CUIDADO AS RAPOSAS ESTÃO POR AÍ VOTE BEM PARA … · Jornal A Gaxéta 3 É representada pela...

16
Distribuição Gratuita Edição: 182 - maio 2018 Jornal A Gaxéta (11) 9-7254-3676 agaxéta agaxeta ELEIÇÕES 2018 CUIDADO, AS RAPOSAS ESTÃO POR ... V OTE BEM PARA DEPUTADOS ESTADUAIS. PÁGINA: 11 PÁGINA: 03 Dia 17/06 1º jogo do Brasil Desconhece-se a real intenção da visitação. O certo é que DESAGRADOU a Comunidade das Religiões Afro. Será política? Será retratação? Será que há “grana na jogada” ? Seria: quem não pode com inimigo alia-se a ele ? Ou começaram realmente a por em prática as palavras de seus Profeta. A visita, apesar de cordial, é descabida, inconveniente e com fortes evidências de “ausência de vergonha na cara”. Não há a menor possibilidade de se aliar aos fundamentalistas que provocaram a morte de pessoas e lideranças e agressões aos Templos Afros. Talvez haja possiblidade de perdão, pois assim nos ensinou Oxalá, mas, relações amistosas e sociais é impossível. Seria falta de dignidade e de amor próprio do Povo do Santo. COMITIVA BAIANA DE CANDOMBLÉ VISITA O TEMPLO DE SALOMÃO, EM SÃO PAULO - IURD. PÁGINA: 05 Dia 14/06 Início da 21ª Copa do Mundo Rússia

Transcript of CUIDADO AS RAPOSAS ESTÃO POR AÍ VOTE BEM PARA … · Jornal A Gaxéta 3 É representada pela...

Distribuição Gratuita Edição: 182 - maio 2018Jornal A Gaxéta (11) 9-7254-3676agaxétaagaxeta

ELEIÇÕES 2018CUIDADO, AS RAPOSAS ESTÃO POR AÍ... VOTE BEM PARA DEPUTADOS ESTADUAIS.CUIDADO, AS RAPOSAS ESTÃO POR AÍ... VOTE BEM PARA DEPUTADOS ESTADUAIS.

PÁGINA: 11 PÁGINA: 03

Dia 17/061º jogo

do Brasil

Desconhece-se a real intenção da visitação.O certo é que DESAGRADOU a Comunidade das Religiões Afro. Será política? Será retratação? Será que há “grana na jogada” ? Seria: quem não pode com inimigo alia-se a ele ? Ou começaram realmente a por em prática as palavras de seus Profeta.A visita, apesar de cordial, é descabida, inconveniente e com fortes evidências de “ausência de vergonha na cara”.Não há a menor possibilidade de se aliar aos fundamentalistas que provocaram a morte de pessoas e lideranças e agressões aos Templos Afros.Talvez haja possiblidade de perdão, pois assim nos ensinou Oxalá, mas, relações amistosas e sociais é impossível. Seria falta de dignidade e de amor próprio do Povo do Santo.

COMITIVA BAIANA DE CANDOMBLÉ VISITA O TEMPLO DE SALOMÃO, EM SÃO PAULO - IURD.

PÁGINA: 05

Dia 17/06Dia 14/06

Início da 21ª Copa do

Mundo Rússia

Jornal A Gaxéta2

1-CriticidadeEm nossos artigos as abordagens

são sempre feitas com refinado senso crítico, privilegiando a verdade, a ética e buscando desmistificar o conceito de que importantes são os que TEM, para valorizar os que SÃO. Desta forma não estimulamos as ‘aparências’, mas tentamos ressaltar as ‘essências’ dos atos e situações que publicamos;

2- (Im)parcialidadeTrabalhamos de forma estar trilhando

nos caminhos da imparcialidade, apesar de termos consciência de que somos fiéis aos Cultos Afros (Umbanda e Candomblé) e aos Direitos Humanos, o que caracteriza ‘parcialidade’. Esta atitude miscigenada se justifica pela ausência de direitos e de igualdade de oportunidades dos segmentos em destaque;

3- ExcelênciaO sucesso de nosso trabalho se dá

pelo pioneirismo de nossa proposta, pela credibilidade de nossos informes e pela responsabilidade de ‘formar opinião’, levando nossos leitores a uma visão real, coerente e panorâmica das necessidades. Nossa meta é polemizar;

4- Formação de Opinião Além de universalizar os

acontecimentos, denunciar e buscar espaços de Igualdade, temos como ALVOS as crianças e os jovens, com a responsável proposta de formar opiniões centradas, objetivas e sem tendenciosidade. Fiéis multiplicadores.

5 - ReportagensElaboramos reportagens com muito

cuidado e teor jornalístico, priorizando a comunicação visual

NOSSOS VALORES

14 anos

A Editora Ápis não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados. "Os artigos com assinatura não traduzem a opinião do Jornal.

Suas publicações visam estimular a reflexão, o debate e visam também o respeito pelos princípios democráticos e ao direito constitucional de liberdade de expressão e de ideias".

Periodicidade: MensalDistribuição: Gratuita

Arquivamento:Biblioteca Nacional e Biblioteca Mário de Andrade-SP

Oxossi - Patrono do Jornal A Gaxéta

ODE ODENTA(O caçador lança sua flecha)

Projeto daProjeto da

Administração, Realização e MarketingEditora Ápis Ltda

Presidente/Diretor AdministrativoAlexandre F. da Costa

Assessoria JurídicaDr. Alberto Carlos Dias OAB/SP 180831

Chefe de Redação e Coordenação pedagógicaMarisabel de Souza

PesquisasMartha M. F. Thomaz

Jornalistas ResponsáveisRad Assis Brasil UgarteMtb: 32.527/SPTerezinha Vicente FerreiraMtb 15.093

ContatosReportagens e Conteú[email protected]

Diagramação e EditoraçãoPaulo José Elias [email protected]

Departamento [email protected]

Fale com o JornalHorário de Atendimentode 2ª a 6ª feira das 9:00 hs às 12:00hsdas 13:00 hs às 17:00hs

Fone:(11) 4721-7680(11) 9-7254-3676

Dúvidas, Críticas ou SugestõesCaixa Postal 2081 - CEP: 08750-970Mogi das Cruzes / [email protected]

Produzido por

Não nos responsabilizamos por artigos assinados

“Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema...

Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisí-

vel. Às vezes, dá até vontade de desistir...Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. O pior é que ainda tem gente que

acredita na receita da família perfeita. Bobagem!Tudo ilusão!Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família

a seu jeito.Há famílias doces. Outras, meio amargas.Outras apimentadíssimas.Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família

Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentís-

simo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe

no dia a dia. Muita coisa se perde na lembrança. Aproveite ao máximo.Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete!

Família: Feliz quem tem e sabe curtir, aproveitar e valorizar...” Família é projeto de Deus!

Então...Amem-se, Perdoem -se, Aceitem-se, Tolerem-se e vivam como se hoje fosse o último dia que vocês vão estar com

a sua família.

Trecho do livro O arroz de Palma

“O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo.

3Jornal A Gaxéta

É representada pela faixa branca do arco-íris, os raios brancos do sol, a neve, o sêmen, a saliva. A Senhora dos Mistérios da Vida!

