CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE OBRAS RARAS · principais critérios de raridade, reconhecendo na...

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www.ssoar.info Critérios para a definição de obras raras Sant'Ana, Rizio Bruno Veröffentlichungsversion / Published Version Zeitschriftenartikel / journal article Empfohlene Zitierung / Suggested Citation: Sant'Ana, Rizio Bruno: Critérios para a definição de obras raras. In: ETD - Educação Temática Digital 2 (2001), 3, pp. 1-18. URN: http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de:0168-ssoar-105302 Nutzungsbedingungen: Dieser Text wird unter einer Free Digital Peer Publishing Licence zur Verfügung gestellt. Nähere Auskünfte zu den DiPP-Lizenzen finden Sie hier: http://www.dipp.nrw.de/lizenzen/dppl/service/dppl/ Terms of use: This document is made available under a Free Digital Peer Publishing Licence. For more Information see: http://www.dipp.nrw.de/lizenzen/dppl/service/dppl/

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Critérios para a definição de obras rarasSant'Ana, Rizio Bruno

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Empfohlene Zitierung / Suggested Citation:Sant'Ana, Rizio Bruno: Critérios para a definição de obras raras. In: ETD - Educação Temática Digital 2 (2001), 3, pp.1-18. URN: http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de:0168-ssoar-105302

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ARTIGO

Rev. Online Bibl. Prof. Joel Martins, Campinas, v.2, n.3, p.1-18 , jun. 2001 1

CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE OBRAS RARAS

Rizio Bruno Sant'Ana

RESUMO: Discute-se a adoção de critérios de raridade em bibliotecas. Para tanto, são analisados oscritérios, muitas vezes antagônicos, adotados por colecionadores e por diversas instituições públicas.Em seguida, são estudadas as normas presentes nos principais códigos de catalogação de obras raras,incluindo textos recentemente disponibilizados na Internet. Finalmente, são estudados maisdetalhadamente vários textos, encontrados nos catálogos de obras raras das bibliotecas brasileiras, bemcomo os critérios adotados na Biblioteca Mário de Andrade, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Obras raras; Critérios; Bibliotecas públicas; Colecionadores de livros.

ABSTRACT: The author analyzes the adoption of criteria for the definition of rare books in libraries,studying the criteria adopted by book collectors and many public institutions. After that, we studiedthe main cataloging codes for rare books, including texts recently in the Internet. Finally, some texts,found in catalogues of rare books of the Brazilian libraries are studied more at great length, as well asthe criteria adopted in the Mário de Andrade Public Library of São Paulo.)

KEY-WORDS: Rare books; Criteria; Public libraries; Book collectors.

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O conceito de obra rara está mais ligado aolivro, mas pode incluir também os periódicos,mapas, folhas volantes, cartões-postais eoutros materiais impressos. Fotografias,manuscritos, gravuras e desenhos são obrasúnicas e originais, e portanto não recebemesta denominação de obra rara; devemreceber, no entanto, o mesmo cuidadodispensado às obras raras em relação àpreservação e conservação. Neste texto, aspalavras “livro” e “obra” são algumas vezesempregadas indistintamente, no sentido decaracterizar qualquer material impresso. Dequalquer forma, as obras raras devem serconsideradas como um aspecto específico deum conjunto maior, que seriam as coleçõesespeciais, dentro das bibliotecas.

De acordo com o senso comum e a maioriados dicionários, o livro raro é aquele difícil deencontrar, invulgar, diferente do livro comum.A palavra raro significa também algo valiosoou precioso; uma obra rara seria portantoqualquer publicação incomum, difícil deachar, e com um valor maior do que os livrosdisponíveis no mercado.

O livro raro seria “assim designado por serdetentor de alguma particularidade especial(conteúdo, papel, ilustrações), ou por jáserem conhecidos poucos exemplares”,segundo as autoras do Dicionário do livro1.Da mesma forma, para Martínez de Sousa, éum “libro que por la materia de que trata, elcorto número de ejemplares impressos oconservados, su antigüedad u otracaracterística o circunstancia se convierte enuna excepción.”2

O uso de critérios de raridade, para criar umadistinção entre as obras valiosas e as demais,tanto por parte de bibliotecas como entrecolecionadores, prende-se ao fato de que asobras raras merecem um tratamento

1 FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça.

Dicionário do livro: terminologia relativa aosuporte, ao texto, à edição e encadernação, aotratamento técnico, etc. Lisboa: Guimarães, 1988.p.209.

2 MARTÍNEZ DE SOUSA, José. Diccionario debibliología y ciencias afines. Madrid: FundaciónGermán Sánchez Ruipérez; Piramide, 1989. p.468.

diferenciado, devido à dificuldade naobtenção dos exemplares e a seu alto valorhistórico e monetário. Parte-se do princípio deque a obra rara é mais difícil de ser reposta,caso desapareça; do mesmo modo, uma obravaliosa é sempre mais visada, merecendo umcuidado maior quanto à segurança do acervoonde está depositada.

Em termos bibliográficos, podem serconsiderados valiosos os aspectos ligados aolivro enquanto objeto físico ou enquanto meiode transmitir informações e novas visões demundo (tanto literárias como científicas).Desta forma, o livro seria um representantefactual da história do conhecimento, ou seja,um documento verdadeiro dodesenvolvimento cultural e social dahumanidade.

Existe, todavia, uma quase total divergênciaentre os pontos de vista dos colecionadores edos responsáveis por bibliotecas públicasespecializadas na guarda de livros raros,quanto à definição do que seja uma raridadebibliográfica. Embora ambos reconheçam ovalor histórico de uma obra antiga ou de umclássico da literatura, em geral oscolecionadores não se prendem à antigüidadede uma obra para sua caracterização comorara, utilizando este termo mais comosinônimo de algo valioso. As bibliotecas, porsua vez, referem-se à data como um dosprincipais critérios de raridade, reconhecendona obra a sua possibilidade de uso e não osimples valor monetário.

