Contributo para a Adaptação Cultural e Linguística do...

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Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia Ocupacional, na Especialidade de Integração Sensorial Março 2013 Orientador: Professora Doutora Manuela Ferreira Contributo para a Adaptação Cultural e Linguística do Sensory Profile School Companion. Ana Luísa Costa Afonso

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Projeto elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia Ocupacional,

na Especialidade de Integração Sensorial

Março 2013

Orientador: Professora Doutora Manuela Ferreira

Contributo para a Adaptação Cultural e Linguística do Sensory Profile School Companion.

Ana Luísa Costa Afonso

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RESUMO

OBJETIVO. Contribuir para a adaptação cultural e linguística do teste Sensory Profile School

Companion. METODOLOGIA. Foi utilizado um painel de peritos, constituído por 7 terapeutas ocupacionais,

3 terapeutas da fala, 2 professores de Línguas, 1 psicóloga e 1 tradutora. Iniciou-se pela

realização de duas traduções independentes, com as quais se chegou à tradução de consenso. Os

itens desta versão, em paralelo com os da versão original, foram submetidos à análise do painel

de peritos, para avaliação das equivalências semântica e linguística, obtendo-se a versão

preliminar do Perfil Sensorial Escolar, posteriormente submetida a um pré-teste com uma

amostra de 32 professores e educadores. Foi obtida a versão final do Perfil Sensorial Escolar

após as alterações feitas com base nos resultados do pré-teste.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS. Os resultados do Painel de Peritos

refletem grande disparidade de concordância em relação à tradução e formulação dos itens. Nove

itens tiveram concordância de 100% dos peritos, os restantes tiveram concordâncias entre 93% e

21%. Foi feita análise de conteúdo das sugestões e comentários dos peritos. Do total de 62 itens,

17 foram mantidos (9 dos quais com 100% de concordância) e 45 foram alterados com base em

critérios pré definidos. Em relação ao pré-teste, não foram introduzidas alterações aos itens do

questionário, uma vez que nenhum item levantou dúvidas a mais de 15% dos participantes.

CONCLUSÃO. Considera-se que Perfil Sensorial Escolar foi bem aceite pelos professores e

educadores, mostrando-se ser um instrumento acessível e fácil de preencher, com uma

linguagem clara e percetível.

PALAVRAS CHAVE: Terapia Ocupacional, Contexto Escolar, Integração Sensorial, Avaliação

Processamento Sensorial, Sensory Profile School Companion (SPSC), Adaptação Cultural e

Linguística de Instrumentos de Avaliação.

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RESUME

OBJECTIVE. Contribute to the cultural and linguistic adaptation of Sensory Profile School

Companion.

METHODOLOGY. Was used a panel of experts, comprising 7 occupational therapists, 3 speech

therapists, 2 language teachers, 1 psychologist and 1 translator. Starting with two independent

translations to reach consensus translation. The items in this version, in parallel with the original

version, were referred to the analysis of the panel of experts for evaluation of linguistic and

semantic equivalences. The preliminary version of the Sensory Profile School Companion in

Portuguese was subjected to a pre-test with in a sample of 32 teachers and educators. The final

version was obtained after changes made based on the results of the pre-test.

PRESENTATION AND DISCUSSION OF RESULTS. The results of the Expert Panel reflect

wide disparity of agreement in relation to translation and wording of items. Nine items had 100%

concordance of the experts, the other had concordances between 93% and 21%. Content analysis

was made of the suggestions and comments of experts. Of the total of 62 items, 17 were kept (9

of them with 100% agreement) and 45 were changed based on pre-defined criteria. In relation to

the pre-test, there were no changes introduced to the items of the questionnaire, since no item

raised doubts over 15% of the participants.

CONCLUSION. It is considered that Sensory Profile School Companion in Portuguese was well

accepted by teachers and educators, showing himself to be an affordable, easy-to-fill tool with a

clear and accessible language.

KEY WORDS: Occupational Therapy, School context, Sensory Integration, Sensory Processing

Evaluation, Sensory Profile School Companion (SPSC), Cultural and linguistic Adaptation of

Assessment Tools.

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INTRODUÇÃO A implementação do decreto-lei 3/2008 em Portugal abriu as portas da escola a diferentes

profissionais de saúde. Desde essa altura que os Terapeutas Ocupacionais têm mais

oportunidades de trabalho em contexto escolar. Os terapeutas podem estar integrados nos

quadros de escola, sendo contratados diretamente pelos Agrupamentos de Escolas, ou fazer parte

das equipas terapêuticas dos Centros de Recursos para a Inclusão (CRI), sendo contratados por

diferentes instituições que se candidatem a ser CRI.

Em Portugal, não existe regulação jurídica nem orientações metodológicas para a

intervenção dos Terapeutas Ocupacionais em contexto Escolar. Existem apenas as orientações

para o funcionamento geral dos CRI (Direção Geral de Inovação e de Desenvolvimento

Curricular, 2006) e as orientações para a Educação Inclusiva e Educação Especial (Direção Geral

de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, 2011), que não dão indicações claras quanto à

atuação específica do Terapeuta Ocupacional.

Apesar da inexistência de publicações sobre este tema em português, as referências

conceptuais, enquadramento teórico e os princípios de intervenção, descritos por diferentes

autores, refletem de forma clara os benefícios da atuação dos terapeutas no contexto ocupacional

das crianças.

Case-Smith (2001) reforça que os terapeutas ocupacionais que trabalham em contexto

escolar têm a oportunidade de ajudar as crianças a serem funcionais no seu próprio contexto.

Bundy, Lane e Murray (2002) referem que a intervenção específica do terapeuta tem de ser

relevante do ponto de vista educativo, podendo a sua atuação ter a forma de intervenção direta,

de consultoria ou de monitorização.

Da mesma forma a importância do contexto escolar, enquanto contexto ocupacional, é

reforçada por diferentes modelos conceptuais.

O Modelo Ecológico do Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner, 1979 citado por

Paquette & Ryan, 2001) dimensiona a importância do ambiente e do contexto, em diferentes

níveis, para o desenvolvimento da criança. Os modelos profissionais de Terapia Ocupacional

(Kielohofner, 1997, 2002; Townsend, 1997) e os fundamentos da Ciência Ocupacional (Wilcock,

2006) reconhecem igualmente o papel determinante que o ambiente e o contexto assumem no

envolvimento e na participação ocupacional. A Classificação Internacional de Funcionalidade

(OMS, 2003) reforça ainda a importância dos fatores ambientais e do contexto no estado de

saúde, podendo estes fatores contribuir para limitar ou facilitar a Participação e a Funcionalidade.

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Contexto Escolar - Contexto Ocupacional A sala de aula, e todo o contexto inerente ao espaço escolar, assume uma importância

fundamental para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, por ser o local onde esta passa

a maior parte do seu tempo (Dunn, 2006). Em Portugal, segundo dados do INE (INE, 1999

citado por INE 2005), as crianças portuguesas passam em média seis horas diárias na escola.

Mais recentemente, com a introdução das Atividades Extracurriculares e da Componente de

Apoio à Família, este tempo pode estender-se até oito ou nove horas diárias, o que reforça a

influência deste contexto no seu desempenho e participação ocupacionais.