Tudo o que é inexplorado, conta com a proteção de Yewá, um Orixá de muitos mistérios, que se mantém oculta na imensidão das matas. Na África, o rio Yewá é a mora-da desse Orixá, contudo, sua origem é polêmica. Havia um Orixá feminino oriundo das correntes do Daomé (região da África) que se chamava Dan. Filha de Nanã. É o Orixá dos astros, das nuvens, do amanhecer, da beleza, ligado às la-goas existentes dentro das fl orestas. Sua força estava con-centrada em uma cobra, que engolia a própria cauda, o que simbolizava a continuidade da vida. Yewá seria uma de suas metades – a outra seria Oxumarê. Existe uma versão no qual o Vodun (Orixá na Nação Jeje) Eowa, seria um correspon-dente da Yewá dos nagôs, porém confundida com uma qua-lidade de Iemanjá. Segundo a lenda, Eowa, fi lha de voduns que correspondem a Oxumarê, foi uma cobra má, o que a fez ser expulsa. Encontrou abrigo entre os iorubás, que a transformaram em uma cobra boa e bela, a metade feminina de Oxumarê. Em qualquer ocasião, ambos dançam juntos. Yewá é o Orixá da beleza, dos mistérios, do céu estrelado e sábia caçadora, pois aprendeu com Oxóssi essa arte, ao se es-conder na mata, fugida de Yansan, que queria matá-la por ter se deitado com Xangô, seu marido. É também a deusa dos rios e lagoas, do céu cor-de-rosa e das fl orestas inexploradas, local que o homem não alcança, somente Orixás. É represen-tada pela faixa branca do arco-íris, os raios brancos do sol, a neve, o sêmen, a saliva. Seus símbolos são o ofá (ou uma lança ou um arpão), uma cabaça de cabo alongado enfeitada com palha da costa, além da espada, pois é guerreira. Dança

os ritmos ilu, hamunha, bravu e sató, dependendo da nação que a está cultuando. Seus maiores fundamentos se encon-tram em plantas de lagoas, como o ojú orô. As virgens con-tam com a proteção de Yewá, assim como a mata virgem e rios e lagos em que não se pode navegar ou andar. O próprio Orixá acredita-se, só rodaria na cabeça de moças virgens. Yewá visita a humanidade, através do brilho das constela-ções, os olhos de Yewá. Muitas vezes ela se assemelha a Oyá. Muitas outras a Oxum. E até a Iemanjá, o que chega a confundir alguns Babalawôs, no momento da consulta à Ifá. Ela se mostra somente para quem quer e quando bem enten-de. Yewá é vingativa e ressentida. Suas explosões são sem retorno: quando enfurecida, põe para fora os pontos fracos do adversário. Identifi ca-se com Ogum, pelo amor à verdade e o repúdio à mentira. Na mata, Yewá confunde os invasores com sons de pássaros, gargalhadas e chocalhos de cascavéis. Ela é a padroeira de tudo o que é belo que existe na Terra e que os sentidos percebem. Yewá é a senhora da música, age sobre os sentidos, separa a desordem musical da harmonia, é a tradutora universal, a que possibilita o aprendizado de vários idiomas e o entendimento de todos eles. A força de Yewá pode conceder ou retirar a visão, a audição, o olfato e o tato, já que age sobre a emoção que o ser humano sente perante toda e qualquer forma de arte criada pelo homem. Ela salvou um jovem da morte, quando este era perseguido por Iku. Sem saber, ela protegeu Orunmilá e este ao ler seu pensamento, respondeu que logo teria o primeiro de uma série de fi lhos, o que ela e seu marido Obaluaiê tanto que-

riam. Como forma de gratidão, Orunmilá concedeu a ela, o poder da vidência. O fundamento de Yewá é rigoroso e primitivo sendo muito difícil de ser feito, por isso, seu culto já pode ser considerado quase extinto. Senhora dos sonhos, é responsável pelo transe, pela fantasia que envolve todos os seres humanos. Ela concede sonhos alegres ou pesadelos terríveis. E pode também, impedir o sonho, o que pode levar à loucura. Em alguns mitos, Yewá mora no cemitério e é bastante ligada à Obaluaiê e Nanã, o que a colocaria na con-dição de responsável pela transformação de tudo que é vivo em matéria morta, em cadáver. As cores de sua vestimenta podem ser variadas. Verifi cou-se a utilização do amarelo forte, azul, mas a predominância se encontra no vermelho coral e rosa. Há casas nas quais o Orixá se apresenta com uma âncora na cintura ou na mão e segurando um ofá (arco e fl echa), um arpão e uma espada de latão, como prova de sua característica guerreira. Seu adê (coroa) costuma ser feito de palha-da-costa nos tons vinho ou vermelho e enfeitado com búzios. Yewá não aceita falsidade por parte de seus fi lhos e exige fi delidade.

Seus domínios: Beleza, Vidência (sensibilidade, sex-to sentido), e Criatividade.

Não há culto de Yewá na Umbanda e seu sincretismo, segundo alguns, é de Nossa Senhora de Monte Serrat.

A Casa de Oxumarê em Salvador (BA), tem fortes relações espirituais com Yewá, sendo uma de suas Iyalorixás, Cotinha de Yewá, sua fi lha, que passou a compor a ancestralidade. Hi Hó...Yewá!

Projeto “Grupos de Estudo – 2005

Yewá ou Ewá

Jornal A Gaxéta4

Há quase 50 anos permeio os Templos das Religiões Afro-brasileiras.

Já vi de tudo: desde a mais humana e bem intencionada ação espiritual até a VEN-DA de egbós, iludindo claramente a pessoa que procurava ajuda. Uma clara atitude de ganhar e lucrar com o sofrimento alheio.

Conheço perfeitamente nossa Comuni-dade, pois vi, assisti, presenciei, fui humilha-do, desconsiderado e discriminado – através dos códigos morais, da Fé Cristã – a codifi -cação moral dos cultos afros, é muito linda, além de exótica, extravagante, orientaliza-da (do Oriente) e respeitosa, pois AMA E ADORA OS ORIs, pedaço divino que todo ser humano tem!

Não tive apoio de ninguém em meus momentos difíceis. Mas tive muitos amigos nas eras das VACAS GORDAS!

No passado, éramos tratados como es-cravos, tendo que fi car olhando para o chão, comer com as mãos e às vezes até apanhar da Liderança Religiosa. Atualmente, impera a mesma coisa que no passado, porém de forma mais ‘LIGHT’, acrescido de vaidade, individualismo, arrogância e comercializa-ção do axé, e outras coisas que é preferível não comentar.

Sei que quando integrantes de nossa co-munidade se encontram, duas coisas acon-

tecem, com certeza absoluta: 1- falar dos outros, alimentando a FOFOCA e INCEN-TIVANDO a inimizade; 2- Criticar, zombar e desmerecer a Festa do outro, ou a Saída de Santo, etc... Atitudes estas que, além de po-bres, são desnecessárias e nada contribuem positivamente para nossa moral.

Nunca se discutiu, em encontros sérios e úteis: QUAL A VISÃO DE HOMEM, DE VIDA E DE MUNDO, nossos Orixás plane-jam para nós. Nunca presenciei discussões sobre temas polêmicos de nossa tradições como: a importante presença da DIVERSI-DADE SEXUAL em nossos Templos; a ini-ciação de crianças; a Eutanásia; a iniciação dos Portadores de Necessidade Especiais, entre outros temas.

