CRIATIVIDADE APLICADA À INOVAÇÃO DE PRODUTOS: … · edicleide da silva marinho (UFRN ) ......
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CRIATIVIDADE APLICADA À
INOVAÇÃO DE PRODUTOS: ESTUDO
DE CASO EM UMA COMUNIDADE DE
ARTESANATO NO RIO GRANDE DO
NORTE
Marcela Squires Galvao Fernandes (UFRN )
AMANDA FREIRE (UFRN )
edicleide da silva marinho (UFRN )
Mario Orestes Aguirre Gonzalez (UFRN )
A criatividade pode ser vista como uma habilidade que intensifica a
capacidade inovadora através da geração de ideias e por este motivo
tem se tornado um fator essencial para o desenvolvimento de novos
produtos. Assim, o desenvolvimento de técnicas que busquem
aumentar o potencial criativo e o direcionem para a inovação vem
ganhando importância na atualidade. Este artigo tem como objetivo
validar técnicas utilizadas na geração de ideias para melhoria das
características de produtos existentes e para geração de ideias de
novos produtos, por meio da sua aplicação em uma comunidade de
artesãos localizada no estado do Rio Grande do Norte. Foram
pesquisadas técnicas de criatividade, encontrando-se um total de 224
técnicas, sendo utilizadas para análise 74. Tomando como critério de
escolha a simplicidade de aplicação, selecionaram-se três técnicas,
SCAMPER, Listing e Palavras/Figuras Aleatórias. A partir dessas
técnicas foram desenvolvidas duas dinâmicas, uma com o objetivo de
melhoria de produtos, e outra objetivando a criação de novos
produtos. Verificou-se que a técnica SCAMPER mostrou-se útil para a
melhoria das características de produtos já existentes. Por outro lado,
as técnicas Listing e Palavras/Figuras Aleatórias mostraram-se pouco
eficientes.
Palavras-chaves: Criatividade, inovação, técnicas de criatividade,
dinâmicas
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
Na Idade Antiga e na Idade Média o trabalho e a produção eram fundamentalmente artesanais,
no qual, o artesão tinha como responsabilidade projetar e criar o produto, com perfeição e
unicidade. Com o passar do tempo, o aumento populacional fez com que a demanda por
produtos aumentasse e com ela, a necessidade de inserção de máquinas e ferramentas que
pudessem auxiliar no processo produtivo, se tornou necessário. Os produtos, então, foram se
tornando objetos de comunicação, expressando valores, status, personalidade, e os
consumidores exigiam mais sofisticação.
Entretanto, com necessidades cada vez mais imediatas e requerendo produtos com qualidade e
exclusividade, os clientes voltam a valorizar os produtos artesanais, cujas peças “diferenciam-
se pela matéria-prima, por uma técnica apurada e pelos valores culturais, sejam eles
religiosos, folclóricos ou tradicionais, apresentando aspectos característicos de cada região”
(FREITAS, 2006).
O setor artesanal apresenta baixa complexidade tecnológica quando comparado com o setor
industrial, abrange todas as etapas do processo de desenvolvimento de produtos, da
conceituação até a inserção no mercado e assim como em outros setores, a renovação dos
produtos ofertados se tornou necessária para que se mantivesse no mercado. Dessa forma, um
dos fatores essenciais para o desenvolvimento de novos produtos é a criatividade. Uma
habilidade que deve ser potencializada com a finalidade de gerar ideias, proporcionando
melhorias, oportunidades e aprendizado.
Para isso, o desenvolvimento de técnicas que busquem aumentar o potencial criativo e o
direcionem para a inovação vem ganhando importância na atualidade. Na literatura diz-se
existir diversas técnicas que auxiliam a resolver questões de maneira criativa e elevar a
divergência de pensamento dos indivíduos. Essas técnicas podem ser utilizadas para
diferentes fins e em diversas atividades produtivas.
