Crucificar o Ego Para Viver - rl.art.br · apostasia e corrupção de mente e de espírito, porque...

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Crucificar o Ego Para Viver Silvio Dutra Dez/2015

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Crucificar o Ego Para Viver

Silvio Dutra

Dez/2015

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A474v Alves, Silvio Dutra Virá e não tardará/ Silvio Dutra Alves. - Rio de Janeiro, 2015. 146p.; 14,8x21cm

1. Escatologia. 2. Teologia. 3. Apocalipse. 4. Tribulação. 5. Arrebatamento. 6. Milênio. 7. Eternidade. I. Título.

CDD 228

3

Sumário

Introdução..................................................................... 5

Renúncias Necessárias..................................... 6

A Amputação Que É Necessária Para

Entrar no Céu.........................................................

11

“...quem neste mundo odeia a sua vida,”. 14

Renúncia e Abnegação...................................... 17

O Verdadeiro Significado da Renúncia.. 20

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo....

27

Criado para Ser Espiritual e não Carnal... 33

Porque a Vida Eterna Demanda a Morte

do Nosso Ego..........................................................

35

Se Não Perder Não Ganhará.......................... 39

Trazendo no Corpo a Mortificação de

Jesus............................................................................

42

Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis..........................................................

45

Escrito na Mente e no Coração.................... 50

O Governo Usurpador da Alma Sobre o

Nosso Espírito........................................................

54

A real condição da natureza humana........ 69

O homem é inimigo de Deus.......................... 73

Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo......................................................................

76

Como e porque ser espiritual e não

carnal.........................................................................

78

Não Mais na Carne.............................................. 113

A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo. 119

Espiritual.................................................................. 129

4

A Natureza da Nova Criatura em Cristo

Jesus............................................................................

133

Natural e Espiritual............................................. 137

Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas.........................................

142

Destruindo a Fábrica do Mal e Não

Apenas os Seus Produtos.................................

145

5

Introdução

Watchman Nee costumava dizer que a primeira

e principal lição que deveria ser ensinada aos

novos convertidos era aquela que foi tão

enfatizada por nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno, de que deveríamos nos

negar a nós mesmos, tomar a cruz diariamente

e segui-lo para que pudéssemos ser de fato seus

discípulos.

Como há muita falta da devida compreensão do

significado desta ordenança, resolvemos tratar

do assunto neste livro, fundamentando nossas palavras no ensino bíblico e na forma como esta

verdade declarada por nosso Senhor se aplica e

se ajusta à realidade prática da vida.

Com tal propósito em vista reunimos alguns dos

vários artigos que escrevemos sobre este assunto e esperamos que eles sejam de alguma

valia para os amados leitores.

6

Renúncias Necessárias

Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte:

“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes:

26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e

mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda

também à própria vida, não pode ser meu discípulo.

27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não

pode ser meu discípulo.

28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as

despesas, para ver se tem com que a acabar?

29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar,

todos os que a virem comecem a zombar dele,

30 dizendo: Este homem começou a edificar e

não pode acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra

contra outro rei, não se senta primeiro a

consultar se com dez mil pode sair ao encontro

do que vem contra ele com vinte mil? 32 No caso contrário, enquanto o outro ainda

está longe, manda embaixadores, e pede

condições de paz.

33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser

meu discípulo.

34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido,

com que se há de restaurar-lhe o sabor?

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35 Não presta nem para terra, nem para adubo;

lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir,

ouça.”

A obediência e serviço a Cristo são na verdade

uma sequência de renúncias feitas por amor a

Ele, e para que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas.

Por exemplo, há necessidade que os pais

renunciem a seus filhos, e os filhos a seus pais,

para que o propósito de Deus relativo ao casamento se consolide, pelo ato de deixar o

homem pai e mãe, se unir à sua mulher, para

que não sejam mais dois, mas uma só carne aos

olhos do Senhor. Todavia, há uma renúncia suprema que se

impõe ao próprio casal, de maneira que deverão

aprender a renunciar-se mutuamente, para que

o amor e serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas vidas.

Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às

multidões que O seguiam, as condições

necessárias para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu discípulo se não

renunciar a tudo quanto possui.

Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que

aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito querido, e até à Sua própria vontade.

Ninguém poderá guardar a palavra de

perseverança do Senhor, que consiste em não

negar o Seu nome e os Seus mandamentos, sejam quais forem as circunstâncias, caso não

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se tenha um sincero amor a Cristo que seja

superior a tudo o mais que ame neste mundo,

incluindo a sua própria vida.

Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço ao Senhor exigirá renúncias da parte de

Seus discípulos.

Eles terão que sacrificar os interesses de outras pessoas e até os seus próprios interesses, para

que possam, não raras vezes, se dedicarem ao

serviço do Senhor.

Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se exige dos discípulos, nosso Senhor

comparou tal renúncia como aquela que se faz

necessária aos que se empenham numa guerra.

Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão que deixar todas as demais coisas que eles

amam para que possam se dedicar aos combates

que terão que empreender na guerra em que

estiverem empenhados. Para o mesmo propósito usou a ilustração de

quem edifica uma torre.

Ele não poderá concluir a construção caso não

calcule o custo dos materiais e caso não se dedique totalmente ao projeto da torre que

pretende construir.

Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá

estar mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras atividades e interesses. O afeto natural pelas pessoas que amamos terá

que ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual,

que decorre do amor celestial divino, para o atendimento daqueles aos quais devemos servir

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pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos

colidirem.

Servir ao Senhor é então comparado aos

sacrifícios e renúncias que se exigem daqueles que se empenham numa guerra ou num projeto

de construção.

Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais entrar em competição com o nosso dever

evidente para com Cristo, nós temos que dar

prova do nosso amor ao Senhor, cumprindo o

que se exige de nós, conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando isto signifique

contrariar aqueles que amamos, ou então que

tal implique um grande sacrifício a ser feito por

nós. Cristo deve ter a preferência em todas as coisas,

se quisermos fazer a Sua vontade, e sermos

agentes da sua bênção para muitas pessoas que

necessitam do seu amor. Quantos interesses de amigos terão que ser

deixados para trás para que possamos fazer a

vontade de Deus, em relação a algum serviço

prático que Ele nos tenha ordenado. Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por

Ele à prova, fazendo com que tenhamos a

oportunidade de demonstrar na prática a nossa

dependência dEle, e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às tribulações que nos

alcançam em forma de enfermidades,

carências, perseguições, etc.

Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total que Cristo exige de nós, é certo que o

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inferno se rirá, e muitas pessoas também rirão

de modo escarnecedor por termos começado

um relacionamento com o Senhor, e não termos

permanecido de modo constante na realização e consumação do nosso amor a Ele, por Lhe

termos voltado as nossas costas.

Assim, todo verdadeiro cristão deve ter uma posição firme e definida contra todo tipo de

apostasia e corrupção de mente e de espírito,

porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão

inútil para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser como o sal que perdendo o seu sabor,

para nada mais presta senão para ser lançado

fora para ser pisado pelos homens, como disse

Jesus.

11

A Amputação Que É Necessária Para

Entrar no Céu

“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é

melhor entrares maneta na vida do

que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível onde

não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.

E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor

entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno onde não lhes

morre o verme, nem o fogo se apaga.

E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-

o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres

lançado no inferno, onde não lhes morre o

verme, nem o fogo se apaga.” (Marcos 9.43-48)

Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo

enfatizou a vital importância da salvação da

alma, pela demonstração que caso fosse necessário para obtê-la, deveríamos amputar

partes importantes do nosso corpo físico, que

por suposição, fossem a causa de nos manterem

aprisionados ao pecado. É evidente que Ele não está recomendando uma

prática de mutilações literais, porque nos é

ordenado também por Deus o cuidado com a

preservação do nosso corpo físico. Mas, para ilustrar que em não raros casos, a

salvação será obtida por renúncias a práticas

pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e

12

muitas vezes, que até mesmo colocarão em

risco a nossa integridade física – quantos não

foram e que têm ainda sido martirizados por

conta da fé que abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado, dando causa a isto - todavia,

sofreram com paciência e voluntariamente o

martírio sabendo que havia uma vida muito melhor e eterna lhes aguardando, a qual, na

verdade, já estavam experimentando desde que

se converteram a Cristo.

O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do pecado, que deve ser feita por todos os

cristãos. Este é um dever que deverão operar

para a sua santificação, pelo corte de afeições

pecaminosas e todo o tipo de inclinações carnais que os levem a pecar. Os que se

entregam a este trabalho evidenciam em si

mesmos que entraram no reino de Deus, e por

conseguinte, jamais serão lançados no inferno eterno.

A ilustração da amputação dos membros indica

portanto que o trabalho de mortificação do

pecado não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual, mas algo que será realizado em

nossa própria vida, atingindo o âmago do nosso

ser, pelo despojamento do velho homem, da

natureza terrena decaída no pecado que foi crucificada juntamente com Cristo, recebendo

a necessária sentença de morte para que

possamos viver em novidade de vida.

Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação relativa a um suposto castigo de pecados

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cometidos, mas uma alusão à remoção

necessária do pecado, para que possamos entrar

no reino de Deus. Assim, as concupiscências que combatem contra a alma devem ser removidas.

Esta amputação de caráter espiritual não é para

morte, assim como na ilustração apresentada por nosso Senhor não foi indicada a amputação

de qualquer órgão vital. É uma remoção para

vida e não para morte. Assim como quem

amputa um órgão gangrenado para continuar vivendo, neste caso apresentado a retirada das

inclinações e dos hábitos pecaminosos visam

mais do que permitir que continuemos vivendo

esta vida natural, senão que obtenhamos a vida espiritual eterna.

Outra parte importante do ensino de Jesus é o de

que a alma embora esteja morta com suas partes

gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser recuperada, desde que nos apresentemos a Ele

para a realização deste trabalho de remoção

daquelas coisas que são para nós a causa do

nosso tropeço, e que impedem a nossa entrada no reino de Deus.

Assim, aqueles que carregam este corpo de

morte do pecado em sua jornada terrena, mas

do qual vão se despojando ao longo de sua caminhada, haverão de ter a sua entrada no

reino de Deus, amplamente suprida.

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“...quem neste mundo odeia a sua vida,”

(Jo 12.25)

O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26:

“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste

mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e

onde eu estiver, ali estará também o meu servo;

se alguém me servir, o Pai o honrará.", também

disse que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e que a tivéssemos em

abundância (Jo 10.10).

Não há qualquer paradoxo entre as duas

passagens bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e complementares mutuamente.

O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se

refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a

este mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena pecaminosa, a qual deve ser perdida

pelo trabalho da cruz, por odiarmos o pecado

que em nós habita e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual e celestial que recebemos

por meio da fé em Jesus, pois é este o tipo de vida

abundante que somente Ele pode nos dar.

A manifestação desta vida celestial abundante independe de circunstâncias, se somos ou não

afligidos por provações em forma de

enfermidades, perseguições, pobreza, e até

mesmo pelas tentações da carne, do mundo e do diabo.

Aquele que tem carregado a sua cruz

diariamente, e que tem crucificado o seu ego,

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seguindo o pendor do Espírito Santo por

caminhar em santificação com Jesus, terá uma

fonte de paz, alegria, gratidão, amor, jorrando

em seu interior para a vida eterna. Não importa que esteja preso injustamente, por

anos, como sucedeu com José no Egito,

conforme o conselho e determinação de Deus, para bons propósitos definidos para o

aperfeiçoamento de José na paciência e na

santificação; enquanto o mordomo de faraó, que

havia transgredido contra o próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em poucos dias.

Os apóstolos foram também presos e

duramente perseguidos, mas perseveraram na

fé, na paciência e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam prosperavam

materialmente neste mundo, e no entanto, não

haviam alcançado a vida eterna abundante que

eles possuíam. Deus corrige, repreende e disciplina apenas

aqueles que são seus filhos, e esta é uma das

razões porque são provados por Ele em

circunstâncias em que os que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto o crente

permanece por maior período debaixo dos

mesmos sofrimentos em que eles se

encontravam. Nestas tribulações dos crentes estão sendo

forjadas a fundamentação do caráter, a

paciência, a perseverança, a fé e a esperança.

É evidente que naqueles que amam o tipo de vida que o mundo tem a oferecer, ou seja, as

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coisas e os tipos de comportamentos que são

contrários à vontade e santidade de Deus;

nenhuma destas graças está sendo forjada, até

mesmo porque não as desejam ou conhecem; e como aqueles que amam o mundo permanecem

como inimigos de Deus, jamais obterão a vida

eterna que está em Jesus.

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Renúncia e Abnegação

Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação

que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus

Cristo? Creio que seja o compromisso total que é

necessário ter com Ele e com o evangelho.

Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste

compromisso pleno quando citou, por exemplo, que quem lança mão do arado e olha pra trás não

é apto para o reino de Deus (Lucas 9.61); que

quem começa a construção de uma torre ou

uma guerra deve concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-32).

O arar o campo, a construção da torre ; e a

declaração de guerra devem ser minuciosamente calculados e não podem ser

abandonados ou interrompidos de modo algum,

sob pena de termos o nosso trabalho

prejudicado e não concluído. Fomos empregados como lavradores e

construtores, e alistados como soldados de

Cristo ao nos convertermos a Ele, e para agradá-

lo deveremos cuidar inteiramente dos interesses do seu reino.

Em consequência teremos que renunciar a

muitos projetos e desejos pessoais; teremos que

priorizar o nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente encurtará o tempo que

dispendemos sobretudo com os nossos

familiares e as pessoas que exigem muito da

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nossa atenção em nossos relacionamentos, e

por isso Jesus disse que:

“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e

mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu

discípulo.” (Lucas 14.26)

Como isto contraria os nossos sentimentos e vontade naturais, então necessitaremos colocar

em prática o que Ele nos ensina:

Primeiro,

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si

mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;” (Lucas

14.27)

E em seguida, “Assim, pois, todo aquele dentre vós que não

renuncia a tudo quanto possui, não pode ser

meu discípulo.” (Lucas 14.33)

Não há outra alternativa para vencer nossos afetos naturais que possam nos impedir de

servir ao Senhor inteiramente senão a

crucificação do nosso ego com todos os seus

desejos. Teremos que contrariar nossos desejos e até a

própria vida para que possamos servir a Cristo

da maneira pela qual convém ser servido.

Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a sua própria vontade, senão a do Pai,

para que pudesse consumar a nossa salvação.

De igual forma isto se aplica a nós, porque não

podemos nos empenhar na obra de salvação de

19

almas, sem que se veja operando em nós, não a

nossa, mas a vontade do Senhor.

20

O Verdadeiro Significado da Renúncia

“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai

e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e

ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.

27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não

pode ser meu discípulo...

33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser

meu discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33).

O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz respeito tanto ao que abandonamos e o

esforço que realizamos, quanto por quem o

fazemos, a saber, se por nós mesmos ou por Cristo.

Este desapego às coisas que mais amamos,

inclusive a nós mesmos, conforme nos é

imposto pelo Senhor para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das renúncias que as

pessoas costumam fazer para atingirem seus

objetivos, porque elas o fazem por si mesmas e

por aquilo que escolhem fazer, e não para Cristo, e segundo a Sua vontade divina.

O cristão é portanto chamado a se auto negar e

carregar a cruz que mortificará o seu ego, para

poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira que possa dizer de fato que tem feito a

vontade de Deus neste mundo, e não a sua

própria vontade.

21

Nós selecionamos apenas três versículos da

porção de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs

as condições exigidas por Ele para o discipulado,

de maneira que aqueles que pretendem segui-lO fazendo a Sua vontade estejam plenamente

instruídos quanto ao que será exigido deles para

tal, de maneira que possam se armar do pensamento das coisas que terão que fazer e ao

que terão que renunciar se pretenderem fazer

de fato a vontade de Deus.

Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que contar com o pior, e se prepararem

adequadamente.

É possível que muitos discípulos de Jesus

pensassem que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem vier a mim, e for meu

discípulo, ele terá honras e riquezas em

abundância neste mundo.”. Mas Ele lhes disse

exatamente o contrário disto, e lhes revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que fosse

querido a eles, e deveriam ser desmamados de

tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e

segurança, e que teriam aflições. Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes

desse conforto e segurança no mundo e

morrerem inclusive para si mesmos, não mais

vivendo para fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem conhecer e praticar a vontade de

Deus. Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se

não estiver disposto a contrariar a vontade de seus familiares (v. 26) quando esta vontade

22

entrar em competição com a de Deus. E não

somente isto, deve estar disposto a contrariar a

sua própria vontade e vida. Se não for sincero

nisto e se não o fizer, não poderá ser constante e perseverante na obra de Deus, a não ser que ame

mais a Cristo do que qualquer outra coisa neste

mundo, e esteja disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir oferecendo-o como um

sacrifício para Deus, de maneira que Cristo

possa ser glorificado por esta nossa separação

para nos consagrarmos inteiramente a Ele (tal como os mártires que não amaram as suas vidas

diante da morte).

É somente quando nos separamos dos afetos

que nos prendem a este mundo, que somos capacitados a servir melhor a Cristo.

Assim Abraão se separou do próprio país dele, e

Moisés da corte de faraó.

Não é feito nesta passagem de Lucas menção a casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar

para isto com desprezo; mas o cristão considera

isto de uma maneira bem mais elevada, por

saber que tudo o que o homem amar seja em seu relacionamento com pessoas ou bens, se ele for

um discípulo de Cristo, terá que amar menos

estas coisas do que a Cristo, e estar disposto a se

separar delas caso seja necessário para continuar seguindo ao Senhor.

Não que as pessoas que amamos devam ser em

algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o

conforto e satisfação que achamos nelas para que somente Cristo seja todo o conforto e

23

sustentáculo de nossas vidas. E é a este tipo de

renúncia a que o Senhor se refere ao dizer que é

necessário renunciar a tudo para ser seu

discípulo, isto é, aqueles que pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua esperança e

conforto em qualquer coisa ou pessoa deste

mundo, porque terão que aprender a depender inteiramente do Senhor porque Deus os provará

muitas vezes vendo falhar ou faltar estes

confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito

amamos e prezamos se levantarão contra nós quando perceberem a nossa plena disposição de

nos consagrarmos inteiramente a Deus.

Quando nosso dever para com nossos pais

entrar em competição com nosso dever evidente para Cristo, nós temos que dar a

preferência a Cristo. Se nós tivermos que negar

a Cristo para não sermos banidos por nossos

parentes, nós temos que perder a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo.

Todo homem ama a sua própria vida, mas nós

não podemos ser discípulos de Cristo se nós não

O amamos mais que nossas próprias vidas. A experiência dos prazeres da vida espiritual e a

esperança da vida eterna farão com que esta

dura declaração do Senhor se torne fácil.

Quando a tribulação e a perseguição surgirem por causa da Palavra, então principalmente a

tentação será superada se nós amarmos mais a

Cristo.

