"paraízo- paraguay"

BOLETIMCULTURAL

JUNHO2019

C O L U N A p e r i f e é r i c a , e d . # 3

Sede: Rua da Consolação, 1909Anexo: Rua da Consolação, 1699Cerqueira César - São Paulo/SPpróximo às estações Paulista e Mackenzie dalinha amarela

Associação Cultural deEducadores ePesquisadores dasUniversidades de São Paulo

c o n t a t o

www.acepusp.com.br(11) 3258-1436 | (11) 3132-0692facebook.com/acepusp.associacaoinstagram.com/acepusp

c h a m a d a d e p r o j e t o s

Tem algum projeto cultural que gostaria de trazerpara o nosso espaço? Entre em contato conosco pelo e-mail:cultural@acepusp.com.brculturalacepusp2019@gmail.com

í n d i c eAcepusp em 2019 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Eventos culturais - atividades regulares . . . Eventos culturais - atividades de junho. . . . . Coluna Perifeérica #3 PROSA Paraízo-Paraguay - cap. I . . . . . . . . . POEMA Ciudad Sin Sueño. - Frederico GarcíaLorca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

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a g r a d e c i m e n t o s Brunno R. (capa e contracapa) Matheus MoraisRodrigo CruzCamila RodriguesPedrinho Seleri

A Acepusp (Associação Cultural de Educadores e Pesquisadores dasUniversidades de São Paulo) é uma instituição sem finslucrativos, formada por estudantes de diversas universidades públicasbrasileiras. Fundada em 2002, a Associação atua em áreas daeducação com o intuito de fomentar o acesso das classes populares àcultura. Localizada no centro de São Paulo, apoia organizaçõesautônomas e coletivos, abrigando uma gama de atividades no espaço.A associação é orientada politicamente à esquerda e é autônoma emrelação a partidos e universidades. O mais antigo projeto da associação é o Cursinho Popular, existentedesde 2002, com cursos pré-universitários e de extensão, voltados aestudantes em fase de vestibular.Em 2017, teve início o Centro de Línguas, oferecendo a preçospopulares aulas de inglês, espanhol, francês, alemão, cursosinstrumentais, plantões e clubes de conversação. Em 2019, a ACEPUSP, em parceria com grupos culturais de São Paulo,visa ampliar o acesso à cultura por meio de eventos, oficinas, cursos delonga e curta duração (como artes visuais, dança, cineclubs, entreoutros). Nosso objetivo está para além do simples fomento à cultura.Num cenário político caótico e desfavorável, lutamos por suapermanência, encarando-a não como um ópio dos intelectuais, mascomo um bem coletivo, inalienável, um convite à reflexão. É sobretudoum instrumento de conscientização e transformação das estruturassociais.

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a t i v i d a d e s r e g u l a r e s

e v e n t o s c u l t u r a i s

dança de salão Lambazouk

O Movimento Lambazouk (dança para todos) ofereceráaulas de dança de salão (especificamente

Lambazouk/Lambada). O curso tem turmas deiniciantes e iniciados, formando profissionais de dançade salão em uma nova etapa do projeto a depender do

interesse do aluno. Quando:: terças e domingos, das 19h às 20h.

Valores: R$ 100 (mensal) / Gratuito para alunosAcepusp

tango às quartas

O Tango às quartas, projeto do TEM, tem o propósito deensinar as bases e os princípios de caminhada dotango, levando em conta a consciência corporal, ocuidado e o respeito ao nível de cada pessoa. Tango emturmas exclusivas para mulheres - todas as mulheres!Descontos para mulheres negras e trans. Se você tem alguma dificuldade, não fique sem dançar,fala com a gente! Se você é mãe, seu filho ou filha ébem-vindo! Quando: Toda quarta-feira, das 19h30 às 20h45(iniciantes) e das 21h às 22h30 (intermediárias).Valores: R$80 (mensal) / R$200 (trimestral) /Descontos para mulheres negras e transsexuais /gratuito para alunos Acepusp.

