Cultura e Sociedade - Fund. Das Cien. Sociais

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Cultura e Sociedade Natureza x cultura: Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (todas as formigas de uma mesma espécie, usam seus membros uniformemente), depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo; O conceito de cultura: O conceito de cultura é uma preocupação intensa, atualmente, em diversas áreas do pensamento humano, no entanto, a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. Edward Tylor: cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade; Cultura como um conjunto de normas: No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós o desempenharam. Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as diferenças entre os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas de uma vez por todas, por meio de um roteiro geográfico ou de uma raça, como diziam os estudiosos do passado, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade estabelece no decorrer de sua história; A cultura condiciona nossa visão de mundo: O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente, diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que, inevitavelmente, existiriam sociedades superiores e inferiores. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos; O olhar dos pioneiros da Antropologia: No século XIX, antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo, não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos “selvagens”. Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas “tribos” e ali ficavam por certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que, aí sim, analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada “antropologia de gabinete”. Essa Antropologia era marcada por concepções evolucionistas, entre as quais, a ideia de que os povos evoluíam de um estágio primitivo (selvageria) até o mais evoluído (civilização). Várias concepções sobre povos diferentes dos europeus eram influenciadas também pelas ideias de determinismo biológico (teorias que atribuíam capacidades inatas à “raças” ou a outros grupos humanos) e determinismo geográfico (crença de que as diferenças do ambiente físico, condicionariam a diversidade cultural). As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos de limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares, sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. (Laraia, Roque. Cultura: um conceito antropológico.14. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001;

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Cultura e Sociedade

Natureza x cultura:Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (todas as formigas de uma mesma espécie, usam seus membros uniformemente), depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo;

 O conceito de cultura:O conceito de cultura é uma preocupação intensa, atualmente, em diversas áreas do pensamento humano, no entanto, a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. Edward Tylor: cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade;

 Cultura como um conjunto de normas:No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós o desempenharam. Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as diferenças entre os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas de uma vez por todas, por meio de um roteiro geográfico ou de uma raça, como diziam os estudiosos do passado, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade estabelece no decorrer de sua história;

 A cultura condiciona nossa visão de mundo:O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente, diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que, inevitavelmente, existiriam sociedades superiores e inferiores. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos;

 O olhar dos pioneiros da Antropologia:No século XIX, antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo, não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos “selvagens”. Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas “tribos” e ali ficavam por certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que, aí sim, analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada “antropologia de gabinete”. Essa Antropologia era marcada por concepções evolucionistas, entre as quais, a ideia de que os povos evoluíam de um estágio primitivo (selvageria) até o mais evoluído (civilização). Várias concepções sobre povos diferentes dos europeus eram influenciadas também pelas ideias de determinismo biológico (teorias que atribuíam capacidades inatas à “raças” ou a outros grupos humanos) e determinismo geográfico (crença de que as diferenças do ambiente físico, condicionariam a diversidade cultural). As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos de limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares, sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. (Laraia, Roque. Cultura: um conceito antropológico.14. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001;

 A Antropologia contemporânea e o princípio da alteridade:Na segunda metade do século XIX, esta “metodologia” é questionada, afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim, cunha-se a prática etnográfica que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência. A prática etnográfica consiste em “impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda” (LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia.) Para tal, faz-se necessário o exercício da alteridade, ou seja, a postura de apreender a visão do outro na plenitude de seu significado. Alteridade pressupõe a valorização da diversidade, da diferença;

 Etnocentrismo:Não é nada fácil vivenciar outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o

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mundo, devem ser os mesmos para todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão “normal” segundo o qual analisamos o “diferente”? Essa postura é chamada de etnocentrismo, “uma visão do mundo em que o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc. (ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo?) Este autor chama nossa atenção, ao analisar o etnocentrismo, para a questão do choque cultural. De um lado, conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí então de repente, deparamos-nos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Decorre, então, do etnocentrismo procedimentos preconceituosos e intolerantes, que não reconhecem o outro dentro dos limites que sua cultura estabelece;

 Relativismo cultural:

É a postura, privilegiada pela antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que, ao seu jeito, outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. “Cada diferença é preciosa e deve ser cuidada com carinho” (Margareth Mead, antropóloga americana in Sexo e Temperamento.). “Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete” (Roberto Da Matta, op. cit.).

