Criacionismo e Evolucionismo - definições e opiniões

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2 Criacionismo e Evolucionismo 2.2 Compreendendo a controvérsia _________________________________ 2.2.1 Definindo o assunto No tópico anterior desenvolvemos a base sobre a qual a controvérsia entre criacionismo e evolucionismo se coloca: a discussão entre fé e razão / ciência e religião. Naquela oportunidade apontamos e defendemos que esta é no fundo uma discussão descabida, sendo razão e fé complementares e caminhando junto, no conhecimento e aceitação das verdades do mundo que nos rodeia. Neste tópico, entraremos propriamente no assunto de Criacionismo e Evolucionismo. Antes de começar a discutir o assunto é de bem colocar algumas definições. Criacionismo é de maneira geral, a vertente de pensamento que defende a existência de uma força inteligente/divindade guiando o processo de formação do Universo, da Terra, das espécies e do homem. Dentro da discussão criacionismo x evolucionismo, porém, o termo é geralmente empregado para descrever a visão literalista do relato bíblico, defendida principalmente por grupos cristãos fundamentalistas, e em especial no sul dos Estados Unidos. É importante se destacar, porém, que esta visão é canhestra e limitada. Primeiramente porque não existe visão criacionista apenas dentro do cristianismo, mas também existe em outras religiões. E segundo porque existe mais de uma posição dentro das visões cristãs, que podem ser nomeadas como criacionista. Nossa preocupação não é com as visões criacionistas de fora do cristianismo, mas estas certamente existem. Dentro do Islã, por exemplo, a visão criacionista é marcante e baseada no Alcorão. Dentro do criacionismo também se incluem os mitos da criação antigos, como os de Gilgamesh e Enuma Elish. No Ocidente particularmente, porém, o criacionismo é geralmente visto como a crença no relato literal de Gênesis. Esta visão, novamente, é falha e não demonstra a verdadeira complexidade do tema. Geralmente, a questão entre criacionismo e evolucionismo gira em torno das questões sobre a evolução até a espécie humana e a forma como o homem surgiu, com o criacionismo indo contra a visão que é tida como científica. Assim como rejeitamos a questão fé contra razão, rejeitaremos também a questão criacionismo contra evolucionismo no decorrer deste estudo. Antes porém vamos definir alguns termos comuns nesta discussão. Quando definimos criacionismo, apontamos para o fato de que dentro desta definição existem diversas visões diversas. É chegada a hora de passarmos a estas definições, recorrentes que são quando se trata deste tema. Colocaremos aqui apenas as correntes principais. A mais radical, conhecida e proeminente vertente do criacionismo é o Criacionismo da Terra Jovem, ou da Terra Recente. Em linhas gerais (e talvez com um pouco de generalizações) o criacionismo da Terra Recente defende que a humanidade foi diretamente criada por Deus, seguindo a visão literal e mais simples de Gênesis; que todas espécies biológicas foram criadas também diretamente por Deus (logo não acreditam na macroevolução); que a Terra/Universo tem menos de 10000 anos (e geralmente acreditam que a Terra foi reformulada pelo dilúvio da época de Noé). O ponto de vista do Criacionismo da Terra Recente é aquele defendido por boa parte das denominações protestantes e ensinado em algumas escolas destas denominações. É praticamente em torno

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Aula de Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Independente de Cosmópolis sobre Criacionismo e Evolucionismo.

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2 – Criacionismo e Evolucionismo

2.2 Compreendendo a controvérsia _________________________________

2.2.1 – Definindo o assunto

No tópico anterior desenvolvemos a base sobre a qual a controvérsia entre

criacionismo e evolucionismo se coloca: a discussão entre fé e razão / ciência e religião.

Naquela oportunidade apontamos e defendemos que esta é no fundo uma discussão

descabida, sendo razão e fé complementares e caminhando junto, no conhecimento e

aceitação das verdades do mundo que nos rodeia. Neste tópico, entraremos propriamente no

assunto de Criacionismo e Evolucionismo. Antes de começar a discutir o assunto é de bem

colocar algumas definições.

Criacionismo é de maneira geral, a vertente de pensamento que defende a

existência de uma força inteligente/divindade guiando o processo de formação do Universo,

da Terra, das espécies e do homem. Dentro da discussão criacionismo x evolucionismo,

porém, o termo é geralmente empregado para descrever a visão literalista do relato bíblico,

defendida principalmente por grupos cristãos fundamentalistas, e em especial no sul dos

Estados Unidos. É importante se destacar, porém, que esta visão é canhestra e limitada.

Primeiramente porque não existe visão criacionista apenas dentro do cristianismo, mas

também existe em outras religiões. E segundo porque existe mais de uma posição dentro

das visões cristãs, que podem ser nomeadas como criacionista.

