Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário...

42
março 2011 l correio APPOA .1 editorial. O verbo conjugado com o carnaval já foi, não por acaso, o brincar. No passado, “brincava-se carnaval”, em uma alusão direta ao infantil e à fantasia. “Mamãe, eu quero mamar” entoava a música também reme- morativa da infância. O carnaval chegou ao Brasil por volta do século XVII, sob influência das festas carnavalescas da Europa. Na Itália e França, a festa consistia em desfiles urbanos, nos quais os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a Colombina, o Pierrô e o Rei Momo tam- bém foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de ori- gem européia. No Brasil, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os corsos. Nestes últimos, a brincadeira consistia no desfile de carruagens enfeitadas – e, posteriormente, de au- tomóveis sem capota –, repletos de foliões. Ao se cruzarem, os grupos fantasiados, ocupantes dos veículos, lançavam uns nos outros, confetes, serpentinas e esguichos de lança-perfume. Os corsos deram origem aos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. No século XX, o carnaval foi se tornando cada vez mais popular no Brasil. As marchinhas carnavalescas ajudaram no engrandecimento da festa, deixando-a cada vez mais animada.

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Page 1: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.1

edito

rial.

O verbo con

jugad

o com o carn

aval já foi, não p

or acaso, o brincar.

No p

assado, “brin

cava-se carnaval”, em

um

a alusão d

ireta ao infan

til eà fan

tasia. “Mam

ãe, eu qu

ero mam

ar” entoava a m

úsica tam

bém rem

e-

morativa d

a infân

cia.O

carnaval ch

egou ao B

rasil por volta d

o século X

VII, sob in

fluên

cia

das festas carn

avalescas da E

urop

a. Na Itália e Fran

ça, a festa consistia

em d

esfiles urban

os, nos qu

ais os carnavalescos u

savam m

áscaras e

fantasias. Person

agens com

o a Colom

bina, o P

ierrô e o Rei M

omo tam

-bém

foram in

corporad

os ao carnaval brasileiro, em

bora sejam d

e ori-

gem eu

ropéia.

No B

rasil, no fin

al do sécu

lo XIX

, começam

a aparecer os p

rimeiros

blocos carnavalescos, cord

ões e os corsos. Nestes ú

ltimos, a brin

cadeira

consistia n

o desfile d

e carruagen

s enfeitad

as – e, posteriorm

ente, d

e au-

tomóveis sem

capota –, rep

letos de foliões. A

o se cruzarem

, os grup

osfan

tasiados, ocu

pan

tes dos veícu

los, lançavam

un

s nos ou

tros, confetes,

serpen

tinas e esgu

ichos d

e lança-p

erfum

e. Os corsos d

eram origem

aoscarros alegóricos, típ

icos das escolas d

e samba atu

ais.

No sécu

lo XX

, o carnaval foi se torn

and

o cada vez m

ais pop

ular n

o

Brasil. A

s march

inh

as carnavalescas aju

daram

no en

grand

ecimen

to da

festa, deixan

do-a cad

a vez mais an

imad

a.

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l co

rre

io A

PP

OA

.3

notíc

ias.

co

rre

io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

2.

edito

ria

l.

Freud

, no artigo d

e 1908 “O criad

or literário e a fantasia”, já estabe-

lecera a relação entre a brin

cadeira e a fan

tasia, ao referir o brincar da

criança com

o a prim

eira man

ifestação da fan

tasia, precu

rsora da ativi-

dad

e imagin

ativa.

“Fantasia é u

m troço qu

e o cara tira no carn

aval” diz João B

osco,

brincan

do com

os conceitos.

Pois na A

PP

OA

, mesm

o dep

ois do carn

aval, não aban

don

aremos a

fantasia, ao con

trário, a temática d

o infan

til e do fan

tasma n

orteará o

trabalho d

o prim

eiro semestre d

o ano.

A Jorn

ada d

e Abertu

ra sobre o infan

til na Psican

álise iniciará o d

e-

bate, na p

erspectiva qu

e o infan

til não se atem

à cronologia d

o início d

a

vida, e sim

se estend

e à estrutu

ra psíqu

ica do su

jeito que, m

esmo qu

e

constitu

ída n

a infân

cia, perm

anece vigen

te também

no ad

ulto. E

xiste,

assim, u

m in

fantil n

o psiqu

ismo qu

e não se d

issolve com a in

fância,

embora ela seja su

a matriz.

O “R

elend

o Freud

”, em m

aio, dará con

tinu

idad

e à discu

ssão atráves

do texto d

e 1919, “Um

a criança é esp

ancad

a”, ou n

a tradu

ção mais ju

sta:

“Bate-se n

um

a criança”. N

este, Freud

dá en

sejo a ind

agações plu

rais, como

por exem

plo: qu

al a origem d

a perversão? Q

uais as im

plicações en

tre dor,

prazer, gozo e am

or? Em

que m

edid

a a fantasia d

e espan

camen

to é

constitu

tiva do su

jeito? Qu

al a fun

ção do p

ai no fan

tasiar? Qu

ais as dife-

renças en

tre as fantasias fem

inin

as e as mascu

linas? Q

uais os estatu

tos

do bater: am

or, pu

nição, gozo ou

fun

ção patern

a? Trata-se d

e sadism

o ou

masoqu

ismo?

Até d

epois d

o carnaval, m

as aind

a sobre a fantasia e o in

fantil.

Arg

um

en

to J

orn

ad

a d

e A

be

rtura

20

11

O in

fan

til na

Psic

an

ális

e

O in

fantil está n

o cerne d

a psican

álise, ond

e se instala m

uito além

da

cronologia d

o início d

a vida, esten

den

do-se à estru

tura p

síquica d

o sujei-

to que, m

esmo con

stituíd

a na in

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erman

ece vigente n

o adu

lto.

Existe, assim

, um

infan

til no p

siquism

o que n

ão se restringe n

em se d

is-

solve com a in

fância, em

bora encon

tre nesta su

a matriz.

Com

o um

mín

imo en

redo p

rét-à-p

orter, o su

jeito porta con

sigo um

a

matriz com

a qual in

terpreta os even

tos da vid

a, sejam eles cotid

ianos

e desp

retensiosos, ou

pon

tualm

ente cru

ciais. Com

a psican

álise, expe-

rienciam

os a possibilid

ade d

e abrir e desarticu

lar as vicissitud

es dessa

matriz en

gend

rada n

a repetição.

A Jorn

ada d

e Abertu

ra da A

PP

OA

em 2011 p

retend

e ind

agar a infân

-

cia como fu

nd

adora d

o sujeito e d

as marcas qu

e constitu

em su

a erótica e

seu sofrim

ento, qu

e perm

anecem

para além

desse p

rimeiro tem

po. Para

isso, é fun

dam

ental abord

ar a infân

cia prop

riamen

te dita a p

artir de qu

es-

tões presen

tes na clín

ica.

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PP

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.5

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

co

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io A

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11

4.

notíc

ias.

O qu

e a partir d

a voz, desd

e o grito e a fúria até o ron

ronad

o cari-

nh

oso, incid

e na m

atriz simbólica d

o sujeito? Q

uan

do u

ma crian

ça, um

adolescen

te, ou u

m ad

ulto está em

análise, qu

ais os infan

tis em jogo além

do d

ele próp

rio: o dos p

ais, o do an

alista? Com

o eles se enlaçam

per-

mitin

do e oferecen

do resistên

cia à análise? Q

uais são as con

dições p

ara o

fim d

e análise com

crianças? Q

ual o lu

gar das p

ulsões n

a travessia da

fantasia e d

a cura? Fan

tasiar é privilégio d

o infan

til? A fan

tasia é marca

da in

fância n

a vida ad

ulta? Q

uais efeitos d

o fantasiar n

a neu

rose? O qu

e

as relações de violên

cia nos d

izem sobre o in

fantil d

a atualid

ade?

09

/04

/20

11

Man

09h30m

in – A

bertura

10h – “In

fância d

a fantasia” – D

iana M

yriam Lich

tenstein

Corso – M

em-

bro da A

PP

OA

Intervalo

“Notas d

o infan

til” – Heloisa H

elena M

arcon – M

embro d

a AP

PO

A

Tarde

15h – “In

fantil eu

?” Maria Lu

cia Mu

ller Stein

– Mem

bro da A

PP

OA

Intervalo

“Violên

cia e agressividad

e na in

fância” – A

lfredo N

estor Jerusalin

sky

– Mem

bro da A

PP

OAQ

uad

ro d

e E

nsin

o 2

011

Eix

o d

e tra

ba

lho

do

an

oE

nc

on

tros d

e e

stu

do

do

Se

min

ário

O A

to P

sic

an

alític

o,

de

Ja

cq

ue

s L

ac

an

Coord

enação: C

arlos Kessler, E

ster Trevisan

, Fernan

da Pereira B

reda e

Mario C

orso.

Qu

intas-feiras, 21h

, reun

iões quin

zenais, gratu

itas e abertas aos inte-

ressados.

As p

rimeiras reu

niões terão com

o leitura o texto d

e Freud

“Um

a criança

é espan

cada”: u

ma con

tribuição ao estu

do d

a origem d

as perversões

sexuais (1919), d

o volum

e XV

II.

Sem

inário

s

Clín

ica

psic

an

alític

a n

a c

on

tem

po

ran

eid

ad

e

Coord

enação: R

osane R

amalh

o

Segu

nd

a-feira, 20h30m

in, m

ensal. In

ício: 28 de m

arço.

Estu

do

do

Sem

iná

rio O

Sin

tho

ma

Coord

enação: A

dão C

osta

Segu

nd

a-feira, 10h, sem

anal. In

ício em m

arço (Pode ser acom

pan

had

o

por vid

eoconferên

cia).

La

ca

n e

s

Coord

enação: Ligia V

ictora

Sexta-feira, 18h

15 às 20h15, qu

inzen

al (2ª e 4ª sextas-feiras do m

ês). Iní-

cio: 8 d

e abril.

Os v

inte

co

nceito

s fun

da

men

tais d

e L

aca

n

Coord

enação: A

lfredo Jeru

salinsky

Qu

arta-feira, 20h30m

in, qu

inzen

al (1ª e 3ª quartas-feiras d

o mês).

Ad

ole

scên

cia

Coord

enação: Ied

a Prates d

a Silva e Â

ngela B

ecker

Sábad

o, 10h, m

ensal, em

Novo H

ambu

rgo.

Ato

An

alític

o: su

as in

cid

ên

cia

s clín

ica

s e n

o la

ço

socia

l

Coord

enação: A

na C

osta, Maria C

ristina Poli, R

osane R

amalh

o

Dia e h

orário a serem d

efinid

os. Rio d

e Janeiro. In

ício em m

aio.

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.7

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

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OA

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11

6.

notíc

ias.

A P

sica

lise n

a c

línic

a c

om

cria

nça

s

Coord

enação: A

lfredo Jeru

salinsky

Bim

ensal, em

Bu

enos A

ires.

A P

sico

ssom

átic

a n

a In

terd

iscip

lina

e T

ran

sdisc

iplin

a

Coord

enação: Jaim

e Betts

Sábad

o, 10h, m

ensal, em

Novo H

ambu

rgo.

As trê

s ep

istem

es fu

nd

am

en

tais d

e L

aca

n

Coord

enação: A

lfredo Jeru

salinsky

Men

sal, em S

ão Paulo.

Pro

ble

ma

s da

Clín

ica

psic

an

alític

a

Coord

enação: A

lfredo Jeru

salinsky

Sábad

o, 17h30, m

ensal, em

São Pau

lo.

Sem

iná

rios C

línic

os

Coord

enação: Lu

is Fernan

do Lofran

o de O

liveira, Silvia R

aimu

nd

i Ferreira

e Voln

ei An

tônio D

assoler

Sábad

o pela m

anh

ã (data a com

binar), bim

ensal, em

San

ta Maria – R

S.

Início em

Março.

Gru

po

s T

em

átic

os

A c

on

stituiç

ão

do

suje

ito

Coord

enação: C

armen

Backes

Sexta-feira,10h

30min

, quin

zenal. In

ício em m

arço.

As fo

rma

çõ

es d

o in

co

nsc

ien

te

Coord

enação: G

erson S

miech

Pin

ho

Sexta-feira, 16h

15min

, quin

zenal. (2ª e 4ª sextas-feiras d

o mês). In

ício:

18 de m

arço.

Clín

ica

psic

an

alític

a: a

lgu

ns c

on

ceito

s fun

da

men

tais

Coord

enação: C

armen

Backes

Sexta-feira, 14h

30min

, quin

zenal. In

ício em m

arço.

Co

ntrib

uiç

ões d

a P

sica

lise à

Ed

uca

çã

o

Coord

enação: A

idê D

econte

Segu

nd

a-feira, 14h, qu

inzen

al. Início em

abril.

Fem

inin

o e

fem

inilid

ad

e: a

tua

lida

de c

línic

a d

e u

m m

al-e

star

Coord

enação: Liz N

un

es Ram

os e Maria R

osane Pereira

Segu

nd

a-feira, 10h, qu

inzen

al.

Histó

rias d

a P

sica

lise

Coord

enação: A

na M

aria Gageiro e M

aria Lúcia M

. Stein

Segu

nd

a-feira, 20h, qu

inzen

al. Início em

abril.

Inco

nsc

ien

te e

tran

sferê

ncia

Coord

enação: A

dão C

osta

Segu

nd

a-feira, 8h30, qu

inzen

al. Início em

março. (Pod

e ser acomp

anh

ado

por vid

eoconferên

cia)

Lite

ratu

ra e

Psic

an

álise

Coord

enação: M

arieta Mad

eira

Qu

arta-feira, 19h, m

ensal (3ª qu

arta-feira do m

ês). Início: 16/03.

Perc

urso

pela

fan

tasia

em

Freu

d e

La

ca

n

Coord

enação: Fern

and

a Pereira Bred

a

Sexta-feira, 14h

, men

sal. Início em

abril.

Psic

an

álise

e M

úsic

a

Coord

enação: H

eloisa Marcon

Segu

nd

a-feira, 19h30, qu

inzen

al.

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.9

Crô

nic

as

de

Ca

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l.

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OA

l ma

rço

20

11

8.

notíc

ias.

Tem

po

s do

suje

ito: e

stud

os so

bre

a c

on

stituiç

ão

Psíq

uic

a

Coord

enação: A

na Lau

ra Gion

go e Maria Lú

cia Stein

Segu

nd

a-feira, 20h30, qu

inzen

al. Início em

abril.

A in

fân

cia

e a

Clín

ica

Psic

an

alític

a

Coord

enação: Ied

a Prates d

a Silva e Larissa C

osta B. S

cherer

Terça-feira, 19h30, qu

inzen

al, em N

ovo Ham

burgo. In

ício em m

arço.

A c

on

stituiç

ão

do

suje

ito e

as e

strutu

ras c

línic

as

Coord

enação: Lu

ciane Loss Jard

im

Sextas-feiras, d

as 10h30 às 12h

, seman

al, em C

amp

inas – S

P. Início em

fevereiro.

An

alisa

r um

a c

rian

ça

: co

nstitu

içã

o su

bje

tiva

e c

línic

a d

a in

fân

cia

Coord

enação: M

ercês Gh

azzi e Siloé R

ey

Sábad

o, 14h, qu

inzen

al, em O

sório. Início em

março.

Sábad

o, 16h30, qu

inzen

al, em O

sório. Início em

março.

A P

sica

lise e

nq

ua

nto

disp

ositiv

o c

línic

o n

o c

on

tex

to p

sico

ssocia

l

Coord

enação: V

olnei A

nton

io Dassoler

Sábad

o, às 9h, m

ensal, em

San

ta Maria – R

S. In

ício: 27 de m

arço.

Co

mo

na

sce u

m su

jeito

? A in

fân

cia

em

seu

s prim

órd

ios

Coord

enação: S

imon

e Mäd

ke Bren

ner

Qu

inta-feira, 2

0h

, men

sal, em N

ovo H

amb

urgo (2

ª quin

ta-feira do

mês).

Co

nceito

s fun

da

men

tais d

a P

sica

lise

Coord

enação: R

osane R

amalh

o

Terça-feira, 18h15, qu

inzen

al, no R

io de Jan

eiro. Início: 15 d

e março.

Diá

logo

s en

tre P

sica

lise e

Arte

: o o

lha

r

Coord

enação: S

ílvia Raim

un

di Ferreira

Terça-feira, 19h, qu

inzen

al, em S

anta M

aria – RS

. (Prim

eira e terceira

terça-feira do m

ês) Início: 15 m

arço.

Fu

nd

am

en

tos d

a P

sica

lise L

aca

nia

na

: teo

ria e

clín

ica

Coord

enação: M

ariann

e Stolzm

ann

Men

des R

ibeiro

Segu

nd

a-feira, 19h30, m

ensal, em

Novo H

ambu

rgo. Início em

abril.

Osc

aso

s clín

ico

s de Fre

ud

e o

s co

nceito

s fun

da

men

tais d

a P

sica

lise

Coord

enação: Lu

ciane Loss Jard

im

Terças-Feiras, 8h, sem

anal, em

Cam

pin

as – SP. In

ício em fevereiro.

Gru

po

s te

xtu

ais

A d

ireçã

o d

o tra

tam

en

to n

a C

línic

a P

sica

na

lítica

co

m a

perv

ersã

o

Coord

enação: N

orton C

. da R

osa Jr

Sexta-feira, 14h

, quin

zenal. In

ício: 11 de m

arço.

Estu

do

do

Sem

iná

rio A

s Psic

ose

s, de Ja

cq

ues L

aca

n

Coord

enação: O

távio Au

gusto W

inck N

un

es

Qu

arta-feira, 12h30, qu

inzen

al. Início: 23/03.

Sem

iná

rio X

IV, d

e L

aca

n: A

gic

a d

o Fa

nta

sma

Coord

enação: M

aria Au

xiliadora S

üd

brack

Sextas-feiras, 16h

, seman

al.

Sem

iná

rio X

VI, d

e L

aca

n: D

e u

m O

utro

ao

ou

tro

Coord

enação: M

aria Au

xiliadora S

üd

brack

Qu

inta-feira, 14h

, quin

zenal.

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l co

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io A

PP

OA

.11

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

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OA

l ma

rço

20

11

10.

notíc

ias.

Ca

so S

ch

reb

er, d

e Fre

ud

Coord

enação: A

na C

lair F. Mu

naretto

Sem

anal, em

Man

aus – A

M. In

ício: Fevereiro.

Esc

ritos, d

e Ja

qu

es L

aca

n

Coord

enação: Lu

is Fernan

do L. d

e Oliveira

Qu

arta-feira, 20h, qu

inzen

al, em S

anta M

aria. Início em

março.

Len

do

Jaq

ues L

aca

n

Coord

enação: O

távio A. W

inck N

un

es e Siloé R

ey

Sábad

o, 14h, m

ensal, em

Criciú

ma.

Sem

iná

rio X

V d

e L

aca

n: O

Ato

An

alític

o

Coord

enação: C

harles E

lias Lang e A

na S

ílvia Esp

ig Lang

Qu

intas-feiras, 19h

30, seman

al, em M

aceió – AL. In

ício em fevereiro.

“Psic

ose

, au

tismo

e fa

lha

go

cn

itiva

”, de J. B

erg

ès e

G. B

alb

o

Coord

enação: A

na C

lair F. Mu

naretto

Sem

anal, em

Man

aus – A

M. In

ício: Fevereiro.

Sem

iná

rio X

– A

An

stia, d

e L

aca

n

Coord

enação: S

idn

ei Gold

berg

Qu

arta-feira, 10h30, qu

inzen

al, em S

ão Paulo.

Qu

arta-feira, 20h30, qu

inzen

al, em S

ão Paulo.

cle

os d

e e

stu

do

cleo d

as p

sicoses: a

presen

taçã

o d

e pa

cientes (co

m A

lfredo

Jerusa

linsk

y)

Resp

onsáveis: E

ster Trevisan

, Maria Â

ngela B

ulh

ões, Mário C

orso, Nilson

Sibem

berg e Rosan

e Ram

alho

Ativid

ade em

conju

nto com

o Cais M

ental C

entro

Datas a con

firmar.

cle

o d

e P

sica

lise d

e c

rian

ça

s

Sábad

o, 10h, reu

niões m

ensais (2º sábad

o do m

ês).

Resp

onsáveis: A

na Lau

ra Gion

go, Beatriz K

auri d

os Reis, E

da Tavares,

Gerson

Sm

iech P

inh

o, Ieda P

rates da S

ilva, Maria Lú

cia Stein

e Sim

one

Mäd

ke Bren

ner.

cle

o p

assa

gen

s – S

uje

ito e

Cu

ltura

Resp

onsáveis: A

na C

osta, Ed

son S

ousa e Lu

cia Serran

o Pereira

Datas a con

firmar. A

tividad

e integrad

a ao Institu

to AP

PO

A.

Ofic

ina

s

To

po

logia

Coord

enação: Ligia V

íctora

Sábad

o, 10h, sem

estral.

Le

traviv

a

Ativid

ade d

a Com

issão da B

iblioteca, com leitu

ra e discu

ssão de traba-

lhos elaborad

os por colegas d

a AP

PO

A.

Sem

estral.

Sa

rau

Sa

rau

Fre

ud

e o

s esc

ritore

s – L

eitu

ra p

oétic

a d

e p

oem

as e

pen

sam

en

tos

do

s esc

ritore

s pre

cu

rsore

s de F

reu

d

Coord

enação: Len

ira Balbu

eno Fleck

Datas: 17/04, 19/06, 21/08 e 16/10, d

omin

gos, 17h. N

a Livraria Cu

ltura,

Porto Alegre.