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Samba de gafieira

Além de forró e bolero, o Mulheres que Conduzemoferecem aulas de samba de gafieira. Antigamente agafieira era um baile popular, de entrada paga efrequentado por pessoas de baixo poder econômico. Nadécada de 1960 em diante, frequentado por classes maisabastadas. A proposta do grupo é uma prática livre degênero e classe. Não é necessário vir em pares. Quando: toda sexta, das 20h às 21h30. Valores e inscrições idem ao Bolero Livre de Gênero.

O Ballet Koteban oferece as "Aulas de dança mandingue". Ocurso é aberto tanto a população negra como aos

admiradores da cultura africana. O Ballet Afro Koteban é umgrupo de artistas e educadores negros cuja pesquisa se volta

à cultura do Oeste Africano.Quando: todo domingo, das 10h ao 14h

Valores: a confirmar com o grupoGratuito para alunos Acepusp.

Inscrições: afrokoteban@gmail.comOu pelo site: www.acepusp.com.br/eventos

koteban - aulas de dança africana

Inscrições :www.acepusp.com.br/eventosOnde: sempre na sala PoisÉPraQuê? na sededa Acepusp (Rua da Consolação, 1909).

i n s c r i ç õ e s

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las tardecitas

Nesta edição o Tango entre Mulheres convida o maravilhosoLucas Fernandes para aula com o tema "Peso líquido:

Descobrindo os quatro apoios dos pés", às 17h30. Às 18h30,segue a Prática. musicalizada por Mariana Franco. Pode vir comose sentir confortável, pode dançar com quem quiser, mulher com

mulher, homem com homem, até homem com mulher pode!Todes são bem vindes!

Quando: Domingo, 02/06, das 17h30 às 22h30. Gratuito para opúblico geral (entrada colaborativa e solidária)

Mais em: http://bit.do/lastardecitasjunho

e v e n t o s c u l t u r a i sa t i v i d a d e s d o m ê s d e j u n h o

l a n ç a m e n t o d o r o m a n c e "p a r a ízo -

p a r a g u ay , c o m m a r c e l o l a b e s

Para começar os eventos de junho, no dia primeiro a Acepuspreceberá Marcelo Labes, direto de Floripa, para o lançamento doromance Paraízo-Paraguay em São Paulo. Primeiro do autor – que játem seis livros de poesia publicados –, Paraízo-Paraguay é umromance histórico e de identidade que procura contar uma outraversão sobre a chegada dos imigrantes alemães a Santa Catarina eao Vale do Itajaí.O romance é um passeio entre os silêncios históricos criados noEstado: escravidão, genocídio indígena, a participação do Brasil (e deimigrantes recém chegados) na Guerra do Paraguai, o integralismo eo nazismo, e ainda o vínculo estreito entre o poder público e asindústrias têxteis quando do auge da industrialização, no século XX. Quando: 01/06, às 20h às 23hOnde: Espaço Pois É Pra Quê. Gratuito. Mais em: http://bit.do/paraizoparaguay 6

Au l a P ú b l i c a : “ E s t a d o , P r o p r i e d a d e e F a m í l i a : o c a p i t a l i s m o

e s u a s f o r m a s s o c i a i s ” , c o m A lys s o n M a s c a r o + e d i t o r a

b o i t e m p o

“Vive-se mais um momento da história nacional em que umgoverno toma posse do Estado através de discursos apelativosem defesa da família (entenda-se, hétero tradicional), da religiãoe da propriedade privada. Mas por que o apelo a esse discurso continua forte e instigante?Quais as relações entre família e Estado? Propriedade Privada epreconceitos sociais? Religião e discursos de gênero? Alysson Mascaro, professor de graduação e do programa depós-graduação lato sensu da Faculdade de Direito daUniversidade de São Paulo (Largo São Francisco - USP), fala, emaula pública intitulada “Estado, Propriedade e Família: ocapitalismo e suas formas sociais”, sobre as relações quemoldam não apenas nosso cotidiano social como também toda amodernidade. A aula pública vem junto com o lançamento, pela EditoraBoitempo, do clássico de Friedrich Engels, A origem da família, dapropriedade privada e do Estado. Quando: 08/06, às 19hOnde: Espaço Pois É Pra Quê. Gratuito. Mais em: http://bit.do/estadofamiliapropriedadePara adquirir o livro, acesse: http://bit.do/engelsnaboitempo

