Cura Para Traumas Emocionais David a. Seamands

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ndice1. Perturbaes Emocionais 13 2. Culpa, Graa e Cobrana de Dbitos 31 3. O Mdico Ferido 47 4. A Mais Mortfera Arma de Satans 59 5. A Cura da Imagem Prpria Negativa (1] .... 71 6. A Cura da Imagem Prpria Negativa (2) .... 83 7. Os Sintomas do Perfeicionismo 95 8. O Processo de Cura do Perfeicionismo 109 9. O Super "Eu" ou o Verdadeiro "Eu"? 123 10. Verdades e Inverdades Acerca da Depresso 11. Resolvendo o Problema da Depresso 12. Restaurado Para Ser Bno Traumas emocionais David A. Seamands Lanamento: Semeadores da Palavra Digitalizado por : Karmitta WWW.semeador.forumeiros.com Prefcio H alguns anos atrs esse assunto da cura interior tornou-se muito popular, e nessa ocasio um amigo meu que psiclogo deu-me o seguinte conselho: Procure ouvir as fitas de David Seamands. A mensagem dele concisa, bblica e o ensinamento mais claro que j se deu sobre o assunto. Agora vemos que o Dr. Seamands ampliou suas mensagens, colocando-as num livro, que alia uma boa teologia bblica, com uma slida psicologia e simples bom-senso. O autor aborda questes tais como raiva, senso de culpa, depresso, complexo de inferioridade e perfeccionismo sentimentos que nos do a sensao de que nunca atingimos a perfeio. Depois ele nos leva ao cerne do constante sofrimento emocional e mostra como podemos nos libertar, de uma vez por todas, de nossos tormentos interiores e dos traumas emocionais. Esta obra foge de solues simplistas e de condenao descaridosa, ao mesmo tempo que procura no utilizar um jargo complicado. No; o Dr. Seamands tem um estilo compassivo, leve e compreensivo, entremeando tudo com um humor agradvel, com ilustraes interessantes sobre pessoas reais. Aqui temos, portanto, a palavra de um pastor compreensivo, que se mostra bem vontade, tanto para comunicar as verdades bblicas, como para dar aconselhamento aos que buscam solues para seus problemas. 7 Como j respeitava profundamente a capacidade de David Seamands, abri este livro com tima expectativa. E no fiquei decepcionado. Constatei que o livro dele interessante, bastante informativo e grandemente valioso para mim mesmo. Estou satisfeito pelo alto privilgio de recomendar sua leitura a todos, e o fao com grande entusiasmo. Gary R. Collins, Ph. D. Professor e Diretor da Escola Teolgica Trinity Introduo 135 147 159

Ainda no incio do meu pastorado, descobri que, atravs dos trabalhos regulares da igreja, no estava conseguindo auxiliar algumas pessoas com certos problemas. Percebi que nem mesmo com a pregao da Palavra de Deus, nem a entrega pessoal delas a Cristo, nem a plenitude do Esprito, nem com a orao e os sacramentos, essas pessoas estavam conseguindo superar seus problemas. Vi tambm que algumas delas tendiam a afastar-se, tornando-se fteis, e perdendo a f no poder de Deus. Embora orassem fervorosamente, no estavam recebendo resposta para suas peties relacionadas com problemas pessoais. Tentavam exercitar todo tipo de disciplina crist, mas sem resultados. E quando rodavam para mim o mesmo "disco estragado" de sempre, contando suas derrotas, a agulha se agarrava aos mesmos entraves emocionais. Embora continuassem a manter o mesmo ritual religioso exterior orar, contribuir e testemunhar estavam-se aprofundando cada vez mais no desespero e desiluso. Percebi tambm que outros com esses problemas tendiam para a hipocrisia. Ficavam a reprimir seus sentimentos, negando que tivessem dificuldades srias, pois "uma pessoa convertida no pode ter esse tipo de problema". Em vez de encarar a realidade de frente, eles a encobriam com um verniz de versculos bblicos, termos teolgicos e atitudes irreais. O que sucedia ento era que esses problemas, cuja existncia era negada, ficavam enterrados no ntimo, e mais tarde reapareciam sob a forma de enfermidades, excentricidades, casamentos infelizes e, por vezes, at mesmo de desintegrao emocional dos filhos. 9 Na poca em que fiz essas descobertas, Deus me mostrou que as formas comuns do ministrio pastoral no serviriam para solucionar alguns deles. Ele revelou-me tambm que devia abrir meu corao para um auto-exame, em busca de uma nova viso de meu relacionamento com minha esposa, filhos e amigos mais chegados. Depois disso, Deus me orientou para que ampliasse meu ministrio pastoral, a fim de incluir nele um cuidado especial e um ministrio de orao por pessoas com problemas emocionais e traumas de infncia. E nesses vinte anos em que tenho estado pregando, ensinando, distribuindo fitas sobre o assunto e dando aconselhamento a indivduos com problemas dessa natureza, tenho ouvido milhares de testemunhos de indivduos que antes eram derrotados na vida crist, e que foram libertados dos traumas emocionais e ficaram curados de distrbios causados por lembranas passadas. Neste livro, o leitor ficar conhecendo algumas dessas pessoas, e letra a respeito de atitudes e sensaes que conhece bem, por experincia prpria ou pela experincia de um ente querido. Qualquer semelhana com pessoas reais aqui perfeitamente intencional, e no mera coincidncia. Todos os indivduos mencionados neste livro so gente real, viva. Narramos sua histria com a devida permisso, mas, o nome e local dos incidentes foram modificados para corresponder confiana em ns depositada. Qualquer semelhana com a sua vida pode parecer coincidncia, mas tambm intencional, pois a maioria das pessoas possui os mesmos anseios e carncias. Espero que os captulos deste livro possam ajudar cada leitor a enxergar o modo como Deus opera na cura de traumas emocionais, na transformao de desajustes em equilbrio emocional, tornando um convertido derrotado em bno para outros. David A. Seamands Wilmore, Kentucky 10 "Ele mesmo tomou as nossas enfermidades." (MT8.17J "Tambm o Esprito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque no sabemos orar como convm, mas o mesmo Esprito intercede por ns sobremaneira com gemidos inexprimveis. E aquele que sonda os coraes sabe qual a mente do Esprito, porque segundo a vontade de Deus que ele intercede pelos santos." (Em 8.26,27.] 1 Perturbaes Emocionais

Em 1966, preguei um sermo, num domingo noite, cujo ttulo era "O Esprito Santo e a cura de nossos traumas emocionais". Foi minha primeira tentativa de penetrar nesta rea, e estava convencido de que Deus mesmo me transmitira aquela mensagem, seno nem teria tido coragem de entreg-la. O que eu disse naquela ocasio, sobre a cura interior, hoje j coisa velha. Podemos encontrar essas idias em alguns outros livros. Mas naqueles dias era novidade. Quando me levantei para pregar, olhei para a congregao e vi ali o nosso querido e velho conhecido Dr. Smith. Acontece que ele era uma pessoa que estava muito presente nas lembranas de minha infncia. Na ocasio em que eu e minha esposa soubemos que tnhamos sido indicados para exercer o pastorado onde nos encontramos hoje, logo vieram nossa mente a recordao de algumas fisionomias de velhos conhecidos para nos perturbarem um pouco. Uma dessas era a do Dr. Smith. Eu me indagava como poderia ser pastor dele. Quando eu era jovem, quantas vezes ficara nervoso com a sua pregao, e ainda me sentia um pouco sem jeito na presena dele. Quando o avistei no culto, naquela noite, senti meu corao apertar-se. Mas, mesmo assim, entreguei a mensagem que acreditava me fora dada por Deus. Aps o culto, vrias pessoas vieram frente e tivemos maravilhosos momentos de orao ali. Mas notei que o 13 Dr. Smith permanecera sentado em seu lugar. Enquanto orava pelas pessoas que se achavam no altar, fiquei desejando interiormente que ele fosse embora. Mas ele no foi. Por fim, veio frente, e, com aqueles seus modos secos, disse: David, posso falar com voc em seu gabinete? Imediatamente vieram minha lembrana todas as imagens do passado, e quem seguiu aquele idoso ali foi um rapazinho assustado. Quando me sentei, senti-me um pouco como Moiss deve ter-se sentido perante o fogo e a fumaa do monte Sinai. Mas estava muito enganado com relao a ele no tinha pensado que ou desse ter havido uma mudana. Eu petrificara a imagem que tinha dele no passado, e no deixara que ela se modificasse com o passar dos anos. Mas o Dr. Smith dirigiu-se a mim com muita mansido e disse: David, nunca ouvi uma mensagem igual a esta antes, mas quero dizer-lhe uma coisa. A essa altura, os olhos dele estavam marejados. Ele fora um extraordinrio evangelista e pregador durante muitos anos e ganhara milhares de almas para Cristo. Era realmente um grande homem. Mas, ao reexaminar seu ministrio, disse: Sabe de uma coisa, sempre houve pessoas por quem nunca pude fazer nada. Eram pessoas sinceras. Acredito que muitas delas eram cheias do Esprito, mas tinham srios problemas. Falavam-me de suas dificuldades, e eu tentava auxili-las. Mas por mais que as aconselhasse, por mais que citasse as Escritu ras, por mais que elas orassem, nada disso parecia dar-lhes uma libertao total. E em seguida ele acrescentou: Sempre tive um certo senso de culpa em meu ministrio, David. Mas acho que voc descobriu uma nova verdade a. Procure desenvolv-la mais, estudla mais. Por favor, continue a pregar sobre isso, pois creio que voc descobriu a soluo. E quando ele se levantou para sair, eram os meus olhos que estavam marejados quando repliquei: Obrigado, Dr. Smith. Mas, acima de tudo dizia interiormente: "Obriga14 do, Senhor, pela confirmao que me ds por meio deste caro amigo." O Problema Nestes quinze anos, com as fitas gravadas sendo enviadas a todos os recantos do mundo, tenho

