Convergência de mídias: Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai Belo Horizonte 2013

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai

Belo Horizonte

2013

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS

EMERSON CAMPOS GONÇALVES

Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai

Belo Horizonte 2013

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EMERSON CAMPOS GONÇALVES

Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens (POSLING), do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos de

Linguagens.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Elisa Ferreira

Ribeiro

Belo Horizonte 2013

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EMERSON CAMPOS GONÇALVES

Convergência de mídias Uma análise da união de linguagens em notícias do Portal Uai

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Estudos de Linguagens (POSLING) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), em setembro de 2013, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens, aprovada pela Banca Examinadora constituída pelos professores:

____________________________________________________ Profa. Dra. Ana Elisa Ferreira Ribeiro – CEFET/MG (orientadora)

____________________________________________________ Profa. Dra. Giani David Silva – CEFET/MG

____________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Frederico de Brito D’Andrea – UFMG

____________________________________________________ Profa. Dra. Geane Carvalho Alzamora – UFMG (suplente)

Avenida Amazonas, 5253 – Belo Horizonte, MG – 30.480-000 – Tel. (31) 3319-7139

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Dedico este trabalho à minha esposa Juliana, responsável pelo meu

renascimento como homem e pesquisador. Dedico ainda à minha mãe,

Eliana, e ao meu irmão, Junior, por todo o amor e incentivo. In

memoriam, ao meu pai, Jose Antonio Gonçalves, que sempre viverá

em seus ensinamentos, alguns deles presentes nas entrelinhas desta

dissertação.

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AGRADECIMENTOS

OBRIGADO...

...DEUS, por me direcionar, com a intercessão de NS Aparecida, quando a vista estava turva

demais para enxergar o caminho óbvio a se seguir;

...MÃE, por ser uma protetora guerreira e sábia, que me educou e acreditou em mim mais do

que eu mesmo poderia, me banhando de ânimo com amor e incentivo incondicionais

em todos os momentos da minha vida;

...PAI (IN MEMORIAM), por estar comigo sempre, desafiando o impossível para me guiar com

seu amor;

...JUNIOR, meu melhor amigo, irmão e, na maioria das vezes, mestre e pai, pelos conselhos

que me acompanharam desde os primeiros rabiscos na infância até o mestrado no

CEFET-MG, instituição na qual fomos companheiros;

...PROFA. DRA. ANA ELISA FERREIRA RIBEIRO, por aceitar o desafio de orientar um

mestrando dividido entre o amor pelo jornalismo e o antigo flerte com a academia,

compreendendo de forma materna minhas limitações. Suas contribuições foram

imprescindíveis para este trabalho e suas palavras certeiras para me lançar no

apaixonante caminho da pesquisa;

...AMIGOS DO CEFET, em especial Sr. Rafael Passos, Sra. Luana Cruz, Sr. Gilmar

Laignier, Sr. Pablo Guimarães e Sra. Carla Leite, companheiros muito estimados

nesta trajetória;

...DIÁRIOS ASSOCIADOS, pelo apoio na pesquisa, permitindo acesso ao material

necessário para o trabalho;

...FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES DO POSLING, em especial Profa. Dra. Giani

David Silva, Profa. Dra. Ana Maria Nápoles Villela e Prof. Dr. Rogério Barbosa da

Silva, pelas contribuições valiosas para a concretização deste estudo;

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...PROFESSORES PARECERISTAS, Prof. Dr. Carlos D’Andréa, Profa. Dra. Geane

Alzamora e Prof. Dr. Vicente Parreiras, pelo olhar crítico e pelas dicas valiosas para

a realização da pesquisa em convergência de mídias;

...e, especialmente, MUITO OBRIGADO JULIANA, minha linda esposa. Mais do que a

principal incentivadora, você foi meu norte, o maior exemplo de dedicação e

superação pelos estudos que poderia ter. Obrigado pelo companheirismo e por todo

apoio nesta caminhada. Seu amor me fez renascer, minha querida Profa. Dra. Juliana

Barbosa Coitinho Gonçalves.

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“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende”.

João Guimarães Rosa

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RESUMO

Presente na mentalidade e nos projetos empresariais dos grandes grupos brasileiros de

comunicação, o processo de convergência de mídias ainda é visto de maneira muito

simplificada, sobretudo nas redações de jornalismo, sendo resumido, na maioria das vezes, a

uma mera sinergia nas relações de trabalho e de produção do conteúdo. Entre outros fatores,

pode-se dizer que tal simplificação acontece por causa do caráter multifacetado do processo,

que pode ser associado tanto às transformações tecnológicas, quanto mercadológicas ou de

linguagem. Entre os principais estudiosos do tema estão os pesquisadores Henry Jenkins, que

opta por observar a convergência predominantemente como um processo cultural, e Ramón

Salaverría, que tenta esgotar a análise de todas as vertentes do processo através de sucessivos

estudos de caso nas redações jornalísticas, dedicando, no entanto, menor atenção à linguagem.

Dado tal cenário, esta pesquisa aproveita as contribuições dos teóricos para analisar o

processo sob o prisma dos estudos de linguagem, face menos explorada do tema. Para isso, o

estudo se apoia, também, em discussões sobre Web 2.0 e hipertextualidade, avaliando,

qualitativamente, a experiência com a convergência de mídias que é desenvolvida no Portal

Uai, dos Diários Associados. Com tal fim, foi elaborado um modelo metodológico próprio,

passível de ser utilizado em novas pesquisas na área. O objetivo foi entender como a união de

linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos de produção e edição – rádio,

televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística convergente no portal de notícia e,

em que medida, essa narrativa convergente pode ser considerada nova. Ainda que ciente da

impossibilidade de generalização dos resultados obtidos com o estudo de caso, destacou-se,

ao fim do percurso, a aparente influência que é exercida pelo processo no veículo impresso e

uma predileção da editoria de Cultura como espaço para experimentação da linguagem

convergente, que ainda não pode ser considerada nova nas demais editorias observadas dentro

do Uai.

Palavras-chave: convergência de mídias, linguagem convergente, jornalismo,

hipertextualidade, Web 2.0, interatividade

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ABSTRACT

The process of the media convergence, present in the mentality and entrepreneurial

projects of large Brazilian communication groups, is still seen in a very simplified way,

especially in journalism newsrooms, being summarized, most often, as a mere synergy in

labor relations and content production. Among other factors, it may be said that such

simplification occurs because of the multifaceted nature of the process that can be associated

with technological, market or language transformations. Among the main researchers are

Henry Jenkins, who chooses to observe the convergence predominantly as a cultural process,

and Ramón Salaverría, who tried to exhaust the analysis of all aspects of the process through

successive case studies in newsrooms, devoting, however, less attention to language. Given

such scenario, this research utilizes the contributions of theorists to analyze the process

through the prism of language studies, part less explored of this theme. For this, the study is

also based in discussions about Web 2.0 and hypertextuality, assessing, qualitatively, the

experience with the media convergence that is developed in Portal Uai, of Diários Associados.

To this purpose, a methodological model was designed, which can be used in further

researches in the area. The goal was to understand how the union of languages, originated in

traditionally distinct models of production and editing - radio, television and newspaper,

outlines a convergent journalistic narrative on the news portal and how this narrative can be

considered new.

Keywords: media convergence, convergence language, journalism, hypertextuality, Web 2.0, interactivity

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – [ESQUEMA] Enquanto nos anos 2000, a internet exercia o papel de integrar os outros veículos, com a concretização da convergência de mídias ela passa a ser protagonista no processo ............................................................................................................................... 43

Figura 2 – [PRINT DZAÍ] Dzaí já nasceu com a interface ultrapassada. Na imagem, modelo de blog oferecido com layout que remete ao ano de 2000 ....................................................... 71

Figura 3 – [PRINT ÁREAH] Site AreaH replica conteúdos em diferentes portais. No destaque os portais iBahia, Uol/Band e Uai ............................................................................................ 73

Figura 4 – [ESQUEMA] Associações entre características do conteúdo multimidiático com a hipertextualidade e a interatividade levam ao surgimento do conteúdo convergente .............. 77

Figura 5 – [ESQUEMA] Divisão das etapas de produção (A, B, C e D) que permitem a construção de uma narrativa convergente em diferentes níveis ............................................... 79

Figura 6 – [PRINT EM.COM.BR] Referência à rede social Dzaí é destacada na sessão de comentários ............................................................................................................................... 83

Figura 7 – [PRINT EM.COM.BR] Recurso de “antes e depois” fornece certo grau, ainda que mínimo, de interatividade ........................................................................................................ 86

Figura 8 – [PRINT EM.COM.BR] Formato com foto horizontal antes do texto escrito ainda é o mais comum no jornalismo on-line ....................................................................................... 88

Figura 9 – [PRINT EM.COM.BR] Box com notícias relacionadas à esquerda do texto é a forma mais comum de hipertextualidade presente no corpo das notícias observadas no em.com.br ................................................................................................................................. 91

Figura 10 – [PRINT DIVIRTA-SE] Ao passar ponteiro do mouse sobre links presentes no corpo do texto, portal abre publicidades relacionadas com as palavras-chave ........................ 94

Figura 11 – [PRINT EM.COM.BR] Relacionamento de notícias presente em box à esquerda e no fim da reportagem .............................................................................................................. 106

Figura 12 – [PRINT EM.COM.BR] Infográfico incorporado à notícia ................................. 109

Figura 13 – [PRINT DIVIRTA-SE] Chamada “assista ao trailer” faz ponte entre texto escrito e oral ....................................................................................................................................... 118

Figura 14 – [PRINT VRUM] Foto cumpre propósito na reportagem .................................... 123

Figura 15 – [PRINT EM.COM.BR] Notícia traz o endereço eletrônico dos sites com editais, mas não faz hiperlinks em 46 itens ......................................................................................... 130

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Figura 16 – [PRINT DIVIRTA-SE] Campo II bem equilibrado com o uso das imagens, conteúdos multimidiáticos e hipertextos ................................................................................ 135

Figura 17 – [PRINT ALTEROSA] Vídeo começa com a apresentadora do telejornal de costas para a tela ................................................................................................................................ 138

Figura 18 – [PRINT ALTEROSA] Elemento “estranho” é sinal de shovelware ................... 153

Figura 19 – [PRINT VRUM] Galeria de imagens como recurso multimidiático .................. 156

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LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS

Gráfico 1 – Unificação de rotinas e transformações tecnológicas são as características mais associadas à definição de convergência de mídias pelos jornalistas entrevistados (CAMPOS, 2012). ........................................................................................................................................ 37

Gráfico 2 – Transformação do conteúdo é pouco citada em questionário aplicado aos jornalistas do Portal Uai (CAMPOS, 2012) ............................................................................ 38

Quadro 1 – Salaverría aponta os níveis de convergência pelos quais passou a primeira redação a implementar o processo no globo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008) .............................. 41

Quadro 2 – Tarefas dos jornalistas foram multiplicadas, sobretudo nos últimos dez anos (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008). ...................................................................................... 44

Quadro 3 – Hipertextualidade, multimidialidade e interatividade colocam portais como protagonistas no contexto convergente (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008) ........................ 48

Quadro 4 – Portais e sites abrigados no Uai em janeiro de 2013 ............................................. 70

Quadro 5 – Modelo para análise de marcas da convergência nas notícias publicadas em portais ....................................................................................................................................... 80

Quadro 6 – Identificação da Reportagem 1 .............................................................................. 82

Quadro 7 – Identificação da Reportagem 2 .............................................................................. 85

Quadro 8 – Identificação da Reportagem 3 .............................................................................. 87

Quadro 9 – Identificação da Reportagem 4 .............................................................................. 89

Quadro 10 – Identificação da Reportagem 5 ............................................................................ 90

Quadro 11 – Identificação da Reportagem 6 ............................................................................ 92

Quadro 12 – Identificação da Reportagem 7 ............................................................................ 93

Quadro 13 – Identificação da Reportagem 8 ............................................................................ 95

Quadro 14 – Identificação da Reportagem 9 ............................................................................ 97

Quadro 15 – Identificação da Reportagem 10 .......................................................................... 99

Quadro 16 – Identificação da Reportagem 11 ........................................................................ 101

Quadro 17 – Identificação da Reportagem 12 ........................................................................ 104

Quadro 18 – Identificação da Reportagem 13 ........................................................................ 106

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Quadro 19 – Identificação da Reportagem 14 ........................................................................ 108

Quadro 20 – Identificação da Reportagem 15 ........................................................................ 110

Quadro 21 – Identificação da Reportagem 16 ........................................................................ 111

Quadro 22 – Identificação da Reportagem 17 ........................................................................ 113

Quadro 23 – Identificação da Reportagem 18 ........................................................................ 115

Quadro 24 – Identificação da Reportagem 19 ........................................................................ 117

Quadro 25 – Identificação da Reportagem 20 ........................................................................ 119

Quadro 26 – Identificação da Reportagem 21 ........................................................................ 121

Quadro 27 – Identificação da Reportagem 22 ........................................................................ 122

Quadro 28 – Identificação da Reportagem 23 ........................................................................ 125

Quadro 29 – Identificação da Reportagem 24 ........................................................................ 127

Quadro 30 – Identificação da Reportagem 25 ........................................................................ 128

Quadro 31 – Identificação da Reportagem 26 ........................................................................ 129

Quadro 32 – Identificação da Reportagem 27 ........................................................................ 131

Quadro 33 – Identificação da Reportagem 28 ........................................................................ 133

Quadro 34 – Identificação da Reportagem 29 ........................................................................ 134

Quadro 35 – Identificação da Reportagem 30 ........................................................................ 137

Quadro 36 – Identificação da Reportagem 31 ........................................................................ 138

Quadro 37 – Identificação da Reportagem 32 ........................................................................ 140

Quadro 38 – Identificação da Reportagem 33 ........................................................................ 141

Quadro 39 – Identificação da Reportagem 34 ........................................................................ 143

Quadro 40 – Identificação da Reportagem 35 ........................................................................ 144

Quadro 41 – Identificação da Reportagem 36 ........................................................................ 145

Quadro 42 – Identificação da Reportagem 37 ........................................................................ 146

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Quadro 43 – Identificação da Reportagem 38 ........................................................................ 147

Quadro 44 – Identificação da Reportagem 39 ........................................................................ 149

Quadro 45 – Identificação da Reportagem 40 ........................................................................ 150

Quadro 46 – Identificação da Reportagem 41 ........................................................................ 151

Quadro 47 – Identificação da Reportagem 42 ........................................................................ 152

Quadro 48 – Identificação da Reportagem 43 ........................................................................ 154

Quadro 49 – Identificação da Reportagem 44 ........................................................................ 155

Quadro 50 – Identificação da Reportagem 45 ........................................................................ 158

Quadro 51 – Identificação da Reportagem 46 ........................................................................ 160

Quadro 52 – Identificação da Reportagem 47 ........................................................................ 161

Quadro 53 – Identificação da Reportagem 48 ........................................................................ 162

Quadro 54 – Identificação da Reportagem 49 ........................................................................ 163

Quadro 55 – Identificação da Reportagem 50 ........................................................................ 164

Quadro 56 – Identificação da Reportagem 51 ........................................................................ 165

Quadro 57 – Identificação da Reportagem 52 ........................................................................ 166

Quadro 58 – Identificação da Reportagem 53 ........................................................................ 167

Quadro 59 – Identificação da Reportagem 54 ........................................................................ 168

Quadro 60 – Identificação da Reportagem 55 ........................................................................ 169

Quadro 61 – Níveis de convergência nas reportagens analisadas e índice remissivo ............ 170

Quadro 62 – Reportagens que apresentaram narrativa convergente ...................................... 170

Gráfico 3 – Nível de convergência nas reportagens observadas no em.com.br ..................... 171

Gráfico 4 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Vrum ............................. 171

Gráfico 5 – Nível de convergência nas reportagens observadas na Alterosa ......................... 171

Gráfico 6 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Divirtase- ...................... 171

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Gráfico 7 – Comparação do nível de convergência (em porcentagem) entre os quatro veículos ................................................................................................................................................ 172

Gráfico 8 – Comparação do nível de convergência (em porcentagem) entre os quatro veículos ................................................................................................................................................ 172

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5

1.1 CRÔNICA: O PRIMEIRO DIA ........................................................................................... 5

1.2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS: MERA SINERGIA? ...................................................... 6

1.3 DO CIMENTO AO CONTEÚDO: FOCO NA NARRATIVA ........................................... 7

1.4 UM TEMA, MUITAS FACES E DEFINIÇÕES ................................................................. 7

1.5 DISCUSSÕES NO POSLING ............................................................................................. 9

1.6 PONTO DE PARTIDA PARA ESTUDAR A CONVERGÊNCIA ................................... 10

1.7 MODELO DE ANÁLISE: O ESTUDO DE CASO ........................................................... 11

1.8 A FONTE DO ESTUDO DE CASO: PORTAL UAI ........................................................ 12

1.9 É TEMPO DE SE QUEBRAR O PARADIGMA .............................................................. 13

PARTE I: revisão teórica ....................................................................................................... 16

CAPÍTULO I: hipertexto, Web 2.0 e linguagens ................................................................. 17

I.1 O FUTURO DA INTERNET .............................................................................................. 17

I.2 DISCUSSÕES SOBRE HIPERTEXTO ............................................................................. 18 I.2.1 Primeiras definições de Chartier e Lévy ...................................................................... 18 I.2.2 Americanos e o início da história ................................................................................. 19 I.2.3 O hipertexto de Lévy na era pós-massiva ..................................................................... 20

I.3 DISCUSSÕES SOBRE WEB 2.0 ....................................................................................... 21 I.3.1 O poder da palavra versus o poder da criptografia ....................................................... 21 I.3.2 O futuro da internet para Lévy e Lemos ....................................................................... 22

I.3.2.1 Teoria do Estado Transparente ............................................................................. 23 I.3.3 O outro lado: o futuro nebuloso de Assange ................................................................ 24

I.3.3.1 Mensagem para os latino-americanos ................................................................... 25 I.3.3.2 Apocalipse e solução na linguagem matemática ................................................... 25 I.3.3.3 O contraponto fundamental dos Cypherpunks ...................................................... 27

I.3.4 Outros estudos sobre Web 2.0 ...................................................................................... 27 I.3.5 O meio-termo entre Lemos e Assange ......................................................................... 29

I.4 LINGUAGENS ELETRÔNICAS: RÁDIO E TV .............................................................. 30

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I.4.1 Características do texto na televisão ............................................................................. 30 I.4.1.1 Instantaneidade ...................................................................................................... 30 I.4.1.2 Sonoridade ............................................................................................................. 32 I.4.1.3 Texto associado às imagens ................................................................................... 33 I.4.1.4 Linguagem coloquial correta ................................................................................. 34

I.4.5 O texto no Rádio ........................................................................................................... 34

CAPÍTULO II: debates sobre convergência de mídias ....................................................... 36

II.1 DEFINIÇÕES DENTRO DA REDAÇÃO ........................................................................ 36

II.2 DEBATE ENTRE SALAVERRÍA E JENKINS ............................................................... 39

II.3 ESTUDOS DE SALAVERRÍA E NEGREDO ................................................................. 39 II.3.1 Em busca de definições ............................................................................................... 41

II.3.1.1 Dimensão tecnológica .......................................................................................... 42 II.3.1.2 Dimensão empresarial .......................................................................................... 43 II.3.1.3 Dimensão profissional .......................................................................................... 44 II.3.1.4 Dimensão dos conteúdos ...................................................................................... 45

II.3.2 Integração e a convergência de mídias ........................................................................ 45 II.3.3 O conceito de cross-media para Salaverría (multiplataforma ou XMA) .................... 46 II.3.4 Multimidialidade ......................................................................................................... 47

II.3.4.1 Convergência é fator necessário .......................................................................... 48 II.3.5 Escalabilidade ............................................................................................................. 48 II.3.6 Shovelware .................................................................................................................. 49 II.3.7 Repurposing (alteração de propósito) ......................................................................... 50 II.3.8 Modalidades de convergência ..................................................................................... 51

II.3.8.1 Convergência a dois (papel + TV) ....................................................................... 51 II.3.8.2 Convergência a três (papel + online + TV) ......................................................... 51 II.3.8.3 Convergência a quatro (papel + online + TV + rádio) ....................................... 51

II.3.9 Justaposição, integração e repetição............................................................................ 52

II.4 ESTUDOS DE JENKINS E HERANÇA DE MCLUHAN ............................................... 52 II.4.1 A teoria de Marshall McLuhan ................................................................................... 53

II.4.1.1 Aldeia global: o centro da teoria ......................................................................... 53 II.4.1.2 Coro a McLuhan ................................................................................................... 55 II.4.1.3 Aldeia ou teia global?........................................................................................... 55

II.4.2 Teoria de Henry Jenkins .............................................................................................. 55 II.4.2.1 Paradigma da convergência ................................................................................. 56 II.4.2.2 Sistemas de distribuição x meios de comunicação ............................................... 57 II.4.2.3 Cultura participativa e inteligência coletiva ........................................................ 57 II.4.2.4 O canivete suíço e a falácia da caixa-preta ......................................................... 58 II.4.2.5 Consumidores dentro da convergência de mídias ................................................ 59 II.4.2.6 Narrativa transmídia ou transmidiática (transmedia storytelling) ...................... 60

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II.4.2.7 Conceito de transmídia e aplicação no jornalismo .............................................. 62 II.4.2.8 Por que não cross-media ou multimidialidade?................................................... 63

PARTE II: metodologia e análise .......................................................................................... 64

CAPÍTULO III: metodologia e modelo de análise .............................................................. 65

III.1 ANÁLISE QUALITATIVA ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO ................................ 65

III.2 RECORTES DENTRO DO PORTAL ............................................................................. 68 III.2.1 Recorte temporal ........................................................................................................ 68 III.2.2 Recorte de sites .......................................................................................................... 69

III.2.2.1 Sites da casa: primeiros descartes ...................................................................... 70 III.2.2.2 Dzaí: rede social? ............................................................................................... 70 III.2.2.3 Sites parceiros ..................................................................................................... 71 III.2.2.4 Sites carros-chefes: os portais ............................................................................ 72

II.2.3 Recorte de contexto ..................................................................................................... 75

III.3 MODELO METODOLÓGICO PARA A ANÁLISE ...................................................... 76 III.3.1 Quadro para análise e modelo organizado em níveis de convergência ..................... 77

CAPÍTULO IV: análise qualitativa ...................................................................................... 81

IV.1 Primeira rodada de análise – 21 de janeiro de 2013 ......................................................... 82 IV.1.1 em.com.br .................................................................................................................. 82 IV.1.2 Divirta-se ................................................................................................................... 93 IV.1.3 Alterosa ...................................................................................................................... 97 IV.1.4 Vrum ....................................................................................................................... 101 IV.1.5 Resumo da primeira rodada ..................................................................................... 103

IV.2 Segunda rodada de análise – 05 de fevereiro de 2013 ................................................... 104 IV.2.1 em.com.br ................................................................................................................ 104 IV.2.2 Divirta-se ................................................................................................................. 115 IV.2.3 Alterosa .................................................................................................................... 119 IV.2.4 Vrum ........................................................................................................................ 122 IV.2.5 Resumo da segunda rodada ..................................................................................... 124

IV.3 Terceira rodada de análise – 20 de fevereiro de 2013 .................................................... 125 IV.3.1 em.com.br ................................................................................................................ 125 IV.3.2 Divirta-se ................................................................................................................. 134 IV.3.3 Alterosa .................................................................................................................... 138 IV.3.4 Vrum ........................................................................................................................ 141 IV.3.5 Resumo da terceira rodada....................................................................................... 142

IV.4 Quarta rodada de análise – 07 de março de 2013 ........................................................... 143

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IV.4.1 em.com.br ................................................................................................................ 143 IV.4.2 Divirta-se ................................................................................................................. 150 IV.4.3 Alterosa .................................................................................................................... 152 IV.4.4 Vrum ........................................................................................................................ 155 IV.4.5 Resumo da quarta rodada. ....................................................................................... 157

IV.5 Quinta rodada de análise – 22 de março de 2013 ........................................................... 158 IV.5.1 em.com.br ................................................................................................................ 158 IV.5.2 Divirta-se ................................................................................................................. 164 IV.5.3 Alterosa .................................................................................................................... 166 IV.5.4 Vrum ........................................................................................................................ 168 IV.5.5 Resumo da quinta rodada........................................................................................ 169

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................... 1733

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 177

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5

1 INTRODUÇÃO

1.1 CRÔNICA: O PRIMEIRO DIA

Lembro-me bem da primeira vez que pisei numa redação de web. O estranhamento –

meu e dos demais jornalistas presentes no cenário – durou pouco menos de um minuto. O

encantamento nem teve tempo para acontecer. Não naquele dia. Antes que conseguisse

descobrir quem era quem já estava a bordo de um computador velho, de frente para um

monitor exageradamente grande, escrevendo e fazendo para anteontem jornalismo policial a

distância, sem conseguir, contudo, superar ou esconder o espanto trazido por uma espécie de

fetiche imposto pela velocidade que dominava todos ali. Logo percebi que tão cedo não teria

tempo para sair à rua e muito menos para entender onde a tal convergência de mídias

entraria naquele frenesi desenfreado por conteúdo e cliques. A verdade é que – sem nenhum

humor negro – sentia que o deadline estava morto há mais tempo que as vítimas dos crimes

que apurava. Talvez, até mesmo que o próprio Chatô. Este, aliás, ia ficar boquiaberto se

tivesse visto pelos meus olhos, no start-up do século XXI, a empresa que criou. É que

enquanto o jovem Assis Chateaubriand, ainda pelo ido de 1900, precisou de semanas até

conseguir publicar notas sobre “fatos desimportantes” na Gazeta do Norte (primeiro jornal

pelo qual foi contratado), um repórter cheirando a fraldas - e focas - tem grandes chances de

conseguir uma manchete já no primeiro dia, em algum dos maiores portais dos Diários

Associados, podendo ser lido por dezenas de milhares de pessoas num clique. Isso, claro,

porque a equipe é mirrada em praticamente todos os sites de notícia do país e cada novo par

de mãos no teclado é sempre muito bem-vindo. Mas, sobretudo, porque a velocidade da

internet tira o tempo de pensar, de planejar, de preparar e treinar um novo profissional ou de

discutir um processo que emerge. Não deveria, mas tira. E assim caminha o jornalismo

moderno (com o perdão do músico pela paródia ruim): com passos de guepardo e em

altíssima velocidade. Ele muda e se renova antes que possa ser discutido. Transforma-se em

relato do longe que vive aguardando mais informações, em texto de uma fonte só, em

reportagem colaborativa construída em coautoria com o leitor, em convergência de mídias,

em matemática da semântica. E nos atropela com a velocidade do felino e a sutileza de um

elefante de saltos, antes que possamos soltar o grito de susto do primeiro dia. Por isso, é

preciso se distanciar da redação e do correr do tempo peculiar que ela impõe para observá-

la. É urgente parar as prensas e os administradores de portais antes que o imediatismo

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persevere e vença. E pedir socorro à academia, para que seja possível o encanto, mas nunca

o vendar dos olhos.

1.2 CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS: MERA SINERGIA?

Presente na mentalidade e nos projetos empresariais dos grandes grupos brasileiros de

comunicação, o processo de convergência de mídias ainda é visto de maneira muito

simplificada e superficial pelos profissionais do jornalismo, sendo reduzido, na maioria das

análises, a uma mera sinergia nas tarefas realizadas dentro das redações.

Entre outras explicações, pode-se dizer que a simplificação acontece porque o ritmo

imposto pelo webjornalismo é alucinante e a equipe, de maneira inversamente proporcional,

muito reduzida. Não sobra tempo para discutir mudanças no processo ou entendê-lo, já que a

dedicação é integral ao fazer. Dessa maneira, embora o texto jornalístico seja uma construção

intelectual, a mecânica impera seguindo a lógica da pirâmide invertida1, as exigências do

mercado e fomentando, inevitavelmente, uma breve alusão ao pensamento heideggeriano,

segundo o qual a técnica surge como “a resposta líquida e certa para os problemas aos quais

não meditamos ou sequer formulamos mais” (POSSAMAI, 2010)2.

A crônica que abre esta pesquisa traz realidade semelhante ao recordar o primeiro dia

do autor como jornalista em um portal de notícias, ilustrando as angústias que a rotina

acelerada e o frenesi por cliques trazem. Em traços gerais, a percepção é de que os processos

se atropelam e a ausência – ou insipiência – de discussões dentro das redações sobre a

linguagem que emerge na convergência de mídias – transformação que é, em sua essência,

complexa e multifacetada – pode levar não somente ao colapso/fracasso do modelo aplicado

em determinados grupos de jornalismo, como, principalmente, ao surgimento de uma visão

mecanicista, na qual a técnica (ou avanço tecnológico) seria a resposta para um processo que

tem como principal produto a construção de uma narrativa. É a produção intelectual e

linguística resumida a computadores e redes móveis.

1 Modelo de construção do texto informativo que organiza as informações desde a mais importante até a menos relevante. A origem da pirâmide invertida está na Guerra Civil norte-americana (1861-1865), mas foi no fim do século XIX que o recurso se tornou uma técnica redacional (TRAQUINA, 2004).

2 Tal constatação instiga esta pesquisa, mas fica a ressalva de que a teoria do filósofo alemão Martin Heidegger (1889 – 1976) não serve de fundamentação, nem é discutida durante o trabalho. É impreterível que o foco seja mantido nas discussões sobre convergência de mídias e linguagem, com um recorte centralizado no tema.

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1.3 DO CIMENTO AO CONTEÚDO: FOCO NA NARRATIVA

Entre as simplificações “físicas” (ou mecânicas) feitas pelos jornalistas é comum,

inclusive, associar o êxito futuro da convergência à construção de um novo modelo de news

room3 que consiga incorporar os setores que atuam nas diversas etapas de produção da notícia

para diferentes veículos. Mas, lembremos: informação ainda é o motivo de ser e a matéria-

prima da imprensa e essa não é construída com tijolos, cimento e areia. Levante um prédio e

ele será útil, mas não escreverá textos. A questão é que, mais do que reorganizar o espaço

físico das editorias de um jornal e unificar forças de trabalho, a produção de trechos de uma

reportagem em diferentes formatos (áudio, vídeo, texto e foto) que é condicionada pela

convergência de mídias e a veiculação desses em um único ambiente – a internet – transforma

a construção do discurso jornalístico com a união de linguagens tradicionalmente distintas,

fecundando o surgimento de uma nova (ou, pelo menos, modificada) narrativa, que herda

características dos meios de origem – televisão, rádio, jornal impresso – e adquire marcas

próprias da web, como textos não lineares e conteúdos customizáveis e interativos, passíveis

de edição pelo público ou, pelo menos, de uma nova experiência de leitura.

1.4 UM TEMA, MUITAS FACES E DEFINIÇÕES

Observando o processo de convergência a partir dos principais estudos realizados

sobre o tema, pode-se inferir outra justificativa bastante pertinente – talvez a principal

encontrada – para que a simplificação em sua análise ainda impere nas redações. Trata-se da

inexistência de um conceito único entre estudiosos (CORRÊA; CORRÊA, 2007;

SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008; JENKINS, 2009; BARBOSA, 2009; RODRIGUES,

2009; MASSIP, et al, 2010; ZILLER, 2011) para definir convergência de mídias. Mais do que

propriamente por um debate conceitual, essa divergência acontece por causa do já citado

caráter multifacetado do processo.

3 A primeira experiência com uma news room (redação) integrada aconteceu no ano 2000, na Flórida (EUA), quando passaram a compartilhar o mesmo edifício o portal Tampa Bay Online, o jornal impresso The Tampa Tribune e a rede de televisão WFLA-TV (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008). Em Minas Gerais, a TV Record inaugurou redação semelhante em 2009, mas não foi realizada a integração com o jornal Hoje em Dia, que acabou vendido em setembro de 2013 para outro grupo empresarial. Os Diários Associados, por sua vez, projetam uma redação convergente desde 2008, mas atualmente as obras estão paradas.

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Embora olhem por ângulos opostos para o tema, os pesquisadores Henry Jenkins e

Ramón Salaverría concordam que, antes de ser qualquer coisa, convergência de mídias “não é

uma coisa só”. Jenkins (2009, p.29) lembra que “convergência é uma palavra que consegue

definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem

está falando”. Embora considere geral a definição apresentada pelo colega americano,

Salaverría faz coro ao lembrar as diversas faces pelas quais o processo se apresenta:

A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta o âmbito tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separados (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45) 4.

Das convergências sugeridas por Salaverría em seu estudo com Samuel Negredo, a

que surge com grande interesse para esta pesquisa é a de linguagens, uma das menos

exploradas pelos teóricos que estudam o tema. O próprio Jenkins, depois de constatar uma

característica multifacetada na convergência de mídias, opta por estudá-la,

predominantemente, como um processo cultural. Já Salaverría escolhe observá-la pelo ponto

de vista jornalístico e busca esgotar a análise de todas as etapas que constata no processo,

através de sucessivos estudos de caso, para tentar a aproximação com um conceito único.

Porém, a maioria das abordagens do pesquisador dedica grande atenção aos processos

produtivos e até mercadológicos, restando menor espaço à linguagem. É certo que ambos,

ainda que em correntes opostas, trazem grande contribuição ao tirar o tema da simples

observação sinérgica – face que mais seduz as empresas e os jornalistas. No entanto, além de

ter em mente que convergência “não é somente a integração de redações” (tradução livre

minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.16) 5, é preciso, também, sair da news room

para observá-la. É preciso vestir-se como consumidor da informação. Afinal, como reconhece

o próprio Salaverría, para o público, pouco importa ou aparece da integração física,

econômica e da sinergia dos processos de apuração e produção em uma reportagem. Aos

4 La convergencia periodística es un processo multidimensional, que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afeta el ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una intergración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados (SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008, p.45).

5 No es solamente integración de redacciones (SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008, p.16).

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interagentes6, as mudanças mais perceptíveis estão no produto final, que surge com uma

linguagem transformada.

O produto final – o portal de notícias e seus conteúdos – é a ponta do processo que

atrai os olhares desta pesquisa e que motiva uma série de estudos, conduzidos à luz dos

estudos de linguagens, no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (Posling)

do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG).

1.5 DISCUSSÕES NO POSLING

Desde o surgimento do Posling, em janeiro de 2009, aproveitando o caráter

interdisciplinar, a riqueza e a diversidade proporcionadas pelas três linhas de pesquisa do

programa, pesquisadores com formação em outras graduações, que não a de Letras –

Comunicação Social (Publicidade e Jornalismo), Filosofia, Design, Sistemas de Informação,

História, Engenharias –, têm recorrido ao mestrado em Estudos de Linguagens para observar

por novo prisma matérias de outras ciências. Esse processo tem ocorrido, sobretudo, com pós-

graduandos oriundos da comunicação, em sua maioria jornalistas. Frequentemente, esses têm

se inserido na Linha II do programa, motivados pela possibilidade de analisar a “interferência

de novas tecnologias na produção de escrita e leitura” e, também, os textos midiáticos. É o

caso desta pesquisa, que encontra suporte na excelência da escola em trabalhos envolvendo o

desenvolvimento tecnológico – fator determinante na convergência de mídias – e se

fundamenta em imprescindíveis discussões linguísticas e midiáticas oferecidas pelo curso.

Entre os estudos de linguagem jornalística (midiática) que são realizados no CEFET-

MG – sobretudo com orientações da Profa. Dra. Ana Elisa Ribeiro, Profa. Dra. Giani David

Silva e Prof. Dr. Vicente Aguimar Parreiras –, destaca-se a pesquisa de mestrado já concluída

por Camila Gonzaga-Pontes, que deu origem à dissertação “Aguarde mais informações: uma

análise da webnotícia com base na releitura de estrutura da notícia de Teun van Dijk”. O

trabalho, defendido em 2012, analisa a influência da web no modo de organização global do

discurso da notícia factual. A pesquisa foi conduzida sob os critérios fundamentados por van

Dijk, que estudou a estrutura (temas e esquemas) da notícia impressa. Em sua dissertação, a

6 Alex Primo (2003) propõe o termo “interagente” para substituir a comum definição de “usuário” (ou “receptor”) que é dada aos consumidores da informação na Web 2.0. Para ele, é inadequado tratar esse público como quem apenas “usa” determinado conteúdo, uma vez que a era pós-massiva permite a interação e, até mesmo, intervenção na produção jornalística.

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pesquisadora observa que ainda não há uma estrutura própria da notícia na web, apontamento

que surge, também, no artigo “Ler e recarregar a página: um exercício analítico sobre a

reescrita da webnotícia”, publicado em 2013 por Ana Elisa Ribeiro e Gonzaga-Pontes na

Revista Brasileira de Linguística Aplicada. As autoras observam que as mudanças

proporcionadas pela internet “talvez não tenham chegado a alterar, em sua essência, a

característica informativa do texto noticioso, sua estrutura temática ou sua composição, mas

influenciaram a forma como esse texto é produzido e publicado diante dos olhos do leitor”

(RIBEIRO; GONZAGA-PONTES, 2013). Tal constatação é testada novamente nesta

pesquisa que, reconhecendo a importância do diálogo e da continuidade dos estudos de

comunicação dentro do Posling, aproveita as conclusões obtidas por Gonzaga-Pontes (2012) e

amplia o foco ao observá-las sob o olhar da convergência de mídias.

