Cotidiano Europeu

2
h i s t ó r i a h i s t ó r i a 1 novembro/2007 Cotidiano europeu no início da Idade Moderna Higiene O sabão era muito caro, e as pessoas raramente to- mavam um banho completo. Os ingleses da época diziam que “quanto mais se mexe na sujeira, mais ela fede”. Até mesmo os reis, como Henrique IV da França, precisavam usar perfumes especiais para disfarçar o mau cheiro do corpo. Vestuário A rainha Elizabeth I da Inglaterra tinha guarda- roupas repletos de vestidos magníficos, enfeitados com pedras preciosas. Ela des- lumbrava seus súditos com roupas de seda bordadas com pérolas do tamanho de feijões. A maioria dos seus súditos não tinha mais do que roupas simples de lã, geralmente feitas em casa. Alimentação A alimentação comum dos camponeses não era balanceada nem variada. Numa época de grande e constante alta dos preços, os pobres podiam comprar pouca coisa além do pão de trigo, da cevada ou do centeio. Às vezes, o pão era misturado em sopas ralas de vegetais. A carne era cara demais para a maioria da população. Em contraste, os ricos co- miam uma grande variedade de carne e peixe. A carne era quase sempre seca e salgada, para se conservar durante o inverno. Era então cozida com especiarias (cravo, ca- nela, pimenta, noz-moscada e gengibre) para disfarçar o gosto e o cheiro de carne estragada. Crianças e mulheres Metade das crianças nas- cidas nessa época morria antes de completar um ano de idade. Os jovens que sobreviviam geralmente morriam muito cedo, de fome, doença ou na guerra. As pessoas com mais de 40 anos eram consideradas velhas. Em quase todos os países, as crianças re- presentavam a metade da população. Os homens controlavam suas mulheres quase tanto quanto seus filhos. Um li- vreiro de Florença achava que todas as mulheres de- viam obedecer a duas leis: “A primeira é que devem criar os filhos no temor de Deus, e a segunda, fazer com que fiquem quietos na igreja”. Trabalho no campo Em 1600, a proporção dos europeus que moravam nas cidades era, aproxima- GALLERIA DEGLI UFFIZI, FLORENÇA (ITÁLIA)

description

cotidiano

Transcript of Cotidiano Europeu

h i s t ó r i ah i s t ó r i a

1

novembro/2007

Cotidiano europeu no início da Idade ModernaHigiene

O sabão era muito caro, e as pessoas raramente to-mavam um banho completo. Os ingleses da época diziam que “quanto mais se mexe na sujeira, mais ela fede”. Até mesmo os reis, como Henrique IV da França, precisavam usar perfumes especiais para disfarçar o mau cheiro do corpo.

VestuárioA rainha Elizabeth I da

Inglaterra tinha guarda-roupas repletos de vestidos magníficos, enfeitados com pedras preciosas. Ela des-lumbrava seus súditos com roupas de seda bordadas com pérolas do tamanho de feijões. A maioria dos seus súditos não tinha mais do que roupas simples de lã, geralmente feitas em casa.

AlimentaçãoA alimentação comum

dos camponeses não era balanceada nem variada. Numa época de grande e constante alta dos preços, os pobres podiam comprar pouca coisa além do pão de trigo, da cevada ou do centeio. Às vezes, o pão era misturado em sopas ralas de vegetais. A carne era cara demais para a maioria da população.

Em contraste, os ricos co-miam uma grande variedade de carne e peixe. A carne era quase sempre seca e salgada, para se conservar durante o inverno. Era então cozida com especiarias (cravo, ca-nela, pimenta, noz-moscada e gengibre) para disfarçar o gosto e o cheiro de carne estragada.

Crianças e mulheresMetade das crianças nas-

cidas nessa época morria antes de completar um ano de idade. Os jovens que sobreviviam geralmente morriam muito cedo, de fome, doença ou na guerra. As pessoas com mais de 40 anos eram consideradas velhas. Em quase todos os países, as crianças re-presentavam a metade da população.

Os homens controlavam suas mulheres quase tanto quanto seus filhos. Um li-vreiro de Florença achava que todas as mulheres de-viam obedecer a duas leis: “A primeira é que devem criar os filhos no temor de Deus, e a segunda, fazer com que fiquem quietos na igreja”.

Trabalho no campoEm 1600, a proporção

dos europeus que moravam nas cidades era, aproxima-

Ga

lle

ria

de

Gli

Uf

fiz

i, f

lor

en

ça

(it

áli

a)

2

damente, de 1 para 10. E os que trabalhavam no campo tinham de fornecer alimento e vestuário para os habitantes das cidades e para eles mesmos. “Quem não cultiva a terra destrói este país”, disse Lord Burghley, primeiro-ministro de Elizabeth I, da Inglaterra.

O dia do homem do campo começava com o nascer do sol e terminava quando estava escuro demais para enxergar. Nos tempos de plantio e colheita, o trabalho ia às vezes noite adentro. Cereais (trigo, centeio, cevada e aveia), carne e leite eram produzidos em toda a Europa.

Diversões popularesDurante a semana, o povo tinha pouco tempo para o lazer. Mas nos domingos, dias santos e nas grandes

festas de natal, páscoa e Pentecostes, todos descansavam e se divertiam. As pessoas dançavam, bebiam, cantavam e jogavam damas, dados, cartas e xadrez. Para os que preferiam

divertimentos violentos, havia a provocação do urso, brigas de galo e, nas ruas do sul da Europa, lutas de touros. Povoados inteiros jogavam uma espécie de futebol violento, que era um tipo de luta amistosa.

A maioria do povo não sabia ler, mas gostava de ouvir os pregadores e os atores. Milhares de pessoas reuniam-se para assistir aos mistérios, peças com temas religiosos. Outras peças não religiosas eram represen-tadas por atores itinerantes nas praças dos mercados e nos pátios das tavernas. Mas esses atores geralmente eram tratados pelas autoridades locais quase como desocupados.

Adaptado de MIDDLETON, Haydn. O cotidiano europeu no século XVI. São Paulo: Melhoramentos, 1982. p. 17-18, 24,26-27, 32, 38, 40-41.

Alexandre Perles Gazeta Professor de história no ensino médio e pré-vestibular