EXEMPLARES ÚNICOS

Para os colecionadores, são por vezespequenos fatores acidentais que na verdadecriam os livros raros, fazendo com que obrasque poderiam ser consideradas comunsvenham a ser muito procuradas, peladificuldade de localização dos exemplares. Háinúmeros exemplos, inclusive do século XX:o primeiro volume da terceira edição daHistória geral do Brasil, de Varnhagen,impresso em 1907, teve sua tiragem quaseinteiramente destruída em um incêndio naeditora Laemmert, no Rio de Janeiro; ospoucos exemplares sobreviventes são tão ou

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mais raros quanto os da primeira edição, de1854. Da mesma forma, por um simples errotipográfico (a troca de uma letra no texto deapresentação), a segunda edição das Poesiascompletas de Machado de Assis, publicadaem Paris pela Garnier, em 1902, é muito maisvaliosa e procurada que a maioria de suasoutras obras.

A importância maior de uma obra recai, paraestes colecionadores, no objeto livro, quedeve ser único ou existir em pequeno númeroe precisa estar em perfeitas condições deconservação. Isto significa manter, mesmoquando encadernado, a capa da brochuraoriginal, com o texto íntegro, sem falhas, ecom as páginas limpas, sem manchas e furosdevido à ação de insetos ou do tempo. Quantomais perfeito estiver o exemplar, mais valoralcançará no mercado livreiro. Marcas depropriedade (ex-libris, carimbos, anotações eautógrafos do autor e/ou do possuidor daobra) ou outras indicações que individualizemo exemplar, quando realizadas por pessoas derenome, podem até aumentar o valor de umaobra, mesmo se a cópia estiver em mau estadode conservação.

Neste caso, deveríamos inclusive dizer que setratam de “exemplares” raros e não “obras”raras, já que o conceito raro não se aplica atoda a edição (ou ao conteúdo textual daobra), mas sim apenas a uma determinadacópia individual. Conforme Félix Pacheco,“as differenças de custo originam-se quasisempre do estado de conservação do volume,das peculiaridades da encadernação, ou decertos attributos de procedencia, que às vezesconcorrem muito para valorizar oexemplar.”3

Rubens Borba de Moraes complementa: “Nemtodos os exemplares de uma obra rara valem omesmo preço. O valor de um livro antigodepende do estado em que se encontra, daencadernação que o veste ou de algumaparticularidade que o exemplar apresenta. [...] se

3 PACHECO, Felix. O valor immenso da bibliotheca

brasiliense do Dr. J. Carlos Rodrigues: CollecçãoCristiano Ottoni, da Bibliotheca Nacional; posto emrelevo pelos ultimos catalogos de venda na Europa.Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1930. p.5.

o exemplar está, como é comum no Brasil,verdadeiramente rendado de furos, então não édigno de um bibliófilo, nada vale para umcolecionador.”4

Na verdade, o interesse e a procura pelosexemplares existentes é que estabelecem opreço de venda e fazem com que os livrosvenham a ser considerados valiosos e,conseqüentemente, raros. Segundo aindaRubens Borba,

“Um livro não é valioso porque éantigo e, provavelmente, raro.Existem milhões de livros antigosque nada valem porque nãointeressam a ninguém. Todabiblioteca pública está cheia delivros antigos, que, se fossem postosà venda, não valeriam mais que o seupeso como papel velho. O valor deum livro nada tem que ver com a suaidade. A procura é que torna umlivro valioso.”5

É discutível a afirmação de que as bibliotecaspúblicas estão cheias de livros antigos e seminteresse, já que neste caso o valor não podeser apenas monetário, e um pesquisador queprocura uma obra específica sabe muito bemquanto vale o esforço de encontrá-la em umabiblioteca, à sua disposição. O próprioRubens Borba, aliás, reconhece a importânciade “um exemplaire de travail”, dizendo: “Fará afelicidade de um erudito, em vez de se tornar odesespero de um bibliófilo”. De qualquer forma,fica claro que para os colecionadores o valorda obra está ligado ao interesse que desperta,como aliás acontece também com o mercadode artes. Neste sentido, Leny Cordeiro afirma:

“Na opinião autorizada dosbibliófilos, os elementos que fazemcom que livros possam se tornarraros são o assunto da obra, atiragem dela e a procura dos

4 MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz:

prosa de um velho colecionador para ser lida porquem gosta de livros, mas pode também servir depequeno guia aos que desejam formar uma coleçãode obras raras antigas ou modernas. 3.ed. Brasília:Briquet de Lemos; Rio de Janeiro: Casa da Palavra,1998. p.83 e 89.

5 MORAES, op. cit., p.65.

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leitores. Livros antigos não sãonecessariamente raros. Obras sobreteologia publicadas no século XVI,por exemplo, são pouco procuradas,e por isso baratas.”6

No prefácio à Bibliografia brasileira doperíodo colonial, Rubens Borba comenta, aodescrever a raridade das obras citadas:

“Na sua grande maioria os livrosdescritos neste trabalho são raros,muitos, raríssimos, alguns,praticamente ´inacháveis´. Nãojulguei pois necessário repetirconstantemente êsses adjetivos queaguçam tanto a gula doscolecionadores. Fica entendido que amaioria das obras aqui mencionadasé rara, isto é, não se encontra comfreqüencia no mercado de livrosantigos.”7

Concordando com este conceito, Ana Mariade Almeida Camargo diz que “a obra raranada mais é do que aquilo que o sentido doatributo indica, isto é, a obra difícil deencontrar.”8 Logo depois, a autora comenta:“Ao contrário do que muitos pensam, avelhice não faz, por si só, a raridade de umlivro. Páginas rotas, amareladas, eencadernações em pedaços têm o efeito dediminuir o possível valor de um livro antigo.”Ou seja, a raridade está diretamente ligada aovalor do livro no mercado. Discutindo aquestão da primeira edição, Camargo escreve:

“As primeiras edições são,freqüentemente, mais raras que assubseqüentes. A afirmação é válidatanto para os livros antigos comopara os contemporâneos, o que nos

6 CORDEIRO, Leny. O livro como raridade. Arte

Hoje, Rio de Janeiro, v.1, n.7, p.8-12, jan. 1978.7 MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasileira

do período colonial: catálogo comentado das obrasdos autores nascidos no Brasil e publicadas antes de1808. São Paulo: IEB, 1969. p.xvii.

8 CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Obra rara:critérios para definição. São Paulo, 1992. p.1.(Trabalho apresentado na Mesa Redonda Obra rara:critérios para definição, política de preservação emercado, realizada na Biblioteca Mário de Andradeem 8 de outubro de 1992. Mimeo.)

leva a questionar o critériopuramente cronológico parademarcação de um acervo de obrasraras nas bibliotecas públicas, comoé costume.”