1.6 PONTO DE PARTIDA PARA ESTUDAR A CONVERGÊNCIA

Como dito anteriormente, a face do processo que surge com maior interesse para esta

pesquisa é a linguagem. Tomando como ponto principal para a análise a “convergência na

tela”, ou seja, os produtos noticiosos que surgem na web como frutos de um processo

convergente anterior, este estudo encontra seu ponto de partida na discussão sobre a

construção da narrativa na internet a partir da hipertextualidade e da interatividade (Web 2.0),

condições consideradas necessárias para sua realização e seu entendimento.

Citado à exaustão em todos os trabalhos sobre o tema, como destaca Ana Elisa Ribeiro

(2006) em “Leituras sobre hipertexto: trilhas para o pesquisador”, o filósofo tunisiano Pierry

Lévy traz, em 1993, uma das mais famosas definições sobre a hipertextualidade. Para o

teórico, “tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões” (LÉVY,

1993, p.33). Os nós citados por Lévy podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos e

sequências sonoras, sendo que estes itens não são ligados linearmente, mas sim em estrela, de

modo reticular. Em uma visão mais desatenta, a definição ainda embrionária – mas ainda

amplamente aceita – de Lévy, já bastaria para definir algo bastante semelhante ao material

convergente. No entanto, é preciso entender que a mera união de sons, imagens e textos por

hiperlinks criaria uma reportagem apenas hipertextual, e não convergente. Convergência

pressupõe ir além e unir linguagens. Pressupõe ainda unir, em algum grau, as diferentes

instâncias no processo comunicativo, o que ocorre com a presença da Web 2.0.

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Em “O Futuro da internet: Em direção a uma ciberdemocracia planetária” – tradução

modificada de “Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique” (LÉVY, 2002) –, André

Lemos (2010) lembra que o hipertexto ganha novo contexto dentro das discussões sobre as

novas mídias interativas pós-massivas, uma vez que, mais do que informativas, essas

funcionam como verdadeiras ferramentas de conversação. Seria a “mass self communication”

(ou “era da intercomunicação”), proposta pelo sociólogo Manuel Castells (2006). É na soma

dessa discussão sobre as mídias pós-massivas com a união de diferentes linguagens, a partir

do conceito preliminar de hipertexto proposto por Lévy, que finalmente se encontra o ponto

de partida para uma interpretação inicial do contexto tecnológico e social em que se insere e

funciona a convergência experimentada na tela.

Dado o cenário conceitual acima, para sua realização, esta pesquisa contou com um

“pontapé teórico” inicial (antes mesmo da revisão bibliográfica visando aos estudos de

convergência de mídias em si) dado pelas discussões sobre hipertextualidade (LÉVY, 1993;

LÉVY, 1996; CHARTIER, 2002; PRIMO, 2003; MARCUSCHI, 2005; RIBEIRO, 2006;

LEMOS; LÉVY, 2010) e Web 2.0 (PRIMO, 2003; COVRE, 2010; LEMOS; LÉVY, 2010;

D’ANDRÉA, 2011). Foi a partir dessa revisão imprescindível que a pesquisa pôde focar as

atenções na escolha do objeto e na busca de um modelo metodológico que permitisse avaliar

as características que compõe a construção da linguagem na convergência de mídias.

1.7 MODELO DE ANÁLISE: O ESTUDO DE CASO

Para verificar o processo de convergência de mídias olhando diretamente através da

linguagem, esta pesquisa optou por seguir Salaverría e realizar um estudo de caso,

descartando, porém, as outras faces do tema (empresarial, econômica), também abordadas

pelo autor.

Apresentado no 5º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, da SBPJor, o

artigo “Convergência de mídias: primeiras contribuições para um modelo epistemológico e

definição de metodologias de pesquisa”, elaborado por Elizabeth Saad Corrêa e Hamilton

Luís Corrêa (2007), propõe discussões sobre as metodologias de pesquisas mais adequadas

para o desenvolvimento de trabalhos científicos abordando a convergência de mídias no

jornalismo.

As reflexões que buscamos na literatura destacam o forte vínculo do sub-campo das novas mídias à observação empírica e à busca de fertilização teórica em outros campos correlatos. Fenômenos de jornalismo digital se dão primordialmente no

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próprio interagir entre aparatos e suportes, protagonistas comunicantes e interagentes. Tais fenômenos se constroem a partir da experimentação que a criatividade humana imprime no próprio espaço de comunicação e sociabilidade. (CORRÊA; CORRÊA, 2007, p. 7).

A partir da ideia de que os computadores e a internet são elementos determinantes e o

próprio espaço de experimentação/configuração da convergência, Corrêa e Corrêa recorrem a

José Luiz Braga e propõem o estudo de caso como modelo mais adequado. Para os autores, a

observação dos processos de convergência por meio de uma sucessão de estudos de caso (e, a

partir deles, a aproximação entre teoria e prática), é a alternativa mais viável para atingir o

resultado esperado. “Processos comunicacionais não são coisas fechadas em si mesmas, mas

objeto de observação caso a caso” (CÔRREA; CÔRREA, 2007, p.8), concluem. Foi a partir

dessa definição que esta pesquisa recortou as inúmeras possibilidades de estudo da linguagem

convergente, focando em um só caso: o experimentado pelos veículos dos Diários Associados

dentro do Portal Uai <www.uai.com.br>.

1.8 A FONTE DO ESTUDO DE CASO: PORTAL UAI

Na maior parte dos grupos brasileiros de comunicação, o processo de convergência de

mídias faz parte apenas do discurso empresarial ou foi reduzido a uma mera sinergia nas

tarefas da redação com acúmulo de funções pelos jornalistas. Ainda são raros os casos no

Brasil onde se observa de maneira efetiva a construção desse processo. Entre as empresas que

já acenam para uma integração na tela, podemos citar os Diários Associados (DA), grupo

fundado pelo jornalista Assis Chateaubriand, em 1924, e que conta com portais de notícia em

cinco estados brasileiros, além do Distrito Federal. Em Minas Gerais, embora a integração das

diferentes redações do DA ainda não aconteça, o modelo de negócio da empresa prevê a união

de conteúdos da TV Alterosa, Jornal Estado de Minas e Rádio Guarani na tela do Portal Uai, o

maior e mais antigo site de notícias do Estado – fundado em 1996, o veículo conta,

atualmente, com uma média mensal de 100 milhões de pageviews7.

7 Número de acessos registrados por um site. Não engloba o total de pessoas que visitaram o portal, mas, sim, o número de vezes que ele foi acessado (GOOGLE ANALYTCS, 2012). Atualmente, critérios como tempo médio de permanência também têm sido utilizados como medidor importante da audiência, mas os pageviews conquistados seguem como o principal deles.

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O projeto convergente almejado pelos Diários Associados, bem como a proximidade e

relevância do portal, foram fatores determinantes para a escolha do veículo como fonte para a

realização do Estudo de Caso que nutre esta dissertação. Vale ressaltar que, ao optar por

analisar a linguagem convergente praticada no Portal Uai através de uma abordagem

qualitativa, ou seja, que tem em sua essência a observação crítica do pesquisador a partir da

aproximação dos dados com as reflexões teóricas anteriores, essa pesquisa se cercou de

cuidados para garantir que nem a ‘mão leve’ nem o olhar rígido pesassem, uma vez que o

autor faz parte do quadro de funcionários da empresa. Ainda que ciente da impossibilidade da

imparcialidade absoluta, o autor se alinhou, com redobrada atenção, a todos os princípios

éticos para o desenvolvimento do trabalho, não abrindo mão da liberdade para o pleno

exercício da pesquisa e crítica.

1.9 É TEMPO DE SE QUEBRAR O PARADIGMA

Como dito anteriormente, ainda sem uma definição única, a convergência de mídias

ganha uma de suas melhores discussões no livro “A Cultura da Convergência”, de Henry

Jenkins (2009). Em sua obra, o teórico traz uma questão que preocupa e se soma aos erros de

definição e simplificações citados, justificando a inquietação que levou esta pesquisa a estudar

a linguagem na convergência de mídias: o paradigma da revolução digital. Segundo o autor,

enquanto o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias

interajam de formas cada vez mais complexas, ainda há um forte domínio da chamada

revolução digital, que prevê um processo em que as novas mídias acabam por substituir as

antigas. Neste contexto de incertezas, preocupa o grande domínio que este último exerce nas

escolas de jornalismo e na mentalidade dos próprios jornalistas, que se mostram assustados

com a possibilidade de que mídias mais tradicionais, como o rádio e o impresso, desapareçam

com o processo de convergência. Esse pensamento está ligado principalmente ao primeiro

equívoco, apontado por Salaverría e Negredo (2008), na definição de convergência – tratá-la

apenas como união das redações. Por isso a importância de se estudar a linguagem

convergente, face ainda pouco explorada deste complexo processo. Compreender a formação

desse novo/modificado discurso jornalístico a partir da união de diferentes linguagens se

mostra tarefa imprescindível e de imensurável importância no país que experimenta a

convergência numa época em que, com a discussão da obrigatoriedade (ou não) do diploma

de jornalista, todos os internautas – sejam eles profissionais da internet, entusiastas da

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blogosfera ou apenas curiosos – podem se apresentar como repórteres e grandes interventores

nos portais.

Dado o cenário apresentado, com simplificações e divergências de conceito

dominando os debates sobre a convergência de mídias (processo que é, por natureza,

multifacetado), o presente estudo se guiou sempre mantendo fidelidade à seguinte

problemática: Como a união de linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos

de produção e edição – rádio, televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística

convergente nos portais de notícia? Como e em que medida essa narrativa convergente pode

ser considerada nova, do ponto de vista da linguagem que a constitui e dos parâmetros

jornalísticos a ela vinculados?

Para conseguir responder ao problema, o estudo percorreu um caminho que passou

pelo cumprimento de determinados objetivos específicos, a fim de imergir em uma reflexão

mais profunda e detalhada da temática. Tais metas, apresentadas inicialmente no projeto de

pesquisa, guiaram todo o processo, desde a revisão bibliográfica até a elaboração da

metodologia e análise dos dados. São elas:

Geral

Dentro do processo de convergência de mídias, investigar como e em que medida a

união de linguagens originadas de meios tradicionalmente distintos transformam a lógica de

construção da narrativa jornalística no Portal Uai.

Específicas

� Analisar as estratégias de construção do discurso nos portais de notícias a

partir do fenômeno da convergência de mídias e verificar em quais medidas o mesmo se

transforma com a convergência, considerando os parâmetros jornalísticos a ela vinculados;

� Tomando como referência os modelos usados nos suportes originais, verificar

quais são as principais mudanças estruturais sofridas pelos conteúdos em vídeo, texto, áudio

e foto ao serem publicados na web;

� Investigar as interferências que a hipertextualidade e as possibilidades da Web

2.0 trazem ao jornalismo quando somadas à união de linguagens na tela;

� Procurar marcas do processo de transformação do discurso a partir da

convergência de mídias no produto jornalístico final publicado nos portais de notícias.

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Para cumprir os objetivos propostos, este trabalho foi divido em duas partes. A

primeira traz revisões teóricas com nuances indispensáveis para a análise qualitativa,

abordando os principais conceitos e discussões da atualidade sobre hipertextualidade, Web 2.0

e convergência de mídias. Vale ressaltar que, durante todo o processo de pesquisa, optou-se

por trabalhar com teóricos com visões muitas vezes opostas, primando pela reflexão e respeito

às diversas correntes como caminho para chegar às teorias que conduzem este estudo.

Já na segunda parte, aproveitando o conhecimento fomentado pela revisão teórica, a

pesquisa apresenta um modelo metodológico próprio, elaborado à luz das discussões

presentes na Parte I, e realiza a análise qualitativa dos dados coletados no Portal Uai,

apresentando conclusões e novos caminhos para estudos em convergência de mídias.

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PARTE I: revisão teórica

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CAPÍTULO I: hipertexto, Web 2.0 e linguagens

I.1 O FUTURO DA INTERNET

Determinar rumo a qual futuro a internet caminha é tarefa em que poucos se arriscam.

São mais raros ainda os pesquisadores que se lançam à sorte para dizer qual tipo de linguagem

jornalística nós vamos atingir com as constantes transformações da web. Isso porque, na

última década, a nova mídia, ainda que em processo de amadurecimento, viveu uma

verdadeira revolução de conceitos com a união de linguagens, enchendo as certezas de

dúvidas e subvertendo uma lógica que lhe foi imposta logo no berço: de ser o espaço infinito

para transpor o impresso, o local da multimidialidade, a memória fácil (PALACIOS, 1999). A

web mostrou que, de fato, é muito mais. Não que os conceitos originais difundidos por

Marcos Palacios (1999) – hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização,

memória e atualização contínua –, pregados ao longo de anos nas escolas de jornalismo,

estejam errados, mas existe um consenso atual nas pesquisas de que eles são parcela ínfima do

que a rede pode representar, seja para o bem ou para o mal.

A transformação na lógica da internet está diretamente relacionada com o cruzamento

da linguagem hipertextual com o cenário trazido pela Web 2.0. E os primeiros resultados

promovem previsões diversas, a maior parte delas superestimadas em extremos, como em

Lévy e Lemos (2010), que pregam a possibilidade de uma ciberdemocracia planetária a partir

da libertação pela linguagem, ou em Assange (2013), que acredita que a nova realidade “traz

um soldado para debaixo de nossa cama” – se referindo à possibilidade de espionagem que a

web permite aos governos que detêm a tecnologia.

Entendendo que a convergência de mídias é um processo inserido na transformação

citada acima e que sua linguagem é, em grande parte, fruto desse processo ainda em

construção, este capítulo busca tecer um meio-termo nas previsões para a Web 2.0, atingindo

uma definição de hipertexto que atenda a contemporaneidade das publicações observadas.

Além disso, recorrendo aos clássicos manuais de jornalismo e teorizando sobre os conceitos

de texto que eles apresentam para as mídias digitais, este capítulo traz uma revisão do

processo de construção das narrativas elaboradas para rádio e televisão, buscando entender em

que ponto elas se cruzam na tela com a linguagem do impresso, base para a origem do

jornalismo on-line e presente na web desde o surgimento dos primeiros portais.

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18

I.2 DISCUSSÕES SOBRE HIPERTEXTO

Abordado na introdução deste trabalho, o pesquisador Pierre Lévy é citado à exaustão

nos estudos sobre a produção de qualquer forma de conteúdo na internet, graças à rica

pesquisa que desenvolve sobre a hipertextualidade. Embora pareça ser um caminho à

contramão da história, iniciar a discussão estudando esse teórico – e não aqueles que o

antecederam – é extremamente pertinente, uma vez que ajuda a delimitar um conceito mais

atual e bem recortado de hipertexto, sobre qual será preciso debruçar durante todo percurso

teórico. É importante destacar ainda uma preferência pela abordagem de Lévy – e não só por

seu maior entusiasmo com o tema –, uma vez que os conceitos defendidos pelo filósofo

ganham em atualidade e se aproximam da discussão sobre convergência de mídias

principalmente através da obra O Futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia

planetárias, de 2010, uma tradução modificada escrita por André Lemos a partir do original

Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique (LÉVY, 2002). Ao assinar o livro em

conjunto com Lévy, o brasileiro traz as discussões e teorias do tunisiano para o cenário

nacional e oferece novos elementos ao debate, como o conceito de mídias interativas pós-

massivas e a inserção das ferramentas da Web 2.0 no conceito de hipertextos.

I.2.1 Primeiras definições de Chartier e Lévy

Para iniciar a busca da melhor definição de hipertexto dentro da teoria de Lévy é

preciso entender antes que o filósofo trata-o como uma “tecnologia intelectual” e não como

um processo mecânico (ainda que, ora ou outra, aborde o tema desta forma). Para o autor, o

hipertexto seria uma tecnologia que quase sempre exterioriza, objetiviza ou virtualiza uma

função cognitiva ou atividade mental. Desta forma, ainda em 1993, ele chega a uma definição

embrionária, mas ainda amplamente aceita e utilizada, sobre o tema:

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira. (LÉVY, 1993, p. 33).

Assim como Lévy, o historiador francês Roger Chartier também se mostra interessado

na forma como o hipertexto cria uma nova narrativa. Em Os desafios da escrita, de 2002,

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19

Chartier destaca que a hiperleitura que o hipertexto permite e produz transforma as relações

possíveis entre as imagens, os sons e os textos associados de maneira não linear – é

importante ressaltar que para Chartier o hipertexto já estava presente em enciclopédias e

algumas organizações textuais anteriores ao ciberespaço, embora em outra natureza.

Embora pareça pertinente seguir Chartier e pensar o hipertexto como estrutura textual

já existente em outras publicações – como capas de jornal, para citar um exemplo do universo

estudado –, aqui se faz necessário um recorte para a pesquisa proposta sobre convergência de

mídias: durante toda a abordagem teórica e o processo de estudo e análise presentes neste

trabalho, o hipertexto é tratado apenas como ferramenta da internet, já que a união deste tipo

de organização textual com a tecnologia possibilitou determinadas formas de interação e

navegação (ou leitura) que certamente não eram possíveis nas publicações citadas por

Chartier. O objetivo com tal recorte é reduzir o objeto de estudo e facilitar sua observação.

I.2.2 Americanos e o início da história

Seguindo pela contramão da história, chegamos até 1940, com Vannevar Bush e a

1965, com Theodore Nelson. Atribui-se o início da história sobre o hipertexto a Bush, que

teria pensado – ainda que de forma mecânica – em “algo” com a característica de fazer

ligações entre informações por meio de verdadeiras encruzilhadas ou nós (como proposto na

definição de Lévy). Teria sido, no entanto, Nelson o responsável por dar nome à invenção de

Bush. De forma menos mecânica que seu antecessor, o pesquisador pensou um “objeto”

mapeado com diversos percursos possíveis que permitissem ao leitor acessar as informações

de maneira mais pessoal, ou, nas palavras de Ribeiro (2006), “uma maneira ‘customizada’ de

ler e escrever”.

É preciso ressaltar que a criação de Bush (sem nome na época) poderia ter sido ligada

tanto ao hipertexto – o que de fato aconteceu –, quanto aos HDs (hard disk drive) de um

computador. Ambos, em sua lógica, imitam de determinada maneira a forma como o cérebro

humano assimila e organiza as informações, segundo afirma Nelson (1965). Para ele, se os

pensamentos eram estruturados de maneira não sequencial, não haveria motivos para

organizá-los de maneira que parecessem lineares, ideia defendida também por Pierre Lévy

(1993).

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20

I.2.3 O hipertexto de Lévy na era pós-massiva

Aceitando a ideia de que o hipertexto imita a forma como pensamos, saltamos mais

uma vez na história. Tomando a definição básica de Lévy como pontapé inicial para descrever

o hipertexto, resta ainda aplicar o conceito ao contexto contemporâneo, uma vez que a

hipertextualidade experimentada através da convergência de mídias e da Web 2.0 certamente

é diferente das bases da World Wide Web (WWW), na década de 1990, e dificilmente será

igual ao que veremos com a cada vez mais presente Web Semântica (Web 3.0). É o próprio

Lévy, em 1996, que ajuda na tarefa de aplicar seu conceito aos dias atuais, lembrando que

“diversos sistemas de registro e de transmissão (tradição oral, escrita, registro audiovisual,

redes digitais) constroem ritmos, velocidades ou qualidades de história diferentes” (LÉVY,

1996, p. 22). A partir destas diferenças apontadas pelo filósofo, é possível inferir que a

aplicação do conceito de “nós” do hipertexto vai depender, também, da origem e da história

de cada linguagem utilizada no texto convergente. Em outras palavras, mais do que um

conjunto de nós ligados por conexões, na era da convergência, o hipertexto configura o

desenho de uma nova narrativa, ao ligar em uma só linguagem na tela outras diferentes

linguagens, cada qual carregando em si as marcas e características peculiares da mídia onde se

originou.

Assim, na obra de 2010, André Lemos e Pierre Lévy apontam três grandes linhas de

transformação que podem dar novo caráter às mídias e também ao hipertexto:

A perspectiva global das mídias e sua dependência crescente em relação às comunidades e redes sociais locais de alcance global. A convergência entre os suportes midiáticos e de forma mais geral entre todas as instituições que têm vocação para difundir mensagens e reconfigurar a cultura contemporânea. A responsabilização crescente da função midiática pelo conjunto de atores sociais: a emergência das mídias de função pós-massiva pelo princípio da conexão generalizada, aliando potência informativa e mobilidade. (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 72).

Entre as transformações citadas, os autores destacam a convergência, a dependência

das redes sociais e a potencialidade trazida pela função pós-massiva das mídias. Tudo isso,

como dito anteriormente, dá um sentido muito mais amplo ao hipertexto do que aquele

elaborado inicialmente por Lévy. Na verdade, ele não deixa de ser um conjunto complexo de

nós formados por palavras, textos, gráfico e vídeos, só que ele passa a ser isso e algo mais.

A partir destas reflexões de Lévy e Lemos, parece pertinente lançar uma nova

definição de hipertexto, que reúna a teoria “embrionária” do filosofo e suas atualizações

presentes na obra de 2010. Portanto, nesta pesquisa, hipertexto é entendido como o conjunto

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complexo de conexões comunicacionais que é formado pela união de diferentes linguagens na

tela do computador, sendo que este conjunto pode ser ao mesmo tempo, a linguagem

convergente que surge na web e, também, o espaço do ato comunicacional, uma vez que a era

pós-massiva possibilita a participação do interagente no mesmo ambiente em que a

mensagem é construída.

Vale ressaltar, mais uma vez, que o conceito acima não abrange a totalidade do

hipertexto, uma vez que parece pertinente e inquestionável o posicionamento de Chartier

sobre sua origem. No entanto, para a realização deste estudo, o recorte e a atualização da

definição foram facilitadores indispensáveis para que fossem cumpridos os objetivos

propostos.

I.3 DISCUSSÕES SOBRE WEB 2.0

I.3.1 O poder da palavra versus o poder da criptografia

Entre as discussões propostas neste capítulo, a que concentra a maior parcela das

atenções de pesquisadores contemporâneos se refere às potencialidades da Web 2.0,

responsável não só por transformar a produção da narrativa jornalística nos portais de notícia

(foco deste trabalho), mas, também, por viabilizar o encontro de ideias e ideais para

complexas revoluções políticas e levantes populares contemporâneos, sendo, em alguns casos

(Primavera Árabe8, Revolta do Vinagre9), ator principal na organização de lutas por causas

coletivas que colocam o próprio discurso jornalístico em xeque. Tais possibilidades da Web

2.0 estão presentes em todas as obras pesquisadas para a discussão presente neste tópico, em

especial nos livros de Lévy, Lemos e Assange, que travam um rico embate em dois extremos.

Dentro da lógica de visões extremistas citada no tópico “O futuro da internet”, as

obras dos três autores se contrapõem de maneira clara, revelando infernos e paraísos possíveis

8 Onda de protestos organizados pelas redes sociais na web que atingiu o Oriente Médio e o Norte da África a partir de dezembro de 2010. Entre os resultados, o levante levou à queda os governos do Egito, Líbia, Tunísia e Iêmen. Também ocorreram guerras civis em países como a Síria, Barein e Kuwait.

9 “Revolta do Vinagre” (“Revolta da Salada”) foi um dos termos utilizados para definir a série de manifestações populares que estourou no Brasil em 2013. O estopim para a revolta foi o reajuste em passagens de ônibus em São Paulo, mas a lista nacional de pautas foi diversa, com pedidos que iam desde contra a corrupção até pela não realização da Copa do Mundo no país. O nome foi escolhido em referência ao líquido utilizado pelos manifestantes para aliviar os efeitos do gás lacrimogêneo.

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com a utilização do discurso na Web 2.0. Enquanto os pesquisadores André Lemos e Pierre

Lévy defendem o surgimento de uma ciberdemocracia planetária, com a libertação pela

palavra possível no espaço comunicacional oferecido na rede, Julian Assange, o polêmico

fundador do WikiLeaks10, ainda que de maneira menos conceitual e teórica, se mostra

preocupado com o otimismo exacerbado que existe em torno das redes sociais e defende que a

liberdade na rede só é possível por meio de outra forma de linguagem, a criptografia11.

I.3.2 O futuro da internet para Lévy e Lemos

Uma atualização da democracia virtual proposta por Pierre Lévy no início da década

passada para a era da Web 2.0. Esta é a linha que conduz a obra O futuro da internet: em

direção a uma ciberdemocracia planetária, tradução modificada assinada pelo professor de

comunicação da UFBA, André Lemos. Na abertura do livro, o próprio Lévy esclarece que o

objetivo é analisar as transformações contemporâneas da esfera pública como resultado da

expansão do ciberespaço e considerar as novas possibilidades que essa mudança abre para a

democracia. O tunisiano lembra que, em 2002, ano de publicação do original

Cyberdémocracie: Essai de Philosophie Politique, “a blogosfera não tinha nome, a Wikipedia

– que nasceu em 2001 – passava ainda despercebida, e a Web 2.0 ainda não existia”

(LEMOS; LÉVY, 2010, p. 9). Aliás, é a Web 2.0 – na obra também denominada de

“computação social” ou “era pós-massiva” – que valida o que foi publicado pelo pesquisador

em 2002, quando este falou em um “movimento futuro” para libertação da palavra e da

expressão pública pelo ciberespaço.

Em sua atualização, Lemos mostra compartilhar as ideias embrionárias de Lévy sobre

a ciberdemocracia, deixando, inclusive, transparecer o mesmo otimismo em relação à

utilização da Web 2.0 como ferramenta de luta social. “Quanto mais podemos livremente

produzir, distribuir e compartilhar informação, mais inteligente e politicamente consciente

uma sociedade deve ficar. As ações de produzir, distribuir e compartilhar são os princípios

10 WikiLeaks é uma organização que se denomina sem fins lucrativos e publica em sua página, construída através de um código próprio – que garante o anonimato das fontes –, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos que julguem pertinentes à sociedade, realizando a missão primordial do jornalismo de trazer à luz o que está obscuro e é de interesse público.

11A palavra criptografia tem origem no termo grego para “escrita secreta” (kryptós, "escondido", e gráphein, "escrita") e designa a prática de se comunicar em código.

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fundamentais do ciberespaço” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 27), afirma o teórico, que ainda

aposta:

A transformação da esfera midiática pela liberação da palavra se dá com o surgimento de funções comunicativas pós-massivas que permitem a qualquer pessoa, e não apenas empresas de comunicação, consumir, produzir e distribuir informação sob qualquer formato em tempo real e para qualquer lugar do mundo sem ter de movimentar grandes volumes financeiros ou ter de pedir concessão a quem quer que seja. Isso retira das mídias de massa o monopólio na formação da opinião pública e da circulação de informação. (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 25).

Vale ressaltar que Lemos deixa claro, assim como já havia feito Lévy, que sabe que

boa parte da teoria publicada ainda parece aos demais ou, de fato, é uma utopia. É a partir

dessa lógica que ele apresenta os passos que indicam o caminho em direção à emancipação de

tempo e das fronteiras que a linguagem na internet e a ciberdemocracia permitem. Seria uma

jornada rumo ao governo mundial ciberdemocrático, um novo tipo de Estado transparente a

serviço da inteligência coletiva.

A transparência radical permitida pelos instrumentos do ciberespaço, como condição para que ela continue sistemática, nos parece ser um dos fatores determinantes não apenas da mutação da democracia moderna em ciberdemocracia, mas da queda próxima das ditaduras à moda antiga (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 67).

Para sustentar a argumentação, Lemos se apoia nas discussões do sociólogo Manuel

Castells (2006), recorrentemente citado em estudos sobre comunicação, mostrando as

mudanças provocadas pela Web 2.0 nas tradicionais mídias de massa com o surgimento da era

pós-massiva. Ainda na ideia da libertação pela palavra, ele destaca o fim dos filtros –

“gatekeepers”12 – para o consumo e a distribuição de conteúdos, opiniões e mensagens.

I.3.2.1 Teoria do Estado Transparente

Dentro do debate sobre a governança ciberdemocrática global, Lemos chega à “Teoria

do Estado transparente”, em que discute diversos aspectos, como entraves judiciários e

econômicos, desta possibilidade, apresentando-a como “um convite a pensar a natureza do

futuro Estado ciberdemocrático mundial” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 179). O autor lembra (e

12 O termo refere-se à pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões, no caso, o jornalista. Na teoria do gatekeeper, o processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem que passar por diversos gates (portões) que são áreas de escolha dos jornalistas envolvidos no processo comunicacional (TRAQUINA, 2004)

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aposta) que o processo deve começar pelas zonas que já são mais conectadas, como a Europa,

a América e os países avançados da zona Ásia-Pacífico. O pesquisador, no entanto, pondera,

que para tal Estado planetário, todas as formas de totalitarismo devem ter sido relegadas à

memória da humanidade como etapas superadas, ressaltando a essência democrática e

coletiva da sociedade que surge libertada pela palavra.

A reflexão sobre o nascimento do Estado proposto por Lemos parte de três fatores: a

globalização, o crescimento do liberalismo e a emergência da sociedade da informação.

Unidas, essas três tendências formam a civilização da inteligência coletiva, o que, para o

autor, espelharia o novo Estado. O teórico aponta uma das principais missões deste novo

Estado:

Fornecer à inteligência coletiva da sociedade um metanível de reflexão, de regulação e de governança, uma espécie de espelho que permite reconhecer os efeitos dos seus atos, de aprender continuamente e de ver mais amplamente (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 185).

I.3.3 O outro lado: o futuro nebuloso de Assange

“Privacidade para os fracos, transparência para os poderosos”. É esta a máxima que

dita o movimento cypherpunk, formado, em sua essência, por ativistas hackers que utilizam a

criptografia para provocar mudanças sociais e políticas. E é dessa ideia embrionária e,

principalmente, de todas as ações articuladas pelos mais diversos Estados e organizações

privadas para impedi-la, tornando a internet ferramenta de vigilância, que urge o grito de

Julian Assange em tom que ultrapassa o alarmismo e beira o apocalipse ao comentar a Web

2.0: “a internet é uma ameaça à civilização humana” (ASSANGE et al., 2013, p. 25).

Editor-chefe e visionário que comandou a criação do WikiLeaks, site/grupo

responsável por revelar documentos secretos do governo norte-americano (entre os mais

notórios, o Cablegate13, com 251 mil comunicados diplomáticos provenientes de 274

embaixadas dos Estados Unidos, responsáveis, entre outros desdobramentos, por semear a

Primavera Árabe), Julian Assange segue preso na Embaixada do Equador no Reino Unido,

onde conseguiu asilo político, mas vive sob constante ameaça de ser detido caso deixe o

prédio.

13 Vazamento de registros oficiais diplomáticos dos Estados Unidos pela internet ou por “cabos” – cables, em inglês. O nome faz alusão ao escândalo do Watergate, que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974, após denúncias de uma fonte oculta.

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A obra Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, na verdade, trata-se de uma

transcrição, acrescida de comentários e notas, de um debate gravado em 20 de março de 2012

entre o fundador do WikiLeaks e três “colegas sentinelas” na prisão domiciliar em Londres.

São eles Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann, todos

ciberativistas ou cypherpunks14, defensores do código livre, da liberdade de expressão e da

criptografia como arma contra a vigilância controlada.

Para sustentar as afirmações e comprovar o alcance de suas teses, eles ilustram o

discurso com ataques econômicos, políticos e jurídicos aplicados pelo governo dos Estados

Unidos contra eles próprios, o WikiLeaks e seus representantes.

I.3.3.1 Mensagem para os latino-americanos

Para a versão publicada na América Latina, ‘Cypherpunks’ ganhou um prefácio

especial, escrito por Assange um mês antes do lançamento. No texto, Julian lembra que as

questões abordadas são de “especial interesse para os leitores da América Latina”

(ASSANGE et al., 2013, p.19), em tom que recorda os sombrios tempos coloniais. “Ela [a

criptografia] pode ser utilizada para combater não apenas a tirania do Estado sobre os

indivíduos, mas a tirania do império sobre a colônia” (ASSANGE et al., 2013, p.22).

I.3.3.2 Apocalipse e solução na linguagem matemática

Em seu debate teórico, Assange traz o apocalipse, mas também apresenta a solução.

Ao mesmo tempo em que o autor sentencia uma ameaça global e destaca o perigo de que a

civilização se transforme em uma distopia da vigilância pós-moderna, ele traz a arma para

vencer o temido inimigo. Trata-se da criptografia e suas propriedades físicas. Julian explica

com certo sarcasmo que “o universo acredita na criptografia” (ASSANGE et al., 2013, p.27),

de forma que é mais fácil codificar informações do que decodificá-las. “Nenhuma força

repressora poderá resolver uma equação matemática” (ASSANGE et al., 2013, p. 28), resume.

Em voga nos conceitos que tecem a obra de Assange e seus “sentinelas” está a noção

de que o platonismo criado sobre a capacidade “maravilhosa” das redes sociais de trazer

independência e liberdade de expressão mascara formas modernas de vigilância, sendo que

14 O termo cypherpunk – derivação (criptográfica) de cipher (escrita cifrada) e punk – foi incluído no Oxford English Dictionary em 2006. Em português pode ser traduzido para criptopunk.

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essas ferramentas são utilizadas massivamente pelos Estados. É o paradoxo maior

comunicação versus maior vigilância.

Essa dicotomia trazida pela rede é exemplificada pelo próprio Assange com caso

semelhante ao utilizado por Lemos, porém sob um novo olhar. Julian lembra a revolução

contra o governo Mubarak no Egito (Primavera Árabe), em 2010, e destaca que, embora a

organização realizada pelas redes sociais tenha conseguido êxito ao chegar às ruas, todos

organizadores foram rastreados, de modo que, não fosse o sucesso do movimento, eles

dificilmente estariam vivos. E é neste mesmo tom apocalíptico que o grupo continua as

discussões sobre o Google, o Facebook, o fornecimento de informações pelos usuários e a

utilização destas pelas agências de espionagem norte-americanas durante todo o texto. “Hoje

isso é feito por todo mundo e por praticamente todos os Estados, em consequência da

comercialização da vigilância em massa” (ASSANGE et al., 2013, p.43).

No entanto, os debatedores também reconhecem que, em certo ponto, a Web 2.0 se

apresentou como desafio e perigo aos Estados dominantes. “Se olharmos a internet do ponto

de vista das pessoas do poder, os últimos vinte anos foram aterrorizantes”, diz Andy

Müller-Maguhn (ASSANGE et al., 2013, p.44).

Em uma crítica à técnica moderna que ainda restringe o poder de controle às pessoas

que detêm os recursos físicos e à necessidade de satisfação social da massa pela internet, os

autores chegam a comparar a recompensa oferecida pelo Facebook através de “créditos

sociais” com o fornecimento de informações ao Stasi, órgão de controle da segurança da

antiga Alemanha Oriental, onde se pagava pelas informações fornecidas. No entanto, para

eles, a nova forma de controle imposta pela internet se mostra mais preocupante, já que ao em

vez de coletar informações de “pessoas táticas”, opta-se estrategicamente por armazenar ‘tudo

de todos’ para depois esmiuçar. Julian Assange resume bem a ideia que norteia o debate:

A internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado. Mas ela é um espaço nosso, porque todos nós a utilizamos para nos comunicar uns com os outros, com nossa família, com o núcleo mais íntimo de nossa vida privada. Então, na prática, nossa vida privada entrou em uma zona militarizada. É como ter um soldado embaixo da cama (ASSANGE et al., 2013, p.53).

Andy completa o sentido bélico da teoria: “(...) o principal identificador da estrutura

do banco de dados [do Facebook] era a palavra ‘alvo’. Eles não chamam as pessoas de

‘assinantes’, ‘usuários’ ou qualquer termo do gênero” (ASSANGE et al.,2013, p.74).

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I.3.3.3 O contraponto fundamental dos Cypherpunks

Embora exagere no tom apocalíptico, o livro de Assange e seus colegas cypherpunks

surge como importante contraponto em era de “adoração’ à Web 2.0. Teóricos como Henry

Jenkins, André Lemos e Pierre Lévy têm promovido rico debate no sentido de exaltar a

possibilidade de comunicação livre e democrática oferecida pela web, relembrando, entre

outros, os conceitos de Marshall McLuhan (1911 - 1980), principalmente no que diz respeito

à aldeia global15. No entanto, é preciso ter cuidado ao defender esta liberdade extrema, uma

vez que a comunicação, a priori, ainda depende em grande parte de ferramentas que têm

códigos fechados e uma estrutura física de propriedade dos Estados e empresas privadas. Não

é exagero questionar o limite da liberdade, mas é preciso lembrar que, como o próprio Julian

Assange coloca, a batalha é tanto política quanto tecnológica.