A contribuição da antropologia às ciências sociais:

 A Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla. O conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos).

 Além disso, podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas. Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.

 Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, torna-nos seres singulares, humanos.

 As diferentes escolas antropológicas:

 Ao longo da sua existência, a Antropologia tem, como toda ciência, mudado seus paradigmas e construído formas diversas de investigação. A essas formas diferenciadas de investigação e análise dos fenômenos culturais dá-se o nome de “escola antropológica”. Constituem os principais paradigmas e escolas de pensamento antropológico:

 Evolucionismo social (século XIX) - Seus principais paradigmas foram: a sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete, a análise era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que chegavam às mãos dos antropólogos. Entre os temas e conceitos trabalhados por essa escola, destacam-se: a unidade psíquica do homem; a evolução das sociedades das mais “primitivas” para as mais “civilizadas”; a substituição conceito de raça pelo de cultura. Seus principais representantes foram: Maine (“Ancient Law” – 1861); Herbert Spencer (“Princípios de Biologia” - 1864); E. Tylor (“A Cultura Primitiva” - 1871); L. Morgan (“A Sociedade Antiga” - 1877); James Frazer (“O Ramo de Ouro” - 1890);

 Escola Sociológica Francesa (século XIX) – Seus principais paradigmas foram: a definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação sócio-antropológica e a definição das regras do método sociológico. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: as representações

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coletivas; as formas primitivas de classificação (totemismo) e a teoria do conhecimento. O fato social total; a troca e a reciprocidade como fundamento da vida social (dar, receber, retribuir). Seus principais representantes foram: Émile Durkheim (Regras do método sociológico”- 1895; “Algumas formas primitivas de classificação” - c/ Marcel Mauss - 1901; “As formas elementares da vida religiosa” – 1912); Marcel Mauss (Esboço de uma teoria geral da magia” - c/ Henri Hubert - 1902-1903; “Ensaio sobre a dádiva” - 1923-1924; “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção de eu”- 1938);

 Funcionalismo – (século XX, anos 20) - Seus principais paradigmas foram: a criação de um modelo de etnografia clássica; a ênfase no trabalho de campo (observação participante); a sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a cultura como totalidade e o interesse pelas instituições e suas funções para a manutenção da totalidade cultural. Entre seus representantes e suas obras de referência, podemos citar: Bronislaw Malinowski (“Argonautas do Pacífico Ocidental” - 1922); Radcliffe Brown (“Estrutura e função na sociedade primitiva” - 1952-; e “Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento”, org. c/ Daryll Forde - 1950.; Evans-Pritchard (“Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande” - 1937; “Os Nuer” - 1940); Raymond Firth (“Nós, os Tikopia” - 1936; “Elementos de organização social - 1951); Max Glukman (“Ordem e rebelião na África tribal” - 1963); Victor Turner (“Ruptura e continuidade em uma sociedade africana”-1957; “O processo ritual”- 1969); Edmund Leach - (“Sistemas políticos da Alta Birmânia” - 1954).

 Culturalismo Norte-Americano (século XX, anos 30) – Seus principais paradigmas foram: o método comparativo, a busca de leis no desenvolvimento das culturas e a relação entre cultura e personalidade. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a ênfase na construção e identificação de padrões culturais ou estilos de cultura (ethos). Seus principais representantes foram: Franz Boas (Raça, Língua e Cultura - 1940), Margaret Mead (Sexo e temperamento em três sociedades primitivas - 1935), Ruth Benedict (Padrões de cultura - 1934; O Crisântemo e a espada – 1946);

 Estruturalismo (século XX, anos 40) – Seus principais paradigmas foram: a busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente humana; a teoria do parentesco; a lógica do mito e as formas primitivas de classificação. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: os princípios de organização da mente humana; o princípio da reciprocidade. Seu principal representante é Claude Lévi-Strauss (As estruturas elementares do parentesco - 1949; Tristes Trópicos - 1955; Pensamento selvagem – 1962; Antropologia estrutural – 1958);