recebido cartas e testemunhos confirmando minha certeza de que existe um certo tipo de problema que requer um toque mais profundo do Esprito Santo, e uma orao especial. De um lado esto nossos pecados e do outro nossas doenas, e entre os dois existe uma rea que a Bblia chama de "enfermidades". Podemos explicar isso melhor citando uma ilustrao da prpria natureza. Quem visita o Estado da Califrnia pode ver as belas Sequias gigantes. Na maioria dos parques, existem naturalistas que mostram aos interessados um corte dessa grande rvore, explicando que os anis dela revelam a histria de seu desenvolvimento, a cada ano. H por exemplo um anel que representa um ano em que houve terrvel seca. H tambm outros dois anis que falam de um ano que choveu demasiadamente. Ali h um ponto em que a rvore foi atingida por um raio. Aqui alguns anis que revelam um desenvolvimento normal. Um outro anel mostra um incndio florestal que quase destruiu a rvore; outro mais revela um ataque da ferrugem e de outras doenas. E tudo isso est gravado no tronco da rvore, como se fosse uma autobiografia de seu desenvolvimento. Assim acontece tambm conosco. Alguns "centmetros" abaixo da casca protetora, da mscara dissimuladora, acham-se registrados os anis de nossa vida. Ali esto as cicatrizes de mgoas antigas, dolorosas. .. como as do garotinho que acordou na manh do dia de Natal e correu janela dos fundos para ver seu sapatinho; e chegando ali encontrou nele apenas uma pedra suja, castigo por uma travessura qualquer. Essa cicatriz fica a corro-lo, causando todo tipo de problema em suas relaes com os outros. Ali est a descolorao de uma mancha trgica que 15 enxovalhou toda uma existncia... quando, alguns anos atrs, um garoto levou a irmzinha para um paiol ou para um mato, e revelou a ela os mistrios... no, as misrias do sexo. E mais adiante as presses de uma recordao penosa... quando uma criana tinha de correr atrs de um pai alcoolizado que estava a ponto de matar a me, e depois tinha de agarrar o faco antes que ele o fizesse. Essas cicatrizes ficam enterradas por longo tempo e depois provocam mgoas e iras inexplicveis. E elas no so sanadas pela converso, nem pela santificao, nem pelos outros benefcios comuns da orao. Tudo est registrado nos anis de nossa mente e de nossa psique. As lembranas esto gravadas; todas vivas l dentro. E elas vo afetar diretamente nossos conceitos, sentimentos e relacionamento com outros. Vo afetar o modo como encaramos a vida, como vemos a Deus, os outros e a ns mesmos. Muitas vezes, ns, os pregadores, damos aos ouvintes a enganosa idia de que o novo nascimento e a plenitude do Esprito iro automaticamente resolver esses problemas emocionais. Mas isso no verdade. A grande experincia com Cristo, embora seja importante e de valor eterno, no constitui um atalho para a cura de nossos males mentais. No uma cura instantnea para nossos problemas de personalidade. necessrio que compreendamos bem isto, primeiro, para que possamos aceitar-nos bem, e permitir que o Esprito Santo opere em ns, de uma forma toda especial, a fim de curar nossas mgoas e complexos. Precisamos entender isso tambm, para no julgarmos os outros com muita dureza, mas termos pacincia com aqueles que demonstram uma conduta contraditria e confusa. Agindo assim, evitaremos fazer crticas injustas e julgamentos errados contra nossos irmos. Eles no so falsos, fingidos nem hipcritas. Somos pessoas, como ns, com suas mgoas, cicatrizes emocionais e formao errada, e essas coisas interferem na conduta do momento. Se compreendermos bem que a salvao no nos d 16 uma cura imediata dos males emocionais ter uma compreenso melhor com relao doutrina da santificao. impossvel saber o grau de espiritualidade de uma pessoa simplesmente pela observao de sua conduta exterior. Mas no verdade que pelos seus frutos os conhecereis? (Mt 7.16.) ; mas verdade tambm que pelas suas razes poderemos compreend-los, sem julg-los. Aqui est Joo, que parece ser mais espiritual e mais responsvel do que Pedro. Mas, em realidade, se levarmos em considerao as

razes de Joo e o solo no qual ele se desenvolveu, e compararmos com os de Pedro, poderemos concluir que, na verdade, Pedro um santo. Pode ser que este tenha crescido muito mais do que Joo, em direo imagem de Jesus Cristo. Como errado, como anticristo julgar as pessoas superficialmente! Mas talvez alguns objetem: O que voc est fazendo? Rebaixando os padres cristos? Est negando o poder do Esprito Santo para curar nossos traumas? Est dando uma sada fcil para nossas responsabilidades, para que joguemos a culpa de nossos atos, de nossas derrotas e fracassos na vida, na hereditariedade, nos pais, professores, namoradas ou esposas? Ou como diz o apstolo Paulo: "Permaneceremos no pecado, para que seja a graa mais abundante?" (Rm 6.1.) E eu responderia como Paulo: "De modo nenhum." O que estou querendo dizer que existem certas reas de nossa vida que precisam de um toque especial do Esprito Santo. So coisas que esto fora do alcance das oraes comuns, da disciplina, da fora de vontade, e exigem um discernimento especial, precisam sofrer uma "desprogramao", e passar por uma transformao remodeladora, com a renovao da mente. E isso no acontece da noite para o dia, como uma experincia momentnea. Dois Extremos Se entendermos bem essas coisas, estaremos evitando o perigo de cair em um dos dois extremos. Alguns 17 crentes vem o diabo em qualquer coisa um pouco mais estranha. Deixe-me dizer uma palavra muito sria para esses novos convertidos ou cristos imaturos, mas quero diz-la em amor. Durante estes sculos todos, a igreja tem sido muito cautelosa antes de afirmar que uma pessoa est endemoninhada. Existe realmente a possesso demonaca. Em meus muitos anos de ministrio, em algumas situaes raras, tenho-me sentido impulsionado a usar da autoridade do nome de Jesus para expulsar um demnio, e tenho presenciado cura e libertao nesses momentos. Mas somente um cristo maduro, cuidadoso e que ore muito pode tentar expulsar demnios. Quantas vezes tenho passado horas e horas em aconselhamento com pessoas que se sentem arrasadas e desiludidas, tentando reanim-las e reergu-las, simplesmente porque um cristo imaturo cismou de expulsar delas demnios imaginrios. O outro extremo dar uma soluo demasiadamente simplista, dizendo: Leia mais a Bblia. Ore mais. Tenha mais f. Se voc estivesse bem espiritualmente, no teria este problema. Nunca ficaria deprimido. Nunca teria esses traumas e taras. Contudo, aqueles que do tal resposta esto sendo muito insensveis. Esto apenas colocando mais presses sobre uma pessoa que j sofre muito e que est lutando, e sem sucesso, com um problema de origem emocional. Ela j tem forte sensao de culpa com relao a ele; e quando outro o leva a sentir-se pior por ter o problema, est redobrando o peso de sua culpa e desespero. possvel que o leitor j tenho ouvido a histria daquele homem que estava viajando num vo noturno, e quando abriu a caixinha com o jantar pr-embalado encontrou, bem em cima da salada, uma enorme barata. Chegando em casa, escreveu uma veemente carta de protesto ao presidente da empresa. Alguns dias depois, recebeu uma carta expressa, assinada pelo presidente. Vinha cheia de desculpas. "Foi um acidente bastante raro para ns, mas no 18 se preocupe. Gostaria de assegurar-lhe que aquele avio foi totalmente dedetizado. Alis, todos os assentos e estofamentos foram removidos. Tomamos medidas disciplinares contra a atendente que serviu a refeio, e talvez seja dispensada. bastante provvel que a prpria aeronave seja encostada. Posso garantir-lhe que isso nunca mais acontecer. Espero que continue a viajar conosco." Pois bem, o passageiro ficou muito impressionado com essa carta, at que notou um fato. Por engano, a carta que ele tinha enviado ao presidente viera presa resposta deste. E quando olhou para ela, viu uma nota rabiscada embaixo, que dizia: "Envie nossa costumeira circular para

reclamao de barata." E quantas vezes ns tambm damos uma costumeira resposta para a reclamao de baratas s pessoas que esto sofrendo problemas emocionais. Damos respostas padronizadas, simplistas demais, que os deixam ainda mais desesperados e desiludidos. As Evidncias Quais so essas doenas emocionais? Uma das mais comuns um profundo sentimento de desvaJor, uma perene sensao de ansiedade, incapacidade e inferioridade, uma vozinha interior que vive a repetir: "Nu presto para nada. Nunca serei nada. Ningum pode gostar de mim. Tudo que fao d errado." O que acontece a esse indivduo quando se converte? Uma parte de seu ser cr no amor de Deus, aceita o perdo de Deus e sente paz por algum tempo. Mas depois, de repente, parece que algo dentro dele acorda e grita: " tudo mentira! No creia nisso! No ore! No h ningum l em cima para escut-lo. Ningum pode aliviar sua aflio. Como Deus poderia amar e perdoar a uma pessoa como voc? Voc ruim demais!" O que aconteceu? Aconteceu que as Boas-Novas do evangelho no atingiram o mais ntimo recesso de seu ser, que foi traumatizado, que tambm precisa receber a mensagem do evangelho. Essas cicatrizes profundas 19 precisam ser alcanadas pelo "Blsamo de Gileade" e por ele curadas. Mas existe tambm um outro tipo de problema que, na falta de um termo melhor, denomino complexo de perfeicionismo. Trata-se de um sentimento interior de insatisfao. "No consigo fazer nada. Nunca fao nada direito. No consigo satisfazer nem a mim mesmo, nem aos outros, nem a Deus." Esse tipo de pessoa est sempre procurando alguma coisa, sempre lutando, e geralmente carrega uma sensao de culpa, sempre impelida pelo que sente ser seu dever. "Devo ser capaz de fazer isso. Devo ser capaz de fazer aquilo. Tenho que melhorar." Est sempre tentando "subir", mas nunca chega ao alto. Ento, o que se passa com essa pessoa quando se converte? Infelizmente, em geral, ela transporta esse mesmo senso de perfeicionismo para seu relacionamento com Deus, que ela agora v como um Ser l no alto de uma escada. E diz consigo mesma: "Agora vou subir para chegar at Deus: Sou filho dele e desejo agrad-lo mais que qualquer coisa." E assim ela se pe a subir, degrau por degrau, at ficar com os ns dos dedos em sangue e com os joelhos feridos. Finalmente, chega ao alto, e ali descobre que Deus avanou mais trs degraus. Ento ela resolve esforar-se um pouco mais. E sobe e luta, mas quando checa l, seu Deus j subiu mais trs degraus. Faz alguns anos, recebi um telefonema de uma senhora, esposa de um pastor amigo, pedindo-me que conversasse com ele. O marido acabara de sofrer um srio colapso nervoso. Quando nos dirigamos para o hospital, ela se ps a explicar algumas coisas a respeito dele. No entendo o Bill, disse. Parece at que ele tem um "feitor" dentro dele, que no o larga para nada. Ele nunca relaxa, pois no consegue largar mo das coisas. Est sempre trabalhando excessivamente. O povo da igreja gosta muito dele, e faria qualquer coisa por ele, mas ele no o permite. E j est nesse ritmo h tanto tempo, que afinal no agentou mais. Fiz diversas visitas a Bill, e quando ele melhorou um pouco, j podendo conversar, falou-me de sua infncia e de seu lar. Quando era criana, desejava ardentemente agradar a seus pais. E procurava conquistar a admirao da me ajudando-a a pr a mesa de vez em quando. Mas ela dizia: Bill, voc colocou as facas do lado errado. Ento ele as colocava do lado certo. Mas ela dizia: Agora colocou os garfos do lado errado. Depois eram os pratos de salada. E nunca parecia que as coisas estavam certas para ela. E por mais que tentasse, tambm no conseguia satisfazer ao pai. Trazia o boletim com notas 8 e 9, mas o pai olhava para o cartozinho e dizia: Bill, acho que se voc se esforar um pouco, poder tirar 9 em tudo, no poder? Ento ele se ps a estudar mais e mais, e certo dia trouxe o boletim com 9 em todas as matrias.

