Crescimento urbano: o caso da Cidade Média de Poços de Caldas · mãos dos governantes, o que...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia - Bacharelado Amanda Alvisi Costa Crescimento urbano: o caso da Cidade Média de Poços de Caldas Alfenas - MG 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia - Bacharelado

Amanda Alvisi Costa

Crescimento urbano: o caso da Cidade Média de Poços de

Caldas

Alfenas - MG

2014

Amanda Alvisi Costa

Crescimento urbano: o caso da Cidade Média de Poços de

Caldas

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentada como parte dos requisitos para

obtenção do título de Bacharel em

Geografia pelo Instituto de Ciências da

Natureza da Universidade Federal de

Alfenas- MG, sob orientação do Prof. Dr.

Evânio Branquinho

Alfenas – MG

2014

“Sou geógrafo, respondeu o velho.

O que é um geógrafo? Perguntou o principezinho

- É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as

cidades, as montanhas, os desertos.

É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma

verdadeira profissão! E lançou um olhar, em torno de si, no planeta

do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso."

(Trecho de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupery)

Dedico a minha família e a todas as pessoas que de alguma

forma contribuíram para o meu aprendizado

AGRADECIMENTOS

LISTA DE IMAGENS

LISTA DE TABELA

RESUMO

O presente trabalho apresenta um estudo do desenvolvimento e expansão urbana da cidade de

Poços de Caldas, que visa mostrar os fatores que dinamizam a cidade. Para melhor

compreender as transformações, foram feitos levantamentos bibliográficos sobre a rede

urbana e sua estruturação e as principais características do espaço estudado. As cidades

médias vêm sendo bastante estudadas pela sua complexidade e sua rede de interligações, que

influenciam várias regiões que dependem das mesmas. O crescimento das cidades vem

acontecendo muito rápido; muitas vezes a infra-estrutura urbana e o ordenamento desse

crescimento não acompanham as leis de proteção ambiental e acontecem de forma

desordenada, sendo necessário uma cobrança da população quanto às diretrizes do Plano

Diretor, que visam orientar a expansão urbana e a melhoria da qualidade de vida da população

local. Assim, o estudo de Poços de Caldas torna-se importante na compreensão da dinâmica

que a cidade exerce sobre as cidades vizinhas e seu papel como cidade média no Sul de Minas

de Gerais.

Palavras-Chaves: Cidade Média. Crescimento Urbano. Ordenamento Territorial. Plano

Diretor. Planejamento Urbano

Evanio
Highlight

ABSTRACT

SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste no estudo do processo de expansão urbana de Poços de Caldas,

desde os seus primórdios até os dias atuais, tendo em vista a importância da cidade com as

suas águas hidrotermais que propiciou a urbanização da mesma. Serão enfatizados os

momentos marcantes para o desenvolvimento da cidade, abordando os principais fatores para

a crescente urbanização.

Esse estudo torna-se importante na compreensão da dinâmica da cidade, os fatores que

a levaram a se expandir para determinada região. Esses fatores são de suma importância para

entender o espaço urbano, resultado de influências e interesses diferentes. As estruturas atuais,

são influenciadas por momentos passados, que ajudaram a modelagem do espaço atual. Cada

época a cidade sofreu influências internas e externas diferentes que dinamizaram e

estruturaram o município. Poços de Caldas é marcada por ser uma cidade turística, e essa

característica vem desde sua fundação; na atualidade ela possui bairros onde predominam

edificações antigas, algumas das quais nos conduzem ao seu passado de estância hidromineral

de renome nacional, quicá internacional, quando abrigava cassino e recebia turistas das mais

diversas regiões. Embora ainda extremamente importante na economia da cidade o turismo

hoje divide sua importância com atividades econômicas diversificadas, como comércio,

indústria e, bastante significativo, o setor de prestação de serviços. Essas mudanças nas

atividades econômicas vão influenciar na modelagem do espaço, ou seja, a reestruturação

econômica vai incorporar e excluir vários agentes modeladores do espaço, que são

responsáveis por transformar a cidade.

O estudo da estrutura urbana atual é essencial para compreender os aspectos que

influenciam e influenciaram na construção da cidade. Como Poços sofreu várias fases de

“expansão” é importante analisar os momentos passados, pois eles contribuíram para que a

cidade tivesse a atual forma.

A formação social-econômica se intensifica com as interligações das redes que usam

das variantes históricas e geográficas de determinada área para se estruturar. Os fatores

sociais, políticos, econômicos e culturais vão dar a peculiaridade de um espaço, por isso o

estudo individual de cada cidade é importante para entender a dinâmica que essa cidade

representa.

2-OBJETIVO GERAL

Analisar o desenvolvimento da cidade de Poços de Caldas no decorrer da sua existência,

analisando a expansão urbana ocorrida.

3- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Compreender a dinâmica social espacial de Poços Caldas fazendo uma cronologia com

ênfase na evolução do desenvolvimento urbano da cidade.

Analisar os conceitos de expansão urbana, urbanização e cidade média, para compreender

o espaço local, e de como alguns fatores econômicos, sociais e culturais influenciaram o

desenvolvimento e expansão da cidade.

4 – JUSTIFICATIVA

A cidade de Poços de Caldas sofreu muitas influências na transição de atividades

econômicas, por isso torna-se necessário o estudo da formação da cidade para compreender

suas dinâmicas e os fatores que a levaram a expandir e se tornar uma cidade média, bem como

o papel da cidade média em intermediar as relações entre as cidades pequenas e grandes.

Dentro desse contexto, é de suma importância a análise sócio-espacial para a compreensão do

espaço.

As cidades médias ganham relevância a partir do final da década de 1950 e no decorrer

da década de 1960 na França onde os estudiosos procuravam compreender o desenvolvimento

regional e os desequilíbrios ocasionados pelo aumento demográfico urbano. Ao longo dessas

décadas foram surgindo políticas de desconcentração de população e atividades. No Brasil as

cidades médias adquiriram o papel de absorver parte dos fluxos migratórios, tendo em vista o

aumento do contingente populacional vindo da zona rural. Poços de Caldas nessa época, começa

a receber migrantes vindo de outras cidades com o intuito de absorver a mão de obra como a de

imigrantes italianos com o mesmo propósito e a partir desse período, a cidade começa a crescer

significativamente.

Em Poços de Caldas a expansão urbana aconteceu de forma rápida, criando novos

loteamentos, o que ocasionou uma nova reestruturação, tornando algumas regiões da cidade a se

tornarem “independentes” por possuir estruturas necessárias para o dia a dia, como bancos,

Evanio
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supermercados, drogarias, diminuindo sensivelmente sua dependência da estrutura central da

cidade. O crescimento urbano deve acontecer de forma ordenada para que a qualidade de vida da

população não seja afetada, procurando oferecer uma infraestrutura adequada, por isso o estudo

desse crescimento é importante para garantir que as gerações presentes e futuras usufruam de um

espaço adequado para viver.

5- METODOLOGIA

A pesquisa será de cunho aplicado, através da análise da complexidade do fenômeno

da urbanização. Será necessária a interpretação da dinâmica do espaço e a coleta de dados

estatísticos e bibliográfico. A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica, com a

leitura de elementos relacionados a cidade média e a urbanização. A pesquisa bibliográfica

tem como objetivo fornecer de forma direta ou indireta, os estudos realizados acerca de

determinado assunto, ampliando o conhecimento sobre este.

O procedimento metodológico constituirá na realização de: revisão bibliográfica

teórico conceitual sobre: cidade média, urbanização e expansão urbana; leitura sobre o

histórico de Poços de Caldas; coleta de dados a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e outros trabalhos já realizados sobre a cidade; serão utilizados mapas para

a observação do avanço da urbanização; Serão realizados trabalho de campo, com

observações das áreas que apresentaram a maior expansão, acompanhado de relatório

fotográfico dessas áreas. Entrevistas visando obter um panorama do grau de satisfação e

identificação da população com as tendências de crescimento urbano apresentadas nos últimos

anos e quais as vantagens e desvantagens de residir na cidade.

6- RESULTADOS E DISCUSSÃO

O surgimento das cidades, remete os tempos da antiguidade, pois o homem setiu a

necessidade de se fixar em um pedaço de terra para poder plantar seu próprio alimento, e isso

fez com que ele se tornasse sedentário, adquirindo uma nova divisão de trabalho. Essa

transição do nomadismo para o sedentarismo, é chamado de Revolução Neolítica ou

Revolução Agrícola. No período Paleolítico os nômades não possuíam lugar fixo, estavam

sempre em movimento, a procura de caça. Já no período Neolítico as técnicas agrícolas foram

desenvolvidas, fazendo com que os homens se fixassem, e com isso, o desenvolvimento da

agricultura irrigada nas planícies dos grandes rios se tornou o principal fator econômico para

o surgimento das primeiras cidades, que surgiram entre 3.500 e 3.000 a.C. nos vales dos rios

Nilo, Tigre e Eufrates, no Egito e na Mesopotâmia.

O advento das cidades se deu pela espacialidade dos acontecimentos, cada região do

planeta se desenvolveu de forma diferente no tempo e espaço, sendo que apenas em 2.500

a.C., as primeiras cidades surgiram no rio Indo e mais ou menos em 1.500 a.C.na China.

Segundo Benevolo “a cidade é lugar do poder, e seu “nascimento” é justificado pela

existência de um excedente agrícola enquanto seus habitantes estão mais voltados para

atividades artesanais e o exercício do poder, os camponeses têm de produzir os alimentos e as

matérias-primas necessárias para si e deixar o excedente para as vilas e cidades.”

(SPOSITO,2008).