Com a implementação do Decreto-lei 3/2008, os Terapeutas Ocupacionais podem ser

chamados a integrar a equipa multidisciplinar que avalia e realiza o relatório Técnico-

Pedagógico de determinada criança que apresente dificuldades no seu desempenho escolar. Este

processo inicia-se com a avaliação multidisciplinar da criança e preenchimento da Classificação

Internacional de Funcionalidade (OMS, 2003), onde cada profissional contribui com informação

relevante e pertinente na sua área específica. Esta equipa decide depois quais as medidas a serem

aplicadas para o percurso escolar da criança.

Neste enquadramento é fundamental para o terapeuta ocupacional ter instrumentos de

avaliação que permitam perceber como é o desempenho da criança no contexto escolar. Este tipo

de instrumentos de avaliação são determinantes para suportar uma tomada de decisão

fundamentada (Case-Smith, 2001; Dunn, 2006; Bundy, Lane & Murray, 2002).

O terapeuta ocupacional seleciona instrumentos de avaliação consoante o modelo

profissional, o quadro de referência ou o modelo conceptual que utiliza para guiar o seu

raciocínio clínico, conforme é sugerido por Kielhofner (1997), Townsend (1997) e Bundy, Lane

e Murray (2002). A Integração Sensorial (IS) é um destes quadros de referência e um modelo

conceptual que pode ser utilizado pelo terapeuta no decurso da sua intervenção (Kielhofner,

1997).

A Integração Sensorial enquanto teoria, prática e tipo de intervenção, possibilita ao

terapeuta ocupacional uma compreensão alargada da criança e dos desafios ocupacionais que

esta enfrenta nos seus contextos de vida (Roley, Blanche & Schaff, 2001; Ayres, 2005; Bundy,

Lane & Murray, 2002). Através dos instrumentos de avaliação e princípios de intervenção

específicos, a Integração Sensorial constituindo-se assim uma referência incontornável para os

terapeutas que exercem a sua prática em contexto escolar.

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Teoria da Integração Sensorial e Desempenho Escolar Jean Ayres definiu a Integração Sensorial, na década de 70, como “o processo neurológico

que organiza as sensações do corpo e do ambiente, que dá significado e permite filtrar e

selecionar informação relevante, que permite agir e responder de forma adequada e significativa

a determinada situação, utilizando o corpo no espaço/ambiente de uma forma eficaz” (Ayres,

2005). A autora reconheceu, desde de logo, a importância da interação com o ambiente no

desenvolvimento das funções cerebrais subjacentes à aprendizagem e ao comportamento (Ayres

1972, citada por Roley, Blanche & Schaff, 2001).

Um dos princípios da Teoria da Integração Sensorial é que a aprendizagem ocorre quando

a pessoa tem a capacidade de receber, processar e utilizar a informação sensorial relevante para

organizar o comportamento e as respostas adaptativas (Bundy, Lane & Murray, 2002). Dunn

(2006) refere ainda que a capacidade de modular as respostas do Sistema Nervoso (organizar e

gerir toda a informação sensorial) permite responder de forma adequada aos estímulos do

ambiente.

Assim, uma criança consegue participar plenamente e ter sucesso na aprendizagem se for

capaz de gerir e de se adaptar de forma eficaz aos diferentes estímulos existentes no seu contexto

ocupacional (Dunn, 2006).

Dunn (2006) refere diferentes estudos realizados com crianças no espectro do Autismo,

com perturbação de défice de atenção e hiperatividade, e com desordens de regulação (Fertel-

Daly, Vandenberg, Edelson & Schilling, 2001; VandenBerg, 2001; Degangi, Sickel, Weiner, and

Kaplan, 1996 citados por Dunn, 2006), cujos resultados fornecem evidência inicial quanto à

relação entre processamento sensorial e o desempenho funcional das crianças na escola.

A modulação, um dos conceitos fundamentais na Integração Sensorial é definida como a

capacidade de regular e organizar o grau de intensidade e natureza da resposta a um input

sensorial, de uma forma graduada e adaptada (Miller & Lane, 2001 citadas por Roley, Blanche &

Schaff, 2001). Dunn (2006) defende que a modulação decorre da regulação entre as respostas de

habituação e sensitividade. A habituação ocorre quando o sistema nervoso reconhece

determinado estímulo como familiar. A sensitividade quando o estímulo é percecionado como

não familiar e potencialmente ameaçador. A modulação permite atingir e manter um ótimo nível

de desempenho e adaptação aos desafios da vida diária (Miller & Lane, 2001 citadas por Roley,

Blanche & Schaff, 2001).

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Avaliação do Processamento Sensorial - Modelo de Processamento Sensorial de Dunn O Modelo de Processamento Sensorial de Dunn (1997, citada por Dunn, 2006) propõe uma

compreensão alargada da modulação, do processamento sensorial e da sua contribuição para o

comportamento. O modelo baseia-se na interação entre limiar neurológico (quantidade de

estímulo necessário para a criança se aperceber e reagir ao estímulo) e respostas

comportamentais/autorregulação (que indicam a forma como a criança reage a esses estímulos).

No modelo, estes conceitos são dimensionados em dois eixos de continuum que interagem entre

si. Desta interação resultam quatro padrões de processamento sensorial: “baixo registo”,

“procura sensorial”, “sensitividade” e “evitamento sensorial”.

Segundo Dunn (2006), o “baixo registo” representa um padrão de alto limiar neurológico e

de respostas passivas de autorregulação, associado a crianças que não detetam informação

sensorial. A “procura sensorial” representa um padrão de alto limiar neurológico e de estratégias

ativas de autorregulação, associado a crianças que procuram mais informação sensorial para se

manterem alerta. A “sensitividade” corresponde a um padrão de baixo limiar neurológico e de

estratégias passivas de autorregulação, associado a crianças irritáveis que não têm estratégias

eficazes de autorregulação. O “evitamento sensorial” corresponde a um baixo limiar neurológico

e estratégias ativas de autorregulação, associados a crianças com comportamentos de fuga e

evitamento a determinadas experiências sensoriais.

O modelo permite perceber como é que as crianças gerem e se adaptam às experiências

sensoriais inerentes às suas ocupações e desafios do dia-a-dia. Dunn (2006) refere que os padrões

de processamento sensorial podem coexistir e/ou divergir nas diferentes modalidades sensoriais.

Todas as crianças podem exibir em certa medida estes padrões, no entanto, a autora reforça que o

simples facto de existir um padrão específico de processamento sensorial, não determina por si

só a disfunção.

Sensory Profile School Companion (SPSC) Dunn (2006) construiu diversos instrumentos de avaliação com base nos conceitos do seu

modelo, sendo um desses instrumentos o Sensory Profile School Companion (SPSC). Segundo a

autora, o SPSC permite avaliar o processamento sensorial da criança e a forma como influencia o

seu desempenho funcional, dentro da sala de aula e no contexto escolar.

O SPSC é um questionário constituído por 62 itens, que descrevem diferentes

comportamentos e respostas do aluno às experiências sensoriais no contexto escolar. Cada

comportamento é cotado pelo professor conforme a frequência com que ocorre, numa escala de

Likert (quase sempre, mais de 90% do tempo; frequentemente,75% do tempo; ocasionalmente,

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50% do tempo; raramente, 25% do tempo; quase nunca, menos de 10% do tempo). Na folha de

rosto, para além de apresentadas as instruções de preenchimento, são solicitados alguns dados

socio demográficos (nome da criança, data de nascimento, data, nível de ensino da criança, nome

da pessoa que preenche o questionário, frequência de contacto do professor com o aluno, tempo

de contato com o aluno, nome do terapeuta e área de intervenção e dificuldades que o aluno

apresenta na sala de aula). O instrumento está estandardizado para a população americana e pode

ser utilizado para a avaliação de crianças desde os 3 anos e 0 meses até aos 11 anos e 11 meses.

