Critica Canudos
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UFBA - Instituto de LetrasALUNO: Igor Stefanini Marquez FogaçaProf.: Leonardo Campos - Literatura e Cinema no Brasil
Crítica Filme - Canudos
Guerra de Canudos é um filme dirigido por Sérgio Rezende, com roteiro
de Sérgio Rezende e Paulo Haim, lançado em outubro de 1997. Conta a
história do Arraial de Canudos. Em 1893, Antônio Conselheiro e seus
seguidores começam a tornar um simples movimento em algo grande demais
para a República, que acabara de ser proclamada e decidira por enviar vários
destacamentos militares para destruí-los. Estes fatos são vistos pela ótica de
da família de uma jovem sertaneja, Luiza que possui opiniões conflitantes
sobre Conselheiro.
O elenco é formado por José Wilker (Antonio Conselheiro), Marieta
Severo (Penha, a mãe de Luiza), José de Abreu (General Artur Oscar), Claudia
Abreu (Luiza), Paulo Betti (Lucena, pai de Luiza), Tuca Andrada (Arimatéia,
marido de Luiza), Tonico Pereira (Coronel Moreira Cesar) e Selton Mello
(Tenente Luís). O filme foi orçado em 6 milhões de dólares, e consumiu quase
quatro anos de trabalho. O filme, que tem quase três horas de duração,
posteriormente foi exibido como uma minissérie de quatro capítulos pela Rede
Globo.
A melhor referência histórica para a Guerra de Canudos é o livro Os
Sertões, de Euclides da Cunha, lançado em 1908. Euclides da Cunha, na
época, jornalista, foi enviado pelo governo para cobrir o acontecimento e trazer
comentários elogiosos aos soldados que batalharam nas campanhas em
Canudos (foram realizadas quatro batalhas até a extinção total da pequena
cidade), bem como a exaltação da República. O jornalista conseguiu fazer uma
imersão na cultura, na religião e nos valores do povo sertanejo.
A obra Os Sertões é dividida em três partes: A Terra, O Homem e A
Luta. Cada uma delas traz referências para a construção do universo do sertão,
do sertanejo e da batalha de Canudos. A obra parte do local onde esses
sujeitos estão inseridos para compreendê-los e, conseqüentemente,
compreender o momento histórico vivenciado por tais sujeitos em tal local.
Os Sertões se mostra como uma denúncia ao genocídio de Canudos e à
utilização do sertanejo como inimigo interno para o fortalecimento da República
recém proclamada. É com esta história que Euclides da Cunha, embasado na
teoria do determinismo social, lança este livro, que inicia o período de transição
literária conhecido como pré-modernismo.
No filme é retratada a história da protagonista Luiza e de sua família
sertaneja. Depois da venda de um gado para um coronel e da cobrança de
impostos, o pai, desolado, se vê indignado com o novo sistema de governo
(República) recém implantado. Nessas primeiras cenas do filme o figurino da
família e do cenário são em tons pastéis, com predominância do bege. Chega
Conselheiro com seus peregrinos, cooptando mais adeptos e procurando um
local para se instalarem, suas roupas já têm cores fortes, em tons azuis,
referência ao manto de Nossa Senhora, como dito por um dos personagens. A
fotografia mostra uma paisagem destruída pela seca.
Lucena leva a família a seguir Antônio Conselheiro, que pregava a volta
da monarquia e a volta da predominância da Igreja. Contudo, Luiza, a filha
mais velha, se nega a segui-los e vai para a cidade. A jovem torna-se
prostituta, e sua família (pai, mãe, irmão e irmã) segue prosperando na aldeia
de Belo Monte (interior da Bahia). No prostíbulo as roupas de Luiza são em
tons vermelhos, cores que mudam quando ela segue para Canudos.
Ocorrem duas expedições do exército brasileiro para destruir Canudos,
sem êxito e pouco retratadas no filme. A terceira expedição é comandada pelo
Coronel Moreira Cesar, também falhou. Na sua última batalha, o coronel
enverga um uniforme todo branco, o que dá destaque e denota um ato de
bravura, contudo ele é alvejado e acaba morrendo depois. Seu cavalo também
é branco, em destaque aos outros. Toda essa narrativa toma apenas uma hora
de filme. A quarta expedição do general Artur Oscar, que acaba por dizimar
Canudos leva o restante do filme de quase três horas.
O diretor faz uso de closes nos momentos dramáticos, aplica uma trilha
sonora leve na batalha final, contrastando com a dinâmica e horror das mortes.
O clímax do filme é o ataque final a Canudos. O antagonista do filme é o seu
anti-herói, Conselheiro, a quem a protagonista odeia por ter levado a sua
família.
Sobre a imagem de Antônio Conselheiro estabelecem-se diferenças
significativas entre livro e filme: em Os Sertões, o líder de Canudos é
representado como a síntese da cultura sertaneja dominada pelo misticismo,
cuja religiosidade possui conteúdos messiânicos; em Guerra de Canudos, por
sua vez, Conselheiro é apresentado como um homem que elabora um discurso
político revestido por práticas religiosas que atraem uma massa de sertanejos
sem perspectivas sociais. A narrativa euclidiana sobre o conflito estabelece
como personagem o Arraial de Canudos, enquanto que o filme narra o conflito
por meio de uma personagem, Luiza, o que demonstra objetivos específicos
que esses autores estabeleceram ao construir as obras.
Para Euclides da Cunha, o caso de Canudos demonstrou a necessidade
de que o poder do Estado se fizesse presente por meio da civilização. Por
outro lado, o discurso elaborado pelo filme Guerra de Canudos demonstra a
incompreensão do Estado Brasileiro aos anseios sociais do sertanejo.