Toda região foi dominada por um poder, o excedente de riqueza se concentrava nas

mãos dos governantes, o que ocasionava a divisão do trabalho entre o campo e a cidade,

sendo que era no campo que se produzia o excedente agrícola e nas cidades as atividades

artesanais. Com o enriquecimento de apenas uma camada social e a necessidade de aumentar

o mercado consumidor dos bens produzidos, a burguesia percebeu que poderia reformular o

sistema de trabalho. A Revolução Industrial marcou o começo da era contemporânea, a

transição entre o processo de manufatura e a divisão de trabalho. Os métodos artesanais

passam a ser extintos, e novos meios de acelerar e aumentar a produção passam a ser

descobertos, como a produção por máquinas, novos produtos químicos, energia a vapor, uso

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do carvão, desenvolvimento das máquinas, ferramentas entre outras. Essas inovações fizeram

com que surgissem duas novas classes sociais, a dos capitalistas (burgueses), detentores do

capital e o proletariado. Esta última era composta pelos operários, trabalhadores assalariados,

que eram explorados pela sua força de trabalho e submetidos a jornadas exaustivas de

trabalho. Essas duas classes opostas fizeram com que a era do progresso industrial fosse uma

fase marcante em questão de transformações. Houve um grande aumento populacional, a

diminuição da mão de obra artesanal fez com que houvesse um acelerado êxodo rural, e a

necessidade de mão de obra e de emprego faz que surgem as novas cidades industriais. “A

Revolução Industrial assim chamada porque representou uma mudança irreversível nas

formas de apropriação e transformação da natureza e de organização das relações sociais de

produção, e é marco essencial na alteração das formas das cidades.” (SPOSITO, 2008)

A cidade adquiriu valores, a terra começou a ser comercializada de forma que a

estrutura urbana começasse a ser valorizada. Segundo Sposito (2008) “Quando surgiu, a

cidade tinha características do que chamamos de valor de uso, mas, com a consolidação do

capitalismo, tudo o que nela se constrói (edificações, arruamentos, componentes da infra-

estrutura etc.) carrega, como consequência, além do valor de uso, o valor de troca e a

indissociabilidade entre essas duas dimensões das mercadorias.”

O espaço urbano é produzido por vários fatores que vão influenciar a sua dinâmica e

desenvolvimento. A oferta e a demanda do solo vão impor o preço do terreno, transformando

o espaço em um capital especulativo, onde diversos atores vão comandar a ação da infra-

estrutura, através dos seus interesses e do capital. “O espaço urbano é produto produzido.”

(VILLAÇA, 2001). Os agentes que reproduzem o espaço segundo Sposito (2008) são

classificados como:

- Proprietários dos meios de produção

- Proprietários fundiários

- Promotores imobiliários

- Estado

- Grupos sociais excluídos

Cada agente possui o seu papel fundamental na distribuição espacial das cidades, e são

fatores que estão interligados no sistema capitalista. A cidade possui três tipos de

crescimento: o populacional que nada mais é que o crescimento demográfico; o horizontal que

vai adensar outros lotes para a área urbana, fazendo a junção com área rural e o crescimento

vertical, que é a construção de novos edifícios, aproveitando o espaço para comportar mais

serviços e pessoas em um só lugar (SPOSITO, 2008).

A aglomeração no espaço urbano permite a “aceleração do tempo”, ou seja, a

aglomeração/proximidade humana proporcionada pelo espaço urbano favorece e

acelera a produção/difusão do novo”. Isso nos leva a uma conclusão: a cidade possui

a capacidade interna de articular, como sujeito ativo e não apenas como território de

ocorrência de contradições, diferentes dinâmicas que, aparentemente, só ocorrem em

escalas mais amplas, o que tem consequências diretas na cidade e nos fenômenos

que nela ocorrem, tendo como sujeito definido aquele que está mais próximo, que

pode ter suas manifestações em escalas geográficas mais amplas. (SPOSITO, 2008)

O crescimento demográfico nas cidades e a espacialidade das atividades econômicas

são resultados dos agentes econômicos, que vão oferecer nas cidades empregos para a

população que lá utilizarão dos bens e serviços, atribuindo para a sua vida novos modos. O

cotidiano é ao mesmo tempo particularizado e afetado por relações de produção que se

estendem por todo o globo; é fragmentado e hierarquicamente organizado, atomizado e

estruturado. (GOTTDIENER, 2010)

O espaço é ao mesmo tempo o local geográfico da ação e a possibilidade

social de engajar-se na ação. Isto é num plano individual, por exemplo, ele não só

representa o local onde ocorrem os eventos (a função de receptáculo), mas também

significa a permissão social de engajar-se nesses eventos (a função da ordem social).

(GOTTDIENER, 2010)

Essa relação entre o social subjetivo e o coletivo é algo que implica em trocas de

interesses, em diferenças na produção do espaço. Essa fragmentação do espaço efetua um

comportamento onde se estrutura ações e eventos capazes de afetar as diversas esferas sociais.

Essas fragmentações são resultadas da globalização que é uma esfera que tem tomado todo

planeta e vem afetando a estrutura urbana e impondo uma nova reestruturação espacial. Esse

evento está vinculado a interesses de corporações, que por sua vez, dispõem dos poderes

político e econômico que lhes garantem importantes papéis como agentes reprodutores e

gestores do território. A rede urbana é afetada pela globalização tanto por meio de criações

urbanas recentes, em relação às quais o Brasil constitui-se em excelente laboratório para

estudos, como da refuncionalização dos centros preexistentes, imposta ou induzida pelas

corporações globais (CORRÊA, 2006).

É na cidade que as atividades serão efetuadas, e a rede urbana vai absorver os

processos de produção, circulação e consumo dando vida ao espaço local. Para Santos (2008)

vai haver uma “universalização”, ou seja, o mundo estará interligado pelo sistema capitalista,

o tudo e todos serão afetados pelas mudanças causadas por essa “universalização” do espaço.

Universalização da cultura e dos modelos de vida social, universalização de uma

racionalidade a serviço do capital, erigida em moralidade igualmente universalizada,

universalidade de uma ideologia mercantil concebida do exterior, universalização do

espaço, universalização tornada mundial e do homem ameaçado por uma alienação

total. (SANTOS, 2008)

A globalização modifica o espaço, e a partir dela os transportes e as comunicações

avançam por todo o globo, a construção e a melhoria de estradas permitem uma maior fluidez

nos processos de troca, contribuindo para o desenvolvimento urbano. A procura do novo

levou as pessoas a migrarem à procura de novas oportunidades de vida. As áreas urbanas,

após a Revolução Industrial e principalmente após os anos 50 do século XX foram bastante

afetadas, pois foram nessas essas áreas que a população migrou.

A urbanização é o processo que decore da divisão do trabalho e das distinções de

classe (ENDLICH, 1979). O campo e a cidade são totalmente dependentes um do outro nos

dias atuais, relaciona-los requer longos estudos, pois a dependência e a relação que eles

possuem são complexas. A busca pelo novo faz que o homem seja um ser curioso, então o

homem da cidade busca a tranquilidade no campo, enquanto o homem rural busca as novas

tecnologias no urbano, criando dessa forma uma rede entre essas duas atmosferas.

Os limites das áreas urbanas e rurais, vão ser classificadas de acordo com cada país, a

aglomeração demográfica e a presença das atividades secundárias e terciárias são um fator

importante para demonstrar a existência de uma cidade. A divergência entre estudiosos dessa

área leva-nos a uma inconsonância quanto aos conceitos de urbano e rural, o que gera uma

falta de base para classificação das cidades quanto a esses aspectos. O rural deve ser

compreendido como uma questão territorial, porque o uso de solo e as atividades da

população residente no campo não se limitam somente à agricultura, mas se vinculam a várias

atividades terciárias. Assim, o desenvolvimento rural é considerado como um conceito

espacial e multissetorial. (ENDLICH, 1979). Essas características não nos levam a estabelecer

a divisão, devido ao fato de que as ligações entre essas duas áreas são de grande importância

para compreendermos a dinâmica da nova divisão territorial e do trabalho para o

desenvolvimento das cidades.

Uma definição de cidade que é mais coerente nesse estudo complexo é o do Ângulo e

Domínguez (1991) que as classificam de acordo com o tamanho demográfico, densidade,

aspectos morfológicos, as atividades, modo de vida, inter-relações urbanas e a geração de

inovações.

São essas divisões do trabalho que dão uma linha para as relações entre o campo e a

cidade. No campo ocorre o início das atividades, pois neste local são produzidas as matérias

primas e produtos agrícolas, enquanto os processos sociais ocorrem sobre o ambiente físico da

cidade, que é o local das atividades administrativas:

Enquanto a cidade é o espaço do trabalho técnico, o campo é o espaço do trabalho

material. A cidade incumbe o trabalho intelectual: funções de organização e de direção,

atividades políticas e militares, elaboração do conhecimento teórico (filosofia e ciência).

O campo vai trazer a imagem da natureza, do ser original. (LEFEBVRE, 1991)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica as cidades em:

Cidade pequena: 50 a 100.000 habitantes;

Cidade média: 100.001 a 500.000 habitantes;

Cidade grande: mais de 500.000 habitantes;

Metrópole: mais de 1.000.000 habitantes;

Megacidade: mais de 10.000.000 habitantes.

Tabela 1: Cidades brasileiras com população entre 100 e 500 mil hab. – 1940/2010

ANO NÚMERO DE CIDADES

1940 08

1970 25

1980 49

1991 113

1996 161

2000 193

2010 245

Fonte: IBGE 1940, 1970, 1980, 1996, 2000 e 2010.

Organizado: Cláudia Heloiza Conte

Pode-se observar na Tabela 1 que as cidades com mais de 100 mil habitantes em 1940

representavam apenas 8, em 1991 esse número já aumentou para 113 cidades, e em 2010 esse

número duplicou sendo 245 cidades com mais de 100 mil habitantes, ou seja, o crescimento

das cidades com população entre 100 e 500 mil habitantes em 70 anos aumentou

significativamente.

O foco deste trabalho é o estudo das cidades médias que são de grande importância

para o desenvolvimento do nosso país, mais precisamente da cidade de Poços de Caldas, que é

caracterizada por ter um alto IDH, e por estar inserida em uma área articuladora no

desenvolvimento econômico nacional. Dessa maneira torna-se relevante compreender e

estudar a sua dinâmica social e espacial.