A tentação constante de buscarmos a Deus para que Ele faça a nossa vontade, em vez de nos

24

inteirarmos qual seja a vontade dEle para

conosco, para que nos empenhemos em fazê-la,

só pode ser tratada pela cruz, que imporá sua

sentença de morte sobre os desejos carnais de nossa alma, de forma que sejamos conduzidos

pelo Espírito Santo.

Há um grande equívoco em se pensar que uma grande fé é aquela que consegue obter coisas de

Deus para própria e exclusiva conveniência

pessoal. Mas, ao contrário uma fé verdadeira em

exercício nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com amor e paciência perseverante a obra

que Deus nos tem designado, enquanto

descansamos na Sua promessa de suprir aquilo

que nos for necessário. Esta fé verdadeira em exercício fará muitas

petições a Deus, mas somente daquilo que for da

Sua vontade, para que possamos continuar a

Seu serviço neste mundo, que não devemos amar, e do qual devemos estar desmamados.

A verdadeira fé nunca levará um cristão

amadurecido e devidamente instruído a buscar

o que seja da sua própria conveniência, mas somente aquilo que é aprovado e conveniente

de ser pedido a Deus.

Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem

qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de sua vontade e coração, porque este domínio

pertencerá ao Senhor, que sempre quer o

melhor para nós.

Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo estão construindo uma torre que os

25

aproxima cada vez mais das realidades do céu, e

eles sabem que a construção desta torre lhes

impõe o custo da mortificação dos seus pecados,

da renúncia ao mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário para permanecerem em sua

obediência a Deus.

Eles são também como reis empenhados numa grande guerra contra os poderes das trevas,

contra o pecado, e contra as tentações do

mundo.

A vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da vigilância, da oração perseverante, de estarem

equipados continuamente com toda a armadura

de Deus, resistindo firmes na fé ao diabo,

vivendo em sobriedade. Enfim, o discipulado cobra o preço da

consagração total a Deus, porque o homem de

coração dobre não obterá nada do Senhor. Não

se pode servir a dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao que é terreno ou ao que

é celestial. Ao que é do Espírito Santo ou ao que

é da carne. À luz ou às trevas. Não se pode ter um

pouco de um e um pouco de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não teremos o outro.

Porque onde estiver o nosso tesouro, ali estará

também o nosso coração. Mas é comum que

muitos se enganem pensando que estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra

verdadeira para Deus enquanto não renunciam

a tudo quanto devem renunciar para que Cristo

e somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de suas vidas.

26

A vida cristã é uma declaração de guerra contra

o pecado, o diabo e o mundo, para que almas

possam ser resgatadas das trevas para a luz de

Jesus. E somente os que têm calculado o custo desta guerra e pago efetivamente o preço

necessário poderão desfrutar das grandes

vitórias que obterão pelo auxílio da graça do Senhor.

Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos

de Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos

para preservar este mundo da corrupção, e salgarem a vida de muitos com o testemunho de

suas próprias vidas. Sem renúncia o sal perde o

sabor e quando isto acontece é lançado fora e

será pisado pelos homens, porque terá perdido a sua função de salgar para preservar. Isto

ensina de modo muito claro que o Senhor

somente pode usar aqueles que estiverem

consagrando efetivamente suas vidas.

27

Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que

Tem Não Pode Ser Meu Discípulo

Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as

palavras do nosso título.

Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na chamada de Eliseu.

Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de

I Reis 19.19-21:

“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de

bois adiante dele, estando ele com a duodécima;

chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa

sobre ele. 20 Então, deixando este os bois, correu após

Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a

minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lhe

Elias: Vai, volta; pois, que te fiz eu? 21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de

bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois

cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .

Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no

lugar de Elias, conforme se vê no verso 16,

quando lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por

profeta.

Não foi numa escola de profetas, nem num

templo, que Eliseu foi chamado, mas no seu local de trabalho, quando arava o campo com

doze juntas de bois, sendo que ele próprio arava

com uma destas juntas.

28

Não tem sido assim o método comum com o

qual muitos têm sido chamados pelo Senhor,

para deixarem suas atividades seculares, para

viverem do evangelho? Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua

chamada, pois se diz que arava com doze juntas

de bois. Ele ofereceu tudo o que tinha como um

holocausto, nas mãos do Senhor, como símbolo

da sua renúncia ao seu antigo modo de vida,

quando matou os seus bois e fez uma fogueira para assar a carne com os instrumentos com os

quais arava a terra.

Ele não seria mais agricultor dali por diante,

porque se desfez dos meios que eram necessários para a realização do seu antigo

sustento de vida.

Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu

para ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser um homem importante, que tinha

servos, era simples e trabalhador, porque se diz

que ele também estava trabalhando no arado,

quando podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus empregados.

Pessoas que buscam uma vida de mordomia

neste mundo não serão chamadas por Deus para

a Sua obra. O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,

não foi uma desculpa para demorar a atender à

chamada do Senhor, como a citada em Lucas

9.61. Ele somente o fizera por uma questão de respeito e dever para com os seus pais.

29

Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas

lembrou-lhe somente que havia lançado o seu

manto sobre ele, como uma indicação de que

estava sendo chamado por Deus para ser preparado por ele, Elias, para o ministério, e isto

estava representado no fato de que estaria

debaixo das vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.

Eliseu se colocou humildemente na posição de

servo de Elias, e era o servo que lavava as mãos

do profeta como se vê em II Reis 3.11. Há renúncias impostas para o exercício do

ministério

Muitos que são chamados pelo Senhor,

especialmente para a obra de missões, vivendo pela fé, custam a entender em princípio, qual é

o caráter da chamada deles.

Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,

demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de sangue, quando o Senhor o

chamou para o ministério profético através de

Elias (I Rs 19.19-21).

Muitos ficaram perplexos por grande tempo até entenderem que as perdas que sofreram em

suas vidas, foram decorrentes desta chamada

do Senhor para o exercício do ministério.

O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, tal como fizera com todos os apóstolos,

que tudo tiveram que deixar para poder segui-

lO.

30

A quantas coisas e pessoas estamos apegados,

ainda que não estejamos devidamente

conscientizados de tal realidade.

Dificilmente entendemos que muitas perdas que sofremos, e guinadas violentas que são

produzidas por Deus em nossas vidas, têm o

propósito de nos tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.

Se não houver esta renúncia aprendida e

recebida de modo voluntário, pela consagração

de tudo o que somos e do que temos ao Senhor, não será possível trabalhar para Deus, porque o

nosso coração estará apegado àquelas coisas e

pessoas das quais, o Senhor sabe que devemos

nos desprender primeiro (não deixar de lhes assistir, nem abandoná-las, mas não ser presa

de laços sentimentais e emocionais, ou de

dependência financeira, psicológica ou de

qualquer outra ordem), para que possamos então fazer a Sua vontade, sem que sejam tais

coisas e pessoas a principal ocupação de nossos

pensamentos, afeições e desejos.

Quando Deus chamou Eliseu através do profeta Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu,

indicando que a autoridade espiritual que estava

sobre Elias, seria transferida por Deus, no tempo

oportuno, para Eliseu. Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para

poder seguir Elias, para ser preparado para ser o

seu sucessor.

Quando Jesus lança sobre nós a sua capa concedendo-nos dons, capacitações, e Sua

31

autoridade, é para a realização da Sua obra, e não

da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a

nossa.

Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! Adeus parentes! Adeus interesses

particulares! Adeus sonhos seculares! É a

atitude que devemos ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que fomos chamados para

a realização de uma obra específica para Deus.

Aqueles que não se auto negarem não poderão

tomar diariamente a sua cruz. Sem tomar a cruz é absolutamente impossível

seguir a Jesus.

Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,

deslocamentos, que a nossa carne não sente nenhum prazer neles.

A cruz será um objeto de ofensa para aqueles

que não se autonegarem primeiro.

Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições que a cruz lhes trará quando estiverem

empenhados na realização da obra do Senhor.

Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à

necessidade de estarmos armados com o pensamento de que importa suportar todo tipo

de tribulação e oposição, que nos possam

sobrevir por causa da nossa consagração ao

serviço de Deus. Assim, aqueles que têm sido chamados por

Deus, em vez de ficarem perplexos e gemendo

por causa das coisas que estão sofrendo, devem

aprender, tal como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que estiverem sofrendo, e nas

32

renúncias que o próprio Deus lhes está

impondo, porque estas aflições são a prova

mesma de que estão empenhados numa obra

que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um motivo não para tristeza, mas para alegria, é

uma grande honra, e não uma condição

humilhante; uma grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual, e nenhuma

tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de confiar

no cuidado dos homens, para viverem debaixo

do cuidado do Deus Altíssimo e Onipotente. Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas

tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de

todas estas coisas, somos capacitados a sermos

bem sucedidos na obra que realizamos para a glória do Seu nome, e por meio das quais

cessarão todos os nossos fracassos e vazio de

vida.

Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus se tornou um grande exemplo para nós, de

que vale muito a pena tudo deixar para

podermos seguir a Jesus.

33

Criado para Ser Espiritual e não Carnal

Está declarada de modo muito claro e direto na

Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a

verdade relativa à condição natural de todo ser humano de se inclinar para a sua natureza

terrena carnal pecaminosa, e por ela ser

dirigido, em vez de se inclinar para a natureza

celestial e espiritual divina, para a qual fora criado, para viver por meio dela eternamente.

O próprio Deus expôs esta verdade no motivo

declarado do dilúvio que traria sobre toda a

Terra:

“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não

agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis

6.3)

Veja a comprovação desta verdade, porque no meio de toda uma geração que se inclinava e se

movia apenas pelo que era carnal, somente um

homem (Noé) havia se voltado para Deus, pela

fé, e obtido pela justificação, a coparticipação da natureza divina, pela qual recebeu o

testemunho de ser homem justo, temente a

Deus e que se desviava do mal.

Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada no dilúvio, opera a morte e a destruição.

E deste viver todos compartilham, em razão da

natureza que possuímos, até que sejamos

libertados e justificados pela fé em Cristo, para

34

recebermos uma nova natureza, na qual se

cumpre o propósito eterno de Deus na nossa

criação.

Afinal, Deus é espírito, e importa que também o sejamos para termos comunhão com Ele e

participação da sua vida divina.

35

Porque a Vida Eterna Demanda a Morte

do Nosso Ego

Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2

Coríntios com as palavras do verso 5:

“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos

vossos servos por amor de Jesus.”.

Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas

a Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo, em nosso ego, e em tudo que se

refira à nossa própria vontade e desejos, que

devem ser levados à morte na cruz, para que a

vida de Jesus possa se manifestar através de nós (v. 10).

Esta mortificação progressiva de todas as áreas

de nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma

chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera, porque o ministério consiste em

manifestar não a nós mesmos, mas o que é

relativo à vida de Cristo. Para isto o velho homem tem que ser despojado,

para que a nova criatura se manifeste em poder

nestes vasos de barro que são os nossos corpos

mortais. São vasos de barro porque têm a ver com o que

herdamos da natureza terrena de Adão, que foi

criada a partir do barro, dos elementos naturais

deste mundo, que passa. Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu

poder excelente pode se manifestar somente se

a casca do velho homem com suas vontades e

36

desejos for completamente quebrada através

das tribulações, perplexidades, perseguições, e

abatimentos, ao mesmo tempo que somos

consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não

sejamos angustiados, desanimados,

desamparados e destruídos (v. 8, 9). Esta será a experiência de todos aqueles que

consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço

do Senhor.

Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer

de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar

em nós.

Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no

seu ego, tem o propósito de gerar a vida de

Cristo nos seus ouvintes (v. 12).

Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para

a nossa própria ressurreição, de modo que

ministrando por amor aos homens, possam

todos abundar em ações de graças, para a glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em

muitos corações (v. 13 a 15).

Eles saberão que um cristão em seu posto de

trabalho, operando fielmente no Espírito, não desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a

Cristo, ainda que o homem exterior se

corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme,

envelheça, porque o homem interior, a saber, o Espírito é renovado gradual e diariamente por

37

Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v.

16).

Assim saberá também que toda tribulação traz

em si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos e participantes da glória de Deus, e que

se tornam leves e momentâneas comparadas ao

peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo, alma e espírito.

Um cristão experimentado, como Paulo, saberá

discernir a vida espiritual que não se

experimenta por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas visíveis que são temporais, mas

nas invisíveis que são eternas.

Portanto, à luz de todas estas afirmações que o

apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo, nós podemos entender melhor o que

ele pretendia dizer nos seus quatro primeiros

versículos.

Os que são de Cristo podem entender as palavras de Paulo, a saber, o evangelho da cruz

de Cristo, mas não os incrédulos, porque seus

entendimentos foram cegados pelo Inimigo, de

modo que não podem enxergar a glória que há no evangelho, que produz a sua vida ressurreta

à medida que nosso velho homem vai sendo

despojado, progressivamente, pela mortificação

operada pela cruz. Para o mundo isto não é glória, quando muito,

masoquismo, porque não pode experimentar o

poder da vida do Espírito que se manifesta

naqueles que permitem a mortificação dos feitos do corpo pelo poder de Deus.

38

Eles não podem entender que a cruz não é

carregada para nos aniquilar, mas para gerar a

vida eterna de Cristo, porque Ele veio a este

mundo não para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e vida em abundância.

Mas esta vida não pode ser experimentada, a

não ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e isto demanda a morte e

despojamento progressivo dos atos

pecaminosos do velho homem, trabalho este

que é feito pela cruz que carregamos diariamente, para que o Espírito não somente

mortifique o nosso pecado, como também

manifeste a vida poderosa de Cristo em nós.

Enquanto o que prevalece é o eu, eu, eu ... posso, não posso; quero, não quero, jamais

conheceremos o significado de ser conduzido

pela vontade de Deus, e ser por ela capacitado a

fazer voluntariamente e com amor o que seja necessário e contrário ao nosso querer, ao nosso

sentir, e até mesmo tudo que não haja em nós

habilidade e poder para fazer.

39

Se Não Perder Não Ganhará

“João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se

o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica

ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas

aquele que odeia a sua vida neste mundo

preservá-la-á para a vida eterna.”

Se formos interpretar de modo literal a verdade

proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus

Cristo - de que quem ama a vida a perde, e de que

quem a odeia a preserva para a vida eterna – poderemos pensar que está sendo afirmado

algum tipo de absurdo, e na verdade o seria caso

o sentido destas palavras fosse interpretado segundo a razão natural e comum do mundo;

todavia elas expressam de forma resumida o

grande segredo de se alcançar a vida eterna não

somente para este mundo quanto para o vindouro. Porque importa que sejam

interpretadas em seu significado espiritual,

com a ajuda da iluminação do Espírito Santo,

que é o único que pode nos tornar capazes de discernir espiritualmente as realidades que são

espirituais.

Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao

seu próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria vontade, senão a de Deus Pai que o

enviou para morrer no nosso lugar.

Ele se esvaziou completamente e tomou a forma

humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu

40

próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o

guiava em tudo.

Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte,

como também o caminho e a verdade que nos conduzem também à vida eterna, pelo mesmo

caminho que ele seguiu.

O morrer para o eu, para se viver pela vontade e poder de Deus é o grande segredo disto, que

Jesus veio revelar em si mesmo. Por isso ele

venceu a morte, e não pôde a sua vida ser retida

pelo sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à destra do Pai no céu, intercedendo

continuamente por nós, para que alcancemos a

vida eterna e que a vivamos do modo digno pelo

qual importa ser vivida. Agora, em relação a nós, quão indispostos

somos a fazer morrer o modo de viver pelo

nosso ego, quão apegados somos à nossa

vontade e ao mundo, e então necessitamos - diferentemente do Senhor Jesus que não tinha

qualquer pecado – de mortificar a nossa

natureza terrena pecaminosa, para que tendo a

nossa mente renovada, possamos conhecer de modo experimental a boa, perfeita e agradável

vontade de Deus, pela qual somos santificados.

Perdas de entes queridos e coisas que amamos

nos causam grande sofrimento, e por isso tememos abandonar esta coisa que é a primeira

em ordem a amarmos mais do que tudo, a saber,

o nosso modo de viver neste mundo, ao qual

nosso Senhor se refere como algo que devemos aprender a odiar, porque está cheio de hábitos e

41

desejos que são contrários à justiça e santidade

de Deus.

Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa

mundana, a nossa condição espiritual permanece sendo de morte, que por fim virá a

ser morte eterna, e não vida eterna, conforme é

prometido àqueles que a odiarem, por amarem o modo de vida celestial, espiritual e divino.

Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta

verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e

para nossa apreciação, estamos destacando alguns deles a seguir:

Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a

sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.

Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á;

quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.

Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não

aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não

pode ser meu discípulo.

Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará.

42

Trazendo no Corpo a Mortificação de

Jesus

“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas

a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos

vossos servos por amor de Jesus.” (II Coríntios 4.5)

Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo

é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo (II Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que

se refira à nossa própria vontade e desejos, que

devem ser levados à morte na cruz, para que a

vida de Jesus possa se manifestar através de nós. Aquele que não traz o seu ego mortificado pela

cruz não está habilitado a pregar e a ensinar o

evangelho da cruz.

Aquele que não renunciou a tudo quanto tem não pode pedir aos seus ouvintes que

renunciem a si mesmos para confiarem suas

almas ao Salvador. É por isso que o nosso velho homem tem que ser

despojado, para que a nova criatura se

manifeste em poder nestes vasos de barro que

são os nossos corpos mortais. São vasos de barro porque têm a ver com o que

herdamos da natureza terrena de Adão, que foi

criada a partir do barro, dos elementos naturais

deste mundo, que passa. Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu

poder excelente pode se manifestar somente se

a casca do velho homem com suas vontades e

43

desejos for completamente quebrada através

das tribulações, perplexidades, perseguições, e

abatimentos, ao mesmo tempo que somos

consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não

sejamos angustiados, desanimados,

desamparados e destruídos (II Cor 4.8,9). Esta será a experiência de todos aqueles que

consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço

de Deus.

Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer

de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar

em nós.

Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no

seu ego, tem o propósito de gerar a vida de

Cristo nos seus ouvintes (II Cor 4.12).

Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de

modo que ministrando por amor aos homens,

possam abundar as ações de graças, para a

glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a 15).

Eles saberão que um cristão em seu posto de

trabalho, operando fielmente no Espírito, não

desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a Cristo, ainda que o homem exterior se

corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme,

envelheça, porque o homem interior, a saber, o

espírito é renovado gradual e diariamente por

44

Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v.

16).

Assim reconhecerão também que toda

tribulação traz em si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos e participantes da glória

de Deus, e que se tornam leves e momentâneas

comparadas ao peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo,

alma e espírito.

Um cristão experimentado, como Paulo, saberá

discernir a vida espiritual que não se experimenta por vista, mas por fé, que se firma

não nas coisas visíveis que são temporais, mas

nas invisíveis que são eternas.

45

Esvaziar-nos de nós Mesmos Para

Sermos Úteis

"5 Tende em vós o mesmo sentimento que

houve também em Cristo Jesus,

6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se

devia aferrar,

7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma

de servo, tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a

si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e

morte de cruz.