Nossa comunidade ainda não perce-beu a Complexidade do Candomblé e da Umbanda. Acha que estas só tem funções

religiosas. Grave engano!Elas, o Candomblé e a Umbanda, pos-

suem diversas e importantes funções, das quais poucas lideranças tem consciência e domínio. São elas:

1-Saber lidar com a Pessoa Humana, em suas necessidades físicas, emocionais/psico-lógicas, sociais, educacionais, etc...; Ensinar hábitos de higiene e de bom relacionamento humano; Aceitar o outro, como ele é;

2-Função Política: a missão de escla-recer seus adeptos da importância e como VOTAR COM SERIEDADE; Politizar sua Comunidade; Apresentar a Democracia e democratizar as relações interpessoais;

3-Função Social: a missão de combater a desigualdade, a injustiça social, a urgência em combater o Racismo e todo tipo de pre-conceito e discriminação; Promover a Cida-dania;

4-Função Cultural: Preservar a Cultura Africana e Nacional em todas as suas ver-tentes;

Enfi m, são muitas as atribuições. Difícil, né?

Acredito que nossos Orixás não estejam

satisfeitos só com Festas, Brilhos, Comidas, Bebidas e etc... Acredito que Eles querem mais.... querem que cresçamos como huma-nos.... querem que suas tradições sejam res-peitadas pela Sociedade... querem que seus legados e ancestrais sejam lembrados com reverência e reconhecimento. Querem que se tornem os ORIENTADORES DA POLÍ-TICA NACIONAL INCLUSIVA, JUSTA E IGUALITÁRIA. Querem ser representados em todas as repartições públicas. Afi nal, Esu é o Guardião da Humanidade! Responsável pela perpetuação da espécie humana; Se-nhor que administra o número de mortes e o número de nascimentos, para que sempre existamos.

Desconfi o que o violento processo de INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, além de ser uma manifestação fundamentalista e ra-cista, tem os DEDINHOS DE ORIXÁ.

Vejamos para onde vão nossos barcos!MC, 22.04.2018 - Dia do Descobrimento do Brasil. Dia da DemocraciaOBS: As eleições estão chegando e as VELHAS RAPOSAS ESTÃO POR AÍ...caçando votos, com o forte medo de perder as GORDAS TETAS DA AS-SEMBLEIA DE SÃO PAULO.

AFINAL, ESU É O GUARDIÃO DA HUMANIDADE!

5Jornal A Gaxéta

Obá - A Rainha Valente

Toda a dor, de-s e s p e r a n ç a , abandono, cau-

sados pelas atitudes de Oxum (abordados na lenda, em que Obá foi in-duzida a cortar a própria orelha, para oferecer a Xangô e que resultou em sua expulsão do Reino daquele Orixá), fi caram como marca registra-da do Orixá Obá, e tais sentimentos têm a sua regência.

E l a rege a desi-

lusão amorosa, a tristeza, o sen-

timento de perda, o ciúme, a incapacidade do homem de ter aquilo que ama e deseja. Obá é

sábia, poderosa, madura e realista. Ela se tornou guerreira e vencedora, através das desilusões, frustrações e derrotas pelas quais passou. Obá simboliza a “última gota”, que faz transbor-dar os sentimentos.

Deusa que acha ‘coi-sa perdidas’. Tem o dom do disfarce: assume a aparência de uma idosa, ranzinza e implicante, ou de uma amazona guer-reira, destemida e hábil.

Não é vaidosa e não gosta de futi-lidades.

Dotada de musculatura vi-

gorosa faz afronto a qualquer homem (aboró). Não os

teme! Tem raiva dos homens, assim pode

impossibilitá-los de ter fi lhos. Não acei-ta iniciados do sexo masculino, portanto só ‘roda’ na cabeça de mulheres. Suas

cerimônias, seus atos, suas oferendas e orôs devem também ser fei-tos por mulheres. Obá duvida das ‘mãos’ dos Sacerdotes do sexo mas-culinos. Adora orobôs e também ‘responde’ por meio deles.

FILIAÇÃO

Obá nasceu do ventre rasga-do de Yeman-

já, após o incesto com Orugan. Irmã de Yewá e

de Oyá. Também há quem defenda a tese de que Obá é fi lha de Oduduwa (na sua interpretação como mulher).

OBÁ E A NATUREZA

Obá domina a pororoca (o en-contro da maré

com as águas do rio, que não se misturam e formam ondas de muitos metros de altura), as cataratas com forte volu-me d´água e o fogo. Deusa do Rio Ibu ou Obá (próximo a Ibadan, na Nigéria/ África) tem no fenômeno da poro-roca, a sua eterna contenda com Oxum.

Mesmo tendo Xangô

transformado as duas Deu-sas em rios (Rio Obá e Rio Oxum) de tanto que briga-vam, o encontro das mes-mas ainda continua na jun-ção dos rios.

Obá gosta de receber seus axés no encontro das águas do rio com o mar. Ela gosta de viver na pororoca, mas como não é fácil servir neste local, ela aceita rece-ber as oferendas na beira de ribeirões límpidos.

OBÁ E XANGÔSEMELHANÇAS

Assim como Xangô, e ape-sar de ter se

transformado em um rio, Obá também é relacio-nada ao fogo e é consi-derada por muitos como um Xangô Fêmea. É uma mulher vigorosa e cheia de coragem. Não teme ninguém no mundo. Tem prazer em lutar.

Obá usa a festa da fo-gueira de Xangô para po-der levar suas brasas para seu reino. Desfrutou com Xangô todo o amor que um homem pode dar. Nas-ce, dessa grande paixão, uma criança, uma meni-na bela, justiceira e feroz guerreira, que herdou o melhor do pai e da mãe. Seu nome: Opará.

OGUM FOI O PRIMEIRO

MARIDO DE OBÁ. AMARAM-

SE POR TEREM UM GOSTO EM COMUM: A GUERRA. MAS, O TEMPERAMENTO DE

OGUM FEZ COM QUE OBÁ O

ENFRENTASSE!

E l a rege a desi-

lusão amorosa, a tristeza, o sen-

reira, destemida e hábil. Não é vaidosa e

musculatura vi-gorosa faz afronto

a qualquer homem (aboró). Não os

teme! Tem raiva dos homens, assim pode

impossibilitá-los de ter fi lhos. Não acei-ta iniciados do sexo masculino, portanto só ‘roda’ na cabeça de mulheres. Suas

cerimônias, seus atos, suas oferendas e orôs devem também ser fei-tos por mulheres. Obá duvida das ‘mãos’ dos

Quando mani-festada, Obá esconde a fal-

ta da orelha com a mão. Seus símbolos são uma espada (idà) e um arco e fl echa (ofá).

FERRAMENTAS DE OBÁ

A PADROEIRA DAS MULHERES

Obá é consi-derada a Pa-droeira das

famílias, das viúvas, das mulheres e toma sob sua proteção toda espo-sa que tiver

A RELAÇÃO ENTRE OBÁ E OXOSSI

Obá é guerrei-ra. Não aceita futilidades e

como amazona, disputa com Oxossi a primazia como atiradora, utilizando-se de qualquer arma: das mais an-tigas às mais modernas. Oba e Oxossi são inseparáveis, se identifi cam em muitos aspectos e dominam a mon-taria.

Caçam juntos, fi cando o raciocínio concentrado em Obá, enquanto Oxossi ex-pande o conhecimento. Am-

bos se completam: Oxossi está na vegetação. Obá está na terra, em sua raiz.

Oxóssi é o único homem em que Obá tem confi ança. Isto se dá em virtude do caráter idôneo e íntegro do Orixá caçador. São amigos de mútua admiração, mas não há intimidades. Oxóssi dança para Obá. Obá dança para Oxóssi. Obá carrega uma ferramenta de Oxóssi, o ofá, como demonstração de amizade franca e pura.