 Antropologia Interpretativa (século XX, anos 60) – Seus principais paradigmas foram: a cultura como hierarquia de significados; a busca da descrição densa. A interpretação sob inspiração hermenêutica. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a interpretação antropológica; a leitura da leitura que os nativos fazem de sua própria cultura. Seu principal representante é: Clifford Geertz (A interpretação das culturas – 1973; Saber local – 1983);

 Antropologia Pós-Moderna ou crítica (século XX, anos 80) – Seus principais paradigmas foram: a preocupação com os recursos retóricos presentes no modelo textual das etnografias clássicas e contemporâneas; a politização da relação observador-observado na pesquisa antropológica; a crítica dos paradigmas teóricos e da autoridade etnográfica do antropólogo. Os principais temas e conceitos desenvolvidos por essa escola foram: a cultura como processo polissêmico; a etnografia como representação polifônica da polissemia cultural; a antropologia como experimentação da crítica cultural. Seus principais representantes foram: James Clifford e Georges Marcus (Writing culture - The poetics and politics of ethnography - 1986); George Marcus e Michel Fischer (Anthropoly as cultural critique - 1986); Michel Taussig (Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem - 1987); James Clifford (The predicament of culture - 1988).

Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais

1. O contexto histórico do surgimento da Sociologia: 1.1. Revolução Industrial e Neocolonialismo: O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo Neocolonialismo, cujas consequências se projetaram para os séculos XX e XXI. No plano político e econômico, o termo revolução é usado para expressar um movimento de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade. De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a revolução industrial não poderia ter sido diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do Feudalismo para o Capitalismo.

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 O desenvolvimento industrial, acompanhou o desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção, porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no Neocolonialismo, ou Imperialismo do século XIX. 

          Diferente do Colonialismo dos séculos XV e XVI, o Neocolonialismo representou nova etapa do Capitalismo, do momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão-de-obra barata. Esse Colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações europeias. A América escapou desse Colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não fora dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, fora economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava a matéria-prima, a mão-de-obra barata e o favorecimento governamental.

 A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se, assim, à dominação imperialista: "Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras". Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações europeias.Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses. 1.2. O Cientificismo e o Darwinismo social: O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. O autor colocou em xeque as ideias da imutabilidade das espécies. Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não como criação simultânea, mas como decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das espécies, publicada em 1859, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies. Logo, as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa.  Se o Liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o Darwinismo Social. Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza, a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias. Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que nasceu a Sociologia. 2. O Positivismo: 

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O positivismo foi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte, na segunda metade do século XIX, que refletiu o entusiasmo burguês pela consolidação capitalista, por meio do desenvolvimento industrial e científico, como visto no item anterior. O tema central da obra de Augusto Comte é a Lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, da mais simples à mais complexa, já que para ele, a ordem é necessária ao progresso; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas, principalmente, a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial. A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia uma “sociocracia” dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. Logo, o Positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a à análise e definição da linguagem científica. Comte devotou-se à Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Ele acreditava que sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de desenvolvimento intelectual: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro estágio, o universo era explicado em termos de deuses, demônios e seres mitológicos. No segundo estágio, a realidade era explicada em termos de abstrações como a essência, existência, substância e acidente. De acordo com Comte, o estágio metafísico estava só terminando, dando lugar ao científico ou estágio positivo. Neste estágio final, explicações somente poderiam ser baseadas em leis científicas descobertas através da experimentação, observação ou lógica. Matemática, astronomia, física, química e biologia, classificadas por ele na base crescente de complexidade, já eram científicas; Comte procurou completar o estágio positivo ao criar a mais complexa de todas, a sociologia como ciência. Os traços mais marcantes do Positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade. Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso, é o lema da bandeira brasileira - "ordem e progresso" -, um dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é preciso que a sociedade esteja organizada. 2.1. Principais características do Positivismo:    Sacralização do método científico, do qual faz parte a observação - preocupação com a verdade;    Rejeição do sobrenatural, reforçando ainda mais a ideia do interesse pelo verdadeiro;    Laicidade – explicação não é mais divina, mas sim humana;    A obra de Augusto Comte explica a evolução histórica e cultural da humanidade através da Lei dos

Três Estados, que a divide em três estágios: o teológico ou fictício, o metafísico ou abstrato e o científico ou positivo;