Como vemos, existiria por parte dasbibliotecas públicas, de acordo com a autora,a utilização de um critério “puramentecronológico” na indicação das raridades deseus acervos. Este conceito será analisadoposteriormente, ao se discutir o ponto de vistadas bibliotecas. O próprio Rubens Borbaconfirma a valorização de alguns livrosantigos como raros, quando no prefácio àsegunda edição de sua Bibliographiabrasiliana (reunião de livros raros sobre oBrasil publicados desde 1504 até 1900) eleexplica:

“Nesta edição revista, há mais ênfasenas entradas de livros dos séculosXVI, XVII e XVIII do que de livrospublicados no século XIX, quando aprodução cresceu. Como os livros setornaram mais facilmente acessíveis,publicações deste último períodoficam fora do escopo de umabibliografia sobre livros raros.”9

Ou seja, deste ponto de vista, os livros antigossão raros porque são menos acessíveis, eportanto mais difíceis de serem localizados. Avalorização das primeiras descrições doBrasil, mais do que confirmar a raridade deuma obra antiga, está ligada à própria arte decolecionar, tanto que o índice destaBibliographia brasiliana apresenta a palavraFirst como um dos assuntos, indicando paracolecionadores e pesquisadores os livros queprimeiro trazem uma determinada ilustraçãoou informação relacionada ao Brasil.

De qualquer forma, deve-se estar sempreatento às possíveis mudanças de avaliação,com o passar do tempo, no caso de livrosraros. Segundo nos informa mais uma vez

9 MORAES, Rubens Borba de. Bibliographia

brasiliana: rare books about Brazil published from1504 to 1900 and works by brazilian authors of thecolonial period. Rev. and enl. ed. Los Angeles:University of California; Rio de Janeiro: Liv.Kosmos, 1983. v.1, p.[xxiii].

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Rubens Borba, nesta mesma obra, “O queInocêncio considera livro comum e sem valorliterário é hoje procurado e raro, os autores,que não incluiu no seu Dicionário por julgá-los sem interêsse, são hoje objeto de leitura eestudo.”10

OS LIVROS ANTIGOS

Os responsáveis por bibliotecas e outrasinstituições públicas que guardam livrosconsiderados raros não utilizam, em geral, ovalor de mercado ou a dificuldade delocalização de um dado exemplar como oprincipal argumento para a determinação doque seja uma obra rara, mas sim a importânciahistórica do livro e do seu conteúdo.

Um dos motivos para que isto aconteça é afalta de uma política consistente de aquisiçãode obras raras pelas bibliotecas brasileiras.Embora algumas instituições (em geral,bibliotecas universitárias) tenham adquiridonos últimos anos grandes coleções de livrosde bibliófilos já falecidos (na sua maioriaantigos pesquisadores ou professores), acompra de exemplares específicos em leilõesou livrarias especializadas é feita quase queexclusivamente por colecionadores.

Estas bibliotecas adquirem as coleções peloseu valor de conjunto, ou seja, mais pelapossibilidade de criar novas áreas de pesquisado que pela importância de alguma obra emparticular. Deste modo, a compra de obrasraras fica quase sempre condicionada à suapresença ou não dentro das coleções.Infelizmente, nem mesmo estas aquisiçõesgarantem a posterior utilização do acervo,como aconteceu com a biblioteca quepertenceu a José Honório Rodrigues.11

Ao mesmo tempo, as bibliotecas, como locaisde pesquisa, naturalmente tendem sempre avalorizar o aspecto histórico da obra aoavaliar a sua importância. Se um livro antigofor considerado raro, por exemplo, e estiver

10 MORAES, Bib. bras. período colonial, p.viii.11 GRAIEB, Carlos. Acervos raros são alvo de descaso

e desrespeito. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 25maio 1996. p. D-3.

em más condições de conservação, deverá serpreservado e eventualmente restaurado, o queinclui muitas vezes o trabalho demicrofilmagem ou duplicação fac-similar,para evitar a constante manipulação dooriginal.

Neste sentido, a “desvalorização” do original,em termos mercadológicos, devido ao seumau estado de conservação ou à suaduplicação, não retira de uma obra a condiçãode raridade bibliográfica. Para estasinstituições, a definição do que é uma obrarara passa necessariamente pela análisehistórica dos aspectos ligados ao modo comoos livros foram produzidos, independente daquantidade de exemplares existentes ou deseu valor de mercado. Conforme Martínez deSousa, “sin embargo, la rareza no es,bibliofílicamente, un criterio absoluto devalor: algunos libros comunes puedenalcanzar cotas altas, mientras que otrosrelativamente escasos pueden venderse aprecios no elevados.”12

Durante quase 350 anos, no período que vaide Gutenberg até o final do século XVIII,todos os livros foram produzidos praticamentedo mesmo modo. A quantidade de livrosproduzidos sempre foi muito grande, e apenasnos primeiros cinqüenta anos de impressão,até 1500, houve uma produção estimada emdez milhões de incunábulos, em toda aEuropa. Mesmo podendo existir váriosexemplares de cada título (calcula-se queforam impressos mais de 29 mil títulos, comuma tiragem média de 300 exemplares poredição), bibliotecas e outras instituiçõespúblicas consideram todos os incunábuloscomo livros raros, não importando seu valorde mercado. A concepção que prevalece nestecaso é a da raridade enquanto valor histórico.

Deste ponto de vista, um livro antigo carregaem si mesmo as marcas da sua forma deprodução artesanal, servindo como umdocumento representativo dos processosutilizados na época para a transmissão deinformações. Assim, a própria estrutura dolivro (sua forma de encadernação, tipo de

12 MARTÍNEZ DE SOUSA, op. cit., p.468.

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papel usado, ilustrações, etc.) é uma rica fontede informações sobre o modo de se pensar acultura de um determinado período dahistória, levando à conclusão de que todas asobras publicadas de forma artesanal devemser preservadas como raras.

Devido à forma manual da impressão delivros, podiam existir diferenças entre osexemplares de uma edição, pois erros detipografia detectados durante o trabalho deimpressão eram corrigidos apenas naspróximas cópias. Da mesma forma, uma dadatiragem podia apresentar dois ou maisexemplares distintos, os chamados “estados”da tiragem. O papel usado nesta épocatambém era produzido manualmente, emfolhas individuais, usando principalmentetrapos de linho e algodão.

