Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo...

224
UNIVERSIDADE DE BRASILIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA RELATÓRIO FINAL MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA 2 O SEMESTRE DE 2002 PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, CALDAS NOVAS, GO

Transcript of Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo...

Page 1: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UNIVERSIDADE DE BRASILIAPÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

RELATÓRIO FINAL

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA2O SEMESTRE DE 2002

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDASNOVAS, CALDAS NOVAS, GO

Page 2: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

ii

Aos leitoresTemos os prazer de apresentar os relatórios de trabalhos desenvolvidos no curso de

campo realizado, de 16/09 a 10/10 de 2002 no Parque Estadual Serra de Caldas Novas(PESCAN), Caldas Novas, GO.

Esse foi um curso de campo especial por ter sido realizado em conjunto peloProgramas de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasilia e da UniversidadeFederal de Uberlândia. Essa parceria foi muito bem sucedida.

Os curso de campo dos dois Programas tem como objetivo básico o treinamento deseus estudantes em levantar questões, numa ampla gama de temas e organismos, e propormetodologias para respondê-las o que inclui a aplicação de diferentes técnicas de trabalhono campo. Nesse caso, as experiências dos participantes permitiram ampliar essa gama detemas, organismos e técnicas tratados durante o curso.

Tradicionalmente os cursos de campo dos PPGs em Ecologia no Brasil recebemalguns alunos e professores de fora, o que tem se mostrado uma prática enriquecedora.Nesse curso, a convivência no campo por três semanas permitiu um aprofundamento natroca de conhecimentos e experiências e uma maior interação entre alunos e entreprofessores dos dois programas. Essa proximidade resulta em uma maior facilidade emcolaborações e em parcerias futuras.

Esperando que novas parcerias como essa venham a se concretizar, apresentamosaqui os resulatados dos trabalhos desenvolvidos durante o curso. É importante lembrar queesses trabalhos são relatórios de atividades, em grupo ou individuais, desenvolvidosdurante uma disciplina e não constituem publicações formais como artigos ou capítulos.

A realização do curso não teria sido possível sem o apoio e a colaboração dadireção do PESCAN, na pessoa do Sr. Alessandro Belisário, e de seus funcionários. A elenossos agradecimentos e a expectativa de continuar contando com o apoio nas próximasedições do curso.

O apoio e a boa vontade dos técnicos e motoristas que colaboraram com o cursofacilitaram, em muito, as atividades dos participantes. Dona Eunice, cozinheira de mãocheia, reduziu as aguras de uma jornada de 12 ou mais horas de trabalho diário dosparticipantes, com seus quitutes, simpatia e carinho. A todos eles nosso reconhecimento eagradecimento.

Esperamos que as informações aqui contidas, funcionam como ferramenta notreinamento de outro alunos em ecologia e como incentivo ao desenvolvimento detrabalhos no cerrado. E desejamos bom proveito a todos os leitores.

Helena C. MoraisPPG em EcologiaUniversidade de Brasilia

Paulo Eugênio OliveiraPPG Ecologia e Conservação de Recursos Naturais

Universidade Federal de Uberlândia

Page 3: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

iii

Apresentação

A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal deUberlândia foi extremamente gratificante. Os benefícios foram evidentes para todos osparticipantes, desde os alunos até os professores. Um dos propósitos de um curso decampo é a possibilidade dos alunos interagem com uma gama de assuntos, métodos eprofessores diferentes e em alguns casos fazer uma prévia do seu assunto de dissertação outese. Para os professores o curso de campo representa uma possibilidade de conhecermelhor os alunos e ver ou rever uma área de pesquisa.

A escolha do local para este curso, o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN) foi uma opção excelente. Este Parque, embora situado muito próximo a umaárea urbana com alto fluxo de turistas, ainda tem muita área bem preservado e tem umaampla variedade de ambientes além de oferecer ótimas instalações para a realização decursos deste tipo.

Os relatórios apresentados neste volume cobrem uma gama de tópicos ecológicos,variando desde estudos de mamíferos, interações planta-inseto a levantamento dascomunidades vegetais. Entretanto, excepcionalmente não houve nenhum estudo compássaros, talvez um acontecimento inédito em cursos de campo. A passagem de um fogo,algumas semanas antes da realização deste curso, ofereceu uma oportunidade impar paraestudos comparativos entre locais queimados e não-queimados. Os resultados apresentadossão iniciais e não devem ser tomados como respostas definitivas as perguntas levantadas,entretanto em muitos casos levantaram outras perguntas interessantes. Todavia, em algunscasos os dados coletados representam informações inéditas para a Parque e poderão serúteis em planos de manejo. Como aconteceu depois de outros cursos de campo, osresultados de vários projetos já foram apresentados em congressos científicos e atépublicados em revistas especializadas.

Como coordenador da montagem deste volume de relatórios, posso afirmar que estatarefa não foi fácil, mas foi gratificante e aprendi muito sobre a logística de como preparare formatar relatórios com formatos tão diversos como foram apresentados. A apresentaçãodos relatórios está dividida em partes, representando os tipos de trabalhos realizados pelosalunos: Trabalhos em grupo, Trabalhos de 1 dia e Trabalhos individuais finais.

Finalmente, gostaria de agradecer a todos os que participaram no curso, osprofessores, os alunos, os técnicos (sem os quais muitos problemas teriam sido muito maisdifíceis de resolver) e especialmente a D. Eunice pela boa vontade, bom humor e ossorrisos de satisfação depois das refeições. Sem dúvida o apoio do diretor do Parque, Sr.Alessandro Belisário, facilitou em muito nossa estadia e os bons resultados obtidos duranteeste curso, bem como os guardas que sempre tiveram boa vontade em ajudar e mostrar asalguns dos lugares mais belos do Parque.

Brasília, 19 de março de 2004

Prof. John Du Vall Hay

Page 4: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

iv

Métodos em Ecologia de CampoParque Estadual da Serra de Caldas Novas

16/09/02 a 05/10/02

ParticipantesUniversidade de Brasilia Universidade Federal de Uberlandia

Professores John Du Vall HayJader Soares Marinho FilhoPedro Cordeiro*Ludmilla Aguiar*

Paulo Eugenio A OliveiraHeraldo VasconcellosGlein Monteiro de AruajoAriovaldo GiarettaGlauco Machado*Fernando PedroniMaryland Sanchez LacerdaLucélia Nobre Carvalho

Monitoras Janaina Lacerda Helena Maura Torezan SilingardiAlunos(as) Caio A. Rebula

Ernestino S. G. GuarinoOtacílio SantanaPatricia Rodin

Carlos H.G. AngeluciClaudia ToledoClaudio MunizFlavio R. OliveiraHelder N. ConsolaroJania C. SallesMarcela YamamotoMarcelle S.C. RodriguesRafael ArrudaSergio Lopes

* Convidado(a)

Page 5: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

v

Relação dos projetos em grupoPráticas em grupo 1 -3 Práticas em grupo 4 - 6

Grupo ! Grupo 2 Grupo 3 Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3PatriciaMarcelleJaniaOtacílioFlávio

CaioClaudioSergioMarcela

ErnestinoHelderClaudiaCarlosRafael

OtacilioCarlosClaudiaClaudioMarcelle

PatriciaFlávioSergioHelder

ErnestinoCaioMarcelaRafaelJania

Dia Orientador Relator(a) Título resumido do projeto Página17/09 Glein Araujo Chave de Identificação das espécies lenhosas 21o

18/09Glein Araujo (G1)John Hay (G2)Heraldo Vasconcellos (G3)

JaniaMarcelaErnestino

Fitossociologia usando ParcelasFitossociologia usando Interceptação de linhaFitossociologia usando Ponto-Quadrantes

71218

2o

19/09John Hay (G1)Heraldo Vasconcellos (G2)Glein Araujo (G3)

MarcelleCaio Carlos

Características foliares na mataRiqueza de formigasSimilaridade florística

232833

3o 21/09

Janaina/Maura (G1)Paulo Oliveira (G2)John Hay (G3)

PatríciaClaudioClaudia

Fenologia instantânea Oferta de nectar por CaryocarDistribuição espacial de palmeiras

384751

4o

23/09John Hay (G1)Maura/Janaina (G2)Paulo Oliveria (G3)

OtacilioFlávioRafael

Características foliares e herbivoriaComportamento em abelhasUso de recursos por beija-flores

546065

5o 25/09

Ariovaldo Giaretta (G1)Glauco Machado (G3)John Hay (G2)

CarlosHelderJania

Dieta de carnívorosEficiência de NEFsEfeito do fogo na sobrevivência de larvas

677072

6o 26/09

Jader Marinho e Ludmilla Aguiar (G1)Ariovaldo Giaretta (G2)Glauco Machado (G3)

ClaudiaSérgioRafael

Comunidade de morcegosLevantamento de insetos noturnosLevantamento de anuros

778083

Page 6: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

vi

Relação dos projetos de 1 dia

Dia Grupo Título do projeto Página1o 20/09

Caio e CarlosClaudio e SergioFlavio e MarcelaHelder e ErnestinoJania e MarcellePatricia e OtacilioRafael e Claudio

Mortalidade de ninhos de Constrictotermes cyphergasterHerbivoria foliar em SiparunaEfeito de queimada nas formigasPredação de frutos de jatobáFauna de invertebrados na serapilheiraEvapotranspiração de Caryocar e XylopiaComparação de infestação por erva-de-passarinho

87909497100103107

2o

24/09Claudia e MarcelleClaudio e HelderErnestino e CaioFlávio e SergioMarcela e OtacilioPatricia e CarlosRafael e Jania

Comparação de distribuição de galhas e minadoresEstabelecimento de cupinzeirosAzteca e CecropiaEfeito do fogo na disponibilidade de recursosLevantamento fitissociológico de gramíneasRelacao mutualisticaComportamento alimentar de Eupetomena

110112117120123129132

Page 7: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

vii

Relação dos projetos individuais finais

Aluno Título do Projeto PáginaCaio A. Rebula

Ernestino S. G. Guarino

Otacílio Santana

Patricia Rodin

Fauna de térmitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de cerrado, no Parque Estadual da Serra deCaldas Novas, GOInfluência do fogo na floração de Galactia peduncularis (Benth.) Taub. (Fabaceae) em um camporupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO)Caracterização e análise das estruturas diamêtricas e estádio de regeneração na Mata de Galeria daCascatinha, Parque Estadual de Serra de Caldas NovasImpacto do fogo em Aspidosperma tomentosum Mart. (Apocynaceae) no Parque Estadual da Serra deCaldas Novas (PESCAN)

136

141

147

155

Carlos H.G. Angeluci

Claudio MunizFlavio R. OliveiraHelder N. Consolaro

Jania C. Salles

Marcela Yamamoto

Marcelle S.C. RodriguesRafael ArrudaSergio Lopes

Relação entre a fauna de invertebrados e ninhos de termitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas decerrado do PESCAN-GOUm teste do modelo de Janzen-Connell com duas espécies arbóreas do CerradoEmissão de voláteis em Curatella americana pista da presença de herbívoros para os predadores?Predação de sementes de Jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne (Leguminosae –Caesalpinoideae)Comportamento territorial de Eupetomena macroura Gmelin (Apodiforme) em Norantea adamantiumCamb. (Marcgraviaceae)Influência de bruquídeos na produção de sementes de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área decerrado sensu strictoAnálise da motivação de estudantes em relação ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - GOExiste especificidade de hospedeiro por Struthanthus sp. (Loranthaceae) em uma área de cerrado?Riqueza e abundância de espécies de pequenos mamíferos em cerrado sensu stricto queimado e nãoqueimado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO

163

167175182

187

195

201207213

Page 8: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas

Projetos em Grupo

Set/02

Page 9: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

2

CHAVE DICOTÔMICA GERAL PARA IDENTIFICAÇÃO DE

ALGUMAS ESPÉCIES VEGETAIS DE UMA ÁREA DE CERRADO –

Parque Estadual Serra de Caldas Novas (CALDAS NOVAS – GO)

Caio Rébula, Carlos Angeluci, Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Ernestino Guarino,

Flávio Oliveira, Hélder Consolaro, Jania Salles, Maecela Yamamoto, Marcelle Rodrigues,

Otacílio Santana, Patricia Rodin, Rafael Arruda, Sérgio Lopes

1. Folha simples..........................................................................................................................................2

1’. Folha composta...................................................................................................................................33

2. Folha alterna...........................................................................................................................................3

2’. Folha não alterna.................................................................................................................................18

3. Folhas glabras.........................................................................................................................................4

3’. Folhas pilosas......................................................................................................................................10

4. Presença de látex.........................................................................................Pouteria ramiflora

4’. Sem látex...............................................................................................................................................5

5. Presença de ramentas.............................................................................................................................6

5’. Sem ramentas........................................................................................................................................7

6. Folhas lanceoladas........................................................................................................Erythroxylum sp.

6’. Folhas oblonceoladas........................................................................Erythroxylum suberosus

7. Presença de glândulas translúcidas nas folhas............................................Casearia sylvestris

7’. Sem glândulas translúcidas nas folhas..................................................................................................8

8. Folhas membranáceas..........................................................................Agonandra brasiliensis

8’. Folhas coriáceas....................................................................................................................................9

9. Folhas lanceoladas...................................................................................Ouratea hexasperma

9’. Folhas elípticas.............................................................................................Annona coriacea

Page 10: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

3

10. Folhas pilosas, curvinérveas...................................................................Miconia ferruginata

10’. Folhas pilosas, não curvinérveas.......................................................................................................11

11. Presença de espinhos.............................................................................Solanum lycocarpum

11’. Sem espinhos....................................................................................................................................12

12. Folhas oblongas, com pilosidade abaxial........................................Piptocarpha rotundifolia

12’. Folhas não oblongas..........................................................................................................................13

13. Folhas lanceoladas..............................................................................................................................14

13’. Folhas elípticas..................................................................................................................................15

14. Folhas com pilosidade abaxial e adaxial...................................................Xylopia aromatica

14’. Folhas com pilosidade adaxial.................................................................................Diospyrus hispida

15. Folhas com textura áspera...................................................................................................16

15’. Folhas com textura não áspera...........................................................................................17

16. Folhas com pecíolo involupto........................................................................Davilla eliptica

16’. Folhas apecioladas................................................................................Curatella americana

17. Folhas com borda revoluta, e ausência de ferrugem...............................Hirtella glandulosa

17’. Folhas com borda não revoluta e presença de ferrugem..........................Styrax ferrugineus

18. Filotaxia verticilada............................................................................................................................19

18’. Filotaxia oposta.................................................................................................................................22

19. Folha pilosa..........................................................................................................Aegiphila sellowiana

19’. Folha glabra......................................................................................................................................20

20. Presença de nectário extra-floral...............................................................................Qualea parviflora

20’. Ausência de nectário extra-floral......................................................................................................21

21. Folha de 10 a 12 cm de comprimento.......................................................................Vochysia elliptica

21’. Folha de 20 a 22 cm de comprimento........................................................Salvertia convallarieodora

Page 11: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

4

22. Folha pilosa........................................................................................................................................23

22’. Folha glabra......................................................................................................................................27

23. Presença de estípulas interpeciolar.....................................................................................Alibertia sp.

23’. Ausência de estípula interpeciolar....................................................................................................24

24. Folha com látex.........................................................................................Aspidosperma macrocarpon

24’. Folha sem látex.................................................................................................................................25

25. Folha concolor.................................................................................................Byrsonima verbascifolia

25’. Folha discolor....................................................................................................................................26

26. Tronco de cor marrom escuro....................................................................................Byrsonima crassa

26’. Tronco de cor creme......................................................................................................Byrsonima sp.

27. Folha com nervura coletora........................................................................................Myrcia variabilis

27’. Folha sem nervura coletora...............................................................................................................28

28. Folha com látex......................................................................................................Hancornia speciosa

28’. Folha sem látex.................................................................................................................................29

29. Com nectário extra-floral...................................................................................................................30

29’. Sem nectário extra-floral...................................................................................................................31

30. Nectário extra floral no ápice da folha........................................................................Lafoensia pacari

30’. Nectário extra floral par na base do pecíolo..........................................................Qualea grandiflora

31. Folha com nervura curvinérvea..................................................................................Miconia albicans

31’. Folha sem nervura curvinérvea.........................................................................................................32

32. Tronco liso....................................................................................................Byrsonima coccolobifolia

32’. Tronco rugoso.................................................................................................................Neea theifera

33. Folha composta pinada.......................................................................................................................34

33’. Folha composta não pinada...............................................................................................................46

Page 12: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

5

34. Folha composta imparipenada............................................................................................................35

34’. Folha composta paripenada...............................................................................................................41

35. Folha com nº de folíolos igual a 5.....................................................................Acosmium dasycarpum

35’. Folha com nº de folíolos superior a 5...............................................................................................36

36. Folíolo com forma elíptica.................................................................................................................37

36’. Folíolo com forma lanceolada........................................................................Astronium fraxinifolium

37. Folíolo com menos de 2 cm de comprimento..................................................Dalbergia miscolobium

37’. Folíolo com mais de 2 cm de comprimento......................................................................................38

38. Folíolo com coloração discolor.............................................................................Connarus suberosus

38’. Folíolo com coloração concolor........................................................................................................39

39. Folíolo com menos de 3 cm de largura..............................................................................................40

39’. Folíolo com mais de 3 cm de argura.................................................................................Vatairea sp.

40. Folha com menos de 7 folíolos.......................................................................................Rourea induta

40’. Folha com menos de 7 folíolos..........................................................................Bowdichia virgiloides

41. Folha com 2 folíolos...........................................................................................Hymenea stignocarpa

41’. Folha com mais de 2 folíolos............................................................................................................42

42. Folíolo que não apresenta forma elíptica...........................................................................................43

42’. Folíolo com forma elíptica................................................................................................................44

43. Folíolo com forma ovada.............................................................................Sclerolobium paniculatum

43’. Folíolo com forma assimétrica.......................................................................................Dipterix alata

44. Folíolo com coloração concolor........................................................................Pterodon emarginatus

44’. Folíolo com coloração discolor.........................................................................................................45

45. Folíolo glabro..................................................................................................................Simarouba sp.

45’. Folíolo piloso......................................................................................................Sclerolobium aureum

46. Folhas palmadas.................................................................................................................................47

Page 13: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

6

46’. Folhas recompostas...........................................................................................................................49

47. Folhas concolor....................................................................................................Caryocar brasiliense

47’. Folhas discolor..................................................................................................................................48

48. Folíolos unidos na base.....................................................................................Cecropia pachystachia

48’. Folíolos separados, com pecíolos...................................................................Schefflera macrocarpon

49. Presença de espinhos................................................................................................Mimosa claussenii

49’. Ausência de espinhos........................................................................................................................50

50. Ausência de nectários extraflorais.......................................................................Dimorphandra mollis

50’. Presença de nectários extraflorais.....................................................................................................51

51. Folhas com 4 folíolos..................................................................................Enterolobium gummiferum

51’. Folhas com mais de 4 folíolos..........................................................................................................52

52. Foliólolos pilosos...................................................................................Stryphnodendron polyphyllum

52’. Foliólolos glabros..............................................................................................................................53

53. Foliólolos com mais de 2 cm de comprimento (média)..........................Stryphnodendron adstringens

53’. Foliólolos com menos de 2 cm de comprimento (média)..................................Platymenia reticulata

Page 14: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

7

G1.1 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO S.S. DO

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO

Jania C. Salles, Flávio R. Oliveira, Marcelle S. C.Rodrigues, Otacílio Santana, Patricia Rodin

Orientador: Prof. Dr. Glein M. Araújo

INTRODUÇÃOO Cerrado é o segundo maior bioma

do Brasil, e no entanto, é o menos protegido(Felfili et al. 2002), tendo sido o alvo daspolíticas públicas de desenvolvimentoagropecuário. Estima-se que apenas 20%deste bioma encontram-se em seu estadooriginal, sendo que 67% é considerada“altamente modificadas” (Silva et al. 2002).Tal situação aumenta a necessidade dacriação de unidades de conservação.

O Cerrado apresenta uma dasmaiores biodiversidades dos trópicos, sendoa mais rica das savanas tropicais (Oliveira eBrandão, 1991). Sua vegetação é altamenteheterogênea, contendo apenas algumasespécies de ampla distribuição, o quesugere um padrão espacial em mosaico.Poucos estudos têm sido realizados nestebioma, portanto, levantamentos florísticos efitossociológicos são de grande importânciapara compreensão dos padrõesbiogeográficos do Cerrado, e têmsubsidiado a determinação de áreasprioritárias para a conservação (Felfili et al.2002). O objetivo deste estudo foi realizarum levantamento fitossociológico de umaárea de cerrado s.s. do Parque Estadual daSerra de Caldas Novas - PESCAN, a partirdo qual foi possível determinar as espéciesde maior importância na estrutura dacomunidade.

METODOLOGIAEste levantamento foi realizado por

três grupos através de três metodologiasdistintas, método de parcelas, interceptaçãode linhas e ponto quadrante, sendo que onosso grupo, em específico, utilizou oprimeiro método. A área estudada é umcerrado s.s. localizado no Parque Estadual

da Serra de Caldas Novas, localizada entreos municípios de Caldas Novas e RioQuente, no Sudoeste de Goiás. As coletasocorreram no período matutino do dia 18 desetembro de 2002, durante as atividades docurso de campo UnB/UFU-2002.

Foi traçada uma linha de 300 metrosde comprimento, onde nove parcelas de10x10m foram estabelecidas. O pontoinicial da parcela foi determinado atravésdo uso de uma tabela de númerosaleatórios. Em cada parcela foramidentificados todos os indivíduos arbóreos,maiores que dois metros de altura, com seusvalores de circunferência a 1,30 metro dosolo e altura.

Com o auxílio do programaFITOPAC, foram calculados os valoresabsolutos e relativos de densidade,frequência e dominância, índice de valor deimportância (IVI) e índice de valor decobertura (IVC) para as famílias e espéciesamostradas, além do volume total porespécie. Foi confeccionada a curva docoletor, realizada uma análise desimilaridade entre as parcelas (SYSTAT9.0) e calculado o índice de diversidade deShannon.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam encontrados 140 indivíduos

pertencentes a 29 espécies, distribuídas em20 famílias. A família Vochysiaceae foi aque apresentou o maior número deindivíduos (52) e IVI, seguida porLeguminoseae (19), sendo a última a maisrica, representada por quatro espécies. Das20 famílias encontradas, 14 (48%) delasforam representadas apenas por umaespécie (Tabela 1).

Page 15: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

8

Quanto às espécies, das 29encontradas, 11 foram representadas apenaspor um indivíduo. As espécies de maior IVIforam, em ordem crescente, Qualeaparviflora, Sclerolobium paniculatum e Q.grandiflora, apresentando, 36, 12 e 14indivíduos, respectivamente. Embora aespécie Q. grandiflora tenha apresentadoum menor número de indivíduos que S.paniculatum, o seu menor IVI se deve a suabaixa dominância relativa em comparaçãocom a última. Os mesmos resultados do IVIforam encontrados para IVC (Tabela 02).

Sclerolobium paniculatum foi aespécie que apresentou o maior volumecilindríco total, o que se deve ao fato deseus indivíduos possuírem altura e diâmetrosuperiores as demais espécies (Tabela 02).

O índice de diversidade de Shannonpara a comunidade em estudo foi de 2,746,sendo este um valor baixo, quandocomparado com outras comunidades decerrado s.s. de Brasília e Goiás (Felfini etal. 1998), o que pode ser explicado pelapequena área amostrada.

A análise de similaridade (Figura01) mostrou que as parcelas espacialmentemais próximas não são, necessariamente,mais similares em relação à composição deespécies. Parcelas mais distantesapresentaram uma maior similaridade queaquelas mais próximas, o que nos indicaque a área estudada não se encontra numgradiente ambiental, o que acarretaria numamudança seqüencial na composição deespécies, e que a comunidade do cerrado éaltamente heterogênea em micro-escala.

Quanto à curva do coletor, podemosobservar que os primeiros 40 indivíduosamostrados representam mais da metadedas espécies encontradas, havendoacréscimo de apenas nove espécies quandoa amostra atingiu 140 indivíduos. Portanto,o método de parcelas pode ser considerado

desvantajoso, devido ao grande esforçoamostral necessário para se obter uma boarepresentatividade da riqueza dacomunidade. No entanto, podemosconsiderar como uma vantagem destemétodo, o fato deste amostrar espécies maisraras, que só apareceram após amostragemde um grande número de indivíduos.

AGRADECIMENTOSAgradecemos aos professores Dr.

John Hay e Dr. Heraldo Vasconcelos pelasdicas e companhia na execução deste estudoe, em especial, ao Prof. Dr. Glein M. deAraújo pelo fundamental apoio nadiscussão e orientação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.S.; DELITTI, W. B. C 2002.Composição florística e fitossociologiado cerrado sentido restrito no municípiode Água Boa – MT. Acta Bot. Bras. n.16, v. 1, p. 103-112.

OLIVEIRA, P. S., BRANDÃO, C. R. F.1991. The ant community associatedwith extrafloral nectaries in the Braziliancerrados. Ant-Plant Interactions (ed.By C. R. Huxley and D. F. Culter),Oxford University Press. pp. 198-212.

SILVA, L. O., COSTA, D. A., FILHO, K.E. S., FERREIRO, H. D., BRANDÃO,D. 2002. Levantamento florístico efitossociológico em duas áreas decerrado sensu stricto no Parque Estadualda Serra de Caldas Novas, Goiás. ActaBot. Bras. n. 16, v. 1, p. 43-53.

Page 16: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

9

Tabela 1. Fitossociologia, de uma área de cerrado s. s. do Parque Estadual de Serra de CaldasNovas, GO. Ordem crescente de Índice de Valor de Importância (IVI) por família.Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR), Densidade Relativa (DeR) e Índice deValor de Cobertura (IVC).

FAMÍLIA DoR FR IVI DeR IVC

Vochysiaceae 38.07 14.52 89.73 37.14 75.21

Leguminosae 36.16 12.90 62.64 13.57 49.73

Sapotaceae 6.40 9.68 23.22 7.14 13.55

Apocynaceae 3.25 9.68 20.07 7.14 10.39

Clusiaceae 3.42 8.06 15.77 4.29 7.70

Asteraceae 1.13 4.84 13.83 7.86 8.99

Caryocaraceae 2.85 4.84 9.83 2.14 4.99

Bignoniaceae 2.99 3.23 9.79 3.57 6.56

Rubiaceae 1.04 4.84 9.45 3.57 4.62

Malpighiaceae 0.66 4.84 8.36 2.86 3.52

Lythraceae 0.54 4.84 7.52 2.14 2.68

Myrtaceae 0.88 3.23 6.24 2.14 3.02

Annonaceae 0.21 3.23 4.76 1.43 1.64

Bombacaceae 1.23 1.61 3.56 0.71 1.95

Ochnaceae 0.67 1.61 3.00 0.71 1.39

Proteaceae 0.18 1.61 2.51 0.71 0.89

Celastraceae 0.12 1.61 2.45 0.71 0.83

Hippocrateaceae 0.12 1.61 2.45 0.71 0.83

Dilleneaceae 0.06 1.61 2.38 0.71 0.77

Euphorbiaceae 0.02 1.61 2.35 0.71 0.73

Page 17: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

10

Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado s.s. do Parque Estadual da Serra de CaldasNovas, GO. Ordem crescente de Indice de Valor de Importância (IVI) por espécies.Dominância Relativa (DoR), Frequência Relativa(FR), Indice de Valor de Cobertura (IVC),Densidade Relativa (DeR) e Volume (Vol).

Espécies DoR FR DeR IVI IVC Vol

Qualea parviflora 23.88 9.21 25.71 58.81 49.60 1.3363

Sclerolobium paniculatum 33.63 6.58 8.57 48.78 42.20 3.9100

Qualea grandiflora 13.86 10.53 10.00 34.39 23.86 0.9226

Pouteria ramiflora 6.40 7.89 7.14 21.44 13.55 0.2500

Aspidosperma tomentosum 2.87 6.58 5.71 15.16 8.58 0.1120

Kielmeyra coriacea 3.42 6.58 4.29 14.28 7.70 0.2970

Eremanthus glomerulatus 0.70 3.95 7.14 11.79 7.84 0.0305

Tabebuia aurea 2.99 2.63 3.57 9.19 6.56 0.1221

Caryocar brasiliense 2.85 3.95 2.14 8.94 4.99 0.1595

Palicourea rigida 1.04 3.95 3.57 8.56 4.62 0.0303

Bowdichia virgilioides 1.58 3.95 2.14 7.67 3.72 0.1087

Byrsonima crassa 0.62 3.95 2.14 6.71 2.76 0.0166

Lafoensia pacari 0.54 3.95 2.14 6.63 2.68 0.0202

Acosmium dasycarpum 0.80 2.63 2.14 5.57 2.94 0.0284

Aspidosperma macrocarpon 0.38 2.63 1.43 4.44 1.81 0.0093

Vochysia rufa 0.32 2.63 1.43 4.38 1.75 0.0088

Annona crassiflora 0.21 2.63 1.43 4.27 1.64 0.0049

Myrcia sp 0.78 1.32 1.43 3.52 2.21 0.0318

Eriotheca grassilipes 1.23 1.32 0.71 3.26 1.95 0.1123

Ouratea hexasperma 0.67 1.32 0.71 2.70 1.39 0.0191

Piptocarpha rotundifolia 0.43 1.32 0.71 2.46 1.15 0.0138

Roupala montana 0.18 1.32 0.71 2.21 0.89 0.0061

Stryphnodendron polyphyllum 0.16 1.32 0.71 2.19 0.87 0.0054

Austroplenckia populnea 0.12 1.32 0.71 2.15 0.83 0.0051

Salacea sp 0.12 1.32 0.71 2.15 0.83 0.0030

Myrcia tomentosum 0.10 1.32 0.71 2.13 0.81 0.0027

Davilla eliptica 0.06 1.32 0.71 2.09 0.77 0.0013

Byrsonima coccolobifolia 0.04 1.32 0.71 2.07 0.76 0.0010

Maprunea guianensis 0.02 1.32 0.71 2.05 0.73 0.0005

Page 18: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

11

Cluster Tree

0 2 4 6 8 10 12Distances

PARC1

PARC2

PARC3

PARC4

PARC5

PARC6

PARC7

PARC8

PARC9

Figura 1 – Análise de similaridade entre as parcelas amostradas.

Page 19: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

12

G1.2 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO EM UMA ÁREA

DE CERRADO SENSU STRICTU, PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE

CALDAS NOVAS, GOIÁS

Marcela Yamamoto, Caio Rebula, Cláudio Muniz & Sérgio Lopes

Orientador: John Du Vall Hay

INTRODUÇÃOO cerrado ocupa uma área de

aproximadamente 2 milhões de km2 eapresenta uma elevada biodiversidade(Mendonça et al., 1998), sendo consideradocomo a flora mais rica entre as savanasmundiais (Klink,1996). A forma savânicamais comum no Brasil Central é o cerradosensu stricto caracterizado por apresentar osestratos arbóreo e arbustivo bem definidos ecobertura arbórea variando de 10 a 60 %(Eiten, 1994).

O estudo fitossociológico forneceinformações sobre a estrutura dacomunidade de uma determinada área, alémde possíveis afinidades entre espécies ougrupos de espécies, acrescentando dadosquantitativos a respeito da estrutura davegetação. Levantamentos florísticos efitossociológicos (Castro,1994; Felfili et al,1993, 1994, 1997, 2002; Andrade et al,2002; Silva et al, 2002) têm fornecidoinformações importantes para acompreensão dos padrões biogeográficosdo cerrado, e subsidiado a determinação deáreas prioritárias para a conservação (Felfiliet al, 2002).

Buscando ampliar as informaçõessobre a vegetação arbórea de cerrado, foifeito um levantamento fitossociológico deuma área de cerrado sensu stricto.

MATERIAL E MÉTODOSOs dados foram coletados no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas,localizado entre os municípios de CaldasNovas e Rio Quente, no sudeste do Estadode Goiás, a 180 km da capital Goiânia(Silva et al, 2002). A coleta foi realizada no

dia 18 de setembro de 2002. O transectoconsistiu em uma linha de 300m,atravessando uma área de cerrado sensustricto. Foi medida a altura de cadaindivíduo da amostra, assim como, aextensão da projeção da copa sobre a linha.Calculamos valores para Índice dedensidade linear, densidade relativa, Ïndicede cobertura linear, cobertura relativa,freqüência relativa e freqüência absoluta(Brower et al 1998), com o objetivo dedefinir o valor de importância relativa paracada espécie encontrada.

Foi estabelecida uma curva docoletor para verificar a eficiência dametodologia.

RESULTADOS E DISCUSSÃOEm alguns tipos de vegetação, o uso

de parcelas pode não ser prático ouconsumir muito tempo. O método do pontoquadrante pode dificultar a amostragem,caso a distribuição dos indivíduosamostrados não seja aleatória. Nestes casoso uso de transectos pode ser útil, sendoeficientes e vantajosas em estudos deestágios contíguos na sucessão ecológica,ou comunidades em zonas de transição.

Um outro método utilizado emestudos fitossociológicos é a interceptaçãode linha. Uma linha é passada atravessandoa comunidade a ser estudada, os dados sãocoletados de acordo com a projeção daamostra sobre a linha.

Como a área não é amostrada,apenas índices de densidade e estimativasde densidade relativa podem ser calculados.Em casos onde valores de densidaderelativa são suficientes, a técnica de

Page 20: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

13

interceptação de linha é rápida e eficiente(Brower et al, 1998)

Foram encontradas 21 espéciessendo um total de 57 indivíduos. Os índicesmencionados estão relacionados na tabela 1.O valor de importância é a soma dosvalores da densidade, frequencia ecoberturas relativas. A partir deste índice épossível verificar a dominância de Qualeaparviflora, Sclerolobium paniculatum,Caryocar brasiliense em relação as outras21 espécies amostradas, como demonstradopelo valor de importância relativa (Figura1) A maioria das espécies, 15 entre 21encontradas, foram representadas porapenas um indivíduo, apresentando baixosvalores de importância relativa.

O resultado encontrado na curva docoletor demonstrou que o transecto foicurto, não sendo suficiente para descrever acomunidade arbórea local. É necessário umtransecto com comprimento mais longopara que o levantamento de espécies sejasatisfatório (Figura 2)

As maiores alturas dos indivíduosamostrados ao longo do transecto, selocalizam entre o intervalo de 100 a 200metros (Figura 3).

CONCLUSÃOO comprimento do transecto foi

insuficiente para amostrar toda acomunidade arbórea, como evidenciadopela curva do coletor. A maioria dasespécies foi representada por apenas umindivíduo, havendo dominância de Qualeaparviflora, Sclerolobium paniculatum eCaryocar brasiliense na área amostrada

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, L. A. Z.; FELFILI, J.M. &VIOLATTI, L. 2002. Fitossociologia deuma área de cerrado denso na RECOR –IBGE, Brasília – DF. Acta Bot. Brás. 16(2): 225-2;40.

BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; VON ENDE,C.N. 1998. Field and laboratory methods

for general ecology. 4th edition.McGraw-Hill, Boston. 273p

CASTRO, A. A. J. F. 1994. Composiçãoflorístico-geográfica (Brasil) efitossociológica (Piauí-São Paulo) deamostras de cerrado. Tese de doutorado.UNICAMP, Campinas. 520 p.

EITEN, G. 1994. Vegetação do Cerrado.pp. 17-73. In: M. N. Pinto (Org.).Cerrado: Caracterização, Ocupação ePerspectivas. Editora Universidade deBrasília. Brasília.

FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C.,REZENDE, A. V.; MACHADO, B. W.T.; SILVA, P. E. N. & HAY, J. D. 1993.Análise comparativa da florística efitossociologia da vegetação arbórea docerrado sensu stricto na ChapadaPratinha, Brasil. Acta botânica Brasílica6(2): 27-46.

FELFILI, J. M.; FILGUEIRAS, T. S.;HARIDASSAN, M.; SILVA JÚNIOR,M. C.; MENDONÇA, R. C. &REZENDE, A. V. 1994. Projetobiogeografia do bioma cerrado:vegetação e solos. Cadernos deGeociências 12: 75-166.

FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C.;REZENDE, A. V.; NOGUEIRA, P. E.;WALTER, B. M. T., SILVA, M. A. &ENCINAS, J. I. 1997. Comparaçãoflorística e fitossociológica do cerradonas chapadas Pratinha e dos Veadeiros.Pp. 6-11. In: L. Leite & C. H. Saito(Eds.). Contribuição ao conhecimentoecológico do cerrado. Ed. Universidadede Brasília. Brasília, DF.

FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;

SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.S. & DELITTI, W. B. C. 2002.Composição florística e fitossociologiado cerrado sentido restrito no municípiode Ägua Boa – MT. Acta bot. Brás.16(1): 103- 112.

Page 21: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

14

KLINK, C. A. 1996. Relação entre odesenvolvimento agrícola e abiodiversidade. pp. 25-27. In: R. C.Pereira, L. C. B. Nasser (Eds.). AnaisVIII Simpósio Sobre o Cerrado, 1st

International Symposium on TropicalSavanas – Biodiversidade e ProduçãoSustentável de Alimentos e fibras nosCerrados. Embrapa CPAC. Brasília.

MENDONÇA, R. C.; FELFILI, J. M.;SILVA Jr., M. C.; REZENDE, A. V.;NOGUEIRA, P. E.; WALTER, B. M. T.

& FILGUEIRAS, T. S. 1998. Floravascular do cerrado. pp. 289-539. In: S.M. Sano, S. P. Almeida (Eds.).Cerrado: Ambiente e Flora. EmbrapaCPAC. Planaltina.

SILVA, L. O., COSTA, D. A.; SANTOFILHO, K. E.; FERREIRA, H. D. &BRANDÃO, D. 2002. Levantamentoflorístico e fitossociológico em duasáreas de cerrado sensu stricto no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas,Goiás. Acta Bot. Bras. 16(1): 43-53.

Page 22: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

15

Tabela 1. Valor de importância (IV), índice de densidade Linear (ID) , densidade relativa(RD), índice de cobertura linear (IC), cobertura relativa (RC), freqüência (F) e freqüênciarelativa (RF)

Espécie ID / m RD IC RC F RF IV

Qualea parviflora 0,06 31,6 12 27 75 20,5 79,1

Sclerolobium paniculatum 0,026 14 13,6 30,5 50 13,7 58,2

Caryocar brasiliense 0,02 10,5 6,3 4,7 50 13,7 28,9

Qualea grandiflora 0,01 5,2 2,9 6,6 25 6,8 18,6

Ouratea hexasperma 0,01 5,2 1,9 3,9 25 6,8 15,9

Aspidosperma macrocarpum 0,01 5,2 2 4,5 16,6 4,5 14,2

Aspidosperma tomentosa 0,003 1,8 0,5 1,3 8,3 2,3 5,4

Byrsonima crassa 0,003 1,8 0,5 1,3 8,3 2,3 5,4

Bowdichia virgiloides 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1

Pouterea ramiflora 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1

Pisidium sp 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1

Tabebuia áurea 0,003 1,8 0,4 0,8 8,3 2,3 4,9

Kielmeyera speciosa 0,003 1,8 0,3 0,7 8,3 2,3 4,8

Hancornia speciosa 0,003 1,8 0,3 0,7 8,3 2,3 4,8

Stryphnodendrum adstringens 0,003 1,8 0,3 0,6 8,3 2,3 4,7

Licania humilis 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6

Erythroxylum sp 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6

Kielmeiera coreaceae 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6

Vochysia cinnamonea 0,003 1,8 0,2 0,4 8,3 2,3 4,5

Eremanthus glomerolatus 0,003 1,8 0,1 0,2 8,3 2,3 4,3

Roupala montana 0,003 1,8 0,06 0,1 8,3 2,3 4,2

Page 23: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

16

0

5

10

15

20

25

30

Qualea

parvi

flora

Sclerol

obium

panic

ulatum

Caryoc

ar bra

silien

se

Qualea

gran

diflor

a

Ouratea

hexa

sperm

a

Aspido

sperm

a mac

rocarp

um

Aspido

sperm

a tom

entos

a

Byrson

ima c

rassa

Bowdic

hia vi

rgiloi

des

Pouter

ea ra

miflora

Pisidium

sp

Tabeb

uia au

rea

Kielmey

era sp

ecios

a

Hanco

rnia s

pecio

sa

Stryph

node

ndrum

adstr

ingen

s

Lican

ia hu

milis

Erythro

xylum

sp

Kielmeie

ra co

reace

ae

Vochy

sia ci

nnam

onea

Ereman

thus g

lomero

latus

Roupa

la mon

tana

IVR

(%)

Figura 1. Índice de importância relativa das espécies amostradas pelo método de interceptaçãode linhas, em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de CaldasNovas, GO.

Page 24: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

17

Figura 2. Curva do coletor das espécies amostradas pelo método de interceptação de linhas emuma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

Figura 3. Perfil de distribuição das plantas ao longo do transecto de 300 m de comprimento,em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

0

5

10

15

20

25

0 20 40 60 80 100 120 140

nº indivíduos

espécies

0

2

4

6

8

10

12

14

0 50 100 150 200 250 300

distância (m )

altura (m

Page 25: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

18

G1.3 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO SENTIDO

RESTRITO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS

Ernestino de Souza G. Guarino, Carlos Henrique G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo,

Helder Consolaro, Rafael Arruda

Orientador: Heraldo Vasconcelos

INTRODUÇÃOA rápida transformação do Cerrado

em áreas antrópicas, torna fundamental oconhecimento das característicasfisiológicas, ecológicas, florísitcas efitossociológicas deste bioma. A faltadessas informações aliada a pequena áreadeste ecossistema teoricamente protegidaem unidades de conservação legalizadasdão uma idéia dos riscos da perda deinformações sobre a florística da região(Andrade et al. 2002). Levantamentosflorísticos e fitossociológicos têm fornecidoinformações importantes para adeterminação de áreas prioritárias paraconservação do Cerrado (Felfili et al.2002).

Por isso o objetivo deste trabalho foirealizar, de forma prévia, a análise florísticae fitossociológica de uma área de cerradosentido restrito, localizado no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas (GO).

MATERIAL E MÉTODOSO trabalho foi realizado no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), localizado no município deCaldas Novas (GO). A vegetação da área deestudo é caracterizada por um cerradosentido restrito, com altitude aproximada de1000 metros.

O método utilizado paraamostragem fitossociológica foi o dePontos Quadrantes (Brower et al. 1998).Foram estabelecidas 3 linhas de 100 m,paralelas a uma das estradas de serviço doparque. Ao longo destas linhas foram

dispostos, de forma sistemática, quinzepontos intercalados por uma distância de 20m. Como critério de inclusão dosindivíduos arbóreos, utilizou-se a alturamínima de 2 m. Todos os indivíduosincluídos na amostragem tiveram sua alturatotal e sua circunferência a 130 centímetrosdo solo medidas.

Os parâmetros fitossociológicosforam calculados com o auxílio doprograma FITOPAC, o qual tambémcalculou os índices de diversidade deShannon (H`) e a equatibilidade (J).

RESULTADOS E DISCUSSÃONo total, foram amostradas 16

famílias botânicas, 20 gêneros e 23 espécies(Tabela 1). Igualmente a outras áreas decerrado sentido restrito (p. ex. Felfili et al.2002, Silva et al. 2002), as famíliasVochysiaceae (4 espécies) e Leguminosae(3) apresentaram o maior número deespécies, sendo acompanhadas pela famíliaApocynaceae (2). As outras 13 famíliasforam representadas por apenas umaespécie.

As espécies com maior Índice deValor de Importância (IVI) foram Qualeaparviflora, Sclerolobium paniculatum,Aspidosperma tomentosum, Kielmeyeracoriacea, Caryocar brasiliense, Qualeagrandiflora e Pouteria ramiflora. Estasespécies respondem por 64% do IVI da áreaamostrada (Tabela 2).

A área basal estimada foi de 8,74m2/ha, com uma densidade total de 1161ind./ha. Estes resultados são inferiores aos

Page 26: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

19

encontrados por Silva et al.(2002) para duasáreas de cerrado sentido restrito no mesmoparque, porém são compatíveis aosresultados encontrados em outras áreas damesma fitofisionomia.

O índice de Shannon (H`)encontrado foi de 2,79 nats/ind., comequatibilidade (J) igual a 0,84. SegundoFelfili et al. (1997, apud Felfili et al. 2002)o índice de Shannon para áreas de cerradosentido restrito pode variar entre 3,11 e 3,69nats/indivíduo, resultados acima doencontrado nesse estudo.

Esse resultado pode ser atribuído aobaixo número de pontos amostraisutilizados, fato esse comprovado quandocomparamos o presente levantamento como realizado na mesma área por Silva et al.(2002), o qual utilizou o mesmo método deamostragem, porém com um maior númerode pontos amostrais. A similaridade entreos dois levantamentos foi de 42% (índice deSørensen), resultado evidenciado quandoanalisamos a curva espécie x área, a qualapresenta a tendência de aumentar deacordo com acréscimo de novos pontosamostrais (Figura 1)

CONCLUSÕESApesar do pequeno esforço

amostral, somente 15 pontos, o trabalhoapresentou resultados semelhantes a outroslevantamentos fitossociológicos dediferentes áreas de cerrado. Assim podemosinferir que com um aumento do esforçoamostral, provavelmente ocorrera umaumento do número de espéciesamostradas.

O método utilizado também semostrou eficiente em relação ao custo xbenefício, pois para levantamentosflorísticos e fitossociológicos com oobjetivo de influenciar na determinação deáreas prioritárias para a conservação, ele é oque gera resultados com maior rapidez emenor esforço amostral; característicasnecessárias para um bioma que está sendocontinuamente degradado.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, L. A. Z.; FELFILI, J. M.;VIOLATTI, L. (2002). Fitossociologiade uma área de cerrado denso naRECOR - IBGE, Brasília - DF. ActaBotanica Brasilica 16 (2): 225-240.

BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; von ENDE,C.N. (1998) Field and laboratorymethodas for general ecology. WCBMcGraw - Hill. 4 th Editon. 273p.

FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.S.; DELITTI, W. B. C. (2002).Composição florística do cerrado sentidorestrito no município de Água Boa - MT.Acta Botanica Brasilica 16 (1): 103-112.

SILVA, C.O.; COSTA, D.A.; FILHO,K.E.S.; FERREIRO, H.D.; BRANDÃO,D. (2002). Levantamento florístico efitossociológico em duas áreas decerrado sensu stricto no Parque Estadualda Serra de Caldas Novas, Goiás. ActaBotanica Brasilica 16 (1): 43-53.

.

Page 27: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

20

Tabela 1. Famílias e espécies amostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área decerrado sentido restrito no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).

Família/Espécie

ANNONACEAE

Annona crassiflora

APOCYNACEAE

Aspidosperma macrocarpon

Aspidosperma tomentosum

ASTERACEAE

Eremanthus glomerolatus

Piptocarpha rotundifolia

BIGNONIACEAE

Tabebuia aurea

CARYOCARACEAE

Caryocar brasiliense

CELASTRACEAE

Austroplenckia populnea

CLUSIACEAE

Kielmeyera coriacea

ERYTHROXYLACEAE

Erythroxylum sp.

LEGUMINOSAE

Bowdichia virgilioides

Enterolobium gummiferum

Sclerolobium paniculatum

MALPIGHIACEAE

Byrsonima crassa

MYRTACEAE

Psidium sp.

OCHNACEAE

Ouratea hexasperma

PROTEAECEAE

Roupala montana

SAPOTACEAE

Pouteria ramiflora

VOCHYSIACEAE

Qualea grandiflora

Qualea parviflora

Vochysia cinnamomea

Vochysia rufa

Page 28: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

21

Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado sentido restrito, Parque Estadual Serra deCaldas Novas (GO). Ordem decrescente de IVI. (N= nº de indivíduos amostrados; Da =Densidade absoluta (ha); DoA = Dominância (m2/ha); Fa = Freqüência; IVI = Índice de Valorde Importância. a = valores absolutos e r = valores relativos).

Espécie N Da Dr DoA DoR Fa Fr IVI

Qualea parviflora 10 193.6 16.67 0.009 20.53 46.67 13.46 50.66

Sclerolobium

paniculatum 7 135.5 11.67 0.0139 22.27 40 11.54 45.48

Aspidosperma

tomentosum 7 135.5 11.67 0.0066 10.64 40 11.54 33.85

Kielmeyera coriacea 4 77.4 6.67 0.0108 9.86 20 5.77 22.3

Caryocar brasiliense 4 77.4 6.67 0.0078 7.12 26.67 7.69 21.48

Qualea gradiflora 4 77.4 6.67 0.0069 6.33 26.67 7.69 20.69

Polteria ramiflora 4 77.4 6.67 0.0042 3.84 20 5.77 16.28

Eremanthus

glomerolatus 2 38.7 3.33 0.003 1.37 13.33 3.85 8.55

Vochysia cinnamomea 2 38.7 3.33 0.0019 0.88 13.33 3.85 8.06

Psidium sp. 2 38.7 3.33 0.0015 0.69 13.33 3.85 7.87

Tabebuia aurea 2 38.7 3.33 0.0049 2.26 6.67 1.92 7.52

Piptocarpha rotundifolia 1 19.4 1.67 0.0155 3.56 6.67 1.92 7.15

Enterolobium

gummiferum 1 19.4 1.67 0.0115 2.63 6.67 1.92 6.22

Aspidosperma

macrocarpon 1 19.4 1.67 0.0087 1.98 6.67 1.92 5.57

Ouratea hexasperma 1 19.4 1.67 0.0077 1.75 6.67 1.92 5.34

Page 29: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

22

Tabela 2. (continuação)

Miconia ferruginea 1 19.4 1.67 0.0043 0.99 6.67 1.92 4.58

Bowdichia virgilioides 1 19.4 1.67 0.0032 0.73 6.67 1.92 4.32

Annona crassiflora 1 19.4 1.67 0.0032 0.73 6.67 1.92 4.32

Roupala Montana 1 19.4 1.67 0.0029 0.66 6.67 1.92 4.25

Vochysia rufa 1 19.4 1.67 0.0026 0.59 6.67 1.92 4.18

Austroplenckia populnea 1 19.4 1.67 0.0016 0.36 6.67 1.92 3.95

Byrsonima crassa 1 19.4 1.67 0.0005 0.12 6.67 1.92 3.71

Erythroxylum sp. 1 19.4 1.67 0.0004 0.09 6.67 1.92 3.68

Total 60.0 1161.8 100.00 0.13 100.00 346.71 100.00 300.00

0

5

10

15

20

25

1 11 21 31 41 51

N° de indivíduos

N° d

e es

péci

es

Figura 1. Curva do coletor relacionando número de espécies com número de indivíduosamostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área de cerrado sentido restrito noParque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).

Page 30: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

23

G2.1 EFEITO DO FOGO SOBRE A ATIVIDADE, RIQUEZA E

COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DE FORMIGAS EM UMA ÁREA DE

CERRADO

Caio Rebula, Claudio Muniz, Marcela Yamamoto e Sérgio Lopes

Orientador: Prof. Dr. Heraldo Vasconcelos

INTRODUÇÃOO termo comunidades tem

frequentemente denotado associações dafauna e da flora que ocorrem numa mesmalocalidade particular dominada por uma oumais espécies predominantes ou por umacaracterística física (Ricklefs, 1993).

A ocorrência de fogo, por causanatural ou antrópica, é comum durante aseca no cerrado, sendo apontado como umimportante agente modificador e demanutenção de comunidades vegetais(Coutinho, 1990). Este fato pode alterar asrelações de oferta de recursos e tambémlevar a extinção de espécies locais.

As formigas são abundantes namaioria dos ecossistemas terrestres, sendofrequentemente consideradasecologicamente dominantes (Wilson, 1971).Pelo fato de sua impotrtância como bio-indicadora (Majer & Kock, 1992).

As espécies de formigas queocorrem na vegetação e as que forrageiamna superfície do solo utilizam comoestratégia predominante para escapar dofogo nas queimadas, a localização dascolônias (Naves, 1996).

O presente estudo teve comoobjetivo determinar o efeito de um fogorecente sobre a atividade, a riqueza e acomposição de espécies de formigas emuma área de cerrado.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi realizado em duas áreas

, uma queimada e outra não-queimada decerrado sentido restrito , no Parque Estadualda Serra de Caldas Novas, GO. O

experimento foi realizado no período damanhã, até as 11:30. A área queimadaapresentava solo exposto e a vegetaçãopraticamente nú. Na área não-queimadaalém do cerrado, havia arbustos epredominância de gramíneas.

As iscas, pequenas porções desardinha, colocadas em pedaços de papelsulfite 7,0 X 10,5cm, foram distribuídas emintervalos de 10m, ao longo de quatrotransectos de 100m para cada área. Adistância entre os transectos foi de 20m,posicionados paralelos à estrada.

Após 30 minutos efetuou-se acontagem dos indivíduos presentes na áreade forrageamento e a coleta das espéciespresentes. O mesmo procedimento foirepetido aos 60 minutos. Os espécimescoletados foram identificados a nívelgenérico e separados em morfoespécies.Nessa identificação foram utilizadas chavestaxonômicas (Höldobler & Wilson, 1990), eos conhecimentoos do Prof. H.Vasconcelos.

RESULTADOS E DISCUSSÃODas 28 espécies amostradas, 21

estavam presentes na área não-queimada,sendo oito espécies exclusivas; e 20 na áreaqueimada, das quais sete exclusivas (Tabela1). Foram consideradas espécies exclusivasaquelas que ocorreram apenas em uma dasáreas.

A atividade das formigas foi maiorna área não-queimada e no solo. A análiseda variância confirma que o efeito daqueimada e o estrato explorado sãoindependentes (Tabelas 2 e 3).

Page 31: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

24

Camponotus sp foi a morfoespéciemais abundante em ambas as áreas. Afrequência relativa para a maioria dasespécies foi equivalente, porém ocorreramespécies exclusivas em menor quantidadenas duas áreas (Figura 1).

Na área não-queimada a abundânciadas espécies de formigas do solo apresentauma maior homogeneidade em relação àsespécies da área queimada (Figura 2). Noestrato arbóreo da área queimada, asmorfoespécies Camponotus sp e Cephalotessp foram dominantes, não apresentandodiferença na abundância interespecífica(Figura 3).

A diferença na atividade dasformigas entre as áreas pode ser justificadopela maior quantidade de recursos oferecidona área não-queimada, a formiga pode nãosair do ninho para procurar alimentos, se elenão é oferecido pelo meio. Uma segundahipótese é que o fogo pode ter diminuído adensidade dos ninhos na área queimada,aumentando o tempo necessário para oforrageamento, o que não foi detectadoestatisticamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, L. M. 1990. Fire in theecoloy of Brasilian cerrado. In: Fire

in the tropical biota. J. G.GOLDAMMER (ed). Springer-Verlag, Berlin.

HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E. O.1990. The ants. Cambridge, HarvardUiversity Press, 732p.

MAJER, J.D. 1992. Ant recolonizationof reabilited bauxite mines of Poçosde Caldas, Brasil. Jour. Trop. Ecol.10:97-108.

NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo napopulação de formigas(Hymenoptera-Formicidae) emcerrao no Distrito Federal. Anais doSimpósio impacto das queimadassobre os ecossistemas e mudançasglobais. 3 Congresso de Ecologia doBrasil, Brasília.

RICKLEFS, R. E. 1993. A economiada natureza. 3 ed. Rio de Janeiro,Brasil. 469p.

WILSON, E. O. 1971. The insectssocieties. Cambridge,Massachusetts, Belknap Press ofHarward University Press, 548p.

Page 32: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

25

Tabela 1. No de espécies nas áreas queimada e não-queimada nos diferentes estratos.