O culto de Obá no Brasil é muitas ve-

zes confundido com o de Oyá. Alguns chegam a defender a tese de que elas sejam irmãs, o que não é verdade. Fala-se também que Obá seria uma Oyá mais velha, o

que é mais uma inverda-de.

Ambas, Obá e Oyá possuem ligação com o fogo e tiveram em co-mum, juntamente com Oxum, o Orixá Xangô, como esposo, o que se tornou motivo de dispu-tas constantes entre elas.

Obá e Oyá

OBÁ E OXUM

Obá tem muito ciúme, raiva e ressenti-

mento por Oxum, pois esta foi a responsável por Obá ter se mutilado, perdendo sua orelha es-querda. Pela tradição nos Cultos Afro-Brasileiros, não se pode deixar que Oxum e Obá dancem nos

Barracões num mesmo momento.

As águas dos rios que levam os nomes desses Orixás, ao se encontra-rem, não se misturam e formando ondas de mui-tos metros de altura, o que representa a eterna contrariedade que Obá possui por Oxum.

Na Religião dos Orixás, as divindades

africanas, são saudadas por seus fi lhos e devotos, com frases, sons próprios, como forma de reverência e respeito. À Obá, se utili-

zam os termos “Obá Xi”, ou “Obá Xirê” e também “Oosa, oosa Obá”, cujo signifi cado é: “Obá é da casa e vem brincar” (“Obá Xirê”) e “Obá é da Guer-ra” (“Oosa, oosa Obá”).

OBÁ DESAFIOU OGUM, O MAIS GUERREIRO DOS ORIXÁS MASCULINOS, TORNANDO-SE

TEMIDA POR TODA A CORTE DOS DEUSES AFRICANOS. APAIXONADA E DESPREZADA POR XANGÔ, ONDE NA

HIERARQUIA OCUPOU O LUGAR DE 3ª RAINHA.

SAUDAÇÃO PARA OBÁ

Obá, é o Orixá do Rio Obá ou rio Níger. Em

toda a África é cultuada como a grande protetora das mulheres. É a “amazo-na”, a padroeira da guerra. Mulher de forte tempera-

mento, terrivelmente pos-sessiva e carente.

Quem conhece o rio Obá, na Nigéria, sabe que é um rio de águas revoltas, em constante movimento, por isso a relaciona ao fogo.

OBÁ NA ÁFRICA

OBÁ EM CUBA

Em Cuba, Obá é chamada Oba Nani, legitima

esposa de Changó. Mu-lher nobre, austera e boa, filha de Pduá e Yembó. Foi ela quem ensinou a todos os Orixás a arte da guerra, e quem ensi-nou a Changó a manejar o macha-do, a Oyá o chicote e a Ogún todas as suas fer-r a m e n t a s . Oba tem nas mãos a chave que abre e fecha as portas de tudo que está relacio-nado com os humanos.

P a r a que numa casa nun-ca falte di-nheiro, não deve faltar o Iguaro Oba (iniciado de Oba Nani). Como é “santa” de Ile Ocu (casa dos mortos) e vive no cemitério, tem relação com tudo que é espiri-tual.

Existe em Cuba, a versão mitológica, de que Oyá seria a respon-sável pela perda da ore-lha de Obá e esta é ami-

ga de Ochún (Oxum). Obá era Omoregun (amiga inseparável) de Oyá, mas esta a traiu com o amor de Chan-gó. Diz a lenda que Oyá lhe disse que se cortasse uma orelha e fizesse co-mida a Changó que este não iria nunca a lado al-

gum. Oba fez caso disso e Oyá foi contar a Chan-gó, então surgiu a sepa-ração de Oba e Changó. Desta separação Oba e Oyá tornaram-se inimi-gas e nunca mais pude-ram viver juntas. Oba só confia em Ochún, que é sua Ocanini (tem o mes-mo coração, são parte da mesma “vibração”).

SE POR TEREM UM GOSTO EM COMUM: A GUERRA. MAS, O TEMPERAMENTO DE

OGUM FEZ COM

Jornal A Gaxéta6

A SOCIEDADE FEMININA ELEKÔ

A M i t o l o g i a Yorubá narra uma sociedade

feminina – ELEKÔ, onde Obá é sua grande che-fe – como um grupo de mulheres guerreiras, am-bidestras e que não pos-suem os dedos polegares. Seus membros devem manejar as armas com ambas as mãos, com mui-ta habilidade e presteza. Usam os 8 dedos como se fossem os 10.

Elekô é um mistério e pouco se sabe de sua es-trutura, pois tudo que nela acontece é TABU, pagan-do-se com a vida àque-les que comentarem seus princípios e regras. Reú-nem-se, sempre à noite ,

nas cavernas das fl orestas de mais difícil acesso .

O que é feito ou dis-cutido nestes encontros ninguém imagina! Sabe-se que a sociedade se opõe ao ‘poder masculi-no’ e disputa com ele o domínio e liderança dos grupos sociais.

PARA OBÁ A GUERRA É NECESSÁRIA PARA O CONTROLE DA NATALIDADE, PARA DAR LIMITE À VIDA E APURAR

A ECOLOGIA. A GUERRA É A REPOSIÇÃO DO VELHO, PARA O

NOVO. CONSCIENTE DE SEU PODER, LUTA E NUNCA DESISTE DE SEUS

DIREITOS. VENCEU BATALHAS CONTRA OXALÁ, XANGÔ E

ORUNMILÀ.

A VITÓRIA-RÉGIAA PREFERIDA DE OBÁ

P lanta de ori-gem ama-zônica. Nos

cultos dos Orixás é conhecida como EWÉ OMÍ OJÚ e é uma das folhas preferidas de Obá, por ser de grande porte e se impor sobre

as águas. Não pode fal-tar em seus rituais.

OBÁ, DEUSA AFRICANA DAS CAUSAS IMPOSSÍVEIS. PRÁTICA,

OBJETIVA E LEAL. TODAS AS QUESTÕES DA VIDA QUE NÃO

TIVEREM SOLUÇÃO PODERÃO SER REVERTIDAS SE OBÁ FOR

CHAMADA AO SOCORRO. MAS SÓ AJUDA AOS INJUSTIÇADOS.

‘OBA MÁ BOSUN’ ‘NÃO SE PODE SACRIFICAR AO MESMO

TEMPO A OBÁ E A OXUM’

MITOLOGIA

Xangô era um conquistador de terras e de

mulheres, vivia sem-pre de um lugar para o outro. Em Kossô fez-se rei e casou-se com Obá, sua primeira e mais im-portante esposa, Obá passava o dia cuidando da casa de Xangô, moía a pimenta, cozinhava e deixava tudo limpo, mas Xangô se apaixo-nou também por Oyá e Oxum e com elas tam-bém se casou, deixando as três viverem disputas pelo amor do rei. Para deixar Xangô feliz, Obá presenteou-lhe um cava-lo branco, do qual o rei gostou muito.