6.1 - As Cidades Médias

As cidades integram diversos fatores que são fundamentais para as trocas de

mercadorias e informações e as interações sócio espaciais. As cidades médias efetuam

processos que interligam as relações entre o rural e as cidades de todos os tamanhos. Elas

possuem o propósito de organização sócio-espacial, visando facilitar as relações sociais e

econômicas, diminuindo o tempo dos fluxos e do deslocamento.

As cidades médias tendem a ter uma melhor qualidade de vida, o que demanda um

grande desenvolvimento. Elas possuem menores índices de criminalidade, infra-estrutura

básica, oportunidades de empregos, áreas verdes e de lazer, maior facilidade de deslocamento,

custo de vida razoável e educação com qualidade superior, procurando sempre expandir as

ofertas de bens e serviços, para melhorar a qualidade de vida dos seus moradores.

Com o desenvolvimento das comunicações e transportes o espaço ganhou uma maior

diversificação das interações espaciais, e por isso ganharam novos papéis e novas dinâmicas,

o que deixa o seu estudo ainda mais complexo. Os franceses foram pesquisadores importantes

para o estudo da espacialidade das cidades. Eles iniciaram os estudos sobre as cidades médias

na década de 50 e 60, se preocupando com o desenvolvimento regional, e buscando corrigir os

desequilíbrios regionais. Segundo Costa (2002) o conceito de cidade média surgiu na França

pelo VI Plano de Desenvolvimento Econômico e Social (1971-1975) associado às políticas de

desconcentração de população e atividades. Nesse período a França passava por um momento

difícil, que acarretava sérios problemas quanto a período de perda da qualidade de vida nas

cidades. Para que houvesse uma maior distribuição econômica e demográfica no país foram

criadas políticas de planejamento urbano e regional como o aménagement du territoire.

Premida pelos inumeráveis problemas gerados pelo desequilíbrio entre o gigantismo

de Paris e a fragilidade urbano-econômica do restante de seu espaço nacional, a

França desenvolve, a partir de 1954, um grande esforço de aplicação dos princípios

do aménagement du territoire: descentralização e desconcentração espacial da

população e das atividades econômicas.

Numa primeira etapa (1954/62), a ação empreendida no marco dessa política se

limita às intervenções de tipo setorial, isto é, fomento à indústria, à produção

energética, à reconversão econômica regional etc., ou pontual: localização de certas

atividades nesta ou naquela cidade. Mas, já nessa época, o alvo procurado é a

descentralização e a desconcentração espaciais. (AMORIM FILHO E SERRA,

2001, p. 6)

No Brasil foi a partir da década de 50 que se intensificou os fluxos migratórios da zona

rural para a zona urbana, e as cidades médias ganharam importância, pois foram nelas que

houve um equilíbrio para o crescimento demográfico, ou seja, elas também absorveram os

fluxos migratórios advindo da estagnação populacional das metrópoles nacionais. Como o

Brasil possui uma grande dimensão territorial a distribuição econômica e populacional é

desequilibrada, o que leva a desigualdade regional. Seguindo o raciocínio da França, o Brasil

implanta programas para o desenvolvimento das regiões do país como: “Política de

Desenvolvimento Urbano” do capítulo Desenvolvimento Urbano, Controle de Poluição e

Preservação do Meio Ambiente do II PND e o Programa de Cidades de Porte Médio.

(CONTE, 2013)

Durante a primeira política urbana do programa, as cidades médias foram

conceituadas como aquelas cidades que, considerando a sua posição geográfica,

população, importância socioeconômica e função dentro da hierarquia urbana da

macrorregião e do país, constituíam-se em centros de grande valor estratégico no

que concerne ao desenvolvimento regional, e também para uma rede urbana mais

equilibrada no que envolvesse política de organização territorial. Já na segunda

política urbana, o conceito de cidades médias foi baseado nas funções de

desconcentração e dinamização. (CONTE, 2013, p. 49)

Caracterizar as cidades médias depende dos papéis regionais, nacionais e globais que

elas vão desempenhar em determinado local. A definição, a identificação e a classificação das

cidades médias, bem como todo o estudo da rede urbana não é uma tarefa fácil. Amorim Filho

& Sena Filho (2007) classificou os padrões morfológicos-funcionais das cidades médias em:

Zona Central

Zona Pericentral

Zona Periférica

Zona Periurbana

A primeira zona se caracteriza por ser a área central da cidade, ou seja, onde as atividades

estão mais concentradas, as atividades terciárias são as mais executadas. A Zona Pericentral é

a área ao redor do centro, nela se concentra as residências, hospitais, as estações rodoviárias e

ferroviárias, entre outros serviços. A Zona Periférica é classificada em dois tipos: contínua,

caracterizando-se por ser um alongamento da zona pericentral; e a descontínua, que se

caracteriza pela presença de novos lotes e vilas. E por último a Zona Periurbana, que é a área

de transição entre o urbano e o rural.

Figura 1: Classificação padrões morfológicos-funcionais

Fonte: Amorim & Sena, 2007

Segundo Amorim Filho as principais características das cidades médias englobam

bens e serviços capazes de atender a microrregião de espaço; problemas parecidos com as das

cidades grandes, como a segregação e concentração de serviços; receptor de migrantes vindos

das zonas rurais à procura de trabalho, aparecimento de núcleos habitacionais periféricos entre

outros fatores.

As intermediações das cidades médias com cidades em posição hierárquica superior e

inferior lhes garantem uma atração populacional, dado o ritmo de seu crescimento, por

oferecer atividades importantes para o desenvolvimento de sua região. Em Poços de Caldas,

por ser um pólo regional e estar inserida em um ponto estratégico, com o território fazendo

divisa com o estado de São Paulo, ela comanda as regiões em torno, propiciando para as

cidades vizinhas e a ela mesmo bens e serviços capazes de atender a população.

6.2 - Surgimento de Poços de Caldas

Poços de Caldas é uma cidade com características bastante marcantes. Está inserida na

mesorregião do sul e sudoeste de Minas, fazendo divisa com o estado de São Paulo. Possui

uma área de 544,420 km² e uma população de 161.025 (IBGE, 2013).

Figura 2. Localização geográfica do município e do perímetro urbano de Poços de Caldas, 2012.

Fonte: Matheus Martins Lopes, 2012.

A região do Rio Pardo, como outras regiões do Brasil, foi descoberta a partir dos

garimpeiros que se emprenhavam pelas matas a procura de ouro e outros metais preciosos,

que foram povoando a região quando desistiam de continuar a jornada. A área onde viria se

situar Poços de Caldas era motivo de conflito entre os estados de São Paulo e Minas Gerais,

que até o final da procura pelo ouro disputaram o território da cidade, e nessa disputa Minas

Gerais levou vantagem, sendo a cidade parte de seu território. Como não encontraram jazidas

de ouro em quantidades interessantes de extração a região foi esquecida por um tempo e só foi

ocupada e povoada no início do ciclo pastoril por ex garimpeiros.

Três fatores influenciaram no desenvolvimento social e econômico deste período: a

busca de ouro, a abertura de estradas – que facilitaram a fiscalização e dificultaram os

contrabandos e, ainda, a procura de “água santa”, para fins medicinais. (Frayha, 2010).

O município de Poços de Caldas possui uma peculiaridade na sua estrutura

geomorfológica. A cidade está inserida no Complexo Alcalino do Planalto de Poços de

Caldas, que caracteriza-se pela presença de uma caldeira vulcânica, o que proporciona águas

termais. As águas hidrotermais foram o principal fator para o surgimento do munícipio. Essas

águas são resultantes de um complexo sistema hidrológico, causado pela presença de caldeira

vulcânica, onde as águas são infiltradas nas fraturas resultantes das intrusões, o que ocasiona

o aumento do grau geotérmico de um grau centígrado para cada 33 metros de profundidade.

Assim, a água que penetra vai aumentando sua temperatura gradualmente,

dissolvendo o enxofre das rochas ricas em pirita (sulfeto de ferro), de fácil

dissolução, chegando aos limites de fervura em profundidades da ordem de 3.000

(três mil) metros. Dá-se um efeito similar ao das serpentinas de fogões, com a água

mais fria descendo, e a mais quente subindo com enxofre dissolvido, chegando à

superfície com temperaturas próximas a 45º centígrados, e um cheiro característico

de ovos podres, resultante do gás sulfídrico nela contido. (FRAYHA, 2010, p.158)

As águas sulfurosas já eram conhecidas em 1815 quando o Capitão Joaquim Bernardes

da Costa adquiriu várias sesmarias e fundou a Fazenda Barreiro, que mais tarde doaria sua

parte para a formação da cidade, segundo Mario Mourão, morador e autor do livro Poços de

Caldas (1952). Ele descreve no livro que naquela época vários caçadores rodeavam a região, e

que com a curiosidade das águas quentes saindo da terra procuraram espalhar a informação da

existência dessas fontes, o que gerou uma série de experiências e estudos que provaram poder

de cura. Com isso, muitas pessoas com doenças como reumatismo e de pele em geral vieram

para Poços de Caldas com o intuito de se curarem, viajando grandes distâncias apenas para se

banharem nessas águas. Estas águas, sendo quentes, sulfurosas e medicinais numa época em

que ainda não haviam inventado a penicilina, os antibióticos e as demais drogas químicas,

passaram a atrair uma grande quantidade de pessoas a cidade (Frayha, 2010).

A partir de 1852, o governo provincial começa a tomar algumas providências no

sentido de melhorar as instalações das fontes. Havia certa dificuldade por estarem

situadas em terreno particular. Entretanto, em 1865, o proprietário das terras faz

cessão à Província de vinte e seis e meio alqueires ao redor dos poços. Esta área

seria acrescida, ainda no mesmo ano, por doação da mesma família Junqueira de

mais treze e meio alqueires, perfazendo um total de quarenta. Uma vez definida a

área, foram iniciadas efetivamente ações no sentido de se implantar ali uma cidade.