No espécies Queimada Não-queimada Total

Solo 16 17

Vegetação 08 11

Exclusivas 07 08

Total 20 21 28

Tabela 2. Atividade das formigas nas áreas queimadas e não queimadas.

QUEIMADA NÃO QUEIMADA

N 40 40

Mínimo 0 0

Máximo 120 100

Média 12,525 21,450

Desvio Padrão 4,017 3,291

Tabela 3 . Atividade de formigas no solo e na vegetação

Solo Vegetação

N 40 40

Mínimo 0 0

Máximo 120 100

Média 20,575 15,400

Desvio Padrão 3,652 3,728

Page 33: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

26

Figura 1. Freqüência relativa das espécies encontradas nas duas áreas (queimada e nãoqueimada), em ordem de abundância, Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás.

Figura 2. Freqüência relativa das espécies encontradas sob o solo em duas áreas(queimadas e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

espécies em ordem de abundância

freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

NÃO QUEIMADAQUEIMADA

05

1015202530

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27

espécies em ordem de abundância

freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

Que imadaNão que imada

Page 34: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

27

Figura 3. Freqüência relativa das espécies de formigas encontradas no estrato arbóreo emduas áreas (queimada e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás.

0

5

10

15

20

25

30

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27

espécies em ordem de abundância

freq

üênc

ia re

lativ

a (%

)

QueimadaNão queimada

Page 35: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

28

G2.2 COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS VEGETATIVAS

DE ESPÉCIES DE CERRADO SENTIDO STRICTU E DE MATA DO

PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS

Marcelle S. C. Rodrigues, Flávio R. Oliveira, Jania C. Salles, Otacílio Santana & Patricia

Rodin

Orientador: Prof. Dr. John Hay

INTRODUÇÃOO entendimento da relação entre os

organismos e seus ambientes é um dosmaiores interesses da ecologia.Provavelmente, a afirmação maisimportante que pode ser feita sobre estarelação, é que os organismos não estãodistribuídos ao acaso entre os diferentestipos de ambientes. Esta diversidadeambiental provoca variações nadisponibilidade de recursos, que, em parte,determina a ocorrência das espécies e ascaracterísticas morfológicas e fisiológicasque as mesmas apresenta (Begon et al.1990).

Dentro do domínio do Cerrado, asmatas, diferentemente das fisionomias decerrado, apresentam uma grandesobreposição de estratos, no qual ossuperiores tendem a diminuir adisponibilidade de energia para os estratosinferiores. Entretanto, a estratificação dascomunidades influência, de forma distinta,na disponibilidade de energia solar para asespécies que as compõem. Quanto aosnutrientes, eles são mais escassos nocerrado que na mata, e o mesmo padrão éencontrado para a água durante a estaçãoseca (Oliveira & Paula, 2001).

O objetivo deste estudo foi comparara morfologia foliar de espécies do cerradosentido strictu e da mata, a fim de seobservar possíveis respostas destascomunidades frente às diferenças físicas.

METODOLOGIA

Para a realização deste estudo foramutilizadas uma área de cerrado sentidostrictu e uma de mata, localizadas noParque Estadual da Serra de Caldas Novas– PESCAN - Goiás. Os dados da área decerrado foram obtidos de uma coletarealizada em um estudo anterior no dia 17de setembro de 2002, proveniente dasatividades do Curso de Ecologia UFU/UnB2002. Os dados relativos à mata foramobtidos a partir da análise de partesvegetativas de diferentes espécies de sub-bosque, as quais foram coletadas, de formaaleatória, ao longo de uma trilha, no dia 18de setembro de 2002.

Utilizamos para comparação dos doistipos de ambientes, características comotipo de folha, variações da morfologia gerale apical da folha, coloração, pilosidade,consistência e área foliar. Aquelas queapresentaram alguma diferença numaanálise preliminar foram submetidas aoteste do Qui-Quadrado (SYSTAT 9.0), paradeterminar a existência de diferençasignificativa. Comparamos a área foliar apartir da fórmula de área elíptica e,posteriormente, comparada através deintervalos de classes de área.

RESULTADOSQuanto aos tipos de folha, o cerrado

apresentou uma porcentagemsignificativamente maior de espécies defolhas compostas, e a mata, de folhassimples (X2 = 15, 614; P < 0,0001) (Figura1). Este resultado era esperado, pois, comoa vegetação do cerrado está mais exposta à

Page 36: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

29

radiação solar e as folhas compostas sãomais eficientes na perda de calor, devido amaior razão perímetro/área, este tipo defolha é mais vantajoso para esta vegetação.

Quanto às formas de folha, esta nãoparece ser uma característica morfológicaadaptativa importante, pois a maior partedas espécies amostradas nos dois ambientespossui forma elíptica (Figura 2). Por outrolado, uma grande porcentagem de espéciesda mata apresentou a forma lanceolada,assim como o ápice agudo (83%), o que éadaptação ao escoamento de água da chuva.

Em relação à coloração das folhas, osdois ambientes apresentaram uma grandeporcentagem de espécies concolor (Figura3). O esperado era encontrar uma maiorporcentagem de espécies discolor na mata,uma vez que a baixa luminosidade do sub-bosque deveria favorecer o aparecimentodesta estratégia, pois ela permite a absorçãode luz refletida do solo. Porém, nem semprea estratégia mais eficiente é a mais comumentre as espécies de uma comunidade.

Quanto à pilosidade, a maior partedas espécies do cerrado e da mataapresentou folhas glabras. Mas o Cerradoapresentou um maior número de espéciescom pilosidade, no entanto, este resultadofosse significativamente diferente (X2 = 3,156; P > 0,05) (Figura 4). Esta tendênciaera esperada, pois os pêlos diminuem aperda de água por evapotranspiração, que émais intensa no cerrado que na mata.

Quanto à consistência foliar, grandeparte das espécies do cerrado e da mataapresentou folhas membranáceas, noentanto, o cerrado apresentou umaporcentagem significativamente maior deespécies coriáceas (X2 = 7, 497; P <0,0062) (Figura 5). Este resultado eraesperado, pois as folhas coriáceas perdemmenos água para o ambiente.

Em relação à área foliar, a mataapresentou uma maior porcentagem deespécies (50%) na classe entre 32-255 cm2 ,enquanto o cerrado apresentou 25% dasespécies neste intervalo (X2 = 8,182; P <0,0424) (Figura 06). Este resultado indicaque as espécies de sub-bosque da mata

parecem investir em folhas maiores,tornando mais eficiente a absorção deenergia luminosa neste estrato.

CONCLUSÃOOs resultados deste estudo

confirmaram a nossa hipótese de que asfolhas das espécies dos ambientes decerrado e mata apresentam característicasmorfológicas distintas. As característicasque apresentam diferença significativa entreos dois ambientes foram o tipo de folha, aconsistência foliar e a área foliar. Estascaracterísticas estão relacionadas ao usod’água e da energia luminosa, indicandoque estes recursos estão disponíveis deforma distinta na mata e no cerrado. O sub-bosque da mata apresenta uma maiordisponibilidade de água e uma menorluminosidade em comparação com ocerrado, o que reflete na sua maiorporcentagem de folhas simples,membranáceas, com uma menor pilosidade,e com uma maior área foliar.

AGRADECIMENTOSAgradecemos aos professores Dr.

Glein M. Araújo e Dr. Heraldo Vasconcelospelo apoio e companhia nos primeiros decurso e, em especial ao Prof. Dr. John Haypela orientação na execução do trabalhoprático, discussão dos resultados eorientação do grupo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEGON, M., HARPER, J. L.,TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology:individuals, populations andcommunities. 2a. ed. BlackwellScientific Publication, Massashussets,USA.

OLIVEIRA, P. E. A. M., PAULA, F. R.2001. Fenologia e biologia reprodutivade plantas de Matas de Galeria. InRIBEIRO, J. F., FONSECA, C. E. L.,SOUSA-SILVA, J. C. Cerrado:caracterização e recuperação de

Page 37: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

30

Matas de Galeria. Planaltina, DF:EMBRAPA, p. 303 – 332.

Figura 1 – Porcentagem dos tipos de folhas em ambiente de cerrado e mata do ParqueEstadual Serra de Caldas Novas, GO.

Figura 2 – Porcentagens observadas nas variações foliares de ambiente de cerrado e mata doParque Estadual Serra de Caldas Novas, Go.

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Folhas Simples Folhas Compos tas

Caracte r ís ticas

% O

bser

vada ����

CerradoMata

����������������

��������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������������������������������ ��������

������������������

0

10

20

30

40

50

60

70

Ovada Obovada Elíptica Oblonga Lanceolada Assim étrica

Form a da Folha

% O

bser

vada �����

CerradoMata

Page 38: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

31

Figura 3 – Porcentagem do padrão de coloração foliar observado nas espécies de cerrado emata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.

Figura 4 - Porcentagem do padrão de pilosidade foliar observado nas espécies de cerrado emata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������0

10

20

30

40

50

60

70

Concolor Discolor

Coloração da Folha

% O

bser

vada �����

����� CerradoMata

���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

����������������������

����������������������

���������������������������������������������������������������������������������������������������

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Glabra A bax ial A dax ial A mbas

Pilos idad e

% O

bser

vada �����

����� CerradoMata

Page 39: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

32

������������������

������������������

������������������������������������������������ ���������

05

10152025

3035404550

<2 2 a 31 32 a 255 256 a 2047 > 2047

Área Foliar

N. d

e In

diví

duos

MATA���������� CERRADO

Figura 5 - Porcentagem do padrão de consistência foliar observado nas espécies de cerrado emata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.

Figura 6 – Classes de tamanho de área foliar observado nas plantas de cerrado e mata doParque Estadual Serra de Caldas, GO.

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

����������������������������������������������������������������������������������������

0

20

40

60

80

100

Membranácea Coriácea

Consistência Foliar

% O

bser

vada

����CerradoMata

Page 40: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

33

G2.3 Análise florística do estrato arbóreo de um Cerrado sentido restrito

em um gradiente de altitude no Parque Estadual de Caldas Novas-GO

Carlos H.G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Ernestino de Souza G. Guarino. Helder

Consolaro, Rafael Arruda

Orientador: Glein M. Araújo

INTRODUÇÃO:O domínio Cerrado é classificado

como savana arbórea com densidadevariando de 10 a 60% neste tipo decomposição (Felfili, 1998). Ele apresentafitofisionomia variada desde vegetaçãorasteira até matas de galerias, cobrindo maisde 20% do território brasileiro em altitudesque variam do nível do mar até 1800m.

Em geral, os solos do cerrado sãoprofundos e bem drenados e possuemreduzida fertilidade natural, a soma debases trocáveis é baixa, a acidez é alta,resultando em altos níveis de saturação.poralunínio (Batmaniam & Haridasam 1985).Alguns autores explicam a ocorrência dasdiversas fitofisionomias que compõem ocerrado como consequência da naturezadistrófica dos solos em combinação comfatores climáticos (Coltinho 1990).quejuntamente com a altitude, respondempelas variações locais na estrutura florística, sendo de grande importância para aexplicar a heterogeneidade que caracterizaeste ambiente. Determinadas espécies sãomuito abundantes em algumas áreas e rarasou totalmente ausentes em outras.

OBJETIVO:O presente trabalho teve como

objetivo avaliar a similaridade entrediferentes áreas do Cerrado, sentido restrito,relacionada com a altitude e característicasdo solo.

MATERIAL E MÉTODOS:Para a coleta dos dados foi utilizada

uma área de Cerrado sentido restrito doParque Estadual da Serra de Caldas Novas-

GO, localizada entre os municípios deCaldas Novas e Águas Quentes, emdiferentes altitudes, variando de 760 até1044m acima do nível do mar, em meadosde setembro.

Foram amostrados dez pontosaleatórios, sendo que destes, cinco em umaárea de escarpa e os outros numa região deplatô. Inicialmente foi demarcado para cadaum dos dez pontos duas linhas paralelasentre si distando 20m uma da outra eestando dispostas perpendicularmente auma das estradas que cortam o Parque.

Em cada linha foram amostrados 5pontos, distando 20m um do outro. Ométodo utilizado para a coleta foi o dePonto Quadrante (Brower et al. 1997), comalgumas adaptações. Como critério deinclusão, foi considerado o indivíduo maispróximo a cada quadrante com altura igualou superior a 2m, os quais foramidentificados em campo. A caracterizaçãodo solo foi feita nos locais através devisualização. Cada ponto foigeoreferenciado com o auxílio de um GPS ,e suas altitudes indicadas, tabela 1.

Para a análise de similaridade entreas áreas amostradas foi criado umDendrogama através do Pacote PC-ORD.4,0.

RESULTADOS E DISCUSSÕESForam encontradas 74 espécies

distribuídas em 32 famílias.Como em outros estudos feitos na

área (Silva et al. 200) e a maioria doslevantamentos realizados no Cerrado ,afamília que apresentou o maior número deespécie foi a Leguminosae com 15, seguida

Page 41: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

34

de Vochysiaceae com 9, Apocynaceae com4 e Myrtaceae com 5.

As espécies encontradas em maiornúmero foram; Qualea parviflora-27,Kielmeyera coriacea-25, Sclerolobiumpaniculatm-20, Vochysia elliptica-20 ePouteria ramiflora-13.

Pela análise do Dendograma deSimilaridade entre os pontos amostados, foipossível constatar que as áreas 5 e 6apresentaram maior similaridade, estandosituadas muito próximas e tendo altitude ecaracterísticas do solo semelhantes. Emseguida vieram as áreas 3 e 7 que apesar deestarem distantes, cerca de 6 km, e em ladosdiferentes da Serra, localizavam-se emregiões de escarpa com altitude e solosemelhantes. Os pontos 9 e 10 tambémexibiram índice de similaridade elevado,solo e altitudes parecidas.

Um fato importante a se destacar, éque os pontos 1 e 2 apesar de estaremlocalizados muito próximos, cerca de 0,3km, e na mesma altitude, apresentaram omenor índice de similaridade, bem comocaracterísticas do solo diferente.

Mesmo com uma descrição superfialdos aspectos edáficos, sem análisesquímicas laboratoriais, este parece ser,juntamente com a altitude, um dosprincipais fatores que condicionam adistribuição das espécies citadas e asimilaridade entre as áreas estudadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Batmanian,G.J.; Haridasan,M. 1985.Primary production and accumulation ofnutrients by the ground layer communityof cerrado vegetation of central Brazil.Plant and Soil 88: 437-440.

Barros,C.F.A; Dantas,G.P.M.;Mendes,R.S.; Ferreira,R.L..2001-Heterogeneidade ambiental nocerrado “sensu strictu” ,Serra doCipó-MG- trabalho selecionado doCurso de Campo no parque Nacional daSerra do Cipó.Belo Horizonte-MG.21-27

Coutinho,L.M. 1990. Fire in the ecology ofthe Brazilian Cerrado. In: Fire in theTropical Biota – Ecosystem Processesand Global Challenges. J.G.Goldammer (ed.). Ecological Studies.Vol. 8A. Springer-Verlag, Berlim. p. 82-105.

Felfili,J.M; M.C. Silva Júnior..1998-Ciência e Cultura Journal of theBrazilian Association for theAdvancement of Science.50

Ludwig,J.A.; Reynolds, J.F..1998-Statistical Ecology.New York.

Silva.O; Costa,D,A..2001 Levantamentoflorístico em duas áreas de cerrado“sensu stricto” no Parque Estadual daSerra de Caldas Novas-GO. ActaBotânica Brasileira.16. 43-53.

Figura 1 – Dendrograma de similaridade entre os 10 pontos amostrados, no PESCAN.

Page 42: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

35

Tabela 1 – Características de solo, altitude, e coordenadas geográficas das áreas amostrais noPESCAN.

LOCAL SOLO ALTITUDE(m) COORDENADAS

1 Profundo,com

cascalho

760 17o46’13”S

48o39’32.3”W

2 Raso, rochoso com

acentuado declive

769 17o46’18.4”S

48o39’39.2”W

3 Escuro, presença de

cascalho

913 17o46’26.8”S

48o39’57.4”W

4 Rochoso com

afloramentos na

superfície

921 17o46’37.5”S

48o40’0”W

5 Profundo, sem

cascalho, latossolo

amarelo, plano

996 17o47’04.7”S

48o40’03.2”W

6 Presença de

cascalho,latossolo

991 17o47’11.6”S

48o39’57.4”W

7 Raso com cascalho,

rocha maciça

próximo à superfície

935 17o49’41.8”S

48o43’34.7”W

8 Latossolo amarelo,

sem cascalho e sem

rocha

958 17o49’34.3”S

48o43’17.7”W

9 Profundo sem

cascalho, latossolo

vermelho,plano

1003 17o46’26.2”S

48o42’08.4”W

10 Profundo,sem

cascalho,latossolo

vermelho

1044 17o47’46.4”S

48o40’41.5”W

Page 43: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

36

Tabela 2 – Lista de famílias e espécies encontradas em cada área amostral do PESCAN.

Áreas amostrais

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Anacardiaceae Astronium fraxinifolium X X

Annona coriacea X

Annona crassiflora X X

Annonaceae

Xylopia aromatica X X X

Aspidosperma macrocarpon X X X X X X

Aspidosperma tomentosum X X X X X X

Hancornia speciosa X X X

Apocynaceae

Hymatanthus obovatus X

Araliaceae Schefflera macroparpon X X X

Eremanthus glomerulatus X X X X XAsteraceae

Piptocarpha rotundifolium X X X X

Bignoniaceae Tabebuia aurea X X

Burseraceae Protium ovatum X

Caryocaraceae Caryocar brasiliense X X X X X X

Celastraceae Austroplenckia populnea X X

Chrysobalanaceae Licania humilis X

Kielmeyera coriacea X X X X X X X XClusiaceae

Kielmeyera speciosa X

Combretaceae Terminalia argentea X

Connaraceae Connarus suberosus X

Curatella americana XDilleniaceae

Davila elliptica X

Erythroxylaceae Erythroxylum suberosun X X X

Euphorbiaceae Matayba guianensis X

Flacourtiaceae Casearia sylvestris X

Salacia crassifolia X X X XHippocrateaceae

Salacia elliptica X

Icacinaceae Emmoton nitens X

Acosmium dasycarpum X X X

Bowdichia virginioides X X X X

Dalbergia miscolobium X X X

Dimorphandra mollis X X X

Enterolobium gummiferum X X X X X X

Hymenaea stignocarpa X X

Leguminosae

Leguminosae indet. X

Page 44: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

37

Machaerium opacum X X

Mimosa clauseni X X

Platymenia reticulata X X

Pterodon emarginatus X X X

Sclerolobium paniculatum X X X X X X

Stryphnodendron adstringens X X X X X

Stryphnodendron polyphyllum X X X

Vatairea macrocarpa X

Lythraceae Lafoensia pacari X

Byrsonima coccolobifolia X

Byrsonima crassa X X

Byrsonima verbascifolia X

Malpighiaceae

Malpighiaceae indet. X X X X

Miconia ferruginea X X X X XMelastomataceae

Miconia rubiginosa X

Moraceae Brosimum gaudichaudii X

Psidium sp. X X X X X

Myrcia tomentosa X X

Myrcia variabilis X X X X

Myrcia sp.1 X

Myrtaceae

Myrcia sp.2 X

Guapira graciliflora X X X X XNyctaginaceae

Neea theifera X X

Ochnaceae Ouratea hexasperma X X X X X X X

Alibertia sp. X XRubiaceae

Palicourea rigida X

Pouteria ramiflora X X X X X X XSapotaceae

Pouteria torta X

Styracaceae Styrax ferrugineus X X X X X X

Velloziaceae Vellozia squamata X X

Qualea grandiflora X X

Qualea multiflora X X X

Qualea parviflora X X X X

Salvertia convallarieodora X X

Vochysia cinnamomea X X

Vochysia elliptica X X X

Vochysiaceae

Vochysia rufa X X X

indet. 1 XIndeterminadas

indet. 2 X

Page 45: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

38

G3.1 COMPARAÇÃO FENOLÓGICA DE DUAS ÁREAS DE CERRADO

SENSU STRICTU.

Patrícia Rodin, Flávio Oliveira, Jania Salles, Marcelle Rodrigues & Otacílio Santana

Orientadoras: Janaína Lacerda Resende & Helena Maura T.-Silingard (Monitoras)

INTRODUÇÃOA fenologia é o estudo da ocorrência

de eventos biológicos repetitivos, que sãoinfluenciados pelos fatores bióticos eabióticos. As fases fenológicas das diversasespécies de uma comunidade relacionam-sediferentemente com esses fatores (Lieth1974 apud Mantovani & Martins, 1988).

O cerrado s.s. apresenta umavegetação sujeita às alterações de umidadeno ambiente, decorrente da variação sazonale das características do solo. As condiçõesedáficas influenciam a fenologia dascomunidades através da variação dadisponibilidade de água e nutrientes,mesmo quando estas comunidades sãopróximas, e sujeitas às mesmas condiçõespluviométricas.

O objetivo deste estudo foideterminar a variação fenológica existenteentre duas comunidades de cerrado s.s, umapresente em afloramento rochoso e outraem latossolo profundo, na transição daestação seca para a chuvosa. A nossahipótese é que as comunidades apresentarãocomportamento fenológico distinto, sendoque a comunidade da área de afloramentoapresentará um maior número de indivíduose espécies sem folhas e um menor númerocom flores e frutos.

METODOLOGIAAs duas áreas estudadas estão

localizadas no Parque Estadual da Serra deCaldas Novas, GO (PESCAN), e distamaproximadamente 200m uma da outra.Ambas apresentam caraterísticas edáficasdistintas, uma ocorre em latossolo profundo(área A) e a outra em afloramento rochoso(área B). A observação foi realizada no fimda estação seca. A metodologia consistiu na

observação de todos os indivíduos commais de 1,5 metro de altura, ao longo de umtransecto de 150 metros de comprimentopor quatro de largura. Para todos osindivíduos amostrados foram verificadas asseguintes fenofases: I) brotação foliar epresença de folhas maduras; II) floração -botões e flores; III) frutificação – frutosnovos e maduros (Tabela 1). A intensidadedas fases foi classificada de acordo com aporcentagem de ramos onde estas foramobservadas, sendo que zero (0) correspondeà ausência do evento; um (1) corresponde apresença do evento em 1-25% dos ramos;dois (2) a 26-75% dos ramos; três (3) a 76-100% dos ramos.

RESULTADOS E DISCUSSÃONa área A foram amostrados 96

indivíduos pertencentes a 37 espécies, e naárea B foram amostrados 55 indivíduospertencentes a 36 espécies (Tabela 2). Afenologia foliar das duas áreas não foisignificativamente diferente (X 2=2,616,p=0,2703), apenas três dos indivíduos daárea A e nenhum da área B apresentaramausência completa de folhas, 73% da área Ae 82% da área B apresentaram apenasfolhas novas, e 24% da área A e 10% daárea B possuíam apenas folhas maduras(Tabela 3). A maioria dos indivíduos dasduas áreas, cerca de 80%, apresentaramprodução de folhas novas e 50% dosindivíduos apresentaram folhas maduras(Figura 1). Estes dados indicam que amaioria dos indivíduos amostrada troca defolhas durante a estação seca, no entantonão é possível afirmar que estes sãodecíduos, ou seja que perdem todas asfolhas simultaneamente, pois o evento detroca não foi observado.

Page 46: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

39

Em relação às fases reprodutivas,apenas cerca de 10% dos indivíduos deambas áreas apresentaram produção dasestruturas relacionadas a estas fases. Alémdisto, a maioria destes indivíduosapresentaram baixa intensidade (0-25% dosramos) de produção (Figura 1). Em relaçãoà síndrome de dispersão da comunidade dasáreas A e B, 54% e 58% das espécies sãozoocóricas e 46% e 42% são anemocóricas,respectivamente (Tabela 2 e Figura 2).Apesar do número de espécies zoocórias sermaior nas duas áreas, este valor é baixoquando comparado a áreas mais fechadas,como uma floresta tropical, onde mais de70% das espécies são zoocóricas (Howe &Smallwood, 1982), o que está de acordocom a idéia de que nos trópicos, aanemocoria é mais importante em áreasabertas (Howe & Smallwood, 1982), comoos Cerrados.

Trabalhos de síndrome de dispersãode sementes no Cerrado mostraram que, emBotucatu/SP, 33% das espécies sãoanemocóricas (Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger, 1983), e 39% em Brasília/DF(Oliveira & Moreira, 1992). Os nossosresultados apresentaram porcentagem deanemocoria um pouco mais elevada, porémpróxima aos valores encontrados nestestrabalhos.

Em relação aos frutos com dispersãono período de estudo, 22% das espécies querepresentam 14% dos indivíduos da área A,e 25% das espécies que representam 23%dos indivíduos da área B são zoocóricos,enquanto 11% das espécies querepresentam 21% dos indivíduos da área A,e 31% das espécies que representam 19%dos indivíduos da área B são anemocóricos(Tabela 2 e Figuras 2 e 3). Apenas cerca demetade dos indivíduos e espéciesfrutificando nas duas áreas representamrecursos em potencial para a fauna. Osresultados encontrados em nível de espéciee de indivíduo não foram significativamentediferente entre as duas comunidadesestudadas (X 2= 0,004, p=0,999 e X2=2,718, p=0,937).

Os resultados mostram que grandeparte das espécies e indivíduos de síndromede dispersão anemocórica presente nas duasáreas, não estão dispersando suas sementesnesta época (Figura 2 e 3), o que éesperado, pois elas dispersam suassementes durante a estação seca, e não natransição entre esta e a estação chuvosa. Aanemocoria é mais eficiente durante aestação seca, pois a umidade afeta asestruturas de dispersão anemocórica(Sheldon & Burrows, 1973 apud Oliveira &Moreira, 1992) e impede que as sementessejam dispersas para grandes distâncias. Osmesmos resultados foram encontrados paraa dispersão zoocórica das duas áreas(Figura 2 e 3). Este resultado mostra quedurante o período estudado há uma pequenadisponibilidade de frutos e sementes para afauna, tanto em variedade e quanto emquantidade.

Quanto à comparação das distintasfenofases entre as duas áreas, as áreas secomportaram de forma bastante semelhante,apresentando uma convergência nocomportamento fenológico. Elasapresentaram alta produção de folhas novase uma ínfima porcentagem de espécies eindivíduos sem folhas, e uma pequenaprodução de estruturas reprodutivas. Alémdisto, as duas apresentaramaproximadamente a mesma proporção deindivíduos e espécies zoocóricas eanemocóricas em fruto.

CONCLUSÕESOs resultados encontrados não

corroboraram nossa hipótese, que a área deafloramento rochoso apresentaria um maiornúmero de indivíduos e espécies sem folhase um menor número com flores e frutos. Acomunidade das duas áreas apresentoufenologia bastante semelhante, o que parecesugerir que as plantas presentes na área deafloramento rochoso não sofrem mais coma escassez de água que as do solo profundo.Este fato pode se dever à presença deestratégias de acúmulo de água pelosindivíduos da área de afloramento rochoso,ou aos eventos de chuva que ocorreram nas

Page 47: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

40

últimas semanas e que foram suficientespara as plantas produzirem novas estruturas,principalmente, folhas novas.

AGRADECIMENTOSAgradecemos as monitoras, Janaína

(UnB) e Helena Maura (UFU) pelaorientação no campo e pelo empenho nadiscussão do relatório. E ao amigoErnestino Guarino e ao Prof. Dr. Paulo E.A. Oliveira pela ajuda na identificação dasplantas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOTTSBERGER, G. & SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. 1983. Dispersal anddistribution in the cerrado vegetation of

Brazil. Sonderbd. Naturwiss. Rev.Hamburg 7:33-314.

HOWE, H. F. & SMALLWOOD, J. 1982.Ecology of seed disspersal. Ann. Rev.Ecol. Syst. 13:201-228.

MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R.1988. Variações fenológicas das espéciesdo cerrado da Reserva Biológica de MojiGuaçú, Estado de São Paulo. Rev.brasil. Bot. 11: 101-112.

OLIVEIRA, P. E. A. M. &MOREIRA, A. G. 1992. Anemocoria emespécies de cerrado e mata de galeria deBrasília, DF. Rev. brasil. Bot. 15(2):163-174.

Tabela 1. Modelo de ficha de coleta de dados referente a fenofases em duas áreas de cerradodo Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO.

FICHA DE COLETA DE DADOS – PROJETO FENOLOGIA

FENOFASESÁREA:_____________

FOLHAS FLORES FRUTOS

No. Espécie FoJ FoM Fruto Flor FrJ FrM

Page 48: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

41

Tabela 2. Espécies encontradas em duas áreas de cerrado do Parque Estadual Serra de CaldasNovas, GO, quanto à sindrome de dispersão, floração e frutificação. A simbologia "n"significa ausência e "s" ocorrência do evento fenológico.

ÁREA (A)Espécie

Síndrome de dispersão Floração Frutificação

Annona crassiflora zoocoria n n

Aspidosperma macrocarpon anemocoria s n

Austroplenckia populnea anemocoria n n

Bowdichia virgilioides anemocoria n s

Brosimum gaudichaudii zoocoria s n

Byrsonima crassa zoocoria s n

Byrsonima crassifolia zoocoria n n

Caryocar brasiliense zoocoria s n

Connarus suberosun zoocoria n n

Dalbergia miscolobium anemocoria s n

Diospyrus bulcheli zoocoria n n

Erythroxylum sp. zoocoria s n

Hymenaea stignocarpa zoocoria n n

Kielmeyera coriacea anemocoria n n

Lafoensia pacari anemocoria n n

Licania humilis zoocoria s s

Machaerium obovatum anemocoria n n

Miconia ferruginea zoocoria n n

Myrcia tomentosa zoocoria s s

Ouratea hexasperma zoocoria s s

Palicourea rígida zoocoria s n

Piptocarpha rotundifolia anemocoria n n

Pouteria ramiflora zoocoria s s

Qualea grandiflora anemocoria n s

Qualea parviflora anemocoria s s

Roupala montana anemocoria n n

Schinus pseudochila zoocoria n n

Senna sp. autocoria n s

Page 49: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

42

Stryphnodendron

adstringens zoocoria s s

Stryphnodendron

polyphyllum zoocoria n n

Styrax ferrugineus zoocoria s s

Syagrus sp. zoocoria n s

Tabebuia áurea anemocoria n n

Tabebuia sp anemocoria n n

Tocoyena formosa zoocoria n s

Vochysia cinnamomea anemocoria s n

Vochysia sp anemocoria n n

ÁREA (B)Espécie

Síndrome de dispersão Floração Frutificação

Aspidosperma macrocarpon anemocoria s n

Byrsonima coccolobifolia zoocoria s n

Byrsonima crassa zoocoria s n

Caryocar brasiliense zoocoria n n

Casearia sp zoocoria s s

Dalbergia miscolobium anemocoria n n

Davilla elliptica zoocoria n n

Didymopanax sp zoocoria n n

Dimorphandra mollis anemocoria n n

Dioscoriacea anemocoria s s

Enterolobium gummiferum zoocoria n n

Eremantus sp anemocoria n n

Erythroxylum sp zoocoria s n

Hancornia speciosa zoocoria s s

Hymenaea stignocarpa zoocoria n n

Jacaranda sp anemocoria n n

Kielmeyera coriacea anemocoria n n

Lafoensia pacari anemocoria n n

Page 50: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

43

Licania humilis zoocoria n s

Mimosa sp anemocoria n s

Myrcia sp zoocoria n s

Myrcia tomentosa zoocoria n s

Ouratea hexasperma zoocoria s s

Pouteria ramiflora zoocoria n s

Psidium sp zoocoria n n

Pterodon emarginata anemocoria n n

Qualea grandiflora anemocoria n s

Qualea parviflora anemocoria s s

Roupala Montana anemocoria n n

Rourea induta zoocoria s s

Salacia crassifolia zoocoria n n

Stryphnodendron

polyphyllum zoocoria n n

Tabebuia áurea anemocoria n n

Tocoyena formosa zoocoria n S

Vochysia sp anemocoria n N

Xylopia aromatica zoocoria n N

Tabela 3. Número de indivíduos quanto à presença ou ausência de folhas em cada áreaamostrada, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO.

ÁREAS AMOSTRADASFOLHAS

ÁREA A ÁREA B

Ausência 3 (3,12%) 00 (0%)

Somente Jovens 70 (72,92%) 45 (81,81%)

Somente Maduras 23 (23,96%) 10 (18,19%)

TOTAL DE INDIVÍDUOS 96 55

Page 51: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

44

(A)

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

FolJ FolM Bot Flor FrtJ FrtM

Eventos Fenológicos

% In

diví

duos 0 (0%)

1 (01 - 25%)2 (26 - 75%)3 (76 - 100%)

(B)

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

FolJ FolM Bot Flor FrtJ FrtM

Eventos Fenológicos

% In

diví

duos 0 (0%)

1 (01 - 25%)2 (26 - 75%)3 (76 - 100%)

Figura 1 – Ocorrência dos eventos fenológicos por número de indivíduos em cerrado delatossolo-profundo (área A) e afloramento rochoso (área B), no Parque Estadual Serra deCaldas Novas, GO. As expressões FolJ, FolM, Bot, Flor, FrtJ, FrtM significam folha jovem,folha madura, botão floral, flor, fruto jovem e fruto maduro respectivamente.

Page 52: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

45

Área A

Zoo/frut22% (8)

Zoo/nao32%(12)

Anemo/frut11% (4)

Anemo/nao35% (13)

Anemo/frutAnemo/naoZoo/frutZoo/nao

Área B

Anemo/nao31% (11)

Zoo/frut25% (9)

Zoo/nao33% (12)

Anemo/frut11% (4) Anemo/frut

Anemo/naoZoo/frutZoo/nao

Figura 2 – Porcentagem de espécies zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantas come sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.

Page 53: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

46

Área A

Anemo/frut19%

Anemo/nao33%

Zoo/frut23%

Zoo/nao25% Anemo/frut

Anemo/naoZoo/frutZoo/nao

Área B

Anemo/frut21%

Anemo/nao38%

Zoo/frut14%

Zoo/nao27% Anemo/frut

Anemo/naoZoo/frutZoo/nao

Figura 3 – Porcentagem de indivíduos zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantascom e sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.

Page 54: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

47

G3.2 DISPONIBILIDADE DE NÉCTAR E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

DE CARYOCAR BRASILIENSE (CARYOCARACEAE) EM UMA ÁREA

DE CERRADO SENSU RESTRITO, PARQUE ESTADUAL DE SERRA

DE CALDAS NOVAS, GO

Caio Rebula, Cláudio Muniz, Marcela Yamamto & Sérgio Lopes

Orientação: Profo. Dr. Paulo Oliveira

INTRODUÇÃONo bioma cerrado ocorrem diversas

fitofisionomias com a ocorrência deespécies arbóreas e predomínio de espéciesherbáceas e arbustivas (SCHIAVINI &ARAÚJO, 1989). Nessa região, asinterações entre polinizadores e as floresque esses visitam, são de grandeimportância para muitas espécies vegetaiscompletarem sua reprodução sexuada(OLIVEIRA, 1991, 1994).

A interação morcego-planta éconsiderada recente na história evolutivadas angiospermas, mas ainda assim é degrande importância para os ecossistemastropicais (BOBROWIEC, 2000). Oaumento da diversidade das angiospermasprovocou um efeito diversificador nosmorcegos, influenciando apreciavelmenteos gêneros e espécies dessas plantas(FLEMING & HEITHAUS, 1981).

A distância que morcegos voamentre o ninho e a área de forrageamento,reflete diretamente as interações entrealgumas variáveis, como o tamanhocorporal, a distribuição e a abundância dasfontes alimentares (árvores com flores efrutos) e a quantidade de indivíduos dogrupo que irão consumir tais recursos(COELHO et al., 2001). Nos últimos anos, vários estudos(SAZIMA et al., 1994; GIBBS et al., 1999;BOBROWIEC, 2000; COELHO et al.,2001) vêm sendo realizados com o objetivode avaliar a relação entre a atividade dosmorcegos polinizadores e a oferta dealimento pelas espécies vegetais. A relação

animal-planta é objeto de estudos paravários pesquisadores pois ela associainformações sobre o estabelecimento dasplantas no ambiente e os animais quedependem de seus recursos alimentares.

Neste sentido, este trabalho tevecomo objetivos: determinar o padrão dedistribuição espacial de Caryocarbrasiliense em uma área de cerrado sentidorestrito, e avaliar a produção de néctar paraalguns indivíduos dessa espécie ao longo deuma noite.

MATERIAL E MÉTODOSÁrea de estudo

Os presente estudo foi realizado noParque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), localizado entre os municípiosde Caldas Novas e Rio Quente, no sudestedo Estado de Goiás, a 180 km da capitalGoiânia (SILVA et al, 2002). A coleta dosdados foi realizada nos dias 21 e 22 desetembro de 2002.

Espécie estudadaCaryocar brasiliense é uma espécie

representativa da flora do cerrado, tantopela área de ocorrência como pelo potencialde utilização. Seu período reprodutivoocorre de setembro a outubro, coincidindocom o início da estação chuvosa. As floressão grandes e vistosos, de cor amarelada,reunidas em inflrescências terminaispaniculadas. Androceu formado pornumerosos estames, soldados na base ouformado grupos com filetes glandulares(Joly, 1976).

Page 55: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

48

Desenho experimentalFoi realizado um levantamento em

uma área de 1,0 ha, usando 20 transectos de10 X 50 m, subdivididos em parcelas de 10X 10 m. Todos os indivíduos de Caryocarbrasiliense encontrados nos transectosforam registrados e suas alturas estimadasvisualmente com o auxílio de uma varagraduada. Quando os indivíduosapresentavam flores abertas na noiteanterior, estas eram contadas. Esses dadosserviram para calcular a densidade deindivíduos reprodutivos (aqueles compresença de flores), de indivíduos nãoreprodutivos (aqueles com ausência deflores) e de flores, bem como a distribuiçãoespacial, através do Índice de Poisson e deMorisita (Tabela 1). Na mesma áreaestudada, porém fora dos transectosdemarcados, outros indivíduos com botõesflorais no estado de pré-antese, tiveram suasinflorescências ensacadas com organza paraposterior determinação da produção donéctar.

Medidas de néctarAs medidas referentes ao néctar

foram feitas em flores previamenteensacadas, ao anoitecer e ao amanhecer,medindo-se o volume e a concentração emequivalentes de sacarose, utilizando-seseringas de 1 ml (escala de 20 microlitros) erefratômetro de bolso, respectivamente. Apartir de tais medidas (volume econcentração do néctar) foi estimada arecompensa calórica por hectare utilizandoa tabela de conversão de KEARNS &INOUYE (1993) seguindo os seguintespassos, conforme Bobrowiec (2000).

1o passo – encontrar natabela o valor de g/l (gramas deaçúcar por litros de néctar) daconcentração de açúcar amostrada(% sacarose);

2o passo – dividir o valortabelado por 1000

3o passo – multiplicar pelovolume de néctar coletado

Para a transformação da massa deaçúcar encontrada no néctar emquilocalorias (Kcal), foi utilizada arelação apresentada por DAFINI(1992), em que 1 g de açúcarequivale a 4 Kcal.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA densidade relacionada ao total de

indivíduos não reprodutivos, indivíduosreprodutivos e flores (23, 10 e 42respectivamente), assim como o padrão dedistribuição espacial, estão descritos naTabela 2. Os indivíduos de pequiamostrados apresentaram distribuiçãoagrupada para o total de indivíduos nãoreprodutivos, indivíduos reprodutivos eflores. Isto mostra que tais indivíduos estãoconcentrados em algumas áreas,disponibilizando o recurso (néctar dasflores), também, de maneira concentrada naárea de estudo.

O volume médio da produçãonoturna de néctar foi de 664,4 µL (dp =304,8; n = 15) e a concentração média deequivalentes de sacarose no néctar, foi de14,9 % (dp = 4,2; n = 15). Foi feita aconversão de tais resultados segundo atabela de conversão de KEARNS &INOUYE (1993) e foi encontrado 17,4 Kcalde energia disponível para a área de estudo.Considerando que a espécie de morcegoque alimenta-se do néctar e assumindo queum morcego nectarívoro tem uma demandacalórica diária de 12,4 Kcal (VONHELVERSEN & REYER, 1984),verificamos que a área estudada tem acapacidade de sustentar apenas ummorcego. Coelho et al., estudando ooferecimento de néctar de Hymenaeastigonocarpa, encontrou uma quantidade denéctar nas flores capaz de suprir asnecessidades de aproximadamente 10morcegos por hectare.

Essas variações nos valores deprodução e concentração podem estarrelacionadas com pressões ambientaisadversas, sofridas pelas flores de ummesmo indivíduo ou de indivíduosdiferentes. Essas interferências podem

Page 56: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

49

influenciar na produção de néctar econsequentemente no número de floresnecessárias para satisfazer a demandaenergática dos morcegos (ZIMERMMAN,1999).

Os dados obtidos demonstram queCaryocar brasiliense apresentoudistribuição espacial agrupada paraindivíduos e recurso floral. O estudodemonstrou a importância do pequi comofonte de recurso para morcegos, sendoessencial para a manuntenção da faunalocal. Entretanto, em comparação com oestudo de Hymenaea stigonocarpa (Coelhoet al., 2001), o pequi apresentou baixacapacidade suporte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOBROWIEC, P. E. D. 2000.Disponibilidade de recursos floraispara morcegos Phyllostomidae emUberlândia, MG. Monografia debacharelado. UFU, 40p.

COELHO, C. P; MENDES, S; DECARVALHO, D. A. 2001.Disponibilidade de néctar erecompensa calórica oferecida porHymenaea stigonocarpa Mart. ExHayne aos seus visitantes. Estudodesesnvolvido durante a disciplinaEcologia de Campo – 2001. Perdizes,MG.

DAFNI, A. 1992. Pollination ecology: apractical approach. New York: OxfordUniversity Press.

FLEMING,T. H; HEITHAUS, E. R. 1981.Frugivorous bats seed shadows, andstructure of tropical forest. Biotropica13(supl.):45-53.

GIBBS, P. E.; OLIVEIRA, P. E.;BIANCHI, M. B. 1999. Postzygotic

control of selfing in Hymenaeastignocarpa (Leguminosae-Caesalpinoideae), a bat-pollinated tree ofthe brazilian Cerrados. Int. J. Plant. Sci.v. 160. p. 72-78.

VON HELVERSEN, O.; REYER, H. U.1984. Nectar intake and energyexpenditure in a flower visiting bat.Oecologia (Berlin). 63: 178-184.

OLIVEIRA, P. E. M. 1994. Aspectos dareprodução de plantas do cerrado econservação. Bol. Herb. Ezechias PauloHeringer. p. 34-35.

SAZIMA, I.; FISCHER, W.A.; SAZIMA,M.; FISCHER, E.A. 1994. The fruitbat Artibeus literatus as a forest andcity dweller. Ciência e Cultura46:164-168.

JOLY, A.B. 1976. Botânica: introdução àtaxonomia vegetal. 3a ed. São Paulo,Companhia Editora Nacional. 777 p.

SILVA, L.O.; COSTA, D.A.; SANTOFILHO, K.E.; FERREIRA, H.D.;BRANDÃO, D. 2002. Levantamentoflorístico e fitossociológico em duasáreas de cerrado sensu strictu no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas,Goiás. Acta Bot. Bras. 16(1): 43-53.

SCHIAVINI, I. & ARAÚJO, G. M. 1989.Considerações sobre a vegetação daEstação Ecológica do Panga -Uberlândia. Sociedade & Natureza. p.61-65.

ZIMERMMAN, M 1998 Nectarproduction, flowering phenology, andstrategies for pollination. In: Doust, J.L.;Doust, L.L. Plant reproductionecology: patterns and strategies. NewYork, Oxford University Press. 157-178.

Page 57: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

50

Tabela 1 – Padrões de distribuição espacial definidos por dois índices de dispersão.

Índices de Dispersão Condição Tipo de distribuição

ID > 1 Agrupada

ID < 1 AleatóriaPoisson e Morisita

ID = 1 Uniforme

Obs.: ID = Índice de Dispersão

Tabela 2 – Densidade e tipo de distribuição espacial de indivíduos e flores em uma área decerrado sentido restrito, PESCAN, Caldas Novas, GO.

Densidade (indivíduos/ha) 23

Índice de Poisson 1.39 Distribuição agrupadaIndivíduos (total)

Índice de Morisita 4.5 Distribuição agrupada

Densidade (indivíduos/ha) 10

Índice de Poisson 1.31 Distribuição agrupadaIndivíduos não

reprodutivosÍndice de Morisita 4.4 Distribuição agrupada

Densidade (flores/ha) 42

Índice de Poisson 1.31 Distribuição agrupadaFlores

Índice de Morisita 18.6 Distribuição agrupada

Page 58: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

51

G3.3 PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE DUAS ESPÉCIES

PALMEIRAS, BUTIA LEIOSPATHA E SYAGRUS FLEXUOSA

(ARECACEAE), NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS

NOVAS, GO

Claudia C.F. de Toledo, Hélder N. Consolaro, Rafael S. Arruda, Ernestino S.G. Guarino &

Carlos H.G. Angeluci

Orientador: John D. Hay

INTRODUÇÃOPara conhecer o padrão espacial de

ocorrência de uma população érecomendado conhecer tanto o grau deagregação, quanto sua formação (Maia,1997).

Indivíduos de populações vegetaispodem estar distribuídos no espaço de trêsmaneiras: uniforme, aleatório e agregado. Opadrão de distribuição regular é o menosencontrado na natureza, sendo o agregado omais comum (Silva, 1996), padrão queparece se repetir para espécies de Cerrado(Hay, 2000).

O estudo dos padrões espaciais depopulações naturais é de grandeimportância, devido as características sócio-ecológicas que podem resultar a partir deseu conhecimento e, em escalas maiores,devido serem usados para planejamento edesenho de áreas de conservação(Nakajima, 1987; Hay, 2000). Estascaracterísticas refletem relaçõesintrapopulacionais, interespecíficas e deinterações para com os fatores ambientais(Nakajima, 1987).

O objetivo deste trabalho foiidentificar escalas do padrão de distribuiçãoespacial de duas espécies de palmeiras,Butia leiospatha e Syagrus flexuosa(Arecaceae), em uma área de cerrado(sentido restrito).

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo compreende umaporção de cerrado (sentido restrito)encontrada da no Parque Estadual da Serrade Caldas Novas (PESCAN), localizadoentre os municípios de Caldas Novas e RioQuente, sudeste do Estado de Goiás.

Os dados foram coletados no mês desetembro de 2002, utilizando umasequência de parcelas contíguas (Ludwig &Reynolds, 1988). Foram demarcados 130parcelas (8 x 5m) ao longo de uma linha de650 m de comprimento, totalizando 5200m2 de área amostrada. Em cada parcelaforam contados o número total deindivíduos das duas espécies.

O padrão da escala de distribuiçãoespacial foi estabelecido usando o MétodoQuadrado-Variância, através da construçãode gráficos nos quais se plota o valor davariância contra o tamanho do bloco ouintervalo entre parcelas (Ludwig &Reynolds, 1988).

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam encontrados um total de 317

indivíduos, sendo 141 de Syagrus flexuosa,variando de 0 a 9 indivíduos por parcela(1,35 indiv./parcela), e 176 de Butialeiospatha, variando de 0 a 8 indivíduos porparcela (1,08 indiv./parcela).

Através da análise dos dados usandoa técnica da variância entre parcelaspareadas (PQV), as espécies apresentaramum padrão de distribuição aleatório (Figura

Page 59: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

52

1). A análise dos resultados usando atécnica da variância entre blocos de parcela(BQV) mostrou que as espécies nãoapresentaram picos de agrupamentoaparentes (Figura 2).

Na natureza, o padrão maisencontrado é o de distribuição agregado,sendo os principais fatores causais quepodem levar a este tipo de variação, osambientais (intensidade de luz,disponibilidade de água, pH); reprodutivos(em decorrência da forma de reprodução oudispersão de diásporos), sociais(territorialismo), interaçoes intraespecíficas(competição) e estocásticas. Entretanto, asespécies estudadas apresentaram um padrãode distribuição aleatório, presumindo, destaforma, que nenhum fator está determinandoo padrão destas populações na área deestudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hay, J. D., Bizerril, M.X., Calouro, A. M.,Costa, E. M. N., Ferreira, A. A., Gastal,M. L. A., Junior, C. D. G., Manzan, D.J., Martins, C. R., Monteiro, J. M. G.,Oliveira, S. A., Rodrigues, M. C. M.,

Seyffarth, J. A. S. e Walter, B. M. T..2000. Comparação do padrão dadistribuição espacial em escalasdiferentes de espécies nativas docerrado, em Brasília, DF. Revta brasil.Bot. 23: 341-347.

Ludwig, J. A. & Reynolds, J. F.. 1988.Statical ecology: a primer on methodsand computing. John Wiley & Sons,New York.

Maia, J. M. F. 1997. Estrutura populacionaldas espécies do gênero Syagrus para ocerrado Sensu Strictu. Pós-graduação emEcologia, UnB – Curso de Campo emEcologia (Trabalhos Inividuais). 43-47p.

Nakajima, J. N. & Monteiro, R.. 1987.Padrões de distribuição espacial deespécies de Styrax (Styracaceae) deCerrados. Arq. Biol. Tecnol. 30 (3): 419-430.

Silva, D. M. S.. 1996. Distribuição espacialde Qualea grandiflora Mart.(Vochysiaceae) em um cerrado deBrasília, DF. Pós-graduação emEcologia, UnB – Ecologia no cerrado,(Curso ‘”Métodos de campo emEcologia”). 44-48.

Page 60: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

53

Figura 1. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa áreade cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o métodode variância entre parcelas pareadas (PQV). Para as espécies, Butia leiospatha (- -) eSyagrus flexuosa (- -).

Figura 2. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa áreade cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o métodode variância entre blocos de parcelas (BQV). Para as espécies, Butia leiospatha (- -) eSyagrus flexuosa (- -).

PQV - Syagrus e Butia

0

1

2

3

4

5

6

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61

Número de parcelas no bloco

Variâ

ncia

ButiaSyagrus

BQV - Syagrus e Butia

01020304050

1 2 3 4 5 6 7

Numeros de parcelas nos blocos

Variâ

ncia

ButiaSyagrus

Page 61: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

54

G4.1 DUREZA, ÁREA FOLIAR, COR, PESO E PILOSIDADE EM UMA

ÁREA QUEIMADA E OUTRA NÃO EM CERRADO SENSU STRICTO

Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Carlos Angeluci & Marcelle

Rodrigues

Orientação: John Hay

INTRODUÇÃOO fogo é um dos principais fatores

limitantes no cerrado, principalmente nacompetição interespecífica entre espéciesárvore/arbustivas e camada rasteira. A altafreqüência deste evento ao longo dos anos,faz com que as plantas desenvolvamadaptações para diminuir os danosocorridos (Takyia et. al, 2000).

No cerrado, o investimento emreservas nutricionais subterrâneas mostrama grande quantidade de espécies decíduas esemi-decíduas, ou seja, sendo as folhas emépocas de intenso estresse, a primeira parteda planta a responder a estes distúrbios.

O estudo de algumas característicasfoliares de uma área recém queimada eoutra não poderá nos sugerir algunsparâmetros que serão afetados inicialmenteapós a passagem do fogo.

Bianchi et. al.(1996) observousignificativas mudanças em algunsparâmetros: dureza, coloração, pilosidade etamanho médio das folhas em mata degaleria e cerrado.

Os objetivos do nosso trabalhoforam: i) comparar algumas característicasfoliares em área de queimada recente eoutra não, e entre folhas jovens e maduras,ii) comparar herbivoria em folhas jovens emaduras.

MATERIAL E MÉTODOSAs coletas das folhas foram feitas de

forma aleatória, em seis espécies arbóreas:Caryocar brasiliense, Kielmeyera coriacea,Xylopia aromatica, Roupala montanaSclerolobium paniculatum eStriphnodendron adistrigens. A área foi um

cerrado sensu stricto (17o66’59.4”S e48o40’04,7”W) marginal a uma estradaonde um lado foi queimado recentemente eoutro não.

A dureza relativa de cada folha foiestimada com o uso de um perfurômetro(um dinamômetro adaptado) com três furosem cada folha ou folíolo e calculada amédia.

A área foliar foi mensurada por umaparelho chamada Laser Area Meter, onde afolha era escaneada três vezes, sendoposteriormente tirado a médias dosresultados.

A Coloração foi descrita emcomparação da folha/folíolo com o Livro deMunsell (Color Charts for Plant Tissue).

O peso foi mensurado por umabalança de precisão de centésimo de gramasOHAUS. Foi tomado o peso fresco dasfolhas.

A pilosidade foi classificada porausente, muita ou pouca, e era notadaatravés da conta fio Intex.

O teste t pareado será aplicado paracomparar os parâmetros tanto em relação àárea, quanto em relação à idade foliar(Software utilizado Prophet 1997).

SLA – specific leaf área foicalculado pela razão entre área foliar e pesofresco.

RESULTADOS E DISCUSSÃOTanto a área foliar quanto o peso

aumentaram nas espécies estudadas dasfolhas jovens para folhas maduras, como oesperado (Tabela 1 e 2), não mostrando estepadrão para dureza, observado em Roupalamontana.

Page 62: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

55

Em comparação a todos os quesitosestudados não mostraramsignificativamente através do teste tpareado (tmax=0.023 e tmin= 2.3880, p>0.05)em relação à área queimada e área nãoqueimada recentemente.

Na maioria das espécies estudadasque apresentavam muita pilosidade em pelomenos uma das faces, não houve relaçãodireta com a taxa de herbivoria (Tabela 1 e2).

Os quesitos que representaram umpouco significância foram na comparaçãodo SLA e dureza mostrado na figura 1,apenas para a espécie Caryocar brasiliense(r2 = 0.2241), sendo as outras espéciesapresentando regressão linear quase seminclinação alguma, como por exemplo, naKyelmeiera coriaceae (r2 = 0.0173).

O padrão para coloração sofreumudança significativa entre folhas novas emaduras somente para três espécies:Caryocar brasiliense, Xylopia aromatica eSclerolobium paniculatum, nas espéciesrestantes tal variação não foi observada.Entre área queimada e não queimada nãofoi verificada mudança para nenhuma asespécies. É importante ressaltar que ointervalo entre a queimada que ocorreu em

uma das áreas e o período de observação foimuito pequeno, cerca de duas semanas, queprovavelmente não sendo o suficiente paraque ocorressem significativas variações nosparâmetros de cor (Figura 2 e 3).

BIBLIOGRAFIA

Begon, M., Harper, J. L., Townsend, C. R.1990. Ecology: individuals, populationsand communities. 2a. ed. BlackwellScientific Publication, Massashussets,USA.

Bianchi, C. A.; Costa F. A. P. L. & Dias, T.A. B. 1996. Comparação decaracterísticas de folhas de plantas decerrado e mata de galleria. Curso deCampo – Ecologia do Cerrado,Departamento de Ecologia – UnB, p. 22.

Takiya, D. M.; Perez, M. E.; Campon, F.;Georgeoglou, L. & Pequeño. T. 2000.Comparacíon de los parametros físicos yfauna de invertebrados associada de lahojarasca en una area preservada y outramanejada. Curso de Campo 2000 –INPA/ Smithsonian/OTS.

Page 63: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

56

Tabela 1. Área foliar, massa, dureza, pilosidade e herbivoria na área sem fogo recente decerrado s.s., em folhas jovens e madura das espécies Caryocar brasiliense, Kielmeyeracoriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana, Sclerolobium paniculatum eStryphnodendron adstringens.

