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1. Introdução A qualidade dos alimentos é uma preocu- pação dos consumidores em geral e consequen- temente um desafio constante da indústria ali- mentícia. Neste contexto, referenciando as doen- ças transmitidas por alimentos, a Salmonella tem sido historicamente apontada como a princi- pal bactéria responsável nesse tipo de toxinfec- ção, devido à contaminação de produtos de ori- gem animal. Entre as toxinfecções alimentares em humanos associadas à Salmonella, destaca- se o consumo de carne suína e seus produtos, representando a segunda posição na ordem de importância, atrás apenas de produtos de origem avícola. Na suinocultura atual com produção em escala, objetivando reduzir o custo de produção, alguns pontos importantes não têm sido contem- plados no planejamento, biossegurança e con- servação da granja para evitar as fontes de in- fecção por Salmonella. Tais fontes podem ser as contaminações residuais das instalações, o suí- no como portador/excretor, ração e água conta- minada, animais silvestres e domésticos com acesso às instalações, as práticas de produção e o próprio homem, demonstrando a importância do conhecimento da epidemiologia deste agente (Funk et al., 2004 e Kich et al., 2005 a ). Os aspectos relacionados com a biossegu- rança, limpeza e desinfecção são importantes fatores de controle da Salmonella na produção (Kich et al., 2005 b ). Também, tem sido demons- trado que em granjas de crescimento e termina- ção em Santa Catarina (SC), foi observada cor- relação entre lotes de leitões soropositvos e ex- cretores de Salmonella no momento do aloja- mento no crescimento e terminação (Kich et al., 2004). Isto indica que a fase anterior à termina- ção, a creche, tem papel importante na amplifi- cação da contaminação nos sistemas de produ- ção. Partindo da hipótese que as instalações de creche podem ser uma fonte de infecção de Sal- monella para os leitões, este trabalho teve como objetivo identificar os fatores de risco associados à contaminação residual das instalações por Salmonella no dia do alojamento dos leitões, após a limpeza e desinfecção e vazio sanitário. 2. Estudo Realizado Foi desenvolvido um estudo em 70 unida- des de creche de suínos, que trabalham em lotes com sistema “todos dentro todos fora”, localiza- das no oeste de SC. No dia do alojamento dos leitões, até 8 horas antes da chegada dos ani- mais, foi realizada uma visita na granja para o inquérito epidemiológico e coleta dos materiais. 1 Biólogo, M.Sc., Analista da Embrapa Suínos e Aves, Cx. Postal 21, CEP 89700-000, Concórdia – SC, e-mail: [email protected] 2 Médica Veterinária, D.Sc., Pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] 3 Médico Veterinário, M.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] 4 Biologia, B.Sc., Assistente da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] 5 Acadêmico de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria 6 Assistente da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] 7 Médica Veterinária, D.Sc., Pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] 8 Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Armando Lopes do Amaral 1 Virgínia Santiago Silva 2 Nelson Morés 3 Beatris Kramer 4 Angelo Nardi Pretto 5 Marni Ramenzoni 6 Jalusa Deon Kich 7 Arlei Coldebella 8 ISSN 0100-8862 Dezembro/2006 Concórdia-SC 445 Fatores Importantes para Evitar a Contaminação Residual das Instalações de Creche de Suínos por Salmonella ao Alojamento

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1. Introdução

A qualidade dos alimentos é uma preocu-pação dos consumidores em geral e consequen-temente um desafio constante da indústria ali-mentícia. Neste contexto, referenciando as doen-ças transmitidas por alimentos, a Salmonellatem sido historicamente apontada como a princi-pal bactéria responsável nesse tipo de toxinfec-ção, devido à contaminação de produtos de ori-gem animal. Entre as toxinfecções alimentaresem humanos associadas à Salmonella, destaca-se o consumo de carne suína e seus produtos,representando a segunda posição na ordem deimportância, atrás apenas de produtos de origemavícola. Na suinocultura atual com produção emescala, objetivando reduzir o custo de produção,alguns pontos importantes não têm sido contem-plados no planejamento, biossegurança e con-servação da granja para evitar as fontes de in-fecção por Salmonella. Tais fontes podem ser ascontaminações residuais das instalações, o suí-no como portador/excretor, ração e água conta-minada, animais silvestres e domésticos comacesso às instalações, as práticas de produção eo próprio homem, demonstrando a importânciado conhecimento da epidemiologia deste agente(Funk et al., 2004 e Kich et al., 2005a).

Os aspectos relacionados com a biossegu-rança, limpeza e desinfecção são importantesfatores de controle da Salmonella na produção(Kich et al., 2005b). Também, tem sido demons-trado que em granjas de crescimento e termina-ção em Santa Catarina (SC), foi observada cor-relação entre lotes de leitões soropositvos e ex-cretores de Salmonella no momento do aloja-mento no crescimento e terminação (Kich et al.,2004). Isto indica que a fase anterior à termina-ção, a creche, tem papel importante na amplifi-cação da contaminação nos sistemas de produ-ção. Partindo da hipótese que as instalações decreche podem ser uma fonte de infecção de Sal-monella para os leitões, este trabalho teve comoobjetivo identificar os fatores de risco associadosà contaminação residual das instalações porSalmonella no dia do alojamento dos leitões,após a limpeza e desinfecção e vazio sanitário.

