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Jornal da UEAno1-Edição 1Dezembro de 2018DireçãoSuperintendente:Prof. Dr. Benedito Carlos MacielChefe de Gabinete:Deocélia Bassotelli JardimDiretor Clínico:Prof. Dr. Silvio Tucci JuniorDiretor do DAS:Prof. Dr. Antônio Pazin FilhoDiretor HERP:Prof. Dr. Wilson Salgado JrDiretor HEAB:Dr. Tales Rubens de NadaiDiretora CRSM MATER:Profa. Dra. Elaine MoisésDiretor Executivo da FAEPA:Prof. Dr. Ricardo de Carvalho CavalliDiretora da FMRP:Profa. Dra. Margaret de Castro Unidade de EmergênciaCoordenador HC-UE:Prof. Dr. Marcos de Carvalho BorgesVice- Coordenador HC-UE:Prof.Dr. Pedro Soler ColtroDiretor de Atenção à Saúde - UE:Dr. José Paulo PintyáSupervisor Médico: Dr. Lucas Barbosa AgraDiretor NIR: Dr. Sérgio InnocenteDiretor de Trauma: Dr. Mauricio GodinhoCoordenadora do Núcleo Multiprofissional: Frederica LourençatoSupervisora de Enfermagem:Eliane Emiko TakitaSupervisor Técnico Administrativo:Ivan SilvaAssessoria de ComunicaçãoMarcos de Assis (MTB 28030)Patrícia Cainelli (MTB 25651)Maria Aparecida B. Ferreira (MTB 13578)Fotos: Gilberto Soares Jr, Daniel Me-neses de SouzaDesign Gráfico:Renato dos SantosRevisão:Fernanda UdinalImpressãoCampeone Gotardo Serviços Gráficos LTDA (16)3664.8484

O Jornal da UE é um órgão de divulgação da Unidade de Emergên-cia Hospital das Clínicas da Faculda-de de Medicina de Ribeirão Preto da USP editado pela Assessoria de Comunicação do HCFMRP-USP.

Expediente

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Editorial

Mais uma ferramenta de comunicação

Professor Doutor Marcos Borges - Coordenador da Unidade de Emergência

A comunicação tem papel central no ser humano e na sociedade. Além de ser importante para a aquisição

de conhecimento, ela faz com que as pessoas se sintam como parte de uma comunidade.

Publicar conteúdos para público externo não é o único interesse dos Hospitais. Os funcionários, alunos, residentes, pacientes, acompanhantes e demais públicos internos são de grande importância para a construção da cultura de comunicação e, consequentemente, padronização de condutas. Nesse sentido, abordar a comunicação de forma estratégica e planejada é extremamente importante.

Em Hospitais de Emergência, a comunicação é ainda mais essencial para estreitar o relacionamento entre as equipes, divulgar os processos de trabalho, otimizar a troca de informações administrativas, reduzir eventuais erros, refletir sobre problemas do dia a dia, aproximar pessoas de interesse comum, ou, simplesmente, para estimular a cultura.

A Unidade de Emergência do HCFMRP-USP é um hospital exclusivo para

o atendimento de pacientes do SUS em situações de urgências e emergências, sendo referência para 26 municípios da DRS XIII que totaliza 1.200.000 habitantes. Nos últimos anos, temos adotado uma prática de gestão compartilhada e conseguimos implementar e melhorar processos de trabalho de diversas áreas. Esse jornal vem com o objetivo principal de divulgar e valorizar o trabalho de todas as equipes. Esperamos que o aproveite e também contamos com as contribuições de todos vocês para os próximos números.

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“É bom para minha mãe, porque posso ficar mais tempo do que uma visita comum, assim ela não se sente só e para família é bom, porque posso acompanhar o tratamento de perto e avisar diariamente. Também acho ser bom para o hospital, porque, às vezes, posso ajudar as enfermeiras nos cuidados com minha mãe”, essa é a opinião de Isabel Cristina Tomé, de Cajuru, que acompanha a mãe internada há 16 dias, na UTI adulto da Unidade de Emergência.