9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre

todo nome;

10 para que ao nome de Jesus se dobre todo

joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,

11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é

Senhor, para glória de Deus Pai." (Filipenses 2.5-11)

Ninguém jamais poderá se humilhar tanto

quanto Cristo se humilhou, pois não era um homem pecador; porém se fez homem, sendo

Deus, exaltado à destra do Pai, coroado de honra

e glória diante dos serafins, querubins, arcanjos

e anjos no céu. Foi desta altura infinita de glória que Ele desceu

até nós humilhando-se a si mesmo, esvaziando-

46

se e tomando a forma de servo, assumindo a

natureza do homem, apesar de ser Deus.

Ele fez isto, porque era governado

completamente por um sentimento de humildade e não de orgulho. É este mesmo

sentimento de Cristo que todos os cristãos

devem possuir. Cristo não considerou uma desonra o fato de ter

sido feito menor do que os anjos, ainda que por

um determinado período, a saber, enquanto

viveu em carne neste mundo esvaziado da Sua glória divina, como vemos em Hb 2.9, porque

considerou maior coisa fazer a vontade do Pai,

relativamente à salvação dos pecadores.

Os cristãos têm um serviço a fazer para Deus, que é a continuidade do mesmo serviço de

Cristo, e para tanto necessitam ter o mesmo

sentimento de humildade que houve em Cristo

Jesus. Nosso Senhor comprovou Sua humildade

através da Sua obediência ao Pai, e é do mesmo

modo que nossa humildade é comprovada

diante de Deus, a saber, na nossa obediência a Ele.

Jesus se manifestou também, para o propósito

de nos ensinar qual é o modo correto de se viver

para Deus. Este modo que nos revelou é em completa

submissão e serviço, mediante a Sua Palavra,

escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da

nossa vontade, gastando-se inteiramente na Sua

47

obra, porque afinal, nos deu vida para que

trabalhássemos para Ele.

Fomos colocados neste mundo para este

propósito. Bem-aventurados são todos aqueles que não somente descobrem isto, como

também se aplicam a isto. A humilhação voluntária de Jesus se comprova também, no fato de que Ele tem o nome que é

sobre todo o nome. Por isso, ao nome de Jesus se

dobra e se dobrará todo joelho dos que estão nos

céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confessa e confessará que Jesus é Senhor,

porque Ele sempre foi e será o Senhor de tudo e

de todos.

Este que é o Senhor foi achado em Seu ministério terreno na forma de servo e em

completa humildade. Servo na verdadeira

acepção da palavra, ou seja, servindo de fato

tanto a Deus quanto aos homens criados à Sua imagem e semelhança.

Como devem ser e andar então, os cristãos, os

quais não estavam na glória do céu antes de

serem gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a mesma intensidade de glória do seu

Senhor?

Caberia, se deixarem dominar por qualquer

forma de orgulho ou vanglória? Jesus viveu suportando pacientemente a

maldade dos homens, em grande pobreza, a

ponto de não ter onde reclinar a cabeça; viveu de

ofertas e sabia o que era a aflição; não viveu em pompa externa e não buscou nenhuma posição

48

que O exaltasse sobre os demais homens,

buscando fama e honrarias deste mundo.

Ele não deu somente Seu serviço aos homens,

mas Sua própria vida; morrendo por eles na cruz.

Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer

tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque Ele estava na glória do céu quando veio

assumir nossa humanidade, ao ser gerado com

um corpo humano no ventre de Maria.

Ele passou a ter a natureza humana, além da natureza divina na qual Ele subsistia.

E, consentiu, apesar de sua perfeição gloriosa,

em suportar conviver com pecadores falhos,

impuros, imperfeitos e ignorantes como nós. Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos

receber a natureza divina para estar em nós,

além da nossa natureza humana.

Para nós, receber a natureza divina é uma grande honra e glória. Mas para Cristo, assumir

nossa natureza humana, sendo Deus, foi uma

grande humilhação. A Palavra, porém nos

afirma que Ele não se envergonhou disto, porque não se envergonha em nos chamar de

irmãos, por ter-se feito semelhante a nós, como

lemos em Hb 2.11 e 11.16.

Nós não somos, por natureza humildes, ao contrário, somos governados pela carne.

Por isso é preciso mortificar a carne para que

possamos ser governados pelo Espírito Santo, e

crescermos em humildade diante de Deus e dos

49

homens, para que Ele possa nos transformar

segundo a semelhança de Cristo.

A nossa vontade natural quer sempre fazer

aquilo que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a vontade de Deus é santa, perfeita,

boa, agradável. É esta vontade que o Espírito

Santo quer implantar em nossa natureza. O Espírito Santo não nos foi dado, portanto para

fazermos o que seja da nossa própria vontade,

mas aquilo que é da vontade de Deus, na

transformação de nossas vidas. Quando o Espírito luta contra a carne, não é para

fazer nossa vontade, mas para aplicar em nossa

vida a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17.

É a graça de Deus que inclina nossa vontade ao que é bom, e nos permite executar o bem.

Não há nenhuma força, mérito ou capacidade

em nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra

de Deus.

50

Escrito na Mente e no Coração

Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus

5 a 7, costumamos pensar que estamos diante de

um novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus Cristo para cumprirmos em complemento

aos mandamentos da Lei de Moisés.

Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus

Cristo não foi esta, mas a de revelar quais são as características pessoais e circunstâncias que

acompanharão aqueles que foram tornados

cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle,

e por terem nascido de novo do Espírito Santo. Ali está descrito sobretudo, quais são as

atitudes, pensamentos, ações e o programa de

vida de um cristão amadurecido. Dizemos amadurecido, porque ninguém amará

seus inimigos, perdoará seus ofensores, orará

pelo bem dos que lhe perseguem, e bendirá os

que lhe amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se considera seus direitos legítimos quando

sofrer injustiças, caso não tenha feito progresso

no crescimento na fé, na graça e no

conhecimento pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu Mestre.

A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso,

longânimo, bondoso, perdoador, para com

todos, inclusive para com os piores pecadores. E assim como Ele é, importa que sejam aqueles

que se tornaram seus filhos amados, por meio

da fé em Cristo.

51

Então o Senhor delineou no Sermão do Monte,

quais são as características essenciais que

estarão presentes naqueles que se converterem

a Ele, como resultado do fruto do Espírito Santo, que operou neles a regeneração (novo

nascimento espiritual) e a santificação

(mortificação das obras da carne e revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos

amadurecidos não são dominados por

amarguras, iras, contendas, gritarias,

glutonarias, e todas as demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia.

Cristãos amadurecidos são longânimos, como

Deus é completamente longânimo. São

amorosos, como Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é misericordioso.

Não são legalistas, moralistas, acusadores, mas

promotores do amor, da paz, do perdão, da

oferta da justiça de Cristo para a justificação dos que se encontram presos às amarras do pecado.

São tardios para se irar e para falar, e prontos

para ouvir, porque sabem que a ira do homem

não promove a justiça de Deus, mesmo quando esta ira é motivada pela defesa dos princípios de

Deus contra o pecado.

A propósito, era justamente isto o que Tiago

queria ensinar quando escreveu a epístola que leva o Seu nome. Ele indicou a necessidade de se

aprender a ser paciente e longânime, debaixo

das mais variadas provações, porque estas

visam ao aperfeiçoamento espiritual do cristão, para que seja conformado ao caráter amoroso,

52

longânime, bondoso e paciente do próprio Deus.

Não estava portanto escrevendo uma cartilha de

bons modos, ou de procedimentos sociológicos

e psicológicos para sermos bem sucedidos em possíveis demandas e disputas com o nosso

próximo, por nos mantermos serenos e calados.

O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no Sermão do Monte, era muito mais profundo

e significativo do que isto. A semelhança com

Jesus Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A

vida de Cristo manifestada no comportamento do cristão. Este é o ponto central. E isto não é

obtido por mero conhecimento intelectual da

vontade revelada de Deus nas Escrituras. Tem a

ver com experiências reais transformadoras da graça de Jesus, do poder do Espírito Santo,

dando-nos um novo coração e um crescimento

progressivo na obtenção das virtudes espirituais

do próprio Deus. Foi para esta exata imagem e semelhança com o

caráter santo de Deus que o homem foi criado

por Ele. De modo que saberemos que temos sido

aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as realidades afirmadas no Novo Testamento,

sendo implantadas no nosso viver diário,

especialmente pela forma como agimos nas

situações que nos são adversas. Então temos estas leis, se é assim que devemos considerá-las

(porque são inscritas por Deus na nossa mente e

coração, ou seja, farão parte da nova natureza

recebida pela fé), como as leis principais que devemos observar e praticar: a do amor a Deus,

53

à Sua Palavra e ao próximo; a da paciência na

tribulação; a da longanimidade na provocação; a

da fé e do ânimo constante nas aflições; a da

mansidão, da paz de mente e coração nas perturbações.

Na verdade, nada disto se obtém por uma

simples vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por uma andar constante no

Espírito Santo, debaixo de um temor e amor real

a Cristo.

Gál 5:16-25: Digo, porém: andai no Espírito e jamais

satisfareis à concupiscência da carne. Porque a

carne milita contra o Espírito, e o Espírito,

contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso

querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não

estais sob a lei. Ora, as obras da carne são

conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades,

porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,

facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas

semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não

herdarão o reino de Deus os que tais coisas

praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor,

alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio

próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que

são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as

suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.

54

O Governo Usurpador da Alma Sobre o

Nosso Espírito

Nós lemos em Hebreus 4.12:

"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais

cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de

juntas e medulas, e é apta para discernir os

pensamentos e intenções do coração".

Este texto fala de separação de alma e espírito pela Palavra de Deus.

Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do

homem formam uma grande unidade, e estão

intimamente ligados, de modo que se pode dizer que são uma só coisa, assim como Deus é um, e

no entanto são três pessoas: Deus Pai, Deus Filho

e Deus Espírito Santo.

Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e

volta para Deus.

Quando o corpo e alma descansam no sono, também descansa o espírito.

Todavia, há diferenças marcantes entre os três.

Mas nos concentraremos neste artigo somente

na alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação de alma e espírito, e o que se quer

afirmar é a distinção das funções

que competem respectivamente ao espírito e à

alma. Com vistas a um melhor entendimento de tudo

o que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de

55

explicar quais são as faculdades da alma, que

não fazem parte do espírito humano.

Entre estas faculdades estão nossos

sentimentos, nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e pensamentos, até mesmo a

nossa razão.

Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem todas estas faculdades referidas.

Cérebro tem a ver com o que é natural, e não

sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos

veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte.

De maneira que ao falar em separação de alma e

espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos

mostrar que precisamos ser governados pelo espírito, e não meramente por nossos

sentimentos, vontade, emoções, pensamentos e

até mesmo pela nossa própria razão.

Somente quando estamos santificados pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de

Deus em nossas vidas, a nossa alma entra

automaticamente debaixo do governo do nosso

espírito e passa a ser uma serva do espírito, ficando este portanto, livre das suas paixões

irregulares e desordenadas que nos levam a

pecar.

Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é do propósito de Deus na criação do homem,

sem que se tenha a habitação do Espírito Santo.

Entretanto, como o pecado continua operando

na carne, há necessidade do trabalho da cruz para que sejamos as pessoas espirituais que

56

Deus planejou desde antes da fundação do

mundo.

Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:

“Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem,

porquanto ele é carnal, mas os seus dias serão

cento e vinte anos.” O que podemos deduzir desta passagem das

Escrituras, senão que Deus não havia criado o

homem para que ele vivesse pelo governo da sua

alma natural? A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à

inclinação da natureza decaída no pecado, e não

propriamente ao fato de o homem também

possuir um corpo físico. Deus é espírito, e criou o homem para ter

comunhão com Ele em espírito, porque é

somente este o modo possível de tal comunhão.

Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a Deus a não ser apenas em espírito e em verdade.

O propósito de Deus na criação do homem é que

este fosse espiritual e não carnal, conforme

veremos neste nosso estudo. Quando Deus diz que o homem se tornou carnal

por causa do pecado é a isto que Ele quer

principalmente se referir, porque não é

governado pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural segundo a carne.

Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego

carnal, para que o Espírito Santo possa assumir

o pleno governo, conforme Deus havia planejado desde antes da criação do mundo.

57

Desde a Queda no Éden a alma deixou de

estar em sujeição ao espírito e passou a assumir

o governo do ser humano, tornando-se assim

uma barreira para o conhecimento experimental da vida de Deus, que é espírito.

Se Cristo não estabelecer o Seu governo no

nosso coração, o que haverá será o governo usurpador da alma contra a vontade de Deus.

Este governo da alma é designado na Bíblia

como um viver segundo a carne. Segundo o

homem natural e não segundo o homem espiritual.

Vale lembrar que a palavra constante de I Cor

2.14 para “natural”, quando Paulo diz que o

homem natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra é no original grego psiquikós, que

significa aquilo que é relativo à alma.

Quando o homem é governado pelas faculdades

da alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá segundo a natureza terrena,

Daí se afirmar que o homem natural, ou seja,

aquele que é governado por um viver segundo a

alma, e não segundo o espírito, não pode entender as coisas do Espírito Santo de Deus.

Os cristãos carnais a que Paulo se refere em I

Cor 3.1 em contraposição aos espirituais, são

designados no original grego pela palavra sarkikós, para carnais, e os espirituais, pela

palavra pneumatikós, que se refere ao espírito.

O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo

viver pela sua própria vida natural e

58

tentar trabalhar e servir a Deus pela sua

própria habilidade natural.

Com isto, ele não chega a ter um conhecimento

verdadeiro e progressivo de Deus, porque este conhecimento decorre de uma comunhão e de

experiências reais com o Espírito Santo de Deus,

em espírito. A carne não pode ter tal comunhão e

experiência com o Espírito Santo de Deus.

Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que

a carne para nada aproveita, e que o que tudo é gerado pela carne é carnal.

Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e

vontade, e razão, que são faculdades que

emanam do nosso cérebro, devem ser submetidos ao governo do Espírito Santo de

Deus, e por conseguinte do nosso próprio

espírito.

A Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de Deus, em Hb 4.12.

Chegará o dia em que não haverá mais esta

dependência do cérebro, ou da alma, quando

sairmos deste mundo pela morte, porque somente o espírito subirá à presença do Senhor,

libertado completamente dos desejos e das

paixões da alma.

Então o espírito terá vida e expressão independentemente do nosso cérebro.

Não há nenhum outro modo para subjugar o

governo usurpador da alma, senão somente

pela crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser carregada voluntária e diariamente.

59

Nos quatro Evangelhos, nós vemos que

Jesus chamou os seus discípulos para

renunciarem ao modo de viver pelo governo das

suas almas, submetendo-o à morte na cruz, para que pudessem segui-lO.

O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver

pela alma é uma exigência absolutamente indispensável, para que os

cristãos possam segui-lO.

Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E

quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua

vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por

amor de mim achá-la-á.".

Neste texto, a palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.

Não se trata propriamente de se matar a alma,

mas o modo de viver pela alma, para que se

possa viver pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas palavras.

Este modo de viver pela alma somente pode ser

morto pela cruz.

É por isso que em outras passagens do Evangelho, como em Lc 14.26,27 por exemplo,

Jesus associou a perda da vida da alma ao ato

voluntário de se carregar a cruz e de se auto

negar, para poder segui-lO. Estes versos nos chamam a perder o viver pela

alma por causa do Senhor, entregando este

viver à cruz, para que seja crucificado, e Ele

ensinou que isto deve ser feito diariamente.

60

De acordo com nosso viver pela alma, nós

fazemos a vontade daqueles a quem amamos,

ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por

isso se impõe a morte deste viver pela alma. Nada há de errado em demonstrar sentimentos

e emoções, mas quando nossos sentimentos,

emoções e vontade são irregulares e são a causa de não nos submetermos à Palavra e vontade de

Deus, é porque estamos sendo pessoas carnais e

não espirituais.

Quando Deus está em conflito com o desejo do homem, embora aquela pessoa

seja a que nós mais amamos, importa antes

amar mais a Deus.

Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é

digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais

do que a mim não é digno de mim.".

Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a

mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda

também à própria vida, não pode ser meu

discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.".

É proibido pelo Senhor que eu ame somente

aqueles a quem eu amo naturalmente.

O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando definiu a sua família como sendo a que é

composta por aqueles que conhecem a Deus e

fazem a Sua vontade.

O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de domínio do afeto natural, de modo que

61

possamos ser cheios do seu amor sobrenatural,

que é um amor por todos os homens, e que não

faz qualquer tipo de acepção de pessoas.

O afeto natural é muito importante, mas convém se dar um passo além e se amar com o

amor ágape, sobrenatural de Deus.

O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de mera amizade, é terreno e inerente à nossa

própria natureza.

Este amor ágape, que é o amor derramado pelo

Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de comunhão entre espíritos, que capacita a tudo

sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados

com as injustiças e ofensas que sofremos, de

modo que é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos.

A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma

alusão à que era usada pelo sumo sacerdote para

dividir o holocausto em partes. Esta espada representa a Palavra que é

usada por Cristo através do trabalho do

Espírito Santo para separar espírito e alma nos

cristãos, de maneira que possam ser verdadeiramente espirituais.

A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É

portanto a palavra do evangelho de Cristo, que

aplicada à mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão do que é espiritual e celestial,

prevalecendo sobre tudo o que se refere ao

homem exterior com suas cobiças e paixões.

62

Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que

existe permanentemente entre a carne e o

Espírito, e vice- versa:

"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao

outro, para que não façais o que quereis." (Gál

5.17). Observe que ele afirma que a carne e o Espírito

se opõem mutuamente para que não façamos o

que seja do nosso querer.

O que ele quis dizer com isto? É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito

lutam contra a lei natural da nossa mente, e

contra as disposições da nossa alma. e, tanto um

quanto o outro pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.

A carne pretende nos levar a pecar ainda que

não o queiramos; e o Espírito Santo pretende

nos santificar e nos levar a viver não pelo que é propriamente da nossa vontade, mas por aquilo

que é da vontade de Deus.

Então o Espírito não luta contra a carne para que

seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.

O Espírito procurará nos levar portanto à cruz

para que a carne possa ser crucificada com as

suas paixões e desejos (Gál 5.24). Como estas paixões e desejos da carne operam

principalmente na mente, então é fundamental

que a mente seja renovada.

Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito para que tenhamos

63

comunhão com Deus, porque ajudará o espírito

nesta comunhão, porque a mente renovada e

guiada não pela carne, mas pelo Espírito Santo.

O Espírito poderá então comunicar à nossa mente renovada o conhecimento da vontade de

Deus revelada na Sua Palavra.

Para entendermos melhor a distinção entre alma e espírito, podemos nos valer

de uma análise do que há no comportamento

dos animais, porque sabidamente eles não são

dotados de espírito como os homens, senão somente de corpo e alma.

