CONTROLE DE QUALIDADE NAS FÁBRICAS DE ... - TCC...

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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE Felipe Buffé Secchi CONTROLE DE QUALIDADE NAS FÁBRICAS DE RAÇÕES PARA BOVINOS Santa Cruz do Sul 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

Felipe Buffé Secchi

CONTROLE DE QUALIDADE NAS FÁBRICAS DE RAÇÕES

PARA BOVINOS

Santa Cruz do Sul

2010

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Felipe Buffé Secchi

CONTROLE DE QUALIDADE NAS FÁBRICAS DE RAÇÕES

PARA BOVINOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista, no Curso de Especialização em Produção de Leite da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.

Santa Cruz do Sul

2010

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................09 2 OBJETIVOS........................................ .......................................................................11 2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................11 2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO........................................................................................11 3 REFERENCIAL TEÓRICO.............................. ...........................................................12 3.1 PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS UTILIZADAS NAS FÁBRICAS DE RAÇÕES PARA BOVINOS ...........................................................................................................12 3.1.1 Milho........................................ ............................................................................12 3.1.1.1 Classificação do milho.......................................................................................12 3.1.1.2 Imperfeições do milho .......................................................................................13 3.1.2 Farelo de soja ............................... ......................................................................13 3.1.2.1 Análise atividade ureática..................................................................................13 3.1.2.2 Solubilidade da proteína em hidróxido de potássio (KOH)................................14 3.1.3 Casca de soja ................................ .....................................................................15 3.1.4 Farelo de trigo .............................. ......................................................................16 3.1.5 Triguilho .................................... ..........................................................................17 3.1.6 Cevada....................................... .......................................................................... 17 3.2 UMIDADE NA CONSERVAÇÃO .............................................................................18 3.3 SECAGEM DE GRÃOS...........................................................................................18 3.4 MOAGEM DE GRÃOS ............................................................................................18 3.5 CONTROLE DE QUALIDADE.................................................................................19 3.5.1 Cuidados com a estrutura física .............. .........................................................19 3.5.2 Requisitos higiênico-sanitários necessários n as instalações .......................19 3.5.3 Procedimentos recomendados no controle da mat éria-prima.......................20 3.6 MICOTOXINAS .......................................................................................................21 3.6.1 Ocorrência natural de fungos e de micotoxinas em grãos.............................22 3.6.2 Aflatoxinas .................................. ........................................................................24 3.6.2.1 Ocorrência de aflatoxinas em alimentos............................................................25 3.6.2.2 Aflatoxina B1 .....................................................................................................25 3.6.2.3 Importância do controle das aflatoxinas B1 e M1 em bovinos leiteiros .............25 3.6.2.4 Estabilidade da aflatoxina M1............................................................................26 3.6.3 Zearalenona .................................. ......................................................................27 3.6.3.1 Ocorrência de zearalenona............................................................................... 28 3.6.4 Fumonisinas ................................. .......................................................................28 3.6.4.1 Ocorrência de fumonisinas................................................................................29 3.6.5 Tricotecenos ................................. ......................................................................29 3.6.5.1 Ocorrência de tricotecenos................................................................................29 3.6.6 Ocratoxina ...........................................................................................................30 3.6.6.1 Ocorrência de ocratoxina ..................................................................................30 3.7 ADSORVENTES DE MICOTOXINAS .....................................................................30 3.7.1 Adsorventes de cinzas vulcânicas ............. ......................................................31 3.8 LEGISLAÇÃO PARA MICOTOXINAS.....................................................................31 3.9 COMO PREVENIR A OCORÊNCIA DE PRAGAS E FUNGOS NO MILHO............32 3.10 IMPORTÂNCIA DA CULTIVAR SOBRE A PRESERVAÇÃO DA QUALIDADE DOS GRÃOS.................................................................................................................33 3.11 IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE COLHEITA NA PREVENÇÃO CONTRA PRAGAS .......................................................................................................................33

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3.12 EFEITO DA TEMPERATURA E DO TEOR DE UMIDADE DO GRÃO SOBRE OS INSETOS ................................................................................................................34 3.13 AÇÕES PARA PREVENIR E CONTROLAR AS PRAGAS ...................................35 3.14 CONTROLE DE ROEDORES...............................................................................36 3.15 HIGIENIZAÇÃO ESPACIAL DOS SILOS E ARMAZÉNS......................................37 3.16 QUALIDADE NUTRICIONAL DA RAÇÃO.............................................................38 4 METODOLOGIA ...................................... ..................................................................39 4.1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO................................................................39 4.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................................39 5 RESULTADOS E DISCUSSÂO ........................... ......................................................40 5.1 FÁBRICA DE RAÇÕES – I......................................................................................40 5.2 FÁBRICA DE RAÇÕES – II.....................................................................................42 5.3 FÁBRICA DE RAÇÕES – III....................................................................................44 5.4 FÁBRICA DE RAÇÕES – IV ...................................................................................46 5.5 PROPRIEDADES RURAIS .....................................................................................48 6 CONCLUSÕES..........................................................................................................50 REFERÊNCIAS.............................................................................................................51

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RESUMO

Trabalho sobre qualidade de matérias primas utilizadas em fábricas de rações do

vale do Taquari e Serra Gaúcha, propriedades rurais das mesmas regiões,

paralelamente com um levantamento teórico sobre micotoxinas. No trabalho foram

observados os cuidados dispensados às matérias primas como as análises

laboratoriais, armazenamento e qualidade do produto final, os quais afetam

diretamente a produção de leite.

Palavras-chave: micotoxinas, alimentação bovina de leite, qualidade do produto final.

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RELAÇÃO DE FIGURAS

página

Figura 01. Local de recebimento e armazenagem das matérias-primas

(milho e farelo de soja) da Fábrica 1.............................................

40

Figura 02. Local de armazenamento da ração pronta (estoque)................... 41

Figura 03. Local de recebimento das matérias-primas de onde seguem

para estocagem da fábrica de rações II........................................

42

Figura 04. Fábrica de rações III – Estrela....................................................... 44

Figura 05. Local do recebimento das matérias-primas e secagem para

armazenagem (Fábrica IV)...........................................................

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RELAÇÃO DE QUADROS

página

Quadro 1 Padrões para milho utilizado em rações................................. 12

Quadro 2 Padrão de Atividade Ureática do Farelo de Soja.................... 14

Quadro 3 Padrão de Solubilidade da Proteína em KOH no Farelo de Soja..........................................................................................

15

Quadro 4 Principais micotoxinas, fungos produtores, alimentos maiscontaminados e condições favoráveis para sua ocorrência.....

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Quadro 5 Limites máximos (ppb) de MICOTOXINAS recomendados pelo LAMIC para animais de produção.....................................

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1 INTRODUÇÃO

Em qualquer país do mundo todo o alimento que é fornecido para a

população deve ser de iniqüidade e qualidade as quais garantam ao consumidor que

ele está consumindo um alimento livre de qualquer patógeno que venha a lhe causar

problema de saúde e ao mesmo tempo lhe garanta a qualidade nutricional desejada.

Para obter produtos de origem animal com as características desejadas é

necessário haver rastreabilidade em todos os processos, desde a produção do

insumo que servirá como matéria-prima para a fabricação da ração a qual incidirá

diretamente na qualidade do produto final.

Para obter qualidade na indústria de rações é necessário atenção desde o

projeto da fábrica; na sua construção, na seleção e instalação dos equipamentos,

seleção dos fornecedores de ingredientes (fornecimento ano todo/ idoneidade/

qualidade do produto), estabelecimento das fórmulas de rações, checagem da

qualidade dos ingredientes alimentícios (análise laboratorial, sendo importante

checar, ainda mais, se forem micro nutrientes que tem custo alto), pesagem correta,

pré mistura de concentrados e suplementos vitamínicos, mistura dos alimentos

(segurança da homogeneização), armazenagem e checagem da ração pronta,

manutenção dos equipamentos, limpeza dos equipamentos da fábrica e por fim,

limpeza geral da fábrica.

O controle de todos os aspectos referentes à qualidade da matéria-prima é de

fundamental importância, pois pode ocorrer o desenvolvimento de micotoxinas as

quais compreendem um conjunto de substâncias quimicamente complexas e pouco

correlacionadas entre si, sintetizadas como metabólitos secundários por certos

fungos (CRUZ, 1996). Estas substâncias são importantes para o homem porque

algumas são responsáveis por graves problemas causados à saúde humana e

animal.

Enormes prejuízos econômicos são decorrentes da utilização de alimentos

contaminados por estas substâncias tóxicas. Quando não provocam a morte dos

animais em processos de intoxicação aguda, as micotoxinas determinam redução de

peso, diminuição da postura, diminuição da conversão alimentar, aumento da

suscetibilidade a doenças infecciosas e parasitárias e problemas reprodutivos,

contaminação dos produtos por seus derivados, entre outros. Estes problemas são

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mais acentuados em países de clima tropical úmido, os quais reúnem as condições

ambientais adequadas ao desenvolvimento dos fungos (temperatura e umidade).

Por suas características continentais, o Brasil dispõe de uma grande variação

climática, sendo fácil prever a ocorrência de altos níveis de contaminação de

alimentos por micotoxinas. Isto porque, em nosso ambiente, pode ser encontrada a

maioria dos fungos toxígenos já identificados.

Ao lado das condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento, há um

grande estímulo ao aumento da produção de grãos, porém, em uma grande maioria,

a infra-estrutura de secagem e armazenagem são inadequadas. Sendo assim, em

muitos casos, os grãos ainda úmidos são armazenados em lugares impróprios,

cobertos precariamente por lonas e sujeitos as chuvas e ao ataque de insetos.

Nestas condições, os esporos dos fungos toxígenos, sempre presente na superfície

de vegetais, germinam, formando suas colônias na superfície dos grãos, conduzindo

a situações desfavoráveis.

Por estes motivos, em todo o mundo um grande esforço vem sendo aplicado

na procura de métodos e procedimentos para minimizar este problema, uma vez que

estes implicam em prejuízos zootécnicos significativos além de repercutir na saúde

humana, já que podem ter toxidade quando ingeridas juntamente com alimentos

vegetais contaminados, ou mesmo através de produtos originados de animais

alimentados com ração contaminada.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Acompanhar os processos de controle de qualidade de matérias-primas em

fabricas de rações para bovinos em cooperativas da região do Vale do Taquari e

Serra Gaúcha, bem como o seu armazenamento.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar as análises de qualidade da matéria-prima utilizada na fabricação de

concentrados.