Ento o pai disse: Mas sabe de uma coisa? Se voc se esforar um pouco mais, poder tirar 10 em tudo. E ele estudou e se esforou durante vrios meses, at que finalmente ganhou 10 em tudo. Ficou to entusiasmado! Agora, o pai e a me certamente ficariam muito satisfeitos com ele. Correu para casa, pois no via a hora de chegar l. O pai olhou para o carto e depois disse: Ah, conheo esses professores. Eles do 10 toa! Quando se tornou pastor, sua congregao era para ele como seus pais: trocou os dois por cem pais. No conseguia nunca satisfaz-los, por mais que se esforasse. Afinal, no suportou mais e teve um colapso, devido ao imenso esforo de tentar agrad-los, e de sempre tentar superar a si mesmo. Certa vez um telogo modernista, desses que esposam a tese de que Deus est morto, estava sendo entrevistado. O reprter lhe perguntou: O que Deus, para o senhor? Deus? Ah, para mim, Deus aquela vozinha interior que est sempre dizendo: "Ainda no est bom!" 21 Com isso , ele no falou muito acerca de Deus, mas revelou muita coisa sobre seus traumas. E acredito que pessoas doentes assim s podem produzir doutrinas enfermas. Ah, como o complexo de perfeicionismo derrota a muitos na caminhada crist! E como afasta as pessoas do reino de Deus! Existe outro tipo de trauma emocional que podemos chamar de susceptibilidade. Em geral, a pessoa que super sensvel j sofreu muitas mgoas. uma pessoa que desejou o amor, a admirao e a afeio de outros, mas s recebeu o contrrio, e assim carrega profundas cicatrizes emocionais. Muitas vezes, ela v coisas que os outros no vem, e sente a realidade de uma forma que os outros no sentem. Certo dia, eu estava andando por uma rua e vi o Charlie vindo em minha direo. Ele um indivduo muito susceptvel. Geralmente dispenso a ele muita ateno, mas naquele dia estava um pouco apressado e disse apenas: Oi, Charlie! Como vai? E segui em frente. Quando cheguei ao meu gabinete, recebi um telefonema de um membro da igreja que me perguntou: O Senhor est chateado com o Charlie? Qual Charlie? O senhor sabe; o Charlie Olson. No; at o vi na rua hoje. Mas, de repente, compreendi que o problema era que no havia dado a ele a ateno e considerao que geralmente dou, sabendo que extremamente sensvel. As pessoas muito susceptveis exigem muito agrado. E por mais ateno que lhes demos, esta nunca suficiente. Em alguns casos, elas se tornam duras e insensveis. que sofreram tantas mgoas, que, em vez de se tornarem sensveis, camuflam o fato tornando-se "duronas". Querem se vingar nos outros. Assim, quase que inconscientemente, passam a vida a empurrar os outros para o lado, a magoar e dominar as pessoas. E se utilizam de armas tais como dinheiro, posio, autoridade, sexo e at mesmo o plpito para magoar as 22 pessoas. Ser que isso afeta sua experincia crist? Sim, e profundamente. E depois h indivduos que esto sempre cheios de temores. s vezes o maior temor deles o de fracassar. As pessoas que sofrem esse tipo de trauma tm tanto medo de perder o jogo da vida, que encontram apenas uma sada nunca entram no jogo. Ficam sentadas nas laterais. Dizem elas: No aceito as regras do jogo; no gosto do juiz. Ou ento: A bola no bem redonda. Ou ento: As traves no esto na posio certa. H alguns anos, fui a uma revendedora de carros usados. Quando estava examinando os carros em

exposio na companhia de um vendedor, vimos um homem l fora dando chutes nos pneus dos carros estacionados para venda. Depois ele erguia a capota e dava golpes no pra-choques do veculo. O vendedor virou-se para mim e comentou irritado: Olhe s aquele sujeito ali. E desses que s querem chutar os pneus. So o espinho de nossa profisso. Esto sempre entrando aqui, mas nunca compram, pois no se decidem. Olhe aquele ali. Est dando chutes nos pneus. Diz que as rodas no esto alinhadas. Depois liga o motor, escuta um pouco e diz: "Est ouvindo bater?" Ningum ouve nada, s ele. Sempre h alguma coisa errada no carro. Mas na verdade que ele tem medo de chegar a uma defini o, no consegue tomar a deciso, ento fica procu rando desculpas. E o mundo est cheio desses chutadores de pneus, pessoas que tm receio de fracassar, de tomar a deciso e errar. O que se passa com uma pessoa dessas, quando se converte? Crer um grande risco; muito difcil. Fazer uma deciso um ato doloroso para eles. muito difcil ter f. Dar testemunho um peso. Entregar-se de corpo e alma ao Esprito Santo, fazer uma rendio pessoal a Cristo quase um trauma. Exercitar autodisciplina tambm penoso. Essas pessoas temerosas vivem sempre no plano do se 23 pelo menos: "Se pelo menos houvesse isso ou aquilo, estaria tudo bem." Mas esse se pelo menos nunca se resolve, e assim elas nunca conseguem o que desejam. Os temerosos so aqueles que esto constantemente sendo derrotados e mostrando-se indecisos. A questo do sexo acha-se estreitamente relacionada com todas essas mencionadas, mas precisamos dar uma palavra especial sobre ela. Quando Paulo escreveu sua primeira carta aos corntios, abordou todos os problemas humanos possveis e imaginveis, e alguns dos mais inimaginveis. Falou sobre disputas, diviso da igreja em grupos, casos de tribunais, contendas acerca de propriedades e vrios tipos de problemas sexuais, desde o incesto at a prostituio. Falou sobre sexo pr-conjugal, conjugai e extra-conjugal. Analisou questes tais como viuvez, divrcio, vegetarianismo, bebedices por ocasio da Ceia do Senhor, dons de lnguas, mortes e enterros, o levantamento de ofertas e campanhas pessoais dentro da igreja. Contudo, ele inicia sua carta dizendo que no queria saber nada entre eles, a no ser "Jesus Cristo, e este crucificado" (1 Co 2.2). Isto significa que o evangelho algo de muito prtico, e atinge toda a nossa vida. Grande parte da carta de Paulo tinha a ver com problemas de ordem sexual. Estamos vivendo uma poca como a de Corinto. muito difcil, em nosso mundo atual, uma pessoa no sofrer algum tipo de trauma sexual na fase de formao. Poderia citar milhares de pessoas que me procuram solicitando orientao. Lembro-me de uma senhora em cuja igreja preguei, e que depois de ouvir-me fez uma viagem de quase dois mil quilmetros para falar comigo. Recordo-me tambm de um senhor que entrou em meu gabinete certo dia, e disse que havia rodado em torno do quarteiro onze vezes, reunindo coragem para vir falar comigo. Ambos eram cristos sinceros, e todos os dois estavam enfrentando problemas de homossexualismo. Lembro-me de uma jovem, estudante de uma uni24 versidade distante, onde preguei. At hoje no sei como a fisionomia da moa, pois ficou o tempo todo de costas para mim, com o casaco erguido em torno do rosto, sentada a um canto da sala, soluando. Por fim disse: Preciso contar isso para algum, seno vou explodir. E ento, ainda virada para o canto, contou-me uma histria triste, uma histria que estamos ouvindo cada vez mais nestes dias, sobre um pai que no a tratava como filha, mas como esposa.

Lembro-me de dezenas de rapazes e moas que receberam informaes falsas e perniciosas de seus pais e pastores, pessoas bem intencionadas, mas ignorantes. Agora so indivduos despreparados para o casamento, incapazes de serem bons maridos e esposas, no conseguindo mais viver sem temores, senso de culpa e vergonha. Traumatizados. Sim; e seriamente. E o evangelho teria uma soluo para esses diversos tipos de traumas? Se ele no puder oferecer a soluo para todos eles, ento ser melhor que ponhamos cadeados em nossas igrejas, paremos de brincar de cristianismo e calemos a boca, parando de falar sobre essa nossa Boa-Nova. A Restaurao Divina Deus tem solues para oferecer-nos? Tem sim. Em sua carta aos romanos, Paulo falou sobre o Esprito Santo que nos assiste em nossa fraqueza (Rm 8.26). Um sentido da palavra assistir justamente o de acompanhar, passo a passo, um processo de cura. Ento no se trata apenas de "pegar a outra ponta do peso", que o sentido literal deste verbo, mas o Esprito Santo torna-se nosso companheiro, que trabalha a nosso lado, participando de nosso processo de restaurao. E qual a parte que nos cabe neste processo de cura da alma enferma? O Esprito Santo , realmente, o conselheiro divino, o psiquiatra espiritual que carrega "a outra ponta" do problema. Mas ns seguramos a de c. E o que exatamente que temos de fazer nesse processo? Esse justamente o objeto deste livro, e o leitor encontrar muitas sugestes, medida que for prosseguindo na leitura. Contudo, neste ponto, eu gostaria de apresentar os princpios bblicos gerais, que devem ser observados, para que encontremos a cura de nossos traumas emocionais. 1. Encarar o problema de /rente. Com a ajuda de Deus, voc ter que encarar de frente essa terrvel e oculta mgoa de infncia, com toda a sinceridade moral, por mais profunda que ela seja. Reconhea o problema ao nvel do consciente, para si mesmo, e fale dele para outra pessoa. Existem problemas que nunca podero ser solucionados, enquanto no falarmos deles para outrem. "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados." (Tg 5.16.) Algumas pessoas deixam de receber uma cura de alcance mais profundo, por no terem coragem de abrir-se totalmente com outros. 2. Aceitar nossa responsabilidade no fato. Voc poder dizer: "Eu fui uma vtima; essa pessoa pecou contra mim. O senhor no imagina o que aconteceu comigo." verdade. Mas, e a sua reao? E o que dizer do fato de voc ter abrigado ressentimentos e dio, ou ter-se recolhido a um mundo irreal, para fugir ao problema? E algum poder dizer: Meus pais no me ensinaram nada sobre o sexo, e quando cresci e tomei contato com esse mundo mau, era inocente e ignorante. Por isso tive esses problemas. Isso foi o que aconteceu na primeira vez. Mas, e quanto segunda e terceira? De quem foi a culpa? A vida como uma tapearia muito complexa, tecida com tear e lanadeira. A hereditariedade, o ambiente, as experincias da infncia vividas com pais, professores, colegas, as adversidades da vida, tudo isso est do lado do tear, e essas coisas jogam a lanadeira para ns. Mas lembremos que ns atiramos a lana26 deira de volta para o tear. E este ato, juntamente com nossa reao para com essas coisas, que vo dando forma tapearia de nossa vida. Somos responsveis por nossas aes. Voc nunca conseguir a cura para seus traumas, enquanto no parar de colocar a culpa nos outros, e aceitar sua responsabilidade. 3. Perguntar a ns mesmos se desejamos realmen te ser curados. Foi essa a pergunta que Jesus dirigiu ao paraltico que estava enfermo havia trinta e oito anos (Jo 5.6.) Voc deseja realmente ser curado, ou est querendo apenas conversar sobre seu problema? Voc no est querendo apenas usar esse problema para despertar a compaixo dos outros? No o est queren do apenas como uma muleta, para que possa caminhar

