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    Criao do conhecimento por meio do modelo de Nonaka para a pequena empresa: estudo de caso da Empresa Jumoser

    Autoria: Mnica Herek, Jlio Ernesto Colla, Srgio Luiz Pirani

    RESUMO

    Este texto resulta da anlise do processo de criao do conhecimento em uma pequena empresa por meio do modelo de Nonaka. A pesquisa qualitativa pelo mtodo do estudo de caso configura metodologia adotada. Como tcnicas de coleta de dados foram adotadas a pesquisa documental, para dados secundrios, catlogos de produtos e as entrevistas semi-estruturadas com o proprietrio e encarregados de administrativo e de produo, para dados primrios. Neste trabalho, a criao do conhecimento organizacional deve ser entendida como um processo que amplia organizacionalmente o conhecimento criado pelos indivduos, cristalizando-o como parte da rede de conhecimentos da organizao. A anlise principal do modelo foi baseada no modelo de Ba, mais especificamente o Originating Ba, Interacting Ba, Cyber Ba e Exercising Ba. Apesar de terem sido constatadas falhas no processo de criao do conhecimento, do fato de o conhecimento estar estabelecido nas pessoas e no na organizao, assim como de o conhecimento centralizar-se na figura do proprietrio, a estrutura organizacional simples e o modelo de comunicao da empresa facilitam a criao dos Bas iniciais.

    Introduo

    O mundo tem acompanhado as rpidas mudanas na rea dos negcios, o poder crescente dos clientes, a concorrncia com os custos extremamente baixos da sia, da distribuio em tempo real; entretanto, a verdade que o que est mudando com a maior velocidade a prpria mudana. (HAMEL, 2005). O fenmeno da globalizao da economia forou os pases a abrirem seus mercados, ampliando a competio entre as empresas, portanto, exigindo adaptaes s novas demandas. As pequenas e mdias empresas (PMEs), por sua caracterstica de estratgia reativa (TORRS (2004), no possuem as mesmas capacidades das grandes corporaes para atender as profundas e intensas mudanas, fazendo com que o processo de criao das inovaes seja revestido de zelo pelos empresrios das PMEs.

    Quando as organizaes inovam, elas no s processam informaes de fora para dentro, com o intuito de resolver problemas existentes e se adaptar ao ambiente em transformao, mas tambm criam novos conhecimentos e informaes de dentro para fora, a fim de redefinir tanto os problemas quanto as solues e, nesse processo, recriar seu meio. (NONAKA e TAKEUSHI 1997)

    A pequena empresa configura-se como fonte de gerao de empregos (nos setor industrial as MPEs empregam em mdia 9,32 pessoas (VOX POPULI, 200), sendo um agente de transformao socioeconmica (TORRS, 2004). Por esse motivo, essas organizaes tendem a ser altamente empreendedoras, logo, conquistando sua legitimidade. Schumpeter, ao tratar do empreendedorismo, vincula-o ao desenvolvimento econmico, destruio criativa, efeito no processo de inovao, por apresentar novas formas de alocao de recursos em um mercado de competio acirrado (FILION, 1999). Devido a esse panorama, cria-se a demanda de novas capacidades empresariais, em especial de inovao, de produtos, processos e habilidades gerenciais.

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    De acordo com estudo realizado pelo SEBRAE (2007a), as MPEs no ficaram margem desse processo competitivo, uma vez que investem em capacitao de funcionrios, mquinas e equipamentos, desenvolvimento e lanamento de novos produtos, tornando-se mais geis no processo de entrega de produtos. Nesse sentido, pode ser verificada uma ampliao da qualidade dos produtos, uma reduo de desperdcios e retrabalho. Por outro lado, as MPEs ainda no despertaram para a importncia de investimentos em design de produtos e para seu impacto sobre as vendas, embora cada vez mais reconheam a importncia do desenvolvimento tecnolgico e da inovao para a competitividade e o crescimento da empresa (SEBRAE (2007b).

    As mudanas ocorridas no mercado fizeram com que as MPEs buscassem novos modelos de gesto e, para tanto, novos modelos de conhecimento. Drucker (2002 p.170) prev que a A prxima sociedade ser uma sociedade do conhecimento. O conhecimento ser seu recurso chave e os trabalhadores de conhecimento iro constituir o grupo dominante da fora de trabalho.

    a partir dessas premissas que este artigo prope-se a analisar o processo de criao do conhecimento em uma pequena empresa, por meio do modelo de Nonaka, de forma a atender a seguinte especificidade de descrever: (1) o processo e o ambiente de converso do conhecimento tcito em conhecimento tcito, chamado socializao, na pequena empresa; (2) o processo e o ambiente de converso do conhecimento tcito em explcito, externalizao; (3) o processo e o ambiente de converso do conhecimento explcito em conhecimento explcito, combinao; (4) o processo de criao do conhecimento explcito em conhecimento tcito, internalizao.