I.3.4 Outros estudos sobre Web 2.0

Dadas as reflexões de Lemos, Lévy e Assange, pode-se inferir que as características da

Web 2.0 associadas ao processo de convergência de mídias não apenas uniu diferentes

suportes e linguagens, como também trouxe o usuário (agora interagente) para a produção dos

conteúdos, obrigando os portais noticiosos a adotar entre suas estratégias as possibilidades de

interação a partir de sites específicos colaborativos, redes sociais próprias, sessões de

comentários, entre outras ferramentas que permitem ao internauta – que já experimentava uma

maior autonomia através da hipertextualidade – editar, transformar e participar da notícia. É o

fim da “arrogância” da imprensa, que passa a ter suas “verdades absolutas” questionadas pelo

leitor ou, na definição de Alex Primo (2003), modificadas pelos interagentes.

Nunes (2009) lembra que para Ramón Salaverría, o principal desafio é a

interatividade. Segundo o espanhol, incorporar o leitor ao discurso jornalístico é algo

radicalmente novo e é a isso que os meios digitais estão conferindo um protagonismo. De

acordo com Salaverría (2008), o impacto da interatividade já pode ser observado nos jornais

impressos, uma vez que os mesmos vêm abrindo espaço para os leitores proporem pautas e

15 Teoria de Marshall McLuhan que prevê a redução do planeta à estrutura de uma aldeia, onde todos estariam ligados com todos e poderiam se comunicar diretamente. Quando lançada pelo filósofo canadense, a teoria buscava aporte nas possibilidades da televisão e foi muito criticada (PEREIRA, 2011). No contexto da Web 2.0, ganhou releitura amplamente aceita com Henry Jenkins, como é debatido no tópico II.5.1 desta pesquisa.

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debates. E o autor espanhol sentencia: podemos estar assistindo aos primeiros passos de algo

que terminará mudando o discurso jornalístico que conhecemos há séculos.

Em artigo apresentado no VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, da

SBPJor, Xosé Lopéz (2008), professor de jornalismo digital na Faculdade de Ciência da

Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), fala sobre a crescente

participação dos usuários nos portais de notícia mais tradicionais da internet, alguns com até

14 anos de existência. Ele deixa claro que nem todos os portais tradicionais querem essa

participação e lembra que outros que buscam a interação não sabem como fazê-la ou

encontram dificuldades para gerenciá-la. Lopéz estudou 15 portais noticiosos brasileiros e

europeus, nos quais ele observou transformações que definiu como próprias da primeira

década deste século, o que denominou de “Sociedade em Rede”.

Segundo Lopéz (2008), a sombra do mundo digital comanda todas as transformações

vivenciadas nos meios de comunicação (que se reorganiza a partir da convergência de

processos ou convergência de mídias) e na sociedade civil (que se dota de ferramentas para

participar e ter voz nessa nova mídia). Em sua análise, ele observa que os portais têm

incorporado diversas vias de participação dos usuários, como os blogs e as redes sociais, de

modo que foi possível observar uma melhora progressiva na intervenção e participação dos

internautas no processo informativo. Para Lopéz, as mudanças atingem inclusive a profissão

do jornalista, que precisou assumir importantes mudanças em seu papel de moderador oficial

e intérprete da realidade.

Em suas conclusões, Lopéz afirma que a Web 2.0 não somente já chegou às redações

jornalísticas através de blogs, wikis e redes sociais, como também já é demandada pelos

grandes grupos de comunicação através de profissionais específicos, que são contratados para

gerenciar estas ferramentas, de modo a tornar o processo comunicacional mais democrático e

plural, garantindo o diálogo com os usuários. É com base nesta observação que o autor

justifica como necessário o estudo da participação do usuário integrado à era pós- massiva

para se compreender a construção de uma narrativa jornalística a partir da convergência.

É importante destacar que, em grande parte, o debate do espanhol retoma as

discussões de André Lemos e Pierre Lévy sobre as mídias interativas na Web 2.0, que mudam

a relação comunicacional “um para todos” das mídias massivas para “todos para todos”. É

também a “aldeia global” proposta por McLuhan e revisitada por Jenkins, mas com um olhar

menos perfeccionista.

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29

O mesmo debate é retomado em Reemergência do sujeito nas mídias sociais da web

2.0 e a consequente transformação da esfera jornalística, de André Covre (2010). Ele discute

a reemergência do sujeito a partir da apropriação de ferramentas interacionais da Web 2.0. Em

outras palavras, Covre observa a maneira como os sujeitos aprofundam suas relações com as

características de liberdade da linguagem, na medida em que se tornam mais próximos de

ferramentas interativas que surgem a partir da união de computador e internet, convergência

essa que reformula a esfera jornalística a partir da dialogia.

Covre trata a Web 2.0 como o processo que motivaria o fim da relação mecânica (e de

sentido único) ditada pela relação produtor/receptor no jogo comunicativo. Em suas palavras:

[...] mensagem não pode ser compreendida apenas como um bloco monolítico de informações pré-datadas, e a relação entre o transmissor e o receptor não pode se dar por um movimento mecânico e de sentido único; por isso é necessário construir uma definição de mídia que trabalhe com uma concepção discursiva de linguagem; uma definição que se desligue dos detalhamentos pormenorizados dos conceitos técnicos e ontologizadores (COVRE, 2010, p. 208).

Em sua conclusão, o autor lembra que a relação entre mídia e indivíduos não é mais (e

certamente nunca foi) de obediência completa e exclusiva. Nunca o ouvinte, telespectador,

leitor ou internauta foi, de fato, meramente receptor da mensagem. No entanto, as pressões

sociais e as possibilidades da Web 2.0 permitem que ele se manifeste de forma mais agressiva

e participe de uma maneira mais decisiva na produção jornalística, criando certa polarização

entre os leitores do ciberespaço e do papel, como destaca Ribeiro:

Na América do Norte, um grupo de pesquisadores da Internet e do hipertexto se destaca, especialmente no Massachusets Institute of Technology (MIT): George P. Landow, Michael Joyce, J. David Bolter e Stuart Moulthrop, entre outros. Segundo Cunha (2004), esses pesquisadores têm defendido, principalmente, certa polaridade entre leitores de material impresso e leitores de material digital, de maneira que aqueles seriam mais passivos do que estes, mais “agressivos” (LANDOW, 1997), na lida com os textos. (RIBEIRO, 2006, p. 7)

I.3.5 O meio-termo entre Lemos e Assange

Embora sejam extremamente importantes para a definição conceitual da Web 2.0,

como já comentado neste capítulo, os posicionamentos de Lemos com Lévy e Assange pecam

pela visão extremista. Desta forma, corre-se o risco de que, ao se debater a era pós-massiva

sob o ponto de vista do discurso jornalístico e da linguagem, as discussões sejam levadas para

outras esferas (social, política, bélica). Contudo, parece extremamente pertinente se ater às

visões de libertação pela palavra e criptografia para chegar ao “meio-termo” em que o

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30

interagente não seja visto como condenado ou salvador, mas como protagonista (ou, pelo

menos, importante questionador) dentro de uma nova configuração que se desenha à

imprensa. Por isso, a visão de Covre parece como a medida ideal para ilustrar o real papel que

as características da Web 2.0 desempenham dentro do contexto da convergência de mídias,

como um dos principais fatores (ao lado do hipertexto) que modificam as linguagens dos

veículos tradicionais ao convergi-las na web. É o novo código, ainda que não totalmente

seguro ou blindado, como ferramenta que permite ao antigo receptor vestir a roupa de coautor

e ressignificar a mensagem, rompendo a relação mecânica e de sentido único.

I.4 LINGUAGENS ELETRÔNICAS: RÁDIO E TV

Se o hipertexto e a Web 2.0 são os responsáveis por condicionar a convergência de

mídias, são os conteúdos do rádio e da televisão, contudo, que servem de matéria-prima para

o processo ao unirem-se com o texto do impresso, presente na “tela” desde as bases da

WWW, quando os portais foram criados como uma mera transposição de seus jornais diários.

Dado tal cenário, para que fosse possível a análise presente no capítulo III, esta pesquisa

recorreu aos manuais clássicos de telejornalismo e radiojornalismo, partindo das definições

mais básicas e embrionárias de construção do texto noticioso nessas mídias e trazendo os

conceitos para a contemporaneidade observada através de discussões que englobam o

contexto de produção na era pós-massiva. O material presente nos próximos tópicos (I.4.1 e

I.4.2) nutre, ainda que de forma menos evidente, os debates sobre convergência no capítulo

seguinte e o modelo elaborado para a análise qualitativa com as reportagens do Portal Uai.

I.4.1 Características do texto na televisão

I.4.1.1 Instantaneidade

Ao se escrever um texto jornalístico para a televisão, a primeira noção que o repórter

deve ter é de que se trata de um texto para ser falado ou, nas palavras do jornalista norte-

americano Ted White, “escrever para a televisão é escrever para os ouvidos, jornais impressos

são escritos para os olhos, o que significa que, se o leitor não entender alguma coisa, pode

retornar para o parágrafo ou frase anterior e lê-la novamente” (PATERNOSTRO, 2006, p.

77).

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31

A noção apresentada por White passa por uma das principais características

predominantes no telejornalismo e na TV: a instantaneidade. Do ponto de vista de

planejamento para a produção, isso significa que o 'receptor' deve captar a informação de uma

só vez para que o objetivo do jornalista seja concretizado. Ou seja, apesar de soar (e ser)

positiva, tal característica traz alguns fatores limitantes no que diz respeito à produção e

captação do texto.

No entanto, algumas das impossibilidades trazidas pelo instantâneo somem na web.

Isso acontece uma vez que, ao incorporar o conteúdo da “telinha” em um portal – e com a TV

Digital16 –, a internet permite que o consumidor (agora interagente) modifique e interaja em

algum grau com a notícia, assistindo, por exemplo, quantas vezes desejar a todo o vídeo ou

apenas a um trecho e bagunçando a lógica de “absorção da mensagem” pregada ao longo de

décadas.

Na verdade, tal interação anula a preocupação com a captação instantânea do conteúdo

quando se trata de um vídeo jornalístico produzido exclusivamente para a web, eliminando

formatos ultrapassados e engessados de reportagem e permitindo uma narrativa “mais solta” –

com uma divisão menos rigorosa entre os trechos de uma reportagem (passagem17, imagens

cobertas, entrevistas com personagens) –, feita para complementar um conteúdo presente na

página ou simplesmente para transmitir a notícia completa em uma linguagem mais

apropriada aos portais jornalísticos.

No entanto, a mesma instantaneidade ainda provoca pânico naqueles que precisam

apenas transportar o material exibido na TV aos portais sem comprometer o sentido da

mensagem, já que a linguagem “à moda antiga” pode soar, na maioria das vezes, inadequada,

afetando fatores como a temporalidade e profundidade da notícia ao desprezar as nuances do

jornalismo na web.

O que acontece nesse caso [da instantaneidade] – assim como em tantos outros no

jornalismo – é uma questão de escolha e edição: o texto para a reportagem em vídeo pode ter

versões diferentes para web e TV; pode ainda criar uma linguagem que atenda ambos; ou

16 Ainda que em grau menor (se comparada à web), a concepção da TV Digital incorpora características do contexto pós-massivo, que permitem ao consumidor da informação interagir com a programação e administrar os dados recebidos de acordo com suas preferências.

17 Gravação feita pelo repórter no local do acontecimento, com informações que merecem destaque durante a reportagem (PATERNOSTRO, 2006).

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32

pode seguir o que tem sido senso comum e apenas “transportar” o material que foi ao ar em

uma emissora para o portal, como será discutido no capítulo II, sobretudo na teoria de Ramón

Salaverría.

Contudo, é importante destacar, segundo lembra Carlos d’Andréa em TV + Twitter:

reflexões sobre uma convergência emergente (2011), que tal mudança, principalmente nas

transmissões de grandes eventos – tradicionalmente realizadas ao vivo –, pode esvaziar a

experiência desejada pelos consumidores da informação, ainda que permitindo novas formas

de experiência, próprias da era pós-massiva:

Acreditamos que a transmissão ao vivo de eventos de caráter jornalístico (ou de entretenimento) explora algumas das características fundadoras desse meio massivo, como a imposição de um horário à sua audiência em nome de uma experiência coletiva. Assistir a um debate e, principalmente, a um jogo gravado, ainda que seja tecnicamente cada vez mais fácil, é um ato que esvazia toda experiência de se acompanhar o evento, mesmo que geograficamente separado, simultaneamente aos interlocutores da vida cotidiana e a milhões de outros interessados no tema (D’ANDRÉA, 2011, p. 46).

I.4.1.2 Sonoridade

Em “O Texto na TV” (2006), Vera Íris Paternostro lembra que a intenção de

repórteres e jornalistas, independentemente do meio de comunicação, é a mesma: informar.

“O que é diferente é a forma de transmitir a informação” (PATERNOSTO, 2006, p.77),

lembra a autora. No entanto, o fato de uma construção textual precisar “ser falada” traz uma

preocupação extra para os profissionais da televisão: a sonoridade. É necessário escrever

pensando no resultado daquele texto quando lido em voz alta e, para realizar tal tarefa, duas

características surgem como fundamentais para a construção da narrativa: frases curtas e

pontuação. Paternostro lembra que uma série de frases “dá um sentido de ação à notícia e

passa a informação sem rodeios” e a pontuação “dá embalo ao texto” (PATERNOSTRO,

2006, p.81), já que uma dose correta de “vírgula, dois pontos, reticências” ajuda na respiração

do locutor e na compreensão.

Entre as principais exigências para um texto de qualidade para o telejornalismo, esta é,

talvez, a única que não devesse sofrer profundas mudanças no contexto da convergência,

porém, é uma das mais prejudicadas, principalmente quando é produzida uma reportagem em

vídeo por um profissional da web. Isso acontece, entre outros fatores, por causa da

multiplicação das funções que são exigidas de um repórter no contexto da convergência,

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33

impedindo que ele trabalhe com clareza o quesito da sonoridade ao escrever, por exemplo, um

stand up18 para a internet.

I.4.1.3 Texto associado às imagens

Uma das grandes preocupações de linguagem dentro do telejornalismo é fazer com

que texto, sons e imagem caminhem juntos, sem que seja estabelecida uma competição entre

eles. É muito comum, porém, notar casos de redundância e paralelismo, respectivamente,

quando o texto repete exatamente o que a imagem está mostrando e quando texto e imagem

caminham paralelamente sem se complementar. Evitar um texto descritivo ajuda em tal tarefa,

que fica ainda mais complexa na web, já que podem “concorrer” entre si o texto que cobre as

imagens, as próprias imagens e o texto que acompanha o vídeo incorporado ao portal. É a

repetição de conteúdos, contrariando os conceitos de justaposição e integração, pregados por

Salaverría e Massip et al. (tópico II.4.9).

Em artigo apresentado no I Encontro Nacional em Pesquisadores de Jornalismo, Iluska

Coutinho destaca o “amarramento” necessário entre sons, imagens e texto na TV:

No jornalismo de televisão os códigos de imagens, texto e sons não se somariam, mas constituiriam uma espécie de “amálgama” que teria como diferença em relação ao cinema, meio do qual para muitos a TV seria tributária, o fato de se constituir em uma narrativa do cotidiano, com uma imagem do presente (COUTINHO, 2003, p.4).

De fato, como lembra Arbex Júnior (2001), as imagens são a grande arma para o show

da televisão, que segue em posição de destaque entre as mídias, por isso a importância de

trabalhá-las complementarmente ao texto:

(...) a televisão, com o seu aparato tecnológico cada vez mais aperfeiçoado, reivindica para si a capacidade de substituir com vantagem o olhar do observador individual. Diversas câmaras postadas em lugares distintos podem captar um número maior de imagens – ou a mesma imagem segundo vários ângulos -, com muito mais detalhes e maior precisão do que é facultado ao observador individual (ARBEX JÚNIOR, 2001, p.34).

18 Gravação feita do repórter (sem nenhuma imagem para cobrir a locução) narrando um acontecimento. Normalmente, é a técnica mais utilizada nas entradas ao vivo nos telejornais.

Page 50: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

34

I.4.1.4 Linguagem coloquial correta

Paternostro chama a atenção para o uso da linguagem coloquial nos textos de TV. Ela

lembra que quanto mais as palavras ou o texto forem familiares ao telespectador, mais clara

ficará a informação e maior será o grau de comunicação.

As palavras e as estruturas das frases devem ser o mais próximo possível de uma conversa. Devemos usar palavras simples e fortes, elegantes e bonitas, e apropriadas ao significado e a circunstância da história que queremos contar. Estamos falando de um texto simples, mas não de um texto pobre ou vulgar; estamos falando de um texto natural e não de um texto “rebuscado” ou literário (PATERNOSTRO, 2006, p.95).

Para atingir tal meta, a elaboração de frases diretas (sujeito + verbo + predicado) ajuda

na clareza. “É melhor colocar ponto final e explicar na frase seguinte. Não é limitação de

estilo, é clareza” (PATERNOSTRO, 2006, p. 96). Quem faz coro às orientações de Vera Íris

Paternostro é Heródoto Barbeiro que, ao lado de Paulo Rodolfo de Lima, sentencia no famoso

Manual de Telejornalismo (2002):

O texto jornalístico, seja em veículo impresso ou eletrônico, deve ser claro, conciso, direto, preciso, simples e objetivo. São normas universais, de absurdo consenso em TV, rádio, Internet, jornal ou revista. Algumas regras, no entanto, devem ser seguidas em cada veículo para que a missão de conquistar o telespectador, ouvinte ou leitor seja alcançada (BARBEIRO, LIMA, 2002, p.95).

De fato, Barbeiro está correto. Seja qual for o meio de comunicação, um bom texto é a

pedra-fundamental do processo. No entanto, as peculiaridades das mídias fazem que um texto

da televisão não seja bom para o jornal impresso e vice-versa. Então, a indagação que surge é:

e para a internet, eles são bons em um contexto de convergência? E o texto do rádio, é bom

para a web?

I.4.5 O texto no Rádio

Quando consideradas apenas as hard news (notícias quentes, factuais, de “última

hora”), o texto radiofônico é o que mais se aproxima da web, já que a instantaneidade que a

entrada ao vivo no rádio exige é muito próxima da velocidade que os portais tentam impor,

produzindo textos curtos, em ordem direta (assim como na televisão) e apenas com as

informações básicas, recorrendo, muitas vezes ao “aguarde mais informações” (GONZAGA-

PONTES, 2012). Se por um lado a chance é única para que o leitor consuma a informação, o

que aproxima o veículo da TV, por outro, não há imagem e o tom descritivo, quase sempre

sem aspas, se aproxima bastante do que é produzido nos portais de notícia. No mais, o fato de

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35

ser um texto falado faz com que o rádio tenha – com exceção, obviamente, das imagens – as

mesmas características da televisão (discutidas no tópico anterior), entre as quais, destacam-

se, segundo Barbeiro (2003), a atenção com a pontuação, as frases mais curtas, o cuidado com

as rimas e os cacófatos19, o cuidado com o uso de pronomes demonstrativos, a preferência por

frases no singular e a identificação clara de locais durante a construção do texto, que precisa

ser muito mais descritivo, visando a amenizar a ausência de imagens.

Vale destacar, por fim, que o texto no rádio traz, ainda, uma última característica

muito próxima ao texto da televisão: a necessidade de uma interpretação no momento da

leitura. Segundo nos alerta Humberto Eco (1979), a ideia é criar uma empatia/proximidade

com quem está recebendo a mensagem e passar o tom de tristeza ou alegria do fato, criando

uma falsa sensação de interação com o público.

Singular situação de quem se apresta para um contato com o real bruto, e assimila ao contrário, um real humanizado, filtrado e feito argumento. (...) Fácil veículo de fáceis sugestões, a TV é também encarada como estímulo de uma falsa participação, de um falso sentido do imediato, de um falso sentido de dramaticidade (...) a presença agressiva de rostos que nos falam em primeiro plano, em nossa casa, cria a ilusão de uma relação de cordialidade, que, com efeito, não existe (ECO, 1979, 335-343 in COUTINHO, 2003, p.4).

19 Encontro de sílabas de palavras diferentes que forma sons desagradáveis ou palavras obcenas.

Page 52: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

36

CAPÍTULO II: debates sobre convergência de mídias

II.1 DEFINIÇÕES DENTRO DA REDAÇÃO

Conforme destacado na introdução desta pesquisa, a convergência de mídias é uma

ação presente na mentalidade e nas ambições empresariais dos grandes grupos brasileiros de

comunicação. Contudo, apesar de figurar, ainda que sob a forma de discurso, na rotina diária

das redações jornalísticas, tal processo é observado de maneira muito simplificada e

superficial pelos profissionais do jornalismo, sendo reduzido, na maioria das análises, a uma

mera sinergia nas tarefas realizadas.

Entre as simplificações feitas pelos jornalistas é comum, por exemplo, associar o êxito

futuro da convergência à construção de um novo modelo de news room que consiga

incorporar os setores que atuam nas diversas etapas de produção da notícia para diferentes

veículos. Também é muito comum confundir o todo do processo com evolução tecnológica ou

com integração de redações.

Para verificar, ainda que pontualmente, essa realidade (e também “passear” um pouco

pelo terreno pesquisado), foi aplicado um questionário sobre convergência de mídias aos

repórteres do Portal Uai, veículo escolhido para a análise qualitativa. Vale ressaltar que a

intenção com a abordagem não foi de teorizar ou utilizar os dados obtidos para o estudo

realizado nesta pesquisa, mas apenas ilustrar uma das fundamentações que o sustentam.

Os resultados do questionário, elaborado à luz da obra de Ramón Salaverría (2008) e

apresentado no 14º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, em Uberlândia

(CAMPOS, 2012), mostram a comum associação da convergência de mídias com a união de

plataformas, rotinas de trabalho e veículos, ficando a união de linguagens, face do processo

mais percebida pelos interagentes, minimizada nas respostas, como mostra o gráfico 1, na

página 36.

Durante a pesquisa, foi traçado um perfil dos jornalistas que se prontificaram a

participar do questionário. Em média, esses profissionais têm 27 anos de idade, sendo quatro

anos e seis meses de formados e um ano e sete meses trabalhando como repórteres de web, o

que nos permite inferir que, em sua maioria, os entrevistados tiveram contato com o tema

“convergência de mídias” ainda dentro da universidade.

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37

Gráfico 1 – Unificação de rotinas e transformações tecnológicas são as características

mais associadas à definição de convergência de mídias pelos jornalistas entrevistados (CAMPOS, 2012).

Seguindo a proposta de Salaverría (2008), o questionário foi básico e direto, com

apenas três itens para avaliação dos entrevistados:

� Tente, em poucas linhas, definir o que é convergência;

� Tente, em poucas linhas, definir o que é convergência de mídias;

� Dadas as definições acima, responda, em sua opinião, o que é necessário para

praticar a convergência nas redações jornalísticas?

Após as respostas, a primeira inferência possível se dá a partir da observação de que a

palavra convergência já é utilizada pelos profissionais para se referir ao processo de

convergência de mídias, ficando as definições trazidas pelos dicionários - direção comum

para o mesmo ponto; tendência para um resultado comum - suprimidas nas respostas.

Já entre as explicações apresentadas para definir o que é convergência de mídias,

alguns termos foram usados com maior frequência pelos jornalistas:

� “Única infraestrutura”;

� “Mistura de plataformas”;

� “Mistura de diferentes meios”;

� “Migrar para um mesmo canal”;

� “Concentrar em um só espaço”;

� “Produzir para diferentes meios”;

Investimento em

infraestrutura (11,7%)

Unificação de rotina/produção

(35,29%)

Habilidades/transformações

tecnológicas (29,41%)

Transformação do

conteúdo/narrativa (23,52%)

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38

No que diz respeito ao terceiro item do questionário, é possível notar com ainda mais

clareza que a narrativa fica em segundo plano quando avaliado o processo. Ao responder

sobre os procedimentos necessários para viabilizar a convergência de mídias, apenas uma das

respostas mencionou a “transformação de conteúdos”, como mostra o gráfico 2:

Gráfico 2 – Transformação do conteúdo foi citada apenas uma vez (CAMPOS, 2012).

Tal cenário ilustra bem o pressuposto presente neste trabalho de que, mesmo entre os

jornalistas graduados há pouco tempo, existe a comum associação com o investimento em

tecnologia ou estrutura como sinônimos de êxito para a convergência de mídias, ficando as

discussões e definições que passam pela linguagem e a narrativa para um segundo momento.

Fato é que, mesmo entre os estudiosos, não existe consenso em torno de uma definição

única para convergência de mídias, nem é conferido qualquer protagonismo à observação da

união de linguagens no processo (CORRÊA; CORRÊA, 2007; SALAVERRÍA; NEGREDO,

2008; JENKINS, 2009; BARBOSA, 2009; RODRIGUES, 2009; MASSIP, et. al, 2010;

ZILLER, 2011). Mais do que propriamente por um debate conceitual, essa divergência

acontece por causa do já citado caráter multifacetado do processo.

A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação afeta o âmbito tecnológico, empresarial e editorial dos meios de comunicação, proporcionando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separadas, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que se distribuem através

Unificação de

rotina/produção (6)

Investimentos em

tecnologia/infraestrutura (6)

Transformação do

conteúdo/narrativa (1)

Transformação

cultural/editorial da

empresa

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39

de múltiplas plataformas, de acordo com as linguagens próprias de cada uma (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45) 20.

II.2 DEBATE ENTRE SALAVERRÍA E JENKINS

O caminho mais usual para se chegar próximo de um conceito mais aceito de

convergência de mídias tem sido seguir a teoria de Henry Jenkins e tratar o processo como

cultural, sendo esse apenas parte de uma transformação ainda maior e global. No entanto, o

teórico norte-americano encontra nas pesquisas do espanhol Ramón Salaverría um pertinente

contraponto, uma vez que este tenta aproximar as definições do termo para a realidade do

jornalismo, deixando em segundo plano as transformações culturais.

Autores como Henry Jenkins, por exemplo, têm observado que, na realidade, a convergência jornalística nada mais é do que uma manifestação particular de outro grande processo sociocultural de convergência em escala mundial que tem se chamado de “globalização”. No entanto, parece que chegar a uma definição tão geral seria pouco útil e produtivo. O jornalismo necessita uma aproximação mais combinada e precisa aos meios de comunicação (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 45) 21.

Desta forma pareceu pertinente a este estudo confrontar as publicações de ambos

(assim como de seus antecessores, como Marshall McLuhan, e daqueles que os estudam e

acompanham, como Samuel Negredo), a fim de buscar conceitos mais sólidos e bem

recortados para o modelo que sustenta a análise qualitativa realizada.

II.3 ESTUDOS DE SALAVERRÍA E NEGREDO

Há mais de uma década, o fenômeno da convergência de mídias serve de alento e, ao

mesmo tempo, assombra jornalistas e empresas de comunicação em todo o planeta. Esta

relação ambígua, de medo e esperança, nada mais é que o fruto das novas possibilidades

20 La convergencia periodística es un processo multidimensional, que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afeta el ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una intergración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes proprios de cada una. (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.45).

21 Autores como Henry Jenkins, por ejemplo, han señalado que, en realidad, la convergencia periodística no es sino una manifestación particular de outro gran proceso sociocultural de convergencia a escala planetaria que se há dado en llamar “globalización”. Sin embargo, parece que llegar a una definición tan general sería poço útil y operativo. La profesión periodística necesita una aproximación más concerta y ceñida a los medios de comunicación (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 45).

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criadas com a internet para o “fazer jornalístico”, sobretudo a partir da Web 2.0. É a linha

tênue entre o que pode ser o futuro do Jornalismo e, também, o decreto de extinção de alguns

de seus principais veículos, ou, numa perspectiva mais revolucionária, de uma era inteira da

imprensa. Entendê-la (esta tênue relação) talvez seja a melhor definição para a essência do

trabalho de Ramón Salaverría, que junto com Samuel Negredo viajou pelas Américas do Sul e

do Norte, além da Europa, observando de perto os acertos e equívocos em oito redações onde

se tentou unir em um só ambiente – físico, tecnológico, intelectual e de linguagem –

atividades jornalísticas com características de produção, suportes, públicos e linhas editoriais

tradicionalmente distintos. Os estudos e observações estão reunidos no livro “Periodismo

integrado. Convergencia de medios y reorganización de redacciones”, de 2008.

Ao lado do pesquisador americano Henry Jenkins, Ramón Salaverría aparece como

um dos principais estudiosos da convergência de mídias no planeta. No entanto, ao contrário

do americano, o espanhol apresenta uma visão mais apocalíptica do processo, justificando na

maioria das vezes com números e cifras publicitárias o medo que os jornalistas têm da

revolução digital e do fim de alguns veículos, como é possível perceber no exemplo a seguir:

A conta dos jornais norte-americanos nos últimos tempos começa a ser elevada: The New York Sun, Kentucky Post, Cincinnati Post, King Country Journal, Union City Register-Tribune, Capital Times, Halifax Daily News, Albuquerque Tribune, South Idaho Press... Outros jornais diários, como o Christian Science Monitor, abandonaram a edição impressa – com exceção dos sábados – e mantêm o foco na rede (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 25) 22.

Embora este estudo aborde uma visão mais otimista do que a trazida por Salaverría e

foque na linguagem convergente, deixando de lado as cifras e não menos importantes

questões trabalhistas, a obra do espanhol é de inquestionável importância para sua realização,

uma vez que ao fazer um estudo dos principais casos de convergência ao redor do globo, o

pesquisador trouxe noções de convergência jornalística muito mais completas e bem

estruturadas do que aquelas experimentadas por Jenkins. Antes de tratá-la como um processo

cultural, o autor se preocupa em mostrar como o processo de convergência atua na

transformação das linguagens jornalísticas tradicionais, uma vez que a internet consegue

22 La cuenta de diários norteamericanos em los últimos tiempos empieza a ser elevada: The New York Sun, Kentucky Post, Cincinnati Post, King Country Journal, Union City Register-Tribune, Capital Times, Halifax Daily News, Albuquerque Tribune, South Idaho Press... Otros periódicos, como el Christian Science Monitor, han abandonado la edición impresa – salvo los sábados – y mantienen la cabecera em la red. (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 25).

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41

reunir características como a interpretação do impresso, a imediatez do rádio e o

entretenimento da televisão. É Salaverría também que aponta pela primeira vez uma lista com

diferentes níveis de convergência, ao estudar o exemplo do Tampa News Center, na Flórida

(EUA). O teórico aponta sete níveis (Quadro 1, p.41) que foram atravessados na redação, que

vão do compartilhamento de dados e recursos humanos até a apresentação dos diferentes

suportes com uma só identidade e com os mesmos mecanismos de resposta para o cidadão,

sendo este último (tido como o 7º nível), o que mais interessa a esta pesquisa.

Dada riqueza do estudo realizado pelos espanhóis, principalmente no Laboratorio de

Comunición Multimedia (MMLab), da Universidade de Navarra, esta pesquisa trabalhou

dentro dos princípios do paradigma convergente mais amplo que é proposto por Henry

Jenkins, mas sempre recorrendo aos exemplos e definições conceituais de Salaverría. Em

outras palavras, esta pesquisa segue uma corrente teórica alinhada ao pesquisador americano,

mas sem deixar de lado a rica contribuição conceitual da corrente espanhola (e aqui podemos

citar além de Salaverría e Negredo, os espanhóis Pere Massip e Xosé Lopéz), que surge como

indispensável a este e qualquer outro debate proposto sobre o tema.

Níveis de convergência experimentados no Tampa News Center

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7

Com

part

ilha

men

to d

e da

dos

e

cont

atos

ent

re o

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Inte

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V c

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Rep

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ta

sem

elha

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aos

cid

adão

s

Quadro 1 – Salaverría aponta os níveis de convergência pelos quais passou a primeira redação a implementar o processo no globo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008)

II.3.1 Em busca de definições

Em busca de uma definição sobre o tema, Salaverría e Negredo lembram que,

primeiramente, a convergência de mídias é um processo e, como tal, é gradual e paulatino.

“Não existe nenhum só exemplo no mundo de grupo jornalístico que tenha passado, sem um

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42

projeto de continuidade, da absoluta descoordenação entre seus meios à plena integração”

(tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46) 23.

Ao contrário de Henry Jenkins, que opta por estudar a convergência como um

processo prioritariamente cultural (como será melhor retratado no tópico II.5), os espanhóis

optam por esgotar todas as possibilidades de estudo sobre o tema e defendem que o mesmo se

repita nas redações jornalísticas, uma vez que, dado o caráter multifacetado do processo,

pouco adiantaria praticá-lo apenas em uma de suas vertentes. “De nada serve, por exemplo,

esforçar-se em integrar os conteúdos de um jornal impresso com sua edição digital se,

anteriormente, não se tiver reorganizado de forma correta a equipe de jornalistas” (tradução

livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46) 24.

Para ilustrar a reorganização necessária para realização da convergência de mídias,

Salaverría e Negredo comparam o processo com a regência de uma orquestra, que precisa

coordenar diferentes conjuntos de instrumentos (corda, metal, percussão) para conseguir um

som harmônico. No caso do processo jornalístico, seriam quatro os conjuntos principais a

serem “regidos”: tecnológico, empresarial, profissional e editorial.

II.3.1.1 Dimensão tecnológica

A esfera tecnológica corresponde às ferramentas e sistemas de produção e difusão do

conteúdo. Como visto no questionário presente neste capítulo, esse conjunto engloba, na visão

dos jornalistas, o que de melhor pode definir a convergência de mídias. De fato, o

desenvolvimento de novas tecnologias é ator fundamental no processo, ainda que não seja o

único.

Os teóricos espanhóis lembram que o vertiginoso avanço das tecnologias multimídia

tem colocado os jornalistas com ferramentas de produção cada vez mais semelhantes. Já é

comum que processadores de texto e programas de edição de vídeo e áudio, por exemplo,

compartilhem as mesmas plataformas, de maneira que, independentemente do meio em que

23 No existe ni un solo ejemplo en el mundo de grupo periodístico que haya pasado, sin solución de continuidad, de la absoluta descoordinación entre sus medios a la plena integración (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46).

24 De nada sirve, por ejemplo, esforzarse en articular los contenidos de um diário impreso com los de su edición digital, si, previamente, no se há reorganizado como es debido al equipo de periodistas (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.46)

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trabalhem, os profissionais se acostumem com as interfaces, conseguindo editar e produzir se

necessário, em diferentes suportes e para diferentes veículos.

Na prática, considerando a convergência que acontece nos portais, a tecnologia atinge

diretamente a linguagem. Salaverría e Negredo citam a pesquisa do colega García Avilés para

lembrar que “se na etapa analógica cada meio e cada suporte se centrava em conteúdos

específicos para suas linguagens correspondentes, agora, a convergência propicia o

intercâmbio e a combinação dos conteúdos de uns meios com os outros” (tradução livre

minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.47) 25.

II.3.1.2 Dimensão empresarial

No que diz respeito ao ponto de vista empresarial, o processo de convergência nada

mais é do que a etapa final de uma transformação muito mais ampla, iniciada há mais de 25

anos pelos grupos comunicacionais, com o intuito de diversificar suas áreas de atuação em

busca da liderança. Com a concretização da convergência de mídias, o que muda é somente o

veículo que desempenha o papel de protagonista nas empresas, como sugere o esquema

elaborado por Salaverría e Negredo:

Figura 1 – Enquanto nos anos 2000, a internet exercia o papel de integrar os outros veículos, com a

concretização da convergência de mídias ela passa a ser protagonista no processo (Adaptado de SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008).

25 Si en la etapa analógica, cada medio y cada soporte se centraba en unos contenidos específicos con sus correspondientes lenguajes, ahora la convergencia propicia los intercambios y combinaciones de los contenidos de unos medios con otros ( SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.47).

Page 60: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

44

II.3.1.3 Dimensão profissional

A terceira esfera citada por Salaverría e Negredo é a profissional, ou seja, a que

envolve diretamente o trabalho e as funções do jornalista. O chamado “profissional

convergente” tem se enquadrado de maneira crescente no perfil polivalente, desempenhando

funções que antes eram divididas entre apuradores, repórteres, fotógrafos, diagramadores,

redatores, editores, entre outros.

No entanto, tal sinergia no trabalho não é nova e vem ganhando corpo ao longo da

última metade de século, como se pode notar no quadro elaborado por Ramón Salaverría:

Evolução das tarefas realizadas por jornalistas do impresso

Obrigatórias Possíveis

Rep

orta

gem

Red

ação

Edi

ção

Doc

umen

taçã

o

Pla

neja

men

to

Fot

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Edi

ção

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Edi

ção

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víde

os/á

udio

s

Loc

ução

de

víde

os/á

udio

s

1960

1970

1980

1990

2000

20?? Quadro 2 – Tarefas dos jornalistas foram multiplicadas, sobretudo

nos últimos dez anos (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008).

Tal característica, segundo os pesquisadores, tem levado ao surgimento de dois tipos

de polivalência entre os jornalistas: a funcional e a midiática.

