Cristhian Monteiro Martins de Mello RELATORIO DE ESTÁGIO ... · Matriz de Tambaqui apta a...
-
Upload
nguyenphuc -
Category
Documents
-
view
215 -
download
0
Transcript of Cristhian Monteiro Martins de Mello RELATORIO DE ESTÁGIO ... · Matriz de Tambaqui apta a...
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E ZOOTECNIA
CURSO DE ZOOTECNIA
Cristhian Monteiro Martins de Mello
RELATORIO DE ESTÁGIO: ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA BOM
FUTURO PISCICULTURA
Cuiabá
2017
2
Cristhian Monteiro Martins de Mello
RELATORIOS DE ESTÁGIO: ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA BOM FUTURO
PISCICULTURA
Trabalho de Conclusão, Curso de
Graduação em Zootecnia da Universidade
Federal De Mato Grosso, apresentado
como requisito parcial a obtenção do titulo
de Bacharel em Zootecnia.
Orientador: Prof. Dr. Marcio Aquio
Hoshiba
Supervisor do Estágio Supervisionado:
Zootecnista Darci Carlos Fornari
Cuiabá
2017
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por mais uma etapa concluída, o apoio dos meus pais (Marleo e
Salma) tanto moral quando financeiro foi imprescindível para a conclusão do curso.
Agradeço a minhas tias (Vannia e Valeria) pelo apoio positivo e a incentivar sempre.
Sou abençoado por ter vocês presentes em minha vida.
Durante o curso tive a oportunidade de conhecer e conviver com pessoas como Paulo,
Gabriel, Camila, Larissa entre outros companheiros que estiveram presentes sempre,
nos momentos de aprendizado, brincadeiras e festa.
Sou grato a todos os Professores, excelentes profissionais e também amigos. Carlos
Eduardo, Nelcino, Janessa e Maria Fernanda.
Ao pessoal da piscicultura Bom Futuro que mostraram seu meio de produção e foram
muito companheiros.
A banca examinadora (Janessa, Calixto), ao orientador Marcio Hoshiba, muito obrigado
pelos ensinamentos e sua amizade.
6
“Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso. Se
estamos possuídos por uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los.
Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e
despidos de orgulho”.
Dalai Lama
7
Lista de Ilustrações
Figura 1. Segmentos produtivos da aquicultura no Brasil..............................................13
Figura 2. Produção aquícola nas regiões do Brasil.........................................................14
Figura 3. Vista interna (A) e externa (B) do laboratório de reprodução de
peixes..............................................................................................................................24
Figura 4. Sala para eclosão das Artemias(A) e incubadora dos peixes(B)......................24
Figura 5. Caixa de espera das matrizes para manejo, depuração e etc.........................25
Figura 6. Viveiro para estocagem de alevinos dos peixes reprodutores e matrizes.... 25
Figura 7. Viveiros escavados para estocagem dos alevinos produzidos na empresa....26
Figura 8. Reservatório para laboratório (A) e para os viveiros dos alevinos(B).............26
Figura 9. Viveiro tanque escavado para estocagem das matrizes..................................27
Figura 10. Rede de arrasto..............................................................................................27
Figura 11. Manejo de monitoramento do oxigênio........................................................29
Figura 12. Ração farelada...................................................................................,...........29
Figura 13. Raçao extruzada 1,0mm................................................................................30
Figura 14. Arraçoamento no viveiro dos Cachara..........................................................30
Figura 15. Saco de 25 kg de ração oferecido para as matrizes, péletes 14mm..............31
Figura 16. Matriz de Tambaqui apta a reprodução........................................................32
Figura 17. Aplicação hormonal na Cachara....................................................................33
Figura 18. Extrusão dos gametas no Tambaqui .............................................................33
Figura 19. Incubadoras com ovos de Tambaqui.............................................................34
Figura 20.Incubadora com Artemia................................................................................35
8
Figura 21. Incubadora com larvas de Cachara e Artemia...............................................35
Figura 22. Incubadora antes da limpeza.........................................................................36
Figura 23. Incubadora limpa...........................................................................................36
Figura 24. Soltura das larvas de Cachara nas caixas.......................................................37
Figura 25. Ração ofertadas a larvas................................................................................37
Figura 26. Gema de ovo e ração.....................................................................................38
Figura 27. Homogeneização e sucção da ração com seringa.........................................38
Figura 28. Passagem de rede no viveiro dos alevinos....................................................39
Figura 29. Alevinos padronizado e pronto para a soltura..............................................40
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Local de atuação e os principais indutores de reprodução utilizados............15
Tabela 2. Representa as Doses de hormônio de Acordo com cada Espécie..................18
Tabela 3. Valores de Horas Grau e Tempo Aproximado para a Ovulação de Algumas
Espécies..........................................................................................................................19
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 1
2. OBJETIVO........................................................................................ 2
3. REVISÃO...........................................................................................3
3.1 Aquicultura......................................................................................3
3.2 Piscicultura.....................................................................................5
3.2.1Reprodução Artificial......................................................5
3.2.1.1 Seleção de Reprodutores...........................................6
3.2.1.2 Indução Hormonal......................................................7
3.2.1.3 Extrusão dos Gametas................................................8
3.2.1.4 Hidratação e Incubação.............................................10
3.2.2 Produção de Peixes Híbridos..............................................10
3.2.3 Manejos Gerais na Piscicultura...........................................11
3.2.3.1 Qualidade da Água....................................................11
3.2.3.2 Desinfecção do Viveiro..............................................12
3.2.3.3 Arraçoamento e Biometria........................................12
3.2.3.4 Despesca e Depuração..............................................13
4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO..................................................................14
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO....................................19
5.1 Arraçoamento................................................................................19
5.2. Seleção de Reprodutores.............................................................22
5.3. Indução Hormonal e Espermiação................................................23
5.4 Produção de Artemias...................................................................25
5.5 Manejos das incubadoras...............................................................26
5.6 Treinamento Alimentar da Cachara................................................27
5.7 Biometria........................................................................................29
6. Considerações Finais.........................................................................31
7.Referências........................................................................................32
11
Resumo
A piscicultura é uma atividade em ascensão dentro do setor agropecuário e seus altos
índices de produção vêm atraindo cada vez mais investidores na área. Porém, como
qualquer outra atividade que envolve uma cadeia produtiva complexa, faz-se necessário
que antes de ser implantado, seja planejado e avaliado o empreendimento, garantindo
assim, a segurança ao sistema de produção e do meio ambiente; caso contrário, a
atividade ao invés de resultados positivos pode ocasionar prejuízos irreparáveis, levando
por consequência ao desestímulo e até mesmo ao abandono da atividade. Visando uma
produtividade adequada e com uma boa sanidade, alguns fatores devem ser evitados,
como a baixa qualidade de água, manejo inadequado, excesso de alimentos o que pode
ocasionar em uma diminuição de sua resistência podendo levar ao aparecimento de
doenças. Enquanto o equilíbrio entre parasito (patógeno) hospedeiro e ambiente for
mantido, a doença raramente ocorrerá. Desta forma, durante o estagio buscou
acompanhar o manejo diário de uma piscicultura, onde foram realizadas atividades
como reprodução, biometrias, arraçoamento, seleção de matrizes, entre outros.