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a c e p u s p n o r i o (d e 1 9 a 23/06 )

Neste mês, a Acepusp fará uma viagem de 4 dias ao Rio de Janeiro.O roteiro prioriza o arco histórico da cidade: com origem nopassado colonial, seguindo pelo Brasil Império, passando pelamodernização do século XX, cuja curva descendente leva ao pontode destino atual: um Brasil contemporâneo, que ainda vive àsombra de seu passado.Com duração de quatro dias, o roteiro conta com 26 paradas, e seráorientado pelos professores ou guias locais. Cansativo, instigadorde ódio e incrível. Vem com a gente! Informações técnicas: "Viagem Educativa ao Rio de Janeiro"(exclusivo para alunos da Acepusp).Idade mínima permitida: 18 anos.Data: embarque às 23h de 19/06 e retorno às 5h de 24/06.Vagas: 40 vagas (20 vagas destinadas a turma de Fevereiro, 19vagas para turma de Março, 1 vaga gratuita para aluno bolsita). Inscrições encerradas.

c o m u n a d e u s a - a f e s t a

Pra terminar o semestre com chave de ouro, o dia 29/06 foiescolhido pra rebolar a raba com muito funk, pop, brega até

brasilidades e axé em 2 pistas na festa + barata e babadeira deSP. Teremos 2 pistas + Fumódromo.

☭ LINE-UP: Alyne [Bloco do Climão], Gabriel Seabra DJ [TodaGrandona], Biscartie [BATEKOO SP], Sal Esaú [Desculpa Qualquer

Coisa] e muito mais. ☭ APRESENTAÇÃO por Félix Pimenta.

☭ PREÇO: Até 00h, 10 acués; Depois das 00h, 15 acués. Transfree!

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c o l u n a p e r i f e é r i c a # 3PERIFÉRICO + FEÉRICO = À MARGEM + MARAVILHOSO

PARAÍZO-PARAGUAYromance de Marcelo Labes

Caiaponte Edições, 2019

capítulo 1

Paraízo é um bairro, quase um distrito, ou um gueto, se assim sepreferir, distante da cidade e perto do mato, dos morros, doscórregos, das cobras peçonhentas, onde vivem pessoas que nãofalavam português até poucos anos atrás. Fica ao sul do que foi ocentro da antiga colônia. Mesmo depois de alçada a município, acolônia nunca deixou de existir — hoje é uma grande cidade, masé ainda uma vila: cresce sem deixar de ser. Onde anos atrás sedizia que era a cidade, agora se diz centro. Paraízo fica tãodistante do centro que muitas pessoas que lá vivem nunca foram àcidade. Muitas pessoas dali também nunca viram o mar. Atotalidade nunca viu o horizonte rente ao chão. O lugar é um valefechado, íngreme, úmido e estreito, onde o sol só alcança iluminarcompletamente ao meio-dia dos dias de verão, quando ficainsuportavelmente quente, abafado, e seus habitantes passamhoras tediosas e sufocantes enquanto esperam a chuva de fim detarde, chuva de trovoada, que chega lavando as plantas, a estradade terra, lavando os quintais, os bichos e as flores. Volta e meia, achuva é demasiada. Se ocorre de dia, as pessoas passam o tempoolhando o quanto os riachos aguentam os despejos dasmontanhas; quando chega a noite, os olhos não se fecham umsegundo enquanto qualquer ruído é um sinal de alerta: o riachotorna-se rio, a queda d’água torna-se catarata, a água torna-selama e vez por outra alguém morre afogado, famílias perdem suascasas, os bichos são levados pela enxurrada e alguma árvoredespenca do barranco obstruindo a passagem pela estrada.