Área Sem Fogo Recente C. brasiliense K. coriacea X. aromatica R. montana S. adistrigens S. paniculatum

Área (cm2) Folha Jovem 32.4 19.4 15.60 19.7 15.3 12.5

SLA 32.40 4.73 39.00 19.70 15.30 17.86

Folha Madura 115.2 57.5 36.50 75.3 23.1 52.7

SLA 33.88 15.97 36.50 20.92 19.25 26.35

Massa (g) Folha Jovem 1 4.1 0.40 1 1 0.7

Folha Madura 3.4 3.6 1.00 3.6 1.2 2

Dureza Folha Jovem 9.3 20.70 15.00 370.8 13.3 90.4

Folha Madura 21.5 12 168.30 262.4 15 224.2

Pilosidade Folha Jovem Muita Ausente Ausente Muita abaxial Ausente Muita

Folha Madura Muita Ausente Ausente Muita abaxial Ausente Muita

Herbivoria Folha Jovem Baixa Ausente Ausente Baixa Baixa Baixa

Folha Madura Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa

Page 64: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

57

Tabela 2: Área Foliar, Massa, Dureza, Pilosidade e Herbivoria na área com fogo recente decerrado s.s., em folhas jovens e maduras das espécies: Caryocar brasiliense, Kielmeyeracoriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana Sclerolobium paniculatum eStryphnodendron adistringens

Área Queimada

C. brasiliense K. coriacea R. montana S. paniculatum

Área (cm2) Folha Jovem 28.5 10.8 19.40 13.1

SLA 28.5 18 24.25 18.71

Folha Madura 88.3 34.2 48.80 61

SLA 33.96 20.12 24.40 29.05

Massa (g) Folha Jovem 1 0.6 0.80 0.7

Folha Madura 2.6 1.7 2.00 2.1

Dureza Folha Jovem 15.7 25.80 292.90 250

Folha Madura 19.3 12 256.70 40.8

Pilosidade Folha Jovem Muita Ausente Muita face Abaxial Muita

Folha Madura Muita Ausente Muita face Abaxial Muita

Herbivoria Folha Jovem Alta Ausente Baixa Baixa

Folha Madura Alta Baixa Baixa Baixa

Figura 1: Comparação entre SLA (Specific Leaf Área) e dureza da folha em duas espéciesestudadas: Caryocar brasiliense e Kyelmeiera coriacea.

Caryocar brasiliense

R2 = 0.2241

0

10

20

30

40

0 10 20 30 40 50 60 70

SLA (cm2/g)

Dur

eza

Kyelmeiera coriaceae

R2 = 0.0173

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 10 20 30 40 50 60 70 80

SLA (cm2/g)

DU

REZ

A

Page 65: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

58

Figura 2: Espécies que apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovens e maduras: S.paniculatum, X. aromatica e C. brasiliense.

C aryocar brasiliense

0

2

4

6

8

10

25G Y 50G Y 75G Y

tonalidade

Nº de

folha

s

n ovas

m aduras

S clerolobium

0

2

4

6

8

10

25G Y 50G Y 75G Y

tonalidade

Nº de

folha

s

novas

m aduras

X ylopia

0

2

4

6

8

10

25G Y 50G Y 75G Y

tonalidade

Nº de

folha

s

n ovas

m aduras

Page 66: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

59

Figura 3: Figura 2: Espécies que não apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovense maduras: S. adistrigens, K. coriaceae e R. montana.

K yelm eiera

0

2

4

6

8

10

25G Y 50G Y 75G Y

tonalidade

Nº de

folha

s

novas

m aduras

R oupala

0

2

4

6

8

10

25G Y 50G Y 75G Y

tonalidade

Nº de

folha

s

n ovas

m aduras

Stryphnodendron

02468

10

25GY 50GY 75GY

tonalidade

Nº d

e fo

lhas

novas

maduras

Page 67: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

60

G4.2 COMPORTAMENTO SENSORIAL EM TETRAGONISCA ANGUSTULA

(APIDAE, MELIPONINAE)

Flávio R. Oliveira, Hélder N. Consolaro, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes

Orientação: Helena Maura Torezan-Silingard

INTRODUÇÃODiversos grupos animais dependem

de diferentes canais sensoriais paracomunicação e identificação (Krebs &Davies, 1996). Tais diferenças dependemde restrições impostas pelos hábitos ehabitats das espécies. Alcock (1984) apudKrebs & Davies (1996) classifica estescanais em químicos (percepção de odores),visuais, auditivos e tácteis. Percepçõesvisuais e químicas possuem baixo custoenergético, sendo que percepção visualapresenta maior facilidade de localização,degradação rápida, alcance médio e fracahabilidade de transpor obstáculos. Apercepção química apresenta facilidade delocalização variada, degradação lenta,alcance mais longo e boa habilidade detranspor obstáculos (Alcock, 1984 apudKrebs & Davies, 1996).

A percepção de cores tem aguçado aimaginação humana por muito tempo(Kevan, 1983 apud Corredor, 2002). Avisão de cores em insetos tem sido testadocom flores ou outros estímulos visuais, taiscomo predadores, localização de ninhos,alimento, parceiros dentre outros. Modelosusados em abelhas para determinação decódigos de cores de flores têm demonstradoque elas possuem uma visão tricromáticaaguçada que compreende receptores ultra-violetas (UV), azuis e verdes (Cittka, 1997apud Corredor, 2002).

Estudos de comportamento temmostrado que a existência de preferênciaspor cores em insetos pode variar com aidade, estado reprodutivo ou aprendizagem(Corredor, 2002). Estímulos olfativostambém atraem esses animais, e emabelhas, o reconhecimento de odores éespecífico para a colônia. Greenberg (1979)

apud Krebs & Davies (1996) demostrouexperimentalmente que operárias deLasioglossum zephyrum (Hymenoptera:Halictidae) impedem, seletivamente, queindivíduos não aparentados entrem em seuninho.

O objetivo deste estudo foi identificarqual o componente mais importante noreconhecimento da entrada do ninho:químico ou visual.

METODOLOGIADevido a dificuldade de localização

dos ninhos, utilizamos apenas uma colôniade Tretragonisca angustula (Apidae:Meliponinae), localizada no lado externo dasede do Parque Estadual de Caldas Novas,GO (PESCAN), situado entre os municípiosde Caldas Novas e Rio Quente. O ninho seencontra em um tubo de aterramento decoloração negra, sendo em sua partesuperior a saída (três metros do solo).

Para condicionamento das abelhascom a nova cor do ninho, no dia 21 desetembro de 2002 às 13:00hs, foramcolocadas na entrada do ninho (boca dotubo), duas folhas de cartolina; uma interna(cor-de-rosa), com o objetivo de deposiçãode material seroso (sinal químico) e outraexterna (cor amarela), com o objetivo decondicionar os indivíduos a identificar oninho através da cor.

Após dois dias (41 horas), retiramosas folhas de cartolina separando os ladosamarelo e rosa. Para verificação dosestímulos visuais e químicos, simulamoscinco ninhos no qual os tratamentosvariavam na cor e na presença ou ausênciade cera (retirada do interior do ninho comuma espátula): (1) amarelo sem cera, (2)amarelo com cera, (3) preto com cera

Page 68: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

61

(ninho), (4) rosa com cera, (5) rosa semcera, (6) preto sem cera (Figura 1). Asobservações foram feitas por quatro pessoasa cada 15 minutos. Uma dupla observava osseis ninhos (cinco minutos cada ninho, trêsninhos por pessoa). Registramos quantosindivíduos pousavam na entrada do ninho eem qual entrada isso ocorria.

RESULTADOS E DISCUSSÃOQuando comparamos as freqüências

de pousos nos tubos (3) com (6) e (1) com(2), verificamos um maior retorno deindivíduos nos tubos que possuíam odoresda colônia (Figura 2A e 2B). Nos tubos queapresentavam coloração negra houveretorno somente no ninho (Figura 2A), aocontrário dos tubos de coloração amarelaem que foram registrados pousos em ambos(Figura 2B).

Estas freqüências nos tubos comodores evidenciam a importância doestímulo químico para a colônia, embora notubo amarelo sem cera tenha se observadodois picos de pouso superior ao do tubocom cera, o estímulo químico permaneceumais evidente. Em relação à maioratividade no ninho real quando comparadacom os falsos com odores, esta talvez sedeva pela maior volatilização decorrente dotamanho real do ninho e, com constantereposição de cera na entrada.

Comparando as freqüências depouso nos tubos (2) com (3) e (3) com (4),também observamos um maior número deindivíduos pousando no ninho (Figura 3A e3B). O estímulo visual, testado nestacomparações foi sobreposto pelo estímuloquímico, porém esse dado não pode sernegligenciado, visto que odores específicospossuem baixa facilidade de localizaçãoquando comparado com estímulos visuais.

CONCLUSÕESAmbos os estímulos, visual e

químico, são importantes para Tetragoniscaangustula localizar a entrada do ninho. Alonga distância da colmeia, o estímulovisual é mais eficaz que o químico e, estepor sua vez é mais eficiente nas

proximidades, visto que o odor é específicoda colônia.

AGRADECIMENTOSAgradecemos a Janaina pelo apoio

técnico dado a este experimento, aofuncionário da base Joaquim por,gentilmente, ter cedido as escadas sem osquais não seria possível observar asabelhas. Aos Professores Dr. Paulo Oliveirae John Hay pelas dicas discussão. E aHelena Maura pelo essencial apoio eorientação, principalmente, na parte escritae execução experimental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCOCK, J. 1984. Animal Behaviour: aevolutionary approach., 3rd edn.Sinauer, Sunderland, Massachusetts.apud KREBS, J. R., DAVIES, N. B.1996. Introdução à EcologiaComportamental. São Paulo: AtheneuEditora, 428 p.

BROWN, L., DOWNHOWER, J. F. 1951.Analyses in Behavioral Ecology: amanual for lab and field. Sunderland,Massachusetts: Sinauer Associates, Inc.Publishers, 199 p.

CHITTKA, L. 1997. Bee color vision isoptimal for coding flower color, butflower colors are not optimal for beingcoded-Why? Israel Journal of PlantSciences. n. 45, v. 2-3, p. 115 – 127.apud CORREDOR, M. C. V. 2002.Avaliação do comportamento de escolhade cores por borboletas. Ecologia daFloresta Amazônica – Curso deCampo. p 102 – 104.

CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação docomportamento de escolha de cores porborboletas. Ecologia da FlorestaAmazônica – Curso de Campo. p 102 –104.

GREENBERG, I. 1979. Genetic componentof kin recognition in primitively social

Page 69: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

62

bees. Science, n. 206, p. 1095. apudKREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996.Introdução à EcologiaComportamental. São Paulo: AtheneuEditora, 428 p.

KEVAN, P. G. 1983. Floral color throughthe insect eye: what they are and whatthey mean. pp. 3 – 30. In: JONES, C. E.R. J. Little. 1983. Handboock ofExperimental Pollination apudCORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliaçãodo comportamento de escolha de corespor borboletas. Ecologia da Floresta

Amazônica – Curso de Campo. p 102 –104.

KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996.Introdução à EcologiaComportamental. São Paulo: AtheneuEditora, 428 p.

RAVEN, P. H., EVERT, R. F.,EICHHORN, S. E. 1999. Biology ofPlants. 6nd ed. New York: W. H.Freeman and Company WorthPublishers, 959 p.

Figura 1 – Esquema de disposição das falsas entradas para as abelhasTetragonisca angustula. As marcas negras internas representam tubos com cera.

1 2

3

4 5 6

PISTA QUÍMICAPISTA QUÍMICA

PISTA VISUAL

Page 70: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

63

Figura 2 – Freqüência de retorno de Tetragonisca angustula à entrada dos falsos ninhos everdadeiro. Verificação do estímulo químico.

(A)

0

5

10

15

20

25

08:00

08:30

09:00

09:30

10:00

10:30

11:00

13:30

14:00

14:30

15:00

15:30

16:00

Horário

N. d

e In

diví

duos

NINHOPRETO

(B)

0123456789

08:0

0

08:3

0

09:0

0

09:3

0

10:0

0

10:3

0

11:0

0

13:3

0

14:0

0

14:3

0

15:0

0

15:3

0

16:0

0

Horário

N. d

e In

diví

duos

AMARELO

AMARELO +CERA

Page 71: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

64

Figura 3. Frequencia de retorno de Tetragonisca angustula dos falsos ninhos e verdadeiros.Verificação do estímulo visual.

(A)

0

5

10

15

20

25

08:00

09:00

10:00

11:00

14:00

15:00

16:00

Horário

N. d

e In

diví

duos

AMARELO + CERANINHO

(B)

0

5

10

15

20

25

08:00

09:30

11:00

14:30

16:00

Horário

N. d

e In

diví

duos

NINHO

ROSA COMCERA

Page 72: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

65

G4.3 RECONHECIMENTO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS

FLORAIS POR BEIJA-FLORES EM UMA ÁREA DE CERRADO DO

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO)

Rafael Arruda, Caio Rébula, Ernestino Souza G. Guarino, Janis C. Salles & Marcela

Yamamoto

Orientador: Paulo E. Oliveira

INTRODUÇÃOAlgumas aves visitam flores

regularmente para alimentarem-se denéctar, partes florais e insetos. Floresornitófilas possuem grande quantidade denéctar, geralmente pouco concentrado ecom baixa viscosidade, mas com poucoodor devido ao restrito olfato das aves. Poroutro lado, aves possuem grande acuidadevisual, com grande capacidade de distinguircores. Sendo assim a maioria das floresornitófilas, normalmente são vermelhas ouamarelas. Estas são grandes ou formaminflorescências, fatores que podem estarrelacionados ao estímulo visual ecapacidade de abrigar grande quantidade denéctar. Quando as flores são visitadas poranimais de maior tamanho corporal, comconseqüente maior taxa de gasto energético,estas flores devem produzir quantidade denéctar suficiente para suprir as necessidadesdestes animais. Espécies polinizadas poranimais com alta taxa de consumoenergético, como beija-flores,desenvolveram adaptações florais capazesde proteger o néctar em estruturastubulares. Isto evita que animais de baixoconsumo energético passem grandesperíodos nas flores, reduzindo a polinizaçãocruzada (Raven, 1999).

O cerrado apresenta uma grandequantidade de plantas que produzem néctarcomo recompensa floral aos polinizadores,sendo a grande maioria das plantasentomófilas e algumas ornitófilas equiropterófilas pouco freqüentes (Barbosa,1997).

A dieta de um beija flor consistebasicamente de néctar, composto porsacarose e baixas quantidade deaminoácidos, lipídeos e polissacarídeos,apresentando normalmente baixaconcentração de solutos e poucaviscosidade. A dieta dos beija-flores ésuplementada por pequenos invertebradosque garantem o suprimento de aminoácidose outros compostos necessários aometabolismo (Baker & Baker, 1980). Emáreas abertas, durante os períodos maisquentes do dia, Silberbauer-Gottsberer &Gottsberger (1998) não constataram aatividade de beija-flores; e ainda os beija-flores podem ser divididos em trapliners,com uma rota específica de forrageamento,e territorialistas, defendendo uma manchade recursos.

Os objetivos do presente estudoforam determinar o tempo de descoberta derecursos, a freqüência de visitação, apreferência pela coloração e quantidade dasflores, e a relação dos gêneros presentes emuma área de cerrado (sentido restrito).

METDOLOGIAO estudo foi realizado no 23 de

setembro de 2002, no Parque Estadual Serrade Caldas Novas, em uma área de cerradosentido restrito, recentemente queimado econsequentemente, com poucadisponibilidade de recursos florais.

Foram utilizados 36 bebedoresartificiais, com flores plásticas de coresvariadas (24 vermelhas, 4 roxas, 4 brancas e4 amarelas), os quais continham solução de

Page 73: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

66

água e sacarose a 15% de concentração desoluto.

Foram montadas seis estações, cadauma contendo duas unidades amostrais. Emtrês delas foram dispostas seis floresvermelhas e duas de outras cores, enquantoque nas outras três, duas flores vermelhas eduas de outras cores. Cada unidade ficoudistante cinco metros uma da outra dentroda estação. Tais estações foramestabelecidas a 50 metros da estrada e entreelas.

As observações foram realizadas naparte da manhã, com registros dos horáriosdas visitas, da preferência com relação àcoloração das flores e das característicasmorfológicas dos beija-flores visitantes.Estes foram posteriormente identificadosaté gênero, com o auxílio de Grantsau(1989).

RESULTADOS E DISCUSSÃOO tempo total da observação foi de 2

horas para cada estação, no qual foiregistrado apenas o gênero Amazilia, comuma ocorrência em três das estações,havendo possibilidade de que tenha sido omesmo indivíduo. Devido ao início tardioou ao curto tempo de observação, estahipótese não pôde ser comprovada, porqueas rotas de capturas já poderiam ter sidoestabelecidas.

Uma hipótese para explicar aausência de exploração de beija-flores nosbebedouros poderia estar associada a baixaqualidade do recurso oferecido.Provavelmente, essa hipótese não estácorreta, já que a concentração de solutoestava dentro da faixa oferecida pelasespécies locais visitadas por beija-flores.Uma Bromeliaceae próxima ao experimentoapresentou concentração de 27% e umindivíduo da espécie Norantea, 11%.

Outra explicação poderia estarrelacionada com as características

morfológicas da flor usada no experimentoque poderiam estar confundindo os beija-flores. Porque segundo Oliveira (1998),como o número de plantas com floresornitófilas nas fitofisionomias do cerrado épequeno, os beija-flores terminam porvisitar um conjunto de flores que nãoapresentam morfologias florais adaptadas àsua visita.

A baixa disponibilidade de recursosna área queimada poderia ter influenciado aescolha dos beija-flores, mas em nossoexperimento isto não ocorreu. Isto pode teracontecido porque, provavelmente, os beija-flores não estariam arriscando explorar umnovo recurso, em detrimento de flores quejá poderiam estar sendo utilizadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBAKER, H. G. & BAKER, I. 1980. Studies

of nectar-constitution and pollinator-plant coevolution. In: Gilbert, L E. &Raven, P. H. (eds). Coevolution ofanimals and plants. University of TexasPress. p. 100-140.

BARBOSA, A. A. A. 1997. Biologiareprodutiva de uma comunidade decampo sujo, Uberlândia, MG. Tese dedoutorado. Unicamp. Campinas.

GRANTSAU, R. 1989. Os beija-flores doBrasil. Expressão e cultura. Rio deJaneiro. 234p.

OLIVEIRA, G. M. 1998. Disponibilidadede recursos florais para beija-flores numcerrado de Uberlândia, MG. Dissertaçãode mestrado. UnB. Brasília.

RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN,S.E. 1999. Biology of plants. 6th ed.W.H. Freeman and Company, NewYork. 944p.

SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. &GOTTSBERGER, G. 1998. Apolinização das plantas do cerrado.Revta. Brasil. Biol. 48:651-663.

Page 74: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

67

G5.1 DIETA DE CANÍDEOS NO PARQUE ESTADUAL DE CALDAS

NOVAS, GOIÁS

Carlos Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Marcelle Rodrigues & Otacílio

Santana

Orientador: Ariovaldo A. Giaretta

INTRODUÇÃONo Brasil central três Canídeos

ocorrem simpatricamente, entre elesChrysocyon brachyurus, lobo guará eCerdocyon thous, cachorro-do-mato.(JUAREZ & MARINHO-FILHO 2002).Eles possuem uma dieta bastante variada,alimentando-se principalmente de pequenosmamíferos e frutas, além de aves e insetos.Esses animais apresentam ainda granderegionalidade nos itens alimentares e sefavorecem de recursos típicos das áreasonde vivem. Um bom exemplo é C. thousque é conhecido como “crab eating fox”,pelo fato de, na Colômbia e Venezuela,utilizar-se desses crustáceos naalimentação. Ainda no sudoeste brasileiro,região do Pantanal, foi observada a inclusãode frutos da palmeira Acrocomia aculeatana dieta desse animal (ARRUDA, R. com.pessoal).

A dieta generalista dos canídeos éde grande importância para a dispersão desementes de espécies vegetais, uma vez queesses podem percorrer vários quilômetrosem apenas uma noite. O fato deapresentarem hábito noturno implica emmaior dificuldade no estudo dessesmamíferos através de observações diretas.Desse modo, a análise do conteúdo dasfezes pode oferecer importantesinformações sobre dietas e padrões deforrageamento.

O presente trabalho teve comoobjetivo estudar o uso de recursosalimentares por Chrysocyon brachyurus(lobo-guará) e Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) através da análise de suas fezes.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi realizado no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas,localizado entre os municípios de CaldasNovas e Rio Quente, no sudeste do Estadode Goiás, em uma porção de cerrado sensustrictu, abrangendo áreas queimadas e nãoqueimadas. Foram coletadas todas as fezesencontradas em uma estrada que percorre oParque. As amostras foram coletadas emsacos plásticos e posteriormente colocadasem álcool 70%, e levadas para análise emlaboratório. Em seguida, foram feitastriagens, sendo separados todos os itensidentificáveis, que foram descritos aomenor nível taxonômico possível. Osparâmetros para identificação das fezes deChrysocyon brachyurus e Cerdocyon thousforam à localização das fezes em áreasexpostas, características destes animais,bem como a presença de frutos com restosde animais (penas, pêlos, mandíbulas) evolume.

Para a identificação dos itensencontrados nas fezes, foram utilizadasobservações visuais, em microscópio ópticoe estéreo-microscópio. Os resultados foramanotados e relacionados segundo a tabela 1.

RESULTADOS E DISUCSSÃONão foi possível detalhar qual

amostra fecal era de cada predador, umavez que não foram encontrados pêlosingeridos por autolimpeza. A lobeira(Solanum lycocarpum) foi à espécie vegetalencontrada em maior quantidade(aproximadamente 82 % das amostras), oque corrobora os resultados encontrados porJUAREZ & MARINHO-FILHO (2002).

Page 75: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

68

Além desta, foi possível identificarsementes de Brosimum gaudichaudii emuma das amostras. O segundo itemencontrado em maior freqüência foipequenos mamíferos, sendo que destes, amaior parte formada por Equimídeos. Taisresultados demonstram que a dieta dessescanídeos apresentou itens variados (Tabela1) disponíveis na região de cerradoestudada.

Os itens alimentares encontradosnas fezes dos canídeos indicam que osrecursos alimentares no cerrado sãoutilizados de forma generalista e

oportunista, de acordo com adisponibilidade. A presença de restosvegetais, como Solanum lycocarpum(lobeira), e restos animais nas fezes,evidencia o hábito onívoro desses canídeos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

JUAREZ, K. M. & MARINHO-FILHO, J.2002. Diet, habitat use, and home rangesof sympatric canids in Central Brazil.Journal of Mammalogy. (no prelo).

Tabela 1. Itens identificados nos restos fecais de Canidae.

Amostras Solanum

lycocarpum

Outros Frutos Mamíferos Aves Escamados

1 X X*

2 X X**

3 X

4 X X

5 X X*

6 X*** X X

7 X

8 X X

9 X

10 X X*

11 X X*

*Equimídeo; **Murídeo; ***Brosimum gaudichaudii

Page 76: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

69

Figura 1. – Freqüência absoluta dos itens encontrados em 11 fezes coletadas.

0

2

4

6

8

10

12

lobeira mamíferos aves outros frutos escamados

freqü

ênci

a ab

solu

ta

Page 77: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

70

G5.2 RESISTÊNCIA DE LARVAS DE CURCULIONIDAE

(COLEOPTERA) PREDADORAS DE SEMENTES DE SYAGRUS

FLEXUOSA (ARECACEAE: PALMAE) AO FOGO EM CERRADO S. S.

Jania C. Salles, Caio Rébula, Ernestino Guarino, Marcela Yamamoto, Rafael Arruda

Orientador: Prof. John Hay

INTRODUÇÃOMuitas plantas sofrem fortes pressões

de predação em suas sementes. Animaisque predam sementes e folhas são assuntode várias discussões ecológicas. Entretanto,eles diferem em caminhos importantes nacoevolução do alvo atacado (Janzen, 1971).

Representantes da famíliaCurculionidae (Coleoptera) são em suamaioria herbívoros. Muitos sãoconsiderados pragas de espécies cultivadas.Suas larvas geralmente alimentam-se detecidos vegetais medulares. Adultosperfuram frutos para obter alimento edepositam seus ovos em alguns destesorifícios. As larvas desenvolvem-se nointerior desses frutos (Borror et al., 1992).Em outros casos, os ovos são depositadosnas flores e as larvas eclodem quando ofruto já está formado, onde se alimentam doendocarpo até a próxima fase de seudesenvolvimento.

Para o Cerrado, as conseqüênciasdecorrentes do fogo, dependem de váriosfatores, dentre eles da magnitude do seuefeito e da extensão das áreas queimadas(Roque et al., 1996). Uma das formas deavaliar as modificações provocadas pelaação do fogo em ecossistemas naturais é autilização de organismos vivos comobioindicadores (Louzada et al., 1996).

O objetivo deste estudo é avaliar ainfluência do fogo na sobrevivência delarvas de Curculionidae predadoras desementes de Syagrus flexuosa.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado numa área decerrado sensu stricto no Parque Estadual daSerra de Caldas Novas, GO.

Foram coletadas as infrutescências deSyagrus flexuosa de 15 indivíduos comalturas de aproximadamente um metro, emdois locais: um queimado a 15 dias e umnão queimado, que sofreu a últimaqueimada há quatro anos. Cadainfrutescência possuía cerca de 20 frutos, osquais tiveram medidos o comprimento e odiâmetro, sendo analisados quanto aoestado do endosperma (intacto ou abortado)e quanto à presença ou ausência de larvasvivas ou mortas.

Os dados foram analisados pelo testeQui-quadrado e teste t.

RESULTADOSFoi coletado um total de 290 frutos na

área queimada, dentre os quais, 204apresentaram-se intactos, 52 abortados e 34com presença de larvas vivas ou mortas. Naárea não queimada, foram coletados 249frutos, sendo 141 intactos, 15 abortados e93 com presença de larvas vivas ou mortas(Tabela 1).

Foi observada diferença significativaentre as características apresentadas pelosfrutos da área queimada (χ2 =292,734,p<0,01) e da área não queimada (χ2

=150,819, p<0,01). Com relação acomparação entre as características dasduas áreas, também verificou-se diferençasignificativa (χ2 =56,555, p<0,01) (Tabela1).

Page 78: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

71

Na área queimada, das 34 larvasencontradas, somente duas estavam vivas.Na área não queimada, das 93 larvas, 88estavam vivas. Comparou-se as larvas vivasdas duas áreas para verificar se haviaresistência ao fogo, onde foi encontradodiferença significativa (χ2 =94,967,p<0,01). Dessa forma, pode-se inferir queos frutos não conferem proteção às larvascontra a ação do fogo.

Como a escolha dos indivíduos foifeita com base numa altura semelhante, eraesperado que não houvesse diferençasignificativa entre as alturas dos cachos nasduas áreas (t= -0,978, p=0,338). Numacoleta de 20 frutos de uma infrutescência a1,65m de altura, em área queimada,observou-se grande freqüência de larvavivas (55%), com a ausência de larvasmortas.

Assim, a altura dos cachos teve forteinfluência na freqüência das larvas vivas naárea queimada, pois, segundo Miranda et al.(1996), a altura das chamas onde sãoregistradas as maiores temperaturas é a 60cm do solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORROR, D. J.TRIPLEHORN, C. A. &JONHSON, N. F. 1992. An introductionto the study of insects. 6th ed. Orlando,Saunders College Publishing. 875p.

JANZEN, D. H. 1971. Seed predation byanimals. Annual Review of Ecology andSystematics 2: 465- 492.

LOUZADA, J. N. C.; SCHIFFLER, G. &VAZ DE MELLO, F. Z. 1996. Efeitosdo fogo sobre a estrutura da comunidadede Scarabaeidae (Insecta, Coleoptera) narestinga da Ilha de Guriri – ES. In: H. S.Miranda; C. H. Saito & B. F. S. Dias.Impactos de queimadas em áreas decerrado e restinga. Universidade deBrasília. p. 161-169.

MIRANDA, H. S.; ROCHA e SILVA, E. P.& MIRANDA, A. C. 1996.Comportamento do fogo em queimadasde campo sujo. . In: H. S. Miranda; C. H.Saito & B. F. S. Dias. Impactos dequeimadas em áreas de cerrado erestinga. Universidade de Brasília. p. 1-10.

ROQUE, W. L.; NUNES, C. B. S. N. &HECKLER, C. A. 1996. Geometria depaisagem de áreas queimadas por fogode superfície. In: H. S. Miranda; C. H.Saito & B. F. S. Dias. Impactos dequeimadas em áreas de cerrado erestinga. Universidade de Brasília. p.178-187.

Tabela 1 – Características dos frutos coletados nas duas áreas amostradas.

QUEIMADA NÃO QUEIMADA

Endosperma intacto 204 141

Endosperma abortado 52 15

Larvas vivas 2 88

Larvas mortas 32 5

Total de frutos 290 249

Page 79: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

72

G5.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE PLANTAS PORTADORAS DE

NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS E FORMIGAS: ESTRATÉGIA

EFICIENTE CONTRA HERBÍVOROS ?

Hélder N. Consolaro, Flávio R. Oliveira, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes

Orientador: Prof. Dr. Glauco Machado

INTRODUÇÃOA herbivoria acarreta vários danos à

folha, como redução da área fotossintética eataque a partes reprodutivas. Ao longo dotempo evolutivo, algumas plantasdesenvolveram mecanismos paradiminuírem estes danos. Estes mecanismospodem ser divididos, de forma geral, emdefesas mecânicas, químicas e bióticas.Dentre as defesas bióticas, destacam-se osnectários extraflorais (NEFs), que atraempredadores de herbívoros, principalmenteformigas (Begon, et al., 1990, Bentley,1977).

Nectários extraflorais são glândulassecretoras de néctar não envolvidasdiretamente na polinização. Estas estruturasocorrem em muitos taxa vegetais,particularmente em Angiospermas tropicais(Oliveira et al., 1997; Oliveira & Oliveira-Filho, 1991). Segundo Del-Claro (1995), assecreções de NEFs são o alimento maiscomum oferecido às formigas.

No Cerrado, foi demonstrado queformigas limitam a herbivoria em folhas deQualea grandiflora Mart. e Q. multifloraMart. (Vochysiaceae) que possuem pares deNEFs na base do pecíolo (Costa et al.,1992). Em Q. multiflora também foidemonstrado que a associação comformigas é um dos fatores determinantes nosucesso reprodutivo e vegetativo da planta(Del-Claro et al., 1996).

Este estudo teve como objetivo testaras seguintes hipóteses: (H1) plantas comNEFs atraem mais formigas do que plantasdesprovidas de tais glândulas; (H2) afrequência de remoção de herbívoros emplantas com NEFs será maior do que em

plantas sem NEFs; (H3) plantas com NEFspossuem menor índice de herbivoria do queplantas sem estas glândulas.

METODOLOGIARealizamos o estudo no dia 25 de

setembro de 2002, no período matutino, emuma área de cerrado sensu stricto do ParqueEstadual Serra de Caldas Novas, GO.Trabalhamos com duas espécies vegetaisportadoras de nectários extraflorais (NEFs),Qualea grandiflora e Q. parviflora(Vochysiaceae). Definimos como plantacontrole qualquer dicotiledônea sem NEFs,localizada até 2 m de distância da plantacom NEF escolhida. Selecionamos plantasque apresentassem característicasestruturais e textura foliar semelhantes àsduas espécies de Qualea.

Averiguamos a presença de formigasnas plantas selecionadas e as identificamosem níveis de espécie. Utilizamos o teste Gpara determinar se havia diferença entre onúmero de plantas com e sem NEF emrelação à presença de formigas. Para testarse havia diferença na frequência dedetecção de herbívoros nos dois gruposexperimentais utilizamos como iscas vivasoperárias de cupins (Termitidae), quesimularam possíveis herbívoros. Os cupinsforam colados com cola branca na faceadaxial próximos à borda de uma folhanova apical. Colamos uma isca por plantatanto no grupo experimental quanto nocontrole. As observações sobre o tempo deencontro da formiga com a isca foram feitaspor 10 min em cada par experimental. Paradeterminar se havia diferença na freqüência

Page 80: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

73

de remoção entre plantas com e sem NEFsfoi utilizado o teste G.

Para determinação da taxa de danofoliar nas plantas controle e nostratamentos, padronizamos um índice deherbivoria adaptado de Dirzo & Dominguez(1995) compreendido de cinco categorias: 1= 0-1%; 2 = 2-5%; 3 = 5-12%; 4 = 13-50%e 5 = 51-100%. Para calcular o Índice deHerbivoria (IH) foi utilizada a seguintefórmula: IH=∑(ni . i)/ ∑ni, sendo (ni) onúmero de folhas com dano i. Para tal,utilizamos as 10 primeiras folhas próximasà folha que continha a isca viva. Paradeterminar se havia diferença no IH entre asplantas com e sem NEF, foi utilizado o testepareado de Wilcoxon.

RESULTADOSNeste experimento foi observado

que formigas ocorriam significativamentemais em plantas com NEFs (Figura 1; G =11,8; p = 0,0006). Em Qualea, 54,5% dasformigas encontradas foram Camponotuscrassus, 27,3% Crematogaster sp. e 18,2%outras espécies (Camponotus sp., C. rufipese Cephalotes sp.). Nas plantas sem NEF,28,6% foram Camponotus crassus, 57,1%Crematogaster sp. e 14,5% outras espécies(C. rufipes e Cephalotes sp.) (Tabela 1).Não foi observada uma maior remoção decupins em plantas com NEFs emcomparação com plantas sem NEFs (Figura2; G = 1,2; p = 0,28). O índice de herbivoriatambém não diferiu significativamente entreas plantas com e sem NEFs (Figura 3; Z = -0,77; p = 0,44).

DISCUSSÃOOs resultados encontrados

corroboraram a hipótese de que formigassão encontradas em maior frequência emplantas portadoras de NEFs. Entretanto, asegunda e a terceira hipóteses não foramcorroboradas pois tanto a frequência deremoção de cupins quanto o índice deherbivoria não diferiram nos dois gruposexperimentais. Estes resultados não sãodiscrepantes a alguns estudos encontradosna literatura. Vários trabalhos já relataram a

ocorrência de associação entre plantas comNEFs e formigas sem, no entanto, haverproteção para as plantas (veja Del-Claro etal., 1986).

Nossos resultados podem serdecorrentes de dois fatoresinterdependentes: variação temporal eidentidade das formigas visitantes. Avariação temporal está relacionada aoinvestimento da planta em folhas jovenscujos NEFs estão ativos. Na estação demaior produção foliar há, portanto, umamaior disponibilidade de néctar, o que tornaas plantas mais atrativas às formigas. Amaior densidade de formigas sobre asplantas pode aumentar a eficiência deremoção de herbívoros. Os indivíduosamostrados estavam no início da produçãode folhas jovens, havendo assim baixadisponibilidade de néctar para as formigas.A baixa disponibilidade de néctar deve teracarretado uma baixa ocorrência deformigas e, consequentemente, uma baixafrequência de remoção dos herbívoros(cupins).

Adicionalmente, quando há ummaior número de formigas visitando asplantas com NEFs, existe uma maiorprobabilidade de haver formigas comcomportamento agressivo. É sabido quediferentes espécies de formiga podemconferir proteção diferencial à planta(Hölldobler & Wilson, 1990): quanto maisagressiva a formiga, maior a chance de estaremover potenciais herbívoros sobre aplanta. As duas espécies de formigasencontradas nas plantas com NEFs(Camponotus crassus e Crematogaster sp.)apresentam um comportamento que,provavelmente, não confere proteção àsplantas, uma vez que ambas são poucoativas no limbo foliar e passam a maiorparte do tempo no tronco e nos NEFs. Alémdisso, as operárias dessas duas espécies sãopouco agressivas.

Nossos resultados sugerem quevários fatores podem influenciar a interaçãoentre formigas e plantas. Estudos futurosdevem investigar a hipótese de que oestágio fenológico das plantas e o

Page 81: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

74

comportamento das formigas são fatoresimportantes na compreensão da interação.Nesse sentido, poderemos ter uma idéiamais precisa dos aspectos que condicionama defesa contra herbívoros em plantasportadoras de nectários.

AGRADECIMENTOSAgradecemos a orientação do Prof.

Glauco Machado. Maravilha!!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEGON, M., HARPER, J. L. ,TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology –individuals, populations andcommunities. Blackwell Science 2o Ed.995 p.

BENTLEY, B. L. 1977a. Extrafloralnectaries and protection by pugnaciousbodyguards. Annual Review ofEcological Systematics. n. 8, p. 407 -427.

BENTLEY, B. L. 1977b. The protectivefunction of ants visiting the extrafloralnectaries of Bixa orellana L. (Bixaceae).Journal of Ecology. n. 65, p 407 427.

COSTA, F. M. C. B., OLIVEIRA-FILHO,A. T., OLIVEIRA, P. S. 1992. The roleof extrafloral nectaries in Qualeagrandiflora (Vochysiaceae) in limitingherbivory: na experiment of antprotection in cerrado vegetation.

Ecological Entomology. n. 17, p. 363 –365.

DEL-CLARO, K., BERTO, V., REU, W. F.1996. Herbivore deterrence by visitingantsincreasesfruit set in an extrafloralnectary plant, Qualea multiflora(Vochysiaceae) in cerrado vegetation.Journal of Tropical Ecology. n. 12, p.887 – 892.

DEL-CLARO, K. 1995. Ecologia dainteração entre formigas e Guayaquilaxiphias (Homoptera: Membracidae) emDidymopanax vinosum (Araliaceae).Tese de Doutorado, Unicamp,Campinas, 101p.

DIRZO, R., DOMINGUEZ, C. 1995. Plantanimal interactions in Mesoamericantropical dry forest. In: BULLOCK, M.,MOONEY, H. (eds.) Senssonally DryForest. Cambridge University Press,EUA.

HÖLLDOBLER, B., WILSON, E. O. 1990.The ants. Harvard University Press,Cambridge, Massachusetts.

OLIVEIRA, P. S., LEITÃO-FILHO, H. F.1997. Extrafloral nectaries: theirtaxonomic distribution and abundance inthe woody flora of cerrado vegetation inSoutheast Brazil. Biotropica. n. 19, p.140 – 148.

Page 82: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

75

Tabela 1. Porcentagem de ocorrência das duas espécies de formigas e de outras nãoidentificadas encontradas nas plantas com e sem NEFs no Parque Estadual da Serra de CaldasNovas – GO.

% de ocorrência

Formigas Qualea spp. Sem NEFsCamponotus crassus 54,5% 28,6%

Crematogaster sp. 27,3% 57,1%

Outras 18,2% 14,3%

Figura 1. Número de plantas com ocorrência de formigas em Qualea spp. (planta com NEFs)e em plantas sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������������������

0

5

10

15

20

Qualea spp. Plantas sem NEFs

Núm

ero

de p

lant

as

���������� com formigas sem formigas

Page 83: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

76

Figura 2. Remoção (detecção) de cupins por formigas em plantas com e sem NEFs no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas – GO.

IH

Qualea spp. Plantas sem NEFs

Figura 3. Índice de Herbivoria (IH) das espécies com e sem NEFs com suas determinadasamplitudes e medianas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.

������������������������������������������

������������������������������������������0

5

10

15

20

Qualea spp. Planta sem NEF

No d

e cu

pins

���������� detectados não detectados

Page 84: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

77

G6.1 OBSERVAÇÃO E COLETA DE MORCEGOS EM UMA MATA DE

GALERIA, PESCAN, GOIÁS

Claudia C. F. de Toledo, Carlos Angeluci, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Marcelle

Rodrigues - Orientador: Jader Marinho- Filho

Os quirópteros constituem asegunda maior ordem entre os mamíferos,apresentando cerca de 950 espécies, sendoque, aproximadamente 140 destas ocorremem território brasileiro (MARINHO-FILHO, com. pessoal). A ordem estádividida em duas sub-ordens:Megachiroptera e Microchiroptera. Todosos morcegos do novo mundo pertencem àsegunda sub-ordem (EMMONS, 1990). Aordem Chiroptera é a única da classseMammalia, onde os organismos apresentamvôo verdadeiro, o que os capacita ocuparambientes inacessíveis a outros da mesmaclasse, facilitando a coleta de alimentos econtribuindo para ampliar sua distribuiçãogeográfica.

Essa relação com o vôo, além detrazer benefícios, requer uma série deadaptações como aquisição de asa nosmembros anteriores, pouco tempo depermanência dos alimentos no tratodigestivo, pernas reduzidas, e outras. Comosão de hábitos noturnos, necessitam de ummecanismo de localização que vai além davisão, popularmente conhecida de formaerrada como pouco desenvolvida. Eles seorientam, também, por ecolocalização,emitindo sons de altas freqüências que, aoretornarem para o animal, são interpretadasfornecendo informações como o tamanhodo objeto, distância e velocidade dedeslocamento do mesmo.

Através do estudo desses sons épossível determinar um padrão de emissãosonora característico de famílias, e táxonsinferiores, importante meio paraidentificação taxonômica.

Esse grupo apresenta relevanteimportância ecológica, estando relacionadocom a predação e eventual controle de

populações de insetos, anuros e roedores.Eles contribuem, ainda, para a dispersão deum grande número de espécies vegetais,bem como, a polinização de outras.

O presente trabalho foi realizado emuma mata de galeria, no Parque Estadual deCaldas Novas, Goiás, entre os municípiosde Rio Quente e Caldas Novas, onde foramarmadas quatro redes do tipo “mist net”,medindo 12 X 3 m, e com 3,5 cm de malha.Cada rede foi colocada a cerca de 30 m umada outra. A disposição dessas foi feita emclareiras da mata e sobre o curso d’água queatravessa a mata, coincidindo com supostasrotas de vôo dos morcegos. O período decoleta se deu das 18:30 às 22:00 do dia 27de setembro de 2002, onde cada rede foivistoriada com intervalos de 30 min. Osanimais capturados foram recolhidos emsacos de pano numerados, e posteriormente,levados ao laboratório para análise. Foramanotadas, para cada indivíduo, a família,espécie, massa, sexo, faixa etária, tamanhodo quinto dedo, tamanho total da asadireita, hábito alimentar, cor e (Tabela 1).As fezes dos mesmos foram recolhidas eseus itens devidamente identificados.

Dos indivíduos encontrados, 4apresentaram hábito alimentar do tipofrugívoro e apenas 1 do tipo insetívoro, isto,provavelmente, reflete o posicionamentodas redes a 20 cm do solo, o que coincidecom o maior deslocamento dos primeiros,forrageadores preferencialmente do sub-bosque. Na maioria das fezes das espéciesfrugívoras foram encontradas sementes dePiper sp, não sendo possível à identificaçãodos outros itens vegetais. Para a espécieinsetívora foram encontrados restos deexoesqueleto, mas da mesma forma nãoidentificados.

Page 85: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

78

Com o auxílio de um aparelho demedição de sons de alta freqüência(Anabat), os sons emitidos pelos morcegosforam registrados e identificados no local.Foi verificado que a maior atividadeocorreu entre o período de 19:00 às 21:00horas, o que reafirma outros registros feitospara a maioria das espécies em outras áreas(MARINHO-FILHO, com. pessoal).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EMMONS, L. H. 1990. Neotropicalrainforest mammals: a field guide. TheUniversity of Chicago Press. 281 p.

Page 86: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

79

Tabela 1 - Identificação e descrição de morcegos capturados.

indivíduo

Família Espécie Massa Sexo Faixa

etária

Tamanho

do 5º dedo

Tamanho

asa direita

Cor Hábito

alimentar

Horário

de

captura

01 Vespertilionidae Lasiurus sp 10 g Fêmea adulto 5,1 cm 12,5 preta insetívoro 20:30

02 Phyllostomidae Carolia perspicilata 20 g Fêmea adulto 7 cm 13 cm cinza frugívoro 19:00

03 Phyllostomidae Artibeus jamaicensis 50 g Fêmea adulto 9 cm 20 cm cinza frugívoro 19:30

04 Phyllostomidae Artibeus lituratus 65 g Macho adulto 10,5 cm 24 cm cinza frugívoro 20:30

05 Phyllostomidae Artibeus jamaicensis 46 g Macho adulto 8,1 cm 20 cm cinza frugívoro 20:30

Page 87: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

80

G6.2 LEVANTAMENTO DE ANUROS DO PARQUE ESTADUAL

SERRA DE CALDAS NOVAS, GO (PESCAN)

Sérgio F. Lopes, Flávio R. Oliveira, Hélder Consolaro, Patrícia Rodin

Orientador: Prof. Dr. Ariovaldo Giaretta

INTRODUÇÃOAs dimensões continentais do

Brasil, assim como sua localizaçãoessencialmente tropical, contribui para agrande diversificação da flora e da fauna.Existe mais de um milhão de espécies deanimais descritas, das quais 5% sãovertebrados (Barnes & Ruppert, 1994). Afauna do Cerrado, diferentemente de suaflora, apresenta baixo grau de endemismo(Sick, 1965; Redford & Fonseca, 1986;Marinho-Filho & Reis, 1989; Vanzolini,1993). Entretanto, a sua herpetofaunaabriga muitas espécies endêmicas, sendometade das 16 espécies de cobras-de-duas-cabeças (Amphisbaenia), 12 das 47 espéciesde lagartos (Lacertília) e 32 das 113espécies de anfíbios (Anura) listadas para obioma (Colli et al. no prelo).Provavelmente, o número de anfíbios doCerrado aumentará devido a elevada taxa dedescrição de novas espécies na RegiãoNeotropical (Glaw & Kohler, 1998).

Devido a esta grandebiodiversidade, levantamentos, mesmo querápidos, da fauna regional são necessários,dado que a destruição do Cerrado está seprocessando com rapidez crescente e oslevantamentos são realizados com lentidão.O objetivo deste estudo foi efetuar umlevantamento e descrição sucinta dasespécies de Anuros do Parque EstadualSerra de Caldas Novas, GO.

METODOLOGIAO estudo foi realizado na noite do

dia 26 de setembro de 2002, em trêsambientes no Parque Estadual Serra deCaldas Novas – GO, situado entre osmunicípios de Caldas Novas e Rio Quente.O primeiro ambiente é um tanque artificial

com água corrente lenta, com insolaçãodireta, apresentando vegetação aquáticacom predomínio de gramíneas. Esta áreaestá localizada próxima a uma vereda, emfrente à casa do pesquisador. O segundoambiente é um riacho sazonal situado nocampo cerrado, apresentando leito seco compoças d’água pluviaa e vegetação ciliar. Oúltimo ambiente é um riacho perene situadoem mata de galeria.Os registros das espécies foram feitosutilizando metodologia de identificaçãoauditiva e visual, sendo as vocalizaçõesgravadas em rádio gravador de mão,modelo PANASONIC 750 S. Algunsindivíduos foram coletados para mediçõesem laboratórios e, soltos na noite seguinte.

RESULTADOSLevantamento

Foram encontradas oito espécies deAnuros pertencentes a três gêneros e duasfamílias (Tabela 1). Deste levantamentorápido, observamos que três espécies nãoconstavam na lista de Anuros registrados noPlano de Manejo do Parque.

Descrição das espécies coletadasAs espécies descritas foram

coletadas nos três ambientes (Tabela 1).Lepdodactylus furnarius e Hylaalbopunctata foram identificadas apenaspelo canto dado que em espécies de anurosa vocalização é espécie específica.

Hyla minutaColoração rajada amarelada, textura

lisa, parte posterior da coxa com coloraçãouniforme com o restante do corpo. Cabeçaproporcional ao corpo. Indivíduos comaproximadamente 1,8cm de comprimento.

Page 88: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

81

Hyla biobebaColoração rajada beje e cinza com

aparência de líquen, textura lisa, rostroarredondado, olho bem sobressaído epresença de espinho na pata anterior.Indivíduo com aproximadamente 6,2cm decomprimento.

Physalaemus curveiriCabeça desproporcional ao corpo

(menor), faixas pretas nas laterais do corpo,textura lisa e coloração do dorso maisescura que a lateral, sendo as duasmalhadas, rostro afilado. Indivíduo comaproximadamente 2,8cm de comprimento.

Physalaemus nattereriColoração rajada acinzentada, corpo

em forma de disco, textura lisa. Presença deocelos pretos contornados com um anelbranco, na parte posterior do corpo. Parteposterior da coxa rajada de coloração pretae branca, cabeça bem menor que o corpo.Indivíduo com aproximadamente 4,0cm decomprimento.

Leptodactylus ocellatusColoração marrom claro com

manchas de tamanho médio marrom escuro,parte posterior da coxa com coloração verdecamuflado, textura lisa. Dorso com quatrolinhas em alto relevo e paralelas aocomprimento do corpo de cor marromintercaladas com coloração verde. Rostroafilado, pata traseira com dedos alongados,sendo o terceiro digito de dentro para forabem maior que os outros. Indivíduo comaproximadamente 7,7cm de comprimento.

AGRADECIMENTOSAgradecemos a Dona Eunice pela

preparação do lanche noturno e ao Prof. Dr.

Ariovaldo Giaretta pela orientação dada aeste estudo e, por ter nos contado a historiade vida destes animais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLLI, G. R.; BASTOS, R. P; ARAÚJO,A. F. B. The character and dynamicas ofthe cerrado herptofauna. In: OLIVEIRA,P. S.; MARQUIS, R. J. ed. Thecerrados of Brazil: ecology andnatural history of a neotropicalsavana. New York. ColumbiaUniversity. Press. No prelo.

GLAW, F.; KOHLER, J. 1998. Amphibeanspecies diversity exceeds that of mamals.Herptological Review, Lauwence 29(1): 11 – 12.

MARINHO-FILHO, J.; REIS, M. L. 1989.A fauna de mamíferos associada asmatas de galerias. Simpósio sobre mataciliar. São Paulo, SP, Anais. Campinas:Fundação Cargil. p. 43 – 60.

REDFORD, K. H.; FONSECA, G. A. B.1986. The role of galery forests in thezoogeography of the cerrado’s nonvolant mammalias fauna. Biotropica.Baton Rouge, L. A. vol. 18 (2): 126 –135.

SICK, H. A. 1965. A fauna do cerrado.Arquivos de Zoologia, São Paulo, SP.12: 71 – 93.

VANZOLINI, P. E. 1963. Problemasfaunísticos do cerrado. Simpósio sobrecerrado. São Paulo, SP. Anais p. 305322.

Page 89: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

82

Tabela 1. Lista das espécies observadas de Anuros em três ambientes noParque Estadual Serrade Caldas Novas, no dia 27 de setembro de 2002.

Família Gênero Espécie Ambiente

Leptodactylus ocellatus I

Lepdodactylus syphax* II

Lepdodactylus

Lepdodactylus furnarius* I

Physalaemus cuvieri I

Leptodactylidae

Physalaemus

Physalaemus nattereri II

Hyla minuta I

Hyla albopunctata I

Hylidae Hyla

Hyla biobeba* III

(*) – Espécies não catalogadas no Plano de Manejo do Parque.

Page 90: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

83

G6.3 INVERTEBRADOS NOTURNOS NO RIACHO DA CASCATINHA,

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS(GO)

Rafael Arruda, Caio Rebula, Ernestino S. G. Guarino, Jania C. Salles, Marcela Yamamoto

Orientador: Prof: Glauco Machado

INTRODUÇÃOMesmo representando uma pequena

parcela da área do cerrado, cerca de 5%, asmatas de galeria são de grande importânciana definição da biodiversidade desse bioma.São responsáveis pela quantidade equalidade da água presente em rios doBrasil central, comportando mais de 30%das espécies de plantas vasculares nestebioma. Muitos representantes da faunapresentes em outras fitofisionomias docerrado dependem das espécies vegetais dasmatas de galeria para alimentação,reprodução e moradia. (Ribeiro et al.,2001).

O estudo da fauna dos invertebradospermite amostrar uma grande variedade deformas animais e funções, de modo a obtermaior compreensão da diversidade desteamplo grupo e sua participação noecossistema (Ruppert & Barnes, 1991).

O objetivo deste trabalho foi realizarum rápido levantamento da fauna noturnade invertebrados na mata de galeria doriacho da Cascatinha.METODOLOGIA

O estudo foi realizado ao longo docurso do riacho da Cascatinha, no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas, GO. Acoleta foi feita durante a noite por umperíodo de três horas, com início às 18:30h. Os invertebrados foram capturados pormeio de coletas manuais e pelo auxílio deum guarda-chuva entomológico.Posteriormente, foram fixados em álcool70%. Foi feita a triagem e identificação domaterial em laboratório, com o auxílio deum estéreo-microscópio.

RESULTADOS

Foram coletados indivíduospertencentes às classes Arachnida, Insecta eDiplopoda. A Tabela 1. relaciona uma listacomentada dos grupos encontrados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L.;SOUZA-SILVA, J.C. 2001. Cerrado:caracterização e recuperação de matas degaleria. 1a ed. Planaltina, EmbrapaCerrados. 899p.

RUPPERT, E.E.; BARNES, R.D. 1991.Invertebrate zoology. 6th ed. Orlando,Saunders College Publishing. 1056p.

Page 91: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

84

Tabela 1- Invertebrados encontrados no riacho da Cascatinha e suas características.

CLASSE ORDEM FAMÍLIA HABITAT

FORRAGEAMENTO/

DIETA

CARACTERÍSTICAS

Arachnida Araneae Lycosidae Terrestre Caçador ativo Desenho de seta no abdome.

Trechaleidae Terrestre Predador senta -espera Caça associada à água; pêlos nas pernas que facilitam andar sobre a água.

Hercilidae Arborícola Predador senta-espera Camuflagem em troncos; fiandeiras grandes (teia para enrolar a presa); 3º

par de pernas mais curto.

Sparasidae Arborícola Predador senta-espera Forte achatamento dorso-ventral.

Corinidae Terrestre Predador senta-espera Maioria dos miméticos de formigas; teia para revestir o abrigo.

Pholcidae Arborícola Predador senta-espera Algumas espécies de ambiente domiciliar; teias irregulares.

Therididae Arborícola Predador senta-espera Teia irregular, mesma família da viúva-negra.

Araneidae Arborícola Predador senta-espera Teia orbicular.

Salticidae Terrestre ou

arborícola

Caçador ativo Visualmente orientados.

Acarinae Não Identificado Terrestre Parasita Ectoparasita de Bufo sp

Opilliones Cosmetidae Terrestre Caçador ativo Pedipalpo em forma de colher.

Gonyleptidae Terrestre Caçador ativo Macho com espinhos; fêmea arredondada, sem espinhos.

Insecta Hemiptera Belostomatidae Aquático

submerso

Predador senta-espera Barata d’água; sifão respiratório; cuidados paternais.

Gerridae Aquático de

superfície

Caçador ativo 1º par de pernas raptorial; canibalismo coletivo.

Page 92: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo

85

continuaçãoReduviidae Arborícola Caçador ativo

Coleoptera Gyrinidae Aquático de

coluna d’água

Predador senta espera Gregários; dois olhos bipartidos; bolha de ar no ventre.

Cerambycidae Arborícola ____ A larva se alimenta de madeira; adulto de fase curta; antenas longas (2º

segmento maior).

Erotylidae Arborícola Fungos

Elateridae Arborícola Caçador ativo Vagalume.

Blattaria Não identificado Terrestre Onívoro Ninfas sem asas.

Orthoptera Gryllidae Terrestre Herbívoro Ovopositor perfurador; antenas longas e asas sobrepostas.

Phalangopsidae Terrestre Herbívoro ou

detritívoro

Ápteros; maioria cavernícola.

Diplopoda Julida Não identificado Terrestre Detritívoro Enrola quando molestado expondo par de glândulas (cianeto).