Acompanhar a rotina do manejo nutricional de algumas propriedades, a fim de

identificar condições que exponham as rações às situações de risco de

contaminações por fungos.

Estudar os efeitos das contaminações das matérias-primas e concentrados

por micotoxinas na qualidade do leite.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS UTLIZADAS NAS FÁBRICAS DE RAÇÕES

PARA BOVINOS

3.1.1 Milho

O milho é o cereal mais importante, ou melhor, o mais utilizado na fabricação

de concentrados devido ao seu alto teor de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT =

90%) e Extrato Etéreo (EE = 3,7%). É um dos produtos alimentares que apresenta

maior predisposição à contaminação por micotoxinas, provocando intoxicações

sérias, crônicas e até mesmo mortais, tanto no homem quanto nos animais. A estes

problemas de saúde se somam perdas econômicas importantes para os na cadeia

produtiva: desempenho de animais de criação e rejeição de produtos que

apresentam teores de micotoxinas superiores aos limites regulamentares

(MUNDSTOCK, 2006).

3.1.1.1 Classificação do milho

O Ministério da Agricultura estabelece padrões para matéria-prima utilizada

na fabricação de rações animais, sendo que para o milho os padrões estão

conforme Quadro 01:

Quadro 01 - Padrões para milho utilizado em rações. Tipo Umidade

(máxima) Matérias

estranhas, impurezas e fragmentos (máximo)

Avariados total (máximo)

Ardidos e brotados (máximo)

1 14,50% 1,50% 11,00% 3,00% 2 14,50% 2,00% 18,00% 6,00% 3 14,50% 3,00% 24,00% 10,00%

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3.1.1.2 Imperfeições do milho

- Grãos carunchados: são grãos ou pedaços de grãos furados ou infestados por

insetos vivos ou mortos.

- Grãos ardidos: são grãos ou pedaços de grãos que perderam a coloração

característica, em mais de ¼ do tamanho do grão.

- Grãos botados: são os grãos ou pedaços de grãos que apresentam germinação

visível

- Impurezas e fragmentos: são detritos do próprio produto, bem como os fragmentos

que vazam numa peneira de crivos circulares de 3mm de diâmetro.

- Matérias estranhas: são os grãos ou sementes de outras espécies, bem como os

detritos vegetais, sujidades e corpos estranhos de qualquer natureza, não oriundos

do produto (BRASIL, 1988).

3.1.2 Farelo de soja

O farelo de soja é a mais importante fonte de proteína vegetal nas dietas de

animais utilizadas no mundo. Variações na qualidade da proteína entre amostras de

farelo de soja podem ocorrer devido tanto a insuficiente processamento térmico

(sub-processamento) como por excessivo processamento térmico (sobre-

processamento). Alguns índices são utilizados para determinar tanto o

processamento térmico insuficiente como o excessivo, no entanto, nenhum deles de

forma individual expressa com precisão e consistência a qualidade da proteína

(RUNHO,2001).

3.1.2.1 Análise de atividade ureática

Segundo RUNHO (2001) esta análise tem como objetivo determinar a

destruição dos fatores antinutricionais presentes no grão de soja. Sua metodologia

consiste em determinar a redução na atividade da enzima urease, presente no grão

de soja. Existe uma correlação direta entre os fatores antinutricionais e a urease;

ambos são termolábeis, destruídos pelo calor. Portanto, com a inativação da enzima

urease teoricamente os fatores antinutricionais estariam destruídos. De uma maneira

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geral essa análise determina se o farelo de soja recebeu processamento térmico

suficiente para inativar os fatores antinutricionais presentes no grão de soja.

A análise de atividade ureática é um bom indicativo de processamento

térmico adequado ou inadequado do farelo de soja (Quadro 02). Como resultado

dessa análise podemos observar que atividade ureática com valor de pH variando

de 0,01 até no máximo de 0,15 indicam que o farelo passou por um adequado

processamento térmico, objetivando a destruição dos fatores antinutricionais

(RUNHO,2001).

Quadro 02. Padrão de Atividade Ureática do Farelo de Soja:

Classificação Atividade Ureática Excelente 0,01 - 0,05 Boa 0,06 - 0,20 Regular 0,21 - 0,31 Deficiente >0,30

Fonte: RUNHO (2001).

3.1.2.2 Solubilidade da proteína em Hidróxido de Potássio (KOH )

Esta análise consiste em uma segunda metodologia para se avaliar a

qualidade do farelo de soja processado. Existe também uma correlação direta da

qualidade no processamento do farelo de soja com a quantidade de proteína solúvel

presente neste farelo. A proteína solúvel é aquela disponível para a absorção pelo

animal. Sendo assim, quanto maior a quantidade de proteína solúvel, melhor a

disponibilidade da proteína e dos aminoácidos para o animal (RUNHO, 2001).

Segundo o autor o grão de soja pode apresentar até 100% de sua Proteína

Bruta solúvel em KOH. Contudo, observamos que à medida que submetemos o grão

de soja ao processamento térmico, com o objetivo de destruirmos os fatores

antinutricionais presentes, verificam uma queda na solubilidade da proteína e

consequentemente uma queda na disponibilidade da proteína e dos aminoácidos

para os animais.

Para a classificação do farelo de soja em relação a quantidade de proteína

solúvel encontrada em análises (Quadro 03 ), podemos considerar que o farelo que

apresentar proteína solúvel acima de 80% passou por um adequado processamento

térmico, tendo mantido quase inalterada a qualidade de sua proteína, ou seja, com

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um mínimo de desnaturação. Proteína solúvel abaixo de 80% indicaria a ocorrência

de uma desnaturação significativa na proteína da soja, afetando diretamente a

disponibilidade da proteína e dos aminoácidos presentes no farelo.

Quadro 03. Padrão de Solubilidade da Proteína em KOH no Farelo de Soja.

Classificação Solubilidade em KOH Excelente > 85% Boa > 80% Razoável > 75% Deficiente < 75%

Fonte: RUNHO (2001)

O autor evidencia que amostras de diferentes farelos de soja com solubilidade

da proteína acima de 80%, ou seja, dentro do padrão mínimo para o ingrediente,

apresentam respostas diferentes no desempenho dos animais.

Verifica-se, através dessas informações, que tanto a análise da Atividade

Ureática bem como a análise de Proteína Solúvel em KOH, indicam se o

processamento recebido pelo farelo de soja foi adequado e, portanto, garante a

qualidade nutricional deste ingrediente. Isso permite trabalhar com maior segurança

de estar fornecendo nutrientes com qualidade e quantidade bem próximas aquelas

que estão sendo formuladas no concentrado.

3.1.3 Casca de soja

A casca de soja é o envoltório do grão a qual é separada no processo

industrial de preparação, sendo retirada após a quebra dos mesmos. Durante o

processo de obtenção da casca é necessário que esta seja tostada a fim de destruir

metabólicos antinutricionais (BUNGE , 2008 b).

Com relação às características nutricionais, a casca de soja é considerada

uma fonte de energia. Muitos pesquisadores a classificam como produto

intermediário entre concentrado e volumoso, semelhante ao que ocorre com a polpa

cítrica e resíduo de cervejaria, desempenhando papel fisiológico de fibra vegetal e

funcionando como um grão de cereal em termos de energia (BUNGE , 2008 b).

A casca de soja pode chegar a 80% do valor energético do milho, além de

proporcionar aos animais um valor de fibra bem acima do milho. Por esses motivos a

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casca pode tranqüilamente substituir volumosos de alta qualidade, sem interferir nas

concentrações de acetato ruminal e teor de gordura do leite. Possui alta

palatabilidade por isso é um ingrediente que pode ser adicionado em dietas de

vacas em lactação e bovinos de corte, controlando a acidose ruminal em dietas com

altos níveis de concentrados (BUNGE , 2008 b).

3.1.4 Farelo de trigo

Na moagem do trigo quando é extraído o farelo, é adicionada água para

facilitar a separação da casca do grão de trigo. É fundamental que se realize a

umidificação de forma regular e uniforme para conseguir resultados ótimos na

moagem e para assegurar um melhor rendimento da farinha com mais qualidade

(BUNGE , 2008 a).

À medida que aumenta o conteúdo de umidade do trigo, o farelo se torna

mais flexível e menos quebradiço, de forma que se reduz a contaminação da farinha

com partículas do farelo. Dessa forma a farinha fica mais branca e produz menos

quantidade de cinzas por incineração. O endosperma fica mais suave, tornando

mais fácil o processo de moagem, reduzindo assim, a energia necessária para a

trituração. Existe, portanto, uma umidade ótima para que o grão dê os melhores

resultados ao ser moído. A umidade ótima varia entre 15 e 16% para os diferentes

tipos de trigo, sendo mais alta para os trigos duros do que para os trigos moles

(UFRGS, 2004).

Na obtenção da farinha de trigo, aproximadamente 28% do grão não é

aproveitado, originando o subproduto Farelo de Trigo. Este farelo é basicamente

composto pelo tegumento que envolve o grão. A proteína deste farelo é de melhor

qualidade que a do milho e o farelo apresenta altos teores de potássio e fósforo

(NITZKE e THYS, 2004).

Os autores ressaltam que o farelo de trigo apresenta teor bastante elevado de

proteína degradável no rúmen (PDR), isto porque a taxa de digestão deste alimento

é bastante alta. Isto significa que tanto a PB quanto a energia são degradados de

forma rápida, o que poderá levar a uma melhor eficiência de síntese microbiana. É

devido a esta característica do farelo de trigo, que este alimento está sendo utilizado

em grande escala na composição de suplementos múltiplos, já que o milho

apresenta baixa proteína degradada no rúmen.

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3.1.5 Triguilho

O triguilho é composto por grãos de trigo pouco desenvolvidos, mal granados

ou chochos, obtidos após o processamento de limpeza e industrialização de lotes

cujo peso específico é menor que o mínimo exigido na moagem ou da classificação

do trigo e por isso são considerados subprodutos do mesmo. A composição

nutricional é muito variada com relação à proteína bruta, fibra bruta e energia devido

as diferentes cultivares existentes. É classificado como um alimento energético, mas

também contribui com seu conteúdo protéico, podendo substituir em até 30% a

inclusão do milho, dependendo da fase de criação e da espécie animal. O triguilho,

quando comparado ao milho, tem nível de energia menor e ainda o dobro de fibra

bruta, porém é superior no valor nutricional da proteína (POLI-NUTRI ALIMENTOS,

2002).