Peguemos o exemplo de um repórter apurador, responsável por descobrir e repassar as

primeiras informações sobre uma notícia factual. Na polivalência funcional, este jornalista se

adapta às necessidades impostas pela empresa, aprendendo a editar vídeos, por exemplo, e

passando a desenvolver as duas funções. No caso da polivalência midiática, a convergência

acontece mais em relação aos meios. O mesmo profissional se especializa em produzir o

conteúdo para diferentes mídias, fornecendo o material sobre um mesmo assunto para o rádio,

a televisão e a web. Vale destacar que esse último caso é cada vez mais comum entre os

freelancers, que se especializam em determinados assuntos para cobri-los para diferentes

veículos.

Page 61: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

45

II.3.1.4 Dimensão dos conteúdos

A última esfera citada por Salaverría e Negredo – a de maior interesse para esta

pesquisa – se refere aos conteúdos. Os pesquisadores espanhóis lembram que, em uma

definição mais básica, pode-se considerar como convergência a difusão do mesmo conteúdo

em diferentes meios ou a reunião de diferentes conteúdos em um único meio. No entanto, eles

fazem coro com um dos pressupostos que justificam este trabalho e lembram que tal

fenômeno configura apenas a produção multimidiática. Ao conteúdo convergente, eles

propõem uma explicação “mais avançada”:

Corresponde a criação de uma linguagem jornalística derivada da combinação de textos, sons e imagens fixas e em movimento. Esta nova linguagem, explorada, sobretudo, pelos veículos de internet, seria algo como um ponto em que se amarram as heranças genéticas do jornalismo escrito por um lado e do jornalismo audiovisual por outro (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.50) 26.

II.3.2 Integração e a convergência de mídias

Dentro das redações jornalísticas, é comum o emprego indiscriminado do termo

“integração” como sinônimo de convergência de mídias. Contudo, conforme salientam

Salaverría e Negredo, os termos se referem a possibilidades diferentes.

É preciso lembrar (mais uma vez!) que a convergência é um processo, ou, em uma

definição dicionarizada, são duas ou mais linhas que caminham para um mesmo ponto. A

consequência disso, para os pesquisadores, é de que a convergência sempre será um processo

inacabado. Já o conceito de integração surge na interseção das linhas que convergiam, ou seja,

do ponto de vista da teoria jornalística, integração nada mais é do que o resultado possível da

convergência de mídias.

A confusão de definições citada acima surge como grande risco às empresas

jornalísticas. Isso acontece uma vez que o êxito da convergência é associado à simples

integração de redações, desconsiderando as demais etapas do processo e empobrecendo o

conteúdo jornalístico com a fusão mal estruturada de equipes. Ao passo que o reconhecimento

da qualidade pelo público é um processo de longo prazo, os efeitos da falta de qualidade são

26 Corresponde a la creción de un lenguaje periodístico derivado de la combinación de textos, sonidos e imágenes fijas y en movimento. Este nuevo lenguaje, explorado sobre todo por medios en Internet, sería algo así como un crisol en el que se amalgaman las herencias genéticas del periodismo escrito por um lado y del periodismo audiovisual por outro (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.50)

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reconhecidos em curto prazo e fazem com que a economia de dinheiro com a união de

equipes e processos produtivos logo se transforme em prejuízo. “As empresas jornalísticas

que conjugam o verbo ‘integrar’ redações como simples eufemismo de ‘dizimar’ redações

têm problemas que as aguardam assim que dobrarem a esquina” (tradução livre minha,

SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.51) 27.

Para conseguir chegar com sucesso à integração, fruto do processo convergente,

alguns passos são fundamentais, com uma transformação que comece das instâncias

superiores até chegar à redação. Trata-se de uma sequência de etapas que modifiquem com

qualidade a rotina de produção, sendo o surgimento do produto jornalístico, consequência

desta mudança. No entanto, é preciso lembrar que esta não é a única possibilidade:

A convergência é como um trem: o final do trajeto está marcado por uma estação chamada integração. No entanto, como em qualquer linha férrea, antes desta estação final, a linha dispõe de paradas anteriores. Cada grupo de jornalismo, em função de suas peculiaridades e objetivos, é que deve determinar em qual dessas paradas vai apear seu trem (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.52) 28.

Em outras palavras, a convergência é inevitável, a integração não.

II.3.3 O conceito de cross-media para Salaverría (multiplataforma ou XMA)

Pensando cross-media como sinônimo de conteúdo multiplataforma, chegamos a um

significado que nos salta aos olhos, designando todos os aspectos relacionados com a

produção, a difusão e o consumo dos conteúdos através de diferentes meios que fazem parte

de determinado grupo comunicacional. Desta forma, nos alertam Salaverría e Negredo,

quando se fala em produção jornalística multiplataforma ou cross-media, se alude aos

processos tecnológicos e editoriais que orientam a produção de conteúdos para o posterior

consumo através de múltiplos meios ou dispositivos de recepção.

Tal processo foi facilitado pelo grande avanço das tecnologias que permitem que um

mesmo conteúdo tenha cópias distribuídas simultaneamente em diferentes meios digitais,

27 Las empresas periodísticas que conjugan el verbo ‘integrar’ redacciones como um simple eufemismo de ‘diezmar’, los problemas les aguardan justo a vuelta de la esquina (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.51)

28 La convergencia es como un tren: el fin de trayecto viene marcado por una estación llamada integración. Sin embargo, como cualquier línea de ferrocarril, además de esa estación término la línea dispone de otras paradas anteriores. Cada grupo periodístico, en función de sus peculiaridades y objetivos, debe determinar en cuál de esas paradas se apea del tren (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.52).

Page 63: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

47

como para computadores ou dispositivos móveis, sem grandes dificuldades. Além do mais, o

mesmo conteúdo ainda pode ser trabalhado pelos meios clássicos, ainda que sem o mesmo

caráter simultâneo.

No que diz respeito ao âmbito editorial, o de maior interesse para esta pesquisa, a

estratégia do cross-media traz uma finalidade que, se bem trabalhada, pode ser de grande

valia para os grupos jornalísticos. Trata-se de evitar a descoordenação de informações entre os

veículos de uma mesma empresa, sempre muito prejudicial, propiciando, ao contrário, uma

complementaridade que gere um “efeito grupo”, destaca Salaverría (2008). Desta forma, em

um plano ideal, os veículos produziriam conteúdos que se complementassem, reforçando a

cobertura sobre determinado evento que seja de interesse da empresa.

A característica citada acima leva o cross-media, ainda, a outro objetivo: a

diversificação de audiências e a aproximação entre o jornalismo e os negócios das

telecomunicações. Trata-se de uma fusão do tradicional modelo de distribuição do jornalismo

(um para todos) com o modelo desenvolvido pelas telecomunicações (um para um). Tal

possibilidade acontece graças às peculiaridades e possibilidades tecnológicas da Web 2.0,

como retratado no capítulo I deste estudo.

II.3.4 Multimidialidade

Multimidialidade nada mais é do que a possibilidade de produzir conteúdos

multimidiáticos, com vídeos, textos, fotos, áudios e gráficos. Como ressaltado ao longo desta

pesquisa, assim como acontece com o conceito de integração, a produção de um conteúdo

multimídia também é comumente confundida com o todo da convergência de mídias. Porém,

é justo reconhecer que é esta característica (ao lado da hipertextualidade e da interatividade,

como dito no capítulo I) a responsável por conferir protagonismo aos veículos de internet

dentro do processo convergente, como mostra o quadro 3, na página 48.

Comumente confundida com cross-media, a multimidialidade se aproxima mais do

objeto de estudo desta pesquisa, uma vez que se refere à combinação de conteúdos e

linguagens, enquanto a XMA se refere à combinação de meios e suportes.

Vale ressaltar que, embora a multimidialidade seja uma característica inerente à web,

que consegue combinar textos, fotos e vídeos sem maiores dificuldades, outros meios, como o

impresso e a TV também podem ser considerados multimidiáticos, ao combinarem textos e

imagens, por exemplo. Tal aspecto surge como inviável apenas no rádio, incapaz de, pela

forma clássica de transmissão, apresentar conteúdos textuais ou imagéticos.

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Comparação de possibilidades expressivas no impresso, no rádio, na TV e nos meios on-line

Impresso Rádio TV On-line

Hipertextualidade Baixa (artigos

relacionados em páginas)

Nenhuma Nenhuma Alta (navegação

hipertextual)

Multimidialidade Baixa (combinação estática de textos e

imagens)

Nenhuma (apena o som)

Alta (combinação dinâmica de imagens, sons e breves textos)

Alta (combinação dinâmica de imagens, sons e todos os tipos

de textos)

Interatividade Baixa (cartas/e-mails e conteúdos sugeridos

por leitores)

Média (intervenções telefônicas com

participação direta dos ouvintes)

Média (intervenção telefônica dos

telespectadores e participação por

mensagens)

Alta (navegação é dirigida pelo leitor / diálogo entre o leitor

e o jornalista)

Quadro 3 – Hipertextualidade, multimidialidade e interatividade colocam portais como protagonistas no contexto convergente (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008)

II.3.4.1 Convergência é fator necessário

Como dito, o que tem sido comum nas redações é a colocação da multimidialidade

como responsável pela convergência. Porém, segundo Salaverría e Negredo, o processo deve

ser observado exatamente da forma contrária. Apenas quando as empresas colocam seus

fluxos de produção para internet, TV, rádio e impressos em conjunto e possibilitam o

compartilhamento dentre conteúdos é que a multimidialidade acontece de forma mais viável,

sendo o oposto tão perigoso para o empobrecimento do conteúdo quanto a visão equivocada

de integração, citada anteriormente. “A convergência é a condição necessária para o

desenvolvimento da multimidialidade”, (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO,

2008, p. 56) 29.

II.3.5 Escalabilidade

O conceito de escalabilidade, apresentado por Salaverría e Negredo, se refere è

propriedade de um sistema ou rede de crescer de maneira fluida ou de conseguir oferecer mais

serviços (conteúdos) sem perder a qualidade. De certa forma, a expressão se assemelha ao

29 La convergencia es condición necesaria para el desarollo de la multimedialidad (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 56)

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conceito de adaptabilidade, incorporando a noção de tamanho. Seria algo como a propriedade

das empresas jornalísticas de conseguir se adaptar ao constante crescimento da audiência e à

constante multiplicação das possibilidades multimidiáticas e interativas.

No que diz respeito ao conteúdo, a necessidade de seguir a escalabilidade pode trazer

resultados negativos para a qualidade editorial, uma vez que a multiplicação de tarefas com o

constante crescimento da web acaba por sufocar os profissionais entre funções que surgem

diariamente, ficando fatores essenciais ao bom jornalismo, como o texto correto e completo,

por exemplo, prejudicados e pobres.

Nas palavras do vice-presidente de operações digitais do grupo New York Times,

Martin Nisenholtz, escalabilidade é ter a capacidade de crescer em usuários, ferramentas e

oferta de conteúdos, mantendo ou incrementando a qualidade editorial.

II.3.6 Shovelware

O brasileiro Rosental Camon Alves, professor da Universidade do Texas, explica que

shovelware foi o nome criado nas redações on-line americanas para definir o material

preparado para um meio tradicional (TV, rádio, impresso) e publicado do mesmo jeito na

Internet, com pouco ou nenhum retrabalho. Segundo Salaverría e Negredo, tal fenômeno nada

mais é do que “derrubar informação de forma indiscriminada”, colocando as empresas contra

seu próprio prestígio ao mecanizar um processo e passar aos usuários a clara sensação de que

estão recebendo o conteúdo de uma máquina.

Com isso, o que se vê são fotografias importantes multiladas pelo enquadre

automático, reportagens cortadas por causa de uma quebra de página, parágrafos repetidos,

dezenas de caracteres estranhos e códigos indevidos (se assemelhando a erros ortográficos),

entre outros equívocos.

Na maioria das vezes, os próprios interagentes atuam corrigindo a informação

publicamente (no espaço dos comentários, por exemplo) ou de forma particular, através de e-

mail ou mensagem ao portal, mas isso não reduz o impacto que uma rotina de shovelware traz

para a imagem do veículo. Afinal, em outras palavras, shovelware é publicar à revelia, sem

seleção nem adaptação para o suporte. Seria como usar uma pá (shovel) para pegar a pilha de

informações do impresso, por exemplo, e descarregá-las, sem trato ou cuidado algum, na web.

Tal processo se amplia com o surgimento de novas tecnologias mobile, uma vez que o

shovelware começa a se repetir com os conteúdos produzidos para desktops que são

replicados sem tratamento ou adequação em smartphones e tablets.

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50

No que diz respeito ao papel do jornalista dentro deste processo, quando não é

totalmente automatizada, a tarefa do profissional se limita ao trabalho de “copiar e colar”, que

não tem nada de editorial. Trata-se apenas de uma redução de custos que resulta em um

produto idêntico ao anterior e com deficiências graves na nova plataforma.

A equação parece clara, de uma lógica esmagadora: quanto mais conteúdos, mais visitas, especialmente através de buscadores. Mas oferece quantidade a qualquer preço nunca deveria ser o objetivo de uma empresa de jornalismo. Existem várias soluções para eliminar o indesejável shovelware do fluxo de trabalho (tradução livre minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 58) 30.

II.3.7 Repurposing (alteração de propósito)

Repurposing em certo grau se assemelha com o shovelware, já que, de fato, também

define a transposição de uma matéria de jornal ou de TV, por exemplo, para o meio on-line.

No entanto, o repurposing supõe que seja feita uma otimização do conteúdo transposto com o

uso de todas as possibilidades comunicativas da nova plataforma. Neste trabalho, o termo será

substituído pela expressão “alteração de propósito”, que melhor traduz o sentido do termo

lançado por Salaverría e Negredo (2008).

No caso dos portais de notícia, a alteração de propósito pressupõe, ao adaptar uma

reportagem do impresso, por exemplo, que esta seja editada com parágrafos mais curtos,

palavras ou ideias destacadas em negrito, links, imagens cortadas com critérios humanos, uma

galeria de imagens com o material que não coube no papel, entre outros artifícios. O mesmo

deve acontecer com um vídeo, por exemplo, que, se não for corretamente manipulado para a

web pode perder contexto, referências temporais, entre outros.

A excelência da alteração de propósito, no entanto, estaria relacionada com o

planejamento da notícia desde sua concepção, de modo que fosse pensada, adequando-se aos

benefícios oferecidos por cada suporte. No caso da web, o desafio é imaginar como passá-la

da forma mais completa possível ao interagente, pois é este que exerce protagonismo dentro

do contexto convergente.

30 La ecuación parece clara, de una lógica aplastante: cuantos más contenidos, más visitas, especialmente a través de buscadores. Pero oferecer cantidad a cualquier precio nunca debería ser el objetivo de una empresa periodística. Existen varias soluciones para eliminar el indeseable shovelware del flujo de trabajo (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p. 58)

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II.3.8 Modalidades de convergência

II.3.8.1 Convergência a dois (papel + TV)

A dita convergência a dois é o modelo de convergência mais praticado no globo, com

a associação entre o jornal impresso e o portal. Nestes casos, o mais comum é tratar o

processo como uma formalização da relação já existente entre as redações. Apesar disso, no

novo contexto multimidiático, cada vez mais o portal tem de tentar se afastar do modelo de

“resumo do impresso”, investindo em recursos que atraiam os interagentes, com o uso de

vídeos e gráficos.

II.3.8.2 Convergência a três (papel + online + TV)

É um modelo de convergência que cresceu muito nos últimos anos com a

popularização da internet de banda larga. No entanto, a convergência com a televisão é mais

difícil do que a realizada entre jornal e portal, uma vez que a TV “prima pelo entretenimento

sobre a informação, a imagem sobre a palavra, o impacto sobre a reflexão” (tradução livre

minha, SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.128) 31. Além disso, é difícil transpor à web a

agilidade e o estilo informal que se impõe nos informativos do meio televisivo, como visto no

capítulo I, sem perder contexto ou as referências temporais.

II.3.8.3 Convergência a quatro (papel + online + TV + rádio)

É o modo mais complexo, mas também o que mais abre possibilidades com a

convergência de mídias. Dado o trabalho específico que cada meio requer, dificilmente um

mesmo redator ou repórter trabalhará simultaneamente para os quatro veículos, porém mais

profissionais podem atuar em conjunto. A vantagem de ter uma rádio dentro de uma estrutura

convergente é a imediatez e a agilidade, que em muitos casos supera os portais mais bem

estruturados de hard news.

31 Prima el entretenimiento sobre la información, la imagen sobre la palabra y el impacto sobre la relexión (SALAVERRÍA; NEGREDO, 2008, p.128)

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II.3.9 Justaposição, integração e repetição

Embora destaque que integração é uma palavra utilizada de forma errônea para

determinar a convergência de mídias como um todo, Salaverría (2005) lança o termo para

definir o produto final do processo convergente. Dessa forma, o espanhol define por

integração a publicação, em um mesmo meio (plataforma), de conteúdos originados em outros

meios que se complementem e abordem um mesmo assunto/tema, oferecendo novas

potencialidades de leitura e interpretação aos interagentes.

No entanto, como reforça Ziller (2011), Salaverría também define outras duas formas

de convergência dos conteúdos: a justaposição e a repetição. “Salaverría (2005) classifica a

convergência de conteúdo multimídia naquela feita por justaposição, como no caso das TVs

que incluem, no rodapé das imagens, uma linha de texto com notícias que não se relacionam

àquela tratada no vídeo” (ZILLER, 2011, p.15).

Por repetição, Salaverría (2005) entende a publicação de conteúdos com informações

semelhantes, que não se completam, simulando uma falsa convergência que acaba por se

tornar cansativa ao interagente, contrariando o objetivo inicial de oferecer um conteúdo mais

completo, com maiores possibilidades de leitura e interpretação. Tal característica, segundo

Ziller (2011), reforça o pensamento de que “do ponto de vista da recepção, há certa

unanimidade em defender que a incorporação de conteúdos multimídia na web, em particular

dos vídeos, não pode ser regida pela mera justaposição de conteúdos” (MASSIP, 2010, p.572

in ZILLER, 2011, p.15).

II.4 ESTUDOS DE JENKINS E HERANÇA DE MCLUHAN

Dentro de praticamente todos os debates sobre convergência de mídias, o pesquisador

Henry Jenkins tem sido a principal referência para delinear um conceito que permita analisar

o processo a partir de diferentes caminhos. Lemos (2009) destaca que a obra do norte-

americano, o livro “Cultura da Convergência” (2009), tem dado luz às pesquisas

principalmente por causa da abordagem que traz sobre o “tripé”: convergência midiática,

inteligência coletiva e cultura participativa. Tais discussões fundamentam-se a partir de outras

três noções trazidas pelo autor e de igual importância:

� A convergência midiática como processo cultural e não tecnológico;

� O modelo de narrativa transmidiática como referência para o processo;

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53

� A economia afetiva permitindo inferências de caminhos dentro da

convergência;

Entre estas discussões, surge como maior interesse para esta pesquisa, que aborda

prioritariamente o produto jornalístico dentro da convergência de mídias, o modelo de

narrativa transmidiática. Há ainda uma quarta noção, presente na introdução deste trabalho,

que parece indispensável e deve ser acrescentada ao tripé apresentado por Lemos: trata-se do

conceito de “paradigma da convergência”, utilizado por Jenkins para justificar sua obra e um

dos principais trunfos em relação a outros teóricos, como Salaverría, por exemplo.

Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas. O paradigma da revolução digital alegava que os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o estouro da bolha pontocom, a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam mudado nada (JENKINS, 2009, p. 32).

II.4.1 A teoria de Marshall McLuhan

Antes de abordar de forma mais profunda as discussões de Henry Jenkins e seu

conceito de narrativa transmidiática, é fundamental beber da mesma fonte que o norte-

americano para compreender alguns dos principais conceitos que norteiam seu trabalho.

Embora o próprio Jenkins cite o cientista Ithiel de Sola Pool (1917 – 1984) como o

verdadeiro profeta da convergência, é o professor canadense Marshall McLuhan (1911 –

1980), reconhecido como profeta da revolução digital, que inspira o pensamento do

pesquisador com as ideias de inteligência coletiva e aldeia global. É dele que o norte-

americano extrai a essência que fundamenta a obra Cultura da Convergência.

II.4.1.1 Aldeia global: o centro da teoria

Em 1962, com o livro “The Gutenberg Galaxy: the making of typographic man”, o até

então pouco conhecido professor Marshall McLuhan traz o conceito de “aldeia global”

(extremamente próximo da definição de globalização) para os meios de comunicação,

provocando calorosos debates e a ira dos críticos, sobretudo nos Estados Unidos, onde o livro

foi publicado e distribuído em larga escala.

Os debates e, sobretudo, as críticas, acontecem porque o autor prega, na obra, que o

crescente desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação – principalmente a TV,

exemplo mais contemporâneo à publicação da teoria – contribuiria para criar uma sociedade

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54

ligada em rede, eliminando as fronteiras geográficas e levando os indivíduos a

compartilharem pautas e informações de maneira solidária, democrática. Em outras palavras,

seria o fim do modelo “um para todos” na comunicação, tornando o globo uma grande aldeia

em que todos poderiam se comunicar diretamente com todos, sem a necessidade de filtros e,

de certa forma, promovendo a “retribalização” do planeta com o fim da era da escrita,

apontada pelo autor como era da “destribalização” ou do individualismo.

A tese de McLuhan é a de que as mudanças nas relações humanas e na estrutura social

que delas se origina são promovidas e condicionadas pela evolução dos meios de

comunicação. Dada essa premissa, o canadense defendia estar diante de uma transformação

tão radical como a que se registrou na idade paleolítica para a neolítica: a passagem da era

mecânica para a era eletrônica, da era de instrumentos que apenas prolongavam as

capacidades físicas (máquina de escrever) para a era em que os instrumentos (meios

eletrônicos) prolongam o nosso sistema nervoso central.

É o pesquisador brasileiro Luiz Beltrão que, em artigo de 1968, explica e resume

críticas e contribuições do trabalho de McLuhan:

Negado por uns, para os quais depois de resistir às seduções da “Noiva Mecânica” (a tipografia) deixou-se apaixonar pelas “perversidades da sua progênie eletrônica”, esquecendo a moral em favor da técnica, a sua obra, contudo, é reconhecida por outros como a de um realista, um autêntico filósofo da nova era, um restaurador até da verdadeira cultura que a revolução tipográfica liquidara (BELTRÃO, 1968, s.n.).

Em 1967, com a obra “The medium is the massage”, Marshall McLuhan explica o

ponto central de sua teoria, sem conseguir, contudo, abrandar o furor que trouxe ao sentenciar

o fim da mídia impressa e dos modelos comunicacionais pregados ao longo de décadas pelos

seus contemporâneos e antecessores. Na nova publicação, em coautoria com Quentin Fiore,

McLuhan trata o título da obra como sua tese central, ou seja, que o meio é a mensagem. Em

outras palavras, o teórico destaca que o meio de comunicação, geralmente associado ao canal

mecânico responsável por transmitir a mensagem, de fato, é um dos elementos decisivos no

jogo comunicacional e molda os conteúdos.

Embora o usual seja pensar o meio como mero local de transmissão da mensagem,

McLuhan destaca o fato de uma mensagem proferida oralmente ou por escrito, transmitida

pelo rádio ou pela televisão, colocar em jogo diferentes estruturas perceptivas, podendo

adquirir diferentes significados. Assim, ele defende que o meio não apenas constitui a forma

comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação, sendo os eletrônicos

responsáveis por transformar esse conteúdo e toda a lógica comunicativa.

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55

II.4.1.2 Coro a McLuhan

Citando Walter Benjamin (1882 – 1940), um dos marcantes teóricos da Escola de

Frankfurt, Regina Zilberman (2006) lembra no artigo “Memória entre oralidade e escrita”

distinções importantes nas narrativas orais e escritas, fazendo, de certa forma, coro a

McLuhan. Para Zilberman, enquanto a oralidade presume a presença de uma audiência

coletiva, a escrita aparece como produto de um indivíduo solitário que escreve para um leitor

não identificado e igualmente isolado de todos, retomando, em certo ponto, a ideia de

“destribalização”.

II.4.1.3 Aldeia ou teia global?

Em certo ponto, as críticas dos contemporâneos de McLuhan à sua teoria se justificam

temporalmente, uma vez que a revolução pregada pelo autor era inviável com a tecnologia

oferecida na época, com notável expansão da televisão e o fortalecimento dos rádios.

Contudo, tem sido comum uma “retratação acadêmica”, por assim se dizer, com o

pesquisador, uma vez que suas teorias ganham vida nova e ilustram – em muitos casos com

perfeição – o modelo global de comunicação e interação que surge com a WWW, sobretudo

com o estouro da bolha da Web 2.0.

Embora Jenkins seja o seguidor de maior sucesso de McLuhan dentro das pesquisas

em convergência de mídias e comunicação, ele não é o único e o conceito de aldeia global

segue a cada dia ganhando novas teorias aliadas, o que, de certa forma, leva à “utilização

indiscriminada” e, em alguns casos, equivocada dos pensamentos do teórico. Quem chama a

atenção para o fato é o pesquisador brasileiro Vinícius Andrade Pereira (2011).

Em “Entendendo McLuhan: da aldeia à teia global”, Pereira (2011) lembra que para

que o planeta, de fato, funcionasse como uma aldeia global, que todos teriam que comungar

de uma mesma fonte de informações, o que é improvável com a atual segmentação da

internet. Desta forma, para aplicar a teoria do canadense aos dias atuais, o autor brasileiro

defende o conceito de teia global. Segundo ele, uma teia pode conectar alguns ou até todas as

pessoas, mas não obriga ninguém a buscar, comentar ou transmitir os mesmos assuntos.

II.4.2 Teoria de Henry Jenkins

Embora olhem por ângulos opostos para o tema, os pesquisadores Henry Jenkins e

Ramón Salaverría concordam que antes de ser qualquer coisa, convergência de mídias “não é

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56

uma coisa só”. Jenkins lembra que “convergência é uma palavra que consegue definir

transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está

falando” (2009, p.29). No entanto, a grande marca da teoria do norte-americano – que, como

visto no tópico anterior, se baseia nos pensamentos de McLuhan – é abordar o processo de

convergência prioritariamente pelo aspecto cultural, o que acabou tornando sua obra um livro

de cabeceira para os principais produtores culturais da grande mídia.

Meu argumento aqui será contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2009, p. 30).

No entanto, observar a convergência de mídias como um processo prioritariamente

cultural parece estranho do ponto de vista jornalístico e é esse o principal ponto que levou esta

pesquisa, inicialmente planejada integralmente à luz da Jenkins, a buscar “socorro” em

Ramón Salaverría. Porém, ainda que deixando um pouco à margem o foco cultural do norte-

americano, os demais conceitos de sua teoria seguem pertinentes a este ou qualquer trabalho

sobre o tema, uma vez que o mesmo traz importantes contribuições ao aliar convergência com

inteligência coletiva e cultura participativa, observando tal união pelo prisma do paradigma da

convergência.

II.4.2.1 Paradigma da convergência

Como destacado no tópico que aborda os estudos de Marshall McLuhan, é no teórico

canadense que encontramos as bases para a discussão do paradigma da revolução digital, uma

vez que o mesmo condena à extinção o jornal impresso com o surgimento da televisão.

Embora McLuhan tenha sido bastante criticado à época de publicação de suas teorias,

sobretudo nos anos 60, tal paradigma externado pelo autor sobreviveu na última metade de

século, ainda que na maioria das vezes de forma discreta, entre pesquisadores e jornalistas.

Cada novidade ou evolução tecnológica em um meio de comunicação mais jovem foi

encarada como a sentença final aos seus antecessores, ainda que todos continuassem a atuar

juntos.

Nos anos 1990, a retórica da revolução digital continha uma suposição implícita, às vezes explicita, de que os novos meios de comunicação eliminariam os antigos, que a Internet substituiria a radiodifusão e que tudo isso permitiria aos consumidores

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acessar mais facilmente o conteúdo que mais lhes interessasse (JENKINS, 2009, p.32).

A proposta que Henry Jenkins traz com sua obra é quebrar esse temor velado que o

paradigma da revolução digital leva às redações, principalmente através da difusão da ideia do

paradigma da convergência. Enquanto a revolução digital prevê que um meio mais antigo

sempre será extinto com o surgimento de uma nova forma de comunicação, o emergente

paradigma da convergência prega que o nascimento de um novo meio obriga os demais a se

reinventarem e interagirem com a novidade. “O estouro da bolha pontocom jogou água fria

nessa conversa sobre revolução digital. Agora, a convergência surge como um importante

ponto de referência” (JENKINS, 2009, p.32).

Citando o trabalho de historiadores, Jenkins lembra que os velhos meios de

comunicação nunca morrem, nem desaparecem necessariamente. “O que morre são apenas as

ferramentas que usamos para acessar seu conteúdo – a fita cassete, a Betacam” (JENKINS,

2009, p.41), ou seja, as tecnologias de distribuição.

II.4.2.2 Sistemas de distribuição x meios de comunicação

Para precisar a linha que separa as definições de meios de comunicação e tecnologias

de distribuição, Henry Jenkins recorre à historiadora Lisa Gitelman e traz um modelo de

mídia que divide os meios de comunicação em dois níveis: o primeiro aborda os meios como

tecnologia que permite a comunicação; o segundo como um conjunto de protocolos e práticas

sociais e culturais que crescem em torno desta tecnologia. Desta forma, enquanto sistemas de

distribuição são “apenas” tecnologias, os meios de comunicação são, também, sistemas

culturais.

Desde que o som gravado se tornou uma possibilidade, continuamos a desenvolver novos e aprimorados meios de gravação e reprodução do som. Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias (JENKINS, 2009, p.42).

II.4.2.3 Cultura participativa e inteligência coletiva

Ao lançar seu conceito geral sobre cultura participativa, Henry Jenkins esbarra em

outra discussão presente nesta pesquisa: a do papel dos interagentes. De fato, a definição do

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autor se aproxima muito do conceito proposto pelo brasileiro Alex Primo. Para Jenkins, a

expressão cultura participativa contrasta com noções antigas de passividade dos espectadores,

uma vez que não podemos mais falar de produtores e consumidores em instâncias tão

separadas como antes. “Podemos agora considerá-los [produtores e consumidores] como

participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós

entende por completo” (JENKINS, 2009, p. 30).

No entanto, o autor reconhece dificuldades para que a participação se dê por igual e de

forma democrática entre as partes, observando um resistente domínio do modelo anterior.

Para Jenkins, parece óbvio que as corporações ainda exerçam poder maior que um indivíduo e

que nem todos consumidores tenham a habilidade exigida para conseguir participar deste

novo jogo comunicativo.

Ao citar as discussões sobre inteligência coletiva, Jenkins retoma, ainda que com

maior moderação, as discussões de Pierre Lévy, que ganhariam corpo após a publicação de

sua obra com André Lemos, como visto no tópico I.3.2 desta pesquisa.

A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência. Neste momento, estamos usando esse poder coletivo principalmente para fins recreativos, mas em breve estaremos aplicando essas habilidades a propósitos “mais sérios” (JENKINS, 2009, p.30).

II.4.2.4 O canivete suíço e a falácia da caixa-preta

Durante toda sua obra, Jenkins insiste que a convergência de mídias, enquanto

processo em construção, é comumente associada à evolução tecnológica. Para exemplificar, o

autor lembra que encontrar um telefone que apenas faça ligações, cumprindo exclusivamente

a função básica do aparelho, já é tarefa praticamente impossível. Isso porque, segundo o

teórico, os telefones se tornaram o equivalente eletrônico do canivete suíço, funcionando

como câmeras fotográficas e de vídeo, rádio, televisão e equipamento de acesso à internet.

Dentro dessa realidade, Henry Jenkins lança o conceito que chama de “falácia da

caixa-preta”. Segundo o teórico, mais cedo ou mais tarde, diz a falácia, “todos os conteúdos

de mídia irão fluir por uma única caixa preta em nossa sala de estar (ou, no cenário dos

celulares, através de caixas pretas que carregamos conosco para todo lugar)” (JENKINS,

2009, p.42).

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Para Jenkins, parte do que torna o conceito da caixa preta uma falácia é o fato de ele

reduzir a transformação dos meios de comunicação a uma transformação tecnológica,

desconsiderando os níveis culturais:

A convergência de mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disto: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas (JENKINS, 2009, p.43).

O pesquisador norte-americano lembra ainda que a “velha ideia da convergência”

começa a ser superada, referindo-se, principalmente, ao pensamento de que todos os aparelhos

iriam convergir em um único aparelho central. Hoje, ao contrário, o que se vê é o hardware

divergindo enquanto o conteúdo converge. Isso ocorre, entre outros motivos, pelo fato de,

dependendo de onde estamos (escola, casa, trabalho), apresentarmos necessidades diferentes

ao acessar os conteúdos. Assim, ao mesmo tempo, surgem aparelhos que tentam se

especializar a cada situação e aparelhos genéricos, como o telefone “canivete suíço”, que

buscam atender nossas necessidades durante todo o tempo.

II.4.2.5 Consumidores dentro da convergência de mídias

No artigo “Integração, complementaridade e justaposição: o aproveitamento da

convergência multimídia em portais e blogs”, Joana Ziller recorre a Silva Júnior (2011) para

lembrar que as discussões sobre convergência no jornalismo aludem “a um processo de

integração, interdependência e complementaridade a partir de modelos de comunicação

tradicionalmente separados.” (SILVA JÚNIOR, 2011, p. 32 in ZILLER, 2011, p. 5).

Observando este conceito, Ziller lembra que “os aspectos mais visíveis da convergência,

como a integração de modelos e formatos tradicionais, incidem de maneira bastante

diversificada tanto na atividade jornalística em si, quanto em sua relação com os públicos”

(ZILLER, 2011, p.5). Desta forma podemos inferir que quem “consome” o material

convergente também atua de forma decisiva nesse jogo comunicacional.

Como destacado no capítulo I, principalmente à luz das discussões de Lemos, Lévy e

Assange, o atual cenário pós-massivo dos meios de comunicação coloca o consumidor da

informação, antes mero receptor, como protagonista e coautor no processo comunicativo,

alterando verdades que imperaram durante toda uma era da mídia, como reforça Jenkins. No

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60

entanto, sempre há os dois lados da moeda. “Alguns veem um mundo sem gatekeepers, outros

um mundo onde os gatekeepers têm um poder sem precedentes” (JENKINS, 2009, p.46).

Jenkins cita o exemplo da função de gatekeeper para ilustrar o temor que se cria com

os novos papéis que são distribuídos no jogo comunicativo. Enquanto uns preveem que os

meios de comunicação fujam ao controle dos grupos dominantes (Lemos, Lévy), outros

temem que sejam controlados demais (Assange). Mas, o teórico norte-americano nos

tranquiliza: “Mais uma vez, a verdade está no meio-termo” (JENKINS, 2009, p.46).

Fato é que a convergência é tanto um processo coorporativo, como um processo do

interagente. Jenkins alerta que, assim como as empresas, os interagentes tem se especializado

em trocar informações neste novo cenário midiático que a Web 2.0 abre, criando profundas

expectativas em torno de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos.

Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou aos meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos (JENKINS, 2009, p.47).

O novo papel destes consumidores [e a tentativa dos grandes grupos de comunicação

de conviverem com a nova forma de inteligência coletiva e cultura participativa] é

exemplificado por Jenkins com os spoilers do reality show americano Surviver e com os

conflitos entres interagentes e produtores nas sequências Guerra nas Estrelas e Harry Potter.

Em ambos os casos, os interagentes interferem no contexto do produto cultural oferecido, uma

vez que antecipam ou modificam seu conteúdo colocando a narrativa/estória em caminhos

não planejados pelos produtores.

II.4.2.6 Narrativa transmídia ou transmidiática (transmedia storytelling)

Dentro de todos ricos debates e exemplos que Henry Jenkins traz, o que surge com

maior pertinência para que seja observada a convergência de mídias presente no jornalismo é

o conceito de narrativa transmídia ou transmidiática. Segundo o autor, tal narrativa surgiu

como resposta à convergência das mídias e prevê uma estética que faz novas exigências aos

consumidores, dependendo de sua participação em comunidades de conhecimento. Em outras

palavras, “a narrativa transmídia é a arte da criação em um universo” (JENKINS, 2009, p.

49).

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Vicente Gosciola (2011) lembra que “a narrativa transmídia, mais que um conceito, é

um processo verificado em algumas áreas da comunicação, seja no entretenimento, no

jornalismo, no meio corporativo e até mesmo na área da educação” (GOSCIOLA, 2011, p.3).

No entanto, o próprio Jenkins (2009) reconhece que a narrativa transmídia só pode ser

aproveitada ao máximo com acesso dos interagentes às novas tecnologias da informação e

com o domínio de determinadas habilidades que permitam participar plenamente das novas

culturas de conhecimento.

Partindo desse princípio, Jenkins traz a franquia Matrix como um dos melhores

exemplos do que chama de narrativa transmídia, uma vez que, para muitos, os irmãos

Wachowski, que escreveram e dirigiram a sequência de filmes, teriam forçado a nova

narrativa além do ponto onde a maioria do público estava preparada para ir, fragmentando

exageradamente trechos da história.