Palavra Chave: Peixe, produção, manejo.
1
1. Introdução
A aquicultura é o conceito de cultivar organismo aquático, ou seja, estudar técnicas de
cultivo e reprodução de peixes, algas, crustáceos ou moluscos. A produção mundial de
pescado em 2012 foi de 158 milhões de toneladas de pescado movimentando 136
bilhões de dólares por ano, sendo sete vezes maior que os negócios da carne bovina, que
se comparada com a cadeia produtiva do boi, um hectare de terra pode gerar 0,12
tonelada por ano de carne enquanto esta mesma média em hectare de água pode ser
produzida de 100 a 320 toneladas/ano, dependendo do cultivo (MPA 2015). Segundo o
relatório da FAO (2016) a piscicultura deve apresentar um crescimento no Brasil de
104% ate 2025.
Com o crescimento da aquicultura houve uma maior intensificação nos sistemas de
produção, expondo os animais a alterações na qualidade da água, a prática como o
manuseio excessivo, transporte e adensamento induzem respostas de estresse com
consequência negativa sobre o desemprenho produtivo, resposta imune e resistência do
peixe a patógenos (Wandelaar Bonga, 1997; Barton, 2000).
A produção total da piscicultura no Brasil no ano de 2015 segundo IBGE foi 483.241
toneladas de peixes, representando um aumento de 1,88% em relação ao ano de 2014.
Mato Grosso apresentou uma produção de 47.437 toneladas apresentando uma queda de
20,2%. Dentre as espécies a Tilápia continua sendo a espécie mais criada no Brasil com
219,329 toneladas despescada, isso representa 45,4% do total da despesca nacional a
segunda espécie mais criada é o Tambaqui com 28,1% do total de peixes em 2015 e a
despesca de 135.867 toneladas (IBGE,2015).
De acordo com Valenti et al., para que a piscicultura apresente bons resultados, alguns
requisitos são necessários para como a organização do produtor quanto a administração
do seu trabalho e dos empregado e o conhecimento adequado da biologia da espécie
utilizada no cultivo. Nesse sentido alguns manejos são de grande importância para a
piscicultura garantindo um funcionamento adequado, produzindo peixes de qualidade e
quantidade satisfatórias. De acordo com Wedemeyer (1996), a baixa qualidade da água,
altas taxas de adensamento, tipo de transporte, são os principais problemas enfrentados
por uma piscicultura, por ocasionar grande estresse nos peixes.
2
2. Objetivo
Durante o estágio buscou-se observar as atividades desenvolvidas em uma piscicultura
comercial como: acompanhar os manejos reprodutivos e aprimorar o conhecimento
adquirido durante a graduação.
3
3. Revisão.
3.1 Aquicultura
A aquicultura é uma prática tradicional de longa data, encontrada em várias culturas
pelo mundo. Há registros históricos evidenciando a técnica em documentos e
manuscritos chineses datados de séculos remotos, e chega a ser mencionada até em
hieróglifos egípcios. Este sistema incluía, de forma simplificada, o armazenamento de
exemplares imaturos de diversas espécies de peixes, seu desenvolvimento condicionado
a um ambiente propício, que não demandava adição de muitos insumos ou recursos
externos, e por fim seu consumo pelas populações, sendo uma importante fonte
alimentar (Oliveira 2009).
A produção global de pescados foi de 145.100 mil t em 2009, de acordo com a (FAO
2009). O consumo de pescados no mundo foi de 116.960 mil t em 2009, valor superior a
17 kg por habitante (FAO 2010). No Brasil segundo dados de 2013, publicados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a produção da aquicultura
brasileira se resume em produção total com 476.522,00 toneladas, taxa de crescimento
de 56% nos últimos 12 anos, dimensão econômica do negocio 3 bilhões ao ano. A
figura 1 ilustra os segmentos produtivos da aquicultura no Brasil, sendo a piscicultura o
mais representativo.
Figura 1: Produção dos segmentos da aquicultura no Brasil.
4
Fonte: IBGE/SIDRA – Produção da Pecuária Municipal – 2013/Sistema IBGE de recuperação automática.
Figura 2. A região Nordeste se destaca como maior produtor aquícola com 29% da
produção nacional, fato este se dá pela produção da carcinicultura. O Norte e o Centro
Oeste produzem separadamente 22% do volume nacional, concentrado na piscicultura,
sendo que a região Norte contribuiu com 15% e a Sudeste com 11% na produção
nacional (Sebrae, 2015).
Figura 2 ilustra a porcentagem de produção de cada região do Brasil.
82%
13%
4% 1%
Grafico 1 - Segmentos Produtivos Da Aquicultura no Brasil
Piscicultura
carcinicultura
malacocultura
Répiteis e anfíbios
29%
22%23%
15%
11%
Grafico 2 - Produção Aquicola nas Regiões do Brasil
Nordeste Centro Oeste Sul Norte Sudeste
5
Fonte: IBGE/SIDRA – Produção da Pecuária Municipal – 2013/Sistema IBGE de recuperação automática.
3.2 Piscicultura
A piscicultura teve início no Brasil aproximadamente em 1904 com Carlos Botelho,
Secretário de Agricultura de Estado de São Paulo daquela época, mas foi com Rodolfo
Von Hering que se intensificou os estudos sobre a piscicultura por volta de 1927,
quando em Pirassununga, Piracicaba e Salto do Itu, iniciou com diversos colaboradores,
trabalhos com espécies brasileiras. A piscicultura “caracteriza-se por apresentar espécies
variadas que melhor se adaptam a determinadas regiões e onde, encontram melhor
aceitação no mercado” (BEERLI; e LOGATO).
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO, 2006) 43,5 milhões trabalhadores entre homens e mulheres se dedicam
diretamente à produção primária de peixe em captura ou aquicultura.
3.2.1 Reprodução Artificial
O cultivo de espécie nativa esteve limitado durante longo período pela falta de
tecnologia de produção maciça de alevinos. Durante a década de 80, o desenvolvimento
adequado de tecnologia de reprodução, larvicultura e alevinagem de espécie importante
para a piscicultura, como o tambaqui Colossoma macropomum e pacu Piaractus
mesopotamicus, permitiu o desenvolvimento do cultivo de peixes em regiões tropicais,
particularmente em Mato Grosso e na região Norte do Brasil (Zaniboni Filho, 1997).