Os resultados do SPSC dão informação quanto aos padrões de processamento sensorial da

criança, que se enquadram nos quatro quadrantes do Modelo de Processamento Sensorial de

Dunn (1997): baixo registo, procura sensorial, sensitividade e evitamento sensorial. Os dados são

também analisados ao nível dos fatores da escola (fatores 1, 2, 3 e 4). Cada fator reflete um

padrão de interação especifico entre o processamento sensorial e as características de

aprendizagem do aluno. São ainda recolhidos os resultados de cada secção do instrumento que

correspondem às modalidades sensoriais (auditiva, visual, movimento e toque) e ao

comportamento. O teste demora aproximadamente 15 minutos a preencher pelos professores.

A autora reporta valores de fiabilidade com alfa de Cronbach entre 0.83 e 0.95. que

refletem uma boa consistência interna segundo Ferreira e Marques (1998) por estarem acima de

0.80. Refere ainda valores entre 0.80 e 0.95 para coeficiente de Pearson, no teste-reteste, o que

revela uma boa estabilidade entre os resultados obtidos em dois momentos de cotação diferentes.

Segundo a autora, a utilização combinada do SPSC do Perfil Sensorial – Questionário dos

Cuidadores (outro dos instrumentos construídos com base no seu modelo, que é preenchido pelos

pais), permite obter um panorama alargado do desempenho da criança nos diferentes contextos.

A combinação das perspetivas únicas dos pais e professores contribui para uma melhor

implementação de estratégias que facilitem a participação e envolvimento da criança em todos os

contextos (Dunn, 2006).

Os terapeutas ocupacionais que trabalham no contexto escolar e que utilizam a Integração

Sensorial, enfrentam o desafio de aplicar sistematicamente os princípios de neurofisiologia e

processamento sensorial para compreender e facilitar o contexto de aprendizagem dos alunos

(Dunn, 2006; Case-Smith, 2001; Bundy, Lane & Murray, 2002; Roley, Blanche & Schaff, 2001).

O SPSC dá resposta a este desafio. É um instrumento que permite recolher informação

específica sobre o processamento sensorial da criança na escola e sobre os desafios sensoriais

que enfrenta no contexto escolar. Facilita a compreensão do desempenho e contexto ocupacional

da criança, contribuindo para o raciocínio clínico do terapeuta na tomada de decisão durante

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intervenção. A sua utilização promove ainda uma intervenção em parceria e colaboração

interdisciplinar (Dunn, 2006).

Por esta razão a utilização deste instrumento pode ser uma mais-valia para os terapeutas

ocupacionais portugueses, que trabalham em contexto escolar.

Adaptação Cultural e Linguística de Instrumentos de Avaliação em Integração Sensorial Atualmente, na área da Integração Sensorial, existem poucos instrumentos de avaliação

traduzidos, adaptados e validados para a população portuguesa, que possam ser utilizados na

avaliação e intervenção clínica e que possam também ser reconhecidos pela comunidade

científica, a fim de serem utilizados no âmbito da investigação, conforme sugerem Ferreira e

Marques (1998).

A adaptação cultural e linguística de instrumentos de avaliação específicos da área da

Integração Sensorial é uma prioridade para a prática da Terapia Ocupacional, sendo um dos

eixos de investigação do Departamento de Terapia Ocupacional da Escola Superior de Saúde do

Alcoitão. Este tipo de estudos científicos contribui para a existência de instrumentos de medida

que possam ser utilizados na produção de trabalhos científicos fidedignos, que são essenciais

para fortalecer o desenvolvimento profissional. Estes estudos contribuem também para

fundamentar a intervenção com base na Teoria da Integração Sensorial, fomentando uma prática

cada vez mais baseada na evidência.

A adaptação cultural e linguística de instrumentos previamente desenvolvidos e validados

constituiu uma alternativa à construção de instrumentos de medida de raiz, que facilita a

divulgação e partilha dos resultados (Ferreira e Marques, 1998). Beaton, Bombardier, Guillemin

e Ferraz (2000) referem que os estudos de adaptação cultural de escalas psicométricas requerem

uma metodologia específica que não se cinge à simples tradução mas sim à adaptação cultural

para que o instrumento de avaliação mantenha a validade de conteúdo na nova língua e

população.

Segundo Ferreira e Marques (1998) este processo tem de garantir que o instrumento

traduzido seja equivalente ao original. Para isso a adaptação intercultural deve envolver dois

passos: (1) avaliação das equivalências conceptuais e linguísticas e (2) a avaliação das

propriedades psicométricas.

O primeiro passo da avaliação das equivalências conceptual e linguística garante a

relevância e o significado dos conceitos e respeito pelos aspetos semânticos. Fortin (2000) refere

que estas equivalências devem satisfazer critérios precisos para que se possam, posteriormente,

comparar resultados obtidos com diferentes versões do instrumento.

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Todos os autores concordam que o processo de adaptação cultural de um instrumento deve

iniciar-se com a sua tradução. Existe um consenso dos autores na existência de pelo menos duas

traduções independentes, sendo que a língua materna dos tradutores deve ser a da versão a

adaptar. Beaton et al. (2000) sugerem que uma das traduções deve ser feita por alguém que

domine os conceitos a ser medidos, de forma a contribuir para uma tradução com maior

equivalência do ponto de vista clínico, e a outra tradução deve ser feita por um tradutor que seja

isento, que não tenha conhecimento dos objetivos da escala. As traduções devem ser comparadas

e sintetizadas para obter uma tradução de consenso.

A versão obtida deve ser retrovertida por profissional com língua materna do instrumento

original e feitas as modificações necessárias.

Ferreira e Marques (1998) sugerem também uma metodologia de adaptação cultural

alternativa, com base na constituição de um painel multiprofissional, onde se inclua um tradutor.

Beaton et al (2008) defendem também a constituição de um painel multiprofissional de peritos

para o processo de adaptação cultural de escalas psicométricas, para que se possam avaliar as

equivalências semântica, conceptual e cultural do instrumento.

A eliminação e adição de itens pode comprometer a liberdade intercultural e, nesse caso, a

validade de conteúdo. A coerência interna e a fiabilidade devem ser reavaliadas na língua a que o

instrumento vai ser aplicado. Os conceitos importantes da escala devem ser mantidos. Se for

necessário fazer alterações, deve ser feita edição de itens equivalentes. Desta forma é possível

atingir a equivalência de conteúdo, pelo que não se justifica a validação de conteúdo. (Ferreira e

Marques, 1998).

A fase final da adaptação consiste no pré-teste utilizando a versão preliminar do

instrumento (Beaton et al., 2008). Fortin, (2000) define o pré-teste como o ensaio de um

instrumento de medida antes da sua utilização em maior escala. Segundo a mesma autora a

amostra do pré-teste deve refletir a diversidade da população visada pelo questionário. Beaton et

al. (2008) defendem um número de sujeitos entre 30 e 40 pessoas para a realização do pré-teste.

No pré-teste os sujeitos devem responder ao questionário que está a ser alvo do estudo e

pronunciar-se sobre ele (Beaton et al., 2000). Os sujeitos devem ser questionados quanto à

clareza dos termos utilizados e à existência de equívocos, conforme recomendado por Fortin

(2000). É necessário igualmente avaliar se os participantes entenderam o significado e

responderam adequadamente aos itens do questionário, conforme referem Viana e Madruga

(2008). Os mesmos autores sugerem que os itens/questões que suscitem dúvidas a mais de 15%

dos participantes no pré-teste devem ser revistos e repetido o pré-teste.