Nós podemos, em certo grau, entender o que é

relativo à nossa alma pelo que observamos no

comportamento dos animais, porque tudo o que eles sentem se refere aos poderes da alma,

porque como já dissemos, eles não possuem

espírito.

Há afeto mútuo entre eles, em suas próprias espécies.

Então o nosso afeto natural pertence à alma

animal, e não propriamente ao espírito, porque

animais irracionais possuem isto evidentemente.

Especialmente quando os seus filhotes estão

num estado dependente e precisam do seu

cuidado, exibem um afeto por eles, muito forte como o que é visto em pais humanos.

Podemos acrescentar também, a tristeza que os

animais sentem quando são privados dos seus

filhotes; assim, podemos concluir que o amor paternal e filial como existe naturalmente no

64

gênero humano, é um afeto, não da parte

imortal ou espírito, mas da alma, como algo

instintivo, tal como o instinto de sobrevivência

que há tanto nos homens quanto nos animais. Ninguém supõe que haja alguma bondade

moral no afeto que os animais sentem pelas

suas crias. O afeto que os pais e filhos humanos sentem

mutuamente parece ser da mesma natureza.

Nós não amamos nossos filhos naturalmente,

porque Deus requer isto; nós não os amamos com o objetivo de agradá-los; nós não os

amamos porque é um dever; nosso afeto por

eles parece ser um mero instinto

animal natural, que em si mesmo; nem é santo, nem pecaminoso.

Mas estes afetos, agora no homem caído no

pecado, com toda a sua natureza corrompida,

podem se tornar pecaminosos e conduzirem a outros pecados.

Por exemplo, fica pecaminoso quando nosso

afeto por qualquer criatura é maior do que o

amor com que amamos a Deus, porque Ele requer o primeiro lugar sobre os nossos afetos,

e nos proíbe que prefiramos qualquer objeto ou

pessoa a Ele.

Quando os pais se ocupam em adquirir riquezas e posições para seus filhos,

geralmente eles negligenciam muitos dos

deveres mais importantes que Deus lhes exige

que executem.

65

Quando instruímos nossos filhos de tal maneira

que eles dão mais preferência a seus corpos do

que aos seus espíritos, nós estamos também

dirigindo nossos afetos numa direção irregular e pecaminosa, e esta necessita ser santificada.

Por isso o apostolo Pedro fala em I Pe 1.18 de um

resgate em Cristo de uma vã maneira de viver recebida deste afeto natural da parte de nossos

pais.

Consequentemente é evidente, que o afeto da

alma precisa ser santificado. Se não for santificado, nós não podemos ser

integralmente santos como o apóstolo fala em I

Tes 5.23, que não apenas o espírito e o corpo

devem ser santificados, como também a alma, ou seja, a alma deve fazer a vontade de Deus e

não a sua própria vontade, ou seja do ego.

As Escrituras ensinam que sem santificação

ninguém verá a Deus. Não se deve confundir a santidade com

temperamento amável, porque não há nada da

natureza da santidade num temperamento

naturalmente amável. A santidade consiste em conformidade

à lei de Deus, mas há pessoas que possuem o

temperamento do qual estamos falando, que

não têm nenhuma consideração pela lei de Deus.

Por isso Jesus não faz nenhuma distinção entre

temperamentos quanto à necessidade

comum de arrependimento, regeneração e

66

santificação. Todos necessitam igualmente de

tudo isto.

Também, uma correta moralidade, considerada

isoladamente, não é nenhuma santificação. Veja o homem religioso sem Cristo gabando-se

de sua justiça própria tal como o fariseu da

parábola que Jesus ensinou. Há algo de comunhão verdadeira com Deus em

sua vida?

Ele é movido pelo Espírito Santo?

A falta destas verdades essenciais indicam que a sua moralidade não é a santidade evangélica,

que o homem alcança pela graça e mediante a

fé e na união com Cristo, andando diariamente

no Espírito, por se submeter voluntariamente ao trabalho da cruz.

Este assunto pode nos ajudar a entender a

declaração de Cristo, de que "àquele que não

tem, até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt 13.12); pois vimos que toda coisa que parece ser

naturalmente boa e amável nos pecadores como

o afeto paternal e filial, compaixão, um

temperamento amável, pertence à alma, porém isto morre com o corpo.

Nada sobreviverá à morte, a não ser o espírito

porque é imortal.

Com a morte, isto que parecia se ter, será tirado, e com ela toda esta bondade natural será

perdida, porque não teve a marca da

santificação operada por Deus, sem a qual

ninguém o verá, conforme afirma a Bíblia (Hebreus 12.14).

67

Somente a santidade que procede de Deus pode

fazer com que esta bondade natural se torne

permanente.

Assim, a divisão de alma e espírito, referida em Hb 4.12, não é para a morte, mas para a vida

ressurreta de Cristo, no poder do Espírito Santo,

que é encontrada somente do outro lado da cruz, depois que passamos por ela.

Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida

abundante que Jesus veio nos dar.

Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante. Esta vida é espiritual e eterna.

Deste modo, teremos mais desta vida, quanto

mais mortificarmos o nosso velho homem.

Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus florescerá, no terreno em que a vida do

velho homem for mais mortificada.

E é nesta condição de ter a alma e espírito

separados pela Palavra de Deus, que o espírito é livrado dos embaraços e pesos da alma que

assediam juntamente com o pecado tão de perto

a vida dos cristãos.

Então a alma é levada a compartilhar deste deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e

atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo

mundo.

Tendo as faculdades amadurecidas para discernir tanto o bem quanto o mal, o homem

espiritual pode discernir e vencer toda e

qualquer movimentação do velho homem para

produzir as obras da carne, bem como resistir às tentações da carne, do diabo e do mundo, por

68

uma vigilância e oração constante e

perseverante, em plena sujeição, dependência e

obediência à vontade de Deus (Hb 5.14), por

colocar a sua mente voluntariamente a serviço da nova natureza, recebida na conversão, e não

a serviço do velho homem.

69

A real condição da natureza humana

Por que a inclinação da carne, isto é, da sua

natureza humana decaída no pecado, conforme

Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de inimizade contra Ele. Depois de ter criado o

primeiro homem, Deus plantou um jardim para

ele, e o colocou no jardim, onde havia também

plantado bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a

segunda, a árvore do conhecimento do bem e do

mal. Ambas representavam e significavam

respectivamente para o homem, a vida e a morte.

Este significado não foi removido, até hoje, e

jamais será removido, até que tudo se cumpra, porque Deus tem colocado diante de cada

homem, tanto a possibilidade da vida quanto da

morte.

O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um

agente moral livre quanto ao exercício da sua

vontade, tende, tal como Adão fizera, a se

inclinar para buscar governar e não ser governado; a fazer valer a sua própria vontade e

não a do Criador; a ser independente e não a

criar laços eternos de amor; e assim agindo, se

envereda por causa de suas atitudes e comportamento pelo caminho que conduz à

morte. Deus não criou o homem para que ele

viva para si mesmo, senão para o Seu Criador.

70

Não o criou para fazer a sua própria vontade,

senão a do seu Senhor.

Isto não é um capricho, mas uma demanda da

vida, porque não pode haver vida eterna a não ser na comunhão do homem com Deus,

participando da Sua natureza divina. Antes da

queda no pecado, Adão era inocente, e onde há inocência não há imputação de pecado, porque

a imputação do pecado demanda que haja

consciência do pecado, que haja discernimento

do que seja o mal e do que seja o bem, tornando o homem responsável perante o Seu Criador.

A inocência de Adão foi perdida quando Ele

desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore

do conhecimento do bem e do mal. E se achando debaixo da sentença de morte

produzida pelo pecado, o homem não pode

lançar mão do fruto da árvore da vida, porque a

vida eterna, a vida de Deus, não está reservada para aqueles que se encontram em estado de

inimizade contra Ele, senão apenas para aqueles

que são seus amigos, e o comprovam pelo fato

de Lhe amar e obedecer. Como somente o próprio Deus pode gerar esta disposição e

capacidade para ser obedecido e amado, então o

homem, não poderá de si mesmo, viver de modo

aprovado por Deus. Ele concederá tal capacidade pela operação do

Espírito Santo, somente àqueles que se

arrependerem do estado ruim em que se

encontram os seus espíritos, para que sejam

71

capacitados e transformados pelo Espírito Santo

para amarem e obedecerem ao Senhor.

O homem caído pode portanto ser levantado por

Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há em Cristo, pelo simples arrependimento e fé

na bondade e misericórdia de Deus que estende

a mão para o pecador, para que seja livrado da morte e reviva.

Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do

Senhor. Porque por ela o homem insiste em não

reconhecer que naturalmente encontra-se indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e

mandamentos. Que se encontra naturalmente

condenado à morte eterna, por conta desta

inclinação carnal. Enquanto não reconhecer pelo convencimento

operado pelo Espírito Santo que é um pecador

condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua

vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e ser reconciliado com o Senhor. Agora, não é

suficiente o reconhecimento da condição de ser

pecador, é necessário também rejeitar o mal e

buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-

se a servi-lo por amor, por todos os dias da nossa

vida.

Concluímos assim, que a condição de inimizade contra Deus está intimamente relacionada à

natureza caída no pecado. Ela reside no fato de

estar o homem afastado de Deus. De não estar se

alimentando do fruto da árvore da vida, que é

72

Cristo. O único alimento espiritual que dá vida

eterna a todo aquele que nEle crê.

Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça

e misericórdia, um escape da morte eterna para o homem que crê.

De modo que ninguém precisa permanecer

irremediavelmente perdido e condenado, porque Jesus derramou o Seu sangue na cruz

para que pudéssemos ser resgatados da morte

para a vida. Bendito seja o Seu santo nome.

Louvaremos para sempre a glória da Sua maravilhosa graça.

73

O homem é inimigo de Deus

Soa exagerado fazer a afirmação do nosso título,

contudo, é isto que a Bíblia ensina quanto à

condição de toda pessoa, quanto ao que se refere à sua natureza terrena.

Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza

humana decaída no pecado, é um estado

permanente de inimizade contra Deus? Depois de ter criado o primeiro homem, Deus

plantou um jardim para ele, e o colocou no

jardim, onde havia também plantado bem em

seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore

do conhecimento do bem e do mal.

Ambas representavam respectivamente, para o homem, a vida e a morte.

E este significado não foi removido, e jamais

será removido, até que tudo se cumpra, porque

Deus tem colocado diante de cada homem, tanto a possibilidade da vida quanto a da morte.

O homem, apesar de ter sido criado perfeito e

bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um

agente moral livre, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para buscar governar e não a ser

governado; a fazer valer a sua própria vontade e

não a do Criador; a ser independente e não a

criar laços eternos de amor; e assim agindo, se envereda por causa de suas atitudes e

comportamento pelo caminho que conduz à

morte espiritual (separação de Deus) e ao

sofrimento.

74

Deus não criou o homem para que ele viva para

si mesmo, senão para o Seu Criador.

Não o criou para fazer a sua própria vontade,

senão a do seu Senhor. Isto não é um capricho, mas uma demanda da

vida, porque não pode haver vida eterna a não

ser na comunhão do homem com Deus, participando da Sua natureza divina.

Como pode o ramo viver separado do caule que

deve sustentá-lo?

Somente em Cristo, poderá ser desfeito o nosso estado de inimizade latente contra Deus,

conforme se ensina nas Escrituras, e

comprovado na experiência real da nossa vida.

Rom 5:8 Mas Deus prova o seu próprio amor

para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por

nós, sendo nós ainda pecadores.

Rom 5:9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele

salvos da ira.

Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos,

fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já

reconciliados, seremos salvos pela sua vida;

Rom 5:11 e não apenas isto, mas também nos

gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos,

agora, a reconciliação.

Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele,

75

pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-

se inimigo de Deus.

76

Despindo-se do Velho e Revestindo-se do

Novo

São as paixões e desejos da alma que combatem

contra a nova natureza celestial recebida do

Espírito Santo. Daí se dizer que a carne luta contra o Espírito e

que o Espírito luta contra a carne.

Toda forma de inclinação carnal, prostituição,

impureza, paixões, desejos vis e avareza devem ser mortificados pelo Espírito, para que a nova

vida possa se manifestar no nosso caminhar,

como se lê em Col 3.5.

Mas não é somente a prostituição, impureza, paixões, desejos vis e avareza que os cristãos

devem mortificar, como tudo o mais que é

relativo à carne, isto é, à natureza terrena

decaída no pecado, e por isso devemos também nos despojar da ira, da cólera, da malícia, da

maledicência, das palavras torpes e da mentira,

porque tendo morrido juntamente com Cristo, o velho homem recebeu a sentença de morte e os

crentes estão aos olhos de Deus, como tendo

sido despidos do velho homem e das suas obras

carnais; e vestidos do novo homem, que se renova para o pleno conhecimento de Deus e da

Sua vontade, através do processo da

santificação.

Esta santificação deve ser tanto do espírito, da alma, e do corpo, operando sobre a nossa razão,

mente, vontade, sentimentos e emoções (I Tes

5.23).

77

E a meta desta santificação é nos transformar à

imagem mesma de Cristo (Col 3.8-10).

A santificação não consiste somente no

despojamento ou mortificação do pecado, das obras da carne, mas principalmente na prática

das virtudes que estão em Cristo, que é o grande

objetivo final da santificação. O despojamento do velho homem se faz

necessário para que possamos ser revestidos do

novo.

O revestimento da nova criatura em Cristo consiste na prática da justiça evangélica e das

graças e virtudes do Espírito, que chamamos de

fruto do Espírito - amor, misericórdia,

benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, domínio próprio, alegria, paz, fé

- suportando-se e perdoando-se os crentes

mutuamente, tendo por modelo o próprio

Senhor que lhes perdoou. Esta virtudes são decorrentes da habitação da

Palavra de Deus nos nossos corações, fazendo

nós, provisão para que sejamos enriquecidos

por esta Palavra que nos santifica, em prol da comunhão com nossos irmãs na fé, e para o

progresso do evangelho de Cristo na Terra.

78

Como e porque ser espiritual e não

carnal

Tudo o que se refira a conhecimento, liberdade,

obediência, amor, poder e tudo o mais que for

necessário para sermos efetivos na obra do Senhor, é de caráter espiritual, celestial e

divino.

É algo que recebemos do alto, e que não se

encontra em nossa natureza terrena. Daí Jesus ter ordenado ao primeiro grupo de

cristãos que permanecessem em oração

unânime até que fossem revestidos do poder do

alto. O Espírito que recebemos não é deste mundo

mas do céu, e tudo o que se refere à vida que

devemos ter neste mesmo Espírito também é

recebido do céu. Não é terreno mas celestial. Não é natural, mas

espiritual. O mundo antigo foi destruído pelas

águas do dilúvio porque o homem era carnal e se recusava em se tornar em espiritual.

O propósito de Deus na criação do homem é que

este fosse espiritual e não carnal, ou seja: não

governado pela sua essência natural, por se submeter à direção e poder do Espírito Santo.

Converter-se a Cristo significa portanto,

receber uma nova natureza celestial e

espiritual, que habilita o convertido a ter comunhão com Deus, o qual é puro espírito.

Nos quatro Evangelhos, pelo menos quatro

vezes, o Senhor Jesus chamou os seus

79

discípulos para renunciarem à vida das suas

almas, colocando-a à morte para poderem

segui-lO.

Mortificação da alma não é extermínio, mas renúncia ao ego, aos poderes e faculdades da

alma (vontade, emoção, sentimento, razão,

imaginação etc), para estarem sob o governo do espírito (intuição divina, comunhão espiritual,

consciência, amor, poder, virtude e atributos

santos e divinos).

O Senhor Jesus colocou a renuncia à vida da alma como uma exigência

absolutamente indispensável para que os

cristãos possam segui-lO, para poderem ser

como Ele no serviço deles aos homens, e para serem aperfeiçoados em fazer a vontade de

Deus.

Embora o Senhor Jesus tenha falado sobre a vida

da alma em todas estas quatro chamadas dos Evangelhos, Ele deu uma ênfase especial a cada

uma delas.

Nós sabemos que a vida da alma, na verdade,

tem várias manifestações. Então, o Senhor falou sobre a vida da alma com

ênfases diversas.

A chamada do Senhor é que o homem deve

entregar a vida da sua alma à cruz. Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse:

"E quem não toma a sua cruz, e não segue após

mim, não é digno de mim. Quem achar a sua

vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.".

80

Neste texto, a palavra para vida no original

grego é psiquê, que significa alma.

Não se trata propriamente de se matar a alma,

mas o modo de viver pela alma, para se viver pelo espírito.

Este modo de viver pela alma somente pode ser

morto efetivamente pela cruz. Em Lc 14.26,27, Jesus associou a perda da vida

da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e

de se auto negar para poder segui-lO.

Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma por causa do Senhor, entregando este

viver à cruz para que seja crucificado, e Ele

ensinou que isto deve ser feito diariamente.

Antes destes versos, o Senhor Jesus falou que os inimigos de um homem são aqueles da sua

própria casa, e como um filho, por causa do

Senhor, pode vir a ficar alienado do seu pai, a

filha da sua mãe, e a nora da sua sogra, e vice-versa.

Isto ocorre quando os familiares do cristão não

conhecem ao Senhor ou não andam em

conformidade com a Sua vontade. De acordo com nosso viver pela alma, nós

fazemos a vontade daqueles a quem nós

amamos, ainda que isto contrarie a vontade de

Deus, por isso se impõe a morte deste viver pela alma (sentimentos e emoções sobretudo, que

prevalecem sobre Deus, Sua vontade e Palavra).

Quando Deus está em conflito com o desejo do

homem, embora aquela pessoa seja a que nós mais amamos, e até mesmo por

81

imposição da própria Palavra de Deus que nos

ordena amar os nossos cônjuges, pais e filhos,

por exemplo, importa antes amar mais a Deus

do que a eles, e fazer a vontade de Deus do que a deles, porque Ele deve ser amado acima de

todos e de tudo.

Por isso nós necessitamos da cruz para matar a irregularidade dos nossos afetos, não

propriamente para acabar com eles, mas para

que eles possam existir na ordenação certa e

também para que não sejamos governados por eles, mas pela vontade do Senhor.

A chamada do Senhor Jesus é para nos libertar

do poder de nossos afetos naturais de maneira

que não sejamos guiados por eles em nossas decisões, mas pela Palavra.

Assim, Ele disse em Mt 10.37: "Quem ama o

pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de

mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.".

Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "Se alguém vier

a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e

filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu

discípulo. Quem não leva a sua cruz e

não me segue, não pode ser meu discípulo.".

Em Mateus Ele mostra para o cristão a escolha que ele deveria fazer relativa ao seu próprio

afeto: ele deveria amar o Senhor mais do que

à sua família.