Isabel faz parte do Programa Acom-panhantes CTI/UCO, que começou na UCO (Unidade Coronariana) e no CTI adulto (Centro de Terapia Intensiva). Neste programa, foi criada a possi-bilidade de que pacientes interna-dos nessas áreas possam contar com acompanhantes por 13 horas (das 8h às 21h).

Os horários anteriores de visitas das 15h às 16h e das 20h às 21h continuam, mesmo para os pacientes com acompanhantes. “Eu venho

Parte da equipe do CTI-UE

Acontece

UE inicia trabalho com acompanhantes no CTI Adulto e Unidade Coronariana

todos os dias de Cajuru e volto no final da tarde. Eu não quero que ela fique sozinha”, afirma.

O Programa começou com a participação do CTI Adulto da UE em um estudo multicêntrico nacional, em julho de 2017. “O CTI adulto foi convidado a participar do projeto visita ampliada junto com o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre. Ao final do estudo, concluímos que era bom para o paciente, para a família e também para o Hospital. Os funcionários do CTI foram receptivos à nova forma de trabalho e consideraram importante a presença do familiar. A Coordenadoria da UE decidiu transformar o projeto em um programa institucional”, explica Maria Aline Sprioli, enfermeira responsável técnica.

O Programa Acompanhante CTI/UCO define que três familiares podem participar e ir se alternando na condição de acompanhante. Porém, uma regra precisa ser cumprida: os

familiares devem passar antes por uma aula para aprender sobre seus direitos e deveres, sobre as regras internas de funcionamento, noções básicas de CCIH e o comportamento que precisam ter dentro da Instituição.

“É um programa importante para o Hospital, porque passamos a conhecer melhor o paciente e a própria família. Não é um programa fácil, porque a equipe passa também a dar atenção ao visitante, mas estamos conseguindo avançar cada dia mais”, explica Maria Aline.

Para a enfermeira e encarregada da Unidade Coronariana (UCO) Michelle Sandrin dos Santos “com o programa o paciente fica mais tranquilo, adere mais ao tratamento e reduz a ansiedade”. Além disso, completa, “quando necessário, o acompanhante também pode ajudar a enfermagem no atendimento ao familiar internado”, explica. “O programa vale a pena e tem produzido bons resultados”, finaliza.

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Educação Permanente

UE promove curso de Capacitação em Cuidados Paliativos para profissionais da DRS XIIIOs cuidados paliativos como são aplicados, hoje, começaram a ser sistematizados pela médica inglesa Dame Cicely Saunders, que também tinha formação como assistente social e enfermeira. Em 1947, ela conheceu o paciente David Tasma que estava internado em hospital de Londres. Aos 40 anos, ele foi diagnosticado com câncer sem possibilidde de cura e ela passou a visitá-lo com frequência. Ao morrer em 1960, Tasma deixou uma herança para Cicely Saunders fundar o St. Christhofer Hospice, na capital inglesa. Este foi, segundo ela, o ponto de partida para o compromisso com uma nova forma de cuidar.

O que são cuidados paliativos?

Cuidados paliativos, de acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde, constituem uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e familiares que enfrentam problemas associados a doenças ameaçadoras de vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento pela

compreensão e identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais.

Os cuidados paliativos aprimoram a qualidade de vida dos pacientes e

familiares que enfrentam problemas associados a doenças ameaçadoras

de vida

Vale ressaltar a importância da qualidade de vida associada ao tratamento, considerando a proporcionalidade dos mesmos, tendo em vista que cuidados paliativos é uma abordagem que deve ser aplicada desde o início do diagnóstico de uma doença grave que ameace a vida, na perspectiva de que não é somente para casos de terminalidade, ressaltando a abordagem multiprofissional.