manquitolando? E o paraltico respondeu para Jesus: "Mas, Senhor, ningum me pe na gua. Eu bem que tento, mas todos chegam antes de mim." Ele no queria examinar o fundo de seu corao, para ver realmente se desejava ser curado. Vivemos numa poca que alguns denominam "era da malandragem", onde cada um quer jogar a culpa nos outros, em vez de aceitar suas prprias responsabilidades. Pergunte a si mesmo: "Ser que desejo realmente ser curado? Estou disposto a encarar minha responsabilidade no problema?" 4. Perdoar a todos que esto envolvidos em nosso problema. Encarar nossa responsabilidade no caso e perdoar os outros, so, na verdade, as duas faces de uma mesma moeda. A razo por que algumas pessoas no conseguem perdoar seu ofensor que, se o fizerem, estaro perdendo o ltimo p de apoio, e no tero mais a quem culpar. Encarar nossa parte num erro e perdoar ao outro so quase a mesma ao. Haver casos em que precisaremos fazer as duas coisas simultaneamente. Jesus deixou bem claro que no pode haver cura, enquanto no se der um perdo total. 5. Perdoar a si mesmo. Muitos dizem: ", eu sei que Deus j me perdoou, mas nunca poderei perdoar a mim mesmo." De certo modo, isto uma contradio. Como uma pessoa pode crer realmente que Deus a 27 perdoou, se no pode perdoar a si mesma? Quando Deus nos perdoa, ele enterra nossos pecados no mar de seu perdo e esquecimento. como disse Corrie ten Boom: "Depois ele coloca uma placa na margem com os dizeres: 'Proibido pescar'." No temos o direito de "dragar" uma coisa que Deus j perdoou e esqueceu. Ele j a deixou para trs. Por um mistrio incompreensvel, a oniscincia divina, de algum modo, j esqueceu nossos pecados. Voc pode perdoar a si mesmo. 6. Pedir ao Esprito Santo para nos mostrar qual realmente nosso problema, e como devemos orar a respeito dele. Paulo disse que muitas vezes no sabemos orar como convm (Rm 8.26). Mas o Esprito Santo ora por nosso intermdio, e intercede por ns. Por vezes, ele utiliza a pessoa de um conselheiro para nos ajudar a descobrir qual nosso verdadeiro problema. Em outras, ele faz isso por meio da Palavra de Deus ou de algum incidente que, num instante, nos revela o problema. muito importante que enxerguemos com clareza a questo e saibamos como devemos orar. Tiago nos adverte de que, s vezes, no somos atendidos em nossas peties porque pedimos coisas erradas (Tg 4.3). Pode ser que precisemos solicitar a ajuda de um conselheiro ou pastor, ou mesmo de um amigo, e juntamente com essa pessoa orar ao Esprito Santo para que nos aponte onde est o erro. J ouviu aquela historieta sobre Henry Ford e Charles Steinmetz? Steinmetz era ano, um homem feio e deformado, mas possua uma das maiores inteligncias que o mundo j viu, no campo da eletricidade. Foi ele quem fabricou os primeiros geradores para a fbrica da Ford, em Dearborn, Michigan. Um dia os geradores se queimaram, e toda a fbrica parou. Mandaram chamar vrios mecnicos e eletricistas para consert-los, mas ningum conseguiu recoloc-los em funcionamento. A firma estava perdendo dinheiro. Ento Henry Ford mandou chamar Steinmetz. E o gnio chegou ali, ficou a remexer por algumas horas, e depois ligou a chave e toda a fbrica voltou a funcionar. Alguns dias depois Henry Ford recebeu a conta de 28 Steinmetz, no valor de $10.000 dlares. Embora fosse muito rico, devolveu a conta com um bilhete: "Charlie, essa conta no est muito alta para um servio de poucas horas, em que voc apenas deu uma mexida naqueles motores?" E Steinmetz devolveu-a para Ford, mas desta vez tinha uma explicao: "Valor da mexida nos motores: $10 dlares. Valor do conhecimento do lugar certo para mexer: $9.990 dlares. Total: $10.000." E Ford pagou a conta. O Esprito Santo sabe o lugar certo de mexer. No sabemos como devemos orar. E muitas vezes no recebemos, porque pedimos erradamente. Ao ler estes captulos, pea ao Esprito Santo para mostrar-lhe o que voc precisa saber sobre si mesmo, e tambm que o oriente em sua orao. 29 "Por isso, o reino dos cus semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.

E... trouxeram-Jhe um que devia dez mil talentos. No tendo, ele, porm, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido... Ento o servo, prostrando-se reverente, rogou: S paciente comigo e tudo te pagarei. E o senhor daqueJe servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-ihe a dvida. Saindo, porm, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denrios; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Ele... o lanou na priso, at que saldasse a dvida. Ento o seu senhor, chamando-o, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te a-quela dvida toda, porque me suplicaste; no devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como tambm me compadeci de ti? E, indignando-se o seu senhor, o entregou aos verdugos, at que lhe pagasse toda a dvida. Assim tambm meu Pai celeste vos far, se do ntimo no perdoardes cada um a seu irmo." (Mt 18.23-35.) "E perdoa-nos as nossas dvidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores." [Mt 6.12.) 2 Culpa, Graa e Cobrana de Dbitos Com esta parbola, Jesus expressou seu ensino sobre o perdo com toda a clareza, em cores vivas e som estereofnico. Ela contm muitas revelaes sobre nossa restaurao espiritual e emocional. Mas isso no deve nos surpreender. Jesus foi a nica pessoa equilibrada e perfeitamente sadia que j viveu neste mundo. A Bblia afirma que ele sabia o que estava no corao do homem, at mesmo o que se esconde bem l no ntimo. Assim sendo, podemos saber de antemo que seus ensinos e princpios contm as mais profundas verdades psicolgicas. A Parbola Certo rei resolveu acertar as contas com seus credores e, ao faz-lo, descobriu que um de seus servos lhe devia a fantstica quantia de dez mil talentos. Jesus citou aqui uma soma realmente elevada, praticamente impossvel de se resgatar. Os impostos anuais das provncias da Judia, Idumia, Sama-ria, Galilia e Peria somados chegavam apenas a cerca de 800 talentos. Mas o exagero da quantia para acentuar a verdade ensinada. Nossa dvida para 31 com Deus e com os outros to elevada, que se torna impossvel resgat-la, assim como um escravo que recebia um salrio de poucos talentos por ms no podia economizar o suficiente para saldar um dbito de dez mil talentos. E o homem caiu de joelhos pediu misericrdia ao seu senhor. O que ele pede uma concesso especial, a makrothumason. Todas as vezes que este vocbulo aparece no Novo Testamento significa "dilatao do tempo, adiamento". Senhor, seja paciente comigo, diz ele. Adie essa cobrana, e lhe pagarei tudo. D-me um pouco mais de tempo. Vemos a que a idia que o servo tinha sobre perdo era uma, e a do rei era outra. O senhor, em sua misericrdia, perdoou-lhe tudo e o libertou. Mas aquele mesmo servo, ao sair dali, encontrou um colega seu, outro servo do rei, que lhe devia a msera quantia de 100 denrios. Ento agarrou-o pelo pescoo e disse: Pague-me o que me deve. E vendo que o outro no tinha condies de pagar-lhe, ele no teve misericrdia e lanou-o na priso, at que o pagasse. Ento o rei mandou chamar o servo e disse: Olhe aqui, eu lhe perdoei toda a sua dvida, e agora voc age assim com seu colega? E bastante irado com ele, mandou-o para a priso, at que pagasse o que devia. Se a histria terminasse a, j seria bastante trgica, mas Jesus disse outra coisa logo a seguir, que foi uma verdadeira "pontada": "Assim tambm meu Pai celeste vos far, se do ntimo no perdoardes cada um a seu irmo." Espere um pouco a, Jesus. O que o Senhor est querendo dizer com isso? Que imagem do Pai

celeste essa que o Senhor est projetando? No seria isso uma traduo inexata? No; a inferncia est muito clara. Deus ser um cobrador drstico e duro com aqueles que, no perdoarem e no forem perdoados. Ser isso um exagero, como no caso da quantia em dinheiro? Ou ser que se refere apenas vida futura, 32 ao castigo dos mpios? possvel que ela se aplique aos mpios tambm, mas, na verdade, no precisamos esperar a outra vida, para vermos essas palavras de Jesus se cumprirem. Aqui mesmo e em nossos dias, as pessoas que no perdoam ou no so perdoadas vivem sofrendo com sentimentos de culpa e ressentimento. Elas vivem numa priso, onde so torturadas por todo tipo de conflito emocional. Deveres e Dbitos Entrelaada a esta parbola de Jesus acha-se um quadro sobre os inter-relacionamentos humanos. O mundo foi feito para o perdo; foi feito para a graa; para o amor em todos os aspectos da vida. A prpria estrutura da natureza humana j traz dentro de si a necessidade dessas coisas que est em cada clula de nosso corpo, em cada relacionamento com outros. Fomos criados com a necessidade de graa, amor e aceitao. Uma das definies bblicas para o pecado "violao das leis de Deus". Quando transgredimos uma dessas leis, estamos, num certo sentido, em dbito para com elas. As palavras dever e dbito vm da mesma raiz. Quando dizemos: "Devo agir assim" ou "no devo agir assim" estamos praticamente dizendo: "Tenho esse dbito para com Deus" ou "Tenho esse dbito para com essa pessoa", isto , o dbito de agir ou no agir de certa forma. E esse princpio relacionado com a lei de Deus aplica-se tambm ao relacionamento com outras pessoas. Temos deveres e dbitos uns para com os outros. Muitas vezes, quando pecamos contra uma pessoa, dizemos: Sinto que estou em dbito com ele. Ou ento: Sinto que ela me deve desculpas. E quando um condenado liberto da cadeia aps o cumprimento de sua pena, dizemos que ele pagou seu dbito para com a sociedade. Jesus expressou este mesmo conceito no mago do 33 Pai Nosso, quando nos ensinou a orar: "E perdoa-nos as nossas dvidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores." Os pastores, conselheiros, ou qualquer outra pessoa que trabalhe com a alma humana sabem que essa questo de dbitos morais acha-se presente na natureza humana de uma forma incrvel. Existe em ns um sentimento de dever, de que temos um dbito, uma espcie de mecanismo automtico pelo qual a cobrana de dvidas entra em funcionamento. E ento buscamos formas de expiar nossos erros, de pagar nossas dvidas, ou de cobrar o que os outros nos devem. Se temos raiva de ns mesmos, pensamos: " Tenho que pagar por tudo isso." Mas se sentimos raiva de outrem, ento ele quem tem de pagar. E deste modo, esse inexorvel processo de dvida e cobrana entra em funcionamento, e a pessoa entregue aos seus "verdugos" interiores. So os carcereiros que atuam como cobradores, nesta horrvel priso. Alguns de ns ainda se recorda da escalao da defesa do "Rams"* de alguns anos atrs. Os quatro somados davam um total de meia tonelada de msculos, que simplesmente barravam os adversrios. Eles eram chamados de "Os Quatro Temveis". Jesus est ensinando que os que no perdoam e no so perdoados so entregues a um outro grupo de Quatro Temveis: sentimento de culpa, ressentimento, esforo e aflio. Esses quatro produzem em ns conflitos, stress e toda a sorte de problemas psicolgicos. O Dr. David Belgum, ao comentar a afirmao de que quase setenta e cinco por cento das pessoas que se encontram internadas nos hospitais hoje com molstias fsicas sofrem de enfermidades que tm raiz em problemas emocionais, diz que esses pacientes com essas doenas esto punindo a si mesmos, e que os sintomas fsicos e os colapsos podem ser uma involuntria confiso de culpe. [Guilt: Where Psychology and Reli-gion Meet Culpa: ponto comum entre a Psicologia e a

