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critérios para utilização de corte verde em estruturas de concreto armado.

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UFBA-ESCOLA POLITCNICA-DCTMDEPARTAMENTO DE CINCIA E TECNOLOGIA DOS MATERIAISSETOR DE MATERIAIS

ROTEIRO DE AULAS

JUNTAS DE CONCRETAGENS

Unidade IIIContinuao

Prof. Adailton de Oliveira Gomes e Ney Luna Cunha

Materiais de Construo II

Profs. Adailton de Oliveira Gomes e Ney Luna Cunha

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JUNTAS DE CONCRETAGEMProf. Ney Luna Cunha1 2

Prof. Adailton de Oliveira Gomes

As juntas de concretagem, tambm denominadas juntas de construo ou juntas de trabalho, no so planejadas para permitirem movimentos entre as partes da estrutura que elas limitam. So superfcies de separao entre concretos de idades diferentes e ocorrem por contingncias de ordem construtiva. So, simplesmente, locais onde se interrompe por algum tempo o processo de lanamento do concreto devido impossibilidade de concretar grandes extenses em uma s operao. Ocorrem quando se coloca concreto fresco contguo a uma superfcie de concreto endurecido correspondente outra camada anteriormente lanada. A junta de concretagem pode ser horizontal, quando a superfcie de separao o topo de uma camada, ou pode ser vertical, quando constituda pela extremidade de uma camada. Em casos especiais, sob determinadas condies, podem ser inclinadas. A metodologia seguida na execuo de uma junta deste tipo, bem como a sua localizao na estrutura, devem merecer especial ateno do tcnico responsvel pela construo, em face dos problemas que podem advir em conseqncia de um servio mal feito. Um tratamento da superfcie do concreto endurecido que ficar em contato com o concreto fresco dever preceder a outros cuidados no reinicio do lanamento. Uma junta mal cuidada um ponto fraco na massa do concreto endurecido, uma descontinuidade que impede a transmisso de modo satisfatrio dos esforos a que est sujeito o elemento da estrutura, constituindo, assim, um local de provvel ocorrncia de fissuras. Uma junta mal feita tambm uma regio de maior porosidade do concreto, facilitando a passagem da gua ou a maior exposio do ar, o que tem como conseqncia a menor durabilidade da pea estrutural ou seu no funcionamento como elemento

1 Estruturalista e aposentou-se como Adjunto IV da Escola Politcnica da UFBA, onde ensinava a disciplina

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Professor Adjunto IV da Escola Politcnica ensina a disciplina Materiais de Construo II. Coordena o CETA Centro Tecnolgico da Argamassa e a Reciclar Bahia.

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estanque. muito comum o aparecimento nestes pontos de um processo de corroso das armaduras da estrutura quando as condies ambientais so favorveis a este ataque.

3. COLOCAO DO CONCRETO NA OBRA: junta fria Preliminarmente, deve-se fazer algumas consideraes sobre a colocao do concreto na obra. Durante uma jornada de concretagem, o lanamento do concreto nas formas deve ter uma continuidade limitada pela trabalhabilidade do concreto da camada colocada anteriormente. Isto , o enchimento das formas dever prosseguir somente enquanto a camada de concreto posta antes e j adensada seja capaz de aceitar novo adensamento e, assim, permitir o entrosamento com a poro de concreto mais fresco que ficar contguo a ela. Geralmente um concreto j compactado capaz de aceitar um novo adensamento, como uma revibrao, por exemplo, antes que tenha ocorrido o incio da pega do cimento. A variao da consistncia no perodo antes da pega. Caracterizada pela perda da plasticidade com diminuio acentuada da trabalhabilidade, pode prejudicar as operaes de transporte e lanamento do concreto, mas influi muito menos na de adensamento. A revibrao do concreto muito til, e at recomendvel em certos casos, pois permite corrigir defeitos oriundos do assentamento do concreto na forma aps o primeiro adensamento elimina os vazios provenientes da exsudao e melhora a aderncia da pasta aos gros dos agregados e armadura. Em determinadas condies, uma camada de concreto j adensada poder ser revibrada mesmo aps o incio da pega. Enquanto uma camada de concreto estiver em condies de ser revibrada, poder, sobre ela ou ao seu lado, ser colocada nova poro de concreto fresco cujo adensamento dever alcanar a camada anterior, formando um vnculo entre as mesmas, e assim ter prosseguimento a concretagem do elemento estrutural. Se esta condio no se verificar, aguardar-se- a solidificao completa do material posto anteriormente, aps o que se reiniciar o lanamento do concreto contra a superfcie previamente tratada do concreto endurecido, formando, ento, uma junta de concretagem. Se uma nova poro ou camada de concreto for colocada sobre ou junto a outra camada, lanada anteriormente, que no mais aceita uma revibrao, ocorrer nesta juno uma descontinuidade no elemento concretado, caracterizada por porosidades e segregao dos constituintes do concreto, constituindo, assim, um ponto fraco da estrutura. Diz-se, ento, que se formou uma junta fria (do ingls cold joint). Junta fria , portanto, a unio precria entre duas camadas

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de concreto. Deve ser evitada a todo custo, pois, uma vez formada, no h como consertar satisfatoriamente. 3

4. EXECUO DAS JUNTAS DE CONCRETAGEM Para se ter uma junta de concretagem bem feita, ou seja, para se obter uma boa aderncia entre camadas de concreto de idades diferentes de modo que elas funcionem monoliticamente, deve-se considerar a localizao da junta na estrutura, o estado da superfcie de contacto entre os concretos novo e velho, e o procedimento na colocao do novo material neste ponto.