Page 7: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.13

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

co

rre

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OA

l ma

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20

11

12.

notíc

ias.

Ativ

ida

de

s d

o In

stitu

to A

PP

OA

Clín

ica

, Inte

rve

ão

e P

esq

uis

a e

m P

sic

an

ális

e

Lin

ha

s d

e tra

ba

lho

Incid

ên

cia

s sub

jetiv

as e

socia

is da

s mu

da

nça

s de p

aís, lín

gu

a e

cu

ltura

Coord

enação: A

na C

osta e Jaime B

etts

En

contros n

a 1ª quarta-feira d

e cada m

ês, 20h.

O d

ese

jo d

o a

na

lista n

as p

rátic

as in

stitucio

na

is

Coord

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arlos Kessler, Liz R

amos e S

iloé Rey

Reu

niões a com

binar.

Pa

ssagen

s: suje

ito e

cu

ltura

Coord

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cia Serran

o Pereira e Robson

de Freitas Pereira

En

contros a com

binar.

Psic

an

álise

, Po

lítica

s Pú

blic

as e

Sa

úd

e M

en

tal

Coord

enação: E

ster Trevisan

, Norton

C. d

a Rosa Jr, Tatian

e Vian

na

En

contros n

o 3º sábado d

e cada m

ês, 10h.

Psic

an

álise

e Ju

stiça

Coord

enação: E

du

ardo M

end

es Ribeiro, M

árcia Ribeiro

En

contros a com

binar.

Se

min

ário

s

A fic

çã

o n

a P

sica

lise: Fre

us, L

aca

n e

os e

scrito

res

Coord

enação: Lu

cia Serran

o Pereira

Sábad

o,10h, m

ensal.

Datas: 22/05, 26/06, 28/08, 25/09 e 23/10.

Clin

ica

nd

o

Coord

enação: A

na C

osta

Sábad

o, 10h, m

ensal (1° sábad

o do m

ês). Início em

abril.

O D

ivã

e a

Tela

Coord

enação: E

néas d

e Sou

za e Robson

de Freitas Pereira

Sexta-feira, 19h

, men

sal. Início em

abril.

Datas: 15/04, 20/05, 17/06, 15/06, 19/08, 16/09, 21/10 e 18/11

Os Q

ua

tro D

iscu

rsos –

um

a le

itura

do

Sem

iná

rio 1

7: O

Av

esso

da

Psic

a-

lise, d

e L

aca

n

Coord

enação: M

aria Cristin

a Poli e Sim

one M

oschen

Rickes

En

contros a com

binar.

Ro

da

s d

e c

on

ve

rsa

Psic

an

álise

e Ju

stiça

Coord

enação: E

du

ardo M

end

es Ribeiro e M

árcia Ribeiro

En

contros a com

binar.

Ro

da

s de c

on

versa

co

m o

Sim

pro

Coord

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oséli Cabistan

i

En

contros bim

ensais.

Ro

da

s de c

on

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co

m a

Esc

ola

de S

de P

úb

lica

Coord

enação: E

ster Trevisan

, Marta C

onte, N

orton C

. da R

osa Jr e

Tatiane V

iann

a

En

contros a com

binar.

Page 8: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

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io A

PP

OA

.15

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

co

rre

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PP

OA

l ma

rço

20

11

14.

notíc

ias.

Gru

po

s T

em

átic

os

A P

rátic

a A

na

lítica

na

s Institu

içõ

es

Coord

enação: C

lara Von

Hoh

end

orff

Qu

inzen

al, em B

lum

enau

– SC

.

Cu

ida

do

à P

rimeira

Infâ

ncia

: Psic

an

álise e

Inte

rven

çã

o

Coord

enação: In

ajara Am

aral e Ren

ata Alm

eida

Segu

nd

a-feira, 20h30m

in, qu

inzen

al. Início: 14 d

e março.

Lid

era

nça

e p

od

er n

as re

laçõ

es d

e tra

ba

lho

: um

a le

itura

psic

an

alític

a

Coord

enação: R

osana C

oelho

Qu

arta-feira, 19h30m

in, qu

inzen

al. Início: 13/04.

Ofic

ina

s

Diá

logo

s sob

re a

s co

mp

lexa

s faceta

s da

ex

clu

são

Coord

enação: S

and

ra Torossian e Jan

ete Nu

nes S

oares

Qu

inta-feira, 19h

, men

sal. (2° quin

ta-feira do m

ês)

Exe

rcíc

ios c

línic

os

Ativ

ida

de a

os sá

ba

do

s pela

ma

nh

ã.

En

contros a com

binar.

Prin

cip

ais

eve

nto

s d

o a

no

Jorn

ad

a d

e a

bertu

ra - O

infa

ntil n

a P

sica

lise

Data: 09 d

e abril

Local: Hotel P

laza São R

afael - Porto Alegre/R

S

Co

lóq

uio

de c

on

verg

ên

cia

– G

ozo

e A

to

Co

mitê

de E

nla

ce R

egio

na

l Bra

sil

Data: 13 e 14 d

e maio

Local: Fecomércio – Florian

ópolis/S

C

Rele

nd

o Fre

ud

e c

on

versa

nd

o so

bre

a A

PP

OA

Data: 27 a 29 d

e maio

Local: Villa B

ella Gram

ado H

otel - Gram

ado/R

S

Co

lóq

uio

de c

on

verg

ên

cia

– C

om

itê d

e E

nla

ce G

era

l

Data: 3 a 5 d

e jun

ho

Local: Bu

enos A

ires - AR

Jorn

ad

a d

o In

stituro

AP

PO

A

Data: 30 d

e setembro, 01 e 02 d

e outu

bro

Local: Ritter H

otéis - Porto Alegre/R

S

Pe

rcu

rso

de

Esc

ola

Tu

rma

X

Qu

into sem

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sferência

Sexto sem

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ciais da Psican

álise

Tu

rma

XI

Terceiro semestre: N

arcisismo e id

entificação

Qu

arto semestre: S

intom

a

O D

ivã

e a

Te

la – c

iclo

2011 – film

es e

da

tas

Os coord

enad

ores do sem

inário O

Divã e a Tela ap

resentam

os filmes qu

e

serão discu

tidos ao lon

go deste an

o.

Page 9: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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20

11

16.

notic

ias.

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20

11

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OA

.17

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Ativid

ade acon

tece semp

re às sex

tas-fe

iras, a

pa

rtir da

s 19

ho

ras, n

a

sede d

a AP

PO

A, com

coorden

ação de E

neas d

e Sou

za e Robson

Pereira e

a presen

ça de con

vidad

os.

Abril – d

ia 15 – Trop

a d

e Elite II, d

ir. José Padilh

a

Maio – d

ia 20 – Am

arco

rd, dir. Fed

erico Fellini

Jun

ho – d

ia 17 – O o

vo

da

serpen

te, dir. In

gmar B

ergman

n

Julh

o – dia 15 – G

ilda

, dir. C

harles V

idor

Agosto – d

ia 19 – A p

rimeira

gina

, dir. B

illy Wild

er

Setem

bro – dia 16 – O

discu

rso d

o rei, d

ir. Tom H

ooper

Ou

tubro – d

ia 21 – Assa

ssina

to em

Go

sford

Pa

rk, dir. R

obert Altm

an

V C

on

gre

sso

Inte

rna

cio

na

l da

Co

nve

rgê

nc

ia/2

012

Já começaram

os trabalhos p

ara a organização d

o congresso O

ato

psica

na

lítico: su

as in

cidên

cias clín

icas, p

olítica

s e socia

is, prom

ovido p

ela

Con

vergência –

Movim

ento Lacan

iano p

ara a Psicanálise Freu

dian

a. O

encon

tro, sediad

o pela A

PP

OA

, irá reun

ir no H

otel Plaza S

ão Rafael n

os

dias 22, 23 e 24 d

e jun

ho d

e 2012 institu

ições psican

alíticas das A

méri-

cas, da E

urop

a e da Á

sia. Du

rante este p

eríodo, serão d

iscutid

os os temas

mais atu

ais da p

sicanálise, os avan

ços práticos e con

ceituais, além

das

articulações com

as diversas ciên

cias de n

osso temp

o. En

tre as institu

i-

ções convocan

tes estão: Ap

ertura (E

span

ha), A

près-C

oup

Psychoan

alytic

Association

(EU

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cte Psychan

alytique (B

élgica), An

alyse Freud

ienn

e

(França), A

ssociação Psican

alítica de P

orto Alegre (B

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lo

Psicoanalítico Freu

dian

o (Argen

tina), C

artels Con

stituan

ts de L’A

nalyse

Freud

ienn

e (França), C

entre Psych

analytiqu

e de C

hen

gdu

(Ch

ina), C

olé-

gio de Psican

álise de B

ahia (B

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o Freud

iano d

o Rio d

e Janeiro

Escola d

e Psicanálise (B

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ension

s de la Psych

analyse (Fran

ça),

Escola Lacan

iana d

e Psicanálise d

o Rio d

e Janeiro (B

rasil), Escu

ela de

Psicoanálisis d

e Tucu

mán

(Argen

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scuela d

e Psicoanálisis S

igmu

nd

Freud

-Rosario (A

rgentin

a), Escu

ela Freud

iana d

e Bu

enos A

ires (Argen

ti-

Erra

ta

Diferen

temen

te do qu

e consta n

a seção Resen

ha d

o Correio d

a

AP

PO

A, n

úm

ero 198, a obra de A

rthu

r Sch

open

hau

er à qual se faz m

en-

ção foi pu

blicada n

o ano d

e 1955.

na), E

scuela Freu

dian

a de la A

rgentin

a (Argen

tina), E

scuela Freu

dian

a de

Mon

tevideo (U

rugu

ai), Escu

ela Freud

iana d

el Ecu

ador (E

quad

or), Esp

ace

An

alytique (Fran

ça), Esp

aço Psicanálise (B

rasil), Fédération

Eu

ropéen

ne

de Psych

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cole Psychan

alytique d

e Strasbou

rg (França), G

rup

o

de Psicoan

álisis de Tu

cum

án (A

rgentin

a), Insistan

ce (França), In

tersecção

Psicanalítica d

o Brasil (B

rasil), Laço An

alítico Escola d

e Psicanálise (B

ra-

sil), Lazos Institu

ción Psicoan

alítica (Argen

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ercle Freud

ien (Fran

-

ça), Letra, Institu

ción Psicoan

alítica (Argen

tina), M

aiêutica Florian

ópolis

(Brasil), M

ayeutica-In

stitución

Psicoanalítica (A

rgentin

a), Nod

i Freud

iani

Associazion

e Psicanalítica (Itália), P

raxis Lacanian

a Formação em

Escola

(Brasil), Psych

analyse A

ctuelle (Fran

ça), RE

AL – R

ed A

nalítica Lacan

iana

(México), S

emin

ario Psicoanalítico (A

rgentin

a), Trieb In

stitución

Psicoana-

lítica (Argen

tina), T

riemp

o Institu

ción Psicoan

alítica (Argen

tina).

Inform

ações: ww

w.co

nvergen

ciafreu

dla

can

.org

Page 10: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

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OA

.19

temátic

a.

“Va

i Pa

ssa

r”

Fern

and

a P

ere

ira B

red

a

“Ch

egô-ô-ô!

A M

angu

eira chegô-ô-ô

Man

gueira teu

cenário é u

ma beleza

Qu

e a natu

reza criou (…

)”

Ch

ico Bu

arque d

iz ser um

a espécie d

e “fun

cionário d

a Man

gueira”.

Mesm

o nos an

os em qu

e não está fazen

do sh

ow e está m

ais ocup

ado em

escrever um

livro, trabalha – d

e “terno bran

co e chap

éu d

e palh

a” – para

arrecadar fu

nd

os para o d

esfile do p

róximo carn

aval. Afin

al, dep

ois que

a Man

gueira o h

omen

ageou, em

1998, seu n

ome p

assou a se escrever

“Ch

ico Bu

arque d

a Man

gueira”.

“Hoje o sam

ba saiu

Para falar de você,

Gran

de C

hico…

Page 11: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.21

co

rre

io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

20.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

E o C

hico d

as artes...O gên

io

Poeta Bu

arque, boêm

io

A vid

a no p

alco, teatro, cinem

a

Malan

dro, sam

bista, carioca da gem

a”, cantava Jam

elão na aven

ida.

Carlos D

rum

mon

d d

e An

drad

e, no p

oema “U

m h

omem

e seu car-

naval”, alu

de a u

m m

omen

to quase con

fusion

al em qu

e as bordas d

a

fantasia e d

a realidad

e se desvan

ecem n

as mãos d

e Eros, lan

çand

o as

palavras com

o insu

ficientes em

meio à orgia:

“Deu

s me aban

don

ou

no m

eio da orgia

entre u

ma baian

a e um

a egípcia.

Estou

perd

ido.

Sem

olhos, sem

boca

sem d

imen

sões.

As fitas, as cores, os baru

lhos

passam

por m

im d

e raspão.

Pobre poesia.”

“Oh

, meu

Deu

s do céu

, na terra é carn

aval

Ch

ama o p

essoal

Man

da d

escer pra ver

Filhos d

e Gan

dh

i”

Gilberto G

il ressucitou

os “Filhos d

e Gan

dh

i” dep

ois que voltou

do

exílio em Lon

dres. Q

uan

do crian

ça, costum

ava brincar o carn

aval entre

eles e, com su

a volta à pátria-m

ãe, decid

e apostar n

os “Filhos” – en

tão

um

pou

co adorm

ecidos – in

jetand

o-lhes u

m n

ovo fôlego. Retom

a a liga-

ção histórica com

eles, tornan

do-se u

m in

tegrante, fazen

do, d

esde en

tão,

parte d

o grup

o.

Vin

icius d

e Moraes can

ta a saud

ade n

a “March

a De Q

uarta-Feira

De C

inzas”, em

um

a posição n

ostálgica sobre aquilo qu

e se foi:

“Nin

guém

ouve can

tar canções

Nin

guém

passa m

ais brincan

do feliz

E n

os corações

Sau

dad

es e cinzas foi o qu

e restou

(…)

E, n

o entan

to, é preciso can

tar

Mais qu

e nu

nca é p

reciso cantar

É p

reciso cantar e alegrar a cid

ade”

“Não, n

ão deste ú

ltimo carn

aval. Mas n

ão sei por qu

e este me tran

s-

portou

para a m

inh

a infân

cia e para as qu

artas-feiras de cin

zas nas ru

as

mortas on

de esvoaçavam

desp

ojos de serp

entin

a e confete.”(…

)

Parágrafo inicial d

o conto “R

estos do C

arnaval”, C

larice Lispector

escreve a partir d

e mem

órias de u

m ep

isódio d

a sua in

fância vivid

o

nas ru

as e praças d

e Recife, qu

and

o encon

trava “sua razão d

e ser” no

Carn

aval.

Assim

como N

atal, An

o Novo e A

niversário, C

arnaval tam

bém acon

-

tece todo o an

o. E d

eixa, da m

esma form

a, um

rio de lem

branças com

o

resto. Mem

órias do p

assado – p

or vezes idílicas – e d

esejo de fazer ressu

r-

gir aquele tem

po ou

tra vez. A cad

a ano, m

esmo d

e fantasia ren

ovada, a

aposta d

e reviver os anteriores, n

um

a inesgotável rep

etição.

Carn

aval: quatro d

ias em qu

e o temp

o não p

assa do m

esmo jeito,

pois só é p

ossível saber que p

assou n

o a p

oste

riori d

a quarta-feira d

e

cinzas – segu

ind

o a lógica da “sabed

oria Ch

acrinh

a”: “só acaba quan

do

termin

a”. Com

o não associar com

a lógica do tem

po in

termin

ável da

infân

cia, quan

do o ritm

o dos relógios era assu

nto d

e gente gran

de?

Carn

aval: eterna p

romessa d

e renovar a fan

tasia e ser, mais u

ma vez,

um

outro. É

disso qu

e nos fala C

larice Lispector n

o final d

o conto acim

a

Page 12: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

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l co

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11

22.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

citado. C

om o frevo retu

mban

do fora d

e sua casa e com

a família em

torno à m

ãe gravemen

te doen

te, a men

ina (C

larice) vestida d

e pap

el cre-

pom

em su

a fantasia d

e Rosa, d

escreve o encon

tro com u

m ou

tro que

reconh

ece, em u

m ato absolu

tamen

te amoroso, seu

ser como u

ma R

osa. A

escritora finaliza o con

to:

(…) ”D

aí a men

ção ao men

ino d

e doze an

os, que cobre d

e confete os

cabelos ‘já lisos’ da m

enin

a, fazend

o-a sentir-se p

or um

instan

te, neste

dia h

orrível, um

a “mu

lherzin

ha” d

e oito anos: u

ma R

osa.”

Com

o pod

emos ver, d

ifícil é encon

trar um

artista brasileiro que n

ão

tenh

a, em algu

m m

omen

to de su

a prod

ução, alu

did

o ao carnaval.

Até ou

saria afirmar qu

e não h

á brasileiro que n

ão tenh

a algum

a liga-

ção com essa festa qu

e invad

e o país e n

ão deixa n

ingu

ém in

diferen

te:

toma con

ta dos n

oticiários, das ru

as, das escolas d

e samba e d

os clubes.

Abre alas ao cam

po d

as paixões, d

o “ame-a ou

deixe-a”.

Assim

, há os qu

e não têm

mesm

o samba n

o pé e ap

roveitam a d

ata

para su

mir, bu

scar um

lugar on

de as batu

cadas d

o samba-en

redo, d

o forró,

do frevo e d

os maracatu

s não ch

eguem

. Ir para u

ma p

raia deserta (qu

ase-

raridad

e) ou p

ara o “exterior”1 torn

am-se as m

elhores op

ções – embora

estrangeiro algu

m con

siga acreditar qu

e um

brasileiro faça tal movim

en-

to nessa d

ata em qu

e o país tran

spira felicid

ade.

Mas h

á, talvez em n

úm

ero maior, os ap

aixonad

os que en

contram

semp

re um

jeito de cair n

a farra. Algu

ns d

esfilam tod

o o ano n

a Sap

ucaí

e afirmam

que é u

ma exp

eriência in

esquecível. N

ão du

vido, d

eve ser mes-

mo. O

Rio virou

também

sinôn

imo d

os melh

ores blocos de carn

aval de

rua, d

esbancan

do a festa qu

e era livre em S

alvador. E

agora, altamen

te

organizad

a, se transform

ou em

um

a disp

uta p

elos abadás.

Há carn

aval em tod

a a terra, para tod

os os gostos, jeitos e mem

órias.

De m

inh

a infân

cia, lembro d

os inesqu

ecíveis bailes infan

tis da SA

T,

em qu

e íamos p

intad

os de cola p

lástica colorida (p

lasticor) com os m

ais

variados d

esenh

os que fazíam

os – com a em

polgação n

atural d

e min

ha

mãe, em

nossos corp

os infan

tis. Fantasia e corp

o se mistu

ravam n

a mais

íntim

a ilusão. N

a infân

cia, o Eu

porta, ain

da sem

i-vestido, o frescor d

o

véu im

aginário, fazen

do soar p

osteriormen

te com m

ais ginga o d

up

lo sen-

tido d

a palavra fan

tasia, também

como rou

pa (qu

içá um

a ‘segun

da p

ele’”?).

“Ch

iquita bacan

a lá da M

artinica,

se veste com u

ma casca d

e banan

a-nan

ica.

Não u

sa vestido, n

ão usa calção…

(Versin

ho d

ifícil de en

tend

er na in

fância: n

ão sabia ao certo se a

Ch

iquita era n

anica ou

era um

a macaca m

esmo – sen

do a m

acaca Ch

ita,

do Tarzan

, seu n

ickn

am

e!)

Se con

siderarm

os as relações hu

man

as essencialm

ente p

ertencen

tes

ao camp

o da fan

tasia ou d

o delírio, n

ada m

elhor qu

e um

a festa anu

al

marcad

a de an

temão, in

stituin

do qu

atro dias d

e reconh

ecimen

to no “m

un

-

do real” d

aquilo qu

e passam

os o ano son

han

do. S

onh

o, fantasia, d

eva-

neio ou

delírio tom

am as ru

as sem d

istinção e livres d

as exigências su

per-

egóicas que n

os amarram

o cotidian

o. Trata-se m

esmo, com

o diz R

oberto

DaM

atta, de u

ma “viagem

da rotin

a para o extraord

inário”.

O term

o “fantasia” d

esigna, p

ara Freud

, a vigência d

o prin

cípio d

o

prazer. C

onsid

era que o ato d

e fantasiar, assim

como o d

elírio e o deva-

neio, d

esemp

enh

a no p

siquism

o a mesm

a fun

ção, ou seja, d

e satisfação

de d

esejos. Freud

ianam

ente, a fan

tasia é um

a constru

ção imagin

ária que

perm

ite a satisfação de u

m d

esejo recalcado ao en

laçar pu

lsão e incon

s-

ciente em

um

a costura cu

jo pan

o de fu

nd

o está o sexual. Freu

d tam

bém

aproxim

a a fantasia ao brin

car infan

til, quan

do é p

ossível fazer laço entre

o mu

nd

o da im

aginação e o m

un

do d

as coisas visíveis e tangíveis.