A granulometria é uma característica importante a ser observada, não

podendo ser moído em excesso, pois pode ocasionar o aumento da incidência de

úlceras gástricas e redução do consumo. Uma característica macroscópica possível

de ser analisada na ocasião da compra é a presença de impurezas e grãos

mofados, diminuindo o valor nutricional ou até mesmo provocando a contaminação

dos mesmos com micotoxinas (POLI-NUTRI ALIMENTOS, 2002).

3.1.6 Cevada

A cevada é colhida no Brasil e normalmente destinada para a indústria

cervejeira, porém aquela que não se enquadrar nas normas exigidas as cervejarias

é destinada à alimentação animal.

A cevada possui teor de proteína bruta superior ao milho e inferior ao trigo,

sendo de pior qualidade e menos digestível que este alimento. Um fato relacionado

com a qualidade da proteína da cevada é de que as características exigidas para a

indústria de malte e cerveja, que são preferenciais nos programas de melhoramento,

são opostas às exigidas para a nutrição animal. Seu teor de energia é ligeiramente

inferior ao do trigo e em torno de 10% inferior ao do milho, tendo também menor

digestibilidade devido ao teor mais alto de fibra (ZARDO e LIMA, 1999).

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3.2 UMIDADE NA CONSERVAÇÃO

Segundo SILVA (2005 a) A umidade está diretamente relacionada com o

desenvolvimento fúngico, na produção de micotoxinas e na conservação de

produtos. Produto úmido oferece as condições para o crescimento de fungos e

produção de toxinas fúngicas durante o armazenamento, podendo causar a

contaminação e deterioração. Na grande maioria dos casos a deterioração ocorre

devido ao fato de o produto ter sido armazenado com excesso de umidade ou por ter

sido simplesmente amontoado ou jogado dentro do armazém de estocagem. O

excesso de umidade dilui os nutrientes da ração, reduzindo seu valor nutritivo,

pondo em risco a qualidade e dificultando o manuseio e o transporte. Quanto maior

o teor de umidade, mais as rações perderão suas qualidades nutritivas, estando

assim mais suscetíveis ao desenvolvimento fúngico.

Com o desenvolvimento fúngico, aumenta a liberação de calor e água em

quantidades suficientes para aumentar a circulação de ar e promover o crescimento

de fungos.

3.3 SECAGEM DE GRÃOS

Segundo SILVA (2005 a), o método de secagem de grãos, é aplicado para

reduzir o teor de umidade de produtos agrícolas, diminuindo a disponibilidade de

água para o desenvolvimento de fungos e bactérias, o que evita o surgimento de

micotoxinas e grãos ardidos. A realização do processo de respiração dos grãos que

gera perda de peso e gera calor realizando alterações bioquímicas que promovem

auto-degradação do produto também é reduzida. Aumentando o tempo de

armazenagem e conservação do mesmo.

3.4 MOAGEM DOS GRÃOS

O objetivo de moer os grãos na formulação de rações se deve pela

necessidade do aumento da área superficial, o que facilita a homogeneização da

mistura e promove o aumento da qualidade e eficiência dos processos de

peletização e extrusão. O processo de mistura dos ingredientes deve ocorrer de

forma satisfatória para que a distribuição dos nutrientes na massa produzida seja

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uniforme em menor tempo possível, reduzindo uso de potência, trabalho e gerando

menores custos (FMB, 2005).

3.5 CONTOLE DE QUALIDADE

3.5.1 Cuidados com a estrutura física

Para ter qualidade é necessário atenção desde o projeto da fábrica; na sua

construção, na seleção e instalação dos equipamentos, seleção dos fornecedores de

ingredientes (fornecimento ano todo/ idoneidade/ qualidade do produto),

estabelecimento das fórmulas de rações, checagem da qualidade dos ingredientes

alimentícios (análise laboratorial, sendo importante checar, ainda mais, se forem

micronutrientes que tem custo elevado), pesagem correta, pré mistura de

concentrados e suplementos vitamínicos, mistura dos alimentos (segurança da

homogeneização), armazenagem e checagem da ração pronta, manutenção dos

equipamentos, limpeza dos equipamentos da fábrica e por fim, limpeza geral da

fábrica (BUNGE, 2008 c).

3.5.2 Requisitos higiênico-sanitários necessários nas ins talações.

Segundo BUNGE (2008 c) devem ser observados os seguintes requisitos

higiênicos-sanitarios nas instalações:

- devem ser situadas em zona que não apresente níveis indesejáveis de

odores, fumaça, poeira e outros contaminantes, e que não esteja exposta a

inundações;

- as vias de acesso interno devem ser compactas e/ou pavimentadas

adequadas ao acesso de trânsito sobre rodas e devem possuir escoamento

adequado;

- deve dispor de meios que permitam a limpeza;

- todos os estabelecimentos deverão dispor de vestiário, sanitário e banheiros

adequados, convenientemente situados, garantindo a eliminação higiênica das

águas residuais;

- deve ser prevista a instalação adequada e convenientemente localizada,

para lavagem e secagem das mãos sempre que assim exija a operação;

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- os equipamentos devem manter distância do piso e das paredes de acordo

com as instruções dos fabricantes e suas normas de segurança e limpeza;

- os equipamentos que processam pós devem ser dotados de captadores de

pó;

- recipientes para lixo devem ser exclusivos, convenientemente distribuídos,

mantidos limpos, identificados e com sacos plásticos em seu interior. O

esvaziamento deve ser efetuado em intervalos regulares (pelo menos uma vez por

dia na área de fabricação) e o lixo deve ser levado ao local de coleta, o qual deve

ser mantido limpo;

- deverá ser impedida a entrada de animais domésticos em todos os locais

onde se encontrem matérias-primas, material de envase, produtos acabados ou em

qualquer das etapas de industrialização.

3.5.3 Procedimentos recomendados no controle da mat éria-prima

O monitoramento laboratorial da qualidade das rações produzidas faz parte

de um complexo sistema de garantia da qualidade. Para garantir a qualidade do

produto final, devem ser estabelecidas rotinas de verificação de qualidade dos

ingredientes que chegam à fábrica e dos produtos acabados, os quais podem

acompanhar os laudos laboratoriais contendo a garantia do produto final que é a

ração, demonstrando que está apto a comercialização (FMB, 2005).

Sendo assim, primeiramente deve ser realizada a verificação visual das

matérias primas, logo após devem ser enviadas amostras ao laboratório para

analisar as seguintes frações: proteína bruta, umidade, fibra bruta, macro e

microminerais, energia (NDT), micotoxinas, putrefação e rancidez (FMB, 2005).

Os resultados obtidos das análises deverão ser prontamente divulgados com

as características dos ingredientes e, em seguida, promover a liberação desses

ingredientes para a elaboração de rações (FMB, 2005).

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3.6 MICOTOXINAS

Para se desenvolverem, os fungos necessitam retirar nutrientes dos

substratos, reduzindo o seu valor nutritivo; se o fungo contaminante for patogênico

como o Aspergillus fumigatus, podem ocorrer processos infecciosos pulmonares,

aborto, mastites, etc. e, se ele for toxígeno, como o Aspergillus parasiticus,

Penicillium citrinum, Aspergillus flavus, Aspergillus ochraceus, Fusarium moniliforme,

graves problemas de intoxicação aguda ou crônica irão surgir entre os animais e

também no homem, porém seu controle dependerá, entre outras coisas, do

entendimento dos mecanismos de contaminação pré e pós-colheita; da manutenção

de um constante monitoramento das micotoxinas nos alimentos; dos conhecimentos

sobre os efeitos das micotoxinas nos animais; da disponibilidade, no país de

métodos simples e baratos para a detecção de micotoxina. Um grande número de

espécies fúngicas são hoje reconhecidas como produtoras de uma ou mais toxinas

e, um grande número destes metabólitos tóxicos já foram identificados e

caracterizados como substâncias produzidas em contaminações naturais de grãos e

outros alimentos (CRUZ, 1996).

O autor relata que a ocorrência de micotoxicoses entre os animais domésticos

é um reflexo do sistema produtivo adotado pelos criadores. Quanto mais evoluído

for, maior será a utilização de alimentos concentrados, à base de grãos, tornando

maior a probabilidade de intoxicação pelas micotoxinas.

Com a descoberta das Aflatoxinas, substâncias hepatotóxicas, no início da

década de 60, conduziu um grande número de pesquisadores em todo o mundo a

estudar o papel desempenhado pelas micotoxinas como causadoras de doenças no

homem e nos animais. Em conseqüência deste esforço, um grande número de

substâncias com atividades tóxicas, as mais diversas, foram descobertas em pouco

tempo. Muitas delas são hoje reconhecidas como importantes para a economia

agropecuária, por causarem perdas consideráveis na produção. Ao lado disso, deve

ser considerada a atividade tóxica que estas mesmas substâncias podem ter sobre o

organismo humano. Nas distintas espécies, em geral, os efeitos mais freqüentes

observados nas intoxicações por aflatoxinas são a diminuição da velocidade de

crescimento e da eficiência alimentar, causados pela redução do metabolismo

protéico e absorção de gorduras. Verifica-se também uma considerável redução na

produção de ovos e leite. Esta influência negativa sobre a produtividade animal,

22

deve-se a interferência exercida pelas aflatoxinas sobre diversos sistemas

enzimáticos (amilase pancreática, tripsina, lípase, RNAse, DNAse ), interferindo na

digestão de amidos, proteínas, lipídios e ácidos nucléicos. Em níveis considerados

baixos, as aflatoxinas interferem na resposta imune, tornando os animais mais

suscetíveis às doenças infecciosas e parasitárias e fazendo com que o animal

também não responda às vacinações como previsto (MALLMANN e DILKIN, 2007).

Conforme esses autores, mesmo que ocorram em menos casos, às

intoxicações subagudas causadas por baixos níveis de toxinas na ração, são mais

significativas do ponto de vista econômico, visto que a maioria das intoxicações é

deste tipo porque as micotoxinas poucas vezes são produzidas em altas

concentrações.

