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  • Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 3, p. 465-473, jul./set. 2009

    CONTRIBUIES DO PENSAMENTO SISTMICO PRTICA DO PSICLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR

    Carmen L. O. Ocampo More*

    Maria Aparecida Crepaldi#

    Jadete Rodrigues Gonalves

    Marina Menezes

    RESUMO. O presente artigo visa apresentar contribuies do pensamento sistmico ao trabalho do psiclogo na instituio hospitalar, sendo esta entendida como um sistema aberto, dinmico, complexo e imprevisvel no seu cotidiano, constituindo-

    se num grande contexto gerador de significados, que constantemente est afetando conversao teraputica. Aps breve

    resgate histrico das conquistas, contradies, avanos e pressupostos epistemolgicos da escuta psicolgica no hospital,

    apresenta-se a anlise dos diferentes contextos que o conformam, visando resgatar as peculiaridades das metforas que afetam

    decisivamente a interveno psicolgica, determinando os rumos das aes. As metforas, enquanto fortes simbologias

    presentes na dinmica hospitalar, constituem-se como elementos necessrios de anlise, para organizar e tornar mais

    estratgica a atuao e melhor sustentar os dilogos interdisciplinares. Se no estiver atento a isto, o psiclogo corre o risco de

    se tornar em mero executante da queixa e das ordens implcitas dos encaminhadores, sustentado assim aes fragmentadas e

    preconceitos relacionados ao paciente, equipe de sade e ao contexto.

    Palavras-chave: Psicologia hospitalar, pensamento sistmico, interveno psicolgica.

    CONTRIBUTIONS OF SYSTEMIC THINKING TO THE WORK OF PSYCHOLOGIST IN THE HOSPITAL CONTEXT

    ABSTRACT. This article aims to make contributions of systemic thinking to the work of psychologist in the hospital, being perceived as an open system, dynamic, complex and unpredictable in his daily work, establishing a large generator context of

    meanings, which are constantly affecting the talk therapy. After brief history of redemption achievements, contradictions,

    advances and epistemological assumptions of psychological listening in the hospital, it presents the analysis of different

    contexts of our program, targeting to recover the peculiarities of the metaphors that affect decisively the psychological

    intervention, determining the course of actions . Metaphors, as a strong symbolic meaning, present in the hospital dynamics,

    are necessary elements of analysis, to organize and become a more strategic role, and better support the interdisciplinary

    dialogues. If the psychologist is not aware about this, he will be at risk of becoming a mere agent of the complaint and the

    implicit orders of routers, sustaining, in this way, fragmented actions and prejudice related to the patient, the healthcare team

    and the context.

    Key words: Hospital Psychology, systemic thinking, psychological intervention.

    CONTRIBUICIONES DEL PENSAMIENTO SISTMICO PARA LA PRCTICA DE PSICLOGO EN LA INSTITUICIN HOSPITALAR

    RESUMEN. El presente artculo presenta las contribuciones del pensamiento sistmico para el trabajo de psiclogo en la institucin hospitalar. Se considera esta ltima como un sistema abierto que se presenta dinmico, complexo e imprevisible en

    su cotidiano, constituyndose en un gran contexto generador de significados, que constantemente est afectando a la

    * Doutora em Psicologia Clinica. Laboratrio de Psicologia da Sade, Famlia e Comunidade. Programa de Ps-Graduao em

    Psicologia. Docente da Universidade Federal de Santa Catarina. # Doutora em Sade Mental. Laboratrio de Psicologia da Sade, Famlia e Comunidade. Programa de Ps-Graduao de

    Psicologia em Psicologia. Docente da Universidade Federal de Santa Catarina. Doutora em Enfermagem. Laboratrio de Psicologia da Sade, Famlia e Comunidade. Docente do Departamento de Psicologia.

    Universidade Federal de Santa Catarina Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Docente da Univali/SC.

  • 466 More et al.

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 3, p. 465-473, jul./set. 2009

    conversacin teraputica. Despus de una breve sntesis histrica de las conquistas, contradicciones y desenvolvimientos y

    marcos epistemolgicos de la escucha psicolgica en el hospital, se presenta un anlisis de los diferentes contextos que

    constituyen el mismo, con el objetivo de rescatar las peculiaridades de las metforas presentes y que afectan decisivamente la

    intervencin psicolgica determinando los rumbos de las acciones. Las metforas, en cuanto fuerte simbologa presente en la

    dinmica hospitalar, se constituyen en elementos necesarios de anlisis, sea para organizar y tornar ms estratgica la

    actuacin, como para mejor sustentar dilogos interdisciplinares. Si no se est atento a esto, el psiclogo corre el peligro de se

    tornar un simple ejecutante de la demanda y de los rdenes implcitos de los que envan los pacientes, sustentando as,

    acciones fragmentadas y preconceptos, relacionados al paciente, a la familia, al equipo de salud y al contexto.