(REVISÃO DO PLANO DIRETOR DE POÇOS DE CALDAS, 2006, p. 13)

O Imperador Dom Pedro II enfrentava novas situações no seu governo que estava

levando o país a mudanças. Ao final de 1870 a situação no país era influenciada pelos

movimentos que agitavam a Europa por circunstância da Revolução Francesa. A proibição do

tráfico negreiro em 1850 por persistência da Inglaterra modificava o quadro de mão de obra

de vários países. As plantações de cana de açúcar e lavouras de café sentiam a perda da mão

de obra escrava, tendo que procurar outros meios para manter as colheitas em dia. Com o

descontentamento dos europeus com os seus países, eles procuravam outros lugares que lhe

garantissem trabalho e perspectivas melhores, tendo visto no Brasil uma oportunidade para a

melhoria de vida, e dessa forma, os fazendeiros viram nos imigrantes, em especial nos

italianos e alemães a solução para o problema de mão de obra que enfrentavam. “Aos

fazendeiros mineiros não podia passar desapercebida a experiência e a laboriosidade destas

pessoas que, através dos conhecimentos adquiridos ao longo dos séculos em sua terra natal,

sabiam como fazer a terra produzir, trazendo desenvolvimento e progresso aos lugares onde

iam se fixando.” ( MARIO SEGUSO, 1990)

Após a fundação da cidade, uma pessoa ilustre conhecida como Nhonhô chegou com

uma enorme vontade de mudanças. Nessa época construiu o primeiro hotel com 60 quartos,

melhorou as vias de acesso, pois naquela época a locomoção era difícil e, percebendo isso,

investiu em um meio de condução que traria as pessoas para a cidade, comprou cavalos e

começou a “construir” vias de acesso para o munícipio, contribuindo muito, para o

desenvolvimento desta cidade.

O primeiro mapa da cidade foi datado em 1865 (figura 3), e foi desenhado pelo

Engenheiro Dr. Martiniano da Fonseca. Esse mapa nos mostra que não havia nenhuma casa

construída e os rios seguiam cursos diferentes. De 1865 a 1870, o governo de Minas enviou

um engenheiro para construir um Balneário no meio daquele aquário, o que deu início à

abertura de uma vala destinada a desviar o Ribeirão dos Poços, que corre ao pé da Fonte

Pedro Botelho (MOURÃO, 1952). Em 1870, o Governador de Minas, Dr. Agostinho Bretas,

conhecedor das virtudes terapêuticas das águas sulfurosas, enviou o engenheiro João Pedro de

Almeida fazer os primeiros melhoramentos na estância. ( MOURÃO, 1952). Em 1886 a

cidade já possuía 200 casas, alguns hotéis e dois balneários que eram motivo de atração para

os turistas.

Figura 3: Primeiro mapa da cidade, 1865

Fonte: Mário Mourão, 1952

Em 1874, a lei provincial nº2085 de 24 de dezembro, deu à povoação o nome de

Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas, ficando ligada à freguesia de José dos

Botelhos, distante oito léguas, da qual se desmembrou pela lei nº 2542 de 6 de dezembro de

1879, elevando-se da categoria de arraial para a de freguesia, unida ao termo de Caldas

(MOURÃO, 1952)

Essa freguesia foi elevada à categoria de vila com a denominação de Poços de Caldas,

pela lei nº 3659 de 01 de setembro de 1888, desmembrando-se de Caldas. Sede da povoação

de Nossa Senhora da Saúde dos Poços de Caldas. Constituído do distrito sede. Instalado em

31-05-1890. (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1959).

Em 1886 a Companhia de Estrada de Ferro Mogiana levou seus trilhos para Poços de

Caldas, contribuindo para o acesso a cidade, que começou a se desenvolver. A área de

influência da antiga ferrovia da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em São Paulo e

Minas abrange, no todo ou em parte, as regiões administrativas de Campinas, Ribeirão Preto,

Sul de Minas e Triângulo Mineiro. (FRAYHA,2010). Com os fluxos de bens e pessoas sendo

facilitado pela companhia, a cidade ganha novas perspectivas. A estação Mogiana, em Poços

em 1891, em toda a década anterior, era um modelo de beleza arquitetônica, e juntamente

com a Vila Pinhal, que já existia, atraia pessoas, que vinham para contemplar as suas linhas de

construção. (MOURÃO, p. 284)

“A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foi criada em 1872 e sua sede estava

localizada na cidade de Campinas, com prolongamento até Mogi Mirim, com um

ramal para Amparo, e seguimento até as margens do Rio Grande. Posteriormente a

Mogiana partiu para a construção do trecho que levaria seus trilhos ao Triângulo

Mineiro e Sul de Minas Gerais, no sentido de atrair para a economia paulista esta

vasta região.” (FRAYHA, 2010, p.35).

Com as novas dinâmicas da cidade era necessário melhorar os serviços oferecidos, e

os anos de 1908 e 1909 foram importantes para sua evolução. A Companhia Termal, de

acordo com as cláusulas do seu contrato, teria de realizar nessa ocasião o serviço de água e

esgotos, obrigatórios em todos os domicílios. “Foi uma verdadeira revolução social nos

hábitos da pequena cidade, que se transformou de chôfre em uma grande cidade, sendo de

notar que só merece integrar com essa denominação, quando existe um serviço modelar de

água e esgoto.” (MOURÃO, 1952, p.)

Como a cidade sempre foi procurada por suas águas termais, ela ficou conhecida pelos

inúmeros turistas que vinham visitá-las, pessoas da alta sociedade, burgueses que queriam ter

conforto e qualidade nos serviços oferecidos. Para haver um lazer a mais foi criado inúmeros

cassinos como o Recreio dos Banhistas, Polytheama, Cassino “Antigo”, Gibimba, Cassino ao

Ponto, Clube Recreativo Caldense, Hotel Quisisana, Líder Casino, Palace Cassino, Cassino da

Urca, Cassino Imperial, entre outros.

Figura 4. Cassino da Urca Figura 5. Palace Cassino

Fonte: Moraes e Cia Fonte: Cartão Postal Colombo

Figura 6. Conjunto Arquitetônico e Paisagístico Figura 7. Palace Hotel

do Parque Afonso Junqueira, 2014 Fonte: Amanda Alvisi

Fonte: Drone Poços de Caldas

Nas figuras 4, 5, 6 e 7 é mostrado o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Parque

Afonso Junqueira que virou patrimônio cultural tombado da cidade devido a sua importância,

que representa uma das expressões urbanísticas mais importantes da cidade, pois indica o

apogeu da cidade, que até hoje faz parte dos principais pontos turísticos da cidade. As

edificações e as praças foram tombadas no decreto nº 3254/85 são eles:

Palace Hotel

Praça Pedro Sanches

Coreto

Palace Cassino

Parque José Afonso Junqueira

Antiga Biblioteca Municipal Centenário, atual Café Concerto

Thermas Antônio Carlos

Poços de Caldas se tornara uma cidade cosmopolita, possuindo todos os atrativos para

chamar a atenção dos turistas, e no mandado do prefeito Joaquim Justino Ribeiro, a cidade

passou a ser transformada, perdendo as características provincianas e adquirindo outras de

caráter metropolitano. Em 1946 o Presidente Dutra, expediu mandatos para fechar todos os

cassinos do país, causando um declínio na economia da cidade. “Mandou suprimir o jogo nas

estâncias, e quando se deu a desagregação tremenda de amputar a vida das estâncias de águas,

cancelando a vida dos Cassinos, nós tivemos uma grande sensação de desalento.”

(MOURÃO, 1952) O jogo era um benefício para toda a cidade, oferecia serviços e empregos,

contribuindo para a manutenção e o desenvolvimento da mesma. Na mesma época a

Penicilina foi lançada, tendo prejudicado a atração de turistas para a cura com as águas

hidrotermais. As atividades econômicas da cidade foram afetas, tendo que procurar outros

meios para manter seu desenvolvimento, como a cidade possui características peculiares na

sua geomorfologia a atividade que começou a ser explorada foi a mineração de bauxita e a

extração do alumínio que atraiu diversas influências externas para o município. Com essas

transformações o município vai ganhando novas formas, novos interesses, tendo seu eixo

urbano modificado.

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6.3 - Poços de Caldas – Cidade Média

O município apresenta a economia mais desenvolvida do sudoeste de Minas Gerais,

está entre os melhores IDH’s do estado e também do país, é considerada cidade média por

possuir aspectos que a levam a ter uma boa perspectiva de vida, variedades de serviços, polo

receptor de migrantes de cidades próximas. Sua população segundo o IBGE (2013) é de

161.025, abrangendo uma área urbana de 91 km² e uma área rural de 456 km² totalizando uma

área de 544,420 km². A população absoluta da cidade e a população absoluta rural e urbana:

Tabela 2. População absoluta do município de Poços de Caldas nos anos 1950 e 2010

1950 2010

HOMENS 12.275 73.680

MULHERES 12.962 78.755

TOTAL 25.237 152.435

Tabela 3. População absoluta rural e urbana do município de Poços de Caldas nos anos 1950 e

2010.

1950 2010

RURAL 6.128 3.713

URBANA 14.854 148.722

TOTAL 20.982 152.435

Obs: O censo de 1950 considera ainda a área suburbana que abrange 4.255 pessoas residentes

nessa área.

Pode-se observar um crescimento de 65,73% na população absoluta de 1950 para

2010, um aumento de 83,34% no número de homens e 83,54% o número de mulheres. Na

população absoluta rural houve uma diminuição de 39,40% de 2010 em relação a 1950 e a

população urbana sofreu um aumento de 90%. É notório o crescimento urbano da cidade

tendo em vista seus inúmeros fluxos migratórios devido ao surgimento de novas atividades

econômicas, sendo necessário receber novas mãos de obras.