Page 93: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

86

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIAParque Estadual da Serra de Caldas Novas

Projetos de 1 dia

Set/02

Page 94: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

87

I 1.1 MORTALIDADE DE NINHOS DE CONSTRICTOTERMES

CYPHERGASTER RELACIONADA A DISTÂNCIA DO SOLO E

CIRCUNFERÊNCIA EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTU

DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO)

Caio A. Rébula, Carlos H. G. Angeluci

INTRODUÇÃOO cerrado brasileiro é um domínio

caracterizado como savana, apresentandofitofisionomias variadas, que abrangemdesde campos a florestas. Cupins (Isoptera,Termitidae) são insetos sociais de tamanhomédio que se alimentam de celulose,utilizando matéria orgânica e solo para aconstrução de seus ninhos, sendo maisabundantes em áreas de maior biomassavegetal. Vivem em sociedades altamenteorganizadas, havendo diferençasmorfológicas nos indivíduos presentes emuma colônia (Borror et al. 1989). Sãoanimais de grande importância devido a suaabundância e capacidade de abrigar térmitasinquilinos e um grande número de espéciestermitófilas (Araújo, 1970). Elesrepresentam ainda, uma considerável fontede alimento para várias espécies de animais.Tatus e tamanduás constituem seusprincipais predadores, havendo também autilização dos ninhos por aves, paranidificação (Redford, 1984). Uma possívelestratégia para evitar a ação dessespredadores poderia estar relacionada com oestabelecimento do ninho em determinadaaltura do solo que diminuísse o alcancedestes animais. Uma das espécies de cupinsmais freqüentes no cerrado brasileiro éConstrictotermes cyphergaster, queconstrói ninhos arbóreos (Araújo, 1970).

OBJETIVOSO trabalho teve como objetivos

avaliar a relação entre a altura dos ninhos, apartir do solo, com o tamanho dos mesmose determinar se isto influencia amortalidade. Desta forma, como o

comportamento de nidificação arbórea poderepresentar uma estratégia para reduzir oataque dos principais predadores (Redford,1984), podemos esperar que:

H0 – Maior distância do solo reduz ataxa de mortalidade.

No entanto, é possível que existampredadores capazes de acessar os ninhosarbóreos:

H1 – Maior distância do soloaumenta a taxa de mortalidade.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi desenvolvido no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), GO. A área total desta unidadede reserva é de aproximadamente 12.000ha, apresentando como fitofisionomiaprincipal formações de cerrado. A coleta dedados foi feita em 20 de setembro de 2002,em um local de cerrado sensu strictu comaltitude aproximada de 1030m. Foramdefinidos 08 transectos de 200m x 10m,dispostos perpendicularmente à estrada deacesso à área de estudo. Cada transecto foicolocado a 50m de distância um do outro.Dentro da área foram amostrados todos osninhos de C. cyphergaster, medindo acircunferência, altura dos ninhos até o solo,assim como a densidade. Foi avaliada acorrelação entre altura e circunferência dosninhos bem como regressões logísticassimples. Os dados foram analisados com oauxílio do software Bioestat 2.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam encontrados 52 ninhos, sendo

que destes, nove estavam desativados.

Page 95: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

88

Observou-se que a maioria dos ninhosdesativados apresentaram orifícios comdiâmetro de pelo menos 10 cm na porçãobasal. A densidade de ninhos de C.cyphergaster foi de 29,37/ha para uma áreade 16000 m². A relação encontrada entrealtura e circunferência dos ninhos estárelacionada na Figura 1. Os resultados daanálise para altura e circunferência dosninhos apresentaram uma correlaçãopositiva, rPearson=0,3190, e significativa, p=0,0211.

Para a regressão logística simplesmortalidade foi classificada como variáveldependente, sendo comparada com asvariáveis independentes altura ecircunferência Os resultados demonstraramque em 99,7% dos casos a mortalidade foiuma função da altura, estando os ninhosmortos geralmente a maiores distâncias dosolo. Houve portanto, uma forte relaçãoentre altura do ninho mortalidade (Tabela1). Em somente 35,7% dos casos amortalidade estava relacionada à altosvalores de circunferência (Tabela 2).

A mortalidade tende a ser maior emcircunferências iguais ou inferiores a 70cm,aproximadamente 80% dos casos. Issoprovavelmente se deve a fragilidade nosestágios iniciais da colônia.

A maioria dos ninhos desativadosapresentaram orifícios com diâmetro médiode 10cm na porção basal. Estes podem ser

uma conseqüência de atividades daavifauna (Redford, 1984). Entretanto, nãofoi possível comprovar a origem daperturbação.

A alta mortalidade a grandes valoresde altura pode estar relacionada a um gastoenergético maior para obtenção de recursos,o que pode acarretar maior tempo naconstrução dos ninhos. Desta forma elespermaneceriam maior tempo em estágiosiniciais de desenvolvimento, estando maissuscetíveis à ação de predadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAraújo, A.L (1970) Termites of neotropical

region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M.Biology of termites.2nd edition.Academic Press, New York. 527-571.

Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson,N.F. (1989) An introduction to the studyof insects. 6th edition. Saunders CollegePublishing, Florida. 875p.

Redford, K.H. (1984) The termitaria ofCornitermes cumulans (Isoptera,Termitidae) and their role in determininga potential keystone species. Biotropica16(2): 112-119.

Zar, J.H. (1999) Biostatystical analysis. 4th

edition. Prentice Hall, New Jersey. 663p.

Tabela 1. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs altura.

Variáveis Coeficiente

Mortalidade -5,6992

Altura 0,0335

G.L. 1

P1 99,7%

Logit P1= -5,6992+0,0335x1=-5,6657; P1= 1/1+exp(-5,6657)=99,7%

Page 96: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

89

Tabela 2. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs circunferência.

Variáveis Coeficiente

Mortalidade 0,6149

Altura -0,0257

G.L. 1

P1 35,7%

Logit P2= 0,6149-0,0257x1=0,5892; P2= 1/1+exp(0,5892)=35,7%

Figura 1. Altura do solo e circunferência dos ninhos de Constrictotermes cyphergaster em

uma área de cerrado sensu strictu no PESCAN. Ninhos mortos estão mais distantes do solo e

apresentam menor circunferência.

y = 2,1797x0,6618

r2 = 0,5869

y = 26,554x0,3063

r2 = 0,5183

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 50 100 150 200 250

Altura (cm)

Circ

unfe

rênc

ia (c

m)

Ninhos vivosNinhos mortos

Page 97: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

90

I1.2 HERBIVORIA FOLIAR EM Siparuna guianensis (MONIMIACEAE),

PARQUE ESTADUAL DE CALDAS NOVAS, GOIÁS

Claudio Muniz & Sérgio Lopes

INTRODUÇÃOO efeito da herbivoria é um aspecto

importante na vida de uma planta e dependeda área foliar removida pelos herbívoros edo estágio de desenvolvimento em que aplanta se encontra (BEGON et al., 1996). Aherbivoria é uma interação animal-plantaque pode diminuir a performance dasplantas atacadas pela remoção de áreafotossintetizante. O conhecimento dessa interação pode teruma importante aplicação na determinaçãoda comunidade (RAVEN, 1999), uma vezque vários fatores como a heterogeinidadeespacial e a complexidade do habitat podemestar relacionados com a riqueza dasespécies de uma comunidade (BEGON etal,1996). Assim, a heterogeneidadeespacial, indicada por fatores edáficos epela luminosidade, pode afetar acomunidade de herbívoros.

Neste trabalho, avaliamos se aheterogeneidade ambiental de uma matainfluencia nas taxas de herbivoria foliar deSiparuna guianensis.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi realizado no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas,localizado entre os municípios de RioQuente e Caldas Novas, Goiás.

Siparuna guianensis (Monimiaceae)é uma espécie arbustiva que apresentaampla distribuição no sub-bosque de umamata do Parque. Para a realização do estudode herbivoria foliar dessa espécie,inicialmente foram delimitadas três regiõesno interior da mata (curso d’água, meio eborda), distantes 200 m entre si. Em cadaregião, foram recolhidas aproximadamente100 folhas de cinco indivíduos, de maneira

aleatória. No laboratório, as folhasherbivoradas referentes a cada região foramselecionadas e, em seguida, 30 delassorteadas para as análises. Foramconsideradas herbivoradas, as folhas queapresentavam partes removidas, sem incluirminadores, galhas, fungos etc.

Para a comparação de AF bruta eAH (Tabela 1) foi utilizado o testeestatístico Kruskal-Wallis. Na comparaçãodas medidas de área foliar obtida pelos doismétodos de medidas (Programa Autocad v.14 e Area Meter mod. CID 205), foiaplicado o Teste “t” de variânciasheterogêneas (Prophet v. 5).

Para a obtenção da área herbivoradaforam utilizados dois diferentes métodos:medidor de área foliar (area meter) eprograma autocad. Para comparar aprecisão desses métodos, 15 folhas foramsubmetidas à medição da área foliar usandoambas metodologias. Os parâmetrosmedidos nas folhas estão descritos naTabela 1.

RESULTADOS E DISCUSSÃONão foi detectada diferença

estatisticamente significante na comparaçãodas medidas de áreas foliares obtidas pormeio dos dois métodos.

Os percentuais de AH foramsemelhantes para os indivíduos localizadosno meio da mata e nas proximidades docurso d’água. Os indivíduos da bordaapresentaram os maiores percentuais de AH(Tabela 2), e os maiores valores médios deAF bruta e Herbivoria (Figs. 1 e 2), emcomparação com os demais. Tais resultadosindicam que os indivíduos da borda podemestar investindo mais em crescimento

Page 98: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

91

devido à maior disponibilidade de luz nestaregião, em comparação com os demais.

Em geral, espécies que crescem emambientes ensolarados apresentam maiorherbivoria do que espécies que crescem emambientes sombreados. Além disso, suasfolhas podem apresentar um maiorconteúdo de água e baixas concetrações demetabólitos secundários. Isso torna o tecidomais palatável para os herbívoros e a taxade troca foliar pode ser grande nesteambiente (DEL AMO, 1985; BARONE &COLEY, 2002).

Plantas expostas a um maior regimede luz possuem taxas mais rápidas decrescimento e devem investir menos emdefesas químicas. Além disso, as folhasdevem ser de melhor qualidade nutricionalpara herbívoros, e, em conseqüência,apresentam grandes níveis de herbivoria.Por outro lado, indivíduos expostos a umregime de pouca luz teriam taxasfotossintéticas mais reduzidas e poderiaminvestir mais em defesas físicas e químicas,com conseqüente redução nas taxas decrescimento e herbivoria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARONE, J. A. & COLEY, P. D. 2002.Herbivorismo y las defensas de lasplantas. In: Guanigata, M. R. & Kattan,G. H. Ecología y Consevación deBosques Neotropicales. Cartago, CostaRica. pp. 465-492.

BEGON, M., HARPER, J. L.,TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology:individuals, populations andcommunities. 2a. ed. BlackwellScientific Publication, Massashussets,USA.

DEL AMO, R. S. 1985. Algunos aspectosde la influencía de la luz sobre elcrescimento de estados juveniles deespecies primarias. pp. 79-91. In:GOMES-POMPA, A. & DEL AMO, R.S. Investigaciones sobre a laregeneración de selvas altas em VeraCruz, Mexico. Instituto Nacional deInvestigaciones sobre recursos bioticos:Xalapa, Vera Cruz, Mexico. 412p.

RAVEN, E. E. 1999. Biology of Plants. 6aed. Freeman Worth. Ecology. p. 783-785.

Page 99: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

92

Tabela 1 – Parâmetros para medição de área.

Área foliar bruta (AF bruta) Área foliar total desconsiderando a área herbivorada.

Área foliar líquida (AF líquida) Área foliar restante após herbivoria

Área herbivorada (AH) Área foliar retirada por herbivoria

Tabela 2 - Medidas foliares e herbivoria nas três regiões da mata.

Região

curso meio borda

AF bruta (cm2) 1600 1955 2479

AF líquida (cm2) 1449,5 1770,2 2202,8

AH (%) 9,4 9,5 11,2

Page 100: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

93

Figura 1- Área foliar bruta média nas três regiões em uma mata, Parque Estadual daSerra de Caldas, Goiás.

Figura 2- Herbivoria média encontrada nas três regiões da mata, Parque Estadual daSerra de Caldas, Goiás.

Área Foliar bruta

0

20

40

60

80

100

120

curso meio borda

cm2

cb

a

Herbivoria

0.0

4.0

8.0

12.0

curso meio borda

%

Page 101: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

94

I 1.3 EFEITO DA QUEIMADA NA ATIVIDADE, NO TEMPO DE

RECRUTAMENTO E NA DENSIDADE DE NINHOS DE FORMIGAS

EM UMA ÁREA DE CERRADO.

Flávio Rodrigues Oliveira & Marcela Yamamoto

Orientador: Heraldo Vasconcelos

INTRODUÇÃOA ocorrência de fogo, por causa natural ouantrópica, é comum durante a seca nocerrado, sendo apontado como importanteagente modificador e mantenedor decomunidades vegetais (Coutinho, 1990apud Santos, 1999). A ação do fogo sobre osolo depende da sua intensidade, danatureza da vegetação, do aumento datemperatura, da freqüência de queimadas eda duração do pulso de calor.

As espécies de formigas que ocorremno subsolo e as que forrageiam nasuperfície do solo utilizam como estratégiapredominante para escapar do fogo nasqueimadas, a localização das colônias(Naves, 1996). Formigas são insetos sociaisfilopátricos, que respondem rapidamente amudanças ocorrendo em escalas espaciaispequenas. São um grupo muitorepresentativo em termos de biomassa enúmero de espécies, tendo um papelfundamental na estrutura e na função deecossistemas diversos e complexos(Vasconcelos et al., 2001).

O presente estudo teve como objetivocomparar a atividade, diversidade, tempo derecrutamento e densidade de ninhos deformigas em uma área de cerrado sentidorestrito, recém queimada e outra nãoqueimada.

MATERIAL E MÉTODOSConduzimos o estudo em duas áreas,

uma queimada e outra não queimada, decerrado, localizadas no Parque EstadualSerra de Caldas Novas, PESCAN, GO. O

experimento foi realizado no períodomatutino (08:00 hs – 11:00 hs) do dia 20 desetembro de 2002. A área queimadaapresentava solo exposto com rebrotamentode gramíneas. Na área não queimada, alémde vegetação arbustiva de cerrado, haviapredomínio de gramíneas. Em ambas a asáreas observamos afloramentos rochosos.

Em cada ambiente estabelecemosquatro transectos de 60 metros, distantes 10metros da trilha, com seis iscas alternadasde sardinha, torrone e bolacha maisena emcada um. As iscas foram colocadas sobrepedaços de papel de área conhecida (73,5cm2), dispostas ao longo dos transectos comespaçamento de cinco metros um do outro.

Após a colocação de todas as iscas,iniciamos a observação da atividade dasformigas às 08:00hs, quantificando equalificando, as espécies presentes.Tomamos como ponto de partida, o tempomédio entre a descoberta e o agrupamentode formigas sobre as iscas, como medidaspara o tempo de recrutamento. A atividadefoi medida pela densidade de formigas emcada pedaço e a densidade dos ninhos foiestimada pela descoberta dos mesmos apósa formação da trilha e acompanhamento dasformigas até a entrada do ninho.

Para análise estatística dos dadosutilizamos os testes Kruskal-Wallis eMann-Whitney, do pacote deprocessamento PROPHET 5.0 (BBNSYSTEMS AND TECHNOLOGIES).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 102: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

95

Foram encontras cinco espécies deformigas em ambas as áreas, contudo,Paratrechina sp foi somente observada naárea não queimada (Tabela 2). O gêneroCamponotus foi o mais abundante e ocorreuprimeiramente nas iscas em ambas as área.Crematogaster sp foi a segunda maisencontrada na área não queimada ePseudomyrmex na área queimada.

A atividade das formigas, a densidadedos ninhos e o tempo de recrutamento nãodiferiu entre as áreas queimada e nãoqueimada (Tabela 1). Houve uma tendênciade maior diligência na área não queimada,provavelmente devido a redução derecursos na área queimada. A densidade dosninhos, embora sem diferença entre asáreas, mostra que formigas não abandonamseus ninhos após a passagem do fogo.

Em relação ao tempo médio derecrutamento, obteve-se um maior valor naárea queimada, o que pode ser explicadopela redução drástica de recursos, uma vezque formigas tenham que forragear umaárea maior para suprir as necessidades dacolônia. Também foi observadocomportamento agonístico nesta área, quereflete na competição do recurso escasso.

Observamos que das três iscasoferecidas, sardinha foi a que teve maiornúmero de indivíduos, talvez por que esterecurso alimentar tenha sido o únicoconstituído de proteína, ainda que nãohouvesse diferença entre as iscas. Tambémobservamos que Crematogaster sp teveuma maior atratividade em iscasconstituídas de bolacha, sendo as únicasespécies a constituírem trilhas verdadeiras.

Os resultados aqui apresentadosindicam que o fogo na região de cerradonão causa elevados danos na comunidadede formigas que nidificam no solo ou emtroncos suberosos e de maior diâmetro. Taisresultados complementam o que estudosanteriores, (observações pessoais do cursode campo) nas comunidades de formigas,não apresentam diferenças em áreasqueimadas e não queimadas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos Professores GleinM. de Araujo e John Hay pelas idéias eesclarecimento a cerca deste estudo e, emespecial ao Professor Dr. HeraldoVasconcelos pela orientação, identificaçãoe discussão do relatório final. A Cláudio F.Muniz pela ajuda essencial na análiseestatística.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, L. M. 1990. Fire in theecology of the Brazilian cerrado. In:Fire in the Tropical Biota. J. G.Goldammer (ed.). Springer-Verlang,Berlin. apud SANTOS, J. C. C. 1999.Influência do fogo na riqueza deinsetos em Paratudal, Pantanal doMiranda Abobral, Mato Grosso do Sul.Ecologia de Campo – Pantanal, p.127 – 129.

NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo napopulação de formigas (Hymenoptera –Formicidae) em cerrado do DistritoFederal. Anais do Simpósio Impactodas Queimadas sobre os Ecossistemasem Mudanças Globais. 3° Congressode Ecologia do Brasil, Brasilia. ApudRAMOS, L., HASS, A., PULCHÉRIO-LEITE, A. et al. 1999. Comparação damimercofauna entre áreas de paratudalqueimada e não-queimada, no Pantanaldo Miranda-Abobral. Ecologia deCampo – Pantanal, p. 08 – 10.

SILVA, L. O., COSTA, D. A., SANTO-FILHO, K. E. et al. 2002.Levantamento florístico efitossociológico em duas áreas decerrado sensu stricto no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas,Goiás. Acta Bot. Bras. v. 16, n. 1, p.43 – 53.

VASCONCELOS, H. L., CARVALHO, K.S., DELABIE, J. H. C. 2001.Landscape modifications and antcommunities. pp. 199 – 207. In:BIERREGAARD, R. O., GASCON,

Page 103: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

96

C., LOVEJOY, T. E. et al. (ed.).Lessons from Amazonia. The ecologyand conservation of a fragmentedforest. Yale university Press, NewHaven & London. 478 p. apud

VENTICINQUE, E., ZUANON, J.2002 Ecologia da FlorestaAmazônica – Curso de Campo. p.100 – 102.

Tabela 1 – Dados de tempo de recrutamento, distância dos ninhos e atividades das formigasem duas áreas de cerrado, queimado e não queimado do Parque Estadual Serra de CaldasNovas, GO.

TEMPO DE RECRUTAMENTO

PARÂMETROS Q NQ

N 11 12

MÉDIA 23,36 ± 24,61 9,36 ± 11,75

DISTÂNCIA DOS NINHOS

Q NQ

N 9 7

MÉDIA 2,51 ± 1,70 1,83 ± 1,83

ATIVIDADE DAS FORMIGAS

Q NQ

N 12 12

MÉDIA 14,75 ± 9,71 22,67 ± 24,82

Nota: As letras Q e NQ significam área queimada e área não queimada, respectivamente.

Tabela 2 – Quantidade espécies de formigas que surgiram na primeira observação.

ESPÉCIES QUEIMADA NÃO QUEIMADA

Camponotus sp 1 08 07

Camponotus sp 2 01 02

Pseudomyrmex sp 01 01

Crematogaster sp 01 01

Paratrechina sp 01

A notação () indica que espécie em questão não foi observada na área.

Page 104: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

97

I 1.4 PREDAÇÃO DE FRUTOS DE JATOBÁ DO CERRADO,

HYMENAEA STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE –

CAESALPINOIDEAE)

Hélder Nagai Consolaro & Ernestino de Souza G. Guarino

INTRODUÇÃOFrutos e sementes, por concentrarem

nutrientes como carboidratos, proteínas,lipídeos e minerais, são procurados pordiversos animais (Lacerda et al., 2000).

O jatobá do cerrado, Hymenaeastigonocarpa (Leguminosae –Caesalpinoideae), produz uma grandequantidade de frutos, servindo assim, comouma importante fonte de recursos para afauna local. Alguns mamíferos (Agoutispp., Dasyprocta punctata, Oryzomiscaliginosus, Tapirus terrestris) comem apolpa do fruto de jatobá (Carvalho, 1994;Janzen, 1983 apud Lopes, 1997) podendodispersar as sementes para longe da planta-mãe, onde elas são capazes de germinar(Kageyama et al. 1994 apud Lopes, 1997).Entretanto, existem alguns insetos,principalmente besouros e formigas, quesão capazes de aproveitar efetivamente osfrutos dessa espécie e predar as sementes,tornado-as inviáveis (Lopes, 1997).

Segundo Fenner (1983), a linhadivisória entre dispersores e predadoresnem sempre é clara, porque muitos animaisexercem ambos papéis. Existem dois tiposde predadores-dispersores: (a) aqueles quecomem os frutos com as sementes ealgumas sobrevivem a passagem pelo tratodisgestório; (b) e aqueles que armazenam assementes no solo, e uma proporção destasnão é reencontrada (Lacerda et al., 2000).

Neste trabalho, o objetivo foiverificar a predação de frutos de jatobá paraidentificar os possíveis predadores e paraaveriguar se existe diferença na taxa depredação a medida que aumenta a distânciada planta mãe.

MATERIAL E MÉTODOSOs frutos foram coletados no dia 19

de setembro de 2000, sob 3 indivíduosadultos de Hymenaea stigonocarpa (jatobádo cerrado, Leguminosae –Caesalpinoideae) localizados em uma áreade cerrado s. s próximo a sede do PESCAN.Todos os frutos de jatobá encontrados sobreo solo foram coletados. Para estabeleceruma escala de distância do fruto em relaçãoa planta-mãe, foi adicionado a redor doindivíduo anéis de dois em dois metrossomando um raio de dez metros. A medidaque eram coletados, os frutos erammarcados a que anel pertenciam e emlaboratório foram indicados os possíveispredadores através de característicaspresentes nos frutos. Para identificar ospossíveis predadores foram atribuídas asseguintes características (a) frutos predadossomente por insetos – frutos com pequenasperfurações na casca; (b) frutos predadosapenas por mamíferos – frutos comperfurações amplas com sinais aparentes dedentes e garras; (c) frutos predados porinsetos e mamíferos – frutos com sinais deambos os tipos e (d) frutos intactos – frutossem sinais de predação.

Para realizar análise de dados, osfrutos coletados sob os três indivíduosforam agrupados, sendo os dadosanalisados por meio do software Bioestat2.0 (Ayres et al. 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam coletados 215 frutos de

jatobá, ocorrendo predação em 56% destes.Dentre os predados, o tipo mais comum foio de insetos - com 67 (55%), seguido pormamíferos - com 26 (21 %) e insetos e

Page 105: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

98

mamíferos - com 28 (23%). Quandocomparados os frutos predados, os porinsetos foram significativamente maioresque os demais (χ2=26,496; p=0.00 – Fig.2).Possivelmente, a maior predação porinsetos em frutos de jatobá é atribuída aofato destes insetos utilizarem o própriofruto como local de nidificação, assimtendo uma maior concentração próximo aplanta-mãe.

A medida que aumentou a distânciada planta-mãe a taxa de predação variou.Quanto mais próxima da planta-mãe, maiora taxa de predação; nos dois anéis maispróximas (0-2m e 2-4m) a taxa representou62,74%. Na área mais distante da planta (8-10m) ocorreu uma inversão na taxa, ou seja,o número de frutos intactos foi maior que onúmero de frutos predados (Fig. 1). Estesdados vem de encontro a hipótese sugeridapor Janzen-Connell, a qual diz que aprobabilidade de sobrevivência de sementese plântulas é maior a medida que esteslocalizam-se mais distantes do adulto maispróximo (Begon et al. 1990).

Nos frutos predados foramencontrados duas espécies de formigas(Camponotus sp. com larvas, ovos e váriascastas – Formicidae, Formicinea e umaespécie indeterminada), uma espécieColeoptera (Curculionidae) e uma espéciede Arachinidae. Dados também encontradospor Lopes (1997) estudando predação emfrutos de jatobá da mata (H. courbaril).

A predação é um tipo de interaçãoque pode influenciar a organização de umacomunidade, podendo restringir adistribuição e a abundância de umapopulação, sendo uma importante força

seletiva. Isso pode estar acontecendo comesta espécie, já que durante a coleta dosfrutos não foram observadas plântulas, damesma espécie, próximas aos indivíduosadultos.

AGRADECIMENTOSA Marcela e Caio pela identificação

dos invertebrados presentes nos frutos, aosprofessores John Hay e Paulo Eugênio deOliveira pelas preciosas sugestões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEGON, M.;HARPER, J. L.,TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology –individuals, populations andcommunites. Blackwell Science 2° Ed.995p.

LACERDA, A. C. R.; SILVEIRA, A. B.;ILHA, I. M. N.; NETTO, R. R., 2000.Predação de sementes de Attaleaphalerata (Palmae) em coridilheiras noPantanal da Nhecolândia. Ecologia doPantanal – Curo de Campo 2000. 93-95p.

LOPES, F. P. P., 1997. Predação de frutosde jatobá, Hymenae courbarilvariedade stilbocarpa (Raynie) Lee &Lang. (Leguminosae –Caesalpinoidae), em fase pré-dispersão por uma espécies deCurculionidae (Coleoptera). Curso deCampo em Ecologia – Trabalhosindividuais, UnB. 14-17p.

Page 106: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

99

Figura 1. Número de frutos de jatobá do cerrado predados e intactos em relação a distância daárvore, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN).

Figura 2. Número de frutos predados e os seus respectivos predadores, em relação a distânciada árvore mãe, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de CaldasNovas (PESCAN).

0

5

10

15

20

25

30

0-2m 2-4m 4-6m 6-8m 8-10m

Distância do tronco

Núm

ero

de fr

utos

pre

dado

s

Pred. Insetos

Pred. Mamíferos

Pred. Mamíferos eInsetos

05

101520253035404550

0-2m 2-4m 4-6m 6-8m 8-10m

Distância da planta mãe

Núm

ero

de fr

utos

Intactas

Predação Total

Page 107: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

100

I 1.5 FAUNA DE INVERTEBRADOS ASSOCIADA A

SERRAPILHEIRA: COMPARAÇÃO ENTRE UMA MATA DE DOSSEL

E UMA CLAREIRA

Jania Cabrelli Salles & Marcelle S. C. Rodrigues.

Orientador: Prof. John Hay

INTRODUÇÃOAs florestas são regidas por muitos

processos, dos quais dependem para seufuncionamento. Um desses processos é areciclagem de nutrientes, que estádiretamente influenciada pela faunaassociada à serrapilheira (Takiya et al.2000). A serrapilheira consiste de folhascaídas, ramos, caules, cascas e frutos, queficam depositados sobre o solo, formandouma camada orgânica superficial, podendovariar de poucos milímetros a várioscentímetros.

A serrapilheira mantém a umidadepor maior período de tempo e geralmenteapresenta temperatura menor que a do ar.Isso propicia um microhábitat ideal paravárias espécies de animais, principalmenteinvertebrados, como abrigo ou área deforrageamento (Silveira et al. 2000). Asperturbações florestais, como por exemploa formação de clareiras, podem afetar taiscondições físicas, e assim, modificar acomposição da comunidade faunística destemicro-ambiente.

Este estudo teve como objetivocomparar a fauna de invertebradosassociados a serrapilheira entre doisambientes de mata do domínio do Cerrado.

METODOLOGIAEste estudo foi realizado no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), localizada entre os municípiosde Caldas Novas e Rio Quente, no estadode Goiás, com uma área de cerca de 125km2, caracterizada por apresentar váriasformas da vegetação de Cerrado. A área

utilizada na coleta de dados apresentasobreposição entre mata seca e mata degaleria.

Foram demarcadas 10 parcelas de0,5 x 0,5 m ao longo de dois transectos de5m, sorteadas de forma alternada edelimitadas por canos de PVC. Cinco delaslocalizadas mais próximo ao córrego, numaárea encoberta pelo dossel, e as outras cincoforam estabelecidas mais próximo à borda,sob uma clareira, com distância aproximadade 150m entre as áreas.

A serrapilheira foi removidamanualmente para uma bandeja, de onde osindivíduos foram coletados, sendo estesposteriormente colocados em álcool 70%.Os indivíduos coletados foramquantificados de acordo com o grupotaxonômico a qual pertencem. Tambémforam registrados dados de temperatura,umidade e espessura da serrapilheira, comutilização de termômetro digital,psicrômetro digital e régua. As análisesestatísticas foram realizadas utilizando-se oPrograma BioEstat 2.0 (teste Kolmogorov-Smirnov) e teste do Qui-quadrado.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam identificados 14 grupos

taxonômicos na serrapilheira da áreacoberta e 10 grupos na área de clareira, numtotal de 242 indivíduos. A Classe Insectafoi a mais representativa na amostragem,sendo que a Ordem Hymenopteraapresentou maior incidência na serrapilheirana área coberta e a Ordem Araneida, naserrapilheira de clareira (Tabela 1). Deacordo com Takiya et al. 2000, dentro deuma comunidade de serrapilheira, as

Page 108: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

101

formigas, que formam a maior biomassa,são bons indicadores do estado doecossistema, refletindo rapidamente osdistúrbios sofridos pelo hábitat. Assim, osresultados obtidos nesse estudo confirmamesta afirmativa.

Com relação à abundância deindivíduos nos taxa, foi observado quehouve diferença significativa entre osambientes de estudo (teste Kolmogorov-Smirnov: desvio máximo = 0,3460; valorcrítico = 0,1847; P<0,01). Pode-se inferirque a colonização de um organismo em umdeterminado substrato depende dasinterações com o meio abiótico, dentreoutros fatores ( Gonzaga et al. 1998), masnesse estudo, a diferença entre os fatoresfísicos dos dois locais não foi significativa(χ2 = 5,121, p = 0,0773), (Tabela 2).

Dessa forma, outros fatorespossivelmente influenciaram os resultadosobtidos, tais como a pequena amostra e opequeno esforço amostral.

BIBLIOGRAFIA

GONZAGA, M.O., COSTA, C.P.A.,GOMES-FILHO, A. & OLIVEIRA-FILHO, F.J.B. 1998. Seleção de hábitatspor aranhas e diplópodos numa várzeado Rio Solimões, AM, durante o períododa cheia. Curso de campo: Ecologia daFloresta Amazônica. INPA. p. 85 – 86.

SILVEIRA, A.B., ALMEIDA, M.T.,MEDRI, I.M. & CORRÊA, M.M. 2000.Invertebrados de serrapilheira numacordilheira, Pantanal de Nhecolândia.Curso de campo: Ecologia doPantanal.UFMS. p. 60 – 61.

TAKIYA, D.M., PÉREZ, M.E., CAMPÓN,F., GEORGEOGLOU-LAXALDE, M.U.& PEQUEÑO, T. 2000. Comparación delos parametros físicos y fauna deinvertebrados asociada de la hojarasca enuna área preservada y outra manejada.Curso de campo: Ecologia da FlorestaAmazônica. INPA. p. 30 – 32.

Page 109: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

102

Tabela 1. Grupos taxonômicos de fauna de serrapilheira encontrados nos dois ambientes.

IndivíduosTaxa

Coberta Clareira

Hymenoptera 65 20

Isoptera 27 2

Coleoptera 16 6

Mantodea (ninfa) 2 0

Diptera (ninfa) 1 9

Lepdoptera (lagarta) 3 2

Blattodea 15 8

Hemiptera 3 6

Homoptera 0 1

Psicoptera 4 0

Araneida 15 27

Acarina 6 1

Opilionida 1 0

Pseudoescorpilionida 1 0

Chilopoda 1 0

Total 159 83

Tabela 2. Médias das variáveis abióticas das áreas estudadas.

Área coberta Área de clareira

Temperatura (ºC) 24,3 30,2

Umidade (%) 61,8 36,2

Espessura da serrapilheira (cm) 3,0 3,5

Page 110: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

103

I 1.6 Evapotranspiração de Caryocar brasiliense e Xylopia aromatica em

dois ambientes distintos de cerrado s.s.

Patricia Rodin & Otacílio Santana

INTRODUÇÃOA evapotranspiração ( ε ) é definida

como a perda de água da vegetação para aatmosfera Ela determinada pela radiaçãoluminosa, velocidade do vento etemperatura (Begon et al. 1990).

Nos últimos anos, a idéia de que avegetação lenhosa do cerrado sofre com afalta de água durante a estação seca foiderrubada. Diversos estudos têm mostradoque muitas das espécies lenhosas possuemraízes profundas tendo acesso a umsuprimento permanente de água no solo, oque as permite manter elevadas taxas detranspiração durante todo o ano.

Os primeiros estudos detranspiração das árvores de cerradomostraram que a maioria das espéciesraramente controla a perda de água, mesmodurante o pico da estação seca (Coutinho &Ferri, 1960). No entanto, estudos maisrecentes mostraram que algumas espéciescontrolam a perda de água na estação seca.Além da variação sazonal, aevapotranspiração de uma espécie devesofrer variação temporal ao longo de umdia, uma vez que as varáveis abióticas que adeterminam variam ao longo deste intervalode tempo. Ela também deve apresentarvariação espacial, onde a última édependente do microclima local que aespécie se encontra.

O objetivo do nosso trabalho foi: i)determinar a ε de duas espécies típicas docerrado, a Caryocar brasiliense e a Xylopiaaromatica no fim da estação seca; ii)determinar e comparar a ε das duasespécies, ao longo do dia; iii) comparar a εde cada espécie em duas áreas submetidas acondições ambientais distintas, uma expostaa radiação solar direta e outra sombreada.

Hipóteses: i) As espéciesapresentarão variação na evapotranspiração,ao longo do dia, sendo esta maior nas horasde maior radiação solar; ii) As espéciesapresentarão curvas de evapotranspiraçãodistintas, pois elas apresentam diferentescaracterísticas foliares; iii) aevapotranspiração será maior nas áreas demaior radiação solar que nas áreassombreadas.

METODOLOGIAEste trabalho foi realizado no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas,Go, no dia 20 de setembro de 2002, natransição da estação seca para a chuvosa. Odia foi claro e ensolarado. O trabalho foirealizado no cerrado sensu stricto, em doisambientes distintos, um com incidênciadireta de luminosidade e o outrosombreado. Foram escolhidos doisindivíduos de Caryocar brasiliense e deXylopia aromatica em cada um dosambientes estudados. A mediação daevaporanspiração de cada indivíduo foirealizada em três ramos posicionados emdiferentes alturas e posição em relação àincidência da radiação solar.

A evapotranspiração das folhas foimedida utilizando sacos plásticos. Estametodologia consiste em ensacar os galhosdas árvores e após duas horas verificar aquantidade de água perdida através dadiferença do peso destes sacos, antes e apósduas horas de experimento. O peso foiobtido utilizando a balança de precisãoOHAUS, com duas casas decimais. Asmedidas foram tomadas no intervalo detempo de 6:00 às 18:00hs, a cada duashoras. Os galhos amostrados foram osmesmos ao longo de todo o experimento.

Page 111: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

104

Paralelamente, foi determinada aárea foliar média de cada indivíduo. Paratal, foram coletadas cinco folhas de cadaindivíduo e determinadas sua área atravésdo aparelho laser de área foliar (CID 205),e foi contado o número de folhas presenteem todos os ramos amostrados. A partirdestes dados podemos estimar aevapotranspiração / área de cada indivíduoem cada intervalo de tempo.

RESULTADOSA comparação de evapotranspiração

de Caryocar brasiliense entre a área abertae fechada mostrou que na primeira a ε émaior ao longo de todo o dia (Figura 01), omesmo foi encontrado para a Xylopiaaromatica (Figura 02). Para as duasespécies estudadas, a amplitude de variaçãoda evapotranspiração ao longo do dia foimaior na área aberta que na fechada.

Quanto à comparação entre aevapotranspiração das duas espécies nomesmo tipo de ambiente, a Xylopiaaromatica apresentou, na área fechada, umaε maior que a C. brasiliense entre 12:00 e14:00 (Figura 03), e no restante das horaselas foram semelhantes. Enquanto, na áreaaberta, X. aromatica apresentou uma εmaior do início do dia, 8:00 hs, até às 14:00hs (Figura 04).

DISCUSSÃOOs dados encontrados corroboram

as nossas hipóteses. As espéciesapresentaram variação na evapotranspiraçãoao longo do dia, sendo esta maior nas horasde maior radiação solar, entre 12:00 e14:00. No entanto, as duas espéciesapresentaram uma maior amplitude devariação da evapotranspiração na áreaaberta que na área fechada. Este resultadopode ser explicado pelo fato da área abertaestar exposta diretamente a radiação solar,portanto as folhas deste ambienterespondem diretamente ao aumento daradiação. Já na área fechada, as folhas estãosombreadas sentindo de forma mais sutil oaumento da radiação, o que é respondidocom um pequeno aumento da

evapotranspiração nas horas de pico deradiação, ente 12:00 e 14:00 hs. Além disto,a curva de evapotranspiração das duasespécies foi maior na área aberta que nafechada, o que é explicado pela maiorexposição das folhas à radiação luminosa eao vento na primeira.

Ao comparar a ε das duas espéciesem cada tipo de ambiente, a Xylopiaaromatica apresentou uma curva maior quea C. brasiliense. Este resultado pode serdevido à presença de sistemas radicularesde distintas profundidades, permitindo umacesso diferencial das espécies a água dosolo, neste caso, a X. aromatica deve ter umsistema radicular mais profundo que C.brasiliense. Além disto, este resultadotambém pode estar relacionado àscaracterísticas foliares, como a pilosidade,que é maior em C. brasiliense. A presençade pêlos atua como uma característicaeficiente na diminuição da perda de águapara o ambiente, por diminuir a incidênciada radiação solar na superfície das folhas ediminuir a velocidade de perda de vapord’água da folha para a atmosfera.

Apesar de não termos tido acesso avalores de evapotranspiração da estaçãochuvosa destas ou de outras espécies docerrado, podemos inferir que aevapotranspiração das espécies estudadas éelevada durante a transição da estação secapara a chuvosa, o que indica que a água nãoé um fator limitante importante para asespécies arbóreas estudadas do Cerrado.

BIBLIOGRAFIA

Begon, M., Harper, J. L., Townsend, C. R.1990. Ecology: individuals, populationsand communities. 2a. ed. BlackwellScientific Publication, Massachusetts,USA.

Coutinho, L. M. & Ferri, M.G. 1960.Transpiração e comportamentoestomático de plantas permanentes decerrado em Campo Mourão (Estado doParaná). Boletim da Faculdade de

Page 112: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

105

Filosofia e Letras, Universidade de SãoPaulo, Botânica 17: 109-130.

Figura 1. Evapotranspiração de C.brasiliense em área aberta e fechada de cerrado s.ss. noParque Estadual de Serra de Caldas Novas, Go.

Xylopia aromatica

00.0020.0040.0060.0080.01

0.0120.014

08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00

Horas

Evap

otra

nspi

raçã

o (g

/cm2 ) Aberto

Fechado

Figura 2: Evapotranspiração de X. aromatica em área aberta e fechada de cerrado s.s. noParque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go.

Caryocar brasiliense

00.0010.0020.0030.0040.0050.006

08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00

Horas

Evap

otra

nspi

raçã

o (g

/cm2

) Aberto Fechado

Page 113: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

106

Ambiente fechado

0

0.0005

0.001

0.0015

0.002

0.0025

0.003

0.0035

08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00

Horas

Evap

otra

snpi

raçã

o (g

/cm

2)

CaryocarbrasilienseXylopia aromatica

Figura 3: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente fechado de cerrados.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go

Ambiente aberto

00.0020.0040.0060.0080.01

0.0120.014

08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00

Horas

Evap

otra

snpi

raçã

o (g

/cm2 )

CaryocarbrasilienseXylopia aromatica

Figura 4: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente aberto de cerrados.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go

Page 114: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

107

I 1.7 COMPARAÇÃO DA INFESTAÇÃO DE LORANTHACEAE

ENTRE ESPÉCIES ZOOCÓRICAS E ANEMOCÓRICAS EM ÁREAS

DE CERRADO

Rafael Arruda, Claudia C. F. Toledo & Glein Araujo

INTRODUÇÃOAs espécies da família

Loranthaceae, conhecidas como ervas-de-passarinho, são em maioria hemiparasitasque ocorrem em ambientes tropicais(Venturelli 1981, Abulfatih & Emara 1988).Elas possuem frutos carnosos que atraempássaros, onde uma substância pegajosa oadere ao bico do animal, que ao tentarremovê-lo, permite a aderência da sementena planta.

Quando as sementes se aderem nosramos das plantas hospedeiras, elas emitemhaustórios que se inserem no seu xilema, deonde retiram água e sais minerais para seuprocesso de fotossíntese. Por isto sãoconsideradas hemiparasitas, pois retiramapenas uma parte do que a plantahospedeira absorve.

Pelo fato da família possuir comomodo principal de dispersão a ornitocoria,esperamos que hospedeiros com o mesmotipo de dispersão sejam mais infectados porespécies de Loranthaceae.

Para tentar corroborar esta hipótese,o objetivo deste trabalho foi quantificar apresença de Loranthaceae em plantas commodos de dispersão distintos.

MATERIAIS E MÉTODOSO local de estudo foi uma área de

cerrado (sentido restrito ) não queimado doParque Estadual da Serra de Caldas Novas(17°46’43’’S, 48°39’32,3’’W), que possuiaproximadamente 1000 m, situado próximoà cidade de Caldas Novas.

Foram feitos 12 transectos de 50 mde comprimento por 4 m de largura cada,distantes 20 m entre si, num total de 2400m2 de área amostrada. Como critério de

inclusão, foram registrados indivíduos comaltura igual ou superior à 2 m, sendo aaltura estimada com o auxilio de uma varagraduada. As plantas foram identificadas nocampo e posteriormente classificadasquanto ao tipo de dispersão de sementes.Anotou-se a presença ou ausência e onúmero de hemiparasitas em cada planta.Para analise estatística foi utilizado o testedo Qui-Quadrado (Biostat – Programa paracomputador).

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam registradas 23 espécies

distribuídas em 21 gêneros, sendoKielmeyera coriacea, Pouteria torta ePouteria ramiflora as espécies maisinfestadas (Tabela 1). A comparação dosnúmeros de plantas com e sem parasitascom tipo de dispersão zoocórica com as dedispersão anemocórica, não foi significativa(X2 = 1.256; p=0,2623; GL = 1). Isto indicaque as plantas que possuem o tipo dedispersão zoocórico não necessariamentesão mais infestadas por Loranthaceae, e issopode sugerir que elas estejam usando outrasespécies, não as que estão sendo utilizadaspara forrageamento, como poleiro.

Os parasitas podem causarprofundas alterações em seus hospedeiros(Ricklefs 1990), plantas hospedeiras podemresponder ao ataque de parasitas, isolandotecidos ou produzindo compostossecundários (Crawley 1986), e isto podeexplicar a falta de relação entre a presençade Loranthaceae e a ocorrência de espécieszoocóricas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 115: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

108

ABULFATIH, H.A. & EMARA, H.A.1988. Altitudinal distribution of thehemiparasitic Loranthaceae inSouthwestern Saudi Arabia, Biotropica20: 1.

CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology.Blackwell, Oxford.

RICKLEFS, R.E. 1990. Ecology. W.H. 3rd.Freeman and Company, New York.

VENTURELLI, M. 1981. Estudos sobreStruthanthus vulgaris Mart.: anatomia dofruto e semente e aspectos degerminação, crescimento edesenvolvimento. Rev. Brasil. Bot. 4:131-147.

Page 116: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

109

Tabela 1 – Número total de espécies registradas no PESCAN, seus modos de dispersão einfestação de Loranhaceae, Caldas Novas, GO.

Número de indivíduosEspécies Modo de dispersão

Com parasitas Sem parasitas Total

Annona crassiflora Zoocórica - 2 2

Aspidosperma tomentosum Anemocórica - 5 5

Byrsonima coccolobifolia Zoocórica - 1 1

Connarus suberosus Zoocórica - 1 1

Dalbergia miscolobium Anemocórica 2 - 2

Eremanthus glomerulatus Anemocórica - 18 18

Erythroxylum suberosum Zoocórica - 1 1

Hymenaea stignocarpa Zoocórica 3 2 5

Kielmeyera coriaceae Anemocórica 5 8 13

Kielmeyera speciosa Anemocórica 2 1 3

Licania humilis Zoocórica - 2 2

Machaerium opacum Anemocórica 1 - 1

Matayba guianensis Zoocórica - 1 1

Miconia rubiginosa Zoocórica - 1 1

Myrcia sp. Zoocórica - 1 1

Ouratea hexasperma Zoocórica - 5 5

Piptocarpha rotundifolium Anemocórica 1 2 3

Pouteria ramiflora Zoocórica 4 1 5

Pouteria torta Zoocórica 5 3 8

Psidium sp. Zoocórica - 1 1

Qualea grandiflora Anemocórica 1 1

Styrax ferrugineus Zoocórica 1 1 2

Tabebuia aurea Anemocórica - 1 1

24 59 83

Page 117: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

110

I 2.1 COMPARAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO ENTRE INSETOS

GALHADORES E MINADORES EM UMA ÁREA DE CERRADO S.S. E

UMA ÁREA DE MATA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE

CALDAS NOVAS – GO

Claudia Cássia Flores de Toledo & Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues

INTRODUÇÃOOs parasitas podem causar

alterações fisiológicas e comportamentaisprofundas em seus hospedeiros, e estes,podem responder aos parasitas ao longo deseu ciclo de vida, através de mecanismosimunológicos e comportamentais (Ricklefs,1990). De acordo com Crawley (1986),plantas hospedeiras podem responder aoataque de parasitas, através do isolamentodos tecidos infectados ou da produção decompostos secundários no local parasitado.

Galhas são estruturas onde as larvasde insetos se desenvolvem. Nestasestruturas, seja na folha ou no caule, ocorrehiperplasia ou hipertrofia, originando umtipo de câncer prejudicial ao crescimento eà reprodução da planta (Oliveira-Filho et al,1998). Insetos minadores são indivíduosque similarmente aos galhadores depositamsuas larvas nas folhas, e estas comem otecido paliçadico, formando “trilhas” ou“túneis” na lâmina foliar (Pinto et al.,1996).

Os padrões de distribuição de galhasde insetos indicam maior riqueza deespécies em formações vegetais deambientes xéricos, onde se encontrammenores taxas de mortalidade induzida porinimigos naturais (Oliveira-Filho etal,1998). Em vista disso, o objetivo destetrabalho foi comparar a presença de insetosgalhadores e minadores em uma área decerrado s.s. e outra de mata.

MATERIAL E MÉTODOSEste estudo foi realizado dia 23 de

setembro, no Parque Estadual da Serra de

Caldas Novas (PESCAN) – GO em duasáreas distintas. A primeira uma área decerrado s.s., ambiente xérico e a outra umaárea de mata, ambiente mésico.

Foram realizados 3 transectos de 50m em cada área, com distribuição aleatória.Em cada transecto foram observados todosos indivíduos com mais de 1 m de altura, eforam anotadas as presenças de galhas eminadores na superfície da folha.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO número total de indivíduos

coletados se encontra na figura 1.Pelo teste t, foi verificado que não

houve diferença significativa entre onúmero de galhas encontradas no cerrado ena mata (p=0,068), e pelo teste de Mann-Whitney também foi verificado que paraminas não houve diferença significativa(p=0,1) (Tab. 1).

Estes resultados indicam que insetosgalhadores e minadores estão presentestanto no ambiente xérico, quanto nomésico, não havendo uma preferência poreste ou aquele ambiente, mesmo o ambientexérico possuindo limitaçõeshidronutricionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology.Blackwell, Oxford

OLIVEIRA-FILHO, F.J. B.,CASTILHO,C. V., TUCKER, J., GONZAGA, M. O.& PACHECO, S. Distribuição de plantas

Page 118: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

111

infestadas por galhas ao longo dogradiente campina-campinarana.Ecologia da Floresta Amazônica, 1998.págs. 61-62.

PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B. &ANDRADE, S. M. A., 1998.Distribuição diferencial de insetos

galhadores e minadores entre hábitat.Ecologia no Cerrado – UNB, págs 2-3.

RICKLEFS, R. E. 1996. A Economia daNatureza. Guanabara Koogan. Rio deJaneiro.

Tabela 1. Resultados das análises estatísticas.

AMBIENTES GALHAS MINAS

CERRADO 5,33 ± 1,53 (a) 0,33 ± 0,53 (A)

MATA 15,33 ± 6,81 (a) 6,33 ± 5,13 (A)

P = 0,068 P = 0,1

(a) – Comparação por Teste-t, com resultado não significativo.

(A) – Comparação por Mann-Whitey, com resultado não significativo.

Figura 1. Número de indivíduos encontrados nos dois ambientes

������������������������������������������������������������

������������������������

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������0

5101520253035404550

Galhas M inas

Núm

ero

de In

diví

duos

����Cerrado����Mata

Page 119: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

112

I2.2 INFLUÊNCIA DO PORTE ARBÓREO SOBRE O

ESTABELECIMENTO DE CUPINZEIROS (CONSTRICTOTERMES

CYPHERGASTER – ISOPTERA, TERMITIDAE)

Claudio Muniz & Helder Consolaro

INTRODUÇÃOOs cupins são insetos da ordem

Isoptera, com 2.225 espécies representadasem 7 famílias e 73 gêneros, sendo que,aproximadamente 500 espécies ocorrem nasAméricas (FONTES, 1979; MILL, 1983).Esse grupo de insetos vivem em sociedadesou colônias altamente organizadas eintegradas, que se diferenciam em váriasmorfologias ou castas, cada umaapresentando sua própria divisão detrabalho e diferente função biológica(INOUE et al., 1997). Sendo, também,considerado um importante indicador daqualidade ambiental, tendo em vista a suafácil categorização em grupos funcionais eo seu curto tempo de resposta à pertubaçãoantrópica.

Constrictotermes cyphergaster éuma espécie que constrói ninhos arbóreos epode ser encontrada em grande númerocobrindo extensas áreas de cerrado noBrasil, sendo especialmente abundantes emárvores deste bioma (ARAÚJO, 1970).

Para o entendimento da dinâmicabiológica dos cupins e do ambiente, énecessário compreender as complexasrelações ecológicas que envolvem essesanimais com o meio (WATT et al., 1997).

Neste trabalho, foram estudadosninhos de Constrictotermes cyphergasterem ambiente de cerrado sensu strictu,procurando-se responder às seguintesquestões: (a) Os cupinzeiros localizam-secom maior freqüência em algumas espéciesvegetais do que outras ? (b) O porte daplanta interfere na circunferência docupinzeiro e na altura em que se localiza namesma ?

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi desenvolvido em uma

área de cerrado sensu strictu, no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas, Goiás,localizado entre os municípios de CaldasNovas e Rio Quente.

Foram analisados 30 cupinzeirosarborícolas, sendo medidas as alturas decada ninho ao solo (AS) e a circunferência(CC). Nas árvores em que tais ninhosestavam localizados, foram medidas a altura(AA) e a circunferência à altura do peito(CAP) das mesmas. Nos casos em que osninhos se localizavam na altura padrão daCAP (1,30 m), a medida da circunferênciada árvore era feita logo abaixo do ninho.Para as árvores que não foram identificadasno campo, foi coletado material botânicodas mesmas para posterior identificação.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs espécies arbóreas nas quais os

cupinzeiros ocorreram com maioresfrequências foram: Bowdichia virgiloides,Dalbergia miscolobium, Tabebuia aurea eAnnona crassiflora, verificando-se tambémque tais espécies foram as que apresentarammaiores volumes médios (Fig. 1). Istoindica que existe certa relação entre asespécies vegetais e seus volumes médioscom a ocorrência dos ninhos deConstrictotermes.

Dentre os indivíduos arbóreos houveuma espécie não identificada, devido a faltade características possíveis paraidentificação (ausência de folhas, flores,botões). Este indivíduo apresentou um altovolume médio e baixa frequência relativa,

Page 120: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

113

podendo assim, sugerir que tal indivíduopoderia pertencer a uma das espécies demaior frequência (Fig. 1).

Dentre as variáveis analisadas (AA,CAP, AS e CC) observou-se moderadacorrelação entre CAP e CC (R=0,46; Fig.2), e entre AA e CC (R=0,34; Fig 3). Taisresultados sugerem que o maior porte dasárvores favorece o maior tamanho dosninhos. Uma vez que as espécies vegetaismais freqüentes apresentaram maior volumemédio, esses resultados podem ser umacomprovação de que o aumento do portearbóreo interfere no maior porte do ninho.As espécies mais freqüentes tambémapresentavam o tronco rugoso, podendo seroutro indicativo de que tal característicapossibilita a melhor fixação dos ninhos.

Foi encontrada, também, uma CAPmínima de 25 cm das árvores com ninhos,evidenciando que o maior porte arbóreofavorece o aumento de tamanho dos ninhose o seu estabelecimento.

Entre AA e AS, CAP e AS não foidetectada correlação significativa (Figs. 4 e5), mostrando que a altura em que os ninhosse encontram nas árvores independe doporte arbóreo. Porém, foi encontrada umaaltura mínima de estabelecimento dosninhos nos troncos (Fig. 5), indicando,possivelmente, que os cupinzeiros sãoconstruídos de forma a dificultar o acessode predadores.

A maior incidência de cupinzeirosem algumas espécies parece estar maiscorrelacionada com o maior porte destas, e,também, com a maior rugosidade

característica de seus troncos. O suporteoferecido pelas árvores desse tipo pareceser o caráter mais importante que definirá osucesso de sobrevivência dos ninhos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICASARAÚJO, A. L. 1970. Termites of

neotropical region. In: Krishna, K. &Weesner, F. M. (Ed.). Biology ofTermites. New York: Academic Press,Inc. pp. 527-571.

FONTES, L. R. 1979. Os cupins. Ciência eCultura. 31(9): 986-992.

INOUE, T.; TABOSA, W. A. F.;BANDEIRA, A. G. & AMELUNG, W.1999. Richness of termite genera insemi-arid region (Sertão) in NE Brazil(Isoptera). Sociobiology. 33(3): 357-365.

MILL, A. E. 1983. Generic keys to thesoldiers caste of New World Termitidae(Isoptera: Insecta). SistematicEntomology. 8: 179-190.

WATT, A., STORK, N. E., EGGLETON,P., SRIVASTANA, D., BOLTON, B.,LARSEN, T. B., BRENDEL, M. J. D.1997. Impact of forest loss andregeneration on insect abundance anddiversity. pp. 273-286 in WATT, A. D.,STORK, N. E. O. & HUNTER, M. D. O.eds. Forests and insects. Chapman &Hall, London, U. K.