    A visão que Comte tinha da sociologia correspondia ao modelo da física. Por isso, as características

de uma ciência assim compreendida seriam a fundamentação na pesquisa empírica e a formulação e leis universalmente válidas;

 Para reformar a sociedade, Comte propôs: (I) Reconhecer a existência de princípios reguladores;(II) Estudar os processos e estrutura social;(III)  Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanecia e harmonia) e dinâmico (fator de progresso). 2.2. O Postitivismo no Brasil:    1889 - Proclamação da República – influência das ideias positivas. Lema comtiano presente na

Bandeira Nacional: “A ordem para aperfeiçoar e levar ao progresso!”; 

   1930 – Vargas toma posse liderando um golpe das forças armadas, “pai – patrão”: controle sobre o operariado;

    Golpe Militar de 1964 – Goulart é deposto por uma revolta das Forças Armadas.

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 Bibliografia básica:

1.   COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997. Capítulo 4.

 Aplicação Pratica TeoricaQuestão discursiva:

 Leia a citação abaixo e responda as questões propostas:

 Causar incômodos é intrínseco à verdade (Globo, 02/05/2008);

 'QI dos alunos de medicina é baixo’ diz coordenador do curso da UFBA:

O coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) atribuiu aos alunos a responsabilidade pela nota baixa que o curso atingiu no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2007. O curso integra a lista de 17 instituições do país que serão supervisionadas pelo Ministério da Educação (MEC). Na opinião do coordenador, o professor Antônio Natalino Manta Dantas, o resultado ruim é por causa do “baixo QI [coeficiente de inteligência] dos alunos.

 HYPERLINK "http://netokops.wordpress.com/2008/05/03/causar-incomodos-e-intrinseco-a-verdade/"Em entrevista ao jornal ‘Folha de S.Paulo’ desta quarta-feira (30), Dantas, que é baiano, disse também que:

 - “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria”.

 Procurado pelo G1, o coordenador reafirmou as declarações sobre o desempenho dos estudantes.

 - “O QI dos alunos de medicina é baixo sim. Como vou dizer que eles têm QI alto se eles foram mal em uma prova que o resto do Brasil foi bem? Que eu saiba, não houve boicote à prova do ENADE. Então eles [os alunos] mesmos se submeteram à vergonha nacional”, diz o professor Dantas.“A nota foi péssima e já é a segunda vez que isso acontece. Na primeira edição do ENADE os estudantes também tiveram nota muito ruim”, afirma Dantas.

 Segundo ele, a faculdade não é a responsável pelos resultados ruins. “Temos um corpo docente muito qualificado com 90% dos professores com mestrado ou doutorado. Além disso, temos boa infraestrutura”, diz.

 As notas se devem à inferioridade intelectual dos alunos, diz Antônio Dantas.

 Para Dantas, os resultados do Enade mostram a inferioridade dos alunos de medicina da UFBA com relação aos estudantes de outras faculdades de medicina do país.“Eles são piores. As pessoas não gostam de admitir que são inferiores. Mas eu acho que admitir que somos piores é uma questão de humildade e só assim poderemos melhorar”, avalia o coordenador do curso.

 Questionado sobre quais medidas pretende tomar a partir de agora, o coordenador do curso foi enfático:

 - “O que a gente pode fazer para melhorar a capacidade cognitiva das pessoas? Não tenho como mudar a genética. A prova do ENADE não foi ruim. Ruins são os nossos alunos”, diz o coordenador, que acrescenta que os estudantes do curso de direito da UFBA tiraram nota 5 (nota máxima) no Enade de 2006. “Realmente eu não entendo porque os alunos de medicina não conseguem esse desempenho”, diz.

      O coordenador do curso de medicina da UFBA estaria inspirado nas concepções positivistas, (neste

caso o Darwinismo Social), para explicar as diferenças cognitivas entre os estudantes?; Justifique.

      É possível afirmar que as características biológicas e sociais determinariam a superioridade de

alguns estudantes e a inferioridade de outros? Explique.