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Todos os autores reforçam a importância da avaliação das propriedades psicométricas,

numa fase posterior ao pré-teste. Recomendam a aplicação da versão final numa amostra maior e

o estudo da fiabilidade (coerência interna) e da validade, comparando os resultados obtidos com

os resultados do instrumento original, de forma a garantir que a escala mantém as qualidades

psicométricas.

Ferreira e Marques (1998) indicam que, só quando as equivalências conceptuais e

linguísticas são verificadas e avaliadas as propriedades psicométricas, se pode considerar um

instrumento com equivalência cultural.

Objetivo do Estudo Assim, é objetivo deste estudo dar um contributo para a adaptação cultural e linguística do

teste Sensory Profile School Companion (SPSC), mais especificamente, fazer a avaliação das

equivalências cultural e linguística do instrumento.

METODOLOGIA O estudo enquadra-se num estudo de investigação metodológica, uma vez que não inclui

todas as etapas que associamos ao processo de investigação, por se tratar da validação de um

instrumento de medida traduzido de uma outra língua (Fortin, 2009).

Amostra Para este estudo foram constituídas duas amostras: amostra 1 do painel de peritos e

amostra 2 do pré-teste

A amostra 1 do painel de peritos foi composta por profissionais de diferentes áreas, num

total de 14 participantes. A amostra foi selecionada por método não probabilístico, por

conveniência, dentro dos contactos profissionais da investigadora, tendo sido utilizados sujeitos

que estavam disponíveis e aceitaram participar (Carmo & Ferreira, 1998). Para incluírem esta

amostra, os profissionais tinham que preencher um ou mais dos seguintes critérios: ter

experiência de intervenção em Integração Sensorial, ter experiência de trabalho no contexto

escolar e/ou com crianças de idades entre os 3 e 11 anos, terem domínio da Língua Inglesa e/ou

domínio da Língua Portuguesa e gramática.

Desta amostra fizeram parte sete terapeutas ocupacionais (50%), três terapeutas da fala,

uma psicóloga, duas professoras de línguas, uma tradutora profissional. As idades dos

profissionais variam entre os 26 e os 61 anos (média=39,2 desvio padrão=12). O painel é

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maioritariamente do sexo feminino, contando apenas com um participante do sexo masculino.

(quadro 1).

Os participantes do painel de peritos têm uma média de 15 anos de experiência profissional

(mínimo de 4 anos e máximo de 38 anos, desvio padrão=11.3) e a maioria dos participantes

(86%) tem experiência de trabalho com crianças dos 3 aos 11 anos (entre 4 anos e 32 anos de

trabalho com esta população). Nove dos participantes (64%) têm experiência de trabalho em

contexto escolar (uma média de 12 anos de trabalho neste contexto).

Quadro 1. Caracterização da amostra do painel de Peritos (n=14)

N=14 % Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão Categoria Profissional Terapeuta Ocupacional Terapeuta da Fala Psicólogo Professor de Línguas Tradutor

7 3 1 2 1

50%

21.4% 7.1% 14.3% 7.1%

Idade Mínimo:26

Máximo:61 39.3 12.0

Anos de experiência Profissional 1 – 10 11- 20 21 – 30 Mais de 30

7 3 2 2

50%

21.4% 14.3% 14.3%

Mínimo:4 Máximo:38

15.3

11.3

Anos de experiência em Integração Sensorial 1-5 6-10 Mais de 10 Sem experiência

4 1 2 7

28.6% 7.1% 14.3% 50%

Mínimo:1 Máximo:32

10.6

10.8

Anos de experiência de trabalho com crianças dos 3 aos 11anos 1-5 6-10 11-20 Mais de 20 Sem experiência

4 4 3 1 2

28.6% 28.6% 21.4% 7.1% 14.3%

Mínimo:4 Máximo:32

10.2

8.3

Anos de experiência de trabalho em contexto escolar 1-5 6-10 11-20 Mais de 20 Sem experiência

4 2 1 2 5

28.6% 14.3% 7.1% 14.3% 35.7%

Mínimo:2 Máximo:38

12

12.8

Domínio de Línguas Portuguesa e Gramática Inglês Português e Inglês Sem domínio de Línguas

4 3 2 5

28.6% 21.4% 14.3% 35.7%

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14

Os terapeutas ocupacionais, que constituíram a amostra, têm todos formação especializada

em Integração Sensorial (pós-graduação em Integração Sensorial da Escola Superior de Saúde do

Alcoitão ou Sensory Integration Certification Program pela Western Psychological Services),

com uma média de 11 anos de trabalho nesta área específica de intervenção (entre 1 ano e 32

anos de experiência em Integração Sensorial).

Todos os participantes no painel de peritos têm nacionalidade portuguesa. Cinco

participantes (36%) têm domínio da Língua Inglesa (professora de Inglês, tradutora e dois

terapeutas ocupacionais e um terapeuta da fala com experiência de estudo e/ou trabalho em

países anglo-saxónicos). Quatro participantes têm domínio da Língua Portuguesa e Gramática

A amostra 2 do pré-teste foi constituída por 32 professores e educadores de infância de

crianças com idades entre os 3 e 11 anos.

Como critérios de inclusão os professores e educadores de infância tinham de exercer

funções em instituições de ensino público, e lecionar num dos três ciclos de ensino equivalentes

às idades das crianças contempladas pelo SPSC, nomeadamente: Jardim de Infância, 1º ciclo (1º,

2º, 3º e 4º ano de escolaridade) e 2º ciclo (5º ano de escolaridade). Para fazer parte da amostra do

pré-teste os participantes tinham de aceitar participar no estudo e garantir a sua disponibilidade

para responder e devolver o questionário.

A amostra foi selecionada por método não probabilístico dentro dos contatos pessoais e

profissionais da investigadora, utilizando a técnica de amostragem por redes ou “bola de neve”

(Fortin, 2000). A investigadora teve a colaboração de cinco colegas e uma educadora de infância

que ajudaram na seleção dos participantes e no contacto direto com os sujeitos da amostra a que

a investigadora não tinha acesso direto.

Da amostra do pré-teste (quadro 2) fizeram parte sete educadores de infância (21.9%), 17

professores do 1º ciclo do ensino básico (53.1%), dois professores do 2º ciclo do ensino básico

(6.3%), cinco professores de educação especial (15.6%) e um professor do apoio educativo

(3.1%).

Os professores e educadores que fizeram parte da amostra do pré-teste têm uma média de

idades 44,3 anos (desvio padrão=7.9), sendo o professor mais novo de 32 anos e o mais velho de

61. Os participantes da amostra têm entre 7 e 36 anos de experiência profissional (média=19.72,

desvio padrão=8.2). A maioria, 85%, são do sexo feminino (n=28) e 15% do sexo masculino

(n=5). A maioria dos participantes (75%) da amostra estão a lecionar no agrupamento de escolas

de Mafra (n=24) e os restantes oito (25%), estão distribuídos por quatro agrupamentos de escolas

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15

da região da Grande Lisboa (quatro no agrupamento do Sobral de Monte Agraço, dois no

agrupamento da Alapraia, um no agrupamento da Ericeira e um no agrupamento da Malveira).