Qual a importância do curso de capacitação?

A proposta do curso surgiu de uma dis-cussão na Divisão Regional de Saúde XIII, nas reuniões da Rede de Urgência e Emergência (RUE), onde se discutem as demandas da rede e a qualidade e otimização dos seus dispositivos, sen-do considerado que muitos pacientes poderiam ser melhor acolhidos, nesse sistema, de acordo com a fase da doen-ça em que estariam e o melhor encami-nhamento dos mesmos.

Sendo assim, a discussão no Núcleo Técnico da Educação Permanente da DRS XIII verificou a pertinência do pro-jeto e elaboração. Posteriormente, o projeto foi apresentado nas reuniões dos três colegiados para aprovação.

Portanto, consideramos de suma im-portância o projeto ao considerar a necessidade da capacitação dos pro-fissionais para adequar o atendimento, desta demanda, nos seus municípios e fomentar a discussão da necessidade

Equipe de Cuidados Paliativos da UE

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Cerca de 70 profissionais participam do curso

da criação de políticas públicas e pro-jetos que contemplem uma rede de atenção a esse perfil de pacientes.

Qual o perfil dos facilitadores do curso?

Os facilitadores do curso são os pro-fissionais da equipe de Interconsulta de Cuidados Paliativos da Unidade de Emergência das áreas médica, enfer-magem, serviço social, psicologia, nu-trição e fisioterapia. São profissionais capacitados para o atendimento de ur-gências e emergências paliativas.

Quem pode participar?

Gestores de serviços, médicos, enfer-meiros, auxiliares e técnicos de enfer-magem, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeu-tas, nutricionistas, fonoaudiólogos e farmacêuticos. Atualmente, são os profissionais ligados à DRS XIII, mas no futuro, se houver interesse, outras DRSs podem solicitar esta formação/capacitação.

De onde são?

Dos 26 municípios do Departamento Regional de Saúde XIII, sendo oferecidas, em média, três vagas por municípios. O curso está estruturado em três turmas.

É a primeira turma?

Sim, esta é a primeira turma, no en-tanto, poderão surgir novas necessi-dades devido à amplitude do tema e ao número de vagas reduzido.

Quantos alunos?

Em média, estão participando 70 profissionais por módulo.

O que se aprende no curso?

O curso contempla cinco módulos presenciais com abordagens des-de conceitos básicos paliativos até a abordagem de cada profissional, construindo a abordagem multiprofis-sional, com foco em tratamento dos sintomas, conforto e dignidade dos pacientes. Será realizada uma visita técnica na Unidade de Emergência e a forma de avaliação será um projeto de intervenção na abordagem de cuida-dos paliativos, considerando a partici-

pação de mais de um profissional por município.

O que é “criar uma massa crítica de profissionais da saúde”?

Sensibilizar profissionais para discussão sobre uma demanda cada vez mais frequente de pacientes que estão em nossos serviços de saúde e precisam ser atendidos da melhor forma possível, tendo o olhar destes profissionais que estão em diferentes espaços de atendimento, em uma abordagem diferenciada voltada para o alívio de sintomas e a qualidade de vida, quando já não é mais possível curar.

O curso contempla cinco módulos presenciais

com abordagens desde conceitos básicos

paliativos até a abordagem de cada profissional,

construindo a abordagem multiprofissional, com

foco em tratamento dos sintomas, conforto e

dignidade dos pacientes Frederica Lourençato - coordenadora do Núcleo Multiprofissional

Cuidados paliativos: qualidade de vida, quando já não é mais possível curar

Gente que faz a UE

Serviço de Nutrição da UE: alimentos feitos com muito amorO Serviço de Nutrição da Unidade de Emergência do HCFMRP-USP funciona durante as 24 horas do dia, onde são produzidas cerca de 20 a 24 mil refeições/mês, 290 mil refeições/ano, fornecidas a pacientes, acompanhantes, médicos, parte dos funcionários do Hospital e aos terceirizados que têm jornada de 12 horas.