Poços de Caldas encontra-se relativamente próxima a importantes centros urbanos e

econômico do país, como São Paulo (SP) (250 km), Belo Horizonte (MG) (460 km) e Rio de

Janeiro (RJ) (470 km). Além disso, encontra-se bem posicionada em relação a importantes

polos regionais mineiros, como Varginha (149 km), Pouso Alegre (102 km), Itajubá (160 km)

e Santa Rita do Sapucaí (130 km) e paulistas, como Campinas (160 km), Ribeirão Preto (200

km) e São José dos Campos (315 km) (POÇOS DE CALDAS, 2006). Essa proximidade com

importantes cidades facilita as trocas de mercadorias e informações, o que deixa a cidade com

um importante papel de interligar os fluxos.

Um estudo levantado por Andrade & Serra (1998) mostrou que Poços de Caldas está

inserida nas 10 cidades médias de Minas Gerais que apresentaram as maiores taxas de

crescimento anual no período de 1970/1991, assim como, Uberlândia, Timóteo, Ipatinga,

Coronel Fabriciano, Montes Claros, Sete Lagoas, Divinópolis, Uberaba, Juiz de Fora,

Governador Valadares, Teófilo Otoni e Barbacena.

As rodovias constituem a principal forma de acesso a cidade. De acordo com o

Ministério dos Transportes (2011), o município é servido pela BR-146, que liga Patos de

Minas (MG) a Bragança Paulista (SP), pela BR-267, que faz a conexão entre Leopoldina

(MG) e Porto Murtinho (MS), na fronteira com o Paraguai, e pela BR-459, que tem início em

Poços de Caldas e término em Parati (RJ) (OLIVEIRA, 2012). As BR ligam as regiões do

país, o que contribui para a acessibilidade da cidade e o seu desenvolvimento.

As principais vias de ligação na zona urbana, entre as regiões Leste, Oeste e Sul da

cidade, são a Avenida João Pinheiro que interliga a região central da cidade com a Zona Oeste

e a divisa com o Estado de São Paulo, a Avenida Wenceslau Brás, interligando a região

central com a Zona Leste e as rodovias de acesso a cidades vizinhas como Caldas, Santa Rita

de Caldas, Campestre, Botelhos e outras, e a Avenida Alcoa, que permite o acesso à Zona Sul

da cidade e à rodovia Poços-Andradas.

A Avenida João Pinheiro a certa altura, recebe uma alça viária importante que é a

Avenida Mansur Frayha, abrigando neste trecho empreendimentos como a Estação

Rodoviária, o Shopping Center Minas Sul e outros. Por ser o acesso principal pela divisa do

Estado de São Paulo à cidade, a Avenida João Pinheiro, construída em seu trecho mais central

às margens do Ribeirão de Poços, tem ao longo de seu desenvolvimento, ocupações das mais

variadas, desde residências unifamiliares até uma variada gama de estabelecimentos

comerciais, abrigando ainda, indústrias de porte, como a Danone, na altura do km 8.

Interligando esses eixos principais, existem as Avenidas Francisco Salles, que a certa

altura forma um binário com a Rua Marechal Deodoro, seguidas pela Avenida José Remígio

Prézia, responsável pela ligação João Pinheiro-Wenceslau Brás e a Avenida Santo Antônio,

que inicia na Praça Dom Pedro II (localmente conhecida como Praça dos Macacos), seguida

pela Avenida Dr. Edmundo Cardillo, ligando a região central à Avenida Alcoa, no trevo da

Represa Saturnino de Brito. Esse ponto de encontro dessas últimas avenidas trata-se de

importante conexão viária, construída no entroncamento com a Rodovia Geraldo Martins

Costa (localmente Rodovia do Contorno), que por sua vez interliga a divisa de Estado MG-SP

(acessada pela Avenida João Pinheiro) com as Rodovias de acesso às cidades vizinhas

(acessadas pela Avenida Wenceslau Brás).

Figura 4. Avenida João Pinheiro Figura 5. Avenida Dr. Edmundo Cardillo

Fonte: Rodolfo Siqueira Fonte: Amanda Alvisi

Figura 6. Principais avenidas de Poços de Caldas

Essas vias são de extrema importância oferecendo a acessibilidade para a população.

A cidade possui vias secundárias que ligam os bairros e que ajudam a desafogar o trânsito,

tendo em vista que a cidade aumentou gradativamente seu número de frotas e já não comporta

tantos números de automóveis, sendo necessário modificar suas vias principalmente a parte

central, onde nos horários de pico gera congestionamentos.

A tabela abaixo mostra o número de frotas na cidade:

Tabela 4. Número de frota

Carro Caminhão Caminhonete Camioneta Motocicleta Motoneta Ônibus

56.687 2.826 6.526 3.010 12.494 1.409 430

A zona central da cidade é o local de maior concentração de atividades, é onde o turismo

se solidifica, propiciando um alto tráfego durante todos os dias e períodos. Pela topografia

acidentada de Poços, as vias ficam comprometidas não podendo ser expandidas, sendo

necessário apenas melhorias para que o trafego flua melhor. Em 1981 foi fechado um contrato

onde funcionária um Monotrilho (Figura 7), ou seja, uma linha suspensa de transporte que

interligava o terminal rodoviário e a área central da cidade com 11 estações, com 6 km de

extensão, obra que tinha como objetivo facilitar o acesso à essas áreas da cidade e facilitar o

trânsito que já estava aumentando nessa época, mas não foi efetiva, sendo pouco utilizada, o

que foi uma grande perda patrimonial e funcional para a cidade.

Figura 7. Monotrilho

Fonte: Memória de Poços

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Conforme a Lei Complementar nº 74 – 2006 Art. 24. que dispõe de diretrizes da Política

de Sistema Viário, que visa dar a área central um tratamento especial, para que haja uma

maior distribuição nos fluxos de veículos. No Plano Diretor de 1992 algumas dessas diretrizes

já foram planejadas como:

Tratamento especial para a área central, através da fixação de um anel dentro do qual o

pedestre e o turista tenham prioridade, desestimulando-se a entrada de veículos;

viabilizando-se o tangenciamento do tráfego de forma diametral; estabelecendo-se

horários e locais especiais para carga e descarga de mercadorias e coibindo-se o

tráfego indiscriminado de veículos pesado.

Compatibilização entre sistema de circulação e transporte coletivo com o uso e

ocupação do solo do Município, permitindo a implantação de eixos de deslocamento

lentos e rápidos, de acordo com as necessidades de funcionamento estrutural da

cidade.

Elaboração de um plano de diretrizes de arruamento que preveja a integração e

continuidade dos futuros loteamentos, priorizando a implantação de vias para a

circulação do transporte coletivo.

Projeto e execução de interligações entre bairros e regiões da cidade, evitando-se a

convergência para o centro urbano e contribuindo-se para a melhor distribuição do

fluxo de veículos.

Implantação definitiva da Rodovia do Contorno, que permitirá o desvio do tráfego

pesado na cidade, reduzindo os riscos de acidente e poluição.

Projeto e implantação de vias especiais para o atendimento ao ciclista e aos transportes

turísticos (charretes, cavalos, etc) ou faixas dentro das vias existentes ou a serem

criadas.

Recuperação do sistema viário existente, com projeto e execução de sinalização,

horizontal e vertical, onde necessário, visando à redução dos conflitos viários e

acidentes de trânsito. ( Plano Diretor, 1992)

Os objetivos principais dessas diretrizes são implantar medidas mitigadoras no tráfego da

cidade. Alguns fatores foram acrescidos na Lei Complementar nº74 como:

Hierarquizar o sistema viário da área central, simplificando a malha de escoamento de

modo a obter, dentro do possível, a redução do número de interseções semaforizadas,

com o consequente aumento da capacidade de escoamento

Estudar a criação de bolsões ambientais dentro do sistema viário da área central, com

tratamento ao tráfego de acesso local, privilegiando nestes espaços todas as funções

ligadas ao acesso dos veículos e ao atendimento ao pedestre.

Elaborar plano de diretrizes de arruamento que preveja a integração e continuidade dos

atuais e dos futuros loteamentos, priorizando a implantação de vias para a circulação

do transporte coletivo.

Estabelecer uma matriz funcional para a definição de prioridades de investimento na

malha viária municipal, instrumento que atende aos objetivos estratégicos da

hierarquia proposta para as vias dentro do zoneamento urbano estabelecido. (Lei

complementar nº 74)

Algumas dessas diretrizes foram cumpridas para o melhoramento do tráfego, houve a

implantação definitiva da Av do Contorno o que possibilitou que os tráfegos de cargas

pesadas fossem desviados da área central. A possibilidade da Av. do Contorno atuar como

uma via opcional efetiva no eixo leste/oeste está condicionada à sua integração viária com as

demais vias arteriais. (Revisão Plano Diretor, 2006) a construção da Av. Europa que liga o

Jardim Novo Mundo e Jardim Europa com o centro e outros bairros como os Bairros Santa

Ângela e Santa Augusta, possibilita que haja um acesso mais rápido desses últimos bairros

com a Zona Oeste da cidade. As vias de acesso para ciclistas existem apenas como forma de

lazer, uma via que liga desde a Fepasa até metade da Av. João Pinheiro, o essencial seria que

fosse construído ao longo das regiões da cidade, para incentivar esse meio de transporte.

Foram feitas faixas exclusivas para pedestres ao longo da cidade, o que dá prioridade para os

mesmos.

Em questionário aplicado para entender como as pessoas enxergam o crescimento da

cidade foi possível notar a insatisfação quanto ao serviço de transporte coletivo, que por sua

vez pertence apenas à uma empresa, o que acaba sendo monopolizada sem poder ter uma livre

concorrência. Segundo uma estudante de 22 anos, que utiliza o transporte coletivo 5 vezes por

semana “Apesar da qualidade dos veículos o sistema de transporte é bem falho, (...) a curto

prazo, sugeriria que houvesse uma revisão dos horários compatibilizando-os as necessidades e

quantidade de usuários (...) além da revisão do valor da tarifa incentivado por concorrência já

que o transporte público aqui na cidade é monopolizado(...)a longo prazo, acredito que um

somente um planejamento de mobilidade abrangente (...) manutenção e projetos de ciclovia

ligando as principais áreas, sistemas de estacionamento rotativo nas áreas de maior

concentração e transporte público integrado, com valor justo e acessível, é capaz de controlar

o atual caótico deslocamento na cidade.” A maioria dos entrevistados que utilizam o

transporte público, reclamam do monopólio produzido pela empresa Circullare que opera na

cidade, um professor universitário entrevistado que buscou informações já referentes a esse

meio diz que a grande reclamação dos usuários do transporte público é a disponibilidade de

linhas para regiões de mais difícil acesso, com horários incompatíveis com as necessidades da

população.