Tempos depois Xangô saiu para guerrear e levou Oyá consigo. Seis meses

se passaram e Obá, de-sesperada, foi consultar Orunmilá, que a aconse-lhou a oferecer em sacri-fício, um iruquerê feito com rabo de um cavalo e pô-lo no teto da casa. Obá encomendou a Ele-guá um rabo de cava-lo. Este, induzido por Oxum, cortou o rabo do cavalo branco de Xangô, mas não cortou somente os pêlos e sim a cau-da toda e o cavalo san-grou até morrer. Quando Xangô voltou da guerra, não encontrou o cavalo, deparou com o iruquerê amarrado no teto da casa e reconheceu o rabo do cavalo desaparecido e soube da oferenda fei-ta pela primeira esposa. Ficou irado e repudiou Obá.

Vínculos com as Iyámis

Obá é a sínte-se de todas as mulheres,

principalmente as Africa-nas. É a padroeira de so-ciedades femininas secre-tas, como Elekô e Geledé. Na África, por ser a Deu-sa do ´Poder Feminino’, é saudada como Iyá Agbá. Tem fortes vínculos com as Iyámis.

Por ser Iyá Abiku, é ela a encarregada de en-viar ao mundo as crian-ças que nascem como castigo para seus pais. O que Xangô representa para os mortos masculi-nos, Obá representa para as mulheres mortas. Ela assim como Xangô é a representante suprema da ancestralidade feminina.

Sincretismo Religioso

A a s s o c i a ç ã o do Orixá Obá com Nossa

Senhora dos Prazeres,

encontra se em alguns textos da literatura aca-dêmica moderna, em que, através de pesquisa

7Jornal A Gaxéta

de campo em terreiros, recolheu-se informações sobre as comemorações conjuntas que se faziam às duas entidades (Orixá Obá e Nossa Senhora dos Prazeres).

Entretanto, Pierre Verger cita que Obá é sin-cretizada, no Novo Mun-

do, com Santa Catarina. Através de informações baseadas nas pesquisas do antropólogo Édison Carneiro, pode-se encon-trar a seguinte versão:

“Obá, iyabá guer-reira, está remotamente identifi cada com Joana d’Arc [...]”.

OBÁ NÃO SOCORRE AS PESSOAS DE MÁ-FÉ E MÁ INTENÇÃO.

FALSOS TESTEMUNHOS, CALÚNIAS E PERJÚRIOS SÃO SEUS EWÓ. DETESTA OS MENTIROSOS E

VIGARISTAS. COMBATE A MALDADE E OS MEXERIQUEIROS.

O Código de Conduta de Orunmìlá

Ele demonstrou como viver e agir em concor-

dância com as leis natu-rais e como viver em paz com Deus

De maneira bastante interessante, todas as di-vindades têm característi-cas e tabus similares. Na dependência da variação do grau de agressivida-de, eles todos aceitam a

imutabilidade das leis na-turais, as quais teólogos e teósofos têm codifi ca-do dentro dos 10 man-damentos de Deus. Isto não é dizer que algumas divindades não mataram quando eles acreditaram ter fortes justifi cativas para fazê-lo, no momento em que códigos terres-tres e celestes admitiram a punição capital como

medida para sentenciar os ofensores capitais.

Sem exceção, todas as divindades também aceitaram a suprema-cia de Deus. No caso de Orunmìlá, ele deixou na memória de todos seus apóstolos, discípulos, sacerdotes e seguidores que ele é apenas um ser-vo de Deus, e no melhor conceito de Deus, este é o porquê ele é geralmente chamado Ajiboríşa Kpe-ero e Ukpin. Ajiboríşa Kpeero signifi ca a úni-ca divindade que acorda de manhã para ir saudar Deus na Reunião do des-tino, enquanto que Eleeri Ukpin signifi ca a divin-dade que se sentou como testemunho do próprio Deus na corte do destino, quando o destino de todas as criaturas estava sendo designado.

Eji-Ogbe, o mais

velho missionário de Orunmìlá, irá à sequên-cia revelar como ele re-tornou ao mundo sob o nome de Omoonigho-rogbo para ensinar ao povo do mundo como proceder em concor-dância com os desejos de Deus. Ele demons-trou pelos preceitos, exemplos e ações como viver e agir em concordância com as leis naturais e como viver em paz com Deus. Ele

também demonstrou que a verdadeira fe-licidade vem apenas

quando alguém devo-ta um pouco do seu tempo de modo ab-negado ao serviço

dos outros. Ele tam-bém ilustra a virtude do amor ao próximo. Sem dizer que se alguém ama seu próximo, não pode-rá seduzir a sua esposa, matá-lo, alimentar ran-cor contra ele, roubar sua propriedade e enganá-lo.

Portanto como um fi -lósofo prático, Orunmìlá estima alguém que mui-to pode aumentar todo o amor por seu próprio vi-zinho, o lado bom muitas vezes está em ser recípro-co. Entretanto, Orunmìlá é extremamente contra re-taliações e vinganças por-que as divindades sempre fi carão ao lado dos justos. A primeira obrigação de um homem com ele mes-mo é preservar-se através da divinação e do sacrifí-cio. Se uma pessoa forte está se envolvendo em alguma guerra aberta ou discreta contra alguém que carece de poder para combater estas forças invisíveis, Orunmìlá ad-verte recorrer à divinação

velho missionário de Orunmìlá, irá à sequên-cia revelar como ele re-tornou ao mundo sob o nome de Omoonigho-rogbo para ensinar ao povo do mundo como proceder em concor-dância com os desejos de Deus. Ele demons-trou pelos preceitos, exemplos e ações como viver e agir em concordância com as leis naturais e como viver em paz com Deus. Ele

também demonstrou que a verdadeira fe-licidade vem apenas

quando alguém devo-ta um pouco do seu tempo de modo ab-negado ao serviço

dos outros. Ele tam-bém ilustra a virtude do amor ao próximo. Sem dizer que se alguém ama

quando na dúvida e fi zer algum sacrifício prescrito aos altos poderes. Uma fez feito o sacrifício, o receptador irá quase que imediatamente intervir nas maquinações do mal feitas pelos inimigos conhecidos e desconheci-das.

Orunmìlá recomenda a seus seguidores a não se en-volverem em preparados medicinais destrutivos, por-que os mesmos podem conduzi-los a sua própria imo-lação. Contudo há alguns discípulos de Orunmìlá cuja sobrevivência no mercado é a preparação de remédios, mas apenas com propósitos construtivos, de salvação e libertação. Orunmìlá é o melhor professor da efi cácia da perseverança. Ele ensina que enquanto pode haver remédios que não sejam efi cazes, não há paciência que fracasse em sobrepujar todas as difi culdades, porque as divindades irão ao fi nal socorrer aqueles que perseve-raram.

Fonte: Ary Carvalho (Da Ilha)Imagem: Lendas Orixás

Jornal A Gaxéta8

9Jornal A Gaxéta

Jornal A Gaxéta10

VOCÊ CONHECE BEM O SEU SIGNO? Eis uma ajudinha para conhecer melhor...

“Já estou voltando. Só tenho 50 anos e já es-tou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo... Indo morar

no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora ex-tra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe! Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? No que nin-guém conseguiu responder. Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra “fim”. Antes dela, avistei a placa de “retorno” e, nela mes-mo, dei meia volta. Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro ve-zes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de

semana? E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozi-nhar (principalmente quando os ingredientes vêm

da horta que ele mesmo plantou). Por aqui, quan-do chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pas-mem, lê. E no que alguém diz: “a internet voltou!”, já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos. Aqui se chama “aldeia” e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a plan-ta, a rede de cama. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... Aí eu me lembro da placa “retor-no”, e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: “retorno – última chance de você salvar sua vida!” Você, provavelmente, ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: “Compre um e leve dois”. Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta...”