Com as novas invenções que revolucionarama tipografia, no início do século XIX, como amáquina de fabricar papéis de Nicolas Robert,aperfeiçoada por Fourdrinier em 1803, asrotativas de impressão off-set e a linotipo, ecom o uso da força motriz a vapor, autilização da polpa da madeira na fabricaçãodo papel e as novas reproduçõesfotomecânicas de ilustrações, as editoraspassaram a automatizar a produção do livro.A uniformização na publicação de livros nãosó aumentou incrivelmente a quantidade deexemplares disponíveis por edição, como fezcom que todas as cópias de uma mesmaedição passassem a ser idênticas entre si.Deste momento em diante, como já vimos, asúnicas diferenças possíveis serão devidas àscaracterísticas individualizantes de algumexemplar em particular.

Como reação a esta forma de produção, desdeo final do século XIX pequenas editoraspassaram a publicar obras utilizando papéisartesanais, ilustrações artísticas ou novostipos de letras. Destacam-se, neste contexto,as produções de William Morris, designer,arquiteto e poeta inglês que criou a Arts andCrafts Society visando a revalorização dotrabalho artesanal em várias áreas, como umdesdobramento de seu ideal socialista. Morriscriava novos tipos fundidos manualmentepara imprimir os textos, usando sempre papéis

artesanais em suas publicações, feitas atravésda editora Kelmscott, fundada por ele em1891 e que deu início às modernas privatepress existentes atualmente em diversospaíses.13

Já no século XX, ficaram famosos os livros dearte produzidos por Picasso, Matisse e Miró,entre outros, trazendo gravuras originaisassinadas pelos autores. Existem, aliás, váriosexemplos de livros recentes, produzidos paraserem considerados raros (e que são tambémchamados de livros de luxo ou artísticos),com uma tiragem bem reduzida, usandogravuras exclusivas e informando que asmatrizes serão inutilizadas após a impressão.

AS NORMAS DE CATALOGAÇÃO

Baseadas nesta distinção entre livrosartesanais e industrializados, as normas decatalogação utilizadas por bibliotecas definemcomo raros todos os livros publicados até1801, independente do número de exemplaresexistentes. Obras mais recentes,principalmente quando publicadas de formaartesanal, também podem merecer umacatalogação especial, de acordo com a políticada instituição.

Entre os manuais de catalogação, distinguem-se a segunda edição das Anglo-AmericanCataloging Rules (conhecidas comoAACR2), o International Standard BookDescription, principalmente a parte relativa amaterial antigo, o ISBD(A), e maisrecentemente o Descriptive Cataloging ofRare Books, também chamado de DCRB.

O DCRB, publicado em 1991, é a segundaedição revista do Bibliographic descriptionof rare books, editado pela Library ofCongress em 1981 para servir de norma decatalogação de suas obras raras, emcomplementação ao AACR2. Logo no iníciodeste texto, quando são determinados oescopo e os propósitos do trabalho, é dito que

“Estas regras (...) indicam instruçõespara a catalogação de livros

13 FEATHER, John. A dictionary of book history.

London: Routledge, 1986. p.152.

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impressos, folhetos e publicações deuma folha, cuja raridade, valor ouinteresse torna uma descriçãoespecial necessária ou desejável.Elas são especialmente apropriadaspara aquelas publicações produzidasantes da introdução da impressãopor máquinas no século XIX.Todavia, elas podem ser usadas nadescrição de qualquer livro,particularmente aqueles produzidosmanualmente ou por métodos quedão continuidade à tradição do livrofeito à mão. (...) Esta regras podemtanto ser aplicadas de formacategórica aos livros, baseado nadata ou lugar de publicação (porexemplo, todos os livros ingleses ounorte-americanos impressos antes de1801), como ser aplicadasseletivamente, de acordo com apolítica administrativa dainstituição.”14

A nota 2, nesta mesma página, confirma: “ALibrary of Congress aplica esta regra deforma consistente aos livros publicados antesde 1801, enquanto geralmente aplica oAACR2 às publicações posteriores.”

A obra que acompanha o DCRB tem o títulode Examples to accompany DescriptiveCataloging of Rare Books e foi publicadapelo Bibliographic Standards Committee ofthe Rare Books and Manuscripts Section daACRL/ALA em Chicago, em 1993. Entre osexemplos apresentados, estão algumas obrasdos séculos XIX e XX, como demonstraçãode obras recentes tratadas como raras (livrosde tiragem limitada ou com marcas depropriedade).

Estes dois manuais de catalogação, aliás,estão a merecer uma tradução brasileira,realizada preferencialmente por um grupo detrabalho reunindo bibliotecáriosespecializados no manejo de obras raras, nosmoldes daquele grupo responsável pelatradução e adaptação do AACR2 para uso denossas bibliotecas.

14 WASHINGTON. Library of Congress. Descriptive

cataloging of rare books. 2.ed. Washington, 1991.p.1.

Outro texto bastante importante sobre estaquestão é o Guidelines on the selection ofgeneral collection materials for transfer tospecial collections, publicado pela Seção deObras Raras e Manuscritos da AmericanLibrary Association, em Chicago. Este guiaindica quais as políticas a serem adotadas nosprocedimentos de seleção e transferência deobras raras de coleções gerais para acervosespeciais, listando as principais característicasa serem consideradas para a definição deobras raras. Em relação à data de publicaçãodo material bibliográfico, é dito que

“Quanto mais tempo um item tiversobrevivido, mais valioso em termosde preservação ele se torna, pois umitem antigo passa a ser um dentre umnúmero decrescente de testemunhasde seu próprio tempo. (...) Há umacrescente concordância quanto àproteção, nas mesmas condições, detodos os materiais impressos antesde 1801, não importando sua formaou condição.”15

Complementando este quadro, será lançadoem breve nos EUA o Descriptive Catalogingof 19th-Century Books, que deverá serutilizado para a catalogação das obras doséculo XIX. Este período estava como que emsuspenso entre os dois principais códigos decatalogação, pois o DCRB é destinadoprimariamente para os materiais pré-1801, e oAACR2 para os materiais do século XX emdiante. Além disso, com o início da chamadaera industrial na tipografia, a partir de 1825,mudaram muito os métodos de impressão,ilustração, encadernação, etc., e houve umamaior separação entre as funções deimpressor, editor e livreiro, aumentando aimportância de uma catalogação específicapara este tipo de material.