Os participantes da amostra trabalham com crianças dos três ciclos de ensino

comtemplados pelo SPSC. A maioria, 65.6% (n=21) trabalha com crianças do 1º ciclo do ensino

básico (entre os 6 e os 11anos), 21.9% (n=7) com crianças do Pré-Escolar entre os 3 e os 6 anos,

e 12.5% (n=4) com crianças de 11 anos do 2º ciclo do ensino básico.

Quadro 2. Caracterização da amostra do pré-teste (n=32)

N=32 % Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão Género

Feminino Masculino

27 5

84.4% 15.6%

Categoria Profissional Educador de Infância Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico Professor do 2º Ciclo do Ensino Básico Professor de Educação Especial Professor do Apoio Educativo

7

17 2 5 1

21.9% 53.1% 6.3% 15.6% 3.1%

Idade 30 -35 36 – 40 41 – 45 46 – 50 51 – 55 Mais de 56

5 7 5 5 9 1

15.6% 21.9% 15.6% 15.6% 28.2% 3.1%

Mínimo:32 Máximo:61

44.3

7.9

Anos de Experiência Profissional 1 – 10 11- 20 21 – 30 Mais de 30

4

16 8 4

12.5% 50% 25%

12.5%

Mínimo:7 Máximo:36

19.7 8.2

Ciclo de Ensino Pré-Escolar 1ºCiclo de Ensino Básico 2ºCiclo do Ensino Básico

7

21 4

21.9% 65.6% 12.5%

Os participantes responderam ao pré-teste sobre crianças dos seis níveis de ensino

contempladas pelo Perfil Sensorial Escolar: sete (21.9%) do pré-escolar, nove (28.1%) do 1º ano

de escolaridade, quatro (12.5%) do 2º ano de escolaridade, dois (6.3%) do 3º ano de escolaridade,

seis (18.8%) do 4º ano de escolaridade e quatro (12.5%) do 5º de escolaridade, tendo as crianças

idades entre 4 e 11 anos (média=7.7, desvio padrão=2.1).

Perto de metade dos participantes (56.2%, n=18) preencheram o questionário sobre

crianças que apresentam dificuldades na sala de aula (identificadas e descritas pelos próprios

professores e educadores de infância no questionário).43,8% dos professores e educadores não

identificaram dificuldades nas crianças que descreveram no questionário.

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Cada professor e educador preencheu o pré-teste sobre uma criança. A descrição dos 18

participantes que preencheram o questionário sobre crianças com dificuldades na sala de aula,

permitiu caracterizar as dificuldades dessas crianças em: (1) dificuldades de linguagem e

comunicação (por exemplo, dificuldades de articulação, expressão oral e vocabulário), descritas

em cinco crianças (15.6%); (2) dificuldades na atenção e concentração descritas em 11 crianças

(34.4%); (3) dificuldade no desempenho de tarefas (por exemplo, dificuldades a realizar e a

terminar as tarefas, ritmo de trabalho lento) descritas em cinco crianças (15.6); (4) dificuldades

de aprendizagem (por exemplo dificuldades nas aquisições académicas, no cálculo ou na

ortografia) referidas para seis crianças (18.8%) e (5) outras dificuldades emocionais e de

comportamento (por exemplo, dificuldade em controlar emoções, não ficar calado na sala)

descritas em cinco crianças (15.6%). Para descrever as dificuldades da criança na sala de aula,

houve professores e educadores que referiram mais do que uma dificuldade (quadro 3).

Quadro 3. Caracterização das crianças avaliadas pela amostra do pré-teste Idades n=32 %

Nível de Ensino n=32 %

Dificuldades das Crianças n=18

4 5 6 7 8 9

10 11

n=2 n=2 n=6 n=8 n=3 n=2 n=4 n=5

6.3% 6.3% 18.8% 25.0% 9.4% 6.3% 12.5% 15.6%

Pré- Escolar

1ºano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano

n=7 n=9 n=4 n=2 n=6 n=4

21.9% 28.1% 12.5% 6.3% 18.8% 12.5%

Linguagem/comunicação

Atenção/concentração Desempenho nas tarefas

Dificuldades de aprendizagem Emocionais/comportamento

n=5 n=11 n=5 n=6 n=5

15.6% 34.4% 15.6% 18.8% 15.6%

Média=7.7 Desvio Padrão=2.1

Instrumento de recolha de dados Foi construído um Questionário com duas partes para o Painel de Peritos (apêndice 1). A

primeira parte com questões sobre os dados sociodemográficos e critérios de inclusão na amostra

(experiência de intervenção em Integração Sensorial, experiência de trabalho no contexto escolar

e/ou com crianças de idades entre os 3 e 11 anos, domínio da Língua Inglesa e/ou domínio da

Língua Portuguesa e gramática). A segunda parte foi construída com base num questionário tipo

Delphi para avaliar a concordância dos peritos em relação à tradução e formulação dos itens do

SPSC em português.

Para cada item do Sensory Profile School Companion, num total de 62 itens, foi

apresentada a proposta de tradução da investigadora e a versão original em inglês. Foi utilizada

uma escala de Lickert para medir o nível de concordância dos peritos com a tradução e

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formulação de cada item (1- Concordo sem reservas com o modo como o item está formulado, 2-

Concordo na generalidade com a forma como o item está formulado, mas proponho alterações,

3- Não concordo com a forma como o item está formulado e proponho alterações, 4- Discordo

totalmente com a formulação do item, 5- Sem opinião) e disponibilizado espaço para escrever

propostas de alteração do item e sugestões.

O Questionário do Pré-Teste (apêndice 2) foi também construído pela investigadora,

contendo três partes. A primeira parte com questões sobre os dados sociodemográficos dos

participantes no pré-teste. A segunda parte com a versão preliminar do Perfil Sensorial Escolar,

com apresentação gráfica idêntica ao questionário original e com os itens resultantes do processo

de tradução e análise das respostas do painel de peritos. A terceira parte do questionário

contempla questões fechadas e abertas, apresentadas no final de cada folha do SPSC, para

recolher a opinião dos participantes sobre o significado, a clareza e a compreensão dos itens de

cada secção, assim como a facilidade ou dificuldade no preenchimento do SPSC (exemplo: “A

formulação dos itens destas secções é clara para si? Sim/Não. Se não, que itens?”), sendo

disponibilizado espaço para sugestões.

Procedimentos A primeira fase do processo foi a aquisição do teste Sensory Profile School Companion

(anexo1), por parte da investigadora, assim como o respetivo manual de utilização.

Foram realizados dois pedidos formais para fazer a tradução do instrumento e para a sua

utilização para fins de investigação, à Editora Pearson, que detém os direitos de autor do SPSC.

Os pedidos foram feitos através de formulário próprio para o efeito, disponível on-line na página

da editora. Até ao momento ainda não foi obtida nenhuma resposta formal. Decorrem neste

momento negociações entre a Editora e a associação 7Senses (Associação que representa

Portugal na Sensory Integration Global Network) em parceria com a Escola Superior de Saúde

do Alcoitão, para que seja possível utilizar os instrumentos da Editora, entre eles o Sensory

Profile School Companion, em estudos científicos desenvolvidos em Portugal. Decidiu-se

avançar com o presente estudo, enquanto se processam as negociações com a editora, assumindo

a Escola Superior de Saúde do Alcoitão e a investigadora a responsabilidade por preservar e

respeitar os direitos de autor do SPSC.