II.4.2.5.1 Matrix

Com referências claras ao Mito da Caverna, de Platão, Matrix é uma sequência de

filmes que exigiu habilidades que, até seu lançamento, eram irrelevantes ao público que

comparecia aos cinemas. Isso porque, para entender e aproveitar a obra por completo, em sua

máxima potencialidade, além de dominar múltiplos conhecimentos – como filosofia, um

pouco de linguagem de programação e sistemas de informação –, os consumidores precisaram

passear por diferentes mídias, jogando games, lendo quadrinhos, participando de listas de

discussão na web e fazendo o download de curtas de animação.

Jenkins elogia a iniciativa dos irmãos Wachowski e destaca que eles “jogaram o jogo

transmídia muito bem” (JENKINS, 2009, p. 137). Isso porque, na visão do autor, a obra

configura o entretenimento esperado na era da convergência, integrando múltiplos textos para

criar uma narrativa ampla, que não pode ser mais contida em uma única mídia.

Citando Pierre Lévy, Jenkins lembra que Matrix também é entretenimento para a era

da inteligência coletiva, uma vez que para interpretar e compreender toda lógica do filme é

preciso construir em conjunto, através das pistas e discussões oferecidas na web, o

conhecimento e interpretação da obra. “Os espectadores aproveitam ainda mais a experiência

quando comparam observações e compartilham recursos do que quando tentam seguir

sozinhos” (JENKINS, 2009, p.138).

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No entanto, embora atendam o conceito de narrativa transmídia e inovem com o filme,

ao fragmentar a obra em diversas mídias, os autores de Matrix receberam diversas críticas.

Segundo Henry Jenkins, as principais investidas contra os irmãos Wachowski alegaram que a

sequência não era suficiente autônoma, sendo quase desconexa; que os games dependiam

demais dos filmes, oferecendo poucas experiências novas; e que as teorias dos fãs eram mais

ricas que as proporcionadas pela tela.

Porém, o próprio Jenkins lembra que ainda não existem critérios estéticos bem

definidos para avaliar uma narrativa que transite por múltiplas mídias, sendo que poucas

franquias alcançaram todo potencial estético da narrativa transmídia. Assim, nas palavras do

autor, “Matrix foi uma experiência fracassada [do ponto de vista transmidiático, já que foi

sucesso nas bilheterias], um fracasso interessante, mas suas falhas não diminuem o

significado do que se tentou realizar” (JENKINS, 2009, p.139).

II.4.2.7 Conceito de transmídia e aplicação no jornalismo

Dado o exemplo de Matrix e toda discussão que Jenkins traz sobre o filme, o autor nos

lança o conceito de narrativa transmídia:

Uma história transmídia se desenrola através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romance e quadrinhos; seu universo pode ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões. Cada acesso à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game, e vice-versa. Cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como um todo. A compreensão obtida por meio de diversas mídias sustenta uma profundidade de experiência que motiva mais consumo (JENKINS, 2009, p. 138).

Tal definição detalhada de Jenkins pode ser aplicada tanto na ficção quanto no

jornalismo, uma vez que a reportagem nada mais é do que uma história de interesse público

que estava oculta e é trazida à luz através do relato e olhar de diversos personagens. Sendo

assim, a mesma ponderação – que motivou tantas críticas à obra Matrix – cabe ao conteúdo

convergente no jornalismo: cada ponto de acesso deve ser autônomo e cada um deles deve

garantir acesso aos demais. Ou, nas palavras de Gosciola, “a narrativa transmídia é voltada à

articulação entre narrativas complementares e ligada por uma narrativa preponderante, sendo

que cada uma das complementares é veiculada pela plataforma que melhor potencializa suas

características expressivas” (GOSCIOLA, 2011, p.9).

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II.4.2.8 Por que não cross-media ou multimidialidade?

Existe uma confusão muito comum nas definições de cross-media, multimidialidade e

narrativa transmídia, sendo os termos, na maioria dos casos, utilizados erroneamente para

definir uma única coisa, já que eles possuem diferenças fundamentais desde a concepção.

O conceito de transmídia foi lançado pela primeira vez por Henry Jenkins em 2001,

em artigo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e, como visto no tópico anterior, é

utilizado para definir uma narrativa contada por diversas mídias. Já a definição de cross-

media (mídia cruzada) é um conceito anterior, nascido na década de 90, dentro da

publicidade, e se refere mais ao cruzamento de plataformas (meios e suportes) do que das

narrativas. Já multimidialidade, como detalhado no tópico II.4.4, se refere à combinação de

diferentes linguagens dentro de uma mesma mídia.

Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, Carlos Castilho (2011) lembra que

“cross-media é um conceito mais dinâmico porque se vincula especificamente ao processo de

transição de uma mídia para outra”.

Organizando essas ideias, temos:

� Cross-media: cruzamento de meios e plataformas através da convergência de

mídias (se refere mais ao suporte);

� Multimidialidade: linguagens de várias mídias combinadas dentro de um único

meio de comunicação;

� Transmídia: uma mesma narrativa contada por diversas mídias que se

completam, mas são autônomas;

É a partir desses conceitos e da rica discussão sobre convergência de mídias e, ainda,

do debate sobre hipertextualidade e Web 2.0 presente no Capítulo I, que este estudo propõe e

executa, em sua segunda parte, um modelo metodológico próprio, com a realização de um

estudo de caso do Portal Uai. Os passos para a definição metodológica e o recorde da unidade

de análise são detalhados a partir do próximo capítulo.

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PARTE II: metodologia e análise

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CAPÍTULO III: metodologia e modelo de análise

Depois de cumprir a fase inicial de pesquisa, com revisão da literatura das definições

consideradas necessárias para fundamentar a análise pretendida, este estudo focou suas

atenções no desenvolvimento de um modelo que permitisse a avaliação qualitativa do objeto,

jogando luz no mesmo a partir dos debates presentes nos capítulos I e II. Para construir tal

esquema, aproveitou-se em grande parte os processos e métodos de pesquisa aplicados pelos

teóricos espanhóis estudados na Parte I deste trabalho, sobretudo Xosé López e Ramón

Salaverría.

III.1 ANÁLISE QUALITATIVA ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO

Como destacado na introdução, optou-se por realizar um estudo de caso, a fim de

verificar o processo desejado sob o prisma da linguagem, cumprindo os objetivos propostos

com a pesquisa. Vale ressaltar que o método do estudo de caso enquadra-se como uma

abordagem qualitativa, sendo que sua utilização neste trabalho se justificou por três aspectos:

a natureza de processo em construção da convergência de mídias, ou seja, fenômeno em

constante transformação a ser investigado; o conhecimento que se pretende alcançar com a

observação da narrativa jornalística na web; e a possibilidade de que novos estudos sejam

realizados a partir da observação desse caso em particular.

Embora tenha sido comum tratar, sobretudo nas pesquisas em estudos de linguagem e

comunicação, a análise qualitativa como uma das vertentes possíveis dentro dos estudos de

caso, a relação ocorre exatamente de forma contrária, como nos alerta Arilda Schmidt Godoy

(1995), sendo o estudo de caso, ao lado da pesquisa etnográfica e da documental, uma das três

possibilidades mais usuais de análise qualitativa. “O estudo de caso se caracteriza como um

tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente” (GODOY, 1995,

p.25).

Godoy (1995) ressalta, ainda, que os trabalhos com pesquisas qualitativas,

principalmente através de estudos de caso, são identificados pelo “ambiente natural” como

fonte direta de coleta e a presença do pesquisador como “instrumento” essencial à análise, o

que justificou a revisão teórica realizada na primeira parte deste trabalho. Além disso, também

são características marcantes nessas pesquisas o caráter descritivo e o enfoque indutivo dos

resultados (presentes no capítulo IV), conforme destaca Maanen (1979):

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A expressão "pesquisa qualitativa" assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979, p.520 in NEVES, 1996, s.n).

Executar uma análise qualitativa através de um estudo de caso surgiu como

metodologia extremamente pertinente se considerada a natureza dos processos

comunicacionais e da internet de fenômenos em constante transformação. Em “Métodos de

pesquisa para internet” (2011), Fragoso et. al chamam a atenção para tal característica e a

dificuldade que ela impõe à observação de objetos na rede:

Segundo Costigan (1999, p.19), um dos principais desafios para o estudo de internet é que ela não pode ser capturada por um quadro individual, uma vez que cada retrato acrescenta um quadro e fronteiras que não existem, já que a internet não pode ser contida. Esses retratos também acrescentam enfoques e proeminências a itens individuais, que não são universalmente dominantes. Os retratos ficam estagnados, mas a internet está em constante fluxo (FRAGOSO et. al, 2011, p.33).

Dessa forma, as pesquisas sobre internet quase sempre se encontram limitadas pelo

paradoxo de já nascerem desatualizadas e “engolidas” pela sequência de quadros impossíveis

de se captar ou avaliar em sua totalidade.

Ainda assim, como destacam Corrêa e Corrêa (2007), a observação dos processos de

convergência na web por meio de uma sucessão de estudos de caso (e, a partir deles, a

aproximação entre teoria e prática), é a alternativa mais viável para atingir o resultado

esperado. “Processos comunicacionais não são coisas fechadas em si mesmas, mas objeto de

observação caso a caso” (CÔRREA; CÔRREA, 2007, p.8).

Porém, para conseguir êxito na observação pretendida a partir da pesquisa com estudo

de caso, o primeiro fator fundamental é o reconhecimento desta como um pequeno link em

um complexo conjunto hipertextual – metaforizando em tema que soa agradável –, ou, em

outras palavras, das limitações que o método e a própria essência da web impõem, impedindo

qualquer forma de generalização a partir do objeto examinado e tornando extremamente

necessária a contextualização do mesmo em um universo maior. O não cumprimento desses

quesitos, aliás, é um dos principais equívocos cometidos pelos pesquisadores ao adotarem o

método, como destaca Alves-Mazzotti:

(...) temos observado que muitas pesquisas classificadas por seus autores como “estudos de caso” parecem desconsiderar o fato de que o conhecimento científico desenvolve-se por meio desse processo de construção coletiva. Ao não situar seu estudo na discussão acadêmica mais ampla, o pesquisador reduz a questão estudada

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ao recorte de sua própria pesquisa, restringindo a possibilidade de aplicação de suas conclusões a outros contextos e pouco contribuindo para o avanço do conhecimento e a construção de teorias. Tal atitude frequentemente resulta em estudos que só têm interesse para os que dele participaram, ficando à margem do debate acadêmico (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p.639).

Tal posição apenas reforça a importância do caráter de continuidade dos estudos

desenvolvidos dentro da observação midiática, no Posling, objetivando, futuramente, um

recorte teórico mais amplo a partir da análise da sucessão de pesquisas que são realizadas na

linha II do programa de pós-graduação.

É por isso que, reconhecendo a limitação do trabalho dentro do atual conjunto de

abordagens possíveis para se debater a convergência de mídias, esta pesquisa tentou contribuir

não somente com a exposição de um dos “quadros” contemporâneos do tema e com as

inferências possíveis sobre os resultados obtidos, mas, também, com a proposição de um

modelo próprio (tópico III.3) para a realização de análises qualitativas na área estudada.

Corrêa e Corrêa (2007) lembram que ainda são escassas as possibilidades

metodológicas em estudos de convergência, o que foi verificado, também, durante a etapa

inicial deste trabalho, com a revisão da literatura. Por isso, pareceu interessante elaborar e

propor um novo quadro que permitisse a avaliação de outros casos sobre os mesmos

parâmetros desta pesquisa, viabilizando, futuramente, uma aproximação entre diferentes

análises e debates mais amplos, o que é extremamente pertinente para validação do

conhecimento.

A validação do conhecimento pelos pares assumiu ainda maior importância após a derrocada de dois pilares do positivismo: o primado do método como garantia do rigor, que Adorno (1983, p.219) chama “obsessão metodológica”; e a crença na objetividade e racionalidade da ciência (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p.638).

Em outras palavras, o que se espera são o aprimoramento e o debate sobre o modelo

embrionário que aqui é proposto para uma discussão mais ampla, a partir de diferentes

enfoques, dentro das pesquisas em linguagem na convergência de mídias.

Considerando, no entanto, que a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques (GODOY, 1995, p.27).

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III.2 RECORTES DENTRO DO PORTAL

Antes de iniciar a avaliação da convergência de mídias experimentada no Portal Uai,

novos recortes na coleta de dados se fizeram necessários para viabilizar e fortalecer a

pesquisa. São eles: temporal, de sites, de contexto.

III.2.1 Recorte temporal

Como destacado no tópico III.1, é praticamente inviável observar uma grande

sequência de “quadros” da internet, sobretudo em uma pesquisa como esta, que tem como

foco principal avaliar a união de linguagens promovida na tela pela convergência de mídias.

Porém, é inegável a importância de que, dentro das limitações do estudo, tente-se observar o

maior e mais amplo período de tempo possível, evitando divergências entre o material

coletado e a realidade “maior” da unidade analisada, discrepâncias essas que podem ser

ocasionadas, entre outros fatores, pela centralização do trabalho de coleta em um curto

período de tempo.

Isso ocorre porque, em prazo curto e centralizado, o imponderável opera. Dessa forma,

pensando na unidade de análise escolhida, ao se realizar a coleta de dados durante uma

mesma semana, por exemplo, surgem dezenas de hipóteses possíveis para justificar erros e

perfeições no material analisado, como: uma redução (ou ampliação) da equipe de jornalistas

naquele período por causa de algum afastamento (contratação); a opção por centralizar as

atenções em alguma pauta ou cobertura específica naqueles dias; atualizações no

administrador do portal; troca de editores e redatores; o lançamento de algum hot site ou

página especial; entre outros. Tal cenário foi constatado durante a realização de dois estudos-

piloto, à época da elaboração do projeto que sustenta esta pesquisa, um com o portal O Tempo

Online e outro com o hot site Caso Bruno, do Portal Uai. Em ambos, a centralização do

período observado em dias subsequentes enfraqueceu as categorias de análise e impossibilitou

inferências mais amplas a partir da avaliação qualitativa.

Godoy (1995) nos lembra que o ideal no estudo de caso é utilizar “uma variedade de

dados coletados em diferentes momentos, por meio de variadas fontes de informação” (1995,

p. 24). A pesquisadora também ressalta a importância de iniciar a observação qualitativa tão

logo sejam obtidos os dados:

Embora nos estudos qualitativos em geral, e no estudo de caso em particular, o ideal seja que a análise esteja presente durante os vários estágios da pesquisa, pelo

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69

confronto dos dados com questões e proposições orientadoras do estudo, é provável que um pesquisador pouco experiente termine a fase de coleta dos dados para depois iniciar o processo de análise (GODOY, 1995, p. 27).

Considerando a importância de iniciar a observação tão logo fossem recolhidos os

dados e de se fragmentar o período de coleta, optou-se por trabalhar com rodadas de análise,

de modo a verificar a produção do portal em diferentes momentos, atingindo todos os dias

úteis da semana, quando redações do jornal, TV, rádio e internet trabalham com a equipe

completa – ainda que ciente da necessidade de que a imprensa opere de forma semelhante de

domingo a domingo, é preciso reconhecer que a redução brusca na equipe, bem como o

predomínio do uso de agências de notícia nos plantões de sábado e domingo, pode provocar

discrepâncias com os demais dados, gerando as discussões do “imponderável”, como citado

anteriormente.

Dessa forma, realizando tais recortes, a coleta foi dividida em cinco rodadas realizadas

com intervalo de duas semanas e um dia, contemplando, assim, a produção de segunda a

sexta-feira, e permitindo, ainda, o início imediato das análises, tão logo foram coletados os

dados. A primeira coleta aconteceu no dia 21 de janeiro, uma segunda-feira, a segunda no dia

5 de fevereiro, um terça-feira, e assim por diante, com dados recolhidos também em 20 de

fevereiro (quarta-feira), 07 de março (quinta-feira) e 22 de março (sexta-feira).

III.2.2 Recorte de sites

O Portal Uai <http://www.uai.com.br/>, assim como outros portais brasileiros e

internacionais, opera como uma espécie de “guarda-chuva” (comparação que tem sido comum

entre teóricos e jornalistas), abrigando outros portais, sites, blogs e até mesmo redes sociais.

Desta forma, ao escolher o Uai como unidade de análise, novo recorte se fez necessário,

afinal, o que observar dentro da grande diversidade de conteúdos que são produzidos e

replicados nele?

Para responder, foi necessário fazer a decupagem, por assim se dizer, dos sites debaixo

desse grande guarda-chuva, escolhendo, entre eles, os protagonistas que seriam analisados.

Em janeiro de 2013, mês da coleta de dados, o Uai contava com sete portais, um site

parceiro, nove sites da casa e uma rede social incorporando todos os blogs, como mostra o

quadro a seguir:

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70

Quadro de portais e sites presentes dentro do Uai

Portais Sites parceiros Rede Social Sites da casa

em.com.br AreaH Dzaí Jornal Aqui

Divirta-se

EM Impresso

Vrum

EM Digital

Superesportes

Rádio Guarani

Lugar Certo

Revista Encontro

Admite-se

Mundo Ela

Alterosa

EhGata

Ragga

Ragga Drops

Quadro 4 – Portais e sites abrigados no Uai em janeiro de 2013

III.2.2.1 Sites da casa: primeiros descartes

Ao começar o recorte para escolher os portais onde seriam feitas as coletas de dados,

os primeiros a serem descartados foram os chamados de “sites da casa”. Entre eles, os únicos

a produzirem conteúdo próprio eram os portais Ragga e Mundo Ela – extintos meses após a

realização da coleta – e da Revista Encontro. Contudo, os três apresentaram baixa relevância

na home do portal, com periodicidade inconstante para a produção de material próprio e

atualização.

Já os sites da Rádio Guarani, Jornal Aqui, EM Impresso, EM Digital e Ragga Drops

não apresentavam nenhuma forma de produção própria de notícias, figurando apenas como

veículos institucionais ou espaço para consumo do conteúdo produzido em outras mídias,

sendo irrelevantes para o corpo de análise sobre linguagens.

Por fim, o portal EhGata, também extinto no primeiro semestre de 2013, traz ensaios

fotográficos sensuais com nenhuma produção textual. O conteúdo, ainda que imagético, não

apresenta qualquer relevância para as observações realizadas neste trabalho.

III.2.2.2 Dzaí: rede social?

Concebido para funcionar como a rede social dos demais portais que fazem parte do

grupo Diários Associados (Diário de Pernambuco, Correio Braziliense, Portal Uai, Diário de

Natal, O Imparcial), o Dzaí <http://www.dzai.com.br> – que teve seu nome escolhido em

Page 87: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

71

concurso popular – nunca emplacou. A interface do portal já nasceu ultrapassada em 2007

(como exemplifica a Figura 2, p. 72) e não passou por nenhuma grande atualização ao longo

de sua existência. Sua forma de operar, com constantes erros de layout e código, não permite

uma compreensão clara aos interagentes sobre os objetivos e funcionalidades das

comunidades de notícia e blogs, dificultando a interação com outros usuários. Além disso, o

sistema de upload de vídeos e áudios é confuso e possui limitações técnicas. Somados, esses

fatores permitem inferências bem claras para explicar o baixo aproveitamento na home do Uai

dos conteúdos – escassos e de qualidade questionável – que são postados na rede.

Ainda assim, além dos blogs de usuários comuns, o Dzaí incorpora todos os

blogueiros oficiais do Portal Uai, encontrando nesses a sua única forma de “sobreviver” na

capa. Apesar das limitações técnicas da rede, os “blogs da casa” recebem tratamento especial,

com layout próprio e customização. No entanto, embora as postagens desses blogueiros, em

grande parte dos casos, sejam constantes e de boa qualidade, avaliar a linguagem presente no

conteúdo construído por terceiros não pareceu pertinente para esta pesquisa, uma vez que os

mesmos não seguem nenhum padrão jornalístico ou linha editorial. A conclusão é de que os

resultados de tal observação seriam pouco produtivos para os objetivos deste trabalho.

Figura 2 – Dzaí já nasceu com a interface ultrapassada. Na imagem, modelo de blog

oferecido aos internautas em 2013 com layout que remete ao ano de 2000

III.2.2.3 Sites parceiros

Tem sido comum nos portais de notícia brasileiros a incorporação dos chamados sites

parceiros, que funcionam como uma espécie de agência, agregando conteúdos sobre assuntos

Page 88: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

72

segmentados (moda, turismo, comportamento) e diversificando a cobertura sem agregar

grandes custos financeiros à empresa. Na verdade, o “preço” que é pago com essa estratégia é

a utilização de conteúdos semelhantes a outros portais, já que esses sites têm por hábito se

relacionar com mais de um veículo, não trazendo, de fato, nada novo ou especial ao seu

público, que pode encontrar o mesmo assunto em concorrentes, como mostra a Figura 3 (p.

73).

Contudo, ainda que estranha, a aposta tem figurado nos planos dos Diários

Associados. Na época da coleta de dados, apenas um site, o AreaH (comportamento

masculino), aparecia no Uai, mas o número foi ampliado no primeiro semestre de 2013, com a

incorporação dos sites Fashionistando (moda), No Ateliê (moda) e Bella da Semana (ensaios

sensuais).

No entanto, apesar de ser uma aposta nova e crescente no país, a utilização de sites

parceiros apresenta o mesmo problema dos “blogs da casa” ao trazerem um conteúdo externo,

não se enquadrando na linha editorial da empresa e, muitas vezes, nem nos padrões

jornalísticos, tornando, assim, sua análise irrelevante dentro do contexto estudado.

III.2.2.4 Sites carros-chefes: os portais

Entre os portais que compõem o Uai, considerando tanto a audiência quanto o espaço

conquistado na home, quatro se destacam como carros-chefes: em.com.br

<http://www.em.com.br/>, Superesportes <http://www.superesportes.com.br/>, Alterosa

<http://www.alterosa.com.br/> e Divirta-se <http://divirta-se.uai.com.br/>. Além disso,

existem ainda outros três portais especializados que concentram grande atenção dentro dos

Diários Associados: Vrum <http://estadodeminas.vrum.com.br/>, Lugar Certo

<http://estadodeminas.lugarcerto.com.br/> e Admite-se <http://estadodeminas.admite-

se.com.br/>.

III.2.2.4.1 Superesportes

O Superesportes é um dos principais portais esportivos do país. Até se transformar em

veículo nacional, em 2010, com expansão para Pernambuco, Rio de Janeiro e Brasília, era

considerado o maior portal regional esportivo brasileiro. Sozinho, concentra praticamente

metade da equipe que trabalha no Uai e é responsável por pelo menos 30% dos 100 milhões

de pageviews atingidos por mês no portal. Com o sucesso na internet, o Caderno de Esportes

Page 89: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

73

do Jornal Estado de Minas passou a se chamar Superesportes e foi padronizado com a mesma

identidade visual, em referência ao site, que aproveita materiais do próprio impresso e da TV

Alterosa.

Figura 3 – Site AreaH replica conteúdos em diferentes portais.

No destaque os portais iBahia, Uol/Band e Uai

Contudo, embora o Superesportes exerça um protagonismo sedutor a esta pesquisa,

optou-se por descartá-lo na análise. Tal decisão visa respeitar os limites entre os trabalhos

desenvolvidos no Posling, uma vez que o mesmo portal é alvo de estudo de linguagens

desenvolvido pelo pesquisador Gilmar Laignier, com orientação da Profa. Dra. Giani David

Silva.

III.2.2.4.2 Admite-se e Lugar Certo

Outro portal descartado nesta análise foi o Admite-se. Embora tenha a mesma lógica

de funcionamento do Vrum e do Lugar Certo, o veículo, destinado aos classificados do

mercado de trabalho e especializado na cobertura do tema, é desenvolvido em Brasília, pela

equipe do Jornal Correio Braziliense, e apenas replicado aqui, afastando-se, assim, do

objetivo da pesquisa, de investigar a convergência produzida dentro do Portal Uai.

Já o Lugar Certo, por sua vez, ainda que possua produção contínua de conteúdos, se

mostrou pouco relevante dentro da home do site durante o período de coleta, sendo, também,

descartado.

Page 90: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

74

III.2.2.4.3 em.com.br e Divirta-se

O em.com.br é, de certa forma, um portal novo. Até 2010, o Uai apresentava estrutura

própria para publicação de notícias nas editorias de Gerais, Política, Economia, Nacional,

Internacional, Educação e Ciência e Tecnologia, sendo ele próprio o responsável por abrigá-

las e figurar como representante do Jornal Estado de Minas na internet. Porém, uma decisão

empresarial, justificada pela necessidade de reforçar a marca do impresso na web, levou à

criação do em.com.br, que passou a exercer tais funções.

Com isso, o Uai passou a ser apenas o guarda-chuva e as principais publicações do

grupo, com as notícias factuais e coberturas do cotidiano, foram inseridas dentro do

em.com.br, sendo este o primeiro veículo escolhido para o estudo.

Vale ressaltar que o em.com.br também foi alvo da observação de Gonzaga-Pontes

(2012), no Posling, porém à luz da teoria Teun van Dijk e suas estruturas para produção e

atualização de notícias. Neste trabalho, o foco está na convergência, sobretudo como um olhar

que parte dos conceitos lançados por Jenkins e Salaverría.

O segundo veículo escolhido para tal abordagem é o Divirta-se, portal de cultura do

Uai. Com desempenho significativo na home e na audiência do portal, ele conta com rica

produção própria e grande aproveitamento do material produzido pelo caderno de cultura (EM

Cultura) do Estado de Minas. Além disso, em observação preliminar, realizada antes mesmo

da coleta de dados, foi possível verificar que é um dos portais que mais experimenta a

multimidialidade no grupo.

III.2.2.4.4 – Alterosa e Vrum

Como dito anteriormente, o Vrum conta com a mesma lógica de funcionamento do

Lugar Certo e do Admite-se, configurando-se como classificado de veículos e portal

especializado no assunto. No entanto, ainda que com uma produção menor que o em.com.br e

o Divirta-se, o portal desempenha papel de destaque dentro do site, com significativa

audiência e espaço na capa. Criado paralelamente ao programa de televisão do SBT

(produzido pela TV Alterosa), o Vrum seguiu o caminho do Superesportes, tornando-se um

veículo nacional e provocando a alteração no nome do caderno de veículos do impresso.

Já o site da Alterosa, por sua vez, embora, inicialmente, tivesse por objetivo apenas

documentar as matérias exibidas na televisão, acabou se tornando espaço de convergência ao

estipular, pelo menos no discurso, a elaboração própria de conteúdos que complementem o

Page 91: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

75

que foi exibido na TV. Além disso, por ser o espaço da transposição “oficial” dos vídeos, sua

análise foi de fundamental interesse para cumprir os objetivos desta pesquisa.

II.2.3 Recorte de contexto

Escolhidos os portais em.com.br, Vrum, Alterosa e Divirta-se para as cinco coletas de

dados, restou definir critérios para selecionar quais notícias seriam observadas, uma vez que o

elevado volume de produção por dia nestes quatro veículos inviabiliza a análise de todo o

material. Nesse recorte, observou-se o contexto de produção das reportagens, priorizando

aquelas que estavam em destaque na home, presumindo-se que foram melhor trabalhadas

pelas equipes, incorporando as características do discurso convergente presente na empresa.

Os primeiros recortes foram realizados dentro do em.com.br, considerado carro-chefe

do Uai e protagonista entre os portais avaliados. Composto por sete editorias, o em.com.br

possui produção própria em todas as seções. No entanto, devido às dificuldades geográficas

ou à equipe mais reduzida, quatro dessas editorias operam prioritariamente (ainda que não

exclusivamente) com agências: Nacional, Internacional, Educação, Ciência e Tecnologia. No

caso de Economia e Política, embora também contem com os conteúdos de agência, as

notícias possuem produção própria mais alta dentro portal e contam com o aproveitamento

das publicações do impresso. Já na editoria de Gerais, que cobre prioritariamente assuntos do

Estado, existe o aproveitamento das notícias do Jornal Estado de Minas, mas, ao longo do dia,

a produção é toda realizada dentro do portal. Dada tal constatação, foram selecionadas para

análise as editorias de Gerais, Economia e Política.

Como dito anteriormente, optou-se por avaliar as notícias destacadas na capa do Uai.

Visando coletar material produzido por repórteres do impresso e transposto para a tela e,

também, material produzido pelos jornalistas do portal, foram recolhidas, durante as cinco

rodadas: o principal destaque de cada uma dessas editorias no começo do dia (entre 7h e 8h),

conteúdo que normalmente é produzido pelo impresso; e o principal destaque das mesmas que

foi destacado na capa ao longo da manhã (entre 8h e 12h), notícias que, a priori, são

produzidas pelos repórteres do em.com.br. Como o pesquisador faz parte do quadro funcional

da empresa e trabalha no turno da tarde/noite, não foi coletada nenhuma manchete neste

período. Com isso, a coleta do em.com.br gerou seis reportagens diárias, totalizando 30 textos

para análise.

Page 92: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

76

Os mesmos parâmetros utilizados para coleta no em.com.br foram repetidos dentro do

Divirta-se, que, embora possua seis sessões de notícia, foi considerado como uma única

editoria. Com isso, seguindo os mesmos critérios, foram recolhidas reportagens que abriram o

portal e que foram produzidas ao longo do dia (nesse caso, entre 8h e 21h), totalizando 10

links.

No site da TV Alterosa, como não existe o aproveitamento do conteúdo do impresso,

foram coletadas duas reportagens: a primeira cadastrada no site no dia (normalmente

divulgada no Uai antes mesmo de o Jornal da Alterosa ir ao ar) e a principal exibida no

telejornal e destacada no portal, somando, assim, mais 10 reportagens.

Já o Vrum, entre os veículos observados, é o que conta com equipe mais reduzida

dentro do Uai, o que ocasiona uma produção menor e com intervalos mais inconstantes. Dessa

forma, decidiu-se recolher a principal notícia do portal destacada na home em cada um dos

dias observados. Com isso, a fase de coleta de dados encerrou com 55 reportagens, volume

considerado satisfatório para a análise qualitativa desejada.

III.3 MODELO METODOLÓGICO PARA A ANÁLISE

Como dito na abertura deste capítulo, ainda que qualitativas, as pesquisas em

convergência de mídias seguem com poucos modelos bem definidos e elaborados. Entre eles,

destacam-se os apresentados por Ramón Salaverría e Xosé Lópes, utilizados durante os

estudos de caso realizados em diferentes redações ao redor do globo. Aos modelos aplicados

pelos espanhóis soma-se à rica contribuição trazida por Janaína Nunes (2009) em sua

dissertação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Foi no cruzamento desses

modelos que esta pesquisa encontrou as alternativas mais viáveis para realização da análise

proposta.

Nunes (2009), para viabilizar a análise em sua pesquisa, observou as manchetes do

“Globo online” em diferentes horários (como proposto, também, nesta pesquisa), avaliando

composição das reportagens com seus links, vídeos, galerias de fotos, infográficos e áudios.

Depois de descrever cada link presente no texto, ela avaliou diferentes aspectos em cinco

categorias que eram pertinentes ao seu trabalho: hipertexto, multimídia, texto, interatividade e

relação com o impresso.

No caso desta pesquisa, optou-se, inicialmente, por seguir um modelo próximo ao que

foi sugerido por Nunes, mudando, no entanto, as categorias de análise para temas que

Page 93: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

77

permitissem uma observação mais profunda, que fosse pertinente com os objetivos propostos.

Assim, originalmente, à época da formulação do projeto de pesquisa, foi criado um quadro, à

luz, também, dos estudos de López, para “decupar” o material coletado.

No entanto, depois da realização dos estudos-pilotos, foi constatada a necessidade não

apenas de ampliar o modelo inicial, proposto por Nunes, mas também de construir um

esquema metodológico próprio para a análise, coerente com a observação qualitativa

pretendida.

Para criar o modelo, foram aproveitados os conceitos e debates que surgiram durante a

revisão teórica, que serviu, dessa forma, não apenas como ferramenta para a análise

qualitativa, mas como parâmetro para a elaboração do próprio processo metodológico

utilizado.

Assim, partindo do princípio de que a narrativa presente na convergência de mídias é

resultado do cruzamento das características dos veículos de origem de cada um dos conteúdos

multimidiáticos compartilhados na web com a hipertextualidade e a interatividade (como

ilustra a Figura 4), decidiu-se por dividir a análise em dois momentos: o

descritivo/interpretativo e o compreensivo/comparativo. No primeiro, estão ausentes os juízos

de valor, enquanto no segundo serão feitas considerações e julgamentos frente às observações

realizadas.

Figura 4 – Associações entre características do conteúdo multimidiático com a hipertextualidade e a interatividade levam ao surgimento do conteúdo convergente (elaboração própria)

III.3.1 Quadro para análise e modelo organizado em níveis de convergência

Para o primeiro momento (de decupar e organizar) foi desenvolvido um quadro (p. 80)

que permitiu sistematizar o material observado, verificando as marcas das mídias de origem

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78

presentes nas reportagens que possuem material convergente e a atuação na narrativa dos

principais conceitos abordados na revisão teórica sobre hipertextualidade, interatividade e

convergência.

Após a sistematização dos dados, com análise inicial do conteúdo coletado, o segundo

momento, também realizado a partir da elaboração de um modelo próprio (Figura 5, p. 79),

verificou o grau de convergência atingido pela narrativa na tela, a fim de, finalmente, atingir

as inferências possíveis sobre a transformação do conteúdo jornalístico que converge no

Portal Uai, respondendo a problemática que fomentou este estudo e cumprindo os objetivos

propostos.

O modelo elaborado para a realização desta última etapa, também feito à luz das

teorias de Jenkins e Salaverría, divide a convergência de mídias em quatro diferentes níveis,

formando um ciclo ininterrupto de circulação das informações ao atingir o grau máximo:

� Nível I: É o nível básico de convergência atingido por praticamente todo

material multimidiático que é publicado na web, uma vez que a simples

inserção desse conteúdo associada às características hipertextuais leva ao

primeiro passo do processo e produz uma narrativa com novas

potencialidades;

� Nível II: Ocorre quando as potencialidades da Web 2.0 são associadas ao

conteúdo multimidiático e hipertextual, elevando-o mesmo a um novo

contexto, onde o interagente exerce, em algum grau, seu papel de coautor do

conteúdo;

� Nível III: É a etapa em que deve imperar a alteração de propósito

(repurposing). Só é possível quando as características dos níveis anteriores são

associadas de forma inteligente pelos produtores, respeitando as

peculiaridades do meio, no caso, a web. Acredita-se que neste nível é possível

verificar as pressupostas transformações ocorridas no discurso midiático;

� Nível IV: É o retorno à mídia de origem, ou, em outras palavras, a

complementaridade (que não deve ser confundida com dependência) entre o

conteúdo transposto (produzido) para a web com o oferecido nos meios de

origem. Esse nível ocorre quando portal guia o interesse do interagente para a

procura dos veículos de origem e os mesmos devolvem a atenção à web,

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79

retroalimentando o processo com uma convergência diária de conteúdos

multimidiáticos, hipertextuais e interativos.

Figura 5 – Divisão das etapas de produção (A, B, C e D) que permitem a construção de

uma narrativa convergente em diferentes níveis (elaboração própria)

A partir dos níveis propostos no modelo (Figura 5) desenvolvido à luz das teorias de

Ramón Salaverría, Henry Jenkins, André Lemos e Pierre Lévy, e da sistematização do

conteúdo através do Quadro 5 – como detalhado anteriormente neste capítulo –, esta pesquisa

filtrou e avaliou os conteúdos de 55 reportagens presentes em quatro portais que integram o

Uai, trabalho que é apresentado no próximo capítulo, que traz, ao longo das análises,

exemplos das discussões presentes na Parte I deste estudo e conclusões parciais e

apontamentos que são apresentados ao final de cada uma das cinco rodadas de análise, a fim

de facilitar a compreensão dos resultados obtidos.

Quadros comparativos e prints das telas dos portais estudados também foram

utilizados como recurso para facilitar ao leitor a observação e interpretação do material

coletado e avaliado no Capítulo IV desta dissertação.

Page 96: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

80

Quadro para análise de marcas da convergência em narrativas nos portais jornalísticos

Reportagem:

Link:

Origem:

Reportagem foi elaborada pelo impresso, pela televisão ou pelo rádio? É notícia de agência? Ou foi elaborada pelo próprio portal? Para verificar a origem é preciso consultar, também, os veículos

tradicionais. Embora em alguns casos a origem pareça óbvia, uma boa pista para começar os trabalhos é pesquisar pelo nome do

repórter.

Campo I (Chapéu, título e bigode)

Se originada em outro veículo, a notícia sofreu mudanças em seu título? Qual tipo de mudanças? Existe alguma referência ao

conteúdo multimidiático?

Campo II (Corpo da narrativa)

Estrutura do lead (ver nota 32). Sofreu alguma mudança? Dá sinais de que a notícia segue a pirâmide invertida? Foi substituído

por conteúdo multimidiático? Possui elementos hipertextuais?

Elementos multimidiáticos. São utilizados? Quais deles? São originados em outro veículo?