3.6.1 Ocorrência natural de fungos e de micotoxinas em grãos

Com a utilização de grãos contaminados a toxina entra na dieta dos animais

ou de rações estocadas sob condições inadequadas. De maneira geral, todos os

grãos possuem elementos fúngicos (conídeos) em sua superfície, os quais

permanecerão em estado de latência se as condições ambientais (temperatura,

umidade relativa do ar e atividade de água) permanecerem impróprias ao seu

desenvolvimento (MALLMANN e DILKIN, 2007).

Caracterizar a microbiota toxígena presente na superfície dos grãos pode ter

seu valor epidemiológico e ser importante para a adoção de medidas preventivas,

entretanto, conclusões definitivas sobre a etiologia da intoxicação somente podem

ser deduzidas após a extração e identificação da micotoxina envolvida. Isto porque a

simples presença de um fungo toxígeno não assegura que uma micotoxina esteja

presente; bem como a ausência de fungos toxígenos não garante um produto isento

de contaminação por micotoxinas porque a micotoxina pode persistir mesmo que o

fungo já tenha sido eliminado, e muitas vezes os fungos produzem mais de uma

micotoxina, como também, uma determinada micotoxina pode ser produzida por

mais de um gênero de fungos. Vários gêneros de fungos, contaminantes comuns

dos produtos agrícolas, são produtores de micotoxinas importantes em patologia

animal. Dentre eles destacam-se os gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium,

com várias espécies capazes de crescerem em diversos substratos e sob condições

23

as mais variadas de pH, umidade, temperatura, aeração, etc. (MALLMANN e

DILKIN, 2007).

Pode haver a contaminação do alimento em qualquer momento da produção,

transporte, estocagem ou industrialização, há necessidade de uma interação entre o

fungo, o substrato e as condições ambientais. Desta maneira, as micotoxinas podem

ser produzidas quando o produto ainda se encontra no campo, antes de sua colheita

e, até mesmo antes de sua formação, quando o fungo pode penetrar através da flor.

Porém, a contaminação ocorre com mais freqüência no período pós-colheita,

quando a secagem dos grãos é retardada ou não é feita adquadamente; ou durante

o seu transporte sob condições inadequadas, em caminhões ou trens que ao

permanecerem expostos ao sol, tem a carga aquecida, provocando a formação de

correntes de convecção e o conseqüente deslocamento de vapor d’água das áreas

mais quentes da carga para regiões mais frias, ocorrendo sua condensação, com

aumento da umidade local, criando as condições para o desenvolvimento de fungos

e a produção de micotoxinas. A solução para este problema é a adoção de um

sistema de aeração durante a armazenagem do produto agrícola, que necessita ser

feita com sistemas eficientes de aeração, controle de temperatura e da

contaminação por insetos, controle no processamento industrial, quando o produto

pode ser contaminado por sobras contaminadas de outros produtos anteriormente

processados e durante a estocagem, na propriedade, do produto industrializado

(rações, por exemplo), alguns tipos de grãos são mais susceptíveis ao ataque de

fungos, conforme Quadro 04 (MALLMANN E DILKIN,2007).

24

Quadro 04. Principais micotoxinas, fungos produtores, alimentos mais contaminados e condições favoráveis para sua ocorrência.

Micotoxina Fungo que mais produzem

Alimentos mais suscetíveis à conteminação

Principais fatores da produção

Aflatoxinas Aspergillus flavus e A. parasiticus

Amendoim, castanhas, nozes, milho e cereais em geral.

Armazenamento em condições inadequadas.

Zearalenona Fusarium Milho e cereais de inverno.

Temperaturas frias associadas à alta umidade.

Fumonisinas Fusarium Milho e cereais de inverno.

Estação seca seguida de alta umidade e temperaturas moderadas.

Tricotecenos Fusarium Milho e cereais de inverno.

Temperatura fria, alta umidade e problemas no armazenamento.

Ocratoxina A Aspergillus e Penicillium

Milho e grãos estocados.

Deficiências no armaznamento.

Fonte: Adaptado de MALLMANN E DILKIN (2007)

3.6.2 Aflatoxinas

Conforme MALLMANN e DILKIN (2007) as aflatoxinas são metabólitos

secundários de linhagens de fungos toxígeneos do gênero Aspergillus, sobretudo A.

flavus e A. parasiticus. Entre as centenas de micotoxinas conhecidas, as aflatoxinas

são consideradas as de maior importância no Brasil. Diversos compostos já foram

descritos como sendo aflatoxinas, porém, apenas as aflatoxinas B1, B2, G1 e G2

foram identificadas como contaminantes naturais de sementes e alimentos. A

aflatoxina B1 apresenta a maior prevalência em diversos produtos agrícolas, sendo

também a mais tóxica do grupo. As aflatoxinas foram inicialmente conhecidas como

causadoras da “Doença X dos perus” cuja toxicose causou alta mortalidade dessas

aves na Inglaterra, no ano de 1960. São causadoras de diversos efeitos tóxicos em

animais, afetando, sobretudo o fígado e assim, comprometendo a sanidade e

produtividade dos intoxicados.

25

3.6.2.1 Ocorrência de aflatoxinas em alimentos

A presença e a magnitude da contaminação dos alimentos por aflatoxinas,

varia em razão de fatores geográficos, estacionais e também das condições em que

se cultiva, colhe e armazena os produtos agrícolas. Os cultivos em zonas tropicais e

subtropicais são mais propensos à contaminação do que em regiões temperadas,

pois as condições ótimas para a produção de toxinas predominam nas regiões de

elevada umidade. Os fungos toxígenos podem invadir e desenvolverem-se em uma

grande variedade de substratos como cereais, sementes e alimentos durante as

fases de crescimento, cultivo, colheita, transporte, processamento e

armazenamento. Em cereais estocados, os fatores mais importantes para o

crescimento de fungos toxígenos do gênero Aspergillus e produção de aflatoxinas

são a alta umidade relativa do ar de substrato e da temperatura de armazenamento.

Umidade relativa do ar de 80 a 85% com atividade água (Aa) superior a 0,7 em

cereais e temperatura entre 24 a 35°C representem b oas condições para a produção

de aflatoxinas. (MALLMANN e DILKIN, 2007).

3.6.2.2 Aflatoxina B1

A Aflatoxina B1 como sendo a mais toxígena das Aflatoxinas, a absorção da

B1 ocorre preferencialmente pelo trato gastrointestinal, pela ingestão de alimentos

contaminados, a absorção é imediata após a exposição, e parece ser completa

quando administrada por via oral juntamente com os alimentos, sobretudo quando

estes estão apenas moderadamente contaminados, mas podem ser absorvidas

também por via cutânea e respiratória, conforme conclusões de diversos

pesquisadores, a qual assume grande importância junto à profissionais que atuam

em moinhos e fábrica de rações. (MALLMANN e DILKIN, 2007).

3.6.2.3 Importância do controle das aflatoxinas B1 e M1 em bovinos leiteiros

Sendo a mais tóxica das aflatoxinas a B1 e a M1 (que tem origem no

metabolismo de alguns animais).

Em bovinos leiteiros, ocorre à absorção da B1 via alimentação, a qual é

metabolizada no fígado do animal, sendo transformada em M1, que é excretada via

26

leite e urina. No passado acreditava-se que a taxa de passagem da micotoxina do

alimento para o leite era de 2%. Porém, estudos recentes colocaram em evidência

que tal taxa está correlacionada com dois fatores: potencial produtivo do animal (kg

leite/dia) e estágio de lactação. Os valores de 2 a 2,5% referem-se a vacas com

produção entre 16-25 kg/dia em estágio de lactação avançado. Como os animais

estão se tornando cada vez mais produtivos, com produção superior a 30 kg de

leite/dia, a taxa se torna mais elevada, com valores próximos a 4%. No início da

lactação, os bovinos apresentam taxa de passagem entre 8 a 30% superior em

relação ao estágio de lactação mais avançado. Além disto, o estado de saúde dos

animais também interfere nesta relação, pois vacas com problemas de infecções nas

glândulas mamárias aumentam esta taxa. Desse modo, vacas em lactação com

produção superior a 30 kg de leite/dia não podem consumir mais que 40 µg de

aflatoxina (AFB1), pois apresentarão concentração de aflatoxina (AFM1) acima de

50 ppt (limite para os países europeus) (GIMENO, 2008).

3.6.2.4 Estabilidade da aflatoxina M1

A AFM1 é, em geral, estável em alguns queijos, iogurtes, leite pasteurizado,

leite desnatado ou integral e sorvetes. Nos processos de pasteurização a 63ºC

durante 30 minutos, pasteurização a 77ºC durante 16 segundos e alguns processos

de pasteurização e esterilização, a concentração da contaminação original no leite

cru permanece praticamente inalterada. Em alguns queijos, dentro de seu processo

de elaboração e com aquecimentos a 82-100ºC entre 5 a 30 min. não se tem

conseguido reduzir as taxas de contaminação. Não existe dúvida de que a melhor

saída para evitar a contaminação com AFM1 é não administrar ao animal dietas

contaminadas com AFB1. Os métodos de separação de grãos com posterior

separação mecânica da casca e a remoção do pó dos cereais, mostram ser

adequados para uma descontaminação, visto que habitualmente a maior

concentração de micotoxinas ocorre no pericarpo dos grãos e no pó de cereal.

Sistemas que podem ser utilizados tanto nos alimentos para animais como para

humanos. Os tratamentos térmicos que podem aplicar-se a uma matéria prima ou a

um alimento composto não são muito eficazes já que a AFB1 é resistente a

temperaturas na ordem dos 120ºC. Uma ração para poligástricos e para vacas

leiteiras, não somente contém matérias-primas secas (12-13% de umidade ou água

27

livre) sendo também, forragens com umidade ou água livre muito elevada na ordem

de 70 a 85%, a qual pode resultar em atividades de água (aw) muito elevadas na

ordem de 0,85-0,98 a temperaturas entre 20 e 25ºC, condições ideais para o

desenvolvimento do fungo Aspergillus e a provável formação de AFB1, inclusive com

atividades de água (aw) menores (0,75-0,85). Com respeito às matérias-primas

secas é aconselhável armazená-las com umidade entre 8-9% e entre 11-11,5% ou

entre 12-13% para amiláceas como os cereais, o que daria a 25-30ºC uma atividade

de água (aw) de 0,65-0,70, evitando-se, desta forma, o crescimento de fungos e a

provável produção da micotoxina (GIMENO, 2008).