Para o processo de tradução foram seguidos os passos recomendados pelos diferentes

autores, tendo sido realizadas duas traduções independentes. Uma tradução foi realizada por uma

tradutora profissional de língua materna portuguesa e a outra foi realizada pela investigadora,

terapeuta ocupacional, conforme recomendado por Beaton et al (2000). Posteriormente foi feita a

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síntese das duas traduções e aferida a tradução de consenso. Na tomada de decisão participaram

a investigadora, a tradutora e a orientadora do estudo. Na folha de rosto teve-se em atenção a

coerência da linguagem utilizada noutros instrumentos já traduzidos da mesma autora (Perfil

Sensorial – Questionário ao Cuidador e o Infant/Toddlers Sensory Profile).

Optou-se por seguir a metodologia de adaptação cultural com base num painel

multiprofissional (Ferreira & Marques, 1998). Considera-se que o contributo de diferentes

profissionais para a avaliação conceptual e linguística do SPSC é essencial, uma vez que cada

um analisa consoante a sua experiência e conhecimentos. A avaliação multiprofissional dos itens

traduzidos, permitiu à investigadora ter uma perspetiva alargada e um maior consenso, na

introdução de alterações e adaptações.

Foram incluídos no painel de peritos, Terapeutas Ocupacionais com formação específica

em Integração Sensorial, para garantir uma análise da escala, do ponto de vista clínico, de forma

a garantir equivalência dos conceitos específicos da Integração Sensorial. Foram convidados

outros profissionais com experiência de trabalho com crianças dos 3 aos 11 anos em contexto

escolar (psicólogo, terapeutas da fala), que pudessem dar um contributo na adaptação e

adequação dos itens à realidade do contexto escolar português. Foram ainda incluídos no painel,

profissionais da área linguística (professores de Línguas e tradutor), para que fosse feita uma

análise à adequação de linguagem e termos utilizados.

Os itens da versão de consenso, em paralelo com os da versão original, foram submetidos à

análise do painel de peritos, com questionário próprio descrito anteriormente. Os questionários

do painel de peritos foram entregues aos participantes via e-mail, após confirmação da

disponibilidade dos mesmos em participar, tendo sido devolvidos igualmente por e-mail.

Foi feita a análise quantitativa e qualitativa das respostas do painel de peritos. Foi utilizada

estatística descritiva para análise do nível de consenso dos participantes com a formulação dos

itens (frequência e percentagem) e realizada análise de conteúdo para todas as sugestões e

comentários feitos pelos peritos. A tomada de decisão foi feita pela investigadora em

colaboração com a orientadora do estudo, com base nos seguintes critérios: o nível de consenso

com a formulação do item, a pertinência das sugestões dadas pelos peritos, a opinião dos peritos

com mais experiência na área de Integração Sensorial, a coerência da linguagem ao longo do

questionário e a adequação do Português.

No final foi obtida a versão preliminar do Perfil Sensorial Escolar e realizado o pré-teste,

com questionário próprio, descrito anteriormente, com a amostra de 32 professores e educadores.

Os questionários do pré-teste foram entregues em mão, aos professores e educadores de

infância (sendo o documento marcado como amostra e tendo indicada a proibição de reprodução).

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19

Os questionários só foram entregues após se confirmar a disponibilidade dos professores e

educadores para participar no estudo, no compromisso de preencher e devolver o questionário.

Desta forma procurou-se preservar ao máximo os direitos de autor, de forma a evitar que os

questionários ficassem perdidos ou não fossem devolvidos. Foram entregues 32 questionários e

todos foram devolvidos à investigadora.

Os questionários foram entregues e recolhidos pessoalmente pela investigadora e pelas seis

pessoas que colaboraram na identificação, entrega e recolha de questionários aos participantes.

Foi pedido aos professores e educadores que preenchessem o questionário a pensar numa

criança da sua turma e que posteriormente respondessem às questões do pré-teste constantes no

final das secções do Perfil Sensorial Escolar.

As respostas às perguntas do pré-teste foram analisadas quantitativamente (frequência e

percentagem) com estatística descritiva. Foi feita análise de conteúdo das sugestões e dos

comentários feitos pelos participantes do pré-teste.

Após as alterações feitas com base nos resultados do pré-teste, foi obtida a versão final do

Perfil Sensorial Escolar.

Tratamento dos dados Para análise quantitativa de todos os resultados e caracterização da amostra,

nomeadamente para a realização da estatística descritiva (frequências, percentagens, médias,

desvio padrão), foi utilizado o programa SPSS Statistics19.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados do painel de peritos foram estudados através de estatística descritiva. Foi

feita a análise das frequências e percentagens das respostas dos peritos de acordo com o nível de

concordância com a formulação dos itens (concordo totalmente, concordo na generalidade, não

concordo, discordo totalmente, não tem opinião). Foi feita igualmente a análise de conteúdo de

todas as sugestões feitas pelos peritos.

Os resultados do painel de peritos refletem grande disparidade de concordância em relação

à tradução e formulação dos itens. Nove itens (4,12,21,40,45,54,56,56,57 e 58) tiveram 100%

dos peritos a concordar totalmente com a sua formulação e os restantes itens tiveram

concordâncias entre 93% (n=13) e 21% (n=2).

Entre os itens com maior nível de concordância, nove itens (6,26,35,36,39,49,53, 59 e 62)

tiveram 93% dos peritos (n=13) a concordarem totalmente, e nove itens (2,8,9,10, 15, 16, 20, 41

e 46) tiveram 86% dos peritos a concordarem com a sua formulação.

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20

Os itens com maior concordância entre os peritos (entre 86% e 100%) correspondem a

43,5% dos itens do questionário (27 itens). Apenas oito itens (1,3,7, 13, 23, 27,34, ,60) que

corresponde a 12,9% do total dos itens do questionário tiveram 50% de peritos ou menos a

concordarem totalmente com a sua formulação (quadro 4).

Os itens com menor nível de concordância dos peritos tiveram 36% (n=5), 29% (n=4) e

21% (n=2) de peritos a concordarem totalmente com a sua formulação. Estes itens são item 23,

item 13 e item 60, respetivamente.

Do total de 62 itens analisados, 17 itens foram mantidos (27,4%) e 45 foram alterados

(72,6%), com base nas respostas do painel de peritos.

Todos os 9 itens com 100% de concordância foram mantidos. Para todos os outros itens

foram analisadas as sugestões e os comentários dos peritos, tendo sido feitas alterações com base

nos seguintes critérios : (1) pertinência da sugestão; (2) Opinião dos peritos com mais

experiência em Integração Sensorial; (3) Adequações do Português, como correções ortográficas,

de gramática ou na formulação da frase; (4) Coerência dos termos utilizados no questionário

(apêndice 3).

Oito dos itens com maior concordância dos peritos (com concordâncias de 93% e 86%)

foram também mantidos, sendo que 10 foram alterados consoante os critérios descritos

anteriormente. Dentro destes itens com níveis mais elevados de concordância; quatro itens (8, 9,

10 e 36) foram alterados pela pertinência da sugestão (exemplo: a proposta da investigadora para

o item 10 foi “Tapa os ouvidos para se proteger do barulho”, o item foi alterado para “Tapa os

ouvidos com as mãos para se proteger do barulho” conforme sugestão de dois peritos, por estar

mais próximo do item original em inglês “Holds hands over ears to protect them from sound”);

dois (o 15 e o 59) foram alterados com base na opinião dos peritos com mais experiência de IS

(exemplo: o Item 15 “Acrescenta mais detalhes a desenhar e a colorir do que os outros alunos”

foi alterado para “Quando desenha e pinta acrescenta mais detalhes que os outros alunos” por

sugestão do perito com 32 anos de experiência em IS); três (20, 39 e 46) foram alterados com

base em adequações do português (exemplo: no item 39 “Toca nas pessoas ou objetos, ao ponto

de as irritar” foi retirada a virgula por sugestão de um perito); e finalmente, apesar da

percentagem de concordância (93%) o item 26 foi alterado para uniformizar a tradução do termo

“Fidgets” para inquieto/a, (que, nesse item, estava traduzido como impaciente), por sugestão de

apenas um perito (quadro 4).