Os números da UE são elevados: por mês são consumidos 1.200 quilos de arroz cru, 440 quilos de feijão cru, de 4 a 5 mil quilos de carne, 3.800 litros de leite e 2.100 latas de fórmulas lácteas e enterais. Esses são apenas alguns dos itens que são utilizados pelo Setor de Nutrição e Dietética, conforme informações de Thereza Cristina Pereira Lunardi, responsável técnica pelo serviço.

“Para manter este serviço funcionando, contamos

com 110 funcionários que trabalham em três turnos”

A preparação dos alimentos inicia-se entre 12 e 24 horas antes de serem servidos. “O pré-preparo do almoço começa no dia anterior com a higienização, subdivisão e temperos dos alimentos. Às 7 horas, começa o processo de cocção (cozimento). Às 6h30, servimos o desjejum, às 10 horas, suco ou fruta para pediatria. Das 11h30 até às 14h30, o almoço e às 15h, lanche da tarde. O jantar é servido às 18h e às 20h30. A ceia das 00h00 a 01h30”, explica Thereza.

Há duas áreas que compõem o Serviço de Nutrição (UAN): Setor de Produção de Refeições e o Lactário, local para o preparo de fórmulas lácteas, dietas enterais, água espessadas para dieta para paciente com disfagia alimentar e suplementos nutricionais. Toda alimentação é balanceada,

Parte da equipe da Nutrição da UE

respeitando às necessidades dos pacientes e ao manual de dietoterapia do Hospital das Clínicas.

Além disso, contamos com nutricionis-tas que se dedicam à nutrição clínica e desenvolvem interface com a Equi-pe Multiprofissional, estão inseridos em linhas de cuidados e em grupos de trabalho como o AVC, Alta Segura, Grupo de Multiprofissional para acom-panhantes e/ou pacientes em uso de dieta enteral (EMODE), Educação Permanente, Acolhimento da Sala de Urgência, Enfermarias, entre outros. São aproximadamente três mil aten-dimentos clínicos/ano, que otimizam o processo de alta hospitalar e contri-buem para a melhoria na assistência em saúde.

Mais do que alimento – “Nós colaboradores nos empoderamos do papel de protagonistas do SUS e também nos sensibilizamos com a realidade social observada em nosso cotidiano”, afirma Thereza. “Por exemplo, no Dia das Crianças, os funcionários, por demanda espontânea, compraram

presentes para o Setor de Pediatria e desenvolveram preparações de acordo com as restrições alimentares, no caso pirulitos de chocolate diet e normal, e a Instituição aprovou a aquisição de insumos não padronizados. Algo simples, mas essas ações revigoram os funcionários porque eles se sentem autores do processo de trabalho”, garante.

Outro exemplo, conta Thereza, aconteceu com uma paciente que estava internada durante o Natal e pediu uma ceia. Fizemos e servimos no quarto dela à noite e os funcionários da enfermaria participaram daquela união. Uma data significativa e emotiva, pois a paciente era cozinheira e adorava preparar refeições para a sua família. A oferta de refeições não possui a finalidade exclusiva de nutrir o corpo, remete às experiências vividas, memórias afetivas e experiência social. Mesmo em um ambiente hospitalar, dentro da viabilidade, o ato da alimentação tem que ser prazeroso e muito mais que uma simples ingestão alimentar”, finaliza Thereza.06

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Minha vida na UE

Luiz Babo: 43 anos dedicados à enfermagem do Hospital das ClínicasEm 10 de janeiro de 1976, o enfermeiro Luiz Antonio Ribeiro de Babo pisou pela primeira vez no prédio do Hospital das Clínicas, na rua Bernadino de Campos, 1.000, como funcionário da Instituição. Ou seja, no início de 2019, ele completará 43 anos de serviços prestados à população de Ribeirão Preto e região.

