Correção_txt_Cicero-texto_2_-Herbert_Marcuse_e_o_marxi smo_heideggeriano.doc

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Herbert Marcuse e o marxismo heideggeriano A posição marxista de Herbert Marcuse remonta à sua leitura de duas obras que tiveram influência decisiva em sua visão posterior. A primeira delas é o clássico “História da Consciência de Classe” de Georgy Lukaks e a outra é “Marxismo e Filosofia” de Karl Korsch, ambas publicadas no ano de 1923, quando o filósofo tinha apenas 25 anos. Dentre a vasta obra de Herbert Marcuse, algumas há que conquistaram maior destaque, em virtude da relevância histórica de alguns temas, dada a recepção estudantil que viu nele uma espécie de avatar da revolução. Dizer quais são essas obras: o artigo sobre os Manuscritos Econômico-Filosóficos de Marx publicado em 1932. Para traçar historicamente a trajetória de Herbert Marcuse, se impõe destacar as incursões de Marcuse pela filosofia heideggeriana; aliás, um ponto sobre o qual Jurgen Habermas já chamara a atenção na década de 60.. A passagem encontra- se no final da introdução da primeira obra de Marcuse, “A Ontologia de Hegel”, na qual, o autor afirma: “Qualquer contribuição que este trabalho possa dar ao desenvolvimento e esclarecimento de problemas há uma dívida com o trabalho filosófico de Heidegger.” O próprio Habermas, ao citar a passagem acima (dizer em que obra- rodapé) esclarece que não tivera oportunidade de questionar Marcuse acerca de tal asserção – observação que fez em 1968, um ano em que as ideias de Marcuse estavam em alta, e,

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Herbert Marcuse e o marxismo heideggeriano A posio marxista de Herbert Marcuse remonta sua leitura de duas obras que tiveraminfluncia decisiva em sua viso posterior. A primeira delas o clssico Histria da!onscincia de !lasse" de #eor$% &u'a's e a outra Marxismo e (ilosofia" de )arl)orsc*+ ambaspublicadasnoanode,-./+ quandoofilsofotin*aapenas.0anos.1entre a vasta obra de Herbert Marcuse+ al$umas * que conquistaram maior destaque+em virtude da relev2ncia *istrica de al$uns temas+ dada a recepo estudantil que viunele uma espcie de avatar da revoluo.1i3er quais so essas obras4 o arti$o sobre os Manuscritos 5con6mico7(ilosficos deMarx publicado em ,-/.. 8ara traar *istoricamente a tra9etria de Herbert Marcuse+ seimp:e destacar as incurs:es de Marcuse pela filosofia *eide$$eriana; alis+ um pontosobreoqual ..A passa$emencontra7senofinal daintroduodaprimeiraobradeMarcuse+ A?ntolo$iadeHe$el"+ na qual+ o autor afirma4@ualquer contribuio que este trabal*o possa dar ao desenvolvimento e esclarecimento de problemas *uma dAvida com o trabal*o filosfico de Heide$$er." ? prprio Habermas+ ao citar a passa$em acima Bdi3er em que obra7 rodapC esclarece que no tivera oportunidade de questionar Marcuse acerca de tal assero Dobservao que fe3 em ,-=E+ um ano em que as ideias de Marcuse estavam em alta+ e+equivocadamente ou no+ davama t6nica aos muitos protestos suscitados pelomovimento estudantil. Fodavia+ somente coma publicao de uma colet2nea de textos dofilsofo+ quecontin*am exclusivamente seu pensamento relacionado com a filosofia de Heide$$erpublicadonoanodocentenriodeHerbert MarcuseB,--EC+ quetal ideiaadquirerecon*ecimento. Godap4HabAamos9napublicaodeA 5scolade(ran'furt"deIi$$er*aus+ acerca desta passa$em.Jo obstante+ pelo menos na pesquisa acadmicadelAn$uain$lesa+ *aviaaindaumalacunadocumental queimpediaincurs:esmaisdetal*adasqueleperododaobradeMarcuse.A colet2neadetextostra3idalu3naquele ano+ expun*a o pensamento proto7*eide$$eriano de Herbert Marcuse+ desde suaadesofilosofiadoautordeHereFempo+ almdeesclarecimentosacercadesuaulterior ruptura com o pensamento do autor de Ser e Tempo. H nessa ruptura ra3:es deordem puramente filosfica D que possuem maior relev2ncia para o presente trabal*oB...CD com tambm outras de ordem pessoal+ atinentes posio polAtica de Heide$$erque viria a abraar o iderio na3i7fascista.8erto do final daquela dcada de ,-.