Atualmente, encontram-se disponíveis naInternet, entre outros, os seguintes guias paraauxiliar na catalogação de obras raras:

15 ACRL/RBMS Ad Hoc Committee for Developing

Transfer Guidelines. Guidelines on the selectionof general collection materials for transfer tospecial collections. Chicago: ACRL, 1990. 4 p.

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ISBD(A):http://www.ifla.org/VII/s13/pubs/isbda.htmDCRB:http://www.tlcdelivers.com/tlc/crs/rare0170.htmDC19:http://www.library.yale.edu/~mtheroux/19cAACR2, 1999 amendment:http://www.ala.org/editions/updates/aacr2/aacr299print.htmlGuidelines:http://www.ala.org/acrl/guides/sel-tran.html

Existem, portanto, padrões internacionais dedefinição do que seja uma raridadebibliográfica que se valem do princípio de quetodos os livros publicados de forma artesanalmerecem ser considerados raros. Assim, autilização do limite da data de publicaçãocomo um critério de demarcação não é feitapor uma questão “puramente cronológica”,como havia sido dito anteriormente, mas estábaseada em um fato historicamente dado, qualseja, a mudança na tecnologia dos meios deprodução. Como foram vários osaperfeiçoamentos durante o tempo, pormotivos de simplificação esta data foiestabelecida como sendo o ano de 1801.

Entretanto, os responsáveis por bibliotecaspúblicas ou outras instituições mantidas peloEstado não devem identificar uma obra comorara levando em conta apenas seu caráterhistórico ou cronológico. Cada instituição quemantém acervo de obras raras precisa criaruma política própria para a definição dascaracterísticas particulares que os livrosdevem possuir para que sejam consideradosraros, como consta inclusive do textoanteriormente citado.

Para que se possa garantir a correta indicaçãoda raridade de uma obra, faz-se necessáriotanto uma análise detalhada do livro(incluindo o estudo de sua importânciahistórica e literária, a verificação do númerode exemplares conhecidos e o registro demarcas que individualizem o exemplar)quanto o conhecimento da política específicada biblioteca para a preservação de suasobras.

Existe, por fim, a possibilidade de se ter doisníveis de raridade: um nível mais estrito,reservado para aquelas obras que são raras emqualquer parte do mundo (publicadas até certadata, restando um número pequeno de cópias,com um valor monetário alto), e das quais sepoderia indicar como raro qualquer exemplarexistente, e um segundo nível mais amplo,para os exemplares de obras com aspectosparticulares, de interesse específico de umabiblioteca, reunindo por exemplo as obrasautografadas, apresentando ex-libris ou comencadernações artísticas.

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DERARIDADE EM BIBLIOTECASPÚBLICAS

Em 1989, a Biblioteca Nacional publicou umfolheto16 que listava 64 catálogos debibliotecas brasileiras, dos quais vinte e umpublicados durante o século XIX e quarenta etrês catálogos de obras raras produzidos noséculo XX. A análise de alguns destescatálogos mostra que, na sua maioria, osresponsáveis pela publicação destas obras dereferência não indicam quais foram oscritérios de raridade utilizados ou qual apolítica da instituição nesta área. Em geral,são incluídas obras brasileiras e estrangeirasdos séculos XIX e XX, sem uma justificativaprecisa dos motivos que levaram a estainclusão.

Os primeiros catálogos publicados não trazemnenhuma indicação dos critérios de raridadeutilizados, como é o caso do Catálogo deobras raras da Biblioteca Municipal Máriode Andrade, de 1969. O catálogo daBiblioteca Pública do Estado do Rio Grandedo Sul, de 1972, indica “algumas das obrasraras ou valiosas que a Biblioteca Pública doEstado possui”. Noah Moura, responsávelpela pesquisa e compilação deste catálogo,afirma:

“Não pretendemos apresentá-lo semfalhas técnicas ou de julgamento.

16 RIO DE JANEIRO. Biblioteca Nacional. Catálogos

brasileiros de obras raras: publicados porbibliotecas e instituições brasileiras. Rio de Janeiro,1989. 12f.

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Como sabemos, o conceito deraridade, sendo relativo ao tempo eao espaço, é passível deinterpretações quanto ao equilíbriode valores intrínsecos ebibliográficos, deixando, portanto,de ser absoluto.Igualmente, coletamos as obras quedevem figurar em nosso 'inferno', porcompreender a utilidade ocasionaldestes livros, como marcos semprevivos da linguagem, do espírito e doshábitos de uma época.”17

São listadas 46 obras dos séculos XVI aXVIII, 71 obras do século XIX e 30 obras doséculo XX ou do Inferno (depósitos especiaisde antigas bibliotecas que guardavam, emgeral, obras eróticas ou censuradas), quereúne, na sua maioria, obras publicadas nesteséculo. Mesmo sem apresentar uma definiçãomais clara do que sejam obras raras, é um dosmelhores catálogos brasileiros, muito bemorganizado e apresentando extensa pesquisabibliográfica.

Publicado em 1981, o catálogo Obras rarasna Biblioteca do Ministério da Justiça, deresponsabilidade de Neuma PinheiroGonçalves e Maria Cristina de Lima,apresenta 1.215 obras do acervo da Bibliotecade Affonso Penna Junior e é mais preciso nasindicações de critérios de seleção:

“- obras de autores brasileiros eestrangeiros editadas até 1860;- primeiras edições;- segundas edições até 1889;- edições de luxo;- edições com tiragem aproximadade 300 exemplares;- obras autografadas por autoresrenomados;- obras de personalidades deprojeção política, científica, literáriae religiosa;- teses;

17 RIO GRANDE DO SUL. Biblioteca Pública.

Catálogo de obras raras ou valiosas daBiblioteca Pública do Estado. Porto Alegre:Globo, 1972. s.p.

- obras abonadas de próprio punhoou reunidas em coletâneas porAffonso Penna Junior.”18

A simples menção de “primeiras edições” ou“teses” não implica claramente na noção deobra rara, pois estas podem ser obras recentes,de autores sem renome ou de fácillocalização, no caso de teses de grandesuniversidades. Por sua vez, muitas das obrassó aparecem listadas aqui como sendo rarasporque pertenceram a Affonso Penna Junior,não possuindo nenhuma característicaintrínseca de raridade bibliográfica.