Diante disso, este artigo tem como objetivo validar técnicas de criatividade aplicadas à
geração de ideias para melhoria das características dos produtos existentes e para geração de
ideias de novos produtos, por meio da sua aplicação em uma comunidade de artesãs
localizada no estado do Rio Grande do Norte. Assim, foram pesquisadas e estudadas diversas
técnicas que poderiam ser utilizadas para potencializar a habilidade criativa. De acordo com a
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funcionalidade de cada técnica e a realidade da comunidade, objeto de estudo, foram
escolhidas três técnicas de criatividade: SCAMPER, Listing e Palavras/Figuras Aleatórias,
sendo desenvolvidas dinâmicas que tornasse possível a aplicação das técnicas selecionadas.
2. Geração de ideias: Criatividade no desenvolvimento de produtos
A criatividade pode ser explicada por diversas formas. Pode ser uma característica individual,
um resultado de um produto criativo – inovador – ou pode ser explicada como um processo
específico (ELÓI, 2010).
De acordo com Tremblay (2011), criatividade refere-se à capacidade dos indivíduos ou
grupos para criar, inventar, imaginar algo novo. Assim concebida, a criatividade pôde ser
caracterizada como uma habilidade de produzir um grande número de ideias (fluência), que
apresentem variabilidade (flexibilidade), estatisticamente pouco frequentes (originalidade) e
de uma forma rica e elaborada (elaboração) (DEWES et al., 2011).
Dessa forma, a criatividade pode ser vista como uma habilidade que intensifica a capacidade
inovadora através da geração de ideias e por este motivo tem se tornado um fator essencial no
tocante ao desenvolvimento de novos produtos. Perante isto, Alencar (1996) enfatiza a
emergência da criatividade dentro das organizações, em razão do ritmo frenético dos avanços
científicos e tecnológicos que têm feito com que o conhecimento se torne obsoleto em um
curto espaço de tempo, exigindo uma capacidade de aprendizagem contínua e permanente.
Com o avanço tecnológico e a competitividade cada vez mais acirrada, se torna
imprescindível a inovação dentro das organizações como fator diferencial frente à
concorrência. A inovação parte de uma ideia criativa, o que faz com que a criatividade no
ambiente de trabalho se torne importante para resolver problemas e ter novas criações, seja
em produtos ou processos. O uso da criatividade significa vencer desafios de forma inovadora
e está presente durante diversas fases do processo inovativo (GURTEEN, 1998; SOUZA e
SOARES, 2007; SILVA et al., 2009).
3. Direcionamento do potencial criativo para a inovação
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Segundo Baccarelli (1999) “criar pertence à natureza humana, mas o talento criativo (...) é
algo que se fundamenta em grande parte em um trabalho educativo, que necessita da
aquisição de conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e qualidades pessoais”.
A identificação de fatores que influenciam no potencial criativo, é importante para que não
haja a inibição do mesmo, viabilizando o seu desenvolvimento, entretanto, isso é feito de
forma não coordenada, ao longo da vida dos indivíduos. Para que a criatividade do indivíduo
resulte em inovação, é necessária a utilização de métodos específicos cujo êxito relaciona-se
com um estudo prévio sobre a população de aplicação do método, no que diz respeito a
características do indivíduo, ambiente em que estão inseridos, aspectos da organização
envolvida, além de ter uma estratégia de abertura, por se tratar de algo novo.
Baseando-se nos resultados obtidos por Benetti (1999), têm-se os seguintes aspectos que
devem ser observados antes da aplicação de alguma técnica ou método para o direcionamento
da criatividade para inovação:
Planejamento estratégico da forma de aplicação da técnica/método;
Planejar técnicas de convencimento para eventuais barreiras;
Conhecer bem as características dos grupos com que se está trabalhando;
Utilizar técnica/método fácil e prático;
Ter flexibilidade;
Tentar convencer a liderança a participar;
Escolher o facilitador da técnica/método de acordo com as características da
organização.
O mediador da dinâmica tem papel muito importante na aplicação da mesma, pois depende
dele o entendimento do procedimento por parte dos participantes. Para que a técnica seja bem
aplicada, é necessário que os indivíduos acreditem no método para interagirem da melhor
forma possível, e isso também é função do mediador.