>+ mais precisamente em ,-.K+ Martin Heide$$erpublica seu monumental Her e Fempo"+ que causaria um$rande impacto nopensamento de Marcuse. Jeste ponto+ imperioso recon*ecermos a relao queMarcusetravavacomal$umasdasescolasfilosficasemebulioemsuapoca.Aacademia tra3ia em seus seminrios as $randes escolas comuns no perAodoimediatamente anterior $uerra4 o positivismo+e neo'antismo e o neo7*e$elianismo.Marcuse era parte de uma $erao inconformada com os *orrores da primeira $uerra+eventoqueexi$iaposicionamentofilosficoepolAticodealcancesuperior quelespossAveis dentro das escolas supracitadas. A obra de Heide$$er e as quest:es que estalevantavaatraAramMarcuseparaauniversidadeoutrave3+ onde+ nacompan*iadeoutros luminares da intelli$ent3ia alem D Hanna* Arendt+ Han7#eor$ #adamer+ )arl&oLit*+ entre outros+ percebeu naquele novo pensamento uma filosofia cu9a relev2nciaproporcionasse as ferramentas tericasadequadas a enfrentaras novas exi$nciasdoreal. Acerca deste momento+ re$istrou48ara mim e meus ami$os+ a obra de Heide$$er aparecida como um novo comeo4 provamos do seu livroBHereFempoesuaspalestras+ dasquaisobtAn*amosastranscri:esCcomoumafilosofiafinalmenteconcreta4 aqui ela falava da existncia+ de nossa existencia+ do medo+ do cuidado+ do tdio e assim pordiante.Fambmvivenciamosumaemanciapoacadmica4A interpretaodeHeide$$erdafilosofia$re$a e do idealism alemo+ que nos ofereciam novos prismas sobre textos antiquados+ fossili3ados.",1No original ingls:To me and my friends,Heideggers work appeared as a newbeginning: weexperiencedhisbook[BeingandTime !andhislec"#res, whose"ranscrip"s we ob"ained$ as, a" long las", a concre"e philosophy: here "here was "alkof exis"ence[%xis"en&, of o#rexis"ence, of fearandcareandboredom, andsofor"h' (e also experienced an )academic emancipa"ion: Heideggers in"erpre"a"ionof *reekphilosophy and*ermanidealism, whicho+ered#s newinsigh"s in"oan"i,#a"ed, fossili&ed "ex"s'- !"rad#./o minha$A passa$em mostra a 2nsia dos pensadores de responder aos desafios do momento+ oque fariam com base numa filosofia que relacionasse seus princApios diretamente com avida+ isto+ umaaborda$emfilosficalidimamenteconcreta. Mimperiosoquenosdemoremos umpouconaanlise dotermoemdestaque+ 9que darat6nica dopensamentomarcuseanopresenteinclusivenaobradematuridadedofilsofo. Jestecontexto+ concretoumcon*ecimentoderelev2nciaimediataparaaexistnciado*omemenquantoser pro9etadonomundo+ isto+ umsaber capa3 defornecer7l*eferramentas crAticas para arrostar os pressupostos tericos da dominao. 