CUIDE DO SEU TEMPO, CUIDE DA SUA FA-MÍLIA. Que possamos encontrar a “placa de retor-no” e valorizar o que realmente é importante

O CAMINHO DE VOLTA... (Teta Barbosa - jornalista, publicitária e mora no Recife)

11Jornal A Gaxéta

Representantes do candomblé visitam Templo de Salomão

Iniciativa visa o fim da intolerância religiosa

Visitantes em foto com o Bispo Eduardo Bravo (à es-querda) Foto:

Mostrando que fé e preconceito não combinam, representantes do candom-blé visitaram o Templo de Salomão, em São Paulo, em união com a Igreja Uni-versal contra a intolerância religiosa.

O encontro, com os cinco represen-tantes que vieram da Bahia, aconteceu no último sábado (28). Na ocasião, eles foram recebidos pelo Bispo Eduardo Bravo e também ouviram sobre a his-tória de Israel, enquanto conheciam as dependências do templo.

– Eles ouviram que através da fé, no Deus vivo, tudo é possível – publicou o bispo em seu perfil do Facebook.

Defendendo o fim da intolerância, ele disse que mesmo com crenças di-ferentes é possível haver respeito. Ele frisou que Deus está acima de qualquer religião e deseja ter um relacionamento individual com o ser humano.

Os visitantes mostraram admiração pela iniciativa.

– Vejo essa atitude como a mudança na luta contra a intolerância religiosa. Como um crescimento na própria reli-

gião de vocês, porque vocês estão mos-trando exatamente o contrário do que nos passaram até hoje – disse o pai de santo Jaime Dias, que fez parte do gru-po baiano que esteve no templo.

A yalorixá, Jacira Ferreira, defen-deu que o princípio para o fim da in-tolerância religiosa é ter o coração e mente abertos. Ela destacou a impor-tância da união e do amor, e recomen-dou a todos que visitem o local.

– Todos são bem-vindos ao Templo de Salomão. Temos um muro de intolerân-cia em nosso país. Hoje, demos um passo para quebrar esse muro que foi erguido em nossa nação – disse o Bispo Eduardo.

Ele afirmou que a Igreja Universal tem amadurecido em relação ao respei-to pelas diferentes crenças, asseguran-do que todos devem conviver em har-monia.

A construção do templo foi inau-gurada em julho de 2014, e tornou-se também um centro cultural. A visita ao local é grátis, exceto se a pessoa es-colher uma visita guiada pelo jardim. Existem algumas regras de vestimenta e restrições quanto ao uso de aparelhos eletrônicos.

Justiça determina que Record TV produza programas sobre religiões

afro-brasileirasDecisão é um direito resposta aos praticantes que

foram vítimas de preconceito no programa ‘Sessão do descarrego’, em 2004

A emissora Record TV terá que exibir programas como direito de resposta aos praticantes de

religiões afro-brasileiras ou de matriz africana, que foram vítimas de precon-ceito por parte do programa religioso Ses-são do descarrego. A Ação Civil Pública interposta pelo Ministério Público Federal corre na justiça desde novembro de 2004, mas enfrentava recursos judiciais por par-te da empresa de Edir Macedo, que tam-bém é dono da

Igreja Universal do Reino de Deus. No dia 5 de maio, o Tribunal Regional

Federal da Terceira Região, em São Paulo, tomou a decisão fi nal, dando vitória aos fi -éis das religiões afro.

A emissora Rede Mulher, extinta em setembro de 2007, também foi alvo da decisão pelo programa Mistérios. Para o MPF e para as entidades, os programas religioso das emissoras “desrespeitaram os princípios constitucionais da liberda-de religiosa ao demonizar as religiões afro-brasileiras em cultos exorcistas”. A justiça também afi rma que os veículos se referiram de “forma metaforizada” aos

pais e mães de santo como “pai e mãe de encosto”, entre outros termos pejorativos para “desqualifi car” as religiões afro-bra-sileiras, como “sessão de descarrego”, “bruxaria” e “feitiçaria”.

Segundo a desembargadora federal Consuelo Yoshida, a relatora do acórdão, a Record TV terá que conceder estúdio, estrutura e pessoal de apoio necessário à produção de quatro programas de TV, com duração mínima de uma hora cada. As transmissões deverão ter pelo menos três chamadas durante a programação, nos mesmos padrões que os veículos usam para as chamadas de sua própria progra-mação.

“Deverão observar, ainda, a abran-gência territorial dos programas que pra-ticaram as ofensas e priorizar conteúdos informativos e culturais para esclarecer aspectos sobre a origem, tradições, orga-nização, seguidores, rituais e outros ele-mentos, com o propósito de recompor a verdade”, diz a nota publicada pelo Tribu-nal Regional Federal da Terceira Região.

A assessoria da Record TV disse ainda não ter informações e uma resposta defi ni-da para o caso.

Record TV é propriedade de Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus (foto: Record/Divulgação e Annaclarice Almeida/DP/D.A Press)

Jornal A Gaxéta12

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) deu mais um passo em defesa da liberdade de culto e no combate ao

racismo institucional com a assinatura, na manhã dessa quinta-feira (26), de recomendação conjunta do procurador-geral de Justiça e do corregedor-geral da Instituição orientando os promotores e procura-dores de Justiça sobre boas práticas que podem ser adotadas em defesa do Estado laico e em resposta a atos discriminatórios praticados contra as religiões de matriz africana. O evento de assinatura reuniu membros e servidores do MPPE, povos de terreiros e movimentos sociais na sede do MPPE.

A recomendação foi assinada pela procurado-ra-geral de Justiça em exercício, Maria Helena da Fonte Carvalho, e pelo corregedor-geral do MPPE, Paulo Roberto Lapenda Figueiroa. “Nesse momento, estamos com a energia redobrada, porque medidas como essa fazem se esvair a hipocrisia do MP e da sociedade. O Ministério Público é do preto, do ama-relo, do branco, do candomblé e do católico. Nós atuamos em defesa do ser humano e precisamos ado-tar isso na prática”, afirmou o corregedor.

Logo em seguida, a coordenadora do Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Institucio-nal do MPPE (GT Racismo), procuradora de Justiça Maria Bernadete Azevedo, relembrou aos presentes o passo a passo na elaboração da recomendação, que partiu de uma demanda dos próprios povos de ter-reiros. Eles solicitaram, em janeiro de 2017, a re-alização de audiência pública para debater o caso do pedido de prisão do Pai Edson de Omolu, por suposta prática de perturbação de sossego. No mês de abril do ano passado, a sociedade expressou, em audiência pública, a vontade de que o MPPE emi-tisse uma recomendação para nortear a atuação dos seus membros em casos semelhantes.

“Essa recomendação é fruto da mobilização ativa dos povos de terreiros. A sociedade pode esperar que os promotores e procuradores de Justiça vão refletir,

a partir dessa recomendação, sobre a importância do toque dos instrumentos e do canto para a práti-ca das religiões de matriz africana. Claro que essa recomendação não muda leis ou direitos, mas visa mudar atitudes dentro do MPPE. Não é a solução de todos os problemas, mas é um bom começo”, expli-cou Bernadete Azevedo.

Já o pai Cleiton Gouveya falou, como repre-sentante dos povos de terreiro, que a assinatura da recomendação marcou um avanço na luta contra o racismo. “Essa luta não é de hoje, vem desde a nossa ancestralidade. Somos um povo que em muitos mo-mentos fica invisível, mas estamos buscando afirmar nossa liberdade de culto e de expressão”, ressaltou.