2. Estudo Realizado

Foi desenvolvido um estudo em 70 unida-des de creche de suínos, que trabalham em lotescom sistema “todos dentro todos fora”, localiza-das no oeste de SC. No dia do alojamento dosleitões, até 8 horas antes da chegada dos ani-mais, foi realizada uma visita na granja para oinquérito epidemiológico e coleta dos materiais.

1 Biólogo, M.Sc., Analista da Embrapa Suínos e Aves, Cx. Postal 21, CEP 89700-000, Concórdia – SC, e-mail:[email protected]

2 Médica Veterinária, D.Sc., Pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Médico Veterinário, M.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Biologia, B.Sc., Assistente da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Acadêmico de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria6 Assistente da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Médica Veterinária, D.Sc., Pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected] Médico Veterinário, D.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e-mail: [email protected]

Armando Lopes do Amaral1

Virgínia Santiago Silva2

Nelson Morés3

Beatris Kramer4

Angelo Nardi Pretto5

Marni Ramenzoni6

Jalusa Deon Kich7

Arlei Coldebella8

ISSN 0100-8862Dezembro/2006Concórdia-SC

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Fatores Importantes para Evitar aContaminação Residual dasInstalações de Creche de Suínospor Salmonella ao Alojamento

2 | Fatores Importantes para Evitar a Contaminação Residual das Instalações de Creche de Suínos por Salmonella ao Alojamento

Para verificar se havia contaminação resi-dual das instalações por Salmonella foi seleciona-da uma sala em cada creche, onde foram realiza-das coletas de suabes de arrasto, através de sa-patilhas de tecido de algodão estéril, no piso dequatro baias de cada sala. As coletas foram reali-zadas no piso das instalações, em forma de“zigzag”, cobrindo toda a extensão da baia. Paraisolamento de Salmonella, como variável respos-ta do experimento, foi adotada a metodologiadescrita por Michael et al. (2003). Os suabes fo-ram colocados para pré-enriquecimento, emfrascos com água peptonada e incubadas a 37ºCpor 18 a 24 horas. Alíquotas de 0,1mL do materialenriquecido foram semeadas em caldo Rappa-port-Vasidilis e 1 mL em caldo Tetrationato deMuller-Kauffmann, ambos incubados a 42ºC por24 horas, em banho-maria. O isolamento foi reali-zado após semeadura em meios sólidos AgarVerde Brilhante e Agar XLT4, incubados a 37º por24 a 48 horas. As colônias suspeitas foram confir-madas por características morfológicas e bio-químicas, conforme Holt et al. (1994). Em cadagranja, na visita de coleta de materiais, foi apli-cado um questionário que contemplou variáveisassociadas às práticas de limpeza e desinfecçãodas instalações tais como: uso de pedilúvio, usode detergentes na limpeza, duração das opera-ções, desinfecção química (princípio ativos dosdesinfetantes e número de desinfecções), volumede solução desinfetante aplicado/m², equipamen-tos usados na limpeza e na desinfecção, estadogeral de conservação das instalações e sinais dapresença de animais e vetores na sala.

No tratamento estatístico dos dados foirealizada uma análise exploratória univariada eposteriormente uma análise multivariada por re-gressão logística (stepwise forward) através doprograma (SAS Institute Inc., 2003).

3. Resultados e Comentários

Das creches estudadas, 11 (15,71%) dassalas foram positivas para Salmonella em pelomenos uma baia. Em estudo semelhante, nasfases de crescimento e terminação, Kich et al.(2005b) encontraram contaminação por Salmo-nella no piso em 41,67% das amostras avalia-das. Comparando-se esses estudos, verifica-seque a contaminação por Salmonella foi menornas salas de creche do que no crescimento e Ter-minação. Uma hipótese para isso é que o proces-so de lavagem e desinfecção é melhor realizadonas instalações de creche do que no crescimentoe terminação.

Dentre as variáveis estudadas e analisa-das foram identificadas três que melhor explica-

ram à contaminação residual das salas de cre-che por Salmonella e foram consideradas comofatores de risco:

1. Presença de trilhas de ratos nas instalações;2. Presença de moscas nas instalações;3. Tempo entre a saída dos animais e início da

lavagem das instalações. Quanto antes iniciaro processo de limpeza após a saída dos suí-nos, menor a chance de contaminação resi-dual.

Analisando essas variáveis constatou-seque duas delas, “presença de trilhas de ratos” e“presença de moscas nas instalações”, são indi-cativas de recontaminação da sala devido ao ma-nejo adotado na granja após a limpeza e desin-fecção.