De um ponto de vista mais estrito, portanto,tais obras poderiam ser chamadas de especiaise não raras, mas deve ser levado em conta oaspecto da política da instituição, quedeterminou como um dos critérios o fatodestas obras terem pertencido a um bibliófilo.

Por sua vez, o Catálogo de obras raras daBiblioteca Pública Arthur Vianna, deBelém do Pará, indica que “o levantamentoabrange publicações datadas até 1850”.Dentre várias fontes bibliográficas utilizadaspara indicação de raridade, é citadaespecificamente o Trésor des livres rares etprécieux, de Jean Théodore Graesse, quandose informa o seguinte:

“Ressalta-se que, no desenvolvimentodos trabalhos do PLANOR, uma obraapenas mencionada no 'Graesse',mesmo sem citação de raridade éconsiderada rara. O Catálogo arrola166 obras raras dos séculos XVII-XIX, acompanhadas de citações deraridade e/ou importância histórica,recuperadas nas fontes consultadas,assim como um aparato referencial,que fornecerá ao pesquisador fontesespecíficas sobre a raridade daobra.”19

18 BRASIL. Ministério da Justiça. Obras raras na

Biblioteca do Ministério da Justiça. Brasília,D.F.: Secr. Documentação e Informática, 1981. p.5.

19 PARÁ. Biblioteca Pública Arthur Vianna. Catálogode obras raras da Biblioteca Pública ArthurVianna: séculos XVII-XIX. Belém: Secr. Estadoda Cultura, 1989. p.13.

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Novamente, aparecem aqui obras que nãoseriam consideradas raras num sentido maisrigoroso do termo. Obras publicadas empaíses europeus após 1801, por exemplo, nãosão consideradas raridades absolutas,dependendo de uma análise posterior, quelevará em conta a sua forma de produção(artesanal ou industrial), tipo de papel eilustração utilizados e quantidades deexemplares existentes. No entanto, autilização de diversas fontes, consultadas paraa realização da pesquisa e citadas após asreferências bibliográficas, denota o usocuidadoso de um subsídio importante nestetipo de trabalho.

TEXTOS SOBRE CRITÉRIOS DERARIDADE

A análise de obras mais específicas sobrecritérios e definições de raridades mostra queos textos quase sempre tentam reunir livrosraros com outros que poderiam ser chamadosde especiais, e onde a distinção de dataalgumas vezes não fica muito clara.

No texto de Ana Virginia Pinheiro sobre oestabelecimento de critérios de raridadeapontam-se, entre outras, as seguintescaracterísticas de obras que podem serconsideradas raras:

“1 limite histórico: 1.1 todo o período que caracteriza aprodução artesanal de impressos (...)do século XV, princípio da históriada imprensa, até antes de 1801,marco do início da produçãoindustrial de livros. 1.2 todo o período que caracteriza afase inicial da produção deimpressos em qualquer lugar – porexemplo, o século XIX, quando forampublicados os primeiros´incunábulos´ brasileiros, com acriação da Imprensa Régia. (...) 2 aspectos bibliográficos dosvolumes produzidos artesanalmente,independente da época de publicação(...). 3 valor cultural: 3.1 edições limitadas e esgotadas,especiais e fac-similares,personalizadas e numeradas,

críticas, definitivas e diplomáticas(...). 3.4 edições de clássicos, assimconsiderados nas histórias dasliteraturas específicas (...). 4 pesquisa bibliográfica: 4.1 nas fontes de informaçãobibliográficas (...); 4.2 nas fontes de informaçãocomerciais, que vão avaliar, emespécie, cada unidade bibliográfica –o preço passa a ser indicador de´raridade´.5 característica do exemplar –referindo-se àqueles elementosacrescentados a unidadesbibliográficas em período posterior asua publicação:5.1 marcas de propriedade (...);5.3 dedicatórias de personalidadesfamosas e/ou importantes”.20

Embora os itens 1 e 2 englobem aquilo que éem geral considerado raro, nos outros itensaparecem obras que dependerão da análise decada caso, para uma correta indicação deraridade. Por exemplo, quanto ao valorcultural, não é qualquer exemplar em fac-símile que pode ou deve ser considerado raro,nem mesmo todas as edições críticas oudefinitivas.

Da mesma forma, a citação de uma obra emuma fonte bibliográfica importante ou umfamoso catálogo de leilão não é garantia deque a obra seja rara. A advertência final,inclusive, diz que

“cada bibliófilo estará livre paraescolher, a despeito das bibliografias– que apresentam diferentesjulgamentos de valor indicativo – asobras que correspondem ao seuespírito, ao seu humor, e, por tudo oque foi dito, à sua sensibilidade, naformação de uma coleção de obrasraras” (grifo no original).

20 PINHEIRO, Ana Virginia Teixeira da Paz. Que é

livro raro?: uma metodologia para oestabelecimento de critérios de raridadebibliográfica. Rio de Janeiro: Presença, 1989. p.29-32.

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Esta é uma afirmação por demais abrangentepara poder servir de base para uma política deseleção e desenvolvimento de uma coleçãosignificativa de livros raros, dentro de umabiblioteca pública, servindo mais para algunscolecionadores que queiram criar um acervode interesse específico.

De todo modo, a política da instituição queguarda um acervo considerado raro deveráditar os limites daquilo que for merecedor deuma proteção maior, e estas obras deverão serarmazenadas junto às raras, mesmo queobjetivamente não pertençam a este grupo.Neste sentido, todos os materiaisbibliográficos especiais merecem os cuidadosde preservação que as obras raras recebem.

No livro Segurança em acervos raros,preparado pelo Grupo de Estudos em ObrasRaras do Rio de Janeiro, a questão do queseria uma obra rara é colocada desta forma:

“Mas, o que é uma obra rara? Quecritérios são empregados para sequalificar uma obra de rara,internacionalmente?- Primeiras impressões (século XV eXVI), onde estão incluídos osincunábulos (...).- Impressões dos séculos XVII eXVIII, até 1720 (na BibliotecaNacional. Pode variar de acordocom a biblioteca).- Edições de tiragens reduzidas, istoé, poucos exemplares disponíveis nomercado, não importando a data.- Edições especiais (por exemplo, asedições de luxo para bibliófilos).- Edições clandestinas (não oficiais).- Obras esgotadas.- Exemplares de coleções, comencadernações luxuosas ou belas,carimbos e ex-libris (...).- Exemplares com anotaçõesmanuscritas de importância,incluindo dedicatórias.”21

Quanto aos livros brasileiros, a distinção quese faz é a seguinte: 21 GRUPO de Estudos em Obras Raras do Rio de

Janeiro. Segurança em acervos raros. Rio deJaneiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994. p.11-12.