3.6.3 Zearalenona

A zearalenona é um metabólito fúngico estrogênico não esteróide,

quimicamente descrito como uma lactona do ácido fenólico resorcílico. Possui boa

estabilidade térmica e pouca solubilidade na água, porém, apresenta alta

solubilidade em solventes orgânicos. É produzida por várias espécies de fungos do

gênero Fusarium incluindo F. culmorum F. graminearum e F. crookwellense. Essas

espécies colonizam cereais e tendem a tornar-se particularmente importantes

durante estações de alta umidade, acompanhadas de temperaturas amenas.

Oscilações térmicas com temperaturas baixas são propícias para a produção de

grande quantidade desta micotoxina. Temperaturas na faixa de 25°C favorecem o

crescimento fúngico enquanto que sua redução para aproximadamente 10°C em

presença de umidade superior a 14%, desencadeia o metabolismo secundário,

responsável pela produção de zearalenona. Por isso, é uma micotoxina

contaminante natural de diversos cereais, como trigo, cevada, arroz e

particularmente o milho. Quando os cereais ou subprodutos são ingeridos por

diferentes espécies de animais, a toxina pode produzir efeitos estrogênicos. Entre os

animais domésticos, os suínos possuem a maior sensibilidade, podendo apresentar

sinais clínicos de intoxicação partindo de 0,1 mg da toxina/kg de alimento

consumido. Bovinos podem apresentar problemas relacionados à infertilidade

partindo de 14 mg de zearalenona/kg de alimento ingerido. (MALLMANN e DILKIN,

2007).

28

3.6.3.1 Ocorrência de zearalenona

A zearalenona ocorre em uma grande quantidade de produtos agrícolas,

grãos e alimentos, incluindo milho e seus subprodutos, cereais matinais, cerveja,

farinha de trigo, nozes e uma série de outros produtos utilizados na alimentação

humana e animal (MALLMANN e DILKIN, 2007).

Segundo os autores, a presença de zearalenona em matérias-primas e

alimentos, está restrita a regiões que apresentam condições climáticas favoráveis,

especialmente quando ocorrem temperaturas baixas (8 a 14ºC). Existe um consenso

de que a oscilação da temperatura, de baixa a moderada, (8 a 24ºC) é essencial

para a formação de grande quantidade de zearalenona. Outro fator que

desempenha importante função na produção de zearalenona é a alta umidade do

substrato, pois sabidamente os fungos do gênero Fusarium requerem alta umidade,

produzindo as maiores quantidades de toxinas quando a percentagem de água no

cereal é superior a 22%, ou quando a atividade de água é próxima a 0,85% ou

superior. O pH do substrato possui pouca importância na quantidade de toxina

produzida, podendo oscilar entre 3,5 e 7,5 sem apresentar diferenças significativas

em cultivos laboratoriais. Em razão do transporte de cereais por longas distâncias, e

por ser comum a importação de grãos de outras regiões ou países, quadros de

intoxicação por zearalenona podem ser observados em regiões de clima tropical.

3.6.4 Fumonisinas

As fumonisinas formam um grupo de micotoxinas produzidas pelo

metabolismo secundário de diversos fungos toxígenos dos gêneros Fusarium e

Alternaria, sendo que linhagens de F. moniliforme são reconhecidamente as mais

produtoras. Aproximadamente duas dezenas de fumonisinas são conhecidas.

Contudo, somente as fumonisinas B1 (FB1), B2 (FB2) e B3 (FB3) apresentam

ocorrência e importância toxicológica significativa. Ocorrem em diversos cereais,

sobretudo no milho em que apresentam concentrações que geralmente induzem

intoxicações subclínicas em diversas espécies (MALLMANN e DILKIN, 2007).

29

3.6.4.1 Ocorrência de fumonisinas

As fumonisinas apresentam distribuição mundial, sendo representadas

especialmente pela FB1, responsável por 70% do total de fumonisinas quantificadas

em cereais e subprodutos. A incidência de fumonisinas é significativamente maior

em cereais que ficam expostos às intempéries durante e após o amadurecimento do

grão, o que ocorre geralmente por dificuldades de fazer a colheita ou

armazenamento imediatamente após a maturação fisiológica.

Os fungos do gênero Fusarium se desenvolvem e produzem as maiores

quantidades de fumonisinas preferencialmente em condições de clima com

temperatura amena, entre 15 e 25°C e alto teor de u midade do substrato,

preferencialmente acima de 20% ou atividade de água superior a 0,9. Por essas

características, os fungos do gênero Fusarium são frequentemente denominados de

“fungos de campo”, pois as maiores concentrações das toxinas são observadas em

cereais que ficam expostos na lavoura a tais condições básicas para o

desenvolvimento fúngico (MALLMANN E DILKIN, 2007).

3.6.5 Tricotecenos

Os tricotecenos formam um grupo de metabólitos tóxicos quimicamente

semelhantes. São produzidos por várias espécies fúngicas dos gêneros Fusarium,

Cefalosporium, Myrothecium, Stachybotrys e Trichoderma. A contaminação por

ticotecenos, causa lesões ulcerativas no trato gastrointestinal e dermatites, além da

recusa da ingestão de alimentos, o que tem importância para o diagnóstico clínico.

Assim, os animais apresentam diminuição do desempenho produtivo e depressão do

sistema imune. (MALLMANN e DILKIN, 2007).

3.6.5.1 Ocorrência de tricotecenos

Os tricotecenos ocorrem em diversos cereais e subprodutos, sobretudo

quando cultivados no inverno cujas condições de temperaturas amenas e altas

umidades favorecem o desenvolvimento dos fungos produtores dessas micotoxinas.

(MALLMANN e DILKIN, 2007).

30

Os mesmos autores afirmam que os níveis de contaminação de cereais por

tricotecenos, possuem significativa relação com a quantidade de resíduos da planta

presente nos cereais. Dessa forma, a presença de porções de sabugo, pedúnculo,

grãos atrofiados e resíduos pode proporcionar um aumento de contaminação em até

5 vezes. Assim, existe á tendência de se encontrarem maiores concentrações da

toxina em plantas mais velhas. Sua absorção ocorre por via oral, sendo que maiores

concentrações são da toxina podem ser encontradas no sangue, sendo distribuído

para os mais diversos órgãos, especialmente fígado e rins. A quantidade de toxina

absorvida no trato gastrointestinal é baixa, possuindo especialmente ação “cáustica”

local.

3.6.6 Ocratoxina

As ocratoxinas formam um grupo de sete metabólitos tóxicos produzidos por

fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium. Embora uma série de ocratoxinas seja

conhecida, somente a ocratoxina A possui importância toxicológica (MALLMANN e

DILKIN, 2007).

3.6.6.1 Ocorrência de ocratoxina

Quanto à ocorrência de ocratoxina MALLMANN e DILKIN (2007) comentam

que há em um grande número de cereais e grãos incluindo o milho, café, feijão e

amendoim. Sintomas relacionados a animais com ocratoxicose são o aumento na

ingestão de água, diminuição da ingestão alimentar, piora da conversão alimentar e

do ganho de peso estão sempre presentes quando os alimentos ingeridos estão

contaminados com doses moderadas e altas de micotoxina, a ocratoxina encontra-

se, essencialmente, restrita aos países do Hemisfério Norte.

3.7 ADSORVENTES DE MICOTOXINAS

Na utilização de adsorventes para detoxificar rações animais, deve-se levar

em consideração não somente a redução das micotoxinas, mas também, que a

substância empregada não tenha produtos de degradação tóxica, nem tampouco,

reduzir o valor nutritivo dos alimentos tratados. Com o crescente problema da

31

contaminação por micotoxinas, a adição na dieta de compostos adsorventes

nutricionalmente inertes, tem sido uma importante ferramenta. Na alimentação

animal, o emprego de argilas selecionadas e processadas está sendo a cada dia

mais utilizado para o seqüestro das micotoxinas, com o objetivo de reduzir a

absorção das mesmas pelo trato gastrointestinal (MALLMANN et al., 2006).

3.7.1 Adsorventes de cinzas vulcânicas

Os adsorventes são uma espécie de argila, matérias inertes, de cores

variadas, que resultam das cinzas vulcânicas que se depositaram nos lagos e mares

durante a formação da terra. A bentonita é um tipo de argila utilizada pelos

fabricantes de adsorventes a qual leva sódio ou potássio na sua composição. Por

esse motivo, o adsorvente não pode ser utilizado diretamente no silo, seu uso deve

ser baseado no monitoramento periódico de micotoxinas nas rações, principalmente

o milho. Além de que, o adsorvente só deve ser aplicado em casos extremos

(SANTOS, 2008).

3.8 LEGISLAÇÃO PARA MICOTOXINAS

Segundo LAMIC (2008), existem níveis máximos tolerados de micotoxinas em

rações para cada tipo de criação que devem ser observados, conforme Quadro 5.

32

Quadro 05. Limites máximos (ppb) de MICOTOXINAS recomendados pelo LAMIC para animais de produção.

AFLA. FUMO. OCRA. A DON. HT. 2 T. 2 ZEA. DAS.

AVES

Frango inicial 0 100 0 200 0 0 10 0

Frango crescim. 2 500 2 500 10 50 20 200

Frango final 5 500 5 1000 10 50 20 200

Poedeiras 10 1000 5 1000 20 100 50 500

Matrizes 10 1000 5 1000 20 100 50 500

SUÍNOS

Inicial 0 100 0 0 0 0 5 0

Crescim. 1 100 2 100 5 20 5 100

Termin. 3 500 3 100 10 20 0 100

Matrizes 5 1000 5 200 10 50 0 200

BOVINOS

Terneiros 20 300 1000 400 400 250 400

Machos adultos 20 300 1000 400 400 250 400

Fêmeas lactação 0 500 2000 800 800 250 800

EQÜINOS

20 1000

PERUS

Até 21 dias 0 100

Mais de 21 dias 5 500 Fonte: LAMIC (2008).