7 acerca do que eleentende por uma filosofia autntica4Aut*entic p*ilosop*i3in$ refuses to remain at t*e sta$e of 'noLled$e; rat*er+ in drivin$ t*is 'noLled$eon to trut* it strives for t*e concrete appropriation of t*at trut* t*rou$* L*ic* *uman dasein. !are BHor$eCfor *uman existence and its trut* ma'es p*ilosop*% a practical science" in t*e deepest sense+ and it alsoleads p*ilosop*%Dand t*is is t*e crucial point D introconcrete distress BNedrOn$nisC of *umanexistence". B?n concrete p*ilosop*% D p. /=C!omo o texto denota+ nesta dcada+ suas convic:es marxistas incipientes encontram7secomos seminrios deHeide$$er+ nos quais esteexploravapontos desuafilosofiaplenamenteconectados comavida+ ounumaterminolo$ia9*eide$$eriana+ comaexistncia. Jotemos que em Her e Fempo" a analAtica existencial tra3ia duas cate$orias+asaber+ temporalidade"e*istoricidade"+ nasquais+ evidentementeodaseinsevimerso.AoabordaraquestodaautenticidadeDcentral suafilosofia7Heide$$erconsidera a capacidade que o *omem tem de atuali3ar o passado lu3 das possibilidadesfuturas.A posioopostaDouinautnticaDrepresentadapelaaceitaopassivaeconformista do dado como expresso ultima do real+ o que deixa o *omem em situaosemel*ante ao ser das coisas" + num claro processo de reificao. Acresce notar+ que talfilosofiaaindatra3iaoselodori$or cientAfico+ 9que$estadasobopensamentofenomenol$ico de 5dmund Husserl B,E0-D,-/EC oque emprestava7l*e solide3suficiente para confrontar o cientificismo reinante. 5ste cientificismo posava como aPnica ferramenta capa3 de depor a metafAsica. 1estarte+ a filosofia de Heide$$erafastava7se assim do vis ainda al$o rom2ntico das filosofias de vida" populares emseu tempo. Jotemos ainda que a atrao que a filosofia de Heide$$er tivera para Marcuse+ deve7setambm em partes c*amada crise do marxismo. Gosa &uxembur$o fora enftica emsuacondenaodovan$uardismode&enin+ sobretudoporquetal aomostrava7sebastante inadequada para outros paAses da 5uropa !entral e ?cidental+ onde oproletariado mostrava7se 9 maduro para a ao revolucionria. 1este trabal*o com Martin Heide$$er decorrem suas primeiras reflex:es crAticas sobre opapel datcnica. ?pro$ramafilosficodeMarcuse+ poca+ c*amava7sefilosofiaconcreta". He$undo suas prprias palavras+ a obra de Heide$$er encarnava o ponto em que a filosofia bur$uesa transcendida dentro de si prpria emdireo nova filosofia+ filosofia concreta" BHc*riften ,+ /0E e /E0C. Hua adoo de princApios *eide$$erianos servia assim criao de uma filosofiamarxista em seus pressupostos+ mas coerente com as necessidades *istricas de ento+uma ve3 que o marxismo tal como apre$oado no momento mostrava7se incapa3 de umenfrentamento terico com a solide3 necessria. As ra3:es para este cenrio prendem7se leitura leninista da revoluo do proletariado+ a qual + em sua especificidade *istricarevisavam a teoria marxiana de forma equivoca.Outros Elementos Heideggerianos8ontuemos a$ora al$umas no:es do pensamento marcuseano em franco dilo$o comcate$orias *eide$$erianas. Jaquela fase incipiente+ quando o filsofo no formara aindauma teoria social prpria+ $rande parte de seus escritos abordavam quest:esrelacionadas coma prxis e teoria revolucionria marxianas. Joobstante+ comoteremos oportunidade de ver+ o momento *istrico torcia a teoria socialista e favorecia aviso de $rupos com os quais Marcuse diver$ia filosoficamente. He as condi:es *istricas concretas assim o exi$issem+ ou se9a+ se a vida social tornara7se al$ointolervel doponto de vista psicossocial e *umanitrio+ a aoracionaltradu3ir7se7ia num ato radical+ conceito vi3in*o ao da #rande recusa que permear aobra de maturidade do filsofo. ? que demanda um ato radical+ uma ruptura extremapara com o dado+ o fato de este ultimo ter7se tornado uma a$resso s possibilidadesautnticas de uma existncia feli3. ? ato radical a defesa da autenticidade+ portanto. A deciso pelo ato radical parte do indivAduo socialmente vitimado+ o que torna o ato+*eide$$erianamente falando+ claramente um ato existencial. Jeste ponto+ inicia7se umacrAtica sutil posio *eide$$eriana em Her e tempo+ 9 que neste+ a nfase colocadana sub9etividade+ oato radical como umato solitrio no rec6ndito da existnciaindividual. 