As formas de indução hormonal podem atuar através da aplicação de substâncias que
irão desencadear estímulos na hipófise desses animais, como é o caso de análogos de
GnRH, inibidores de dopamina, domperidona, pimozida e metoclopramida. A indução
pode ainda atuar em nível gonadal, como é o caso de gonadotropinas de peixes,
macerado de hipófises desidratadas e gonadotropina coriônica humana (ANDRADE e
YASUI, 2003). Na tabela 1 os locais de atuação e as principais formas de atuação são
apresentados de hormônios indutores em peixes. As induções químicas, podem ainda
ser utilizadas para aumentar a produção seminal, antecipar o período reprodutivo,
restringi-lo ou mesmo sincronizar a reprodução de um lote de matrizes, o que permite
ao produtor obter alevinos em períodos onde a lucratividade seja maior, ou que o cultivo
6
seja finalizado em período onde a comercialização seja otimizada (VENTURIERI e
BERNARDINO, 1999), como a Semana Santa.
Tabela 1. Local de Atuação e suas principais formas de atuação do hormônio
3.2.1.1 Seleção de Reprodutores
O ambiente no qual os reprodutores são criados afetam de forma significante o seu
desempenho na estação reprodutiva. Com base nisto é de extrema importância que se
mantenha parâmetros como qualidade de água, densidade de estocagem e quantidade de
alimento conforme recomendações. De acordo com Kubitza (2004), altas densidades de
estocagem podem prejudicar o desenvolvimento gonadal dos peixes, sendo
recomendado adotar-se densidade de 2.500 Kg/ha. Entretanto, aspectos
comportamentais dos peixes devem ser observados, por exemplo, peixes que em
natureza formam cardumes durante a maturação gonadal, quando submetidos a
densidades reduzidas podem apresentar uma desova aquém do seu potencial
(ZABIONI-FILHO e NUÑER, 2004).
Quanto à manutenção dos parâmetros químicos da água, estes devem sempre estar em
níveis adequados, de forma que não ofereçam situação de estresse ao animal. Os níveis
mais adequados variam de acordo com a espécie; porém, para espécies tropicais em
geral, a faixa ótima de temperatura pode variar de 25 a 28ºC, o pH entre 6,5 e 9,0 e
quanto a concentração de oxigênio, normalmente toleram concentrações mais baixas,
por um curto período de tempo, podendo variar entre 1,0 e 5,0 mg de O2 sendo o ideal
acima de 3,0 mg/L (BALDISSEROTTO e GOMES, 2010). Ainda segundo
Baldisserotto e Gomes (2010), quanto a concentração de amônia tóxica (NH3), observa-
Local de Atuação
Principais Formas de Atuação
Hipotálamo
Manipulação do ambiente (fotoperíodo, temperatura, salinidade, etc.), anti-estrógenos, stress, presença de machos e fêmeas conjuntamente
Hipófise
Antagonistas de dopamina (domperidona, pimozida, metoclopramida), análogos de GnRH
Gônadas
Hipófises desidratadas, gonadotropinas de peixes, gonadotropina coriônica humana (hCG)
7
se no caso do tambaqui tolerância de até 0,46 mg/L, enquanto para o pacu e para a
Matrinchã a tolerância é de 0,025 mg/L de NH3.
A capacidade de seleção de peixes maduros é vital para o sucesso do processo de
indução da maturação final e desova, sendo considerada a etapa mais importante para o
sucesso da desova. A seleção consiste na escolha de exemplares que estão com as
gônadas no estádio de dormência, ou seja, aqueles peixes que têm maior probabilidade
de responder positivamente ao tratamento de indução hormonal, resultando na ovulação
ou espermiação de gametas viáveis. (ZANIBONIFILHO e NUÑER, 2004).
Os critérios utilizados pelos produtores para determinar se o peixe se encontra no
momento ideal à indução, são na sua maioria subjetivos. De acordo com Kubitza
(2004), as fêmeas adequadas à indução se encontram com o abdômen bem desenvolvido
e macio ao toque, papila urogenital proeminente e rósea e orifício urogenital levemente
aberto. Salvo algumas exceções dependendo da espécie. Ainda de acordo com Kubitza
(2004), fêmeas de Piracanjuba quando maduras apresentam abdômen pouco volumoso.
Fêmeas com o abdômen muito baixo e flácido, geralmente se encontram já em fase de
reabsorção dos óvulos e não respondem mais a indução hormonal (KUBITZA, 2004).
No caso dos machos, a maioria das espécies quando prontas a indução, sob leve
massagem abdominal liberam uma pequena quantidade de sêmen (ZANIBONIFILHO e
NUÑER, 2004). Espécies como Curimbatá, Pacu e Piauçu, o macho emite sons quando
maduro. Outras espécies como o Lambari, Piraputanga, Piracanjuba, Matrinxã e
Dourado também durante o período reprodutivo apresentam espículas na nadadeira anal
Essas características adicionais podem facilitar o processo de seleção (ZANIBONI-
FILHO e NUÑER, 2004; KUBITZA, 2004).
3.2.1.2 Indução Hormonal
Vários tipos de substâncias utilizadas para induzir a desova e espermiação e cada uma
delas age sobre um mecanismo de ação diferente. A dose que deve ser aplicada também
varia de acordo com a sustância utilizada, com a espécie e peso do animal, além da sua
eficácia que também varia de acordo com a espécie, não sendo todos os hormônios
eficazes para todas as espécies (Baldisserotto, 2009).
O extrato de hipófise é o hormônio mais utilizado para induzir maturação e desova nos
peixes nativos. Por isso as técnicas a seguir se referem à manipulação e aplicação do
extrato de hipófise. De acordo com Kubitza (2004), no caso de hipófises desidratada,
deve-se macerá-las junto com uma solução de soro fisiológico. A quantidade de soro
adicionada vai variar de acordo com o peso do reprodutor, não podendo passar de 0,5ml
de soro por kg de reprodutor. No caso de reprodutores acima de 10kg, o máximo de
soro que deve ser aplicado é 5ml. O peso de uma hipófise desidratada varia, dependendo
do peixe da qual foi retirada. Logo, para se ter uma ideia mais correta do peso de cada
8
hipófise, o ideal seria agrupá-las em tamanho pequeno, médio e grande, e pesar cada um
desses grupos (WOYNAROVICH e HORVÁTH, 1989).
Na hora de preparar a dose a ser utilizada, deve-se estimar o peso total de fêmeas e
machos e assim estimar o peso total de hipófises que deverá ser utilizada. (KUBITZA,
2004). De acordo com este autor, o extrato de hipófise será administrado via injeção,
que deve ser aplicada na nadadeira peitoral, com a solução sendo injetada dentro da
cavidade abdominal. A agulha (nem muito longa e nem muito fina) deve ser introduzida
no sentido da cabeça para cauda e com o peixe de lado.