Elementos hipertextuais. São aplicados no corpo da reportagem? 'Conversam' com outros veículos ou com conteúdos multimídia? O

texto é linear ou tem marcas de não-linearidade?

Marcas textuais e repurposing. Se originada em outro veículo, a reportagem conserva características da linguagem? Ocorreram

modificações? Existem orações ou expressões características de outras mídias?

Repetição. Elementos multimidiáticos se repetem? Atuam completando um ao outro? 'Conversam' com o texto?

Interatividade. É condicionada alguma forma de interferência do leitor ao longo da reportagem? Espaço fica restrito aos

comentários?

Shovelware. Apresenta caracteres estranhos ou anomalias que indiquem shovelware?

Transmídia. Se originada de outra mídia, houve alguma forma de referência entre as reportagens? Ocorreu apenas a transposição do

conteúdo? Foi agregado algum novo elemento?

Campo III (Sessão de comentários e redes

sociais)

Quais possibilidades são oferecidas? É possível interagir, de fato, com a reportagem e com o texto? É possível atuar como coautor e

exercer plenamente o papel de interagente?

Quadro 5 – Modelo para análise de marcas da convergência nas notícias publicadas em portais

Page 97: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

81

CAPÍTULO IV: análise qualitativa

Com o modelo de análise em mãos e a revisão teórica finalizada, iniciou-se a

observação dos dados coletados nos portais em.com.br, Vrum, Divirta-se e Alterosa, quatro

veículos de destaque dentro do Portal Uai. Vale ressaltar, novamente, que por se tratar de uma

análise qualitativa, a avaliação foi dividida em dois momentos: o descritivo/interpretativo e o

compreensivo/comparativo. Em ambos, ainda que ciente da impossibilidade da imparcialidade

absoluta, o autor, que faz parte do quadro de funcionários da empresa desde 2008, alinhou-se,

com redobrada atenção, a todos os princípios éticos para o desenvolvimento do trabalho, não

abrindo mão da liberdade para o pleno exercício da pesquisa e crítica.

As ponderações sobre o conteúdo observado seguiram alinhadas às reflexões teóricas

presentes nos capítulos I e II, com certa predileção pela corrente de Henry Jenkins (2009),

principalmente no que diz respeito ao paradigma da convergência. No mais, prevaleceu o

meio termo de André Covre nas reflexões sobre interatividade e o conceito próprio que foi

lançado nesta pesquisa, a partir das discussões de Pierre Lévy e André Lemos para definir a

hipertextualidade.

Com as características embrionárias do texto produzido em cada veículo em mente e

os principais conceitos de narrativa convergente revisados, objetivou-se, com esta análise

compreender, a formação do discurso jornalístico a partir da união de diferentes linguagens na

tela, entendendo até que ponto, no caso observado, a web atuou transformando a narrativa

jornalística.

Vale ressaltar que a observação de cada notícia foi realizada incialmente de forma

individual, por isso, para melhor compreensão dos dados, a análise que se segue neste capítulo

foi dividida de acordo com as 55 reportagens coletadas e, também, com os resumos

comparativos de cada rodada de estudos. Desta forma, para facilitar a leitura, optou-se por

iniciar a análise de cada uma das notícias sempre em nova página.

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82

IV.1 Primeira rodada de análise – 21 de janeiro de 2013

IV.1.1 em.com.br

Reportagem 1

Reportagem 1 “Brasil vive a era do filho único” – Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/01/21/interna_gerais,344767/brasil

-vive-a-era-do-filho-unico.shtml

Origem Impresso. Reportagem elaborada pela repórter Patrícia Giudice, do Jornal Estado

de Minas.

Quadro 6 – Identificação da Reportagem 1

Campo I

O título, originalmente “Era do filho único”, foi modificado para que a reportagem

fosse transposta para a web, ganhando um verbo (“vive”) que tornou a frase direta e localizou

o contexto da notícia territorialmente (“Brasil”). O bigode – ou subtítulo – foi mantido

semelhante ao jornal impresso.

Campo II

Não ocorreu nenhuma alteração no lead32 em relação ao impresso, mas o mesmo não

segue o padrão usual e indica (o que, observando o restante do texto, se confirma) que a

reportagem também não. Embora a análise desse ponto possa ser irrelevante dentro dos

objetivos em voga nessa pesquisa, individualmente ela permite inferir uma mudança de

contexto na reportagem do jornal impresso, que se afasta do hard news.

O único elemento presente no campo II além do texto escrito é a fotografia, a mesma

do jornal impresso, que também repete a legenda. Além disso, não existe nenhuma forma de

interatividade ao longo do corpo do texto e nenhum conteúdo adicional em relação ao

oferecido pelo impresso foi incorporado.

32 O lead é a abertura da matéria. Nos textos noticiosos, deve incluir, em duas ou três frases, as informações essenciais que transmitam ao leitor um resumo completo do fato. Precisa sempre responder às questões fundamentais do jornalismo: o que, quem, quando, onde, como e por quê. Uma ou outra dessas perguntas pode ser esclarecida no sublead, se as demais exigirem praticamente todo o espaço da abertura. (MARTINS, 2013)

Page 99: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

83

No que diz respeito ao texto escrito, não existe nenhum tipo de tratamento ou cuidado

na adaptação da reportagem à web. A transcrição das aspas de uma especialista no assunto

debatido na notícia, assim como as dicas sobre o assunto fornecidas por uma instituição,

foram incorporadas ao texto corrido (no impresso estavam destacadas em boxes na página),

prejudicando o sentido da reportagem. Ao contrário do esperado, o hipertexto não foi

utilizado para conduzir uma leitura não-linear. Ao invés disso, a reportagem praticamente se

tornou mais linear – se é que podemos dizer isso – do que na página impressa.

Campo III

A sessão de comentários – que exige cadastro no site com submissão das postagens à

moderação – e a barra de compartilhamento nas redes sociais foram as duas únicas formas

oferecidas para interatividade. Também existe um link fixo na página (com o erro,

presumidamente de digitação, “efaça”) convidando os leitores para participar do Dzaí, como

mostra a figura abaixo:

Figura 6 – Referência à rede social é destacada na sessão de comentários, no Campo III

Análise

A indicação nessa reportagem é da transposição definida como shovelware por Ramón

Salaverría. O texto é idêntico ao do impresso e, como dito na sistematização do material

observado, ao transportá-lo para web, praticamente conseguiram torná-lo mais linear que no

jornal, não fossem as características hipertextuais que qualquer portal, ainda que estático,

oferece pelo simples fato de estar conectado à rede. A foto, único recurso adicional, não

agrega sentido mais amplo ao texto da reportagem, funcionando apenas como ilustração.

Page 100: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

84

Como definido no modelo apresentado no capítulo anterior (tópico III.3.1), tal reportagem não

figura nem mesmo no nível inicial de convergência, remetendo às bases da WWW, quando o

portal era um mero espaço de transposição do impresso. Em “Notas sobre o conceito de

transposição e suas implicações para os estudos da leitura de jornais on-line”, Ribeiro (2009)

alerta:

O fato é que, se para o produtor é possível tratar de transposições, para o leitor, não é possível transpor experiências. Ele não se engana com aparências. O leitor aprende com base no que sabe e no que lhe é apresentado. Assim que entra em contato com algo novo, põe em riste a operação de comparar. O espectro é muito amplo, estando o leitor mais para degustador do que para alguém que experimenta às talagadas (RIBEIRO, 2009, p.27).

Neste sentido, cabe destacar, logo nesta primeira análise, a confirmação de que, assim

como debatido por Ribeiro (2009), o jornalismo on-line não tem fases com marcações

temporais bem definidas, que se alteraram de acordo com sua evolução. Ao contrário, ele

experimenta todas as fases simultaneamente, sendo que, o surgimento de uma nova realidade

– como foi a Web 2.0 – não elimina as demais, que sobrevivem em algum grau na tela. É o

caso do conteúdo analisado.

Page 101: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

85

Reportagem 2

Reportagem 2 “Muro de obra desaba e casas são interditadas no Bairro Floresta” – Editoria de

Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/01/21/interna_gerais,344871/muro

-de-obra-desaba-e-casas-sao-interditadas-no-bairro-floresta.shtml

Origem Web. Reportagem produzida pela repórter Luana Cruz, do Portal Uai.

Quadro 7 – Identificação da Reportagem 2

Campo I

Elaborado para uma reportagem a ser publicada diretamente na web, o título, tido

como importante elemento de audiência, segue o padrão difundido pelos portais, com ordem

direta, informação principal destacada (“muro que desabou interditando casas”) e localização

geográfica (“Bairro Floresta”).

Campo II

O lead da reportagem segue a ordem tradicional, destacando os elementos mais

importantes da notícia, que segue a pirâmide invertida. No lugar da foto, é utilizado o recurso

de “antes e depois” (Figura 7), que permite ao interagente comparar o local pós-acidente com

uma imagem anterior, mostrando o muro que desabou ainda em construção.

Além disso, existem links sobre outras reportagens referentes ao mesmo tema (chuva

em Minas Gerais, deslizamentos) que estão relacionados em um box à esquerda do texto. Não

há referências externas. Todos levam ao próprio em.com.br.

Além da possibilidade de interagir – ainda que minimamente – com as imagens,

também existe uma indicação com hiperlink, no final do campo II, para que o interagente

participe de uma comunidade específica no Dzaí sobre o tema “chuvas em Minas”, o que

mostra certa preocupação com a interatividade dentro da notícia.

Existe, ainda, uma lista com as casas afetadas, apresentada na forma de texto corrido.

Campo III

Semelhante à reportagem 1.

Page 102: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

86

Análise

A reportagem produzida pelo portal apresentou variedade de recursos interativos e

hipertextuais ao longo do texto, o que não ocorreu com a primeira notícia observada,

transposta do Estado de Minas. O texto, porém, seguiu o padrão do jornal impresso, com

poucos recursos hipertextuais em seu corpo e primando pela leitura linear, o que pode ser

comprovado pela inserção de uma lista em forma de texto corrido (e não de links, como

esperado).

Ainda assim, ao transformar as fotografias, que em sua essência são um conteúdo

multimodal – e não multimidiático –, inserindo a possibilidade de interação na tela, ainda que

mínima, a reportagem chega ao primeiro nível de convergência, aliando multimidialidade33 e

hipertextualidade.

Figura 7 – Recurso de “antes e depois” fornece certo grau, ainda que mínimo,

de interatividade, tornando a foto um recurso multimidiático

33 Nesta análise, as fotografias quando reunidas em galerias de imagens ou animações que aproveitem o dinamismo da web, quebrando a essência estática do impresso, serão consideradas como conteúdo multimidiático e não apenas multimodal.

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Reportagem 3

Reportagem 3 “Brasileiros viajam mais e de carro novo” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/01/21/internas_economia,3447

52/brasileiros-viajam-mais-e-de-carro-novo.shtml

Origem Impresso. Reportagem elaborada pela repórter Zulmira Furbino, do Jornal Estado de Minas.

Quadro 8 – Identificação da Reportagem 3

Campo I

Assim como aconteceu na reportagem I, o título precisou ser reescrito, ganhando

verbo: o título da reportagem publicada originalmente no impresso é “Dinheiro no bolso e pé

na estrada”. O subtítulo foi mantido semelhante.

Campo II

Novamente, o único conteúdo observado além do texto escrito é a fotografia, duas no

caso desta reportagem: uma superior, em destaque acima do texto, e outra mais embaixo,

alinhada à direita. Tal modelo de diagramação (constatado também na maioria das

reportagens que se seguem) reforça um predomínio ainda forte na web do padrão “foto

superior mais texto escrito” (Figura 8), bastante semelhante à página do impresso. Essa

prática no jornalismo on-line foi constatada por Luciana Moherdaui, ainda em 1999, como a

mais comum em portais de notícia, e segue ainda muito presente, sendo observada também

nos trabalhos de Ziller (2011) e Nunes (2009).

Ainda no Campo II, o texto escrito, por sua vez, segue a pirâmide invertida e possui 16

parágrafos, parecendo cansativo na tela. Embora seja composto por dois intertítulos

destacando diferentes assuntos dentro da notícia e uma retranca (reportagem secundária), o

material não foi dividido por hiperlinks, primando-se, mais uma vez, por mantê-lo linear.

Neste campo, não existe qualquer forma de interatividade ou de hipertextualidade.

Campo III

Semelhante à reportagem 1.

Page 104: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Análise

Novamente a inferência é no sentido de shovelware. Assim como na reportagem I,

essa notícia primou por manter um caráter linear, desconsiderando todas as possibilidades

oferecidas pela web. Não fosse a sessão de comentários e a possibilidade de compartilhar a

notícia, o conteúdo seria idêntico ao apresentado pelo portal em sua fundação, em 1996.

Figura 8 – Formato com foto horizontal antes do texto escrito

ainda é o mais comum no jornalismo on-line

Page 105: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

89

Reportagem 4

Reportagem 4 “Mercado eleva previsão de inflação pela 3ª semana” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/01/21/internas_economia,3448

34/mercado-eleva-previsao-de-inflacao-pela-3-semana.shtml

Origem Agência de notícias. Reportagem da Agência Estado.

Quadro 9 – Identificação da Reportagem 4

Campo I

O título segue o padrão da web, mas a notícia não possui subtítulo.

Campo II

Assim como na reportagem anterior, o texto é considerado extenso para a web, com 11

parágrafos. Apesar de possuir três intertítulos dividindo a reportagem em diferentes tópicos,

nenhum deles foi abrigado em outra página, imperando a linearidade.

Assim como na reportagem 2, apresenta um box alinhado à esquerda destacando duas

notícias sobre o mesmo assunto publicadas no em.com.br. Não existe nenhuma referência

externa e o padrão da narrativa segue o mesmo de jornais impressos.

Campo III

Semelhante à reportagem 1.

Análise

Ainda que uma notícia produzida por agência possa soar estranha ao contexto desta

pesquisa, observá-la é interessante para verificar o tratamento que a mesma recebeu ao ser

inserida no Uai. A sensação é de poucos cuidados. Apesar da inserção de dois hiperlinks, não

foi verificada a presença de nenhum conteúdo multimidiático, sendo a narrativa da

reportagem observada “não convergente”.

Page 106: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Reportagem 5

Reportagem 5 “Maioria dos municípios mineiros não tem receitas próprias para sobreviver” –

Editoria de Política

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/01/21/interna_politica,34

4757/maioria-dos-municipios-mineiros-nao-tem-receitas-proprias-para-

sobreviver.shtml

Origem Impresso. Reportagem de Bertha Maakaroun, jornalista do Estado de Minas.

Quadro 10 – Identificação da Reportagem 5

Campo I

Assim como observado nas outras reportagens originadas no impresso, o título foi

modificado, ganhando verbo e ordem direta, além de destacar o assunto principal. O título

original era “Sem receitas para sobreviver”.

Campo II

Não apresenta nenhum recurso multimidiático, nem mesmo multimodal, como fotos,

ao contrário das reportagens 1 e 3. Novamente o texto é extenso e não é divido por hiperlinks,

trazendo apenas o box padrão com relacionamento de outras reportagens sobre o mesmo

assunto à esquerda da notícia (Figura 9). A reportagem segue a ordem da pirâmide invertida,

mas não possui localização temporal bem definida.

A assinatura do repórter está no local errado e existem espaços inesperados no texto o

que, segundo a teoria de Salaverría (2008), nos permite inferir shovelware.

Campo III

Semelhante à reportagem 1.

Análise

O material não recebeu nenhum tratamento para a web nem conteúdo multimidiático,

sendo rapidamente descartado como possível notícia convergente. No entanto, a análise da

reportagem, quando comparada com as outras transpostas do jornal analisadas até este ponto

(reportagens I e II), é importante para reforçar a ideia da ausência de temporalidade dentro das

notícias publicadas no Estado de Minas – nenhuma das três possui referências claras de data.

Page 107: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Figura 9 – Box com notícias relacionadas à esquerda do texto é a forma mais comum

de hipertextualidade presente no corpo das notícias observadas no em.com.br

Page 108: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Reportagem 6

Reportagem 6 “AGU já ajuizou 23 processos contra prefeitos que perderam o cargo” – Editoria

de Política

Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/01/21/interna_politica,34

4836/agu-ja-ajuizou-23-processos-contra-prefeitos-que-perderam-o-cargo.shtml

Origem

Web. Notícia assinada pela equipe de reportagem do CorreioWeb, portal de

notícias do Correio Braziliense, jornal que também faz parte dos Diários

Associados.

Quadro 11 – Identificação da Reportagem 6

Campo I

Título em ordem direta, com informações mais importantes da reportagem.

Campo II

Embora produzida para a web, não existe nenhum aproveitamento de conteúdo

multimidiático e a narrativa segue o padrão do impresso, sendo apenas mais breve. Utiliza o

box de relacionamentos à esquerda para trazer outras notícias sobre os dois principais assuntos

abordados: AGU e prefeitos. Não há interatividade. Os links externos também não estão

presentes, nem mesmo com o portal que produziu a notícia.

Campo III

Semelhante à reportagem 1.

Análise

Embora tenha sido trabalhado minimamente para a web, com relacionamento de

notícias e elaboração de texto mais curto, o conteúdo não apresenta os elementos necessários

para ser considerado convergente.

Page 109: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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IV.1.2 Divirta-se

Reportagem 7

Reportagem 7 “Representante de Chris Brown confirma novo dueto com Rihanna”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/01/21/noticia_musica,139757/representant

e-de-chris-brown-confirma-novo-dueto-com-rihanna.shtml

Origem Web. Reportagem replicada do portal Correio Braziliense.

Quadro 12 – Identificação da Reportagem 7

Campo I

Título em ordem direta. Não traz nenhuma referência aos conteúdos multimidiáticos

presentes no texto da reportagem.

Campo II

Seguindo a pirâmide invertida, o texto conta com a associação de conteúdo

multimidiático através da presença de áudios. Além disso, possui fotos e o relacionamento de

notícias sobre os dois artistas que são retratados na reportagem à esquerda da página, em

padrão semelhante ao observados nas primeiras notícias analisadas no em.com.br.

No corpo do texto em si, não existe nenhum relacionamento para outras notícias, mas

existem quatro “insuportáveis” hiperlinks (inclusive na legenda da foto) levando a

publicidades relacionadas com as palavras-chave. Ainda que irritante, não deixa de ser uma

opção comercial, por assim se dizer, de uso da hipertextualidade (Figura 10).

Ao evocar o interagente para escutar o áudio no final do texto, existem referências

claras às narrativas presentes no rádio e na televisão, com um tom mais informal, convidativo,

chamando para a música: “Ouça à faixa Nobody's Business”.

Campo III

O Divirta-se apresenta uma novidade em relação ao em.com.br: as notícias podem ser

comentadas diretamente de sua conta no Facebook ou com cadastro no portal. Não existe a

moderação de comentários, o que torna a comunicação mais franca e o papel do interagente,

Page 110: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

94

mais decisivo na produção das narrativas. Na reportagem observada, porém, não ocorreu

nenhuma interferência dos interagentes.

Análise

Depois da primeira rodada de análise das notícias no em.com.br, o primeiro link

coletado dentro do Divirta-se surge como alento à pesquisa.

O material multimidiático está presente, trazendo inclusive marcas textuais de outras

mídias (linguagem informal, presunção de que você está dialogando com alguém). Os

elementos (foto, áudio, texto e hiperlinks) conversam, sem se repetir. No campo III, a

sensação de interatividade, como dita, é mais franca, levando a crer em uma possível

coautoria. Somados, esses fatores – interatividade, multimidialidade e hipertextualidade –

levam o conteúdo ao segundo nível de convergência, segundo os parâmetros observados.

Figura 10 – Ao passar ponteiro do mouse sobre links presentes no corpo do texto,

portal abre publicidades relacionadas com as palavras-chave

Page 111: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

95

Reportagem 8

Reportagem 8 “Rapper é expulso de evento de posse de Obama por criticar presidente

americano”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/01/21/noticia_musica,139763/rapper-e-

expulso-de-evento-de-posse-de-obama-por-criticar-presidente-americano.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pelo Portal Divirta-se.

Quadro 13 – Identificação da Reportagem 8

Campo I

Título em ordem direta, com os elementos principais da notícia. Não traz nenhuma

referência aos conteúdos multimidiáticos presentes no texto da reportagem.

Campo II

Assim como na primeira reportagem analisada no Divirta-se, a notícia traz elemento

multimidiático: desta vez, o vídeo. No entanto, neste caso ocorre a repetição com a imagem

utilizada, já que a foto horizontal que é destacada antes do texto é uma imagem congelada

(também chamada de frame) do vídeo que surge no final do texto, não acrescentando

nenhuma informação relevante ao conteúdo.

Ainda como na reportagem I, existem as notícias relacionadas com o assunto presentes

em box alinhado à esquerda e os hiperlinks espalhados no corpo do texto, sendo esses últimos

direcionando os interagentes até publicidades. No entanto, apresenta a primeira forma de

relacionamento externo verificada no material coletado, permitindo ao interagente, partindo

do próprio texto, chegar ao site de onde as informações foram apuradas.

Nessa notícia, também ficam mais claras as marcas da influência exercida pela

televisão. O texto é mais curto, com orações menores e diretas, servindo como uma

introdução ao conteúdo do vídeo, que se torna o protagonista na reportagem. A linguagem é

simples e informal (“Nem tudo são flores”), simulando, mais uma vez, uma conversa com o

espectador: “Veja o momento(...)”.

Campo III

Page 112: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

96

Segue os mesmos padrões da reportagem I. Não houve a participação de interagentes.

Análise

Assim como a primeira notícia analisada no Divirta-se, a reportagem 2 se encontra no

segundo nível de convergência. Mais uma vez o conteúdo multimidiático foi associado com

as potencialidades da hipertextualidade e da interatividade. Porém, destacou-se negativamente

a repetição dos elementos, o que empobrece o conteúdo convergente.

No entanto, a observação mais pertinente do material está nas marcas trazidas pelas

outras mídias presentes na narrativa. Nessa reportagem, o protagonista não é o lead, nem

mesmo o restante do texto, ainda que esses sigam a pirâmide invertida. Toda expectativa do

interagente durante a leitura fica para o material multimidiático (vídeo), presente apenas no

final da reportagem. Assim, pode-se dizer que o texto funcionou como uma espécie de entrada

ao prato principal ou, no jargão dos telejornais, como uma cabeça (texto lido pelo

apresentador que introduz as reportagens exibidas nos telejornais).

Page 113: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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IV.1.3 Alterosa

Reportagem 9

Reportagem 9 “Bandidos arrombam bar no Centro de BH, mas são presos em flagrante”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/01/21/noticia-ja-1edicao,1398/bandidos-arrombam-bar-no-centro-de-

bh-mas-sao-presos-em-flagrante.shtml

Origem TV Alterosa – Jornal da Alterosa.

Quadro 14 – Identificação da Reportagem 9

Campo I

Não possui subtítulo e não faz nenhuma referência à presença de conteúdo

multimidiático.

Campo II

Contando com a presença de fotos e vídeos, a reportagem consegue repetir todos os

elementos durante a narrativa. A repetição acontece nas imagens (frames do vídeo) e no texto

corrido, que é uma transcrição com poucas alterações daquele dito pelo repórter, como mostra

o trecho abaixo:

� Texto escrito: “Emerson Daniel de Oliveira, de 26 anos, foi algemado e levado

para a delegacia. Uma pessoa que passava de ônibus pela Rua da Bahia viu o

arrombamento e acionou a polícia”.

� Texto falado no vídeo: “Emerson Daniel de Oliveira, de 26 anos, estava todo

sujo, ele foi algemado e levado para a delegacia. Uma pessoa que passava de

ônibus ali pela Rua da Bahia viu o arrombamento e acionou a polícia”.

Não existe nenhuma forma de adaptação do vídeo para o portal. A interatividade e

hipertextualidade estão presentes em grau mínimo, apenas na possibilidade de se comandar a

execução do vídeo. Há falhas técnicas graves, com qualidade ruim de frames e erros de

espaçamento indicando assim, ainda que com a edição mínima no texto, shovelware.

Campo III

Page 114: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

98

Na época da coleta de dados, o portal da Alterosa não tinha nenhuma forma de

interação. No entanto, ainda no primeiro semestre de 2013, com uma mudança de layout, o

veículo abriu espaço para a participação pelas redes sociais. Além das possibilidades de

comentar realizando um cadastro ou pelo Facebook, como no Divirta-se, foram inseridas

funcionalidades que permitem a integração com outras redes. No entanto, nenhuma das

reportagens analisadas possui tal interação.

Análise

Esse material, assim como praticamente todos os outros postados no portal da

Alterosa, configura-se no nível inicial da convergência de mídias, uma vez que, com a simples

transposição de vídeos para a web e poucos cuidados de edição, já reúne multimidialidade e

hipertextualidade. Como dito, após a coleta de dados, foi criada a possibilidade da

participação dos interagentes mediada por redes sociais, o que elevaria o conteúdo ao 2º nível

de convergência. No entanto, essa e as outras nove notícias avaliadas na Alterosa ainda estão

no primeiro nível.

No que diz respeito à narrativa, a repetição e os graves problemas de shovelware

impedem até mesmo a observação desta na tela. Existe uma tentativa equivocada do portal de

incorporar o texto lido pelo repórter como conteúdo, o que coloca o material distante dos

parâmetros mínimos de qualidade, impedindo qualquer inferência de modelo a partir da

notícia observada.

Page 115: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

99

Reportagem 10

Reportagem 10 “Dia de limpeza e de contabilizar os prejuízos após chuva em BH”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/01/21/noticia-ja-1edicao,1416/dia-de-limpeza-e-de-contabilizar-os-

prejuizos-apos-chuva-em-bh.shtml

Origem TV Alterosa – Jornal da Alterosa.

Quadro 15 – Identificação da Reportagem 10

Campo I

Não possui subtítulo e não faz nenhuma referência à presença de conteúdo

multimidiático.

Campo II

Assim como a primeira reportagem analisada da Alterosa, esse conteúdo conta com

vídeo e fotos. Desta vez, porém, as imagens estão reunidas em uma galeria de imagens,

presente no campo II através de hiperlink, o que, como dito anteriormente, proporciona um

dinamismo que faz das imagens, de acordo com o contexto discutido nesta pesquisa, um

conteúdo que pode ser considerado multimidiático.

Ainda que aproveitando das informações presentes no vídeo, o texto não apresenta

grandes repetições com os demais elementos, conduzindo o interagente (assim como na

segunda reportagem analisada no Divirta-se) ao vídeo, que exerce papel de protagonista na

reportagem.

O vídeo não apresentou nenhuma modificação ao ser publicado no site e não existem

referências cruzadas entre os veículos.

Campo III

Semelhante à reportagem I.

Page 116: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Análise

Como dito na análise da reportagem anterior, assim como as demais, essa notícia

também figura no nível inicial de convergência, unindo multimidialidade e hipertextualidade.

Porém, esse caso serve melhor para a observação da construção da narrativa que,

assim como no exemplo da reportagem II do Divirta-se, traz o vídeo como protagonista e o

texto como introdutor ao conteúdo principal.

A galeria de imagens funciona como bom elemento convergente, dando sentido de

complementaridade à utilização dos frames, uma vez que, em sua maioria, os mesmos foram

extraídos do material bruto gravado pelos cinegrafistas e não foram ao ar no telejornal.

O destaque negativo fica por conta do vídeo que foi transposto exatamente da mesma

forma como foi exibido na TV, trazendo, inclusive, a imagem da apresentadora do telejornal

aguardando, de costas, a reportagem entrar no ar após a leitura da cabeça. Embora os

produtores esperem que haja uma compreensão dos interagentes de que tal elemento foi

extraído da TV, o desleixo indica shovelware.

Page 117: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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IV.1.4 Vrum

Reportagem 11

Reportagem 11 “Rely chega ao Brasil com motor mais forte da categoria”

Link

http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/301,19,306,19/201

3/01/21/interna_noticias,45522/rely-chega-ao-brasil-com-motor-mais-forte-da-

categoria.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Vrum de Recife e

transposta ao Vrum de Minas.

Quadro 16 – Identificação da Reportagem 11

Campo I

Título em ordem direta. Subtítulo traz a informação “ao Recife”, presumindo uma

audiência local.

Campo II

Texto segue a pirâmide invertida e o estilo dos jornais impressos. Não é utilizada

nenhuma forma de hipertextualidade ou interatividade no campo II, ainda que exista um

programa de TV do portal. O único conteúdo complementar ao texto escrito é a fotografia,

com duas imagens intercaladas aos parágrafos. No terceiro parágrafo, assim como no

subtítulo, existe a referência territorial – “(...) previsão para chegada da Pick-up ao Norte-

Nordeste é(...)” –, indicando sinergia entre os portais, mas shovelware na transposição de

conteúdos.

Campo III

Semelhante ao observado nas reportagens do em.com.br, o que sugere um

administrador de portal da mesma geração. Possui, no entanto, a vantagem de não depender

da moderação de comentários, permitindo uma interação mais franca.

Page 118: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

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Análise

Assim como ocorrido em reportagem analisada do em.com.br na rodada inicial, o

material apresenta a sinergia (que não deve ser confundida com convergência) entre diferentes

portais. No entanto, até mesmo na transferência de um veículo da web para outro semelhante,

o shovelware foi observado, com a permanência de elementos de localização estranhos à

audiência do portal que recebeu o conteúdo. Além disso, nenhum material hipertextual ou

interativo foi aproveitado, sendo as fotografias o único recurso presente, o que torna a

narrativa da reportagem “não convergente”.

Page 119: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

103

IV.1.5 Resumo da primeira rodada

Durante a primeira rodada de análises, o conteúdo do Divirta-se se mostrou o mais

alinhado ao que se espera de uma narrativa convergente depois da revisão teórica presente

neste trabalho, apresentando indícios claros da influência de outras mídias na web e da

construção de uma narrativa transformada, com novos protagonistas que não o lead e o texto.

As primeiras inferências que nos parecem pertinentes são sobre o fato da Cultura

normalmente ser o local da experimentação e, também, a fonte de entretenimento, o que

coloca a linguagem da editoria mais próxima às características da televisão, por exemplo.

No restante do material, quando ocorreu alguma forma de transposição ou

convergência, o que imperou foi o shovelware, com pouca ou nenhuma preocupação ao

adaptar o conteúdo à web, o que torna a análise da narrativa pouco pertinente, uma vez que

ela mantém características como a linearidade e o uso de fotos como recursos para ilustração.

No entanto, tanto a reportagem II da Alterosa como a reportagem II do em.com.br

mostraram alguma possibilidade de transformação ao agregar um nível informativo e

interativo às fotografias presentes nas notícias. É verdade que em nenhum dos dois casos a

fotografia exerceu papel de protagonista, porém, na reportagem da editoria de Gerais, ela

dividiu o papel de informar com o texto. Já no material coletado na Alterosa, o texto, assim

como observado no Divirta-se, serviu como condutor do interagente ao protagonista: o vídeo.

Page 120: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

104

IV.2 Segunda rodada de análise – 05 de fevereiro de 2013

IV.2.1 em.com.br

Reportagem 12

Reportagem 12 “Detran quer pacote antifraude para habilitação de condutores de ônibus” –

Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/05/interna_gerais,3484

52/detran-quer-pacote-antifraude-para-habilitacao-de-condutores-de-onibus.shtml

Origem Impresso. Reportagem elaborada pelos jornalistas Mateus Parreiras e Paula

Sarapu, ambos do Estado de Minas.

Quadro 17 – Identificação da Reportagem 12

Campo I

Assim como ocorreu nas reportagens transpostas do impresso para a web e avaliadas

na primeira rodada, o título foi modificado, ganhando verbo e as informações mais

importantes. O subtítulo foi mantido.

Campo II

Não existe nenhum conteúdo multimidiático, nem mesmo fotos. O texto é extenso e

linear, seguindo os moldes do impresso. Apesar de ser composta por quatro intertítulos, a

notícia não foi dividida em hiperlinks. A única forma de hipertextualidade está no box à

esquerda, com apenas uma reportagem relacionada. Não foi feita nenhuma modificação no

texto em relação ao jornal.

Campo III

Semelhante à rodada I.

Page 121: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

105

Análise

Novamente o padrão encontrado foi o de transportar, com praticamente nenhuma

modificação (apenas o título foi alterado), a reportagem do impresso para a web. Não foi

produzida nenhuma forma de conteúdo multimidiático e a narrativa não sofreu alteração. O

material não serve para a observação da convergência na narrativa.

Page 122: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

106

Reportagem 13

Reportagem 13 “Estudante morreu por intoxicação de etanol em república de Ouro Preto” –

Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/05/interna_gerais,348524/estud

ante-morreu-por-intoxicacao-de-etanol-em-republica-de-ouro-preto.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela repórter Luana Cruz, do Portal Uai.

Quadro 18 – Identificação da Reportagem 13

Campo I

O título apresenta uma novidade em relação às demais reportagens relacionadas até

aqui, com tempo verbal no pretérito perfeito.

Campo II

Possui uma fotografia como único recurso multimodal, mas não existe legenda ou

referência à mesma ao longo do texto, cabendo ao interagente deduzir que se trata do jovem

morto sobre o qual trata a notícia. Mais uma vez, assim como nas outras reportagens do

em.com.br, a principal forma de uso da hipertextualidade é o relacionamento e reportagens

através do box à esquerda da página.

No entanto, é interessante observar que existe um relacionamento do fim da

reportagem (figura 11), sobre outra notícia comum ao tema. A linguagem utilizada para criar

o hiperlink chama a atenção pela informalidade e tom de ‘oralidade’: “Veja as novas regras

que a Ufop impôs após mortes em repúblicas”.

Figura 11 – Relacionamento está presente no box à esquerda e no fim da reportagem

Page 123: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

107

Campo III

Semelhante à rodada I.

Análise

Embora dê sinais de utilização da hipertextualidade e incorpore algumas

características de outras mídias, como o tom mais informal ao convidar o interagente a ver

outra notícia, a reportagem não utiliza elementos multimidiáticos em sua narrativa, como já

dito, a base para a convergência de mídias.

Page 124: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

108

Reportagem 14

Reportagem 14 “Gasolina tem alta média de 4,25% em BH” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/05/internas_economia,3484

65/gasolina-tem-alta-media-de-4-25-em-bh.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada pelas repórteres Carolina Mansur e Geórgea

Choucair.

Quadro 19 – Identificação da Reportagem 14

Campo I

Nessa reportagem o título não foi modificado, uma vez que a mesma foi publicada no

impresso com os elementos “exigidos” pela audiência: informação principal, verbo, ordem

direta.

Campo II

Mais uma vez não foi encontrada nenhuma forma de hipertextualidade no campo II,

nem mesmo com o relacionamento de reportagens no box à esquerda. Com dois intertítulos, a

notícia segue a narrativa linear, sistematizando as informações da mais importante até a

menos importante.

Além da foto (que, mais uma vez, tem mera função ilustrativa), a notícia também

recebeu um infográfico, elaborado para a versão publicada no portal, organizando os dados

mais relevantes sobre o aumento da gasolina.

Essa foi a primeira vez que se observou, dentro das reportagens avaliadas no

em.com.br e transpostas do impresso, a agregação de algum conteúdo. Porém, a peça é

estática (Figura 12) e não traz nenhuma forma de interação. Além do mais, as informações

que ele sistematiza estão no texto corrido, provocando repetição. Com isso, a narrativa figura

fora do padrão de convergência esperado por essa pesquisa.

Campo III

Semelhante à rodada I.

Page 125: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

109

Análise

Embora a reportagem tenha mostrado, pela primeira vez entre as notícias analisadas,

certo cuidado do portal com a transposição para a web, mais uma vez não houve a utilização

de nenhum recurso multimidiático relevante para que a narrativa fosse considerada

convergente.

Ainda que o infográfico tenha sido incorporado ao conteúdo, sua formatação estática

não foi suficiente para transformar a narrativa, sendo este, publicado no mesmo padrão em

que poderia ter aproveitado no impresso. Além disso, não há nenhuma referência no material

publicado no Estado de Minas ao conteúdo extra que está presente na web.

Figura 12 – Infográfico incorporado à notícia é estático e não

apresenta nenhum grau de interação

Page 126: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

110

Reportagem 15

Reportagem 15 “Eike perde o posto de 3º mais rico do Brasil” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/05/internas_economia,3485

53/eike-perde-o-posto-de-3-mais-rico-do-brasil.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela jornalista Fernanda Borges, do Portal Uai.

Quadro 20 – Identificação da Reportagem 15

Campo I

Segue a ordem direta, com principais informações da notícia, mas presume o

conhecimento prévio do interagente para associar ‘Eike’ com a figura do empresário Eike

Batista.

Campo II

A reportagem explora bem os recursos hipertextuais, listando outras notícias sobre o

assunto à esquerda do texto e relacionando um conteúdo externo no corpo da matéria. É

utilizada uma foto sem legenda (assim como na reportagem II da segunda rodada) e um

infográfico estático. Não foi verificada nenhuma forma de interatividade. O texto segue o

padrão do jornal impresso.

Campo III

Semelhante à rodada I.