1Morais M

oreira e Abel Silva compuseram

uma m

úsica em referência a São João (tam

bém um

a festa popular), chamada

“Festa do interior”. A letra joga com a polissem

ia da palavra interior: “Ardia aquela fogueira Que me esquentava A vida

inteira Eterna noite Festa do interior”

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11

24.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Se, “n

o lado A

da vid

a”, do brin

car ao fantasiar exige d

o sujeito u

ma

operação d

e perd

a de objetos reais, p

odem

os pen

sar o carnaval com

o o

lado B

, ond

e seria possível fazerm

os a operação in

versa, livres da d

imen

-

são da p

erda qu

e imp

lica o acesso à realidad

e (freud

iana) e m

ergulh

ados

em u

m gozo m

ítico. Nesse sen

tido, a exp

ressão “brincar o carn

aval” faz a

pon

te alud

ida.

Ou

tra expressão in

teressante qu

e refaz novam

ente esse laço é “en

trar

na folia”. Folia e lou

cura, n

a língu

a francesa, têm

origem sem

ântica co-

mu

m e ap

arecem m

esmo com

o sinôn

imos. Foliões, p

assistas, carnavales-

cos: todos se con

fun

dem

na aven

ida. N

ovamen

te aí encon

tramos rela-

ções meton

ímicas en

tre delírio, fan

tasia e devan

eio.

O retorn

o à infân

cia – infân

cia no sen

tido qu

e a psican

álise prop

õe,

mais u

ma vez retu

mba aos qu

atro ventos n

esses dias d

e festa. Nas

march

inh

as de C

arnaval, o tem

a da sexu

alidad

e encon

tra-se em ch

eio

referido ao in

fantil. A

s letras – jocosas, inocen

tes ou m

aliciosas, jogam

com d

up

los sentid

os e com o n

on

-sense, p

rovocand

o nos p

assistas o gozo

de u

m can

tar-quase-balbu

ciante:

“Mam

ãe eu qu

ero,

Mam

ãe eu qu

ero,

mam

ãe eu qu

ero mam

ar”

March

inh

a entoad

a na p

rimeira p

essoa do sin

gular, p

resente em

todo o baile qu

e se preze!

Mesm

o sabend

o que o extraord

inário d

eve termin

ar (faz parte d

e seu

conceito), h

á um

mom

ento em

que se in

icia o retorno à vid

a comu

m. E

isso no carn

aval até nom

e tem (êta orgia organ

izada!): qu

arta-feira de

cinzas. D

ia em qu

e o trabalho com

eça na m

etade, d

ia meio com

cara de

feriado, m

eio com cara d

e descan

so, meio sem

cara de n

ada. D

ia difícil d

e

se encarar!

O qu

e sabemos é qu

e quan

do se ap

aga a últim

a estrela da m

adru

-

gada d

a quarta-feira, qu

and

o a ressaca se mistu

ra a um

a tristeza-quase-

natu

ral, se apagam

também

os dias d

e folia… N

as ruas m

ortas, o retorno

ao cotidian

o, ao ordin

ário. O trân

sito contorn

a os garis, ocup

ados em

recolher a serp

entin

a desm

ontad

a, o lança-p

erfum

e vazio, as latinh

as de

cerveja, camisin

has-d

e-Vên

us…

restos de fan

tasias para gu

ardarm

os

entre as lem

branças m

ais urgen

tes. Em

meio a bu

zinas d

e carros e pes-

soas camin

han

do ap

ressadas, é p

ossível ouvir ain

da, m

eio fora do tom

e quem

sabe, acomp

anh

ada d

e um

a tímid

a batucad

a em u

ma caixin

ha

de fósforos, u

ma can

ção de C

aetano V

eloso:

“Vamos viver

Vamos ver

Vamos ter

Vamos ser

Vamos d

esenten

der

Do qu

e não

Carn

avalizar a vida, coração!”

Re

ferê

nc

ias b

iblio

grá

fica

s

DAMATTA, Roberto A.. “O que faz o brasil, Brasil?”. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.

FREUD, S. “El Poeta e los Sueños Diurnos.” Obras Completas, vol. II. Editorial Biblioteca Nueva. M

adrid, 1981.

LISPECTOR, Clarice. Restos do Carnaval. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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io A

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.27

temátic

a.

Ca

eta

no

Pa

ssis

ta1

Luís A

ug

usto

Fisc

her

Já devo ter d

ito aqui, m

as não im

porta: a gen

te vai dem

orar mu

ito até

avaliar a imp

ortância d

e ser contem

porân

eo de C

aetano V

eloso (e de C

hico

Bu

arque e ou

tros). O tam

anh

o, a extensão e a p

rofun

did

ade, o alcan

ce

enfim

da obra d

o baiano é qu

alquer coisa d

e extraordin

ário.

Não, n

ão estou qu

erend

o dizer qu

e ele é o melh

or, que só ele é qu

e é,

que su

a obra é toda m

aravilhosa. E

stamos falan

do d

e outra d

imen

são da

coisa: sua obra, d

e alto a baixo, com m

uito m

ais altos que baixos, é u

m

detalh

ado e com

ovente com

entário sobre a cu

ltura brasileira, com

pre-

end

ida esta em

seu sen

tido m

ais geral e mais rigoroso – d

esde a cu

ltura

pop

ular m

esmo, aqu

ela de can

ção de n

inar, d

e reza e de m

odo d

e arar a

1 Originalmente escrito para o jornal ABCDom

ingo, em 24 de janeiro de 1999. Publicado no livro Contra o esquecim

ento.Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001.

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28.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

terra, até a cultu

ra mais sofisticad

a, aquela qu

e vai de M

achad

o a João

Cabral, d

e Aleijad

inh

o a Brasília, d

o samba origin

al a João Gilberto.

Caetan

o realiza, em carn

e e osso, mais isto qu

e aquilo, real e m

etafo-

ricamen

te, o ideal d

o artista-crítico, que n

ão apen

as prod

uz su

a obra,

mas tam

bém a faz d

obrar-se sobre a matéria p

rima d

e que se serve, p

ara

analisá-la, p

ara examin

á-la, para torn

á-la objeto de estran

ham

ento e d

e-

pois objeto d

e nova fam

iliaridad

e. É u

m caso acabad

o do artista m

oder-

no, d

o artista do sécu

lo 20, por sin

al que já em

seus estertores.

Tive ocasião d

e experim

entar essa sen

sação há p

ouco tem

po. S

end

o

contem

porân

eo de su

a carreira (nasci em

58, Caetan

o em 42; qu

and

o ele

apareceu

na televisão eu

era um

a criança d

e 10 anos qu

e não en

tend

ia

nad

a daqu

ela cabeleira enlou

quecid

a que d

izia coisas incom

preen

síveis

e sensatas, altern

ada ou

simu

ltaneam

ente), vivi sem

pre m

inh

a experiên

-

cia cultu

ral sob o signo d

e sua obra, com

o quase tod

o mu

nd

o no p

aís na

min

ha geração. M

as há p

ouco, ao d

ar um

curso sobre m

úsica p

opu

lar

brasileira em R

osário, Argen

tina, m

e caiu a fich

a (gíria esta que, p

or sinal,

está perd

end

o vigência, d

epois d

a inven

ção do cartão m

agnético p

ara

usar telefon

e pú

blico). Caetan

o tem com

o assun

to toda a trad

ição, nu

m

nível m

ais radical qu

e Ch

ico, Paulin

ho d

a Viola e ou

tros men

os interes-

santes. (G

il é bem ou

tro caso: é um

a usin

a de can

ções corretas, que se

debru

çam sobre os tem

as da vid

a real e com ela p

rodu

zem m

etáforas de

bom n

ível, mas sem

o conteú

do essen

cialmen

te crítico, radicalm

ente

comen

tarista-da-cu

ltura d

e Caetan

o.)

Bem

. Dito isso, p

recisamos p

assar para u

m caso con

creto. Podería-

mos tom

ar o livro de C

aetano, V

erdad

e tropical, e a p

artir dele d

emon

s-

trar a excelência d

o autor – d

e novo, n

ão estamos falan

do qu

e no livro

Caetan

o só diga gen

ialidad

es, nem

mesm

o que acerte sem

pre; m

as é ine-

gável que se trata d

e um

dep

oimen

to med

itado e in

formad

o, feito por

alguém

que esteve e está n

o centro d

os acontecim

entos d

a cultu

ra bra-

sileira há 30 an

os, e parece qu

e daí n

ão sai antes d

e morrer. Pen

sa um

pou

co: de qu

e outro artista, d

e qualqu

er área, temos u

ma m

editação

assim tão p

retensiosa e tão exigen

te? Me d

iz o nom

e, já nem

digo d

e

um

cancion

ista, mas d

e um

escritor, de u

m cin

easta, que ten

ha feito o

mesm

o. Tem? N

elson R

odrigu

es, talvez Gláu

ber Roch

a, e quase n

in-

guém

mais.

Mas vam

os ficar com u

m caso m

ais singelo: a can

ção que abre seu

mais recen

te disco, tiran

do o P

rend

a M

inh

a, qu

e é meia-boca, d

isco

provocativam

ente ch

amad

o Livro, lançad

o, olha só, ju

nto com

seu livro,

que arrem

eda o n

ome d

e um

a canção an

tiga. Brin

cadeira p

or brincad

ei-

ra, Caetan

o é mestre em

baralhar p

osições, nu

m p

rocedim

ento qu

e a

cada n

ova obra nos obriga a rever p

osições. Pode fazer a exp

eriência: a

cada n

ovo disco, C

aetano su

cessivamen

te nos d

esagrada e n

os encan

ta.

Nu

nca faz o qu

e já estava previsto, n

un

ca repisa o terren

o já conqu

istado.

Na d

ialética novid

ade versu

s redu

nd

ância, C

aetano sem

pre op

ta pelo

prim

eiro termo, im

pon

do ao ou

vinte o d

esconforto p

edagogicam

ente

essencial p

ara o conh

ecimen

to: a gente ou

ve, estranh

a, recusa, ou

ve de

novo e se m

aravilha, já ten

do en

tend

ido, já n

a outra m

argem d

o rio da

inteligên

cia.

A p

rimeira can

ção do d

isco se cham

a Os p

assistas e diz assim

:

“Vem

,

Eu

vou p

ousar a m

ão no teu

quad

ril

Mu

ltiplicar-te os p

és por m

uitos m

il

Fita o céu,

Rod

a:

A d

or

Defin

e nossa vid

a toda

Mas estes p

assos lançam

mod

a

E d

irão ao mu

nd

o por on

de ir

Às vezes tu

te voltas para m

im

Na d

ança, sem

te dares con

ta enfim

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11

30.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Qu

e também

Am

as

Mas, ah

!

Som

os apen

as dois m

ulatos

Fazend

o poses n

os retratos

Qu

e a luz d

a vida im

prim

iu d

e nós

Se d

esbotássemos, ou

tros revelar-nos-íam

os no C

arnaval

Rou

bemo-n

os ao deu

s Temp

o e nos d

emos d

e graça a beleza total, vem

Nós,

Cartão-p

ostal com tou

ros em M

adri,

O C

orcovado e o R

eden

tor daqu

i,

Salvad

or,

Rom

a

Am

or,

On

de qu

er que estejam

os jun

tos

Mu

ltiplicar-se-ão assu

ntos d

e mãos e p

és

E d

esvãos do ser”

O tem

a declarad

o da can

ção é os passistas. Q

uem

são eles? São aqu

e-

las figuras en

cantad

oras e fugazes, qu

e executam

sua arte com

o um

balé

de ru

a, imp

rovisado e sem

pre ren

ovado, sen

do n

o entan

to previsíveis:

um

sorriso, um

trejeito de om

bro, um

deslocar d

e pern

as e quad

ris, o

tronco n

o mais d

as vezes ereto, emp

ertigado até, u

m m

alabarismo, u

m

passo m

iúd

o que p

arece não caber n

o temp

o do ritm

o e no esp

aço da

avenid

a. São aqu

elas figuras qu

e, no an

o civil, fazem o qu

e todos fazem

trabalham

, ganh

am p

ouco, se irritam

, amam

, sofrem, se satisfazem

, pa-

gam os carn

ês Deu

s sabe como. M

as no ep

isódio d

o carnaval, p

or sua

vez recorrente e esp

erado, d

omin

am a cen

a. Dom

inam

a cena visu

al, e

não m

ais que isso: são m

enos im

portan

tes que os ritm

istas, são men

os

imp

ortantes p

ara o enred

o que os qu

e carregam fan

tasias temáticas, são

men

os imp

ortantes qu

e os que p

ortam as ban

deiras. C

om tod

a essa

desim

portân

cia, é para eles qu

e nosso olh

ar é cham

ado.

É d

e anotar qu

e passistas costu

mam

se destacar n

o samba d

e and

a-

men

to rápid

o, no sam

ba-enred

o. Cu

riosamen

te, a canção já in

screve

um

a tensão en

tre o tema, os p

assistas, e seu an

dam

ento, m

ais próxim

o

do sam

ba-canção, m

ais lento, qu

e no en

tanto vem

na gravação m

arcado

por u

ma p

ercussão m

ais que evid

ente, com

um

a caixa fazend

o um

acom-

pan

ham

ento m

arcante, o qu

e contraria a n

atureza m

elancólica e reco-

lhid

a do sam

ba-canção típ

ico.

A voz qu

e fala o texto faz a figura d

e um

passista, certam

ente h

o-

mem

, que con

vida su

a parceira p

ara o bailado: vem

, eu vou

botar a mão

no teu

quad

ril, mu

ltiplicar-te os p

és por m

uitos m

il. E d

iz mais, p

ede

que ela olh

e para o céu

(lembran

ça associada: o sam

ba-canção C

oisas do

mu

nd

o, min

ha n

ega, obra genial d

o Paulin

ho d

a Viola, qu

e lá pelas tan

tas

confessa p

ara sua in

terlocutora, su

a amad

a, que d

eseja arden

temen

te

chegar p

erto dela, d

epois d

e um

dia d

e agruras, n

a expectativa d

e estreitá-

la em seu

s braços e ver de p

erto aquele sorriso qu

e ela entrega p

ara os

céus n

esta hora). A

passista está, p

ortanto, con

vocada p

ara a atuação:

entregar-se ao com

and

o do p

assista, que a con

du

zirá, fazend

o seus p

és

serem m

ilhares in

contáveis, e en

tregar para a arqu

ibancad

a – pois qu

e é

disso qu

e se trata no C

arnaval – o rosto d

eslum

brante e d

eslum

brado.

Nesta h

ora, para cu

lmin

ância, d

iz o passista p

ara sua p

arceira: roda.

Ela d

eve fazer o movim

ento qu

e a passista faz, qu

e a porta-ban

deira faz,

que a baian

a faz. Mas esse com

and

o, “roda”, vem

na m

elodia n

um

pon

to

dos m

ais altos da escala m

usical, n

um

a espécie d

e ápice d

a canção, qu

e

coincid

e com o áp

ice do m

ovimen

to descrito. E

la roda? S

im, ela rod

a, a

passista, e assim

também

as letras da p

alavra “roda”: n

o verso seguin

te,

o passista d

escobre o palín

drom

o que se escon

dia n

a palavra “rod

a” –

“a dor”, qu

e será o sujeito d

a afirmativa segu

inte, a d

or defin

e nossa

vida tod

a. Para comp

ensar esse p

equen

o horror, aqu

eles passos lan

çam

Page 17: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

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io A

PP

OA

.33

co

rre

io A

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OA

l ma

rço

20

11

32.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

moda e d

ão o rum

o nad

a men

os que p

ara o mu

nd

o, nu

ma p

retensão

que m

istura soberba d

esmed

ida e con

sciência m

edid

a – pois n

ão é ver-

dad

e, afinal, verd

ade trop

ical, que vivem

os no m

un

do d

o espetácu

lo, e

que o B

rasil é o paraíso, se visto d

e fora especificam

ente n

a cultu

ra do

carnaval?

Se a m

elodia até a p

alavra “roda” estava n

um

and

amen

to ascend

en-

te, do m

ais grave para o m

ais agud

o, dep

ois dela a m

elodia d

esliza para

baixo, nu

m m

ovimen

to de relaxam

ento, d

a canção e d

o movim

ento d

a

passista. N

as du

as outras estrofes, acon

tece o mesm

o pico, o m

esmo

movim

ento d

e ascensão em

direção a u

ma p

alavra nod

al, que será su

ce-

did

a de ou

tra palavra-an

agrama (am

as/mas ah

) ou d

e outro p

alínd

romo

(Rom

a/amor), d

epois d

a qual a can

ção volta ao repou

so, que p

or sua vez é

tenso ao fin

al, com u

ma su

bida em

direção à região agu

da, em

disson

ân-

cia contid

a.

Na segu

nd

a estrofe, dep

ois de u

m com

entário am

bíguo (tu

te voltas

para m

im), qu

e se refere aind

a ao movim

ento d

o corpo m

as também

ao

do esp

írito – a passista tam

bém am

a, ama o qu

e faz, ama o estar d

ançan

-

do, am

a o estar send

o vista –, o passista observa qu

e ambos são “ap

enas”

dois m

ulatos, d

ois tipos h

íbridos, d

ois represen

tantes d

a etnia p

redo-

min

ante n

o país, d

ois elemen

tos cruzad

os, que d

e resto se cruzam

na

coreografia. Mais qu

e isso: embora sejam

esplen

dorosos, em

bora até

amem

, o que fazem

os dois é ap

enas p

oses nos retratos qu

e não u

m fotó-

grafo, mas a vid

a mesm

a faz deles. R

etratos: poses p

ara contem

plação.

Afin

al, pod

eríamos p

ergun

tar: o que fazem

os passistas é viver ou

“ape-

nas” rep

resentar? A

quilo tu

do é a verd

ade ou

não p

assa de u

m in

tervalo,

de u

ma en

cenação p

ara o turista?

Propõe en

tão o passista u

ma h

ipótese: se eles d

esbotassem (“d

esbo-

tar” é perd

er a cor, que já n

ão é tão nítid

a assim n

os mu

latos, mas tam

bém

contém

um

a idéia d

e desfazer o ato d

e botar, quem

sabe o deixar d

e botar

banca, p

or exemp

lo), no C

arnaval seriam

outros. Q

ue ou

tros? Men

os pas-

sistas, men

os fotografáveis, men

os brasileiros? É d

e notar, en

tre parên

-

teses, que a voz d

a letra da can

ção, send

o a de u

m p

assista típico, ce-

rtamen

te usaria, n

a vida real, n

ão “tu”, m

as “você”, com con

cordân

cia

em terceira p

essoa; no en

tanto, tod

a a fala do p

assista para a p

assista

vem em

segun

da p

essoa, e mais qu

e isso, em segu

nd

a pessoa can

ônica,

com a flexão d

o verbo em registro cu

lto, e mais ain

da, com

os pron

omes

usad

os conservad

oramen

te (mu

ltiplicar-te, revelar-n

os-íamos, m

ultip

li-

car-se-ão), nu

m m

ovimen

to de lin

guagem

perfeitam

ente d

issonan

te em

relação ao tema, carn

aval, e aos person

agens, p

opu

lares por su

posto. E

isso cria mais efeito d

e tensão qu

e pod

eria ser jocoso, mas n

ão é: a do-

çura d

a canção e d

a interp

retação imp

ede qu

e ouçam

os essa ortodoxia

na colocação d

os pron

omes com

o paród

ia – tud

o é dito a sério. Forçan

do

um

pou

co a observação: a ênclise e a m

esóclise, que h

oje em d

ia só exis-

tem n

a gramática, são o su

pra-su

mo d

a veleidad

e culta, d

a lingu

agem

rui-barbosa, d

o jurid

iquês; m

as não d

estoam, n

o contexto d

este samba-

canção qu

e é ao mesm

o temp

o um

a med

itação sobre o ser do sam

ba e da

cultu

ra, porqu

e de algu

ma m

aneira são, tam

bém elas, u

ma p

ose para

retrato, um

a pose cu

riosa, de en

cantar tu

rista, de em

basbacar a arqui-

bancad

a.

Por fim, n

a terceira estrofe, se desfaz em

parte a p

ossibilidad

e de

um

a leitura tão literal com

o a que fizem

os até agora. Ele e ela, u

nid

os, já

são um

“nós”, u

ma ou

tra entid

ade, com

pósita, qu

e circula m

eio deliran

-

temen

te por ou

tros cenários, on

de n

ão há carn

aval, ond

e não h

á lugar

para m

ulatos brilh

arem n

a passarela – M

adri e R

oma, qu

e por ou

tra parte

são cidad

es latinas, em

bora sem m

ulatos, sem

samba, m

as que têm

, ambas,

a tradição d

o espetácu

lo, em M

adri a tou

rada, em

Rom

a a arena d

os leões

e o circo. Tourear p

or tourear, assim

acontece n

a passarela d

o samba,

entre o e a p

assista, como tam

bém en

tre touro e tou

reiro, entre leão e

cristão, com d

esfechos d

iversos e bailado sem

elhan

te. Porque agora, n

es-

te desfech

o, se trata de m

etáfora aberta: se tud

o é pose p

ara os retratos

que a vid

a faz, então tu

do é p

ose mesm

o, e em tod

os os casos, no B

rasil ou

na E

urop

a latina, o d

iálogo/encon

tro entre os d

ois – ou p

assistas singelos,

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temátic

a.

co

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OA

l ma

rço

20

11

34.

tem

átic

a.

Ca

rna

va

l Ta

í

Ivan C

orre

a1

Qu

and

o criança, n

os anos 30, ou

vi a seguin

te canção carn

avalesca:

“Carn

aval tá aí, vamos vad

iar...” A h

omon

ímia p

rovocada p

elo “está aí” e

a corrup

tela tá’í me fez ou

vir Taí, como se Taí fosse o n

ome d

o Carn

aval e

o Carn

aval fosse um

person

agem.