Todos os outros itens com níveis de concordância dos peritos abaixo dos 86% foram

alterados, com base nas sugestões do painel de peritos e conforme os critérios apresentados.

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21

Quadro 4. Número de itens mantidos e alterados por nível de concordância total dos peritos com formulação do item

Nível de concordância total com o Item

Número de Peritos (n=14)

Nº de Itens (total 62)

Nº de Itens Mantidos

Nº de Alterados

100% 90%-99% 80% - 89% 70% -79% 60%-69% 50%- 59%

Menos de 50%

n=14 n=13 n=12

n=11 e n=10 n=9

n=8 e n=7 n=5, n=4 e n=3

9 9 9 13 9 10 3

9 5 3

4 6 13 9 10 3

Foram alterados 23 itens (27%) pela pertinência das sugestões, entre eles dois dos que

tiveram menor nível de concordância do peritos, os itens 13 e 60 (como exemplo, o item 13

“Deixa itens em branco numa ficha de trabalho “muito compacta” mesmo quando sabe a

resposta.” foi alterado para “Deixa itens em branco numa ficha de trabalho muito cheia de

informação, mesmo quando sabe a resposta”). Sete itens (11,3% do 62 itens do questionário)

foram alterados seguindo a sugestão dos peritos com mais experiência em IS (32 e 18 anos de

experiência), entre eles, o item 23, outro dos itens com menor nível de concordância, “Tem má

postura, escorrega, ou esparrama-se na cadeira” foi alterado para “Tem má postura, escorrega ou

estira-se (estende-se) na cadeira” por sugestão do perito com 18 anos de experiência em IS. Sete

itens (11.3%) foram alterados com base nas adequações do Português, correções ortográficas, de

gramática ou na formulação da frase, por exemplo o item 29 “ Levanta-se e anda pela sala mais

que os outros alunos” foi alterado para “Levanta-se e anda pela sala mais do que os outros

alunos”. O item 42 foi alterado para manter a coerência de utilização do termo “inquieto” para

traduzir “fidgets”, tal como aconteceu no item 26. (quadro 5).

Quadro 5. Itens alterados por critérios de alteração

Nº de Itens % Nº dos Itens alterados (45)

Itens sem Alteração Itens Alterados por Critérios Pertinência da sugestão Opinião dos peritos com mais experiência em IS Adequações de Português Coerência de Termos

17

24 9

10 2

27.4%

38.7%

14.6%

16.1%

3.2%

2, 4, 6, 12, 16, 21, 35, 40, 41, 45, 49, 53, 56, 57, 58 e 62.

1,8,9, 10,11, 13, 14, 19, 22,24, 25,28,30, 31,

36,38, 43, 44, 47,48, 52, 55, 60 e 61

3,7,15,17, 23, 27, 32, 34 e 59

5,18, 20,29, 33,37,39, 46, 50 e 51

26 e 42

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22

No total dos 45 itens alterados foram feitas 57 alterações, dado que um item pode conter

mais do que uma alteração.

As alterações feitas dividiram-se em 5 tipos: (a) alterações conceptuais quando foi preciso

fazer alteração e/ou adequação de termos, com base na correspondência de significados; (b)

alterações linguísticas, onde foram incluídas as alterações de tempos verbais, correção de erros

e/ou gramática, formulação das frases e redundâncias; (c) alterações culturais, sempre que foram

feitas adequações a termos ou expressões com base na cultura portuguesa; (d) alterações de

tradução, que contemplaram as alterações feitas para manter a fidelidade aos termos utilizados

no instrumento original.

Foram feitas 19 alterações conceptuais, o que corresponde a 33,3% das alterações (como

exemplo no item 22 o termo “choca” foi substituído por “esbarra”), 18 alterações na tradução,

31,6% (como exemplo, o item 48 “É pouco eficiente a fazer as coisas” foi alterado para “É

ineficiente a fazer as coisas” por ser mais próximo do original “Is inefficient in doing things”), 15

alterações linguísticas, 26,3 % (exemplo, o item 18 “Faz comentários sobre pequenos detalhes

em objetos e imagens que os outros não tinham reparado” foi alterado para “Faz comentários

sobre pequenos detalhes de objetos ou imagens em que os outros não tinham reparado”). Foram

feitas 5 alterações culturais, 8.7% (exemplo, no item 8 foi retirada a expressão “anúncios nos

altifalantes”, uma vez que nas escolas portuguesas não é habitual este tipo de ruídos).

Os resultados do Pré-teste foram analisados de forma quantitativa (utilizando estatística

descritiva) e qualitativa.

Na folha de rosto do Perfil Sensorial Escolar, regista-se que todos os sujeitos (n=32)

consideram que as instruções são claras e percetíveis, não existindo dúvidas nas instruções. Um

participante fez comentários na folha de rosto (“a chave devia ser reformulada e não está de

acordo com o que surge na checklist”), tendo identificado uma incoerência, entre os termos

utilizados na chave de cotação apresentada nas instruções e a chave utilizada no questionário

(nas instruções é apresentada a chave “quase nunca” e durante o questionário do pré-teste está

“nunca”).

Na secção A-Auditivo (itens de 1 a 10) e secção B-Visual (itens de 11 a 21), 100% dos

participantes referem que a formulação dos itens é clara, 90,6% (n=29) não teve dúvidas em

nenhum item e 96,9% (n=31) não teve dificuldade em perceber ou responder aos itens destas

secções. Na secção A e B, houve 3 sujeitos (9,4%) a referir ter tido dúvidas, um professor refere

ter dúvidas mas não identifica o item a que se refere, outro professor indica o item 14 (“não olha

quando se dão as instruções, mas segue-as durante a realização das atividades”) e outro, o item

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23

21 (“evita contato ocular”). O professor que indicou ter dúvidas no item 14 referiu também ter

tido dificuldade em perceber e responder ao item. Só este professor escreveu comentários nestas

secções, não tendo sugerido alterações ao item, pois descreve o desempenho da criança que

estava a avaliar (“O P. olha quando se dão instruções, mas segue-as também durante a realização

das atividades”) (quadro 6).

Na secção C – Movimento (itens de 22 a 35) e na secção D – Táctil (itens de 36 a 47),

87.5% (n=28) dos participantes referem que a formulação dos itens é clara e que não tiveram

dúvidas nem dificuldade em perceber ou responder aos itens da secção. Quatro sujeitos (12.5%),

indicam que o item 27 (“está “sempre pronto a arrancar””) não é claro, que tiveram dúvidas

nesse item e dificuldade em perceber ou responder ao item. Estes quatro professores fizeram

comentários e sugestões, um professor sugere que esse item “deve ser reformulado”, outro

professor refere que se deve “explicar o que se pretende com o item 27”, os outros dois

professores descrevem situações concretas com os alunos que possam estar associadas ao

comportamento descrito no item 27 (“ sempre pronto a sair é querer sair do lugar e circular pela

sala?”;; “não conheço a expressão, mas pela sentido global penso que o P. é um menino calmo,

mas quando necessário torna-se rápido e “pronto a arrancar””). Três destes quatro professores

não cotaram o item 27.

