acumulação e expansão do capital, o desenvolvimento econômico

sustentável, no que Libera, Calgaro e Rocha (2020) concluíram: o modo de produção

capitalista é um inimigo comum do meio ambiente e da própria efetivação da

sustentabilidade.

As perspectivas futuras suportadas pela bibliografia vislumbram o colapso do sistema

ambiental do planeta. Porto-Gonçalves (2004) destacou o fato de estarmos diante de um

modelo-limite que exigiria cinco planetas para oferecer a todos os habitantes o atual estilo de

vida, tese já defendida por Furtado, em 1974, quando afirmava que, caso este estilo de vida se

efetivasse ao redor do mundo, a pressão sobre os recursos não renováveis e a poluição do

meio ambiente custaria a ruína do sistema econômico mundial. Mesmo diante de tantos

efeitos reais provocados pelo capitalismo, Lixieski Sell e Araújo (2020) confirmaram haver

uma despreocupação e descaso com a situação.

Frente à problemática, organizações concluíram que reduzir o consumo e mudar o

padrão de produção é a saída fundamental. Os estudos apresentados sobre os ramos industriais

têxtil, alimentício e HPPC, da indústria de bens de consumo, e os quadros de identificação dos

impactos ambientais negativos e seus meios impactados, permitiram visualizar o quanto esta

indústria contribui para a degradação ambiental, além de estar diretamente relacionada ao

consumismo. AGENDA 2030 ([201-]) destacou a necessidade de haver conscientização sobre

o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza, além de

explicar que é indispensável haver esta mudança nos padrões de consumo e produção para

reduzir a pegada ecológica sobre o meio ambiente. The Worldwatch Institute (2010) sugeriu

que o instinto humano por sobrevivência triunfará e, com isso, será dado um fim ao

consumismo. Alves (2015) defendeu que o ser humano deve se desprender da ideia de que o

meio ambiente está aqui para servi-lo.

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Os autores minimalistas e/ou estudiosos desta área apresentaram o estilo de vida

fixado na redução do consumo. Dentre os abordados, destacaram-se Mocarzel e Rojas,

Michaels, Milburn e Nicodemus (The Minimalists), Jay e Müller. Foi explicado que a adoção

ao minimalismo em escala significativa é capaz de contribuir para a redução de impactos

negativos, uma vez que este segue a proposta de redução do consumo a nível de se viver

apenas com o essencial, defendida acima como necessidade urgente. No entanto, com o

objetivo de alcançar tanto a indústria de bens de consumo quanto os próprios consumidores, e

de podar um movimento centrado na conservação e preservação do meio ambiente, capaz de

contribuir de forma ainda mais significativa nesta redução de impactos, foi proposto o

minimalismo com foco no segmento ambiental.

Portanto, os dados teóricos apresentados ao longo do trabalho permitiram analisar o

movimento por essa perspectiva, integrando-o à possibilidade real e viável de adentrar uma

vida sustentável. É fato que este segmento se torna cada vez mais explorado, porém, ainda há

muito para ser feito, pois trata-se de um assunto recente e pouco abordado entre a comunidade

científica, com a aparente ausência de dados quantitativos para se somarem à hipótese aqui

defendida. Deve-se considerar ainda que podem haver mais literaturas publicadas sobre o

tema, porém de acesso mais exclusivo e/ou de alcance pontual.

Por fim, sugere-se que, além da elaboração e disponibilização de material científico

que explore o minimalismo pelo viés ambiental, os estudos sejam, após devida adequação,

disseminados em linguagem clara e acessível, a fim de alcançar além da comunidade

científica. Mídias sociais podem ser um importante instrumento nesta etapa, desenvolvendo

trabalho semelhante ao que, principalmente, Milburn e Nicodemus (The Minimalists) têm

colocado em prática. Afinal, o sistema social que compõe a sociedade pode (e deve) através

da comunicação desenvolver uma racionalidade sistêmica que viabilize a sustentabilidade

nesta era moderna, repensando e reavaliando a matriz econômica, como explicam Libera,

Calgaro e Rocha (2020). Sabemos o caminho que deve ser percorrido e precisamos seguir

neste rumo antes que seja tarde demais, se é que já não chegamos a este ponto.

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