Esta lem

brança d

a infân

cia me ch

ama a aten

ção para a estru

tura d

a

equivocid

ade d

a lingu

agem. Tod

o o charm

e do C

arnaval joga sobre o equ

í-

voco. Desd

e as máscaras, p

assand

o pelos d

iversos person

agens com

o rei

e rainh

a do M

aracatú, os Pap

angú

s, os Caretas e assim

por d

iante.

Sem

a equivocid

ade d

a lingu

agem, d

e fato, não p

ode h

aver poesia

nem

literatura, n

em os en

cantos d

o Carn

aval, que fazem

as pessoas se

sentirem

felizes com os m

omen

tos de ilu

são. Ilusão com

o fonte d

e feli-

ou an

imal e h

omem

, ou qu

alquer d

up

la de am

antes – m

ultip

licará assun

-

tos de m

ãos e pés, n

o camp

o dos assu

ntos físicos, ou

de d

esvãos do ser, n

o

dos m

etafísicos.

O qu

e está em jogo, en

tão? Do tem

a singu

lar, o convite d

o passista

para su

a comp

anh

eira, o cham

amen

to para a ação ou

para a sim

ulação

do en

lace amoroso, p

assamos p

ara o tema geral, o con

vite para o am

or,

que é en

contro e é p

ose, que é ação e é retrato, qu

e é verdad

e factual e

fabulação, sim

ultân

ea ou altern

adam

ente. E

atire a prim

eira ped

ra, iaiá,

aquele qu

e descon

hece esta d

ança.

1 Psicanalista do Centro de Estudos Freudianos do Recife.

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.37

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36.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

cidade, como já ap

ontava G

oethe n

os Sofrim

entos d

e Werth

er: “... em

meu

coração guard

ei esta verdad

e: devem

os fazer com as crian

ças como

Deu

s faz conosco, qu

e nos torn

a felizes deixan

do-n

os vaguear en

voltos

em am

oráveis ilusões.”

Podem

os acrescentar qu

e é graças aos equívocos d

a lingu

agem qu

e

pod

e haver Psican

álise, pois o In

conscien

te se man

ifesta através de su

as

formações, qu

e têm a ver com

os tropeços, os lap

sos, ou, sim

plesm

ente,

com a p

olissemia d

as palavras.

São os “trop

os” literários que p

ermitem

os desvios p

oéticos e retóri-

cos para bem

-dizer, com

arte, elegância e beleza.

Segu

nd

o Platão, em

seu C

rátilos, a lingu

agem n

ão é feita para a

comu

nicação, m

as para o en

gano, já qu

e foi inven

tada p

or um

deu

s

engan

ador. C

rátilos havia feito a observação qu

e o nom

e de H

ermógen

es

era tronch

o, Herm

ógenes n

ão era “bem n

omead

o” como os ou

tros ho-

men

s e as coisas.

Herm

ógenes p

rocura en

tão Sócrates p

ara subm

eter a ele o enigm

a do

seu n

ome. S

ócrates faz um

a coup

ure, u

m corte – an

tecipan

do o estilo

lacanian

o – e lhe resp

ond

e prop

ond

o encon

trar em seu

nom

e Herm

es, o

deu

s engan

ador qu

e inven

tou a lin

guagem

.

Herm

es, com efeito, filh

o de Z

eus e M

aia, no m

esmo d

ia de seu

nas-

cimen

to – na m

itologia grega –, deixou

o seu berço e in

ventou

a lira,

matan

do u

ma tartaru

ga que en

contrara e u

sand

o a carcaça para fazer

este instru

men

to mu

sical.

No m

esmo d

ia, roubou

cinqü

enta vacas p

ertencen

tes a Ap

olo, fa-

zend

o-as march

arem p

ara trás para evitar qu

e seus rastros p

ud

essem

ser seguid

os. Qu

and

o Ap

olo apareceu

, encolerizad

o, Herm

es o deixou

tão alegre oferecend

o-lhe a lira d

e presen

te, que A

polo lh

e deu

em troca

as vacas roubad

as, além d

e vários pod

eres divin

os.

Herm

ógenes é “m

al nom

eado”, d

iz Sócrates, p

orque n

ão enten

de

nad

a sobre a palavra, sobre o logos.

A p

olissemia d

o logos grego ilustra o en

gano e a equ

ivocidad

e da

lingu

agem, p

ois pod

e ser palavra, m

as também

termo, sen

tença, p

rovér-

bio, narração, d

iscurso, p

roposição, argu

men

to, ou a razão com

o faculd

a-

de, o ju

lgamen

to, o juízo, o fu

nd

amen

to racional. N

o camp

o matem

ático,

é a “razão” como a relação en

tre du

as grand

ezas sem valor n

um

érico que

guard

am certa p

roporção, a razão en

tre A e B

, por exem

plo. A

iguald

ade

entre d

uas razões é u

ma p

roporção ou

“analogia”. E

sta relação entre d

uas

grand

ezas, este logos, é a próp

ria gênese d

o pen

samen

to: In p

rincip

io erat

verbum

. É p

or aí, segun

do os gregos, qu

e se começa a p

ensar.

O m

esmo ocorre com

a mágica p

alavra africana U

BU

NT

U, com

um

a vários idiom

as daqu

ele contin

ente. U

bun

tu, h

um

anid

ade, é tam

bém

amizad

e, solidaried

ade, com

un

idad

e, ajud

a mú

tua, afeto, com

preen

são,

felicidad

e, convivên

cia e tud

o de bom

que p

ode existir en

tre os seres

falantes.

São esses “n

ós” polissêm

icos da lin

guagem

que su

stentam

a retórica,

que p

ermitem

a expressão p

oética, mas tam

bém levam

aos tropeços, aos

equívocos e ao su

rgimen

to do S

ujeito d

o Incon

sciente, com

seus d

esejos

descon

hecid

os por terem

sido recalcad

os. O qu

e equivale a d

izer que é

um

fenôm

eno qu

e apresen

ta semp

re a du

plicid

ade, o equ

ívoco essencial

do S

ignifican

te e do S

ignificad

o. Em

termos d

e Incon

sciente, a relação d

o

sujeito ao sim

bólico é fun

dam

ental.

No qu

e se põe em

palavras, h

á semp

re um

a elaboração imp

rópria e

semp

re fatalmen

te distorcid

a do qu

e seria um

a realidad

e irredu

tível. Há

semp

re, fatalmen

te, um

tropos, u

m d

esvio. A relação d

o significan

te ao

significad

o, não é, d

e forma algu

ma, u

ma relação biu

nívoca n

o sentid

o

matem

ático.

A sign

ificação é o discu

rso hu

man

o, enqu

anto en

via semp

re a outra

significação. H

á algo de arbitrário n

o corte de u

ma frase en

tre os diversos

elemen

tos. Há as u

nid

ades qu

e são as palavras. M

as quan

do se olh

a de

perto, n

ão são tão un

itárias assim... A

todo in

stante o sistem

a em evolu

-

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38.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

ção das sign

ificações hu

man

as se desloca e m

odifica o con

teúd

o dos

significan

tes, isto é, o significan

te toma em

pregos d

iferentes.

Esses d

eslizamen

tos de sign

ificação mostram

que n

ão há corres-

pon

dên

cia biun

ívoca entre os d

ois sistemas, sign

ificante/sign

ificado. D

e

acordo com

as leis do in

conscien

te formu

ladas p

or Freud

, um

qu

i pro

qu

o, um

calem

bo

ur, u

m v

au

dev

ille, pod

em ser o p

ivô essencial qu

e sus-

tenta u

m sin

toma.

Os E

stóicos distin

guiam

três coisas, que se en

contram

conectad

as

ao lekto

n:

. o Sign

ificado – S

ema

ino

men

on

. o Sign

ificante – S

ema

ino

ne

. o Objeto ou

Acon

tecimen

to – Tugka

non

O S

ignifican

te é a voz. O qu

e é significad

o é a coisa, tornad

a eviden

te

pela voz e qu

e apreen

dem

os como existen

te ao mesm

o temp

o em qu

e a

voz, graças à nossa in

teligência ou

ao lekto

n. O

s “bárbaros” – os que n

ão

sabem grego – m

esmo qu

e ouçam

a voz e vejam o objeto, n

ão pod

em

comp

reend

er.

Du

as destas coisas são corp

óreas: o som d

a voz e o objeto – Sem

ain

on

e Tugka

non

. A ou

tra é incorp

órea: o significad

o – Sem

ain

om

eno

n.

O L

ekto

n n

ão é nem

a palavra, n

em o objeto, n

em o con

ceito, mas o

laço estabelecido en

tre o un

iverso exterior e nós m

esmos, em

virtud

e da

presen

ça do logos em

nós. E

le ocup

a um

lugar excep

cional n

a filosofia

estóica. Esta su

stenta, d

e fato, que tu

do é corp

o, até mesm

o a alma.

Não se d

eve confu

nd

ir o lekto

n com

a coisa – pragm

a – nem

com o

acontecim

ento – tu

gkan

on

– a que ele se refere, m

as também

o que é m

ais

sutil – com

a represen

tação no esp

írito, ou o ato d

e pen

samen

to pelo qu

al

o acontecim

ento é ap

reend

ido, p

ois estas operações m

entais p

ertencem

também

, como tais, ao m

un

do d

os corpos, ou

dos fatos, ou

simp

lesmen

te

ao mu

nd

o.

O lek

ton

não é u

m p

ensam

ento n

o sentid

o de u

m p

ensam

ento p

en-

sado, e n

ão no sen

tido d

e um

pen

samen

to pen

sante. V

em d

o verbo legein

– dizer ou

“querer d

izer”, significar. É

esta coisa incorp

órea e extra-mu

n-

dan

a que é o sen

tido d

e um

a expressão.

O sign

ificante é a lin

guagem

, som d

e voz ou secu

nd

ariamen

te a

escrita, que p

ertence ao m

un

do d

os corpos e qu

e percebem

os pelos sen

-

tidos. Perten

cem igu

almen

te a este mu

nd

o as coisas e os acontecim

entos.

Tud

o isto é diretam

ente acessível àqu

eles que ign

oram a lín

gua, m

esmo

aos “bárbaros” e aos anim

ais.

En

quan

to que o sign

ificado é ap

reend

ido ap

enas p

or aqueles qu

e

comp

reend

em a lín

gua, escap

a totalmen

te aos outros.

G. Frege em

seus G

run

dla

gen

der A

rithm

etik refere-se à trilogia:

Zeich

en, sign

o; Sin

n, sen

tido; e B

edeu

tun

g, significação. O

sentid

o são as

formas d

e apresen

tação de u

m objeto. A

estrela Ven

us se ap

resenta n

o fim

da tard

e como estrela vesp

ertina, e d

e mad

rugad

a como estrela m

atutin

a.

São d

uas ap

resentações, d

ois sentid

os, de u

ma ú

nica estrela, u

ma ú

nica

significação.

C. S

. Peirce (1983) consid

era três signos d

iversos: o Ícone (rep

resenta

diretam

ente o objeto), o in

dício (o objeto é d

edu

zido p

or um

nexo en

tre a

represen

tação e o objeto), e o símbolo (a con

exão é conven

cional e arbi-

trária).

A lin

guagem

começa p

ela oposição – com

o lembram

os lingü

istas – e

por isso está su

jeita aos “tropos” literários, ao jogo retórico. E

sse caráter

do S

ignifican

te marca d

e man

eira essencial tu

do qu

e é da ord

em d

o Su

-

jeito do In

conscien

te.

Ch

arles Bau

delaire (1981), n

o Meu

Coração D

esnu

dad

o, assim se

expressa: “O

mu

nd

o não m

archa sen

ão pelo m

al-enten

did

o. É p

elo

mal-en

tend

ido u

niversal qu

e o mu

nd

o inteiro se en

tend

e. Pois, se por

desgraça, os h

omen

s se comp

reend

essem, n

ão pod

eriam jam

ais se

enten

der”.

Page 21: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

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11

l co

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io A

PP

OA

.41

co

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io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

40.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Ch

arles Bau

delaire (ibid

) repete as resson

âncias d

e Heráclito d

e

Ëfeso qu

and

o critica Hom

ero por ter m

anifestad

o o seguin

te voto: “Oxalá

cesse a discórd

ia entre os d

euses e os h

omen

s!”

Heráclito (1991) glosa: “S

e cessasse a discórd

ia entre os d

euses e os

hom

ens, tu

do iria p

erecer...” Para ele, portan

to, é a Pólem

os, a Polêmica, o

Con

traditório, qu

e perm

ite o avanço d

as idéias. S

ugestão ou

metod

ologia

que os E

scolásticos, na Id

ade M

édia, n

o ensin

o de A

ristóteles, desen

vol-

veram através d

as did

áticas Disp

utation

es.

Heráclito é au

tor do verso n

o qual in

trodu

z o parad

oxo, a polêm

ica, a

contrad

ição: To to

tzo

on

om

a b

íos,/E

rga d

é tán

ato

s – O arco tem

o nom

e de

vida, m

as a sua ação é a m

orte.

Ele joga com

a equivocid

ade d

o significan

te bíos. Bíos é a vid

a. Mas

Biós, é o arco, a flech

a que leva à m

orte. Heráclito ressalta esse im

bri-

camen

to entre a vid

a e a morte qu

e a próp

ria palavra revela e ocu

lta ao

mesm

o temp

o. “Ser au

têntico”, já d

izia Sartre n

o seu L’être et L

e néa

nt, “é

se referir a seu n

ão-ser”.

Qu

and

o Ep

imên

ides en

un

cia sua con

fissão de au

tenticid

ade: “Tod

o

cretense é m

entiroso”, torn

a-se imp

ossível separar a verd

ade d

a men

tira.

Pois se todo creten

se é men

tiroso, ele send

o cretense está d

izend

o um

a

men

tira. En

tão é men

tira que tod

o cretense seja m

entiroso. E

le não sen

do

men

tiroso, está dizen

do a verd

ade qu

and

o diz qu

e todo creten

se é men

-

tiroso. Perman

ecemos n

um

verdad

eiro “circulo vicioso”, n

a imp

ossibi-

lidad

e de sep

arar a verdad

e da m

entira.

Se a p

roposição d

e Ep

imên

ides é m

arcada p

ela comp

letud

e, envol-

vend

o todos os creten

ses, ela se torna in

consisten

te. Ela só será con

sis-

tente, sen

do d

escomp

letada, torn

and

o Ep

imên

ides u

ma exceção en

tre os

cretenses. É

a incom

pletu

de qu

e assegura a con

sistência lógica.

À im

utabilid

ade d

o ser, proclam

ada p

or Parmên

ides ou

Zen

ão, o

Eleata, já en

controu

em H

eráclito um

opositor qu

e com o seu

pan

ta rei,

tud

o flui, d

emoliu

esta consagrad

a imu

tabilidad

e. À im

utabilid

ade d

o

ser de Parm

ênid

es, Heráclito op

ôs a imp

ossibilidad

e do ser p

erman

e-

cer idên

tico a si mesm

o, tal qual o sign

ificante, sen

do sem

pre ou

tro,

portan

to, marcad

o pela au

to-diferen

ça. Tratan

do exatam

ente d

a gênese

do p

ensam

ento, Freu

d observa n

a “Den

egação”, que o su

jeito se apresen

ta

sob a forma d

e “ser o que n

ão é”, e de “n

ão ser o que é”. E

isto em virtu

de

da p

rópria form

a como se estru

tura o seu

pen

sar. Em

virtud

e, portan

to,

de su

a próp

ria estrutu

ra de su

jeito constitu

ído p

ela equivocid

ade d

o

significan

te, pela equ

ivocidad

e da lin

guagem

.

Hegel (1975) con

sidera o “ser-igu

al-a-si-mesm

o” como u

m p

rocesso

de cisão: esta igu

aldad

e consigo m

esmo é ju

stamen

te diferen

ça iman

ente

ou in

terior. O igu

al-a-si-mesm

o se cind

e. Isto significa qu

e ele se sup

rime

como ser ou

tro, Es h

ebt sich

als a

nd

ersein a

uf. A

s diferen

ças da cisão e d

o

tornar-se igu

al-a-si-mesm

o são apen

as este movim

ento d

e se sup

ra-assu-

mirem

, pois qu

e o igual-a-si-m

esmo qu

e deve an

tes se cind

ir ou torn

ar-se

seu p

róprio con

trário, é um

a abstração ou é já ele m

esmo algo d

e cind

ido.

A cisão é, en

tão, o movim

ento d

e sup

ra-assum

ir o que ele é, B

ewegu

ng

dês sich

-au

fheb

ens e, p

ortanto, o m

ovimen

to de su

pra-assu

mir seu

ser

cind

ido, A

ufh

eben

seines E

ntz

weitsein

es.

O torn

ar-se igual-a-si-m

esmo é u

m p

rocesso de cisão. Pois, o qu

e se

torna igu

al-a-si-mesm

o se coloca de fato em

face da cisão, isto é, torn

a-se

um

cind

ido. E

sta essência igu

al-a-si-mesm

o não se refere som

ente a si

mesm

o, está aí Ou

tro sobre o qual a relação se d

irige; e este “se dirigir a si

mesm

o” é antes o ato d

a cisão e esta iguald

ade con

sigo mesm

o é justa-

men

te diferen

ça iman

ente ou

interior... “C

ada u

m é n

ele mesm

o o contrá-

rio de si.” (H

egel, 1975, p. 132-133 e 136).

Tud

o que p

ertence à exp

eriência an

alítica tem estru

tura d

e lingu

a-

gem: “É

estrutu

rado com

o um

a lingu

agem” é o bord

ão lacanian

o. Todo

fenôm

eno an

alítico, tud

o que p

articipa d

o camp

o analítico, d

a descober-

ta freud

iana, d

o que lid

amos n

o sintom

a, é estrutu

rado com

o lingu

agem,

sujeito à equ

ivocidad

e. O qu

e equivale a d

izer que é u

m fen

ômen

o que

apresen

ta semp

re a du

plicid

ade, o equ

ívoco essencial d

o significan

te e

do sign

ificado.

Page 22: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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temátic

a.

co

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11

42.

tem

átic

a.

É este caráter d

a equivocid

ade d

as palavras qu

e perm

ite a interp

reta-

ção analítica, m

as também

a metáfora p

oética e o chiste. In

terpretar é

também

sup

or que o n

ão falado se ocu

lta na p

alavra, e que a exu

berância

do sign

ificante faz falar o qu

e não está exp

licitamen

te significad

o. Esta

du

pla fu

nção d

a interp

retação faz emergir o in

finito p

otencial p

or natu

-

reza destin

ado à su

a não atu

alização, mas qu

e nad

a pod

e limitar. A

atua-

lização do in

finito p

otencial o d

estrói na su

a próp

ria essência qu

e é ser

poten

cial. Há sem

pre sign

ificados qu

e perm

anecem

e que en

viam a u

ma

assintotia p

erman

ente.

Sobre a in

terpretação d

os sonh

os, Freud

referind

o-se a esta estrutu

ra

evoca a metáfora d

o um

bigo: “o um

bigo dos son

hos”, Tra

um

sna

bel.

O p

eríodo carn

avalesco seria o um

bigo do son

ho d

e felicidad

e?

Re

ferê

nc

ias b

iblio

grá

fica

s

BAUDELAIRE, C. Meu Coração Desnudado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

CORRÊA, I. Da Tropologia à Topologia (2ª. Edição). Recife: CEF, 2009.

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SAUSSURE, F. Cours de linguistique générale. Paris: Payot, 1972.

Viv

a o

Ca

rna

va

l na

Sa

pu

ca

í 1

Co

nta

rdo

Callig

aris

A S

apu

caí tem u

m lad

o cruel. N

a avenid

a não h

á nin

guém

para

editar p

iedosam

ente as im

agens.

Imp

ossível não ver o ap

oio de d

estaque e h

armon

ia ou os em

pu

r-

radores atrás d

os carros alegóricos. Os d

iretores de ala p

uxam

, emp

ur-

ram, m

and

am p

arar ou correr. H

á fantasias qu

e se desfazem

antes d

a hora.

Aqu

ele lá perd

eu u

m sap

ato. Ou

tro foi para a aven

ida com

um

tênis p

reto

que d

estoa e brilha n

o meio d

as sand

álias dou

radas. A

í há d

ois que, em

vez de sam

bar, não p

aram d

e conversar.

As m

ulh

eres e os hom

ens m

ais bonitos, n

us, ou

quase, n

o destaqu

e,

ench

em a tela d

a televisão. O telesp

ectador p

ode im

aginar qu

e os corpos

de tod

os sejam form

osos e apetecíveis. M

as, na S

apu

caí, de p

erto, entre

1 Publicado originalmente no Jornal Folha de São Paulo, 9 de m

arço de 2000.

Page 23: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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11

44.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

as lantejou

las, aparecem

mu

itas carnes bran

cas e trêmu

las, um

pou

co

enjoativas.

Em

sum

a, pod

e surgir u

ma d

úvid

a: não era m

elhor n

a TV, tu

do bon

i-

to, tud

o aparen

temen

te espon

tâneo, u

m m

ilagre de alegria, sem

falhas e

sem erros?