8araMarcuse+ esteaspectodeveserpreservado+ oquenooexcusadanecessidade de fomentar tambm uma deciso con9unta de um proletariado conscientede sua alienao *istrica. Jeste ultimo aspecto+ o filsofo ainda est alin*ado com umainterpretao praticamente oficial da teoria revolucionria+ que na obra de maturidadeser devidamente reexaminada e re9eitada em al$uns aspectos. Jo que di3 respeito aHeide$$er+ noobstante+ estaleituramarcuseana9denotaumatentativarevisoaopensamento de Heide$$er+ uma ve3 que+ os conceitos de autenticidade e ato radical+ naobra do autor de Her e Fempo+ no encora9am uma ao polAtica com vistas subversodo estado das coisas. 8ara Marcuse+neste ponto+a filosofia de Heide$$er valida umcerto conformismo bur$us+ 9 que o ato radical+ se tomado individualmente pode serapropriado tanto pelo proletrio quanto pelo bur$us+ e a transcendncia sub9etivamenteatin$ida independe de quaisquer mudanas *istricas efetivas. 8ara )ellner.+ a atitudedeHeide$$ercoaduna7secomumespAritopresentenoet*osalemodoperAodo. ?sdestroos da primeira $uerra mundial+ o desconforto $enerali3ado ante a iminncia deuma catstrofe polAtica+ que alis veio a reali3ar7se+ refletiam7se na polAtica e na filosofiaacadmica. Heporumladootemor deumaarrancadapolAticadevisleninistanaAleman*a era uma das temidas possibilidades+ a outra era o refP$io nas $randes teorias.5nquanto marxista+ Marcuse certamente optava pela ao revolucionria+ mas via compatentedesconfortoavisoortodoxacientificistaleninistaqueserviamaisdoquecausa do proletrio+ ao iderio especAfico de &enin. 1iante destas possibilidades+Marcuse filosofa com os ol*os na fenomenolo$ia+ na qual enxer$a limites tericos deve3o bur$us+ os quais busca transcender em dilo$o com He$el+ Marx e 5n$els. He por um lado o marxismo patentemente a mola motora de sua crAtica+ nesta fase suasanlisesservem7sedeconceitos*eide$$erianos+ comoacimacitamos. )ellnerBp.Q/Cafirma que a tentativa de unir o marxismo com a filosofia existencial fenomenol$icafoi atacado por outros intelectuais como uma empresa inPtil+ 9 que ambas asaborda$ens tmpoucoemcomum+ emuitomesmoemconflito. !ontudo+ tendoomarxismocomo abaseprimeira+o prprioMarcuserepeliua tendnciaposterior da0 1ellner, 2o#glas 3 Herber" 4arc#se and "he crisis of 4arxism, p' 5 heideggerian 4arxism6fenomenolo$ia existencial de transitar para uma ontolo$ia existencial a*istrica esub9etivista.Jo obstante+ a pretenso concretude da filosofia *eide$$eriana esvaiu7se diante deMarcuse. 8ara este+ Heide$$er distanciava7se daquele pro$rama ori$inal+ o que+ 9 em,-.E motivava as se$uintes crAticas4 ? que uma existncia concretamente autnticaR !omo uma existncia concretamente autntica existe e simplesmente possAvelR" BHc*riften+ ,+ /=QC.Jaquele momento+ Marcuse passa a entender que Heide$$er no estudaraminuciosamente as condi:es *istricas concretas sobas quais existe um1aseinconcreto"Bop. cit.+ /=0C; apoiara7seemum1aseinsolitrio+ emlu$ardeorientaradeciso para a ao. Bop. !it. /=QC1este momento data seu afastamento de Heide$$er edo pro9eto de elaborao de um marxismo de vis *eide$$eriano. Fambm importantedestacar que a adeso oficial de Heide$$er ao iderio do autointitulado Ferceiro Geic*em ,-// contribuiu para que Marcuse se afastasse dele definitivamente. As ra3:es paraesteafastamentoestofartamente documentadas. 