O reconhecimento pelo trabalho realizado pode ser visto na placa que recebeu dos colegas em junho 2018. “A vida o escolheu para servir, orientar, salvar! Compartilhou lágrimas, sorrisos, conhecimento. Fez amigos, alunos, admiradores. Eis-nos aqui ao seu lado. É uma grande honra tê-lo como nosso Enfermeiro, Chefe e principalmente Amigo”.

“É uma pessoa aberta, alegre e sempre disposta a te ouvir. É um profissional comprometido com o trabalho. Ensinou a muitos aqui. Posso dizer que o Luis Babo é um modelo para todos nós. Nunca ouvi ninguém fazer

qualquer crítica a ele. Para mim, ele é um espelho”, a afirmação é do colega Luis Marcelo Valadares de Souza, enfermeiro encarregado de turno, há 25 anos no HC, tendo trabalhado 16 anos com Babo.

No ano em que Babo começou a trabalhar no HC, o presidente da República era o general Ernesto Geisel e Ribeirão Preto tinha cerca de 250 mil habitantes. O nosso dinheiro era o cruzeiro e o Fusca era o carro mais vendido no país. As rádios tocavam “Sou apenas um rapaz latino americano”, com Belchior, e “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, com Raul Seixas. Na Globo, Pecado Capital, e na Tupi, A Viagem, eram os sucessos entre as novelas.

Nestes quase 43 anos, Babo teve muitos momentos marcantes para contar. Em rápido bate-papo, ele citou três: a convivência com a Karina Chicória, que morou durante 14 anos, no Hospital. Ela era tetraplégica.

“Morreu pouco tempo depois que deixou o hospital para morar na casa dela”, conta.

Outro paciente que o marcou foi o empresário Sérgio Tadeu Buonarotti. “Ele fez várias cirurgias e ficou muito tempo internado. Felizmente se recuperou e voltou à vida normal”. Sérgio ficou internado quatro meses seguidos, três deles em coma. Ao longo de seis anos de recuperação, Sérgio fez 63 cirurgias no Hospital das Clínicas.

A mudança do Hospital das Clínicas para o campus “marcou muito” a vida de Babo. “Ficamos em menor número e fazíamos o atendimento dos politraumatizados. Foram momentos difíceis, mas superamos com muita dedicação de todos”, afirmou Babo. E pelo jeito, esta dedicação vai continuar por mais tempo. “Ele tem muito mais gás do que muitos jovens. Vai ajudar e ensinar muitos de nós ainda”, garante Marcelo.

Enfermeiro Luis Babo (com a placa) e amigos

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Humanizar

A Humanização na Unidade de Emergência Por Doutor José Paulo Pintyá Diretor de Atenção à Saúde da UE Raquel VercezeCoordenadora do Nucleo de Humanização da UE

No ano 2000, a XI Conferência Nacional de Saúde teve como tema “Acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social”, trazendo pela primeira vez o assunto para discussão nacional. A partir desse momento, o tema ganha um novo direcionamento e teve como resultado, em 2003, a implantação da Política Nacional de Humanização (PNH), que trouxe proposta de mudança nos modelos tradicionais de atenção e gestão em todo o SUS.

Os princípios estruturantes desta po-lítica são: 1 transversalidade, 2- indis-sociabilidade entre atenção e gestão e 3-protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos.

A Unidade de Emergência do HCFMRP-USP tem longa história com o tema humanização. Mesmo antes da Política Nacional de Humanização, há pouco mais de 20 anos, a UE foi referência nacional por um modelo de gestão compartilhada realizada através de Conselhos Gestores.

Nesta época, passou a trabalhar em sua porta de entrada com assistentes sociais, durante 24 horas em todos os dias, e psicólogas, por 12 horas, disponíveis para acolhimento a pacientes e familiares em situações de agravo agudo. Também já se pensava em alta responsável e resolutiva, com a atuação de uma enfermeira exclusiva e responsável por organizar a saída do usuário do hospital.