O extrato de hipófise pode apresentar variações na quantidade de gonadotropina
presente na hipófise, o que vai depender do peixe em que foi coletada, e conservação ao
produto (Zanboni-Filho e Nuñer, 2004). Normalmente os machos recebem uma dose
única de hormônio, geralmente quando as fêmeas recebem a segunda dose. No caso das
fêmeas são usadas duas aplicações, a primeira da dose preparatória com normalmente
10 a 20% da dose total e a segunda aplicação da dose decisiva com 80 a 90% da dose
total (WOYNAROVICH e HORVÁTH, 1989; KUBITZA, 2004), Na tabela 2 está
apresentada a quantidade de hormônio que deverá ser ministrada de acordo com
diferentes espécies de peixes de água doce.
(Zaniboni-Filho e Nuñer, 2004) A dose preparatória serve para estimular a migração da
vesícula germinal e a dose decisiva para induzir a quebra da vesícula germinal, ovulação
e desova (Zaniboni-Filho e Nuñer, 2004). Deve-se programar a aplicação da primeira
dose de forma que a aplicação da segunda dose seja seguida de um período de elevação
de temperatura. Bons resultados na indução da desova são obtidos quando a segunda
dose é aplicada em um período com temperatura ascendente (KUBITZA, 2004).
Tabela 2. Doses de hormônio em diferentes Espécies de peixe
3.2.1.3 Extrusão dos Gametas
9
Há um tempo necessário entre a aplicação da dose decisiva e a ovulação. Esse tempo vai
depender da espécie que está sendo utilizada, da temperatura em que ela está sendo
mantida e do tipo de hormônio utilizado, além é claro da dosagem usada, se esta foi
adequada (ZANIBONI-FILHO e NUÑER, 2004). Segundo Zaniboni-Filho e Nuñer
(2004), para que se possa determinar esse tempo entre aplicação da segunda dose e
ovulação, é utilizada a unidade chamada de hora-grau. Ela considera tanto o tempo
quanto a temperatura da água. Logo, na propriedade basta o produtor dividir a hora-grau
pela média da temperatura que ele obteve no período e saberá então aproximadamente
dali quantas horas vai ocorrer a desova.
Tabela 3. Valores de Horas Grau e Tempo Aproximado para a Ovulação de Algumas
Espécies de peixes
A desova por extrusão, segundo Zaniboni-Filho e Nuñer (2004), é o método mais
utilizado no Brasil. Suas vantagens são que reduz custo de mão de obra, custo com
tanques especiais para desova, permite cruzamento a fim de melhoramento genético,
permite uma utilização mais eficiente do sêmen através de diluição ou mesmo
criopreservação. Segundo Kubitza (2004), as fêmeas em ovulação devem ser
manuseadas como poro genital fechado, evitando a saída dos óvulos. Antes da extrusão
10
a região ventral da fêmea deve ser seca com toalha macia, os óvulos devem ser
extrusados suavemente, através da massagem abdominal. Os óvulos são recolhidos em
um recipiente seco, o sêmen deve ser colocado sobre os ovócitos recolhidos.
3.2.1.4 Hidratação e Incubação
Considerando o comportamento dos gametas em contato com a água, a fertilização a
seco é a melhor alternativa, por isso então a necessidade de secar o reprodutor antes da
extrusão, para que, durante a extrusão dos óvulos e do sêmen, o contato destes com a
água possam ser evitado (KUBITZA, 2004). A hidratação é de extrema importância
para a fecundação dos gametas. No momento da adição da água, a quantidade deve ser
bem dimensionada, muita água pode causar a diluição do sêmen, logo menores serão as
chances dele encontrar a micrópila. Enquanto que pouca água pode causar obstrução da
micrópila em decorrência do muco do ovário (WOYNAROVICH e HORVÁTH, 1989).
Os ovos fecundados, após descansar ao redor de 1 a 2 minutos na solução de
fertilização, para completar sua hidratação, sendo em seguida transferidos para as
incubadoras onde ocorrerá todo o desenvolvimento embrionário e o nascimento das
larvas. (KUBITZA, 2004, p.24). A incubação é a última fase que se tem na reprodução,
o que ira garantir bons índices nesta fase é a qualidade da água nas incubadoras. É
necessário alguns cuidados com a incubadora de acordo com Silva et. Al (2004) a vazão
deve ser controlada para que os ovos não fiquem batendo na parede da incubadora o
fluxo dessa vazão irá depender de cada espécie. A pequena vazão também é prejudicial
aos ovos, pois pode diminuir o nível de oxigênio na incubadora, pode ocorrer à presença
de córion com esporos de fungos. A aeração ou seja a renovação da agua dento da
incubadora ira garantir nível satisfatório de oxigênio que é imprescindível para o
desenvolvimento do embrião. Em sistema Fechado onde terá a reutilização da agua é
necessário um biofiltro, nesse filtro além de filtrar as partículas maiores, faça a
degradação da amônia. Uma etapa importante é a limpeza da incubadora para a retirada
dos sólidos em suspenção, segundo Streit et al. (2012). Deve se fechar o fluxo de
entrada de agua na incubadora para que todo material em suspenção decante, certificar
que as larvas estejam na superfície da água, desconectar a mangueira de entrada agua do
registro e sifonar todo o resíduo decantado, retornando rapidamente a mangueira no
registro e regulando o fluxo de entrada de agua dentro da incubadora. O tempo em que
a larva permanece na incubadora varia de acordo com cada espécie.
3.2.2 Produção de Peixes Híbridos
11
A hibridização consiste em acasalar indivíduos da mesma espécie, o que é chamado de
cruzamento entre linhagens, ou acasalar indivíduos de espécies distintas, chamado de
hibridização interespecífica.
A hibridização interespecífica é o método mais utilizado nas pisciculturas atualmente.
Ela tem por finalidade obter indivíduos melhores geneticamente, e que apresentem
características econômicas desejáveis (PAULA, 2009). De um modo geral a prole
apresenta um desempenho melhor do que a média dos parentais, ou seja, apresenta uma
heterose positiva, ou o que pode ser chamado também de vigor híbrido. A ocorrência da
hibridização interespecífica é observada inclusive em condições naturais, sendo comum
em peixes de água doce. Isso ocorre provavelmente pela própria característica
fisiológica e comportamental do peixe (fecundação externa e competição por ambiente
de desova) e também devido a modificações feitas pelo homem no ambiente natural
(PORTO-FORESTI et al., 2010 e PAULA, 2007).
3.2.3 Manejos Gerais na Piscicultura
O funcionamento adequado de uma piscicultura depende de alguns manejos a ser em
adotados para obter o resultado desejado, como avaliar os parâmetros da qualidade da
água, sanidade entre outros. Alguns parâmetros devem ser avaliados diariamente. Os
tópicos a seguir mostram alguns dos manejos adotados nas pisciculturas do nosso país.