5mdois momentos+ emespecial+Marcuse explicita suas ra3:es. 8ublicada em ,-KK o texto 5nttOusc*un$"+ o mesmo foitradu3ido por Gic*ard Iolin e publicado em ,--ES em in$ls. M neste texto que nosbaseamos paraafirmar oquesese$ue. He$undoMarcuse+ conforme9citamos *pouco+ a filosofia de Heide$$er tra3ia um carter de concretude de absoluta relev2nciapara a situao da 5uropa no momento. Heu foco na existncia concreta dos indivAduosemprestava7l*e o devido substrato para uma autntica filosofia calcada na *istoricidadedo dasein. Jo obstante+ uma anlise ulterior convencera Marcuse de que tal concretudeera apenas aparente+ ou mesmo en$anadora". ?u em suas prprias palavras4?nl% $raduall% did Le Ne$in to observe t*at t*e concreteness of Heid$eerTs p*ilosop*% Las to a lar$eextent deceptive D t*at Le Lere once a$ain confronted Lit* a variant of transcendental p*ilosop*% Bon a*i$*er planeC+ in L*ic* existencial cate$ories *ad lost t*eir s*arpness+ been neutrali3ed and in t*e endLere dissipated amid $reater abstractions. F*at remained t*e case later on L*en t*e question of Nein$"Las replaced t*e t*e @uestion of tec*nolo$%"4 merel% anot*er instance in L*ic* apparent concretenessLas subsumed b% abstraction D bad abstraction+ in L*ic* t*e concrete Las not $enuinel% superseded butinstead merel% squandered." Adiante+ aborda a questo da adeso do autor de Her e Fempo ao iderio na3i7fascista4Foda%it seemsinexcusabletometodismissHeide$$erTs support of t*eHitler re$imeasaBbriefCmista'e or error. U believe t*at a p*ilosop*er cannot ma'e suc* a mista'e" Lit*out t*ereb% disavoLin$*is oLn+ aut*entic p*ilosop*%"1o exposto+ depreende7se que numprimeiro momento+ oafastamento deu7se porincompatibilidade filosfica. Vimos que nos escritos de 9uventude o foco de Marcuse 9era aprofundar7se numa filosofia concreta+ relacionada diretamente existncia do*omem+ capa3 de oferecer7se a este como a base autntica para o que ele c*ama de oato radical". + mais precisamente em ,-.K+ Martin Heide$$erpublica seu monumental Her e Fempo"+ que causaria um$rande impacto nopensamento de Marcuse. Jeste ponto+ imperioso recon*ecermos a relao queMarcusetravavacomal$umasdasescolasfilosficasemebulioemsuapoca.Aacademia tra3ia em seus seminrios as $randes escolas comuns no perAodoimediatamente anterior $uerra4 o positivismo+e neo'antismo e o neo7*e$elianismo.Marcuse era parte de uma $erao inconformada com os *orrores da primeira $uerra+eventoqueexi$iaposicionamentofilosficoepolAticodealcancesuperior quelespossAveis dentro das escolas supracitadas. A obra de Heide$$er e as quest:es que estalevantavaatraAramMarcuseparaauniversidadeoutrave3+ onde+ nacompan*iadeoutros luminares da intelli$ent3ia alem D Hanna* Arendt+ Han7#eor$ #adamer+ )arl&oLit*+ entre outros+ percebeu naquele novo pensamento uma filosofia cu9a relev2nciaproporcionasse as ferramentas tericasadequadas a enfrentaras novas exi$nciasdoreal. Acerca deste momento+ re$istrou48ara mim e meus ami$os+ a obra de Heide$$er aparecida como um novo comeo4 provamos do seu livroBHereFempoesuaspalestras+ dasquaisobtAn*amosastranscri:esCcomoumafilosofiafinalmenteconcreta4 aqui ela falava da existncia+ de nossa existencia+ do medo+ do cuidado+ do tdio e assim pordiante.Fambmvivenciamosumaemanciapoacadmica4A interpretaodeHeide$$erdafilosofia$re$a e do idealism alemo+ que nos ofereciam novos prismas sobre textos antiquados+ fossili3ados."