 Questão objetiva:

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 No pensamento sociológico, a concepção evolucionista do positivismo expressa:

 I.Uma visão hierarquizada das sociedades;II.     A crença em uma origem cultural especifica dos grupos sociais;III.   Uma forma adequada de compreensão da diversidade social e cultural;IV.    Uma sucessão de fases ou estágios de desenvolvimento cultural;V.      A compreensão das sociedades informada pela teoria evolucionista.

 Marque uma letra a seguir que demonstra quais são as afirmativas anteriores que podem ser consideradas INCORRETAS.

 a)   I ; II e Vb)   I e Vc)   II e IVd)   III e IVe)   II e III

1. Émile Durkheim:Criador da Escola sociológica francesa, com ele tem início a sociologia científica; 2. Fatos sociais:Fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam a característica marcante de existir fora da consciência individual. Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constitui características intrínsecas de tais fatos. Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios); 2.1. Fato social normal:É normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população; 2.2. Fato social patológico:É todo fato, fatos que extrapolam os limites aceitos pela consciência coletiva vigente em uma sociedade, é o comportamento tido com desviante. O que é normal varia de sociedade para sociedade; 3. Consciência coletiva:É o conjunto de crenças, sentimentos e valores aceitos pela média dos membros de uma sociedade; 4. Anomia:É a ausência, desintegração ou inversão das normas vigentes em uma sociedade, neste caso, a consciência “perde” os parâmetros de julgamento da realidade. Ela vai acontecer em momentos extremos, tais como: guerras, desastres ecológicos, econômicos etc. A este sistema Durkheim chama: “consciência coletiva”. 5. Divisão do trabalho social:É a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples, predomina a divisão social do trabalho baseada, principalmente, em critérios biológicos de sexo e idade. Essa divisão parece decorrer de uma extensão analógica das diferenças naturais de funções entre membros de um grupo. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade mecânica. Nas sociedades mais complexas, em especial quando tem início o desenvolvimento da agricultura, a sedentarização e o sistema de propriedade privada, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. A indústria foi o sistema produtivo que mais desenvolveu a divisão social do trabalho, criando uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade orgânica. Observação: a divisão social do trabalho, implica sempre uma divisão não só de funções, mas, também, de privilégios, regalias e poder. Bibliografia básica:1.   COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.

Capítulo 5. 

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Sugestão de filme para atividade complementar ou oficina: “Blade Runner” (1982)” 

Sinopse: O filme ilustra uma visão negra e futurística de Los Angeles em novembro de 2019, período em que a humanidade inicia sua colonização espacial. Para isso, cria seres geneticamente alterados, os replicantes, para serem utilizados em tarefas pesadas, perigosas ou degradantes nas novas colônias. Fabricados pela Tyrell Corporation como sendo "mais humanos que os humanos", os modelos Nexus-6 são fisicamente idênticos aos humanos, porém mais fortes e ágeis. Devido a problemas de instabilidade emocional, grande agressividade e reduzida empatia, os replicantes têm um período de vida limitado há quatro anos. Após um motim, a presença dos replicantes na Terra é proibida, sendo criada uma força policial especial, os Blade Runners, para os caçá-los e matá-los.A história é ambientada em Los Angeles. O clima quente e ensolarado é substituído por uma metrópole de formas e cores sinistras, na qual uma superpopulação se amontoa em arranha-céus decadentes, corroídos por uma incessante chuva ácida que teima em cair. É nesse decadente planeta Terra que vive o detetive Deckard, interpretado por Harrison Ford. Ele é convocado por seus superiores a realizar um último trabalho. Exterminar ("aposentar" é o termo técnico) quatro androides desertores, chamados de Replicantes, que fugiram à cidade após uma rebelião em um sistema estelar. O detalhe é que essa geração de androides é o mais próximo que os humanos chegaram da perfeição robótica. Além de serem dotados de grande inteligência, agilidade e força física, os replicantes têm um objetivo a ser alcançado: a busca por mais tempo de vida