3.2.3.1 Qualidade da Água.
Em qualquer fase de crescimento dos peixes a inspeção da qualidade da água é algo que
não se pode falhar (Boyd, 1982; Sipaúba-Tavares, 1994; Pereira e Mercante, 2005).
Deve-se tomar um cuidado redobrado na fase de recria, pois a alta taxa de adensamento
eleva a taxa de respiração por biomassa/tempo. Para uma criação comercial de peixes
em viveiros com fundo de argila é necessário fazer aplicação de calcário (correção do
pH do solo) e adubo para que haja uma proliferação de micro-organismos
fotossintéticos e plânctons em geral (Garg e Bhatnagar, 2000). A quantidade de adubo
deve ser suficiente para manter a qualidade da água adequada. No momento do
enchimento do viveiro deve ser aplicado 100% do calcário e 60% do adubo. Na segunda
fase após 20 dias, será feito apenas a adubação restante ( Agroindustrial Tambaqui,
2008).
12
É recomendável estabelecer a biomassa máxima a ser estocada no viveiro, uma vez que
o excesso de densidade estocagem leva a maior heterogeneidade do lote a ser criado,
prejudicando o processo de engorda. Busca-se produzir lotes mais homogêneos
possíveis, que por sua vez facilita a negociação e comercialização (KUBITZA, 1998).
3.2.3.2 Desinfecção do Viveiro
A desinfecção elimina resíduos tóxicos, micro-organismos até os micro-organismos
indesejáveis que prejudique o sistema de produção (OSTRENSKY, 1998). Uma
desinfecção cuidadosa pode permitir ainda a oxidação da matéria orgânica acumulada e
aumentar a fertilidade do solo dos viveiros. O sol é a melhor e mais barata forma de
desinfetar o viveiro. Às vezes, pode ser muito difícil secar completamente o fundo e as
laterais dos viveiros em decorrência das chuvas ou em função de eventuais falhas de
vedação do sistema de drenagem do viveiro, e nesse caso, pode ser necessária a
desinfecção química.
De acordo com Ostrensky e Boeger (1998) pode ser realizados dois métodos para a
desinfecção. O primeiro é uso de cal virgem (CaO) ou cal hidratada (Ca(OH)2). A cal
virgem, quando em contato com a água, reage aumentando a temperatura do solo e
aumenta o pH da água. Dessa forma, elimina os micro-organismos presentes no viveiro.
A cal hidratada age de forma que eleva o pH da água sem modificar a temperatura da
agua. A segunda é o uso de hipoclorito de Sódio. E é mais agressivo que a cal, porém
bem semelhante, sendo necessário revolver o fundo do viveiro e aplicar o produto
novamente.
3.2.3.3 Arraçoamento e Biometria
Em ambientes confinados, os peixes não dispõem de alimento em quantidade e de
qualidade que atendam às exigências nutricionais para desempenho produtivo e
reprodutivo ótimos. Em função disto, faz-se necessário o uso de rações comerciais que
atendam às exigências em energia e nutrientes para garantir adequado desempenho
produtivo, higidez e retorno econômico (FUYURA, 2010). O aumento na produtividade
dos sistemas criatórios na piscicultura tem sido limitado principalmente pela falta de
informações sobre a nutrição dos peixes utilizados nas criações.
A exigência de nutrientes pelos peixes para seu crescimento, reprodução e/ou outras
funções fisiológicas é similar à qualquer outra espécies de animais. Portanto, os peixes
necessitam consumir minerais, vitaminas, proteínas, fontes de energia, entre outros
nutrientes engajados como fatores responsáveis pelo crescimento, desenvolvimento e
13
ganho de peso das diferentes espécies. Contudo, para uma perfeita interação metabólica
e consequente eficiência de aproveitamento do alimento ofertado, o valor nutricional de
uma dieta não está baseado somente na sua composição alimentar e/ou bromatológica,
mas também na quantidade de nutrientes presentes na mesma, que o peixe pode
absorver e utilizar, suprindo assim suas exigências nutricionais para manutenção e
produção (NRC,1993). Naturalmente, os nutrientes responsáveis em suprir essas
exigências nutricionais dos peixes podem ser oriundos de organismos aquáticos
presentes no habitat dos mesmos, ou provindos de dietas formuladas nos casos de
criações mais intensivas, onde objetiva-se maior produção e redução no tempo de
criação. Dentro deste enfoque o uso de ingredientes de boa qualidade e a melhor
combinação entre os mesmos (efeito associativo) tornam-se de fundamental importância
para que as exigências do peixe sejam satisfeitas (ANDRÉ, et,. al,. 2007).
Conforme o CTA (2015), a ingestão de alimentos pelo peixe é influenciada por muitos
fatores nos quais se destacam: temperatura da água, tamanho do peixe, concentração de
oxigênio dissolvido, gás carbônico e amônia na água, disponibilidade de alimentos
natural, ocorrência de doenças e parasitose e qualidade da ração (palatabilidade, valor
nutritivo, tamanho e estabilidade na água). A quantidade e o tipo de ração a ser
fornecida são determinados de acordo com o peso médio dos peixes. A ração utilizada
deve ser nutricionalmente completa e extrusada, permitindo observar a resposta
alimentar dos peixes evitando desperdícios e preservando a qualidade da água, que deve
ser feito por profissionais qualificados (ANDRÉ, et,. al,. 2007).
A realização da biometria é importante, pois com este manejo é possível acompanhar o
desenvolvimento destes animais. Neste procedimento faz a mensuração do crescimento
e saúde dos mesmos durante o cultivo. De acordo com Ostrensky e Boeger (1998) o
número máximo deve ficar em torno de 30 peixes, o que seria suficiente para avaliar o
estado de saúde e o andamento do cultivo. Lima et. al (2013) dizem que a biometria
permite ajustes no manejo de produção, principalmente na alimentação, e deve ser
realizada a cada 15 dias ou uma vez por mês.
3.2.3.4 Despesca e Depuração
Para Ostrensky e Boeger (1998) é importante realizar um jejum de 24 horas nos animais
antes da despesca, medida importante, pois evita que alimentos que estejam no
estômago sejam regurgitados na caixa de transporte. Peixes com o trato digestório vazio
são mais resistentes e sofrem menos com o estresse. De acordo com OSTRENSKY e
BOEGER,( 1998) existem duas maneira de despesca no Brasil, drenagem do viveiro e
utilização de rede de arrasto.