/A passa$em mostra a 2nsia dos pensadores de responder aos desafios do momento+ oque fariam com base numa filosofia que relacionasse seus princApios diretamente com a?No original ingls:To me and my friends,Heideggers work appeared as a newbeginning: weexperiencedhisbook[BeingandTime !andhislec"#res, whose"ranscrip"s we ob"ained$ as, a" long las", a concre"e philosophy: here "here was "alkof exis"ence[%xis"en&, of o#rexis"ence, of fearandcareandboredom, andsofor"h' (e also experienced an )academic emancipa"ion: Heideggers in"erpre"a"ionof *reekphilosophy and*ermanidealism, whicho+ered#s newinsigh"s in"oan"i,#a"ed, fossili&ed "ex"s'- !"rad#./o minha$vida+ isto+ umaaborda$emfilosficalidimamenteconcreta. Mimperiosoquenosdemoremos umpouconaanlise dotermoemdestaque+ 9que darat6nica dopensamentomarcuseanopresenteinclusivenaobradematuridadedofilsofo. Jestecontexto+ concretoumcon*ecimentoderelev2nciaimediataparaaexistnciado*omemenquantoser pro9etadonomundo+ isto+ umsaber capa3 defornecer7l*eferramentas crAticas para arrostar os pressupostos tericos da dominao. 7 acerca do que eleentende por uma filosofia autntica4Aut*entic p*ilosop*i3in$ refuses to remain at t*e sta$e of 'noLled$e; rat*er+ in drivin$ t*is 'noLled$eon to trut* it strives for t*e concrete appropriation of t*at trut* t*rou$* L*ic* *uman dasein. !are BHor$eCfor *uman existence and its trut* ma'es p*ilosop*% a practical science" in t*e deepest sense+ and it alsoleads p*ilosop*%Dand t*is is t*e crucial point D introconcrete distress BNedrOn$nisC of *umanexistence". B?n concrete p*ilosop*% D p. /=C!omo o texto denota+ nesta dcada+ suas convic:es marxistas incipientes encontram7secomos seminrios deHeide$$er+ nos quais esteexploravapontos desuafilosofiaplenamenteconectados comavida+ ounumaterminolo$ia9*eide$$eriana+ comaexistncia. Jotemos que em Her e Fempo" a analAtica existencial tra3ia duas cate$orias+asaber+ temporalidade"e*istoricidade"+ nasquais+ evidentementeodaseinsevimerso.AoabordaraquestodaautenticidadeDcentral suafilosofia7Heide$$erconsidera a capacidade que o *omem tem de atuali3ar o passado lu3 das possibilidadesfuturas.A posioopostaDouinautnticaDrepresentadapelaaceitaopassivaeconformista do dado como expresso ultima do real+ o que deixa o *omem em situaosemel*ante ao ser das coisas" + num claro processo de reificao. Acresce notar+ que talfilosofiaaindatra3iaoselodori$or cientAfico+ 9que$estadasobopensamentofenomenol$ico de 5dmund Husserl B,E0-D,-/EC oque emprestava7l*e solide3suficiente para confrontar o cientificismo reinante. 5ste cientificismo posava como aPnica ferramenta capa3 de depor a metafAsica. 1estarte+ a filosofia de Heide$$erafastava7se assim do vis ainda al$o rom2ntico das filosofias de vida" populares emseu tempo. Jotemos ainda que a atrao que a filosofia de Heide$$er tivera para Marcuse+ deve7setambm em partes c*amada crise do marxismo. Gosa &uxembur$o fora enftica emsuacondenaodovan$uardismode&enin+ sobretudoporquetal aomostrava7sebastante inadequada para outros paAses da 5uropa !entral e ?cidental+ onde oproletariado mostrava7se 9 maduro para a ao revolucionria. 