Page 121: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

114

Figura 1. Freqüência relativa (FR) e volume médio (VM) das espécies arbóreas nasquais se encontravam os cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás.

0.00

2.00

4.00

6.00

8.00

10.00

12.00

14.00

16.00

18.00

B owdic

hia virgiloide

s

D albe

rgia m iscolo

bium

Tabebuia aurea

A nnona crassiflora

A egip

hyla sp

A spid

osperma tom

entos

a

Poute

ria torta

Eryth

roxylum

sp

K yelm

eiera co

riacea

Licania hum ilis

O uratea

hexasperm a

Poute

ria ram iflora

sp indeterm inada

S trichnopseudoquin

a

S tryphnodendron a

dstrin

gens

FR (% )

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

V M (m )

vo lu m e (m )

fre q ü ê n cia re lativa (% )

3

3

Page 122: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

115

Figura 2. Relação entre a circunferência das plantas e dos cupinzeiros analisados no ParqueEstadual de Caldas Novas, Goiás.

Figura 3. Relação entre altura das plantas e circunferência dos cupinzeiros, no ParqueEstadual de Caldas Novas, Goiás.

R = 0.46

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

circunferência da planta (cm)

circ

unfe

rênc

ia d

o cu

pinz

eiro

(cm

)

R = 0.34

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

altura da planta (cm)

circ

unfe

rênc

ia d

o cup

inze

iro (c

m)

Page 123: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

116

Figura 4. Relação entre circunferência das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual deCaldas Novas, Goiás.

Figura 5. Relação entre altura das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual de CaldasNovas, Goiás.

R = 0.017

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

circunferência da planta (cm)

altu

ra d

o cup

inze

iro (

cm)

R = 0.088

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

altura da planta (cm )

altu

ra d

o cup

inze

iro (

cm)

Page 124: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

117

I 2.3 AZTECA E CECROPIA PACHYSTACHYA: UMA RELAÇÃO

POLÊMICA?

Ernestino de Souza G. Guarino & Caio Rebula

INTRODUÇÃOA presença de uma colônia de

formigas em uma planta e o patrulhamentodas folhas e ramos em busca de presas podediminuir o efeito da herbívora,caracterizando uma associação mutualísticaentre planta e formiga (Hölldobler &Wilson, 1990).

O gênero Cecropia (Cecropiaceae) écomposto por 70 a 80 espécies, todos elescom distribuição neotropical. Geralmenteos indivíduos arbóreos desse gêneropossuem crescimento rápido, sendotipicamente encontrados em ambientesperturbados. A interação entre as espéciesdesse gênero e formigas do gênero Azteca(Hymenoptera, Formicidae) é bastanterelatado na literatura (Joly, 1976). Essasformigas utilizam os corpúsculosmüllerianos, localizados na base dospecíolos, como fonte de lipídeos eglicogênio (Rickson, 1971 apud Silva et al.2000). Existem fortes evidências de queessas formigas sejam defensoras efetivasdessas plantas (Santos 2000)

A espécie estudada, Cecreopiapachystachya é conhecida popularmentecomo embaúba, sendo comumenteencontrada no Cerrado em áreasperturbadas.

Os objetivos do presente estudoforam (i) testar a proteção oferecida porformigas do gênero Azteca a herbívora defolhas de Cecropia pachystachya e (ii)verificar a relação entre o estagio dedesenvolvimento dos indivíduos deembaúba e o tamanho das colônias deAzteca.

METODOLOGIA

Desenvolvemos o presente estudoem uma área de cerrado sensu strictolocalizado no Parque Estadual Serra deCaldas. Coletamos folhas e ramos de 11indivíduos arbóreos de Cecropiapachystachya, nos quais avaliamos aherbívora em 10 folhas de cada indivíduo.As folhas foram classificadas em atacadas(dano foliar ≥ 10% da área) e não atacadas(dano foliar < 10% da área). Southwood(1978) propôs um método eficiente para adefinição do número de indivíduospresentes em uma colônia de formigas. Esseseria uma função do fluxo de operarias quepassa em uma trilha pré definida porunidade de tempo. Em cada indivíduo deembaúba observamos durante 10 minutos ofluxo de operarias, em um ponto marcadona entrada do ninho. Todos os indivíduosde embaúba tiveram sua circunferência aaltura do peito (CAP) medidas. Os dadosforam analisados com o auxilio do softwareBioestat 2.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO fluxo de operárias variou entre

12,5 e 60 indivíduos/minuto (média = 32,2± 13,9), já o CAP variou entre 7,5 e 29cm(média = 17,8 ± 6,25). Observamos queexiste uma relação negativa entre otamanho da planta e o tamanho da colônia.A medida que os indivíduos de embaúbaalcançam tamanhos maiores, estes tendem aabrigar colônias menores (Figura 1).Bonatto (2000) e Santos (2000) sugeremque indivíduos de C. purpurascens e C.pachystachya tem maior probabilidade deserem colonizadas por formigas quando emplantas maiores, resultados diferentes aosencontrados por nós, já que indivíduos

Page 125: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

118

menores apresentaram colônias mais ativas.

Não encontramos na área estudadauma relação direta entre a herbívora emfolhas de embaúba e o fluxo de operárias(rs=0,3392; p≥ 0,28 - Figura 2),contrariando o resultado apresentado porRocha & Bergallo (1992).

As colônias de Azteca parecem sermaiores em estágios inicias dedesenvolvimento de C. pachystachya. Nãoencontramos redução da herbívoradependente da atividade de Azteca.

REFERÊNCIAS BILLIOGRÁFICAS

BONATTO, V. (2000). Colonização deCecropia purpurascens (Cecropiaceae)por formigas na reserva Km 41, Manaus,AM. Curso de CampoINPA/SMITHSONIAN/OTS. 146 –149p.

HÖLLDOBLER, B; WILSON, E.O.(1990).The ants. Harvard University Press,USA.

JOLY, A. B. (1976). Botânica Introdução ataxonomia vegetal. 3° ed. CompanhiaEditora Nacional, SP.

ROCHA, C.F.D; BERGALLO, H.G.(1992). Bigger ant colonies reduceherbivory residence time on leaves ofant-plant: Azteca muelleri vs. Coelomeraruficornis on Cecropia pachystachya.Oecologia 91:249-252p.

SANTOS, F.A.M. (2000). Growth and leafdemography of two Cecropia species.Revista Brasileira de Botânica (23): 133-141p.

SILVA, M.B.; NETTO, R.R.; FERNADEZ,F.M.; ROMERO, G.Q. (2000).Colonização de Cecropia pachystachyapor formigas Azteca no Pantanal daNhecolândia. Curso de Campo Ecologiado Pantanal, UFMS. 90-92p.

SOUTHWOOD, T.R.E. (1978). EcologicalMethods – with special interest on insectpopulations. 2°ed. Royal AcademicPress, London.

Figura 1. Relação entre o desenvolvimento dos indivíduos arbóreos de embaúba e a atividadede formigas, no cerrado da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN).

r 2 = 0.5754

5

15

25

35

45

55

65

5 10 15 20 25 30

CAP (cm)

Flux

o de

ope

rária

s (in

d./m

in.)

Page 126: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

119

Figura 2. Fluxo de operárias e folhas atacadas.

0

12

34

5

67

8

10 20 30 40 50 60

Fluxo de operárias (ind./min.)

Núm

ero

de fo

lhas

ata

cada

s

Page 127: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

120

I 2.4 EFEITO DO FOGO NA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS

PARA INSETOS HERBÍVOROS

Flávio Rodrigues Oliveira & Sérgio de Faria Lopes

INTRODUÇÃOO Cerrado sentido restrito

caracteriza-se por apresentar árvores baixas,inclinadas, tortuosas, com ramificaçõesirregulares e retorcidas, e geralmente comevidências de passagem de fogo. Osarbustos e subarbustos encontram-seespalhados, com algumas espéciesapresentando órgãos subterrâneos perenes,os quais permitem rebrota após queimadaou corte. O Cerrado está localizadoprincipalmente no Planalto Central doBrasil, sendo o segundo maior bioma dopaís em área, superado apenas pela FlorestaAmazônica (Goodland & Ferri, 1979).Ocupa mais de 2.000.000 km2, o quecorresponde a 23% do território brasileiroaproximadamente, ocorrendo em altitudesque variam de 300 até 1.600 metros.

Os herbívoros de um modo geral sãoanimais pastadores, comedores de brotos,insetos fitófagos, sugadores comopercevejos, animais granívoros, frugívoros,e há aqueles que se alimentam de raízes,flores (Crawley, 1983). Algumas vezes aherbivoria pode levar à morte da plantahospedeira e sua virtual extinção (Bennet &Hughes, 1959). Alimentar-se de plantas nãoé uma estratégia comum, isso sugere que háproblemas no uso de espécies vegetaiscomo alimento (Edwards & Wratten, 1981).Os grupos de invertebrados que tiveramsucesso na exploração desta fonte alimentarsão os mais diversificados, como osorthópteros por exemplo, sugerindo que sãonecessárias especializações para usar tecidovegetal como alimento (Edwards &Wratten, 1981).

O fogo ocorre comumente noCerrado, seja por causa natural ouantrópica, afeta sua fauna e flora de

diversas maneiras (Pinto et al., 1996).Atualmente, especula-se que a ocorrênciade fogo no Cerrado seja um dos fatoresdeterminantes da vegetação, sendoapontado como importante agentemodificador e mantenedor de comunidadesvegetais (Coutinho, 1990 apud Santos,1999). Consequentemente a redução deextratos vegetais implica em redução dadisponibilidade de alimento para muitosinsetos herbívoros (Goodland & Ferri,1979). A ação do fogo sobre o solo dependeda sua intensidade, da natureza davegetação, do aumento da temperatura, dafreqüência de queimadas e da duração dopulso de calor (Goodland & Ferri, 1979).

METODOLOGIAO experimento foi conduzido em duas

áreas, queimada e outra não queimada, decerrado, localizadas no Parque EstadualSerra de Caldas Novas, PESCAN, GO. Oexperimento foi realizado no dia 24 desetembro de 2002, no período de 07:00 hs –11:00 hs. A área queimada apresentava soloexposto com rebrotamento de gramíneas.Na área não queimada, além de vegetaçãoarbustiva de cerrado, havia predomínio degramíneas. Em ambas a as áreasobservamos o afloramento rochoso.

Em cada ambiente inserimos cincotransectos de 25 metros, distantes cincometros da trilha, sendo pareados em três edois, em distâncias de cinco metros (Figura1). Para cada transecto foram postos cincofolhas de papel colorido (141 cm2)seqüências em: branco, azul, verde, rosa eamarelo, dispostos a cinco metros um dooutro.

Em virtude de condições climáticasdesfavoráveis (chuva constante) no dia do

Page 128: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

121

experimento (24 de setembro de 2002),utilizamos dados já obtidos em umexperimento anterior (20 de setembro de2002), oriundo de observações empíricasque deram origem ao experimento original.No dia 20 de setembro de 2002, utilizamosas folhas de papel postos em duas áreas deCerrado, uma queimada e outra nãoqueimada, as quais continham iscas paraestudo com formigas, e notamos marcas deherbivoria decorrentes de morfoespécies deorthópteras

Em cada ambiente foram inseridosquatro transectos de 60 metros, distantes 10metros da trilha, com seis folhas brancascada. Estas com área conhecida (73,5 cm2),foram dispostas ao longo dos transectoscom espaçamento de cinco metros um dooutro. Após 24 horas as folhas foramrecolhidas e levadas ao laboratório para ocálculo da área herbivorada. Para estecálculo foi utilizado um medidor de áreafoliar (area meter – CID 205), e o programaExcel.

RESULTADOS E DISCUSSÃOEmbora a média de herbivoria da área

queimada ter sido superior a área nãoqueimada (Tabela 1), não houve diferençasignificativa entre ambas (P > 0.05, Z =0.1191). Isso talvez se deva ao alto valor dodesvio padrão da área queimada.

Em observações empíricas no dia 20de setembro de 2002, constatamos uma altaatividade forrageira pelos orthopteras naárea queimada. A disponibilidade derecursos alimentares em áreas que sofrerampassagem de fogo é muito restrita ou quasenula. A oferta de alimento posta em ambasas áreas foram às mesmas, porém noambiente queimado era, além dos brotosvegetativos, o único recurso e de fácilvisualização quando comparado com oambiente normal.

A repetição do experimento no dia 24de setembro de 2002, o qual não obtivemosresultados satisfatórios decorrentes dascondições climáticas descritasanteriormente, nos evidencia que a

atividade de forrageamento dos herbívorosde ambas as áreas cessou devido a essascondições.

AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Prof. Dr. John Hay

pelas dicas no experimento final bem comono sorteio das cores. A Marcela Yamamotopelas observações pessoais e a CláudioFranco Muniz pela essencial ajuda nasanálises estatísticas neste experimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENNET, F. D., HUGHES, I. W. 1959.Biological control of insects pests inBermuda. Bull. of Entomol. Res., v. 50,p. 423 436.

COUTINHO, L. M. 1990. Fire in theecology of the Brazilian cerrado. In: Firein the Tropical Biota. J. G. Goldammer(ed.). Springer-Verlang, Berlin. apudSANTOS, J. C. C. 1999. Influência dofogo na riqueza de insetos em Paratudal,Pantanal do Miranda Abobral, MatoGrosso do Sul. Ecologia de Campo –Pantanal, p. 127 – 129.

CRAWLEY, M. J. 1983. Herbivory: thedinamics of animal-plantinteractions. Blackwell ScientificPublications, Oxford.

EDWARDS, P. J., WRATTEN, S. D. 1981.Ecologia das interações entre plantas einsetos. São Paulo: EPV. (ColeçãoTemas de Biologia, v. 27).

GOODLAND, R., FERRI, M. G. 1979.Ecologia do Cerrado. São Paulo: Ed. daUniversidade de São Paulo, 196 p.(Reconquista do Brasil, v. 52).

PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B.,ANDRADE, S. M. A. 1996. Efeito dofogo na arquitetura de espécies lenhosasdo cerrado. Curso “Métodos de Campoem Ecologia” – Brasília. p. 20 – 21.

Page 129: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

Figura 1. Croqu

Tabela 1. Valores médios de herbivoriEstadual Serra de Caldas, GO.

PARÂMETROS

MÉDIA

Para ambas áreas, Coeficiente d

BASE

ÁREAQUEIMADA

ÁREA NÃOQUEIMADA

e

5m

5m

122

i do desenho

a de folhas s

ÁREA QUE

30.60 ±

e Variação e

PAREDÃO

5m

experimental

ulfite em duas

IMADA

16.97

Teste-t P>0.0

5m

Branco

Azul

Verd

Rosa

Amarelo

usado.

áreas de Cerrado do Parque

ÁREA NÃO

QUEIMADA

23.03 ± 12.18

5.

Page 130: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

123

I 2.5 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DA FAMÍLIA

GRAMINEAE EM ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTO E ÁREA DE

MATA

Marcela Yamamoto e Otacílio Santana

INTRODUÇÃOA Família Gramineae é uma das

maiores famílias dentro das Angiospermas,e provavelmente a de maior importânciaeconômica para o homem, como porexemplo: na indústria têxtil, cervejaria,alimentação e pastagem. Há cerca de 700gêneros na família com aproximadamente8000 espécies reconhecidas (Joly, 1976).

Os representantes desta famíliaencontram-se espalhados por todo mundo.Existem associações característicasformadas essencialmente por gramíneasocupando vastas extensões de terra emtodos os grandes continentes, recebendodesignações especiais, tais como: pampas ecampos na América do Sul, “prairie” naAmérica do Norte, savannas e veldt naÁfrica, estepes na Europa e Ásia (Joly,1976).

No cerrado, uma camada de grandeimportância é o estrato herbáceo por suagrande extensão, contribuindo bastante coma produtividade primária nesta fisionomia.

Por possuírem árvores relativamentepequenas, e espaçadas, a cobertura dedossel é muito baixa ou zero na maioria dasáreas desta fisionomia. O principal fatorlimitante das gramíneas é a luz, em clareirasou lugares de fácil acesso a luz, elas sãodominantes.

O objetivo principal do estudo foi fazerum levantamento dos gêneros da FamíliaGramineae que ocorrem em áreas deCerrado sensu stricto e em Mata.

METODOLOGIA:O estudo foi realizado no período da

manhã, em uma área de Cerrado sensu

stricto e outra de mata (Cascatinha) noParque Estadual da Serra de Caldas Novas,GO.

Para fazer o levantamento dasgramíneas utilizamos um quadrado de PVCde 1m2 e registrávamos a quantidade dasespécies presentes. Foram amostrados 20quadrantes em cada área.

Registramos também a cobertura dedossel com um densiômetro, a 1,5 metrosdo solo. Na mata coletamos os dadosapenas em área com clareiras.

RESULTADO E DISCUSSÃOOcorreram 5 gêneros de gramíneas

na área de cerrado e apenas dois na área demata. Melinis foi o único gênero queocorreu em ambas às áreas (Figura 1 e 2,Tabela 1 e 2).

No cerrado o gênero dominante foi aEchinolaena com número médio de 17indivíduos por metro quadrado, seguido deMelinis com 12. A espécie dominante,Echinolaena inflexa, é C3 (Klink &Joly,1989) classificada como indiferente aofogo e como uma estrategista k por Rosa(1990) por apresentar altos valores debiomassa aérea e baixa taxa de crescimentorelativo.

Na área de mata, nos locais comcobertura de dossel fechada as gramíneasnão apareceram. A cobertura de dossel e apresença de gramíneas é inversamentesignificativa (t= 4,0678, p= 0,0005). Nasclareiras elas foram observadas, mas comum número de indivíduos bastante reduzido(Tabela 2). Segundo Tremmel & Bazzaz(1995) plantas frequentemente respondem avariabilidade local na disponibilidade de

Page 131: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

124

recursos com mudança na arquitetura paramaximizar sua habilidade de garantirrecursos.

Foi notado que com a diminuição dacobertura e aumento da luminosidade onúmero de indivíduos da família Gramineaeaumentaram (Figura 3), mostrando ainfluência da luz para o estabelecimento dasmesmas.

BIBLIOGRAFIA:

JOLY, A. B. 1976. Botânica – Introduçãoa taxonomia Vegetal. 3ed. CompanhiaEditora Nacional, São Paulo. 777p.

KLINK, C. A. & JOLY, A.1989.Identification and distribution of C3 andC4 grasses in open and shaded habitatsin São Paulo state, Brazil. Biotropica 21:30-34.

ROSA, C. M. M.1990. Recuperação pós-fogo do estrato rasteiro de um camposujo de cerrado. Tese de mestrado.Universidade de Brasília. 162p.

TREMMEL, D. C. & BAZZAZ, F. A.1995. Plant architecture and allocation indifferent neighborhoods: implications forcompetitive success. Ecology 76: 262-271.

Tabela 1: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em áreade cerrado no Pescan

Cerrado

Amostra Espécie Quantidade Cobertura (%)

1 Echinolaena 51 4

2 Echinolaena 55 4

Imperata 1 4

3 Paspalum 3 4

Imperata 2 4

Echinolaena 4

4 Imperata 4 4

Melinis 4 4

Paspalum 2 4

Echinolaena 1 4

5 Panicum 3 4

Paspalum 6 4

Imperata 1 4

6 Paspalum 9 4

Panicum 2 4

Echinolaena 7 4

Page 132: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

125

7 Paspalum 7 4

Panicum 1 4

Echinolaena 2 4

8 Echinolaena 4 4

Paspalum 3 4

Imperata 1 4

9 Paspalum 7 4

Echinolaena 8 4

Imperata 2 4

10 Echinolaena 32 4

11 Echinolaena 9 4

Paspalum 1 4

12 Melinis 4 4

13 Melinis 6 4

Echinolaena 9 4

14 Imperata 1 4

Melinis 3 4

Paspalum 2 4

15 Melinis 32 4

Echinolaena 7 4

16 Melinis 10 4

Paspalum 2 4

Imperata 1 4

17 Melinis 16 4

Echinolaena 3 4

18 Melinis 12 4

Paspalum 3 4

19 Melinis 12 4

20 Melinis 20 4

Page 133: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

126

Tabela 2: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em área

de mata no Pescan

Mata

Amostra Espécie Quantidade Cobertura (%)

1 Melinis 1 30

2 Melinis 3 30

3 Melinis 1 30

4 0 0 38

5 0 0 38

6 Indet 1 2 38

7 0 0 12

8 Melinis 1 12

9 0 0 58

10 0 0 58

11 Indet 1 2 58

12 0 0 15

13 Indet 1 11 15

Melinis 2 15

14 0 0 12

15 0 0 12

16 0 0 12

17 Indet 1 2 12

18 Melinis 8 12

19 Melinis 1 27

Indet 1 1 27

20 Melinis 7 27

Page 134: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

127

Figura 1: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae no Cerrado sensu stricto doPESCAN.

Figura 2: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae em área de mata no Pescan.

0

50

100

150

200

250

Echinolena Melinis Paspalum Imperata Panicum

Núm

ero

de in

diví

duos

0

50

100

150

200

250

Melinis Indet Quadrantes semindivíduos

Núm

ero

de In

diví

duos

Page 135: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

128

Figura 3: Número médio de indivíduos de gramíneas em relação a cobertura de dossel namata.

R2 = 0.3412

00.5

11.5

22.5

33.5

44.5

5

0 20 40 60 80

Cobertura (%)

Méd

ia d

e in

diví

duos

por

1m

2

Page 136: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

129

I. 2.6 RELAÇÃO MUTUALÍSTICA ENTRE UMA ESPÉCIE DE

BROMÉLIA E BEIJA-FLORES

Patricia Rodin & Carlos H. G.Angeluci

INTRODUÇÃO A polinização cruzada envolve a

transferência de pólen da antera de uma florpara o estigma de outra flor. Quando oagente polinizador é um animal, apolinização passa a ser uma interaçãomutualística entre ele e a planta. A evoluçãode flores especializadas na atração dedeterminado agente (s) polinizador (es)ocorre amplamente na natureza, pois afecundação cruzada dentro de uma mesmaespécie é fortemente favorecida pelaseleção natural (Begon et al. 1990).

As plantas, em sua maioria,oferecem néctar ou pólen como recompensa(Begon et al. 1990) aos polinizadores. Aprodução de néctar representa um elevadocusto energético para as plantas, que, noentanto, pode ser compensado pelarealização da polinização cruzada. Os beija-flores, importantes polinizadores emambientes tropicais (Araujo, 2001),possuem uma dieta constituída basicamentepor néctar, que é composto principalmentepor sacarose (Baker & Baker, 1980 apudAraujo, 2001). Estas aves apresentamdiversos padrões de forrageamento, comoterritorialista e trap-line. Estes padrões, porsua vez, têm influência direta napolinização cruzada das planta, porexemplo, quando eles são territorialistas apolinização cruzada fica restrita a flores deum mesmo indivíduo, diminuindo avariabilidade genética da população destaplanta.

No cerrado, existe uma grandequantidade de espécies que produzemnéctar como recompensa floral para ospolinizadores (Silberbauer-Gottsberger &Gottsberger, 1988), entre elas a espécie debromélia, que é polinizada por beija-flores.

O objetivo do estudo foi: i)quantificar a recompensa calórica porunidade de área de uma espécie de broméliapara os beija-flores, e determinar se ela ésuficiente para suprir as necessidadesenergéticas diárias destes animais; ii)estudar o comportamento destespolinizadores em relação ao recursooferecido pela bromélia.

METODOLOGIAO estudo foi realizado no fim de

setembro de 2002, na transição da estaçãoseca para a chuvosa, no Parque Nacional deSerra de Caldas Novas, Goiás, numa áreade cerrado s.s. queimada duas semanasanteriores a coleta de dados. O estudo foirealizado num dia nublado e chuvoso.

Foi amostrada uma área de 250 m decomprimento por 80 m de largura, ondetodos os indivíduos de bromélia compresença de flores abertas foramdemarcados no GPS. Nestes indivíduos, foicontado o número de flores abertas, medidoo volume de néctar produzido por flor e aconcentração de sacarose do néctar comauxílio de um refratômetro. As médias devolume e concentração do néctar foramutilizadas para estimar a recompensa decalorias por flor. O cálculo de calorias foirealizado utilizando a tabela de conversãode Kearns e Inouye (1993 apud Oliveira,1998), onde: % de açúcar (g açúcar/ gsolução) = g açúcar/ l néctar, e paratransformar mg de açúcar em calorias foiusada a relação apresentada por Dafni(1992 apud Oliveira, 1998) : 1 mg deaçúcar = 4 calorias. Estes valores forammultiplicados pelo número de flores abertasem cada indivíduo, e a partir deste valor foi

Page 137: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

130

determinada a oferta de calorias diária porhectare.

Foram observados os atributosmorfológicos da flor da espécie estudadaligados à polinização por Beija-flores e foiestudado o comportamento dos visitantesflorais a partir da observação visualrealizada por uma hora, entre 10:00 e 11:00da manhã.

RESULTADOSForam encontrados 9 indivíduos de

bromélia. em floração. Estes indivíduosapresentaram de 2-22 flores abertas. Ovolume de néctar produzido por flor foicerca de 10 µl com concentração desacarose variando entre 15-22% e média de17 % por flor.

As flores da bromélia estudadaapresentam características morfológicasligadas à polinização por beija-flores, comoinflorescência com flores agrupadas noápice, corola tubulosa e de pequenaabertura, nectário, localizado próximo aoovário, distando cerca de 3 cm decomprimento do ápice da corola, ausênciade perfume e pétalas de coloração rosa.

Foi observada apenas uma espéciede beija-flor, Eupetonema macroura,consumindo néctar, e provavelmente,polinizando a bromélia. Ele apresentou umcomportamento de forrageamento do tipotrap-line (linha de coleta), utilizandoalgumas flores de um indivíduo, oabandonando posteriormente.

DISCUSSÃOAlgumas espécies apresentam flores

capazes de selecionar os animais visitantes(Stiles, 1981 apud Oliveira,1998). Abromélia estudada parece selecionar a visitade beija-flores, pois elas apresentam umacoloração que facilita a sua localização porestes polinizadores. Além disto, elaapresenta um nectário profundo dentro deum flor tubulosa, o que dificulta apolinização por outros agentes, comoinsetos.

A espécie estudada oferece umapequena quantidade de néctar por flor,

sendo esta, uma estratégia que otimiza onúmero de flores visitadas por polinizador(Feisinger 1983 apud Oliveira, 1998). Alémdisto, os indivíduos desta espécieapresentam um padrão de abertura de floresassincrônica e contínua (observação decampo), havendo, assim oferta de recursopara os beija-flores por um longo períodode tempo. Este padrão fenológico tambématua como uma estratégia de otimizar àpolinização, pois a oferta de recurso porlongos períodos aumenta a chance doagente polinizador se tornar maisespecializado na planta, o que, por sua vez,aumenta a polinização cruzada da mesma(Begon et al. 1990).

Outra estratégia de otimização dapolinização da planta estudada, é a floraçãona época seca, pois a maior parte dasespécies polinizadas por beija-flores noCerrado floresce na época chuvosa(Oliveira, 1998). Desta forma, ela nãocompete por polinizadores com outrasespécies, havendo aumento da visita de suasflores. Talvez, a ausência desta competiçãotenha favorecido a seleção de flores combaixa produção de néctar nesta espécie.

A bromélia apresenta uma ofertaenergética de 0.3 Kcal / ha. Este valor émuito inferior ao total necessário parasuportar um indivíduo de beija-flor,representando apenas 3,8% de suanecessidade diária (Carpenter, 1983 apudOliveira, 2001). Portanto, para que umindivíduo encontre o valor energéticonecessário, ele precisaria percorrer um totalde 27 hectares, considerando que o únicorecurso disponível da área seja oferecidopela espécie de planta.estudada. No entanto,o clima nublado e chuvoso acarreta numamenor produção de néctar pelas flores debromélia (P.E. Oliveira, comunicaçãopessoal), o que, provavelmente, interferiunos resultados encontrados.

Quanto ao comportamento dospolinizadores, apenas foi observado o deEupetomena macroura, que se apresentoucomo um polinizador do tipo trap-liner.Este comportamento, provavelmente,ocorre pelo fato das plantas oferecerem

Page 138: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

131

pouco recurso energético, o que nãocompensa o gasto que estes teriam paradefender o território, no caso um indivíduodesta espécie. Os trap-lineres polinizam ummaior número de plantas, e apresentam,assim, um custo de locomoção entre elas,que, no entanto, deve ser compensado pelaquantidade de calorias adquirida nestasdiversas plantas. Do ponto de vista daplanta, este comportamento dos beija-floresé vantajoso, pois favorece a polinizaçãocruzada. Desta forma, a relaçãomutualística estudada parece ser maisbenéfica para as plantas que para as osbeija-flores.

AGRADECIMENTOSAo Prof. Dr. Paulo Eugênio Oliveira

pela sugestão do trabalho e agradávelcompanhia no campo. Aos beija-flores portornarem prazeroso nosso chá de cadeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia defloração e polinização em capões doPantanal Sul Mato grossense. Tese deDoutorado. UNICAMP.

BEGON, M., HARPER, J.L.,TOWNSEND, C.R. 1990. Ecology:individuals, populations and comunities.2 a ed. Blackwell Scientific Publication,Massachusets, USA.

OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade derecursos florais para beija-flores nocerrado de Uberlândia, MG. Dissertaçãode Mestrado. Universidade de Brasília.

SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. &GOTTSBERGER, G. 1988. Apolinização das plantas do cerrado.Revta. Brasil. Biol. 48: 651-663.

Page 139: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

132

I 2.7 COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE EUPETOMENA

MACROURA (GMELIN) (TROCHILINAE) EM NORANTEA SP.

(MARCGRAVIACEAE)

Jania Cabrelli Salles & Rafael Arruda

INTRODUÇÃOAs Angiospermas parecem ter

evoluído numa estreita dependência emrelação a diversos grupos animais para suapolinização, caracterizando certo grau demutualismo. As especializações das plantasnecessárias para garantir o sucesso destemutualismo requerem certos custos, como aprodução de néctar (Oliveira 1998).

Os beija-flores são aves nectarívorasespecializadas e importantes agentespolinizadores. Além de néctar, usualmentede baixa concentração de solutos e poucaviscosidade, a dieta dos beija-flores écomplementada por pequenos invertebrados(Oliveira 1998).

A apresentação de recursos noespaço e no tempo influencia ocomportamento dos visitantes, suapermanência na área e o tamanho dapopulação que pode sobreviver naquelesrecursos. As espécies de beija-flores dentrode uma comunidade apresentam formasdiferentes de utilização dos recursos. Aevolução de comportamentos deforrageamento da maioria dos beija-flores éinfluenciada principalmente pela interaçãocom outros beija-flores (Oliveira 1998). Deforma geral, de acordo com Feinsinger &Colwell (1978 apud Araujo 2001), os beija-flores são classificados comoterritorialistas, parasitas de território outrapliners.

A defesa de um recurso envolvecustos (gasto de energia, risco de injúria,etc.), bem como os benefícios da prioridadede acesso ao recurso. Esta idéia fez comque os estudos de campo enfocassem commais detalhes o balanço temporal dos

animais territoriais, em particular osterritórios de alimentação das avesterritorialistas (Krebs & Davies 1996).

Deste modo, o objetivo do presenteestudo foi analisar o comportamento deforrageamento e de defesa de território deEupetomena macroura (Gmelin) emNorantea sp. (Marcgraviaceae) em umaárea de cerrado.

METODOLOGIAO estudo foi realizado no mês de

setembro, no Parque Estadual da Serra deCaldas Novas (GO), numa área de cerrado(sentido restrito), com características desolo raso, pedregoso.

Por um período de quatro horas(7:00 – 11:00 hs), foram registrados ostempos de realização dos comportamentosde forrageamento e defesa do territórioexibidos por um indivíduo de E. macrouraem um exemplar de Norantea sp. Estaplanta apresenta grandes inflorescências dotipo cacho.

Os atos comportamentais de defesaforam divididos em alerta (vigilância damancha de recurso) e exclusão doscompetidores (outros beija-flores). Ostempos de forrageamento, alerta e exclusãode competidores foram quantificados emsegundos, com utilização de cronômetro.Os valores obtidos foram posteriormenteconvertidos em minutos. Foram tambémmedidos o volume, com uma seringa, e aconcentração do néctar, com umrefratômetro, dos nectários extraflorais deNorantea.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 140: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

133

O tempo total de observação foi de240 minutos. Deste total, 49,49% (118,77min.) foi utilizado em comportamento dealerta, 0,75% (1,8 min.) em comportamentode exclusão dos competidores, e 8,20%(19,67 min.) em tempo de forrageamento.Os 99,76 minutos restantes (41,56%),foram utilizados em atividade de repouso,principalmente ao se proteger da chuva(Tabela 1).

É fato que os beija-flores gastamcerca de 75% de seu tempo empoleirados eapenas 20% em forrageio, o que pode serexplicado pelo fato de que a digestão daglicose nestes animais é lenta (Krebs &Davies 1996). Outra explicação, é que, parao caso de indivíduos territorialistas, adefesa do território também requer grandegasto de tempo para evitar a invasão deoutras espécies nectarívoras.

A defesa do território exibida peloEupetomena macroura foi demonstrada,principalmente, pelo comportamento dealerta, caracterizado pelo posicionamentodo indivíduo sobre árvores circunvizinhas,em ramos mais elevados, que favoreceria aampliação do seu campo visual.

Foram observadas sete ocorrênciasde comportamento de exclusão decompetidores, sendo que seis delas,provavelmente, se tratavam de indivíduosdo gênero Chlorostilbon. O outro encontrofoi registrado com um individuo da mesmaespécie (Eupetomena macroura) Adificuldade de identificar estes invasores éconseqüência da rapidez com que osencontros agonísticos aconteceram.

Para estimar o volume e aconcentração do néctar disponível pelaNorantea sp., foram realizadas duasmedições, a partir das quais foram obtidasmédias iguais a 48 µl e 8,25%,

respectivamente. Segundo Oliveira (1998),a explicação para essa pequena produção denéctar seria a necessidade que a planta têmde manter constante visitação, forçando osanimais a explorar muitas flores.

A partir disso, pode-se inferir quequando os custos diários são comparadoscom a quantidade de néctar extra obtidacom a defesa de um território e exclusão decompetidores, fica evidente que as avesterritoriais estariam obtendo um moderadolucro energético, dessa forma, o recursotorna-se economicamente defensável(Krebs & Davies 1996).

AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Prof. Paulo E.

Oliveira pela orientação e ao colega FlávioR. Oliveira pela ajuda no etograma.

BIBLIOGRAFIA

ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia defloração e polinização em capões doPantanal Sul Mato grossense. Tese deDoutorado. UNICAMP.

FEINSINGER, P. & COLWELL, R.K.1978. Community organization amongneotropical nectar-feeding birds.American Zoologist 18: 779 – 795.

KREBS, J.R. & DAVIES N.B. 1996.Introdução à Ecologia Comportamental.Atheneu Editora. São Paulo.

OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade derecursos florais para beija-flores nocerrado de Uberlândia, MG. Dissertaçãode Mestrado. Universidade de Brasília.

Page 141: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia

134

Tabela 1 – Etograma de Eupetomena macroura (Trochilinae)

TIPOS COMPORTAMENTAIS FREQÜÊNCIA (%)

DEFESA

ALERTA 49.49

EXCLUSÃO DE COMPETIDORES 0.75

TOTAL 50.24

FORRAGEAMENTO 8.20

TOTAL 8.20

REPOUSO 41.56

TOTAL 41.56

TOTAL 100.00

Page 142: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

135

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIAParque Estadual da Serra de Caldas Novas

Projetos Finais (UnB)

Set/02

Page 143: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

136

FAUNA DE TÉRMITES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS

DE CERRADO, NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS

NOVAS, GO.

Caio A. Rebula

INTRODUÇÃOO cerrado é caracterizado como um

tipo de savana e constitui o segundo maiorbioma no país. É formado por diferentestipos de fitofisionomias, abrangendo decampos a florestas, sendo sua classificaçãodefinida pela densidade de árvores ecobertura vegetal (Coutinho, 1978).

Cupins são insetos da ordemIsoptera, com 2.225 espécies representadasem 7 famílias e 73 gêneros, sendo que,aproximadamente 500 espécies ocorrem nasAméricas (Fontes, 1979; Mill, 1983). Sãoinsetos sociais de tamanho médio que sealimentam de celulose, utilizando matériaorgânica e solo para a construção de seusninhos, sendo geralmente mais abundantesem áreas de maior biomassa vegetal. Vivemem sociedades altamente organizadas,havendo diferenças morfológicas nosindivíduos presentes em uma colônia,constituindo diferentes castas, cada umaapresentando sua própria divisão detrabalho e diferente função biológica(Borror et al. 1989; Inoue et al., 1997).

São animais de grande importânciadevido a sua abundância, a estrutura de seusninhos é capaz de abrigar térmitasinquilinos e um grande número de espéciestermitófilas (Araújo, 1970). Elesrepresentam ainda, uma considerável fontede alimento para várias espécies de animais.Tatus e tamanduás constituem seusprincipais predadores, havendo também autilização dos ninhos por aves, paranidificação (Redford, 1984).

Muitos dos estudos relacionados àfauna de térmites foram realizados em áreasrestritas. Muitos autores generalizam os

dados coletados em uma área limitada,sugerindo que os valores encontradosconstituem um padrão geral para o cerrado.Isto pode ser considerado umapseudoréplica (Hurlbert, 1984), já que ocerrado é um complexo mosaicocaracterizado pela heterogeneidade de suasformações (Coutinho, 1978). Afitossociologia local influencia aspopulações de térmites ao definir adisponibilidade de alimento. Desta forma,podem ocorrer variações na fauna detérmites e em sua densidade, de acordo coma topografia e vegetação locais. (Domingos,1983).

O objetivo deste trabalho foicomparar a fauna de térmites em duasfitofisionomias, do cerrado do ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas.

MATERIAIS E MÉTODOSO estudo foi desenvolvido no

Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), GO, em Outubro de 2002. Aárea total desta unidade de reserva é deaproximadamente 12.000 ha, apresentandocomo fitofisionomia principal formações decerrado sensu strictu (s.s.).

A coleta de dados foi feita em umlocal de cerrado s.s. e em um campo sujo,com altitude aproximada de 1030m. Foramdefinidos quatro transectos de 50m x 20mna área de campo sujo totalizando 4000m2.Outros cinco transectos com as mesmasdimensões foram definidos para a área decerrado s.s., em um total de 5000m2. Estesforam dispostos paralelamente à estrada deacesso à área de estudo, a uma distância de50m da estrada.

Page 144: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

137

Dentro de cada transecto, foramamostrados todos os ninhos aéreos eterrestres de térmitas, avaliando a densidadede cada gênero. Foi utilizado o índice deMorisita (Brower et al. 1998) paradefinição do padrão de distribuição espacialpara cada gênero encontrado.

Os ninhos encontrados foramabertos, tendo soldados coletados e fixadosem álcool 70%. Posteriormente estes foramidentificados até o nível de gênero (Mill,1983) com o auxílio de umestereomicroscópio. As medidas de altura ecircunferência dos ninhos encontradosforam utilizadas para caracterizar o gêneroconstrutor, de acordo com as dimensõesencontradas por Negret e Redford (1982).

RESULTADOS E DISCUSSÃOFoi encontrado um total de 93

ninhos, apresentando uma densidadeestimada de 82 ninhos/ha na área de cerrados.s. e 127 ninhos/ha na área de campo sujo.Os gêneros mais comuns foramArmitermes, Nasutitermes e Cornitermespara o cerrado sensu strictu e Armitermes,Nasutitermes e Velocitermes para o camposujo (Tabela 1.). Foram encontrados 13gêneros na área de campo sujo e 9 na áreade cerrado s.s.

Estima-se que existam pelo menos54 espécies de térmites no cerrado (Coles,1980). Redford (1984) encontrou umadensidade média de 323 ninhos/ha, noParque Nacional das Emas, onde afitofisionomia campo limpo ocupa cerca de60% da área do parque. Nesta área, ogênero mais frequente foiOrthognatotermes, com 204,5cupinzeiros/há. Este mesmo gêneroapresenta apenas 2 cupinzeiros/ha noPESCAN (Tabela 1). Os dados demonstramque há grande variação nos valores dedensidade de ninhos, quando diferentesfitofisionomias são comparadas (Tabela 1).Esta variação nos valores de densidadepode estar relacionada à preferência por umcerto tipo de vegetação e talvez por umhábito alimentar, sendo a densidadetambém influenciada por outros fatores,

como as outras espécies de térmitespresentes no ambiente. As variações naabundância de uma certa espécie emdiferentes regiões também podeminfluenciar as dimensões dos cupinzeiros(Negret & Redford, 1982).

O padrão de ocupação doscupinzeiros sugere que alguns gêneros sãomais tolerantes a inquilinos que outros(Tabela 2). Gêneros construtores podem serfreqüentemente encontrados comoinquilinos, como Armitermes eNasutitermes (Tabela 3).

O índice de Morisita revelou que osgêneros com maior densidade apresentarampadrão de distribuição aleatória, já os demenores valores de densidadedemonstraram distribuição uniforme(Tabela 4). Não ocorreram variações nospadrões de distribuição entre as duasfitofisionomias estudadas.

Este levantamento revelou queexistem grandes variações na fauna detérmitas entre diferentes regiões de cerrado.A densidade e composição da fauna diferemde outros estudos realizados em outrasáreas. Possivelmente variaçõesfitossociológicas e topográficas locaisinfluenciam a fauna de térmitas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAraújo, A.L. 1970. Termites of neotropical

region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M.Biology of termites.2nd edition.Academic Press, New York. 527-571.

Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson,N.F. 1989. An introduction to the studyof insects. 6th edition. Saunders CollegePublishing, Florida. 875p.

Brower, J.E.; Zar, J.H.; von Ende, C.N.1998. Field and laboratory methods forgeneral ecology. 4th ed. McGraw-Hill,Boston. 273p

Coles, H.R. 1980. Defensive strategies inthe ecology of Neotropical termites. Ph.D. thesis, Southamptom University.243p.

Coutinho, L.M. 1978. O conceito decerrado. Revta. Bras. Bot. 1:17-23.

Page 145: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

138

Domingos, D.J. 1983. Preferência alimentarde Armitermes euamignathus (Isoptera,Termitidae, Nasutitermitidae) em cincoformações vegetais do cerrado. Rev.Bras. Biol. 43(4):339-344.

Fontes, L. R. 1979. Os cupins. Ciência eCultura. 31(9): 986-992.

Hurlbert, S.H. 1984. Pseudoreplication andthe design of ecological fieldexperiments. Ecological Monographs54(2):187-211.

Inoue, T.; Tabosa, W. A. F.; Bandeira, A.G. & Amelung, W. 1999. Richness oftermite genera in semi-arid region

(Sertão) in NE Brazil (Isoptera).Sociobiology. 33(3): 357-365.

Mill, A. E. 1983. Generic keys to thesoldiers caste of New World Termitidae(Isoptera: Insecta). SystematicEntomology. 8: 179-190.

Negret, H.R.C.; Redford, K.H. 1982. Thebiology of nine termite species (Isoptera:Termitidae) from the cerrado region ofBrazil. Psyche 89:81-106

Redford, K.H. 1984. The termitaria ofCornitermes cumulans (Isoptera,Termitidae) and their role in determininga potential keystone species. Biotropica16(2): 112-119.

Page 146: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

139

Tabela 1. Densidade de térmites por hectare em duas áreas de cerrado no Parque Estadual daSerra de Caldas Novas (GO) e os dados encontrados por Negret & Redford (1982), para oParque Nacional das Emas.

Densidade / há

Pescan Emas

Gêneros Campo Sujo Cerrado S.S. Campo Sujo Cerrado S.S.

Armitermes 32 23 112 116

Cavitermes 8 3 * *

Constrictotermes 4 3 * *

Cornitermes 16 4 12 32

Cyranotermes 4 0 * *

Grigiotermes 2 0 28 24

Labiotermes 6 0 * *

Nasutitermes 30 15 32 0

Orthognathotermes 2 2 0 16

Procornitermes 6 2 12 52

Spinitermes 2 2 * *

Syntermes 6 0 20 0

Velocitermes 8 10 96 32

* Gêneros não avaliados por Negret & Redford (1982).

Tabela 2. Ocorrência e padrão de ocupação dos cupinzeiros mais freqüentes no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas (GO).

Construtor do

ninho

Apenas

construtor

Construtor e

inquilinos

Apenas

inquilinos Desativado

Armitermes 16 5 0 1

Cornitermes 11 0 9 2

Nasutitermes 15 3 0 0

Procornitermes 2 1 0 4

Syntermes 3 1 0 0

Velocitermes 5 1 0 0

Tabela 3. Gêneros construtores mais comuns e seus inquilinos, no Parque Estadual da Serrade Caldas Novas (GO)

Page 147: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

140

Construtor Térmites inquilinos

Armitermes Cavitermes, Labiotermes, Nasutitermes

Cornitermes Armitermes, Cyranotermes, Nasutitermes, Cavitermes, Procornitermes

Nasutitermes Armitermes, Cavitermes

Procornitermes Nasutitermes

Syntermes Grogiotermes, Nasutitermes

Velocitermes Procornitermes

Tabela 4. Padrão de distribuição (Morisita) dos gêneros encontrados.

Gêneros Distribuição

Armitermes Aleatória

Cavitermes Agrupada

Constrictotermes Uniforme

Cornitermes Aleatória

Cyranotermes Uniforme

Grigiotermes Uniforme

Labiotermes Uniforme

Nasutitermes Aleatória

Orthognathotermes Uniforme

Procornitermes Uniforme

Spinitermes Uniforme

Syntermes Agrupada

Velocitermes Aleatória

Page 148: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

141

INFLUÊNCIA DO FOGO NA FLORAÇÃO DE GALACTIA

PEDUNCULARIS (BENTH.) TAUB. (FABACEAE) EM UM CAMPO

RUPESTRE NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS

(GO)

Ernestino de Souza Gomes Guarino

INTRODUÇÃOA importância ecológica do fogo no

Cerrado, como também em outrascomunidades vegetais em todo mundo é umfenômeno amplamente observado. SegundoRicklefs (1996) o fogo atua nosecossistemas como uma força seletiva,favorecendo espécies resistentes ao fogo etambém excluindo outras espécies quepoderiam dominar esses ecossistemas. Eiten(1972) classifica o Cerrado como umavegetação “afetada” pelo fogo, ou seja, avegetação é afetada pelo fogo, mas nãosofre alterações de outro tipo, neste caso avegetação convive com uma freqüênciaconstante de queimadas, mantendo acomposição florística e também ascaracterísticas fisionômicas semelhantes.

Vários aspectos das queimadas nobioma Cerrado vêm sendo estudados, entreeles podemos separar os estudos: (1) comfoco nas alterações bióticas e (2) os comfoco nas alterações abióticas resultantes dapassagem do fogo. Entre estes temas, oefeito do fogo sobre a floração de espéciesherbáceas, foi, e continua sendo alvo devários estudos. Segundo Coutinho (1980),este impressionante “fenômeno” vem sendorelatado desde as primeiras viagens denaturalistas como Auguste de Saint-Hilaire,Emanuel Pohl, Albert Löfgren e EugeneWarming ao Planalto Central brasileiro.

Galactia peduncularis (Benth.)Taub. (Fabaceae) é uma erva de cerrado ecampo úmido, com ampla distribuiçãogeográfica. Quando em flor, a espécie ébastante vistosa, possuindo coloração rosa-escuro ao abrir, secando e tornando-se roxa.A espécie floresce entre os meses deoutubro e novembro (Proença et al. 2000).

O objetivo desse trabalho foiverificar a influência do fogo na floração deGalactia peduncularis em uma área deCampo rupestre no Parque da Serra deCaldas Novas, Goiás.

MATERIAL E MÉTODOSO trabalho foi realizado no Parque

Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), no final da época seca, entre osdias 1° e 3 de Outubro de 2002. OPESCAN localiza-se entre os municípios deCaldas Novas e Rio Quente, no sudeste doEstado de Goiás (Silva et al. 2002). Emuma área de campo rupestre do PESCANforam alocadas oito parcelas de 25x4m(0.01ha x 8 parcelas = 0.08ha), sendoquatro parcelas em uma área que havia sidoqueimada há aproximadamente 30 dias, equatro parcelas em uma área não queimada.As áreas são separadas por uma estrada, quedurante a passagem do fogo funcionoucomo aceiro (Figura 1). Com o objetivo deevitar qualquer possível efeito da estradasobre as parcelas, tomou-se o cuidado demontá-las a uma distância mínima de 5metros da estrada.

Nas oito parcelas foram levantadasas seguintes dados: (i) número total deindivíduos de G. peduncularis; (ii) númerode ramos por indivíduo; (iii) presença ounão de flores ou botões florais e (iv)cobertura vegetal do solo. A coberturavegetal do solo foi medida através dométodo da armação de pinos. Este métodoutiliza uma armação de madeira, a qualpossui dez pinos de metal, dispostosperpendiculares ao solo e paralelos entre si(Kent & Coker 1994). Em cada parcela sãorealizadas 10 medidas.

Page 149: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

142

Os dados foram analisados com oMicrosoft Excel 2000 e o Biostat versão 2.0(Ayres et al. 2000).

RESULTADOSNas oito parcelas amostradas foram

encontrados 411 indivíduos de G.peduncularis (Tabela 1), sendo 372 (465indivíduos/0.1ha) na área queimada e 39(49 indivíduos/0.1ha) na área não queimada(χ2 = 161.27, p = 0.00). Dos 372 indivíduosamostrados na área queimada, 25.8% (96)apresentavam flores e/ou botões florais,enquanto que na área não queimada apenas5% (2) apresentavam-se no mesmo estadofenológico (Teste exato de Fisher - p =0.0014) (Figura 2).

O número médio de ramos porindivíduo foi de 1.82 (± 1.23) para a áreaqueimada e de 1.33 (± 0.77) para a área nãoqueimada (Teste U = 5391.0, p = 0.0083).A cobertura vegetal do solo foi superior naárea não queimada (79,5%), enquanto quena área queimada essa foi de 43.75% (t =10.062, p < 0.0001). A diferença dacobertura do solo na área queimada e nãoqueimada explica 93.3% (r2 = 0.933) donúmero total de indivíduos (Figura 4). Alocalização dos indivíduos de G.peduncularis nas parcelas queimadas é maisfácil do que nas parcelas não queimadas,fato esse que pode ter subestimado onúmero final de indivíduos na área nãoqueimada.

A floração induzida pelo fogo é umfenômeno bastante conhecido em savanasde todo o mundo, porém pouco se sabesobre quais os mecanismos responsáveispor esse espetacular fenômeno. Countinho(1980), após diversos experimentos decampo e laboratório, conclui que paraespécies geófitas, à indução floral ocorrepela destruição de suas partes aéreas e nãopor um efeito térmico ou nutricional.Segundo o autor, as partes aéreas dasplantas produzem inibidores da floração, osquais são eliminados após a queima,induzindo com isso a floração. Paradiversas espécies, esse parece ser realmenteo processo pelo qual a floração é induzida

após a passagem do fogo, porém emalgumas espécies de orquídeas a hipótese deCoutinho (1980) não se encaixaperfeitamente (Oliveira et al. 1996).

Tais considerações também podemser empregadas para G. peduncularis,espécie geófita, que também possui órgãosubterrâneo de armazenamento (xilopódio)(Benthan 1859 - 1862). A primeira vista, adestruição de suas partes aéreas e adiminuição da cobertura do solo após apassagem do fogo, estariam induzindo afloração da espécie. Porém, esses fatoresnão podem ser considerados isoladamente.

A comparação da densidade deindivíduos entre as áreas (Figura 3),evidencia a existência de outro fatoratuando. A maior densidade de indivíduosna área queimada pode ser explicada pelapossível existência de um banco desementes da espécie na área. Andrade(2002) estudando o impacto do fogo nobanco de sementes de um cerrado sensustricto no Distrito Federal, observou que G.peduncularis forma banco de sementesviáveis no solo, principalmente em áreassubmetidas a queimadas bienais. SegundoParker & Kelly (1989) a germinação “emmassa” que ocorre logo após a passagem dofogo pode ser a conseqüência de um ou doconjunto dos seguintes fatores (i) calor oqual o banco de sementes foi submetido,(ii) alterações químicas provenientes daqueima e deposição de cinzas, (iii) aumentoda incidência de luz, (iv) estratificação doambiente.

Aparentemente a floração de G.peduncularis foi estimulada pelo aumentoda incidência luminosa (Figura 4), fatotambém observado em Brodiaea ixioidesem uma área de Chaparral na Califórnia(Stone 1951). A rápida floração da espécielogo após a sua germinação ocorre devidoaos seguintes fatores (1) diminuição depredadores de plântulas e sementes, (2)aumento de polinizadores e (3) aumento dataxa de fecundação cruzada (Oliveira et al.1996).

O fogo é um fator importante naindução da floração de espécies herbáceas

Page 150: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

143

no Cerrado, principalmente com adiminuição da cobertura vegetal do solo e adestruição de suas partes aéreas. Porémcomo pode ser visto nesse estudo, o fogopode atuar em algumas espécies, como é ocaso de G. peduncularis, de formadiferente. Neste caso, o fogo parece atuardiminuindo a cobertura vegetal e facilitandoa germinação de sementes da espéciepresente no local. Estudos posteriores sobreo banco de sementes desta espécie e suarelação com o fogo devem ser feitos, a fimde obter respostas mais precisas.

REFERÊNCIAS CITADAS

ANDRADE, L. A. Z. (2002). Impacto dofogo no banco de sementes de cerradosensu stricto. Tese de Doutorado,Universidade de Brasília, Brasília. 185p.

COUTINHO, L.M. (1980) As queimadas eseu papel ecológico. Brasil Florestal,ano 10, n° 44, p. 7-23.

EITEN, G. (1972). The Cerrado Vegetationof Brazil. Botanical Review, vol. 38,n°2, p. 201-341.

BENTHAN, G. (1859-1862) Papilonaceae.In: MARTIUS, C.F.P; EICHLER, A.G.,URBAN, I. (eds.) Flora Brasiliensis.Vol. 15, n°1, p. 145 - 147.

OLIVEIRA, R.S.; BATISTA, J.A.N.;PROENÇA, C.E.B.; BIANCHETTI, L.(1996) Influência do fogo na floração deespécies de Orchidaceae em Cerrado.In.: MIRANDA, H.S.; SAITO, C.H.;DIAS, B.F.S. (orgs.) Impactos de

queimadas em áreas de Cerrado eRestinga. Brasília: UnB. p.61-66.

PARKER, V. T.; KELLY, V.R. (1989).Seed bank in California Chaparral andother Mediterranean climate shrublands.In.: LECK, M. A.; PARKER, V. T.;SIMPSON, R. L. (eds.) Ecology of soilseed banks. Academic Press. San Diego,California, Estados Unidos. p. 241-255.

PROENÇA, C. E. B., OLIVEIRA, R.S.,SILVA, A.P. (2000). Flores e Frutos doCerrado. Brasília: UnB. 225p.

KENT, M.; COKER, P. (1994). Vegetationdescription and analysis: a praticalapproach. London: John Willey & Sons.363p.

RICKFLES, R. E. (1996). A economia danatureza. Editora Guanabara Koogan.Rio de Janeiro, RJ. 470p.

SILVA, L.O.; COSTA, D. A.; SANTO-FILHO, K. E.; FERREIRA, H. D.;BRANDÃO, D. (2002). Levantamentofitossociológico em duas áreas deCerrado sensu stricto no Parque Estadualda Serra de Caldas Novas, Goiás. ActaBotanica Brasílica vol. 16, n° 1, p. 45-53.