Religio). * Rams time de futebol americano da cidade de Los Angeles. NT 34 As Causas dos Problemas Emocionais H muitos anos cheguei concluso de que as duas maiores causas de problemas emocionais entre os evanglicos eram as seguintes: o fato de no compreenderem, nem receberem, nem viverem na graa e perdo incondicionais de Deus, e o fato de no dispensarem esse perdo e amor incondicionais a outros. 1. No receber perdo. Muitos de ns somos como o servo da parbola. Como ele no compreendeu a oferta do rei, suplicou-lhe um adiantamento do pagamento. E o que aconteceu? O senhor, em sua misericrdia, deu-lhe mais do que ele pedia, mais do que ele imaginava e desejava. Ele o liberou da dvida, perdoando todo o seu dbito. Mas o servo parece no ter ouvido o que o senhor lhe disse. Pensou que ele lhe havia concedido o que pedira. E o que ele pedira? Pedira o alargamento do prazo, pedira que tivesse pacincia com ele. "Senhor, por favor, no execute minha dvida. Estenda o prazo da promissria um pouco mais, e lhe asseguro que pagarei tudo que devo." E com sua estupidez e orgulho, pensava que poderia pagar-lhe os dez mil talentos, se este lhe desse um prazo. Mas o senhor, em sua misericrdia, cancelou toda a dvida. No se limitou simplesmente a dilatar o prazo. Ele rasgou a promissria; cancelou o dbito, e o servo ficou livre daquele compromisso, livre da ameaa da priso. O pobre homem nem quis acreditar em uma notcia to auspiciosa. Na verdade, no a absorveu. No a introduziu em sua vida. No desfrutou dela... Pensou que ainda se encontrava debaixo de condenao como um devedor qualquer, e que apenas tinha ganhado um dilatamento do prazo para trabalhar mais e economizar, e depois pagar a dvida. Como no entendera que seu dbito fora cancelado, os verdugos interiores do ressentimento, do sentimento de culpa, do esforo e da aflio comearam a atuar dentro dele. Como achava que ainda tinha aquela dvida, pensava tambm que ainda tinha de pag-la, e de cobrar os dbitos de seus devedores. Muitos de ns somos assim. Ouvimos falar da 35 maravilhosa doutrina da graa, lemos a respeito dela e acreditamos nela. Mas no vivemos de acordo com ela. Cremos na graa apenas mentalmente, mas no com o mais profundo de nosso ser, nem em nosso relacionamento com outros. E, no entanto, a palavra que mais dizemos, e com mais sentimento religioso. Mencionamos a graa em nossos credos, e falamos a seu respeito quando cantamos. Proclamamos que somos salvos apenas pela graa, por meio da f, sendo esse fato um trao distintivo da f crist. Mas tudo isso se acha somente em nossa cabea. A boa-nova do evangelho da graa no atingiu ainda as nossas emoes. Ainda no penetrou no nosso relacionamento com as outras pessoas. Recitamos como papagaios a definio: "A graa um favor imerecido que recebemos de Deus." Mas isso no atinge nossos sentimentos. No afeta nossa vida. No vamos at onde deveramos ir. A graa no apenas um favor imerecido de Deus. tambm algo que no podemos conquistar pelo esforo prprio, e que nunca teremos condies de retribuir. E como muitos de ns no vem, no conhecem e no sentem a graa, so impelidos trgica atitude de trabalhar, esforar-se e tentar fazer alguma coisa. Na verdade esto tentando livrar-se do sentimento de culpa. Esto tentando expiar seus pecados e pagar seu dbito. Eles lem um captulo a mais da Bblia, aumentam em dez minutos o momento devo-cional, e depois saem para fazer um trabalho evange-lstico movidos por sentimentos de culpa. A salvao deles foi recebida como que por uma nota promissria. Muitos so como um certo pastor jovem que veio ver-me certa vez. Estava com muitos problemas de relacionamento com outros, principalmente com a esposa e a famlia. Eu j havia conversado com a esposa dele em particular; era uma excelente pessoa atraente, terna, carinhosa e amorosa e o auxiliava muito no ministrio. Mas ele estava constantemente a critic-la, a jogar a culpa sobre ela. Tudo que ela fazia estava errado. Ele se mostrava sarcstico e por demais exigente, e rejeitava suas iniciativas afetivas, recusando seu amor e afeio. Pouco a pouco fui 36

percebendo uma coisa: ele estava destruindo o casamento deles. Depois ele mesmo comeou a perceber que estava prejudicando as pessoas, com seus sermes por demais rudes e cheios de julgamento. E realmente um pastor s vezes faz isso, no ? Ele estava despejando sua infelicidade sobre os outros. Afinal, desesperado, veio conversar comigo. No incio de nossa entrevista ele enfrentou o problema como um verdadeiro homem: jogou a culpa de tudo na esposa. Mas, aps alguns momentos, resolveu ser sincero, e a dolorosa raiz de todo o problema veio tona. Quando estava servindo o exrcito na Coria, passara duas semanas de licena para descanso e recuperao, no Japo. Nessa ocasio, estava caminhando pelas ruas de Tquio sentindo-se muito sozinho, vazio e saudoso de casa, e acabou caindo em tentao, tendo ido a uma prostituta umas trs ou quatro vezes. Nunca conseguira perdoar-se por isso. Pedira o perdo de Deus e, mentalmente, acreditou que o recebera. Mas o senso de culpa continuou a atorment-lo, e ele odiava a si mesmo. Todas as vezes que se olhava ao espelho, no suportava ver-se. Nunca falara sobre isso com ningum e o peso estava-se tornando insuportvel. Depois ele voltou para casa e casou-se com a noiva que esperara por ele fielmente, e a seus conflitos emocionais se intensificaram, pois no conseguia aceitar o perdo pleno. No conseguia perdoar-se pelo que fizera a si mesmo e a ela, e por isso no conseguia tambm aceitar o amor e afeio que ela lhe oferecia com toda sinceridade. Achava que no tinha direito de ser feliz. Dizia para si mesmo: "No tenho direito de ser feliz com minha esposa. No tenho direito de ser feliz na vida. Tenho que pagar esse dbito." Os terrveis verdugos estavam atuando em seu interior, e ele tentava castigar a si mesmo, para sofrer e expiar sua culpa. E durante todos aqueles anos, ele estivera vivendo numa priso, com os cobradores executando seu terrvel ofcio. E, como bem disse A.W. 37 Tozer, aquele jovem pastor estava vivendo na "priso perptua do remorso". Como foi maravilhoso, depois, v-lo receber o perdo total de Deus, de sua esposa e tambm o melhor de todos o perdo de si mesmo. claro que ele era cristo autntico. Ele cria na graa de Deus e pregava sobre ela, mas nunca havia aceitado plenamente o perdo divino. Estava tentanto pagar sua nota promissria. Estava procurando fazer uma espcie de auto-expiao, com um mecanismo de senso de culpa operando dentro dele. No podemos receber o perdo de Deus, enquanto no perdoarmos nosso irmo de todo o corao. E fico a indagar se no temos sido muito limitados em pensar que esse irmo se aplica apenas a uma outra pessoa. Quem sabe ns somos o irmo que precisa ser perdoado, e tenhamos que nos perdoar a ns mesmos? Isso no se aplica a ns tambm? O Senhor Jesus disse para perdoarmos nossos inimigos. E se ns formos nosso pior inimigo? Isso nos exclui? Aquele jovem pastor teve que compreender que perdoar a outrem significa perdoar a si mesmo tambm. A raiva e o ressentimento que temos contra ns, assim como a recusa em perdoar a ns mesmos, so to prejudiciais e nocivos como os que sentimos contra as outras pessoas. 2. No perdoar. Quando no conseguimos receber e aceitar o perdo e a graa de Deus, tambm no damos perdo, amor e graa incondicionalmente a nosso prximo. E o resultado disso uma deteriorao de nosso relacionamento com os outros, com o surgimento de conflitos emocionais entre ns e eles. Quem no recebe perdo, tambm no perdoa aos outros, e esse crculo vicioso se fecha com os rancorosos, que tambm no podem ser perdoados. Como essa parbola trgica! O servo, que no compreendera que fora totalmente perdoado, pensava que ainda tinha de sair por ali cobrando daqueles que lhe deviam, para que pudesse saldar a dvida com seu senhor, dvida que j havia sido cancelada. Parece que ele foi para casa, verificou a escrita de seus livros e disse consigo mesmo: "Tenho que receber esse 38 dinheiro, porque disse ao meu senhor que lhe pagaria tudo." E o que aconteceu? Agarrou o primeiro colega que encontrou, apertou-lhe a garganta e disse: Pague-me o que me deve; d-me aqueles cem

denrios. Pense nisso. Ele achava que tinha recebido uma dilatao do prazo para sua nota promissria, mas no queria dar quele homem nem mais um minuto, pois dizia: Pague-me agora, seno vou coloc-lo na cadeia. Como o pobre homem no tinha com que pagar, teve que ir para a priso. Positivamente essa no uma maneira muito correta de se manter relacionamento com outrem. E o crculo vicioso torna-se ainda mais vicioso. Quem sofre rejeio, passa a ser um rejeitador de outros. Quem no recebe perdo tambm no perdoa. Quem no recebe graa no concede graa. Alis, a conduta deles, por vezes, totalmente desastrada. E a conseqncia disso so conflitos emocionais e o rompimento nas relaes com os outros. Veja como voc aplicaria isso s pessoas que participam de sua vida de modo significativo: os pais, que o magoaram quando era criana; os irmos que falharam com voc, quando precisou de apoio; ou que zombaram de voc ou o diminuram de alguma forma; um amigo que o traiu; uma namorada que o rejeitou; seu cnjuge, que havia prometido am-lo, honr-lo e apreci-lo, mas que em vez de fazer essas coisas, s fica a implicar com voc, a culp-lo e a infligir-lhe sofrimentos. Todos esses lhe devem alguma coisa, no ? Eles lhe devem amor e afeio, segurana e afirmao, mas, como voc se sente em dvida e culpado para com eles, como se sente inseguro, ressentido e aflito, como se v rejeitado e sem perdo, por seu lado voc se torna rancoroso e rejeita os outros. Voc no recebeu a graa, ento como pode d-la a outros? E como se sente atormentado, magoa a outros tambm. Voc tem que cobrar pelas suas mgoas, pelos seus sofrimentos. Tem que fazer com que todos que lhe 39 infligiram algum sofrimento paguem o que lhe devem. Voc um cobrador de tristezas. Casamento em Dvida Muitas pessoas casadas no deixam que Deus lhes d o auxlio que s ele pode dar. E ento pedem a seus cnjuges, a outros seres humanos, para que faam o que no podem fazer. Os homens, se se esforarem, podem ser bons maridos, e as mulheres tambm podem ser boas esposas. Mas so pssimos deuses. No foram criados para isso. E todas as maravilhosas promessas que as pessoas fazem no dia do casamento "Prometo am-lo, respeit-lo e honr-lo em todas as adversi-dades da vida" s so possveis, quando o corao est seguro no amor de Deus, na sua graa e seu cuidado. Somente uma alma perdoada e cheia da graa divina pode cumprir tais promessas. Na verdade, quando uma pessoa diz aquelas palavras, o que est querendo expressar o seguinte: "Tenho muitas carncias emocionais, um grande vazio interior e muitas dvidas a pagar, e vou lhe dar a magnfica oportunidade de preencher este meu "vale" e cuidar de mim. No sou maravilhoso?" O psiclogo compara este tipo de conduta a um carrapato que pica um cachorro. Ele no est nem um pouco interessado no bem do cachorro; o tempo todo ele est s sugando. E, infelizmente, em alguns casamentos, os dois cnjuges s querem receber, e a relao deles como se houvesse dois carrapatos, sem cachorro. Dois sugadores e nada para ser sugado. Faz alguns anos fui procurado por um casal. Estavam casados havia quinze anos. Eram quinze anos de um pingue-pongue conjugai. Todas as vezes que ele fazia pingue ela fazia pongue, ou vice-versa. Eles alternavam entre si jogadas de ataque e defesa. Quando estvamos conversando os trs, primeiro tivemos que remover algumas cascas de teologia, para trazer s claras as decepes, mgoas e ressentimentos que tinham um contra o outro. Ela se casara com ele, por causa de sua liderana espiritual fora um rapaz 40 muito popular na escola. Parecia uma pessoa disciplinada, firme, trabalhadora um homem que iria fazer grandes coisas por Deus. Imagine-se o choque que ela teve ao descobrir que ele era indeciso, indisciplinado, preguioso e procras-tinador. Com a raiva que teve, ela se tornou como o servo da parbola, e como que o agarrava pela garganta dizendo: "Voc me enganou. Voc me deve todas as expectativas que tinha