A insatisfação é notória, a problemática do transporte público deve ser melhorada, cada

vez mais as pessoas estão adquirindo automóveis, com isso o trânsito acaba ficando

supersaturado, prejudicando a locomoção. É importante conscientizar a população para o uso

do transporte coletivo, bicicleta e principalmente fazer alguns trajetos a pé evitando assim

aborrecimentos. Se todas as medidas que estão disposta na Lei Complementar nº 74 forem

seguidas e executadas as chances do tráfego de veículos na cidade melhorar é significante,

mas vários aspectos e interesses divergem quanto a malha urbana, o que proporciona à cidade

uma oscilação nos aspectos viários e circulação de pessoas e mercadorias.

Poços de Caldas adquiriu outras atividades para seu desenvolvimento, e a indústria foi

umas das que ganhou impulso na cidade, se intensificando na década de 1970, com a

instalação de grandes e médios estabelecimentos, muitos através dos recursos estrangeiros.

Com essa transformação industrial, Poços de Caldas sentiu o crescimento populacional entre

as décadas de 1960 e 1980, e a malha urbana expandiu-se, caracterizando a condição de

cidade média por oferecer bens e serviços essenciais para a condição urbana (OLIVEIRA,

2012). Oliveira vai classificar a fase industrial ocorrida na cidade em três fases; fase antiga,

fase mineradora, fase diversificada.

A primeira fase é a fase onde a indústria ainda não era uma atividade relevante,

possuía apenas estabelecimentos para abastecer a população crescente e os turistas. A segunda

fase a mineradora dá início após a proibição dos jogos de azar, integrando-se as dinâmicas

locacionais da indústria, é com a extração de bauxita e urânio que a mineração vai se tornar a

principal atividade econômica da cidade. Por fim a fase diversificada vai atrair diversas

indústrias a procura de recursos minerais e insumos agrícolas, a indústria se transforma e se

expande, exigindo uma expansão e diversificação do setor terciário.

Segundo o Portal Online da cidade cerca de 97% das empresas do município são de

pequeno porte (até 29 funcionários). Entretanto, 27% dos empregos estão concentrados em 14

empresas de grande porte ( mais de 250 funcionários) que representam apenas 0,3% do total.

A indústria é uma grande detentora de recursos financeiros para o município segundo o IBGE

(2010) em 2009 a indústria produziu 30,68% do capital da cidade.

Outras atividades econômicas são de suma importância para a cidade. A agropecuária,

atividade econômica tradicional do Sul e Sudoeste de Minas, contribuiu com 1,18% das

receitas produzidas no município em 2009, com destaque para a produção de leite, suínos,

café e batata (IBGE, 2010a). As criações mantêm forte relação com indústrias (fábricas de

doces, laticínios e frigoríficos) que operam na cidade, fornecendo-lhes os insumos. Quanto ao

café, Poços de Caldas, historicamente, constitui entreposto atacadista do produto na região e,

segundo Maria (2011), o grão foi a principal mercadoria comercializada pelo município em

2011. ( OLIVEIRA, 2012). A indústria produziu 30,68% da riqueza municipal em 2009

(IBGE, 2010). O setor terciário foi o principal tributário das receitas de Poços de Caldas, com

55,98% de participação nesse mesmo ano (IBGE, 2010). O turismo é uma atividade que

oferece inúmeros empregos, e a rede hoteleira em 2003 contava com 53 hóteis, pousadas, ou

resorts, que disponibilizavam 6463 leitos ao público (A CIDADE, 2010). O setor de serviços

é bastante diversificado e a cidade comporta uma quantidade expressiva de serviços médicos,

hospitalares e educacionais, onde pessoas de outras cidades vem a procura. O quadro

organizado por Oliveira (2012) demonstra os valores das atividades econômicas executadas

na cidade.

Figura 7. Composição setorial (%) do PIB de Poços de Caldas, 2009

Fonte: IBGE, 2010a. Organização – OLIVEIRA, E. M, 2012.

A educação na cidade é destaque vem sendo expandida com acréscimo de pólos

universitários e escolas técnicas de ensino. O quadro abaixo monstra o número de instituições

de ensino segundo IBGE 2012:

Tabela 5. Instituições de ensino em Poços de Caldas

Privada Federal Estadual Municipal Total

Pré-escolar 18 0 0 45 63

Ens.Fundamental 12 8 0 25 45

Ens. Médio 9 7 0 1 17

Ens. Superior 4 2 1 0 7

Ens. Técnico 7 0 0 0 7

Fonte: IBGE 2012

A tabela acima indica o número de instituições de ensino na cidade totalizando 139

leitos de ensino, o que proporciona a cidade um bom índice na área da educação em 1991, o

índice já era considerado de alto desenvolvimento (0,836) e cresceu mais de 26% na última

pesquisa (0,886). A taxa de analfabetismo é de 94,8%, uma ótima porcentagem para uma

cidade média.

Como todo crescimento sem um planejamento provoca efeitos negativos, com Poços

de Caldas não foi diferente. O crescimento e a diversificação econômica caracterizaram-se

pela exclusão social e territorial de algumas parcelas da população. A expansão urbana e o

crescimento industrial causaram impactos ambientais, que sem um manejo adequado,

provocou a poluição dos solos e mananciais de água, o que resultou em uma descaracterização

do patrimônio arquitetônico e urbanístico da estância balneária. Por isso é necessário que haja

um planejamento urbano para diminuir esses aspectos negativos, e para que o

desenvolvimento da cidade se dê de forma sustentável.

Em relação a saúde a cidade possui uma gama de unidades sendo 33 Unidades de

Saúde da Família (USF), sendo 27 na área urbana e 6 na área rural, com 28 equipes na

Estratégia de Saúde da Família (ESF) cadastradas, 5 equipes de Saúde Bucal e 3 equipes de

Núcleo Apoio a Saúde da Família (NASF). (PREFEITURA DE POÇOS DE CALDAS)

Possui inúmeros hospitais capacitados para atender a cidade e região, sendo receptor de

pacientes das cidades vizinhas que só encontram tratamento na cidade. Há centros de

assistências médicas especializados possuindo um hospital para o coração e centros

especializados em tratamentos oncológicos e hemodiálise. No mapa abaixo é possível

observar as Unidades de Saúde espalhas pela cidade, podemos ver que elas são bem

distribuídas ao longo da cidade.

Figura 8. Unidades de Saúde

O Plano Diretor é um importante instrumento para o planejamento urbano das cidades,

ele tem como objetivo harmonizar os interesses dos diferentes modeladores do espaço, como

os agentes públicos e privados e a população. Esse Plano a partir da Constituição Federal de

1988 ganhou forma, pela necessidade de haver um maior planejamento perante a cidade.

Segundo Rolnik (2001) a nova constituição é encarregada de definir o que significa cumprir a

função social da cidade e da propriedade urbana, oferecendo para as cidades um conjunto

inovador de instrumentos de intervenção sobre seus territórios, além de uma nova concepção

de planejamento e gestão urbanos. Ainda segundo Rolnik o Estatuto da Cidade é uma lei

inovadora que permite o desenvolvimento de uma política urbana, aplicando os instrumentos

necessários para a reforma urbana, promovendo a inclusão social e territorial considerando os

aspectos urbanos e sociais e políticos de nossas cidades. As diretrizes e instrumentos de

política urbana necessários para apaziguar as desigualdades sociais e territoriais das cidades

são:

Diretrizes gerais da política urbana

Instrumentos destinados a assegurar que a propriedade urbana atenda a

sua função social

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Instrumentos de regularização fundiária

Instrumentos de gestão democrática da cidade

O primeiro ponto diretrizes gerais da política urbana são os principais fatores para se

haver o direito a uma qualidade às cidades, Rolnik vai citar os principais pontos das diretrizes

gerais previstas no artigo 2º do Estatuto da Cidade como a garantia do direito a cidades

sustentáveis, como a infra-estrutura básica, transportes e serviços públicos, saneamento

básico, lazer; gestão democrática com a participação da população nas decisões para o

desenvolvimento; ordenação e controle do uso do solo, com o objetivo de regular e controlar a

especulação imobiliária, de modo a conter as novas construções dentro das leis ambientais;

regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda.

Os instrumentos destinados a assegurar que a propriedade urbana atenda a sua função

social tem como papel garantir que os proprietários privados garantem uma participação no

processo de desenvolvimento urbano através das normas de parcelamento ou edificação

compulsória, paguem imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressiva no

tempo, e a desapropriação para fins de reforma urbana. Essas normas garantem uma

participação do proprietário em promover sua função social perante a cidade, garantindo-lhe o

direito à propriedade.

No terceiro ponto Rolnik aponta os instrumentos de regularização fundiária que pelo

artigo 2º inciso XIV, tem como objetivo equilibrar o desenvolvimento das funções sociais da

cidade e da propriedade urbana:

“Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de

baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e

ocupação do solo e edificação consideradas a situação sócio-econômica da

população e as normas ambientais” (LEI DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO)

Ou seja, é preciso observar os aspectos urbanísticos para que o espaço urbano venha se

integrar totalmente na cidade, toda cidade possui imóveis irregulares que colocam seus

moradores em situações irregulares e de risco, por isso é importante o levantamento dessas

áreas para que possa garantir a população de baixa renda uma melhoria na sua qualidade de

vida.