Na elaboração do Planejamento Estratégico 2015-2018, uma das ações propostas para a UE foi a implantação de um Núcleo de Humanização na Unidade de Emergência.

A partir desse momento, a Coordenadoria realizou diversas ações que resultaram, em 2016, no convite a funcionários identificados com o tema. Este grupo foi o embrião que resultou no Grupo de Trabalho e Planejamento em Humanização da Unidade de Emergência. A metodologia de implantação foram reuniões periódicas, nas quais foram discutidas bases teóricas, significados e sua vinculação ao que se fazia na UE.

O GTP-HU realizou um mapeamento

das ações de humanização que aconteceram, ao longo dos anos, na UE com o objetivo de fazer seu acompanhamento e estabelecer ações no sentido de ampliar as ações consideradas importantes, além da incorporação de novas ações.

É um grande desafio à gestão da saúde considerar o conjunto de demandas numa ética que contemple os interesses da coletividade, as necessidades de usuários e os desejos dos diversos grupos de trabalhadores do setor. Embora importantes, não são as ações ditas humanizadoras que determinam um caráter humanizado a um serviço como um todo, mas a utilização dos princípios conceituais que definem a humanização como a base para toda e qualquer atividade.

A UE tem feito um trabalho neste sentido, entendendo que o serviço público por não visar retorno pecuniário é o espaço privilegiado para reunir o que de melhor o ser humano é capaz de produzir: aliar conhecimento científico a um trabalho integrado, multidisciplinar de atendimento às pessoas nos momentos em que elas mais precisam.

Grupo de Humanização UE

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Gestão

A União dos Grupos faz a UE melhorPor Doutor José Paulo Pintya Diretor de Atenção à Saúde

A Coordenadoria da Unidade de Emergência do HCFMRP-USP (UE) trabalha, desde 2015, com um modo de gestão compartilhada que se caracteriza pelo envolvimento dos trabalhadores na reorganização de seus processos de trabalho, acreditando que essas mudanças somente são possíveis, em um serviço com as características e a complexidade do nosso Hospital, com a participação e responsabilização de todos os envolvidos.

Este trabalho não é simples e é um grande desafio à gestão por considerar o conjunto de demandas e necessidades numa ética que contemple os interesses da coletividade, as necessidades dos usuários e os desejos dos diversos grupos de trabalhadores da saúde envolvidos.

A partir de 2013, na Unidade de Emergência, foram iniciados Grupos de Trabalho e Planejamento (GTP), inicialmente com o CTI Adulto e a Sala de Urgência.

A partir de 2015, com a nova reestruturação administrativa, os GTP passaram a ser utilizados como a principal ferramenta de integração da assistência com a gestão, estando diretamente vinculados ao Coordenador Administrativo da UE.

Os grupos de trabalho são instâncias multiprofissionais, participativas, nas quais é utilizado o método da roda.

Há presença de profissionais das áreas assistenciais e administrativas que atuam em seu território de abrangência e quando necessário, com participação das áreas, fazem interface em processos de trabalho.

Têm a função de pensar, diagnosticar e planejar o funcionamento do local e suas interfaces. Entre os GTP da Unidade de Emergência estão: o GTP da Sala de Urgência, o GTP do CTI Adulto, o GTP do Bloco Cirúrgico, o GTP do CTI Pediátrico, o GTP de Humanização, o GTP de Educação Permanente, o GTP da Unidade de Queimados, o GTP da Unidade de AVC e o GTP da Psiquiatria. Das demandas dos grupos, podem ser formados subgrupos para casos específicos, como por exemplo, o GT de Traqueostomia, o GT de BIPAPS, GT de sonda nasoenteral.