Há qu

em ach

e isso mesm

o. Tarde, n

a noite d

e dom

ingo, n

um

cama-

rote, há três h

omen

s (turistas) e três m

enin

as. En

quan

to as men

inas sam

-

bam, u

m d

os hom

ens, bêbad

o, deitad

o no ch

ão, contem

pla n

a TV

a ver-

são Globo d

o desfile qu

e está passan

do logo atrás d

ele. Os d

ois restantes

preferem

fazer sua p

rópria ed

ição. Um

olha p

ara a avenid

a pela telin

ha

de su

a videocâm

ara. Ele p

repara a versão u

so família: n

ud

ez perm

itida,

mas sem

provocações. O

outro p

repara a versão d

ura: só fotografa as

mu

lheres qu

e respon

dem

obscenam

ente às su

as tentativas (eficazes, ali-

ás) de ch

amar a aten

ção.

Afin

al, eles estão vivend

o um

bom m

omen

to, quem

sabe um

sonh

o.

Por que n

ão editá-lo n

a hora? N

a mesm

a linh

a, não m

e estranh

aria que,

um

dia d

estes, um

prefeito d

o Rio colocasse telões gigan

tes no sam

bódro-

mo p

ara que p

ossamos, estan

do n

a Sap

ucaí, ver n

ossa alegria já editad

a

e, portan

to (dirão), m

ais perfeita.

Na fila p

ara comp

rar os ingressos p

ara o baile do S

cala, um

jovem

quer o baile d

e sábado, qu

e é o bom. C

inqu

enta reais é m

uito, ele d

iz, mas

desta vez ele vai, seja qu

al for o preço. C

onfessa: “N

ão aguen

to mais ver

isto só na televisão”.

Ele n

ão vai se decep

cionar. A

final, está já com

a experiên

cia editad

a

por an

os de S

cala na T

V. Su

a lembran

ça será igual a seu

sonh

o televisual

acum

ulad

o, mais a certeza d

e que ele esteve lá d

e verdad

e.

Mas voltem

os à Sap

ucaí. O

milagre é qu

e a avenid

a ganh

a da T

V.

Gosto d

as imp

erfeições, dos ven

tres moles, d

os sambas d

e pato bêbad

o e

das fan

tasias quebrad

as. É isso qu

e me com

ove. Recon

heço-m

e no esfor-

ço de tod

os, justam

ente p

orque é u

m esforço h

eróico, obstinad

o e fra-

cassado.

Mas d

e qual esforço estou

faland

o?

Sábad

o à noite, d

esfiland

o na aven

ida, às vezes a h

armon

ia enfra-

quece, a m

ágica parece estar p

restes a se desfazer. A

pren

do logo qu

e o

reméd

io é levantar os braços e os olh

os para a arqu

ibancad

a ou os cam

a-

rotes, ped

ind

o um

retorno: d

ancem

, se mexam

, se emp

olguem

conosco.

Nas n

oites seguin

tes, como esp

ectador, verifico qu

e é difícil recu

sar

este apelo. U

ma vez en

contrad

o um

olhar lá em

baixo, fica imp

ossível não

sacud

ir e acomp

anh

ar. O sam

ba é de tod

os, porqu

e é de tod

os o esforço

de se ver felizes. É

para isso qu

e serve o desfile: a arqu

ibancad

a se vê na

escola e a escola se vê na arqu

ibancad

a. Jun

tas se confirm

am n

a vontad

e

de alegria.

Afin

al, todos p

recisamos n

os ver de algu

ma form

a. Isso ped

e inven

-

ção e man

uten

ção. O C

arnaval é com

o a malh

ação anu

al coletiva neces-

sária para m

anter a im

agem, o “lo

ok” qu

e a gente qu

er. E a im

agem aqu

i

na S

apu

caí é hon

esta: não é alegria televisiva ou

babaca. Ao con

trário, é a

próp

ria imagem

do esforço qu

e custa p

assar pela vid

a man

tend

o o sorriso

e o samba n

o pé.

Nin

guém

aqui con

fun

de a fan

tasia com a rou

pa d

e cada d

ia e todos

sabem qu

e a fantasia é im

perfeita e em

baraçosa.

Há ou

tras man

eiras de ver, certam

ente. A

s mais p

atéticas são as que

tentam

passar p

or outra coisa qu

e não fan

tasias.

Por exemp

lo, algun

s anos atrás, u

m p

sicanalista fran

cês passou

o

Carn

aval no R

io. De volta à Fran

ça, declarou

a um

a assembléia ad

mirativa

que o C

arnaval carioca era, com

o ele se expressou

, “um

a experiên

cia de

gozo especu

lar”. Até aí tu

do bem

.

Mas era óbvio, n

a fala, um

desp

rezo para os ín

dios qu

e gostam d

e ser

alegres e de se olh

ar nesta alegria. N

a verdad

e o desp

rezo era pelo sim

-

ples fato d

e os índ

ios gostarem d

e se olhar - p

onto. S

uben

tend

ido: “A

gente aqu

i em Paris n

ão brinca com

espelh

inh

os; a gente n

em p

recisa se

ver; a gente, aliás, p

refere ser do qu

e se ver”. O en

graçado é qu

e ele falava

nu

ma situ

ação absolutam

ente p

arecida com

a Sap

ucaí: ele falava e su

a

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46.

tem

átic

a.

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11

l co

rre

io A

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OA

.47

temátic

a.

arquiban

cada só qu

eria se espelh

ar nele. A

ún

ica diferen

ça é que, n

aque-

le caso, todos qu

eriam se ver n

ão alegres e felizes, mas m

etidos a besta.

Con

seguiam

mu

ito bem.

Breves:

Por que a ban

deira estam

pad

a em cam

iseta ou su

tiã pod

e, mas d

ese-

nh

ada n

o corpo n

ão pod

e?

Ad

orei Roberta C

lose como sím

bolo da liberd

ade d

e escolha. S

ão as

verdad

eiras “Diretas Já”.

As im

pressões d

e Carn

aval são como u

m bloco qu

e deveria se ch

a-

mar A

Cad

a An

o Sai D

iferente.

Ma

ch

ad

o e

Ca

rtola

– Ac

ad

em

ia e

Esc

ola

1

Ro

bso

n d

e F

reita

s Pere

ira

Elaborad

o como esboço d

e mod

esta hom

enagem

aos centen

ários:

morte e n

ascimen

to de d

ois “pais d

a pátria” – n

o que esta d

enom

inação

pod

e ter de valor sim

bólico no seu

mais am

plo sen

tido2. S

imu

ltaneam

en-

te, prop

or um

a consid

eração sobre o ato de fu

nd

ação institu

cional e seu

s

efeitos para u

ma com

un

idad

e.

Um

Joaquim

Maria n

asceu p

obre, mu

lato (inven

ção brasileira para

os mestiços. V

er “O trato d

os viventes”, d

e Luís Felip

e Alen

castro), filho

de p

ai mu

lato e mãe p

ortugu

esa, ambos p

obres – classe méd

ia baixa em

lingu

agem d

e hoje. D

esceu o m

orro e morreu

branco, segu

nd

o seu atesta-

do d

e óbito.

1 Versão modificada de trabalho apresentado na Ciranda de Psicanálise, “Psicanálise e Literatura: um

a leitura de Machado de

Assis”, Rio de Janeiro, setembro de 2008. Um

a versão resumida deste tam

bém foi apresentada em

Santa Maria, por ocasião

do Seminário Psicanálise e Literatura, realizado em

outubro de 2009.

2"Minha pátria é m

inha língua”, dizia Fernando Pessoa, apropriado por Caetano Veloso na canção “Língua”.

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co

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l ma

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20

11

48.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Ou

tro, An

genor, n

asceu p

reto pobre, m

orou qu

ase toda su

a vida n

o

morro e n

os subú

rbios do R

io de Jan

eiro. O recon

hecim

ento, a gravação

do p

rimeiro d

isco solo, veio dep

ois dos sessen

ta anos d

e idad

e. Am

bos,

pou

co saíram d

e sua cid

ade n

atal (Rio d

e Janeiro), n

ão foram m

uito lon

ge

geograficamen

te, mas, em

termos d

e criação artística, expan

diram

nos-

sas fronteiras, con

solidaram

a inven

ção do B

rasil.

Du

as vertentes d

e criação diferen

tes e próxim

as. Um

pela escrita, n

o

texto escrito, notabilizad

o pelo en

saio e pela ficção (em

bora também

te-

nh

a escrito poesias e textos d

e dram

aturgia). O

utro, com

o genial com

po-

sitor de can

ções, esta forma d

e articular letra e m

úsica qu

e no B

rasil to-

mou

um

lugar sin

gular e origin

al em n

ossa cultu

ra. O sam

ba, de m

arginal

e expressão d

os excluíd

os, dos d

escend

entes d

os escravos, transform

ou-

se em referên

cia, traço iden

tificatório. “O m

ínim

o que se p

ode d

izer é que

a canção é u

m d

os meios através d

os quais o p

aís vem in

ventar e en

ten-

der si m

esmo” (N

estrovski, 2007).

Cu

rioso e surp

reend

ente, m

ais um

a vez, trabalho d

a letra. Letra do

texto, letra de m

úsica. Letra veicu

lada p

ela voz que m

arca o corpo, se

inscreven

do e escreven

do o in

conscien

te.

Neste texto, vam

os ressaltar a inscrição d

e um

a forma in

stitucion

al:

Mach

ado d

e Assis fu

nd

a a AB

L – Acad

emia B

rasileira de Letras. A

ngen

or

de O

liveira – Cartola – organ

iza com seu

s pares, am

antes d

o samba e d

o

carnaval, a E

stação Prim

eira de M

angu

eira, iniciativa qu

e reun

iu os blo-

cos existentes n

o morro. R

eorganizan

do a form

a de com

emorar o carn

a-

val, deu

outro estatu

to para u

ma com

un

idad

e.

Acad

emia

Discu

rso de M

achad

o de A

ssis, na abertu

ra da p

rimeira sessão.

20 de ju

lho d

e 1897

Sen

hores,

Investin

do-m

e no cargo d

e presid

ente, qu

isestes começar a A

cade-

mia B

rasileira de Letras p

ela consagração d

a idad

e. Se n

ão sou o m

ais

velho d

os nossos colegas, estou

entre os m

ais velhos. É

símbolo d

a parte

de u

ma in

stituição qu

e conta viver, con

fiar da id

ade fu

nções qu

e mais d

e

um

espírito em

inen

te exerceria melh

or. Agora qu

e vos agradeço a esco-

lha, d

igo-vos que bu

scarei na m

edid

a do p

ossível correspon

der à vossa

confian

ça.

Não é p

reciso defin

ir esta institu

ição, iniciad

a por u

m m

oço, aceita e

comp

letada p

or moços, a A

cadem

ia nasce com

a alma n

ova, natu

ralmen

-

te ambiciosa. O

vosso desejo é con

servar, no m

eio da fed

eração política, a

un

idad

e literária. Tal obra exige, não só a com

preen

são pú

blica, mas ain

-

da e p

rincip

almen

te a vossa constân

cia. A A

cadem

ia Francesa, p

ela qual

esta se mod

elou, sobrevive aos acon

tecimen

tos de tod

a casta, às escolas

literárias e às transform

ações civis. A vossa h

á de qu

erer ter as mesm

as

feições de estabilid

ade e p

rogresso. Já o batismo d

as suas cad

eiras com os

nom

es preclaros e sau

dosos d

a ficção, da lírica, d

a crítica e da eloqü

ência

nacion

ais é ind

ício de qu

e a tradição é o seu

prim

eiro voto. Cabe-vos

fazer com qu

e ele perd

ure. Passai aos vossos su

cessores o pen

samen

to e a

vontad

e iniciais, p

ara que eles o tran

smitam

aos seus, e a vossa obra seja

contad

a entre as sólid

as e brilhan

tes págin

as da n

ossa vida brasileira.

Está aberta a sessão.

Mach

ado d

e Assis faleceu

em 29 d

e setembro d

e 1908.

Escola

Cartola – A

ngen

or de O

liveira.

Com

positor, can

tor, instru

men

tista.

Nasceu

no R

io de Jan

eiro, 11/10/1908, e faleceu n

a mesm

a cidad

e em

30/11/1980.

Estação P

rimeira d

e Man

gueira fu

nd

ada p

or ele e um

grup

o de am

i-

gos em 28 d

e abril de 1928 (h

á oitenta e três an

os).

Trech

o de d

epoim

ento sobre a fu

nd

ação, ao Mu

seu d

a Imagem

e

do S

om3:

3 Endereço para consultas: ww

w.m

is.rj.gov.br/acervo.

Page 26: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.51

co

rre

io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

50.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

A sed

e foi in

stala

da n

a tra

vessa

Saiã

o L

ob

ato

, 7, n

o B

ura

co Q

uen

te.

A d

ireto

ria, p

or su

a v

ez, tin

ha o

s segu

inte

s no

mes: p

resid

en

te,

Satu

rnin

o G

on

çalv

es; vice-p

residen

te, An

gen

or d

e Castro

; prim

ei-

ro secretá

rio, Jo

rge P

ereira d

a S

ilva; seg

un

do

secretário

, Ped

ro d

os

San

tos; teso

ureiro

, Fra

ncisco

Rib

eiro; d

iretor d

e harm

on

ia: A

ngen

or

de O

liveira

(Carto

la); co

missã

o d

e frente, M

an

uel Jo

aq

uim

, Cam

ilo

e Narciso

; com

issão

de b

ateria

, Gra

dim

, Maciste, M

artin

s, Ismar e

cio.

Em

um

a entrevista a José C

arlos Rego, C

artola lembrou

que, n

o pri-

meiro carn

aval dep

ois da fu

nd

ação, a escola chegou

à Praça O

nze reu

-

nin

do cerca d

e 60 pessoas, com

um

grand

e nú

mero d

e mu

lheres, u

mas

vestidas d

e hom

em e ou

tras com fan

tasias feitas de p

apel crep

om. D

isse

ele: “A im

portân

cia da E

stação Prim

eira foi a de p

romover a u

nião d

os

diversos blocos d

o morro. Passou

a ser de tod

os. An

tes, cada bloco tin

ha o

seu d

ono.”

Esta d

eclaração nos au

xilia a trabalhar n

as possíveis resp

ostas a um

a

interrogação sobre a im

portân

cia de qu

e um

a escola seja fun

dad

a, e mes-

mo u

ma acad

emia. Por ora, vam

os deixar d

e lado a d

iscussão sobre su

as

diferen

ças e aproxim

ações. Nos d

ois exemp

los citados, os p

ersonagen

s

de n

ossa história estão sep

arados n

o temp

o e no esp

aço. Só p

ara

exemp

lificar; quan

do a A

cadem

ia Brasileira d

e Letras é fun

dad

a, Mach

a-

do d

e Assis era u

m escritor con

sagrado, seu

s pares eram

a elite das letras

nacion

ais. Cartola n

asceu n

o mesm

o ano d

a morte d

e Mach

ado (com

um

mês d

e diferen

ça) e a fun

dação d

a Escola acon

tece nu

m m

omen

to em qu

e

sua carreira com

o comp

ositor aind

a não está con

solidad

a. Lutava com

dificu

ldad

es para su

stentar-se (Fisch

er, 2008) e estamos ain

da p

róximos

de u

ma fase d

e sua vid

a em qu

e vend

ia comp

osições (prática u

sual n

a-

quela ép

oca ond

e quem

fazia o samba recebia u

ns trocad

os e, no m

áximo,

um

a parceria com

o reconh

ecimen

to) que se torn

aram su

cesso na voz d

e

cantores d

e rádio – com

o Francisco A

lves, Mario R

eis e Silvio C

aldas,

para citar algu

ns d

os mais im

portan

tes. A d

iferença será feita qu

and

o

exigir seu n

ome n

os créditos com

o comp

ositor e vend

er apen

as os direi-

tos de gravação.

O qu

e interessa ao p

sicanalista esta fu

nd

ação? Um

ato de in

staura-

ção, de in

scrição na cu

ltura. U

ma in

scrição que m

arca tanto o su

jeito,

quan

to seu tem

po e lu

gar, sua com

un

idad

e. Estes atos reú

nem

, agregam

um

grup

o de p

essoas institu

ind

o um

a comu

nid

ade – fazen

do fren

te à

disp

ersão dos m

oradores d

o morro e d

os escritores, mesm

o que as d

ife-

renças econ

ômico/cu

lturais sejam

eviden

tes. A elite n

a academ

ia e os

morad

ores do m

orro na escola. H

á um

a nova m

oldu

ra que faz com

que a

escrita e a mú

sica possam

sair de u

m lu

gar margin

al; pois, gu

ardad

as as

devid

as prop

orções, a ficção aind

a luta p

ara garantir u

m lu

gar de valor

na n

ossa cultu

ra. Em

outras p

alavras, passan

do d

e simp

les entreten

imen

to

para u

ma recep

ção de in

terpretação e in

venção d

e um

temp

o. Tarefa a

qual a literatu

ra brasileira se ded

icou d

esde seu

s prim

órdios; vid

e “O cor-

tiço”, “Mem

órias de u

m sargen

to de m

ilícia” e outros qu

e buscaram

dar

visibilidad

e e voz a um

mu

nd

o excluíd

o do recon

hecim

ento cu

ltural.

O sam

ba também

enfren

tou tod

a sorte de p

reconceitos e talvez te-

nh

amos qu

e reconh

ecer que esta valorização n

ão está feita de u

ma vez

por tod

as. Em

sua origem

, são inú

meros os relatos d

e persegu

ição poli-

cial, ond

e um

lugar “d

e samba” era sin

ônim

o de ban

did

agem e p

rosti-

tuição. H

oje, aind

a encon

tramos, n

a comp

lexidad

e de n

ossa cultu

ra,

bolsões de con

servadorism

o que ju

stificam os versos d

e Nelson

Sargen

to;

“o samba agon

iza mas n

ão morre”. O

u seja, a p

ersistência é n

ecessária.

A relação com

um

a origem m

arginal d

ireta (caso do sam

ba), ou com

um

estatuto n

ão hegem

ônico d

e reconh

ecimen

to (caso da escrita d

e fic-

ção) interessa sobrem

aneira aos p

sicanalistas. A

final, arte e p

sicanálise

escrevem e se in

screvem n

as margen

s. Ou

melh

or, perfazem

as margen

s

do litoral on

de d

ecidim

os nossa vid

a. Nas m

argens d

a vida, a literatu

ra

inscreveu

a terceira margem

do rio d

e nossa existên

cia. Este ato, a p

sica-

nálise recon

hece com

o um

a referência qu

e articula sim

bólico e imagin

á-

rio para p

rodu

zir mold

uras ao real. N

estes temp

os de referên

cias tão

esparsas e frágeis a d

ificuld

ade d

e se lidar com

a comp

lexidad

e pod

e

Page 27: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

co

rre

io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

52.

tem

átic

a.

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.53

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

levar a um

apelo ao sau

dosism

o de u

ma au

toridad

e ou m

esmo ao

triun

falismo egóico. N

ão é isto o que se esp

era de u

ma an

álise.

O ato d

e fun

dação ren

ova aposta n

a solidaried

ade e n

a comu

nid

ade,

além d

e lançar u

ma p

ossibilidad

e de tran

smissão. Lacan

um

dia afirm

ou

que a elaboração d

e um

saber dep

end

e mais d

a comu

nid

ade d

o que d

o

coletivo (fazend

o esta diferen

ça, talvez pu

déssem

os estar advertid

os para

os efeitos de gru

po).

Um

a das con

siderações p

ossíveis pod

e levar em con

ta os efeitos de

transm

issão, o desejo d

e transm

itir algo às gerações futu

ras e reconh

ecer

que ou

tros pod

em levar ad

iante o qu

e foi institu

ído. Tom

and

o a tradição

e reinterp

retand

o-a. Nas p

alavras do com

positor, u

ma sín

tese poética d

o

ideal d

e um

a institu

ição e da p

ossibilidad

e de tran

smitir:

“Todo o tem

po qu

e eu viver/S

ó me fascin

a você, Man

gueira

Gu

erreei na ju

ventu

de, /Fiz p

or você o que p

ud

e

Man

gueira.

Con

tinu

am n

ossas lutas

Podam

-se os galhos, colh

em-se as fru

tas

E ou

tra vez se semeia/E

no fim

deste labor

Su

rge outro com

positor

Com

o mesm

o sangu

e na veia.

Son

hava d

esde m

enin

o, /Tin

ha u

m d

esejo felino

De con

tar toda tu

a história

Um

dia a lira em

pu

nh

ei /Este son

ho realizei

E can

tei todas tu

as glórias

Perdoa-m

e a comp

aração, /Mas fiz u

ma tran

sfusão

Eis qu

e Jesus m

e prem

eia

Su

rge outro com

positor/Jovem

de gran

de valor

Com

o mesm

o sangu

e na veia.”

4

Mu

itas são as associações, um

a delas refere-se à tran

smissão d

e um

lugar, ou

às possibilid

ades d

e transm

itir-se um

saber. Sob qu

e cond

ições

isto se torna p

ossível? Certam

ente p

or um

desejo, veicu

lado com

o ato de

amor ao sign

ificante. Q

ualqu

er psican

alista sabe que o en

gano am

oroso

da tran

sferência é o qu

e perm

ite desd

obrar a experiên

cia da an

álise. Assim

como a n

omin

ação do sin

toma e, se tiver sorte, a id

entificação com

um

sinth

omem

, um

sintom

a do h

omem

e de su

a articulação com

o mu

nd

o.