Em Lucas mostra além disso, qual atitude que o cristão deveria ter em relação ao seu próprio

82

viver pela alma (porque aqui neste texto a

palavra para vida é também psiquê no original

grego, que significa alma), e ele deve odiar esta

atitude de viver pela alma, pois Jesus diz que ele deve aborrecer a sua própria vida (Lc 14.26) de

maneira a amar viver pelo espírito

em obediência a Deus e à Sua vontade. Este viver pela alma traz sérios problemas e até

mesmo impede uma vida de comunhão com o

Senhor e com o próximo, pois qualquer

arranhão na comunicação, trará decisões não perdoadoras e não amáveis ´pr arte daqueles

que são dirigidos por emoções e sentimentos.

O cristão não deve apenas amar

aqueles que lhe são familiares e agradáveis e aos quais ele ama naturalmente, mas estender o

seu amor a todas as pessoas.

É proibido pelo Senhor que eu ame somente

aqueles a quem eu amo naturalmente. O viver simplesmente debaixo do governo dos

afetos naturais tende a fazer com que a pessoa

esteja ligada a outros aos quais ama, como

também a exigir o amor deles, enquanto exclui a outros que não pertencem ao seu círculo de

amizades.

A pessoa nesta condição não se conduz pela

justiça e pela verdade, mas pela parcialidade sentimental, que a leva a apoiar os que ama,

mesmo que estejam errados, e a rejeitar os que

lhe tenham contrariado, por terem repreendido

a estes que ama meramente com afeto natural, ainda que estejam certos, na repreensão que

83

fizeram, e por amor à verdade, ao repreendido e

ao Senhor.

Por isso o Senhor Jesus exige que este viver pela

alma deve ser mortificado, pela negação do ego, porque sem isto, não se poderá viver de modo

verdadeiramente santificado, agindo e

pensando em suas decisões e escolhas segundo a vontade de Deus revelada na Bíblia.

A alma deve ser santificada, tornando-se dócil e

obediente ao governo do espírito revivificado e

também santificado. E o corpo responderá também em santificação, porque seus membros

serão usados para servirem a justiça do

evangelho e do reino de Deus.

Daí ser dito em I Tessalonicenses 5.23: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e

o vosso espírito, alma e corpo sejam

conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda

de nosso Senhor Jesus Cristo.” O Senhor Jesus quer nos libertar do domínio do

afeto natural, de maneira que possamos ser

cheios do seu amor sobrenatural, que é um

amor por todas as pessoas, e que não faz qualquer tipo de acepção.

É somente por causa do Senhor, e por estarmos

cheios do Seu Espírito, que nós amamos de fato

a outros que estejam fora do nosso círculo de amizades.

Não é por causa de nosso próprio amor por

outros que nós amamos.

84

Nós amamos, porque recebemos o amor

sobrenatural de Deus que nos possibilita amar o

nosso próximo.

Somente entre aqueles que andam no Espírito cumpre-se o mandamento de Cristo de nos

amarmos uns aos outros como Ele nos amou,

porque somente estes são espirituais, e o amor com que Cristo nos amou é espiritual.

É o amor de comunhão entre espíritos que é

possível de ser visto e vivido somente entre

aqueles que vivem e andam no Espírito. Aqueles que amam com este amor espiritual são

verdadeiramente livres para amar e deixam

também em liberdade aqueles aos quais

ama, porque amando a Deus acima de tudo, não terá nada e a ninguém na conta do seu

"deus".

O Senhor não quer que nós prendamos os

nossos corações em qualquer lugar ou pessoa. Ele quer que nós O sirvamos livremente.

Deus criou o homem para ser amado por ele

acima de todas as coisas.

Isto significa que o homem somente poderá ter saúde espiritual, emocional e física caso viva

em obediência a esta ordem normal

estabelecida por Deus para o seu amor.

Se ele amar alguém ou qualquer outra coisa em primeiro lugar, ele sofrerá em sua própria

constituição as consequências disto.

E de igual modo o homem não deve desejar ter

a primazia em ser amado em primeiro lugar por

85

quem quer que seja, senão sofrerá de igual

modo.

Jesus destacou o amor aos familiares porque

geralmente é nas famílias que se corre maior risco de se eleger alguém como um ídolo, como

um tipo de deus, porque se amamos algo ou

alguém, na prática, acima de Deus, este ídolo passa a ser automaticamente o nosso deus.

Veja como era diferente o caso de Abraão.

Deus o colocou à prova e lhe demandou o seu

único filho para que fosse oferecido em sacrifício.

O temor, obediência e o amor de Abraão a Deus

comprovaram-se naquela prova serem

maiores do que a tudo mais. Por isso Deus lhe disse que cumpriria tudo o que

havia prometido fazer através dele.

Nós aprendemos disto que uma pessoa não

poderá ser útil na obra do Senhor enquanto amar alguém ou algo acima dele.

Ele deve ser o primeiro em tudo, e isto deve ser

de fato, demonstrado nas renúncias que

porventura Ele venha a exigir de nós para que possamos servi-lO.

Quando o fizermos, tudo irá bem conosco.

E o nosso amor pelos outros será um amor

equilibrado. Um amor sadio, um amor que nada cobra para

que possa ser saudável.

Porque tudo estará de acordo com o plano e com

a ordem que Deus estabeleceu quanto ao propósito da criação do ser humano.

86

Se Ele for amado de fato em primeiro lugar, em

demonstrações práticas da nossa vida, então

tudo mais estará bem na nossa relação com as

pessoas que amamos. Amemos intensamente os nossos entes

queridos, amemos fervorosamente, e amemos

também o nosso próximo, conforme nos ordena a Palavra, mas em obediência à mesma Palavra,

amemos a Deus de todo o nosso coração, de toda

a nossa alma e de todo a nossa mente.

O amor a Deus não é um amor para ser expressado em relação a Ele com nossos afetos

naturais, porque Deus é invisível e é espírito.

Então o amor com o qual deve ser amado não é

natural mas espiritual. Deus não quer e nem mesmo pode ser

conhecido pela carne.

O amor natural é da carne e não do espírito.

E sabemos que importa conhecer a Deus somente em espírito porque Ele é espírito.

E na verdade não é somente Cristo que não deve

ser conhecido segundo o conhecimento da

carne (natural), mas até mesmo todas as demais pessoas.

O cristão deve discernir quem são os homens,

não segundo a carne, mas segundo o espírito (II

Cor 5.16). Por isso se faz necessária a separação de alma e

espírito, que é efetuada pela Palavra de Deus

(Hb 4.12).

87

Mas a Palavra de Deus pode efetuar esta

separação somente quando se carrega

voluntariamente a cada dia a nossa cruz.

Se não houver renúncia ao ego, a Palavra não poderá efetuar tal separação.

É preciso colocar a vida no altar para que o

nosso Sumo Sacerdote possa usar a faca da Palavra para nos apresentar como sacrifícios

vivos para Deus.

A visão animista que considera tudo e todos,

inclusive os seres inanimados como dotados de um mesmo espírito, e sendo tudo uma grande

unidade espiritual com Deus, e de igual modo o

teísmo que ensina que Deus está presente em

todos e de igual modo, não possibilitam a busca da separação de alma e espírito, que é ordenada

na Bíblia, e que é necessária para a nossa

santificação em crescimento espiritual.

Como buscaremos fazer aquilo em que não cremos?

Felizes são portanto aqueles que dão ouvido às

palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e que

renunciam ao modo de se viver pela energia da alma (mente), para se viver pelo espírito por Ele

revivificado, renovado e santificado.

Com isto até mesmo o nosso afeto natural será

melhorado extraordinariamente, e não apenas pelos nossos semelhantes, mas também por

tudo o mais que pertence à criação natural.

Se não houvesse necessidade da nossa

cooperação com o trabalho do Espírito Santo, e do conhecimento das coisas que nos são

88

necessárias, conforme reveladas na Bíblia, Jesus

não teria ordenado que os cristãos fossem

ensinados a guardarem tudo o que Ele ordenou

aos apóstolos. É por isso que se impõe a pobreza de espírito e

de humildade (reconhecermos que

dependemos inteiramente de Deus) e de submissão ao Senhor e à Sua Palavra para que

possamos receber a Sua graça, para que seja

efetuado este trabalho de separação de alma e

espírito, de maneira que não sejamos mais governados pela nossa alma com

os seus afetos, mas, sim, pelo nosso espírito.

Assim, se o cristão for humilde, o Espírito Santo

irá, na prática, separar a sua alma do seu espírito, ainda que ele possa nem mesmo ter

conhecimento do modo como Deus processa

esta operação verdadeira e real.

Mas ele perceberá até mesmo racionalmente, que está sendo transformado, de forma

progressiva, numa nova criatura plena na

aquisição das virtudes do Senhor (misericórdia,

amor, longanimidade, etc), em sua própria vida, na medida em que caminha no Espírito, e se

dedicando ao exercício espiritual da meditação

da Palavra, da oração, da comunhão, e de todas

as demais graças que nos aperfeiçoam espiritualmente.

A vida natural, o afeto natural, são muito

importantes, mas quando se vive apenas nesta

dimensão da natureza terrena, jamais se poderá

89

adquirir ou se desenvolver as faculdades

espirituais anteriormente referidas.

Muito pensam equivocadamente que ser santo

é algo doentio e triste. Que os que buscam ser espirituais são pessoas que ficaram de algum

modo frustradas com a vida.

Não há nada mais errado do que este modo de pensar, porque a santificação é o encontro da

verdadeira vida, que é plena de significado e

contentamento.

O que se santifica tudo ama, até mesmo inimigos.

Ama a natureza, os animais, é sensível, e se

encanta com tudo o que Deus criou.

Deus tudo fez para o nosso aprazimento, mas jamais poderemos dar o devido valor e fazer

uma justa apreciação de tudo o que há na vida,

caso não vençamos o pendor da carne,

tornando-nos espirituais. Deus é amor e ama o que criou.

Deus é espírito perfeitamente santo.

Então quanto mais santificarmos o nosso

espírito, mais amaremos, com o mesmo amor de Deus.

O apóstolo nos ensina sobre a luta que existe

permanentemente entre a carne e o Espírito, e

vice- versa: "Porque a carne luta contra o Espírito, e o

Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao

outro, para que não façais o que quereis." (Gál

5.17).

90

Observe que ele afirma que a carne e o Espírito

se opõem mutuamente para que não façamos o

que seja do nosso querer.

O que ele quis dizer com isto? É que tanto a carne quanto o Espírito lutam

contra a lei natural da nossa mente, e contra as

disposições da nossa alma. Isto é, tanto um quanto o outro pretendem ter o

domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.

A carne (natureza decaída) pretende nos levar a

pecar ainda que não o queiramos; e o Espírito Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver

não pelo que é propriamente da nossa vontade,

mas por aquilo que é da vontade de Deus.

Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para

que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.

O Espírito procurará nos levar portanto à cruz

para que a carne possa ser crucificada com as suas paixões e desejos (Gál 5.24).

Jesus disse que as Suas palavras são espírito

e são vida (João 6.63).

É a isto que o apóstolo Paulo se refere em todo o segundo capítulo de I Coríntios, porque ali ele

nos diz que a sua linguagem e pregação não

consistiram em palavras persuasivas de

sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito de poder (I Cor 2.1, 4).

E neste mesmo capítulo ele explica o motivo de

ter agido de tal maneira: ele sabia que devia

pregar somente a Cristo, e este crucificado (o evangelho da cruz- v.2), e como não

91

deveria falar de si mesmo ou da sabedoria

deste mundo, ele pregou e ensinou em

fraqueza, temor e grande tremor (v.3).

Ele sabia que a sua missão não seria cumprida caso ele somente instruísse as mentes dos seus

ouvintes e não os conduzisse à cruz.

Usar de métodos persuasivos e tentar conduzir alguém a Cristo pela força de argumentos não

será produtivo, porque as realidades espirituais

se cumprem pela operação do Espírito Santo nos

corações, enquanto a verdade da Palavra de Deus é pregada ou ensinada.

A própria Palavra de Deus é vida, e produz vida.

Por isso o autor de Hebreus diz que ela é viva e

eficaz. O apóstolo Paulo sabia que a mente natural do

homem não pode entender as coisas espirituais

do reino de Deus, porque elas podem ser

discernidas somente espiritualmente pela revelação do Espírito Santo (I Cor 2. 10), e foi para

este propósito de compreender as coisas de

Deus que o Espírito Santo foi dado aos cristãos

(v. 12). Paulo diz que estas coisas espirituais que nos

foram dadas gratuitamente por Deus devem ser

ensinadas não com palavras ensinadas pela

sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas

espirituais com espirituais (v.13).

Isto implica que é necessário portanto ser um

cristão espiritual para que se possa aprender estas coisas que são ensinadas pelo Espírito.

92

É necessário porque não é através da mente

natural que Deus manifesta e revela as

realidades espirituais, celestiais e divinas, mas

através da revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.

A mentalidade natural não somente não

entende as coisas espirituais como não as aceita, porque lhe parecem loucura (v. 14), isto é,

aqueles que tentam entender a vontade de

Deus sem que seja em espírito, mas

pelo mero exercício da mente natural, rejeitarão a Palavra de Deus, especialmente as

suas exortações relativas à cruz, porque isto

soará exagerado e como sendo uma loucura

para a mente natural. Veja que Paulo pregava somente Cristo e este

crucificado. Isto significa que o cristão está

também crucificado com Cristo e por isso deve

carregar diariamente a sua cruz. Então a mente natural não aceitará as coisas

espirituais porque não pode entendê-las, e o ego

resiste tenazmente para que não seja

crucificado com as suas paixões, e se opõe totalmente ao trabalho do Espírito Santo.

É necessário orar então a Deus, pedindo-Lhe

que quebre esta resistência natural.

Para isto é necessário ter humildade diante de Deus para que Ele nos conceda graça e

misericórdia, revelando-nos estas coisas

preciosas que Ele preparou para aqueles que O

amam, e que os olhos não viram, e que os ouvidos não ouviram, e que jamais penetraram

93

no coração humano (v. 9); isto é, que não podem

ser discernidas pelo homem natural ou carnal,

porque nos são reveladas pelo Espírito Santo

com as palavras que Ele ensina, e não com palavras de sabedoria humana.

O apóstolo Paulo nos diz que se o homem

natural não pode discernir as realidades espirituais, no entanto somente o homem

espiritual pode compreendê-las, porque ele

discerne bem a tudo que nos tem sido dado

gratuitamente por Deus, por meio de Jesus Cristo, porque sendo espiritual ele terá a

revelação destas coisas em sua vida, pelo

Espírito Santo (I Cor 2.15).

Somente o homem espiritual que tem a mente de Cristo pode conhecer a mente do Senhor,

porque não é propriamente a sua mente natural

que lhe propicia tal conhecimento, mas a

revelação do Espírito Santo que é feita ao seu espírito revivificado (v. 16).

Portanto, é necessário vigiar para que o nosso

espírito não esteja inativo ao mesmo tempo que

a nossa mente esteja muito ativa e até mesmo por um longo período, ocupada em entender a

verdade revelada na Palavra.

Por isso a própria Bíblia nos ordena que não

sejamos meramente ouvintes da Palavra, mas praticantes, isto é, que não devemos ficar

satisfeitos apenas com entender a verdade com

a mente, mas experimentar a verdade pelo

poder do Espírito, para que possamos ter o

94

conhecimento real e experimental das coisas

espirituais às quais a Palavra se refere.

Nós já vimos antes que este

verdadeiro conhecimento que é real e experimental não é adquirido meramente por

aquilo que aprendemos com a nossa mente, mas

aquilo que aprendemos por revelação do Espírito em experiências reais em nossa vida.

Tudo o que está revelado na Palavra não é

para o nosso próprio interesse pessoal, mas

para que se cumpram os propósitos de Deus relativos ao Seu povo.

Olhemos por um pouco para a história da Igreja

antiga, o povo de Israel, no período da

restauração, quando Deus os trouxe de volta do cativeiro em Babilônia para a própria terra deles

em Judá, e especialmente para a cidade de

Jerusalém.

O que estava ocorrendo? Qual era o propósito de Deus com

aquela restauração da vida espiritual de Israel?

Era simplesmente o de alegrar alguns fiéis

dentre o povo? Qual era o caráter das pessoas chaves que Ele

usou para liderar Israel?

Qual era o pensamento delas quanto à

necessidade de serem espirituais e consagradas ao Senhor?

Olhemos para a rainha Ester disposta a morrer

se fosse necessário, caso o rei não lhe

estendesse o seu cetro, quando ela decidiu que

95

intercederia junto dele para o livramento do

extermínio de Israel sob o ardil de Hamã.

Olhemos para a atitude do povo e de Mordecai,

que jejuaram e choraram amargamente por causa do decreto do extermínio do povo (Ester

4.1-3).

Olhemos para a atitude de Esdras, depois do povo ter retornado para Judá, mas não vivendo

na santidade prescrita pelo Senhor na Sua

Palavra.

Nós o vemos chorando diante do Senhor no templo, por causa do pecado deles, ao mesmo

tempo que se dispôs a tomar providências para

que eles fossem santificados (Esdras 1.6).

E finalmente, qual foi a atitude de Neemias quando soube do estado de miséria do povo que

se encontrava em Jerusalém?

Porventura ele não chorou, lamentou por

alguns dias e não jejuou e orou perante o Deus dos céus por causa daquela situação em que

Israel se encontrava? (Neemias 1.3,4).

Tudo o que se encontrava em jogo para estas

pessoas não era o que fosse do próprio interesse deles, mas a glória do nome do Senhor

que não estava sendo santificado enquanto o

Seu povo permanecia naquela condição de

miséria espiritual. Eles almejavam que a vontade de Deus fosse

feita, conforme deve ser, na vida do Seu povo.

E por acaso o estado em que a Igreja de Cristo se

encontra presentemente não é de necessidade

96

de restauração em santidade, pela pregação da

rude cruz?

Isto não é motivo para que choremos,

lamentemos e jejuemos tal como Ester, Mordecai, Esdras e Neemias fizeram no

passado?

Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos conceda um coração sempre contrito

perante Ele, e nunca esquecido destas coisas,

para que não venhamos a fixar o motivo da nossa

consagração em nós mesmos, senão somente nEle e na Sua vontade.

As sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de

Apocalipse representam todas as igrejas de

todas as localidades do mundo em toda a história do Cristianismo.

No entanto, elas configuram

as igrejas que estarão predominando no

mundo no tempo do fim, especialmente as três últimas citadas (Sardes, Laodiceia e Filadélfia).

Lembremos também em reforço deste

argumento que Apocalipse foi escrito para

descrever as coisas que acontecerão no tempo do fim.

É bem fácil de identificarmos estes três tipos de

Igrejas em nossos dias, e disto podemos

concluir que a volta do Senhor está mais próxima do que imaginamos.

Nós vemos que uma das notas constantes para

as igrejas que estão vivendo fora da vontade do

Senhor, com exceção de Esmirna e Filadélfia, que permanecem fiéis à Sua vontade, é a

97

chamada ao arrependimento. E que se

ouça o que o Espírito está dizendo às igrejas.