Após o primeiro momento de falas, foi feito lan-çamento do vídeo institucional Sentindo na pele. Produzido pela equipe da WebTV MPPE em Foco, o

vídeo traz depoimentos e dados sobre os 15 anos de atuação do GT Racismo.

O evento contou ainda com uma palestra do ad-vogado e professor de Direito Hédio da Silva Júnior. Ele destacou que a iniciativa do MPPE é inovadora e que espera que as lideranças sociais usem a reco-mendação como exemplo para exigir que medidas semelhantes sejam adotadas em outros estados.

“Essa recomendação vem quebrar o silêncio, que é o maior aliado do racismo. O Ministério Público tem que ser efetivamente público, agindo em diálo-go com a sociedade brasileira, que é plural. Mas o racismo existe quando, apesar de termos registrados no último Censo cerca de duas mil crenças, a intole-rância atinge principalmente os cultos associados às pessoas de cor preta”, argumentou o palestrante. Ele ainda sustentou que os operadores do Direito devem estar preparados para não sobrepor suas convicções pessoas à aplicação das normas jurídicas.

Conheça a recomendação – conforme o texto, promotores e procuradores de Justiça devem con-siderar o método da ponderação dos bens ao apre-ciar eventuais queixas contra práticas litúrgicas, em especial aquelas das religiões de matriz africana. O uso de instrumentos percussivos e canto é um ele-mento central nas manifestações religiosas dos po-vos de terreiros e a própria legislação exclui o uso dos instrumentos litúrgicos do rol de causadores de poluição sonora.

Além de buscar promover a reflexão por parte dos membros do MPPE e sugerir a adoção de so-luções dialogadas, o texto também orienta os inte-grantes do Ministério Público a desenvolver ações preventivas a fim conhecer e garantir o exercício da liberdade religiosa.

A coordenadora do GT Racismo do MPPE tam-bém destacou que deverá realizar, em conjunto com a Escola Superior do MPPE, ações de conscientiza-ção e capacitação de membros e servidores da Ins-tituição.

MPPE E POVOS DE TERREIROS APRESENTAM RECOMENDAÇÃO VOLTADA A GARANTIR O DIREITO À LIBERDADE DE CRENÇA DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA

13Jornal A Gaxéta

Lugar de encon-tro e devoção de praticantes

do candomblé há 17 anos, o terreiro de Conceição d’Lissá tem recebido, nos últimos meses, visitantes inusitados. O templo, lo-calizado em Duque de Ca-xias, na Baixada Fluminen-se, está sendo reconstruído com a ajuda de evangélicos. Em meio a diversos casos de intolerância e violência contra religiões de matriz africana, um grupo arreca-dou mais de R$ 12 mil para as obras depois que o espa-ço foi parcialmente destruí-do em um incêndio.

Em uma manhã de sá-bado de fevereiro, a pastora Lusmarina Campos, da Igre-ja Evangélica de Confi ssão Luterana no Brasil, foi ao local acompanhada de três voluntários para, pessoal-mente, ajudar na remoção de entulhos - tijolos e pedaços de madeira que faziam parte do segundo andar do terrei-ro, área atingida pelo fogo em junho de 2014. Na época presidente do Conselho Na-cional de Igrejas Cristãs do estado (Conic-Rio), Lusma-rina organizou a campanha de arrecadação, concluída no fi m do ano passado, para a reconstrução do templo.

“Logo que a gente ou-viu sobre a destruição do

terreiro, eu pensei: ‘Se em nome de Cristo eles des-troem, em nome de Cristo nós vamos reconstruir’. É extremamente importante dar um testemunho positivo da nossa fé, porque o Cris-

to que está sendo utilizado para destruir um terreiro está sendo completamente mal interpretado”, explica Lusmarina.

Aquele foi o oitavo ataque ao local de culto da mãe de santo. Antes, tiros haviam sido disparados contra o templo e a casa de Conceição. Três carros que pertenciam a candomblecis-tas de seu grupo foram quei-mados. A polícia ainda não identifi cou os responsáveis pelos crimes. Para tentar se proteger, Conceição insta-lou grades e reforçou muros e cadeados do templo. Sem apontar suspeitos, ela afi rma

que os ataques têm cunho religioso: “Não há roubo de televisão, rádio, uma porção de coisas que poderiam usar para fazer dinheiro. Não le-vam nada, só destroem.”

No ano passado, 71,5%

dos casos de intolerância re-ligiosa registrados no Rio de Janeiro foram contra grupos de matriz africana, segundo a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políti-cas para Mulheres e Idosos. Crimes de ódio contra os adeptos de religiões como o candomblé e a umbanda também ocorrem em outras partes do país, que possui cerca de 600 mil devotos de crenças de origem africana, segundo o Censo de 2010.

“É um fenômeno na-cional, agora com essa face cruel, que já se expressou em 2008 e vem desde a dé-cada de 90, que são os tra-fi cantes instrumentalizados por grupos neopentecostais que atacam os templos reli-giosos nas periferias e fave-las”, comenta o babalaô Iva-nir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.

“O arcabouço do que está acontecendo no Rio de Janeiro, em termos de vio-lência religiosa tem como fundo uma lógica de guer-ra”, complementa a pastora Lusmarina. “Faz parte de um projeto de poder a des-caracterização de outros grupos religiosos, ou seja, uma linguagem de desres-peito e condenação. Porque, nesse tipo de concepção, a diversidade não é permiti-da. É um enfrentamento que precisamos fazer porque é muito mais amplo do que a questão estritamente religio-sa. A questão é política. Por isso, a gente precisa se unir.”

O babalaô acompanhou desde o início a ação de apoio ao terreiro em Du-que de Caxias organizada por Lusmarina. “Esse ato é um divisor de águas na luta contra a intolerância

religiosa no país”, comenta ele. A entrega do dinheiro, com o maior aporte vindo de fi éis da Igreja Cristã de Ipanema, que é evangélica, foi celebrada no fi m do ano passado com uma cerimô-nia inter-religiosa no ter-reiro de Conceição. Alguns dos que participaram tive-ram de enfrentar críticas e ameaças, principalmente na internet e nas redes so-ciais. Lusmarina conta que um youtuber evangélico gravou um vídeo em que incentiva outras pessoas a agredirem. “Ele diz: ‘Pasto-ra vadia, vagabunda...Tem que tomar tapa na cara’, de maneira muito agressiva e violenta.”

A discriminação, no entanto, não é exclusiva de grupos extremistas. Os pró-prios voluntários que acom-panharam Lusmarina na preparação do terreiro para as obras admitiram que, em determinado momento da vida, chegaram a ter uma

visão negativa em relação a religiões de matriz africana, por acreditarem que eram ligadas ao mal.

“O candomblé sofre preconceito desde que era a religião professada pelos nossos antepassados, que vieram para o país escravi-zados”, comenta Conceição. “As pessoas hoje endemo-nizam o candomblé como se tivéssemos uma relação estreita com essa fi gura chamada diabo, sem saber que o diabo não faz parte do nosso panteão de diviniza-dos. É uma visão eurocris-tã que não tem nada a ver conosco.”

A exemplo da iniciativa tomada no Rio de Janeiro, a direção nacional do Co-nic decidiu criar o Fundo de Solidariedade para o En-frentamento de Violências Religiosas. A entidade já começou a receber doações e pretende criar um comitê inter-religioso que fi que res-ponsável por gerir o fundo e

selecionar pessoas e espaços que precisem ser atendidos - em especial, os de religiões de matriz africana.