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Houve um tempo em que todos que ali habitavam se conheciam.Não eram muitas nem numerosas as famílias, e toda a gentefrequentava a mesma igreja, ia ao mesmo clube de caça, oshomens trabalhavam na mesma roça e as mulheres tomavam caféno mesmo salão paroquial da igreja luterana. As crianças, é bomque se pergunte, tinham o mesmo professor na escola, mas comoera por pouco tempo que a frequentavam, achamos melhor nãoprolongar a descrição.Aqui vemos a casa de Hans e Anna , um casal de filhos de filhosde imigrantes europeus. Esta casa simples foi construída pelo paidele, o velho Hubert, quando a antiga foi arrastada pelo desbordedo riacho. Eles mesmos avançaram na mata para escolher asárvores, depois puxaram, uma a uma, as toras cortadas e asserraram, plainaram, lixaram e pregaram para construir um larsólido num lugar mais acima do curso da água. A frente da casa dápara a única rua, a mesma serpente de terra que vem desde ocentro da cidade até quase o fim do mundo, que fica uns poucosmetros adiante, onde ainda moram umas poucas famílias. Abrindoo pequeno portão de madeira, vemos estas rosas herdadas porAnna de sua sogra, Olga, que já não deixa a cama para cuidar dojardim. Nos fundos da casa existe um rancho quase maior do que ahabitação. Ali dormem as vacas de leite. Ao lado fica o galinheiro.Ao fundo, o chiqueiro. O mais são pés de frutas e lá no fundo,longe das vistas dos passantes, fica a horta.Hans, o marido de Anna, é filho único de Olga e Hubert. Falamosdeles no passado, trinta, quarenta anos atrás, num tempo em quesua nacionalidade não era assunto passível de discussão. Nuncatocaram no assunto, pois jamais tiveram motivo para duvidar quefossem alemães. Alemanha é onde se fala alemão, e ponto.Também todas as relações se dão no idioma germânico. Naescolinha, na igreja luterana, na fábrica, no clube de caça, no secose molhados do Wilfrid, na agropecuária do Willmut, no matadourodo Werner, no engenho de açúcar e melado de cana do Walfredo.

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Hans divide seus dias entre a fábrica e as tarefas de casa. É elequem sobe o morro para puxar trato, o que significa que avançasobre a capoeira até alcançar o capim mais graúdo e verde, que éentão cortado com uma foice e amontoado em grandes maços, quedepois de amarrados o homem carrega nas costas até lá embaixo,no rancho ao lado da casa que vemos, daqui, tão pequenina. Noturno da noite, Hans trabalha de operário na fábrica que empregavaseu pai e onde trabalham todos os seus conhecidos homens, comidade de serem seus primos e seus tios, além dos companheiros daigreja, do clube de tiro e das festas de rei e rainha da caça. Asúnicas pessoas que Hans conhece que não trabalham nem nuncatrabalharam na fábrica são o pastor Spitz e sua esposa, Martha.Hans não consegue calcular o respeito que devota ao casal, masimagina que alguém que nunca precisou trabalhar na indústria entrefiapos de algodão e linho, entre teares e roldanas, nem na roça,entre a merda dos bichos e as picadas de insetos, merece toda suaconsideração.Hoje Hans saiu para caçar. Ele e três vizinhos subiram o morro poruma picada, seguindo o curso d’água mata adentro. Não voltarãoantes do anoitecer, o que dá a Anna umas horas de folga dapresença do marido. As crianças foram mandadas para o ensinoconfirmatório e não voltam antes do fim da tarde. A vida seriaperfeita, não fosse Olga, a sogra doente, a mulher para quem Annareza todos os dias pedindo que encontre o merecido descanso nosbraços de Deus-nosso-senhor.Olga dorme no quarto da pequena Martha — justa homenagem àesposa do pastor Spitz —, pois o casal precisava do quarto grandee os irmãos ainda podem dividir a cama de dormir no quarto dopequeno Udo. O quarto em que dorme a avó tem uma porta semchave, as cortinas sempre fechadas, as roupas guardadas dentro dapequena estante que divide espaço com a cama. Olga geme, chora,grita — mas pelo menos deixou de levantar-se nua, toda suja daspróprias necessidades, irrompendo na cozinha à hora do café ouna sala no momento do programa de rádio.