1este trabal*o com Martin Heide$$er decorrem suas primeiras reflex:es crAticas sobre opapel datcnica. ?pro$ramafilosficodeMarcuse+ poca+ c*amava7sefilosofiaconcreta". He$undo suas prprias palavras+ a obra de Heide$$er encarnava o ponto em que a filosofia bur$uesa transcendida dentro de si prpria emdireo nova filosofia+ filosofia concreta" BHc*riften ,+ /0E e /E0C. Hua adoo de princApios *eide$$erianos servia assim criao de uma filosofiamarxista em seus pressupostos+ mas coerente com as necessidades *istricas de ento+uma ve3 que o marxismo tal como apre$oado no momento mostrava7se incapa3 de umenfrentamento terico com a solide3 necessria. As ra3:es para este cenrio prendem7se leitura leninista da revoluo do proletariado+ a qual + em sua especificidade *istricarevisavam a teoria marxiana de forma equivoca.Outros Elementos Heideggerianos8ontuemos a$ora al$umas no:es do pensamento marcuseano em franco dilo$o comcate$orias *eide$$erianas. Jaquela fase incipiente+ quando o filsofo no formara aindauma teoria social prpria+ $rande parte de seus escritos abordavam quest:esrelacionadas coma prxis e teoria revolucionria marxianas. Joobstante+ comoteremos oportunidade de ver+ o momento *istrico torcia a teoria socialista e favorecia aviso de $rupos com os quais Marcuse diver$ia filosoficamente. He as condi:es *istricas concretas assim o exi$issem+ ou se9a+ se a vida social tornara7se al$ointolervel doponto de vista psicossocial e *umanitrio+ a aoracionaltradu3ir7se7ia num ato radical+ conceito vi3in*o ao da #rande recusa que permear aobra de maturidade do filsofo. ? que demanda um ato radical+ uma ruptura extremapara com o dado+ o fato de este ultimo ter7se tornado uma a$resso s possibilidadesautnticas de uma existncia feli3. ? ato radical a defesa da autenticidade+ portanto. A deciso pelo ato radical parte do indivAduo socialmente vitimado+ o que torna o ato+*eide$$erianamente falando+ claramente um ato existencial. Jeste ponto+ inicia7se umacrAtica sutil posio *eide$$eriana em Her e tempo+ 9 que neste+ a nfase colocadana sub9etividade+ oato radical como umato solitrio no rec6ndito da existnciaindividual. 8araMarcuse+ esteaspectodeveserpreservado+ oquenooexcusadanecessidade de fomentar tambm uma deciso con9unta de um proletariado conscientede sua alienao *istrica. Jeste ultimo aspecto+ o filsofo ainda est alin*ado com umainterpretao praticamente oficial da teoria revolucionria+ que na obra de maturidadeser devidamente reexaminada e re9eitada em al$uns aspectos. Jo que di3 respeito aHeide$$er+ noobstante+ estaleituramarcuseana9denotaumatentativarevisoaopensamento de Heide$$er+ uma ve3 que+ os conceitos de autenticidade e ato radical+ naobra do autor de Her e Fempo+ no encora9am uma ao polAtica com vistas subversodo estado das coisas. 8ara Marcuse+neste ponto+a filosofia de Heide$$er valida umcerto conformismo bur$us+ 9 que o ato radical+ se tomado individualmente pode serapropriado tanto pelo proletrio quanto pelo bur$us+ e a transcendncia sub9etivamenteatin$ida independe de quaisquer mudanas *istricas efetivas. 8ara )ellnerQ+ a atitudedeHeide$$ercoaduna7secomumespAritopresentenoet*osalemodoperAodo. ?sdestroos da primeira $uerra mundial+ o desconforto $enerali3ado ante a iminncia deuma catstrofe polAtica+ que alis veio a reali3ar7se+ refletiam7se na polAtica e na filosofiaacadmica. Heporumladootemor deumaarrancadapolAticadevisleninistanaAleman*a era uma das temidas possibilidades+ a outra era o refP$io nas $randes teorias.5nquanto marxista+ Marcuse certamente optava pela ao revolucionria+ mas via compatentedesconfortoavisoortodoxacientificistaleninistaqueserviamaisdoquecausa do proletrio+ ao iderio especAfico de &enin. 1iante destas possibilidades+Marcuse filosofa com os ol*os na fenomenolo$ia+ na qual enxer$a limites tericos deve3o bur$us+ os quais busca transcender em dilo$o com He$el+ Marx e 5n$els. He por um lado o