STONE, E. C. (1951). The stimulativeeffect of fire on the flowering of thegolden Brodiaea (Brodiaea ixioidesWats. var. lugens Jeps.). Ecology vol.32, n°3, p. 534-537.

Page 151: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

144

Tabela 1. Comparação entre as variáveis observadas na área queimada e não queimada, noPESCAN.

Área queimada Área não queimada

Número total de indivíduos 372a 39b

Densidade (indivíduos/0.1 ha) 465 49

Número de ramos (média ± desvio padrão) 1.82 ± 1.23a 1.33 ± 0.77b

Indivíduos com flor ou botão floral (%) 25.8a 5.1b

Cobertura vegetal do solo (%) 43.75a 79.5b

Figura 1. Desenho experimental. As parcelas foram separadas por uma estrada, a qualfuncionou como aceiro.

Page 152: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

145

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� �����������������������

�����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Área queimada Área não queimada

Áreas estudadas

% d

e in

diví

duos

���� Sem flor (%)����Flores (%)

Figura 2. Porcentagem de indivíduos de Galactia peduncularis com flor e/ou botões floraisem cada uma das áreas.

Figura 3. Número médio de indivíduos de Galactia peduncularis por parcela nas áreasestudadas.

����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

��������������������������������������

0

20

40

60

80

100

120

Área queimada Área não queimada

Áreas estudadas

Núm

ero

méd

io d

e in

diví

duos

Page 153: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

146

r2 = 0.933

0

20

40

60

80

100

120

30 40 50 60 70 80 90

Cobertura vegetal do solo (%)

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 4. Relação entre o número de indivíduos de Galactia peduncularis nas parcelas e acobertura vegetal do solo (%).

Page 154: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

147

CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DIAMÉTRICA E

ESTÁDIO DE REGENERAÇÃO NA MATA DE GALERIA DA

CASCATINHA, PARQUE ESTADUAL DE SERRA DE CALDAS NOVAS

Otacílio Antunes Santana

INTRODUÇÃOTamanho e forma são características

entre os diversos taxa, entre populações eindivíduos. Mais do que uma questão deescala, esta variação é um reflexo doprocesso evolutivo e retrata as adaptaçõesdos organismos às limitações do ambiente.Portanto, juntamente com os padrões decrescimento, diferenciação e reproduçãodos seres vivos, o tamanho e a forma sãocomponentes da história de vida dosorganismos.(Begon et al., 1996)

A morfometria se constitui umelemento importante nos estudos dacomparação (e.g. ontogenia e filogenia dosindivíduos), pois uma característicaenvolvida numa relação alométrica afetaoutro componente da história de vida dosorganismos, principalmente a competiçãoentre indivíduos interespecíficos eintraespecíficos na busca de recursos.(Sposito, 1994)

Devido à dificuldade de se obter aidade exata dos indivíduos arbóreos, emespecial de árvores tropicais, é comumdistribuí-las em classes de altura e classesde diâmetro. A classe de altura representa aestratificação vertical da floresta que éindicativa de maior ou menor habilidadedas diferentes espécies em competir por luz(Souza, 2002).

A avaliação da distribuiçãodiamétrica de uma comunidade ou de umapopulação de árvores é um parâmetroindispensável para se determinar ouestabelecer medidas de ordenação daprodução florestal (Hailemariam & LeMay,2000); estabelecer medidas de manejo, noscasos das florestas e matas tropicais (Araújoet al., 1999; Durigan et al., 2000);

caracterizar o estádio de sucessão (SilvaJúnior, 1999; Felfili & Silva Júnior, 1988) everificar distúrbios ocorridos no passado(Murphy & Farrar, 1981).

O índice ou coeficiente de Liocourté um dos modelos mais utilizados paraavaliar a distribuição diamétrica de florestasnaturais e baseia-se na progressãogeométrica dos diâmetros, sendo calculadoconforme proposto por Liocourt (1898, In:Meyer, 1952). O coeficiente (“q”) avalia adistribuição do número de indivíduos emcada uma das classes e serve para avaliar sea distribuição do diamétrica da comunidadeou população de árvores está ou nãobalanceada (Leak, 1963).

Segundo Harper (1977) o equilíbriodinâmico entre o crescimento e mortalidadeé uma das características de comunidadesflorestais auto-regenerantes e que a maioriadas florestas tende a apresentar distribuiçãodiamétrica balanceada. Essa seqüênciacompleta de classes, onde a sobrevivênciadecresce proporcionalmente com o aumentodo tamanho das árvores, foi sugerida porDaubenmire (1968) como uma dascaracterísticas indicadora de comunidadesclímax.

Outras formas de análises sãoutilizadas para “uneven aged forest”,florestas manejadas ou não, com indivíduosde idades ou estádios diferentes, entre eles:i) teste de distribuição exponencial(Murphy & Farrar, 1981); ii) testelogaritimisados (Murphy & Farrar, 1981);iii) Método Alternativo Cross (Cruz &Hosokawa, 2000) e iv) Weibull probabilitydensity function (Bailey and Dell, 1973).

O objetivo do trabalho foi: i)quantificar, caracterizar e analisar a

Page 155: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

148

estrutura em classes diamétricas (taxa derecrutamento) nas arvoretas e árvores damata de Galeria da Cascatinha e ii)quantificar a estrutura de alturas das juvenisarbóreas.

Hipotetizamos que: H1) A Mata daCascatinha apresentará estrutura florestalbalanceada, conforme classificação deMeyer (1952); e H2) Árvores e Arvoretasnão mostraram distribuições diamétricasdistintas em diferenciada análise(logarítmica e exponencial).

MATERIAL E MÉTODOSA coleta dos dados se realizou no

mês de setembro e outubro de 2002 nosdias 29 e 30, 1 e 2 respectivamente, na matade galeria ao longo do córrego cascatinha,denominada Mata da Cascatinha, na latitudeS 17°46’09.5” e longitude W 48°39’29,9”,no Parque Estadual da Serra de CaldasNovas (PESCAN). Os solos sãoclassificados como latossolos vermelho-amarelos distróficos (LVd) (Plano deManejo do Parque).

A região situa-se no sub-biomacerrado com clima do tipo Aw, segundoclassificação de Köppen, caracterizada porduas estações bem definidas: uma seca, demaio a setembro, e outra chuvosa, deoutubro a abril, aproximadamente, comtemperatura mensal média de 23.5°C.(Cochrane et al., 1985)

A amostragem foi estratificadaseguindo a classificação do estudo davegetação em regeneração: juvenis (< 1mde altura), arvoretas (> 1m de altura, comdiâmetro a altura do petio – dap < 5cm) eárvores (com dap > 5 cm). (Husch et al.,1972; Souza, 2002)

O sistema de amostragem para árvores(registro de diâmetro e altura) foisistemático, com método de parcelas 10X10m, escolhidas aleatoriamente ao longo docurso d’água e trilha (Curtis & McIntosh,1950). Para amostragem das arvoretas(registro dos diâmetros) foram estabelecidasdentro das parcelas (10X10m), sub parcelasde 5X5m e, dentro destas, foramamostradas as mudas (registro de altura),

em sub parcelas de 2X2m (Wyatt-Smith,1960; Loetch & Haller, 1974; BraunBlanquet, 1979) (Figura 1).

A freqüência dos indivíduos emclasses de alturas para as plântulas ediâmetros para arvoretas e árvores foiefetuada como proposta por Spiegel (1976).

IC = A/[1+3.3*log(n)]IC = Intervalo de classes;A = Amplitude dos dados;n = número de indivíduos.

A literatura considera que a taxa derecrutamento (sobrevivência) de umapopulação é representada pela divisão denúmero de indivíduos entre as sucessivasclasses de diâmetro. A razão desta divisãoproposta por Liocourt 1898 (In: Meyer,1952), é representada por “q” e a taxa demortalidade entre as sucessivas classes dediâmetro é “1 - q”.

q = ni + 1/ niq = taxa de recrutamento;ni + 1 = número de indivíduos na classe

i + 1;ni = número de indivíduos na classe i.

As análises de Kolgomoronov-Smirnov, correlação e diferenciada logarítmicae exponencial foi realizada pelo programa(Systat 9.0) e demais análises estatísticas peloMicrosoft Excel 2000.

RESULTADO E DISCUSSÃONeste trabalho 20 quadrantes

(2000m2) foram levantados, registrando umtotal de 472 árvores, 2.252 arvoretas e4.137 juvenis, com uma estimativa de2.360, 11.259 e 20.686 ind.ha-1

respectivamente. (Tabela 1) Foi notado que a correlação entre o

número de indivíduos de árvores e arvoretasnas parcelas foi inversamente significativa(0,686519), ou seja, quando havia um maiornúmero de indivíduos arbóreos numaparcela, o numero de arvoretas diminuíam.O mesmo acontece entre número de árvorese juvenis nas parcelas (0,661515). Já nacorrelação entre arvoretas e juvenis mostrouproporcionalmente significativa, ou seja,quando maior o número de arvoretas nas

Page 156: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

149

parcelas será o número de juvenis nela(0,932255).

A distribuição diamétrica apresentapadrão semelhante aos modelos propostosem vários estudos (Felfili et al., 2002;Hailemariam & LeMay, 2000; Pinto &Oliveira Filho, 1999; Pereira et al., 2001b;Meyer, 1952) assemelhando o modelo de“J” invertido, concentrando os maioresnúmeros de indivíduos na primeira classede diâmetro decrescendo para as próximasclasses de numa progressão geométrica, nasárvores. Para as arvoretas, as primeirasclasses apresentaram nenhum ou baixaquantidade de indivíduos, concordando comalguns trabalhos sobre regeneração em matade galeria (Souza, 2002; Silva Júnior, 1999;Felfili & Silva Júnior, 1988), masposteriormente, nas outras classespermanecendo o formato em “J” invertido(Figura 2).

A análise diferenciada: logarítmica(Meyer & Stephenson 1943) e exponencial(Murphy & Farrar, 1981) para as classesarbóreas mostraram distinção nasrespectivas regressões (log: r2: 0.9078 eexp. r2: 0.846), ambas altamentesignificativas, mas indicando para a Matada Cascatinha o melhor ajuste para asclasses diamétricas: o logarítmico (Figura2) .

O valor médio do índice de Liocourtou taxa de recrutamento calculado para acomunidade foi de 0.91 para árvores e 4,70para arvoretas, mostrando o processo dedinâmica da comunidade em diferentesestratos (nascimento e mortalidade). Adistribuição aproximou de uma balanceada,mas confirmando em algumas classesdistúrbios presenciados (Figura 2). Asúltimas classes, por apresentarem poucosindivíduos, estão sujeitas a grandesvariações no valor do quociente “q”.(Harper, 1977)

As arvoretas por apresentarem nasprimeiras classes baixos valores eposteriormente um aumento deaproximadamente 100 vezes maior que onúmero de indivíduos encontrados(segundo a taxa de recrutamento),

provavelmente apresenta um padrão decrescimento com um surto inicial rápido, talque o crescimento em altura das mudasminimizam os efeitos de competição porluz com as demais arvoretas. (Bertani et al.,2001)

Na análise de Kolgomoronov-Smirnov as arvoretas apresentaram valorcrítico de 0.029 (0.05, <0.01), muito baixoem comparação ao valor crítico das árvoresque foram de 0.063 (0.05, <0.01),mostrando o efeito do não aparecimento, oupouco aparecimento, de indivíduos nasprimeiras classes.

Em relação à taxa de recrutamentohouve uma diminuição do valor de “q” dasarvoretas de 36.91 para 0.94 da primeirapara segunda classe contrariando o quenormalmente é esperada para comunidadede árvores em equilíbrio, mas presente emalgumas comunidades em dinâmicoprocesso de regeneração (Pereira et al.,2001a), classificando esta floresta comoauto regenerantes (Meyer, 1952).

Meyer (1952) também afirma que adistribuição balanceada dos diâmetros naprática é observada quanto se estuda grandeextensão de florestas. Segundo Felfili(1993) um pequeno número de espéciesarbóreas em comunidades de matas degaleria tende a apresentar curva em formade J-invertido, mas em conjunto, umafloresta ou comunidade tende ao equilíbrio,apresentando distribuição balanceada.

A distribuição da altura dos juvenisna comunidade apresenta o maior númerode indivíduos nas classes de 11 a 30 cm dealtura. Felfili (1993) com estudo em matade galeria (Mata do Gama), afirma que opadrão de crescimento está provavelmenterelacionado ao comportamento das espéciese sua dependência por luz: espéciestolerantes a sombreamento apresentamcrescimento inicial mais lento e espécies doestrato superior apresentam crescimentoinicial rápido devido à sua maior exigênciapor luz, o que acontece no nosso estudo(Tabela 1 e Figura 3).

Em relação à estrutura arbórea, foirealizada uma regressão que mostrou

Page 157: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

150

significativa r2 = 0.9677 entre altura dasárvores e respectivo dap, sendo variáveisquase diretamente proporcionais. (Figura 4)

Os padrões para distribuiçãodiamétrica estão de acordo com a literaturaregional (Felfili 1993; Felfili & Silva, 1988;Souza, 2002; Silva Júnior, 1999; Pinto eOliveira Filho, 1999), classificando a matacomo auto regenerante segundo suadinâmica de comunidade (Meyer 1952;Leak, 1963).

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, F. S. DE, MARTINS, F. R.AND SHEPHERD, G. J. 1999.Variações estruturais e florísticas docarrasco no planalto da Ibiapaba,Estado do Ceará. Rev. Bras. Biol.,vol.59, no.4, P.663-678.

BAILEY, R.T. & DELL, T.R. 1973.Quantifying diameter distribuitionswith the Weibull function. For. Sci. 19:97-104.

BEGON, M., HARPER, J.L. &TOWSEND, C.R. 1996. Ecology –Individuals, Populations andCommunities. Blackwell Science. 945p.

BERTANI, D. F.; RODRIGUES, R. R.,BATISTA, J. L. F. et al. 2001. Análisetemporal da heterogeneidade florísticae estrutural em uma florestaribeirinha. Rev. bras. Bot., vol.24, no.1,p.11-23.

BRAUN-BLANQUET, J. 1979.Fitossociologia, bases para el estúdiode las comunidades vegetables. J. L. Jô(trad.) H. Blume Ediciones. Madrid. 820p.

COCHRANE, T.T.; SÁNCHEZ, L.G.A.;PORRAS, J.A.; GARVER, C.L. 1985.Land in tropical América, Cali,Colômbia: CIAT/Embrapa – CPAC, v.3, 147 p.

CRUZ, E.C.da & HOSOKAWA, R.T.2000. O método Cross paracaracterização das estruturasdiamétricas e basimétricas de florestatropical Amazônica. Resumo – Revistaárvore, www.sif.com.br.

CURTIS, J.T. & MCINTOSH, R.P. 1950.Interrelations of certains analytic andsynthetic phytosociological characters.Ecology 31: 434-455.

DAUBENMIRE, R.F. 1968. Plantcomunities. Harper & Row. NewYork. 300 p.

DURIGAN, G.; FRANCO, G. A. D. C.;SAITO, M. et al. 2000. Estrutura ediversidade do componente arbóreoda floresta na Estação Ecológica dosCaetetus, Gália, SP. Rev. bras. Bot.,vol.23, no.4, p.371-383.

FELFILI, J. M. & SILVA JÙNIOR, M. C.da. 1988. Distribuição dos diâmetrosnuma faixa de cerrado na FazendaÁgua Limpa (FAL) em Brasília – DF.Acta Bot. Bras. 2(1-2): 85-104.

FELFILI, J.M. 1993. Structure anddynamics of gallery Forest in CentralBrazil. University of Oxford. Oxford.Ph.D. Thesis. 180 p.

FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;SILVA JÚNIOR, M. C. DA; et al. 2002.Composição florística e fitossociologiado cerrado sentido restrito nomunicípio de Água Boa - MT. ActaBot. Bras., vol.16, no.1, p.103-112.

HAILEMARIAM, T. & LEMAY, V. 2000.Possible approaches for relating andyield moldels to aerial information.Part I – Literature review and datasources. Forest Practices Branch. 17 p.

HARPER, J.L. 1977. Population biologyof plants. Academic Press.London. 892 p.

Page 158: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

151

HUSCH, B.; MILLER, T.W. & BEERS,C.I. 1972. Forest mensuration. J.Willey & Sons. New York. 410p.

LEAK, W. B. 1963. Calculation of “q” bytest the least squares method. J. For.61:227-228.

LOETCH, F. & HALLER, K.E. 1974.Forest inventory. B. L.V. Monique.

MEYER, H.A. 1952. Structure, growthand drain in balanced uneven-agedforests. Journal of forestry 50: 85-92.

MURPHY, P.A. & FARRAR, R.M. 1981.A test of the exponetial distribuitionfor stand structure definition inuneven-aged loblolly-shortleaf pinestands. U.S. Dept. Agric. For. Serv. Res.Pap. SO-164, 4 p. South. For. Exp. Stn.,New Orleans, La.

PEREIRA, I. M.; ANDRADE, L. A. DE;COSTA, J. R. M.; et al. 2001a.Regeneração natural em umremanescente de Caatinga sobdiferentes níveis de perturbação, noagreste paraibano. Acta Bot. Bras.,vol.15, no.3, p.413-426.

PEREIRA, M. C. A.; ARAUJO,DOROTHY. S. D. de & PEREIRA, O. J.2001b. Estrutura de uma comunidadearbustiva da restinga de Barra deMaricá - RJ. Rev. bras. Bot., vol.24,no.3, p.273-281.

PINTO, J. R. R. & OLIVEIRA-FILHO, A.T. de 1999. Perfil florístico e estruturada comunidade arbórea de umafloresta de vale no Parque Nacional daChapada dos Guimarães, MatoGrosso, Brasil. Rev. bras. Bot., vol.22,no.1, p.53-67.

SILVA JÚNIOR, M.C. 1999. ComposiçãoFlorística, fitossociologia e estruturadiamétrica na mata de galeria doMonjolo, na Reserva Ecológica doIBGE (RECOR), DF. Boletim doHerbário Ezachias Paulo Heringer 4: 30-45.

SOUZA, J.S. de. 2002. Regeneraçãoarbórea, seis anos após fogo acidental,nas Mata de Galeria do Pitoco naReserva Ecológica do IBGE, emBrasília. Dissertação de Mestrado –Departamento de Engenharia Florestal.

SPIEGEL, M.R. 1976. Estatística.McGraw-Hill. São Paulo. 580 p.

SPOSITO, T.C.S. 1994. Arquitetura eAlometria de três espécies de Cecropia(Cecropiaceae) da Região Sudeste doBrasil. Dissertação deMestrado,Universidade Estadual deCampinas, Campinas.

WYATT-SMITH, J. 1960. Diagnosticlinear sampling of regeneration. TheMalaysian Forester 23: 192-202.

Page 159: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

152

Tabela 1: Número de indivíduos de árvores, arvoretas e juvenis em cada parcela (10X10 m).

Parcelas Árvores Arvoretas Juvenis1 22 162 3452 13 164 3013 36 68 454 11 151 4025 29 88 1996 32 100 2677 18 102 1688 17 77 3079 19 174 10910 23 72 31111 34 80 8612 20 123 30713 33 76 8014 29 64 9315 19 132 10916 16 116 32617 15 152 32118 38 67 9419 20 148 10220 28 136 165

Soma 472 2.252 4.137Média 28 113 207

Figura 1: Esboço das parcelas feitas para mensuração das árvores (10X10 m), arvoretas (5X5m) e juvenis (2X2m) ao longo do curso d’água e trilha na mata de galeria da Cascatinha(PESCAN).

Page 160: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

153

Figura 2. Distribuição diamétrica em classes do gradiente arbóreo (A) com distribuiçãoexponencial das arvoretas (B) da Mata da Cascatinha (PESCAN).

A

Classe de Diâmetro - cm (Árvores)

Núm

ero

de In

diví

duos

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������

����������������������������

����������������������������

����������������������������

0

40

80

120

160

200

5.0-8.3 8.4-11.7 11.8-15.1 15.2-18.5 18.6-21.9 22-25.3 25.4-28.7 28.8-35.3

------ Rexp2=0.9078

q´1=0.59q´2=0.57q´3=1.53q´4=0.21q´5=0.20q´6=3.00q´7=0.33

B

Classe de Diâmetro - cm (Arvoretas)

Núm

ero

de in

diví

duos

������������������������

����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������������������

���������������������������������������

������������������������

��������������������������

�������������������������� ������������ �������������

0

200

400

600

800

1000

0-0.5 0.6-1 1.1-1.5 1.6-2 2.1-2.6 2.6-3 3.1-3.5 3.6-4 4.1-4.5 4.6-5

q´1=36.91q´2=0.94q´3=0.42q´4=0.28q´5=0.48q´6=0.70q´7=0.75q´8=0.80q´9=1.05

Page 161: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

154

Figura 3: Distribuição em classes da altura dos juvenis em relação ao número de indivíduos namata de galeria da Cascatinha (PESCAN).

Figura 4: Relação entre altura (m) e dap (cm) do estrato arbóreo da mata de galeria daCascatinha (PESCAN).

Classe de Altura (cm)

Núm

ero

de In

diví

duos

�������������

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

�������������������������������������������������������������������������������������������

���������������������������������������

�������������������������� ������������� �������������

0

400

800

1200

1600

2000

2400

0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 81-90 91-100

y = 4,2895Ln(x) - 2,7811R2 = 0,9677

0

2

4

6

8

10

12

14

0 5 10 15 20 25 30 35

DAP (cm)

Altu

ra (m

)

Page 162: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

155

IMPACTO DO FOGO EM ASPIDOSPERMA TOMENTOSUMMART. (APOCYNACEAE0 NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA

DE CALDAS NOVAS (PESCAN)

Patricia Rodin

INTRODUÇÃOO fogo é considerado como um dos

fatores determinantes da estrutura efuncionamento das savanas (Frost et al.,1985). No Cerrado, sua presença é muitoantiga, datada em 32.000 A.P. (Salgado-Labouriau et al., 1998), indicando que avegetação há muito coexiste com estaperturbação. O fogo, portanto, exerce umaforte pressão de seleção a qual as plantas docerrado estão adaptadas. No entanto, ohomem alterou a época natural deocorrência do fogo no Cerrado (Ramos-Neto e Pivello, 2000), e aumentou suafreqüência. Ele atualmente ocorre naestação seca, e no intervalo de 1-3 anos(Coutinho, 1990; Eiten & Sambuichi,1996), submetendo a vegetação a um tipode perturbação diferente da qual estáadaptada (Hoffman & Moreira, 2002).

O fogo provoca mudanças naflorística, na fitossociologia e na estruturada comunidade vegetal (Frost e Robertson,1987). As mudanças na comunidade sãoconsequências diretas das alterações queocorrem nas populações das espécies que acompõem. Desta forma, é essencial oestudo do impacto do fogo nas populações,para compreendemos as mudanças nacomunidade.

O objetivo deste trabalho foideterminar o impacto do fogo emAspidosperma tomentosum, uma espécieabundante e de ampla distribuição nocerrado s.s., contribuindo, assim, para oentendimento das mudanças que ocorremna comunidade do cerrado s.s., quandosubmetida ao atual regime de queima.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi realizado em duas áreas

de cerrado sensu stricto, no Parque Estadual

da Serra de Caldas Novas (PESCAN),Caldas Novas, Goiás. As duas áreasestudadas estão separadas por uma estradade aproximadamente 3 m de largura.Ambas foram submetidas a um evento dequeima, sendo que a área 1 foi queimadaem 1999 e a área 2 em setembro de 2002,mês imediatamente anterior ao do estudo.

O trabalho foi realizado no final desetembro de 2002, transição da estação secapara a chuvosa. Foram estabelecidosaleatoriamente 10 transecções de 100 m emcada área, onde cinco distavam 10 m entresi, e 200 m dos outros cinco transectos.Todos os indivíduos de Aspidospermatomentosum que se situavam 2,5 m paracada lado da transecção foramconsiderados. Desta forma, em cada área foiamostrado 0,5 ha.

Foram medidos a altura e o diâmetrodo caule no nível do solo e observado oestágio fenológico de todos os indivíduosamostrados de A. tomentosum, para que oimpacto do fogo na estrutura populacional enos estágios vegetativo e reprodutivopudesse ser determinado. Os valores dealtura e diâmetro foram agrupados emintervalos de classe, definidos pela fórmulaA/K, onde A representa a amplitude para oparâmetro (altura ou diâmetro), e K édefinido pelo algoritmo de Sturges: K: 1 +3,3 x log n10, onde n é o número deindivíduos (Fonseca & Martins 1986). Oestudo da fenologia consistiu na observaçãodas seguintes fenofases: i) Brotação foliar;ii) Floração; iii) Frutificação. A intensidadeda fenofase foi classificada de acordo com aporcentagem de ramos onde ela foiobservada, onde zero (0) correspondeu àausência do evento; um (1) a presença doevento em 1-25% dos ramos; dois (2) a 26-75% dos ramos; três (3) a 76-100% dos

Page 163: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

156

ramos. Os indivíduos foram consideradoscomo rebrotas, quando distavam menos de30 cm de um indivíduo adulto (Eiten &Sambuichi, 1996).

Os dados foram analisados usando oprograma BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000).Foram utilizados os testes estatísticos Qui-Quadrado e Kolmogorov-Smirnov paraaveriguar, respectivamente, se haviadiferença significativa entre a brotaçãofoliar e a floração das duas área estudadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs populações das duas áreas

estudadas apresentaram abundânciadiferente, a área 2 composta por 91indivíduos (182 indiv/ha), enquanto a área1, por 49 indivíduos (98indiv/ha). Estadiferença não pode ser atribuída apenas àmortalidade de indivíduos pelo fogo, eladeve ser atribuída, principalmente, à típicavariação da distribuição das espécies queocorre no Cerrado, freqüentementeassociada ao mosaico de condições edáficas(Goodland, 1971; Frost et al., 1985).

As duas populações de A. tomentosumestudadas foram, nos últimos 4 anos,submetidas a um (1) evento de queima, naestação seca. Uma vez que, populações deuma mesma espécie devem responder deforma semelhante a um mesmo regime defogo e época de queimada, a estrutura dapopulação da área 2, queimada em 2002,constitui-se no melhor instrumento deelucidação da atual estrutura do populaçãoda área 1, queimada em 1999, porrepresentar a resposta imediata dapopulação à queima, que influencia naestrutura por alguns anos.

As populações estudadas nãoapresentaram um padrão de distribuição “Jinverso” (Figura 1), que caracteriza umapopulação estável e auto-regenerante(Whitmore, 1975). A estrutura instáveldestas populações se deve, possivelmente, aocorrência do evento de queima, que afetade forma diferenciada as diversas classes detamanho.

As classes de tamanho menores, deintervalo de altura 0,5-3,1 e intervalo de

diâmetro 1,5-3,7, foram as mais afetadas(Figura 1 e 2), o que pode ser constatado naárea 2 pelo baixo número de indivíduosdestas classes. Este impacto tambémocorreu na população da área 1, pois onúmero de indivíduos da classe de diâmetro3.8-6.9, e da classe de altura 1.4-3.1, ébaixo e menor que as classes de alturasuperior, podendo ser explicado por umaprovável mortalidade em 1999 das classescitadas para a área 2, onde apenas aquelesindivíduos que sobreviveram a queimaatingiram estas classes. Este resultadotambém foi encontrado por Silva et al.(1996), Sato & Miranda (1996), e Medeiros(2002), os quais verificaram que amortalidade das plantas lenhosas édeterminada pelo porte do indivíduo, alturae diâmetro. Nestes trabalhos, os indivíduoscom altura inferior a 2,0 m e com diâmetromenor que 5 cm apresentaram a maior taxade mortalidade, pelo fato de estaremsituados na zona crítica de temperatura(Miranda et al. 1993), e não possuíremespessura de casca suficiente paraprotegerem o câmbio (Frost &Robertson,1987; Sato & Miranda, 1996).

No intervalo de altura entre 3,2-6,7 m,o fogo não parece causar grande impacto,pois a maioria das queimadas em savanas éde superfície, com a altura das chamas entre0,8 e 2,8 m (Frost & Robertson,1987).Assim, os indivíduos das classes maioresestariam numa altura de escape da frente defogo. Tal assertiva pode ser comprovadapela semelhança na estrutura da populaçãodas duas áreas a partir da classe de altura3,2-4 m (Figura 1). Isto se deve,principalmente, ao fato destes indivíduosapresentarem diâmetro do caule maior que5,5 cm, o que lhes conferem uma maiorproteção contra o fogo (Sato & Miranda,1996; Silva et al., 1996).

No Cerrado, o diâmetro constitui-seno melhor parâmetro para a determinaçãoda resistência das plantas lenhosas ao fogo,uma vez que elas não investem nocrescimento em altura, alcançando emmédia 3-8 m (Sarmiento et al. 1895). Noentanto, investem muito em crescimento

Page 164: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

157

secundário do caule, desenvolvendo umaespessa camada de cutícula, que protege ocâmbio da alta temperatura do fogo (Eiten,1994; Rizzini, 1997).

A estrutura da população 1 apesar denão ser do tipo “J inverso” está seregenerando após o evento de queima de1999, representado pelos indivíduos daclasse de altura 0.5-1.3 m e de diâmetro1.5-3.7 cm (Figuras 1e 2). Este resultadoindica que a população de A. tomentosum écapaz de se regenerar sob o regime dequeima atual do cerrado, 1-3 anos. Estaregeneração parece ocorrer exclusivamentepor reprodução sexuada, uma vez que,foram encontrados apenas dois indivíduosda área 1 com rebrota basal e os jovens seencontravam mais de 30 cm de distância deum adulto.

O intervalo de queima atual doCerrado impede que muitas espéciestenham sucesso na reprodução sexual, efavorece a rebrota (Hoffman, 1998). Acapacidade de rebrota é uma adaptação detolerância ao fogo, no entanto, A.tomentosum evita o stress causado pelofogo através de um denso espessamento depêlos que protege as gemas apicais(Coutinho, 1982). Esta parece ser aadaptação que permite o sucessoreprodutivo e a conseqüente regeneraçãoobservada na população da área 1,queimada em 1999.

Além do regime de queima, a épocada queima é um fator de extremaimportância para determinar as respostas davegetação ao fogo, pois dependem doestágio fenológico em que as espécies seencontram (Frost et al. 1985, Coutinho1990). Muitas espécies lenhosas investemem renovação de folhas (Sarmiento et al.1985) e produção de estruturas reprodutivasdurante a estação seca (Sarmiento et al.1985; Bucci, 1997, Oliveira & Gibbs,2000), portanto a queima no fim da estaçãoseca acarreta num grande dano a estasespécies. A área 2 foi queimada emsetembro de 2002, o que deve ter causadodestruição da copa de muitos indivíduos.No entanto, como A. tomentosum é capaz

de proteger suas gemas apicais (Coutinho,1982), ela rapidamente refez sua copaatravés da produção de novas folhas.Porém, a brotação foliar dos indivíduosdesta área foi significativamente menosintensa que da área 1 (χ2 = 139,1; p=0,0001) o que era esperado devido a perdada energia investida em folhas novasanteriormente a queima.

Quanto aos estágios fenológicosreprodutivos, o investimento em botões eflores, por classe de altura e diâmetro foisemelhante nas duas áreas (D=0,1054 ep=0,9487; D=2,0027 e p=0,3674) (Figura3). A semelhança encontrada deve seratribuída à época em que foi realizado oestudo, que coincide com o fim da floraçãode Aspidosperma tomentosum (Oliveira &Gibbs, 2000). No entanto, muitos botões eflores devem ter sido destruídos na áreaqueimada em 2002, o que poderia serindicado, em parte, pela frutificação, cujaintensidade esperava-se que fosse maior naárea queimada em 1999 que na 2002.Porém, apenas dois indivíduos de cada áreaforam observados em frutificação, o quepode ser decorrente de uma produçãosupranual de frutos na área queimada em1999. Estes resultados impediram adeterminação do impacto do fogo sobre osestágios reprodutivos da espécie.

Apesar do estudo ter sido realizado nofim da floração, pode se observar que aporcentagem de indivíduos com presençade flores ou botões foi positivamenterelacionada com a altura (figura 3), o queestá de acordo com o fato de que o tamanhoda planta determina, em grande parte, a suacapacidade de reprodução (Harper, 1977).Uma vez que, o fogo destrói a parte aéreadas plantas, ele reduz o tamanho dosindivíduos, acarretando, assim, numimpacto negativo no crescimento futuro dapopulação (Hoffman & Moreira, 2002). Nafigura 3 pode-se observar que A.tomentosum é capaz de reproduzirsexuadamente a partir da classe de altura1,4-2,2 m.

De acordo com os resultadosapresentados, pode-se sugerir que A.

Page 165: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

158

tomentosum é uma espécie tolerante aofogo, pois apesar dos indivíduos dasmenores classes de tamanho sofreremgrande impacto, os indivíduos maiores sãocapazes de refazer a copa um (1) mês apósa queima, além de serem capazes deregenerarem sexuadamente sob o regime dequeima atual do cerrado. Esta classificaçãoestá de acordo com a de Sambuichi (1991).Apesar de A. tomentosum ser uma espécietolerante, ela contribui para a abertura doestrato lenhoso do Cerrado após a passagemdo fogo observada por Moreira (2000).

AGRADECIMENTOSAo Departamento de Ecologia da UnB

e da UFU pela realização do curso decampo em conjunto, que nos propiciou umaoportunidade ímpar de entender um poucomais da ecologia do Cerrado. Aosprofessores que ministraram o curso, porcontribuírem na formação de melhoresecólogos. Aos professores John Hay e JaderMarinho pela ótima coordenação do curso.Aos alunos do curso pelos inesquecíveismomentos de graça. Aos amigos Cláudio eMarcela pela ajuda no campo. Aosprofessores Maryland Sanchez e FernandoPedroni pela ajuda no campo e discussão dotrabalho. Aos professores John Hay eCarlos Klink pela revisão do trabalho. ADona Eunice pelos deliciosos quilinhos amais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAyres, M., Ayres Jr., M., Ayres, D. L.,

Santos, A. S. 2000. Biostat 2.0.

Bucci, F. F. B.1997. Floração dealgumas espécies deMelastomataceae do Distrito Federal:uso de dados de herbário para obterdados sazonais. Dissertação deMestrado. Universidade de Brasília.Brasília.

Coutinho, L. M. 1982. Ecologicaleffects of fire in Brazilian Cerrado.1982. In: B.J. Huntley & B.H.,

Walker (ed.). Ecology of TropicalSavannas. p.273-306.

Coutinho, L. M., 1990. Fire in the ofBrazilian Cerrado. In: Fire in thetropical biota - ecosystem processand global challenges. J.G.Goldmmer (ed.).Ecological studiesVol 8a. Berlin, Springer-Verlag.

Eiten, G. 1994. Vegetação. In: Novaes-Pinto, M. (ed.). Caracterização,ocupação e perspectivas. Editorauniversidade de Brasília. Brasília,DF. p. 17-73.

Eiten, G. & Sambuichi, R.H. 1996.Effect of long-term periodic fire onplant diversity in a Cerrado. In: R.C.Pereira & L.C.B. Nasser (eds.).Biodiversity and sustainableproduction of food and fibers in thetropical savannas. VIII Simpósiosobre o cerrado. Anais / 1st

Internacional Symposium onTropical Savannas. Proceedings.Brasília. 46-55 p.

Fonseca, J. S. & Martins, G. A. 1986.Curso de Estatística. 3. Ed. Atlas,São Paulo, 286 p.

Frost, P., Medina, E., Menaut, J.C.,Solbring, O., Swift, M., Walker B.1985. Responses of savannas tostress and disturbance. Biologyinternational, Special Issue, 10.

Frost, P. G. H. & Robertson, F. 1987.The ecological effects of fire insavanna. In: Determinants of tropicalsavannas. B.H. Walker (ed.). IRLPress Limited, Oxford. p.93-139.

Goodland, R.1971. A physionomicanalysis of the cerrado vegetation ofCentral Brazil. Journal of Ecology59: 411-419.

Page 166: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

159

Harper, J. L. 1977. Population biologyof plants. Academic Press. NewYork.

Hoffman, W. A. 1998. Post-burnreproduction of woody plants in aneotropical savanna: the relativeimportance of sexual and vegetativereproduction. Journal of AppliedEcology 35: 422-433.

Hoffman, W. A. & Moreira, A. G. 2002.The role of fire in populationdynamics of woody plants. In: P.Oliveira, & R. J. Marquis (ed.). TheCerrados of Brazil. Ecology andnatural history of a neotropicalsavannas. Columbia UniversityPress. New York. p. 159-177.

Medeiros, M. B. 2002. Efeitos do fogonos padrões de rebrotamento emplantas lenhosas, em campo sujo.Dissertação de Mestrado.Departamento de Ecologia.Universidade de Brasília. Brasília.

Miranda, A. C., Miranda, H. S., Dias, I.F. O., Dias, B. F.S. 1993. Soil and airtemperature during prescribedcerrado fires in Central Brazil.Journal of tropical Ecology 9:313-320.

Moreira, A. G. 2000. Effects of fireprotection on savanna structure inCentral Brazil. Journal ofBiogeography 27:1021-1029.

Oliveira, P. E. & Gibbs, P. E. 2000.Reproductive biology of woodyplants in a cerrado community ofcentral Brazil. Flora 195: 311-329.

Ramos-Neto, M. B. & Pivello, V. M.Lighting fires in a brazilian savannanational park: rethinkingmanagementstrategies.EnvironmentalManagement 26(6):675-684.

Rizzini, C. T.1997. Tratado deFitogeografia do Brasil: aspectosecológicos, sociológicos e florísticos.Âmbito Cultural Edições Ltda.

Salgado labouriau, M. L., Barberi, M.,Ferraz-Vincentini, K. R. & Parizzi,M. G. 1998. A dry climatic eventduring the late Quartenary of tropicalBrazil. Review of Paleobotany andPalynology 99: 115-129.

Sambuichi, R. H. R. 1991. Efeitos delongo prazo de fogo periódico sobrea fitossociologia da camada lenhosade um cerrado em Brasília, DF.Dissertação de Mestrado.Departamento de Ecologia.Universidade de Brasília. Brasília.

Sarmiento, G., Goldstein, G., &Meinser, F. 1985. Adaptation ofwoody species in savannas.Biological review 60 (3): 315-355.

Sato, M. N. & Miranda, H. S. 1996.Mortalidade de plantas lenhosas docerrado sensu stricto submetida adiferentes regimes de queima. In:H.S. Miranda, C.H. Saito & B.F.S.Dias (org.), Impactos de queimadasem áreas de Cerrado e Restinga.ECL/UnB, Brasília. p.102-111.

Silva, G. T., Sato, N. M., Miranda, H. S.1996. Mortalidade de plantaslenhosas em campo sujo de cerradosubmetido a queimadas preescritas.In: H.S. Miranda, C.H. Saito &B.F.S. Dias (org.), Impactos dequeimadas em áreas de Cerrado eRestinga. ECL/UnB, Brasília. p. 93-101.

Whitmore, T. C. 1975. Tropical rainForest of the far east. Claredon Press.Oxford.

Page 167: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

160

A

0

5

10

15

20

25

0,5-1,

3

1,4-2,

2

2,3-3,

1

3,2-4,

0

4,1-4,

9

5,0-5,

8

5,9-6,

7

Classe de altura (m)

Núm

ero

de in

diví

duos

B

0

5

10

15

20

25

0,5-1,

3

1,4-2,

2

2,3-3,

1

3,2-4,

0

4,1-4,

9

5,0-5,

8

5,9-6,

7

Classe de altura (m)

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 1: Número de indivíduos por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002(B) no PESCAN.

Page 168: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB)

161

A

0

5

10

15

20

25

1,5-2,

1

2,2-3,

7

3,8-5,

3

5,4-6,

9

7,0-8,

58,6

-10,1

10,2-

11,7

11,8-

13,3

Classe de diâmetro (cm)

Núm

ero

de in

diví

duos

B

0

5

10

15

20

25

1,5-2,

1

2,2-3,

7

3,8-5,

3

5,4-6,

9

7,0-8,

5

8,6-10

,1

10,2-

11,7

Classe de diâmetro (cm)

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 2: Número de indivíduos por classe de diâmetro na área queimada em 1999 (A) e em2002 (B) no PESCAN

A

020406080

100

0,5-1,

3

1,4-2,

2

2,3-3,

1

3,2-4,

0

4,1-4,

9

5,0-5,

8

5,9-6,

7

Classe de altura

% d

e in

diví

duos

B

020406080

100

0,5-1,

3

1,4-2,

2

2,3-3,

1

3,2-4,

0

4,1-4,

9

5,0-5,

8

Classe de altura

% d

e in

diví

duos

Figura 3: Porcentagem de indivíduos em estágio vegetativo (preta) e em estágio reprodutivo(branca) por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002 (B) no PESCAN.

Page 169: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

162

MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIAParque Estadual da Serra de Caldas Novas

Projetos Finais (UFU)

Set/02

Page 170: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

163

RELAÇÃO ENTRE A FAUNA DE INVERTEBRADOS E NINHOS DE

TÉRMITAS (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE

CERRADO DO PESCAN-GO

Carlos Henriques G. Angeluci

INTRODUÇÂOA organização social envolve duas

Ordens em Insetos, uma delas é a Isoptera,a qual compreende os cupins. A outra é aHymenoptera, que inclui formigas eabelhas. Todo inseto social exibe um graude polimorfismo e os diferentes tipos deindivíduos da colônia são chamados castas.

Térmitas (cupins) vivem em ninhosusualmente construídos no solo, os quaisem muitas espécies podem ser grandes eestruturalmente complexos. Muitos térmitasdependem da celulose como fonte dealimento e flagelados simbióticos para a suadecomposição (Rupert & Barnes 1994).

Os cupins constituem um importantecomponente da fauna de solo de regiõestropicais, sendo notável sua participação nadecomposição e ciclagem de nutrientes. Elesapresentam grande abundância em florestas esavanas tropicais, como é o caso da FlorestaAmazônica, onde, juntamente com asformigas correspondem a cerca de 30% dabiomassa animal (Constantino &Schlemmemeyer 2000). Em regiões decerrado eles atingem densidadesimpressionantes sendo potencialmenteconsiderados espécies chaves (Redford 1984)e representam provavelmente a forma animaldominante em muitas áreas do Brasil Central,tanto em número de espécies como biomassa( Negret & Redford 1982).

Os térmitas representam umaconsiderável fonte de alimento para outrosinvertebrados assim como, para muitosvertebrados, além disso, seus ninhosfornecem um atraente hábitat para uma amplaassembléia de organismos, desde anfíbios,répteis, mamíferos a várias espécies de

artrópodes. No entanto, a natureza de taisassociações com térmitas nos neotrópicos é,na maioria dos casos, pouco conhecida(Araújo 1970).O trabalho teve como objetivos: (a) avaliar acomposição de fauna de invertebradosencontrada em ninhos de térmitas; (b)determinar se há alguma diferença entre asduas fisionomias, cerrado sentido restrito ecampo sujo, com relação às espéciesencontradas.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi conduzido em duas áreas

do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN) entre os municípios de CaldasNovas e Rio Quente-GO, na primeira semanade outubro de 2002. Uma das áreascompreende formação de cerrado sentidorestrito e a outra de campo sujo, distando asduas aproximadamente 500m. Em cada áreaforam feitos transectos de 20X50m dispostosparalelamente a uma das estradas que cortamo Parque. Na área de cerrado de coordenadas17° 47’07” S e 48° 40’ 06” O, regristradas apartir de um dos pontos da estrada, foramfeitos quatro transectos e na de campo sujo,17° 46’ 47” S e 48° 40’ 20” O, cinco.

Foram considerados todos os ninhosterrestres encontrados e suas alturas ecircunferências medidas. Os ninhosdanificados, com arranhões na superfície oucom buracos na base foram anotados.Naqueles que apresentavam buracos, foiintroduzido gás butano, para forçar a saída depossíveis animais abrigados em seu interior.Posteriormente os ninhos foram destruídos eos organismos encontrados recolhidos em

Page 171: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

164

vidros com álcool a 70% e levados paraidentificação.

Para o cálculo do valor de χ2 foiutilizado o pacote Systat-5.03, 1990.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam encontrados 59 ninhos na área

de campo sujo e 34 na de cerrado, sendo quena primeira área a densidade de ninhos foiaproximadamente 72% maior que nasegunda. Já a densidade de formigas porninho foi igual para as duas áreas, 0,61formigueiro/ninho.

Pela análise dos organismos retiradosdos ninhos, o grupo Hymenoptera foi o queapresentou a maior distribuição e maiornúmero de espécies, 13, sendo que, destas, 11foram da família Formicidae. O segundomaior grupo foi o Aranae com 4 espécies,como mostra a figura 1. A espécie de formigamais encontrada foi a Camponotus renggeri,aparecendo com maior freqüência na área decampo sujo.

As espécies de formigas identificadase as freqüências de cada espécie em relaçãoàs duas áreas estão dispostas na figura2.

Como observado em outras regiões,através de estudos feitos por Dejean e Durand(1996), a ocorrência de formigas emcupinzeiros para a área estudada tambémapresentou grande número de espécies,apesar de ser pouco notado a dieta dessasinvasoras, sendo algumas provavelmenteexclusivamente termitófilas

Do total de ninhos observados, 57%apresentaram algum tipo de dano, perfuraçãoou escavação, provavelmente causadosrespectivamente por tatus e tamanduás, osprincipais vertebrados predadores de térmitasneste ambiente. Os tatus cavam buracoscaracterísticos com diâmetro maior que 10cmna base dos ninhos. Já os tamanduásusualmente arranham a superfície dosmesmos (Redford 1984). Os ninhos detérmitas quando intactos, sem danos,oferecem uma barreira difícil de sertransposta pelos invertebrados invasores,ocorrendo que, quando danificados, muitosanimais como formigas, vespas, besouros e

aranhas aproveitam esse período vulnerávelpara realizarem rápidos ataques e invasões.

Pelas freqüências de ninhosdanificados e não danificados encontradasnas duas áreas, pode-se observar que apresença de formigas não está associada comdanos nos cupinzeiros, arranhões ou buracos,como seria de se prever, nem tampouco como tipo de fisionomia. Os ambientes sãorelativamente iguais com ralação à freqüênciatotal, presença de formigas nos ninhos, comomostra a tabela 1.

Esta ausência de dependência entre osdanos nos ninhos e a presença de formigaspode também estar relacionada com o fato deque, quando o ataque por mamíferos nãochega a ser tão prejudicial, eliminandopequena porção da colônia e não matando arainha, os operários podem repararrapidamente o buraco ou arranhões,eliminando desta forma, os vestígios dedanos.O resultado do Teste χ2 para avaliar a relaçãoentre a porcentagem de ninhos danificadosentre os dois ambientes também não foisignificativo.(χ2 = 2,533; gl=1; P=0,112).

A relação entre as formigas e oscupins pode ser apenas de inquilinismo,como também não harmônica como predaçãoou “roubo” de recurso alimentar ( Araújo1970). Os Formicidae foram encontradospreferencialmente na porção lateral dosninhos de térmitas, provavelmente emcâmaras isoladas, e quando essas divisóriassão destruídas pode haver ataque dasformigas aos cupins.

Em dois ninhos foram encontrados,no interior de buracos cavados por tatus,restos de frutos de Syagrus flexuosa . Taisfrutos foram comidos e apresentavam marcasde mordidas que indicavam ser de roedores(J.Marinho com. pessoal), o que se supõe queestes mamíferos possivelmente utilizam essesambientes como abrigo.

AGRADECIMENTOSAgradeço aos professores da UNB e

UFU que possibilitaram a realização destecurso, em especial a John Hay e Heraldo L.

Page 172: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

165

Vasconcelos pelas orientação no trabalho ,aos funcionários e aos colegas de turma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO R.L. 1970.Térmites of NeotropialRegion.In Biology of Térmites.Vol.11:527-535. Academy Press.N.Y.

CONSTANTINO R.& SCHLEMMEYERT. 2000. Fauna silvestre da região do RioManso-MT. Brasília: Ministério do MeioAmbiente: 268p.

DEJEAN A. & DURAND J.L. 1996. Antsinhabitanting Cubitermes termitaries inAfrican Rain Forests. Biotropica,28(4b):701-713.

DOMINGOS D.J. 1983. Preferênciaalimentar de Armitermes euamignathus(Isoptera,Termitidae,Nasutitermes) emcinco formações vegetais do cerrado.Ver. Brasil.Biol.,43(4): 339-344.

DOMINGOS D.J.. 1985. Densidade edistribuição espacial de ninhos de duasespécies de Armitermes(Isoptera,Termitidae) em cinco

formações vegetais do cerrado.Rev.Brasil.Bio.,45(3): 233-240.

LACHERT T.E.& ALHO C.J.R. 1986.Termite community composition andmound characteristics in two grasslandformation in Central Brazil.Biotropica,18 (4): 356-369.

NEGRET H.R. & REDFORD K.H. 1982.The biology of nine species(Isoptera,Termitidae) from the Cerradoof Central Brazil.

REDFORD H.K. 1984. The Termitaria ofCornitermes cumulans (Isoptera,Termitidae) and their role in determininga potencial keystone species.Biotropica,16(2): 112-119.

RUPERT E.E. & BARNES R.D. 1996.Zoologia dos invertebrados.6 ed-SãoPaulo: 1029p.

SANTOS P.S. & FERREIRA R.L.2001.Fauna de artrópodes associada aninhos de Constrictotermes cyphergaster(Isoptera, Termitidae) em área decerrado no Estado de Minas Gerais,.Relatório de Campo-UFMG: 93-101.

Tabela 1. Número de ninhos danificados (D) e não danificados (N), com presença (C) ouausência de formigas (S) em seu interior.

D/C D/S N/C N/S

CAMPO SUJO 17 16 13 13

CERRADO 12 12 4 5

Page 173: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

166

Figura 1. Abundância de espécies de invertebrados presentes em cada táxon encontrado nosninhos.

Figura 2. Frequência de espécies de formigas nas áreas de cerrado sentido restrito e camposujo.

���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

�������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������

������������������������������������������

������������������������������������������������������������������������

����������������������������������������������������

���������������������������������������������

������������������������� 44%

13%10%

10%

7%

7%

3%3% 3%

���� Hymenoptera����

Aranae����Ortoptera����Blattaria����

���� Opilione�������� Chilopoda�������� Diplopoda���� Diptera����

Coleoptera

0123456789

10

Campo

notus

reng

geri

Campo

notus

cras

sus

Campo

notus

sp1

Campo

notus

sp2

Campo

notus

sp3

Campo

notus

sp4

Campo

notus

sp5

Campo

notus

sp6

Cremato

gaste

r sp1

Cepha

lotes

sp1

Pseu

domyrm

ex1

espécie

freq

uênc

ia a

bsol

uta

campo sujo cerrado

Page 174: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

167

UM TESTE DO MODELO DE JANZEN-CONNELL COM DUAS

ESPÉCIES ARBÓREAS DO CERRADO

Claudio Franco Muniz

INTRODUÇÃOVários modelos foram propostos

para explicar a manutenção da altadiversidade nas florestas tropicais. Omodelo mais conhecido é o de Janzen(1970) E Connell (1971), que assume que,devido à forte chuva de sementes embaixodas árvores frutificando, os predadores epatógenos tenderão a se concentrar maispróximos às plantas parentais, onde amortalidade de plântulas é geralmentecompleta. Propágulos dispersos longe daplanta-mãe escapam da predação maisfacilmente e, com isso, apresentam maiortaxa de sobrevivência. Um pico derecrutamento de plântulas pode ocorrer emalguma distância a partir dela, sendogeralmente, fora da área de abrangência dacopa e das suas adjacências. Por outro lado,propágulos de outras espécies vegetais sãocapazes de colonizar o espaço vazio emtorno da planta-mãe, mantendo assim adiversidade. Howe & Smallwood (1982)chamaram a isto de hipótese de fuga. Nasflorestas tropicais, os predadores epatógenos são particularmente efetivos eabundantes, sendo assim, uma forçasignificativa na manutenção da excepcional diversidade vegetal dessascomunidades (Clark & Clark, 1984).

Embora os efeitos de densidade edistância sobre a sobrevivência de sementese plântulas tenha sido o foco de váriosestudos nos trópicos (Cintra, 1997), aimportância relativa desses efeitospermanece controversa. Muitos estudos decampo têm mostrado evidências do modelode Janzen-Connell (Leite & Rankin, 1981;Augspurger, 1983, 1984; Augspurger &Kelly, 1984; Howe et al., 1985; Clark &Clark, 1987; Forget, 1989; Kitajima &Augspurger, 1989; Schupp, 1992; Condit et

al., 1992, 1994), embora uma grandevariação tenha sido encontrada para adistância máxima em relação ao parental epara a densidade mínima de jovens co-específicos, nos quais os efeitosdependentes de densidade podem serdetectados. Por outro lado, foramencontrados casos em que os efeitos dadensidade e da distância não estãoconforme esse modelo (Connell, 1971;Hubbell, 1979; Condit et al., 1992; Burkey,1994). Hubbell (1979), publicou umextenso estudo de dispersão de árvores emuma mata seca na Costa Rica, mostrandoque a ampla dispersão seria uma forma dediminuir a predação. Muitas espéciesencontraram-se agregadas, ocorrendo umaalta densidade média de indivíduos co-específicos nas proximidades da planta-mãe.

Sabendo-se que os mecanismos demanutenção da alta diversidade ecomplexidade das florestas tropicais variamcom o tempo, local e espécie, espera-se que,da mesma forma, os padrões espaciaisreflitam tais variabilidades. Neste sentido,Burkey (1994), testando as premissas domodelo de Janzen-Connell com sementesdispersas por uma espécie arbórea tropical,propôs que seriam necessários mais estudospara diferentes espécies e localidades, e emmaiores escalas espaciais e temporais, parase obter resultados mais conclusivos sobreos mecanismos que controlam adistribuição espacial das espécies.

A maioria dos trabalhosrelacionados ao teste do modelo de Janzen-Connell enfocaram espécies arbóreas deflorestas tropicais úmidas. Apesar daimportância do Cerrado, existe umacarência de informações fisiológicas,ecológicas, florísticas e fitossociológicas,

Page 175: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

168

entre outras (Felfili et al., 1993), sobretudosobre a manutenção da sua diversidade.Neste sentido, o presente trabalho teve porobjetivo testar as predições e premissas domodelo de Janzen-Connell, por meio dadistribuição espacial de sementes e deindivíduos jovens em torno de plantasadultas das espécies Aspidospermamacrocarpon e Hymenaea stigonocarpa.

Segundo Eiten (1993) a flora doBioma Cerrado brasileiro é composta dedois estratos: arbóreo-arbustivo e herbáceo-graminoso, apresentando elevadadiversidade de espécies vasculares, inferiorapenas à floresta tropical úmida. Éconsiderado como a flora mais rica entre assavanas mundiais (Klink, 1996). Em umarecente compilação de sua flora, Mendonçaet al. (1998) contabilizaram 6.429 espéciesvasculares.

MATERIAL E MÉTODOSCaracterização da área de estudo e dasespécies

O estudo foi conduzido em uma áreade cerrado sentido restrito, no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), Goiás, em Outubro de 2002. OParque foi criado em 1970 e está localizadoentre os municípios de Caldas Novas e RioQuente, no Sudeste Goiano. Possui umaárea de 123 km2 em formato elipse, sendo otopo constituído de um grande platô, aslaterais com encostas que formam muralhasnaturais, e o sopé da serra fazendo divisãocom fazendas e loteamentos urbanos(Mariana Lima, dados não publicados).