Nós entendemos então que uma das principais

missões dos cristãos fiéis neste tempo do fim é chamar ao arrependimento os cristãos que

estão vivendo de maneira contrária à vontade

de Deus. Esta chamada ao arrependimento deve ser feita

por se proclamar a verdade no poder do Espírito.

Porque é o Espírito Santo que dá testemunho da

verdade juntamente com o nosso espírito. Para tanto é necessário viver em santidade,

porque é pela fidelidade de Filadélfia que

muitos de Sardes e de Laodiceia poderão chegar

ao arrependimento, porque numa igreja corrompida fica quase impossível

conhecer a mensagem do verdadeiro

evangelho, e muito mais ainda o poder para

praticá-la. É nosso dever portanto, se desejamos ser fiéis ao

Senhor, que santifiquemos nossas vidas para

que sejamos cristãos espirituais e úteis no Seu

serviço em favor da restauração da Sua Igreja que se encontra em sua

maior parte corrompida, conforme Ele próprio

a descreve com as palavras que dirigiu às

Igrejas de Sardes e de Laodiceia. Há uma grande recompensa e um grande fruto

para o nosso trabalho no Senhor.

Ele próprio fortalecerá as nossas mãos para a

batalha.

98

Sigamos portanto em frente, perseverando na

fé, certos de que a vitória pertence ao Senhor, e

Ele nos honrará porque nós O temos honrado.

A cruz nos impôs o abandono da confiança em nós mesmos e a inteira confiança no sangue de

Jesus para que fôssemos salvos, e a mesma cruz

continuará nos impondo a necessidade de renúncia ao nosso ego e vontade para que haja a

ação do poder do Espírito para a nossa

santificação, e edificação da Igreja.

Ele fará o Seu trabalho se formos achados submissos e obedientes a

Ele, não inativos, mas despertados em nosso

espírito, e não propriamente pela mera

atividade das faculdades da nossa alma. A crucificação da carne com as suas paixões é

realizada pelo Espírito com base na nossa

escolha voluntária de renunciarmos ao modo de

viver pela alma, para que possamos continuar sendo aperfeiçoados no espírito.

Este é o único modo de sermos frutíferos na

obra de Deus, porque o trabalho espiritual da

nova criação em Cristo Jesus é realizado exclusivamente pelo Espírito, tal como Ele

trouxe todas as coisas à existência na criação

natural, sem necessitar do auxílio de mãos

humanas. Na verdade não somos propriamente nós que

somos os agentes ativos deste processo, porque

o que nos cabe é aceitar o trabalho de

quebrantamento operado pelo Senhor em nós, de maneira que aprendamos a ser

99

submissos à vontade de Deus, para que sejam

implantadas em nós as virtudes de Cristo, que

são designados como sendo o fruto do Espírito.

Assim, a chamada da cruz do Senhor Jesus é para nós odiarmos nosso viver pela alma de

forma que nós achemos a oportunidade para

perder isto e não preservá-lo. Jesus disse que quem perder a vida da alma

achará a verdadeira vida do espírito.

É isto que significa a expressão "quem perder a

sua vida por amor de mim vai achá-la.". O Senhor falou do assunto de odiarmos a nossa

própria vida (viver pela alma).

Assim não se trata de prática religiosa, mas de

uma assunto relacionado à essência mesma da verdadeira vida. Por isso se fala de se achar ou de

se perder a vida. De modo que "aquele que

procurar salvar a sua vida perdê-la-á" (Mc 8.35);

isto é, salvar este tipo de vida que é pelo viver pela alma e não pelo espírito.

Aqueles que vivem deste modo não poderão

achar a verdadeira vida espiritual que procede

de Deus. Se nós não rejeitarmos nosso ego

e perdermos nosso viver pela alma, mas ao

invés disso, seguirmos sua (da alma) ideia,

opinião, e sugestão, e se nós constantemente não negarmos seu direito incondicionalmente

e sem qualquer reserva, levando-a às cinzas,

sem almejar o que nós perderemos, nós não

podemos esperar ter uma vida espiritual e trabalho que agradem a Deus.

100

A razão de nós termos tantos fracassos em nossa

vida espiritual deve-se ao fato de que a morte

desta vida da alma não foi tratada

completamente. Se o trabalho do Espírito Santo não recebe boa

acolhida da nossa parte, a carne prevalece, e

como está naturalmente em inimizade permanente contra Deus, isto apaga o Espírito.

O Senhor Jesus disse: "O espírito é o que vivifica,

a carne para nada aproveita;" (Jo 6:63).

As obras da carne são de nenhum proveito! Tudo aquilo que nasce da carne,

indiferentemente do que possa ser, é carne, e

nunca pode se tornar espiritual.

Se a carne prega, se a carne ora, se a carne lê a Bíblia, se a carne oferta, se a carne canta hinos

de louvor, ou se faz o bem, o Senhor disse que

nada disso tem qualquer proveito.

Não importa quanto os cristãos confiem na carne, Deus disse que é de nenhum proveito e

não ajuda a vida espiritual. A carne não pode

cumprir a justiça de Deus.

"Porque a inclinação da carne é morte" (Rom. 8:6).

Do ponto de vista de Deus, há morte espiritual

na carne. E realmente ela está morta,

espiritualmente falando, porque o espírito do homem está morto em delitos e em pecados, e

somente pode ser revivificado para a comunhão

com Deus, caso renasça do Espírito, e seja

continuamente renovada pelo Espírito Santo.

101

Não há nenhum outro caminho para a carne

senão ser levada à cruz.

Não importa quão capaz é a carne de fazer o

bem, de pensar e planejar, e de ganhar o louvor dos homens, porque aos olhos de Deus, tudo

aquilo que é originado da carne tem a inscrição

em letras maiúsculas: "MORTE". "Porque a inclinação da carne é morte; mas a

inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a

inclinação da carne é inimizade

contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser" (Rom. 8:6,7).

A carne está completamente contra Deus e não

tem nenhuma possibilidade de ser entrosada

com Deus. Viver na carne significa viver pela própria

energia independentemente de Deus, daí a

incompatibilidade que há entre a carne e tudo

aquilo que se refere a Deus, que é espírito. A alma daqueles que vivem na carne está em

rebelião contra o Senhor, contra a Sua vontade e

Palavra, e é fortalecida nesta sua resistência ao

Espírito quando a pessoa não possui uma mente que tenha sido renovada.

Mas naqueles em que houve um tratamento da

alma pela cruz, pela crucificação da carne com

as suas paixões, e pelo hábito continuado deles de procurarem fazer a vontade do Senhor,

a alma é uma boa serva do espírito, e mesmo

quando este está em silêncio, a alma e a mente

continuarão se ocupando daquilo que é do interesse de Deus, e vigiará contra Satanás,

102

contra o pecado e contra as investidas do

mundo com suas tentações, e o resultado disto

é vida e paz.

E quando a pessoa se mover para exercitar o espírito em oração, louvor, pregação ou em

qualquer outra forma de se exercitar o espírito,

este logo entrará em atividade, pelo hábito formado da comunhão com Deus.

Não haverá resistência da carne porque estará

crucificada; nem oposição da alma e da mente,

porque estão inclinadas para Cristo e Sua vontade; e assim fazer a obra de Deus, a par de

toda a oposição que se possa sofrer, será um

prazer.

Por isso uma pessoa somente despertada pela Palavra de Deus, que queira servi-lo, temê-lo,

amá-lo, sem ter sido nascida de novo do Espírito

Santo, não poderá de modo algum ter no seu

viver o fruto do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5.

O cristão espiritual buscará a comunhão com o

Senhor e com os irmãos na fé.

Ainda que o princípio do pecado continue operando na carne, todavia a mente terá prazer

na lei de Deus e buscará servi-lO.

E por esta disposição de uma mente renovada o

cristão espiritual buscará auxílio em Cristo para que o Espírito Santo vença toda tentativa de

manifestação do pecado na carne.

E ele terá sucesso nisto por causa da prática que

tem em exercitar suas faculdades espirituais

103

para discernir tanto o bem quanto o mal (Hb

5.14).

Por isso se vê o espírito apagado nos cristãos

carnais como que se o espírito deles estivesse de fato morto, exatamente porque caminham na

carne e não no Espírito, porque como vimos em

Rom 8.6 a inclinação para a carne dá para a morte das graças espirituais, mas a inclinação

do Espírito dá para a vida e paz.

Assim, concluímos que a vida poderosa de Deus

não se manifesta na carne, mas no espírito. Quando o cristão anda na carne, ele mata a vida

espiritual que é decorrente do Espírito.

"e os que estão na carne não podem agradar a

Deus." (Rom. 8:8). Esta é a resolução final. Não importa quanto possa ser boa a conduta do

homem, caso tenha o ego como sua fonte,

nunca poderá agradar a Deus.

Deus somente pode ser agradado pelo Seu Filho.

Aparte de Cristo e do Seu

trabalho, o homem e as suas obras não podem

agradar a Deus. Embora nós, seres humanos façamos uma

distinção entre bem e mal baseando-nos apenas

no comportamento, a distinção que Deus faz não

está limitada ao comportamento porque Ele pesa também as intenções e contempla

os nossos corações, e acima de tudo,

especialmente na Sua obra na Igreja Ele leva em

conta qual é a fonte das nossas ações, se a carne ou o Espírito.

104

Acima de tudo lembremos que o homem foi

criado por Deus para viver não segundo a carne,

mas segundo o Espírito.

Assim a carne deve ser obrigatoriamente mortificada pela cruz se pretendemos viver de

modo agradável a Deus.

Daí podemos afirmar que ser espiritual é um dever que nos é imposto por Deus, e devemos

então nos empenhar em conhecer o como e o

porque de ser espiritual e não carnal.

O texto de Ef 4.20-24 fala da crucificação e despojamento do velho homem (carne,

natureza terrena), para o revestimento do novo

homem (nova criatura, nova natureza

espiritual). “Efs 4:20 Mas não foi assim que aprendestes a

Cristo,

Efs 4:21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele

fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, Efs 4:22 no sentido de que, quanto ao trato

passado, vos despojeis do velho homem, que se

corrompe segundo as concupiscências do

engano, Efs 4:23 e vos renoveis no espírito do vosso

entendimento,

Efs 4:24 e vos revistais do novo homem, criado

segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.”

Somente a santificação pela aplicação deste

fundamento que nos é ensinado pela Palavra

nos tornará úteis na obra de Deus (II Tim 3.16,17).

105

Romanos 7:22 diz: "Porque, segundo o homem

interior, tenho prazer na lei de Deus;".

Nosso homem interior (nova criatura) tem

prazer na lei de Deus. Então quando temos prazer em obedecer todos

os mandamentos de Deus isto é sinal que temos

sido despojados do velho homem, pelo trabalho progressivo de santificação do Espírito Santo,

relativo à mortificação do pecado.

Efésios 3:16 também nos diz que sejamos

fortalecidos com poder pelo Espírito no homem interior.

Paulo disse também em II Coríntios 4:16: "mas

ainda que o nosso homem exterior se esteja

consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.".

A nova criatura é pura, santa, celestial,

espiritual e divina. Ela foi recebida do alto,

porque somos feitos novas criaturas por um novo nascimento do Espírito, procedente das

alturas.

Por isso nosso Senhor destacou nas bem-

aventuranças, a pureza de coração como condição para se ver a Deus.

Esta pureza está justamente em não

misturarmos as coisas relativas ao Espírito com

as obras da carne, conforme mencionadas em Gálatas 5.

Quem ama a santidade odiará a impureza.

Não permitirá que a facilidade em se irar

conviva ao lado da longanimidade; que indolência espiritual vença a diligência; e em

106

tudo o mais, buscará o que é relativo à nova

criatura, pela mortificação daquilo que

pertence ao velho homem.

Algumas pessoas pensam que contanto que eles recebam poder de Deus, tudo o que eles têm

será purificado e será usado por Deus para o

serviço dEle. Mas isto nunca acontecerá, enquanto

prevalecer um viver carnal, por se inclinar

àquilo que é da carne, e não do espírito.

Não se obtém o fruto do Espírito Santo por imposição de mãos, ou declarações de

recebimento de poder instantâneo, porque isto

é feito progressivamente pela obra de

santificação, que será tanto maior quanto maior for a nossa consagração a Deus e à prática da Sua

Palavra.

Quanto mais nós conhecemos a Deus, mais nós

buscamos pureza e santidade acima do poder. Na verdade, sem pureza, sem santificação, não

há um poder espiritual operante, porque este

poder é sempre, em primeiro lugar,

transformador e renovador, no que se refere à nossa própria vida.

Enquanto não despertamos para viver buscando

o reino de Deus e a sua justiça em primeiro

lugar, nunca conheceremos isto ou a sua profundidade, porque é concedido pelo Senhor

somente àqueles que Lhe obedecem.

Nosso Senhor foi muito incisivo quando disse

que se não guardarmos os seus mandamentos nós não O amamos, e que Ele e o Pai se

107

manifestam apenas àqueles que guardam os

Seus mandamentos.

Então é possível até mesmo ser de Jesus,

conhecer a Jesus, e não prosseguir no conhecimento da graça e do Senhor, contra a

ordenança apostólica de II Pedro 3.18.

Quando isto sucede, a consequência natural é ser carnal, e não espiritual.

Quando se é espiritual, disciplinamos nossos

filhos e nossos irmãos em Cristo.

Há muito desgaste e trabalho envolvido nisto, mas o fazemos por amor ao Senhor e à Sua

Palavra, independentemente do quanto isto

possa nos contrariar ou a eles.

Nós também aceitamos de bom grado a palavra de repreensão e de disciplina, caso tenhamos

dado ocasião a isto, porque sabemos, pela

Palavra, que tem por finalidade, nos preservar

do mal. Nós lutamos bravamente contra as tentações

carnais, e ficamos satisfeitos ao ver que elas vão

ficando cada vez mais fracas, e as graças cada

vez mais fortes, à medida da nossa perseverança na obediência e fidelidade ao Senhor e aos seus

mandamentos.

Um viver segundo a carne já não nos atrairá com

a mesma facilidade do passado, e passamos a ter real prazer numa vida santificada, e não ficamos

satisfeitos com a medida presente das graças

que possuímos, porque há um princípio vivo

espiritual que é o de graça sobre graça, ou seja,

108

ela sempre chama por maiores medidas e nos

impulsiona a isto.

Tudo devemos fazer para a exclusiva glória de

Deus. Quando assim procedemos, Deus em sua

infinita bondade, faz com que nos sintamos

plenamente satisfeitos, e Ele faz com que desfrutemos todas as coisas com

contentamento e moderação.

Quando somos espirituais, até mesmo o nosso

afeto natural é excepcionalmente melhorado, porque ele se estende a todas as pessoas, e não

somente a pessoas, como a tudo o mais na

criação.

Nossas mãos afagarão em vez de ferir, e se movimentarão pelos comandos de um coração

santificado.

Daí dizer o apóstolo Pedro:

“1Pe 3:8 Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos,

misericordiosos, humildes,

1Pe 3:9 não pagando mal por mal ou injúria por

injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de

receberdes bênção por herança.

1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias

felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;

1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,

busque a paz e empenhe-se 17 - Hábitos são

Ditados Pelo Tipo de Natureza que se Possui

109

Os hábitos de um gato são ditados pelo tipo de

natureza dos gatos; isto se aplica

respectivamente a todas as demais espécies de

animais. Quanto ao homem, seus hábitos são ditados pela

natureza humana, todavia como fora criado

para ser à imagem e semelhança de Deus necessita para tanto, possuir também a natureza

divina, para que possa atingir o propósito pleno

da sua criação.

Assim, a natureza humana não pode responder por si só aos hábitos que são inerentes à

natureza divina; pois não carrega consigo os

hábitos de santidade que são exclusivos à

natureza de Deus, ao contrário, em razão da queda no pecado carrega um princípio que é

totalmente contrário ao citado hábito de

santidade.

Acrescente-se a isso, que sem o arrependimento e a fé em Jesus Cristo é

impossível ser participante da natureza divina.

Antes da Queda no pecado original a natureza

humana se inclinava somente para o que é bom. Mas, com a Queda, passou a se inclinar também

para o que é mau, e esta inclinação passou a ser

o princípio dominante que opera na natureza

humana, pois o homem é mais inclinado para o mal do que para o bem, conforme se vê na

experiência prática, e sendo confirmado pelas

palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e dos

apóstolos, de que temos um coração perverso do qual procedem todos os tipos de males, e os

110

quais são referidos pelo apóstolo Paulo como

sendo obras da carne.

Então “carne”, neste sentido bíblico, nada mais

é do que a inclinação pecaminosa que habita na natureza humana, ao lado da primitiva

inclinação para o bem, e que pode ser sufocada

agora por esta má inclinação em muitas ocasiões e modos.

Esta inclinação original da natureza humana

disposta para o bem nada pode fazer contra esta

inclinação para o mal que leva o homem a pecar; ou seja, não pode tratar com a raiz do pecado no

que se refere a subjugar e remover a fonte dos

desejos maus.

Somente a natureza divina, que é recebida na conversão, por meio da fé em Cristo, tem o

poder que é capaz de subjugar a inclinação

pecaminosa da natureza humana.

Daí se afirmar que o Espírito que em nós habita, e que ativa e opera esta natureza divina, se opõe

à carne, ou seja, à má inclinação de nossa

natureza, que nela penetrou desde a Queda no

pecado original. Então, se somos instruídos pelo Espírito,

submissos ao Espírito, movidos e guiados pelo

Espírito, especialmente em relação àquelas

atitudes e comportamentos santos da Palavra de Deus, podemos subjugar a má inclinação da

natureza humana que dá para a morte

espiritual, e assim, podemos experimentar a

vida de Deus e a paz que dela decorre (Rom 8.6).

111

É nisto basicamente que consiste a nossa

semelhança com Deus, ou seja, a nossa efetiva

participação de sua natureza divina, traduzida

nas operações progressivas do Espírito Santo para forjar em nós atitudes, comportamentos,

atos e pensamentos que sejam cada vez mais

condizentes com a nossa inclinação para aquela santidade que é inerente à natureza divina, e

que existe somente naqueles que pertencem a

Jesus Cristo.

Assim, perdemos muito desta semelhança com Deus quando não andamos no Espírito, ou seja,

quando não somos instruídos, dirigidos e

movidos por Ele, por causa de andarmos

segundo a má inclinação que é para a carne (pecado), porque em vez de produzirmos o fruto

do Espírito em nossas vidas, produzimos as

obras da carne.

À luz destas verdades bíblicas podemos entender porque simples atos bons morais não

configuram necessariamente aquela santidade

divina à qual somos chamados, porque a antiga

inclinação para o bem da natureza humana pode responder a isto.

Assim, é possível praticar o bem e não ser

participante da vida de Deus, porque é certo que

em todas as pessoas, esta habilidade para o bem sempre é acompanhada de perto e subjugada

por uma outra inclinação que é mais poderosa,

ou seja, a que é para o mal, e sendo Deus,

completamente santo e justo, não pode habitar onde o problema do pecado não tenha sido

112

resolvido, pelo perdão e pela justificação que

existem somente por meio da nossa fé no

Senhor Jesus Cristo.

por alcançá-la. 1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam

sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos

às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males.”