    Este texto est, pois, organizado em cinco partes, sendo a primeira a reviso terica sobre o conhecimento, em que apresentado o modelo proposto por Nonaka; a segunda, em que se faz uma breve reviso sobre os estudos realizados sobre gesto do conhecimento no Brasil, analisando-se os artigos publicados em eventos sobre Administrao; terceira, em que se evidencia a metodologia utilizada para a construo deste artigo; a quarta, em que se apresenta o caso da pequena empresa e a quinta parte, em que so apresentadas as concluses.

    Processo de Criao de Conhecimento na empresa

    H muito o conhecimento ronda o imaginrio humano; porm, somente h poucas dcadas ele estudado no meio organizacional como uma forma de vantagem competitiva sustentvel (DEVENPORT e PRUSAK (1998), NONAKA (2001)). Ainda assim, encontram-se divergncias sobre o significado de gesto do conhecimento. Nonaka e Takeuchi (1997) apontam que o conhecimento que pode ser expresso em palavras e nmeros representa apenas a ponto do iceberg do conjunto de conhecimentos como um todo. Dessa forma, as organizaes devem buscar meios que propiciem a gerao de novos conhecimentos, identificando elementos para melhor gerenciar seu processo.

    O conhecimento, segundo Devenport e Prusak (1998), como algo fludo, estruturado e intuitivo que est contido dentro dos indivduos, podendo ser entendido tanto como um processo (viso interpretativista), como um ativo, um bem que pode ser estocado, gerenciado (viso normativa). A gerao do conhecimento baseada na experincia, nas crenas e valores, no discernimento, nas normas, em uma verdade fundamental e na capacidade de lidar com a complexidade. Assim, se o conhecimento est contido nas pessoas, precisa ser transferido para a organizao. A teoria dos referidos autores apresenta o mercado do conhecimento composto por compradores, vendedores e corretores, sendo que para este mercado existe um sistema de preos em que elementos como a reciprocidade, reputao,

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    altrusmo e confiana so elementos-chave. Tambm deve ser entendido que a gesto desse conhecimento no deve estar somente calcada na tecnologia de informao, pois elementos inerentes ao ser humano, como a confiana, podem ser complicadores.

    Nonaka e Takeuchi (1997) acreditam que para explicar a inovao necessria uma nova teoria para a criao do conhecimento organizacional. Nesse sentido, propem que o processo de criao do conhecimento seja abordado em duas dimenses, uma epistemolgica e outra ontolgica. Na dimenso epistemolgica h o conhecimento tcito e o explcito, j na dimenso ontolgica o nvel de conhecimento varia do individual para o interorganizacional, passando pelo grupo e pela organizao. Nonaka e Takeuchi propem um modelo para a compreenso da natureza dinmica da gerao do conhecimento, considerando trs elementos: (1) SECI (socializao, externalizao, combinao e internalizao), ou seja, o processo de converso do conhecimento entre tcito e explcito; (2) Bas, espaos que propiciam a criao do conhecimento e (3) os recursos do conhecimento. Segundo os autores, existe uma interao orgnica e dinmica entre esses trs elementos, de forma que os recursos do conhecimento de uma organizao so mobilizados e compartilhados em um espao (Ba). Salientam, ainda, que o conhecimento est no indivduo (tcito), sendo convertido e amplificado (explcito), passando ao grupo, organizao, como em uma espiral. A figura 1 apresenta o processo de criao do conhecimento, o indivduo para o grupo e do conhecimento tcito para o explcito, em um espao de criao (Ba).

    Figura 1 Espiral do Conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997) adaptado por Balestrin, Vargas e Fayard (2003)

    O conhecimento tcito subjetivo, advm da experincia, da analogia e simultneo; j o explicito o da racionalidade, da teoria e seqencial (NONAKA e TAKEUCHI (1997), NONAKA e KONNA (1998), NONAKA, REINMOELLER e SENOO (1998), NONAKA, TOYAMA e KONNO (2000) VON KROGH, NONAKA e ABEN (2001), NONAKA e TOYAMA (2003). Da interao do conhecimento tcito e do explcito, os autores postulam quatro modos de converso do conhecimento: socializao, externalizao, combinao e internalizao, SECI. Na figura 2, observa-se a converso do conhecimento tcito em tcito, do tcito em explcito, do explcito em explcito e do explcito em tcito, em que a socializao envolve indivduos, a externalizao envolve os indivduos e o grupo, a combinao envolve os grupos e a organizao, e a internalizao o indivduo no grupo e na organizao. Esse processo ocorre de forma dinmica e continuada, fazendo com que a espiral torne-se maior na escala enquanto move para cima atravs dos nveis organizacionais, provocando novas espirais da criao do conhecimento.

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    Figura 2 Quatro modos de converso do conhecimento Fonte: Nonaka e Konno, 1998

    A socializao ocorre a partir da experincia e de modelos mentais compartilhados, em que uma comunicao face-a-face gera conhecimento compartilhado. So exemplos as reunies com discusses detalhadas, sesses de brainstorming ou encontros informais. (NONAKA e TAKEUCHI, 1997)