Segundo Aznar (2011), a ideia deve ser resultado de um lento trabalho de avaliação e de
refinamento, de um ajuste proporcionado por um processo metódico de maturação. A ideia é o
startup do processo de inovação, por isso, as formas de “extração” e avaliação de ideias
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ganham importância, pois são esses métodos que são capazes de transformar a criatividade
dos indivíduos em uma inovação.
4. Método de pesquisa
A presente pesquisa pode ser caracterizada quanto ao seu objetivo como exploratória
(MIGUEL, 2010), quanto à abordagem científica como qualitativa (CRESWELL, 2010), e
como estudo de caso quanto ao procedimento técnico utilizado (YIN, 2001). Foram definidas
sete fases que proporcionaram um eficiente meio de desenvolvimento da pesquisa.
Na primeira fase, realizou-se uma pesquisa de campo com objetivo de conhecer a realidade da
comunidade de artesãs no tocante à geração de ideias que proporcionassem o
desenvolvimento de novos produtos. As ferramentas utilizadas para obter os dados nessa fase
resumiram-se à ação conversacional, registro de fotos e imagens.
Posteriormente, foi feita uma análise inicial das informações obtidas para verificar se havia
algum processo que ajudasse as artesãs a desenvolver o potencial criativo e consequentemente
gerasse inovação. Dessa forma, constatou-se que não era realizada nenhuma atividade que
estimulasse a geração de ideias tanto para a melhoria quanto para o desenvolvimento de novos
produtos.
Na segunda fase, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, a fim de encontrar técnicas de
criatividade. Para elencar as técnicas existentes utilizaram-se as ferramentas de busca na
internet Google e o Portal de Periódicos Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior). Para a busca neste foram utilizadas as palavras-chave “técnicas de
criatividade”, ”técnicas para gerar ideias”, “métodos de geração de ideias” e suas respectivas
traduções “creativity techniques”, “generating ideas techniques”, “generating ideas methods”.
Foram encontrados um total de 162 artigos.
Na terceira fase, foi feita uma análise dos artigos com o objetivo de identificar as suas
contribuições para a pesquisa. Essa verificação foi realizada mediante a leitura do resumo e
uma leitura dos artigos por completo. Após o diagnóstico de distanciamento dessas
publicações com o conteúdo a ser pesquisado, apenas um artigo tratava de técnicas de
criatividade.
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Na quarta fase, para encontrar as referências, citações e sites, foi utilizada a ferramenta de
busca do Google. A pesquisa levou aos dois sites de onde foram retiradas todas as técnicas:
Creativity Web e Mycoted. No total foram encontradas 224 técnicas, sendo utilizadas para
análise 74.
A escolha das técnicas aplicadas na comunidade (SCAMPER, Listing e Palavras/Figuras
Aleatórias) levou em consideração a simplicidade de aplicação, uma vez que o nível de
escolaridade das artesãs, objeto da pesquisa, é básico, e também para que elas possam aplicar
umas nas outras.
Na quinta fase, foram desenvolvidas duas dinâmicas a partir das técnicas escolhidas. A
primeira com o objetivo de melhoria de produtos, e a segunda objetivando a criação de novos
produtos. As dinâmicas são compostas por três etapas: planejamento, execução e análise.
Cada etapa possui sub etapas que variam de acordo com o objetivo de cada dinâmica.
Dinâmica 1 – Melhoria de produtos
A primeira etapa corresponde ao planejamento da dinâmica, abrangendo quatro sub etapas:
selecionam-se os condutores da dinâmica, seus auxiliares, o material necessário para
aplicação da mesma e discute-se sua operacionalização.
A segunda etapa, execução da dinâmica, apresenta quatro sub etapas. Primeiramente,
escolhem-se, junto com os participantes, os produtos que serão focos de melhoria. Como
critério de escolha determina-se os produtos com menor demanda. Após, constrói-se o quadro
auxiliar (Quadro 1) de acordo com as habilidades das artesãs. No quadro auxiliar serão
elencadas todas as variáveis da produção artesanal da associação, ou seja, tudo o que pode ser
mudado. Dessa forma, cada coluna do quadro representa uma variável, e as linhas todas as
possibilidades para cada variável.