Em

nosso caso com

o grand

e Ou

tro, barrado, p

ara que p

ossamos in

sistir

na d

escoberta, ou m

esmo in

venção d

e um

significan

te de su

a falta. Sem

-

pre a abertu

ra. Sem

pre? Talvez a ú

nica p

ossibilidad

e de p

erman

ência seja

o reconh

ecimen

to desta falta. E

sta que p

ermite d

esejar, a partir d

a irrup

-

ção de u

ma ord

em irred

utível. N

ão o imp

erativo do gozo, ao qu

al estamos

subm

etidos e qu

e, para evitá-lo, red

uzi-lo, con

torná-lo, fazer m

argens a

ele buscam

os formas d

e socialização. Cu

rioso parad

oxo, um

a vez que es-

tar com os ou

tros, sup

ortar as diferen

ças, é um

exercício de castração.

Nos d

ois exemp

los citados, n

as du

as hom

enagen

s, estes gênios,

“anten

as da raça”, fizeram

frente à barbárie com

sua obra e com

seu ato

de fu

nd

ação de u

ma in

stituição. U

ma acad

emia, n

os mold

es da acad

e-

mia fran

cesa, seguin

do os d

itames d

a cultu

ra do sécu

lo XIX

. Ou

tro, um

a

escola: que organ

iza os grup

os carnavalescos e, com

este ato, transcen

de

a simp

les organização d

a folia mom

esca. Vid

e a dim

ensão qu

e hoje têm

as escolas de sam

ba, prin

cipalm

ente d

o Rio, on

de m

últip

las atividad

es

edu

cacionais e d

e trabalho são levad

as ao longo d

o ano. Pois; organ

izou-

se um

a escola de sam

ba que p

assou a ser referên

cia de valor p

ara um

a

cultu

ra. “Projeto in

sistente d

e um

a sociabilidad

e generosa e d

espren

did

a,

em qu

e os prazeres d

o convívio e d

a mú

sica valiam m

ais do qu

e os louros

da glória.” (K

ehl, 2007).

A c

ultu

ra c

om

o u

m v

alo

rM

achad

o com escrita, C

artola com a can

ção. Am

bas referidas à letra.

Letra da ficção e d

o ensaio (vid

e coda, logo abaixo). Letra d

a mú

sica que

se torna can

ção; um

a das origin

alidad

es brasileiras. A qu

estão é como

4 “Todo o tempo que eu viver”, cantada em

dueto Cartola/Paulinho da Viola, registro inédito no CD Viva Cartola! 100 anos, Ed.Biscoito Fino

Page 28: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

ma

rço

20

11

l co

rre

io A

PP

OA

.55

co

rre

io A

PP

OA

l ma

rço

20

11

54.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

estas criações transcen

dem

o ind

ividu

al e tornam

-se referencia p

ara um

traço de id

entificação d

o social.

Há ap

roximações e d

iferenças en

tre a ficção e a canção. Porém

, no

Brasil, am

bas consegu

iram su

perar o an

tigo estatuto qu

e fazia diferen

ça

qualitativa en

tre arte pop

ular e eru

dita. E

ntre arte en

gajada e d

e pu

ro

entreten

imen

to. Elas con

seguiram

interp

retar sua realid

ade; fazen

do a

análise d

a conju

ntu

ra de seu

temp

o e espaço, critican

do os p

roblemas d

e

estrutu

ra e formação. Porém

, simu

ltaneam

ente, tiveram

a grand

eza de

ultrap

assar os limites d

e seu tem

po h

istórico, estabelecend

o um

valor

que se tran

smite, além

do con

tingen

cial. Além

do valor d

e mercad

o ou d

o

fetiche in

erente aos n

ossos temp

os mod

ernos e p

ós qualqu

er coisa. Pois

aprop

riar-se das p

rodu

ções cultu

rais, incorp

orá-los como u

m bem

que

transcen

da a lógica estritam

ente u

tilitarista, ou p

ragmática n

o seu sen

-

tido m

ais estreito imp

lica um

a respon

sabilidad

e com o p

atrimôn

io cul-

tural. R

espon

sabilidad

e que é assu

mid

a a desp

eito das vicissitu

des d

o

corpo e d

a história p

essoal, ou m

elhor, saben

do fazer algo in

teressante

com estas form

ações. Para os psican

alistas, ou p

ara quem

passou

pela

experiên

cia de an

álise, há u

m recon

hecim

ento d

e que o in

conscien

te é

um

dos n

ossos patrim

ônios d

e saber e que ele tam

bém se realiza n

as

inven

ções de M

achad

o e Cartola.

Co

daEn

saios: a nova geração e os fu

nd

adores

Bu

scamos reler três d

os ensaios d

e Mach

ado, d

e diferen

tes épocas,

ond

e o crítico man

ifesta sua p

osição, tanto com

relação à fun

ção que a

crítica literária deveria ter n

um

a cultu

ra como a n

ossa, quan

to um

pain

el

sobre a literatura e, o p

apel d

esemp

enh

ado p

or um

a nova geração d

e po-

etas. Neste ú

ltimo, escrito n

o mesm

o ano em

que “M

emórias p

óstum

as”

começou

a ser gestado, m

anifesta-se ali n

ão somen

te a análise crítica d

eu

ma p

lêiade d

e novos p

oetas, mas tam

bém u

ma con

sideração sobre a

fun

ção simbólica qu

e estes teriam(e viriam

a ter) no con

texto das letras

brasileiras.

São eles: “ O

ideal d

o crítico”, de ou

tubro d

e 1865; “Notícia d

a atual

literatura brasileira – in

stinto d

e nacion

alidad

e”, de m

arço de 1873 e fi-

nalm

ente, “A

nova geração”, d

e dezem

bro de 1879.

5

Segu

em algu

ns ap

ontam

entos:

“O id

eal do crítico”, 1865.

A crítica n

ão é somen

te querer falar à m

ultid

ão. Diferen

temen

te da

opin

ião, que m

uitas vezes d

enu

ncia o exercício d

os incom

peten

tes, críti-

ca é análise feita com

ciência e con

sciência, u

m d

ever de d

izer a verdad

e.

Assim

, ao analisar a literatu

ra, ela deve con

den

ar o ódio, a cam

aradagem

e a ind

iferença e estabelecer a sin

ceridad

e, solicitud

e e justiça. A

ind

a nas

palavras d

e Mach

ado, a m

oderação e u

rbanid

ade n

a expressão d

everiam

ser equivalen

tes na d

elicadeza d

as man

eiras.

O texto é escrito com

o um

voto, um

projeto d

e literatura e su

a crítica,

ond

e o escritor desejava o crescim

ento d

e nossa literatu

ra, susten

tado

por u

ma excelên

cia da crítica.

“Notícia da atual literatura brasileira – instinto de nacionalidade”, 1873.

Mach

ado in

icia fazend

o um

a descrição d

e nosso p

rojeto de literatu

ra

“engajad

a”, até então. N

este projeto, “vestir-se com

as cores do p

aís” de-

notava este in

stinto d

e nacion

alidad

e que bem

pod

eria ser sintom

a de

vitalidad

e e abono d

e futu

ro; pois d

aria fisionom

ia próp

ria ao pen

samen

-

to nacion

al.

En

tretanto, m

esmo recon

hecen

do este esforço, M

achad

o alerta que

“o que se d

eve exigir do escritor, an

tes de tu

do, é certo sen

timen

to íntim

o,

que o torn

e hom

em d

o seu tem

po e d

o seu p

aís, aind

a quan

do trate d

e

assun

tos remotos n

o temp

o e no esp

aço”. Utiliza-se d

e vários exemp

los

de clássicos d

a literatura com

o Sh

akespeare, p

ara mostrar qu

e mesm

o

5 Utiizamos a edição das Obras Com

pletas de M. de Assis, vol. III, ed. Nova Aguilar, de 1997, onde estes textos podem

serencontrados nas páginas 798, 801 e 809.

Page 29: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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56.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

que m

uitos d

e seus p

ersonagen

s não sejam

ingleses, vid

e Ham

let, Rom

eu

e Julieta, O

thelo, n

ingu

ém d

uvid

a que ele- o bard

o, é autor in

glês.

A p

artir desta tese vai fazer exten

sa análise d

o roman

ce, da p

oesia e

da lín

gua n

o Brasil. A

pon

taremos ap

enas, algu

ns tóp

icos: O rom

ance bu

sca

semp

re a cor local. A su

bstância, n

ão men

os que os acessórios, rep

rodu

-

zem geralm

ente a vid

a brasileira em seu

s diferen

tes aspectos e situ

ações.

Estas características se am

enizam

no cen

ário urban

o; assim a p

referência

pelos costu

mes d

o interior evid

encia o fato d

e que eles con

servam m

e-

lhor a trad

ição nacion

al. Ao fazer esta an

álise descritiva, M

achad

o faz

alusão a d

iversos autores qu

e não m

encion

amos aqu

i. Em

sua an

álise da

poesia o crítico é m

ais du

ro com os p

oetas. Pede m

ais simp

licidad

e e

senso d

e oportu

nid

ade; p

ois o “sublim

e é simp

les”, não n

ecessita dos ex-

cessos do p

arnaso e d

o roman

tismo.

Qu

anto ao teatro ele é rad

ical: “não h

á atualm

ente teatro brasileiro.

Só trad

uções, can

cã, mágicas, can

tigas burlescas ou

obscenas” qu

e não

chegam

a caracterizar um

teatro brasileiro. Na an

álise da lín

gua p

osiciona-

se contra o fran

cofonism

o na escrita! E

le que acom

pan

hava a trad

ição

intelectu

al francesa afirm

a que os galicistas p

or opção são os p

iores escri-

tores. Acon

selha en

tão a que se leiam

os clássicos – brasileiros mesm

o –

não p

ara escrever como eles, m

as para “extrair d

eles mil riqu

ezas, que, á

força de velh

as se fazem n

ovas”.

“Nem

tud

o tinh

am os an

tigos, nem

tud

o tem os m

odern

os”. Frase que

nos p

arece lapid

ar para n

ortear os prin

cípio d

e fun

dação d

a AB

L em 1897.

“A n

ova geração”, 1879.

Este n

os parece ser o qu

e mais con

tribui d

iretamen

te/explicitam

ente

para n

ortear a fun

dação d

a Acad

emia. E

scrito na m

aturid

ade, aos qu

a-

renta an

os, no m

esmo an

o em qu

e suas teses com

o crítico encon

tram o

estilo como escritor; é o an

o de in

ício de “M

emórias p

óstum

as de B

rás

Cu

bas” (que com

eçou a circu

lar em cap

ítulos n

a Rev

ista Brasileira

du

rante 1880).

Neste en

saio Mach

ado se in

terroga: haverá p

oesia nova? “ N

ão pod

e-

mos n

egar que h

á um

a tentativa, p

ois não é o fu

turo, n

ão é já o passad

o”.

Recon

hece qu

e “esta geração não qu

er prolon

gar o ocaso de u

m d

ia que

verdad

eiramen

te acabou”. O

roman

tismo acabou

, afirma M

achad

o neste

períod

o de su

a virada p

rodu

tiva. Faz um

a análise d

os fatores que estão

influ

encian

do a m

ud

ança. A

ciência n

aturalista através d

a seleção natu

-

ral de D

arwin

, a política rep

ublican

a e o ideal d

e Justiça são can

tados n

os

versos. Justiça é u

m id

eal social.

Mesm

o com estes elem

entos, M

achad

o posicion

a-se contra o realis-

mo; p

ois para ele é a corren

te literária mais fraca, a qu

e men

os resistirá e

atrairá os jovens. A

pon

ta os perigos d

a simp

les mim

etização, den

un

cian-

do os p

oetas que sim

plesm

ente im

itam V

itor Hu

go ou B

eaud

elaire e pas-

sa ao exame d

a obra de joven

s poetas.

Nas obras exam

inad

as, combate assim

ilação fácil da id

eologia políti-

ca aos versos. Exige qu

alidad

e. Recon

hece os p

oetas fortes, sem d

eixar de

apon

tar os defeitos d

eles. E in

centiva os talen

tosos.

Não vam

os nos d

eter na exten

sa análise feita. A

pen

as fomos verificar

quais d

os poetas an

alisados n

este artigo foram con

vidad

os a integrar a

AB

L quase vin

te anos m

ais tarde.

Assim

, pod

emos verificar qu

e entre os citad

os, vieram a com

por a

fun

dação d

a Acad

emia: V

alentim

Magalh

ães, Lucio d

e Men

don

ça, Afon

-

so Celso Ju

nior, A

lberto de O

liveira e Artu

r Azeved

o. Sem

falar de S

ilvio

Rom

ero que ap

esar de ter sid

o criticado com

o não ten

do veia p

oética e,

mais tard

e ter escrito um

a crítica no m

ínim

o pou

co formal d

e Mach

ado –

pois com

parava seu

estilo a seus sin

tomas clín

icos epiléticos – veio a ser

convid

ado a fazer p

arte da fu

nd

ação. O qu

e só comp

rova a capacid

ade

política agregad

ora de M

achad

o, eviden

ciada aqu

i, mas d

enotad

a desd

e

a juven

tud

e.

En

tre os clássicos citados n

o ensaio p

odem

os ver que algu

ns p

assa-

ram a figu

rar como Patron

os das cad

eiras que com

pu

seram a acad

emia:

Teófilo Dias; C

astro Alves; Tobias B

arreto; Gon

çalves Dias; José B

asílio da

Page 30: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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58.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Gam

a; Tomas A

nton

io Gon

zaga e Alvarez d

e Azeved

o foram h

omen

a-

geados com

o patron

os de su

as cadeiras (A

lista comp

leta de fu

nd

adores e

patron

os pod

e ser buscad

a no site d

a Acad

emia B

rasileira de Letras).

Podem

os saber o que d

iz Mach

ado sobre cad

a um

deles, em

seu en

saio.

Não é o caso d

e reprod

uzir n

estes apon

tamen

tos. Estam

os interessad

os na

constitu

ição institu

cional. A

ssim, vam

os nos lim

itar a algun

s detalh

es.

Ao fin

al faz algum

as recomen

dações e con

siderações: “N

ão é pos-

sível determ

inar a exten

são, nem

a persistên

cia do atu

al movim

ento

poético. C

ircun

stâncias extern

as pod

em acelerá-lo e d

efini-lo; ele p

ode

também

acabar ou tran

sformar-se. C

reio, aind

a assim, qu

e algun

s poetas

sairão deste m

ovimen

to e contin

uarão p

elo temp

o adian

te a obra dos p

ri-

meiros d

ias... Se tal fato se d

er, entre os m

oços atuais, ap

rend

erão os que

prossegu

irem n

a obra, qual a som

a e natu

reza de esforços qu

e ela custa;

verão jun

tar-se as dificu

ldad

es morais às literárias.”

E recom

end

a: nova geração freqü

enta os escritores d

a ciência... D

e-

vem, tod

avia, acautelar-se d

e um

mal: o p

edan

tismo... D

igo aos moços

que a verd

adeira ciên

cia não é a qu

e se incru

sta por orn

ato, mas a qu

e se

assimila p

ara nu

trição... Fujam

também

a outro p

erigo: o espírito d

e seita,

mais p

róprio d

as gerações feitas e das in

stituições p

etrificadas. O

espírito

de seita tem

fatal march

a do od

ioso ao ridícu

lo.”

“Finalm

ente, a geração atu

al tem n

as mãos o fu

turo, con

tanto qu

e lhe

não afrou

xe o entu

siasmo... E

stas palavras d

e um

crítico que tam

bém foi

poeta, rep

ete-as agora alguém

que, n

a crítica e na p

oesia desp

end

eu al-

gun

s anos d

e trabalho, n

ão fecun

do n

em gran

de m

as assídu

o e sincero;

alguém

que p

ara os recém-ch

egados h

á de ter sem

pre a ad

vertência am

i-

ga e o aplau

so oportu

no.”

Re

ferê

nc

ias b

iblio

grá

fica

s

FISCHER, Luís Augusto. Machado e Borges e outros ensaios sobre M

achado de Assis. Porto Alegre: Arquipélago Editorial,2008.

KEHL, Maria Rita. Sala de recepção. In: NESTROVSKI, Arthur (org). Lendo m

úsica: 10 ensaios sobre 10 canções. São Paulo:Publifolha, 2007.

NESTROVSKI, Arthur (org). Lendo música: 10 ensaios sobre 10 canções. São Paulo: Publifolha, 2007.

SILVA, Marília Barboza da; OLIVEIRA FILHO, Arthur. Cartola os tem

pos idos. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1983.

Sites:

Academia Brasileira de Letras; w

ww

.academia.org.br

Escola de samba M

angueira: ww

w.m

angueira.com.br

Centro Cultural Cartola: ww

w.cartola.org.br

Filme:

“CARTOLA – música para os olhos”, direção Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, DVD Europa Film

es, 2007.

Nestes en

dereços relacion

ados acim

a pod

em ser en

contrad

os todos

os roman

ces de M

achad

o disp

oníveis p

ara leitura e arm

azenam

ento. N

o

Cen

tro Cu

ltural C

artola além d

a história d

o comp

ositor e dos objetivos d

o

Cen

tro Cu

ltural, m

úsicas p

odem

ser escutad

as e baixadas.

No

tas p

ara

um

a s

eq

nc

ia d

e tra

ba

lho

1. Os d

ois exemp

los tomad

os aqui p

odem

eviden

ciar um

a ind

icação

para os p

sicanalistas; u

ma form

a de tom

ar os atos e prod

uções d

a cultu

ra

como sign

ificantes p

ara a próp

ria psican

álise. Não p

ara fazer um

a emu

-

lação, mas p

ara apren

der com

sua d

iferença e efeitos. A

institu

ição psica-

nalítica tem

um

a história qu

e começa com

Freud

com a fu

nd

ação da A

s-

sociação Psicanalítica In

ternacion

al (AP

I), em 1910 e se m

odifica com

Lacan. T

ransform

ação radical, p

elo men

os em algu

ns p

rincíp

ios prop

os-

tos, ao observarmos os textos d

e fun

dação d

a Escola Freu

dian

a de Paris

(EFP

), em 1964 e as p

roposições d

ecorrentes, m

ormen

te a de 1967, sobre

o psican

alista da escola.

Dad

a a extensa gam

a de in

terrogações contid

as neste tem

a, vamos

por ora, retom

ar du

as ind

icações, frases que se torn

aram qu

ase axiomas

lacanian

os: “o psican

alista se autoriza d

e si mesm

o” e, um

a outra frase

que ap

onta u

ma d

as fun

ções da in

stituição p

sicanalítica: “O

que sei é qu

e

o discu

rso analítico n

ão pod

e ser susten

tado p

or um

só. Tenh

o a sorte de

haver qu

em m

e siga. O d

iscurso, p

ortanto, tem

aí sua ch

ance” (Televisão,

in: O

utro

s Escrito

s, p. 530, ed

. Zah

ar. Em

francês, p

. 532). Dois en

un

cia-

Page 31: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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temátic

a.

co

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11

60.

tem

átic

a.

dos in

dicativos d

a man

eira de lid

ar com o p

aradoxo d

a posição d

o psi-

canalista qu

e está assujeitad

o a solidão d

o seu ato e, sim

ultan

eamen

te

necessita d

os pares p

ara que u

ma tran

smissão seja recon

hecid

a.

Podem

os acrescentar tam

bém qu

e a próp

ria experiên

cia institu

cio-

nal p

sicanalítica é u

ma “obra aberta”. N

em p

oderia ser d

iferente, sob

pen

a de p

erderem

-se os efeitos do d

iscurso p

sicanalítico n

a cristalização

institu

cional. A

ssim, faz-se n

ecessário que as d

iversas inven

ções de cad

a

institu

ição sejam com

partilh

adas, con

frontad

as com exp

eriências, for-

mações e tran

sferências d

iferentes.

2. A resp

eito da fu

nção d

o sinth

oma n

a transm

issão. Sin

thom

a de

cada u

m, com

o a institu

ição é sinth

oma d

o psican

alista? Qu

estões para

ser desen

volvidas qu

e ficam em

aberto. De qu

alquer form

a, há m

uito

trabalho p

ela frente p

ara desd

obrar estas afirmações d

e Lacan d

e que a

psican

álise é sintom

a do m

al-estar na cu

ltura e o p

sicanalista o sin

thom

a

da p

sicanálise.

3. Relacion

ado com

o item an

terior: Qu

al diferen

ça entre sin

thom

a

e sublim

ação? O qu

e fizeram Jam

es Joyce, E. C

lapton

, Cartola e M

achad

o

pod

e ser consid

erado u

ma form

a de su

blimação e/ou

também

caracte-

rizar-se como u

m sin

thom

a, este quarto en

lace que p

ermite o fu

ncio-

nam

ento d

a prop

riedad

e borromean

a. Isto serviria para os artistas reco-

nh

ecidos e, p

or decorren

cia lógica, para o recon

hecim

ento d

e um

savo

ir-faire p

assível de ser exercid

o por qu

alquer u

m.

Ca

rna

va

l: Trie

b, tre

ibe

n, trib

os

Lucia

no

Elia

1

An

tes de tu

do, d

evo descu

lpar-m

e jun

to aos leitores deste bom

e ágil

Correio d

a AP

PO

A, sobretu

do os qu

e o frequen

tam com

a devid

a assidu

i-

dad

e dos bon

s leitores, por retom

ar aqui algu

mas id

éias que já m

e presta-

ram gen

erosa ajud

a em u

m escrito m

eu an

terior, pu

blicado n

o nú

mero

191 deste C

orreio, de ju

nh

o de 2010, com

o tema L

inh

as d

e pa

sse – o

inco

nscien

te em ca

mp

o2. C

omo os m

eus am

igos gaúch

os (de n

ascimen

to

e adoção

3) têm o im

pru

den

te hábito d

e me con

vidarem

a particip

ar de

suas p

ublicações, sem

pre an

tenad

as com os m

ovimen

tos e com os m

o-

men

tos da cu

ltura e d

e seu tem

po, bem

na d

ireção que n

os recomen

da

1 Psicanalista, mem

bro do Laço Analítico Escola de Psicanálise, instituição mem

bro de Convergencia, Movim

ento Lacanianopara a Psicanálise Freudiana.