Legenda de abreviaturas:

AFLA: Aflatoxina FUMO: Fumonisinas ACRA A: Ocratoxina A DOM: Deoxinivale-nol HT.2: Toxina HT 2 T.2: Toxina T2 ZEA: Zearalenona DAS: Diacetoxis-cripenol

3.9 COMO PREVENIR A OCORRÊNCIA DE PRAGAS E FUNGOS NO MILHO

Segundo SANTOS (2006), o controle preventivo constitui um passo

importante para o sucesso de um programa de manejo integrado de pragas em

33

grãos armazenados. Para implementar um efetivo programa de manejo integrado,

com redução do potencial de infestação, torna-se necessário que a gerência da

unidade armazenadora se conscientize da importância da influência dos fatores

ecológicos, como temperatura, teor de umidade do grão, a umidade relativa do

ambiente e o período de armazenagem, envolvidos no sistema. Da mesma maneira

a escolha da cultivar, o processo de colheita, a recepção e limpeza, a secagem de

grãos, a aeração e refrigeração, são fatores também importantes para o controle

preventivo das pragas de grãos armazenados.

Uma característica positiva dos grãos é a possibilidade de serem

armazenados por longo período de tempo, sem perdas significativas da qualidade.

Sobre o ambiente dos grãos armazenados exercem grande influência os fatores

como temperatura, umidade, disponibilidade de oxigênio, microorganismos, insetos,

roedores e pássaros (SANTOS, 2006).

3.10 IMPORTÂNCIA DA CULTIVAR SOBRE A PRESERVAÇÃO DA QUALIDADE

DOS GRÃOS

As lavouras de grãos mais duros são mais resistentes ao ataque de pragas.

Fatores como o empalhamento, a dureza do grão e a concentração em ácidos

fenólicos são preponderantes para a menor incidência de pragas, as quais iniciam o

ataque no campo, mas é no armazém que se multiplica em grande número e

causam os maiores danos. É desejável que a cultivar apresente empalhamento que

cubra bem a ponta da espiga, pois esta característica evita dano por insetos e por

fungos que propiciam a ocorrência de grãos ardidos, que tenha maior teor de ácidos

fenólicos e conseqüentemente grãos mais duros para dificultar o ataque de pragas

durante o armazenamento (SANTOS, 2006).

3.11 IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE COLHEITA NA PREVENÇÃO CONTRA

PRAGAS

A colheita deve ser realizada logo após a maturação fisiológica, garantindo o

mais alto rendimento de grãos e a menor incidência de pragas de grãos

armazenados. Entretanto, não é recomendável colher nessa fase, pois os grãos

ainda estão com alto teor de umidade (cerca 36%), requerendo a secagem

34

complementar por métodos artificiais, com excessivo consumo de energia e com

possibilidade de comprometer a qualidade dos grãos, provocando-lhes quebras e

trincas, tornando-os mais vulneráveis a serem atacados posteriormente por insetos

(SANTOS, 2006).

O mesmo autor refere que o tempo de permanência do milho no campo por

período prolongado, ou seja, o atraso na colheita varia de região para região,

dependendo do nível tecnológico, sistema de colheita e das condições climáticas,

como umidade do ar, temperatura e insolação. Este atraso na colheita favorece a

incidência de insetos como gorgulhos e traças. A colheita do milho pode ser

realizada manual ou mecanicamente.

3.12 EFEITO DA TEMPERATURA E DO TEOR DE UMIDADE DO GRÃO SOBRE

OS INSETOS

SANTOS (2006) afirma que a temperatura e a umidade dos grãos constituem

elementos determinantes na ocorrência de insetos e fungos durante o

armazenamento. A maioria das espécies de insetos e de fungos reduz sua atividade

biológica a 15ºC. A aeração, que consiste em forçar a passagem de ar através da

massa de grãos, constitui uma operação fundamental para abaixar e uniformizar a

temperatura da massa de grãos armazenados. O teor de umidade do grão é outro

ponto crítico para uma armazenagem de qualidade. Grãos com altos teores de

umidade tornam-se muito vulneráveis a serem colonizados por altas populações de

insetos e fungos. Para uma armazenagem segura é necessário secar o grão,

forçando a passagem do ar aquecido através da massa de grãos ou secando-o com

ar natural. Embora o fluxo de ar durante a aeração seja tão baixo a ponto de não

reduzir a umidade do grão (quando realizado à temperatura natural), mas deve-se

ter cuidado, porque uma aeração excessiva poderá reduzir o teor de umidade e,

consequentemente, o peso. O desenvolvimento de insetos e fungos acelera

rapidamente sob as condições ideais de temperatura e umidade, impondo limites no

tempo para uma armazenagem segura.

Grãos com umidade adequada e uniformemente distribuída por toda a massa

podem permanecer armazenados com segurança por longo período de tempo.

Quando não houver aeração, a umidade migra de um ponto para outro. Esta

movimentação da umidade ocorre em função de diferenças significativas na

35

temperatura dentro da massa de grãos, provocando correntes de convecção de ar,

criando pontos de alta umidade relativa e alto teor de umidade no grão e,

consequentemente, pontos com condições ambientais favoráveis para o

desenvolvimento de insetos e fungos. Portanto, a aeração exerce uma função

essencial tanto para manter a temperatura e a umidade no ponto desejado, quanto

para uniformizar e distribuir estes fatores na massa de grãos. Conclui-se, portanto,

que a estabilidade da umidade e temperatura são fundamentais para o controle

preventivo da ocorrência de insetos e fungos.

3.13 AÇÕES PARA PREVENIR E CONTROLAR AS PRAGAS

Aspectos importantes como a escolha da cultivar, colher no momento

adequado, promover a limpeza dos armazéns, ainda existem outras práticas que

contribuem para prevenir.

O uso da aeração para inibir o desenvolvimento de pragas já vem, há muito

tempo, sendo praticado. A aeração pode reduzir a temperatura da massa de grãos a

um valor que inibe a multiplicação dos insetos. Porém algumas espécies de insetos

são mais adaptadas às condições de temperaturas mais baixa e o efeito da aeração,

somente, não é capaz de reprimir o desenvolvimento populacional de algumas

espécies. A aeração deve ser realizada quando a temperatura do ar estiver mais

baixa e o ar estiver mais seco. Ela pode ser realizada de forma contínua ou em

intervalos de tempo determinados, considerando-se faixas de temperatura ideal, ou

mesmo baseando-se na diferença entre a temperatura do ar ambiente e temperatura

do grão. O processo de resfriamento com ar condicionado: ar frio e relativamente

seco tem sua passagem forçada pela massa de grãos armazenados em silos, os

quais podem ser de diferentes tamanhos. Normalmente, uma vez que o grão tenha

sido resfriado, ele assim, permanece por vários meses. Além da redução de custos

de secagem, de perdas fisiológicas pela respiração do grão e da manutenção da alta

qualidade, o resfriamento do grão oferece excelente proteção contra insetos

(SANTOS, 2006).

Mesmo após a colheita os grãos continuam a respirar. O oxigênio é absorvido

e, durante o metabolismo, os carboidratos se transformam em gás carbônico, água e

calor, havendo perda de matéria seca e conseqüentemente perda de peso. A

produção de calor e a intensidade da respiração dependem, portanto, da

36

temperatura e do teor de umidade do grão. Tomando-se, por exemplo, uma

quantidade de 1000 toneladas de grãos com o teor de umidade de 15% e uma

temperatura de armazenagem de 35ºC, a perda de matéria seca após, um mês de

armazenado, será de cerca de 5 ton. Se este lote de grãos estivesse mais úmido as

perdas seriam ainda muito maiores. Se a temperatura de armazenagem for reduzida

para 10ºC, estas perdas cairiam para 0,2 ton. Isto mostra que o resfriamento dos

grãos pode reduzir a perda de matéria seca em torno de 80 a 90%, em apenas um

mês de armazenagem.

Inicialmente o resfriamento dos grãos era usado para condicionar sementes

e/ou grãos colhidos muito úmidos, enquanto aguardava pela entrada no secador.

Atualmente, proporcionalmente, mais grãos secos do que úmidos são resfriados

como forma de controlar o desenvolvimento dos insetos e fungos (SANTOS, 2006).

3.14 CONTROLE DE ROEDORES

Segundo SILVA (2008 b) nas indústrias de alimentos e unidades de

armazenagem de grãos, ratos causam problemas devido ao volume de produtos,

que estes podem consumir danificar e contaminar. Estudos revelam que em média

um rato consome 25g de alimentos por dia podendo gerar um prejuízo anual de 5

dólares. No entanto, um roedor ao alimentar-se, geralmente, danifica um volume que

varia de 5 a 10 vezes ao consumido. O que estende o prejuízo anual para a faixa de

25 a 50 dólares, por rato.

Conforme o autor, quanto às possibilidades de contaminações dos produtos

são estimadas que por meio dos pêlos, fezes, urina e mordidas dos ratos possam

ser transmitidas quarenta e cinco tipos de doenças.

Outros fatores são os danos estruturais causados pelos ratos, como por

exemplo, os provocados aos cabos elétricos. O que pode causar curtos-circuitos ou

ser fonte de ignição em processos de explosões. Por isso, é imprescindível que

empreendimentos agro-industriais implantem programas de controle de roedores. E

estes, se fundamentam na adoção das seguintes medidas: (a) implantação de

barreiras físicas, (b) adoção de métodos para saneamento de ambientes, e (c)

redução do número de indivíduos de uma população (SILVA , 2008 b).

37

3.15 HIGIENIZAÇÃO ESPACIAL DOS SILOS E ARMAZÉNS

Segundo SANTOS (2006), as medidas preventivas que devem ser tomadas

durante a armazenagem para evitar problemas:

- Promover uma boa limpeza dos grãos antes de serem armazenados.

- Limpar toda a estrutura, de preferência utilizando-se de jatos de ar para

desalojar a sujeira das paredes e dos equipamentos, e recolher todo o material fino

com aspirador de pó.

- Inspecionar todo o teto e consertar toda e qualquer possibilidade de goteira

antes de carregar o silo ou armazém.

- Não permitir acúmulo de lixo, dentro ou mesmo fora da unidade

armazenadora.

- Pulverizar as paredes, tetos e piso de unidades armazenadoras vazias com

produto inseticida registrado e aprovado tecnicamente para esta finalidade.

- Monitorar a temperatura da massa de grãos, a umidade do grão e a

presença dos insetos em pontos críticos do silo.

- Somente armazenar grãos de safra nova em estrutura vazia e que tenha

passado por uma higienização geral e nunca misturar grão novo com grão velho.

- Lembrar sempre que grãos, submetidos à aeração programada, ou melhor,

ainda se refrigerados, nunca se deterioram.