“Quando se faz gestão compartilhada, existe a

participação de indivíduos com diferentes ideologias,

saberes e culturas”

Pretende-se, desta forma, sempre que possível, construir processos de trabalho de forma multiprofissional. Quando se faz gestão compartilhada, existe a participação de indivíduos com diferentes ideologias, saberes e culturas. Para um funcionamento adequado e efetivo, é necessário que os envolvidos se respeitem enquanto indivíduos e profissionais e que exista uma escuta qualificada das demandas, necessidades e desejos de todos. É um espaço para se pensar e propor

ações que melhorem a assistência e os processos de trabalho envolvidos, com responsabilização de todos.

A periodicidade das reuniões na maioria dos GTP é quinzenal, tendo cada grupo um coordenador. A pauta é elaborada não somente a partir de demandas dos componentes do GTP, da Coordenadoria, de trabalhadores dos diversos setores, mas também da Ouvidoria, diretamente de usuários ou da pesquisa de satisfação de usuários. Os GTP são espaços privilegiados onde os princípios norteadores da Política Nacional de Humanização, previstos no Humaniza SUS, estão presentes: a inseparabilidade entre a atenção e a gestão dos processos de produção de saúde (cogestão), a transversalidade com concepções e práticas que permeiam diferentes ações e instâncias, a autonomia e protagonismo dos sujeitos envolvidos, com corresponsabilidade entre gestores e trabalhadores.

Doutor José Paulo Pintyá

“Os grupos de trabalho têm a função de pensar, diagnosticar e planejar o funcionamento do local e

suas interfaces”

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Somos a UE

Unidade de Emergência: onde a vida ganha mais uma chance“Na Unidade de Emergência trata-se mais que o corpo, trata-se a alma”

“A Unidade de Emergência é um hospital que não descansa, graças a Deus”. Treze palavras e um sentimento que inunda de gratidão todos aqueles que um dia precisaram da UE. A frase é de um especialista no assunto: Sérgio Buonorotti passou quatro meses no hospital, três deles em coma. Em seis anos de tratamento foram 63 cirurgias. “Foi lá (na UE) que tirei meu segundo registro de nascimento”, disse.

Por ano, são quase 4,5 mil cirurgias e 35 mil consultas realizadas. “Na Unidade de Emergência trata-se mais que o corpo, trata-se também a alma. Lá tem algo espiritual. É uma equipe diferente mais humanizada que estimula a vida”, afirma Buonorotti. Ele foi vítima de um assalto, no anel viário, perto das Casas Bahia, e foi levado primeiro para o PS Central e depois para a sala de trauma da Unidade de Emergência.

situação de urgência ou emergência, é encaminhado para Sala de Trauma ou Sala de Estabilização clínica”.

“A partir dessas avaliações, são disparados vários protocolos assistenciais para o atendimento e a nossa estrutura é preparada para atender, principalmente, os traumas considerados vermelhos, que são aqueles com risco iminente de morte. Uma equipe multiprofissional, com pelo menos nove profissionais, faz o atendimento inicial”, afirma a encarregada da Sala de Trauma, Flábia Trovo Sousa.

A Sala de Trauma também é respon-sável pelo atendimento ortopédico inicial que acontece em local próprio. O volume de atendimento da orto-pedia é alto. Além do atendimento ao politraumatizado, são encaminha-dos para a UE pacientes com fraturas complexas e muitos casos em que os implantes necessários somente são fi-nanciados pelo Estado.Dos quase três mil traumatizados recebidos por ano, na Unidade de Emergência 30% são considerados

O complexo da Sala de Urgência da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da FMRP é subdividido em quatro setores específicos e um de radiodiagnóstico: sala de trauma, estabilização clínica, urgências clínicas (box) e psiquiatria. Nesta edição do Jornal da UE, você vai ler sobre a Sala de Trauma.