Análise

Embora tenha explorado bem os recursos hipertextuais, tal reportagem figura apenas

como conteúdo da web e não como conteúdo convergente, uma vez que não traz nenhuma

forma de multimidialidade no campo II. A foto, assim como nos outros casos, serve apenas

como ilustração. Já o infográfico é estático.

Page 127: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

111

Reportagem 16

Reportagem 16 “Tribunal de Contas de MG quer cobrar mais de R$ 8 milhões de servidores

públicos” – Editoria de Política

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/05/interna_politica,348459/tri

bunal-de-contas-de-mg-quer-cobrar-mais-de-r-8-milhoes-de-servidores-

publicos.shtml

Origem Impresso. Notícia assinada pela repórter Isabella Souto, do Jornal Estado de

Minas.

Quadro 21 – Identificação da Reportagem 16

Campo I

Novamente o título foi modificado para publicação na web, trazendo praticamente um

resumo da notícia.

Campo II

Mais uma vez há a utilização do box à esquerda para relacionar notícias, mas a

hipertextualidade no campo II para aí. Não existe nenhuma forma de relacionamento ou

interatividade. O texto foi replicado na íntegra do impresso e não existem referências

temporais no lead, assim como os demais observados transpostos ao em.com.br. O único

recurso utilizado é uma foto, que não traz nenhuma relevância à narrativa que, por sua vez,

não pode ser considerada convergente.

Campo III

Semelhante à rodada I.

Análise

Uma inferência que ganha corpo com o avanço das análises diz respeito à narrativa do

impresso, que não é alvo desta pesquisa. Acontece que, nos casos analisados de notícias

traspostas até este ponto, observa-se a mesma tendência de esvaziar o lead do jornal Estado de

Minas de referência temporais, evitando assim uma competição com a web, tida como o

espaço do hard news.

Page 128: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

112

No mais, novamente a ausência de conteúdos multimidiáticos elimina qualquer

possibilidade de convergência na narrativa.

Page 129: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

113

Reportagem 17

Reportagem 17 “Liberação de quase R$ 2 bilhões para estados e municípios "tranca" pauta do

Senado” – Editoria de Política

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/05/interna_politica,348561/li

beracao-de-quase-r-2-bilhoes-para-estados-e-municipios-tranca-pauta-do-

senado.shtml

Origem Web. Notícia assinada pelo portal “com informações da Agência Senado”.

Quadro 22 – Identificação da Reportagem 17

Campo I

Título em ordem direta e com as principais informações. Assim como tem sido usual

nos demais títulos até aqui – na maioria dos casos, graças à própria ausência de

multimidialidade – não faz qualquer referência a conteúdos multimídia.

Campo II

Reescrito e editado a partir de informações disponibilizadas em texto da Agência

Senado, o material segue o padrão de relacionar notícias sobre o mesmo assunto em box

próprio, mas não oferece nenhuma outra forma de hipertextualidade ou interatividade no

campo II. Não há conteúdo multimidiático.

Campo III

Semelhante à rodada I.

Análise

Novamente a ausência de conteúdos multimidiáticos torna a narrativa irrelevante

dentro da observação pretendida sobre convergência de mídias. No entanto, vale destacar que,

como visto em outros casos, a simples incorporação de um conteúdo multimodal (como as

fotos) não garante que a narrativa se torne convergente. Da mesma forma, o fato da narrativa

não ser convergente não significa que a notícia não possa ser convergente, uma vez que sua

simples transposição indica que ela faz parte do processo, ainda que em outro contexto

Page 130: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

114

(convergência de produtos e rotinas, por exemplo), o que não é objetivo desta pesquisa

verificar.

Page 131: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

115

IV.2.2 Divirta-se

Reportagem 18

Reportagem 18 “Grupo mineiro de maracatu resgata repertório clássico do ritmo em CD”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/05/noticia_musica,140132/grupo-

mineiro-de-maracatu-resgata-repertorio-classico-do-ritmo-em-cd.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do Jornal Estado de

Minas.

Quadro 23 – Identificação da Reportagem 18

Campo I

Assim como as demais matérias transpostas do Jornal Estado de Minas, o título sofreu

alteração. Pela primeira vez, a sugestão de conteúdo multimidiático na reportagem está

presente no campo I.

Campo II

Entre as reportagens do Divirta-se já avaliadas, essa é a primeira a não apresentar

nenhuma presença de conteúdo multimidiático. Apesar da sugestão de um CD como principal

tema da notícia, a expectativa não se cumpre no campo II. No mais, existe o mesmo uso da

hipertextualidade observado anteriormente, com inserção de relacionamentos em box à

esquerda e de publicidade no corpo do texto.

Outro destaque diz respeito à adaptação do texto para a web, com a substituição, por

exemplo, de marcas temporais do impresso (ontem, hoje) por referências mais apropriadas ao

novo meio, como “nesta terça-feira”.

Campo III

Semelhante à primeira rodada de análises.

Page 132: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

116

Análise

Sem a presença de nenhum conteúdo multimidiático, pela primeira vez a narrativa

observada dentro do Divirta-se não figurou nem mesmo no grau inicial de convergência.

Embora haja o uso da hipertextualidade, faltou o principal: a matéria prima para abastecer a

narrativa.

Page 133: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

117

Reportagem 19

Reportagem 19 “'Tainá' é a primeira franquia do cinema nacional a alcançar o terceiro filme”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/cinema/2013/02/05/noticia_cinema,140126/taina-e-a-

primeira-franquia-nacional-a-alcancar-o-terceiro-filme.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do Jornal Estado de

Minas.

Quadro 24 – Identificação da Reportagem 19

Campo I

Novamente o título é modificado para transposição à internet e, assim como na

reportagem I desta rodada de análises, cria a expectativa de conteúdo multimidiático no

interagente ao abordar um filme como tema da reportagem.

Campo II

Nessa reportagem, a expectativa do interagente se concretiza com a presença de um

trailer do longa-metragem no final do campo II. De fato, o vídeo acaba ocupando papel de

destaque, mas não tem força suficiente para ser o protagonista dentro da narrativa, como

observado na primeira rodada de análises do Divirta-se e da Alterosa.

Os hiperlinks seguem o mesmo padrão que está presente nas demais reportagens do

canal, com relacionamentos divididos entre notícias e publicidade. Não há nenhuma forma de

interatividade. As fotos, no entanto (quatro ao longo do texto) atuam complementando a

reportagem.

Negativamente se destaca a falta de cuidado com o texto ao reproduzi-lo na internet.

Novamente, assim como foi observado em notícias analisadas no em.com.br, a notícia conta

com vários intertítulos, o que permitiria um uso melhor da hipertextualidade, mas a opção foi

de tentar manter a leitura linear.

Campo III

Semelhante à primeira rodada de análises.

Page 134: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

118

Análise

A narrativa observada na reportagem pode ser considerada no primeiro nível de

convergência, uma vez que aliou multimidialidade e hipertextualidade. No entanto, os

interagentes não interviram no conteúdo. Tal fato pode ser explicado pelo shovelware, uma

vez que é possível inferir pela notícia diagramada de forma imprópria à web, primando pela

leitura linear, que esses tenham ‘perdido o interesse’, por assim se dizer, ao longo do texto,

muito extenso para o portal.

Ainda que o vídeo (figura 13), como dito, exerça um papel importante, ele não é

suficiente para roubar o protagonismo do texto.

Figura 13 – Chamada “assista ao trailer” faz ponte entre texto escrito e oral

Page 135: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

119

IV.2.3 Alterosa

Reportagem 20

Reportagem 20 “Problemas no Mineirão são alvo de inquérito do Ministério Público”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/02/05/noticia-ja-1edicao,2046/problemas-no-mineirao-sao-alvo-de-

inquerito-do-ministerio-publico.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 25 – Identificação da Reportagem 20

Campo I

Título em ordem direta. Não possui nenhuma referência de conteúdo multimidiático.

Campo II

Sem qualquer recurso hipertextual, a reportagem limita a interatividade às

possibilidades oferecidas pela interface no player de execução do vídeo. Além deste recurso,

presente em todas as reportagens no portal da Alterosa, existe uma foto, usada apenas para

ilustrar a página, sem acréscimo nenhum de informação relevante à narrativa.

O vídeo, assim como todos os outros observados na Alterosa, é transposto da TV sem

nenhuma edição. O único cuidado foi em evitar a aparição da apresentadora do telejornal

antes que a reportagem começasse a ser executada, o que não se repete no fim.

Novamente o protagonista é o vídeo. O texto escrito, nesse caso, mais do que exercer

papel semelhante à cabeça de uma reportagem no telejornalismo é a própria, sendo mera cópia

do texto lido pela apresentadora no ar.

Campo III

Semelhante à primeira rodada de análises.

Análise

A narrativa figura no grau inicial de convergência, uma vez que, como já dito, a mera

transposição de um vídeo associada à hipertextualidade que a web oferece já é suficiente para

Page 136: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

120

que isso ocorra. É interessante observar ainda que, mais uma vez, o vídeo foi o protagonista

dentro da narrativa e, exercendo este papel, trouxe um tom mais informal à mesma, com o

predomínio do texto da TV.

Page 137: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

121

Reportagem 21

Reportagem 21 “Pílula anticoncepcional proibida na França continua sendo vendida no Brasil”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/02/05/noticia-ja-1edicao,2051/pilula-anticoncepcional-proibida-na-

franca-continua-sendo-vendida-no-brasil.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 26 – Identificação da Reportagem 21

Campo I

Título em ordem direta. Não possui nenhuma referência de conteúdo multimidiático.

Campo II

Assim como na reportagem I, não possui nenhuma forma de hipertextualidade ou

interatividade além das permitidas pela publicação do vídeo na web. Mais uma vez o texto

funciona apenas como cabeça do vídeo, que exerce papel de protagonista dentro da

reportagem. Neste caso, a edição teve o cuidado de editar começo e fim, cortando a imagem

do apresentador e, além disso, o texto do vídeo não apresenta problemas de temporalidade ou

localização, sendo apropriado à web.

Campo III

Semelhante à primeira rodada de análises.

Análise

Essa reportagem reforça a lista de exemplos em que o vídeo é o principal produto

dentro da narrativa. Embora não exista a utilização de hipertextos ou alguma forma de

complementaridade ao conteúdo, o cuidado na edição do vídeo associado ao uso da cabeça

para introduzi-lo se mostrou suficiente para cumprir o objetivo proposto. A narrativa

observada figura no estágio inicial de convergência.

Page 138: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

122

IV.2.4 Vrum

Reportagem 22

Reportagem 22 “Volkswagen decide tirar do ar propaganda que irritou protetores de animais”

Link

http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/02/05/interna_noticia

s,47275/volkswagen-decide-tirar-do-ar-propaganda-que-irritou-protetores-de-

animais.shtml

Origem Web. Reportagem de Marcello Oliveira, jornalista do Portal Vrum.

Quadro 27 – Identificação da Reportagem 22

Campo I

Apresenta título em ordem direta, com as principais informações, e sugere a presença

de conteúdo multimidiático ao relacionar “do ar” e “propaganda”. A expectativa que se cria é

de assistir a propaganda.

Campo II

Apesar do campo I, a notícia não cumpre a expectativa e omite o vídeo da página, o

que, desconsiderando o discurso convergente, pode ter sido estratégia inteligente do ponto

vista jornalístico, uma vez que se trata de uma peça publicitária polêmica, que seria retirada

do ar pela própria montadora que criou o comercial.

Para suprir a ausência do vídeo, foi utilizada uma foto da mesma campanha

publicitária que, somada ao texto, cumpriu bem o objetivo de explicá-lo (figura 14).

No mais, não há a presença de conteúdos multimidiáticos, tornando a narrativa “não

convergente”.

Contudo, é interessante observar o grau de informalidade e oralidade incorporado ao

texto com expressões como “está dando o que falar na internet”. Além disso, para relembrar

outra notícia semelhante, optou-se pela hipertextualidade no texto escrito, relacionando o

conteúdo e quebrando o caráter linear da leitura, ainda que já no fim do campo II.

Page 139: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

123

Figura 14 – Foto cumpriu bem o propósito dentro da reportagem

Campo III

A possibilidade de interagir sem nenhum filtro – gatekeeper – mostrou sua

potencialidade nessa reportagem. Ainda que a narrativa não possa ser considerada

convergente, ela é reconstruída pelos interagentes no campo de comentários através de

debates que se guiam por duas correntes opostas: uma defendendo o comercial e outra

criticando. É interessante observar como os argumentos do texto são rebatidos e ampliados,

dando continuidade à narrativa no campo III.

Análise

Mais uma vez não se viu narrativa convergente dentro do Vrum. No entanto, vale

destacar a influência das características do texto da TV dentro da notícia o que, no entanto,

não é suficiente para se falar em nova ou transformada narrativa.

Page 140: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

124

IV.2.5 Resumo da segunda rodada

Depois de nova rodada de análise, fortalece o pensamento de que a presença da

narrativa convergente se dá de maneira mais sólida dentro do Divirta-se, que faz melhor uso

da hipertextualidade e dos materiais multimidiáticos.

Quando consideradas também as notícias analisadas no em.com.br, ao contrário do

esperado, tem se notado certa modificação nos padrões jornalísticos das narrativas presentes

nos textos originados no impresso e não naqueles construídos na web. A principal

modificação que tem sido observada diz respeito à temporalidade, o que nos permite inferir,

dentro do contexto convergente, certa predileção do Estado de Minas por se afastar da

cobertura de hard news, o que fomenta novas pesquisas e investigações além das propostas

neste trabalho. No caso das notícias replicadas na web, impera o shovelware, gerando um

material convergente, mas não uma narrativa convergente.

Por fim, principalmente nas notícias da TV Alterosa (e em algumas do Divirta-se) foi

possível observar, até o momento, a incorporação do vídeo como elemento principal da

reportagem, deixando o texto escrito em segundo plano. Como dito anteriormente, tal fator

ainda não é suficiente para apontamentos no sentido de uma transformação na narrativa, mas

ilustra bem as possibilidades que surgem com a construção de um discurso convergente.

Page 141: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

125

IV.3 Terceira rodada de análise – 20 de fevereiro de 2013

IV.3.1 em.com.br

Reportagem 23

Reportagem 23 “MP anuncia ofensiva para barrar poluidor do Velho Chico” – Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/20/interna_gerais,351653/mp-

anuncia-ofensiva-para-barrar-poluidor-do-velho-chico.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Luiz Ribeiro, da sucursal do Estado de Minas

de Montes Claros.

Quadro 28 – Identificação da Reportagem 23

Campo I

O título, apesar de ter sido modificado em relação ao original no impresso, apresenta

elementos com informações “incompletas” para o padrão utilizado na web, com termos que

podem parecer estranhos ao leitor desacostumado com o assunto, como “MP” (Ministério

Público) e “Velho Chico” (Rio São Francisco). Além disso, não apresenta subtítulo ou

referências a conteúdos multimidiáticos.

Campo II

Novamente a referência temporal perde espaço na reportagem. O texto escrito não

sofreu nenhuma alteração para ser transposto à web e, mais uma vez, a escolha é pela

composição com uma fotografia, que não tem legenda e não agrega informações de grande

relevância ao conteúdo.

A hipertextualidade está presente no box de relacionamentos posicionado à esquerda

da página e traz cinco reportagens sobre o mesmo assunto (a poluição do Rio São Francisco).

Não existe conteúdo multimidiático.

Page 142: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

126

Campo III

A interatividade acontece no espaço de comentários, onde um interagente traz novo

ponto de vista para a discussão. No entanto, como dito anteriormente, o fato das participações

serem moderados impede qualquer inferência sobre a real interferência do interagente no

conteúdo.

Análise

Mais uma vez, o shovelware operou, com poucos cuidados na transposição de

conteúdos. A notícia não apresenta os elementos necessários para que sua narrativa seja

considerada convergente.

Page 143: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

127

Reportagem 24

Reportagem 24 “Carreta tem problema mecânico e pega fogo na BR-381” – Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/20/interna_gerais,351760/carre

ta-tem-problema-mecanico-e-pega-fogo-na-br-381.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela jornalista Luana Cruz, do Portal Uai.

Quadro 29 – Identificação da Reportagem 24

Campo I

Título em ordem direta e sem referência a conteúdos multimidiáticos.

Campo II

Novamente, as reportagens relacionadas à esquerda são a forma mais presente de

hipertextualidade dentro da reportagem. No entanto, é observada pela segunda vez no campo

II uma referência à rede social do grupo, o Dzaí, convidando os interagente a compartilharem

conteúdos relacionados com acidentes de trânsito. O texto escrito é curto, com apenas dois

parágrafos.

Campo III

Idem aos demais onde não há participação do interagente.

Análise

Com o avanço das análises, cresce a percepção da ausência de narrativas consideradas

convergentes dentro do em.com.br, embora, como já dito, o discurso impere na rotina de

produção na empresa. Essa reportagem reforça, ainda, a inferência de que os textos factuais

produzidos para a web tem se mantido fiéis aos padrões do impresso, enquanto este tem

priorizado a produção de reportagens consideradas frias (analíticas, de assuntos que não estão

na pauta do dia).

Page 144: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

128

Reportagem 25

Reportagem 25 “Saiba como economizar até R$ 20,60 para abastecer em BH” – Editoria de

Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/20/internas_economia,3516

73/saiba-como-economizar-ate-r-20-60-para-abastecer-em-bh.shtml

Origem Jornal impresso. Notícia assinada pelo repórter Pedro Rocha Franco, do Estado de

Minas.

Quadro 30 – Identificação da Reportagem 25

Campo I

Entre os títulos observados no em.com.br é um dos que incorpora maior grau de

informalidade, se assemelhando muito ao texto da TV ao “conversar” com o interagente:

“saiba como economizar”.

Campo II

Segue o padrão mais comum nas reportagens do em.com.br – e, como visto, nos

demais portais jornalísticos – com foto horizontal acima do texto escrito e links destacados

em box próprio, alinhado no terceiro parágrafo à esquerda. A foto tem caráter estático e não é

utilizado nenhum recurso multimidiático.

Embora possua dois intertítulos, mais uma vez a opção foi de seguir o padrão do

jornalismo praticado no impresso e manter uma construção linear da reportagem, preterindo

uma possível divisão hipertextual.

Campo III

Idem aos demais onde não há participação do interagente.

Análise

Embora não possua uma narrativa convergente, a notícia é interessante por trazer

referências factuais ao jornal impresso – o que, espantosamente, tem sido raro nas reportagens

coletadas.

Page 145: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

129

Reportagem 26

Reportagem 26 “Concursos oferecem 20 mil vagas em todo o país e salários chegam a R$ 24 mil”

– Editoria de Economia

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/02/20/internas_economia,3517

58/concursos-oferecem-20-mil-vagas-em-todo-o-pais-e-salarios-chegam-a-r-24-

mil.shtml

Origem Web. Reportagem transposta do CorreioWeb, portal do Correio Braziliense.

Quadro 31 – Identificação da Reportagem 26

Campo I

Título em ordem direta, com as principais informações presentes e nenhuma referência

a conteúdos multimidiáticos.

Campo II

Mais uma vez é notória a ausência do uso de material multimidiático dentro da

reportagem e é fácil descartar a narrativa dentro dos critérios de convergência utilizados nesta

pesquisa. No entanto, é interessante observar no conteúdo como o shovelware pode imperar

mesmo em uma notícia transposta entre portais. Com a temática “concursos” como tema

central, a reportagem lista, em texto escrito e corrido (ou seja, sem nenhum cuidado gráfico

ou de diagramação), as principais oportunidades abertas no país, 51 ao todo. Dessas, quatro

concursos aparecem com os sites onde foram publicados os editais – informação pertinente

aos interagentes – relacionados por hipertexto, enquanto outras 46 (figura 15) tiveram o

endereço eletrônico informado, mas não relacionado, desprezando uma lógica básica da web.

Campo III

Há participação do interagente, mas sem intervenções na narrativa.

Page 146: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

130

Figura 15 – Notícia traz o endereço eletrônico dos sites com editais, mas

não faz hiperlinks em 46 itens, como nos três exemplos acima

Análise

Nas observações feitas até esta terceira rodada, tem sido constatado um problema mais

visível de shovelware dentro das notícias de Economia. Uma inferência possível para explicar

que a falta de cuidado seja mais notória nessa editoria está na essência do jornalismo

econômico, que tem por base a utilização de muitos dados analíticos que, quando não

reorganizados corretamente durante uma transposição, acabam por dificultar a compreensão

da narrativa ou a busca de informações, como foi o caso dessa reportagem.

Page 147: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

131

Reportagem 27

Reportagem 27 “Vereadores mostram preocupação com imagem da Casa após cassação de

Burguês” – Editoria de Política

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/20/interna_politica,351657/ve

readores-mostram-preocupacao-com-imagem-da-casa-apos-cassacao-de-

burgues.shtml

Origem Impresso. Notícia assinada pela redação do Estado de Minas.

Quadro 32 – Identificação da Reportagem 27

Campo I

Título em ordem direta, com resumo da notícia. Novamente, foi modificado em

relação ao original no jornal impresso.

Campo II

Mais uma vez a notícia segue padrão idêntico ao impresso, com nenhuma alteração

para ser transposta à web (apenas o Campo I tem sido modificado). Não existe nenhum

conteúdo multimidiático e a única forma de hipertextualidade presente está no box com

notícias relacionadas à esquerda. Nenhuma outra forma de interatividade está presente neste

campo.

Campo III

Das reportagens avaliadas até aqui, é a que possui maior participação dos interagentes,

com 103 comentários. No entanto, como dito anteriormente, é complicado avaliar a real

liberdade de intervenção que o campo permite, uma vez que os comentários são moderados.

Além disso, cabe observar que, ao contrário das demais, a editoria de Política traz uma

mensagem de alerta sobre a responsabilidade dos autores sobre os comentários e a proibição

de “propagandas de candidatos”.

Análise

Assim como em quase a totalidade dos dados coletados no em.com.br, essa

reportagem parece útil para perceber outras nuances do jornalismo on-line, como uma

Page 148: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

132

presumida “falsa participação” do interagente ou a transposição de notícias para a web, mas

não a narrativa convergente.

Page 149: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

133

Reportagem 28

Reportagem 28 “STF dá dez dias para Congresso prestar informações sobre reforma da

Previdência” – Editoria de Política

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/02/20/interna_politica,351761/stf

-da-dez-dias-para-congresso-prestar-informacoes-sobre-reforma-da-

previdencia.shtml

Origem Agência de notícias. Agência Brasil.

Quadro 33 – Identificação da Reportagem 28

Campo I

Título em ordem direta, com elementos principais da notícia. Não possui subtítulo.

Campo II

Texto escrito é apresentado sem nenhum recurso multimidiático. Também não possui

fotografia ou qualquer forma de relacionamento de conteúdos, hipertextualidade e

interatividade.

Campo III

Idem aos demais onde não há participação do interagente.

Análise

De todas reportagens analisadas do em.com.br até este ponto é a que apresenta maior

grau de shovelware, com absolutamente nenhum cuidado de adaptação do texto à web.

Page 150: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

134

IV.3.2 Divirta-se

Reportagem 29

Reportagem 29 “Mulheres domam a MPB e mantêm a importância do traço pessoal na

interpretação”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/20/noticia_musica,140518/mulheres-

domam-a-mpb-e-mantem-a-importancia-da-interpretacao-no-genero.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Ailton Magioli, do EM Cultura.

Quadro 34 – Identificação da Reportagem 29

Campo I

Assim como ocorre nas reportagens transpostas do impresso para o em.com.br, os

títulos também são modificado na transposição realizada no Divirta-se, de modo a atingir o

padrão esperado pela audiência na web. Não há referências aos conteúdos multimidiáticos

presentes no campo II.

Campo II

Ao contrário da maioria absoluta dos conteúdos avaliados no em.com.br até aqui, no

Divirta-se, ao que parece, o cuidado não se resume na troca de títulos. Nesta reportagem

especificamente, a sensação é de alteração de propósito (repurposing), com o campo II bem

equilibrado (Figura 16), com elementos divididos através de conteúdos multimidiáticos – três

áudios – e fotos, que dão um tom de complementaridade à narrativa, além de hipertextos

agregados ao conteúdo.

Assim como nas demais reportagens observadas do Divirta-se, o hipertexto foi

incorporado em box à esquerda, com notícias relacionadas, e também dentro do texto, em

forma de publicidade. Não existe nenhuma forma mais avançada de interatividade neste

campo, além da permitida pelo controle dos áudios. Também não existe nenhuma referência

remetendo ao jornal impresso.

Ao integrar os conteúdos multimidiáticos, a reportagem traz marcas próprias do meio

de origem (no caso, o rádio), como a presunção de oralidade (de um diálogo com o

interagente) e a informalidade, característica mais presente até aqui: “Ouça ‘Amar Alguém’”.

Page 151: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

135

No mais, as marcas são próprias do jornal impresso, com o texto atuando como protagonista

na reportagem.

Figura 16 – Campo II foi bem equilibrado com o uso das imagens,

conteúdos multimidiáticos e hipertextos

Campo III

Como dito na primeira rodada de análises, a possibilidade do interagente de atuar a

partir das redes sociais dá novo aspecto, mais franco, ao campo III. Na notícia avaliada, os

interagentes, de fato, agem reconstruindo a narrativa. Além das críticas ao texto publicado

pelo portal, eles incorporam novos elementos, como cantoras que ficaram de fora da relação

trazida pelo meio de comunicação, muito provavelmente por causa de decisões editoriais ou

de espaço.

Análise

Com a reconstrução (no caso, ampliação) da notícia através da atuação dos

interagentes, a inserção de material multimidiático e o aproveitamento das características

hipertextuais, a reportagem é a primeira observada que tem sua narrativa presente no nível III

de convergência, uma vez que é possível notar a cuidadosa alteração de propósito do material

ao contexto da tela. Tal fator é bem ilustrado pelo relacionamento presente no jornal

Page 152: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

136

impresso, que convida o leitor a acessar ao portal e consumir o conteúdo extra, no caso

multimidiático. Na verdade, o texto presente na web apenas não completa o ciclo convergente

(chegando ao nível IV) por não remeter o interagente novamente ao impresso ou a algum

outro veículo do grupo, encerrando o ciclo de convergência da narrativa naquele conteúdo.

Tal observação não significa que a narrativa seja perfeita do ponto de vista

convergente. Ao contrário, a repetição do texto – semelhante ao do jornal impresso – é um elo

fraco. No entanto, é importante reconhecer o mérito de diversificar um conteúdo e torná-lo

convergente a partir da transposição.

Page 153: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

137

Reportagem 30

Reportagem 30 “Renegado faz show gratuito no Palácio das Artes”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/02/20/noticia_musica,140521/renegado-

faz-show-gratuito-no-palacio-das-artes.shtml

Origem Redação EM Cultura.

Quadro 35 – Identificação da Reportagem 30

Campo I

Título em ordem direta e sem referências ao conteúdo multimidiático presente no

Campo II.

Campo II

Assim como na reportagem anterior, essa também traz a sensação de alteração de

propósito. Mais uma vez, embora transposto do impresso à tela, o texto foi trabalhado para

exercer bem a nova função, recebendo conteúdo hipertextual e multimidiático. Os elementos

– foto, texto escrito e áudio – não repetem informações e trazem um grau importante de

complementaridade entre si.

Campo III

Não houve nenhum tipo de interferência do interagente.

Análise

Notícia no nível III de convergência, com multimidialidade, hipertextualidade,

interatividade e a alteração de propósito da reportagem. No entanto, não surge nenhuma

referência aos demais veículos, quebrando o ciclo.

Page 154: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

138

IV.3.3 Alterosa

Reportagem 31

Reportagem 31 “Francês adotivo procura família em Mercês na Zona da Mata”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/02/20/noticia-ja-1edicao,2877/frances-adotivo-procura-familia-em-

merces-na-zona-da-mata.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 36 – Identificação da Reportagem 31

Campo I

Título em ordem direta, com a supressão, presumidamente por erro de digitação, de

uma vírgula: “em Mercês, na Zona da Mata”. Não faz referência ao vídeo no Campo II.

Campo II

E o shovelware segue “imperando” dentro da Alterosa. Assim como observado nas

primeiras avaliações, o vídeo não foi editado para a web e, outra vez, “sobra” a imagem da

apresentadora do telejornal de costas (Figura 17) para o interagente.

Figura 17 – Vídeo começa com a apresentadora do telejornal de costas para a tela

Além disso, também ocorre repetição entre o texto falado, o texto escrito e a legenda

da foto, indicando poucos cuidados ao postar o conteúdo na web.

Campo III

Idem às rodadas anteriores.

Page 155: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

139

Análise

Outra vez o vídeo é protagonista no site da Alterosa e, como dito anteriormente, sua

simples utilização associada às possibilidades hipertextuais da web já torna a narrativa

convergente. No entanto, todo o potencial que essa narrativa traz é eliminado pela excessiva

falta de cuidados que tem sido observada dentro do portal.

Page 156: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

140

Reportagem 32

Reportagem 32 “Homem é executado no meio da rua no Bairro São Geraldo”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/02/20/noticia-ja-1edicao,2876/homem-e-executado-no-meio-da-rua-no-

bairro-sao-geraldo.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 37 – Identificação da Reportagem 32

Campo I

Título em ordem direta, com grau de informalidade próprio da TV: “no meio da rua”.

Campo II

Novamente os conteúdos se repetem e sobrepõe um ao outro, indicando shovelware. O

texto escrito e o texto oral são exatamente os mesmos. Não existe nenhuma forma de

hipertextualidade “adicional” no Campo II, além daquela naturalmente proporcionado pelo

portal.

Campo III

Idem às rodadas anteriores.

Análise

A notícia repete a realidade registrada na anterior, com o shovelware eliminando toda

e qualquer potencialidade da narrativa em grau primário de convergência.

Page 157: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

141

IV.3.4 Vrum

Reportagem 33

Reportagem 33 “Fiat prepara a chegada do novo Linea”

Link http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/02/20/interna_noticia

s,47339/fiat-prepara-a-chegada-do-novo-linea.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada pelo repórter fotográfico Marlos Ney Vidal.

Quadro 38 – Identificação da Reportagem 33

Campo I

Título em ordem direta, sem nenhuma referência a conteúdo multimidiático.

Campo II

A reportagem não apresenta nenhum conteúdo multimidiático. Três fotos ilustram e

trazem sentido ao texto escrito, que trata do lançamento do automóvel Linea, “personagem”

das fotografias. Mais uma vez no Vrum foi preterida a possibilidade de se utilizar o conteúdo

do programa de TV no portal, ainda que esse possua vídeos sobre o mesmo assunto abordado.

Além disso, a hipertextualidade não foi bem explorada, aparecendo apenas um

relacionamento de conteúdo (escondido no fim da página) e uma sugestão para seguir o portal

no microblog Twitter.

Campo III

Embora exija o cadastro dos interagente, como dito anteriormente, a ausência do filtro

(moderação) nos comentários permite uma maior interação, com complementações diversas à

narrativa principal.

Análise

Contrariando o que se esperava com o Vrum, mais uma vez o portal não apresentou

uma narrativa convergente.

Page 158: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

142

IV.3.5 Resumo da terceira rodada

Analisados 60% dos dados coletados, algumas inferências começam a parecer bastante

claras sobre cada um dos portais analisados. Dentro do em.com.br, a percepção é de que a

narrativa convergente existe apenas no discurso e a prática da convergência se resume à

sinergia no trabalho e à transposição de reportagens entre diferentes veículos. Tal realidade

fica notória por causa do aproveitamento praticamente inexistente de material multimidiático.

O Divirta-se, por sua vez, segue mostrando ser o espaço da experimentação, da união

de linguagens e mídias, com aproveitamento de áudios, vídeos e textos de forma planejada,

quase sempre, é verdade, através do conteúdo transposto, que ganha possibilidades adicionais

com a alteração de propósito.

Já a Alterosa mostra a tendência de que o vídeo – texto oral – tome o papel de

protagonista do texto escrito. No entanto, o constante shovelware acaba por anular as

potencialidades que essa narrativa convergente, ainda que primária, poderia ofertar.

Por último, o Vrum, frustrando a expectativa criada com sua escolha para esta

pesquisa, tem se mostrado inútil para a observação dentro dos objetivos traçados, já que não

apresentou nenhum recurso multimidiático.

Page 159: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

143

IV.4 Quarta rodada de análise – 07 de março de 2013

IV.4.1 em.com.br

Reportagem 34

Reportagem 34 “Defesa do goleiro Bruno assume tática de risco” – Editoria de Gerais

Link http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/03/07/internas_caso_

bruno,355179/defesa-do-goleiro-bruno-assume-tatica-de-risco.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por equipe de repórteres do Estado de Minas.

Quadro 39 – Identificação da Reportagem 34

Campo I

Título em ordem direta, com poucas alterações em relação ao original, do impresso:

“Defesa assume tática de risco”.

Campo II

Novamente não há conteúdo multimidiático e os indícios de shovelware são claros,

com espaços estranhos inseridos na página. Apesar da extensão do texto, a hipertextualidade

não foi utilizada para reduzi-lo. Palavras com referências temporais próprias do jornal

impresso, como “ontem”, foram mantidas na reportagem.

Nessa notícia, as reportagens são relacionadas por hiperlink no box à esquerda. No

corpo do texto está relacionado o blog que acompanha o caso, inserindo nova possibilidade de

interação.

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Apesar de trazer o relacionamento de um blog no Campo II, mais uma vez a sensação

é de shovelware com a reportagem transposta, que não apresenta uma narrativa convergente.

Page 160: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

144

Reportagem 35

Reportagem 35 “Mãe ainda espera que local onde está o corpo de Eliza Samudio seja revelado” –

Editoria de Gerais

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/03/07/internas_caso_

bruno,355271/mae-ainda-espera-que-local-onde-esta-o-corpo-de-eliza-samudio-

seja-revelado.shtml

Origem Web. Reportagem de Cristiane Silva.

Quadro 40 – Identificação da Reportagem 35

Campo I

Título com resumo da notícia, seguindo o padrão da web.

Campo II

Não existe a utilização de conteúdo multimidiático. A hipertextualidade está presente

através das notícias relacionadas no box à esquerda e no final do texto, com dois hiperlinks

para a cobertura do julgamento do Caso Bruno (que, curiosamente, também nutriu um dos

estudos-piloto realizados para esta pesquisa). A única interação possível é pela navegação no

hipertexto.

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Novamente, sem a presença de material multimidiático, uma notícia de grande

destaque dentro do em.com.br se mostrou uma narrativa “não-convergente”, sendo pouco útil

para observação pretendida.

Page 161: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

145

Reportagem 36

Reportagem 36 “Há mais vagas para as mulheres na Grande BH” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/07/internas_economia,3551

68/ha-mais-vagas-para-as-mulheres-na-grande-bh.shtml

Origem Impresso. Notícia assinada pelo repórter Pedro Rocha Franco, do Estado de

Minas.

Quadro 41 – Identificação da Reportagem 36

Campo I

Novamente o título precisou ser alterado em relação ao original do impresso,

ganhando informações relevantes.

Campo II

Outra vez, o modelo utilizado é o apontado por Moherdaui (1999) como o

predominante no jornalismo on-line: foto horizontal acompanhada de texto escrito. De fato, a

observação realizada nesta pesquisa tem mostrado que a constatação da teórica segue em

voga, ao menos na unidade de análise observada.

Não existe nenhum conteúdo multimidiático, hipertextual ou interativo na reportagem.

Além disso, erros de diagramação, como o texto colado na foto, indicam shovelware, segundo

lembram Salaverría e Negredo (2008).

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Não configura narrativa convergente, assim como tem sido comum nas reportagens

observadas do em.com.br, sejam elas transpostas ou produzidas para a própria web.

Page 162: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

146

Reportagem 37

Reportagem 37 “Receita já recebeu 1.047.010 declarações do IRPF” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/07/internas_economia,3552

90/receita-ja-recebeu-1-047-010-declaracoes-do-irpf.shtml

Origem Agência de notícias. Agência Estado.

Quadro 42 – Identificação da Reportagem 37

Campo I

Possui elementos que podem soar estranhos aos interagentes que não estão a

acompanha a editoria de Economia, como “IRPF” (Imposto de Renda da Pessoa Física). Não

possui nenhuma referência a conteúdo multimidiático.

Campo II

Assim como as demais notícias originadas em agências de notícia que foram

observadas, essa também mostra poucos cuidados com a adaptação ao portal no Campo II. A

única complementaridade aplicada é o relacionamento de notícias no box à esquerda do texto.

Não existe conteúdo multimidiático ou opções de interatividade. Como ocorre nas demais

publicações do em.com.br, o lead segue o padrão do impresso.

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Novamente, poucos cuidados são observados com as narrativas em duas reportagens

de grande destaque dentro da sessão de Economia.

Page 163: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

147

Reportagem 38

Reportagem 38 “Mais uma cidade em Minas terá que fazer novas eleições” – Editoria de Política

Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/07/interna_politica,355150/m

ais-uma-cidade-em-minas-tera-que-fazer-novas-eleicoes.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pelo jornalista Marcelo Ernesto, do Portal Uai.