113

Não Mais na Carne

“Rom 8:1 Agora, pois, já nenhuma condenação

há para os que estão em Cristo Jesus.

Rom 8:2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da

morte.

Rom 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei,

no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de

carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e,

com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,

Rom 8:4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a

carne, mas segundo o Espírito.

Rom 8:5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se

inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.

Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a

morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade

contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,

nem mesmo pode estar.

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.

Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.

Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo,

na verdade, está morto por causa do pecado,

mas o espírito é vida, por causa da justiça.

114

Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que

ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse

mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os

mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.

Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,

não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,

caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,

mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.

Rom 8:14 Pois todos os que são guiados pelo

Espírito de Deus são filhos de Deus.”

A força e o foco do argumento do apóstolo Paulo,

nesta seção do oitavo capítulo da epístola aos

Romanos repousa na verdade espiritual de que

em Cristo nenhum servo autêntico de Deus, nascido de novo do Espírito Santo, encontra-se

em estado de inimizade com Deus, por não estar

reconciliado com Ele.

Todos, sem uma única exceção, são filhos amados, por meio da sua união com Cristo.

Foram resgatados de um viver exclusivamente

pela energia da natureza terrena, porque

encontram-se agora também dotados de uma nova natureza, pela habitação do Espírito Santo,

que está destinada a destruir e a despojá-los da

antiga natureza terrena pecaminosa.

Já são assim considerados, embora ainda neles remanesça o velho homem com suas paixões

115

terrenas, de modo que deles se diz que não estão

mais na carne, caso tenham de fato a habitação

do Espírito Santo.

Deus os vê na nova natureza que lhes deu por causa da fé em Cristo. E os chama a

mortificarem os feitos da velha pelo poder da

nova, de modo que tenham toda a plenitude da vida espiritual que se encontra em Jesus Cristo.

Já se encontram na posse da vida eterna, mas

necessitam crescer na graça e no conhecimento

de Jesus, pela mortificação do pecado e por um andar no Espírito Santo.

É evidente que, quando o cristão faz provisão

para as obras da carne, que ele não está

agradando a Deus, mas ele possui, pelo Espírito que nele habita, a condição de reverter este

quadro pela confissão e abandono do pecado,

com a devida consagração ao Senhor.

Mas, não é ao cristão que Paulo está se referindo, quando diz:

“Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não

podem agradar a Deus.”

Porque, seu propósito, quando faz esta afirmação no contexto desta epístola aos

Romanos, é o de demonstrar que não ter a Cristo

significa não ter consequentemente a nova

natureza celestial e divina, senão apenas a terrena, que é designada na Bíblia pela palavra

“carne”.

Assim, não é possível se agradar a Deus, por

qualquer obra religiosa ou de caráter de benemerência, com vistas à salvação ou à

116

comunhão, porque a carne não está sujeita a

Deus, não lhe ama, nem os seus mandamentos,

e não está habilitada a fazer a sua vontade,

porque isto é possível somente quando somos transformados e dirigidos pelo Espírito Santo.

Como o cristão possui a referida habitação do

Espírito ele pode realizar o trabalho de mortificação do pecado, pela operação do

Espírito.

Como este trabalho é realizado pelo Espírito,

podemos concluir consequentemente que não se pode ver isto sendo feito naqueles que não são

de Cristo.

Palavras proferidas por Jesus Cristo:

João 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em

verdade te digo: quem não nascer da água e do

Espírito não pode entrar no reino de Deus. João 3:6 O que é nascido da carne é carne; e o que

é nascido do Espírito é espírito.

Palavras proferidas por Paulo:

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não

podem agradar a Deus.

Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,

esse tal não é dele.

117

Nós percebemos que foi do ensino de nosso

Senhor Jesus Cristo em João 3.5,6, que o apóstolo

Paulo baseou a sua afirmação no texto de

Romanos 8.9 de que o cristão não está na carne mas no Espírito.

Ora, por que ele fez tal afirmação, uma vez que

apesar de ter nascido de novo do Espírito, o cristão permanece, enquanto neste mundo, sob

a influência da carne (natureza terrena

pecaminosa) que ele ainda possui?

Só podemos entendê-lo a partir do ensino de Jesus que disse que o que é nascido do Espírito é

espírito.

Não se diz que será, mas que já é espírito.

Ou seja: seu espírito que se encontrava morto em delitos e pecados foi revivificado. É agora um

ser espiritual aos olhos de Deus. Sua natureza

carnal recebeu a sentença de morte na cruz

juntamente com Cristo, e está sendo despojada pela nova natureza espiritual e celestial, que

também habita no cristão.

O Espírito Santo não produz naturezas

pecaminosas, mas santas. Daí se dizer que todo o que é nascido do Espírito é espírito.

Mas o que não é nascido do espírito não pode

agradar a Deus, porque tudo quanto pode gerar

é a mesma natureza terrena pecaminosa que possui, ou seja, o que a Bíblia chama de carne.

Este é o único legado e marca que pode deixar

para outros.

Além disso, deve ser considerado, conforme o apóstolo expressara anteriormente em

118

Romanos 7, que o que é nascido do espírito

possui uma mente e uma nova natureza que se

inclinam para Deus e para os Seus

mandamentos. Por ter sido feito espírito e por ter sido crucificada a carne, por causa da fé em

Jesus, não ama o que é carnal, mas o que é

espiritual e celestial.

119

A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada

aproveita; as palavras que eu vos digo são

espírito e vida.” (João 6.63)

Observe atentamente o seguinte relato, baseado

em fatos reais:

Um homem pacífico, justo, piedoso e temente a Deus sofreu um infarto agudo do miocárdio que

o conduziu ao internamento numa Unidade de

Tratamento Intensivo (UTI), e como a grave

insuficiência cardíaca produziu um edema pulmonar, não diagnosticado e identificado pela

UTI, o mesmo passou a ter séria dificuldade para

respirar, e num estado de semiconsciência gemia intermitentemente para conseguir

aspirar e expirar um pouco de ar. Pessoas do

grupo de enfermagem mandavam-lhe

asperamente que calasse a boca, achando que estava fazendo aquilo de propósito. Então um

psiquiatra foi convocado a dar o seu parecer, e

este entendeu que o melhor seria ministrar-lhe

uma forte dose de drogas tranquilizantes (que ele veio a saber posteriormente tratar-se da

chamada “boa noite Cinderela”, e também

medicação para esquizofrenia) que vieram a

fazer um efeito reverso, pois em vez de ser tranquilizado, veio a saber que no período que

esteve inconsciente passou a ter um

comportamento descompassado proferindo

palavras desconexas. Então um psicólogo foi

120

convocado para dar o seu parecer e este chegou

à conclusão que se tratava de um paciente mais

psiquiátrico do que cardiológico, tendo feito

constar em seu diagnóstico que se tratava de pessoa descontrolada e agressiva. Com isto o

mesmo foi amarrado firmemente na maca em

que se encontrava, tendo suas mãos e pés imobilizados. Quando voltou horas depois ao

estado de consciência, sua insuficiência

respiratória e cardíaca se agravou porque se viu

naquelas condições, estando com o corpo nu em um ambiente cuja temperatura nunca

ultrapassava os 18 graus centígrados. Seu estado

que era crítico e de debilidade extrema por

causa do infarto se agravou ainda mais quando se viu naquela condição humilhante de

desproporcional ao que de fato necessitava. Os

médicos cardiologistas limitaram-se

simplesmente a lhe ministrar os medicamentos vasodilatadores que haviam sido prescritos na

unidade de emergência, sem que lhe fosse

prescrito o uso de qualquer diurético para fazer

o edema pulmonar recuar. Sequer tivera seus pulmões auscultados ou radiografados, bem

como nenhum eletrocardiograma ou

ecocardiograma havia sido realizado naqueles

primeiros dez dias de internação. Não fosse a graça de Jesus que fortalecia o seu espírito

enfraquecido, para sustentar a sua alma abatida

e o seu corpo amortecido pela enfermidade,

certamente não teria suportado todo aquele tipo de atendimento que estava recebendo.

121

Ninguém... quer na equipe de médicos, quer na

de enfermagem, demonstrou amor, compaixão

ou empatia pelo estado em que se encontrava,

nem sequer houve até aquele momento um só samaritano entre eles que se sensibilizasse pela

sua condição de sofrimento, pois em suas

consciências todos estavam desculpados e justificados pela ideia ilusória de que estavam

realizando competentemente as funções

técnicas para as quais haviam sido adrede

preparados. Eles estavam trabalhando com um pedaço de

carne que viera ter às suas mãos, assim como o

açougueiro trabalha fria e insensivelmente em

cada pedaço de corte com o seu facão, e não propriamente com um ser humano dotado de

razão, vontade, intelecto, sentimentos, e

emoções.

Quer para onde nos voltemos na rede hospitalar, será este o quadro que

encontraremos, e as raízes desse

comportamento se encontram nos seguintes

motivos, dentre outros: É impressionante a extensão da ignorância que

existe sobre as faculdades da alma e do espírito

humano por parte da prática científica, uma vez

que de há muito as universidades, no afã de separarem a ciência da religião, acabaram por

eliminarem também a subjetividade atrelada à

religiosidade, por considerar que a pesquisa

científica deveria se ater apenas à objetividade, de forma que tem sido este o modo de pensar

122

universitário, que mais e mais se expande com

um foco eminentemente materialista,

esquecendo-se que a parte nobre do homem

não se refere à biológica, mas à sua alma e ao seu espírito.

Como a noção de espírito e alma canaliza para a

divindade, uma vez que Deus é espírito, o humanismo, contradiz-se a si mesmo, ao negar

a participação de ambos na prática científica,

porque reduz a humanidade ao objeto, pela

negação da parte imaterial, tendo em vista deixar do lado de fora a influência e realidade de

Deus no ser humano total.

A secularização da universidade excluiu dos

programas de ensino toda e qualquer abordagem de caráter subjetivo, porque as

emoções, os sentimentos, a vontade, a

imaginação, a intuição, a consciência, e todas as

demais faculdades da alma e do espírito do homem não contam onde o que se persegue e

estuda é apenas a compreensão objetiva da

matéria, a saber, do universo material que nos

cerca, aí incluído o nosso próprio corpo. A própria práxis psicológica e psiquiátrica, das

quais se deveria esperar uma maior pesquisa

das faculdades psicológicas e espirituais, no

âmbito da subjetividade em que elas existem, é eminentemente acadêmica e empírica, focada

na objetividade, voltada simplesmente para a

busca de resultados aplicados às áreas

terapêutica, profissional, pedagógica dentre outras, e não propriamente à compreensão para

123

a elevação e edificação do próprio espírito e

alma humanos.

O grande paradoxo nisto tudo é que o corpo e a

matéria passam, mas o espírito é eterno, de modo que se prioriza não o que permanece,

senão o que é temporário. E que sabedoria real

há nisto? Todo o esforço da sociedade secular se

concentra portanto não na edificação do ser

humano, quanto à sua necessidade de

crescimento pessoal pelo amadurecimento e aperfeiçoamento de suas faculdades

psicológicas, espirituais e morais, no que

poderíamos chamar de busca do homem total,

pleno da vida e da consciência de Deus, mas o esforço se concentra meramente na formação

acadêmica secular pela obtenção de

conhecimentos e habilidades para a atuação na

produção de bens e serviços materiais, visando-se não ao sujeito, mas ao objeto. O homem nada

mais deve ser do que um mero consumidor e

executor das práticas em que foi formado

através dos programas de ensino seculares. Um ser espiritual sendo reduzido à matéria! A

parte nobre da alma sendo negligenciada em

prol do corpo – que é o invólucro temporário do

espírito! Ainda assim, gaba-se o cientista de viver de

modo objetivo, ignorando que a subjetividade

que conduz à religiosidade é inerente ao espírito

humano, ali instalada pelo próprio Deus, para que fosse buscado pelo homem para ser

124

adorado por ele. Ora, negar tal realidade é negar

a Deus o direito que Ele detém sobre a criatura!

E, por conseguinte, nega-se também a própria

humanidade, porque esta não pode existir na verdadeira acepção da palavra, caso esteja

alijada da vida divina.

A adoração é uma das faculdades que pertencem exclusivamente ao espírito humano,

pois é notório que mesmo nos animais que são

dotados de alma, a mesma não existe em razão

de não serem dotados de um espírito, que é a parte que distingue o ser humano de tudo o mais

que existe na criação.

Assim, Deus não poderia ter errado o grande

alvo ao nos dar a revelação da verdade na Bíblia, uma vez que ela tem em vista o resgate e a

restauração da humanidade, sobretudo da alma

e do espírito, conforme podemos verificar em

inúmeras passagens bíblicas. São faculdades do espírito: Consciência,

comunhão, adoração, intuição, amor ágape, fé,

revelação, e tudo o mais que faz parte do Espírito

Santo, que pode ser gerado no espírito humano: paz, alegria, domínio próprio, bondade,

fidelidade, mansidão etc.

São faculdades da alma: emoção, vontade, razão,

sentimento, e tudo o mais que se refere às funções cerebrais tanto em humanos quanto

em animais.

Mas, na apreciação das faculdades da alma e do

espírito, não devemos nos limitar às que foram anteriormente citadas, sem levar em conta a

125

grande gama de realidades invisíveis que

operam em ambas, e que são traduzidas em

nosso comportamento, e em especial em nossos

relacionamentos interpessoais. Sem que entremos no mérito do que é

pertinente exclusivamente ou não à alma ou ao

espírito, destacaremos algumas destas realidades que podem ser classificadas como

virtudes (quando correspondem ao que existe

no caráter de Deus), tendo ao seu lado a

designação da realidade negativa que lhe corresponde, por pertencer à natureza caída

terrena.

Humildade – arrogância, soberba, Misericórdia – implacabilidade, crueldade

Perdão – mágoa, rancor, juízo condenatório

Pureza – fornicação, impureza

Fidelidade – adultério, traição Gratidão – ingratidão

Hospitalidade – inveja, ciúme

Gentileza – rudeza, vileza

Afabilidade – desafeição Coragem – covardia

Altruísmo – ganância

Veracidade, sinceridade – hipocrisia, falsidade,

mentira Justiça – injustiça

Amizade – inimizade, ira, porfia

Generosidade – egoísmo

126

A lista é extensa e aplicável sobretudo às

virtudes ou erros do espírito humano que

podem ser melhoradas (virtudes) ou agravados

(erros), quando respectivamente nos aproximamos ou nos afastamos da operação da

graça de Deus.

Daí sermos exortados como crentes, em II Coríntios 7.1: “Ora, amados, pois que temos tais

promessas, purifiquemo-nos de toda a

imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando

a santificação no temor de Deus.” Ora se tais virtudes destacadas, dificilmente são

achadas em plenitude nos próprios crentes que

têm o Espírito Santo de Deus, por serem de

Cristo, quanto mais se poderia esperar achá-las como virtudes genuínas e não o fruto de

hipocrisia, em pessoas que não amam a Cristo e

os Seus mandamentos?

Quem esperaria colher maçãs em um espinheiro?

Podemos observar nas passagens bíblicas do

Novo Testamento que a palavra psique – alma,

(da qual se origina a palavra psicologia) é várias vezes empregada para designar não o corpo

físico humano, mas a parte imaterial animada,

de modo que é costumeiramente traduzida por

vida, para melhor expressar o significado a que se refere. De modo que, por exemplo, quando

nosso Senhor afirma que veio para dar a sua vida

em resgate de muitos, ele não está se referindo

apenas à morte física, mas muito mais do que isso, a saber, que Ele entregou todo o seu ser

127

com todos os poderes e faculdades animados e

inteligentes da alma, do espírito, e não apenas

do corpo, ou seja, ele entregou-se totalmente

por nós. Concluímos, pois, quão iludidos e enganados

estão todos aqueles que julgam a Bíblia como

sendo um livro ultrapassado e que não trata com profundidade as questões relativas às

necessidades da natureza humana. Nada há

mais distante da verdade do que isto, porque se

Deus não nos tivesse revelado a verdade, jamais poderíamos chegar ao conhecimento da nossa

real condição corrompida e decaída, e que pode

ser restaurada somente pelo remédio que

também nos é revelado por Deus na Sua Palavra. Tudo o que a chamada prática científica tem

afirmado em relação a este campo é fumaça e

não propriamente a substância real do mundo

espiritual que pode ser discernido somente por meio da fé, a qual é um dom de Deus para

aqueles que o amam.

Na simplicidade da revelação nós encontramos

um castelo de ouro e pedras preciosas, e em todo o emaranhado das teorias e postulados

humanos nada mais há do que um castelo de

madeira e palha que não poderá resistir à prova

do fogo, e se desfará. Melhor então que os currículos universitários

não abordem as questões relativas à real

condição de nossos espíritos, porque se

tentassem fazê-lo, pelas mentes de homens incrédulos, o que teríamos seria um grande

128

amontoado de teorias enganosas, conforme

costuma suceder aos que se aventuram a fazê-

lo. E se não o fazem, é porque nada têm

realmente a dizer a respeito, porque coisas espirituais só podem ser discernidas

espiritualmente por meio da operação do

Espírito Santo (I Cor 2.9-16) Em suma, de tudo o que se aprende na Bíblia,

tanto no Velho quanto no Novo Testamento é

que tanto a alma quanto o espírito, afastados de

Deus, estão não apenas arruinados e em trevas, mas mortos, e o corpo caminha para a

destruição sem a esperança da ressurreição em

glória.

Se são de muita ajuda nos assuntos relativos à cura de enfermidades físicas e psicossomáticas,

o que podem, no entanto, fazer os médicos,

psicólogos, psiquiatras e psicanalistas e

qualquer cientista, quanto ao resgate e restauração do homem como um todo (espírito,

alma e corpo) para a obtenção da vida eterna que

está somente em Cristo Jesus, nosso Senhor, e

não somente isto, como também em relação à nossa educação e edificação espiritual para que

cheguemos à plena medida da varonilidade de

Cristo?

Esta total dependência do espírito humano do Espírito de Deus, pode ser vista claramente na

abundância de referências ao Espírito Santo, no

texto bíblico, em conexão com o espírito

humano.

129

Espiritual

A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no

texto do Novo Testamento, tanto para designar

o corpo físico natural, no qual não há inerentemente qualquer mal moral, senão o

mau uso que se pode fazer do mesmo, e

também, a condição da natureza terrena

decaída no pecado que se opõe a Deus e à Sua vontade.

A revelação bíblica apresenta um contraste

entre o que é espiritual e o que é natural e

carnal, e não propriamente material, como costumeiramente ocorre ao modo de se pensar

em geral.