A nebulização é uma prática que consiste na aplicação de um inseticida na

forma de micro partículas que são lançadas numa corrente de fumaça produzida por

um equipamento que queima óleo mineral, produz e lança no ambiente um jato de

fumaça. Esta fumaça, de baixa densidade, carrega as micro partículas de inseticida

para os pontos mais altos da unidade armazenadora onde normalmente não são

atingidos por pulverização. Este tipo de tratamento visa controlar, especialmente, os

insetos voadores como as mariposas que se alojam nos pontos mais altos da

unidade armazenadora. A dose do inseticida na operação de nebulização é

calculada em função do volume (m3) de espaço interno da estrutura que será

ocupada pela fumaça (SANTOS, 2006).

38

3.16 QUALIDADE NUTRICIONAL DA RAÇÃO

Segundo BELLAVER (2008), objetivando a produção de alimentos cada vez

melhores e em maior quantidade, a manutenção de animais saudáveis e a utilização

racional dos insumos, deve-se utilizar formulação de rações como instrumento, mas

para isso é imprescindível que o produto tenha o máximo da qualidade desejada.

Por qualidade nutricional dos concentrados, entende-se a composição de proteína,

aminoácidos, ácidos graxos, minerais, vitaminas e a energia digestível dos

componentes e da ração propriamente dita.

Esse autor também afirma que qualidade tecnológica refere-se as

características físicas dos ingredientes e rações, bem como aquelas relacionadas

com o processo de fabricação. A qualidade do ponto de vista de segurança envolve

a ausência de substâncias e microorganismos nocivos à saúde dos animais,

ambiente e consumidores. Sendo que as rações têm relação direta com a segurança

alimentar, essa deve ser mantida e provada em casos de questões judiciais. A

legislação não permite que os produtos animais façam mal à saúde da população e,

por tanto, devem oferecer garantia de seu uso.

Outro aspecto passou a ser importante, a qualidade emocional do produto, a

qual está relacionada com o temor de substâncias perigosas presentes nos produtos

animais, amplamente divulgados pela mídia podendo ser associado aos aspectos

étnicos, religiosos, etológicos (orgânicos) e culturais (vegetarianos), os quais

também regulam o consumo de produtos de origem animal (BELLAVER, 2008).

Para esse autor a ração pode estar relacionada com algum problema que

venha a acometer os animais, devido a sua conservação inadequada ou ao seu uso

indevido. Por isso, o controle de qualidade na produção da ração é importante para

a correta nutrição dos animais em cada fase da criação. Assim, poderá ser

explorado o melhor de seu potencial genético, aumentando a eficiência produtiva,

reprodutiva e alimentar. Tendo como conseqüência, o aumento do lucro, que é o

objetivo de toda criação de animais de produção.

4 METODOLOGIA

4.1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

O estágio foi realizado na empresa Daniel Montagner Representações Ltda, a

qual presta serviço de representação técnica e comercial para a Nutron Alimentos,

empresa de nutrição animal de Campinas/SP. Atuando junto aos produtores de leite,

fábricas de rações vinculadas ou não à cooperativas do Vale do Taquari e Serra

Gaúcha, desenvolvendo trabalho de vendas e orientação técnica em nutrição de

gado leiteiro.

4.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Foram realizadas visitas à quatro (4) fábricas de rações e uma (1)

propriedade rural, nas quais foram acompanhados os processos desde o

recebimento da matéria prima até o fornecimento para os animais.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 FÁBRICA DE RAÇÕES I

No acompanhamento feito na Fábrica I, no município de Guabijú/RS foi

observado que as instalações estavam em situação de desconformidade segundo

recomendado. A mesma não possuía local para armazenagem das matérias-primas,

a fim de manter as características originais do produto e nem mesmo de garantir sua

conservação (armazenamento).

O milho e o farelo de soja, matérias-primas utilizadas na fabricação das

rações são descarregados e armazenados no chão, sem qualquer tipo de depósito

apropriado (Figura 01), o que seria recomendado para garantir a integridade e

conservação dos produtos. Utilizam também, farelo de trigo e casca de soja como

matérias-primas na elaboração de concentrados para bovinos leiteiros.

FIGURA 01 - Local de recebimento e armazenagem das matérias-primas (milho e farelo de soja) da Fábrica I.

Farelo de soja

Milho

41

Não há controle de roedores e insetos, não existe estrutura para secagem dos

grãos o que evitaria deterioração e exposição dos produtos assim ao ataque de

fungos e possível produção de micotoxinas, o que, como visto anteriormente, é um

grande problema à produção animal e que não vem tendo a devida atenção que

deveria pelas empresas, fiscalizadas pelos órgãos competentes.

Essa empresa possui como ponto positivo, as análises que realiza em suas

matérias-primas, basicamente PB, FB, EE, NDT, Ca e P, para a formulação das

rações, sendo comprovado nos laudos, das amostras enviadas ao LABTRON

(Laboratório Nutron), a qual fornece núcleos minerais vitamínicos para a elaboração

de suas rações e presta este serviço como forma de cortesia aos seus clientes.

A empresa produz ração ensacada para bovinos leiteiros, a qual era

armazenada de forma inadequada (Figura 02), sem qualquer controle de

armazenagem dos mesmos e não possuía rotulagem de seus produtos os quais

devem garantir a conformidade e a qualidade do produto final.

.

Figura 02 - Local de armazenamento da ração pronta (estoque).

42

A empresa recebeu a orientação que deveria adequar as instalações para

recebimento e armazenamento correto de cada matéria-prima utilizada na fábrica de

rações. Como também dimensionamento adequado das instalações físicas e adotar

imediatamente o controle de roedores e insetos.

Observou-se que não eram realizadas analises de micotoxinas nas matérias

primas e no produto final, análises estas capazes de detectar alguma possível

contaminação por fungos, e assim produzir toxinas as quais sabidamente prejudicam

as criações animais, e pode ser um risco a saúde pública.

É uma empresa que ainda não possui registro no MAPA, e em caso de

fiscalização, seria autuada e teria que se adequar às normas de fabricação de

rações estabelecidos pela legislação.

5.2 FABRICA DE RAÇÕES - II

No município de Sananduva/RS, foi acompanhado o processo de fabricação

de rações da Fabrica II na qual foram observados todos os processos de fabricação,

desde o recebimento da matéria-prima (Figura 03), até seu carregamento

(expedição).

Figura 03 - Local de recebimento das matérias-primas para estocagem da Fábrica de Rações II.

43

O recebimento dos grãos ocorre na parte da manhã, quando os caminhões

descarregam o milho e demais matérias-primas nas moegas (1 e 2), a seguir vai

para a túlia (depósito de armazenagem), com 4 compartimentos podendo receber

até 4 matérias-primas diferentes. Posteriormente, segue para o moedor, sendo cada

produto é moído separadamente, passando para o misturador com capacidade para

500 kg/mistura, sendo realizada a mistura completa de todos os ingredientes no final

de aproximadamente 5 minutos, já adicionado o núcleo mineral vitamínico.

A empresa compra milho de 15 produtores previamente selecionados de

acordo com padrões de qualidade exigidos para fabricação de rações. Para esta

safra haviam plantado milho com sementes dos cultivares 3069 (Agroceres), 30F53

(Pionner) e 30R50 (Agroeste), conforme recomendado pelos técnicos da

cooperativa, por serem milhos com grãos mais duros, sendo assim, mais resistentes

ao ataque de fungos e com menor risco de produção de micotoxinas.

É realizado o controle de roedores conforme recomendado, utiliza gás toxin e

actrit no controle de insetos. Produz apenas ração ensacada para bovinos leiteiros

com teores de proteína bruta que variam de 18 a 22%, composta basicamente das

matérias primas milho, farelo de soja, triguilho, cevada e farelo de trigo, com o

núcleo mineral vitamínico, fonte de Cobalto, Cobre, Ferro, Iodo, Manganês, Selênio,

Vitamina A, Vitamina D3, Vitamina E e Zinco.

Também possuem um produto concentrado protéico para vacas leiteiras, com

os seguintes níveis de garantia: Aflatoxinas - 20 ppb (máximo), Cálcio 3,0%

(máximo), Extrato Etéreo 1% (mínimo), Fósforo 1% (mínimo), Matéria Fibrosa 8%

(máximo), Matéria Mineral 15% (máximo), Proteína Bruta 40% (mínimo) e Umidade

13% (máximo).

Para garantia do produto final, realiza testes no LABTRON (Laboratório

Nutron), sendo a empresa que fornece o núcleo mineral vitamínico para a fabricação

da ração e realiza os testes de garantia dos níveis nutricionais das rações prontas.

A fábrica de ração possui capacidade máxima de produção de 1.000

sacos/dia, mas no momento estava operando com produção de 400 sacos/dia.

Utiliza o sistema PEPS (Primeiro que Entra Primeiro que Sai) tanto para sua matéria-

prima, quanto para seu produto pronto, a fim de garantir a utilização dos produtos

dentro da validade. O prazo de validade das rações é de 90 dias, mas logo após sua

produção, é imediatamente comercializada.

44

5.3 FABRICA DE RAÇÕES – III

A terceira fábrica de rações esta situada no município de Estrela/RS, se trata

de uma empresa de grande porte (Figura 04).

Figura 04 - Fábrica de rações III – Estrela/RS

A fabrica possui Procedimento Operacional Padrão (POP), seguindo os

procedimentos exigidos pela portaria 108 do Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento (MAPA) de 4 de setembro de 1991, que estabelece procedimentos

padrões para identificação, avaliação, coleta de amostras e operações

subseqüentes, com a finalidade de evitar a descarga de produtos em

desconformidade e minimizar as fontes de erro no processo analítico.

Quando é realizada a compra do milho, é coletada amostra no armazém de

compra e enviada para o laboratório de micotoxinas (LAMIC Santa Maria) para

analise de presença de micotoxinas.

Ao chegar à fábrica, é coletada uma amostra da matéria-prima no caminhão,

sendo levada ao laboratório e separada em um quarteador em partes iguais.

Separa-se amostra de 250g, sendo peneirada (peneira de 5mm), e posteriormente,

45

são retiradas as impurezas mais grosseiras como resto de sabugos. Após passa

para uma peneira de 3mm onde é separada a quirera (tolerância máxima - 6%) e,

finalmente, o que restar no fundo (última peneira) é o pó, o qual não pode

ultrapassar o máximo de 1%. O teor de umidade não pode ultrapassar 13,5%.