“No Brasil, a produção gráfica sedesenvolveu, principalmente, a partirdo Segundo Reinado; por isso, oArquivo Nacional considera raros oslivros publicados até 1889localizados na Seção de PublicaçõesOficiais e Biblioteca. Para efeito delocalização na Seção de ObrasRaras, a Biblioteca Nacionalconsidera raros os livros publicadosno Brasil até 1850.”

São dadas também outras indicações deraridade:

“Os incunábulos locais – primeiroslivros impressos numa determinadacidade – também devem serobservados. Naturalmente, outroscritérios podem ser estabelecidos, deacordo com os interesses próprios dainstituição, ou do colecionador. Dequalquer forma, devemos ressaltar ovalor do apoio bibliográfico para oestabelecimento de critérios, comoconsultas a bibliografias, catálogosespeciais, conhecimento de históriado livro e outras fontes deinformação e referência, como ousuário, por exemplo.”

Estes critérios estão melhor definidos do queos anteriores, limitando melhor o que deve serconsiderado como uma obra rara. Não é feitamenção à questão do livro enquanto artefatomanual, mas a indicação de obras em tiragensreduzidas ou com poucos exemplaresdisponíveis no mercado aponta para a formacomo esta questão é encarada peloscolecionadores, por exemplo.

É de se notar, todavia, que a fixação da datade 1850 para obras raras, como é feita naBiblioteca Nacional, exclui todos osimpressos publicados na Província doAmazonas, que só ganhou uma imprensa apartir de 1852, em Manaus, ou na Provínciado Paraná, que inicia a edição de obras apenasem 1854, após sua separação de São Paulo.Nestes casos, de qualquer forma, existe apossibilidade de se tratar estas obras como“incunábulos locais”.

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A indicação de consulta a bibliografias ecatálogos especializados é muito importante,mas, como se diz no texto, trata-se de umapoio para o estabelecimento dos critérios, enão de uma norma a ser rigidamente seguida.É importante também ressaltar a lembrançados interesses próprios da instituição nadefinição destes critérios, que todavia deverãose ater principalmente aos aspectos históricose de valor cultural da obra para caracterizá-lacomo rara.

A presença de um ex-libris, por exemplo, sóserá significativa se a política de seleção dainstituição determinar que todas as obras dacoleção que pertenceu a um antigo bibliófilodeverão ser mantidas reunidas no mesmoespaço; mesmo assim, é preferível chamaresta coleção de especial e não de rara.

Um bom exemplo de critérios próprios deidentificação de obras raras e especiaisaparece no texto escrito pelo grupo detrabalho criado na Universidade FederalFluminense para realizar a identificação depossíveis obras raras existentes no acervogeral da biblioteca daquela instituição. Estetexto

“visa oferecer elementos quepossibilitem a identificação, reunião,tratamento e manutenção desseacervo valioso, já existente ou porexistir, nas coleções da UFF,destinando-se, principalmente, aprofissionais que atuem nas suasbibliotecas.Pretende definir normas eprocedimentos técnicos, além depropor recomendações que poderãocontribuir para identificação emanutenção das obras raras e/ouvaliosas do acervo geral da UFF.”22

É importante a preocupação com o acervo “jáexistente ou por existir”, que indica a intençãode utilizar os critérios como uma norma paraidentificação de futuras aquisições. Estescritérios são acompanhados de pequenas notas 22 NITERÓI. Universidade Federal Fluminense.

Núcleo de Documentação. Documentos raros e/ouvaliosos: critérios de seleção e conservação.Niterói, 1987. 35p.

explicativas do motivo de sua inclusão.Aparecem as seguintes indicações (aquitranscritas sem as notas):

“Serão consideradas obras rarase/ou valiosas:- até o século XVIII- brasileiras do século XIX- edições princeps- 1as edições- preliminares- texto definitivo- críticas- especiais- apreendidas, suspensas ourecolhidas- repudiadas pelo autor- clandestinas- ilustradas por artistas de renomeou pelos próprios autores- UFF- editoras fluminenses- autores fluminenses- Rio de Janeiro- clássicos em todos os ramos daatividade humana- obras consagradas, no ensino daUFF- premiadas- traduções/tradutores- esgotadas/não reeditadas- fac-similares”

É feita também uma lista de itens paraidentificação de “exemplares raros e/ouvaliosos” e “peças raras e/ou valiosas”, queincluem as seguintes categorias:

“- com dedicatórias manuscritas dosautores- autografados pelos autores- com dedicatórias e/ou autógrafosimportantes- com anotações importantes- com marcas de propriedade:assinaturas, nomes, iniciais, ex-libris, carimbos, brasões, etc.- que, comprovadamente,pertenceram a personalidadesimportantes- o de tiragem especial em ediçõescomuns- os que contenham ilustraçõesespeciais feitas por artistas oupersonalidades importantes

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- com encadernações de luxo,curiosas ou exóticas- os que contenham algumaparticularidade ou característicaprópria que os distingam dosdemais”

Estas indicações são semelhantes às de outrostextos sobre o assunto. No entanto, estãotambém contempladas aqui obras publicadaspela própria UFF, por exemplo, que só nestecontexto específico poderiam serconsideradas raras. Indicamos, finalmente, otexto sobre critérios que a FundaçãoBiblioteca Nacional lançou, durante o VEncontro Nacional de Acervo Raro, realizadoem 2000, em Porto Alegre. Em um CD-ROM,juntaram-se o Catálogo coletivo dopatrimônio bibliográfico nacional dos acervosinventariados dos séculos XV-XVI e oscritérios de raridade adotados pela Divisão deObras Raras daquela Biblioteca.

Todas estas obras servem de parâmetro paraque outras instituições estabeleçam umapolítica de obras raras, que deve sercombinada com seus próprios critérios. Para odesenvolvimento desta política, deverão serlevados em conta também outros textos, talcomo o livro Rare book librarianship, deRoderick Cave, o único existente sobre amatéria, ainda sem tradução para o português.