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Agora praticamente inerte, sabe-se que está viva porque é conferidaa cada três horas pela nora, Anna, responsável por virar o corpomagro da sogra a fim de evitar que as escaras ressurjam na pelesemitransparente da mãe de seu marido.Olga perdeu a memória, os modos, os freios e a dignidade — desdea morte de Hubert que está assim, mas nunca perdeu a chave quecarrega nas mãos e segura com tanta força que é possível versaltadas as veias de seus braços, os músculos convictos. É umachave de lata, simples, barata. Até pouco tempo atrás, ninguémnunca havia se perguntado o que ela abria. Foi quase por acidenteque se recordou uma tal história dos tempos de guerra. Não, nuncahouve guerra no Paraízo, a não ser por causa de terrenos íngremese pedregosos quando no momento que se quis dividi-los e colocá-los à venda. Mas houve, sim, que se saiba, uma guerra na Europa,aquele lugar que por essa época já quase ninguém lembrava direitoonde ficava, ninguém sabia apontar no mapa e tampouco haviaalguém no Paraízo que houvesse conseguido chegar lá. A históriaque Anna ouviu no café das senhoras luteranas dizia que Olga, asogra, carregava a chave de um baú.— Que baú? — perguntou Anna.— O baú da guerra. Toda família tinha um — respondeu uma dassenhoras luteranas.— Mas que guerra?A senhora que respondia a Anna não soube dizer com certeza se aSegunda ou se alguma outra.— E o que tinha dentro do baú? — insistiu Anna.A demora na resposta, os olhos mirando os pés, um incômodorepresentado por um levantar de sobrancelhas… Não foramnecessárias palavras para Anna saber que se tratava de algo muitoimportante.

Esse material foi reproduzido parcialmente mediante autorizaçãodo autor e pode ser adquirido na íntegra no link: http://bit.do/caiaponteedicoes

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No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie. No duerme nadie.

Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas. Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan

y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.

No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.

No duerme nadie. Hay un muerto en el cementerio más lejano

que se queja tres años porque tiene un paisaje seco en la rodilla;

y el niño que enterraron esta mañana lloraba tanto que hubo necesidad de llamar a los perros para que callase.

No es sueño la vida. ¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!

Nos caemos por las escaleras para comer la tierra húmeda o subimos al filo de la nieve con el coro de las dalias muertas.

Pero no hay olvido, ni sueño: carne viva. Los besos atan las bocas en una maraña de venas recientes

y al que le duele su dolor le dolerá sin descanso y al que teme la muerte la llevará sobre sus hombros.

Un día

los caballos vivirán en las tabernas y las hormigas furiosas

atacarán los cielos amarillos que se refugian en los ojos de las vacas.

continua na próxima página)

C I U D A D S I N S U E Ñ OF R E D E R I C O G A R C Í A L O R C A

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Otro día veremos la resurrección de las mariposas disecadas

y aún andando por un paisaje de esponjas grises y barcos mudos veremos brillar nuestro anillo y manar rosas de nuestra lengua.

¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta! A los que guardan todavía huellas de zarpa y aguacero,

a aquel muchacho que llora porque no sabe la invención del puente o a aquel muerto que ya no tiene más que la cabeza y un zapato,

hay que llevarlos al muro donde iguanas y sierpes esperan, donde espera la dentadura del oso,

donde espera la mano momificada del niño y la piel del camello se eriza con un violento escalofrío azul.

No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.

No duerme nadie. Pero si alguien cierra los ojos, ¡azotadlo, hijos míos, azotadlo!

Haya un panorama de ojos abiertos

y amargas llagas encendidas.

No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie. Ya lo he dicho.

No duerme nadie. Pero si alguien tiene por la noche exceso de musgo en las sienes,

abrid los escotillones para que vea bajo la luna las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.

Do livro Poeta en Nueva York, 1940 Em memória aos 83 anos do assassinato de Frederico Garcia Lorca (1898-1936), uma das primeirasvítimas do fascismo na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).Em memória a todas LGBTs em luta dia a dia, que morrem nas mãos da homofobia. Não passarão!.

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