O último ponto Instrumentos de gestão democrática da cidade, como seu próprio nome

induz é a democracia na gestão do município que garante a população uma maior participação

das decisões tomadas para a vida da cidade. Há uma participação popular em todas as esferas

políticas desde a construção do Plano Diretor até a sua aplicação. Dando-lhes e garantindo-os

os direitos de cidadãos.

Juntando esses pontos o Estatuto da Cidade tenta garantir a população uma maior

harmonia no seu espaço, tentando garantir uma vida com uma qualidade de vida melhor, com

toda a infraestrutura básica para sobrevivência. O Plano Diretor é um instrumento com

princípios, diretrizes e objetivos para a política e ordenamento territorial. A terra urbana deve

ser tratada como uma coletividade, por ser uma área onde diversos atores e interesses estão

convivendo é importante pôr no “papel” alguns objetivos que garantem uma melhoria para

todos os envolvidos.

Poços de Caldas foi uma das cidades pioneiras no planejamento urbano em 1935 a

cidade já possuía um ato municipal que tinha como objetivo controlar e administrar as

aberturas de ruas e divisão em lotes.

Segundo o Art 2º do Plano Diretor de Poços de Caldas da Lei Complementar n º 74-

2006 são objetivos do mesmo:

I- garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade;

II- assegurar que o crescimento econômico do Município seja fator de promoção do bem-estar

social;

III- preservar, proteger e recuperar o meio ambiente e o patrimônio cultural, histórico,

paisagístico e artístico municipal;

IV- promover a adequada distribuição dos contingentes populacionais, conciliando-a às

diversas atividades urbanas instaladas;

V- promover a estruturação de um sistema municipal de planejamento e gestão urbana

democratizado e integrado. (Plano Diretor Municipal, 2006)

O ordenamento territorial é primordial para que haja um controle no crescimento

urbano, tendo em vista que a cidade possui aspectos ambientais que não podem ser invadidos

ou prejudicados, mantendo assim um equilíbrio entre o que se constrói e o meio ambiente. No

Plano Diretor da cidade o ordenamento territorial tem como objetivo a adequação da

delimitação do perímetro urbano, que é dividido em zonas.

Em 1988 foram criadas as primeiras zonas de uso e ocupação do solo, sendo divididas

apenas em 5 zonas:

Zona Habitacional (Z)

Zona Central (ZC)

Zona do Setor Estrutural (ZSE)

Zona Especial (ZE)

Zona Industrial (ZI)

As zonas habitacionais se caracterizam pelo uso residencial, com escala variável de

comércio e serviços, de acordo com cada zona e subdividem-se em 6 zonas. A Zona Central

será caracterizada pela implantação de atividades múltiplas destinadas ao atendimento a nível

urbano regional. As Zonas dos Setores Estruturais são áreas localizadas ao longo dos eixos

viários principais, nas quais são permitidos todos os usos com atendimento de nível urbano e

regional, exceto indústrias de grande porte ou poluentes de qualquer porte. As Zonas

Especiais subdividem-se em Zona de Proteção e Preservação (ZE-1), Zona de Uso

Institucional (ZE-2), Zona de Projetos Especiais (ZE-3) e Zona de Atividades Turísticas (ZE-

4) e as Zonas industriais que são áreas destinadas ao uso industrial, em especial as indústrias

de grande e médio porte ou as que independentemente de seu porte, apresentam incomodo

para outras funções urbanas ( Lei 4.161 – Poços de Caldas)

O macrozoneamento atual de Poços de Caldas segundo o Anexo II e III da Lei

Complementar 74-2006 fica dividido em Zonas que tem como função planejar a cidade

conforme os aspectos sociais e ambientais exigentes na região, com a finalidade em garantir a

população uma melhor qualidade de vida, as zonas são:

Zona de Preservação Permanente – ZPP: compreende as áreas urbanas e rurais

públicas ou privadas, nas quais não será permitida a ocupação, em função de suas

características físicas e ambientais

Zona de Preservação Ambiental – ZPAM: compreende as áreas de preservação

ambiental em alto grau, localizadas dentro do Perímetro Urbano, admitindo-se

parcelamento do solo com lotes mínimos de 20.000 m², com limitações ao uso e

rigoroso controle das intervenções antrópicas, exigindo-se, em ambos os casos,

licenciamento ambiental;

Zona de Proteção Especial – ZPE: compreende as áreas com restrição à

verticalização, visando à preservação das fontes de águas frias e termais, da ambiência

e do cenário urbano existentes, subdividindo-se em:

*Zona de Proteção Especial 1 – ZPE-1

*Zona de Proteção Especial 2 – ZPE-2

* Zona de Proteção Especial 3 – ZPE-3

As três zonas de Proteção Especial têm como objetivo garantir o controle de altimetria das

construções verticais, assegurando a visada da Serra de São Domingos, cada zona vai

obedecer uma adoção de coeficiente de aproveitamento máximo dos terrenos e uma altura

máxima das edificações.

Zona de Adensamento Restrito – ZAR: compreende áreas com restrição ao

adensamento, caracterizadas como áreas de recarga de aquíferos hídricos e termais ou

com necessidade de manutenção e/ou diminuição de volumes de escoamento

superficial, nas quais a ocupação e a expansão urbanas deverão ser estimuladas.

Zona de Adensamento Médio – ZAM: compreende as áreas cuja restrição ao

adensamento deve-se às limitações do sistema viário e à topografia acidentada.

Zona de Adensamento Preferencial – ZAP: compreende as áreas que, em virtude de

condições favoráveis ambientais, de topografia e de infra-estrutura existente ou

potencial, são passíveis de maior adensamento, devendo ser consideradas prioritárias

para a consolidação de novos núcleos de comércio e prestação de serviços,

objetivando a despolarização da área central.

Zona de Interesse Social – ZEIS: regiões nas quais há interesse público em ordenar a

ocupação, por meio de urbanização e regularização fundiária, ou em implantar ou

complementar programas habitacionais de interesse social, subdividindo-se nas

seguintes categorias:

Zona Especial de Interesse Social 1 – ZEIS- 1: compreende as regiões

ocupadas, nas quais existe interesse público em promover programas de regularização

fundiária, urbanística e jurídica, visando à promoção da melhoria da qualidade de vida

de seus habitantes, estando sujeitas a critérios especiais de parcelamento, ocupação e

uso do solo;

Zona Especial de Interesse Social 2 – ZEIS – 2: compreende as regiões não

edificadas, subutilizadas ou não utilizadas, nas quais há interesse público em promover

programas habitacionais de produção de moradias, ou terrenos urbanizados de

interesse social, estando sujeitas aos parâmetros urbanísticos da zona mais permissível

de seu entorno imediato.

Zona Industrial – ZI: compreende as áreas onde estão instaladas todas as indústrias

de médio e grande portes, bem como as áreas destinadas à implantação de novas

unidades.

Zona Rural de Proteção Ambiental – ZRPA: compreende áreas de proteção

ambiental em alto grau, localizadas fora do Perímetro Urbano, caracterizadas como

bacias de mananciais de abastecimento de água, atuais e potenciais, nas quais não será

admitido parcelamento do solo para fins urbanos, com rigoroso controle de

intervenções antrópicas e limitações ao uso e à ocupação do solo, cuja instalação

deverá ser precedida de licenciamento para avaliação de impacto ambiental.

Zona Rural – ZR: compreende todas as demais áreas do território do Munícipio,

localizadas fora do Perímetro urbano, nas quais serão permitidas a instalação e

desenvolvimento de atividades extrativas, devendo a área ser objeto de zoneamento

ambiental que subsidiará a regulamentação especifica de uso (Plano Diretor – Lei

Complementar 74/2006)

Mapa. Macrozoneamento de Poços de

Caldas

Figura 9. Mapa de Macrozoneamento de Poços de Caldas

Fonte: Lei Complementar 74/2006

Pode-se notar que o macrozoneamento mais atual de 2006 possui mais divisões do que o

realizado em 1988, há uma importância maior dada ao meio ambiente com três zonas apenas

voltadas para o meio, Zona de Preservação Permanente, Zona de Preservação Ambiental e

Zona Rural de Proteção Ambiental fora as outras zonas que priorizam o cuidado pelas fontes

frias e termais, aquíferos perante as construções que podem ser realizadas nessas áreas,

obedecendo as leis de proteção ambientais. As zonas de 1988, Habitacional, Central, Setor

Estrutural e Especial, acabam de encaixando nas zonas de 2006 de Proteção Especial,

Adensamento Restrito, Adensamento Médio, Adensamento Preferencial e de Interesse Social.

E a Zona Rural é incorporada em 2006 junto com a Zona Rural de Proteção Ambiental, e

Zona Industrial se mantêm.

De acordo com o Plano Diretor a expansão urbana tende a ir para uma região, no caso de

Poços de Caldas ela tende a crescer para a região Oeste, Zona de Adensamento Preferencial

Evanio
Highlight

(ZAP), essa região está localizada na Zona Pericentral onde os lotes e a especulação

imobiliária são grandes, que junto com a região central, possui uma concentração de

atividades urbanas, abrangendo bairros de classe média à alta, essa região se torna de interesse

econômico onde apenas parcela da população será alocada. A região sul (Figuras 9 e 10) mais

afastada da zona central já possui uma infra-estrutura de um novo centro, com sistemas de

acesso, serviços, moradia, equipamentos sociais que garante a população local uma maior

comodidade. Essa área em observação em campo seria a área propicia para haver a expansão

urbana por ser uma área onde o relevo é plano e não iria interferir diretamente no meio

ambiente, diferente da Zona Oeste onde a topografia é acidentada e as casas estão sendo

construídas no topo do morro, onde deveriam ser preservados. Mas como a vista é

privilegiada essa região acaba sendo alvo de especulação imobiliária, sendo vantajoso apenas

para quem irá morar e para os agentes imobiliários, não obedecendo as leis de proteção

ambiental.