Quadro 1 - Exemplo de Quadro auxiliar. (P = Possibilidade V = Variável)
Variável 1 Variável 2 Variável 3 Variável 4 Variável ... Variável n
P1 p/ V1 P1 p/ V2 P1 p/ V1 P1 p/ V4 P1 p/ ... P1 p/ Vn
P2 p/ V1 P2 p/ V2 P2 p/ V1 P2 p/ V4 P2 p/ ... P2 p/ Vn
P3 p/ V1 P3 p/ V2 P3 p/ V3 P3 p/ V4 P3 p/ ... P3 p/ Vn
P...p/ V1 P...p/ V2 P...p/ V3 P...p/ V4 P... p/ ... P... p/Vn
Pn p/ V1 Pn p/ V2 Pn p/ V3 Pn p/ V4 Pnp/ ... Pn p/ Vn
Fonte: Elaboração própria
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Na terceira sub etapa, acontece o preenchimento do quadro SCAMPER (Quadro 2) com as
sugestões dadas pelas artesãs e com a ajuda do quadro auxiliar. O quadro SCAMPER é
bastante simples de preencher. Nas colunas têm-se os produtos escolhidos para a melhoria e
nas linhas têm-se as etapas do SCAMPER, cada uma representa uma alteração em aspectos
diferentes do produto. Substituir representa trocar aspecto(s) por outro(s); Combinar é
acrescentar produtos e componentes ou aspectos que somem o seu valor ao do produto em
estudo; Adaptar significa mudar a função do produto sem mudar muito as suas características;
Modificar inclui alterar algum aspecto do produto, como variar as características do produto;
Por em uso quer dizer dar outras utilidades ao produto sem ele deixar de cumprir sua função
inicial; Eliminar implica excluir características; e Reinventar considera mudar completamente
o produto, “virá-lo de cabeça para baixo”.
Entretanto, não é necessário preencher todos os espaços disponíveis, pois as modificações são
feitas de acordo com as características do produto e a flexibilidade de produção.
Quadro 2 - Exemplo de quadro SCAMPER
Etapa Produto 1 Produto 2 Produto ... Produto n
S – Substituir
C – Combinar
A – Adaptar
M – Modificar
P – Por em uso
E – Eliminar
R – Reinventar
Fonte: Elaboração própria
Na última sub etapa é feita a recapitulação de todas as opções encontradas no quadro
SCAMPER.
A etapa de análise da dinâmica é responsável por analisar os resultados das etapas anteriores,
bem como a viabilidade de execução das melhorias propostas.
Dinâmica 2 – Criação de novos produtos
A segunda dinâmica tem como objetivo a geração de ideias para criar um novo produto. A
etapa de planejamento corresponde à definição de um tema para direcionar a criação de
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produtos, à seleção de figuras/palavras que serão utilizadas para criação, bem como à escolha
dos condutores da dinâmica, seleção de materiais necessários e discussão da
operacionalização. A escolha do tema é feita antes da ida da equipe à comunidade, junto a
uma das artesãs da associação, geralmente as mais envolvidas no processo de produção dos
produtos.
Na execução da dinâmica, cinco sub etapas são necessárias. Primeiro deve-se definir o
público-alvo/mercado para os novos produtos. Depois, é solicitado aos participantes que
retirem duas figuras/palavras aleatoriamente da caixa. A terceira sub etapa, geração de ideias
para a criação de novos produtos, é feita a partir da associação das figuras retiradas da caixa,
por um tempo aproximado de 30 minutos. Após a geração de ideias, os participantes são
convidados a apresentarem suas criações; caso haja relutância ou timidez em apresentar, os
condutores da dinâmica devem recolher os “projetos de produtos” e eles mesmos
apresentarem. Por fim, encerrando a etapa de execução, os produtos criados devem ser
discutidos e analisados.
Mais uma vez, a etapa de análise da dinâmica analisa os resultados obtidos e estuda a
viabilidade de concretização das ideias.
Na fase seis, foram realizadas as intervenções na comunidade através da aplicação das
dinâmicas em um período de um mês. Inicialmente o grupo responsável pela aplicação das
dinâmicas foi apresentado, bem como as artesãs também se apresentaram. Ainda foram
coletados dados das artesãs, como idade e tempo de atividade no grupo. Após esta etapa, as
dinâmicas foram realizadas.