2 O meu texto nesse núm

ero foi “Futebol, paixão e falo, mas tudo pelo m

eio”.

3 Refiro-me, com

o “gaúcho de adoção”, a Robson de Freitas Pereira, carioca como eu, m

as que tornou-se gaúcho porescolha.

Page 32: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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.63

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11

62.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Lacan, o qu

e mu

ito me h

onra e alegra, terão qu

e sup

ortar, digam

os, al-

gum

efeito de rep

etição, coisa aliás com a qu

al os analistas já estão acos-

tum

ados. M

as tenh

o a meu

favor três argum

entos im

batíveis: o prim

eiro

é que a Pu

lsão (tema recorren

te) prod

uz rep

etição no sign

ificante e é m

ais

forte que eu

(risos): não p

osso fazer nad

a a não ser m

e respon

sabilizar

pelo

qu

e eu a

ind

a n

ão

sei, como p

ropõe Lacan

4; o segun

do argu

men

to é

que, qu

and

o escrevemos d

e no

vo

, como estou

fazend

o e anu

ncian

do d

es-

de o in

ício, escrevamos sem

pre d

o n

ovo, e D

eleuze já o ap

ontara in

filtrand

o

a diferen

ça na rep

etição, mas talvez sem

perceber qu

e isso é, em si m

es-

mo, u

m cu

riosíssimo efeito d

a próp

ria Pulsão, d

a qual estam

os faland

o de

no

vo, n

a arden

te torcida – sem

garantia algu

ma a

prio

ri – de qu

e consiga-

mos d

izer algo de n

ovo; e o terceiro argum

ento é o d

e que a rep

etição em

questão aqu

i não é reed

ição: escrevi este texto especialm

ente p

ara este

mero d

o Correio d

a AP

PO

A, sobre o C

arnaval.

Pois bem, en

tão vamos lá. C

omo eu

já dizia sobre o fu

tebol, ele evoca

a pu

lsão. O carn

aval, conven

ham

os, mais ain

da. C

omeço rep

etind

o um

pou

co do qu

e já havia d

ito sobre o termo Pu

lsão, mas, p

artind

o do alem

ão

Trieb. S

emp

re me in

trigou qu

e Freud

tenh

a usad

o este termo p

ara desig-

nar o m

ais insu

rreto de seu

s conceitos, aqu

ele que n

ão se dobra à lógica

conceitu

al cartesiano-kan

tiana: n

ão é um

a idéia clara e d

istinta, n

em p

ar-

ticipa d

as doze categorias a

prio

ri da R

azão.

Trieb é u

ma p

alavra que evoca força, im

pelên

cia, movim

ento, e p

or-

tanto, n

o limite, en

ergia, mas qu

e não cabe d

e mod

o algum

em n

enh

um

sistema coeren

te de p

ensam

ento qu

e tenh

a a energia com

o eixo: seria

um

a energia física, biológica? S

eria psíqu

ica? Bem

, mas o qu

e é um

a ener-

gia psíqu

ica senão u

ma n

ebulosa, con

fusa e im

precisa, beiran

do o m

ito?

Seria ela esp

iritual, e n

este caso beiramos, ou

melh

or, mergu

lham

os, no

místico? “Trieb

é um

pássaro? U

m avião? N

ãaaaao! É o su

per-h

omem

.”

Ou

: Is it a b

ird? Is it a

pla

ne? N

oo

oo

o, it’s a

twister? Yea

aa

h! S

e a pu

lsão

não é u

m p

ássaro nem

um

avião, ela pod

e assum

ir a forma d

e um

sup

er-

hom

em – o qu

e determ

ina o h

omem

– e o que o faz tw

ist. Mas n

ada tem

de

mística.

Twister ou

sup

er-hom

em – am

bos perfeitam

ente ad

equad

os ao senti-

do p

sicanalítico d

a pu

lsão, pois qu

e sacode e faz voar – o Trieb é u

m

conceito lim

ítrofe entre o som

ático e o psíqu

ico. Certo d

ia, intrigad

o com

essa formu

lação de Freu

d, d

ecidi tratar d

ela a sério, e chegu

ei à seguin

te

conclu

são5: lim

ite, na form

ulação freu

dian

a, não é p

ara ser enten

did

o

como fron

teira intra-orgân

ica, pon

to em qu

e o somático “esbarra” com

o

psíqu

ico, idéia d

elirante e alu

cinatória com

a qual m

uitos an

alistas co-

mu

ngam

, como fazem

, aliás, com tan

tas outras. O

limite d

a frase deve ser

tomad

o em sen

tido m

atemático d

e limite aberto d

e um

a fun

ção, desig-

nan

do u

m p

onto qu

e não h

á em su

as coorden

adas, u

m p

onto au

sente

entre d

uas séries con

tínu

as, introd

uzin

do u

ma d

escontin

uid

ade en

tre elas.

Essas séries sen

do o som

ático e o psíqu

ico, o limite com

o rup

tura faz com

que n

ão haja m

ais nem

somático n

em p

síquico n

o pon

to de im

pacto d

a

pu

lsão. Ela n

ão é nem

somática n

em p

síquica, e se in

screve em u

m n

ovo

camp

o, inéd

ito, criado a p

artir de seu

imp

acto, cham

ado cam

po d

o in-

conscien

te (e do su

jeito) – que n

ão deve ser con

siderad

o psíq

uico, através

de seu

s dign

os represen

tantes, o rep

resentan

te simbólico, lin

guageiro, a

Vo

rstellun

g – ou

aind

a, o significan

te, e a quota d

e afeto, irredu

tível ao

significan

te, a Affek

tbetra

g, base do qu

e será o gozo.

Pois bem, feita essa breve record

ação conceitu

al – e esta interp

reta-

ção que fiz d

a frase de Freu

d – lem

bremos ain

da o qu

e Freud

diz m

ais de

20 anos d

epois d

e ter introd

uzid

o a categoria de Trieb

em su

a obra: “as

pu

lsões são seres grand

iosos, míticos em

sua in

determ

inação”. O

ra, como

querer qu

e um

ser assim caiba em

algum

sistemazin

ho con

ceitual trivial?

4 Lacan, J. – O Seminário, Livro XV – O Ato psicanalítico (1967/68), Lição III, de 29 de novem

bro de 1967, inédito, documento

de trabalho. A frase de Lacan é: “Só podemos nos responsabilizar pelo que ainda não sabem

os responder”.

5 Ver, a este respeito, meu trabalho: O conceito de pulsão com

o explosão da unidade psicofísica – objeto da psicologia – nadeterm

inação do inconsciente como cam

po da psicanálise (1991), (Cadernos do Centro de Estudos Freudianos do Recife,1991) e tam

bém em

Elia, L. Corpo e sexualidade em Freud e Lacan, Rio de Janeiro, Uapê Editora, 1995, p. 49-53.

Page 33: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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64.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Com

o redu

zi-la a um

a energia, cu

jo estatuto restaria p

ara semp

re inso-

lúvel?Pen

so que só algo com

o a lingu

agem, tom

ada com

o camp

o e não

como fu

nção (com

o faz Lacan) seria cap

az de op

erar um

tal imp

acto de

rup

tura en

tre somático e p

síquico, qu

ebrand

o a un

idad

e psicofísica

ind

ividu

al dos p

sicólogos (e dos p

siquiatras, e d

e todos os p

ensad

ores do

fun

cionalism

o interacion

ista entre corp

o e men

te, que su

bdivid

em a m

ente

em várias fu

nções: sen

so-percep

ção, consciên

cia, atenção, p

ensam

ento,

mem

ória, hu

mor, afetivid

ade, sexu

alidad

e, socialidad

e, lingu

agem).

Imagin

em isso à lu

z da lógica n

ão-fun

cionalista d

a psican

álise: tomar

sexualid

ade e lin

guagem

como m

eras fun

ções psicofísicas en

tre outras,

quan

do são ju

stamen

te as categorias que Freu

d e Lacan

, respectivam

ente,

extraem d

o estatuto d

e fun

ções nesse p

ensam

ento oitocen

tista para al-

çar à categoria de cam

pos! O

interacion

ismo corp

o/men

te se reprod

uz

em ou

tro: ind

ivídu

o/ambien

te (Inn

enw

elt/Um

welt) – eixo m

etodológico

com o qu

al a psican

álise também

romp

e, toman

do o su

jeito como efeito

do sign

ificante, ele p

róprio com

o um

a fun

ção deste cam

po – e n

ão como

um

ind

ivídu

o conten

do fu

nções d

entro d

e si, e o represen

tand

o topo-

logicamen

te como u

ma ban

da u

nilátera, in

terno-extern

a, sem d

entro e

fora.O qu

e Freud

exprim

e em term

os de ru

ptu

ra (conceito-lim

ítrofe), Lacan

interp

retará em term

os de lin

guagem

, e a pu

lsão será o efeito da lin

gua-

gem sobre o corp

o: “as pu

lsões são o eco no corp

o do fato d

e que h

á um

dizer” (Lacan

, J. O S

inth

om

a, p. 18). N

o corpo, n

ão no organ

ismo, com

o

qual ela n

ada tem

a ver, o que n

ão significa qu

e não se ap

óie nele, com

o

um

trem n

o trilho (com

o qual o trem

, eviden

temen

te, nad

a tem a ver – o

trilho n

ão é parte com

pon

ente n

em d

etermin

ante d

o trem), o qu

e se ex-

pressa m

agnificam

ente n

a noção freu

dian

a de A

nleh

un

g – ap

oio, anáclise,

étaya

ge, pelo qu

al Freud

nos d

iz claramen

te que a p

ulsão está sim

ples-

men

te apoiad

a no in

stinto, com

o trem n

o trilho. O

corpo p

ulsion

al está

apoiad

o no organ

ismo, n

ada d

evend

o a ele em su

a constitu

ição (equívoco

de m

uitos, ao con

fun

direm

apoio com

co-determ

inação, e p

ensarem

que

é preciso con

siderar os fatores orgân

icos, em algu

m grau

, na d

etermin

a-

ção do su

jeito. Este equ

ívoco é notavelm

ente observad

o nas p

esquisas

psican

alíticas sobre os fenôm

enos p

sicossomáticos).

Bem

, mas voltem

os à palavra Trieb. E

la não cabe n

o sistema teórico

de en

ergia, é um

“ser mítico, gran

dioso em

sua in

determ

inação”

6. Mas

afinal d

e contas, o qu

e significa Trieb em

alemão? N

ão dá p

ara respon

der

que Trieb sign

ifica pu

lsão, porqu

e, além d

e serem term

os de lín

guas d

ife-

rentes e trad

ução n

ão ser significação, con

tinu

aríamos sem

nad

a saber

tanto o qu

e é Trieb qu

anto o qu

e é pu

lsão, pois qu

e é justam

ente este

termo, aqu

i usad

o para resp

ond

er pela sign

ificação de Trieb

, que requ

er

significação, e a con

tinu

aria requeren

do. Portan

to retomem

os a pergu

nta:

o que sign

ifica Trieb? Su

bstantivo d

o verbo treiben

, que qu

er dizer: m

ovi-

men

tar-se, dirigir-se a algo, ser im

pelid

o a algo. Mas o term

o tem su

as

armad

ilhas: esse m

ovimen

to imp

elente, coercitivo, ap

resenta d

ois aspec-

tos que bagu

nçam

todo o coreto d

e quem

esperava en

contrar n

ele um

claro sentid

o instin

tual ou

motivacion

al: 1º) o movim

ento n

ão tem u

m

alvo, meta ou

norte claros, n

ão se sabe mu

ito bem p

ara ond

e se está ind

o,

há u

ma esp

écie de en

trega, de m

ovimen

to às cegas em relação à con

s-

ciência d

o sujeito, d

iríamos n

ós, já disp

ond

o da n

oção de in

conscien

te.

Isso introd

uz n

o conceito d

e Trieb um

aspecto bastan

te interessan

te, do

lado d

a vida, e d

o lado p

oético, se quiserm

os, que é o d

e an

da

r a esm

o,

va

gab

un

dea

r, ir po

r aí, lev

ad

o p

or u

ma

força

qu

e no

s mo

ve m

as q

ue n

ão

no

s diz

on

de n

os lev

a. 2º) a cau

sa do m

ovimen

to é externa ao su

jeito, vem

de fora, e esse asp

ecto é explicitam

ente tratad

o por Lu

iz Han

ns, n

osso

emin

ente esp

ecialista no alem

ão de Freu

d, qu

and

o diz:

6 Alusão à famosa frase de Freud: A teoria das pulsões é a nossa m

itologia: as pulsões são seres míticos, grandiosos em

suaindeterm

inação”, da Conferência XXXII (“Angústia e vida pulsional”) das Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise(1932), in Edição Standard Brasileira, op. cit. Vol. XXII, 1969, p. 119.

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66.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Diz

-se em a

lemão

Vie

h tre

iben

para

“toca

r o g

ad

o”[...] [o

qu

e] é su-

po

stam

ente p

ercebid

o p

elo g

ad

o co

mo

“oriu

nd

a d

e alg

um

loca

l

ind

etermin

ad

o” (p

elas co

stas, o

u d

o a

lto); a

lém d

isso, a

açã

o v

em

com

o “o

rdem

” (som

) ou

tatilm

ente (u

ma v

ara

, agu

ilhão

, chico

te) –

po

rtan

to, a

lgo

“forte”, q

ue “im

pele”, m

as q

ue é “en

via

do

de a

lhu

-

res”: é

div

erso

da

sen

saçã

o d

e a

lgo q

ue b

rota

a p

artir d

o su

jeito

,

trata

-se d

e u

m a

guilh

oa

r qu

e fa

z c

om

qu

e o

mo

vim

en

to b

rote

no

suje

ito [g

rifos n

osso

s, com

exceçã

o d

o itá

lico n

as p

repo

sições d

o e

no

sujeito

, qu

e são

do

au

tor].

7

Con

sideram

os magistral essa colocação d

e Han

ns, p

ois deixa claro

que a força d

o Trieb é exterior ao sujeito, vem

de fora, é exp

erimen

tada

como vin

da d

e “alhu

res” e brota no su

jeito, mais d

o que vem

dele, o qu

e

dem

arca com clareza a d

iferença p

ara com o in

stinto, im

ped

ind

o qual-

quer con

fusão. M

as a referência ao gad

o tem, a m

eu ver, ou

tra virtud

e: a

de d

istingu

ir pu

lsão de in

stinto sem

recorrer à famigerad

a “hu

man

ida-

de”, com

o se a pu

lsão fosse o que é, só p

orque é coisa d

e ser hu

man

o, em

estilo bem la

pla

nch

ean

o. Para gado ou

hom

em, é assim

, e a referência ao

gado n

ão ocasiona n

enh

um

a possibilid

ade d

e confu

são com o p

lano bio-

lógico: o gado tam

bém sofre a ação d

o treiben

– V

ieh treib

en –

do qu

e lhe

chega d

e fora, como o agu

ilhão, a voz d

o peão ou

o chicote, com

o nós,

que falam

os, recebemos o efeito d

e forças que n

os chegam

de fora e qu

e,

nesse sen

tido, n

os faz de ga

do

. O gad

o é aqui m

etáfora de u

m su

jeito-

objeto, e não d

e um

sujeito em

suas fron

teiras biológicas com o m

un

do

anim

al.

Mas, p

odem

os aproxim

ar este sentid

o do cam

po d

a sexualid

ade. O

treiben

, o and

ar por aí, a esm

o, movid

o por u

ma força qu

e nos ch

ega de

fora e que n

os imp

ele, envolve u

ma d

imen

são de p

razer. O qu

e se faz por

força do treib

en n

ão é anód

ino qu

anto ao cam

po d

o prazer e d

o gozo.

Aliás, é p

or sermos im

pelid

os pelo Trieb qu

e gozamos, in

defectivelm

ente,

haja ou

não m

escla desse gozo com

a experiên

cia do p

razer, e é essa a

prin

cipal m

ola do salto d

a prim

eira para a segu

nd

a tópica freu

dian

as.

O verbo treib

en p

ode, assim

, referir-se a fazer sexo, e aqui, m

ais um

a

vez, não é exclu

sivamen

te aplicável aos seres h

um

anos, sem

que p

or isso

tenh

a qualqu

er relação com a vid

a biológica. Se d

izemos qu

e um

cachor-

ro and

a por aí, vad

iand

o e cruzan

do com

cadelas n

a rua, treib

an

do

, isso

não tem

qualqu

er relação com su

a vida in

stintiva, com

a reprod

ução d

a

espécie d

e cachorros, n

em com

os ciclos do cio d

a cadela. Pod

emos d

izer

o mesm

o de u

m ser h

um

ano qu

e, do p

onto d

e vista da p

ulsão, é u

m ca-

chorro, sem

nen

hu

ma red

ução d

e seu estatu

to hu

man

o ao de an

imal n

o

sentid

o aním

ico ou vitalista, m

as precisam

ente vagabu

nd

o, e pergu

ntar-

lhe: o qu

e você and

a fazend

o por aí, o qu

e and

a treiba

nd

o? O Trieb

, por-

tanto, é u

m su

bstantivo (qu

e virou con

ceito, virou B

egriff, e um

conceito

fun

dam

ental em

Freud

, um

Gru

nd

begriff) e qu

e quer d

izer o móbil, o m

ote

de tod

a ação direcion

ada, m

as não p

reviamen

te determ

inad

a em seu

alvo

e envolven

do u

ma d

imen

são de satisfação (B

efriedigu

ng)..

Em

inglês existe o term

o driv

e – que p

arece ser do m

esmo tron

co

etimológico an

glo-germân

ico de Trieb, o qu

e se verifica pela form

a sono-

ra – e que se torn

ou u

m con

ceito da p

sicologia motivacion

al (direção d

a

ação motivad

a, motivo). E

u tin

ha falad

o em m

ote, do qu

al motivo d

eriva

(Ih!, caí n

a armad

ilha d

a lingu

agem qu

e aqui veicu

lo: deriv

a evoca

translin

güísticam

ente d

rive, e o p

róprio Lacan

prop

õe o termo fran

cês

dériv

e para Trieb em

dad

o mom

ento, o qu

e significa qu

e estamos em

um

camp

o semân

tico convergen

te). Mas p

or ter caído n

o camp

o meram

ente

motivacion

al da p

sicologia, do in

divíd

uo d

e atos conscien

tes, este termo

– como aliás acon

tece com os term

os da lín

gua in

glesa, que p

or um

a es-

tranh

a razão prod

uzem

um

efeito de oxid

ação imed

iata nos con

ceitos

psican

alíticos – não serve m

ais para d

esignar u

m con

ceito fun

dam

ental

da p

sicanálise en

volvend

o a dim

ensão in

conscien

te.7 Hanns, Luiz – Dicionário com

entado do alemão de Freud, Rio de Janeiro, Im

ago Editora, 1996, verbere sobre pulsão, p. 339.

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tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

Com

o se sabe, o carnaval é u

ma festa m

uito an

tiga, existe desd

e a

antigu

idad

e e tinh

a, desd

e a sua origem

, cun

ho religioso e d

urava vários

dias. Posteriorm

ente, o carn

aval foi ganh

and

o um

progressivo sen

tido

pagão, e cu

riosamen

te é de form

a paralela a esse p

rocesso de m

un

da-

nização qu

e ele passa in

tegrar o calend

ário religioso da Igreja C

atólica.

Na Id

ade M

édia, m

ais exatamen

te em torn

o do sécu

lo XI, com

a insti-

tuição d

a Sem

ana S

anta, a festa d

o carnaval p

assou a ter su

a data m

eti-

culosam

ente m

arcada em

anteced

ência p

recisa com relação à P

áscoa.

Com

o a Páscoa ocorre n

o prim

eiro dom

ingo ap

ós a prim

eira lua ch

eia

que se verificar a p

artir do equ

inócio d

a prim

avera (no h

emisfério n

orte)

ou d

o equin

ócio do ou

tono (n

o hem

isfério sul), e a sexta-feira d

a Paixão é

a que an

tecede o D

omin

go de P

áscoa, então a terça-feira d

e Carn

aval ocorre

47 dias an

tes da P

áscoa.

O term

o carnaval d

eriva da exp

ressão latina ca

rne v

ale, com

posição

do acu

sativo carn

en, d

erivado d

e caro

, que sign

ifica carn

e, com a p

ala-

vra va

le, do verbo v

alere, qu

e significa b

em esta

r, pra

zer, d

ond

e: prazeres

da carn

e, sentid

o desd

e semp

re associado a carn

aval.

Os qu

arenta d

ias que an

tecedem

a Páscoa recebem

o nom

e de qu

a-

resma, e, segu

nd

o a Igreja, devem

ser marcad

os por fortes p

rivações e

jejum

de p

razeres da carn

e. Dad

o que a qu

aresma se in

icia na qu

arta-feira

dita d

e cinza

s, os dias qu

e anteced

em esta qu

arta-feira são marcad

os pela

inten

sificação dos an

seios por fru

ir os prazeres d

a carne n

o mais alto

grau. Particu

larmen

te, o dia qu

e a anteced

e, um

a terça-feira, portan

to, é

cham

ada d

e terça-feira

gord

a (m

ard

i-gras, em

francês) rep

resenta o áp

i-

ce, o clímax e – p

or que n

ão dizer, o orgasm

o desse p

eríodo d

e um

prazer

comp

rimid

o pela an

tecipação d

as privações qu

e o suced

erão? Dep

ois do

gozo máxim

o, as cinzas d

o gozo, e o início d

e um

temp

o de jeju

m – qu

a-

resma – até a R

essurreição.

