Correio Braziliense 20.12.12
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»GABRIELADEALMEIDA
F oi durante um show, en-quanto cantava Podescrer, que Toni Garridopercebeu que o clima não
andava nada bom. “A gente can-tava uma música que falava so-bre amizade sem olhar um para acara do outro. Como a gente po-dia cantar a amizade se a gentenão estava querendo trocarideia? Perdeu o sentido, não da-va mais”, conta o vocalista do Ci-dade Negra, ao relembrar o mo-mento no qual o grupo decidiuse separar, em 2008. Hoje, feitasas pazes e com os devidos pin-gos nos “is”, Toni Garrido, BinoFarias e Lazão comemoram o re-torno com novo disco, Hei, afro.
Com 13 faixas e mixado na Ja-maica, o álbum foi produzidopelo trio e conta com a participa-ção de Liminha, que retorna aosbastidores do Cidade Negra naversão de When love comes kno-ckin’ (at your door), do The Mon-kees, que virou Ninguém podeduvidar de Jah; e em Don’t wait.
Ensolarado e com a pegada re-ggae que sempre serviu de basepara o seu repertório, o CidadeNegra começa Hei, afro com Eu
fui, voltei, onde pega emprestadoo trecho do hit Downtown paracomemorar o reencontro do gru-po. “Voltei pra te dizer que a coisatá ruim, mas, acredite sim, tudovai melhorar” diz a letra, commuita positividade, entre mensa-gens de paz e igualdade racial.
Depois de três anos sem se es-barrar em lugar nenhum, os inte-grantes resolveram as pendênciasem longos telefonemas e decidi-ram retomar os trabalhos. O novodisco mal chegou e já promete po-lêmica com Ignorius man, que ver-sa sobre o papel da religião frente
ao Estado. “A música já nos cau-sou umas pedradas interessan-tes, mas a gente fez sabendo dis-so. O Estado tem que ser laicoporque o contrário disso significaguerra. É um toque para que asreligiões parem de interferir”, ex-plica Toni, que durante a carreirasolo fez duas novelas, um filme,produziu um disco e atuou emcomerciais.
O motivo do título Hei, afro, éum grito de atenção para o conti-nente africano. “Todo mundotem que se voltar para lá. É umdos lugares do planeta que maissofrem em vários sentidos, comgenocídio, devastação, lixo nu-clear, regimes ditatoriais. Nãoqueremos focar no racialismo,mas sim na África humana queexistem cada um. É uma questãode humanização”, reflete Toni.
O novo álbum traz tambémoutro conceito de turnê. O grupocomeçou a fazer o show quandoo CD era embrionário, e agorapromete um show “sustentável”.“Nosso ônibus vai funcionar combiodiesel e as pessoas receberãosacos biodegradáveis para acu-mular o próprio lixo. Essas são sóalgumas ações, mas vamos fazermuito mais”, adianta o vocalista.
CidadeNegra:banda comemorareencontro como
álbumHei, afro,queinclui a polêmica
Ignoriusman
C M Y KCMYK
Diversão&arte • Brasília, quinta-feira, 20 de dezembro de 2012 • CORREIO BRAZILIENSE • 3
EnsolaradaCidadeNegra
MÚSICA
Depois da separação em 2008, grupo volta à estradacom um discomixado na Jamaica e que flerta com a África
www.correiobraziliense.com.br
OuçaMemória da flor,com Júnior Almeidae NeyMatogrosso.
UmaforçaparaEvandroBarcelos» IRLAM ROCHA LIMA
Quem vê Evandro Barcelos co-mandando a roda de choro doMercado Municipal todos os sá-bados, a partir das 14h, talvez nãoimagina que o mestre do violão edo cavaquinho há quatro anos sesubmete ao tratamento de hemo-diálise. Ultimamente, ele locomo-ve-se com dificuldade, devido auma artrose — decorrente da he-modiálise — que compromete oligamento entre o fêmur e a bacia.Em breve, Evandro vai se subme-ter a implante de uma prótese naregião afetada. Sábado, artistasbrasilienses, liderados por Eugê-nio Monteiro e Célia Rabello, fize-ram um show no Clube do Choro,com renda revertida para o músi-co. Na oportunidade foi anuncia-do o número da conta no Bancodo Brasil, em que podem ser feitasdoações destinadas ao tratamen-to do instrumentista. A agência é a2887-8, a conta-corrente, 3496-7.
No mesmo dia, foi inauguradaplaca, na sala nº 1 da Escola Bra-sileira de Choro Raphael Rabello,com o nome de Evandro Barce-los, que contou com a presença
de familiares, companheirosde ofício e admiradores. Recodo Bandolim, presidente doClube do Choro, fez questão deressaltar a importância do vio-lonista para a entidade, da qualé um dos fundadores.
Carioca de nascimento, Evan-dro veio morar em Brasília com afamília aos 3 meses de nascimen-to. Cresceu no meio musical e aos13 anos já participava de serestas.A carreira profissional teve inícioem 1975, ao fundar o grupo ins-
trumental Chorando pelos De-dos. Dois anos depois criou oconjunto Primas e Bordões, quese apresentava no Clube do Sam-ba, noTeatro Galpão.