Na depuração, o período mínimo de jejum necessário para o completo esvaziamento do
sistema trato digestivo irá depender de muitos fatores como: temperatura da água,
14
tamanho do peixe, espécie e hábito alimentar. O jejum pode variar de 1 a 4 dias para os
peixes e de 1 a 2 dias para alevinos. Esses peixes submetidos ao jejum se recuperam
mais rapidamente do estresse, pois entram no tanque de transporte com o trato digestivo
praticamente vazio. Desta forma, praticamente não se tem o impacto negativo do
material fecal, que diminui a qualidade da água na caixa de transporte, pois esse
material fecal aumenta a concentração de matéria orgânica de forma que aumenta os
metabólicos tóxicos como a amônia.
4. Relatório de Estágio
O estágio foi realizado na empresa Bom Futuro Piscicultura, localizada as margens do
rio Coxipó do Ouro na região de Cuiabá em Mato Grosso, tendo como supervisor o
zootecnista Dr. Darci Carlos Fornari, no período de 17 de Março até a defesa do
relatório de estágio.
A empresa Bom Futuro piscicultura iniciou suas atividades nas proximidades do
Coxipó do Ouro a cerca de quatro meses. Seu principal objetivo é o melhoramento
genético de peixe, e também suprir as necessidades de alevinos das outras fazendas que
o grupo tem. Atualmente a fazenda possui 120 matrizes de Tambaqui (Colossoma
macropomum), 137 matrizes de Piau (Leporinus frideric), 40 Cachara
(Pseudoplatystoma fasciatum) e 8 Jundiá amazônico (Leiarius marmoratus), 200 mil
alevinos de Tambaqui e 12 mil alevinos de Cachara.
A fazenda tinha toda sua estrutura física montada para a produção de alevinos (figura A
e B) em larga escala, como desato a seguir:
Laboratório: Local que possuía 84 incubadoras para a produção de pós-
larva, 48 caixas de espera das matrizes e 24 incubadoras para eclosão
das artemias.
Figura 3. Vista Interna(A) e externa(B) do laboratório de reprodução de peixes.
15
Fonte: Arquivo pessoal
Escritório: Local onde eram armazenados os dados da propriedade e entre outras
tarefas, como reposições do produto, compras de insumos, etc.
Sala para eclosão de Artemias (A) e incubadora dos peixes (B)
Figura 4. Sala das incubadoras utilizada para eclosão de artemias.
Fonte: Arquivo pessoal
Caixas de espera das matrizes, depuração e etc. Figura 5. Caixa de espera das matrizes para manejo, depuração e etc
16
Fonte: Arquivo pessoal
Viveiro para estocagem do plantel de reprodutores e matrizes, (figura 6) ao todo
eram 53 com medidas de até 6 metros de comprimento por 3 de largura e uma
profundidade média de 1,60m.
Figura 6. Viveiros para estocagem dos alevinos dos peixes reprodutores e matrizes.
Fonte: Arquivo pessoal
Eram 18 viveiros para estocagem dos alevinos produzidos no laboratório, com
aproximadamente 3,44 hectares ao todo. (figura 7)
Figura 7. Viveiros escavado para estocagem dos alevinos produzidos na empresa.
17
Fonte: Arquivo pessoal
Reservatório para o laboratório (A) e para os viveiros dos alevinos (B)
Figura 8. Reservatório para os viveiros dos alevinos.
Fonte: Arquivo pessoal
Viveiro tanque escavado das Matrizes (figuras 9)
Figura 9. Viveiro tanque escavado para estocagem das matrizes.
18
Fonte: Arquivo Pessoa
Redes para manejo, biometria, despesca e entre outras atividades. (figura 10)
Figura 10. Rede de arrasto
Fonte: Arquivo pessoal
19
5. Atividades Desenvolvidas e Discussão
O estágio foi realizado na Bom Futuro Piscicultura nas proximidades do rio Coxipó do
Ouro em Cuiabá Mato Grosso, no período de 17 de Março até a defesa do relatório de
estágio, com carga horaria de 30 horas semanal e no qual foi realizado o
acompanhamento das atividades da fazenda, sob orientação dos zootecnistas Darci
Carlos Fornari e Vagner Luiz de Queiroz Dantas.
As atividades abaixo relacionadas ocorreram de forma planejada de modo que fosse
possivel acompanhar e o real funcionamento de uma piscicultura comercial, incluindo
os desafios ocorridos e as possíveis soluções durante este estágio para os problemas
ocorridos no cotidiano.
Arraçoamento
Seleção de Reprodutores
Indução hormonal e extrusão
Produção de artemias
Manejo nas incubadoras
Treinamento alimentar de cachara
Biometria
5.1 Arraçoamento
O manejo alimentar correto garante bons índices de produção, ou seja, otimiza o rendimento
e evita o desperdício de ração e mantém a qualidade da agua. Ao aumentar na quantidade de
ração ofertada, maior será a excreção, contribuindo para aumento a concentração de matéria
orgânica na água, podendo ocorrer o chamado “florescimento” de ‘‘fitoplâncton”, que
consome oxigênio dissolvido em grande quantidade prejudicando a produtividade (Ranzani-
Paiva, 2004)
A alimentação dos alevinos foi realizada duas vezes ao dia, uma no período da manhã e um
no período da tarde, da seguinte forma: no período da manhã era estimado a quantidade de
oxigênio dissolvido na água com o auxílio de um oxímetro em cada viveiro. Caso passasse
de 2,0 mg/l, efetuava-se o arraçoamento. Estando abaixo de 2,0 mg/l não fornecia o
alimento. Na parte da tarde, pós o almoço era realizado o segundo trato do dia e novamente
estimado com o auxílio do oxímetro o nível de oxigênio dissolvido na água, sendo que para
fornecer o alimento, o nível devia ser superior a 4,0 mg/l (Figura 11). De acordo com
20
Kubitza (1998) os peixes só se alimentam bem ou apresentam melhor resultados quando os
níveis de oxigênio dissolvido estão próximos da saturação.
O teor de proteína da ração fornecida era de 55%, sando ela farelada (figura 12). A partir do
décimo dia os alevinos passavam por uma adaptação para comer ração já extrusada, de
1,0mm e com 45% de proteína (figura 13 e 14). Às matrizes era ofertada ração com 32% de
proteína bruta (pelete de 14mm) duas vezes ao dia também, sem medir o nível de
oxigênio.(figura 15)
Figura 11. Manejo de monitoramento do oxigênio.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 12. Ração Farelada
Fonte: Arquivo pessoal
21
Figura 13. Ração extruzada 1,0mm
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 14. Arraçoamento no viveiro os Cacharas
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 15. Saco de 25kg de ração oferecida para as matrizes, peletes 14mm
22
Fonte: Arquivo pessoal
5.2. Seleção de Reprodutores
A capacidade de seleção de peixes maduros é vital para o sucesso do processo de
indução da maturação final e desova, sendo considerada a etapa mais importante para o
sucesso da desova. A seleção consiste na escolha de exemplares que estão com as
gônadas no estádio de dormência, ou seja, aqueles peixes que têm maior chance de
responder positivamente ao tratamento de indução hormonal, resultando na ovulação ou
espermiação de gametas viáveis (ZANIBONIFILHO e NUÑER, 2004).