Aspidosperma macrocarpon Mart.,1824, também conhecida como guatambu,ocorre em áreas de cerrado sentido restrito ecerradão. A floração ocorre de agosto aoutubro, e a frutificação principalmenteentre março e junho (época seca), apóslongo período de maturação. As árvores sãohermafroditas e atingem alturas de até 15m, e os troncos e ramos são suberosos. Asfolhas são alternas, simples e pecioladas.Suas flores são actinomorfas, com cerca de1,5 cm, corola branca e tubulosa. Os frutossão em forma de folículo, com até 18 cm de

comprimento, cinza-escuro. As sementessão em grande número, com comprimentovariando de 6 a 9 cm, de cor creme,arredondadas, planas, aladas e onduladas(Almeida et al., 1998).

Hymenaea stigonocarpa Mart. exHayne, 1830, conhecida como jatobá,também ocorre em áreas de cerrado sentidorestrito e cerradão. O período de floraçãovai de outubro a abril com pico dedezembro a março. A frutificação ocorre deabril a julho. Árvore hermafrodita de até 10m, com casca do tronco áspera. As folhassão alternas, compostas bifolioladas,pecioladas, com estípulas caducas. Asflores variam de 2 a 3,5 cm, de corola alva eactinomorfa. O fruto é um legumeindeiscente com cerca de 15 x 6 cm, breve-estipitado, castanho-avermelhado, brilhante;endocarpo e mesocarpo creme, farináceo;sementes em pequeno número, com cercade 1,5 x 2 cm (Almeida et al., 1998).

MetodologiaForam escolhidos aleatoriamente em

uma área de cerrado sentido restrito, noveindivíduos adultos (plantas-mãe) de H.stigonocarpa e três de A. macrocarpon (emfrutificação e dispersão), distantes pelomenos 50 m entre si. Foram medidas aaltura, a circunferência ao nível do solo(CNS) e o raio da copa de cada indivíduo.Em torno dos indivíduos de H.stigonocarpa foram amostradas todas asplantas jovens da espécie nas proximidades,sendo medidas a altura, a CNS, a distância ea inclinação em relação à base do tronco daplanta-mãe, por meio de vara graduada, fitamétrica, trena e bússola, respectivamente.Essas plantas jovens foram consideradascomo prováveis progênies do indivíduoadulto. Para A. macrocarpon foramamostradas todas as sementes dispersas nasproximidades dos indivíduos adultos, sendoverificadas as condições quanto à predaçãoe medidas a distância e a inclinação dessasem relação às plantas-mãe, com auxílio detrena e bússola, respectivamente.Posteriormente, as medidas de distância einclinação das plantas jovens e sementes

Page 176: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

foram plotadas em relação às plantas-mãepor meio do programa Autocad versão 14,para confecção de mapas de distribuiçãoespacial. Em laboratório, as sementes foramsubmetidas à medição de massa em balançade precisão. A área dessas também foiestimada por aproximação da área da elipse,segundo a seguinte fórmula:

Área = ;

AnáH. s

planintedo planregrparaCNpor distesconovDesdistproj

A. m

semintedo um consemregrdiste dutilidistao radu

RES

Para as duas espécies estudadas foifeito o mapeamento das sementes e dosindivíduos jovens distribuídosespacialmente em torno das plantas-mãe(Figs. 1 e 2). Apenas com os dados dedistância e inclinação, e auxílio doprograma Autocad, foi possívelconfeccionar mapas de maneira eficiente esatisfatória.

Para os indivíduos de H.stigonocarpa estudados, a densidade deplantas jovens estava correlacionadasignificativamente com a distância dasplantas-mãe (R = -0,94, N = 28, p =0,0053). A circunferência ao nível do solo

π × (R2 + r2)-2

lise dos dados

Onde:

R = raio maior da elipser = raio menor da elipse

169

tigonocarpa Para o cálculo da densidade de

tas jovens, foram determinados seisrvalos de distância de 6 em 6 m a partirtronco das plantas-mãe, em que essastas foram contadas. As análises deessão linear simples foram realizadas densidade e distância da planta-mãe,

S e distância, e para altura e distância,meio do programa Prophet versão 5. Aância de 6 m para cada intervalo foilhida porque os raios das copas dos

e indivíduos adultos variou de 4 a 7 m.se modo, o primeiro intervalo deância equivaleu ao raio médio deeção das copas.

acrocarponPara o cálculo da densidade de

entes, foram determinados cincorvalos de distância de 3 em 3 m a partirtronco dos indivíduos adultos. Em cadadessas faixas de distância foram feitastagens e numerações de todas asentes. Foram realizadas análises deessão linear simples entre densidade eância da planta-mãe, massa da sementeistância, e área da semente e distância,zando o programa Prophet versão 5. Aância de 3 m foi escolhida por se referiraio médio da projeção da copa dos trêsltos analisados.

ULTADOS E DISCUSSÃO

(CNS) dos jovens também estavacorrelacionada significativamente com adistância (R = 0,38, N = 28, p = 0,0469).Por outro lado, não houve correlaçãosignificativa entre a altura e a distância (R =0,24, N = 28, p > 0,05). Tais resultadosevidenciam que os efeitos dependentes dadensidade e da distância estão operando e,que, com o aumento da distância, o portedos jovens aumenta (considerando apenas oCNS), demonstrando que deve haver umamaior facilidade para o estabelecimentocom o aumento da distância. Resultadosemelhante foi obtido por Clark & Clark(1984) para Dipteryx panamensis, relativoaos efeitos dependentes da densidade edistância por meio do monitoramento damortalidade e distribuição espacial deplântulas.

Para os indivíduos de A.macrocarpon estudados, a densidade desementes correlacionou significativamentecom a distância (R = -0,92, N = 85, p =0,0251). A massa e a área das sementescorrelacionou significativamente com adistância (R = 0,26, N = 85, p = 0,0162 e R= -0,30, N = 85, p = 0,0056,respectivamente). Não houve correlaçãoentre massa e área das sementes (R = -0,06,N = 85, p >0,05). A alta correlação entredensidade e distância permite concluir que,mesmo com a dispersão anemocórica, comsementes leves e aladas, a chuva desementes está concentrada nasproximidades da planta-mãe. As baixas

Page 177: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

170

correlações de massa e área das sementescom a distância, bem como a falta decorrelação entre massa e área, demonstramque não existe relação entre a distância dedispersão e o tipo de semente,diferentemente do padrão encontrado porMuniz & Cardoso (dados não publicados)para sementes de Terminalia phaeocarpa.Não foram encontrados danos por predaçãoe nem doenças nas sementes, indicandoprovavelmente, que a coleta das mesmaspode ter sido realizada recente à dispersão.Uma outra possível explicação, é que aregião sofreu queimada alguns dias antes dacoleta de dados, podendo, assim, ter sido ofator de desequilíbrio para as populações depredadores e patógenos específicos.

Para ambas espécies a densidade deindivíduos jovens e sementes correlacionounegativa e significativamente com adistância. Para H. stigonocarpa, talresultado permite concluir que os efeitosdependentes da densidade e da distânciapodem estar operando e que, o padrão atualde distribuição dos adultos é resultado dopadrão de mortalidade das sementes e/ouplântulas no passado (Augspurger, 1984).Neste sentido, verifica-se que a hipótese defuga (Howe & Smallwood, 1982) podeestar operando neste caso, uma vez que hápoucos indivíduos jovens nas proximidadesda planta-mãe. Para A. macrocarpon não sedeve tirar as mesmas conclusões pelo fatode apenas sementes terem sido analisadas.As sementes dispersas não indicam quetodas darão origem a indivíduosestabelecidos no futuro. Portanto, o padrãode distribuição encontrado para as sementesnesse estudo permite apenas deduzir que, osefeitos dependentes de densidade e dadistância provavelmente são válidos paraessa espécie. Desse modo, estudos futurosenvolvendo indivíduos jovens em torno deplantas-mãe de A. macrocarpon poderiamser mais eficientes para testar as prediçõesdo modelo de Janzen-Connell.

Os resultados do presente estudopara H. stigonocarpa suportam o modelo deJanzen-Connell. Cintra (1997), porém,ressalta que o mapeamento estático de

plântulas e indivíduos jovens em torno dasplantas-mãe não provê um teste direto dessemodelo, por ignorar as possibilidades demudanças nos padrões espaciais de ambosdevido a alterações temporais dos padrõesde recrutamento e mortalidade. Contudo, omapeamento realizado no presente estudopermitiu detectar de maneira rápida eeficiente os efeitos que operam sobre osindivíduos segundo a distribuição espacial.

A manutenção da alta diversidade deespécies vegetais nas florestas tropicaisúmidas e nos cerrados, provavelmente éregida pelas mesmas leis. O modelo deJanzen-Connell é uma tentativa de explicaresse fato e, dentre muitos (Burkey, 1994), éo mais conhecido. Sendo assim, há extremanecessidade de mais estudos para outrasespécies, outras localidades, e em diferentesescalas temporais e espaciais sobre o testedesse modelo.

AGRADECIMENTOSAgradeço ao nosso Coordenador do

Programa de Pós-Graduação, Profº Dr.Paulo E. Oliveira, pelo fundamental apoioem todos os momentos do Curso; ao meuorientador, Profº Dr. Ivan Schiavini; aosProfessores: Dr. Glein M. Araújo, Dr.Heraldo Vasconcelos, Dr. John Hay, Dr.Jader Marinho, Dr. Fernando Pedroni; aoscolegas da UNB (Patrícia, Ernestino, Caio eOtacílio) e aos demais colegas do Mestradoem Ecologia da UFU. Agradeço ainda aosfuncionários do PESCAN, aos motoristasda UFU e UNB, à cozinheira (D. Eunice); eà CAPES pelo auxílio.

LITERATURA CITADA

ALMEIDA, S.P., PROENÇA, C.E.B.,SANO, S.M., RIBEIRO, J.F. 1998.Cerrado: espécies vegetais úteis.Planaltina: Embrapa CPAC. 464 p.

AUGSPURGER, C.K. 1983. Seed dispersalby the tropical tree, Platypodiumelegans, and the escape of its seedlingsfrom fungal pathogens. Journal ofEcology 71: 759-771.

Page 178: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

171

AUGSPURGER, C.K. 1984. Seedlingsurvival among tropical tree species:interactions of dispersal distance, lightgaps and pathogens. Ecology 65: 1705-1712.

AUGSPURGER, C.K. & KELLY, C.K.1984. Pathogen mortality of tropical treeseedlings: experimental studies of theeffects of dispersal distance, seedlingdensity, and light conditions. Oecologia61: 211-217.

BURKEY, T.V. 1994. Tropical tree speciesdiversity: a test of the Janzen-Connellmodel. Oecologia 97:533 – 540.

CINTRA, R. 1997. A test of the Janzen-Connell model with two common treespecies in Amazonian forest. Journal ofTropical Ecology 13: 641-658.

CLARK, D.A. & CLARK, D.B. 1984.Spacing dynamics of a tropical rainforest tree: evaluation of the Janzen-Connell model. The American Naturalist124: 769-788.

CLARK, D.B. & CLARK, D.A. 1987.Population ecology and microhabitatdistribution of Dypteryx panamensis, aneotropical rain forest emergent tree.Biotropica 19: 236-244.

CONDIT, R., HUBBELL, S.P. & FOSTER,R.B. 1992. Recruitment near conspecificadults and the maintenance of tree andshrub diversity in a neotropical forest.The American Naturalist 140: 261-286.

CONDIT, R., HUBBELL, S.P. & FOSTER,R.B. 1994. Density depence in twounderstory tree species in a neotropicalforest ecology. Ecology 75:671-680.

CONNELL, J.H. 1971. On the role ofnatural enemies in preventingcompetitive exclusion in some marine

animals and in rain forest tree. In:BOER, P.J. den & GRADWELL, G.R.(eds.) Dynamics of populatons. Centrefor Agricultural Publishing andDocumentation, Wageningen. 298 – 312pp.

EITEN, G. 1993. Vegetação do Cerrado. In:Novaes Pinto, M. (org.). Cerrado:caracterização, ocupação e perspectivas.Brasília. Editora Universidade deBrasília. 17-73 pp.

FORGET, P. M. 1989. La regenerationnaturelle d’une espece autochore de foretGuyanaise: Eperua falcata Aublet(Caesalpiniaceae). Biotropica 21: 115-125.

FELFILI, J. M., SILVA JR, M. C.,REZENDE, A. V., MACHADO, V. J.,WALTER, B. M. T., SILVA, P. E. &HAY, J. D. 1993. Análise comparativada florística e fitossociologia davegetação arbórea do cerrado sensustrictu na Chapada Pratinha, DF. Brasil.Acta Botanica Brasilica 6(2): 27-46.

HOWE, H., SCHUPP, E., WESTLEY, L.1985. Early consequences of seeddispersal for a neotropical tree (Virolasurinamensis). Ecology. 66: 781-791.

HOWE, H., & SMALLWODD, J. 1982.Ecology of seed dispersal. AnnualReview of Ecology and Systematics 13:201-228.

HUBBELL, S.P. 1979. Tree dispersion,abundance, and diversity in tropical dryforest. Science 203: 1299-1309.

JANZEN, D.H. 1970. Herbivores and thenumber of tree species in tropicalforests.. The American Naturalist 104:501 – 528.

KITAJIMA, K., & AUGSPURGER, C.K.1989. Seed and seedling ecology of a

Page 179: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

172

monocarpic tropical tree, Tachigaliaversicolor. Ecology 70: 1153-1166.

KLINK, C. A. 1996. Relação entre odesenvolvimento agrícola e abiodiversidade. 25-27 pp. In: R. C.Pereira, L.C.B Nasser (Eds.). Anais VIIISimpósio sobre o Cerrado, 1st

International Symposium on TropicalSavanas – Biodiversidade e ProduçãoSustentável de Alimentos e fibras noscerrados. Embrapa CPAC. Brasília.

LEITE, A.M.C., & RANKIN, J.M. 1981.Ecologia de plântulas de Pithecelobiumracemosum Ducke. 1-Número de

distribuição dos indivíduos. ActaAmazônica 11: 19-34.

MENDONÇA, R. C., FELFILI, J. M.,SILVA JR, M. C., REZENDE, A.V.,NOGUEIRA, P. E., WALTER, B. M. T.& FILGUEIRAS, T. S. 1998. Floravascular do cerrado. 289-539 pp. In: S.M. Sano, S. P. Almeida (Eds.). Cerrado:Ambiente e Flora. Embrapa CPAC.Planaltina.

SCHUPP, E.W. 1992. The Janzen-Connellmodel for tropical tree diversity:population implications and theimportance of spatial scale. TheAmerican Naturalist 140: 526 – 530.

Page 180: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

173

Figura 1. Mapeamento das plantas-mãe e sementes de Aspidosperma macrocarpon. Ossímbolos indicam as plantas-mãe, os pontos, as sementes dispersas.

N

01

03

02

N

N

3 m

3 m3 m

Page 181: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

174

Figura 2. Mapeamento de nove plantas-mãe e seus indivíduos jovens da espécie Hymenaeastigonocarpa. Os símbolos com um círculo preto e duas linhas em cruz, representam asplantas-mãe, os triângulos, os indivíduos jovens (possíveis progênies).

Page 182: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

175

EMISSÃO DE VOLÁTEIS EM CURATELA AMERICANA: PISTA DA

PRESENÇA DE HERBÍVOROS PARA OS PREDADORES?

Flávio Rodrigues Oliveira

INTRODUÇÃOEm ambientes tropicais, muito tem

sido pesquisado sobre as interaçõesherbívoro planta (Coley & Barone 1996).De uma maneira geral, insetos herbívorospodem utilizar-se de todos os tipos detecidos vegetais, provocando vários danosàs plantas (Crawley 1983). Herbívorosmastigadores causam elevados danosfoliares, destruindo em grande parte a áreafotossintética das folhas (Coley & Barone1996; Edwards & Wratten 1981),comprometendo o desenvolvimento daespécie hospedeira. Os sugadores podematé mesmo matar a planta drenando seuscarboidratos e, também, reduzindo ocrescimento e produção de sementes.Em virtude dos danos causados pelosherbívoros às plantas, estas desenvolveramdiferentes estratégias em resposta a açãodesses consumidores primários (Begon etal., 1986; Crawley 1983; Gullan &Cranston 1994). Os mecanismos anti-herbivoria compreendem as seguintescategorias: defesas mecânicas oumorfológicas (dureza da folha e presença detricomas, espinhos e látex) (Davidson et al.,1989; Paleari & Santos 1998); defesasquímicas (compostos secundários comoalcalóides e taninos) (Edwards & Wratten1981) e defesas bióticas (associação comorganismos, principalmente interaçõeshomópteros/planta/formiga eplanta/formiga) (Coley & Aide 1991 apudPrice 1991; Del-claro et al, 1996; Del-Claro& Oliveira 1999; Oliveira et al, 1987).

Um grande número de substânciassecundárias foi caracterizado em plantas(Bernays & Chapman 1994). É pensado quemuitas destas substâncias possui relevantepapel em defesa contra herbívoros e, para

muitos isso foi experimentalmenteconfirmado (Agrawal 1998; Agrawal et al,1999; Harbone 1987, Karban & Baldwin1997). A produção e liberação desubstâncias seguido de dano foliar sãomuito comuns na maioria das espéciesvegetais (Agrawal 2000). Quando umherbívoro causa danos nas folhas, a plantainduz respostas defensivas pela produção decompostos secundários (Dicke 2000;Karban & Baldwin 1997). Trabalhosrealizados com Cecropia obtusifoliademonstraram que formigas do gêneroAzteca são recrutadas com maiorintensidade em folhas que apresentammaiores intensidades de herbivoria(Agrawal 1998). Este autor sugere que asformigas são capazes de reconhecer eresponder a sinais químicos liberados pelaplanta quando esta é atacada, desta forma,um potencial herbívoro é facilmenteencontrado pelas formigas. O objetivo desteestudo foi testar a hipótese de que plantasatacadas por herbívoros emitem substânciasvoláteis de atratividade para insetospredadores.

MATERIAL E MÉTODOSÁrea de estudo e espécie

Este estudo foi realizado nosperíodos matutino (08:00 – 12:30h) evespertino (15:00 – 19:00h) de 29 desetembro a 02 de outubro de 2002, noParque Estadual Serra de Caldas Novas(PESCAN), GO, situado entre osmunicípios de Caldas Novas e RioQuente/GO. Curatela americana(Dilleniaceae) é uma planta arbustivo-arbórea, possuindo folhas coreáceas.

Experimentação

Page 183: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

176

Formigas podem responder aoestímulo de um dano foliar causado porestímulos físicos, ou por reconhecimento deinformações químicas provindas de voláteisemitidos pelas plantas. Para testar estaúltima hipótese, 120 plantas com mesmascondições fenológicas receberam discos depapel filtro auto-adesivo (2,5mm diam.),totalizando 60 pares experimentais(tratamento/controle). As plantas de cadapar experimental distavam entre si de dois acinco metros de distância, esta medida foitomada para controlar todas as variáveispossíveis que viesse a interferir noexperimento.

Em ambas as plantas os discosforam postos na superfície adaxial de folhasjovens avermelhadas, distantes a 01cm doápice foliar. As plantas tratamentoreceberam uma gota de solução demacerado (folhas jovens + água destilada)de Curatela americana. As plantas controlereceberam apenas uma gota de águadestilada.

Foram feitas observações diretasdurante 20 minutos por par experimental,10 minutos por planta (primeiro tratamento,seguido por controle), totalizando 20 horas.Para identificação do estímulo químico porparte de insetos predadores, tomou-se comoparâmetro um raio de 40cm à posição dodisco, ou seja, qual quer predador que seaproximasse do raio de ação dos voláteis foiquantificado. Após cada observação, osdiscos eram retirados para se evitarinterferências no próximo par experimental.

Obtenção do extrato de Curatelaamericana

A solução com extrato de Curatelaamericana fora obtida por meio de ummacerado de 5g de folhas jovens (pesofresco) mais 50ml de água destilada. Foramescolhidas folhas integras de coravermelhada, sem sinais de herbivoria, comárea foliar de até 5cm2 (medidos com areameter CI 205). Foram retiradas 12 folhas de10 árvores, com mesmas condiçõesfenológicas, de quatro quadrantesimaginários. Todas foram condicionadas

em um único saco plástico, lavadas comágua destilada para se retirar às impurezas,secas em temperatura ambiente por doisminutos. O material foi submetido àtrituração manual com 30ml de águadestilada por 15min, seguido de filtraçãoem malha fina, e em um balão volumétricocompletado até 50ml e guardado em frascode vidro opaco previamente esterilizado.

Análises estatísticasTodo o estudo foi conduzido com

um desenho experimental pareado, semsobreposição de réplicas (plantas) entre umtratamento e outro. Foi utilizado teste deWilcoxon para medidas pareadas.

RESULTADOSUm total de 109 formigas,

pertencentes a dez espécies foi encontradas(Tabela 1). As formigas foram maisabundantes nas plantas tratamento com74,31% de patrulhamento. O gêneroCamponotus foi o mais presente em ambasplantas (53,08% plantas tratamento e60,71% em plantas controle).

Embora as formigas tenhamocorrido e ambas as plantas, somente nastratamento foi observado a presença deoutros artrópodes predadores (Tabela 2). Asplantas tratamento tiveram maiorpercentagem de predadores (77,34%)(Figura 1). Houve diferença significativa (P< 0,05, Wilcoxon para medidas pareadas)entre plantas tratamento (1,65 ± 1,76) eplantas controle (0,48 ± 0,85) (Figura 2).

DISCUSSÃOSegundo Oliveira & Brandão

(1991), a presença marcante do gêneroCamponotus é comum em plantas, tanto emregiões tropicais como temperadas.Camponotus encontra-se entre os gênerosmais prevalentes em escala mundial, porquepossuem diferentes adaptações para váriostipos de ambientes (Höldobler & Wilson1990; Del-Claro et al., 1996; Del-Claro1998; Wilson 1971). Diferentes espécies deformigas podem conferir um benefíciodiferencial às plantas com as quais estão

Page 184: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

177

associadas na vegetação de cerrado. Essesresultados condicionais em associaçõesinterespecíficas ocorrem também em outrosecossistemas (Bronstein 1994, 1998).

Este experimento que simula danofoliar com emissão de voláteis demonstrou,que as formigas são capazes de reconhecerodores liberados pelas plantas quando estassofrem ataque. Agrawal (1998), estudandoum sistema Azteca-Cecropia, demonstrouexperimentalmente que formigasrespondem mais rapidamente em folhas queforam danificadas do que aquelas que nãosofreram danos. Embora tenha ocorrido ummaior percentual de formigas sendo atraídasao extrato de Curatela americana, outrospredadores também foram observados,evidenciando que o sinal químico não éespécie-específica.

Nos sete casos em que foramobservados indivíduos da famíliaReduviidae sobrevoando o disco comemissão química, estas observações sóocorreram mediante ação eólica, visto quetais predadores se dirigiram às plantas nosentido contrário ao dos ventos, o queevidencia que a ação dos voláteis écondicionada por ações abióticas. Tambémfoi observado que a variação de temperatura(horários mais quente do dia), aaproximação de possíveis predadores erareduzida. Este fato talvez se deva à rápidavolatilização do extrato em decorrência doaumento da temperatura por incidênciasolar.

Embora muito menor, aaproximação de formigas aos discoscontroles, pode ser interpretada pelaorientação visual destes insetos, visto que acoloração branca de cada disco sesobressaiu sobre um fundo avermelhado. Asplantas estão sujeitas a danos provocadospor ações tanto bióticas como abióticas e,em ambos os casos são emitidos voláteis desinalização. O que diferenciará a eficiênciade um sinal do outro será a presença ou nãode um potencial herbívoro.

AGRADECIMENTOS

Sou muito grato aos funcionários doParque Estadual Serra de Caldas Novas pelaagradável acolhida, em principal aAlessandro Belisário, diretor do Parque. Atodos os professores que passaram pelocurso de campo, em especial ao Prof. Dr.John Hay por ter nós acompanhado porquase todo o curso. Um agradecimentoespecial a Dona Eunice por ter “engordado”todos os alunos e professores. Tambémagradeço ao amigo Cláudio F. Muniz pelacompanhia no campo, pelas risadas e,principalmente, apoio estatístico. A todosos novos amigos de Brasília e a Pedro(Bob) e, aos amigos da UFU. A GlaucoMachado e Jader Marinho pelas sugestõesno experimento.

LITERATURA CITADA

AGRAWAL A. A. 2000. Mechanisms,ecological consequences and agriculturalimplications of tri-trophic interactions.Plant Biology, 3: 329-335.

AGRAWAL A. A., LAFORSCH C;TOLLRLAN R. 1999. Transgenerationalinduction of defenses in animals andplants. Nature, 401 (2): 60-63.

AGRAWAL A. A. 1998. Leaf damage andassociated cues induce aggressive antrecruitment in a neotropical ant-plant.Ecology79: 2100-2112.

BEGON M., HARPER J. L., TOWSENDC. R. 1986. Ecology; Individualis,populations and communities. London:Blacwell Science, 876 p.

BERNAYS E. A., CHAPMAM R. L. Host-plant selection by phytophagous insects.Chapman and Hall: New York.

BRONSTEIN J. L. 1994. Conditionaloutcomes in mutualistic interactions.Trends Ecol. Evol., v. 9, p 214-217.

BROSTEIN J. L. 1998. The contribution ofant-plant protection studies to our

Page 185: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

178

understanding of mutualism. Biotropica,v. 30, p. 150-161.

COLEY P. D., BARONE J. A. 1996.Herbivory and plant defense in tropicalforest. Annu. Rev. Ecol. Syst., p. 305-335.

COLEY P. D., AIDE M. A. 1991.Comparison of herbivory and plantdefenses in Temperate and Tropicalbroad-leaved forests. Apud PRICE P. W.et al (eds.). Plant-animal interactions;evolutionary ecology in tropical andtemperate regions. John Wiley & Sons,New York, p. 163-175.

CRAWLEY M. J. 1983. Herbivory; thedynamics of animal-plant interactions.Oxford: Blackwell Scient.

DAVIDSON D. W., SNELLING R. R.,LONGINE J. T. 1989. Competionamong ants for myrmecophytes and thesignificance of plant trichomes.Biotropica, v. 21, n. 1, p. 64-73.

DEL CLARO K., OLIVEIRA P. S. 1999.Ant-homopteran interactions in aNeotropical Savanna: the honeydew-producing treehopper, Guayaquilaxiphias (Membracidae), and itsassociated ant fauna on Didymopanaxvinosum (Araliaceae). Biotropica, v. 31,n. 1, p. 135-144.

DEL-CLARO K. 1998. A importância docomportamento de formigas eminterações: formigas e tripés emPeixotoa tomentosa (Malpighiaceae), nocerrado. Revista de Etologia, n. especial,p. 3-10.

DEL-CLARO K., BERTO V., REU W.1996. Effect of herbivore deterrence byants on the fruti set of an extrafloralnectary plant, Qualea multiflora(Vochysiaceae). Journal of TropicalEcology, v. 12, p. 887-892.

DICKE M. 2000. Chemical ecology ofhost-plant selection by herbivorousarthropods: a multitrophic perspective.Biochemical Systematics and Ecology, v.28, p. 601-617.

EDWARDS P. J., WRATTEN S. D. 1981.Ecologia das interações entre insetos eplantas, São Paulo: EDP, 88 p. (Temasde biologia, 27).

GULLAN P. J., CRNSTON P. S. 1994. Theinsect; An outline of entomology.London: Chapman & Hall, 491 p.

HARBONE J. B. 1987. Chemical signals inthe ecosystem. Annals of Botany, 60 (4):39-57.

HÖLLDOBLER B., WILSON E. O. 1990.The Ants. Harvard Univ. Press,Cambridge, MA. 730 p.

KARBAN R. & BALDWIN I. T. 1997.Induced Responses to Herbivory.TheUniversity of Chicago Press: Chicago.319.

OLIVEIRA P. S., BRANDÃO C. R. F.1991. The ant community associatedwith extrafloral nectarines in theBrasilian cerrados. In: HUXLEY C. R.,CUTLER D. F. (eds.) Ant plantinteractions. Oxford: Oxford Univ.Press, p. 182-212.

OLIVEIRA P. S., SILVA A. F., MARTINSA. B. 1987. Ant foraging on extrafloralnectaries of Qualea grandiflora(Vochysiaceae) in cerrado vegetation;ants as potential antiherbivore agents.Oecologia, Berlin, n. 74, p. 228-230.

PALEARI L. M., SANTOS F. A. M. 1998.Papel do indumento piloso na proteçãocontra a herbivoria em Miconia albicans(Melastomataceae). Rev. Brasil. Biol.,Botucatu, v. 58, n. 1, p. 151-157, jan.

Page 186: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

179

WILSON N. O. 1971. The insects societies. Cambridge: Belknap Press.

Tabela 1 – Quantidade de formigas por espécie observadas nas plantas tratamento e controle, noParque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de2002.

PLANTASESPÉCIES

TRATAMENTO CONTROLE

Camponotus crassus 27 10

Camponotus rufpes 11 07

Camponotus sp1 04 00

Camponotus sp2 01 00

Cephalotes sp 17 03

Crematogaster sp 07 07

Pheidole sp 03 00

Pseudomyrmex sp1 07 01

Pseudomyrmex sp2 03 00

Pseudomyrmex sp3 01 00

TOTAL 81 28

Tabela 2 – Outros artrópodes observados próximos aos discos tratamento, no Parque EstadualSerra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002.

ARTRÓPODES OBSERVADOS PLANTAS TRATAMENTO

Insecta

Diptera

Hemiptera (Reduviidae)*

Hymenoptera (Vespidae)*

Mantódea

Arachinidae

Salticidae**

(*) Foram observados sobrevoando o disco tratamento. (**) Foram observados sobre o disco

tratamento.

Page 187: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

180

Figura q. Porcentagem de predadores observados nas plantas de Curatella americana noParque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de2002.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

TRATAMENTO CONTROLE

Plantas

% Predadores

Page 188: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

181

Figura 2. Wilcoxon para pareamento experimental entre plantas tratamento e controle noParque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de2002.

±Std. Dev.

±Std. Err.

Mean

PLANTAS

-1

0

1

2

3

4

TRATAMENTO CONTROLE

Page 189: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

182

PREDAÇÃO DE SEMENTES DE JATOBÁ DO CERRADO, HYMENAEA

STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE –

CAESALPINOIDEAE)

Hélder Nagai Consolaro

INTRODUÇÃOA estrutura das comunidades e suas

populações são reguladas pela competição,predação, disponibilidade de recurso efatores abióticos (Begon et al., 1996).Frutos, flores e sementes, por concentraremnutrientes como carboidratos, proteínas,lipídeos e minerais são procurados pordiversos animais, principalmente insetos(Lacerda et al., 2000, Fenner, 2002).Existem alguns insetos, principalmentebesouros, que são capazes de aproveitarefetivamente os frutos e predar as sementes,tornado-as inviáveis (Lopes, 1997). Aintensidade e o padrão deste tipo depredação podem afetar diretamente abiologia de populações de fanerógamas(Janzen, 1970). Dentre o enorme número desementes que podem ser produzidas duranteo ciclo de vida de uma planta, apenas umapequena proporção sobrevive até oestabelecimento ao estágio adulto; a grandemaioria sucumbe a predadores e/oupatógenos antes da germinação ou noestágio de plântula (Shepherd & Chapman,1998). Os efeitos positivos e negativosproporcionados direta e indiretamente pelapredação e competição são responsáveis poruma gama de situações com diferentescombinações entre predadores e presas(Etherington, 1976). Vários estudosdiscutem algumas possíveis respostasevolutivas de plantas contra predação(Wilson & Janzen, 1972; Center & Johnson,1974; Fernandes & Whithan, 1989; apudLomônaco, 1994). O jatobá do cerrado,Hymenaea stigonocarpa (Leguminosae –Caesalpinoideae), produz uma grandequantidade de frutos, servindo assim, comouma importante fonte de recurso para a

fauna local. Assim, o objetivo destetrabalho foi investigar a predação desementes de frutos de jatobá em fase pré-dispersão.

MATERIAL E MÉTODOSO estudo foi realizado no mês de

setembro de 2002 no Parque Estadual daSerra de Caldas Novas (PESCAN)localizado entre os municípios de CaldasNovas e Rio Quente - GO, sendo a áreacaracterizada por um cerrado sentidorestrito.Foram coletados frutos em pré-dispersão decinco indivíduos adultos de Hymenaeastigonocarpa (jatobá do cerrado,Leguminosae – Caesalpinoideae). Em trêsindivíduos foram recolhidos todos os frutos,devido o pequeno número de frutospresentes, variando, assim o número defrutos analisados entre os indivíduos. Emlaboratório foram coletados todos osinvertebrados encontrados no interior dosfrutos e das sementes e anotadas asseguintes medidas: peso e comprimento dosfrutos, número de sementes por fruto e onúmero de predadores por semente.Utilizou-se o Índice de correlação dePearson com o auxílio do programaBioEstat 2.0.

RESULTADOSForam coletados, em cinco

indivíduos de jatobá do cerrado 47 frutosem pré-dispersão. O número total desementes foi de 275, perfazendo uma médiade 5.85 (± 2.53) sementes por fruto. O número de sementes por fruto apresentouuma correlação significativa com otamanho do fruto (r=0.74; p=0.0000 -

Page 190: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

183

Figura 1). O tamanho médio dos frutos foide 14.79cm (± 3.28). As sementesapresentaram tamanho relativamente grandecom uma aparente recompensa energética.Não foi encontrada significância nacorrelação comprimento do fruto e númerode predadores.

Foram averiguados três espécies depossíveis predadores: Anthonomusbiplagiatus (Curculionidae, Coleoptera),Pseudomyrmex sp. (Formicidae,Formicinae) e uma espécie de Blattaria. Onúmero total de predadores foi de 256,perfazendo uma média de predadores porfruto de 5.44 (±7.16). A proporção númerode sementes analisadas e número total depredadores encontrados aproxima-se darelação 1:1, entretanto eles foramresponsáveis por apenas 40.36% dassementes predadas. Foi considerado comopredador em potencial somente A.biplagiatus.

Anthonomus biplagiatus foiencontrado em estágio larval (154), pupa(90) e adulto (12). Dentre as sementes, 164(59.63%) não apresentaram nenhum tipo depredador (sementes viáveis), 50 (18.18)apresentaram um tipo, 18 (6.54)apresentaram dois, 21 (7.63) três, 8 (2.9)quatro, 9 (3.27) cinco, 4 (1.45) 6 e 1 (0.36)sete (Figura 2). O número de sementes porfruto não apresentou uma correlaçãosignificativa com o número de sementespredadas.

DISCUSSÃOLarvae de Anthonomus biplagiatus

alimentam-se de sementes e botões floraisde seus hospedeiros. Adultos também foramregistrados em frutos de Kielmeyera nosestados de Goiás, Mato Grosso, MinasGerais e São Paulo. Outros estudos indicamforte grau de relação na especificidade dehospedagem de Coleopteras, incluindotrabalhos de Martíns (1971) paraCerambycidae e Lewinsohn (1980) paraCryptorrynchine (Curculionidae) associadocom Hymenea (Leguminosae apud Clark &Martíns, 1987). Este comportamento,provavelmente garante proteção contra

dessecação, predadores e parasitas (Clark &Martíns, 1987).

O jatobá é uma espécie que investena produção de numerosos frutos grandescom poucas sementes e com recompensaaos seus dispersores (Lopes, 1997).Respostas evolutivas de plantas contrapredação são discutidas em váriostrabalhos. Apesar de H. stignocarpaproduzir apenas sementes grandes e empequena quantidade seu investimento naprodução de numerosos frutos corroboramcom uma das estratégias de defesasantipredação elaboradas por Janzen (1971);saciação do predador, na qual a produção desementes é superior à capacidade deconsumo dos predadores. Os numerososfrutos grandes, aliado com a alta resistênciada casca à penetração, possivelmenteaumenta e eficácia deste mecanismo dedefesa. O tamanho dos frutos e o número desementes, possivelmente não foram osatrativos aos Curculionídeos. A atração foitida, provavelmente, pelo número de frutospor indivíduo (disponibilidade de recurso).

O grande tamanho, consistênciaflexível e a alta oferta energética dassementes de H. stigonocarpa parecebeneficiar a ação dos predadores,possibilitando a deposição de mais de umalarva por semente. A preferência porsementes grandes para predação é citadapor Smith (1975) como um dos padrõespelos quais predadores interagem comsementes. Isso pode ter implicações naquantidade de recursos necessários edisponíveis à sobrevivência destes insetos(Lomônaco, 1994). Entretanto, a maioriadas sementes predadas foi encontradoapenas um predador, devido, possivelmenteo recurso não se tornar um fator limitante econseqüentemente não ocorrer competiçãointraespecífica. Segundo Forget et al. 1994,besouros atacam sementes em diferentesproporções conforme o habitat e o períododo ano. A consideração de Anthonomus biplagiatus.como o predador em potencial estárelacionado a ele ser o único encontradodanificando e alocando as sementes em

Page 191: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

184

todos os seus estágios do ciclo de vida. Osoutros não foram considerados predadores,devido eles não estarem danificando nemutilizando nenhuma das sementes, alémdeles, possivelmente proporcionarem umbenefício à planta quando ingerem a polpado fruto e deixam as sementes limpas paragerminação (Pedroni, F. com. pess.)

A não significância entre o númerode sementes por fruto e o número desementes predadas mostra para a planta,uma vantagem em investir no aumento donúmero de sementes por fruto, já que elasnão foram os atrativos para os predadores.

A predação é um tipo de interaçãoque pode influenciar a organização de umacomunidade, podendo restringir adistribuição e a abundância de umapopulação, sendo uma importante forçaseletiva (Janzen, 1970). Isso pode estaracontecendo com esta espécie, já quedurante a coleta dos frutos não foramobservadas plântulas, da mesma espécie,próximas aos indivíduos adultos.

AGRADECIMENTOSAgradeço aos integrantes do Curso

de Campo por suportarem o odor superagradável do Jatobá, aos amigos CaioRébula, Marcela Yamamoto e CarlosHenrique Angeluci pela identificação dosinvertebrados, ao Prof° Dr° Jader Marinho-Filho e ao Prof° Dr° Fernando Pedroni pelaorientação do projeto e ao amigo Pedro C.Estrela (Bob) pelas dicas no decorrer dotrabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBEGON, M., MORTIMER, M. &

THOMPSON, D. J., 1996. PopulationEcology – A unified study of animalsand plants. Blackwell Science 3° Ed.247p.

CLARK, W. E. & MARTÍNS, R. P., 1987.Anthonomus biplagiatus Redtenbacher(Coleoptera: Curculionidae), a brazilianweevil associated with Kielmeyera(Guttiferae). The Coleopterists Bulletin41 (2): 157-164.

ETHERINGTON, J. R., 1976. Environmentand Plant Ecology. Wiley Manchester 2°Ed.

FENNER, M.; CRESSWELL, J. E.,HURLEY, R. A. & BALDWIN T.,2002. Relationship between capitulumsize and pre-dispersal seed predation byinsect larvae in common Asteraceae.Oecologia 130: 72-77.

FORGET, P. M., MUNHOZ, E. &LEIGHT, E. G., 1994. Predation byRodents and Bruchid Beetles os Seed osSheelea Palms on Barro Colorado Island,Panama. Biotropica 26: 420-427.

JANZEN, D. H., 1970. Herbivores and thenumber of tree species in tropical forest.Am. Nat. 1047: 501-528.

JANZEN, D. H., 1971. Seed predation byanimals. Ann. Rev. Ecol. Syst. 2: 465-492.

Lacerda, A. C. R., Silveira, A. B., Ilha, I.M. N. & Netto, R. R., 2000. Predação desementes de Attalea phalerata (Palmae)em coridilheiras no Pantanal daNhecolândia. Ecologia do Pantanal –Curo de Campo 2000. 93-95p.

LOMÔNACO, C., 1994. Predação desementes de Leguminosas porBruquídeos (Insecta: Coleoptera) naSerra dos Carajás, Pará, Brasil. Acta bot.bras. 8(2): 121-127.

Lopes, F. P. P., 1997. Predação de frutos dejatobá, Hymenae courbaril variedadestilbocarpa (Raynie) Lee & Lang.(Leguminosae – Caesalpinoidae), emfase pré-dispersão por uma espécies deCurculionidae (Coleoptera). Curso deCampo em Ecologia – Trabalhosindividuais, UnB. 14-17p.

SHEPHERD, V. E. & CHAPMAN, C. A.,1998. Dung beetles as secondary seeddispersers: impact on seed predation andgermination. Journal of TropicalEcology 14: 199-215.

SMITH, C. C., 1975. The coevolution ofplants and seed predators. in Gilbert, L.E. & Raven, P. H. (eds.) Coevolution ofanimals and plants. Austin, TexasUniversity Press. p. 53-77.

Page 192: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

185

Figura 1 - Relação entre comprimento do fruto e o número de sementes (r=0.74, p=0.0000)em frutos de Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra deCaldas Novas (PESCAN).

0

2

4

6

8

10

12

14

0 5 10 15 20 25

comprimento do fruto (cm)

no de se/es

Page 193: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

186

Figura 2 - Número de predadores por semente pelo número total de sementes em frutos deJatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 1 2 3 4 5 6 7Número de predadores por semente

Núm

ero

tota

l de

sem

ente

s

Page 194: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

187

COMPORTAMENTO TERRITORIAL DE EUPETOMENA MACROURA

GMELIN (APODIFORME) EM NORANTEA ADAMANTIUM CAMB.

(MARCGRAVIACEAE)

Jania Cabrelli Salles (UFU)

INTRODUÇÃOAs Angiospermas parecem ter

evoluído numa estreita dependência emrelação a diversos grupos animais, para suapolinização e dispersão, o que caracterizacerto grau de adaptação mutualística.Enquanto que para as plantas, a polinizaçãoé uma maneira de aumentar o fluxo gênico,do ponto de vista animal, ela é apenas umaconseqüência da obtenção de um recurso.Dessa forma, as plantas precisam otimizaras visitas dos polinizadores. E, asadaptações necessárias para garantir osucesso desse mutualismo requerem certoscustos, como a produção de néctar (Oliveira1998).

A polinização por animaispredomina em ambientes tropicais, sendo osinvertebrados os principais polinizadores deplantas nesses ambientes. Dentre osvertebrados, flores polinizadas por beija-flores são importante componente dascomunidades, compreendendo 2 – 15% dasespécies em ambientes florestais do sudestee do Cerrado brasileiro e na AméricaCentral (Araujo 2001).

Os beija-flores são aves nectarívorasespecializadas. Além de néctar, a dietadesses animais é complementada porpequenos invertebrados, que garantem osuprimento de aminoácidos e outroscompostos necessários ao metabolismo(Baker &Baker 1980 apud Oliveira 1998).

As plantas adaptadas à polinizaçãopor beija-flores apresentam característicasque as incluem na “síndrome deornitofilia”, como flores tubulares, vistosas,inodoras e com alta concentração de néctar.Porém, existe um pequeno número de florestipicamente ornitófilas nas formações de

Cerrado (Oliveira 1998). Entretanto, deacordo com Oliveira (1991 apud Oliveira1998), os beija-flores podem visitar váriasespécies de plantas do Cerrado de maneiraoportunística.

A apresentação de recursos noespaço e no tempo influencia ocomportamento dos visitantes, suapermanência na área e o tamanho dapopulação que pode sobreviver daquelesrecursos (Gass & Sutherland 1985). Deforma específica, os beija-flores apresentamformas diferentes de utilização dos recursosde acordo com as diferentes estratégiasreprodutivas apresentadas pelas espéciesvegetais do Cerrado (Oliveira 1994). Alémda disponibilidade de recursos, a evoluçãodos comportamentos de forrageamento damaioria dos beija-flores é tambéminfluenciada pela interação com outrosbeija-flores (Oliveira 1998).

Existe um alto grau deinterdependência entre as variáveismorfológicas, que determinam ocomportamento de exploração dos recursos.O tamanho corporal afeta no requerimentototal de energia de uma ave e, entretanto,influencia na escolha em relação aos tiposde flores. Onde a competição porinterferência existe, o tamanho do corpo,por si, tem afetado a dominância em relaçãoa outras espécies e, conseqüentemente, suahabilidade para obter néctar (Feinsinger &Colwell 1978).

Decisões sobre os custos ebenefícios são relevantes para animais queforrageiam individualmente, como os beija-flores, influenciando na escolha do tipo deexploração a ser realizado, seja defendendoum território ou seguindo um circuito de

Page 195: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

188

forrageamento. De forma geral, os beija-flores são classificados como “trapliners”,territorialistas ou parasitas de território. Os“trapliners” são aqueles que seguem umcircuito, forrageando entre flores dispersase ricas em néctar, tendo, então, acesso àenergia abundante. Os territorialistasdominam uma área de flores agrupadas ericas em néctar, defendendo-a decompetidores. Os parasitas de território,também chamados de pilhadores, exploramzonas inacessíveis ou invisíveis aoterritorialista residente de uma área(Feinsinger & Colwell 1978).

A defesa de recursos é um tipo decompetição que aparece sob a denominaçãode interferência, quando a interação entre oscompetidores provoca a redução naeficiência de procura ou de consumo derecursos. Dessa forma, a defesa envolvecustos, tais como gasto de energia e risco deinjúria, bem como os benefícios daprioridade do acesso ao recurso (Krebs &Davies 1996).

A evolução dos padrões deforrageamento provém uma oportunidadepara estudos de como e porquê os animaisse movimentam em relação à fonte derecursos (Baum & Grant 2001). Esta idéiafez com que os estudos de campoenfocassem com mais detalhes o balançotemporal dos animais territoriais, emparticular os territórios de alimentação dasaves nectarívoras (Krebs & Davies 1996).

Com base nisso, o objetivo desteestudo foi determinar o tempo de exibiçãode comportamentos de forrageamento e dedefesa de território do beija-florEupetomena macroura e, a partir dadisponibilidade de néctar oferecida por umindivíduo de Norantea adamantium,verificar as vantagens destescomportamentos.

METODOLOGIAO presente estudo foi realizado

numa área de cerrado (sentido restrito), noParque Estadual Serra de Caldas Novas(PESCAN), localizado entre os municípiosde Caldas Novas e Rio Quente, estado de

Goiás. A coleta dos dados aconteceu nofinal do mês de setembro e início deoutubro de 2002, por sete dias, sendo quatromanhãs (com duração de 240 minutos cada)e três tardes (com duração de 120, 75 e 105minutos), totalizando1260 minutos (21horas) de observação.

Eupetomena macroura é umrepresentante da família Trochilidae(subfamília Trochilinae), comum emregiões de campo e de mata da maior partedo Brasil. Apresenta grande porte,coloração escura brilhante e caudafortemente bifurcada, mais comprida que oresto do corpo (Grantsau 1989).

Norantea é um gênero de plantasarbóreas da família Marcgraviaceae, típicode áreas com solo raso, pedregoso.Apresenta grandes inflorescências do tipocacho, sendo cada pedúnculo floral providode uma bráctea altamente modificada, quetem a forma de uma pequena jarra, a qualproduz néctar por ocasião da ântese (Joly1976).

Foram registrados horário, duração efreqüência de visitas aos nectários,caracterizadas como comportamento deforrageamento, e, também, doscomportamentos de defesa de território. Osatos comportamentais de defesa foramdivididos em alerta (vigilância da manchade recurso) e exclusão de competidores(outros beija-flores). Os tempos deforrageamento, alerta e exclusão foramquantificados em segundos, com autilização de cronômetro, e, posteriormente,convertidos em minutos.

Com relação à planta, foramrealizadas medições de volume econcentração de néctar, com a utilização deuma seringa e de um refratômetro de bolso,respectivamente. Tais medidas foramtomadas sempre no início, meio e fim dosperíodos de observações da parte da manhãe no início e fim dos períodos da parte datarde. Foram, também, feitas estimativas donúmero de inflorescências e de floresabertas para todos os dias.

A partir dessas medidas, foicalculado o conteúdo energético do néctar.

Page 196: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

189

As médias de volume e concentração foramutilizadas para calcular a quantidade derecompensa em calorias por flor. Para ocálculo de calorias foi usada a tabela deconversão apresentada por Kearns &Inouye (1993), onde:% de açúcar (g açúcar / g solução) = gaçúcar / l néctarPara transformar mg de açúcar em calorias,foi usada a relação apresentada por Dafni(1992): 1 mg açúcar = 4 caloriasEstes valores foram multiplicados pelonúmero de flores abertas por dia deamostragem.

Resultados e discussãoO Eupetomena macroura gastou, em

média, cerca de 96% do tempo emcomportamento de alerta (Figura 1). Talcomportamento foi caracterizado,principalmente, pelo seu posicionamentosobre os ramos mais elevados da planta esobre árvores circunvizinhas, de modo aestar atento ao aparecimento de invasores eimediata exclusão dos mesmos. Comotambém relatado por Machado & Sazima(1995), ele aparentemente “delimitava”uma área, visitando, principalmente, asflores localizadas nos ramos mais altos. Aposição de guarda mudava constantementeao longo do dia, sendo que nos períodosmais quentes (entre 10:00 e 16:00 h) oindivíduo se colocava sob a copa da árvore,mas não deixando de estar atento aosmovimentos dos invasores.

De acordo com Krebs & Davies(1996), é fato que os beija-flores gastamcerca de 75% de seu tempo empoleirados, eapenas 20% em forrageio, pelo fato dadigestão da glicose nestes animais ser lenta.Outra explicação, é que, para o caso deindivíduos territorialistas, a defesa doterritório requer grande gasto de tempo paraevitar a invasão de outras espéciesnectarívoras (Feinsinger & Colwell 1978).

Foi registrada uma média de 36visitas do Eupetomena macroura aosnectários nas observações do períodomatutino (9 visitas por hora) e de 12 no

período vespertino (7,5 visitas por hora). ATabela 1 mostra o tempo médio gasto paracada visita em cada período de observação,sendo a média igual a 0,24 minuto (14,4segundos). Considerou-se, porém, que umavisita incluía a exploração de um númerovariável de nectários.

Machado & Sazima (1995)observaram que as visitas do E. macrouraeram breves (cerca de 2 segundos) e que,em geral, visitava 20 flores em seqüência,pousando em seguida sobre ramos deplantas nas proximidades. Após períodosvariáveis, retomava as visitas ou perseguiaoutras espécies de beija-flores que seaproximavam.

Estudos de campo mostram que asaves territoriais precisam de menos tempopor dia na coleta de energia suficiente.Defendendo um território, uma ave excluioutros consumidores de néctar e, assim,promove o aumento da quantidade de néctardisponível em cada flor. Portanto, a aveeconomiza tempo de forrageio porque podesatisfazer suas demandas energéticas maisrapidamente. Ela gasta o tempo que sobraem um poleiro e, assim, usa menos energiado que no forrageio (Krebs & Davies 1996).

Foram registradas 97 invasões noterritório do E. macroura durante o períodototal de observação (média de 13,86 porobservação), sendo o tempo médio gastoem cada expulsão de 0,08 minuto (4,8segundos) (Tabela 2). A rapidez com que osencontros agonísticos aconteceramdificultou a identificação dos invasores.Mas, com base em algumas característicase no plano de manejo do Parque, foipossível inferir a presença de pelo menos 4gêneros diferentes (Phaethornis, Colibri,Thalurania e Amazilia), além de indivíduosda própria espécie territorialista.

É importante ressaltar, porém, adiferença entre os tempos de observação damanhã e da tarde. Assim, a média deinvasões pela manhã foi de apenas 3,44 porhora, enquanto que à tarde foi de 8,17invasores por hora. Essa diferença pode serexplicada pelo fato de que as observações

Page 197: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

190

vespertinas aconteceram somente após as16:00 h, quando a atividade dos beija-floresé mais intensa, devido à diminuição datemperatura ambiental. Além disso, a maiorprocura por recurso ao final do dia égarantia de reserva de energia suficientepara a noite, quando os beija-flores deixamde forragear e buscam um refúgio.

O maior número de invasões após as16:00 h confirma a afirmação deSiberbauer-Gottsberger & Gottsberger(1988 apud Oliveira 1998), os quaissugerem que os beija-flores seriamsensíveis às altas temperaturas e que oCerrado impõe limitações às possibilidadesde utilização dos recursos disponíveis,devido não terem constatado a presençadestas aves em áreas abertas nos períodosmais quentes do dia.

Durante os dias de observação, onúmero de inflorescências com floresabertas diminuiu de aproximadamente 50para cerca de 20 e o número de floresabertas por inflorescência, de cerca de 15para 5. Isso indica que a espécie Noranteaadamantium tem período máximo defloração em meados do mês de setembro,estando no final quando da realização desteestudo, visto que foi observado maiornúmero de infrutescências que deinflorescências.

A quantidade e distribuição derecursos florais podem limitar a amplitude edos beija-flores que exploram uma região(Carpenter 1978; Oliveira 1998). De formageral, os recursos nas formações abertas doCerrado encontram-se distribuídosesparsamente, gerando implicações nasdistâncias de forrageamento (Oliveira1998). Assim, os agrupamentos de floresproduzidas estacionalmente permitem oestabelecimento de comportamentosterritoriais (Gass & Sutherland 1985;Oliveira 1998), quando os animais sãoatraídos pela disponibilidade de alimentoabundante. Entretanto, a quantidade deenergia deve satisfazer as necessidadesdiárias do territorialista, de forma a garantirvantagem ao comportamento de defesa.

A Tabela 3 mostra os valoresmédios de volume e concentração de néctarpara os sete dias de observação. Apesar dadiminuição do número de flores abertas nodecorrer do período de observação, pôde-seobservar que a produção de néctar manteve-se mais ou menos constante, com exceçãodo primeiro dia, quando estava chovendo.

A produção contínua de uma grandequantidade de néctar ao longo do períodode floração confirma o favorecimento daestratégia de forrageamento territorial(Machado & Sazima 1995). Por outro lado,foram observadas variações do volume e daconcentração ao longo do dia, o que podeestar relacionado às mudanças detemperatura (Baker & Baker 1983 apudMachado & Sazima 1995) e umidaderelativa (Corbet et al 1979 apud Machado& Sazima 1995).

Com relação ao conteúdo energéticodo néctar,estimou-se uma média de 18,21Kcal por dia. Esta quantidade é,possivelmente, suficiente para atender àsnecessidades do indivíduo em questão,visto que, para Carpenter (1983 apudOliveira 1998), um beija-flor precisa de 6 a10 Kcal para suprir sua demandaenergética. De acordo com Krebs & Davies(1996), quando os custos diários sãocomparados com a quantidade de néctarobtida com a defesa de um território eexclusão de competidores, fica evidente queas aves territoriais estariam obtendo ummoderado lucro energético. A defesa defonte alimentar já é conhecida para E.macroura, desde que o recurso sejaeconomicamente defensável, como ooferecido pela N. adamantium.

A interação entre plantas e seuspolinizadores é um bom exemplo de como apressão evolutiva pode coordenar eventossazonais nas comunidades (Krebs 1994).Ocomportamento territorial dos polinizadorescompromete o fluxo de pólen entreindivíduos diferentes, mas favorece aautopolinização (Machado & Sazima 1995).No caso de Norantea adamantium,considerando a ausência de outro exemplarnas proximidades, a defesa territorial

Page 198: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

191

aumenta a probabilidade de visitas a umadada flor, podendo-se inferir que a espécieé autocompatível ,uma vez que há umagrande taxa de formação de frutos. Dessaforma, a associação com o Eupetomenamacroura é de grande importância no ciclode vida desta espécie vegetal, especialmentenas áreas de Cerrado, onde sua distribuiçãoé bastante reduzida.