Embora o papel de roedores, moscas e ou-tros vetores como portadores e disseminadoresde Salmonella nos sistemas de produção de suí-nos tenha sido amplamente descrito na literatura(Funk et al., 2004 e Holt et al., 1994), o controleefetivo não tem sido implementado em nossasgranjas. Isto demonstra a necessidade de progra-mas rígidos de controle integrado nas granjas pa-ra evitar o acesso desses vetores nas salas queestão em vazio sanitário. Entre as alternativas decontrole integrado cita-se os controles mecânico,biológico e químico. No controle mecânico atua-se no ambiente onde o rato vai buscar o alimentoe abrigo. No biológico utilizam-se inimigos natu-rais como gatos, o que é desaconselhável por serum predador e oferecer outros riscos sanitáriosao rebanho, pois podem portar e/ou disseminaroutros patógenos indesejáveis à produção suiní-cola.

Nos químicos atua-se com venenos co-mercialmente disponíveis seguindo as recomen-dações do fabricante. O controle das moscaspode ser realizado com o manejo adequado dosdejetos, pela utilização de produtos químicos ou aassociação de ambos.

A variável tempo decorrente entre a saídados leitões das instalações e o início da limpezaidentificada como fator de risco para a contami-nação residual por Salmonella reflete a importân-cia que a pressão de infecção exerce no ambien-te de produção e a necessidade do planejamentoda granja para interferir nos procedimentos delimpeza e desinfecção considerando as implica-ções em mão de obra e manejo das salas. Apressão de contaminação inicial, junto com ascaracterísticas do agente sobre o qual se desejaatuar, são fatores que devem ser consideradosna descontaminação de ambientes.

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Neste estudo ficou evidenciado que o pro-cedimento de limpeza das instalações deve ini-ciar logo após a saída dos animais, independen-te do grupo químico do desinfetante usado, tipode instalações e temperatura ambiental entreoutros. O início imediato do processo de limpezaapós a saída dos animais da creche reduz apressão de contaminação residual das instala-ções de creche por Salmonella, com isso permitemelhor efeito no uso de desinfetante e do vaziosanitário, concordando com resultados obtidospor outros autores (Gay et al., 2006 e Madec etal., 1999).

4. Conclusão e Recomendações

Os fatores de risco associados com a con-taminação residual de creches por Salmonella,após desinfecção e vazio das instalações são:demora do início da limpeza após a saída dosanimais (quanto maior o intervalo de tempo entrea saída dos suínos e início das operações delimpeza, maior a chance de contaminação porSalmonella) e presença de trilha de roedores emoscas nas instalações. Desta forma, para dimi-nuir a contaminação residual de creche por sal-monella é necessário atuar na granja de formaintegrada, internamente com rápida limpeza edesinfecção da sala após a saída dos suínos e,externamente, no controle integrado de moscase roedores.

7. Referências Bibliográficas

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HOLT, J.G.; KRIEG, N.R.; SNEATH, P.H.A.;STALEY, J.T.; WILLIAMS, S.T. Bergey's manualof determinative bacteriology. 9.ed. Baltimore:Williams & Wilkins, 1994. 787p.

KICH, J. D.; MORÉS,N.; PIFFER, I.A.;COLDEBELLA, A.; AMARAL, A.L.; RAMMIGER, L.;CARDOSO, M. Fatores associados à soropreva-lência de samonella em rebanhos comerciais desuínos. Ciência Rural, v.35, n.2, p.398-405, 2005a.

KICH, J. D.; BORDIN, L.C.; MORÉS, N.;COLDEBELLA, A.; TRICHES, N.; KLEIN, E.;RAMENZONI, M.; SILVA, L.E. Excreção esoroprevalência de Salmonella sp. no alojamentode leitões em granjas de terminação. In:CONGRESSO LATINO AMERICANO DESUINOCULTURA, 2004, Foz do Iguaçu. Anais...Campinas: Animalworld, 2004. p.470-471.

KICH, J.D.; BORDIN, L.C.; COLDEBELLA, A.;MORÉS, N.; PRATES, A.; TRIQUES, N.; KLEIN,E.; RAMENZONI, M.; VIZZOTO, R. Estudolongitudinal da infecção por Salmonella em 12granjas de terminação de suínos: variabilidade desorovares In: CONGRESSO BRASILEIRO DEVETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS,12., 2005, Fortaleza. Anais. Fortaleza: ABRAVES,2005b. p. 54-55.

MADEC, F.; HUMBERT, F.; SALVAT, G.; MARIS P.Measurement of the residual contamination of post-weaning facilities for pigs and related risk factors.Journal of Veterinary Medicine, v. 46, p. 37-45,1999.

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SAS INSTITUTE INC. SAS user guide: version6.4. Cary, 1989. 943p.

ComunicadoTécnico, 445

Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

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