quando me casei com voc." Ela o via como uma pessoa que lhe devia alguma coisa. E durante aqueles quinze anos, com todas as suas implicncias, ela estava realmente querendo dizer: "Pagueme tudo que me deve." Mas, por outro lado, ele havia-se casado com ela por sua bela aparncia, pelo seu cuidado com as coisas e o amor ordem. Imagine-se a decepo dele quando descobriu que ela era desmazelada com a casa, nem cuidava de seus cabelos, roupas e aparncia de um modo geral. Ele se sentiu como se tivesse sido trado por ela. "Voc me deve essas coisas, por que foi o que me prometeu durante o namoro, pois eu pensava que voc fosse assim. Voc me prometeu essas coisas." Desse modo, ele a estava agarrando pelo pescoo e, com suas palavras sarcsticas e cortantes, estava realmente dizendo: "Pague-me o que me deve. Voc no fez jus sua nota promissria." E cada um deles tinha passado aqueles quinze anos esperando que o outro se modificasse. Ah, como trgica essa relao entre aqueles que se professam convertidos! Somos cobradores de dvidas. Cobramos as tristezas que sofremos. E por qu! Porque no compreendemos que nosso dbito j foi totalmente cancelado, que j est terminado. E continuamos a nos esforar bastante, embora Deus j tenha rasgado, no Calvrio, a nossa nota promissria. Certa vez preguei sobre esse assunto numa conferncia de aconselhamento, e aps a reunio, quando ia saindo pelo corredor, uma senhora agarrou meu brao e disse: Eu nunca tinha percebido isso. Mas o que venho fazendo com meus filhos nesses dezoito anos 41 cobrando dvidas, pedindo-lhes que me paguem o que me devem, em vez de dar-lhes um amor incondicional. E quantos traumas isso causou. Trs Testes Quer se submeter a trs testes aqui comigo? Vamos ver se voc precisa perdoar a algum, inclusive a si mesmo. 1. Primeiro, h o teste do ressentimento. Est ressentido contra algum? H alguma pessoa que ainda no conseguiu "soltar"? Pode ser um dos pais, um irmo ou irm, uma namorada ou namorado, cnjuge, amigo, colega de servio, ou uma pessoa que o magoou na infncia, alguma professora do primrio, ou algum que abusou sexualmente de voc quando pequeno. 2. O teste da responsabilidade um pouco mais sutil. mais ou menos assim: "Se pelo menos a Maria, ou Jos ou Joo, ou meus pais, ou minha esposa, ou meus filhos, ou a vida, ou Deus se ao menos eles tivessem me pagado o que me deviam, hoje eu no estaria com essa vida desgraada. No teria esses problemas de personalidade. Se eles tivessem me pagado, ento eu poderia pagar minha dvida para com meu senhor." Durante muitos anos eu cometi esse erro de atirar a culpa nos outros. Todas as vezes que fracassava, ou caa, ou falhava, ouvia uma vozinha interior, muito consoladora, que dizia: "No se preocupe, no, David. No foi culpa sua. Voc teria se sado bem, se no fosse por..." Voc assume a responsabilidade de seus fracassos e erros, ou l no seu interior um gravador ligado todas as vezes e diz: "Eles me fizeram assim. Foi ele quem fez; foi ela quem fez isso"? Em muitos casos, dar perdo a outrem e assumir a responsabilidade de nossos erros so as duas faces de uma mesma moeda, e s podem ocorrer ao mesmo tempo. 3. Outro teste bastante sutil o da reao contra uma pessoa que nos lembra outrem. Voc s vezes se 42 v reagindo contra uma pessoa, s porque ela o faz lembrar outra? Pode ser que voc no goste do modo como seu marido castiga seus filhos, porque isso lhe recorda seu pai, que era exagerado nesse ponto. E isso ocasiona um conflito. Pode ser tambm que no goste de determinado vizinho, ou se mostre sempre irritadio e ressentido com certo colega de trabalho. Por qu? Porque existe algum a quem voc nunca perdoou. E sua reao para com este que o faz lembrar-se desse algum a quem no perdoou, um ressentimento contra ele. Como Resolver o Problema das Dvidas Existe um modo bblico de resolvermos o problema das mgoas recebidas no passado. E o mtodo

divino ultrapassa o ato de perdoar e abandonar os velhos ressentimentos. Deus toma esses pecados, fracassos e mgoas que ocorreram no passado e os envolve em seu elevado propsito para ns, com o objetivo de transform-los. A maior ilustrao desse fato a prpria cruz. Ali, Deus tomou um ato que, do ponto de vista humano, seria a pior injustia que se poderia praticar e a tragdia mais cruel que j houve no mundo, e fez dele o mais sublime dom que um homem pode receber a salvao. Vemos uma ilustrao disso na histria de Jos, que foi brutalmente maltratado por seus irmos. Mais tarde, quando esses irmos tiveram que se inclinar diante dele, que era ento o governador, ele no fez nenhuma cobrana, no reclamou nada. Jos no estava preocupado em cobrar sua dvida. E ele at sabia que eles iriam ter dificuldade em perdoar a si mesmos, e por isso disse: "No temais; acaso estou eu em lugar de Deus? Vs, na verdade, intentaste o mal contra mim; porm Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida." (Gn 50.19,20.) Voc faz parte de uma comunidade crist onde no h dvidas? Seu casamento um relacionamento sem 43 cobrana de dvidas? Sua famlia tambm tem um relacionamento assim? Toda igreja deveria ser uma sociedade sem cobranas, onde todos se amam por serem amados. Onde todos se aceitam por serem aceitos, onde todos temos graa uns para com os outros, pois desfrutamos da alegria de saber que o Mestre rasgou o registro das dvidas que havamos contrado sem poder pagar. Elas foram canceladas. Ele rasgou tudo. O que ele fez no foi acrescentar um determinado juro e depois dizer: "Pois bem, dou-lhe um prazo maior para pagar." E como ele nos livrou de nossa dvida, tambm podemos libertar a outros, dessa forma colocando em ao as foras do amor e da graa. O apstolo Paulo resumiu tudo em poucas palavras: "A ningum fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros." (Rm 13.8.) Jesus disse: "De graa recebestes, de graa dai." Neste versculo, ele empregou termos com a mesma raiz da palavra dom, ento essa traduo literal seria assim: "Dado vos foi dado; dado dai." (Mt 10.8.] 44 "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os cus, conservemos firmes a nossa confisso. Porque no temos sumo sacerdote que no possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, nossa semelhana, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graa, a fim de recebermos misericrdia e acharmos graa para socorro em ocasio oportuna." (Hb 4.14-16.J "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lgrimas, oraes e splicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obedincia pelas cousas que sofreu e, tendo sido aperfeioado, tornou-se o Autor da salvao eterna para todos os que lhe obedecem." [Hb 5.7-9.) 3 O Mdico Ferido Se quisermos colocar a declarao de Hebreus 4.15 em forma positiva, diremos o seguinte: "Porque temos um sumo sacerdote que pode compadecer-se das nossas fraquezas." No original, a palavra que aqui traduzida como fraquezas um termo relacionado no Velho Testamento com os sacrifcios oferecidos pelos sacerdotes. A fraqueza era, basicamente, uma mancha fsica, um defeito. Era uma imperfeio ou deformidade, no animal ou no homem. Se um homem da famlia de Aro possusse um defeito, apesar de ser dessa famlia, no poderia exercer o cargo de sacerdote. Aquela falha o desqualificava, e no podia entrar na presena da santidade de Deus (Lv 21.16-24). Da mesma forma, os animais que eram trazidos para ofertas e holocaustos tinham que ser sem mancha ou imperfeio. Existem dezenas de passagens no livro de Levticos que deixam bem claro que um

animal com defeito no podia ser oferecido a Deus. Tanto a oferta como aquele que ofertava tinham que estar livre de fraquezas. No Novo Testamento tambm vemos o uso figurativo dessa palavra fraqueza. Trata-se de uma metfora, uma figura de linguagem. A palavra empregada no grego a forma negativa de sthenos, que significa fora. um vocbulo formado com esse termo e o 47 prefixo a. Quando colocamos a letra a antes de uma palavra passamos seu sentido para a negativa. Por exemplo, testa uma pessoa que cr em Deus; se colocarmos um a antes dela, temos o termo atesta, pessoa que no cr em Deus. Se colocarmos um a no incio da palavra sthenos, que em grego significa "fora", obtemos a palavra que tem o sentido de fraqueza, astheneia, "falta de fora, ausncia de foras, deformidade". No Novo Testamento, a palavra quase no empregada com um sentido puramente de fora fsica. Ela se refere mais a uma fraqueza mental, moral e emocional, a uma ausncia de foras. As fraquezas, por si mesmas, no constituem pecado, mas minam nossa resistncia, tornando-nos mais vulnerveis tentao. No Novo Testamento, a palavra fraqueza aplica-se a certos aspectos da natureza humana que podem pre-dispor-nos ou inclinar-nos a pecar, por vezes at mesmo sem uma deciso consciente de nossa parte. Dos livros do Novo Testamento, o livro de Hebreus o que mais se assemelha ao de Levtico, mostrando que o sistema de holocaustos nele apresentado tem seu cumprimento em Jesus Cristo, nosso Sumo-Sacerdote. Esse cumprimento aplica-se tambm questo das fraquezas dos sacerdotes. O sacerdote do Velho Testamento tinha fraquezas porque partilhava da sorte de toda a humanidade. Portanto, quando ele executava o sacrifcio, estava fazendo-o por si mesmo, para encobrir todas as suas imperfeies, bem como apresentava uma oferta pelo seu povo. Entretanto, como ele tinha fraquezas, entendia bem as fraquezas dos outros, e os tratava com mansido. Executava seu ofcio de sacerdote com toda a compreenso. Pois tambm ele estava sujeito s mesmas fraquezas que temos e que nos predispem tentao e ao pecado. O escritor do livro de Hebreus aplica essa figura ao nosso grande Sumo-Sacerdote e Mediador, o Senhor Jesus Cristo. Como ele nunca tinha pecado, como nunca tinha cedido tentao o que no era o caso dos sacerdotes do Velho Testamento nunca necessitara executar o holocausto por si mesmo. Mas j que 48 fora tentado, j que fora provado em todas as coisas como ns o somos, temos um grande SumoSacerdote que. pode "compadecer-se das nossas fraquezas". Se ele apenas entendesse o fato de termos fraquezas, j seria o suficiente. Mas a situao ainda melhor. Ele conhece a sensao que temos em nossas fraquezas no apenas as deformidades, no apenas a fraqueza em si, no apenas os traumas emocionais e conflitos interiores, mas tambm a dor que tudo isso nos inflige. Ele compreende as frustraes, aflies, depresses, mgoas, os sentimentos de abandono e solido, isolamento e rejeio. Aquele que conhece a sensao que temos em nossas fraquezas experimenta toda a gama de emoes que acompanham nossas enfermidades e deformidades. E qual a prova disso? Em que se baseia o autor de Hebreus para afirmar que Jesus sabia como nos sentimos por causa de nossas fraquezas? "Nos dias de sua carne", isto , quando Jesus se achava entre ns, ofereceu, "com forte clamor e lgrimas, oraes e splicas" (Hb 5.7). E essa orao foi feita em silncio e tranqilidade? No. Ele ofereceu "com forte clamor e lgrimas, oraes e splicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obedincia pelas cousas que sofreu". (Hb 5.7,8.) Isso nos fala do Getsmani, da sua paixo e sofrimento a cruz de nosso Senhor, e como que nos diz: "A est; ele passou por tudo isso. Ele sabe o que chorar com muitas lgrimas. Sabe o que orar a Deus em prantos. Ele lutou com emoes que quase o despedaaram. Ele conhece isso. J passou por isso e pode sentir o que sentimos. Ele sofre conosco." De todas as palavras que descrevem a Encarnao de Deus, a maior delas Emanuel, que quer dizer "Deus conosco". Deus est nisso conosco. Ou melhor ainda, tendo passado pelas mesmas coisas,