Essas separações e valorizações do espaço urbano nos levam a segregação espacial. A

terra com o seu valor de uso imposto por fatores ambientais, localização, infra-estrutura,

economia, vão modificar o espaço que com a variação de preços e esses fatores vão conduzir

a população a se assentarem conforme suas condições sociais.

“A evolução dos preços, todavia, inter-relaciona-se com as condições de

reprodução do espaço urbano, no que se refere ao modo pelo qual se desenvolve a

produção das condições gerais de reprodução do sistema e dos custos gerados pela

aglomeração, pelo grau de crescimento demográfico, pela utilização do solo, pelas

políticas de zoneamento ou de reserva territorial e pelas modificações do poder

aquisitivo dos habitantes.” (Carlos, 1994)

Figura 10. Zona Sul, 2014 Figura 11. Zona Sul – Casas Populares

Fonte: Amanda Alvisi Fonte: Amanda Alvisi

Evanio
Highlight

Figura 12. Novos Loteamento Zona Sul

Fonte: Amanda Alvisi

Essas áreas centrais onde o relevo é montanhoso, as construções infringem as leis de

proteção ambiental, tendo em vista que nesses locais é fundamental a manutenção dos

processos ecológicos principalmente do ciclo hidrológico que com as construções feitas

nesses locais podem haver uma interferência em processos como infiltração, percolação e

escoamento superficial das águas. No Bairro Bandeirantes (Figura 13 e 14) onde foi feito

campo, pode ser visto a construção de novos loteamentos, sendo em topo de morro e perto de

nascente, não obedecendo as leis ambientais e sim dos interesses econômicos.

Figura 13. Bairro Bandeirantes, 2014 (Topo de Morro) Figura 14. Construção de Lotes em Topo de Morro

Fonte: Amanda Alvisi Fonte: Amanda Alvisi

A Zona Industrial (ZI) se concentra na zona oeste e sudoeste da expansão urbana,

pelas seguintes razões: disponibilidade de terrenos, diferentes dimensões, a menores preços do

Evanio
Highlight

que nas zonas centrais e pericentrais, topografia relativamente mais suave do que em outras

áreas periféricas, como na zona leste, e presença de importantes vias de circulação intraurbana

(Avenidas João Pinheiro e Mansur Frayha), que facilitam o acesso aos insumos, à mão de

obra e aos mercados local, regional e turístico, principalmente de São Paulo (OLIVEIRA,

2012, p. 128). Essa região foi a saída para a expansão do distrito industrial por ser a área que

não possui um adensamento populacional grande, possuindo lotes vagos, tendo em vista que

as empresas procuram lugares com uma dinâmica locacional favorecida para facilitar as trocas

de mercadorias.

Em entrevista feita com alguns moradores de diversos perfis da cidade, com o objetivo

de saber como a população enxerga o rápido crescimento urbano, podemos notar que a

população percebe a expansão urbana de forma desordenada e orientada pela especulação

imobiliária. Um Publicitário de 37 anos morador do centro da cidade enxerga esse

crescimento sem planejamento e pura especulação imobiliária, que possui uma fiscalização

por parte da prefeitura ineficiente. Para uma Enfermeira de 33 anos moradora da Zona Leste o

crescimento urbano é bom para os grandes proprietários de terras, em se tratando do espaço

público sem planejamento o que causa transtornos nas áreas de trânsito, saúde e educação, ela

observa uma forte influência política que refleti na falta de algumas penalidades acarretando

alguns impactos sociais e ambientais. A citação a seguir do Professor Universitário de 32 anos

que responde a pergunta de como a população enxerga o crescimento urbano na cidade

resume o que a maioria dos entrevistados observaram:

“Como acontece na maioria dos municípios Brasileiros, de forma desordenada.

Apesar da aplicação de instrumentos legais, como Plano Diretor, as decisões sobre o

processo de uso e ocupação do solo são tomadas a partir de interesses particulares. E

nem sempre o processo de urbanização leva em conta as características ambientais

da região na qual está sendo ocupada. Muitas regiões de risco estão hoje ocupadas e

pouco se sabe sobre qual o risco efetivo que essas moradias estão de ter problemas

de deslizamento de encostas ou inundações. Outra realidade observada é a falta da

cobrança de estudos específicos sobre os impactos que determinados tipos de

intervenção no solo podem causar.”

O crescimento urbano em Poços de Caldas deve acontecer de forma que minimize os

impactos ambientais, a cidade apresenta topografia acidentada e com muitas áreas de proteção

ambiental, que devem ser protegidas das futuras construções para que os aspectos ambientais

permaneçam resguardados. Segundo Andrade (2011) o processo de urbanização no território

brasileiro ao mesmo tempo em que permite a ascensão sócio-econômica de muitos moradores

e o desenvolvimento dos setores secundário e terciário, promove a deteriorização da paisagem

e da qualidade de vida de parte de seus habitantes. O caso de Poços de Caldas não é diferente,

é notório que a beleza da cidade impulsiona o mercado imobiliário, tendo nas áreas centrais

um espaço mais valorizado o que acaba excluindo parte da população que não participa desse

meio. A valorização da área central é impulsionada pelo turismo, pois é lá que a vida turística

vai acontecer. A cidade possui o turismo como uma das principais atividades econômicas,

com isso as intervenções urbanísticas vão acontecer de forma acentuada, o que propicia a

população não residentes nessa área uma exclusão. A necessidade de se investir na cidade

como um todo é importante para que essa espacialização social não aconteça de forma

desigual e que todas as necessidades urbanas sejam atendidas por toda população.

Figura. 15 – Crescimento e verticalização urbana

Fonte: Memória de Poços, R. Caruso.

A figura 15 mostra a área central da cidade, a primeira não se tem a data precisa mas é

possível observar que nada cidade não havia nenhum edifício, já na imagem abaixo a

verticalização na área central já toma conta da paisagem urbana, tendo seu crescimento

expandido para as áreas montanhosas.

Em entrevista foi perguntando quais os prós e os contras em viver na cidade, a maioria

acha que a cidade possui uma boa qualidade de vida, tendo em vista seus aspectos naturais o

proporciona uma forma de lazer, segunda uma Bióloga de 30 anos, a qualidade de vida o

contato com a natureza e o baixo índice de violência são os prós da cidade, e para ela os

contras são a falta de empregos e colocação profissional. Para ela e para mais alguns

entrevistados a cidade ainda é coronelista, voltada para o interesse da elite, pequena parcela

da população o que acaba interferindo no todo e beneficiando a minoria. Um engenheiro

ambiental argumenta que as mesmas famílias que “descobriram” Poços continuam mandando

e desmandando no município. Muitos entrevistados não conseguiram dizer quais os contras

em se morar na cidade, tendo em vista que a qualidade de vida para todos é o principal fator

pró em se viver no local. O principal problema observado nas entrevistas onde os

entrevistados tinham opiniões e perfis diversos, é o da expansão urbana, onde o planejamento

urbano não consegue conter essas mudanças de forma em que nenhum setor seja prejudicado.

Com esse trabalho foi possível observar o perfil da cidade que se tornou uma Cidade

Média em pouco tempo, observando os fatores que a levaram a chegar a esse patamar, foi

feito de forma sucinta, mas capaz de absorver a importância de Poços de Caldas no âmbito

local e regional, que por sua vez, tem o papel em atender as demandas regionais em bens e

serviços.

7. Conclusão

Pode-se notar que a expansão urbana de Poços de Caldas aconteceu de forma rápida,

mesmo sendo umas das cidades pioneiras no Planejamento Urbano, a cidade não consegue

atender à toda demanda do Plano Diretor, que requer um compromisso da prefeitura e da

população em cobrar os seus direitos. O crescimento da cidade fez com que a cidade fosse

considerada uma cidade média, ou seja, uma cidade que possui uma densidade demográfica e

funcional capaz de atender a população local e ao espaço microrregional nos bens e serviços,

possui um centro funcional e uma periferia dinâmica, capaz de atender suas próprias

demandas sem necessitar que a população se locomova até o centro.

O Plano Diretor feito em 1992 e revisado em 2006 requer mais atenção e mais

eficiência a algumas questões essenciais para que a cidade se desenvolva de forma plena,

como as vias de acesso que vem sendo uma das principais reclamações dos moradores,

respeito aos aspectos ambientais que vem sendo desrespeitados pela especulação imobiliária,

e uma maior fiscalização da prefeitura nesses empreendimentos. A cidade possui uma boa

expectativa de vida, oferece uma gama de lazer tanto para os turistas como para a população

local, o essencial seria beneficiar a população local através de eventos nos bairros, sendo que

na área central já possui alguns eventos culturais, mas que acabam valorizando apenas a área

central.

Poços de Caldas possui um dos melhores IDH do país, que por sua vez deve cada vez

mais investir para que a população tenha acesso a todos os serviços. A cidade depende de

algumas atividades econômicas como o turismo, mineração e a indústria, mas mesmo assim

falta empregos. Como a cidade está localizada em um ponto estratégico divisa com o estado

de São Paulo, ela instalou inúmeros empresas que viram Poços com uma área lógica para

atrair empregos, matérias primas e escoar seus produtos, mas a Prefeitura precisa incentivar

essas empresas a continuarem na cidade, pois é necessário incentivo fiscal, com esses

incentivos as indústrias poderiam contratar mais funcionários beneficiando a população. As

atividades econômicas da cidade possuem grande influência na sua dinâmica, movem a

economia local.

É notório que as transformações demográficas, sociais, ambientais e econômicas

ocorridas nas últimas décadas da cidade transformaram o seu espaço e acarretaram em

impactos positivos e negativos no município, a qualidade de vida da população melhorou mas

houve uma segregação espacial periférica o que excluiu boa parte da população da sua área

central. Se houver uma maior rigidez na sua expansão urbana e no seu planejamento Poços de

Caldas só tende a aumentar ainda mais seu IDH, para isso é necessário a conscientização de

todos os agentes envolvidos na modificação do espaço para um único objetivo: a melhoria da

qualidade de vida em Poços de Caldas.

8. Referências

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