Na sétima fase, analisaram-se os resultados obtidos com o propósito de identificar pontos
positivos e negativos das técnicas utilizadas, na perspectiva de posteriormente propor
melhorias.
5. Estudo de caso
A presente pesquisa foi realizada em uma comunidade de artesãs do estado do Rio Grande do
Norte. A atividade se iniciou como forma de ocupação para as mulheres da região, porém foi
vista uma oportunidade de renda extra, sendo buscada ajuda do SEBRAE para estudos
técnicos.
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5.1 Grupo de Artesãs de Massaranduba
Fundada em 20 de outubro de 2003, a ARTMAR (Associação das artesãs de Massaranduba)
surgiu para compensar a ociosidade das mulheres da comunidade, realizando bordado (crochê,
macramê, dentre outros). Entretanto, elas observaram a inviabilidade de continuar
trabalhando, pois não tinham condições suficientes para comercializar seus produtos,
buscando auxílio no SEBRAE, o qual realizou uma pesquisa sobre a comunidade e sugeriu
que elas trabalhassem com a fibra de carnaúba (Figura 1), matéria-prima abundante na região.
Figura 1 - Matéria-prima: palha de carnaúba
Fonte: Elaboração própria
Localizado em Massaranduba, distrito do município de São Gonçalo do Amarante, o grupo é
composto por 10 sócias, todas mulheres, com faixa etária de 32 a 75 anos. Para se associar a
ARTMAR, basta ir à sede e se cadastrar no livro de controle das sócias. Aquelas que já sabem
fazer o artesanato, já iniciam suas atividades; as que ainda não sabem, passam por um
treinamento oferecido pelas próprias artesãs da Associação. No tocante à escolaridade, três
não sabem ler nem escrever e as outras leem com dificuldade. O principal cliente é a empresa
ARTSOL e o principal concorrente é o artesanato cearense.
Uma das principais dificuldades do grupo é a rotatividade das sócias que ocorre devido à
insatisfação das artesãs que esperam receber, em média, um salário por mês, fato que não
acontece devido à variabilidade do volume de vendas. As que ainda permanecem na
associação mantêm o trabalho por fora e a atividade artesã serve como complemento a renda.
Outra dificuldade importante é o fato da resistência de alguns clientes em pagar o preço dos
produtos por acreditarem que deveriam ser mais baratos pelo fato de ser do interior.
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Cada colaborador da associação é responsável por todo o processo de materialização do
produto. Porém, devido à distância da sede da associação para as casas das artesãs, elas
trabalham duas vezes na semana, no horário da manhã e/ou tarde, e os outros dias em casa,
resultando em aproximadamente 6h por dia. Além do registro da quantidade de matéria prima
que entra e que sai, existe um controle de qualidade dos produtos, porém, este é considerado
ineficiente pelas artesãs.
As artesãs fabricam diversos tipos de peças contabilizando aproximadamente 200 modelos
(Figura 2) de produtos em palha de carnaúba. O protótipo das peças não é materializado, há
apenas o registro fotográfico de alguns produtos no computador da atual tesoureira. Elas
participam do processo de criação dos modelos somente como definidoras de alguns
parâmetros, como dimensões, enquanto que a design, enviada pelo SEBRAE, é quem cria o
modelo.
Figura 2 – produtos fabricados pelo grupo de artesãs de Massaranduba
Fonte: Elaboração própria
5.2 Processo Produtivo
A Figura 3 representa o processo produtivo geral da confecção dos produtos.
Figura 3 – Fluxograma do processo produtivo.
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Fonte: Elaboração própria
5.3 Dinâmica 1 – Uso da técnica SCAMPER
Inicialmente procurou-se conhecer com a presidente da associação quais os produtos que
apresentavam o menor índice de vendas, chegando-se a três produtos: bolsa, sousplat e porta
copo.