sabe entrar no problema e senti-lo conosco. por isso que podemos nos aproximar com ousadia, podemos chegar perto de Deus com toda a confiana. Deus no nos diz: "Venha com a sua culpa", ou "Venha com a sua 49 vergonha". No precisamos pensar assim: alguma coisa est errada comigo, pois estou tendo esta depresso. Estou cado. So idias cruis que ns mesmos, s vezes, infligimos uns aos outros. Elas no so bblicas. No estamos chegando diante de um pai neurtico que s quer ouvir falar bem de seu filho. No estamos nos aproximando de um pai que diz: Pare; no sinta essas coisas; errado. No chore. Se continuar chorando, vou dar-lhe um bom motivo para chorar mais. Estamos diante de um Pai celeste que compreende nossos sentimentos e nos chama para que lhe falemos deles. Por isso, podemos aproximar-nos do trono da graa com toda a confiana, sabendo que encontraremos graa e misericrdia diante dele, nos momentos de dificuldade. Podemos nos achegar a ele quando precisarmos de perdo, quando sentirmos o peso da culpa de nossos pecados. E podemos nos aproximar tambm, quando estivermos sendo torturados e atormentados pelo reconhecimento de nossas fraquezas. O Jardim Para entendermos bem o preo que o Salvador teve de pagar para tornar-se nosso Mdico, precisamos percorrer com ele os caminhos da sua paixo e sofrimento, que esto descritos nos Evangelhos, Salmos e no livro de Isaas. Venha comigo ao jardim do Getsmani. Veja o preo pago pelo nosso Salvador para ser Emanuel, Deus conosco. Oua a orao que ele fez. Ser que voc consegue escut-la, como se a estivesse ouvindo pela primeira vez? Ele "comeou a entristecer-se e a angustiar-se. Ento lhes disse: A minha alma est profundamente triste at morte." (Mt 26.37,38.) Espere um pouco a, Jesus. O que o Senhor disse? "Minha alma est profundamente triste at morte?" Est querendo dizer que o Senhor naquela hora passou por sofrimentos, sensaes e sentimentos de agonia to fortes que at desejou morrer? Isso quer dizer 50 ento, Senhor, que entende quando estou to deprimido que no quero nem viver mais? Vejamos agora o Salmo 22, apelidado o "salmo do desamparo": "Derramei-me como gua, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu corao fez-se como cera, derreteu-se-me dentro em mim. Secou-se o meu vigor como um caco de barro, a lngua se me apega ao cu da boca; assim me deitas no p da morte." (SI 22.14,15.) E o Salmo 69 outro desses textos: "Salva-me, 6 Deus, porque as guas me sobem at a alma" (v. 1). "Estou nas profundezas das guas e a corrente me submerge" (v. 2). "Estou cansado de clamar" (v. 3). "O oprbrio partiu-me o corao, e desfaleci; esperei por piedade, mas debalde; por consoladores, e no os achei" (v. 20). "Ento, nem uma hora pudestes vs vigiar comigo?" (Mt 26.40.) Ele implorou aos seus amigos trs vezes, mas sem resultado. Por fim "os discpulos todos, deixando-o, fugiram" (Mt 26.56). Quem j enfrentou a agonia de uma terrvel solido, ou de um vazio patolgico, quem j experimentou as mais negras crises de depresso, sabe que, quando estamos nesse abismo, a coisa mais difcil para se fazer orar, pois no sentimos a presena de Deus. Pois eu quero garantir-lhe que ele sabe, entende sente suas fraquezas. Ele vive todas as suas sensaes, pois j passou por tudo isso. O Julgamento Acompanhemo-lo agora at o local do julgamento, onde teve que ouvir falsos testemunhos a seu respeito. Voc j foi acusado injustamente? Conhece a dor que isso nos causa? "Ento uns cuspiram-lhe no rosto e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam..." (Mt 26.67.) "Os que detinham Jesus zombavam dele, davam-lhe pancadas." (Lc 22.63.) Muitas vezes, quando estou conversando com pessoas dominadas por uma mgoa profunda, ou por um forte dio ou sofrimento, elas me olham com um rosto impassvel, sem o menor vislumbre emocional. Mas,

51 quando comeo a penetrar mais fundo e pergunto: "Qual a pior imagem que voc tem na memria? Qual a que lhe traz mais sofrimento?" logo se nota uma mudana no semblante. No incio uma mudana leve, mas depois os olhos se enchem de lgrimas, que escorrem pelo rosto abaixo, e da a pouco elas choram. At mesmo homens fortes, grandes, soluam pelo sofrimento e raiva. Eu sei qual , dizem. Lembro muito bem. a imagem de quando meu pai me batia de chicote e me dava pancadas na cabea. Era quando mame me dava um tapa. Nada mais danoso para a personalidade humana do que um tapa no rosto. to humilhante, to degradante, to aviltante. Destri em ns um sentimento bsico de nossa personalidade. Mas o nosso Mdico ferido compreende isso. Ele sabe o que levar pancadas na cabea, tapas no rosto. Ele conhece as sensaes que temos, que brotam em ns por causa desse tipo de agresso. Ele sente os problemas que nos afetam. E quer nos curar. Quer que saibamos que no est irado conosco por causa dessas sensaes. Ele as compreende muito bem. A Cruz Vamos um pouco mais adiante, vamos prpria cruz. Zombaram dele, meneando a cabea e dizendo: "Salva-te a ti mesmo, se s Filho de Deus! E desce da cruz!" (Mt 27.40.) Debocharam dele, protestaram contra ele, zombaram. Debochar, menear a cabea, zombar, reclamar, criticar todas essas palavras nos trazem memria as humilhaes e sofrimentos da adolescncia. Um certo homem acha que os anos da adolescncia, e principalmente o relacionamento na escola, so to traumatizantes para o jovem, que escreveu um livro intitulado s There Life After High School? (H vida aps o Ginsio?) Fico admirado com as dolorosas lembranas que muitos adultos me relatam acerca de seus anos de adolescncia. Geralmente as palavras que mais ouvem 52 e que lhes vm lembrana dos anos da adolescncia so de "gozao"; tais como :"sabicho", "Bolo", "desajeitado", "espinhento", etc. Ou ento so lembranas dos grandes culos de armao antiquada, ou dos aparelhos nos dentes. Cada um sabe qual seu problema. A crueldade das crianas uma com as outras coisa da vida. Jesus sabe quando somos rejeitados por um amigo, desprezados por um namorado ou namorada, criticados pela nossa turma. como disse Isaas: "No tinha aparncia nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele no fizemos caso." (Is 53.2,3.) ; ele foi um Homem de dores que sabe o que padecer. Se voc est sofrendo, ele tambm est sentindo o mesmo. E se uma pessoa solitria um vivo, viva ou divorciado ele sabe o que estar sozinho, sabe o que ter a impresso de que uma parte de ns parece ter sido arrancada. Pesquisas tm mostrado que os dois maiores fatores provocadores de stress para o corpo, mente e emoes so a morte de um cnjuge, ou a separao dele pelo divrcio ou desquite. De certo modo, a separao pior. A morte de um cnjuge, embora seja dolorosa, como uma ferida limpa. O divrcio ou desquite muitas vezes causa uma ferida infecta, puru-lenta, latejando de dor. Jesus entende, quando uma pessoa tem que se esforar para ser pai e me para seus filhos. Mas ser que ele conhece tambm a pior de todas as nossas fraquezas, que quando no conseguimos nem orar? Quando nos sentimos abandonados pelo prprio Deus? O Credo Apostlico diz: "Desceu ao inferno." Quando Cristo estava na cruz, os cus se tornaram como que de ferro para ele. Tornaram-se horrivelmente surdos, quando ele foi cortado da terra dos viventes. E ele gritou pedindo socorro, em seu ltimo instante de agonia, mas no recebeu resposta: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de meu salvamento as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia e no me respondes." (SI 22.1,2.) Deus compreende o grito de desamparo. Ele sabe as sensaes que temos em nossas fraquezas. Quando os credos antigos afirmam que Cristo desceu ao inferno, querem dizer que ele conheceu todos os temores, horrores e sensaes de aflio que ns experimentamos nos momentos em que nos encontramos no nvel emocional mais baixo, devido a uma rejeio, abandono e depresso. Isso

significa que, assim sendo, podemos levar a ele todas as nossas sensaes, mesmo as mais terrveis. E no precisamos chegar diante dele com sentimentos de culpa e vergonha, mas sim com toda a confiana e ousadia, sabendo que ele no somente sabe o que sentimos, mas quer nos curar. E ele no nos deixou sozinhos, pois o Esprito Santo nos ajuda em nossas enfermidades (Rm 8.26). A experincia que Jesus Cristo teve na condio de ser humano acha-se agora conosco na pessoa do Esprito Santo, que nos ajuda em nossas fraquezas, havendo uma colaborao mtua, para a cura delas. Joni Eareckson era uma jovem bela, cheia de vida e ativa. Certo dia, ao mergulhar numa lagoa, bateu com a cabea numa pedra. Sofreu leses que a deixaram paraltica, e hoje paraplgica. Ela pinta quadros segurando o pincel com os dentes. Seu testemunho cristo j correu o mundo todo atravs de seus livros e do filme que foi feito sobre sua vida. Joni compreendeu toda a extenso de dependncia quando, certo dia, desesperada, pediu a uma amiga que lhe desse alguns comprimidos para suicidar-se, mas esta lhe recusou. Ento ela pensou: "No posso nem me matar/" A princpio, a vida foi um inferno para ela. Seu esprito era abalado por dores, dio, amargura e mgoas. Embora no sentisse dores fsicas, tinha sensaes como que de agulhadas nos nervos a percorrer-lhe todo o corpo. Isso durou trs anos. 54 Ento, certo dia, teve incio em sua vida uma transformao radical, que fez dela uma crist bela e radiante. Cindy, sua melhor amiga, estava ao lado de sua cama tentando desesperadamente consolla. Em dado momento, ela disse algo que s poderia ter sido inspirado pelo Esprito Santo: Joni, Jesus sabe o que voc est sentindo. Voc no a nica pessoa paraltica. Ele tambm esteve paralisado. Joni olhou para ela meio enfezada. Que que voc est querendo dizer com isso? verdade, verdade, Joni. Lembra-se de que ele foi pregado na cruz? As costas estavam feridas pelas chicotadas, assim como as suas tambm ficam feridas s vezes. Ah, ele deve ter tido muita vontade de remexer-se um pouco, para mudar de posio, para aliviar o peso do corpo, mas no podia se mover. Ele sabe o que voc est sentindo. Quando aquelas palavras de Cindy penetraram na mente de Joni, teve incio toda a transformao. Ela nunca pensara naquilo antes. O Filho de Deus havia sentido as agulhadas que torturavam seu corpo. Ele conhecera aquela sensao de desamparo que ela estava sentindo. Mais tarde ela iria explicar: "Foi ento que Deus me pareceu incrivelmente prximo de mim. Eu j tinha percebido o bem que o amor de meus amigos e familiares me fazia. Agora comeava a compreender que Deus tambm me amava." (Where is God When it Hurts Onde est Deus quando sofremos de Philip Yancey.) Muitas vezes, agradecemos a Deus pelo fato de Jesus haver levado sobre si os nossos pecados na cruz. Mas precisamos lembrar outra coisa. Em sua plena identificao com nossa condio humana, principalmente quando se achava na cruz, ele levou sobre si todos os nossos sentimentos, e carregou as nossas sensaes de fraqueza, para que no precisssemos ter que lev-las sozinhos. H um hino que expressa bem esse aspecto do sacrifcio de Cristo: "Vale da Solido". 55 Jesus andou pelo vale da solido E teve que andar por ele sozinho Ningum poderia percorr-lo em seu lugar Ele teve que percorr-lo sozinho. Voc tambm tem que passar por suas provaes Tem que suport-las sozinho; Ningum poder suport-las por voc Voc tem que suport-las sozinho. Quando passamos pelo vale da solido No andamos por ele sozinhos Pois Deus mandou seu Filho para caminhar ali conosco; No estamos sozinhos. (Hymns for the Family of God Hinos para a famlia de Deus.)