Nossa preocupação não é com as visões criacionistas de fora do cristianismo, mas

estas certamente existem. Dentro do Islã, por exemplo, a visão criacionista é marcante e

baseada no Alcorão. Dentro do criacionismo também se incluem os mitos da criação

antigos, como os de Gilgamesh e Enuma Elish. No Ocidente particularmente, porém, o

criacionismo é geralmente visto como a crença no relato literal de Gênesis. Esta visão,

novamente, é falha e não demonstra a verdadeira complexidade do tema. Geralmente, a

questão entre criacionismo e evolucionismo gira em torno das questões sobre a evolução

até a espécie humana e a forma como o homem surgiu, com o criacionismo indo contra a

visão que é tida como científica. Assim como rejeitamos a questão fé contra razão,

rejeitaremos também a questão criacionismo contra evolucionismo no decorrer deste

estudo. Antes porém vamos definir alguns termos comuns nesta discussão.

Quando definimos criacionismo, apontamos para o fato de que dentro desta

definição existem diversas visões diversas. É chegada a hora de passarmos a estas

definições, recorrentes que são quando se trata deste tema. Colocaremos aqui apenas as

correntes principais.

A mais radical, conhecida e proeminente vertente do criacionismo é o

Criacionismo da Terra Jovem, ou da Terra Recente. Em linhas gerais (e talvez com um

pouco de generalizações) o criacionismo da Terra Recente defende que a humanidade foi

diretamente criada por Deus, seguindo a visão literal e mais simples de Gênesis; que todas

espécies biológicas foram criadas também diretamente por Deus (logo não acreditam na

macroevolução); que a Terra/Universo tem menos de 10000 anos (e geralmente acreditam

que a Terra foi reformulada pelo dilúvio da época de Noé). O ponto de vista do

Criacionismo da Terra Recente é aquele defendido por boa parte das denominações

protestantes e ensinado em algumas escolas destas denominações. É praticamente em torno

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deste ponto de vista e do evolucionismo ateísta que giram todas as discussões que fazem a

questão ser controversa. Os defensores da Terra Recente são bem organizados,

principalmente nos EUA, e tem criado inclusive institutos de pesquisa criacionistas, como o

Institute for Creation Research (ICR) e a Sociedade Criacionista Brasileira.

Uma versão menos radical do criacionismo é conhecida como Criacionismo da

Terra Antiga. Dentro desta vertente do criacionismo existem mais de uma linha de

pensamento. De forma geral, o que mais separa os criacionistas da Terra Antiga daqueles

da Terra Recente é que os primeiros aceitam a idade atribuída pela ciência a Terra e o

Universo, enquanto os últimos sustentam que a Terra tem cerca de 10000 anos (uma

tentativa dos criacionistas da Terra Recente em explicar os dados contrários provindos da

natureza é a teoria omphalos, que posteriormente detalharemos). Um dos ramos do

criacionismo da Terra Antiga é o criacionismo do intervalo (ou da lacuna), que defende que

a Terra atual foi criada a partir de uma Terra Antiga, que havia sucumbido ao pecado (este

ponto de vista foi popularizado pela Bíblia de Scofield, em torno de 1910). Outro ramo

importante é o criacionismo progressivo, que geralmente é a visão principal dos

criacionistas da Terra Antiga, entende que Deus usou de meios naturais (como seleção

natural e mutações genéticas) mas também de meios especiais, intervindo diretamente na

criação em momentos específicos. A quantidade aceita destas intervenções varia também

dentre desta corrente.

Um pouco além da visão anterior está o ponto de vista do teísmo evolucionista, ou

criacionismo de potencial pleno, como preferem alguns de seus defensores. Os teístas

evolucionistas acreditam em praticamente todas teorias científicas atuais, inclusive na

existência de um precursor para as formas de vida e na evolução do homem dos primatas.

Os proponentes do teísmo evolucionista são contrários ao conflito entre ciência e religião,

suportando que a evolução, como descrita pela ciência é apenas o instrumento usado por

Deus. Dentro desta visão geralmente se encaixam o ponto de vista do “relojoeiro” de Paley.

O ponto fraco de alguns defensores deste ponto de vista é desprezar muito do que está

contido na Bíblia, de forma que quase a considera como um mero texto antigo.

Evolucionismo é um termo usado para descrever, dentro da controvérsia, a visão

majoritária na ciência e sua versão atéia, através da qual o homem surgiu por meio de

processos naturais. De forma geral, a teoria evolucionária moderna é um conjunto de

observações e conclusões, no que se englobam algumas das ideias de Darwin, novas

descobertas em genética, etc. Não é uma religião, mas alguns defendem com tanto ardor a

evolução como prova da não existência de Deus que até parecem fazer parte de uma seita.

É importante se destacar que nem tudo que a ciência tem como mais provável hoje é o que

Darwin desenvolveu. Sobre as descobertas e conclusões científicas falaremos mais adiante.