Evandro recebeu convite deElzaSoares para integrar sua ban-da e com a cantora trabalhou porum ano e meio. “Na época ela es-tava morando no Recife”, lembrao violonista. “Em 1985 fui para oRio de Janeiro e passei a integrara banda de Dona Ivone Lara. To-cava, também, com Jorge Aragão,Noca da Portela e no grupo queacompanhava os artistas partici-pantes do projeto Seis e Meia, noTeatro Carlos Gomes”, conta.
De volta à capital, em 1991, re-tornou ao Coisa Nossa, grupo doqual foi um dos fundadores; epassou a atuar como produtor dediscos. “Produzi algo em torno de300 discos, a maioria de artistasbrasilienses”. Sempre muito ati-vo, Evandro liderou o Samba &Choro, que revelou o sambistaMakley Matos. Foi ele, tambémquem dirigiu a banda que acom-panhou a cantora Dhi Ribeiro, nagravação do primeiro CD dela enos shows de lançamento.
CAMPANHA
» ROSUALDORODRIGUES
O alagoano Júnior Almeida es-tá envolvido com a música hámais de 20 anos e já tocou de For-talezaaSantaMaria, no Rio Gran-de do Sul. Mas, depois de trêsdiscos gravados, essa trajetóriatomou novo fôlego no dia emque ele resolveu ir ao camarimde Ney Matogrosso, na passa-gem da turnê Inclassificáveis porMaceió, e aproveitou para entre-gar ao cantor o registro de algu-mas de suas composições.
Ney gostou de A cor do desejo ea gravou no CD/DVD Beijo bandi-do. “Passei a ser percebido por ou-tras pessoas, outros intérpretes.Mesmo para os que já conheciammeu trabalho, o fato de Ney gravarterminou servindo como certoatestado de qualidade”, admite ocantor e compositor, que hoje
mantém com o colega uma rela-ção que mistura “gratidão, admi-ração, respeito e carinho.”
Isso deu espaço para que Jú-nior chamasse Ney para cantarcom ele Memória da flor, músi-ca-título de seu quarto disco —na verdade, o primeiro, Transpa-rências, foi registrado somenteem cassete, em 1993. “Ney é umartista maravilhoso e produtivoque, apesar das demandas, en-contra tempo e espaço para,através de seu talento, chamara atenção das pessoas sobretrabalhos de artistas ainda nãoconhecidos. Coisa rara de sever”, elogia Júnior Almeida.
Quem também se encantoucom as criações do alagoano foiMart’nália. “Ela me pediu umasmúsicas e eu enviei várias. A pró-pria Mart’nália escolheu três epassou para o Djavan (produtor
do mais recente disco dela, Nãotente compreender), que escolheuOs sinais”, conta. Para Júnior, a vi-sibilidade implicou evolução tam-bémnaqualidadedoqueelecom-põe: “Acho que é normal que vocêqueira fazer mais e melhor depoisde ver sua música gravada por umícone da música brasileira”.
SonoridadeA prova dos nove pode ser tira-
da em Memória da pele, o primei-rodoartistaa tercirculaçãonacio-nal, graças à parceria com o seloMP,BecomagravadoraUniversal.Das 10 faixas autorais — oito par-cerias, duas criações solo —, so-mente Tal sol, tal homem, tal Ma-ria e Ser-te-ei teu não são criaçõesrecentes. O novo álbum tambémdifere dos demais, segundo Jú-nior, pela sonoridade mais madu-
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HEI,AFRONovo disco do Cidade Negra.Produção de Toni Garrido,Bino Farias e Lazão, comparticipação de Liminha.Som Livre, 13 faixas. R$ 19,90.
SomLivre/Divulgação
Memóriada florDisco do cantor ecompositor alagoanoJúnior Almeida.Dez faixas, produzidaspor Fernando Nunes.Lançamento MP,B/Universal.Preçomédio: R$ 28.
MPB/Universal/Divulgação
Veterano revelação
ra (“na busca de um conceito queexpressasse da melhor forma ossentimentos e a minha maneirade ver o mundo”) e pela qualidadedaprodução(“comoalgomarcan-te e necessário no desenvolvi-mento do projeto”). Produção as-sinadaporFernandoNunes(“mú-sico alagoano que hoje toca com oZeca Baleiro”), em adição à dire-
ção artística feita em parceria porJúnior e Sue Chamusca.
No repertório Tal sol, tal ho-mem,talMaria (antiga,masnun-ca gravada) e O presente sãoamostras da criação solitária deJúnior Almeida. “Quando assinosozinho uma canção, geralmenteme chegam a música e a letra aomesmo tempo”, destaca.
Para Júnior, a visibilidade trouxe evolução à qualidade de suasmúsicas
Antônio Fon/Divulgação
Nana
Moraes/Divulgação
Barcelos: uma longa trajetória commestres damúsica brasileira
Lucia Leao/Divulgacao - 7/3/09