Retom

and

o a nossa Trieb p

ara casá-la com o carn

aval, na con

clusão

deste breve escrito, d

iremos qu

e os vales da carn

e que valem

, prevalecem

nos d

ias de carn

aval, são um

a estrond

osa expressão cu

ltural d

a pu

lsão.

As tribos d

a cultu

ra hu

man

a se encon

tram n

os quatro d

ias de carn

aval

para se d

eixarem tocar p

elo aguilh

ão que as toca (tom

em esta p

alavra –

toca – em tod

as as assonân

cias e ressonân

cias de sen

tido qu

e quiserem

)

como gad

o, rebanh

o de corp

os que se m

ovem p

elas ruas, bailes e p

assare-

las de sam

ba, ind

o em fren

te, para on

de a força im

pelir, sem

pre em

busca

e no exercício d

o prazer.

Festa coletiva, de tribos, m

as na qu

al a busca d

e prazer é d

e cada u

m.

O Trieb é assim

: coletivo, transin

divid

ual, m

as com efeitos em

cada u

m,

irredu

tíveis e incom

paráveis com

os efeitos prod

uzid

os em ou

trem. V

ieh

treiben

, tocar o gado, n

os dizia Lu

iz Han

ns a resp

eito do sen

tido d

a pu

lsão,

para in

dicar a exteriorid

ade d

e sua fon

te em relação ao su

jeito. A alu

são

ao gado, con

tud

o, não d

eve ser aqui tom

ada n

o sentid

o dep

reciativo. Nad

a

contra o gad

o: são as nossas tribos. E

m vez qu

e tomarm

os os anim

ais

como m

odelo, é o h

um

ano m

esmo, em

um

a acentu

ação de su

a cond

ição

de objeto, con

dição à qu

al só ele tem acesso, com

o sujeito, p

ela via da

lingu

agem, qu

e se imp

õe aqui ao bich

o, que lh

e presta a ú

nica fu

nção d

e

metaforizar este objeto assim

coletivizado em

tribos no carn

aval. Qu

em

comp

arece mais u

ma vez aqu

i é a nossa boa e velh

a pu

lsão como aqu

ilo

que in

cide n

o sujeito e faz d

ele objeto, o toca como gad

o.

Um

a palavra m

e vem ao esp

írito para d

ar o pon

to final ao texto:

sassa

rico. Carn

aval é o mom

ento d

e sassaricar – e o que é sassaricar? É

sair por aí, d

ançan

do, rebolan

do, can

tand

o e saracoteand

o o corpo8. T

reibar

é sassaricar. Su

bstituin

do a p

alavra gado n

a expressão alem

ã Vieh

treiben

,

temos trib

o treib

en –

tracionar, p

ulsion

ar, imp

elir as tribos em su

a mar-

cha sassarican

te, de d

estino in

certo, mas d

e direção certeira ru

mo ao p

ra-

zer da carn

e.

8 Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Instituto Antônio Houaiss, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001, 1ª edição, p.2523.

Page 36: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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tem

átic

a.

ma

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11

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OA

.71

temátic

a.

A e

sc

ola

da

folie

Merc

ês G

hazzi e

Silvio

Cap

ave

rde1

An

os 70. O H

ino n

acional, can

tado em

filas bem ord

enad

as, marca

nossa en

trada n

o mu

nd

o da escola. O

s un

iformes bran

cos não escon

dem

a desacom

odação fren

te a esse novo am

biente. A

brigávamos em

nossas

fantasias a id

éia de qu

e esse regramen

to nos garan

tiria o ingresso n

a ave-

nid

a que con

du

ziria a descobertas e saberes ain

da n

ão sabidos. Q

ualqu

er

susp

iro mal colocad

o, e o olhar d

a professora se voltaria em

nossa d

ire-

ção. Novid

ade: p

ara termos acesso aos n

ossos sonh

os era preciso regrar

nossos corp

os, nossos h

orários, nossos d

esejos. Con

frontar-m

o-nos com

novas relações, p

autad

as por u

ma d

iversidad

e até então d

esconh

ecida.

Um

novo ritm

o vai nos en

volvend

o e se inserin

do em

nós.

Janeiro d

e 2008. Rein

gresso na escola. U

ma ou

tra escola. No lu

gar do

hin

o, um

samba en

redo. A

o invés d

a fila, a ala. O u

niform

e branco ced

e

1 Historiador. Diretor da Escola Municipal de Ensino Fundam

ental Lauro Rodrigues - Porto Alegre.

Re

ferê

nc

ias b

iblio

grá

fica

s

LACAN, J. – O Seminário, Livro XV – O Ato psicanalítico (1967/68), Lição III, de 29 de novem

bro de 1967, inédito, documento

de trabalho.

LACAN, J. – O seminário, livro XXIII, O sin thom

a, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2007, p. 18.

FREUD, S. – Para introduzir o narcisismo [1914], in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Com

pletas de Sigmund

Freud, Rio de Janeiro, Imago Editora, Vol. XIV, 1969.

HANNS, Luiz – Dicionário comentado do alem

ão de Freud, Rio de Janeiro, Imago Editora, 1996, verbere sobre pulsão, p. 339.

Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Instituto Antônio Houaiss, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2001, 1ª edição, p. 2523.

Page 37: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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.73

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11

72.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

En

tretanto, u

ma coisa é d

esfilar na escola, ou

tra, bem d

istinta, é

ser seu in

tegrante. O

perten

cimen

to a essa agremiação, sem

elhan

te ao

que acon

tece no u

niverso d

o futebol, está, m

uitas vezes, in

scrito desd

e

antes d

o nascim

ento. A

Escola d

e Sam

ba oferta um

a série de traços id

en-

tificatórios. Inscrições qu

e marcam

aqueles qu

e comp

artilham

destes

significan

tes, represen

tativos de cad

a um

a delas.

No carn

aval de 2009, ap

ós a quebra d

e um

carro alegórico, no in

ício

de u

m d

esfile, um

a gestante, p

or volta do sétim

o mês, é d

escida p

ela

grua, acaban

do, p

recocemen

te, sua p

assagem n

a avenid

a. Cen

as como

essa revelam o qu

anto o tem

po d

e um

integran

te da escola já está d

ado n

o

viés discu

rsivo que cerca su

a família, su

a comu

nid

ade. S

ou p

assista,

antes d

e passar, com

min

has p

róprias p

ernas, p

ela avenid

a. É claro, exis-

tem casos d

e troca de escola p

or diferen

tes questões, assim

como acon

te-

ce no m

eio futebolístico. Tam

bém h

á aqueles qu

e defen

dem

mais d

e um

estand

arte. Assim

, por m

ais que ten

ham

os a marca id

entificatória d

e um

a

escola, faremos com

ela, pela vid

a, o que p

ud

ermos.

Vale lembrar o “esqu

enta”

2 da Im

perad

ores do S

amba, qu

e diz: “E

eeu

souu

uu

u... S

ou Im

perad

or até morreeer...”.

Em

nossa ap

roximação n

os pergu

ntam

os: Qu

ais relações pau

tam es-

sas comu

nid

ades carn

avalescas? Qu

e solidaried

ades estão ali p

resentes?

Com

o escola, oferece quais ap

rend

izagens? Q

ual é seu

currícu

lo? Resp

os-

tas aind

a por con

struir...

Fica-nos, p

orém, u

ma sen

sação de qu

e essa é um

a escola inclu

siva.

Ela m

anifesta u

ma p

reocup

ação em ad

equar cad

a sujeito a u

ma fu

nção

coletiva, comp

atível com su

as habilid

ades. N

ão existe, na E

scola de S

am-

ba, “aquele qu

e nad

a sabe”. O p

atrimôn

io das exp

eriências in

divid

uais é

semp

re consid

erado (tod

o mu

nd

o é capaz d

e algo relevante... n

em qu

e

seja emp

urrar a alegoria...). Q

uem

teve a oportu

nid

ade d

e frequen

tar a

seu lu

gar à fantasia carn

avalesca. Mas a fan

tasia sobre a Escola segu

e...

Naqu

ele espaço, som

os como as p

equen

as crianças qu

e ensaiam

seus

prim

eiros passos d

e samba n

o chão n

a quad

ra. Tal qual o cen

ário da esco-

la formal ali rep

risávamos n

ossa cond

ição de qu

em “está fora d

o lugar”,

mas p

edin

do p

assagem.

Folia e desord

em são reorgan

izadas a p

artir do sign

ificante escola.

Agora, E

scola de S

amba.

Nad

a pod

e estar mais p

róximo e m

ais distan

te da fo

lie que o carn

a-

val de E

scola. A eu

foria do carn

aval – aquele qu

e nos rem

ete à liberação

pu

lsional, con

den

sada em

quatro d

ias anu

ais – se aproxim

a de n

ós na

quad

ra, nos en

saios seman

ais, mom

ento p

reparatório em

que a alegria

emerge e se tran

smu

ta em id

entificação ao en

redo d

e cada an

o. Porém, a

avenid

a requer ou

tra ordem

. Por trás do m

omen

to de êxtase d

os qui-

nh

entos ou

mil m

etros de su

ado d

esfile, encon

tramos o sign

ificante E

s-

cola, aquele qu

e nos m

arcou d

esde a in

fância, e qu

e agora nos rem

ete a

um

a plu

ralidad

e de sign

ificações: saber, cultu

ra, transm

issão, regramen

to,

mestria e, p

orque n

ão dizer, com

un

idad

e.

O sam

ba de escola n

ão é nosso ú

nico carn

aval. Aliás, C

arnaval rem

e-

te à plu

ralidad

e: não existe C

arnaval. E

xistem carn

avais. O d

esfile das

Escolas d

e Sam

ba do R

io de Jan

eiro, o Circu

ito Barra-O

nd

ina em

Salva-

dor, o frevo d

as ruas d

e Olin

da e as T

ribos do C

arnaval d

e Porto Alegre,

decid

idam

ente n

ão são a mesm

a coisa. Tomam

os, então, escola com

o nosso

abre-alas na p

assarela do tem

a carnavalesco.

Nos ú

ltimos três an

os, temos frequ

entad

o um

a das escolas d

e samba

de Porto A

legre, de in

ício um

pou

co timid

amen

te: afinal o qu

e fazíamos

por lá, isso aqu

i não é R

io de Jan

eiro nem

nad

a, e Porto Alegre n

ão tem

nen

hu

ma trad

ição de sam

ba no p

é (!!!). A exp

eriência d

e conviver n

esse

território vem n

os prop

orcionan

do u

m rico cam

po d

e interações. N

essa

grand

e forma d

e congraçam

ento, a p

rimeira coisa a referir é a recep

tivi-

dad

e que caracteriza os an

fitriões. Mesm

o sem sam

ba no p

é, não h

á hos-

tilidad

e ao estrangeiro, ao bu

rguês, ao d

iferente.

2 Esquenta é o nome genericam

ente atribuído ao grito de chamada para o desfile da escola. São reiteradam

ente utilizadosnos ensaios de quadra com

o forma de em

polgar e assegurar a pertença e a identificação dos integrantes à escola.

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74.

tem

átic

a.

Crô

nic

as

de

Ca

rna

va

l.

apren

da d

e acordo com

suas cap

acidad

es e desejos. O

resultad

o é o espe-

táculo tran

smitid

o, anu

almen

te, para cen

tenas d

e países. O

xalá a escola

formal p

rodu

zisse a possibilid

ade id

entificatória qu

e vemos acon

tecer

na E

scola de S

amba.

Qu

em é qu

e aind

a não se p

ergun

tou: p

or que n

ão emp

regar o mesm

o

emp

enh

o, o mesm

o rigor, ded

icação e criatividad

e dos barracões p

ara

constru

ir um

a nação m

enos d

esigual?

Frequen

tar um

a quad

ra de escola – lu

gar de con

strução d

e um

saber

diferen

te da escola form

al, lugar em

que u

ma p

luralid

ade d

e saberes con-

vive, dom

and

o a “folie” p

ara transform

á-la em beleza – p

oderia, qu

em

sabe, trazer algum

a luz a estas qu

estões.

casa do fu

nd

ador d

e um

a das alas, terá visto u

ma fam

ília inteira en

volvi-

da em

todos os d

etalhes qu

e prep

aram a gran

de n

oite do d

esfile. Terá

também

notad

o o quan

to, ali, está presen

te um

sentim

ento d

e perten

ça a

um

lugar, a u

ma m

arca. Com

o em u

ma in

stituição form

al de en

sino, os

pap

éis estão bem d

emarcad

os e tud

o gira em torn

o de u

m id

eal maior a

ser apresen

tado n

a avenid

a.

Há, n

a Escola d

e Sam

ba, espaços p

ara apren

der o qu

e não se sabe:

na bateria, tocar u

m n

ovo instru

men

to; nas alas, d

omin

ar um

a nova

coreografia; no can

to do sam

ba enred

o, acrescentar firu

las rítmicas e

harm

ônicas.

A id

éia de u

m “Pu

xador d

e Sam

ba”, desp

rezada p

elo mestre Jam

elão

da M

angu

eira (para qu

em “p

uxad

or” é de fu

mo... E

le se autod

enom

ina-

va, cantor) rem

ete-nos à im

agem d

aquele a qu

em com

pete can

alizar na

avenid

a a energia coletiva d

as alas que can

tam em

un

íssono, “sem

atra-

vessar”3. Já o M

estre-Sala, in

corpora o saber an

cestral da escola e o

apresen

ta aos espectad

ores do d

esfile. Com

o não com

pará-los, com

o

não en

contrar n

eles a figura id

ealizada d

o professor d

a escola formal?

Avan

ça o desfile d

e person

agens: a Porta B

and

eira defen

de com

afinco o p

avilhão d

a escola. Osten

ta com orgu

lho o sím

bolo da in

sti-

tuição. T

raz aí a garra daqu

elas figuras p

ercebidas com

o mais su

bal-

ternas n

os estabelecimen

tos de en

sino: as m

erend

eiras, as coorden

a-

doras d

e discip

lina, as orien

tadoras, qu

e beijam seu

escud

o, mesm

o

sem receber os ap

lausos d

a assistência d

edicad

os à Porta Ban

deira d

a

escola de sam

ba.

O recon

hecim

ento in

ternacion

al que o d

esfile das escolas d

e samba

do B

rasil recebe, só nos m

ostra a capacid

ade d

e criação e prod

ução cole-

tiva que caracteriza estas com

un

idad

es. Rep

resenta, com

o nas an

tigas

man

ufatu

ras, a possibilid

ade d

e que cad

a um

contribu

a a seu m

odo e

3 Num desfile de escola de sam

ba, atravessar significa que as alas não estão cantando a mesm

a parte do samba enredo. Na

avaliação dos jurados isso pode representar perda de pontos no quesito harmonia.

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ensaio.

Cria

çã

o d

o te

mp

o

Maria

Âng

ela

Bulh

ões

A origem

é semp

re mítica, u

ma h

ipótese, p

ura in

terrogação. Com

o

nu

m livro, as p

rimeiras p

áginas, os p

rimeiros cap

ítulos d

e nossas vid

as

vão send

o escritos pelas m

ãos de qu

em n

os cuid

ou. E

sses vão escrever

sobre o mom

ento d

e nossa ch

egada. A

palavra vid

a deve tom

ar sentid

os

ltiplos e p

arecer algo especial. O

u foi isso qu

e me fizeram

acreditar!

No com

eço o temp

o não tem

a verdad

eira existência, é ap

enas u

m

contín

uo d

e sensações. A

pós as p

rimeiras p

áginas, qu

e com u

m p

ouco d

e

sorte foram bem

redigid

as, escritas com tod

o cuid

ado, en

tramos n

o capí-

tulo d

o sonh

o. Ah

, a infân

cia! Essa tem

gosto de p

retérito perfeito. É

que en

contram

os tal qual n

um

filme, n

osso sonh

o inven

tado. A

ind

a hoje

me im

pression

a a forma sim

ples e in

tensa d

essas vivências. D

o choro ao

riso foram-se n

ão mais qu

e instan

tes. Tud

o isso de form

a mágica, absolu

-

ta, deixa im

pressões p

rofun

das. A

idéia d

esse filme-m

emória carrega o

tom d

a incerteza. Foi verd

ade m

esmo? A

s imagen

s pod

em ser tão irreais e

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Crô

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as

de

Ca

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78.

ensaio

.

ao mesm

o temp

o acomp

anh

adas d

o mais p

uro sen

timen

to de verd

ade. A

irrealidad

e repleta d

e verdad

e, assim m

e toma o cin

ema, assim

me tom

a

min

ha in

fância.

O tem

po n

aquela ép

oca era mais d

emorad

o, levava anos p

ara um

a

tarde p

assar. O tem

po d

e min

ha verd

adeira existên

cia tardava ch

egar.

Qu

and

o o temp

o chega? O

presen

te é esse temp

o inap

reensível qu

e quan

-

do você vai tom

á-lo já se foi, escorregou.

Tud

o recomeça n

o mesm

o instan

te que term

ina, tal qu

al o movim

en-

to das m

arés. A id

éia do tem

po sem

pre m

e imp

ressionou

. Com

o que o

mesm

o temp

o do relógio p

ode cau

sar imp

ressões tão diversas? O

temp

o

presen

te é esse que p

or estar perto d

emais n

un

ca lhe d

amos seu

devid

o

valor. Deveríam

os confiar m

ais no p

resente, ele n

ão falta jamais, su

a pre-

sença é sem

pre garan

tida. E

le, ao contrário d

o pretérito p

erfeito, se imp

õe

nu

ma realid

ade p

or vezes maçan

te, presen

te na alegria e n

a tristeza.

Talvez aind

a falte o verdad

eiro reconh

ecimen

to a esse verdad

eiro

temp

o. Sin

to que com

eço a me afeiçoar ao p

resente. Pen

a! Ele n

em m

e

escutou

e já se foi.

Com

o estou d

edican

do esse escrito ao tem

po, p

reciso falar dele, qu

e

nu

nca ch

ega, senta e joga con

versa fora, mas com

o bom am

igo é semp

re

esperad

o com águ

a no fogo. O

futu

ro tem o p

oder d

e nos d

ar esperan

ças

ao mesm

o temp

o em qu

e nos d

eixa comp

letamen

te apreen

sivos. Todos

querem

saber dele p

ara dorm

ir tranqü

ilos.

Afin

al, ele bem p

ode estar ap

rontan

do algu

ma travessu

ra! Precisa-

mos d

efinitivam

ente saber o qu

e está maqu

inan

do! E

ntretan

to, ele sabe

que seu

charm

e e seu p

oder estão n

o mistério. N

ão se faz de rogad

o e não

man

da n

otícias. Faz questão d

e nos d

eixar assim, p

erdid

os nas in

certezas

do fu

turo. A

h! E

sse adorável m

aland

ro!

Existe o tem

po! O

relógio, esse, contin

ua sem

o men

or remorso m

ar-

cand

o cada segu

nd

o, cada m

inu

to com su

a precisão m

atemática, qu

ase

irritante. C

omo o relógio n

ão comp

reend

e que às vezes p

recisamos d

e

mais tem

po? N

un

ca vi tanta in

transigên

cia mascarad

a de p

erfeição. O

temp

o passa p

ara todos e p

ara tud

o, pelo m

enos n

isso há u

m p

ouco d

e

iguald

ade. C

laro, certamen

te isso não garan

te justiça, m

as o temp

o não

tem esse tip

o de com

prom

isso.

No fin

al, que ain

da n

ão chegou

, pois d

epois n

ão pod

erei escrever

(armad

ilhas d

o temp

o!) imagin

o assim. U

ma ilu

stre descon

hecid

a bate

em m

inh

a porta e n

o aguard

o de m

inh

a pessoa n

ão dem

onstra a m

enor

pressa. Q

uan

do fin

almen

te dou

o ar de m

inh

a graça, com u

ma in

timid

a-

de qu

e não lem

bro ter lhe d

ado, m

e faz sinal p

ara segui-la. M

eio atordoa-

da, ten

to argum

entar qu

e preciso d

e mais tem

po. E

la me olh

a com o olh

ar

firme d

e quem

não aceita ser qu

estionad

a e, com a au

toridad

e que só a

morte in

spira, m

e leva. Saio olh

and

o para trás,d

esacreditan

do em

tud

o

que se p

assa, com olh

ar perd

ido d

e pretérito im

perfeito.

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agenda.

ag

en

da

dia

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tivid

ad

e

pró

xim

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úm

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Institu

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18

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14

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eun

ião d

a C

om

issão d

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evista

11

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0m

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eun

ião

da C

om

issão

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perió

dico

s

14

e 28

20

h3

0m

inR

eun

ião

da C

om

issão

do

Co

rreio

10

, 17

, 24

e 31

19

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0m

inR

eun

ião d

a C

om

issão d

e Even

tos

10

21

hR

eun

ião d

a M

esa D

iretiva

11

09

h3

0m

inR

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Page 42: Correio APPOA 199 mioloSegunda-feira, 20h30min, mensal. Início: 28 de março. Estudo do Seminário O Sinthoma Coordenação: Adão Costa Segunda-feira, 10h, semanal. Início em março

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