Outra definição central antes de prosseguirmos é sobre o que seja evolução

biológica. É em torno deste termo que a discussão se situa enfim. Podemos entender este

termo de pelo menos 4 maneiras distintas. Primeiramente, evolução pode ser entendida

como o fato de que as espécies mudam ao longo do tempo (os bicos dos pintassilgos

ficaram mais curtos, por exemplo). Isto é conhecido como microevolução e é consenso

entre todos grupos dentro da discussão.Em segundo lugar, a evolução também pode ser

entendida como mudanças macroevolucionárias, ou seja, transformações ocorrendo ao

acaso e chegando ao nível de filos e reinos animais. Havendo tempo e condições favoráveis

todas as mudanças ocorreriam. Em terceiro lugar, evolução é muitas vezes entendida como

sinônimo de neodarwinismo, a concepção científica atual sobre a questão da origem das

espécies. Esta terceira visão traz em si geralmente a premissa de que apenas os processos

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naturais podem explicar o que vemos. Por fim, evolução pode também ser entendida como

uma filosofia, o naturalismo filosófico, defendido por alguns cientistas ateus como Richard

Dawkins e Carl Sagans. Aqui usaremos evolução com o segundo significado, de

macroevolução.

2.2.2 – A extensão da polêmica

A discussão entre criacionismo e evolucionismo é na verdade, praticamente, uma

discussão entre criacionistas da Terra recente fundamentalistas e defensores da ciência

ateísta e do estado laico. A discussão é particularmente ruidosa, como já apontamos, no sul

dos Estados Unidos, e a principal fonte de debates está em torno do ensino do criacionismo

e da evolução nas escolas. A questão chegou a ser debatida em meios judiciais (caso

célebre é o chamado “Julgamento do Macaco”, ocorrido em 1925 no Tenessee, envolvendo

um professor de biologia que foi processado por ensinar a teoria da evolução), mas

atualmente gira mais em torno de uma guerra pelos meios de comunicação, especialmente

em livros. No Brasil a questão não é tão polêmica, mas é diversas vezes tratada pelos meios

de comunicação (e geralmente de forma enviesada).

A polêmica gira em torno da forma de atividade de Deus na criação. Os

criacionistas da Terra Recente advogam que Deus agiu acima de tudo por meio de

intervenções de causa primeiras; ou seja, uma ação divina, direta, extraordinária e

descontínua; já os teístas evolucionistas advogam que Deus agiu por meio de intervenções

indiretas; ou seja, sustentando os processos naturais e os usando para alcançar seus

objetivos. Os naturalistas metodológicos ateus acreditam apenas nos processos naturais.

Entre estes limites estão todos os pontos de vista sobre a questão.

A ciência é uma das mais importantes e fortes influências no mundo moderno. As

pessoas que viveram na época de D. Pedro II tinham mais em comum com Abraão do que

conosco em termos do mundo em que viviam. Isto se deve as descobertas da ciência.

Passando por exames de Ressonância Magnética Nuclear, conexões wireless, viagens

espaciais e neurofisiologia nosso mundo é científico. Isto não é uma surpresa, pois cremos

que Deus criou um mundo organizado e nos deu capacidade de obter conhecimento e

explorar o mundo que nos cerca. Todavia, como apontamos no tópico anterior, para muitas

pessoas a ligação entre fé e razão, teologia e ciência, não é tão simples.

Enquanto muitos aceitam o fato de que ciência e religião caminham juntas e são

formas diferentes de compreendermos o mundo, um outro grupo, infelizmente crescente de

pessoas, adota a visão de que a ciência mostrou que a religião, ou o cristianismo

principalmente, é falso, tendo a ciência desacreditado as doutrinas cristãs. Outros pensam

ainda que os ensinamentos cristãos são muito inferiores em termos intelectuais as

descobertas e conclusões da ciência, sendo necessário aceitá-los por meio de uma fé cega e

irracional. Frase exemplar deste procedimento foi dita pelo filósofo naturalista Wilfred

Sellars: “No plano de descrição das coisas e explicar o mundo, a ciência é a medida de

todas as coisas, quanto ao que o mundo é, e quanto ao que o mundo não é”. Esta visão não

é tão marcante em relação a nenhum ponto científico quanto à evolução. Foi o que

proclamou um ateu: “ A evolução tornou o mundo um lugar seguro para os ateus”. Diante

disto, vemos que há razões para nos preocuparmos com esta questão.

Colocamos a questão Ciência contra Religião como uma das balizadoras desta

discussão. Além desta questão, que é na verdade uma discussão filosófica, existem questões

bíblicas e científicas envolvidas. São estes 3 campos que mantém esta discussão.

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Discutiremos a questão do mérito da polêmica em si quando tivermos terminado de

nos posicionarmos quanto a ela.

2.2.3 – Nosso enfoque no assunto

Esta primeira parte foi uma pequena explanação sobre o assunto, apenas para situar

a questão. Deste ponto em diante prosseguiremos colocando as evidências que temos: da

natureza, da observação do homem e seu lugar na natureza, das Escrituras e pensando no

relacionamento de Deus com a criação. Expostas as evidências partiremos para construir

uma opinião a respeito do tema, expondo as divergências em cada parte do que foi exposto

e as conclusões diversas que tem sido levantadas. Diante desta exposição será momento

para aprofundamento nos pontos de vista criacionistas acima expostos e para comentar mais

a fundo a questão.