Participaram da dinâmica, nove integrantes do grupo de artesãs com uma faixa etária entre 35
e 63 anos. A maioria das integrantes está presente na associação desde os nove anos de sua
fundação. Com a participação das artesãs foi possível dispor no quadro auxiliar (Quadro 3),
possibilidades de tamanho, trançado, cor, forma e utilização dos produtos escolhidos. Após,
foi elaborado o quadro SCAMPER para os produtos escolhidos, resultando no Quadro 4.
Quadro 3 - Elementos variáveis dos produtos
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Tamanho Trançado Cores Forma Utilização
Pequeno Aberto Verde Redondo Acessório
Médio Fechado Pinhão Quadrado Utilidades do lar
Grande Carvalho Retangular Decoração
Nogueira Coração
Mogno Estrela
Vermelho Triangular
Laranja Oval
Roxo
Fonte: Elaboração própria
Quadro 4 - Quadro SCAMPER dos produtos selecionados.
Etapa Bolsa Sousplat Descansa
Copo
S – Substituir Material da alça Mercado classe
A
C – Combinar Forrar com
tecido Verniz Verniz
A – Adaptar
M – Modificar
P – Por em uso
E – Eliminar Fibras
sobressalentes
R – Reinventar
Fonte: Elaboração própria
Através da dinâmica, algumas conclusões foram apresentadas. Primeiramente foi analisado
que o material da alça da bolsa deveria ser substituído, devido ao incômodo causado aos
clientes. Logo após, foi verificada a necessidade de agregar valor a ela combinando tecido à
estrutura da mesma, bem como a importância da retirada das fibras sobressalentes presentes
na parte externa da bolsa.
Para o sousplat percebeu-se a intenção de atingir outro mercado, mais elevado que o já
existente, mudando a estratégia de vendas. Além disso, o verniz também foi proposto para ser
combinado ao produto original e ao porta copo, levando em conta a estética e a durabilidade.
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5.4 Dinâmica 2 – Uso das técnicas Listing e Palavras/Figuras Aleatórias
Para realizar a segunda fase da intervenção, fez-se uma segunda visita, onde participaram
cinco artesãs. As participantes, as mesmas presentes na visita interventiva anterior,
apresentam faixa etária entre 35 e 63 anos. Quanto à escolaridade, as artesãs são alfabetizadas
e com ensino fundamental completo.
Como o tema já foi previamente selecionado, carnaval, a dinâmica inicia com a determinação
do público-alvo, selecionando-se os foliões de micareta e o público feminino (donas-de-casa)
para tal.
As figuras foram selecionadas pelas artesãs e as ideias que surgiam foram anotadas em uma
folha, distribuída logo no início da dinâmica. Os resultados obtidos foram satisfatórios, apesar
da timidez das participantes ao serem informadas que deveriam apresentar suas ideias para as
demais no final do tempo estipulado para a criação.
O Quadro 5 resume os resultados obtidos nesta dinâmica:
Quadro 5 – Resumo dos produtos criados na dinâmica 2 em Massaranduba
Artesã 1 Artesã 2 Artesã 3 Artesã 4 Artesã 5
Figuras
sorteadas
- Cadeira
- Cortina
- Presente
- Prancha
- Mecha colorida
- Fruta
- Rosa
- Coqueiro
- Dado
- Garrafa
Produtos
criados
- Argola para
cortina
- Cortina feita
com porta
copo
- Bolsa
- Esteira de
praia
- Bolsa
- Rede
- Saia
- Porta cerveja
- Jarro
- Símbolo de São
Gonçalo
- Carteira
- Chapéu
- Rosa
- Jarro
- Porta uísque
- Mandala
- Cachorro de
decoração
- Porta cerveja
- Cobertor para
garrafa
F
onte: Elaboração própria
6. Análise das intervenções
Neste estudo, foi planejada a aplicação das duas dinâmicas no mesmo dia, porém isso não foi
possível pelo não cumprimento do período estabelecido, uma vez que tempo extra foi
despendido para explicitação da importância de ser criativo. O ideal de se fazer as duas
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atividades em um só dia é manter o foco e o fluxo criativo, uma vez que os participantes não
tinham a prática dessa atividade.