Sendo que o carnal e o natural aqui referidos reportam, respectivamente, o primeiro ao que é

pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à

vida moral, que não é espiritual, celestial,

sobrenatural e divina. O conceito de espiritual, conforme o

encontramos especialmente no Novo

Testamento, transcende o de espírito, porque os

anjos caídos e o espírito de pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta palavra indica a

condição de espíritos que são conduzidos pelo

Espírito Santo de Deus, que se encontram a Ele

voluntariamente sujeitos, a saber, os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas pelo

Espírito.

A condição do espírito pode ser tanto de luz ou

de trevas. A de luz identifica os que são

130

espirituais, e a de trevas, os que são carnais, ou

seja, os que não são de Cristo e não têm, por

conseguinte o Espírito.

Como a geração que viveu nos dias de Noé não atendia ao propósito da criação do homem por

Deus, ou seja, viviam como carnais e não

permitiam o trabalho do Espírito Santo em seus corações, então foi determinada a destruição

pelas águas do dilúvio (Gênesis 6.3), como um

sinal e aviso do que há de suceder a todos os que

viverem como carnais, resistindo ao Espírito. Ao homem natural não ocorre o pensamento de

ter sido criado para viver no e pelo Espírito

Santo. Se Deus não abrir o seu entendimento

para as coisas que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá topar com o propósito da criação

da humanidade por Deus. E, não há nenhum

jogo de esconde-esconde nisto; nenhuma

vontade caprichosa de Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida eterna que está

oculta em Cristo, e à qual Ele dá acesso somente

àqueles que têm escolhido, e obedecem à Sua

vontade. Evidentemente, para muitos propósitos úteis e

convenientes à Sua exclusiva soberania e

autoridade, bem como a nós próprios, fomos

criados por Deus sendo espíritos dotados de um corpo natural, colocados a viver num mundo

também natural.

Por nossa relação com as realidades naturais, o

nosso espírito pode ser exercitado em cuidados providenciais visíveis, que de outra forma, não

131

poderiam ser manifestados, e importava que

Deus manifestasse, segundo Seu propósito

eterno, toda a Sua glória, em demonstrações de

Seu amor, Sua bondade, misericórdia e justiça para com pecadores.

O homem deve se interessar em saber o que

fazer, para que seja encontrado como espiritual e não como carnal, pois temos este dever da

parte de Deus para que possamos agradá-Lo.

O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto

capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer

às cobiças da carne – carne aqui considerada,

como na maior parte das passagens do Novo

Testamento, como sendo a nossa natureza terrena decaída no pecado, da qual devemos nos

despojar pelo trabalho de mortificação do

pecado, pelo Espírito Santo.

Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é pertencente à nossa natureza terrena, ela nos

vem do Alto, descendo do Pai das luzes, e por

isso, assim nos exorta o apóstolo Paulo:

“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde

Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai

nas coisas que são de cima, e não nas que são da

terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses

3.1-3)

O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I

Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o homem natural não tem o pendor do Espírito

132

Santo, porque a carne (aqui também com o

significado de natureza terrena corrompida

pelo pecado), não pode estar sujeita a Deus.

Nisto se evidencia e cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus Cristo: “o Espírito da

verdade, o qual o mundo não pode receber;

porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará

em vós.” (João 14.17).

Sem conversão, permanecendo carnal, o

homem não pode receber o Espírito Santo para nele habitar. Então, o que nos torna espirituais é

a habitação do Espírito Santo.

Sendo feitos espirituais importa vivermos como

espirituais, andando continuamente no Espírito, e não mais como carnais.

133

A Natureza da Nova Criatura em Cristo

Jesus

Por mais repetitivos que sejamos em relação a

este assunto da natureza da nova criatura em

Cristo, na qual somos transformados na conversão, nunca será demais, em face da

importância de termos isto devidamente

gravado e lembrado em nossas mentes.

“Portanto, assim como por um só homem

entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a

morte, assim também a morte passou a todos os

homens, porque todos pecaram.” (Rom 5.12)

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos

delitos e pecados,” (Ef 2.1).

Estas e outras passagens bíblicas se referem à

condição de morte, perante Deus, de toda a

humanidade em razão do pecado, tal como ele havia dito ao primeiro homem que ele morreria

e nele toda a sua descendência, caso lhe fosse

desobediente.

Então Jesus nos foi dado para nos transportar da morte para a vida.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a

minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da

morte para a vida.” (João 5.24)

134

“Nós sabemos que já passamos da morte para a

vida, porque amamos os irmãos; aquele que não

ama permanece na morte.” (I João 3.14)

Vejamos então como passamos da morte para a

vida, por sermos agora novas criaturas, por

meio da fé em Jesus. Isto não significa que recebemos um novo

espírito para ocupar o lugar do nosso espírito.

Não significa também o recebimento de uma

nova personalidade para substituir a que tínhamos até a nossa conversão, uma vez que

esta permanece em nós.

Não encontramos amparo para este tipo de

ensino nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos que passamos a ter um novo

princípio de vida espiritual, divina e celestial

que é implantado em nós, quando temos o nosso

primeiro encontro pessoal com Cristo, como uma semente, destinada a germinar, e a crescer

e a produzir frutos de justiça, consoante as

virtudes da própria pessoa de Jesus, I Pe 1.23; Tg

1.21; 1 João 3.9. É pela habitação do Espírito Santo no crente, e

por esta nova disposição de vida nele

implantada, que todas as faculdades e

disposições do nosso corpo, alma e espírito são vivificados e renovados, para o que se chama de

novidade de vida.

Por fazer aumentar e crescer em nós estas

graças referidas, mortificamos o princípio operante do pecado, e adquirimos mais das

135

virtudes do próprio Cristo, em operações

progressivas renovadoras do Espírito Santo.

Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:

“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a

morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.

Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,

nem mesmo pode estar.

Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não

podem agradar a Deus. Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no

Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em

vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,

esse tal não é dele. Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por

causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa

da justiça.

Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse

mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os

mortos vivificará também o vosso corpo mortal,

por meio do seu Espírito, que em vós habita. Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,

não à carne como se constrangidos a viver

segundo a carne.

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,

mortificardes os feitos do corpo, certamente,

vivereis.”

136

A qualidade da vida de Deus somente pode ser

vista portanto, naqueles que foram e que têm

sido vivificados pelo Espírito Santo.

É destes e somente destes que Deus declara nas Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade

de vida que se tem fora da comunhão com Deus

não pode ser chamada propriamente de vida, senão de morte, por causa da impossibilidade da

citada condição de nos habilitar a amarmos a

Deus e a ter prazer na sua vontade e

mandamentos, provando este amor, por permitir que Sua Palavra seja aplicada às nossas

próprias vontades e vidas.

137

Natural e Espiritual

“O que é nascido da carne é carne; e o que é

nascido do Espírito é espírito.” (João 3.6)

Nosso Senhor nos dá em poucas palavras qual é

a condição real da natureza humana, ao afirmar

que “o que é nascido da carne, é carne, e o que é

nascido do Espírito é espírito." Ele se refere a dois tipos de nascimentos

distintos por reprodução. O primeiro em relação

à carne, ou ao que é natural, que somente pode

gerar algo à sua própria semelhança, ou seja, natural. O segundo em relação ao Espírito Santo

que gera nascimentos sobrenaturais, ou seja,

espirituais. Apesar de existir aquilo que poderíamos chamar

de algo assombroso relativamente à formação

de um ser natural como o humano, que é gerado

a partir de uma única célula formada da união de um espermatozoide com um óvulo, e que por

reproduções sucessivas chega a formar o

complexo de órgãos, sistemas, processos físico-

químicos, e tudo o mais que mantém a vida em funcionamento, com comandos involuntários

criados e programados por Deus de modo

sobrenatural, para a constituição plena das

funções do ser humano, todavia, ele dispôs este processo natural de tal forma, que toda geração

natural será processada espontaneamente a

partir dos princípios que ele estabeleceu

previamente para tal propósito.

138

Daí nosso Senhor afirmar que o que é nascido da

carne é carne.

Entretanto, quanto ao nascimento espiritual

operado pelo Espírito Santo, nestes que chegaram à existência através da geração

natural, este é de outro caráter, porque não

pode ocorrer espontaneamente pela vontade e controle do homem, como o primeiro, e nem a

nova vida espiritual gerada pode ser mantida

por processos naturais, senão somente pelas

operações sobrenaturais do Espírito Santo. No contexto desta passagem de João 3.6 nós

encontramos o diálogo de Jesus com

Nicodemos, no qual ele destacou a necessidade

de um novo nascimento do alto, do Espírito Santo, para que possamos ver o reino de Deus.

Assim ele apontou que permanecemos alijados

da vida espiritual de Deus, que é espírito,

enquanto não nascemos de novo do Espírito Santo.

Nosso Senhor também ensinou no contexto

desta passagem que este novo nascimento

somente pode ser obtido pela fé nele. Daí se dizer nas Escrituras que se alguém está

em Cristo é uma nova criatura, ou novo homem,

o que é designado pelo Senhor no texto de João

3.6 simplesmente pela palavra espírito. Esta nova criatura gerada pelo Espírito Santo

não é algo de outra substância que é

acrescentada ao espírito da pessoa que nasceu

de novo na conversão a Cristo.

139

Fala-se na Escritura de algo que é colocado,

como uma nova disposição, como vemos em Col

4.10.

Embora seja algo distinto do espírito do homem; no entanto, é uma coisa mais intimamente

inerente a ele, e que é mais estreitamente unida

a ele, e que nos renova, Ef 4.23; Sl 51.10. E este trabalho de renovação é feito no homem

interior, ou seja, no mais profundo do nosso ser,

em nossas disposições interiores que nos

definem como a pessoa que realmente deveríamos ser, conforme projetado por Deus, e

não no homem exterior, que se corrompe com o

avançar do tempo, ou mesmo em manifestações

superficiais de nossas faculdades que se revelam em conversações e ações vazias e

infrutíferas relativamente aos desígnios de

Deus.

É impossível para a mente comum conceber que haja uma outra dimensão de vida (a espiritual

que nos vem do alto) além desta já tão complexa

vida natural com todo o seu aparato de

possibilidades de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, conforme foi

programado por Deus, e daí não serem poucos

os que negligenciam esta necessidade vital de

um novo nascimento do espírito, por não crerem que seja de fato necessário ou mesmo

possível, uma vez que a própria vida natural é

assim tão cheia de mistérios que o homem vem

desvendando ao longo das eras.

140

Mas como Deus não projetou o que é natural

para a eternidade, senão somente o que é

espiritual, e que possua o mesmo caráter da

divindade, em seus atributos e virtudes espirituais, então, torna-se crucial atingir este

propósito eterno, uma vez que tudo o que é

natural se desfaz pelo uso e com o tempo. A vida natural por mais plena e pura que fosse,

ainda assim, não poderia adentrar a eternidade,

porque isto é concedido somente ao que é

espiritual. Espiritual, não simplesmente por possuirmos um espírito, porque disto todas as

pessoas são dotadas, mas espiritual no sentido

de possuir a vida que é produzida pelo Espírito

Santo naqueles que têm a Cristo. Deve ser levado em conta, sobretudo, que Deus

não pode habitar senão naqueles que são assim

nascidos de novo do Espírito Santo, porque é

nestes que há o consentimento voluntário do trabalho que Ele operará da transformação

deles à sua própria imagem e semelhança. Daí o

apóstolo chamar a isto de coparticipação da

natureza divina, 2 Pe 1.4, indicando que esta harmoniosa cooperação da vontade do homem,

submetendo-se à vontade de Deus, uma vez que

nele agora habita esta nova disposição espiritual

que é nele produzida pela habitação do Espírito Santo.

Há necessidade desta justa cooperação porque

na criatura natural tudo está disposto para

crescer espontaneamente sem a influência direta do exercício da nossa vontade para o seu

141

funcionamento e crescimento. Mas tal já não

sucede em relação à nova criatura onde tudo

exige esforço, diligência, escolha, segundo o

querer e o efetuar de Deus. Ou seja, a nova criação espiritual demanda um contínuo andar

no Espírito Santo e obediência às ordenanças de

Deus constantes de Sua Palavra. Sem isto não há crescimento e nem a manutenção das graças

recebidas por meio da fé em Cristo.

A criatura natural pode viver sem Deus no

mundo. Mas a nova criatura não somente existe sem Deus, como também não pode subsistir

afastada dele.

Daí o apóstolo ter afirmado: “já não vivo eu, mas

Cristo vive em mim” Gál 2.20. A nova criatura garante a permanente presença

diante de Deus, porque é nascida do Espírito, e

assim, não pode morrer, e nunca deixará de

viver aquela vida sobrenatural e superior que se encontra em Jesus Cristo.

Esta nova vida foi gerada da semente

incorruptível, que não comete pecado, e que foi

colocada por Deus na alma de todo o que crê em Jesus, 1 João 3.6.

É pela germinação e crescimento progressivo

desta semente que o pecado será mortificado

mais e mais para que possamos produzir os frutos espirituais de justiça esperados por Deus,

Rom 8.6-14.

142

Curando a Doença e Não Aliviando

Somente os Sintomas

Quando a Bíblia fala sobre o pecado, apesar de

definir muitos comportamentos como

pecaminosos, o sentido em aplicação nunca é o de simplesmente afirmar algo do tipo: “isto é

pecado, aquilo não é pecado, você pecou nisto,

você não pecou naquilo”, ou seja, não estamos

diante de um aferidor ou classificador de nossos pensamentos, palavras e ações, mas de uma

afirmação da nossa condição interior que está

disposta naturalmente para se afastar de Deus e

de tudo o que se refira à sua vontade. A Bíblia atesta que o nosso caso, a saber, de toda

a humanidade, é desesperador.

E foi em razão disto que Deus nos preparou o

Salvador desta nossa condição ruim e que está sujeita à condenação pela perfeita justiça

celestial.

Ainda que não aceitemos o veredicto relativo à nossa situação, ele é e continuará sendo dado

pelo testemunho da Palavra de Deus, que nos

aponta a necessidade do arrependimento e da fé

em Cristo, para que sejamos resgatados da referida situação.

O alvo em vista é de restauração total e não de

remendar este ou aquele procedimento que

necessite de uma reforma da nossa parte. É a recuperação do homem total para ser

conformado eficazmente à imagem e

semelhança de Deus, pela resposta adequada de

143

todo o seu querer, pensar e agir, às demandas da

santidade de Deus, que está em foco.

Este objetivo, conforme definido pela Bíblia, não

é algo que possa ser cumprido pelo nosso próprio poder natural. Necessitamos da graça

sobrenatural de Jesus para efetuar em nós tanto

o querer quando o realizar. Onde a graça não estiver operando nada poderá ser feito para o

atingimento do objetivo proposto.

Como a graça não pode reinar onde o pecado

estiver reinando, devemos nos submeter inteiramente ao trabalho de mortificação da raiz

do pecado, pelo poder do Espírito Santo atuando

em nós.

Enquanto neste mundo, o trabalho desta mortificação deve ser renovado e continuado,

porque o pecado lança novas raízes, e estas

devem ser sempre desarraigadas pelo Espírito.

Ai de nós, enquanto não adquirirmos o hábito da santificação, pelo qual até o nosso próprio

desejo é conduzido pelo Espírito, de modo a

achar prazer em sua santificação sendo operada

em nós! Dizemos ai de nós, porque enquanto não formos

confirmados em toda boa obra e boa palavra

pelo Pai e pelo Filho, 2 Tes 2.16,17, estaremos

sujeitos a muitas dúvidas, apostasias, e a um viver inconstante e carnal.

Portanto, quando se fala em pecado, quer na

Bíblia, quer na pregação, quer no ensino do

evangelho, não devemos ter uma atitude dogmática do tipo que nos leve a ficar satisfeitos

144

caso não tenhamos praticado determinadas

coisas que Deus condena, porque é possível

fazer isto, e ainda assim o nosso coração poderá

ser achado afastado dele e não ter qualquer interesse numa verdadeira comunhão

espiritual, e numa purificação real do nosso

coração, que nos leve a viver de fato de modo agradável a Deus.

É somente assim que podemos achar paz e

descanso para as nossas almas, e ter uma boa

consciência para com Deus e para com todos os homens.

Satanás usa a palavra pecado sempre com a

intenção de nos condenar e fazer com que

sintamos que a vida cristã é um fardo impossível de ser carregado e insuportável, mas quão isto

está distante da verdade, pois podemos ter toda

a convicção na nossa própria experiência, do

quanto é feliz todo aquele que se consagra inteiramente a Jesus.

Devemos sempre lembrar que há situações e

comportamentos que não podem ser

relacionados numa lista dogmática quanto a serem ou não pecaminosos, e por isso

necessitamos em todo o tempo da ação do

Espírito Santo para nos instruir e dirigir quanto

a tudo o que nos convém ou não praticar ou falar, e até mesmo desejar.

Por isso se afirma na Palavra que andando no

Espírito jamais satisfaremos os desejos da

carne, Gál 5.16.

145

Destruindo a Fábrica do Mal e Não

Apenas os Seus Produtos

O domínio do pecado não é uma mera força

contra a vontade e os esforços dos que estão sob

ele. Este domínio consiste principalmente na conquista da mente e de todas as suas

faculdades, e especialmente da vontade, por

meio de fascínio e tentações para os quais a

natureza humana não está capacitada a resistir e vencer. Tanto que, ainda que alguém resista à

prática consumada do pecado, todavia, o desejo

permanece no interior do coração.

Esta vitória é alcançada somente pela nova natureza recebida na conversão a Cristo, pela

qual somos feitos coparticipantes da natureza

divina. É o novo homem criado segundo a justiça

em Cristo Jesus que está habilitado a vencer o pecado, por meio da graça. O velho homem nada

pode fazer porque se encontra morto

espiritualmente, em delitos e pecados. Por isso, ao se referir à nossa escravidão ao

pecado, nosso Senhor afirmou que somente ele

pode nos livrar desta servidão, uma vez que não

há poder na nossa própria natureza para tal propósito.

Não se vence portanto o pecado, por ações

violentas de nossa própria vontade contra ele,

nem com meras deliberações de que faremos uma reforma de nossas vidas, mas nos

sujeitando efetivamente ao poder de Deus, que

146

nos purifica de todo o pecado, com base no

sangue que Jesus derramou para a sua expiação.

Aquele portanto, que pode distinguir entre o

que seja a natureza do pecado em si, e as meras impressões do pecado sobre a nossa mente e

vontade, está a caminho da paz, porque

certamente, sairá mais do que vencedor desta guerra contra o pecado, por meio de um viver

santificado pela graça e aplicação da Palavra de

Deus ao seu coração, pelo Espírito Santo.

Mais do que evitar determinados pecados, deve-se combater o mal pela raiz, pela subjugação do

princípio do pecado que opera na carne, por

meio de um andar no Espírito Santo, e na

novidade de vida da nova criatura que fomos feitos em Jesus.

Vê-se com isto quão importante é a prática da

oração, da meditação na Palavra, da vigilância

do coração, e de todos os demais exercícios espirituais que nos são ordenados por Deus para

que tenhamos um viver

vitorioso sobre todas as forças do mal, quer

externas, quer internas.