“Essa repercussão já sig-nifi cou um racha na base de um grande bloco de igrejas que parecia mais ou menos uniforme”, diz Lusmarina. “Embora uma parte das igrejas e de pessoas dentro de igrejas não tenha apoiado a nossa ação, a grande maio-ria das pessoas apoiou e a grande maioria das igrejas prefere o respeito à violên-cia, prefere o amor, a apro-ximação...que é de fato a mensagem central do evan-gelho. Esses são valores fundamentais dos quais não podemos abrir mão.”

As obras no terreiro da mãe de santo Conceição começaram pela cozinha, que estava funcionando no quintal desde que a estrutura interna da casa foi danifi ca-da pelo incêndio. O local é considerado “o coração do barracão”, uma vez em que lá são produzidas as oferen-das - parte importante da tra-dição candomblecista.

“Quando eles vêm dar essa ajuda pra gente, é justa-mente [uma forma de] reco-nhecer que, primeiro, a gen-te sofre o ataque. Depois, é reconhecer que a gente tem o direito de existir e profes-sar o nosso sagrado”, co-menta Conceição. “Eles não vieram aqui pra me mudar, evangelizar ou dizer que o que eu faço está feio ou é do diabo. Vieram para dizer: ‘Faça aquilo que você crê. Eu vou te ajudar’.”

Reportagem e vídeo de Ana Ter-ra, do Rio de Janeiro para a BBC Brasil

SE EM NOME DE CRISTO ELES DESTROEM, EM NOME DE CRISTO VAMOS RECONSTRUIR’: EVANGÉLICOS AJUDAM NA RECONSTRUÇÃO DE TERREIRO

EM MEIO A CASOS DE INTOLERÂNCIA E VIOLÊNCIA CONTRA RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA, GRUPO ARRECADA R$ 12 MIL PARA AS OBRAS DEPOIS QUE O ESPAÇO FOI PARCIALMENTE DESTRUÍDO EM INCÊNDIO.

Jornal A Gaxéta14

15Jornal A Gaxéta

HipócritasEntão, já que eu não sou feita no Candom-

blé, portanto, não entendo quase nada de hierarquia na religião, vamos falar de uma

mulher, negra, de 92 anos, que vive o amor com uma mulher branca, de 55 anos há 12 anos.

Vamos falar também, que esta mulher, negra, não tem respeitada a sua voz, quando diz que quer ir mo-rar em outra cidade, ao lado da companheira. Daí, eu quero ressaltar que, nesta conversa, tem 5 homens na frente destas duas mulheres formando uma bar-reira e as impedindo de falar qualquer coisa. Tem uma mulher que grava tudo, e tem outros homens e mulheres ao redor, mas ninguém faz nada. E, no desfecho deste vídeo, uma mulher, de 55 anos, que é arrastada para fora do ambiente da discussão por 5 trogloditas, com comandos de: “não deixe marcas”, “sem machucar”, todo o processo de humilhação é minuciosamente orquestrado.

O vídeo, evidentemente, foi vazado, e publicado por alguns importantes jornais da Bahia. E do lado de fora desta cena vergonhosa? O silenciamento, completo e absoluto da história de vida de uma mu-lher negra, que lutou (ainda luta) e viveu (e está bem viva!) por uma comunidade por mais de 8 décadas. Agora, essa mesma comunidade, passa por cima dos seus interesses, a trata como incapaz, fala que, de-vido a idade, esta mulher não tem mais condições de pensar sobre a sua própria vida e que está sendo manipulada pela mulher que ela diz que ama.

Absoluto contrassenso. Esta senhora de 92 anos é guardiã e mantenedora de um saber ancestral, mas ao mesmo tempo, é uma incapacitada. Como assim? É aquela história de onde filho chora e mãe não vê. Conhece o ditado? Mas aqui, quem chorou foi a mãe. Esta é a história de Mãe Stella de Oxóssi, importante Iyalorixá baiana, escritora, premiada, Doutora Ho-noris Causa pela Universidade do Estado da Bahia.

Seguindo casada com uma mulher, por tanto, em um relacionamento lésbico, Mãe Stella perde todo o seu status por simplesmente querer ser feliz. E o

resultado disso, é o silenciamento da sua voz. Nin-guém é a favor de uma lésbica, ainda mais se for negra.

Não importa a idade, não importa a sua patente, eu vou arrastar a sua mulher na sua frente, eu vou fazer o seu peito sangrar, eu vou fazer sua voz estre-mecer, eu vou fazer, porque você não pode comigo: o machismo que mata, a lesbofobia que invisibiliza, o sexismo que é ultrajante.

Por que não vejo quase ninguém indignado com este crime?

Vão esperar Mãe Stella morrer para dar o caso como esquecido, apagado, foi um episódio que não deverá ser lembrado. Mas aí, existe uma ação na jus-tiça, contra a companheira da Mãe Stella, com mais de 70 assinaturas, acusando ela disso e daquilo, rola as conversas de que, bons filhos, vão visitar a Mãe e que são impedidos, e essa é a prática de persegui-ção, até que se con-clua o Feminicídio de uma ou da ou-tra, ou das duas. Porque é assim que funciona.

Q u e r o que qual-quer um f a l e p a r a m i m ,

que se fosse um homem que estivesse do lado de Mãe Stella, sentado no sofá, se ele seria arrancado do lado da sua mulher daquele jeito e muito menos se seria filmado. Então, nem venham com conversa fiada que a sexualidade da Mãe de Santo não é a pauta. Só é a pauta. Porque é assim que é!

Mas eu não vi ninguém fazer textão com a dor da lésbica negra.

Ah, já sei. Tem o lance do lugar de fala. Saquei. Mas então esse papo de sororidade, solidariedade é só para as mulheres de verdade, né? Para as filhas da heteronormatividade.

Tudo dito, a sua omissão não me surpreende. Eu sou vítima da omissão todos os dias. Sei o que é exis-tir sem ser vista. Sou casada com uma mulher negra, sou Pedagoga, Mestra em Estudos Étnicos e Africa-nos, produtora cultural, ativista das causas sociais e raciais desde a minha juventude, mas enquanto eu mantinha relacionamentos héteros eu era a maravi-lhosa, cantora, atriz, a foda na Bahia! Agora, eu nem sei quem sou para as pessoas, e pouco me importa. Sou que nem a Mãe Stella, tenho o “rabo preso” com a minha companheira, com quem construo a minha vida, meus planos, pago as minhas contas.

Eu estou com Mãe Stella de Oxóssi, porque falar de sexualidade nesse mundo, é tomar posse máxima da liberdade de ser quem você é. Sinto muito por tudo o que aconteceu, sinto por tant-a gente hipó-crita, que tem o conhecimento da história, mas que não tem a mínima coragem de partir em sua defesa, porque na real são lesbofóbicas, machistas, sexistas, me dão nojo.

Sinto e te respeito, te amo, peço por você, e te peço a benção, Mãe. Oxóssi que te proteja.

*Paula Azeviche é pedagoga e mestra em Estudos Étnicos e Afri-canos – FFCH/UFBA.O conteúdo deste artigo é de responsabilidade da autora.

ção, até que se con-clua o Feminicídio de uma ou da ou-tra, ou das duas. Porque é assim que funciona.

Q u e r o que qual-quer um f a l e p a r a m i m ,

Jornal A Gaxéta16