1. A sociologia compreensiva de Max Weber: Segundo Weber, a Sociedade não pode ser vista como uma realidade material independente dos indivíduos. Ao negar essa tese positivista, Weber procura compreender a sociedade como um agregado de indivíduos que possuem suas motivações próprias. Ao mesmo tempo, o estatuto de realidade objetiva é mudado para uma concepção menos determinista de sociedade, segundo a qual, a realidade é um fenômeno compósito; por isso, o cientista não conhece a sociedade de antemão, nem consegue abarcá-la totalmente. Para compreender a sociedade, é preciso entender as redes de significações estabelecidas pelos indivíduos em suas ações e relações sociais. Para criar uma imagem, ao passo que Durkheim via a sociedade como uma coisa, Weber a compreendia como um conjunto de ações parciais que precariamente se totalizavam. Assim, somente podemos compreender pequenos “pedaços” dessa realidade. Como cada indivíduo tem sua própria visão parcial do mundo, há um conflito permanente entre os indivíduos que compõem a sociedade. Por isso, Weber propõe a reconstrução do sentido subjetivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador. Portanto, o objeto da sociologia para Weber é o sentido da ação social, que deve ser buscado pela apreensão da totalidade de significados e valores atribuídos pelos indivíduos. Nesse sentido, ele procura mostrar que não há apenas uma causa dos fenômenos sociais; através da ideia de “adequação de sentido”, Weber mostra a convergência da ação em duas ou mais esferas que compõem o todo social (a economia, a política, a religiosa, etc.), ou seja, a ação social é determinada por mais de uma causa, sendo que cada causa tem importância variada sobre a determinada ação. 1.1. Os tipos de ação social: Weber, preocupado com o valor que cada indivíduo atribui à sua ação, procurou elaborar uma tipologia para compreender as características particulares, definindo quatro tipos de ação: (I) Ação Racional com relação a fins (burocracia moderna) - motivada por fins objetivos;(II) Ação Racional com relação a valores - motivada por crenças em valores morais, religiosos, políticos etc.;(III) Ação Tradicional - guiada pela tradição, costumes;(IV) Ação Afetiva - guiada por uma conduta emocional. 1.2. O método em ciências sociais: Nas disciplinas que aspiram a conhecer os fenômenos da vida segundo sua significação cultural, possui uma peculiaridade decisiva, não podendo ser reduzido ao estabelecimento de leis gerais. Toda análise sociológica é parcial. Bibliografia básica:1.   COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.

Capítulo 6; Sugestão de leitura complementar: 

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1.   DA MATTA, Roberto. Sabe com quem está falando? Um ensaio sobre a distinção entre individuo e pessoa no Brasil. In: Carnavais. Malandros e Heróis: Para uma sociologia do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1997. p. 181-186 e 207-218;

2.   LOCHE, Adriana et al. Sociologia Jurídica. Porto Alegre: Síntese, 1999. p.32.

 Aplicação Pratica TeoricaQuestão discursiva: Leia o caso abaixo e responda as questões propostas:O capítulo 63 da novela mexicana “Rebelde”, produzida pela rede Televisa e transmitida / dublada pelo SBT, trouxe o seguinte diálogo: Mia: Tipo assim, eu gosto muito de comprar. Bolsas, sapatos, maquiagem...tudo para ficar bem linda.Miguel (namorado da personagem): Ah, meu amor, você deve fazer o que gosta. Tem que pensar em você, só tenha cuidado para que suas amigas não se aproveitem de você.Mia: Ah! Mas isto é claro para mim, na hora que a gente precisa é cada um por si, não tem ninguém para ajudar. É por isso que eu penso primeiro em mim, segundo em mim e depois em mim..Miguel: E em mim você não pensa?Mia: Só para carregar meus embrulhos!!!!Roberta: Essa barbie descerebrada não faz outra coisa senão comprar, comprar! É uma egoísta, uma individualista que só pensa em si. 1.   Os indivíduos compartilham, por viverem em sociedade, dos mesmos códigos de sentido, valores e

significados. Tais características estão presentes em diversos eventos do cotidiano: brincadeiras, músicas, novelas. O trecho acima revela um valor presente na sociedade contemporânea. Neste sentido, segundo a teoria da ação social de Weber, que tipo de ação está presente no texto? Justifique:

 2.   O texto apresenta a ideia de “pensar só em si mesmo”, exemplo típico do individualismo crescente.

Neste sentido, explique, segundo a visão weberiana, por que o individualismo é uma tendência da sociedade moderna.