Na secção E - Comportamento, a totalidade dos participantes (n=32) refere que a

formulação dos itens é clara. Apenas um professor (3.1%) indica ter tido dúvidas no item 59 (“é

teimoso ou pouco colaborante”), outro professor (3.1%) refere ter tido dificuldade a perceber e

responder também ao item 59. Estes dois professores (6.2%) que referiram o item 59, fizeram

comentários semelhantes quanto à associação da teimosia e colaboração ou não do aluno que

estavam a avaliar (“a criança é teimosa mas gosta de colaborar” e “ A M. não é teimosa mas às

vezes é pouco colaborante”).

Quadro 6. Respostas do pré-teste por secções do Perfil Sensorial

Formulação clara dos itens?

Itens levantam dúvidas?

Dificuldade em perceber ou responder?

Secção A. e B. Auditivo e Visual Secção C. e D. Movimentos e Táctil Secção E Comportamento

Sim n=32

100%

Sim n=28

87.5%

Sim n=32

100%

Não Não n=4 12.5% Não

Sim n=3

9.4%

Sim n=4

12.5%

Sim n=1

3.1%

Não n=29 90.6% Não n=28 87.5% Não n=31 96.9%

Sim n=1

3.1%

Sim n=4

12.5%

Sim n=1

3.1%

Não n=31 96.9% Não n=28 87.5% Não n=31 96.9%

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Contributo para a Adaptação Cultural e Linguística do Sensory Profile School Companion – Ana Luísa Afonso

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Da análise qualitativa à forma como os participantes preencheram a versão preliminar do

Perfil Sensorial Escolar, há a referir que não foram observadas em nenhum questionário

hesitações nas respostas (cruzes em dois campos para o mesmo item ou cruzes riscadas), cinco

professores utilizaram pelo menos uma vez e de forma adequada, o espaço de comentários que

está no final de cada secção, para acrescentar informação adicional pertinente sobre as crianças,

conforme indicado nas instruções do questionário.

Relativamente à folha de rosto, quatro professores não preencheram o nome do aluno e três

não preencheram todos os dados do cabeçalho por não quererem divulgar essa informação por

escrito, tendo fornecido apenas os dados da idade verbalmente. Cinco professores (15,6%)

preencheram de forma errada o nome do terapeuta/técnico e a área de intervenção. O professor

de apoio educativo e três professores de educação especial preencheram o espaço do nome do

terapeuta com o seu próprio nome e a área de intervenção com “educação especial” e “apoio

educativo”, uma das professoras de primeiro ciclo preencheu estes espaços com o nome da

psicóloga que está a acompanhar o aluno, por ser este o único apoio que o aluno usufrui.

Face aos resultados de pré-teste não foram introduzidas alterações aos itens do questionário,

uma vez que nenhum item teve mais de 15% de dúvidas, conforme sugerido por Viana e

Madruga (2008), para além disso, para o item 27, que foi o item que levantou mais dúvidas

(12.5%) não foram feitas sugestões pertinentes para alteração. A sugestão referida na folha de

rosto para alteração da chave de cotação, foi aceite pela investigadora, pela sua pertinência e por

se referir a um erro na construção gráfica do questionário. Quanto aos erros no preenchimento

dos espaços no cabeçalho (“nome do terapeuta/técnico” e “área de intervenção”), apesar de

serem 15%, a investigadora não fez alterações uma vez que os termos da folha de rosto estão em

concordância com outros instrumentos da mesma autora já traduzidos e validados para Português

(Perfil Sensorial – Questionário ao Cuidador e o Infant/Toddlers Sensory Profile) e a sua

alteração constituir uma modificação no desenho gráfico e imagem de marca do instrumento.

Após as alterações introduzidas obteve-se a versão final do Perfil Sensorial Escolar

(apêndice 4).

CONCLUSÃO A realização deste estudo permitiu contribuir para a adaptação cultural e linguística do

Sensory Profile Schol Companion.

O processo utilizado, nomeadamente com a utilização de um painel de peritos

multiprofissional, contribuiu para validar as alterações feitas com vista a obter-se as

equivalências semântica, linguística e cultural.

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Os resultados de pré-teste revelam que o Perfil Sensorial Escolar foi bem aceite pelos

professores e educadores, mostrando-se ser um instrumento acessível e fácil de preencher, com

uma linguagem clara e percetível.

O procedimento utilizado, nomeadamente utilização de painel de peritos multidisciplinar,

com profissionais de diferentes áreas que trabalham com crianças e em contexto escolar foi uma

mais-valia para a adaptação cultural e linguística do SPSC. A diversidade de contribuições

permitiu a realização de alterações pertinente ao nível conceptual, linguístico e cultural. A

colaboração de dois terapeutas ocupacionais peritos em Integração Sensorial, com 18 e 32 anos

de experiência nesta área específica, foi determinante para a tomada de decisão em situação de

dúvida.

O facto de não terem existido motivos para fazer alterações nos itens decorrentes do pré-

teste revela que as modificações introduzidas com base no painel de peritos foram pertinentes,

significativas e bem sucedidas.

Os erros no preenchimento do cabeçalho do Perfil Sensorial Escolar não se consideraram

relevantes para se proceder à modificação do cabeçalho. Na prática clínica, e conforme

indicações da autora no manual do instrumento, o terapeuta deve entregar o instrumento

pessoalmente ao professor, para que possa explicar o objetivo da avaliação e disponibilizar-se

para esclarecer qualquer dúvida que possa surgir no seu preenchimento. Este aspeto não só

reforça a vertente colaborativa inerente ao Perfil Sensorial Escolar, (Dunn, 2006) como pode

evitar equívocos no preenchimento do cabeçalho.

Considera-se que o contato direto com os sujeitos do pré-teste contribuiu de forma

determinante para a resposta efetiva de todos os participantes.

Apontam-se como limitações ao presente estudo o pouco tempo para aplicação do estudo,

o tamanho e seleção das amostras, e a impossibilidade de contato com a autora do instrumento.

O rigor e minúcia que foram necessários na primeira fase de tradução, a constituição do

painel de peritos, o tempo de espera pelas respostas dos peritos, a análise das respostas e tomada

de decisão, constituíram um processo moroso que condicionou a aplicação do pré-teste a uma

amostra maior, que pudesse ser mais representativa.

A seleção da amostra do pré-teste ficou também condicionada pelos cuidados acrescidos

que foram necessários ter para preservar os direitos de autor.

Apesar dos esforços realizados não foi possível entrar em contato direto com a autora do

instrumento, o que teria sido decisivo na tomada de decisão, nomeadamente alteração do

cabeçalho ou eventual modificação do item 27.

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Contributo para a Adaptação Cultural e Linguística do Sensory Profile School Companion – Ana Luísa Afonso

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Reforça-se a importância de dar continuidade ao presente estudo, nomeadamente com a

aplicação da versão final do Perfil Sensorial Escolar, a uma amostra maior, por forma a serem

estudadas as qualidades psicométricas do instrumento, uma vez que só assim se pode considerar

que o instrumento está culturalmente adaptado para Português.

Posteriormente, será possível a utilização deste instrumento em estudos de caso, e

investigações que pretendam estudar o processamento sensorial em grupos de crianças com

diagnósticos específicos (espectro do autismo, défice de atenção e hiperatividade, ou

dificuldades de aprendizagem), ou explorar a influência do contexto escolar no processamento

sensorial e desempenho das crianças.

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