marxismo patentemente a mola motora de sua crAtica+ nesta fase suasanlisesservem7sedeconceitos*eide$$erianos+ comoacimacitamos. )ellnerBp.Q/Cafirma que a tentativa de unir o marxismo com a filosofia existencial fenomenol$icafoi atacado por outros intelectuais como uma empresa inPtil+ 9 que ambas asaborda$ens tmpoucoemcomum+ emuitomesmoemconflito. !ontudo+ tendoomarxismocomo abaseprimeira+o prprioMarcuserepeliua tendnciaposterior dafenomenolo$ia existencial de transitar para uma ontolo$ia existencial a*istrica esub9etivista.@ 1ellner, 2o#glas 3 Herber" 4arc#se and "he crisis of 4arxism, p' 5 heideggerian 4arxism6Jo obstante+ a pretenso concretude da filosofia *eide$$eriana esvaiu7se diante deMarcuse. 8ara este+ Heide$$er distanciava7se daquele pro$rama ori$inal+ o que+ 9 em,-.E motivava as se$uintes crAticas4 ? que uma existncia concretamente autnticaR !omo uma existncia concretamente autntica existe e simplesmente possAvelR" BHc*riften+ ,+ /=QC.Jaquele momento+ Marcuse passa a entender que Heide$$er no estudaraminuciosamente as condi:es *istricas concretas sobas quais existe um1aseinconcreto"Bop. cit.+ /=0C; apoiara7seemum1aseinsolitrio+ emlu$ardeorientaradeciso para a ao. Bop. !it. /=QC1este momento data seu afastamento de Heide$$er edo pro9eto de elaborao de um marxismo de vis *eide$$eriano. Fambm importantedestacar que a adeso oficial de Heide$$er ao iderio do autointitulado Ferceiro Geic*em ,-// contribuiu para que Marcuse se afastasse dele definitivamente. As ra3:es paraesteafastamentoestofartamente documentadas. 5mdois momentos+ emespecial+Marcuse explicita suas ra3:es. 8ublicada em ,-KK o texto 5nttOusc*un$"+ o mesmo foitradu3ido por Gic*ard Iolin e publicado em ,--ES em in$ls. M neste texto que nosbaseamos paraafirmar oquesese$ue. He$undoMarcuse+ conforme9citamos *pouco+ a filosofia de Heide$$er tra3ia um carter de concretude de absoluta relev2nciapara a situao da 5uropa no momento. Heu foco na existncia concreta dos indivAduosemprestava7l*e o devido substrato para uma autntica filosofia calcada na *istoricidadedo dasein. Jo obstante+ uma anlise ulterior convencera Marcuse de que tal concretudeera apenas aparente+ ou mesmo en$anadora". ?u em suas prprias palavras4?nl% $raduall% did Le Ne$in to observe t*at t*e concreteness of Heid$eerTs p*ilosop*% Las to a lar$eextent deceptive D t*at Le Lere once a$ain confronted Lit* a variant of transcendental p*ilosop*% Bon a*i$*er planeC+ in L*ic* existencial cate$ories *ad lost t*eir s*arpness+ been neutrali3ed and in t*e endLere dissipated amid $reater abstractions. F*at remained t*e case later on L*en t*e question of Nein$"Las replaced t*e t*e @uestion of tec*nolo$%"4 merel% anot*er instance in L*ic* apparent concretenessLas subsumed b% abstraction D bad abstraction+ in L*ic* t*e concrete Las not $enuinel% superseded butinstead merel% squandered." Adiante+ aborda a questo da adeso do autor de Her e Fempo ao iderio na3i7fascista4Foda%it seemsinexcusabletometodismissHeide$$erTs support of t*eHitler re$imeasaBbriefCmista'e or error. U believe t*at a p*ilosop*er cannot ma'e suc* a mista'e" Lit*out t*ereb% disavoLin$*is oLn+ aut*entic p*ilosop*%"1o exposto+ depreende7se que numprimeiro momento+ oafastamento deu7se porincompatibilidade filosfica. Vimos que nos escritos de 9uventude o foco de Marcuse 9era aprofundar7se numa filosofia concreta+ relacionada diretamente existncia do*omem+ capa3 de oferecer7se a este como a base autntica para o que ele c*ama de oato radical".