 Questão de múltipla escolha: Para a sociologia compreensiva de Weber, ação racional visando aos valores significa o comportamento a que o agente se entrega em função de um (a): 

I.fim que se quer alcançar;II.     forte sentimento de amor, raiva, ódio ou vingança;III.   costume enraizado em sua cultura;IV.    uma causa política ou religiosa.

 a)   Somente o item IV está correto;b)   Somente o item II está correto;c)   Somente o item III está correto;d)   Somente o item I está correto;e)   Todos os itens estão incorretos.

Karl Marx: O Materialismo Dialético:

 Para Marx, não basta interpretar o mundo, é preciso transformá-lo através da Práxis.A Práxis é um conceito central no pensamento de Marx. A Práxis não se confunde com a prática. A Práxis é a união da interpretação da realidade (teoria – conhecimento científico) à prática (realização efetiva, atividade), em outras palavras, é a ação consciente do sujeito na transformação de si mesmo e do mundo que o cerca. É através da práxis que se dá o combate à alienação.

 

Partindo desta visão, Marx estabelece o conceito de dialética materialista: no conceito Marxista, o termo materialismo refere-se à teoria filosófica preocupada em destacar a importância dos seres objetivos (os homens) como elementos constitutivos da realidade do mundo. O que é Dialética? Dialética é o modo de pensarmos as contradições da realidade, de pensarmos as diferenças sociais e, consequentemente, a transformação permanente da realidade – a realidade dialética. Princípios básicos da dialética: tudo se relaciona; tudo se transforma; mudanças qualitativas; luta dos contrários: Tese - Antítese – Síntese. A aplicação das teses fundamentais do materialismo dialético à realidade social deu origem a concepção

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materialista da história. Segundo esta concepção, o entendimento da realidade da vida, só é possível a medida que conheçamos o modo de produção da sociedade – modo de produção é aqui entendido como a maneira pela qual os homens obtêm seus meios de existência material. É através do modo de produção que conhecemos uma sociedade em sua especificidade histórica e social. Não é a consciência que determina a vida material, mas a vida material que determina a consciência. A partir do modo de produção, é possível identificar as diferenças históricas e as relações sociais presentes em cada época determinada. Na história, podemos distinguir pelo menos cinco grandes modos de produção: primitivo; o regime asiático; escravatura; servidão (feudal) e a capitalista.

Questão discursiva:

 Leia o caso abaixo e responda as questões propostas:

 O papel da mídia. Quando os jornalistas são questionados, eles respondem de fato: “nenhuma pressão é feita sobre mim, escrevo o que quero”. E isso é verdade. Apenas deveríamos acrescentar que, se eles assumissem posições contrárias às normas dominantes, não escreveriam mais seus editoriais. Não se trata de uma regra absoluta, é claro. Eu mesmo sou publicado na mídia norte-americana. Os Estados Unidos não são um país totalitário. (...) Com certo exagero, nos países totalitários, o Estado decide a linha a ser seguida e todos devem-se conformar. As sociedades democráticas funcionam de outra forma: a linha jamais é anunciada como tal; ela é subliminar. Realizamos, de certa forma, uma “lavagem cerebral em liberdade”. Na grande mídia, mesmo os debates mais apaixonados se situam na esfera dos parâmetros implicitamente consentidos — o que mantém na marginalidade muitos pontos de vista contrários. Revista Le Monde Diplomatique Brasil, ago. 2007 - (trecho de entrevista com Noam Chomsky).

 1.   O texto acima faz referência a dois importantes conceitos marxistas: ideologia e alienação. Defina

cada um deles;

 2.   Mostre como eles se apresentam e se relacionam no texto acima;

 Questão de múltipla escolha:

 1. De acordo com a teoria de Karl Marx, a desigualdade social se explica pela (s):

 a)   Distribuição de riqueza de acordo com esforço de cada um no desempenho de seu trabalho;b)   Divisão da sociedade em classes sociais, decorrente da separação entre proprietários e não

proprietários dos meios de produção;c)   Diferenças de inteligência e habilidades inatas dos indivíduos, determinadas biologicamente;d)   Apropriação das condições de trabalho pelos homens mais capazes em contexto histórico, marcado

pela igualdade de oportunidades;e)   Incapacidade da classe proletária de lutar por seus direitos.