Reprodutores, como a Cachara e o Tambaqui, foram capturados na fazenda que fica
localizada atrás da sede do escritório da Bom Futuro em Cuiabá, na gonadal fêmea de
Cachara foi feita a Canulaçao (introdução da cânula no orifício genital da fêmea) para
saber o estagio de maturação dos gametas, e nos machos apenas a massagem
pressionando a região do abdômen sentido cabeça cauda do animal até liberar gotas de
sêmen pelo poro urogenital. No tambaqui era apenas observada a região abdominal e o
órgão genital, apresentavam-se inchados e entumecidos no caso dos peixes maduros
sexualmente (figura16).
Figura 16. Matriz de Tambaqui apta a reprodução.
23
Fonte: Arquivo pessoal
5.3. Indução Hormonal e Espermiação
São varias as formas de administração de hormônio, contudo um método não pode ser
universal. A técnica a ser adotada depende da espécie do peixe, das condições locais e
da própria experiência com aquela propriedade em específico (WOYNAROVICH e
HORVÁTH, 1989).
Segundo Zaniboni-Filho e Nuñer (2004), os hormônios utilizados na indução hormonal,
são hidrossolúveis, ou seja, a administração é feita através de uma solução aquosa.
Vários tipos de solução podem ser usados, com resultados semelhantes. Outra forma
de se administrar o hormônio é por via oral, entretanto essa técnica não é muito usada
na piscicultura.
Foi realizada indução hormonal com aplicação de extrato de hipófise na nadadeira
peitoral (figura 17). Na primeira dosagem aplicou-se 10% do total e na segunda dose
foi diluído (após 8 horas) aplicou-se o restante (90%). O extrato de hipófise com o soro
fisiológico (0,5 ml por kg de peso vivo). A concentração do hormônio foi de 0,5 mg/
peso vivo na primeira dosagem, 5,0 mg/ peso vivo na segunda. Após a segunda
dosagem, iniciou-se a contagemda hora-grau, e por volta das 240 horas-grau deu-se
24
início a extrusão dos gametas (Figura 18). Após a extrusão, os gametas foram
homogeneizados e hidratados, e os ovos colocados na incubadora (figura 19).
Figura 17. Aplicação hormonal na Cachara
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 18. Extrusao dos Gametas no Tambaqui
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 19. Incubadora com ovos de Tambaqui
25
Fonte: Arquivo pessoal
5.4 Produção de Artemias
A alimentação é um fator importante para uma boa produção de larvas e seu
desenvolvimento (TESSER et al., 2005; AYRES, 2006). Em laboratório devido ao
controle e facilidade de eclosão, utiliza-se com sucesso os náuplios de Artemia, com
bons resultados de desempenho e sobrevivência das larvas de várias espécies
(DANIELS e HODSON, 1999; JOMORI, 1999, TESSER et al., 2005).
Os náuplios de Artemia eclodem após 24 horas de colocadas na incubadora com
oxigênio, luz elétrica e sal dissolvido na água na proporção de 4,0 mg de sal por litro de
água (figura20). Os náuplios de Artemia eram fornecidos à larvas de cachara a cada
duas horas para evitar canibalismo. (figura 21).
26
Figura 20. Incubadora com Artemias
.
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 21. Incubadora com Larvas de Cachara e Artemia
Fonte: Arquivo pessoal
5.5 Manejos das Incubadoras
Após a completa eclosão dos ovos, as incubadoras eram sifonadas para a retirada de
toda a sujeira que estava depositada na incubadora como ovos não eclodidos, restos de
casca de ovos larvas já mortas (figura 22). Os parâmetros da qualidade da água e
temperatura não eram monitorados pois de acordo com o zootecnista não havia
necessidade, já que a água obtinha resultados constantes. Após 24 horas da eclosão, as
larvas foram sifonadas para um balde e colocadas em outra incubadora para uma melhor
limpeza da mesma (figura 23). Após a absorção do saco vitelínico, se iniciava a oferta
de ração farelada e a abertura do filtro que abastecia as incubadoras para a entrada de
fitoplâncton.
27
Figura 22. Incubadora antes da limpeza
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 23. Incubadora Limpa
Fonte: Arquivo pessoal
5.6. Treinamento Alimentar de Cachara
Após os Alevinos de Cachara ficarem 11 dias na incubadora se alimentando de artemia
e fitoplâncton, eles foram manejados para uma caixa de água (figura 24), que ficava
dentro do próprio laboratório para serem treinados a comer ração (figura 25). Essa ração
foi composta de ração farelada e gema de ovo (figura 26). A gema era adicionada até
que se consiguisse uma consistência suficiente para que utilizar uma seringa para
auxiliar na alimentação. (figura 27)
28
Figura 24. Soltura das larvas de Cachara nas caixas
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 25. Ração ofertada às larvas
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 26. Gema de ovo e ração
29
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 27. Homogeneização e sucção da ração com seringa
Fonte Arquivo pessoal
5.7 Biometria
30
Todo o processo de produção necessita de um acompanhamento que permita avaliar o
crescimento e saúde dos peixes ao longo do cultivo. Para isso, é realizada a biometria. A
biometria é um manejo no qual parte dos peixes cultivados é amostrada e informações
de interesse, como peso, comprimento e estado de saúde dos animais são avaliados.
Além disso, tais medidas permitem ajustes no manejo da produção, principalmente na
alimentação. De acordo com o Centro de Tecnologia em Aquicultura e Meio Ambiente
CTA (2015), a realização da biometria consiste basicamente em obter-se uma amostra
representativa da população do tanque coletada de forma não tendenciosa
(preferencialmente através de tarrafadas em pontos distintos do tanque). No estágio, esta
amostra foi pesada com auxilio de um balde com água e o peso total foi dividido pelo
número de peixes contidos na amostra, obtendo-se assim o peso médio estimado dos
animais dos tanques.
A cada 20 dias foi realizada uma biometria nos tanques dos alevinos, no qual se passa
uma rede no tanque por completo (figura 28) e era verificado se estava ocorrendo
canibalismo e presença de parasita nos peixes ( figura 29). Havendo necessidade, o lote
era dividido de acordo com a disponibilidade.
Figura 28. Passagem de rede no viveiro dos alevinos
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 29. Alevinos padronizados e pronto para soltura
31
Fonte: Arquivo pessoal
6. Considerações Finais
O acompanhamento das atividades realizadas na Bom Futuro Piscicultura colocou em
prática os conceitos passados na academia adaptando-os para a realidade encontrada no
campo, oferecendo o melhor para a produção. A convivência com profissionais da área
permitiu compreender o potencial da atividade no local e o seu investimento para a
obtenção de uma boa produção.