Mesmo com a explanação dos condutores sobre criatividade e a importância de pensar
lateralmente, as artesãs não conseguiram abstrair a ideia da dinâmica para geração de ideias
de novos produtos, pois, para elas, apenas apresentar produtos não produzidos pela associação
ou produtos que não são mais desenvolvidos, já é inovação. Por outro lado, para a dinâmica
de melhoria de produtos, os resultados foram satisfatórios, pois, detalhes que para elas não
eram percebidos, foram destacados na dinâmica, ressaltando sua importância em ser
eliminado ou melhorado.
Foi observado ainda que a falta de proximidade dos participantes com o tema criatividade e
inovação e até mesmo o fato de serem leigos no assunto, foi a principal barreira para a
dinâmica, umas vez que as artesãs se sentiam incapazes de criar e interagiram pouco. Dessa
forma, a autonomia exigida aos participantes pelas técnicas, deve ser proporcional ao
conhecimento e envolvimento dos participantes com o tema de criatividade e inovação, fato
observado na aplicação dessa dinâmica, uma vez que se obtiveram resultados mais
satisfatórios na aplicação da técnica sobre a qual o mediador tinha mais controle.
7. Considerações finais
O direcionamento do potencial criativo do indivíduo para a inovação, ainda é algo a ser
aperfeiçoado. Para que se gerem novas formas de solucionar problemas criativamente, se faz
necessário potencializar as habilidades criativas (SOUZA e SOARES, 2007) e isto é
conseguido através de técnicas, que auxiliam e podem ser consideradas facilitadoras durante o
processo de geração de ideias e exploração de novos caminhos que direcionem para a
inovação de produtos.
A pesquisa bibliográfica mostrou que a maioria das técnicas existentes na literatura é
fundamentada basicamente na teoria, existindo pouca aplicação prática detalhada. Mesmo
com essa limitação, foi possível desenvolver dinâmicas, para aplicação das técnicas, que se
encaixassem no perfil das artesãs, ajudando-as na geração de ideias tanto para melhoria como
para o desenvolvimento de novos produtos.
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As técnicas utilizadas para as intervenções na comunidade de artesanato tiveram efeitos
diferentes em seu objetivo. A técnica SCAMPER mostrou-se bem adequada para o perfil
dessa comunidades e como resultado pela geração de ideias para melhoria de produtos
existentes. Já as outras técnicas mostraram-se menos eficazes na busca por novas ideias para
novos produtos. Alguns fatores como a timidez e a criatividade, ainda vista como um
paradigma, se fizeram presentes, de forma negativa, durante o desenvolvimento das
dinâmicas, resultando em um bloqueio maior durante a idealização de novos produtos.
Nesse contexto, observou-se a importância do condutor da dinâmica para conduzir de forma
ativa a intervenção, reduzindo todas as barreiras que impeçam a evolução da dinâmica e se
consiga o alcance dos seus objetivos. Assim, pode-se dizer que flexibilidade é a palavra chave
quando se trata da aplicação de dinâmicas para o processo criativo, porém, é importante saber
manter-se nos limites do roteiro para que não se perca o foco.
Para futuros estudos sugere-se a validação das técnicas de criatividades, aplicadas nesse
estudos, em outras comunidades de artesãos e outras organizações para verificar se essas
técnicas se adequam e cumprem a sua finalidade proposta.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eunice. A gerência da criatividade. São Paulo: Makron Books, 1996. In: SILVA,
Rosinilda Lavadouro; RODRIGUES, Laura Dionísia do Monte. Estimulando a Criatividade
das pessoas nas Organizações. Sinergia, Rio Grande, v. 11, n. 1, p. 17-26, 2007.
AZNAR, Guy. Ideias: 100 técnicas de criatividade. Tradução Mariana Echalar. Sumus, São
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BACCARELLI, Rodolfo. Miguel. O processo de Inovação. Economia & Tecnologia.
Campinas, v.2, n.6, p.47-51, jun.1999.
BENETTI, Paulo Cassimiro de Araújo. O uso de técnicas do pensamento criativo facilita a
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planejamento estratégico. La Coruña: USC, 1999. 128 f. Dissertação (Mestrado) - Master
Internacional de Creatividad Aplicada Total, Universidad de Santiago de Compostela, La
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