A sala de trauma destina-se ao atendimento do politraumatizado e conta com apoio diagnóstico de ultrassom na beira do leito, dois tomógrafos e radiologia intervencionista, quando necessário. No caso de trauma vermelho a agência transfusional, o centro cirúrgico e o laboratório são informados para ficarem preparados.“Todas estas ações otimizam todos os tempos do atendimento”, explica o doutor José Paulo Pintyá, diretor de Atenção à Saúde, na Unidade de Emergência.

O diretor de Trauma da UE., Mauricio Godinho explica que “se for classificado estável, o paciente é encaminhado para Sala de Urgência que, na UE., chamamos de box. Já aquele de maior complexidade, em

Parte da equipe da Sala de Urgência

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graves. Significa que quase nove pacientes, por dia, são atendidos na sala de trauma, cerca de três em estado grave. Os acidentes de trânsitos são os mais comuns e os motociclistas são as principais vítimas.

Pré-hospitalar –“O atendimento inicia-se no pré-hospitalar e no ato da regulação médica, o médico da UE. recebe informações de como o paciente foi encontrado na cena do acidente, que tipo de acidente, idade, sexo e outras informações que são fundamentais para que seja preparado o cenário, com a organização dos recursos humanos e materiais, para o atendimento”, explica Flábia.

Perfil profissional–“Para trabalhar na Sala de Trauma o profissional precisa ser dinâmico, ter destreza para realizar técnicas, trabalhar com cooperatividade com toda a equipe, manter-se atualizado em conhecimentos e habilidades necessárias para prover melhor qualidade de serviço na emergência, saber lidar com situações de angústia do paciente, bem como de seu familiar. Em especial o enfermeiro precisa ter perfil em liderança para lidar com toda situação de urgência e emergência que ocorre durante o trabalho”, explica Adriana Moreno, enfermeira chefe da Sala de Urgência.

Classificação de Risco – “Os pacientes que vêm regulados para a área de box, apesar de já terem atendimento pré-hospitalar, passam por uma classificação de risco para que seja identificado o risco clínico deste paciente na chegada à Unidade de Emergência”, explica a enfermeira encarregada da Sala de Urgência, Paloma Mithie Rebouças Ynohaine. A classificação varia em não urgência, pouca urgência, urgência, muita urgência e emergência.

Emergência X Urgência - Os casos de emergência são aqueles em que há risco iminente de morte se não acontecer intervenção imediata da equipe multidiciplinar. A urgência não apresenta um risco imediato de vida, porém pode se transformar em uma emergência se não for solucionada rapidamente.

Doutor Mauricio Godinho: Diretor de Trauma da UE Equipe atua na Sala Urgência

Especialidade 2017 (jan a Jul) 2018 (jan a jul)Cirurgia de Urgência 1.843 2.078

Cirurgia da Cabeça e Pescoço 400 444

Clínica Médica 2.377 2.211

Oftalmologia 3.062 3.325

Ginecologia 825 884

Neurocirurgia 267 306

Neurologia 1.074 1.263

Ortopedia 1.204 1.309

Otorrinolaringologia 1.085 1.133

Pediatria 1.922 1.965

Psiquiatria 277 401

Toxicologia 35 70

Retornos 1.350 1.704

Total 15.721 ( + 8,7%) 17.093 Retornos Queimados 1.266 1.163

Retornos Oftalmologia 1.012 1.134

SESMT 460 346

Vigilância Epidemiológica 490 847

Total 3.228 (+8,1%)3.490 Total Geral 18.949 (8,6%) 20.583

Produção da Unidade de Emergência

Especialidade 2017 (jan a Jul) 2018 (jan a jul)

Radiologia Intervencionista 62 136Otorrinolaringologia 5 3Ortopedia 846 881Oftalmologia 5 1Neurocirurgia 273 228Ginecologia 96 83Cirurgia da Cabeça e Pescoço 215 190Cirurgia de Urgência e Trauma 662 660Cirurgia Plástica e Queimados 137 175Total 2301 (2,5%)2357

Consulta Sala de Urgência

Cirurgias