Também, possuem peneira para detectar insetos, mas não se constata insetos no

recebimento, o qual pode ser mais facilmente infestado depois que for para

armazenamento no silo.

A empresa tem o cuidado de não colocar milho novo em contato com o velho,

sabendo-se que a maior quantidade de micotoxinas encontra-se na poeira que resta

nos silos, que são muito bem higienizados, com o objetivo de manter o máximo

possível da qualidade do grão, e também, obter o maior tempo possível de

armazenamento.

Quando o farelo de soja chega à empresa, é realizada a análise de proteína

bruta. Atualmente, a empresa adquire a matéria-prima de somente dois

fornecedores e, dificilmente, há problema nessa análise, já que garantem os 44% PB

exigidos pela fábrica.

O farelo de soja recebe também análise do teor de umidade, não podendo

ultrapassar o limite máximo de 13,5%, pois acima deste teor pode causar a

deterioração do produto. Após, é feita análise de atividade ureática, colocando-se a

amostra em um recipiente de vidro, adicionando-se um reagente (uréia, ácido

clorídrico e ácido sulfúrico) no qual ocorre uma reação e é verificada a quantidade

de pontos pretos no recipiente, caso seja maior que 100 pontos, deve haver uma

análise quantitativa. Também é feita análise de solubilidade em KOH, indicando se

toda proteína presente no farelo de soja está disponível para o animal, pois no

processo extração do farelo (tostagem) pode ter ocorrido um superaquecimento, o

que causa a desnaturação protéica, tornando parte da proteína indigestível.

Na casca de soja é adotado o mesmo controle de qualidade para o farelo de

soja. Quanto ao teor de proteína bruta da casca de soja, é realizada a análise no

momento da compra adquirida dos mesmos fornecedores do farelo.

O farelo de trigo quando de sua aquisição, é coletada amostra para análise do

teor de umidade e proteína bruta que deve estar em torno de 16%.

Assim como para o milho, é enviada uma amostra do farelo de trigo para o

LAMIC (Santa Maria) para análise de micotoxinas. A empresa tem muito cuidado

com o farelo, pois na extração da farinha de trigo pelos moinhos, o trigo é molhado

46

para facilitar a extração, após isso, se não houver um tratamento de secagem

correto, para o farelo, o mesmo fica susceptível ao desenvolvimento de fungos e a

produção de micotoxinas, principalmente aflatoxinas. Portanto, são realizados testes

de rotina para detecção da concentração de micotoxinas, além da análise do teor de

umidade do farelo de trigo, não podendo ultrapassar 13,5%.

Também utilizam os farelos de arroz integral e desengordurado (baixo teor de

óleo), sendo que no momento de sua aquisição, são realizadas análises de proteína

bruta, extrato etéreo e o teor de peróxidos, usado para avaliar se a matéria-prima

está deteriorada (rancificação). Além destas análises, são realizadas análises de

umidade (máximo 13,5%) e matéria mineral pois farelo de arroz misturado com muita

casca, aumenta o teor fibroso do alimento, comprometendo o desempenho dos

animais.

No caso de uma matéria prima ser reprovada em alguma das análises

realizadas antes de ser descarregada, toda a carga é devolvida para o fornecedor,

por não apresentar os padrões exigidos. O produto que acontece mais devolução é

o milho, pois a empresa não abre mão de garantir a qualidade em seus produtos

conforme exigidos pela legislação.

Esta fábrica está em fase de modernização com a construção de novas

estruturas físicas. Quando estiverem prontas as novas instalações, a empresa

implantará sistema de BPF’s e APPCC garantindo assim, uma maior qualidade em

suas rações e por conseqüência, maior qualidade aos produtos finais para os

consumidores.

5.4 FÁBRICA DE RAÇÕES - IV

Na Fábrica de Rações IV, no município de Carlos Barbosa/RS, a qual produz

concentrados para bovinos leiteiros a base de milho, farelo de soja e farelo de trigo.

Seu concentrado é fornecido aos produtores associados à cooperativa, na forma

ensacada e à granel.

47

Figura 05. Local do recebimento das matérias-primas e secagem para armazenagem (Fábrica IV).

Foi observada a rotina diária de produção, sendo que na parte da manhã,

ocorre o recebimento de matérias-primas. Do milho é feita análise visual, em seguida

este passa pela classificação para saber se está de acordo com o que foi comprado.

É descarregado em moegas, passando na seqüência pelo processo de limpeza para

eliminação de impurezas e após, para o secador, onde é retirado o excesso de

umidade. Posteriormente, o milho seco (padrão de 13% umidade) segue para os

silos de armazenagem, que possuem sistema de aeração e refrigeração adequados

para garantir a integridade dos grãos. Após receber o milho, as moegas são limpas

para receber o descarregamento das demais matérias-primas.

Primeiramente, é realizada análise visual do farelo de soja, logo em seguida é

coletada uma amostra para ser enviada ao laboratório da empresa para análises dos

teores de proteína bruta, umidade e solubilidade em KOH. Passando por esses

testes, o produto é descarregado e encaminhado à armazenagem em local

adequado.

O farelo de trigo recebido na fábrica de rações é analisado para verificação

dos teores de umidade e proteína bruta.

A empresa realiza o controle contra insetos e roedores e está dentro das

especificações exigidas quanto a estrutura física e controle sanitário. Produzem

48

concentrados que podem variar seus teores protéicos de 18 a 24%, conforme

exigência do cliente.

Trata-se de uma fábrica de médio porte, a qual, segue todos os padrões

desejados para limpeza e armazenamento adequado de suas matérias-primas a fim

de evitar o máximo possível à contaminação por fungos. Esta empresa segue os

padrões desejados tanto no recebimento, conservação de matérias-primas e

produtos finais, obedecendo as recomendações estabelecidas para cada etapa do

processo.

5.5 PROPRIEDADES RURAIS

Nas propriedades, pode ser observado que aquelas que são integradas,

recebendo a ração das cooperativas, estão menos suscetíveis a variações nos

níveis nutricionais das rações e também a contaminação por fungos e problemas

com micotoxinas. Pois a ração é armazenada em silos adequados (ração a granel),

os quais são limpos periodicamente, sem suscetibilidade a variação dos teores de

umidade, presença de pragas, que podem comprometer a qualidade do produto.

Algumas rações, contem adsorventes de micotoxinas, quando é utilizada alguma

matéria-prima de qualidade duvidosa. O problema é maior nas propriedades rurais

que produzem seu próprio milho, que muitas vezes, é colhido com teores altos de

umidade, sendo armazenados de forma inadequada em paióis sobre lonas, Além de

serem misturados milho novo (safra) com milho armazenado anteriormente, expondo

o mesmo a ação de fungos, aumentando o risco de contaminação por micotoxinas.

As rações que são feitas na propriedade, na maioria das vezes, não

balanceadas ou não formuladas corretamente conforme as exigências de produção

dos animais. Os produtores adquirem de terceiros as demais matérias primas, sendo

inevitável a contaminação de sua criação com micotoxinas.

Entretanto, a orientação fornecida leva em consideração as recomendações

de nutrição e alimentação correta de gado leiteiro, para cada fase de produção e

categoria a ser fornecida a dieta. Nos casos suspeitos de contaminação por

micotoxinas, é recomendada a utilização do adsorvente de micotoxinas, no intuito de

reduzir os efeitos negativos na produção de leite e no comprometimento da

reprodução dos animais.

49

Muitas propriedades utilizam resíduos de produtos, como bagaço de laranja,

resíduo de cevada, entre outros os quais possuem grande quantidade de umidade e

facilmente os fungos se desenvolvem com potencial para produção de micotoxinas.

Em uma das propriedades de leite que foi visitada em Carlos Barbosa, foi

constatado que o proprietário estava usando bergamotas para a alimentação dos

bovinos leiteiros, as quais se encontravam em péssimo estado de armazenamento,

com uma camada muito densa de fungos sobre elas, demonstrando um grande

potencial de contaminação por micotoxina. A orientação do técnico da cooperativa

foi explicar ao produtor sobre os malefícios que as micotoxinas representavam ao

seu rebanho, e as conseqüentes perdas econômicas. Foi observado na visita que o

produtor já estava usando adsorvente de micotoxina na ração.

O produtor foi orientado a não seguir fornecendo bergamotas na alimentação

dos seus animais, pois a eliminação da fonte de contaminação é a maneira mais

rápida de eliminar ou reduzir o efeito cumulativo das micotoxinas no organismo

animal. Além disto, foi recomendado coletar uma amostra deste alimento para

análise da concentração de aflatoxinas, zearalenona, ocratocina, tricotecenos,

fumonisina no laboratório LAMIC (UFSM). E assim, usar com critério o adsorvente

de micotoxinas mais recomendado.

6 CONCLUSÂO

A melhor forma para evitar as micotoxinas está na sua prevenção através de

processos adequados de colheita, secagem e armazenamento de grãos.

É extremamente necessário para uma criação, que o concentrado seja inócuo

e da melhor qualidade possível, pois representa aproximadamente 80% do custo da

alimentação dos animais, e assim permitir que os animais expressem todo seu

potencial genético.

Para o consumo de concentrados contaminados por micotoxinas há a

necessidade de se usar adsorventes específicos, os quais aumentam os custos.

A Fábrica I observada no estágio não oferece as condições adequadas para

garantir qualidade e, principalmente, inocuidade de seus produtos.

As Fábricas II, III e IV estão dentro do exigido pela legislação, porém devem

implantar sistemas BPF (boas práticas de fabricação) e HACCP (análise de perigos

e pontos críticos de controle) que aplicados à indústria de rações são instrumentos

de gestão de segurança de alimentos.

Deve haver a conscientização de que para um alimento como o leite ser de

qualidade além de boas práticas na sua industrialização, é importante a

rastreabilidade desde a qualidade dos grãos produzidos, até as técnicas utilizadas

na fabricação dos concentrados, seu transporte e armazenamento, a fim de garantir

o mínimo possível de contaminação.

Deve haver um maior controle de qualidade das matérias-primas utilizadas na

alimentação de bovinos leiteiros, já que a ingestão de alimentos contaminados com

aflatoxina B1, que é excretada na forma de toxina M1, no leite, não é eliminada pelo

processo de pasteurização e, portanto, é um risco de segurança alimentar para os

consumidores.

São necessários mais estudos sobre as conseqüências que as micotoxinas

representam na produtividade animal, bem como sobre as implicações na saúde

humana.

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