    Palabras-clave: Psicologa hospitalar, pensamiento sistmico, intervencin psicolgica.

    A Psicologia Hospitalar no Brasil, enquanto rea

    de conhecimento, reconhecida tanto em termos de

    prtica como de produo cientifica efetiva, inicia-se

    na dcada de 50, tendo com referncia o trabalho

    pioneiro das professoras Mathilde Neder, Aidyl M. de

    Queiroz Pres Ramos, Tereza Pontual de Lemos

    Mettel e Clia Lana da Costa Zannon, entre outras.

    Destaca-se aqui o trajeto histrico de conquistas que a

    Psicologia foi logrando no contexto hospitalar e o

    trabalho de suas pioneiras, que souberam catalisar

    suas experincias atravs de uma expressiva produo

    de conhecimento que visava, principalmente, dar

    sustentao terico-cientfica para a escuta das

    demandas que foram se desenhando para a Psicologia,

    enquanto cincia e profisso, na instituio hospitalar.

    Este campo de atuao exigiu do profissional uma

    reviso de seus referenciais de atuao decorrentes da

    formao acadmica tradicional, nitidamente ancorada

    no modelo clnico-teraputico que privilegia o

    exerccio da profisso nos espaos privados

    (Giannotti, 1995; Yamamoto & Cunha, 1998; Chiattone, 2002; Mor, 2006;). Nesse sentido, Angerami-Camon (1995) ressalta que as discusses

    sobre a insero da Psicologia na realidade

    institucional foram essenciais para a reestruturao da

    formao acadmica do psiclogo, no sentido de que

    essa formao contemplasse os requisitos tericos e

    tcnicos necessrios para sustentar processos de

    interveno contextualizados. Em termos histricos, a prtica do psiclogo no

    campo da sade, mais especificamente em instituies

    hospitalares, recebeu a influncia decisiva do modelo

    de pensamento biolgico (Chiattone, 2002), o qual se

    ancora nos parmetros epistemolgicos que sustentam

    a cincia tradicional e consequentemente a postura do

    profissional ante o processo sade-doena. A este

    respeito Calatayud (1991) ressalta tambm que a

    vinculao histrica da Psicologia com a Medicina, na

    busca de explicaes para as doenas mentais e

    psicossomticas, implicou numa prtica muito mais

    centrada na doena/patologia do que na sade. A

    influncia desse modelo biomdico, em que est

    presente a viso cindida do processo corpo-mente,

    reforou as prticas voltadas ao indivduo psicolgico

    ou biolgico (Sebastiani & Maia, 2005). Por sua vez, a

    transposio para o espao pblico de um modelo

    clnico psicolgico cuja prtica se dava em mbito

    privado afetou diretamente a sua eficincia no que se

    refere interveno (More, 2001; Chiattone, 2002).

    Assim, no hospital o psiclogo deparou-se com a

    necessidade de desenvolver habilidades que

    permitissem o trabalho em equipe, visto que sua

    prtica efetiva ocorria de forma individualizada. Nessa

    nova realidade de trabalho, o psiclogo e os demais

    componentes da equipe experimentaram no seu

    cotidiano limitaes profissionais e entenderam que os

    colegas de outras formaes poderiam fornecer

    respaldo fundamental para a melhor compreenso do

    processo de interveno neste contexto (Tonetto &

    Gomes, 2007). Nessa mesma direo, Crepaldi (1999)

    aponta que os profissionais, medida que se tornaram

    conscientes de que possuam limites tcnicos ou

    pessoais para enfrentar certos obstculos, passaram a

    solicitar a ajuda da equipe de trabalho, o que

    transformou a resoluo do problema e o

    enfrentamento da imprevisibilidade do processo

    sade-doena em uma tarefa de equipe.

    Isto gerou as bases para a construo da tarefa

    multidisciplinar, que, para Giannotti (1995), consiste

    na ao de profissionais de diversas reas, agregados

    em equipes de sade, objetivando de forma comum o

    estudo das interaes somatopsicossociais e de

    mtodos que possibilitem uma prtica integradora

    focada na totalidade dos aspectos relacionados sade

    e doena. Essa tarefa passou a ser um desafio

    concreto para a formao e para a interveno do

    psiclogo na rea hospitalar, pois ele teve que

    desenvolver uma compreenso do seu papel no campo

    multidisciplinar para assim adotar uma postura

    interdisciplinar. Esta, por sua vez, implicava no

    desenvolvimento de uma postura de aceitao e

    incorporao da diversidade presente nos diferentes

    saberes em beneficio do melhor acolhimento do

    processo de sade-doena dos envolvidos.

    A este respeito Angerami-Camon (200