Agradecimentos:À todos os companheiros (e amigos)

dessa inesquecível e proveitosa jornada detrabalho; aos professores, sempre tãoatenciosos, e ao amigo Rafael SoaresArruda pela ajuda na coleta e interpretaçãodos dados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de

floração e polinização em capões doPantanal Sul Mato grossense. Tese deDoutorado. UNICAMP.

BAKER, H.G. & BAKER, I. 1980. Studiesof nectar-constitution and pollinator-plant coevolution. In: Gilbert, L. E. &Raven, P. H. (eds.). Coevolution ofanimals and plants. University of TexasPress. p. 100 – 140.

BAKER, H.C. & BAKER, I. 1983. Floralnectar sugar constituents in relation topollination type. In: Jones, E.C. & Little,J.R. (eds.). Handbook of ExperimentalPollination Biology. Van NostrandReinhold. New York. p. 117 – 141.

BAUM, K.A. & GRANT, W.E. 2001.Hummingbird foraging behavior indifferent patch types: simulation ofalternative strategies. Ecol. Model. 137:201 – 209.

CARPENTER, F.L. 1978. A spectrum ofnectar-eater communities. Amer. Zool.18: 809 – 819.

CARPENTER, F.L.1983. Pollinationenergetics in avian communities: simple

concepts and complex realities. In:Jones, E.C. & Little, J.R. (eds.).Handbook of Experimental PollinationBiology. Van Wostrand. Scientific andAcademic Editions. p. 215 – 234.

CORBET, S.A., UNWIN, D.M. & PRYS-JONES, O.E. 1979. Humidity, nectarand insects visits to flowers, withspecial reference to Crataegus, Tilia andEchium. Ecol. Ent. 4: 9 – 22.

DAFNI, A. 1992. Pollination Ecology: A

Practical Approach. Oxford UniversityPrees. New York. 247p.

FEINSINGER, P. & COLWELL, R.K.1978. Community organization amongneotropical nectar-feeding birds. Amer.Zool. 18: 779 – 795.

GASS, C.L. & SUTHERLAND, G.D.1985. Specialization by territorialhummingbirds on experimentallyenriched patches of flowers: energeticprofitability and learning. Can. J. Zool.63: 2125 – 2133.

GRANTSAU, R. 1989. Os beija-flores doBrasil. Expressão e Cultura. Rio deJaneiro. 234p.

JOLY, A.B. 1976. Botânica: introdução àtaxonomia vegetal. 3°ed. CompanhiaEditora Nacional. São Paulo.

KEARNS, C.A. & INOUYE, D.W. 1993.Techniques for Pollination Biologists.University Press of Colorado. Colorado,583p.

KREBS, C.J. 1994. Ecology: theexperimental analysis of distribution andabundance. 4th ed. HarperCollins CollegePublishers.

KREBS, J.R. & DAVIES N.B. 1996.Introdução à Ecologia Comportamental.Atheneu Editora. São Paulo.

Page 199: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

192

MACHADO, I.C. & SAZIMA, M. 1995.Biologia da polinização e pilhagem porbeija-flores em Ruellia asperula Lindau(Acanthaceae) na caatinga, nordestebrasileiro. Revta. Bras. Bot. 18: 27 – 33.

OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade derecursos florais para beija-flores nocerrado de Uberlândia, MG. Dissertaçãode Mestrado. Universidade de Brasília.

OLIVEIRA, P.E. 1991. The pollination andreproductive biology of a Cerradowoody community in Brazil. Ph.D.

Thesis. University of St. Andrews,Scotland, UK.

OLIVEIRA, P.E. 1994. Aspectos dareprodução de plantas de cerrado econservação. Bol. Herb. Ezechias PauloHeringer. 1: 34 – 45.

SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. &GOTTSBERGER, G. 1998. Apolinização das plantas do cerrado.Revta. Brasil. Biol. 48: 651 – 663.

Page 200: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

193

Tabela 1 – Visitas do Eupetomena macroura aos nectários de Norantea adamantium, ParqueEstadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.

Período /

observação

Tempo de

observação (min.)

Número de visitas Tempo médio de cada visita (min.)

manhã

1 240 58 0,20

2 240 30 0,24

3 240 28 0,26

4 240 28 0,33

tarde

5 120 16 0,16

6 75 12 0,26

7 105 9 0,27

TOTAL 1260 181 0,24

Tabela 2 – Exclusão de competidores do Eupetomena macroura em Norantea adamantium,Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.

Período /

observação

Tempo de observação

(min.)

Número de

invasões

Tempo médio de cada exclusão (min.)

manhã

1 240 13 0,14

2 240 16 0,04

3 240 15 0,07

4 240 11 0,15

tarde

5 120 22 0,10

6 75 9 0,06

7 105 11 0,06

TOTAL 1260 97 0,08

Page 201: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

194

Tabela 3 – Volume, concentração e conteúdo energético do néctar de Norantea adamantium,Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.

Volume de néctar (µ l)Concentração de

açúcares (%)Período /

observaçãoMédia ± desvio padrão Média ± desvio padrão

Conteúdo energético

por dia *

(Kcal)

manhã

1 48,00 ± 0,00 8,25 ± 3,80 11,54

2 46,78 ± 29,51 22,18 ± 2,71 30,79

3 41,78 ± 33,11 22,25 ± 6,89 24,70

4 92,22 ± 23,89 14,60 ± 4,78 15,00

tarde

5 53,00 ± 24,04 19,60 ± 1,27 17,65

6 103,00 ± 9,90 20,44 ± 1,51 19,03

7 98,00 ± 22,63 18,95 ± 1,20 8,76

*de acordo com valores estimados do número de flores abertas por inflorescência.

Figura 1 – Porcentagem do tempo gasto em comportamento de alerta, visita e exclusão decompetidores de Eupetomena macroura, em cada coleta (1 – 7), Parque Estadual Serra deCaldas Novas – GO, 2002.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6 7

Observação

Tem

po (%

)

alerta visita exclusão

Page 202: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

195

INFLUÊNCIA DE BRUQUÍDEOS NA PRODUÇÃO DE SEMENTES DE

SYAGRUS FLEXUOSA (ARECACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO

SENSU STRICTO

Marcela Yamamoto, UFU

INTRODUÇÃOUma semente pode servir de

alimento durante grande parte do ciclo devida de uma espécie, como ocorre comalguns coleópteros que depositam seus ovosem frutos e as larvas se desenvolvem nointerior das sementes até o estágio de pupa(Begon et al. 1996). Nestas circunstâncias,as sementes normalmente se tornamdanificadas, a ponto de inviabilizar agerminação.

Syagrus flexuosa é uma palmeiramonóica, de inflorescências longo-pedunculadas com flores femininas basais eflores masculinas apicais. As floresfemininas têm um ovário súpero com trêslóculos, cada um com um óvulo. Após apolinização e fertilização , um dos óvulos sedesenvolve para semente e os outros doisgeralmente são abortados. Os frutos sãoelipsóides, de cor verde-amarelada quandomaduro, exocarpo é fibroso e mucilaginoso,endocarpo ósseo contendo amêndoa comendosperma branco e oleaginoso. Ocorre nonorte de Minas Gerais, da Bahia ao Piauí,Goiás, Tocantins, Distrito Federal e MatoGrosso em cerrados abertos e na caatinga.A floração ocorre de janeiro a abril e afrutificação entre outubro e dezembro(Almeida et al., 1998).

Besouros Bruchidae são importantespredadores de sementes em grandevariedade de plantas (Janzen, 1969). Osmembros da subfamília Pachymerinae sãopredadores de sementes de representantesda família Arecaceae. As fêmeas depositamseus ovos na superfície do fruto e a larvaque daí emerge penetra através dopericarpo. Durante o seu desenvolvimento

até o estágio de pupa, a larva consome todaa semente (Silva, 1989).

Alguns estudos discutem aspossíveis respostas evolutivas de plantascontra predação (Wilson & Janzen, 1972;Center & Jonhson, 1974). Janzen (1971)separou as defesas de plantas em três tiposprincipais: defesas químicas; saciação dopredador, onde a produção de sementes ésuperior ao consumo dos predadores; e aimprevisibilidade de recursos, em que afrutificação ocorre em intervalosirregulares. Smith (1975) sugeriu tambémque a variabilidade no número e notamanho das sementes produzidas possa serestratégias de antipredação. Entretanto, asdefesas vegetais podem se tornar ineficazes,uma vez que possam ser contornáveis pelospredadores.

Este estudo teve como objetivoavaliar o sucesso na produção de sementesde Syagrus flexuosa (Arecaceae) em umaárea de cerrado sensu stricto, investigando ainfluência da predação de sementes pelalarva de Coleoptera Bruchidae.

METODOLOGIAO estudo foi conduzido em uma área

de cerrado sensu stricto do Parque Estadualda Serra de Caldas Novas, em CaldasNovas, GO (17046’37,4’’S; 14041’10,5’’O;altitude 1064m), em setembro de 2002.

Foram feitos transectos de 50m eamostrados todos os indivíduosreprodutivos de Syagrus flexuosa em 10mde cada lado do transecto. Os indivíduosforam medidos quanto à altura, diâmetrobasal e altura da infrutescência. De cadainfrutescência foram contadas as cicatrizes

Page 203: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

196

das flores femininas e o número de frutospresentes, o total forneceu o número deflores femininas produzidas. Foramamostradas todas as infrutescências com até20 frutos, e as com um número superior defrutos foram padronizadas em 20 unidades.Depois de coletado, o material foi levado aolaboratório, onde foi feita a mensura decomprimento(mm), diâmetro(mm) eprocedida a abertura do fruto para aavaliação das sementes em viáveis, naausência de larvas ou em não viáveis, asabortadas ou com a presença de larvas.

Os dados foram analisados por meiode correlação simples (Correlação deSpearman).

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam mensurados 46 indivíduos de

Syagrus flexuosa e analisadas 57infrutescências de uma área total amostradade 7000 m2. A altura média e o desviopadrão dos indivíduos foram de 1,90m ±0,40, o diâmetro basal médio de 75,9mm ±13,23 e a altura média das infrutescênciasde 1,21m ± 0,39. O comprimento médio dosfrutos foi de 33,15mm ± 3,66 e de diâmetro18,53mm ± 2,75

Foram contados um total de 2193flores, 1127 frutos e 761 sementes dentre asquais 598 viáveis e 163 predadas (Veja naTabela 1). Da diferença das flores e frutosamostrados, juntamente com a análise dosfrutos abertos foi obtido o número desementes abortadas (Figura 1).

Do total de frutos contados, apenas786 exemplares foram abertos para análisede qualidade do endosperma devido aolimite de frutos estipulado porinfrutescência. Dos 786 frutos analisados,76.08% apresentaram sementes viáveis,20.74% sementes predadas e 3.18%abortadas (Figura 2).

Observou-se a presença de 2,6% defrutos biloculares ou triloculares no total defrutos analisados, sendo que a metade, 1,3%apresentou predação da semente em apenasum dos lóculos. Pode-se inferir que a fêmeado Bruchidae coloca apenas um ovo porfruto a fim de evitar a competição entre os

descendentes. Koslowski et al. (1983)verificaram que algumas espécies debruquídeos regulam o número de ovosdepositados em cada fruto, por meio demarcações químicas que evitam repetidasoviposições num mesmo local.

Houve correlação significativa entrea altura da planta com a altura dainfrutescência (r=0,83,p=0) e com o númerode flores (r=0,32, p=0,02). A correlação foisignificativa entre o número de flores com onúmero de frutos (r=0,87, p=0); com onúmero de sementes abortadas (r=0,79,p=0) e com o número de sementes viáveis(r=0,41, p=0,0017). Houve correlaçãosignificativa entre o número de sementestotais e o número de sementes viáveis(r=0,51, p=0,0001) (Figura 3). Não houvecorrelação significativa de predação com aaltura da planta, a altura da infrutescência eo número de flores (veja os valores dacorrelação na Tabela 2).

Não foi observada correlaçãosignificativa entre o comprimento e odiâmetro dos frutos com a presença da larvapredadora (r=-0.1279, p=0.3612; r=0.1909,p=0.1708, respectivamente). A quantidadede frutos apresentou correlação significativacom o número de sementes predadas (r=0,29; p=0,03) (ver Figura 4). SegundoJanzen (1969), os bruquídeos se alimentamde uma única semente, esperar-se-ia entãoque houvesse uma escolha de sementesmaiores pelo coleóptero, com maiorquantidade de recurso para a sobrevivênciado inseto, o que não ocorreu na amostragemapresentada. Ramos (2001) em estudo depredação de sementes de palmeiras dogênero Syagrus por Bruchidae: Pachymeriniobservou que os ovos foram colocadosindependentemente do tamanho dos frutos.Pode-se inferir que o embora o predadoraparentemente não escolha um fruto maior,há uma procura por manchas maiores derecursos, como o tamanho dasinfrutescências.

Na área estudada foi observada apresença de manchas de indivíduos deSyagrus flexuosa, de um a sete indivíduos,porém, não foi constatada uma preferência

Page 204: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

197

da larva predadora pelas manchas deindivíduos.

Nos frutos abertos observou-se umataxa de predação de 8,8% das sementes porinfrutescência. A maior perda na produçãode sementes é observada pela faltadisponibilidade de recursos na polinização,como pólen e polinizadores justificando agrande porcentagem de sementes abortadas,além de ser normal o alto índice sesementes abortadas em Arecaceae. Apredação analisada foi apenas doColeoptera Bruchidae sem consideraroutros predadores

Os resultados mostram que apredação das sementes pelos bruquídeostem correlação com o número de frutospresentes na infrutescência o que corroboracom Marquis & Braker (1994) e Janzen(1969), a existência de uma associaçãoentre a taxa de herbivoria e a oferta derecurso. Pelos valores de viabilidadeencontrados nas sementes de Syagrusflexuosa pode-se apontar como possívelresposta evolutiva contra este predador, adefesa do tipo saciação com produçãosuperior ao consumo, além das estratégiasde antipredação com a variação do númeroe no tamanho dos frutos sugerido por Smith(1975).

AGRADECIMENTO: Aos professores John Hay pela

orientação inicial, Fernando Pedroni,Lucélia Nobre Carvalho e Jader Marinhopelas sugestões no projeto. Aos colegasCláudio Franco Muniz e Helder NagaiConsolaro pela ajuda estatística e CarlosHenrique Angeluci pela abertura doscoquinhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.;

SANO, S. M. & RIBEIRO, J. F. 1988.Cerrado: espécies vegetais úteis.Embrapa - CPAC, Planaltina, DF.

BEGON, M.; HARPER, J. L. &TOWNSEND, C. R. 1996. Ecology-Individuals, Populations and

Communities. Third edition. BlackwellScience, London.

CENTER, T. D. & JONHSON, C. D. 1974.Coevolution of some seed beetles(Coleoptera: Bruchidae) and their host.Ecology 55:1096-1103.

JANZEN, D. H. 1969. Seed-eaters versusseed size, number, toxicity and dispersal.Evolution 23:1-27.

JANZEN, D. H. 1971. Seed predation byanimals. Na. Rev. Ecol. Syst. 2:465-492.

KOSLOWSKI, M. W.; LUX, S. &DMOCH, J. 1983. Ovipositon behaviourand pod marking in the cabbage seedweevil Ceutorhynchus assimilis.Entomol. Exp. Appl. 34:277-282.

MARQUIS, R. J. & BRAKER, H. E. 1994.Plant-herbivores interactions: Diversity,Specificity, and Impact. Pp. 261-281. In:L. A. MCDADE, K. S. BAWA, H.A.HESPENHEIDE & G.S.HARTSHORN (eds.), La Selva: Ecologyand natural history of a Neotropical RainForest. The University of Chicago Press.

RAMOS, F. 2001. Predação de sementes depalmeiras do gênero Syagrus(Arecaceae) por besouros Pachymerini(Coleoptera, bruchidae). Resumos VCongresso de Ecologia do Brasil. P.213.

SILVA, P. 1989. Bruquídeos associados àssementes de palmeiras na Bahia, Brasil(Coleoptera, Bruchidae). An. Soc. Ent.Brasil 18:155-168.

SMITH, C. C. 1975. The coevolution ofplants and seed predators. In: Gilbert, L.E. & Raven, P.H. (eds.) Coevolution ofanimals and plants. Austin, TexasUniversity Press. P. 53-77. In:Lomônaco, C. 1994. Predação desementes de leguminosas por bruquídeos(Insecta: Coleoptera) na Serra dos

Page 205: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

198

Carajás, Pará, Brasil. Acta bot.Bras.8:121127.

WILSON, D. H. & JANZEN, D. H. 1972.Predation on Scheelea palm seeds by

bruchid beetles: seed density anddistance from the parent palm. Ecology53:954-959.

Tabela 1 – Número total de flores, frutos e sementes de Syagrus flexuosa por planta, a média eo desvio padrão por inflorescência.

Amostragem Total Média por cacho

Flores 2193 39±24.08

Frutos 1127 20±16.43

Sementes viáveis 598 11±7.13

Sementes predadas 163 3±4.99

Abortadas 1100 20±13.34

Tabela 2. Valores da Correlação de Spearman para altura da planta (ha), altura dainfrutescência (hi), número de flores (fl), número de frutos (fr), número de sementes abortadas(ab), número de sementes viáveis (vi) e número de sementes predadas(pr).

hp hi fl fr ab vi pr

hp X r=0.7312

p=0

r=0.3170

p=0.0172

r=0.3695

p=0.0046

r=0.1400

p=0.2989

r=0.0946

p=0.4881

r=0.1762

p=0.1939

hi X r=0.1484

p=0.2751

r=0.1115

p=0.4089

r=0.1513

p=0.2657

r=-0.0165

p=0.9038

r=0.0661

p=0.6285

fl X r=0.8677

p=0

r=0.7916

p=0

r=0.4098

p=0.0017

r=0.2015

p=0.1363

fr X r=0.4583

p=0.0004

r=0.5068

p=0.0002

r=0.2896

p=0.0303

ab X r=0.1454

p=0.2850

r=0.0427

p=0.7548

vi X r=-0.2137

p=0.1137

Page 206: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

199

0

500

1000

1500

2000

2500

flores frutos sementesviáveis

sementespredadas

abortadas

Figura 1 – Freqüência de flores, frutos e sementes viáveis, sementes predadas e abortadas emSyagrus flexuosa observada em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu stricto doParque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO.

0

200

400

600

800

sementesviáveis

sementespredadas

abortadas

N

Figura 2 – Freqüência sementes viáveis, predadas e abortadas nos frutos abertos e analisadosde Syagrus flexuosa observados em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu strictodo Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO.

N

Page 207: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

200

Figura 3 – Relação entre o número de sementes totais e as sementes viáveis em Syagrusflexuosa em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas,Caldas Novas, GO. Correlação de Spearman (r=0.34, p=0.01).

Figura 4 – Relação entre o número de frutos e sementes predadas em Syagrus flexuosa emuma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, CaldasNovas, GO. Correlação de Spearman (r=0.29, p=0.03).

Page 208: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

201

ANÁLISE DA MOTIVAÇÃO DE ESTUDANTES EM RELAÇÃO AO

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS – GO.

Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues

INTRODUÇÃOAs mudanças que se operam em

nossos conhecimentos e em nossaconsciência, passando pela modificação denossas atitudes, nos levam a transformarnossa maneira de ser em relação ao ambientee temos a necessidade de adquirir novashabilidades para colocar em prática em casa,na rua, na escola, no lazer o que aprendemosnos mais variados espaços de educaçãoformal e informal (Viezzer et al., 1994).

Para Reigota (1998), a educaçãoambiental é uma proposta que alteraprofundamente a educação, não sendonecessariamente uma prática pedagógicavoltada para a transmissão de conhecimentossobre ecologia. A educação ambientalpropõe soluções e uma mudança de posturaperante a satisfação das necessidadeshumanas, tendo como objetivo formarcidadãos ativos que saibam identificar osproblemas e participar efetivamente de suasolução e prevenção (Rodrigues, 1996).

A educação ambiental pode serinserida em diversos processos educativos eambientes diversificados. Em salas de aula, aeducação ambiental assume um caráter maisformal, enquanto que em ambientes devisitação esporádica como museus, jardinsbotânicos, zoológicos, parques e reservas,assume características mais informais(Padua, 1997). Entretanto, tais atividadeseducativas, devem ser empregadas emambos os ambientes para que haja umresultado final positivo.

Segundo Dias (1990), a educaçãoambiental informal contribui de formaexpressiva para a formação de opiniãopública, envolvendo os meios decomunicação de massa, comunidadesparticipativas e instituições atuantes como

parques, reservas e zoológicos. Visitas aáreas naturais como parques e reservas,proporciona estímulos a curiosidades dosalunos facilitando assim sua aprendizagem.

Visitas às unidades de conservação(como reservas ecológicas, parquesnacionais, áreas de proteção ambiental) sãoapontadas como vantajosas nos espaçosinformais em relação aos formais, poisapresentam características valiosas, como ariqueza de estímulos, a complexidade doambiente, o caráter de novidade eimprevisibilidade das interações entre osalunos e objeto de estudo (Morais & Borges,2000).

O Parque Estadual da Serra deCaldas Novas-Goiás (PESCAN), uma áreade unidade de conservação, representa umagrande fonte de informação e aprendizagempara os alunos da cidade de Caldas Novas,embora o parque não conte com umprograma efetivo de educação ambiental. Aimplantação de programas de educaçãoambiental no parque podem ser instrumentopara tornar as populações que vivem no seuentorno cientes sobre a importância de suapreservação (Padua, 1997).

Em vista disso, faz-se necessáriofazer uma análise da motivação dos alunosde Caldas Novas em relação ao parque, paraque se possa viabilizar uma parceria entre aescola e o parque, visando desenvolveratividades de educação ambiental comotrilhas interpretativas e visitas com roteirosestruturados, de forma sistemática econdizente com as necessidades eprioridades do parque e da comunidade. O objetivo deste trabalho foi levantaro nível de motivação de alunos do ensinofundamental e médio em uma escola públicae uma particular em visitar o PESCAN-GO.

Page 209: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

202

METODOLOGIAAmostra:• Nossa amostra constitui-se de 60

alunos entre 11 a 21 anos deidade, cursando os ensinosfundamental e médio. Sendo 30alunos entrevistados em umaescola pública e 30 em umaescola particular.

Coleta de Dados:

• Os dados foram coletados entre30/09/2002 e 02/10/2002 nacidade de Caldas Novas-Go.

• Foram aplicados aos alunosquestionários semi- estruturados(anexo), na presença dopesquisador, sem a utilização deum pré-teste.

Análise de Dados:

• Foram feitas comparações entreas respostas dos alunos da escolapública com as respostas dosalunos da escola particular paraverificar, num sentido geral, amotivação que leva os alunos avisitarem o parque.

• Conversas informais com osdiretores e professores dasescolas investigadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃOGrande parte dos alunos mostrou-se

motivados a visitar o parque em busca de umcontato maior com a natureza (flora e fauna),o que era esperado, pois segundo Mergulhão(1998), um dos fatores que levam as pessoasa visitarem áreas naturais é a vontade de seaproximar da natureza. Atividades comolazer (recreação e esporte), foram bastantelembradas pelos alunos, ocorrendo umarelação inversa com a atividade de pesquisa,o que demonstra que os alunos ainda nãoassociam o parque a um local de estudo.

Os dados mostram que tanto osalunos da escola pública quanto os da escola

particular apresentam interesse em visitar oparque em busca de atividades ambientais,embora tais atividades não estejam sendooferecidas de forma sistemática peloPESCAN.

Os resultados mostram que embora oPESCAN seja relativamente conhecido pelopúblico, a maioria dos alunos ainda não otinha visitado. Contudo, os alunos da escolaparticular visitaram mais de uma vez oparque, o que pode ser devido a uma maiordivulgação do parque pela escola ou mesmoem casa ou ainda a cobrança de uma taxa deentrada no parque, que embora seja irrisória,parece representar um empecilho para avisita dos alunos da escola pública.

Quando perguntados sobre a vontadede visitar ou voltar ao parque 98% dosalunos responderam que sim, e dos 23alunos que já haviam visitado o local pelomenos uma vez 97% se mostraramsatisfeitos com a visita. O que confirma aidéia de Herman et al., (1992) que diz quelocais informais tem um impacto maiorsobre o lado afetivo, que é a base daformação de valores.

Os alunos da escola pública apontamo turismo como a atividade principal doPESCAN. Esta resposta era esperada, vistoCaldas Novas ser uma cidade turística. Já osalunos do ensino particular apontam aeducação ambiental como uma atividadeimportante a ser desenvolvida pelo parque, oque pode talvez ser explicado por uma maiorconscientização ambiental trabalhada naescola. Percebe-se assim, a necessidade dedivulgação dos trabalhos científicosdesenvolvidos no parque, mesmo que deforma resumida e simples, à comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAISDo contato direto com as escolas,

através de conversas informais com diretorese professores, pudemos perceber que elesnão contam com informações sobre oparque, ou as tem de forma inconsistentes.Sugerimos que sejam preparados folhetosinformativos sobre o histórico do parque,bem com de sua diversidade biológica, e queestes sejam repassados às escolas.

Page 210: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

203

Embora os alunos tenhamdemonstrado interesse em participar deatividades de educação ambiental noPESCAN, muitos ainda tem pouco contatocom o parque. Além disso, grande parte dosalunos mostrou-se motivado em visitar oparque em busca de contato com a natureza.Sabe-se que o envolvimento da comunidadeem áreas naturais pode trazer muitasvantagens, pois ao mesmo tempo em que apopulação utiliza o parque como um local deaprendizagem, passa também a preservá-lo.

Percebe-se que há um paradoxo emcomo os alunos vêem a importância doparque para a cidade, do mesmo modo quereconhecem o valor da educação ambiental,apontam o turismo como função importantedo parque. Em vista disso, é necessário queas escolas trabalhem com os alunos, oconceito de unidade de conservação, poisapesar do parque ser aberto tanto àcomunidade quanto aos turistas, trata-se emprimeiro lugar de uma área de conservaçãoda fauna e da flora do cerrado.

Faz-se necessário à implantação deatividades educativas sistematizadas, comotrilhas interpretativas ou visitas com roteirosestruturados, que vinculem a escola aoparque, de forma que as visitas dos alunosnão sejam apenas atividades recreativas oude mera observação, mas que possam ajudara formar cidadãos conscientes e aptos aparticiparem das questões ambientais nolocal em que vivem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, G. F. 1998. Educação Ambiental:Princípios e práticas. Editora Gaia. 5°edição. São Paulo, SP. 400p.

HERMAN, M. L.; PASSINEAU, J. F.;SCHIMPT, A.L.; TREVER, P

.Orientando a criança para amar a terra.Editora Augustus. São Paulo, SP. 137p.

MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G.1998. Educando para conservação danatureza: sugestões de atividades emeducação ambiental. Editora Educadora.São Paulo, SP. 139p.

MORAIS, M. B.; BORGES, A .T. Sobre asaulas na mata: o que dizem os professoresde ciências. In: Coletânea do 7° Encontro“Perspectivas do Ensino de Biologia”. SãoPaulo: FEUSP, 2000. p. 732-734.

PADUA, S. M.1997. Uma pesquisa emeducação ambiental: a conservação domico leão preto (Leonthopithecuschrysopygus). In: Valladares-Padua, C. EBodmer, R. E. (Org.). Manejo econservação da vida silvestre no Brasil.Instituto de Pesquisas Ecológicas. Editora.Brasília, DF. 296p.

REIGOTA, M. 1998. Meio ambiente erepresentação social. 3° Edição. SãoPaulo. Editora: Cortez, 87p.

RODRIGUES, V. R. 1996. Muda o mundo,Raimundo!: Educação ambiental noensino básico do Brasil. WWF eMinistério do Meio Ambiente Editores.p.77-83.

VIEZZER, M. L.; OVALLES, O. 1994.Considerações para uma pesquisaparticipante. In: Manual Latino Americanode Educação Ambiental. São Paulo: Goiás.p. 60-70.

Page 211: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

204

Figura 1- Frequência de respostas em relação aos atrativos apresentados pelo parque. O que omotivou ou motivaria a visitar o parque?

0

5

10

15

20

25

turismo lazer educaçãoambiental

científica

Importância

Freq

uênc

ia

Escola particularEscola pública

Page 212: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

205

Figura 2- Frequência de respostas em relação ao número de visitas ao parque. Quantas vezes jávisitou o parque?

Figura 3- Frequência de respostas em relação à importância do parque para Caldas Novas.Qual a importância do parque para a cidade?

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1 2 3 4 5

Visitação

Freq

uênc

ia

Escola públicaEscola particular

0

5

10

15

20

25

turismo lazer educaçãoambiental

científica

Importância

Freq

uênc

ia

Escola particularEscola pública

Page 213: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

206

Questionário de Educação Ambiental (Público – alvo: Estudantes)Identificação do conhecimento da população de Caldas Novas em relação ao PESCAN

(Marque apenas uma alternativa em cada pergunta)

( ) Escola pública ( ) Escola particular

1- Faixa Etária:( ) 0 a 10 anos ( ) 18 a 21 anos( ) 11 a 15 anos ( ) acima de 21 anos( ) 15 a 18 anos

2- Grau de Escolaridade:( ) Ensino Fundamental( ) Ensino Médio( ) Outros ______________

3- Sexo:( ) Masculino ( )Feminino

4- Há quanto tempo você mora na cidade?_________________________________

5- Quantas vezes você já visitou o PESCAN? ( ) Nenhuma vez ( ) 3 a 5 vezes ( ) Uma vez ( ) Acima de 5 vezes( ) Duas vezes

6- Qual seria o principal motivo que o faria visitar o PESCAN?( ) Vegetação ( ) Fauna ( ) Recreação ( ) Esporte( ) Atividades de educação ambiental ( ) Pesquisa escolar

7- Você gostaria de visitar (ou voltar a visitar) o PESCAN?( ) Sim ( ) NãoPor quê?____________________________________________

8- A visita ao parque satisfez as suas expectativas? (Só responda se já visitou o parque)( ) Sim ( ) NãoPor quê?_____________________________________________

9- Qual a importância do parque para a cidade?( ) Econômica ( ) Científica( ) Turística ( ) Não tem importância ( ) Lazer( ) Educação Ambiental

Page 214: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

207

EXISTE ESPECIFICIDADE DE HOSPEDEIROS POR Struthanthus sp.

(LORANTHACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO?

Rafael Arruda (UFU)

INTRODUÇÃOA família Loranthaceae compreende

70 gêneros e 1400 espécies que ocorrempredominantemente nas regiões tropicais(Ribeiro et al. 1999), sendo popularmenteconhecidas como “erva-de-passarinho”.Vivem sobre os galhos das copas de árvoreshospedeiras, sendo que a maioria dasespécies de Loranthaceae é hemiparasita deoutras espécies vegetais (Venturelli 1981,Abulfatih & Emara 1988, Overton 1994).Apesar de realizar fotossíntese, a suapresença pode causar uma drásticadiminuição no crescimento da planta (Sinha& Bawa 2002), levando, em alguns casos, amorte de órgãos da planta hospedeira. Esteshemiparasitas podem também comprometera reprodução das plantas hospedeiras,prejudicando a qualidade e quantidade defrutos produzidos (Venturelli 1981, Sinha &Bawa 2002).A distribuição dos hemiparasitas em suasplantas hospedeiras pode ser determinadapor especificidade por hospedeiros,distância dos hospedeiros, condiçõesambientais (García-Franco & Rico-Gray1996), arquitetura da planta hospedeira(Monteiro et al. 1992, Martínez del Rio etal. 1995), e comportamento alimentar eseleção de habitat pelo agente dispersor(Davidar 1983, Reid 1989, Monteiro et al.1992, Murphy et al. 1993, Martínez del Rioet al. 1996). Entretanto, algumas espéciesde hemiparasitas são sempre encontradasem poucas espécies de hospedeiros, outrasapresentam pouca especificidade, ou aindapodem desenvolver raças que se associam adiferentes espécies de hospedeiros (García-Franco & Rico-Gray 1996).Para verificar se havia especificidade porhospedeiros pelo hemiparasita em uma áreade cerrado sentido restrito, registrou-se a

ocorrência de Struthanthus sp.(Loranthaceae), e sua relação com asespécies hospedeiras.

MATERIAL E MÉTODOSA área de estudo foi um cerrado

(sentido restrito), no Parque Estadual daSerra de Caldas Novas (17º46’03,6’’S,48º39’30,8’’W). O Parque Estadual daSerra de Caldas Novas ocupa uma área de12.315 ha, incluindo o platô, as encostasque formam muralhas naturais, e o sopé daserra. Tem um formato de elipse, sendo odiâmetro maior de 15 km e o menor de 9km. A altitude da serra no seu ponto maisalto é de 1.043 metros em relação ao níveldo mar. Considerado pequeno em termos deproteção do bioma Cerrado, possui contudouma amostra bem conservada desteecossistema.A área de cerrado sentido restrito deaproximadamente três ha foi percorridaaleatoriamente, buscando encontrar o maiornúmero possível de espécies vegetais com apresença de Struthanthus.Struthanthus Mart. (Loranthaceae), temampla distribuição no Cerrado sentidoamplo, estando presente nas áreas Leste,Centro-Oeste e Nordeste (Barboza 2000).Struthanthus são hemiparasitas dióicos,com folhas opostas, subopostas,subcoriáceas e lanceoladas; inflorescênciasaxilares, flores alvas, e com frutos bacóidesoblongos, ovóides, oblongo-obovados ouglobosos, e lisos (Barboza 2000).Para cada indivíduo hospedeiro encontradofoi registrada sua altura, e a altura onde ohemiparasita estava fixado. Os galhosforam visualmente classificados quanto àinclinação, horizontal ou vertical. Foi feitauma categorização visual da casca no localde fixação do parasita, levando em conta a

Page 215: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

208

suberosidade do galho, onde para acategoria 0, galho totalmente liso; categoria1, pouco suberoso; categoria 2, suberoso; ecategoria 3, totalmente suberoso. Estesvalores foram estimados através decomparação visual antes de iniciar a coletade dados.Os hospedeiros e Struthanthus foramidentificados no campo, e por meio deliteratura especializada. Materialtestemunho da espécie hemiparasita estádepositado no Herbário da UniversidadeFederal de Uberlândia (HUFU).Foi utilizado o teste do Qui-Quadrado paratestar se havia diferença com relação àpresença dos hemiparasitas em galhoshorizontais e verticais. Para verificar sehavia relação entre a altura do hospedeiro ea altura de fixação do parasita, foi utilizadauma Análise de Correlação. Todos os testestiveram o nível de significância de p<0,05.

RESULTADOSForam encontradas nove espécies

parasitadas por Struthanthus, sendoKielmeyera coriacea e Styrax ferrugineusas que apresentaram as maiores frequênciasde infestação (Tabela 1). Foram registradosum total de 67 hospedeiros com a presençade Struthanthus, variando de um a cincohemiparasitas por hospedeiro (Tabela 1).A frequência de ocorrência de Struthanthusem galhos horizontais (65,79%; n = 25) foisignificativamente maior do que em galhosverticais (34,21%; n = 13) (X2 = 5,378; p =0,0204; GL = 1). Em galhos com cascamais lisa ocorreu uma melhor deposição dohemiparasita em galhos mais horizontais,correspondendo à categoria 1; já em galhoscom casca mais suberosa ocorreu umamaior deposição do hemiparasita em galhosmais verticais, o que correspondeu àcategoria 2 (Figura 1).Ocorreu uma correlação significativa entrea altura do hospedeiro e a altura de fixaçãodo parasita nos hospedeiros (r = 0,6514; p =0,0001) (Figura 2).

DISCUSSÃO

O estabelecimento dos indivíduos deLoranthaceae pode estar ocorrendo,provavelmente, em função decaracterísticas morfológicas doshospedeiros que estejam propiciandomicrohabitat adequado para germinação.Um fator que pode influenciar o sucesso dadeposição de hemiparasitas em seushospedeiros é o comportamento alimentardo seu agente dispersor. Monteiro et al.(1992) verificaram que o comportamentoalimentar de Tersina viridis viridis(Thraupidae) o tornava o agente maisefetivo na dispersão de Psittacanthusrobustus (Loranthaceae) na FazendaCampininha, em Mogi Guaçú, estado deSão Paulo. A eficiência de T. v. viridiscomo agente dispersor foi resultado de suahabilidade em manipular os frutos de P.robustus, através de regurgitação e pelocomportamento de limpar o bico nosgalhos, associado a uma sincronia do seuperíodo de frutificação com a presença dasaves na área (Monteiro et al. 1992).Entretanto, Godschalk (1983) estudou trêsespécies simpátricas de hemiparasitas naÁfrica do Sul, e sugere que a deposição desementes de hemiparasitas pelos seusdispersores sobre galhos do hospedeiroocorre aleatoriamente. Neste caso, as trêsespécies de hemiparasitas dependem domesmo agente dispersor, Pogoniuluschrysoconus, e ocorre sobreposição totaldos seus períodos de frutificação(Godschalk 1983). Então, nossos resultadosindicam que, além desta atividade dosdispersores, a arquitetura e a suberosidadedos sítios de deposição do hemiparasita noshospedeiros podem também estarinfluenciando o seu padrão de distribuição,e consequentemente a relação deespecificidade com os hospedeiros.O aumento significativo da altura defixação do parasita em relação à dohospedeiro, pode estar ocorrendo pelanecessidade que os hemiparasitas possuemde um local apropriado para germinar, epara desenvolverem suas folhas pararealizar fotossíntese. Barboza (2000) sugereque além da necessidade fotossintética, as

Page 216: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

209

espécies de Loranthaceae podem exibir“preferência” por hospedeiros de hábitoarbóreo, pelo fato de serem melhorvisualizadas pelos polinizadores. A autorasugere ainda que estas conclusões talvezreflitam uma pequena quantidade depesquisas e de coletas botânicas paraLoranthaceae, bem como dados relativosaos hospedeiros.No presente trabalho, aparentemente, podenão estar ocorrendo especificidade deStruthanthus sp. por um hospedeiro emparticular, mas sim o hemiparasita pareceestar encontrando facilidade em seestabelecer de acordo com a arquitetura esuberosidade do galho do hospedeiro. Emalgumas espécies de Loranthaceae ocorreuma íntima relação com seu hospedeiro,que o torna dependente da sua distribuição;por outro lado, em outras espécies parecenão ocorrer uma relação tão genérica.Porém, para P. robustus já foi verificadaespecificidade por espécies deVochysiaceae no bioma Cerrado (Monteiroet al. 1992, Barboza 2000). E istodemonstra claramente que são necessáriosmais estudos envolvendo esta interação,para entendimento dos fatores que podemou não estar desencadeando algum tipo deespecificidade de hospedeiros por espéciesde Loranthaceae.

AGRADECIMENTOSAos Programas de Pós-Graduação

em Ecologia das Universidades deUberlândia e de Brasília, pelo esforçoconjunto em unir experiências diferenciadascom o objetivo de enriquecer nosso parcoconhecimento da Ecologia, eprincipalmente pelo apoio logísticooferecido ao longo do Curso de Campo. Àtodos os professores que doaram um poucodo seu suor nas caminhadas pela Serra deCaldas Novas, em especial à FernandoPedroni e Maryland Sanchez que meajudaram na fecundação deste trabalho. Àadministração do Parque Estadual da Serrade Caldas Novas pela oportunidade deconhecer e poder trabalhar numa belaregião. À Lucélia Nobre Carvalho pela

valiosa ajuda no campo e posteriorescríticas na redação do trabalho final. Efinalmente, à todos os companheiros ecompanheiras do Curso de Campo 2002,principalmente pelas novas amizadesconstruídas ao longo do curso, parabéns atodos nós pelo sucesso do trabalhoconjunto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABULFATIH, H.A. & EMARA, H.A.

1988. Altitudinal distribution of thehemiparasitic Loranthaceae inSouthwestern Saudi Arábia. Biotropica20: 1.

BARBOZA, M.A. 2000. Loranthaceae eViscaceae no bioma Cerrado.Dissertação de Mestrado. Universidadede Brasília (UnB), Brasília-DF. 115p.

DAVIDAR, P. 1983. Birds and neotropicalmistletoes: effects on seedlingrecruitment. Oecologia 60: 271-273.

GARCÍA-FRANCO, J.G. & RICO-GRAY,V. 1996. Distribution and hostspecificity in the holoparasiteBdallophyton bambusarum(Rafflesiaceae) in a tropical deciduousforest in Veracruz, Mexico. Biotropica28(4b): 759-762.

GODSCHALK, S.K.B. 1983. Mistletoedispersal by birds in South Africa. p117-128. In: CALDER, M. &BERNHARDT, P. (eds.). Biology ofMistletoe. Academic Press. Sydney.348p.

MARTÍNEZ DEL RIO, C.;HOURDEQUIN, M.; SILVA, A. &MEDEL, R. 1995. The influence ofcactus size and previous infection onbird deposition of mistletoe seeds. Aus.J. Ecol. 20: 571-576.

MARTÍNEZ DEL RIO, C.; SILVA, A.;MEDEL, R. & HOURDEQUIN, M.1996. Seed dispersers as disease vectors:bird transmission of mistletoe seeds toplant hosts. Ecology 77(3): 912-921.

MONTEIRO, R.F.; MARTINS, R.P. &YAMAMOTO, K. 1992. Host specificityand seed dispersal of Psittacanthus

Page 217: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

210

robustus (Loranthaceae) in south-eastBrazil. J. Trop. Ecol. 8: 307-314.

MURPHY, S.R.; REID, N.; YAN, Z.;VENABLES, W.N. 1993. Differentialpassage time of mistletoe fruits throughthe gut of honeyeaters andflowerpeckers: effects on seedlingestablishment. Oecologia 93: 171-176.

OVERTON, J.McC. 1994. Dispersal andinfection in mistletoe metapopulations. J.Ecol. 82: 711-723.

REID, N. 1989. Dispersal of mistletoe byhoneyeaters and flowerpeckers:components of seed dispersal quality.Ecology 70(1): 137-145.

RIBEIRO, J.E.L.S.; HOPKINS, M.J.G.;VINCENTINI, A.; SOTHERS, C.A.;COSTA, M.A.S.; BRITO, J.M.;SOUZA, M.A.D.; MARTINS, L.H.;

LOHMANN, L.G.; ASSUNÇÃO,P.A.C.L.; PEREIRA, E.C.; SILVA, C.F.;MESQUITA, M.R. & PROCÓPIO, L.C.1999. Flora da Reserva Ducke. Guia deidentificação das plantas vasculares deuma floresta de terra firme na AmazôniaCentral. INPA – DFID.

SINHA, A. & BAWA, K.S. 2002.Harvesting techniques, hemiparasitesand fruit production in two non-timberforest tree species in south India. ForestEcology and Management 168: 289-300.

VENTURELLI, M. 1981. Estudos sobreStruthanthus vulgaris Mart.: Anatomiado fruto e semente e aspectos degerminação, crescimento edesenvolvimento. Rev. Brasil. Bot. 4:131-147.

Page 218: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

211

Tabela 1 – Lista das espécies encontradas com hemiparasitas, número de indivíduos de cadaespécie e a freqüência de ocorrência de Struthanthus em cada espécie, em um cerrado (sentidorestrito), no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

Espécies

Número de

indivíduos

Frequência de ocorrência

(%)

Aegiphila sellowiana 4 5,55

Casearia sylvestris 3 3,33

Hymenaea stignocarpa 2 2,22

Kielmeyera coriacea 26 42,22

Piptocarpha rotundifolia 1 1,22

Pouteria ramiflora 8 14,44

Stryphnodendron

polyphyllum 1 3,33

Styrax ferrugineus 18 24,44

Indet.1 3 3,33

TOTAL 66 100

Page 219: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

212

�����������

��������������������������������������������������������������������������������������������������������������

������������������������������������������������������������

�������������������������������������������������������

0

10

20

30

40

50

60

0 1 2 3

tipo de casca

frequ

ênci

a in

diví

duos

(%)

����Horizontal Vertical

Figura 1 – Freqüência de ocorrência de Struthanthus sp. em diferentes tipos de casca emespécies de cerrado (sentido restrito), em galhos com inclinação horizontal e vertical, noParque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 0 = galho totalmente liso; 1 = poucosuberoso; 2 = suberoso; 3 = totalmente suberoso

y = 0,5037x + 0,3814R2 = 0,4244

0

1

2

3

4

5

6

0 2 4 6 8 10

altura hospedeiro

altu

ra p

aras

ita

Figura 2 – Regressão linear entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação de Struthanthussp., no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.

Page 220: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

213

RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES DE PEQUENOS

MAMÍFEROS EM CERRADO sensu stricto QUEIMADO E NÃO-

QUEIMADO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS

NOVAS,GO

Sérgio de Faria Lopes

Jader Marinho-Filho (orientador)

INTRODUÇÃONo Brasil, estudos ecológicos das

comunidades de pequenos mamíferos vêmsendo realizados principalmente nas últimasduas décadas. Os estudos mais recentesforam feitos nos ecossistemas maisrepresentativos do Brasil, como cerrado,caatinga, floresta Amazônica e mataAtlântica, fornecendo informações sobreecologia de populações e zoogeografia depequenos mamíferos não voadores(Talamoni & Dias, 1999).

Para áreas de cerrado, algunsestudos podem ser citados, os quaisenfocam diferentes abordagens para acomunidade de roedores, como Vieira &Baumgarten (1995), relatando os padrõesdiários de atividade de pequenosmamíferos, Alho (1979) e Vieira (1997),sobre densidade populacional de roedores,Alho (1980) e Vieira & Marinho-Filho(1998), que descrevem a utilização dehabitat por roedores de cerrado, e Bergallo& Magnusson (1999) e Vieira (1999), sobrecomunidades de pequenos mamíferos emáreas de cerrado.

Como um todo, 194 espécies demamíferos em 30 famílias e 9 ordens sãoreconhecidas do bioma cerrado (Marinho-Filho et al. 2002), fazendo deste bioma oterceiro maior em riqueza de espécie doBrasil, depois da Amazônia e do Pantanal(Fonseca et al, 1999). Os maiores grupossão os morcegos e os roedores,representados por 81 e 51 espécies,respectivamente (Marinho-Filho et al.2002). Em geral, esta fauna é

essencialmente composta por pequenosanimais: 85% destas espécies pesam abaixode 5kg, e apenas cinco espécies pesam maisdo que 50 kg (Marinho-Filho et al. 2002). Aanálise comparativa de comunidades depequenos mamíferos, não voadores, vindasde 11 áreas do cerrado, mostra a grandevariação ao longo das áreas para aabundância de 39 espécies de marsupiais eroedores (Marinho-Filho et al, 1994).

Uma das características maismarcantes da vegetação do cerrado é a suaexposição a incêndios regulares e, os danoscausados pelo fogo na vegetação sãoconseqüências da permanência prolongadade altas temperaturas durante as queimadas(Wright & Bailey, 1982), podendodeplecionar algumas populações nãotolerantes ao fogo.

OBJETIVOO presente trabalho teve como

objetivo testar a hipótese de que nãohaveria diferença na composição da faunade pequenos mamíferos, não voadores,entre duas áreas de cerrado sensu stricto,uma recém queimada e a outra comocontrole.

MATERIAL E MÉTODOSÁrea de estudo

O trabalho foi realizado no ParqueEstadual da Serra de Caldas Novas(PESCAN), localizado entre os municípiosde Caldas Novas e Rio Quente, Go. Ascoletas foram realizadas de 29 de setembroa 04 de outubro de 2002. A área queimada

Page 221: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

214

apresentava solo exposto e a vegetaçãopraticamente nua. Na área não-queimadaalém do cerrado, havia arbustos epredominância de gramíneas. A área nãoqueimada estava protegida do fogo a pelomenos quatro anos. A outra área,denominada queimada, foi submetida aofogo a três semanas antes do início doestudo.

Levantamento das espécies Os indivíduos foram coletados em

cada área (queimado e não-queimado), aolongo de oito transectos divididos em duaslocalidades distantes de 1km entre si(17o47’07,2’’ 48o40’04’’W e 17o47’34,7’’S48o 40’24’’ W respectivamente). Ostransectos estavam posicionadosparalelamente e distantes 10 metros um dooutro. Em cada transecto foramestabelecidas 12 estações de captura, comuma armadilha cada, distantes 10 metrosentre elas. Em cada área foram colocadas40 armadilhas tipo Sherman, 10 Young, 3Tomahawk e 48 ratoeiras, utilizando comoisca uma mistura de pasta de amendoim,sardinha e fubá. As armadilhas eramiscadas todas as manhãs e os animaiscoletados eram trazidos ao laboratório paraidentificação. Para a comparação dadiversidade das comunidades estudadas nosdois ambientes (área queimada e nãoqueimada) foi calculado o Índice deShannon (H’).

RESULTADOSEm seis noites de captura, 7 espécies

foram coletadas nas duas áreas (Tabela 1),23 indivíduos na área queimada e 17 naárea não-queimada (Figura 1). Ao todoforam capturados 40 indivíduos e o sucessode captura total foi de 3,62% para as áreasestudadas. O esforço de captura total foi de1104 armadilhas-noite (Tabela 2). O roedorCalomys spp. foi a espécie mais abundanteneste estudo com 14 indivíduos capturadosnas seis noites, sendo que para áreaqueimada Calomys spp também foi aespécie mais abundante (n=12) e Bolomyslasiurus.para área não-queimada (n=5).

Ratoeiras fora as armadilhas mais eficientespara o trabalho de coleta, com 3,97% desucesso de captura (Tabela 3).

DISCUSSÃOApesar do esforço amostral

relativamente pequeno (1104 armadilhas-noite), o sucesso de captura foi de 3,62%,semelhante ao obtido em outros estudos,como em Vieira (1997) cujo esforçoamostral foi de 5.928 armadilhas-noite esucesso de captura de 4%, isto pode indicaruma alta abundância de pequenosmamíferos nos cerrados amostrados.

Embora os cerrados amostradosnunca tenham sido estudados, a diversidadede espécies encontrada nestes locais(Tabela 1), pode ser comparada comestudos de comunidades de pequenosmamíferos em outras áreas. Vieira &Baumgarten (1995) encontraram oitoespécies de pequenos mamíferos em umcerrado de Brasília, Vieira & Marinho-Filho(1998) coletaram sete espécies de pequenosmamíferos no interior e borda de umafloresta de galeria, e Vieira (1999) capturouonze espécies em região de cerrado.

A espécie mais abundante na áreaqueimada está representada pelo roedorCalomys sp. Essa espécie costuma se tornarmuito abundante após a passagem do fogoem áreas de cerrado (Marinho-Filho,comunicação pessoal). Na área nãoqueimada, Bolomys lasiurus foi a espéciemais abundante, um padrão tambémverificado em outras áreas de cerrado s.sm(Marinho-Filho et al. 1994).

As armadilhas com maior númerode capturas foram as do tipo Snap-trap(Tabela 3), porém, apresentam algumasdesvantagens, como impossibilidade derecaptura, devido à morte dos animaiscapturados. Além disso, os animais mortosnas ratoeiras são, freqüentemente atacadospor formigas, o que dificulta suaidentificação.

Não foi encontrada diferençasignificativa na comparação da abundânciatotal de indivíduos entre as áreas queimadae não queimada (χ2 = 0,9 ; p > 0,05),

Page 222: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

215

confirmando a hipótese levantada nopresente estudo. No entanto, foi encontradauma maior diversidade na área não-queimada (H’= 1,68) em comparação com aárea queimada (H’=1,25). Apesar da menorabundância encontrada na área nãoqueimada, esta apresentou duas espéciesexclusivas (Tabela 1).

AGRADECIMENTOSAgradeço ao Profº. Dr. Jader

Marinho-Filho pela orientação e dedicação.Aos colegas de trabalho: Pedro, Cláudio,Janaína e Joaquim pela coleta de campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALHO, C. J. R. 1979. ExperimentalManipulations of the density ofPeromyscus leucopus Populations.Revista Brasileira de Biologia, 39 (1):205-208.

ALHO, C. J. R. 1980. Homing Ability inthe wild Rodent Proechnemys robertiDeterminated by radiotelemetria.Revista Brasileira de Biologia, 40 (1):91-94.

BERGALLO, H. G. & MAGNUSSON, W.E. 1999. Effects of climate and foodavailability on four rodent species insoutheastern Brazil. Journal ofMammalogy 80: 472-486.

FONSECA, G.A. B., G. HERMANN, & Y.L. LEITE. 1999. Macrogeography ofbrasilian mammals. In j. Eisenberg andK. H. Redford, eds., Mammals of theNeotropiccs: The Central Neotropics,Ecuador, Peru, Bolívia, Brazil, pp. 549-563. Chicago: University of ChicagoPress

MARINHO-FILHO, J., M. L. REIS, P. S.OLIVEIRA, E M. OLIVEIRA, AND

M. N. PAES, 1994. Diversity standards,small mammal numbers and theconservation of the cerrado biodiversity.An. Acad. Brás. Ciênc. 66 (supp):149-157.

MARINHO-FILHO, J., RODRIGUES,F.H.G. & JUAREZ, K.M. 2002.Ecology and natural history of cerradomammals. Pp. ...... In: Oliveira, P.S. &Marquis, R. (eds). Brazilian Cerrados;Ecology and natural history of aneotropical savanna. SmithsonianInstitution Press, Washington.

WRIGHT, S. J. & BAILEY, ª W. 1982. FierEcology. Jhon Wiley & Sons, Nnew York.

TALAMOMI, S. A. & DIAS, M. M. 1999.Population and comunity ecology ofsmall mammals Brazil. Mammalia 63:167-181.

VIEIRA, E. M. & BAUMGARTEN, L. C.1995. Daily activity patterns of smallmammals in cerrado área from centralBrazil. Journal of Tropical ecology 11:255-262.

VIEIRA, M. V. 1997. Dynamics of aRodent Assemblage in a cerrado ofSouthesast Brazil. Revista Brasileira deBiologia 57: 99-107.

VIEIRA, E. M. & MARINHO-FILHO, J.1998. Pré- and Post-fire habitatutilization by rodents of cerrado fromcentral Brazil. Biotropica 30: 491-496.

VIEIRA, E. M. 1999. Small mammalcomunities and fire in the braziliancerrado. Journal of Zoology of London249: 75-81.

Page 223: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

216

Tabela 1. Riqueza e abundância em duas áreas de cerrado, PESCAN.

Área queimada Área não queimada

Espécie Abundância Espécie Abundância

Thalpomys lasiotis 2 Trichomys apereoides 2

Bolomys lasiurus 6 Clyomys laticeps 4

Clyomys laticeps 2 Oryzomys subflavus 3

Calomys spp. 12 Cavia apereia 1

Oryzomys subflavus 1 Calomys spp. 2

Bolomys lasiurus 5

TOTAL 23 TOTAL 17

Tabela 2. Esforço amostral e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN.

Cerrado Esforço amostral Indivíduos coletados Sucesso de captura

Queimado 552 23 4,17 %

Não-queimado 552 17 3,08%

Total 1104 40 3,62%

Tabela 3. Nº de armadilhas e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN.

Armadilhas Sherman Young Tomahawk Ratoeira

Esforço amostral 474 117 35 478

Indivíduos coletados 16 4 1 19

Sucesso de captura 3,37% 3,42% 2,86% 3,97%

Page 224: Curso de campo - pgecl.unb.br · iii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de Pós-Graduação em Ecologia.e Conservação de Recursos

UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU)

217

Figura 1. Número acumulado de indivíduos coletados ao longo de seis dias em duas áreas decerrado no PESCAN, Caldas Novas, GO em setembro de 2002

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 6

dias

Nº d

e in

diví

duos

Área queimadaÁrea não queimada