Quadro 43 – Identificação da Reportagem 38

Campo I

Título em ordem direta traz elementos de destaque, mas não revela qual cidade precisa

realizar novas eleições, o que surge como elemento para captar o clique (audiência) do

interagente.

Campo II

Como tem sido comum nas reportagens produzidas pelos repórteres do Portal Uai, o

factual está presente, com estrutura textual semelhante à narrativa clássica dos jornais

impressos.

A hipertextualidade também está presente no relacionamento à esquerda. No entanto,

como também tem sido comum, não há conteúdos multimidiáticos ou interativos.

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Produzida por um repórter do Portal Uai, a reportagem é bem diagramada e não

apresenta os mesmos erros/desleixos vistos nas notícias que são transpostas ou replicadas de

agências de notícias. Salaverría e Negredo (2009) nos alertam que erros como espaçamentos

estranhos e códigos indesejados, comumente ocorrem por causa da automatização

(robotização) de processos. É o que acontece com as notícias de agência e do jornal impresso

que entram automaticamente no em.com.br, restando ao repórter – como em outras redações,

Page 164: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

148

quase sempre com pouquíssimo tempo – a função de trabalhar o conteúdo, alterando título e

corrigindo essas imperfeições.

Page 165: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

149

Reportagem 39

Reportagem 39 “Apesar dos protestos, pastor é eleito para presidir comissão da Câmara” –

Editoria de Política

Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/07/interna_politica,355297/ap

esar-dos-protestos-pastor-e-eleito-para-presidir-comissao-da-camara.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Uai.

Quadro 44 – Identificação da Reportagem 39

Campo I

Título com as informações principais, sem referência a conteúdos multimidiáticos.

Campo II

Além do texto escrito, a reportagem apresenta uma foto que atua completando o

sentido da notícia, sem repetir informações. Não existe conteúdo multimidiático, nem

interatividade.

A estrutura do lead foi mantida, como ocorre em todas as reportagens observadas do

em.com.br nesta pesquisa. Novamente, a hipertextualidade está presente no box de

relacionamento à esquerda, que desta vez, presumidamente por erro na publicação, foi

inserido duas vezes na página.

Campo III

Idem aos demais analisados do em.com.br.

Análise

Concluída a quarta rodada de análises dentro do em.com.br, parece bem claro a

inexistência quase que geral de narrativas convergentes dentro do portal, uma vez que,

conforme determinado na metodologia desta pesquisa, foram avaliadas apenas as reportagens

de grande destaque – presumidamente as que são melhor trabalhadas – em espaçamento

diverso de tempo.

Page 166: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

150

IV.4.2 Divirta-se

Reportagem 40

Reportagem 40 “Produção do Rock in Rio anuncia atrações nacionais e homenagem a Cazuza”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/05/noticia_musica,140829/producao-

do-rock-in-rio-anuncia-atracoes-nacionais-e-homenagem-a-cazuza.shtml

Origem Web. Portal CorreioWeb.

Quadro 45 – Identificação da Reportagem 40

Campo I

Possui título com informações principais e não faz referência a conteúdos

multimidiáticos.

Campo II

Como em todas as outras reportagens avaliadas no Divirta-se, a hipertextualidade está

presente no relacionamento de conteúdos e na estratégia publicitária, incorporada ao longo do

texto. Porém, nesse caso, não aparece conteúdo multimidiático no Campo II, sendo a narrativa

“não convergente”.

Campo III

Interagentes não atuaram no espaço.

Análise

Em raro caso no Divirta-se, a reportagem não apresentou uma narrativa convergente,

graças, principalmente, à ausência de conteúdos multimidiáticos.

Page 167: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

151

Reportagem 41

Reportagem 41 “Michel Teló lança clipe do novo hit 'Amiga da minha irmã'; assista”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/05/noticia_musica,140834/michel-telo-

lanca-clipe-do-novo-hit-amiga-da-minha-irma-assista.shtml

Origem Web. Notícia assinada pela equipe do CorreioWeb.

Quadro 46 – Identificação da Reportagem 41

Campo I

O título chama o leitor para o conteúdo multimidiático, com o mesmo tom de diálogo

presente na TV: “assista”.

Campo II

Como acontece em todas as reportagens analisadas dentro do site da Alterosa – e

também já observado anteriormente em outro destaque no Divirta-se –, nessa notícia o vídeo

“toma” o lugar de protagonista do texto escrito, que ganha maior informalidade, com termos

como “está bombando”, e, ainda que seguindo a pirâmide invertida, acaba servindo mais

como uma espécie de introdução ao conteúdo multimidiático.

Campo III

Novamente, a possibilidade de intervenção pelas redes sociais, permitiu que os

intragentes avaliassem a qualidade do clipe divulgado, criando uma nova perspectiva além

daquela detalhada pelo veículo de comunicação.

Análise

A notícia está no grau III de convergência, uma vez que é possível notar uma alteração

de propósito com o vídeo, que passar a exercer papel de protagonista dentro da reportagem.

Page 168: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

152

IV.4.3 Alterosa

Reportagem 42

Reportagem 42 “Propaganda de mau gosto sobre o Caso Bruno causa indignação nas redes

sociais”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/03/07/noticia-ja-1edicao,82557/propaganda-de-mau-gosto-sobre-o-

caso-bruno-causa-indignacao-nas-redes-sociais.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 47 – Identificação da Reportagem 42

Campo I

Não traz informações sobre o conteúdo multimidiático.

Campo II

Ao contrário das reportagens da Alterosa analisadas na última rodada, essa não

apresenta repetição entre texto escrito e oral. No entanto, mais uma vez o shovelware pode ser

notado, com a presença de um elemento estranho na página, o código “FOTO 1” (Figura 18),

utilizado para inserir uma imagem no portal.

Além disso, o vídeo não foi editado para a web e apresenta, a partir de 2m51s, a

inscrição na tela “Últimas informações do Júri Caso Bruno”, inserindo uma referência

temporal inadequada, que torna o material inapropriado para a web e ultrapassado já no

momento de sua publicação.

Campo III

Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.

Análise

Dentro da rotina de shovelware observada na Alterosa, o erro mais grave tem sido o

desleixo com os vídeos, que parecem receber pouquíssimo ou nenhum tratamento a fim de

adequar sua linguagem à web. Por isso, é importante insistir em lembrar que o grau mínimo

Page 169: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

153

de convergência condicionado à narrativa não é interessante, uma vez que essa vê toda sua

potencialidade ser anulada.

Figura 18 – Elemento “estranho” é sinal de shovelware

Page 170: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

154

Reportagem 43

Reportagem 43 “Nos dois primeiros meses deste ano, 1732 mulheres deram queixa de violência

doméstica em BH”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/03/07/noticia-ja-1edicao,82603/nos-dois-primeiros-meses-deste-ano-

1732-mulheres-deram-queixa-de-violencia-domestica-em-bh.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa.

Quadro 48 – Identificação da Reportagem 43

Campo I

Sem referência a multimidialidade

Campo II

Novamente o shovelware. Além de apresentar o mesmo erro de código da reportagem

anterior observada nesta rodada, o conteúdo apresenta repetições entre texto oral e escrito e o

vídeo começa na metade da fala da repórter, indicando desleixo na edição. Não há nenhum

relacionamento hipertextual ou interatividade.

Campo III

Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.

Análise

Idem à reportagem anterior.

Page 171: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

155

IV.4.4 Vrum

Reportagem 44

Reportagem 44 “Família americana deixa tudo para trás para morar em uma Kombi 1971 que

roda o mundo”

Link

http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/2013/03/07/interna_noticia

s,47403/familia-americana-deixa-tudo-para-tras-para-morar-em-uma-kombi-

1971-que-roda-o-mundo.shtml

Origem TV. Reportagem assinada pelo repórter Marcelo Leite, da equipe do

Programa Vrum.

Quadro 49 – Identificação da Reportagem 44

Campo I

Não sugere a presença de nenhum conteúdo multimidiático.

Campo II

Pela primeira vez, uma reportagem do Vrum analisada nesta pesquisa trouxe algum

conteúdo multimidiático. Trata-se de uma galeria de imagens (Figura 19), recurso que, como

dito anteriormente, aqui é tratado como multimídia. No entanto, a narrativa convergente para

aí. Embora seja uma pauta elaborada simultaneamente para site e TV, mais uma vez o vídeo

foi preterido do portal.

Campo III

Novamente a interação ocorreu de forma mais franca no Vrum, graças à ausência de

moderação.

Análise

Pela primeira vez, o Vrum traz uma narrativa que pode ser incluída no segundo grau

de convergência, graças à união de multimidialidade, hipertextualidade e interatividade. Na

verdade, a reportagem tinha potencial para completar o ciclo convergente, pois fica óbvio o

processo comum de produção, que acabou fragmentado na publicação da notícia.

Page 172: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

156

Figura 19 – Galeria de imagens funciona como recurso multimidiático

Page 173: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

157

IV.4.5 Resumo da quarta rodada.

É difícil inferir alguma justificativa para o shovelware observado na Alterosa. Com

80% das análises concluídas, ainda não se observou nenhum grande cuidado com a edição de

vídeos no portal que tem a função primordial de abrigá-los dentro do Uai. O em.com.br por

sua vez, com o decorrer das análises, tem se mostrado, de fato, uma extensão do impresso,

com apenas uma narrativa considerada convergente. Enquanto isso, o Vrum parece ser um

grande desperdício de potencialidade convergente, com a fragmentação de um conteúdo entre

impresso, TV e on-line.

Page 174: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

158

IV.5 Quinta rodada de análise – 22 de março de 2013

IV.5.1 em.com.br

Reportagem 45

Reportagem 45 “Julgamento de Bola começa hoje e decisão deve sair em três dias” – Editoria de

Gerais

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/04/22/internas_caso_

bruno,374704/julgamento-de-bola-comeca-hoje-e-decisao-deve-sair-em-tres-

dias.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada pela jornalista Valquiria Lopes, do Estado de

Minas.

Quadro 50 – Identificação da Reportagem 45 Campo I

Mantém uma referência temporal própria do jornal impresso (“hoje”) no título e

subtítulo.

Campo II

De todas as reportagens avaliadas dentro da editoria de Gerais, é a que apresenta mais

indícios de shovelware. O texto não traz legenda na foto (único recurso fora o texto escrito),

nem conteúdo hipertextual e está recheado de espaços indesejados. Além disso, não ocorreu

nenhuma edição no mesmo em relação ao jornal impresso. Obviamente, o mesmo também

não apresenta nenhum conteúdo multimidiático.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

Novamente a principal reportagem do jornal impresso transposta para o portal no dia

não recebeu nenhum tratamento visando a alteração de propósito, nem conteúdos

multimidiáticos que pudessem torná-la convergente, mostrando que a prática, ao que parece,

ocorre apenas na face de sinergia do trabalho.

Page 175: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

159

Reportagem 46

Reportagem 46 “Defesa diz que Bola foi incluído em inquérito por causa de briga com delegado”

– Editoria de Gerais

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/35,11,35,18/2013/04/22/internas_caso_

bruno,374805/defesa-diz-que-bola-foi-incluido-em-inquerito-por-causa-de-briga-

com-delegado.shtml

Origem Web. Reportagem assinada por jornalistas do Portal Uai.

Quadro 51 – Identificação da Reportagem 46

Campo I

Não sugere conteúdo multimidiático

Campo II

Assim como foi notado na quarta rodada de análises, nessa notícia também é possível

verificar o cuidado maior existente com a montagem da página para as reportagens produzidas

por repórteres do on-line, ainda que estejam ausentes as narrativas convergentes, como é o

caso. Mais uma vez, o hipertexto é utilizado para associar notícias sobre o mesmo tema e a

interatividade multimidialidade estão ausentes.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

Encerradas as reportagens da editoria de Gerais, carro-chefe do em.com.br, já é

possível destacar a ausência da narrativa convergente dentro do site. Ao que parece, o

discurso não se aplica à prática, já que apenas em um dos principais destaques se viu algo

semelhante com multimidialidade em um estágio ainda inicial de convergência.

Page 176: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

160

Reportagem 47

Reportagem 47 “Fornecedores já sentem retomada da indústria” – Editoria de Economia

Link http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/22/internas_economia,3611

11/fornecedores-ja-sentem-retomada-da-industria.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Marta Vieira, do Estado de Minas.

Quadro 52 – Identificação da Reportagem 47

Campo I

Não existe referência a conteúdo multimidiático. Pouca modificação do título em

relação ao impresso, o que foi observado de forma mais frequente nas notícias de Economia.

Campo II

Embora o lead siga a estrutura clássica, novamente a referência temporal fica pouco

precisa ou, em outras palavras, mais difusa, genérica: “neste mês”. Não existe nenhum

elemento hipertextual, interativo ou multimidiático.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

Em 27 reportagens de grande destaque avaliadas no em.com.br, essa é a 26ª a não

apresentar nenhuma multimidialidade, o que reforça a teoria de que o discurso não se aplica à

prática. Por outro lado, novamente o impresso apresenta definições temporais menos precisas,

tendendo a assumir um papel mais analítico, aprofundado, nas pautas, o que sugere novas

pesquisas.

Page 177: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

161

Reportagem 48

Reportagem 48 “McDonald's reduz em R$ 43 milhões valor de dano moral coletivo em acordo

feito no MPT” – Editoria de Economia

Link

http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2013/03/22/internas_economia,3611

92/mcdonald-s-reduz-em-r-43-milhoes-valor-de-dano-moral-coletivo-em-acordo-

feito-no-mpt.shtml

Origem Agência de notícias. Agência Brasil.

Quadro 53 – Identificação da Reportagem 48

Campo I

Título traz resumo da reportagem. Não há subtítulo.

Campo II

O único complemento disponível é hipertextual, com relacionamento de reportagens

em box à esquerda. Novamente não há multimidialidade ou interatividade no Campo II. O

lead segue o padrão do jornal impresso, como em todas as outras reportagens observadas

dentro do em.com.br.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

Encerrada a análise da editoria de Economia, observa-se que em nenhuma notícia

ocorreu a narrativa convergente.

Page 178: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

162

Reportagem 49

Reportagem 49 “Caso Feliciano divide deputados evangélicos na Assembleia de Minas” –

Editoria de Política

Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/22/interna_politica,361138/ca

so-feliciano-divide-deputados-evangelicos-na-assembleia-de-minas.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Alice Maciel, do Estado de Minas.

Quadro 54 – Identificação da Reportagem 49

Campo I

Subtítulo utilizado no impresso baseou título no on-line, que, por sua vez, não tem

bigode.

Campo II

Novamente não há referência temporal muito precisa na reportagem. Ao ser transposto

à web, o único elemento incorporado ao texto escrito foi o relacionamento de notícias à

esquerda. Não há multimidialidade ou interação.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

A sensação é de shovelware. A ausência de elementos considerados “obrigatórios”,

como o subtítulo, indica poucos cuidados com a transposição do conteúdo. Não há narrativa

convergente.

Page 179: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

163

Reportagem 50

Reportagem 50 “Filho de Herzog levará à CBF petição contra Marin” – Editoria de Política

Link http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/22/interna_politica,361193/fil

ho-de-herzog-levara-a-cbf-peticao-contra-marin.shtml

Origem Agência de notícias. Agência Estado.

Quadro 55 – Identificação da Reportagem 50

Campo I

Título traz resumo da informação principal e não indica conteúdo multimidiático.

Campo II

Novamente, apenas a hipertextualidade está presente, sendo a narrativa “não

convergente”.

Campo III

Idem às reportagens anteriores do em.com.br.

Análise

Encerradas todas as observações em reportagens publicadas pelo em.com.br, pode-se

dizer que não existe a prática de uma narrativa convergente dentro do portal. Ao contrário,

como ilustra bem essa reportagem, foi observada certa predileção pelo modelo tradicional de

jornalismo, com reportagens organizadas de forma a remeter às bases do WWW. Os dois

únicos recursos que se alternam são a fotografia horizontal (recurso multimodal) e o

relacionamento hipertextual (presente nessa notícia) de outras publicações sobre determinado

assunto.

Page 180: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

164

IV.5.2 Divirta-se

Reportagem 51

Reportagem 51 “Bibi Ferreira mostra a força da interpretação no espetáculo 'Histórias e canções'”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/22/noticia_musica,141174/voz-do-

brasil.shtml

Origem Impresso. Reportagem assinada por Walter Sebastião, do EM Cultura.

Quadro 56 – Identificação da Reportagem 51

Campo I

Título modificado em relação ao original, do impresso: “Voz do Brasil”. Não faz

referência a nenhum conteúdo multimidiático.

Campo II

Novamente, uma reportagem do Divirta-se, que se mostrou o portal com maior grau de

convergência em suas narrativas, não apresenta nenhuma forma de multimidialidade ou

interatividade. A hipertextualidade está presente, mas apenas na publicidade incorporada ao

corpo do texto escrito.

Campo III

Interagentes utilizaram o campo para opinar sobre o show de Bibi Ferreira,

referendando, de certo modo, o que foi dito na reportagem.

Análise

Embora não apresente elemento que tornem a narrativa convergente, não se pode dizer

que houve shovelware, pois, ainda que desconsideradas as características da web, nota-se um

cuidado da edição com a composição da reportagem.

Page 181: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

165

Reportagem 52

Reportagem 52 “Ingressos para novo show de Caetano Veloso começam a ser vendidos segunda-

feira, 25”

Link

http://divirta-

se.uai.com.br/app/noticia/musica/2013/03/22/noticia_musica,141231/ingressos-

para-novo-show-de-caetano-veloso-comecam-a-ser-vendidos-segu.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Divirta-se.

Quadro 57 – Identificação da Reportagem 52

Campo I

É utilizada uma referência temporal precisa no Campo I: “segunda-feira, 25”.

Campo II

A narrativa volta a trazer a tríade: multimidialidade, hipertextualidade e interatividade,

embora a última esteja presente apenas no Campo III. Nessa reportagem, que segue a

pirâmide invertida, o vídeo não consegue tomar o lugar de protagonista do texto escrito, mas

complementa o mesmo. Novamente, um grau alto de informalidade é observado no texto, com

o termo “Caê” (Caetano Veloso), fortalecendo a inferência de ser a editoria de cultura o local

da experimentação.

Campo III

Os interagentes utilizaram o Campo III para reclamar a falta de informações, mas a

troca comunicativa não teve continuidade até que as dúvidas fossem sanadas.

Análise

Novamente o Divirta-se mostrou ser o espaço da convergência. A narrativa, no

terceiro grau no processo, novamente só não completa o ciclo por não remeter o interagente a

outros veículos, criando um sentido de continuidade no processo.

Page 182: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

166

IV.5.3 Alterosa

Reportagem 53

Reportagem 53 “Veneno de aranha pode ser solução para impotência sexual, diz pesquisa”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/03/22/noticia-ja-1edicao,4703/veneno-de-aranha-pode-ser-solucao-

para-impotencia-sexual-diz-pesquisa.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa

Quadro 58 – Identificação da Reportagem 53

Campo I

Sem referências ao conteúdo multimidiático

Campo II

Não existe hipertexto e a multimidialidade é protagonista. Como ocorreu em

praticamente todas as reportagens, a repetição volta a operar dentro das notícias da Alterosa.

A mesma oração (transcrita abaixo) surge no texto escrito e no texto oral dito pela repórter no

vídeo:

“Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que 50% dos homens apresentam algum

tipo de disfunção erétil. Seja pela idade avança (sic), de doenças, ou mesmo de estresse ou

ansiedade. Alguns medicamentos já disponíveis no mercado que são importados até ajudam,

mas uma opção que está sendo pesquisada na Universidade Federal de Minas Gerais está

bem perto de resolver a situação e sem efeitos colaterais”.

Campo III

Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.

Análise

E o ciclo da Alterosa com narrativas no grau I segue. Novamente, essa é marcada por

shovelware e repetição, anulando a força da convergência.

Page 183: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

167

Reportagem 54

Reportagem 54 “Quadrilha é presa após tentativa de assalto a um caixa eletrônico na Pampulha”

Link

http://www.alterosa.com.br/app/belo-horizonte/noticia/jornalismo/ja---

1ed/2013/03/22/noticia-ja-1edicao,4715/quadrilha-e-presa-apos-tentativa-de-

assalto-a-um-caixa-eletronico-na-pampulha.shtml

Origem TV Alterosa. Jornal da Alterosa

Quadro 59 – Identificação da Reportagem 54

Campo I

Sem referências ao conteúdo multimidiático

Campo II

Desta vez não há repetição entre vídeo e texto, mas as fotos utilizadas para ilustrar a

página são frames do vídeo, gerando, assim, o mesmo problema observado nas demais

reportagens.

O vídeo, no entanto, chama a atenção por seu um dos poucos com edição mais

adequada à web, sem a presença de trechos lidos pelo apresentador do telejornal.

Campo III

Idem às demais reportagens avaliadas da Alterosa.

Análise

Como dito repetidas vezes ao longo de todo o processo de pesquisa, a simples

associação de um conteúdo multimidiático com a interatividade que é oferecia por qualquer

portal de notícias já torna a narrativa convergente, ainda que em grau mínimo. É o que

ocorreu nessa e em todas as reportagens da Alterosa. O grande pecado cometido é o do

shovelware, com a transposição quase sempre sem cuidados para o site, o que mina as

potencialidades que a convergência pode oferecer.

Page 184: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

168

IV.5.4 Vrum

Reportagem 55

Reportagem 55 “Novo Logan ganha mais itens de série”

Link http://estadodeminas.vrum.com.br/app/noticia/noticias/301,19,306,19/2013/03/22/

interna_noticias,45716/novo-logan-ganha-mais-itens-de-serie.shtml

Origem Web. Reportagem assinada pela equipe do Portal Vrum.

Quadro 60 – Identificação da Reportagem 55

Campo I

Título em ordem direta, sem referências a conteúdos multimidiáticos.

Campo II

Novamente o Vrum traz o texto corrido com fotos como único elemento

complementar. Além disso, não há interatividade ou hipertextualidade no Campo II.

Campo III

Interagente questiona a informação “novo” presente no título, atuando como coautor

da notícia.

Análise

Novamente, o portal Vrum, que (vale ressaltar) tem jornal impresso e programa na

TV, não consegue formar uma narrativa convergente. Ao longo do processo de análise, nas

buscas pelos outros veículos, foi observada uma fragmentação do conteúdo sem que, contudo,

um meio dialogasse com o outro.

Page 185: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

169

IV.5.5 Resumo da quinta rodada

Encerrada a análise das reportagens recolhidas nos quatro portais escolhidos dentro do

Uai, a sensação é de repetição de termos, críticas e observações ao longo das rodadas, o que,

embora seja notoriamente cansativo ao leitor desta pesquisa, surge como fator positivo para a

mesma, uma vez que, ao seguir rigorosamente os critérios selecionados para a análise,

observou-se dentro dos mesmos portais características semelhantes em diferentes períodos e

circunstâncias, o que permite inferir elevado grau de fidelidade dos resultados obtidos com a

realidade maior do veículo, referendando, assim, o trabalho realizado.

Dessa forma, antes dos apontamentos finais, presentes no capítulo seguinte, é

interessante observar que os portais apresentaram graus muito distintos de convergência entre

si, como resumem, quantitativamente, os quadros e gráficos a seguir:

Rodada Número da reportagem

Assunto da reportagem Veículo Nível de

convergência Página

I 1 Era do filho único em.com.br nenhum 83

I 2 Muro de obra desaba em.com.br I 86

I 3 Brasileiros viajam mais em.com.br nenhum 88

I 4 Inflação em.com.br nenhum 90

I 5 Receitas dos municípios

em.com.br nenhum 91

I 6 Processos da AGU em.com.br nenhum 93

I 7 Chris Brown e Rihanna Divirta-se II 94

I 8 Rapper é expulso Divirta-se II 96

I 9 Bandidos arrombam

bar Alterosa I 98

I 10 Dia de limpeza Alterosa I 100

I 11 Rely chega ao Brasil Vrum nenhum 102

II 12 Detran antifraude em.com.br nenhum 105

II 13 Morte de estudante em.com.br nenhum 107

II 14 Alta da gasolina em.com.br nenhum 109

II 15 Eike Batista em.com.br nenhum 111

II 16 Tribunal da Contas em.com.br nenhum 112

II 17 Liberação de R$ 2 bi em.com.br nenhum 114

II 18 Grupo de maracatu Divirta-se nenhum 116

II 19 Filme 'Tainá' Divirta-se I 118

II 20 Problemas no Mineirão Alterosa I 120

II 21 Pílula anticoncepcional Alterosa I 122

II 22 Propaganda da VW Vrum nenhum 123

III 23 Velho Chico em.com.br nenhum 126

Page 186: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

170

III 24 Carreta na BR-381 em.com.br nenhum 128

III 25 Economia ao abastecer em.com.br nenhum 129

III 26 Concursos públicos em.com.br nenhum 130

III 27 Cassação de Burguês em.com.br nenhum 132

III 28 STF e Congresso em.com.br nenhum 134

III 29 Mulheres na MPB Divirta-se III 135

III 30 Show de Renegado Divirta-se III 138

III 31 Francês adotado Alterosa I 139

III 32 Homem executado Alterosa I 141

III 33 Novo Linea Vrum nenhum 142

IV 34 Goleiro Bruno em.com.br nenhum 144

IV 35 Corpo de Eliza

Samudio em.com.br nenhum 145

IV 36 Vagas para mulheres em.com.br nenhum 146

IV 37 Declaração do IRPF em.com.br nenhum 147

IV 38 Novas eleições em.com.br nenhum 148

IV 39 Pastor eleito em.com.br nenhum 150

IV 40 Rock in Rio Divirta-se III 151

IV 41 Michel Teló Divirta-se III 152

IV 42 Propaganda mau gosto Alterosa I 153

IV 43 Violência doméstica Alterosa I 155

IV 44 Kombi Vrum II 156

V 45 Julgamento do Bola em.com.br nenhum 159

V 46 Briga com delegado em.com.br nenhum 161

V 47 Retomada da indústria em.com.br nenhum 162

V 48 McDonald's em.com.br nenhum 163

V 49 Caso Feliciano em.com.br nenhum 164

V 50 Petição contra Marin em.com.br nenhum 165

V 51 Bibi Ferreira Divirta-se nenhum 166

V 52 Caetano Veloso Divirta-se III 167

V 53 Veneno de aranha Alterosa I 168

V 54 Quadrilha é presa Alterosa I 169

V 55 Novo Logan Vrum nenhum 170

Quadro 61 – Níveis de convergência nas reportagens analisadas e índice remissivo

em.com.br Vrum Alterosa Divirta-se Reportagens com narrativa

convergente 3,33% 20% 100% 70%

Reportagens no nível I 3,33% nenhuma 100% 10%

Reportagens no nível II nenhuma 20% nenhuma 20%

Reportagens no nível III nenhuma nenhuma nenhuma 40% Reportagens no nível IV nenhuma nenhuma nenhuma nenhuma

Quadro 61 – Reportagens que apresentaram narrativa convergente

Page 187: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

171

Gráfico 3 – Nível de convergência nas reportagens observadas no em.com.br

Gráfico 4 – Nível de convergência nas reportagens observadas no Vrum

Gráfico 5 – Nível de convergência das reportagens observadas na Alterosa

Gráfico 6 – Nível de convergência das reportagens observadas no Divirta-se

nível I

nível II

nível III

nível IV

nenhum

nível I

nível II

nível III

nível IV

nenhum

nível I

nível II

nível III

nível IV

nenhum

nível I

nível II

nível III

nível IV

nenhum

Page 188: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

172

Gráfico 7 – Comparação do nível de convergência entre os quatro veículos

Gráfico 8 – Comparação do nível de convergência entre os quatro veículos

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

nível I nível II nível III nível IV nenhum

em.com.br

Vrum

Alterosa

Divirta-se

0% 20% 40% 60% 80% 100%

nível I

nível II

nível III

nível IV

nenhum

em.com.br

Vrum

Alterosa

Divirta-se

Quantidade percentual de reportagens por veículo

Níveis de convergência

Quantidade percentual de reportagens por veículo

Níveis de convergência

Page 189: Convergência de mídias: Uma análise da união de  linguagens em notícias do Portal Uai

173

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Pautando o discurso empresarial dos grandes grupos brasileiros de comunicação, a

convergência de mídias é assunto constante no dia a dia das redações jornalísticas. Contudo,

ainda que muito discutida, as análises são rasas e, na maioria dos casos, o tema acaba sendo

tratado como uma mera sinergia nas relações de trabalho e de produção da empresa. Entre

outros fatores, pode-se dizer que tal simplificação do processo ocorre, principalmente, por

causa da inexistência de um conceito único entre estudiosos para defini-lo, o que, por sua vez,

encontra explicação na própria essência multifacetada da convergência, que afeta,

simultaneamente, os âmbitos tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de

comunicação, propiciando a integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e

linguagens.

No entanto, ainda que sejam muitas as vertentes e possibilidades para abordar a

temática, o que justifica o difícil consenso em torno de uma definição, a perspectiva da

linguagem se mostrou uma das menos exploradas (ou das mais preteridas) pelos

pesquisadores, que quase sempre optam por seguir os caminhos do norte-americano Henry

Jenkins, que observa a convergência como um processo predominantemente cultural, ou do

espanhol Ramón Salaverría, que busca estudar todas os ângulos do assunto através de

sucessivos estudos de caso. Porém, como o próprio Salaverría reconhece, as convergências

nas rotinas e na logística para a produção de conteúdos pouco interessam ao público. A face

do processo que surge com grande pertinência ao interagente é justamente a menos estudada

dentro da convergência de mídias: o produto final e sua linguagem.

Dado o protagonismo da convergência de mídias nas redações e a observação

insipiente do processo no campo da linguagem, um dos pressupostos que motivou

inicialmente este estudo foi justamente o surgimento de um novo (ou, pelo menos,

modificado) discurso jornalístico nas narrativas convergentes. Porém, como a pesquisa

destacou durante todo o percurso de revisão teórica, a convergência precisa ser reconhecida

enquanto processo paulatino, gradativo. Dessa forma, recorrendo novamente a Salaverría e

Negredo (2008), precisamos lembrar que, na possibilidade de que todas as narrativas

apresentem integração total de conteúdos com multimidialidade, interatividade e

hipertextualidade em grau máximo, nós já não estaremos mais falando da convergência, mas

sim de algo novo. É exatamente por isso que a investigação se deu no sentido de verificar

como a união de linguagens originadas em modelos tradicionalmente distintos de produção e

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edição – rádio, televisão e impresso – delineia uma narrativa jornalística convergente nos

portais de notícia; e, como e em que medida essa narrativa convergente pode ser considerada

nova, do ponto de vista da linguagem que a constitui e dos parâmetros jornalísticos a ela

vinculados.

Para cumprir esses e os demais objetivos, a realização de uma análise qualitativa

através de um estudo de caso se mostrou eficaz, considerada a natureza dos processos

comunicacionais e da internet de fenômenos em constante transformação. Ainda que ciente da

impossibilidade de generalização dos resultados obtidos, é preciso fazer coro à Corrêa e

Corrêa (2007), uma vez que a observação dos processos de convergência na web por meio de

uma sucessão de estudos de caso (e, a partir deles, a aproximação entre teoria e prática),

parece ao fim desta pesquisa, de fato, a alternativa mais viável para teorizar sobre a realidade

que nos é contemporânea.

No entanto, como dito, a impossibilidade de grandes generalizações trouxe o risco de

que a pesquisa se encerrasse nela mesma. Prevendo tal possibilidade, foi elaborado um

modelo metodológico próprio para realizar a análise qualitativa da linguagem convergente

presente no Portal Uai, unidade escolhida para coleta de dados. O objetivo foi propor um

quadro inédito, que permitisse a avaliação futura de outros casos sobre os mesmos parâmetros

desta pesquisa, viabilizando uma aproximação entre diferentes análises e debates mais

amplos, o que é extremamente pertinente para validação do conhecimento. Para chegar ao

melhor modelo, foram feitos dois pilotos para testar as categorias utilizadas no estudo de caso,

sendo estes extremamente pertinentes, uma vez que os primeiros equívocos foram

fundamentais para ajudar a delinear uma abordagem mais precisa para a observação da

linguagem.

Finalizada as análises, pode-se dizer que a elaboração do modelo metodológico se

mostrou válida não somente como contribuição para pesquisas futuras, mas, principalmente,

para a realização da própria análise proposta. Através dele foi possível analisar as estratégias

de construção de sentido nos portais de notícias a partir do fenômeno da convergência de

mídias; verificar em quais medidas o discurso se transforma com a convergência de mídias;

verificar quais são as principais mudanças estruturais sofridas pelos conteúdos em vídeo,

texto, áudio e foto ao serem publicados na web; investigar as interferências que a

hipertextualidade e as possibilidades da Web 2.0 trazem ao jornalismo quando somadas à

união de linguagens na tela; e procurar marcas do processo de convergência de mídias no

produto jornalístico final publicado nos portais de notícias. Contudo, vale ressaltar que o

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modelo e a própria pesquisa mostraram-se insuficientes para verificar como o processo de

convergência de mídias transforma a cultura de produção dentro das redações jornalísticas,

um dos objetivos traçados para o estudo, mas que acabou por extrapolar o campo da

linguagem e suas possibilidades de pesquisa.

O modelo foi eficiente para comparar o nível de convergência de mídias presente na

narrativa jornalística em diferentes portais. Foi possível observar, por exemplo, que, ainda que

dentro do mesmo grupo empresarial e sob o mesmo “guarda-chuva”, convivem veículos com

características de linguagem ancoradas em diferentes eras da web.

Entre os quatro veículos que nutriram o estudo de caso realizado nesta pesquisa,

Alterosa e Vrum pouco contribuíram para as reflexões. O primeiro pela insistência na prática

do shovelware, anulando quase sempre as características do discurso convergente. Já o

segundo, pela pouca relevância da convergência no material observado, que não permitiu

muitas inferências. Na verdade, apenas o portal Divirta-se apresentou, de fato, uma tendência

para o predomínio da narrativa convergente, sendo de grande valia para este estudo. Como

dito ao longo da análise qualitativa, entre as explicações possíveis para isso [a predileção do

Divirta-se pela convergência], estão o fato da Cultura ser o local da experimentação (o que

ratifica a preferência de Jenkins pelos produtos culturais como fonte de estudo) e a

proximidade do portal com as características da linguagem televisiva, que também traz em

sua essência o entretenimento.

O fato é que, mesmo sem produção própria de conteúdos multimidiáticos – a maioria

dos materiais utilizados é de divulgação dos artistas –, o Divirta-se mostrou diferentes

possibilidades de uso do discurso jornalístico com a narrativa convergente. Respondendo à

problemática que guiou esta pesquisa, ainda não é possível falar que seja praticado um novo

discurso, mas, novamente atentando para o caráter processual da convergência, algumas pistas

interessantes surgem sobre o que pode vir, destacando-se, entre elas, a inversão de valores

entre o texto escrito e o conteúdo multimidiático que, como observado, pode assumir em

determinadas circunstâncias o papel de protagonista (e não mais de mero complemento)

dentro dos portais. Ainda que não seja a visão desta pesquisa, é interessante destacar que para

alguns pesquisadores, como Carlos Castilho (2013), tal fato revela a reinversão (ou fim) da

pirâmide invertida, o que, com certeza, é debate para longos e próximos estudos.

Outra observação bastante pertinente foi possível a partir do caso do em.com.br.

Dentro dos objetivos desta pesquisa, pode-se dizer, sem cometer qualquer injustiça, que o

portal foi útil apenas para revelar que a construção de uma narrativa convergente existe

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apenas no discurso empresarial dos Diários Associados, sendo a face do processo

verdadeiramente explorada pelo grupo a de sinergia do trabalho. No entanto, a avaliação do

veículo, ainda que ausentes as narrativas convergentes e as pretensões originais desta

pesquisa, foi extremamente interessante para a percepção de um “comportamento” novo no

jornal Estado de Minas. Enquanto as reportagens produzidas no portal permaneceram fiéis ao

modelo tradicional de jornalismo, seguindo o lead clássico e a pirâmide invertida, as matérias

publicadas no impresso, em sua maioria, perderam a referência temporal, indicando que

buscam novas formas de sobreviver. Tal constatação comprova novamente a existência do

medo da revolução digital, tão criticado por Jenkins (2009), e fomenta nova pesquisa. Afinal,

ao invés de caminhar para a convergência, a web estaria assumindo o papel do impresso? E o

discurso jornalístico dos jornais impressos: está mudando ou já se transformou?

Ciente das limitações inerentes à pesquisa cabe ressaltar que as inferências sobre a

Cultura como espaço da convergência e o afastamento das editorias mais factuais da narrativa

convergente não podem ser generalizados, sendo os resultados um reflexo da realidade

experimentada na unidade de caso observada. Contudo, espera-se que os dados obtidos, bem

como o modelo de análise qualitativa desenvolvido para a narrativa convergente, sejam úteis

para a realização de novos estudos de caso e estudos comparativos na área, contribuindo,

assim, para uma teorização futura da transformação que nos é contemporânea.

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