4.1 - Localizao das juntas na estrutura A ocorrncia deste tipo de junta deve, sempre que possvel, ser prevista no plano de concretagem da obra. Esta junta deve ser localizada onde forem menores os esforos de cisalhamento. Isto significa que, no caso de elementos estruturais sujeitos a flexo, se situaro na parte mediana do vo. satisfatrio localiz- la em um ponto qualquer do tero mdio dos vos das vigas. No caso de lajes, as juntas podem, igualmente, ser executadas nos teros mdios dos dois vos das mesmas. Nas peas comprimidas, como pilares, podem situar-se em qualquer posio. Em todos os casos, porm, as juntas devem-se apresentar segundo planos dispostos, em princpio, perpendicularmente direo das tenses de compresso. Assim, nos pilares, estes planos so horizontais. Nas vigas, o plano que constitui a junta dever ficar perpendicularmente ao eixo da pea, ou seja, direo dos esforos resistentes; o trecho desta seco sujeito a esforos de trao no influi no funcionamento da pea, uma vez que no se leva em conta a resistncia trao do concreto no clculo flexo. Os planos verticais onde se situar a junta de concretagem, como no caso precedente, devem ser executados com o auxlio de formas provisrias, pois o concreto dever ser perfeitamente adensado at a superfcie da junta. Estas formas no precisam ser bem certas, podendo ser feitas de sarrafos justapostos, passando entre as barras das armaduras. Pode-se tambm empregar uma tela de malha fina, presa num quadro rgido feito de barras de ao ou de madeira. Neste caso deve-se evitar o emprego de concreto muito mole junto tela para no haver o escorrimento da pasta atravs da malha por ocasio da vibrao. Estes dispositivos podem ser retirados imediatamente antes do fim da pega para que se possa fazer logo o tratamento da superfcie. No

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No caso de aparecimento de juntas frias o procedimento corrente para reparo seria a remoo de todo o concreto poroso e mal entrosado da regio da junta, seguida de tratamento das superfcies resultantes e colocao de novo concreto, obedecendo a tcnica empregada normalmente nos servios de recuperao estrutural.

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caso da tela, a impresso deixada pela malha na massa de concreto permite a obteno de uma superfcie rugosa propcia a uma boa aderncia nova camada.

4.2 - Estado das superfcies de contacto A qualidade de uma junta depende da qualidade do concreto, e, principalmente, da textura e limpeza da superfcie de contacto. A superfcie do concreto endurecido dever ser rugosa e bem limpa para permitir uma maior aderncia com o novo concreto e assegurar perfeita estanqueidade. Para que esta condio seja alcanada, far-se- o tratamento da junta, o qual consiste, basicamente, num corte do concreto visando a remoo da pasta que cobre superficialmente o agregado mido. A rugosidade aqui referida deve ser ao nvel do agregado mido a profundidade do tratamento no precisa ultrapassar os 5 mm. Isto significa que no necessrio que o corte do concreto alcance e deixe aparente a superfcie dos gros do agregado grado. A melhor junta conseguida com uma superfcie regular, sem apresentar salincias ou reentrncias. Protuberncias e sulcos ou buracos deixados na superfcie do concreto dificultam a execuo de uma boa limpeza como tambm a necessria remoo de toda a gua livre que possa estar na superfcie. Barras cravadas ou redentes deixados na superfcie do concreto, largamente recomendados at por Normas, so desnecessrios e, igualmente, dificultam a execuo de uma boa junta. O tratamento da junta poder ser feito de forma diversa conforme grau de endurecimento do concreto e a sua localizao na estrutura, sendo recomendados os procedimentos apresentados a seguir. a) 1 procedimento: Tratamento antes de completar-se a solidificao do concreto. O corte do concreto da junta poder ser feito antes de completar-se a sua solidificao, portanto, ainda no perodo de pega do cimento, por meio de lavagem da superfcie com jato de gua numa intensidade suficiente para remover apenas a pasta superficial. Este tratamento dever ser feito o mais cedo possvel, aps o incio da pega e logo que o concreto haja endurecido o suficiente para no permitir o deslocamento dos gros dos agregados nesta operao. Isto pode ocorrer entre 4 e 12 horas aps o lanamento do concreto, dependendo da temperatura e de outros fatores que influem na velocidade de hidratao do cimento. Esta operao, quando feita neste perodo, conhecida nas obras por corte verde do concreto.