A EXPERIÊNCIA DA BIBLIOTECAMÁRIO DE ANDRADE

Na Biblioteca Mário de Andrade foi tomada adecisão de se criar três níveis paraidentificação dos livros: um nível de obrasraras, outro de obras especiais e o terceiro deobras comuns. Estas indicações foram a basepara a separação dos acervos, na Seção deObras Raras e Especiais, em dois espaçosdiferentes.

Para que se discutissem os critérios deraridade que iriam definir nossa política, aSecretaria Municipal de Cultura agendou, em1992, reuniões entre os funcionários da Seçãode Obras Raras e Especiais e a Profa. Dra.Ana Maria de Almeida Camargo; dessasreuniões participaram assessoras doDepartamento de Bibliotecas Públicas e

bibliotecárias do Centro Cultural São Paulo eda Biblioteca Monteiro Lobato, que tambémpossui uma coleção de obras raras.

Foram discutidos todos os aspectosintrínsecos e extrínsecos que determinam araridade absoluta ou relativa de uma obra,tomando por base tanto as informaçõesdisponíveis sobre o tema, aqui analisadas,como o conhecimento da Prof. Dra. AnaMaria de Almeida Camargo e a práticavivenciada pelos funcionários da Seção.Foram estabelecidos os seguintes critériospara definição de uma obra como sendo rara oespecial, dentro da coleção da BibliotecaMário de Andrade, e portanto passível de sertransferida para esta Seção:

Nível III:Livros editados até antes de 1801,qualquer que seja o local depublicação;Livros editados até antes de 1901no Brasil, sobre o Brasil ou porautores brasileiros (da chamada“coleção brasiliana”);Livros editados até 1901 fora doBrasil, quando forem de literaturade viagem e primeiras edições deobras importantes ou em ediçõesluxuosas;Livros editados após 1901, emprimeira edição, quando forem deeditores renomados e de escritoresmodernistas ou de vanguarda; eLivros artísticos ou de luxo, comtiragens limitadas e ilustraçõesoriginais.

Nível II:Livros publicados fora docomércio, por órgãosgovernamentais ou devido às leisde incentivo fiscal, desde quetenham algum interesse histórico,artístico ou literário;Livros raros reimpressos de formafac-similar, que servirão de fontede consulta, para preservação dosoriginais;Livros, mesmo recentes, dos quaissó existam poucas cópias

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conhecidas, por qualquer motivo(destruição dos exemplares pordesastre, acidente, perseguiçãomoral ou política, etc.); eLivros publicados em formatospouco usuais, especialmenteaqueles com menos de dezcentímetros de altura.

Nível I:Livros comuns.

A prática vivenciada pelos funcionários daSeção mostrou também que, durante otrabalho de revisão de um acervo antigo,como é o caso da Biblioteca Mário deAndrade, são grandes as possibilidades deserem encontrados diversos tipos de obrascatalogadas junto aos livros. Desta forma,selecionamos na Coleção Geral eincorporamos ao nosso acervo dezenas demanuscritos, tanto originais como cópias,escritos à mão ou datilografados,encadernados ou em folhas soltas.Encontramos também, entre outros materiaisbibliográficos, álbuns de fotografias originais,números avulsos de periódicos, pastas derecorte de jornais e coleções de cartões-postais.

Conforme diz Ana Maria Camargo, “valelembrar que um acervo de obras rarascomportaria, em princípio, os mais diferentesgêneros, formatos e suportes de informação. Ostextos manuscritos não são, necessariamente,documentos de arquivo fora de seu domicíliolegal, vivendo como intrusos em meio aosimpressos.”23 Ao mesmo tempo, fazendo anecessária distinção entre bibliotecas earquivos, ela alerta: “ao documento dearquivo – em que pese seu caráter deexemplar único e original – não cabe nunca aqualidade de rara.”

Deve ficar claro que o estabelecimento decritérios de raridade servem apenas comoorientação geral e não como camisa-de-forçaa determinar rigidamente o procedimento aser adotado em cada caso. Lembramosnovamente as palavras de Rubens Borba de

23 CAMARGO, Obra rara, 1992. p.4.

Moraes, como um exemplo das dificuldadesde definição da raridade de um exemplar:

“o livro com dedicatória é uma coisacuriosa. A gente nunca sabe quedestino a gente deve dar para livroscom dedicatória. Se o livro é raro,evidentemente ele é raro em si e nãopela dedicatória. Mas muitas vezes olivro não é raro, mas a dedicatóriado autor é interessante. Então, nessecaso, convém guardar (...) porque seele não é raro hoje em dia, ele serámais tarde”.24

O perfil do acervo da Seção de Obras Raras eEspeciais da Biblioteca Mário de Andradeestá caracterizado, desde sua formação, comoum rico depósito de fontes bibliográficasprincipalmente no que se refere à história doBrasil e de Portugal, descrições de países eviagens, literatura brasileira, portuguesa efrancesa e história do livro e da imprensa.Temos recebido tanto os livros raros antigoscomo algumas produções mais recentes destasáreas, como por exemplo uma primeira ediçãode Jorge Amado, um catálogo de exposiçõesde obras raras ou mesmo um dos vários livrosde correspondência de Mário de Andrade,como os que têm surgido nos últimos anos.

Vale destacar como exemplo de obras a seremtambém preservadas aqueles livros antigosque recentemente adquiriram importânciaespecial para a Seção, como as primeiraspublicações na área de biblioteconomia,principalmente os textos surgidos após ocurso pioneiro criado por Rubens Borba deMoraes em nossa Biblioteca, na década de1940. Da mesma forma, estão nesta coleçãoas obras de autoria de bibliófilos, como FélixPacheco e Paulo Prado, ou de antigosdiretores da Biblioteca Mário de Andrade,como Eurico de Góis, Rubens Borba e SérgioMilliet, cujas antigas coleções privadaspertencem hoje a nosso acervo.

Temos também livros que complementamnossa coleção e nos auxiliam na compreensão

24 Entrevista de Rubens Borba de Moraes a MariaRegina Rodrigues, Chefe da Seção de Obras Raras eEspeciais da BMA, em 1983.

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do valor do acervo, tais como obras sobreencadernações raras e artísticas, fac-símilesde obras raras, catálogos de leilões,bibliografias de autores importantes e deassuntos de interesse e outros instrumentos detrabalho e pesquisa.

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