Durante o estágio verificou-se a necessidade do aprimoramento em áreas especificas
para um melhor aproveitamento das práticas envolvidas como a reprodução, que é um
ponto chave para a piscicultura, pois demanda de técnicas qualificadas e um certo nível
tecnológico.
A Bom Futuro piscicultura investe na reprodução e melhoramento genético, pois
futuramente irá produzir alevinos geneticamente melhorado, obtendo melhores
resultados de produção. A vivencia neste local foi de grande importância para o
conhecimento pessoal e profissional, foi uma oportunidade ímpar. Além do
conhecimento adquirido trabalhei com profissionais dedicados e com a responsabilidade
de obter bons resultados.
32
Referencias Bibliográficas
ANDRADE, YASUI. O Manejo da reprodução natural artificial e sua importância na
produçao de peixes no Brasil. Rev. Bras. Reprod. Animal, v.27, n.2, p.166-172, Abr/Jun,
2003.
AGROINDUSTRIAL TAMBAQUI. 2008. Manejo comercial da piscicultura semi-intensiva.
Local xx p. (Boletim Técnico).
BALDISSEROTTO, B.; GOMES, L.C. Espécies nativas para piscicultura no Brasil. 2.ed.
Santa Maria, Ed UFSM, 2010, p.335-361
CAMPOS, J.L. O cultivo do pintado (Pseudoplatystoma corruscans, Spix; Agassiz, 1829),
outras espécies do gênero Pseudoplatystoma e seus híbridos. In: 2010.
FAO. 2016. El estado mundial de la pesca y la acuicultura 2016. Contribución a la
seguridad alimentaria y la nutrición para todos. Roma. 224 pp.Disponivel em
<http://www.fao.org/3/a-i5555s.pdf acesso em 02/04/2017.
FAO (2006) Food and Agriculture Organization of the United Nations. Pesca de captura
e Produção Piscícola Mundial. Disponível em:
<http://www.fao.org/docrep/012/i0765pt/i0765pt09.pdf. Acesso em 30/03/2017
FUYURA, Y.M. Tabelas brasileiras para a nutrição de tilápias. Toledo, PR. GFM,
2010.100p
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA – IBGE – (2014). Produção da
Pecuária Municipal 2015. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/periodicos/84/ppm_2014_v42_br.pdf. Acesso em: 30/03/2017.
INTRODUÇÃO À PISCICULTURA SUSTENTÁVEL. Viveiros escavados e tanques-rede,
realização instituto ecos, coordenação técnica Humberto Ker de Andrade
(BiólogoMsc. Aquicultura). Centro de tecnologia em aquicultura e meio ambiente
(CTA). Disponível em:
<http://201.2.114.147/bds/BDS.nsf/BB1E9E3204309460832574D0006B4176/$File/car
tilha%20piscicultura%20forum%20das%20aguas.pdf>. Acesso em 30/03/2017.
KUBITZA, F.; CYRINO, J. E. P.; ONO, E. A. Rações comerciais para peixes no Brasil:
Situação atual e perspectivas. Panorama da Aqüicultura. v. 8, n. 50, p. 38-49, 1998.
KUBITZA, F.; KUBITZA, L. M. M. Principais parasitoses e doenças dos peixes cultivados.
4. ed. Jundiaí: F. Kubitza, 2004. 108p.
33
MINISTERIO DA PESCA E AQUICULTURA – MPA – (2015). Portal Brasil, disponível em
<http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/03/ministerio-da-pesca-quer-
quadruplicar-producao-aquicola-no-brasil. Acesso em 30/03/2017.
OLIVEIRA, D.B.S.; SIPAÚBA-TAVARES, L. H.; DURIGAN, J.G. Estudo Limnológico em
tanque de piscicultura. Parte II: variação semanal de fatores químicos, físicos e
biológicos. Acta Limnologia Brasiliensia, 4:123-137, 2009.
OSTRENSKY, A. Piscicultura – fundamentos e técnicas de manejo. Guaíba: Ed.
Agropecuária, 1998. 211 p.
OSTRENSKY, A. & BOEGER, W. (1998). Piscicultura: Fundamentos e técnicas de
manejo. Guaíba: Agropecuária.
PAULA, F.G. Hibridização em espécies de peixes nativos. 2007. 29 p. Monografia
(Curso de pós-graduação). Universidade Federal de Lavras – Lavras, MG.
PORTELLA, M. C.; TESSER, M.; JOMORI, R.; CARNEIRO, D. Substituição do alimento vivo
na larvicultura. Apostila minicurso. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Aqüicultura.
Jaboticabal-SP, 2003.
PORTO-FORESTI, F.; HASHIMOTO, D.T.; SENHORINI, J.A.; FORESTI, F. Hibridização em
piscicultura: monitoramento e perspectivas. In: BALDISSEROTTO, B.; GOMES, L.C.
Espécies nativas para piscicultura no Brasil. 2.ed. Santa Maria, Ed UFSM, 2010, p.589-
606
PAULA, F.G. Desempenho do tambaqui (Colossoma macropomum), de pirapitinga
(Piaractus brachypomum), e do híbrido tambatinga (C. macropomum x P.
brachypomum) mantidos em viveiros fertilizados, na fase de engorda. 2009. 57 p.
Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade
Federal de Goiás – Goiânia, GO.
Ranzani-Paiva, M.J.T., Takemoto, R.M., Lizama, M. de los A.P. (Eds) Sanidade de
Organismos Aquáticos. Editora Varela, 2004. p. 321 - 330.
STREIT JR. ;OLIVEIRA, C. A. L.; RIBEIRO, R. P., D. P.; RESENDE, E.K. Melhoramento
genético de peixes. SRG. Rio de Janeiro, RJ. 22: 38-47, 2012.
VENTURIERI, R.; BERNARDINO, G.. 1999. Hormônios na reprodução artificial de
peixes. Panorama da Aqüicultura, v.09, n.55. p.39-48.
WOYNAROVICH, E.; HORVATH, L..1989. A propagação artificial de peixes de
águas tropicais. Tradução de Vera Lúcia Mixtro Chama. Brasília:
FAO/CODEVASF/CNPq. 225p.
34
ZANIBONI-FILHO, E.; NUÑER, A.P.O. Fisiologia da reprodução e propagaçãoartificial
dos peixes. In: CYRINO, J.E.P.; URBINATI, E.C.; FRACALOSSI, D.M.; CASTAGNOLLI, N.
Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical intensiva. São Paulo, [s.n.],
2004, p.45-73
ZANIBONI-FILHO, E.; BARBOSA, N.D.C. Priming hormone administration to induce
spawning of some Brazilian migratory fish. Rev Bras Biol, v.56, p.655-659, 1997.