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Posteriormente, e imediatamente antes de colocar o novo concreto, a superfcie deve tornar a ser limpa com aplicao de novo jato de gua ou de jato de ar para retirar a pelcula superficial de cimento hidratado e carbonatado formada pelo tratamento com gua durante a primeira lavagem, bem como remover quaisquer detritos remanescentes ou materiais estranhos. b) 2 procedimento: Tratamento aps solidificao do concreto. Se a lavagem e limpeza iniciais no forem feitas, por qualquer motivo, e o concreto j estiver em estado mais avanado de endurecimento, o tratamento da rea de contacto dever ser feito, ento, com aplicao de jato de areia seguida de lavagem e secagem superficial. Este procedimento permite eliminar a operao de limpeza inicial, e recomendvel especialmente em obras de grandes massas ou quando existam grandes reas a serem tratadas. utilizado correntemente em obras de recuperao de estruturas quando um concreto antigo necessita ser emendado com novo concreto. c) Outros procedimentos. No caso de obras de concreto armado, como edificaes e obras darte, as pequenas dimenses das peas, a densidade da armadura e a presena das formas podem dificultar o tratamento da superfcie da junta nos modos como foram descritos precedentemente. Nestes casos, se no se pretende uma junta estanque, suficiente, s vezes, limpar a superfcie com escova de ao antes do fim da pega. Deve-se cuidar para que no se desloquem os gros dos agregados durante o escovamento. Se no se fizer este tratamento nesta ocasio, a superfcie do concreto j solidificado dever ser apicoada em toda sua extenso, criando pequenos alvolos e removendo a pasta endurecida que cobre os agregados. Em todos os casos importante que a camada do concreto endurecido tenha sido suficientemente molhada, mas se encontre superficialmente seca imediatamente antes da colocao do novo concreto. Este procedimento essencial quando se deseja uma junta estanque, devendo a molhagem, neste caso, durar vrias horas sem interrupo.

4.3 - Procedimento na colocao do novo concreto No reinicio da concretagem o concreto fresco que ficar em contacto direto com a superfcie tratada dever vencer o efeito de parede, mais acentuado neste ponto devido, principalmente, rugosidade da mesma. Recomenda-se, para tanto, que o concreto das primeiras betonadas aEscola Politcnica

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serem lanadas seja mais argamassado. Esta medida sobretudo importante se o concreto especificado para a obra tem uma relao pedra-areia elevada (superior a 2) ou se ele baixo consumo de cimento (menos de 300 kg por metro cbico de concreto). Isto pode ser conseguido com um trao especialmente estudado para esta situao ou, simplesmente, com o mesmo concreto em cuja composio se suprimiu parte de agregado grado. Em caso de necessidade maior pode-se reduzir a quantidade das pedras at a metade da prevista no trao. Algumas bibliografias recomendam, antes do lanamento do concreto, fazer o espalhamento de uma camada com cerca de dois centmetros de espessura, de argamassa de consistncia e composio idntica da argamassa do concreto. Para tanto este material necessitaria de relao gua-cimento inferior especificada, o que se traduziria por maior resistncia. O inconveniente desta prtica, como se tem observado nas obras, diz respeito ao controle na dosagem desta argamassa que sempre menosprezado quando no esquecido, alm do que s pode ser empregada em juntas horizontais. contra-indicada a utilizao de nata ou pasta de cimento (cimento e gua) para este fim.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 1. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE Manual of Concrete Inspection, USA, 1979, 240 p. 2. ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS NB 1/78 Projeto e Execuo de Obras de Concreto Armado, Procedimento, ABNT-BNH, Rio de Janeiro, 1972. 3. BAUD, G. Manual de Pequenas Construes, Hemus, So Paulo, 1980, 477 p. 4. COUTINHO, A.S. Fabrico e Propriedades do Beto , Volume 1 Laboratrio Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 1973, 610 p. 5. CUNHA, N. L. A Inspeo do Concreto no transporte e lanamento. In: Seminrio sobre Inspeo do Concreto do IBRACON, So Paulo, julho, 1981. 6. DREUX, G. Nouveau Guide du Bton, Eyrolles, Paris, 1976, 292 p. 7. FAURY, J, Le Bton, 3eme edition, Dunod, Paris, 1958, 197 p. 8. MANGEL, S. SEELING, R. Preparacin y Empleo del Hormign, Editorial Gilli, Barcelona, 1976, 175 p. 9. NEVILLE, A.M. Properties of Concrete, 2 nd edition, London, 1973, 444 p. 10. ORCHARD, D.F. Concrete Techonology, Volume 2, 3th edition, London, 1973, 444 p. 11. PETRUCCI, E.G. Concreto de Cimento Portland, 2 edio, Editora Globo, Porto Alegre, 1975, 227 p. 12. BUREAU OF RECLAMATION Concrete Manual, 8th edition, Denver, 1979, 627 p.Escola Politcnica

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