"Pois no um ser sobre-humano esse nosso Sumo Sacerdote, incapaz de compreender a nossa fraqueza. No; como ns, experimentou plenamente toda a espcie de tentao que nos assalta." (Hb 4.15 Cartas s Igrejas Novas.) esta certeza que nos fornece as bases para termos esperana e sermos curados. O fato de sabermos que Deus no apenas sabe de tudo e nos ama, mas tambm compreende plenamente o que passamos um fator altamente teraputico para a cura de nossos traumas emocionais. 56 "Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na fora do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta no contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as foras espirituais do mal, nas regies celestes. Com toda orao e splica, orando em todo tempo no Esprito, e para isto vigiando com toda perseverana e splica por todos os santos. " [Ef 6.10-12, 18.) "Para que Satans no alcance vantagem sobre ns, pois no lhe ignoramos os desgnios. " (2 Co 2.11.) 4 A Mais Mortfera Arma de Satans A imagem que a Bblia nos oferece de Satans bem diferente da popular. Na Bblia ele no apresentado como essa personagem cmica das histrias em quadrinhos, com chifres, cauda, tridente, ridicula-mente vestida com uma malha vermelha. Na verdade, Satans um adversrio inteligente, ardiloso e muito perigoso (1 Pe 5.8). E como ele pertence ao mundo espiritual, conhece as nossas fraquezas. Ele conhece as nossas enfermidades, e as utiliza contra ns, sempre com grandes vantagens. A Bblia no fala muito do poder de Satans, pelo menos no tanto quanto fala de sua sutileza, artimanha e falsidade. Ele usa de astcias e trapaas, de estratagemas e planos bem elaborados. Sabe explorar nossas fraquezas no sentido de enfraquecer-nos, desanimar-nos, fazer-nos fracassar e abdicar da vida crist. A Bblia o descreve como um leo que ruge, andando ao nosso redor, procurando algum para devorar (1 Pe 5.8). Paulo tambm falou dos malignos poderes das trevas contra os quais estamos em luta (Ef 6.12). E nas trevas que somos facilmente atacados e iludidos. Uma Auto-Imagem Negativa Algumas das armas mais fortes do arsenal de Satans so de natureza psicolgica. O medo uma 59 delas. A dvida outra. Outras so raiva, hostilidade, preocupao e, naturalmente, o senso de culpa. O constante sentimento de culpa muito difcil de ser removido; ele parece permanecer em ns mesmo depois que nos convertemos e suplicamos o perdo de Deus e aceitamos sua graa. Muitos cristos parecem ter um sentimento de autocondenao suspenso sobre a cabea, como uma densa nvoa de poluio. Assim esto sendo derrotados pela mais poderosa arma psicolgica que Satans usa contra os cristos. Essa arma tem a eficcia de um mssil mortal. O nome dela? Autoimagem negativa. A maior arma psicolgica de Satans um sentimento de inferioridade, incapacidade e falta de auto-estima, que se acha enraizado no mais profundo de nosso ser. E este sentimento est aprisionando muitos de ns, muito embora eles possam ter tido experincias espirituais maravilhosas, embora tenham grande f e bom conhecimento da Palavra de Deus. Apesar de entenderem perfeitamente sua condio de filhos de Deus, acham-se como que amarrados e tensos, acorrentados por terrveis complexos de inferioridade, presos a um profundo sentimento de que no valem nada. Existem quatro maneiras pelas quais Satans aplica essa arma, que a mais mortal de todas as suas armas emocionais e psicolgicas, com o objetivo de derrotar-nos e fazer-nos fracassar. 1. Uma auto-imagem fraca paralisa nosso potencial. Tenho visto o terrvel impacto dos sentimentos de inferioridade em todos os lugares onde tenho exercido meu ministrio. Tenho presenciado

trgicos desperdcios de potencial humano, vidas diludas, talentos perdidos, com grande prejuzo de uma verdadeira mina de capacidade e possibilidades humanas. E tenho chorado interiormente. Sabe que Deus tambm chora por causa disso? Ele fica mais entristecido do que irado com essas coisas. Ele chora pela paralisao de nosso potencial causada por uma imagem prpria negativa. E o preo muito alto, pois parece que todos estamos lutando contra essas coisas. So muito poucos os que conseguem superar o tormento da dvida quanto a seu prprio valor, as arrasadoras decepes quanto sua identidade e quanto ao seu futuro. Uma autoimagem fraca pode comear no bero, acompanhar-nos durante os primeiros anos da escola e intensificar-se na adolescncia. Depois que nos tornamos adultos, ela parece se assentar sobre ns como uma nvoa densa, que cobre muitas pessoas, dia a dia. H momentos em que parece se dissipar um pouco, mas sempre retorna, como que tentando envolver-nos, sufocar-nos. Infelizmente isto uma praga que afeta a muitos cristos. O psiclogo cristo Jim Dobson, em uma mensagem gravada em fita intitulada "A Guerra Psicolgica de Satans", conta que fez uma pesquisa com um grande grupo de mulheres. A maioria delas era casada, tinha sade excelente e sentia-se feliz. De acordo com o depoimento delas, tinham filhos felizes e segurana financeira. Nessa mesma pesquisa, o Dr. Dobson citava dez causas de depresso, e pediu a essas mulheres que as numerassem na ordem em que afetavam sua vida. A lista que lhes entregou foi a seguinte: ausncia de romantismo no casamento conflitos com sogros ou cunhados auto-imagem negativa problemas com os filhos dificuldades financeiras solido, isolamento e tdio problemas sexuais no casamento problemas de sade cansao e presses de tempo envelhecimento As mulheres deviam indicar a ordem certa em que essas coisas provocam depresso, comeando pela mais grave. Sabe qual delas veio em primeiro lugar na lista, frente de todas as outras? Autoimagem negativa. Cinqenta por cento das mulheres, que eram todas convertidas, a colocaram em primeiro lugar; oitenta por cento delas a colocaram entre as duas ou trs primeiras. Est vendo quanta perda de potencial emo61 cional e espiritual? Essas mulheres estavam lutando com depresses que provinham principalmente de sentimentos de desvalor, que as deixavam abatidas. Jesus contou uma parbola sobre os talentos. O homem que tinha apenas um talento ficou paralisado por seus temores e sentimentos de incapacidade. Tinha tanto medo de fracassar, que no quis fazer investimentos com seu talento, mas enterrou-o no cho para ficar mais seguro. Sua vida era uma srie de bens congelados, paralisados pelo temor de ser rejeitado por seu senhor, pelo temor de fracassar, temor de ser comparado com os outros dois que estavam efetuando investimentos, temor de correr riscos. Ele fez o mesmo que fazem muitas pessoas que no tm uma boa imagem prpria nada. E exatamente isso que Satans quer que faamos que fiquemos to tolhidos que acabemos imobilizados, congelados, paralisados, acomodando-nos a um tipo de vida e trabalho que se acha muito aqum de nossas reais possibilidades. 2. Uma auto-imagem negativa destri nossos sonhos. provvel que o leitor j tenha ouvido a seguinte definio: "Os neurticos so pessoas que constrem castelos no ar; os psicticos so os que se mudam para eles, e os psiquiatras, os que recebem o aluguel." Entretanto no estou falando aqui de devaneios ou de sonhos fantasiosos. No podemos viver com sonhos; no podemos viver de sonhos, mas vivemos peJos nossos sonhos. Uma das caractersticas do Pentecostes profetizado por Joel e cumprido no livro de Atos era que, quando o Esprito Santo fosse derramado, os jovens teriam vises e os velhos teriam sonhos (At 2.17). O Esprito Santo nos inspira a ter sonhos audaciosos, a ter vises do que Deus quer realizar para ns e em ns, e, mais

que tudo, atravs de ns. "No havendo profecia o povo se corrompe." (Pv 29.18.) verdade, e quando temos uma viso muito enganosa de ns mesmos, com uma imagem prpria muito baixa, julgando-nos inferiores e inaptos, certamente nos destruiremos. Assim nossos sonhos morrem, e o grande plano de Deus para nossa vida nunca se realiza. 62 A melhor ilustrao deste fato no Velho Testamento acha-se em Nmeros captulos 13 e 14. Deus tinha um plano para o seu povo, um sonho belo e audacioso. Ele colocara no corao deles a imagem de uma terra prometida, uma terra boa, abundante em leite e mel, que seria possesso deles. Deus os conduziu at os limites dessa terra prometida, para a realizao do audacioso plano que tinha para eles. Moiss recebeu ordem de Deus para mandar terra um grupo de reconhecimento militar, para espiar o lugar. Essa a primeira meno histrica de uma CIA a Canaan Information Agency (Agncia de informao de Cana). E ele enviou a nata do povo, os melhores homens de cada tribo. E esperava que as realidades encontradas na terra viessem a confirmar os sonhos e promessas de Deus. E at certo ponto isso aconteceu, pois os espias disseram: uma terra fantstica. Vejam as frutas que trouxemos. Nunca vimos uvas e roms assim. E o mel o mais doce que j experimentamos. (Ver Nmeros 13.23.) Mas o povo dali gigantesco, e tem uma fora incrvel. E as cidades no so cidades comuns, so verdadeiras fortalezas. E quanto aos descendentes de Enaque, diante deles ns parecamos gafanhotos. (Ver Nmeros 13.31-33.) No pode haver uma opinio mais baixa de si mesmo do que a daquele que se v como um gafanhoto. E os espias comearam a chorar, dominados pelo medo. Somente Josu e Calebe davam um relato diferente. Bem, eles concordaram com os outros, quanto aos fatos apresentados. As observaes que tinham feito eram as mesmas; mas como tinham uma diferente percepo das coisas, tambm suas concluses foram diferentes. Por qu? Porque Calebe era um homem de esprito diferente. (Nm 14.24.) Ele no tinha a teologia do verme; no era rastejante; essa que a verdade. Ele e Josu no se viam como gafanhotos. E eles disseram o seguinte: certo que o povo alto, mas ns no o tememos. O Senhor est conosco. 63 Gosto da gria hebraica que Calebe e Josu empregaram nessa hora. Disseram: "Eles so como po para ns." Podemos devor-los como a pes, e podemos faz-lo porque essa a vontade de Deus para ns. o plano de Deus para ns, e ele tem prazer em realiz-lo em ns, e por nosso intermdio. Ele nos dar a realizao desse sonho; ele nos dar essa terra. (Ver Nmeros 14.8-10. ) Mas o grande plano de Deus, o objetivo por causa do qual ele os tirara da escravido do Egito, teve que ser adiado para da a quarenta anos, os quarenta anos de sofrimento no deserto. O sonho divino no era um castelo no ar, feito por um neurtico; era uma realidade era frutas e mel, terras e cidades era tudo que Deus desejava dar-lhes, e estava ao alcance da mo deles. O sonho estava ali; Deus estava preparado para realiz-lo, mas o povo no, por causa de uma fraca imagem prpria. "Somos como gafanhotos." Esqueceram-se de que eram filhos de Deus. Esqueceram-se de quem eram e do que eram. E como precisamos dessa mensagem hoje em dia! Estamos envolvendo muitos de nossos temores numa capa de mrbida e falsamente espiritual autodeprecia-o. Estamos encobrindo nossa autodepreciao com uma capa de religiosidade, chamando-a de consagrao e autocrucificao. J est na hora de termos sonhos mais audaciosos. Est na hora de sairmos para o mundo com nosso testemunho de maneira mais grandiosa. O que est-nos segurando? Medo de sermos criticados, medo de correr riscos, medo das tradies, medo da clientela. Por causa de nossa baixa imagem prpria frustramos o plano que Deus tem para ns, como corpo pois que somos